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Área de Treinamento

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“O lucro do nosso estudo é tornarmo-nos melhores e mais sábios.”


(Michel de Montaigne)

Você encontrará, nos próximos capítulos, questões dos últimos 4 anos dos concursos de Residência Médica. As questões
da década de 1990 serão utilizadas em um momento oportuno.

Leia cada questão com muita atenção e aproveite ao máximo os comentários. Se necessário, retorne ao texto de sua apostila.

Sugerimos que você utilize esta Área de Treinamento fazendo sua autoavaliação a cada 10 (dez) questões. Dessa forma,
você poderá traçar um perfil de rendimento ao final de cada treinamento e obter um diagnóstico preciso de seu desempenho.

Estude! E deixe para responder as questões após 72 horas. Fazê-las imediatamente pode causar falsa impressão.

O aprendizado da Medicina exige entusiasmo, persistência e de-


dicação. Não há fórmula mágica. Renove suas energias e se mantenha
cronicamente entusiasmado.

Boa sorte! Você será Residente em 2016!

Atenciosamente,
Dr. Gama
Coordenador Acadêmico

“Todos nós conhecemos pessoas que, em circunstâncias muito difíceis,


como no caso de uma doença terminal ou grave incapacidade física, man-
têm uma força emocional admirável. Como sua integridade nos inspira!
Nada causa impressão mais forte e duradoura no ser humano do que per-
ceber que alguém superou o sofrimento, transcendeu as circunstâncias
e abriga e expressa valores que inspiram, enobrecem e dão mais sentido
à vida.”
Os sete hábitos das pessoas altamente eficazes
Stephen R. Covey
Questões para Treinamento
27
Vias Biliares

Angelina Caron – 2013 a) somente IV está correta


1. Nas estenoses biliares tipo III (estenose no hilo hepá- b) somente I, II e V estão corretas
tico) e IV (destruição da confluência com separação c) somente III e IV estão corretas
dos ductos biliares direito e esquerdo) é indicado uma d) somente I e II estão corretas
hepaticojejunostomia em que a abordagem através de e) somente III, IV e V estão corretas
incisão na parede anterior do canal hepático esquer-
do, deixando íntegra sua parede posterior, facilita a  ACERTEI  ERREI  DÚVIDA
execução da anastomose entre parede da via biliar e
alça jejunal exclusa, permitindo uma sutura sem ten-
são e com aposição adequada dos bordos. Esta técnica Angelina Caron – Clínica Cirúrgica – 2013
é denominada: 3. Sabidamente a grande maioria (cerca de 95%) dos cál-
a) Bismuth culos biliares ocorrem em pacientes portadores de co-
b) Champeau lecistites agudas e a grande minoria (cerca de 5%) em
c) Abrantes pacientes com colecistite aguda alitiásica geralmente
d) Heep-Couinaud associada a:
e) Parodi 1) Doenças do colágeno
2) Traumatismo.
 ACERTEI  ERREI  DÚVIDA
3) Síndrome da imunodeficiência adquirida
4) Tumores hepáticos
Angelina Caron – Clínica Cirúrgica – 2013 5) Distúrbio de motilidade intestinal
2. Sobre a bacteriologia das vias biliares e a seleção de a) apenas alternativa 1 está correta
antibióticos, analise as assertivas e assinale a alterna- b) apenas as alternativas 1,4 e 5 estão corretas
tiva correta: c) apenas as alternativas 4 e 5 estão corretas
I. Aeróbios gram-negativos são os micro-organismos d) apenas as alternativas 1,2 e 3 estão corretas
menos frequentemente isolados a partir da bile de pa- e) apenas as alternativas 1,2, 3 e 4 estão corretas
cientes com colelitíase sintomática, colecistite aguda
ou colangite.  ACERTEI  ERREI  DÚVIDA
II. A profilaxia antibiótica não tem indicação em ne-
nhuma situação no caso de colecistectomia laparos-
cópica. Angelina Caron – Clínica Cirúrgica – 2013
III. No caso de colecistectomia convencional, a Cefa- 4. A causa mais comum de colelitíases em crianças não
zolina 1-2 g em dose única pode ser realizada como neonatas é:
profilaxia antibiótica. a) anemia hemolítica
IV. No caso de colecistite aguda, o esquema antibió- b) prematuridade
tico com Ciprofloxacino associado ao Metronidazol c) uso de antibióticos
pode ser utilizado. d) obesidade
V. A maior parte das evidências aponta que a fonte de e) ibrose cística congênita
contaminação bacteriana das vias biliares é ascenden-
te, via duodenal.  ACERTEI  ERREI  DÚVIDA
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AMP – Clínica Cirúrgica – 2013 INCA – Clínica Cirúrgica – 2013


5. Dentre os itens citados abaixo, assinale aquele consi- 9. Nos casos de íleo biliar, a maioria das fístulas se dá
derado fator de risco para câncer de vesícula biliar: entre a vesícula biliar e o:
a) diabetes mellitus a) duodeno
b) infecção por H. pylori b) jejuno
c) pancreatite crônica c) ângulo hepático do cólon
d) pólipos adenomatosos da vesícula d) estômago
e) retocolite ulcerativa idiopática
 ACERTEI  ERREI  DÚVIDA
 ACERTEI  ERREI  DÚVIDA

INCA – Clínica Cirúrgica – 2013


Cruz Vermelha – Clínica Cirúrgica – 2013 10. Em paciente com quadro de abdome agudo, a presen-
6. Com relação aos pólipos de vesícula biliar, assinale a ça da tríade de Charcot (cólica biliar, icterícia e febre
alternativa incorreta: com calafrios) sugere o diagnóstico de:
a) pólipos de colesterol constituem o tipo histológico a) íleo biliar
mais frequente b) trombose de veias supra-hepáticas
b) o percentual de malignidade dos pólipos com diâ- c) diverticulite aguda
metro acima de 1 cm atinge 70% d) colangite aguda
c) o risco de malignidade dos pólipos sésseis é signifi-
cativamente maior em relação aos pediculados  ACERTEI  ERREI  DÚVIDA
d) considera-se a colecistolitíase como fator de risco
adicional para malignidade, nos portadores de pó-
INCA – Clínica Cirúrgica – 2013
lipos vesiculares
11. Os ductos de Luschka integram a anatomia:
e) todos os pacientes portadores de pólipos, em vesícu-
a) da junção esofagogástrica
la biliar, maiores do que 3 mm apresentam indicação
b) das vias biliares
cirúrgica
c) do baço
 ACERTEI  ERREI  DÚVIDA d) da região perirrenal

 ACERTEI  ERREI  DÚVIDA


Cruz Vermelha – Clínica Cirúrgica – 2013
7. Com relação à colecistopatia calculosa é correto afir-
mar que: INCA – Clínica Cirúrgica – 2013
a) a colelitíase é mais frequente no sexo feminino até 12. O câncer de vesícula se associa com frequência ao se-
a sétima / oitava décadas de vida. Posteriormente a guinte achado:
incidência é a mesma em ambos os sexos a) adenomiomatose
b) alimentação parenteral total não aumenta a incidên- b) vesícula “em porcelana”
cia desta doença c) colecistoses hiperplásticas
c) a maioria dos pacientes com colecistolitíase é sinto- d) lama biliar
mática
 ACERTEI  ERREI  DÚVIDA
d) a tomografia computadorizada é o melhor exame
para o diagnóstico de litíase da vesícula biliar
e) o tratamento de escolha é a colecistostomia videola- INCA – Clínica Cirúrgica – 2013
paroscópica 13. Com relação à cirrose biliar primária se pode afirmar
que:
 ACERTEI  ERREI  DÚVIDA a) se caracteriza por inflamação crônica sem oblitera-
ção fibrosa dos ductos biliares intra-hepáticos
INCA – Clínica Cirúrgica – 2013 b) a atividade sérica da 5-nucleotidase e os níveis de
8. A síndrome de Mirizzi está associada à presença de: gamaglutamil transpeptidase estão elevados
a) compressão do ducto hepático comum por cálculo c) os anticorpos IgG antimitocondriais são de pouca
b) enterite regional com comprometimento da válvula utilidade diagnóstica, porque também estão presen-
ileocecal tes em mais de 90% de outros pacientes com outras
c) pancreatite necro-hemorrágica complicada por abs- doenças hepáticas
cesso pancreático d) dentre os pacientes com doença sintomática, 90%
d) colite isquêmica com sangramento colônico são homens entre 50 e 60 anos de idade

 ACERTEI  ERREI  DÚVIDA  ACERTEI  ERREI  DÚVIDA

254 SJT Residência Médica - 2015


27 Vias biliares,

Nossa Senhora das Graças – Clínica Cirúrgica – 2013 PUC-RS – Clínica Cirúrgica – 2013
14. Em relação ao tratamento da coledocolitase, é incor- 17. Em relação à realização de colangiografia transopera-
reto afirmar que: tória, são apresentadas as seguintes indicações:
a) CPER +/- esfincterotomia é tão efetiva quanto à ex- I. Enzimas canaliculares elevadas.
ploração laparoscópica em clarear a via bilar principal II. Ducto cístico dilatado (> 0,5 cm de diâmetro).
b) a exploração transcística é tão efetiva quanto à cole- III. História recente de pancreatite biliar.
docotomia em clarear a via biliar principal Qual é a alternativa correta?
c) pancreatite e sangramento são as principais compli- a) apenas I
cações do tratamento endoscópico b) apenas II
d) colédoco com diâmetro menor que 6 mm é con- c) apenas III
traindicação para coledocotomia d) apenas I e III
e) o fechamento primário do colédoco é indicado ape-
e) I, II e III
nas se houver confirmação do clareamento adequa-
do da via biliar principal  ACERTEI  ERREI  DÚVIDA
 ACERTEI  ERREI  DÚVIDA
PUC-RS – Clínica Cirúrgica – 2013
Texto para as questões 15 e 16. 18. Homem, 65 anos, há 30 dias apresenta icterícia inter-
mitente, acompanhada de colúria e acolia. Ultrasso-
Mulher, 65 anos, é submetida à colecistectomia ele- nografia abdominal demonstra dilatação de vias bi-
tiva por colelitíase sintomática, com colangiografia liares intra e extra-hepáticas e colelitíase. Em relação
transoperatória normal, sem intercorrências no PO. ao caso, são apresentadas as seguintes assertivas:
Quatro anos após a cirurgia, surgem náuseas e vô-
mitos e dor abdominal em cólica. Ultrassonografia I. A realização de colecistectomia videolaparoscópica
mostra dilatação das vias biliares extra-hepáticas e com colangiografia transoperatória está indicada.
imagens compatíveis com cálculos coledocianos. II. Tumor de papila é um dos diagnósticos a considerar.
III. EDA pode definir o diagnóstico.
PUC-RS – Clínica Cirúrgica – 2013
15. Em relação a esta situação clínica, são apresentadas as Qual é a alternativa correta?
seguintes assertivas: a) apenas I
I. Está indicada a realização de CPER. b) apenas II
II. Deve-se considerar os cálculos como primários de c) apenas III
colédoco. d) apenas II e III
III. Há indicação antibioticoprofilaxia pelo risco de e) I, II e III
sepsis abdominal.
Qual é a alternativa correta?  ACERTEI  ERREI  DÚVIDA
a) apenas I
b) apenas II
UFPR – Clínica Cirúrgica – 2012
c) apenas III
d) apenas I e II 19. Uma mulher hígida, 32 anos, submete-se a ultras-
e) I, II e III sonografia abdominal no contexto de potencial do-
adora de rim para transplante intervivos aparenta-
 ACERTEI  ERREI  DÚVIDA do. O exame revela, além de dois rins tópicos e sem
anormalidades, presença de cálculo biliar único de
15 mm associado a pólipo séssil de 11 mm no fundo
PUC-RS – Clínica Cirúrgica – 2013
da vesícula biliar. Qual sua recomendação para essa
16. Houve melhora progressiva da paciente com trata-
pessoa que é assintomática?
mento adequado. Entretanto, no 5º dia de internação,
surgiu dor abdominal importante, com icterícia, fe- a) colecistectomia videolaparoscópica se aparecerem
bre, hipotensão, disfunção respiratória, piora senso- sintomas relacionados às vias biliares
rial, concomitantes à elevação da fosfatase alcalina e b) colecistectomia videolaparoscópica independente
de bilirrubinas, além de leucocitose com desvio à es- de outra situação
querda. Nesta situação, o diagnóstico mais provável é: c) ressecção da vesícula biliar durante a nefrectomia,
a) novo episódio de pancreatite aguda caso venha a ser doadora
b) colangite aguda d) acompanhamento do tamanho do pólipo com ul-
c) pseudocisto agudo trassonografia a cada 3 meses
d) abscesso pancreático e) colecistectomia laparotômica (aberta), pois há sus-
e) necrose pancreática peita de malignidade

 ACERTEI  ERREI  DÚVIDA  ACERTEI  ERREI  DÚVIDA

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PUC-PR – Clínica Cirúrgica – 2012 a) plasma fresco


20. Tumores de Klatskin Bismuth 2 são: b) vitamina K
a) adenocarcinomas da junção dos hepáticos com in- c) vitamina B6
vasão da bifurcação primária d) fator VIII
b) adenocarcinoma da ampola de Vater
c) adenocarcinoma intra  ACERTEI  ERREI  DÚVIDA
d) adenocarcinoma da junção wirsungocoledociana
e) adenocarcinoma da junção dos hepáticos com inva- UFF – 2010
são bilateral das bifurcações secundárias 25. A colecistite aguda enfisematosa é mais comumente
 ACERTEI  ERREI  DÚVIDA encontrada em pacientes:
a) jovens do sexo feminino com história familiar de co-
lelitíase
UNIFESP – Clínica Cirúrgica – 2012 b) do sexo masculino e em portadores de diabetes
21. A inapropriada dissecção do triângulo cisto-hepático mellitus
(ou hepatobiliar) é a principal causa de lesão do ducto c) do sexo masculino com história de alcoolismo
biliar comum. O cirurgião deveria, então, saber que: d) idosos e portadores de hiperparatireoidismo
a) a tração caudal da bolsa de Hartmann oclui o trígo- e) do sexo feminino, multíparas e portadoras de hipo-
no de Calot paratireoidismo pós-operatório
b) as lesões tipo E de Strasberg são tratadas endoscopi-
camente  ACERTEI  ERREI  DÚVIDA
c) em 70% das vezes, a artéria cística origina-se da he-
pática própria UFF – 2010
d) as válvulas espirais de Heister auxiliam na identifica- 26. Paciente do sexo feminino, 23 anos, apresenta ane-
ção do ducto cístico mia. Sua história familiar é positiva para cálculos
e) os ductos de Luschka produzem coleperitônio a par- biliares em muitos membros jovens da família. Essa
tir do leito vesicular combinação de fatores sugere o diagnóstico de:
 ACERTEI  ERREI  DÚVIDA a) deficiência de ferro
b) deficiência de vitamina B12
c) traço de alfatalassemia
SES-SC – Clínica Cirúrgica – 2011 d) esferocitose hereditária
22. No diagnóstico da colecistite aguda, os achados ul- e) hemoglobinúria paroxística noturna
trassonográficos compatíveis para o diagnóstico es-
tão citados abaixo, exceto.  ACERTEI  ERREI  DÚVIDA
a) líquido perivesicular
b) cálculos na vesícula biliar UFF – Clínica Cirúrgica – 2010
c) Murphy ultrassonográfico positivo 27. Assinale a alternativa correta a respeito da hemobilia.
d) distensão da vesícula biliar maior que 8 cm a) a apresentação clínica inclui cólica biliar, icterícia e
e) parede vesícula biliar > 4 mm, em paciente com he- sangramento intestinal
patopatia b) o sangramento espontâneo secundário a desordens
 ACERTEI  ERREI  DÚVIDA hematológicas é a causa mais comum da doença
c) a embolização arterial é preconizada para aquela
que acomete ductos biliares extra-hepáticos
SES-SC – Clínica Cirúrgica – 2011 d) a angiografia é ineficaz no diagnóstico do sangra-
23. As indicações cirúrgicas de ressecção de lesões poli- mento intra-hepático
poides da vesícula biliar incluem: e) a colocação pela via percutânea de cateter para in-
a) tamanho maior que 0,5 cm trodução de gelatina absorvível é o tratamento de
b) presença de alterações clínicas eleição nos casos de sangramento intra-hepático
c) pacientes com mais de 25 anos de idade significativo
d) presença de lesões múltiplas e pequenas
e) ausência de sombra acústica posterior  ACERTEI  ERREI  DÚVIDA

 ACERTEI  ERREI  DÚVIDA


PUC-RS – Clínica Cirúrgica – 2010
28. Mulher, 30 anos, apresenta icterícia progressiva e
SMS-RJ – 2010 prurido. Refere ter sido submetida à colecistectomia
24. Em um paciente portador de icterícia obstrutiva em videolaparoscópica por colecistite aguda há 4 meses.
decorrência de neoplasia da cabeça do pâncreas, a Hematócrito 29%, hemoglobina 8,5 g/dL, 10200 leu-
substância que deve ser administrada no pré-opera- cócitos, FA 950 U/L, TGO 88 U/L, TGP 96 U/L, BT 12
tório para correção de possíveis distúrbios de coagu- mg/dL, BD 11,3 mg/dL, gama GT 525 U/L. Colangio-
lação é: grafia transparieto-hepática é mostrada a seguir:

256 SJT Residência Médica - 2015


27 Vias biliares,

a) completar a operação por videocirurgia e realizar


tratamento endoscópico posterior
b) colocação de dreno de Kher em via biliar principal
por videocirurgia para manter drenagem na via bi-
liar distal
c) conversão da operação para laparotômica e recons-
trução da via biliar com alça isolada em Y-de-Roux
d) interromper a colecistectomia e instalar dreno biliar
na própria vesícula biliar (colecistostomia)
e) anastomose coledocoduodenal por videocirurgia
Qual é o diagnóstico mais provável?
a) hepatite pós-operatória  ACERTEI  ERREI  DÚVIDA
b) colangiocarcinoma
c) lesão iatrogênica
Comando da Aeronáutica – 2010
d) litíase residual
32. Na classificação de cisto de colédoco os tipos que
e) colangite esclerosante
correspondem a divertículo do hepatocolédoco e a
 ACERTEI  ERREI  DÚVIDA dilatação predominante da árvore intra-hepática
(corresponde a um dos tipos de doença de Caroli) são
respectivamente:
PUC-RS – 2010 a) IV e II
29. Mulher, 65 anos, assintomática, realiza ecografia de b) II e III
rotina, na qual são identificados cálculos na vesícula c) V e VI
biliar. Em relação a este caso, são apresentadas as as- d) II e V
sertivas abaixo:
 ACERTEI  ERREI  DÚVIDA
I. Se os cálculos forem maiores que 3 cm de diâme-
tro, há indicação de tratamento cirúrgico pelo
risco aumentado de complicações. UFF – Clínica Cirúrgica – 2010
II. Se houver calcificação da parede da vesícula bi- 33. A colecistite aguda enfisematosa é mais comumente
liar, deve-se realizar colecistectomia pelo risco encontrada em pacientes:
de surgimento de neoplasia. a) jovens do sexo feminino com história familiar de co-
III. Com o advento das técnicas minimamente inva- lelitíase
sivas, sempre se indica a remoção cirúrgica da b) do sexo masculino e em portadores de diabetes mellitus
vesícula biliar na presença de cálculos. c) do sexo masculino com história de alcoolismo
d) idosos e portadores de hiperparatireoidismo
Qual é a alternativa correta? e) do sexo feminino, multíparas e portadoras de hipo-
a) apenas I paratireoidismo pós-operatório
b) apenas II  ACERTEI  ERREI  DÚVIDA
c) apenas III
d) apenas I e II
e) I, II e III FESP – 2010
34. Nos quadros de coledocolitíase, um procedimento
 ACERTEI  ERREI  DÚVIDA de drenagem é indicado quando a via biliar principal
tem um diâmetro mínimo, em centímetros, de:
a) 1
UNIFESP – Clínica Cirúrgica – 2010 b) 1,5
30. No tratamento cirúrgico da coledocolitíase, via lapa- c) 2
rotomia, deve-se: d) 2,5
a) fazer incisão transversa no ducto colédoco
b) dilatar a papila duodenal com cateter 24F  ACERTEI  ERREI  DÚVIDA
c) evitar irrigar a via biliar para não mobilizar cálculos
d) esticar o dreno de Kehr, evitando redundância den-
tro do abdome FESP – Clínica Cirúrgica – 2010
e) remover o dreno de Kehr após 14 a 21 dias 35. Os cistos de colédoco que se apresentam como dilata-
ção diverticular da via biliar são classificados, segun-
 ACERTEI  ERREI  DÚVIDA do Todani, como tipo:
a) I
b) II
UFES – 2010 c) III
31. Durante colecistectomia por videocirurgia em mulher d) IV
de 32 anos de idade, foi observada lesão acidental da via
biliar principal, Bismuth IV. A melhor conduta será:  ACERTEI  ERREI  DÚVIDA

257
Gabarito comentado
28
12 Vias biliares

1. A classificação mais utilizada para lesões iatrogênicas da Na colecistite aguda a inflamação inicial é química, e não
via biliar é a classificação de Bismuth: bacteriana. Em aproximadamente 50% dos pacientes, bacté-
- Bismuth I: lesão do colédoco/hepático comum > 2 cm da rias podem ser isoladas em meios de cultura da bile vesicular.
confluência dos ductos hepáticos. Os micro-organismos isolados fazem parte da flora intestinal
normal. Atualmente, a maior parte das evidências aponta que
- Bismuth II: lesão do hepático comum < 2 cm da confluência a fonte de contaminação bacteriana das vias biliares é ascen-
dos ductos hepáticos. dente via duodenal. Resposta e.
- Bismuth III: lesão do hilo, sem hepático comum residual,
mas confluência dos ductos hepáticos preservada.
3. Atualmente, a colecistite aguda acalculosa é responsável
- Bismuth IV: destruição da confluência; ductos hepáticos di- por cerca de 10% das colecistites agudas. Essa porcentagem é
reito e esquerdo separados. muito maior no pós-operatório (85%) e nas crianças (50%).
As lesões tipo III e IV são cirúrgicas e a correção será feita Fatores de risco: grandes traumas, queimaduras, choque,
por meio de hepaticojejunostomia única ou dos ductos di- procedimentos cirúrgicos, pós-transplante de medula óssea,
reito e esquerdo separadamente, na dependência da altura da transfusões maciças, hiperalimentação parenteral, infecções,
lesão. Como regra, quanto mais alta a lesão ou quanto menor imunodeficiência adquirida, pacientes graves em UTI, doen-
o coto (ou inexistência dele) e quanto menor o calibre da via ças debilitantes crônicas como doenças vasculares, do colá-
biliar, mais difícil será o ato cirúrgico. Essa técnica é denomi- geno e diabetes mellitus. Resposta d.
nada procedimento de Hepp-Couinaud. Resposta d.

4. Hemólise é a causa mais comum de colelitíase em crian-


2. Os aeróbios gram-negativos são os germes mais frequen- ças. A prevalência de colelitíase é maior na esferocitose
temente isolados da bile de pacientes com colelitíase sin- (43% a 66%) que na anemia falciforme (10 a 37%) ou na
tomática, colecistite aguda ou colangite (E. coli, Klebsiella, talassemia (10%). A incidência de colelitíase aumenta com
Enterobacter). Em relação aos anaeróbios, destacam-se a idade. Em um estudo em indivíduos com anemia falcifor-
Bacteroides, Clostridium, Fusobacterium; dos cocos Gram- me, a incidência de colelitíase aumentou de 12% em crian-
-positivos, Enterococcus. As enterobactérias representam, ças com 2 a 4 anos de idade para 42% em jovens com 15 a
na verdade, 68% dos espécimes. 18 anos. Resposta a.
A indicação de antibioticoprofilaxia em colecistectomia la-
paroscópica deve ser recomendada para idosos, portador de 5. São fatores de risco para câncer de vesícula: colelitíase
neoplasia, imunodeprimidos e pacientes com icterícia (cefa- (70% a 90% dos casos) é considerado o fator de risco mais
zolina é a droga de escolha, na dose de 1-2 g, em dose única, importante. O tamanho dos cálculos exerce influência, par-
na indução anestésica). ticularmente nos maiores que 3 cm, assim como o tempo de
Nos casos de colecistite aguda, o esquema antibiótico com ci- duração da doença litiásica, notadamente após 40 anos. A
profloxacino associado ao metronidazol é um dos esquemas vesícula em porcelana e pólipos de vesícula biliar (nos maio-
preconizados, mas que também pode ser ampicilina + ami- res que 2 cm a incidência é próxima de 100%) são fatores
cacina + metronidazol (evitar este esquema em nefropatas). relevantes.
28 Vias biliares

A infecção crônica por Salmonella está relacionada ao sur- 7. Apesar de a litíase biliar ocorrer em pacientes de qualquer
gimento de câncer de vesícula biliar, e a colonização do epi- idade, de recém-nascido a idosos, a sua prevalência aumenta
télio biliar por H. pylori tem sido relatada em pacientes com com a idade. Enquanto a prevalência em crianças é de cerca
câncer de vesícula. As condições representadas por fístu- de 0,5%, em adultos é de 10%. A colelitíase acomete de 25% a
las enterobiliares, bem como síndrome de Mirizzi, podem 40% das pessoas na sétima década de vida e mais de 40% da-
também ter papel no aparecimento do câncer de vesícula. queles com mais de 70 anos de idade. A prevalência é similar
Uma rara variação anatômica da junção biliopancreáti- em ambos os sexos até a puberdade. Entre esse período e a
ca que proporciona um ducto comum longo (maior que 2 sétima e oitava década de vida, a colelitíase é mais frequente
cm) e normalmente com pressão aumentada do esfíncter em mulheres, posteriormente, a prevalência torna-se nova-
de Oddi, mais prevalente entre asiáticos, está associada ao mente similar em ambos os sexos.
risco aumentado de câncer. Drogas como metildopa, con- Claro que alimentação parenteral total aumenta a incidên-
traceptivos orais e isoniazida têm sido relacionadas, bem cia desta condição. A maioria dos pacientes com colecisto-
como obesos, diabéticos, tabagistas e trabalhadores de in- litíase é assintomática (80% a 85% dos casos). A ultrassono-
dústrias de óleos, celulose, têxtil e mineiros expostos ao ra- grafia é o melhor exame para o diagnóstico de litíase biliar.
dônio. Claro que a questão levanta dúvidas, mas o gabarito O tratamento de escolha é colecistectomia laparoscópica e
oficial foi D, e considerando que pólipo de vesícula é mais não colecistostomia. Resposta a.
relevante do que diabetes e H. pylori, acabo por concordar
com a instituição. Resposta d.
8. A síndrome de Mirizzi consiste em estenose benigna do
ducto biliar comum devida à compressão por um cálculo
6. Os pólipos de colesterol constituem o tipo histológico localizado no infundíbulo da vesícula biliar. A compressão
mais frequente, representando de 60% a 70% dos casos. Essas prolongada do cálculo associada à inflamação das estrutu-
lesões são geralmente múltiplas, pediculadas, com diâme- ras envolvidas pode resultar em erosão e formação de uma
tro médio de 4 a 10 mm. À microscopia, observa-se grande fístula entre o infundíbulo e o ducto hepático comum. Nesta
quantidade de macrófagos xantomatosos cobertos por epité- situação, o cálculo pode migrar através da fístula e localizar-
lio colunar. Pólipos com diâmetro acima de 1 cm têm risco -se na via biliar principal.
considerável de malignização (aproximadamente 70%). Sim, Esta síndrome foi assim denominada em homenagem ao cirur-
a colelitíase com pólipo soma fatores de risco para câncer de gião argentino Pable Mirizzi, que descreveu esta condição em
vesícula, tanto que para pólipos menores do que 10 mm com 1948. Na ocasião, Mirizzi atribuiu erroneamente que a icterícia
cálculo, a conduta é colecistectomia laparoscópica. O risco de observada nos pacientes com esta síndrome era secundária ao
malignização dos pólipos sésseis é significativamente maior espasmo de um esfíncter (esfíncter hepático) por inflamação
em relação aos pólipos pediculados. A opção E é incorreta e, na junção do ducto cístico com o ducto hepático comum.
para contestá-la, fique com o fluxograma a seguir:
A síndrome de Mirizzi pode ser dividida em dois tipos. O
tipo I deve-se a compressão externa do canal hepático co-
Lesão polipoide da vesícula biliar mum por um cálculo grande impactado no infundíbulo ve-
sicular. O tipo II é uma forma mais grave e avançada, que se
caracteriza pela formação de uma fístula colecisto-hepática
< 10 mm > 10 mm devida à erosão do ducto hepático comum por um cálculo
vesicular. Resposta a.

Com Sem Fator de risco Fator de risco


cálculo cálculo presente* ausente
9. O termo íleo biliar designa um quadro de obstrução me-
Colecistectomia Ecografia TC Colecistectomia
cânica de qualquer segmento do tubo digestivo determina-
Videolaparoscopia semestral abdominal Videolaparoscopia do por um cálculo biliar que atingiu a luz visceral através de
por 18 meses
uma fístula biliar. Embora os cálculos biliares sejam respon-
Sem Colecistectomia
sáveis por menos de 3% dos casos de obstrução intestinal,
crescimento Videolaparoscopia entre os pacientes com mais de 65 anos esse índice chega
com conversão
se suspeita a atingir de 20% a 25%. Na maioria dos casos, observa-se
Ecografia anual
por 10 anos
intraoperatória uma fístula entre a vesícula e o duodeno, pela qual migra
de câncer
um cálculo de, no mínimo, 2 cm de diâmetro para a luz do
*Fatores de risco para câncer: tubo digestivo que se impacta no íleo terminal (60%), no
a) pólipo > 1,0 cm íleo proximal (24%), no jejuno distal (9%) ou no cólon e no
reto (2% a 4%). Resposta a.
b) espessamento da parede da vesícula biliar
c) crescimento rápido
d) presença de cálculo biliar 10. Simples e elementar. O diagnóstico de colangite é feito com
base nos achados clínicos, como a tríade de Charcot (dor ab-
e) idade > 60 anos
dominal, icterícia, febre e calafrios). Adicionados à tríade de
f) colangite esclerosante primária Charcot, pacientes graves podem apresentar choque séptico e
Resposta e. confusão mental, formando a pêntade de Reynolds. Resposta d.

259
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11. Os ductos de Luschka correspondem a um ducto hepá- Colangite aguda


tico acessório ou ducto colecisto-hepático e que pode entrar
na vesícula biliar através de seu leito e, se encontrado du- Hemoculturas
Reposição hidreletrolítica
rante uma colecistectomia, deve ser ligado para evitar fístu- Antibioticoterapia
Avaliação da gravidade
la biliar. Resposta b.

Estabilização Sem melhora ou


12. Já tivemos oportunidade de comentar os diversos fatores e melhora piora do quadro
em 12 a 24 horas
de risco para câncer de vesícula, portanto, nesta questão sere-
mos objetivos. A calcificação da parede da vesícula encontrada Manter antibióticos Sem resposta Drenagem
nos casos de colecistite crônica (vesícula em porcelana) está e realizar CPER
preferencialmente em 72 h
adequada em
24 a 48 horas
endoscópica
urgente
presente entre 20% e 22% dos casos de adenocarcinoma. Res-
posta b. Bem-sucedida Falha na
drenagem

Tratamento da causa Drenagem percutânea


13. Cirrose biliar primário (CBP) é doença autoimune, infla- Litíase biliar ou cirúrgica,
matória crônica com destruição inflamatória dos ductos bilia- Correção das estenoses biliares dependendo do cenário

res interlobulares e septais. Predomínio absoluto em mulheres Resposta b.


(95% dos casos), de meia-idade, com pico máximo entre os
30 e 60 anos, marcada de hipergamaglobulinemia IgM e an-
ticorpos antimitocôndria (da classe IgG) que corresponde ao 17. A indicação de realização de colangiografia peroperatória
achado sorológico mais específico (a subunidade M2 é a mais é controversa. Alguns cirurgiões, principalmente em hospitais
específica) e está presente em 95% dos casos. Por se tratar de universitários, realizam-na de rotina. As vantagens da colangio-
colestase intra-hepática, a atividade sérica de 5-nucleotidase grafia peroperatória, além do diagnóstico de coledocolitíase, são
e gama-GT, assim como da fosfatase alcalina encontram-se reduzir o número de lesões iatrogênicas da via biliar principal e
elevadas. No estágio III da CBP, os achados patológicos são permitir o diagnóstico mais precoce dessas lesões (no ato ope-
caracterizados por cicatrização e fibrose intensas, com emissão ratório), possibilitando, assim, o reparo das lesões na mesma
de septos, mas ainda sem nódulos de regeneração. Resposta b. operação. Entretanto, a maioria dos cirurgiões brasileiros realiza
a colangiografia em casos selecionados, principalmente nos pa-
cientes com suspeita de coledocolitíase, nos casos em que a ana-
14. Todas as afirmações estão corretas, exceto a opção B, já tomia das vias biliares não está clara ou com suspeita de lesão da
que a exploração transcística das vias biliares apresenta taxa via biliar principal. As alterações que aumentam a possibilidade
de morbidade entre 5% e 10% e mortalidade menor do que de coledocolitíase incluem dilatação da via biliar principal (> 10
1%, sendo esta derivada geralmente de complicações cardio- mm), história de icterícia ou pancreatite e aumento de bilirrubi-
pulmonares. Suas principais complicações são avulsão do nas e/ou fosfatase alcalina. Resposta d.
ducto cístico, perfuração da via biliar, colangite e pancreatite.
A exploração laparoscópica com coledocotomia é mais efe-
tiva, com taxa de sucesso próxima a 90%, porém apresenta 18. Estamos diante de um paciente idoso com uma síndrome
maior morbilidade (entre 5% e 18%). Além das complicações colestática extra-hepática. Nesta população, a etiologia mais
citadas na abordagem transcística, a exploração com coledo- provável são os tumores periampulares e no diagnóstico di-
cotomia apresenta risco de estenose do colédoco. Resposta b. ferencial inclui-se o tumor de papila. Neste caso um dado
sensível é o relato de icterícia intermitente (o tumor de papila
frequentemente sofre necrose e por isso o relato de icterícia
15. Entre 10% e 15% dos pacientes submetidos à colecistec- intermitente). A presença de colelitíase não indica, neste mo-
tomia por colelitíase apresentam litíase das vias biliares. Na mento, a prioridade de colecistectomia já que o diagnóstico
maioria dos casos, esses cálculos são originados da vesícula principal deve ser levado em consideração.
e qualificados como cálculos secundários. Em pacientes pre-
A EDA pode definir o diagnóstico, uma vez que pode evi-
viamente submetidos à colecistectomia por colelitíase, só são
denciar lesão elevada, vegetante e/ou infiltrante e geralmente
considerados primários se tiverem surgido após dois anos da
friável acometendo a papila duodenal. Resposta d.
realização da colecistectomia, logo, neste caso, deve-se consi-
derar os cálculos como primários de colédoco. A CPRE, além
de ser um método diagnóstico, possibilita o tratamento desta 19. Independente da litíase biliar assintomática, o pólipo de
doença na grande maioria dos casos mediante papiloesfinc- 11 mm no fundo da vesícula é uma indicação precisa para co-
terotomia endoscópica. Como este paciente apresenta alta lecistectomia. Em lesões polipoides de vesícula os fatores de
suspeita para coledocolitíase, a CPRE é obrigatória. Há, sim, risco associados à malignidade são idade acima de 60 anos,
indicação de antibioticoprofilaxia para cálculos de via biliar coexistência de cálculos biliares, um aumento documentado
principal, visto o risco de sepse. Resposta e. do tamanho, e tamanho acima de 10 mm.
Lesões menores do que 10 mm, que são assintomáticas e
16. O quadro é de sepse grave secundária à colangite aguda, sem características ultassonográficas de neoplasia, podem
e o que temos no exposto é a pêntade de Reynolds. O que ser seguramente observadas com imagens de acompanha-
fazer? Fique com o fluxograma a seguir: mento. Resposta d.

260 SJT Residência Médica - 2015


28 Vias biliares

20. O colangiocarcinoma (tumor de Klatskin) é um tumor Os ductos de Luschka se constituem de canalículos biliares,
raro, representa apenas 2% de todos os tipos de câncer e necessitando de peritonização do leito vascular após os cole-
de5% a 30% dos carcinomas hepáticos, com pico de inci- cistectomias, com a finalidade de evitar o extravasamento de
dência que ocorre na sétima década de vida, com cerca de bile para a cavidade peritoneal.
dois terços dos pacientes com idade entre 50 e 70 anos. De A classificação de Strasberg engloba a classificação de Bis-
acordo com a classificação de Bismuth e Corlette podemos muth (tipos E1 a E5), acrescentando vazamentos de bile
categorizá-los em: decorrentes de lesões do leito vesicular e os decorrentes de
soltura de ligadura do cístico, privilegia as lesões decorrentes
de variações anatômicas, destinando a elas três tipos (A, B
e C) com apenas o tipo D representando lesão da via biliar
principal, sem distinção da altura de ocorrência da lesão. As
lesões do tipo I e II podem ser tratadas por endoscopia com
endoscopia e colocação de próteses biliares.
As lesões tipo III e IV são cirúrgicas e a correção será feita
por meio de hepaticojejunoanastomose única ou dos ductos
direito e separadamente, na dependência da altura da lesão.
As lesões E1 e E2 de Strasberg correspondem a Bismuth I e II.

(I) (II)

(IIIb)

(IV)
(IIIa)
Classificação de Strasberg. Resposta e.
Classificação de Bismuth e Corlette para o tumor de Klat-
sin. Tipo I: tumor abaixo da confluência com livre fluxo
entre os canais esquerdo e direito. Tipo II: tumor obstrui 22. O achado mais consistente de colecistite aguda é a pre-
a confluência e não há acometimento superior dos ramos sença da tríade composta por colelitíase, espessamento da
principais. Tipo IIIa: tumor obstrui a confluência e o ramo parece vesicular e sinal de Murphy ultrassonográfico (repro-
principal direito. Tipo IIIb: tumor obstrui a confluência e o dução do sinal de Murphy clínico, aqui com o transdutor fa-
ramo principal esquerdo. Tipo IV: acometimento de ambos zendo a compressão da vesícula). O valor preditivo positivo
os ramos principais e os secundários, os tumores multicên- dessa tríade alcança 95%. É importante, no entanto, ressaltar
tricos. Resposta a. que esses sinais não guardam especificidade isoladamente,
devendo ser valorizados no contato da doença aguda.
A parede da vesícula biliar mede < 2 mm de espessura, em
21. A bolsa de Hartmann é uma formação diverticuliforme
aproximadamente 97% dos pacientes normais, sendo seu
com orientação inferior e posterior, que pode estar associada
espessamento > 4 mm indício de inflamação. Existe, contu-
a algum processo patológico, tal como a colelitíase.
do, uma série de situações em que esse achado não implica
Aproximadamente 80% a 85% das vezes, a artéria cística é colecistite aguda, devendo, portanto, fazer parte do contex-
formada por um único tronco originário da artéria hepática to clínico da doença biliar aguda. A tabela a seguir lista as
direita. principais causas de espessamento da parede vesicular, não
O triângulo de Calot (hepatocístico) apresenta como limite associadas à colecistite aguda. Ascite é uma causa frequente.
superior a face inferior do fígado, medialmente o ducto he- Causas de espessamento da parede vesicular
pático comum e inferiormente o ducto cístico. No interior Contração fisiológica
desse triângulo estão estruturas importantes: a artéria cística,
Colecistite crônica
a artéria hepática direita e o linfonodo do ducto cístico.
Adenomiomatose
Tanto o colo da vesícula biliar como o ducto cístico con-
têm pregas de mucosa, orientadas espiralmente, conhecidas Colangite esclerosante
como as valvas de Heister. Carcinoma vesicular
Um ducto hepático acessório ou ducto colecisto-hepático Hipertensão portal (varizes parietais)
(ducto de Luschka) pode entrar na vesícula através do seu Insuficiência renal
leito e, se encontrado durante uma colecistectomia, deve ser Doenças autoimunes
ligado para evitar fístula biliar.

261
Clínica cirúrgica | Vias biliares, pâncreas e fígado | Gabarito comentado

Causas de espessamento da parede vesicular (cont.) 25. Colecistite enfisematosa é forma grave e rapidamente
progressiva de colecistite aguda. É mais comum em homens
Hepatite aguda
e 20% dos pacientes são diabéticos. É causada por infecção
Giardíase mista, que inclui germes formadores de gás. A cultura da bile
Obstrução linfática é positiva em 90% dos casos e clostrídios são identificados
em 50% dos pacientes. De início abrupto e evolução rápida,
ocorre invasão bacteriana direta e isquemia da parede ve-
Resposta e. sicular. A vesícula biliar habitualmente está gangrenosa e a
perfuração livre com peritonite ocorre em 15% dos pacien-
tes. O tratamento cirúrgico precoce é imperioso e a taxa de
23. Na lesão polipoide com menos 10 mm, sem fator de risco
mortalidade é elevada. Resposta b.
para câncer e com colelitíase e na lesão maior do que 10 mm,
sem fator de risco e sem cálculos, está indicada a colecistec-
tomia laparoscópica. É importante evitar a rotura da vesícula 26. Esta paciente jovem portadora de anemia tem uma his-
durante a cirurgia retirando-a da cavidade protegida por luva tória familiar de calculose biliar em membros jovens. Este
ou saco plástico para que não haja contato da lesão com a dado nos faz supor a existência de uma doença hemolítica de
incisão ou vazamento de bile. herança familiar. Desta forma, a impressão diagnóstica recai
Quando houver fator de risco (crescimento rápido, base de sobre esferocitose hereditária pois o traço de alfatalassemia
implantação maior do que 5 mm e espessamento de parede não expressa doença clínica.
vesicular, maior do que 18 mm), está indicada uma tomografia É a anemia hemolítica congênita mais frequente na popula-
abdominal para confirmação dos achados ecográficos sugesti- ção branca, cujo defeito principal, de transmissão autossô-
vos de câncer. Se a TC não evidenciar sinais inequívocos de ne- mica dominante, parece ser a deficiência ou disfunção da
oplasia, a colecistectomia lararoscópica deve ser realizada com espectrina – o maior e principal resíduo proteico da mem-
limiar baixo de conversão para laparotomia caso haja suspeita brana celular do eritrócito. As hemácias jovens, provenientes
de câncer no intraoperatório (massa ou lesão vesicular). da medula óssea, possuem formato normal e vão assumindo
Fluxograma da conduta na lesão polipoide da vesícula biliar a forma esférica durante a circulação periférica, tornando se
Lesão polipoide da vesícula biliar
incapazes de atravessar a polpa esplênica, sendo sequestradas
e desintegradas já em uma primeira passagem pelo baço ou
após sucessivas passagens, o que deixa o esferócito (hemácia
< 10 mm > 10 mm deformada e rígida) cada vez mais suscetível a sequestro, sur-
gindo, assim, anemia, hemólise e esplenomegalia.
O teste diagnóstico clássico para esferocitose hereditária é a
Com Sem Fator de risco Fator de risco
cálculo cálculo presente* ausente demonstração do aumento de fragilidade osmótica dos eri-
trócitos quando colocados perante concentrações decrescen-
Colecistectomia Ecografia TC Colecistectomia tes de soro fisiológico (solução salina isotônica). Enquanto
Videolaparoscopia semestral abdominal Videolaparoscopia
por 18 meses hemácias normais se mantiveram intactas em baixas osmola-
ridades, eritrócitos acometidos demonstram graus de hemó-
Sem
crescimento
Colecistectomia
Videolaparoscopia
lise crescentes na medida em que se reduzia gradativamente
com conversão a osmolaridade. Graus variáveis de esferocitose também po-
se suspeita
Ecografia anual intraoperatória dem ser observados em outras anemias hemolíticas.
por 10 anos de câncer
Portadores de esferocitose hereditária apresentam anemia
*Fatores de risco para câncer: leve, número variável de esferócitos no sangue periférico,
a) pólipo > 1,8 cm mas em geral superior a 80%, reticulocitose (5% a 20%) e,
pela hemólise, hiperbilirrubinemia predominantemente in-
b) espessamento da parede da vesícula biliar
direta que, geralmente não ultrapassa 5 mg/dL. Na maioria
c) crescimento rápido das vezes a esplenectomia corrige o hematócrito.
d) presença de cálculo renal Sempre que possível, deve-se postergar a operação até a me-
e) idade > 60 anos lhor maturidade do sistema imunológico da criança para re-
duzir o raro, mas grave, risco de sepse pós-esplenectomia.
f) colangite esclerosante primária
Raramente a esplenectomia necessita de ser realizada em ida-
Resposta b. des abaixo dos quatro anos por crises hemolíticas repetidas,
em geral desencadeadas por quadro infeccioso agudo (bacté-
24. Em pacientes com icterícias colestáticas, a discrasia san- ria ou vírus), apresentando queda acentuada do hematócrito,
guínea diz respeito à deficiência dos fatores vitamina K de- exigindo transfusão sanguínea.
pendente (II, VII, IX, X). Sendo assim, a forma mais efetiva No pré-operatório é fundamental a realização de ultrassono-
para corrigi-la é a injeção de vitamina K, que é superior à grafia abdominal na tentativa de evidenciar cálculos vesicu-
prescrição do plasma fresco, uma vez que o plasma somente lares de bilirrubinato. Quanto mais grave e prolongada for
reporia provisoriamente esses fatores, enquanto a vitamina K a hemólise, maior a probabilidade da presença de cálculos
estimulará a síntese dos mesmos. Resposta b. biliares, apesar deste aparecimento ser raro em crianças me

262 SJT Residência Médica - 2015


28 Vias biliares

nores de 10 anos. Na presença de colelitíase deve-se realizar sociação com neoplasia de vesícula (afirmação II, correta!),
colecistectomia durante a mesma operação para esplenecto- cálculos maiores que 2,5 cm (afirmação I, correta!), vesícula
mia. Resposta d. repleta de microcálculos e em casos de imagens radiológi-
cas ou ultrassonográficas duvidosas, como diferencial para
câncer de vesícula.
27. O quadro clínico clássico da hemobilia consiste na tría-
de: dor abdominal alta (cólica biliar), hemorragia gastroin- Indicações de colecistectomia em portadores assintomáticos
testinal alta e icterícia. A tríade completa ocorre em apenas de colelitíase:
um quarto dos pacientes. A maioria apresenta sangramento € diabetes mellitus;
pequeno e apenas um dos componentes da tríade. Alguns € vesícula calcificada (porcelana);
pacientes têm manifestações clínicas de hemobilia somen-
te dias ou semanas após o evento que ocasionou o rompi- € cálculos > 2,5 cm;
mento do vaso, ou ainda pode haver recidiva da hemobilia € múltiplos microcálculos;
meses após o evento. Sempre que ocorrer hemorragia diges-
€ dúvida com neoplasia;
tiva alta sem lesão ulcerosa péptica, lesão aguda da mucosa
gastrointestinal ou varizes esofageanas, deve-se considerar € obesidade mórbida (controverso);
a hipótese de hemobilia. € anemia falciforme;
As manifestações clínicas da hemobilia estão relacionadas, € durante laparotomia por outra doença (exceto urgências).
fundamentalmente, com a distensão e a obstrução biliar e
com o sangramento. A distensão ocorre quando a quantida- Resposta d.
de de sangue e bile que penetra os canais biliares é maior do
que o débito através do colédoco terminal. Ela pode resultar 30. Veja o passo a passo da abordagem do colédoco por via
também de obstrução canalicular por coágulos sanguíneos. laparotômica:
A causa mais comum de hemobilia é de origem traumá-
tica (trauma iatrogênico) sendo responsável por 55% dos 1. Após a realização da colecistectomia, utiliza-se o reparo do
casos. A embolização arterial seletiva apresenta diversas ducto cístico para identificar o colédoco.
vantagens: a mortalidade e a morbidade são mínimas, o 2. Faz-se a manobra de Kocher com o objetivo de palpar a
procedimento é seguro e eficaz, o custo e a permanência cabeça do pâncreas e do colédoco distal. Essa manobra possi-
hospitalar diminuem, o paciente não se submete à anestesia bilita, eventualmente, a palpação e a mobilização de cálculos
geral nem à laparotomia e o método envolve, em um só ato, intracoledocianos.
a realização do diagnóstico e a possibilidade de tratamento.
3. Procede-se à exposição supraduodenal do ducto biliar
Constitui, portanto, o método de escolha no tratamento da
comum, disseca-se o peritônio e o tecido areolar sobre o
hemobilia de origem arterial em todos os casos em que não
colédoco, que é exposto por meio de dois fios de reparo (por
se faz necessária uma intervenção cirúrgica imediata. Nos
exemplo, polipropileno 4 ou 5-0) passados paralelamente,
casos de hematoma hepático ou abscesso associado, a dre-
seja no sentido vertical ou no horizontal, abaixo do ducto
nagem pode ser realizada por punção percutânea sob con-
cístico.
trole ultrassonográfico. Resposta a.
4. Pelos reparos, eleva-se a parede anterior do colédoco, que
é aberto longitudinal ou transversalmente.
28. Essa paciente, submetida à colecistectomia videolaparos-
5. Após a abertura do colédoco, procede-se à manipulação do
cópica, para tratamento de colecistite aguda, há 4 meses, e
colédoco manualmente, com pinças de exploração de via bi-
que nesse momento apresenta-se com uma síndrome ictéri-
liar. Pode-se utilizar sonda de nelaton para aspirar pequenos
ca colestática, cuja colangiografia evidencia dilatação da via
cálculos. A instrumentação deve ser feita delicadamente, pois
biliar intra hepática, confirmando a ligadura no ducto he-
pode ocorrer lesão da via biliar ou formação de falso trajeto.
pático comum imediatamente distal à confluência, define o
diagnóstico de lesão iatrogênica que corresponde à ligadura 6. Pode-se irrigar a via biliar para remover pequenos cál-
do ducto biliar. Resposta c. culos e debris. Outra alternativa é a utilização de cateteres
balonados (tipo Fogarty) para remoção de cálculos proxi-
mal e distalmente. Após a completa limpeza da via biliar,
29. O tratamento definitivo para portadores de colecistite é necessário drenar a via biliar com dreno em T (Kher), e
crônica calculosa sintomática é a colecistectomia, preferen- a coledocotomia deve ser fechada com fio absorvível (por
cialmente pela via laparoscópica. O tratamento de pacientes exemplo, ácido poliglicólico). Deve-se colocar o dreno com
assintomáticos com achados de exame revelando colecis- ramos curtos no interior do ducto.
topatia calculosa, como o caso descrito, é controverso. A
maioria dos autores recomenda não operar esses pacientes, 7. Verifica-se a existência de extravasamento através da irrigação
quando forem realmente assintomáticos. Algumas situa- do dreno com soro fisiológico. Caso haja, devem ser acrescidas
ções merecem consideração, pois podem apresentar com- outras suturas.
plicações distintas. Recomenda-se indicar a colecistectomia 8. Deve-se realizar colangiografia com dreno de Kher, antes
aos pacientes portadores de colelitíase, mesmo estando as- do fechamento da cavidade, para excluir a possibilidade de
sintomáticos, que apresentem as seguintes complicações de cálculos residuais e também para confirmar que não há ex-
risco: diabetes mellitus, vesícula calcificada pela maior as- travasamento de bile.

263
Clínica cirúrgica | Vias biliares, pâncreas e fígado | Gabarito comentado

9. Antes do fechamento do abdome, coloca-se um dreno (tu- Ia: dilatação cística compromete todo o ducto biliar extra-
bular a vácuo ou laminar) na região do forame de Winslow, -hepático; Ib: dilatação segmentar focal do ducto biliar
que é trazido através de uma incisão separada no flanco di- extra-hepático; Ic: dilatação fusiforme difusa da árvore
reito. Esse dreno visa detectar fístulas da coledocotomia ou biliar extra-hepática; II: divertículo verdadeiro do ducto
do leito hepático. O dreno em T é trazido ao longo da borda biliar extra-hepático; III: dilatação cística da porção in-
inferior do fígado, tomando-se o cuidado de não deixá-lo traduodenal do ducto biliar – coledococele; IVa: cistos lo-
tenso no interior da cavidade.
calizados nos ductos biliares intra e extra-hepáticos; IVb:
10. O tubo-T é retirado entre 14 e 21 dias após o procedi- cistos restritos aos ductos biliares extra hepáticos; V: cis
mento. tos nos ductos biliares intra-hepáticos – doença de Caroli.
Resposta e. Resposta d.

31. A localização, a extensão e o tipo da lesão que acomete a 33. Pergunta comum ao R1 e R3 da UFF 2010. Colecistite
via biliar são fatores para predizer o prognóstico e determinar enfisematosa é uma manifestação mais grave, secundária à
o tratamento. As estenoses que acompanham uma colecistec- infecção por organismos produtores de gás, que em um terço
tomia podem ocorrer em uma fase precoce ou tardia de evolu-
dos pacientes é representada pelo Clostridium perfringens. É
ção pós-operatória e variam quanto a sua extensão. A classifi-
mais comum aos idosos, do sexo masculino, sobretudo nos
cação proposta, em 1985, por Bismuth, apresenta 5 subtipos de
estenoses, conforme demonstrado na figura a seguir. portadores de diabetes mellitus. A insuficiência vascular da
vesícula parece ser o mecanismo principal. O risco de per-
furação, aqui, aumenta em cinco vezes quando comparado à
Tipo 1: lesão situada a mais
de 2 cm da confluência colecistite não complicada. Resposta b.
Tipo 2: lesão situada a menos
> 2 cm de 2 cm da confluência

> 2 cm
34. Caso os cálculos não possam ser retirados ou quando o
Tipo 3: lesão situada no
nível da confluência Tipo 4: lesão comprometendo
a confluência dos ductos
ducto está muito dilatado (> 1,5 cm de diâmetro), um pro-
cedimento de drenagem do colédoco deve ser realizado. As
Tipo 5: lesão complexa envolvendo opções de drenagem biliar incluem uma coledocoduodenos-
o ramo setorial direito e estenose
circunferencial da via biliar principal tomia laterolateral ou uma coledocojejunostomia em Y de
Roux. A preferência do cirurgião dita a abordagem a ser usa
da. O uso do duodeno é preferido caso ele possa ser comple-
Lesões da via biliar principal, envolvendo menos de 50% tamente mobilizado (manobra de Kocher) e a tensão seja mí-
da sua circunferência, devem ser reparadas primariamen- nima. Qualquer tensão excessiva deve levar ao uso do jejuno
te sobre um dreno de Kehr, retirado por contraincisão na
para anastomose terminolateral ou laterolateral. Resposta b.
via biliar. Todavia, quando a lesão envolver mais que 50%
da circunferência (secção total ou quase total, ou lesão
comprometendo a confluência dos ductos, como é o caso 35. Na publicação inicial de Alonzo-Lej et al. foram des-
do tipo IV), a reconstrução deve ser realizada preferencial-
critos três tipos de cisto de colédoco. Com o avanço das
mente por hepaticojejunostomia em Y de Roux. A anasto-
técnicas diagnósticas por imagens, outras formas foram
mose coledocoduodenal pode ser realizada neste paciente
desde que não haja o inconveniente do refluxo do conteúdo posteriormente descritas por Todani et al., que elabora-
duodenal para a árvore hepática, o que resultaria em episó- ram a seguinte classificação: tipo I, ou dilatação cística do
dios de colangite. Gabarito oficial, E. ducto comum, ocorre entre 85% e 90% dos pacientes, nos
quais a vesícula biliar drena no cisto e apresenta os ductos
hepáticos direito e esquerdo, e os ductos intra-hepáticos
32. Pergunta tradicional: tipo II: divertículo do hepatocolé- de tamanho normal. O tipo I pode ainda ser dividido em
doco; tipo V: dilatação predominante da árvore intra-hepáti-
Ia, que seria a forma descrita acima, Ib, em que a vesí-
ca (corresponde a um dos tipos da doença de Caroli).
cula biliar drena na parte não dilatada do colédoco, e Ic,
que apresenta uma dilatação fusiforme. A dilatação difusa
ou cilíndrica do colédoco é encontrada em 20% dos casos
e apresenta menor incidência de anomalias no ducto co-
mum e pancreático e de estenoses no segmento distal.
O tipo II é encontrado em aproximadamente 2% dos
casos de cisto de colédoco e se apresenta como malfor-
mação diverticular, de tamanho variado, do ducto co-
mum, com o restante da árvore biliar sem alterações. O
tipo III, também conhecido como coledocele, representa
entre 0,1% e 1% dos pacientes com diagnóstico de cisto de

264 SJT Residência Médica - 2015


28 Vias biliares

colédoco. O cisto encontra-se dentro do duodeno, com o estreitado. As duas outras formas de malformação descri-
restante da árvore biliar sem alterações. Aproximadamen- tas por Todani et al., com base em exames de imagens da
te 70% dos casos de coledocele relatados foram diagnos- árvore biliar, foram o tipo IV, com múltiplos cistos, tanto
ticados em adultos, apesar de haver casos cujo diagnós- intra como extra hepáticos, e o tipo V, em que os cistos
tico foi realizado nas primeiras dez semanas de vida. Em são exclusivamente intra-hepáticos, podendo ser simples
alguns deles, tanto o ducto biliar comum como o ducto ou múltiplos. Quando os cistos intra hepáticos são asso
principal desembocam na coledocele em separado, com ciados à fibrose hepática, recebem o nome de doença de
cada abertura em geral estenosada, com a coledococele Caroli, porque foram descritos por Caroli et al. em 1958.
esvaziando-se dentro do duodeno por meio de um orifício Resposta b.

265
Questões para Treinamento
29
Pâncreas

Albert Einstein – 2013 d) a drenagem endoscópica não traz resultados pois


1. A respeito da neoplasia de pâncreas, é correto afirmar: não elimina o líquido do cisto
a) em caso de dúvida entre neoplasia e pancreatite crô- e) a comunicação arterial do pseudocisto pode ser tra-
nica, deve-se obter comprovação histológica, por bi- tada com embolização arterial
ópsia, antes de indicar ressecção cirúrgica
 ACERTEI  ERREI  DÚVIDA
b) existe alternativa terapêutica potencialmente curati-
va, além da ressecção cirúrgica
c) apenas 15% a 20% dos pacientes são candidatos à AMP – Clínica Cirúrgica – 2013
ressecção cirúrgica 4. Paciente vítima de trauma fechado apresenta-se no
d) a punção com agulha fina ou com Trucut, por eco- intraoperatório com laceração do corpo do pâncreas
endoscopia, tem alta sensibilidade que envolve o ducto pancreático e lesão do hilo esplê-
e) o índice de duodenopancreatectomia por patologia nico. A melhor conduta é:
benigna em centros especializados chega a 50% a) pancreatectomia distal e esplenectomia
 ACERTEI  ERREI  DÚVIDA b) pancreatorrafia e esplenorrafia
c) duodenopancreatectomia e esplenectomia
d) drenagem pancreática e uso de octreotídeo
Angelina Caron – 2013 e) drenagem pancreática e alimentação enteral precoce
2. Nas pancreatites, vários são os sinais e sintomas que
 ACERTEI  ERREI  DÚVIDA
caracterizam tal afecção. Presença de equimose em
flancos se denomina:
a) sinal de Cullen Cruz Vermelha – 2013
b) sinal de Trousseau 5. Dos chamados critérios de Ranson, identificados na
c) sinal de Grey Turner admissão do paciente, determinantes para o prognós-
d) sinal de Gersuny tico da Pancreatite Aguda, não faz parte:
e) sinal de Chvostek a) idade acima dos 70 anos
b) leucócitos acima de 16.000/ mm3
 ACERTEI  ERREI  DÚVIDA
c) glicemia acima de 200 mg/100 mL
d) DHL acima de 350 UI/L
Angelina Caron – Clínica Cirúrgica – 2013 e) SGOT acima de 250 U/100 mL
3. Sobre o pseudocisto pancreático é correto afirmar:  ACERTEI  ERREI  DÚVIDA
a) deve sempre ser drenado
b) nunca é necessário ser ressecado por não ser doença
maligna Cruz Vermelha – Clínica Cirúrgica – 2013
c) após o advento da drenagem percutânea, não há mais 6. Assinale a alternativa incorreta:
indicação de derivação cirúrgica com alça em Y de a) a maioria dos pacientes com adenocarcinoma do pân
Roux creas tem doença incurável por ocasião do diagnóstico
29 Pâncreas

b) o carcinoma do pâncreas é mais frequente no ho- Nossa Senhora das Graças – Clínica Cirúrgica – 2013
mem que na mulher, em proporção de 1:3 11. Com relação às neoplasias císticas do pâncreas assi-
c) o fator ambiental mais importante associado com o nale a alternativa correta:
carcinoma pancreático é o tabagismo a) a neoplasia intraductal produtora de mucina tem
d) a localização mais frequente do tumor pancreático é como característica marcante o acometimento iso-
na cabeça do órgão lado do parênquima pancreático poupando sempre
e) o método de imagem de escolha para o diagnóstico a região da papila
dos tumores pancreáticos é a ecografia abdominal b) as neoplasias císticas mucinosas têm sua maior inci-
dência na região da cabeça do pâncreas (90%)
 ACERTEI  ERREI  DÚVIDA
c) o tumor de Frantz (neoplasia papilífera sólido-cís-
tica) é uma neoplasia pancreática rara que ocorre
Cruz Vermelha – Clínica Cirúrgica – 2013 mais frequentemente em mulheres na segunda ou
7. A tríade de Whipple, importante na suspeita clínica terceira década de vida
do Insulinoma, é formada por: d) o cistoadenoma seroso, quando diagnosticado, deve
a) dor abdominal, icterícia e vesícula biliar palpável ser tratado cirurgicamente, exceto em pacientes sem
b) hipoglicemia, glicemia < 50 mg/dL, melhora dos condições clínicas para tal
sintomas após administração endovenosa de glicose e) n. d. a.
c) hipoglicemia, dor abdominal, melhora dos sintomas  ACERTEI  ERREI  DÚVIDA
após administração endovenosa de glicose
d) hematêmese, dor abdominal, melhora dos sintomas
após administração endovenosa de glicose Nossa Senhora das Graças – Clínica Cirúrgica – 2013
e) dor abdominal, icterícia e hematême 12. Sobre pancreatite crônica é correto afirmar que:
a) o fator etiológico mais comum é a litíase biliar, que
 ACERTEI  ERREI  DÚVIDA
leva a pancreatite crônica devido a constante passa-
gem de cálculos pela papila duodenal
FADESP – Clínica Cirúrgica – 2013 b) o sintoma mais comum é a esteatorreia
8. Os tumores carcinoides são de natureza neuroendó- c) a pancreatografia é normal em quase todos os casos
crina, constituídos de células do sistema APUD. Os d) a indicação cirúrgica baseia-se principalmente na
carcinoides de origem gástrica associados à síndrome dor do paciente
de Zollinger-Ellison são classificados como perten- e) o tratamento cirúrgico visa melhorar a função exó-
centes ao(s) grupo(s): crina e endócrina do pâncreas
a) I
 ACERTEI  ERREI  DÚVIDA
b) II
c) II e III
d) I e II Nossa Senhora das Graças – Clínica Cirúrgica – 2013
 ACERTEI  ERREI  DÚVIDA 13. Sobre tumores endócrinos do pâncreas é incorreto
afirmar que:
a) o tratamento de insulinomas menores que 2 cm é
FADESP – Clínica Cirúrgica – 2013 clínico
9. A principal causa de pancreatite aguda é a litíase biliar. b) o insulinoma é o mais comum
A dor tipicamente em faixa com irradiação dorsal, fre- c) o uso de diazóxido pode melhorar os sintomas nos
quentemente vem acompanhada de náuseas, além da insulinomas
distensão abdominal. Para a avaliação do parênquima d) aproximadamente 50% dos pacientes com gastrino-
pancreático nessa situação, o método ideal é a: mas possuem diarreia
a) ultrassonografia e) o glucagonoma é associado a dermatite intensa
b) tomografia computadorizada
 ACERTEI  ERREI  DÚVIDA
c) colangiorressonância magnética
d) colangiopancreatografia retrógrada
 ACERTEI  ERREI  DÚVIDA Nossa Senhora das Graças – Clínica Cirúrgica – 2013
14. Durante a investigação de um paciente com pancre-
atite crônica foram encontradas múltiplas áreas de
INCA – Clínica Cirúrgica – 2013 estenose e dilatação do ducto de Wirsung. Quando
10. Dentre os tumores endócrinos abaixo relacionados, indicado tratamento cirúrgico, a melhor escolha é:
assinale aquele que se associa à tríade de Whipple. a) esfincterotomia
a) insulinoma b) pancreatojejunostomia laterolateral
b) somatostinoma c) pancreatojejunostomia terminolateral
c) vipoma d) pancreatectomia distal
d) carcinoide e) pancreatectomia total
 ACERTEI  ERREI  DÚVIDA  ACERTEI  ERREI  DÚVIDA

267
Clínica cirúrgica | Vias biliares, pâncreas e fígado | Questões para treinamento

PUC-RS – Clínica Cirúrgica – 2013 d) os insulinomas habitualmente associam-se a diar-


15. Mulher, 42 anos, ao realizar ultrassonografia para reia aquosa
revisão ginecológica, tem diagnóstico de lesão cística e) os doentes com glucagonomas têm níveis elevados
de 2 cm na cabeça do pâncreas. Está assintomática. de peptídeo C
TC de abdome com contraste mostra lesão composta
 ACERTEI  ERREI  DÚVIDA
de pequenos cistos e semelhante a um favo de mel ou
esponja. Qual é a melhor conduta?
a) indicar duodenopancreatectomia UNIFESP – Gastroenterologia Clínica – 2012
b) realizar ressonância magnética do pâncreas 19. Em qual das alternativas abaixo todos os critérios são
c) realizar ecoendoscopia e punção da lesão definitivos para o diagnóstico de pancreatite crônica:
d) indicar observação e reavaliação em 4-6 meses a) calcificações intrapancreáticas; dilatação do ducto
e) realizar videolaparoscopia diagnóstica pancreático principal; fibrose irregular e aumento
 ACERTEI  ERREI  DÚVIDA difuso da glândula
b) coleção extrapancreática; cálculos intraductais; dilata-
ção irregular dos ductos pancreáticos e fibrose irregu-
UFPR – Clínica Cirúrgica – 2012 lar
16. Uma mulher de 55 anos é internada por dor abdo- c) calcificações intrapancreáticas; dilatação irregular
minal difusa, vômitos e amilase sérica de 1.500 UI/ dos ductos pancreáticos; concentração baixa de bi-
mL. No dia da admissão, possuía hemograma com carbonato na secreção pancreática; fibrose irregular
40% de hematócrito, 14.500 leucócitos, glicemia de e cálculos intraductais
210 mg/100 mL, cálcio sérico de 8 mg/100 mL, SGOT d) aumento focal da glândula; fibrose irregular; con-
de 350 U/100 mL e DHL de 250 UI/L. Vinte e quatro centração baixa de bicarbonato na secreção pancre-
horas após o internamento, possuía hemograma com ática e necrose pancreática
36% de hematócrito, 12.000 leucócitos, amilase sérica e) cálculos intraductais; dilatação irregular dos ductos
de 850 UI/100 mL, glicemia de 140 mg/100 mL e cál- pancreáticos; coleções intrapancreáticas; necrose
cio sérico de 7,8 mg/100 mL. De acordo com os fato- pancreática menor que 30%
res prognósticos de Ranson para pancreatite aguda, a
mortalidade estimada para essa paciente seria de:  ACERTEI  ERREI  DÚVIDA
a) 5%
b) 11% UNIFESP – Gastroenterologia Clínica – 2012
c) 22% 20. Em qual das alternativas abaixo todos os critérios são
d) 33% preditivos de pancreatite aguda grave
e) 55% a) idade superior a 55 anos; hipotensão postural; insu-
 ACERTEI  ERREI  DÚVIDA ficiência renal aguda; hipercalcemia
b) síndrome da disfunção de múltiplos órgãos; necro
se pancreática < 50%; dor intensa andar superior
SUS-SP – Clínica Cirúrgica – 2012 do abdome
17. A respeito do adenocarcinoma pancreático, é correto c) amilase sérica maior que 3.000 U/I; proteína C reati-
afirmar que: va maior que 150 mg/L; ascite pancreática
a) as complicações fistulosas das duodenopancreatec- d) idade superior a 70 anos; obesidade (IMC > 30 kg/m2);
tomias para sua ressecção, mais frequentemente, re- critério de Ramson > 3; necrose pancreática > 50%
caem sobre as anastomoses biliar e gástrica e) obesidade (IMC > 30 kg/m2); proteína C reativa
b) sua incidência é muito próxima de sua taxa de mor- maior que 150 mg/L; oliguria; amilase sérica maior
talidade que 3.000 U/I
c) sua ocorrência não apresenta associação com diabe-
tes mellitus crônico  ACERTEI  ERREI  DÚVIDA
d) o sintoma mais frequente é a icterícia
e) os níveis plasmáticos de CA 19-9 não se correlacio-
UNIFESP – Gastroenterologia Clínica – 2012
nam com a ressecabilidade
21. Paciente assintomática com aumento isolado da ami-
 ACERTEI  ERREI  DÚVIDA lase sérica e com lipase normal. Qual das alternativas
abaixo está correta:
a) a causa que deve ser investigada é a de macroamilasemia
SUS-SP – Clínica Cirúrgica – 2012
b) o diagnóstico é de pancreatite aguda
18. Em relação aos tumores neuroendócrinos do pâncre-
c) elevação isolada de amilase sérica não tem significa-
as, é correto afirmar:
do clínico
a) o teste de estimulação com secretina é usado para o
d) a amilase se mantém elevada mais tempo que a lipa-
diagnóstico de gastrinoma
se na pancreatite aguda
b) o glucagonoma é o mais comum dos tumores fun
e) deve-se investigar pancreatite aguda por uso de drogas
cionais
c) os gastrinomas associam-se a rash cutâneo  ACERTEI  ERREI  DÚVIDA

268 SJT Residência Médica - 2015


29 Pâncreas

PUC-PR – Clínica Cirúrgica – 2012 d) são tumores de células beta do pâncreas


22. Sobre o câncer pancreático, é INCORRETO: e) é caracterizada por ulcerações no duodeno e jejuno alto
a) a cirurgia de Whipple felizmente é possível para a
 ACERTEI  ERREI  DÚVIDA
grande maioria dos pacientes
b) a droga quimioterápica padrão na maioria dos es-
quemas é a gemcitabina Comando da Aeronáutica – 2010
c) é um tumor de grande agressividade 27. Sobre nesidioblastose, assinale a alternativa correta:
d) no estadiamento desses doentes marcador é o CA 19-9 a) o termo nesidioblastose significa a presença de
e) a derivação bileodigestiva é frequentemente realiza- pseudoilhotas de células endócrinas em localização
da para alívio de icterícia ectópica, no mesênquima, nas septações fibrosas,
 ACERTEI  ERREI  DÚVIDA junto aos ductos pancreáticos exócrinos, ou reves-
tindo-os parcialmente
b) as formas autossômicas recessivas caracterizam-se
UNIFESP – Clínica Cirúrgica – 2012 por apresentar sintomas com início mais tardio e
23. A respeito dos marcadores tumorais para câncer do com manifestações clínicas mais leves
aparelho digestório é correto dizer que: c) provoca hipoglicemia, acidose metabólica, cetonemia
a) CA 19-9 não se relaciona com recidiva de tumor e alterações dos níveis plasmáticos dos ácidos graxos
pancreático d) os bloqueadores dos canais de cálcio são as drogas
b) CEA pode ser usado no screening de tumor de cólon de escolha para o tratamento da forma autossômica
c) p53 é um gene que inibe o câncer hepático primário recessiva, pois o cálcio participa do mecanismo fi
d) K-ras mutante favorece a resposta de inibidor de siológico de secreção de insulina
EGFR (ErbB-1)
e) alfafetoproteína muito elevada implica colangiocar-  ACERTEI  ERREI  DÚVIDA
cinoma
 ACERTEI  ERREI  DÚVIDA SUS-SP – 2010
28. Uma paciente de 40 anos foi internada por apresentar
dor aguda no epigástrio, associada a vômitos e icterí-
SES-SC – Clínica Cirúrgica – 2011 cia. Negava febre. Tinha dor à palpação no epigástrio,
24. Paciente com pancreatite aguda, com 48 horas de evo- com peristalse diminuída. T: 37,2ºC. Amilase sérica:
lução, Apache = 12, apresenta proteína c reativa em 1.400 U/L; leucócitos = 12.000/mm3; AST (TGO): 80
200 mg/dL. Em que devemos pensar? U/L; ALT (TGP): 95 U/L; bilirrubinas totais: 3,4 mg/
a) sepsis dL, bilirrubina direta: 2,7 mg/dL. Ultrassom: colelití-
b) necrose pancreática ase e pequena quantidade de líquido livre na cavidade
c) infecção pancreática peritoneal; vesícula biliar normodistendida, com pa-
d) sem significado clínico redes de 2 mm de espessura. Após 72 horas de jejum e
e) coleção peripancreática hidratação, a paciente ficou praticamente assintomá-
 ACERTEI  ERREI  DÚVIDA tica. No sexto dia de internação, alimentava-se nor-
malmente por via oral. Amilase e transaminases eram
então normais. Diagnóstico inicial:
SES-SC – Clínica Cirúrgica – 2011 a) pileflebite
25. Paciente do sexo masculino, 50 anos, com surtos re- b) pancreatite aguda
petidos de pancreatite aguda e esteatorreia. Realizada c) colangite aguda
pancreatografia: encontrado falhas de enchimento d) abscesso hepático
nos ductos pancreáticos dilatados e material mucoide e) colecistite aguda
na papila duodenal. Qual a provável causa:
a) pseudocisto pancreático  ACERTEI  ERREI  DÚVIDA
b) pancreatite crônica obstrutiva
c) tumor papilar-mucinoso intraductal
UFES – 2010
d) adenoma seroso microcístico
29. A pancreatite aguda biliar grave, com formação de
e) neoplasia cística mucinosa
coleção em corpo e cauda deve ser explorada cirurgi-
 ACERTEI  ERREI  DÚVIDA camente na seguinte situação:
a) coleções maiores que 6 cm de diâmetro
b) infecção comprovada ou suspeita
SES-SC – Clínica Cirúrgica – 2011
c) icterícia persistente
26. Em relação à síndrome de Zollinger e Ellison pode-
d) amilasemia superior a 500 após 14 dias de tratamen-
mos afirmar, exceto:
to clínico
a) o agente causador é a gastrina
e) sempre desde que realizada por videocirurgia
b) há hipersecreção de ácido gástrico
c) são frequentes as perfurações e/ou sangramentos  ACERTEI  ERREI  DÚVIDA

269
Clínica cirúrgica | Vias biliares, pâncreas e fígado | Questões para treinamento

UFF – 2010 Comando da Aeronáutica – Gastroenterologia – 2010


30. Em relação ao tratamento da pancreatite aguda, é 31. Assinale a alternativa correta. São causas metabólicas
correto afirmar que: de pancreatite aguda:
a) o uso precoce de profilaxia com antibióticos está re- a) hipertrigliceridemia e hiponatremia
comendado nos pacientes com necrose pancreática b) hipercalcemia e hipertrigliceridemia
documentada
c) hipercalcemia e hipocalemia
b) a maioria dos pacientes apresenta doença severa,
d) hipertrigliceridemia e hipotireoidismo
cujo tratamento envolve internação em unidade de
tratamento intensivo com uso rotineiro de antibióti  ACERTEI  ERREI  DÚVIDA
cos e de somatostatina
c) a aspiração nasogástrica, segundo estudos mais re- UFF – Clínica Cirúrgica – 2010
centes, oferece vantagem no tratamento de todos os
32. O procedimento (cirurgia) de Whipple está indicado
pacientes, inclusive aqueles com doença leve
em caso de:
d) o uso de morfina deve ser considerado no controle
a) pseudocisto de corpo e cauda de pâncreas, sem infecção
da dor severa, que não cede com analgésicos comuns
b) massa inflamatória da cabeça do pâncreas que não
e) a papilotomia endoscópica deve ser considerada em
todos os pacientes com pancreatite aguda de origem pode ser diferenciada de um câncer
biliar, devendo ser realizada no período de 36h a 72 h c) pseudocisto de corpo e cauda de pâncreas, com infecção
após início dos sintomas relacionados com o quadro d) abscesso de corpo do pâncreas
agudo e) abscesso de cauda do pâncreas
 ACERTEI  ERREI  DÚVIDA  ACERTEI  ERREI  DÚVIDA

270 SJT Residência Médica - 2015


Gabarito comentado
30
Pâncreas

1. A biópsia pancreática está indicada apenas nos tumores 3. Os pseudocistos assintomáticos não complicados são pos-
sabidamente irressecáveis, que necessitam de comprovação síveis de acompanhamento clínico e de avaliação por méto-
histológica para tratamento quimiorradioterápico, e nos ca- dos de imagem a cada três a seis meses.
sos de tumorações pancreáticas com suspeita de não serem
A resolução espontânea pode ocorrer pela reabsorção do
adenocarcinoma. No caso da dúvida se câncer pancreático
conteúdo, pela drenagem para vísceras adjacentes ou pelo
ou pancreatite crônica a melhor conduta é CPRE.
próprio ducto pancreático em um período de até 12 meses.
O único tratamento com intenção curativa é a ressecção ci-
A ressecção é a técnica tem menor percentual de recidiva,
rúrgica. Cerca de 20% dos cânceres de cabeça de pâncreas
pois consiste na exérese completa da lesão. As duas principais
são ressecáveis, em contrapartida, raramente é possível tra-
tamento com intenção curativa para os tumores de corpo e indicações são o pseudocisto na pancreatite crônica tratado
cauda de pâncreas, graças à identificação de doença avança- por pancreatojejunoanastomose ou a lesão de localização na
da no diagnóstico. O procedimento de escolha para lesões cauda pancreática.
ressecáveis de cabeça de pâncreas é a gastroduodenopan- A drenagem percutânea por radiologia intervencionista é o mé-
createctomia (cirurgia de Kausch-Whipple), que envolve todo preferido por alguns centros de referência, e que para outros
a ressecção do ducto hepático, vesícula-duodeno e cabeça deve ser reservado para pacientes com alto risco cirúrgico e pseu-
pancreática (com limite definido pelos vasos mesentéricos), docistos volumosos que provocam obstrução e cujas paredes não
associada à linfadenectomia padrão. Claro que a afirmação apresentam definição e espessura adequadas para cirurgia.
E é absurda, uma vez que em centros especializados os mé-
Dentre os procedimentos cirúrgicos a drenagem interna é a
todos diagnósticos que resultam na indicação cirúrgica não
preferida e a escolha da víscera para a qual será realizada a
se confundem na grande totalidade dos casos com patolo-
gias benignas. Resposta c. drenagem depende da localização do pseudocisto linoverde.
Opção de drenagem interna cirúrgica
do pseudocisto pancreático
2. Sinal de Cullen: manchas equimóticas periumbilicais. Si-
Localização do pseudocisto Víscera de drenagem
nal de Trousseau: consiste na indução do espasmo carpo-
pedal ao se insuflar o manguito de pressão arterial acima da Retrogástrico
Estômago (técnica de Jurasz)
pressão arterial sistólica por três minutos; a manobra pode Acima da pequena curvatura
Estômago (técnica de Jedlika)
gástrica
ser melhorada pedindo-se ao paciente para hiperventilar por Duodeno
Na porção cefálica do pâncreas
cerca de um minuto. Já o sinal de Chvostek consiste na con- Retrocavidade dos epíploons
Jejuno (pseudocistojejunoa-
tração de músculos faciais ipsilaterais ao se percutir o trajeto nastomose em Y de Roux, téc-
com projeção sobre o mesocó-
do nervo facial próximo à orelha. O sinal de Trousseau é mais nico de Henle-Duncombe)
lon transverso
específico, mas ambos podem estar negativos mesmo em pa-
cientes com hipocalcemia grave.
Sinal de Grey-Turner: manchas equimáticas nos flancos. A drenagem endoscópica está indicada para pseudocistos
Sinal de Gersuny: corresponde à presença de gases insinu- não complicados que apresentam interface com o estômago
ando-se entre a mão que palpa e a massa fecal produzindo ou com o duodeno. Este procedimento é ineficiente quando
típica crepitação. Este sinal é patognomótico de fecaloma e é o conteúdo é composto por necrose e debris ou quando as
observado no megacólon chagásico. Resposta c. coleções são múltiplas e septadas.
Clínica cirúrgica | Vias biliares, pâncreas e fígado | Gabarito comentado

A hemorragia é uma complicação preocupante e para evitá- das imagens na fase de maior captação do contraste, pois
-la, quando houver disponibilidade imediata, a conduta de cerca de 40% das lesões não se distinguem do parênquima
primeira escolha é a embolização arterial. Resposta e. normal na fase tardia. Além de ser útil para a localização do
tumor primário, a TC também vem sendo usada para avaliar
invasão e/ou trombose dos grandes vasos próximos ao pân-
4. As lesões à esquerda dos vasos mesentéricos, sem compro- creas, metástases hepáticas, linfonodos peripancreáticos ou
metimento ductal, podem ser manejadas com debridamento estruturas retroperitoneais adjacentes.
e sutura simples. As lesões distais que comprometem o ducto
pancreático devem ser tratadas com pancreatectomia distal, Resposta B e E. Gabarito oficial E.
preservando-se sempre que possível, o baço. Neste caso é im-
perativa a esplenectomia. Resposta a. 7. Os insulinomas são caracterizados por uma rápida hipo-
glicemia, sintomas neurogênicos e ocasionalmente por sin-
5. Esta é uma pergunta sempre problemática uma vez que tomas relacionados com a liberação de catecolaminas. Os
se consideramos o escore Ranson mais difundido na prática ataques hipoglicêmicos ocorrem por secreção intermitente
clínica que utiliza o fator idade > 55 anos, a resposta seria A, de insulina pelo tumor. A gravidade dos sintomas não tem
no entanto de acordo com o exposto abaixo não há resposta relação com a malignidade ou o tamanho do tumor. Outros
para a questão. Observe a tabela a seguir: sintomas importantes que demonstram disfunção do sistema
nervoso central incluem: diplopia, visão borrada, confusão
Sinais prognósticos de Ranson mental, distúrbios do comportamento e da amnésia. Alguns
Admissão 48 horas iniciais pacientes apresentam queda do nível de consciência e inclu-
Pancreatite biliar sive o coma podendo ocasionar dano cerebral permanente.
Queda do hematócrito > 10
Idade > 70 anos A liberação de catecolaminas produz sintomas como sudorese
Elevação da ureia sérica
Leucócitos > 18.000/mm3 excessiva, fraqueza, tremor, fome, náuseas, ansiedade e palpi-
nitrogenada > 2 mg/100 mL
Glicose > 220 mg/100 mL
Cálcio2+ < 8 mg/100 mL tações. Whipple desenvolveu uma tríade que leva seu nome
Desidrogenase láctica > 400 UI/L
Déficit de base > 5 mEq/L para identificar pacientes com insulinomas mais precisamen-
Aspartato transaminase > 250
Sequestro líquido > 4 L te. A tríade é composta por sinais e sintomas de hipoglicemia
U/100 mL
após exercício ou atividades extenuantes, glicose sérica infe-
Pancreatite não biliar Queda do hematócrito > 10
Idade > 55 anos Elevação da ureia sérica rior a 50 mg/dL na presença de sintomas e alívio dos sintomas
Leucócitos > 16.000/mm3 nitrogenada > 5 mg/100 mL após infusão intravenosa ou ingestão de glicose. Resposta b.
Glicose > 200 mg/100 mL Cálcio2+ < 8 mg/100 mL
Desidrogenase láctica > 350 UI/L PaO2 < 55 mmHg
Aspartato transaminase > 250 Déficit de base > 4 mEq/L 8. Os tumores neuroendócrinos gástricos são classificados
U/100 mL Sequestro líquido > 6 L em três subtipos distintos, tendo como base os diferentes
Gabarito oficial A. SJT, sem resposta. mecanismos fisiopatológicos e, consequentemente, diferen-
tes apresentações clínicas.
Dessa forma, o tratamento é moldado para cada subtipo. Dois
6. Somente cerca de 20% dos cânceres de cabeça de pâncreas tipos são associados a estados de hipergastrinemia. O tipo 1 é
são ressecáveis, em contrapartida, raramente é possível tra- a apresentação mais frequente (70% a 80%), sendo encontrado
tamento com intenção curativa para os tumores de corpo e predominantemente em mulheres, com uma média de idade à
cauda de pâncreas, graças à identificação de doença avança- apresentação de 63 anos. Está relacionado com a gastrite crônica
da no diagnóstico. É um câncer raro antes de 45 anos, e sua atrófica tipo A, anemia perniciosa autoimune e a perda de célu-
incidência aumenta consideravelmente a partir desta idade, las parietais. A perda destas células parietais resulta em elevação
sendo mais comum em homens (1,3:1) e negros. Veja é de da gastrina sérica, que por sua vez estimula a proliferação das
1,3 para 1 e não um terço, logo a opção B é incorreta. Vários células entero-cromafin-like, ocasionando o desenvolvimento do
fatores de risco para o câncer pancreático foram objeto de es- tumor. Tipicamente há baixa produção de ácido clorídrico asso-
tudo, porém, os únicos consistentemente relacionados foram ciado à elevação da gastrina. Geralmente, apresentam-se como
a idade e o tabagismo. Entre 80 e 85% dos cânceres primários lesões polipoides múltiplas, de pequeno tamanho (< 1-2 cm),
de pâncreas são adenocarcinomas que se originam do epité restritas à mucosa e submucosa, localizados em fundo e corpo
lio ductal, em 60% a localização se dá na cabeça do pâncreas, gástricos. Cursam com a evolução mais benigna entre os três
no corpo e na cauda (20%). O exame de eleição a ser solici- tipos, com apenas 5% a 10% dos tumores apresentando metás-
tado em suspeita de massas pancreáticas é a TC helicoidal. tases linfonodais e menos de 5% metástases à distância. Taxas
As técnicas de captação de imagens em alta resolução, gran- de sobrevida em 5 anos de 96% são esperadas. Os carcinoides
de velocidade e com planos de cortes mais finos permitem o gástricos tipo 2 são os menos frequentes entre os três tipos (5%
rastreamento da doença, inclusive metastática. Em exames a 8%), ocorrendo em idades mais precoces (50 anos) que o tipo
adequadamente realizados, o adenocarcinoma de pâncreas é 1, e não havendo predileção entre os sexos. Também há eleva-
evidenciado como uma massa focal e hipodensa (entre 75% e ção da gastrina, neste caso decorrente da hipergastrinemia re-
90%), de contornos pouco definidos, como um alargamento lacionada com a neoplasia das células G, presente na síndrome
pancreático. Em pequenos tumores que não produzem de- de Zollinger-Ellison ou na Neoplasia Endócrina Múltipla tipo 1
formidades do contorno pancreático, é crucial a obtenção (NEM 1).

272 SJT Residência Médica - 2015


30 Pâncreas

Classificação de TNEs gástrico de glicose no sangue, pelo menos 50% abaixo dos valores
normais, sintomas decorrentes da hipoglicemia após jejum
TIPO 1 TIPO 2 TIPO 3
prolongado e melhora dos sintomas com a administração de
Frequência glicose. Os doentes referem também fraqueza, fadiga, fome
70-80 5-8 15-20
(%) (os três “F”), visão turva, sudorese, taquicardia, tremores e
Tamanho < 1-2cm < 1-2cm > 2cm alterações do quadro mental. Uma taxa elevada de insulina
Número Múltiplo Múltiplo Único e pró-insulina no sangue, acompanhada de hipoglicemia e
Forma Polipoide Polipoide Ulcerado a relação insulina/glicose acima de 0,4, em geral, permitem
o diagnóstico. A dosagem do peptídeo C encontra-se baixa
Gastrite crô- Gastrinoma/
Clínica Nenhuma em pacientes que autoadministram a insulina. Nos casos de
nica atrófica NEM 1
insulinoma, é maior do que 1,7 ng/mL. Resposta a.
Gastrina Elevada Elevada Normal
Metástase (5) 2-10 10-30 24-50%
11. O tumor papilar mucinoso intraductal (TPMI) caracte-
Morte rela
cionada com 0 < 10 25-30 riza-se pela dilatação do ducto pancreático principal ou de
o tumor (%) ductos secundários ou pelo comprometimento de ambos. A
distinção da porção do ducto em que se encontra a lesão é
importante, pois o acometimento do ducto pancreático prin-
Resposta b. cipal tem potencial de malignidade em até 70% dos pacien-
tes, ao passo que os tumores de dueto secundário são menos
9. A TC (tomografia computadorizada) é o melhor método agressivos. Os sintomas mais comuns são dor abdominal,
para a avaliação do pâncreas, identificação de complicações perda de peso, icterícia e esteatorreia. Episódios repetidos de
locais, especialmente a necrose, e para a determinação do pancreatite aguda e diabete de pancreatite aguda e diabetes
prognóstico, detectando não apenas alterações pancreáticas, melito de início recente podem compor o quadro inicial.
mas também extrapancreáticas. A classificação tomográfica As neoplasias císticas mucinosas afetam quase exclusivamen-
mais completa é o índice tomográfico de gravidade, também te indivíduos do sexo feminino e localizam-se preferencial-
conhecido com índice de Balthazar-Ranson, que, além de mente (90%) no corpo e na causa do pâncreas. Mesmo as le-
considerar a classificação de Balthazar (A: pâncreas normal; sões consideradas de natureza benigna têm um potencial de
B: edema no pâncreas; C: perda dos contornos pancreáticos; malignidade. O tumor de Frantz (neoplasia epitelial papilar e
D: presença de uma coleção; E: presença de duas ou mais cística do pâncreas) é tumor raro, localizado em qualquer re-
coleções ou gás), classifica a necrose em ausência de necro- gião do pâncreas, mais frequentemente em mulheres jovens,
se, necrose até 30%, necrose de 30% a 50% e necrose acima sendo o tipo com aspecto cístico o mais comum. Apesar de
de 50%. A presença de necrose tem um peso maior que a malignas, estas neoplasias apresentam enorme possibilidade
presença de coleções, obtendo-se correlação entre o índice de cura quando corretamente diagnosticadas e ressecadas
tomográfico e a morbimortalidade do doente. por completo. Cistoadenomas serosos são lesões compostas
Índice tomográfico de gravidade (Balthazar-Ranson) de vários pequenos cistos agrupados, menores do que 2 cm,
com estrutura semelhante a um favo de mel ou uma esponja,
Balthazar Escore Necrose Escore
às vezes com uma cicatriz ou calcificação central. O conteúdo
A 0 Sem necrose 0 é seroso, com baixa concentração ou ausência de marcado-
B 1 Necrose < 30% 2 res tumorais e enzima pancreáticas. As suas paredes são finas
C 2 Necrose 30 a 50% 4 e as células, ricas em glicogênio. Um sinônimo utilizado é
adenoma microcístico, embora a tendência da literatura seja
D 3 Necrose > 50% 6
usar o termo cistoadenoma seroso.
E e
Na TC, a apresentação clássica é a de massa contendo múl-
tiplos pequenos cistos (70%), com calcificação ou cicatriz
O índice tomográfico de gravidade é calculado pela somató- central (30%). Algumas vezes, os cistos são tão pequenos
ria do escore de Balthazar com o escore de necrose, totalizan- que a imagem é de massa sólida, e somente o exame da peça
do de 0 a 10. Resposta b. cirúrgica confirmará a característica espongiforme da lesão.
Nos restantes 30%, há variantes de imagem macrocística
(com vários cistos septados de até 2 cm) e oligocística, que
10. A tríade de Whipple se associa ao insulinoma. Produzido é unilocular. Entre 50% e 75% dos casos, a localização é no
pelas células beta, é o mais frequente dos tumores neuroen- corpo ou na cauda do pâncreas. Nos pacientes sintomáticos
dócrinos do pâncreas. A incidência é de 4:1.000.000 pessoas/ e assintomáticos que apresentam lesão maior do que 4 cm,
ano. Geralmente são tumores pequenos (< 2 cm), benignos crescimento após o período de observação ou com diagnós
e solitários (90% dos casos). Têm cor vermelho-acinzentada, tico de adenoma seroso duvidoso, está indicada a ressecção.
são encapsulados e distribuem-se igualmente na cabeça, no As lesões típicas em pacientes com alto risco cirúrgico ou em
corpo e na cauda do pâncreas. Em cerca de 10% dos casos, idosos podem ser observadas porque o risco de malignização
observam-se tumores múltiplos compondo quadros de NEM é muito baixo: há somente 25 casos de cistoadenocarcinomas
tipo 1. Caracteriza-se pela tríade de Whipple: taxas baixas serosos publicados no Medline desde 1989.

273
Clínica cirúrgica | Vias biliares, pâncreas e fígado | Gabarito comentado

Por se tratar de uma lesão benigna com crescimento médio composta de diabetes mellitus, rash cutâneo (eritema necrolí-
de 0,6 cm/ano, em pacientes jovens, a ressecção de lesões me- tico migratório), hipoaminoacidemia e tendência a trombose
nores tende a ser mais econômica em termos de preservação venosa profunda. Pacientes também apresentam estomatite,
do parênquima e – consequentemente – da função exócrina e glossite e quilose associados com rash cutâneo. A síndrome é
endócrina. A observação, mantida a taxa de crescimento em diagnosticada pela elevada concentração de glucagon no plas-
longo prazo, pode exigir ressecções mais amplas. As lesões ma. Níveis acima de 1.000 pg/mL são diagnósticos, enquanto
pancreáticas cefálicas são tratadas por duodenopancreatec- níveis entre 150-1.000 pg/mL são sugestivos. Uma vez que a
tomia com preservação pilórica. Nas demais, dependendo do síndrome é diagnosticada, a ressecção cirúrgica é indicada. O
tamanho e do local, são realizadas as seguintes cirurgias por la- manejo pré-operatório com análogos da somatostatina e su-
parotomia ou laparoscopia: enucleação (lesões na borda, bem plementação nutricional é indicado a fim de corrigir deficiên-
encapsuladas), pancreatectomia distal (na transição do corpo cias nutricionais e resolver o rash cutâneo. Resposta a.
com a causa) ou pancreatectomia central com anastomose
pancreatojejunal do segmento distal (lesões centrais, sobre os
vasos mesentéricos, quando o pâncreas distal à lesão é volu- 14. Puestow e Gillesby, em 1958, descreveram uma técni-
moso). Resposta c. ca que envolvia a secção longitudinal do ducto por inteiro
e, subsequentemente, a invaginação do pâncreas aberto no
interior de uma alça de jejuno em Y de Roux. Isso permitiu
12. A etiologia mais comum de pancreatite crônica é o álcool. uma descomrpessão mais completa, mas ainda requeria es-
A queixa mais comum de pancreatite crônica é dor, e estea- plenectomia. Mais tarde, Partington e Rochelle modificaram
torreia ocorre quando há comprometimento de 90% ou mais o procedimento de Puestow com a criação de uma anasto-
da função exócrina e é decorrente da redução da atividade da mose laterolateral do ducto aberto e o jejuno, eliminando,
lipase pancreática, que causa má absorção e aumenta o teor dessa forma, a necessidade de esplenectomia. Em pacientes
de gordura nas fezes. A pancreatografia é o método que mais apropriadamente selecionados (i.e., aqueles com ductos lar-
precocemente identifica as alterações ductais pancreáticas e gos e aqueles com cálculos intraductais), a pancreaticojeju-
biliares. A principal indicação de cirurgia é a dor intratável nostomia longitudinal, realizada de acordo com o procedi-
e a cirurgia de Puestow modificada é o procedimento mais mento de Puestow modificado por Partington e Rochelle,
utilizado. Os melhores resultados cirúrgicos ocorrem em pa- foi relatado resultar em alívio imediato da dor em mais de
cientes com dilatação ductal que são tratadas por pancrea- 80% dos pacientes, e, em longo prazo, de alívio da dor em
tojejunoanastomose. Os resultados imediatos são de 80% de aproximadamente 60% dos pacientes. Mais recentemente,
alívio da dor no primeiro ano e entre 40% e 50% em cinco Ho e Frey também modificaram o procedimento incluindo
anos. Vê-se que o tratamento visa remitir os episódios dolo- a remoção de parte da cabeça do pâncreas, marsupializan-
rosos e não obviamente recuperar as funções exócrina e en- do o ducto quando ele aprofunda no pâncreas para chegar
dócrina do pâncreas. Resposta d. à ampola de Vater. Isso contribui para uma descompressão
ductal ainda mais completa e uma pancreaticojejunostomia
13. Nos tumores localizados no corpo e na cauda, havendo longitudinal longa. O alívio da dor, tanto a curto quanto em
experiência e recursos, a cirurgia ideal é a videolaparoscó- longo prazo, parece ser maior e o procedimento pode ser rea
pica, pois se trata de um tumor pequeno, geralmente único, lizado quando o ducto está apenas moderadamente dilatado.
bem encapsulado e benigno. A ultrassonografia laparoscópi- Resposta b.
ca é recomendável para ajudar na localização do tumor.
Se não for possível realizar cirurgia laparoscópica e quando o tu- 15. O diagnóstico é de cistoadenoma seroso. Na TAC, a apre-
mor é localizado no pré-operatório, a abordagem pode ser feita sentação clássica é a de massa contendo múltiplos pequenos
por meio de pequena incisão mediana supraumbilical. Quando cistos (70%), com calcificação ou cicatriz central (30%). Al-
a localização não é conhecida, inicia-se com incisão subcostal gumas vezes, os cistos são tão pequenos que a imagem é de
bilateral (Chevron). Na pesquisa do insulinoma, todas as mano- massa sólida, e somente o exame da peça cirúrgica confirmará
bras para completa liberação do pâncreas devem ser realizadas a a característica espongiforme da lesão. Por se tratar de uma
fim de permitir a inspeção, a palpação bimanual e o uso da eco- lesão benigna com crescimento médio de 0,6 cm/ano, em pa-
grafia. A enucleação do tumor é a conduta ideal. Nas situações cientes jovens, a ressecção de lesões menores tende a ser mais
em que, pela proximidade com o ducto de Wirsung ou com ou- econômica em termos de preservação do parênquima e – con-
tras estruturas, a enucleação não for possível, a pancreatectomia sequentemente – da função exócrina e endócrina. A obser-
parcial com ressecção do tumor tem preferência. vação, mantida a taxa de crescimento em longo prazo, pode
O insulinoma é o mais frequente dos tumores neuroendó- exigir ressecções mais amplas. As lesões pancreáticas cefálicas
crinos do pâncreas. Nos casos irressecáveis, o diazóxido na são tratadas por duodenopancreatectomia com preservação
dosagem de 300 a 800 mg diários controla os sintomas com pilórica. Nas demais, dependendo do tamanho e do local, são
melhora da qualidade de vida. Em 50% dos pacientes porta- realizadas as seguintes cirurgias por laparotomia ou laparos-
dores de gastrinoma observa-se diarreia, secundária à disa- copia: enucleação (lesões na borda, bem encapsuladas), pan-
bsorção desencadeada pela grande quantidade de secreção createctomia distal (na transição do corpo com a cauda) ou
cloridopéptica. Glucagonoma origina-se das células pro- pancreactectomia central com anastomose pancreatojejunal
dutoras de glucagon (células alfa).Tumores que produzem do segmento distal (lesões centrais, sobre os vasos mesentéri-
excessivamente glucagon causam uma síndrome específica cos quando o pâncreas distal à lesão é volumoso). Resposta a.

274 SJT Residência Médica - 2015


30 Pâncreas

16. Revendo os critérios de Ranson: denciou-se que o risco parece ser máximo nos dois primei-
ros anos do diagnóstico de diabetes, notavelmente no tipo II
Admissão Dentro das 48 horas iniciais
(diabete não insulinodependente). Um fator que corrobora o
Ht > 10% dado citado foi observado após a duodenopancreatectomia,
Idade > 55 anos
Ureia > 5 mg/dL
Leucócitos > 16.000/mm³ onde grande parte dos casos de DM de início recente (mais
Cálcio sérico < 8 mg/dL
Glicemia > 200 mg/dL de 50%) foi resolvida, enquanto as de longa data permane-
PaO2 < 60 mmHg
DHL > 350 UI/L ceram inalteradas. A resistência insulínica também tem sido
Excesso de base > 12 mmol/L
TGO > 250 UI/L associada ao câncer de pâncreas. Uma explicação possível é a
Sequestro líquido > 6 L (em 24 h)
de que o tumor pode gerar resistência insulínica ao produzir
um peptídeo amiloide insular com esta característica.
Pacientes com menos de três critérios apresentam um episó-
dio leve de pancreatite aguda, com baixas taxas de morbidade Os sintomas do câncer pancreático podem variar desde des
e mortalidade de menos de 1%. Pacientes com três ou qua- conforto abdominal vago até perda ponderal, dor abdominal,
prurido, adinamia, esteatorreia, saciedade precoce, alterações
tro critérios de Ranson, a taxa de mortalidade pode alcançar
do hábito intestinal, anorexia e icterícia. Os sintomas variam
entre15% e 50% dos pacientes e estes podem necessitar de
conforme a localização do tumor, resultantes da progressão lo-
tratamento em UTI. Pacientes com cinco ou seis critérios a
cal da doença e da síndrome consumptiva associada. Tumores
taxa de mortalidade é de e aqueles com sete ou oito critérios,
localizados na cabeça do pâncreas podem gerar sintomas rela-
a taxa de mortalidade pode chegar a 90%. O que se observa
cionados com a icterícia obstrutiva ou pancreatite, alertando
na questão é que não foi utilizado o período de 48 horas para
a suspeita clínica, enquanto os tumores do corpo e da cauda
reavaliação dos critérios de Ranson e se considerarmos todos
tendem a passar despercebidos até que se tornem volumosas
os critérios envolvidos pontuaremos Glicemia > 200 mg/dL,
massas abdominais. A icterícia de caráter progressivo ocor-
TGO > 250 UI/L na admissão e o cálcio como critério dentro
re em até 75% das lesões de cabeça de pâncreas, enquanto as
das 48 horas iniciais. Com três critérios, a taxa de mortalida-
lesões de corpo e cauda tendem a ser pouco sintomáticas. A
de é de 15%. O desejável é que a questão fosse anulada, já que
dor, extremamente frequente, e a anorexia associada à perda
o gabarito oficial foi D.
ponderal, podem estar presentes mesmo nas lesões de menor
tamanho. Cerca de 10% dos pacientes apresentam pancreatite
17. O tratamento curativo para adenocarcinoma pancreático aguda ou diabetes como o primeiro sintoma clínico. Ao exame
é a gastroduodenopancreatectomia (procedimento de Kaus- clínico, 25% dos pacientes apresentam o sinal de Courvoisier,
ch-Whipple), que envolve a ressecção do ducto hepático, caracterizado pela palpação da vesícula biliar aumentada de
vesícula, duodeno e cabeça pancreática (com limite definido volume e indolor, na presença de obstrução biliar de etiolo-
pelos vasos mesentéricos) associada à linfadenectomia pa- gia maligna. A hepatomegalia, associada à palpação de nodu-
drão. Nos pacientes submetidos à duodenopancreatectomia, lações na superfície hepática, pode corresponder a implantes
a sobrevida em 5 anos, para doença, e livre de comprometi- secundários. Mesmo em casos de doença inicial há evidências
mento linfonodal é de 25% a 30%, e apenas 10% se houver de perda ponderal, com tendências à evolução para caquexia
linfonodos positivos. neoplásica debilitante. Nos estágios mais avançados, com a
disseminação da doença, podem-se observar ascite, adenome-
Sua incidência é crescente no Brasil e no mundo durante as
galia supraclavicular (nódulo de Virchow ou sinal de Troisier),
últimas cinco décadas, provavelmente graças ao aumento na
massa periumbilical (nódulo de Irmã Maria José) e nodula-
expectativa de vida e ao tabagismo. Segundo a Organização
ções palpáveis no espaço retrovaginal ou retovesical (prateleira
Mundial de Saúde, o câncer pancreático é a décima terceira de Blummer). A tromboflebite migratória (sinal de Trousseau)
causa de morte por neoplasia maligna no mundo, correspon- pode estar presente em qualquer câncer avançado, inclusive
dendo à média de 19.600 óbitos/ano (2,8% do total). Segun- em adenocarcinoma pancreático. Pode haver raramente áre-
do a estatística, 42.470 novos casos de câncer pancreático são as de necrose em tecido adiposo, conhecidas como paniculite
diagnosticados anualmente nos Estados Unidos, mantendo- pancreática.
-se como a quarta causa de morte por neoplasia maligna no
país para ambos os sexos. É um câncer raro antes de 45 anos, Níveis excessivamente elevados de CA19 9 são preditores de
e sua incidência aumenta consideravelmente a partir desta doença irressecável ou disseminada. Resposta b.
idade, sendo mais comum em homens (1,3:1) e negros.
O câncer pancreático possui prognóstico pobre e tende a ter 18. Se o paciente apresentar um pH gástrico abaixo de 4,0 e
um curso clínico de grande morbidade. Entre 80% e 85% dos concentração sérica de gastrina acima de 1.000 pg/mL (nor-
pacientes apresentam-se com doença avançada no momen- mal < 100 pg/mL), então o diagnóstico da SZE é confirmado.
to do diagnóstico, sem que haja possibilidade de tratamento Infelizmente, a maioria (40% a 50%) dos pacientes apresen-
com intuito curativo. Quase todos os pacientes diagnostica- ta concentrações séricas de gastrina entre 100 e 500 pg/mL,
dos morrerão da doença. e nestes pacientes o teste da secretina deve ser realizado. O
Diabetes melito é fator de risco reconhecido para câncer teste de estimulação da secretina pode diferenciar pacientes
pancreático. com SZE daqueles com outras causas de hipergastrinemia.
O diabete pode ser uma manifestação precoce do câncer de Pacientes com anemia perniciosa ou gastrite crônica atrófi-
pâncreas, ou tratar se de um fator predisponente ainda não ca tem uma diminuição na secreção de gastrina antral por
comprovado. Em uma análise de diversas publicações, evi- acloridria. Em contraste com a SZE, esses pacientes podem

275
Clínica cirúrgica | Vias biliares, pâncreas e fígado | Gabarito comentado

ser identificados pelo pH gástrico superior a 4. No teste da Sinais indicativos de pancreatite crônica são dilatação do duc-
secretina, os pacientes recebem 2 mg/kg de secretina por via to principal acima de 4 mm, heterogeneidade do parênquima,
intravenosa e observa-se um aumento da gastrina sérica em cistos maiores que 10 mm, calcificações e volume do pâncreas
mais de 200 pg/mL, o que é tipicamente considerado positi- duas vezes maior que o normal. A ultrassonografia endoscópi-
vo. Este teste tem uma sensibilidade e especificidade maior ca foi indicada principalmente em casos cujas alterações eram
que 90% para a detecção de gastrinomas. predominantemente cefálicas, nos quais havia necessidade de
O insulinoma (70% a 80%) e o gastrinoma (20% a 25%) são diagnóstico diferencial com câncer de pâncreas.
os dois tumores neuroendócrinos mais comuns no pâncreas. A estimulação com secretina tem sido associada aos exames
O glucagonoma representa 4% dos casos. A taxa de malig- de imagem para maximizar os achados, mas ainda não há
nidade é de 80% e os aspectos clínicos mais relevantes são: consenso na literatura de que seja vantajoso. Resposta c.
rash cutâneo necrolítico e migratório, diabetes melito, diar-
reia e perda de peso.
20. Hipocalcemia < 8 mg/dL e não hipercalcemia. Dor ab-
O insulinoma apresenta-se mais frequentemente com a tría- dominal intensa não é critério de gravidade. Amilase sérica
de de Whipple: sinais e sintomas de hipoglicemia < 45 mg/ e ascite pancreática não são critérios de gravidade. Proteína
dL, alívio dos sintomas após infusão intravenosa. creativa > 150 mg/dL, idade > 70 anos, critérios de Ranson >
O teste do jejum prolongado, que pode durar até 72 horas, é 3 critérios e necrose pancreática > 50% (escore de 6 pontos)
utilizado como o teste mais sensível para o diagnóstico de insu são marcadores de mau prognóstico. Além desses critérios
linoma. Geralmente, são dosados a insulina, pró-insulina, pep- citados, IMC > 30 kg/m² deve ser considerado critério de
tídeo-C e glicose sanguínea com intervalos de 1 a 2 horas para gravidade. Da mesma forma, os doentes que não apresenta-
demonstrar a secreção inapropriadamente elevada de insulina rem resolução dentro de 48 a 72 horas ou que apresentarem
com relação aos níveis de glicose sanguínea. Cerca de 80% dos uma evolução desfavorável ou desenvolverem complicações,
insulinomas são diagnosticados por este teste, sendo a maioria a despeito da normalidade dos critérios citados, devem ser
diagnosticada nas primeiras 24 horas. Na maioria dos estudos, considerados graves. Resposta d.
um terço dos pacientes desenvolve sintomas dentro de 12 horas,
pelo menos 80% dentro de 24 horas, 90% em 48 horas e 100%
em 72 horas. Níveis contínuos de peptídeo-C demonstram que a 21. A tomografia computadorizada tem sido particularmente
secreção de insulina é endógena e descarta a hipoglicemia fictí- útil no diagnóstico e na conduta dos pacientes com pancrea-
cia causada pela administração de insulina exógena. Resposta a. tite. Durante os estádios precoces de um episódio de agudiza-
ção, a TC pode mostrar as imagens do abdome e pâncreas sem
serem obscurecidos pelo gás intestinal sobreposto ou circun-
19. O diagnóstico de pancreatite crônica baseia-se em alte- dante. Quando combinado com a administração em bólus de
rações morfológicas e funcionais, endócrina e exócrina. Na contraste, a TC helicoidal pode detectar pequenas alterações
maior parte dos casos de etiologia alcoólica, essas alterações da pancreatite leve (i.e., edema pancreático) tal como mostra
são evidentes em exames corriqueiros, como radiografia sim- também as alterações da pancreatite mais grave (i.e., variação
ples de abdome, glicemia e pesquisa de gordura nas fezes. A dos graus de necrose pancreática e a presença de coleções flui-
dificuldade de diagnóstico aparece quando outras etiologias das peripancreáticas ou intrapancreáticas). Estudos clínicos
estão envolvidas e principalmente em pacientes jovens com e experimentais têm demonstrado a estreita relação entre o
dor abdominal recorrente, nos quais há dificuldade de dife- pâncreas não perfundido no exame tomográfico e a necrose
renciar entre surtos de pancreatite aguda ou pancreatite crô- observada no exame morfológico do pâncreas. Mais tardia-
nica em fase inicial. Outro aspecto crucial é o diagnóstico mente, durante a evolução de um episódio de agudização, a TC
diferencial com câncer de pâncreas em pacientes no limiar pode ser usada para detectar e acompanhar um pseudocisto e
superior da faixa etária de pancreatite alcoólica. permitir aspiração por agulha fina de áreas com suspeita de
A colangiopancreatografia endoscópica tem sido o paradig- presença de infecção pancreática. O momento da realização
ma do diagnóstico por imagem em outros centros, pois ela da TC durante um episódio agudo é um tema de considerá-
analisa o ducto principal e os ramos secundários e eventu- vel controvérsia. Um estudo, usando um modelo experimental
ais dilatações, tortuosidades, obstruções e estenoses. Não é o de pancreatite em roedores, sugeriu que a tomografia precoce
exame de escolha em nosso serviço, pelo risco de infecção de com administração endovenosa de contraste poderia afetar
cistos e canais obstruídos. adversamente o curso da pancreatite e piorar o prognóstico,
A tomografia, por ser menos agressiva, tem sido o exame mais mas essa conclusão não foi adotada por outros estudos e, no
utilizado em nossa casuística. A tomografia computadorizada presente, há consenso que a realização precoce da TC com
dirigida ao pâncreas utiliza água, em vez de contraste iodado, contraste venoso não piora a pancreatite. Por outro lado, pode
para distender estômago e duodeno, e assim as calcificações ser de pouca ou nenhuma valia obter TC de pacientes com
não são camufladas. A ressonância magnética oferece tam- pancreatite óbvia visto que a TC não altera o tratamento. A TC
bém reconstituição de pancreatografia, mas devem ser feitas precoce pode ser particularmente útil quando o diagnóstico
todas as fases. A tomografia e a ressonância oferecem a mesma de pancreatite é duvidoso. Uma imagem de um pâncreas nor-
qualidade e quantidade de informações e podem analisar não mal em um paciente em que se considera ter pancreatite grave
somente as alterações canaliculares com a mesma acuidade da iria despertar a necessidade de outros diagnósticos futuros. A
colangiografia endoscópica, mas também alterações do parên- ressonância nuclear magnética (MRI), que possui a mesma
quima e complicações extrapancreáticas. sensibilidade e especificidade da TC em pancreatite, também

276 SJT Residência Médica - 2015


30 Pâncreas

tem sido usada nesses pacientes. Ela fornece informação que gradação do CA 19-9 estão prejudicadas, resultando em va-
PE similar à obtida através da TC, mas, por causa da facilidade lores falso-positivos. Outras circunstâncias que cursam com
de interpretação e pronta avaliação, muitos médicos preferem aumento de CA 19-9 incluem administração de interferon,
usar a TC, em vez da MRI, para o diagnóstico e tratamento dos pancreatite severa e câncer de ovário ou pulmão. Este mar-
pacientes com pancreatite. Resposta a. cador é associado ao grupo sanguíneo Lewis, logo os 5% da
população Lewis negativo não são capazes de produzir o CA
19-9. A combinação de CA 19-9 e TC helicoidal em pacien-
22. O único tratamento com intenção curativa é a ressecção tes não ictéricos apresenta valor preditivo positivo de 99% a
cirúrgica. Cerca de 20% dos cânceres de cabeça de pâncre- 100%, quando o valor de referência utilizado é de 100 U/mL.
as são ressecáveis, em contrapartida raramente é possível o O CA 19 9 constitui ferramenta útil no diagnóstico de recor
tratamento com intenção curativa para os tumores de corpo rência, sendo importante, principalmente, no acompanha
e cauda de pâncreas, graças à identificação de doença avan- mento dos pacientes tratados com intenção de cura. Apesar
çada no diagnóstico. O tratamento é proposto de acordo com de estar elevado em uma grande porcentagem de neoplasia,
a extensão observada no estadiamento pré-operatório, com o CEA pode ter valor, principalmente, quando associado às
base em exames de imagem (TC, USE, CPRE e CPRM quan- dosagens de CA 19-9, aumentando a especificidade e a sensi-
do necessários), classificando a doença em ressecável (poten- bilidade. É importante ressaltar que a icterícia eleva CA 19-9
cialmente curável), borderline (não claramente ressecável), mesmo em doenças benignas.
localmente avançada, e metastática.
Pacientes com doença irressecável e icterícia obstrutiva são
Define-se como doença ressecável aquela em que não há evi- candidatos à colocação endoscópica de stent em via biliar, os
dência de metástases à distância, em que as veias mesentérica stents podem ser plásticos ou metálicos. A comparação quan-
superior e porta estão patentes, e há um plano gorduroso bem to à eficácia dos stents, sugere que a recorrência da obstrução
definido em torno do tronco celíaco, artéria mesentérica su- biliar é menos frequente com os stents metálicos.
perior (MAS) e artéria hepática próxima à origem da artéria
Opções cirúrgicas são reservadas para aqueles pacientes em que,
gastroduodenal (ADG). Em casos onde há o envolvimento iso-
por razões técnicas, não foi possível a passagem do stent via en-
lado da veia mesentérica superior, da veia porta ou da artéria
doscópica. A derivação biliodigestiva, com anastomose entre a
hepática, há a opção de tratamento com intuito curativo com
vesícula ou ducto biliar e o jejuno tem a desvantagem da morbi
ressecção vascular, inclusive quando é necessária a ressecção
dade perioperatória de 22% e mortalidade de 3,1%. Porém, tem
em bloco da confluência venosa porta-mesentérica superior,
elevada taxa de sucesso (> 90%) e baixos índices de recidiva.
com morbidade e sobrevida semelhantes às dos pacientes com
tumores sem comprometimento vascular. O procedimento de Nos pacientes com sinais de dificuldade de esvaziamento gástri-
escolha para lesões ressecáveis de cabeça de pâncreas é a gastro- co está indicada a gastroentero anastomose. Cerca de um terço
duodenopancreatectomia (procedimento de Kausch-Whipple), dos pacientes submetidos à derivação biliar e que não apresenta-
que envolve a ressecção do ducto hepático, vesícula, duodeno e vam obstrução duodenal podem desenvolvê-la em sua evolução.
cabeça pancreática (com limite definido pelos vasos mesentéri- Esses pacientes são reoperados em condições clínicas piores e
cos), associada à linfadenectomia padrão. Quando o procedi- apresentam maiores índices de complicações cirúrgicas. Des-
mento é realizado por cirurgiões experientes, a mortalidade é sa forma, é indicada a gastroenteroanastomose profilática nos
menor que 5%, podendo atingir entre 20% e 30% em equipes pacientes submetidos à derivação biliar cirúrgica. Resposta a.
com menor número de casos operados por ano. Os óbitos pós-
-operatórios estão relacionados com complicações, como fístula
biliar ou pancreática, hemorragia (que pode ocorrer inclusive no 23. Não entendi porque a UNIFESP liberou como gabarito a
pós-operatório tardio por erosão do coto da ADG) e infecção. opção A como correta, já que o CA 19-9 pode ser utilizado
para avaliação prognóstica, diagnóstico diferencial e monito-
Dada à alta taxa de recidiva local (até 70%), muitos são os
rização terapêutica. Valores acima de 37 U/mL são suspeitos
esquemas propostos na literatura para tratamento adjuvante
para adenocarcinomas. Em pacientes com câncer de pâncreas
nestes casos, com ganho de sobrevida.
avançado, o valor de CA 19-9 pré-tratamento é um fator prog-
A adjuvância do câncer de pâncreas tem sido rotineiramente nóstico correlacionado com a sobrevida global. A queda do
realizada com gencitabina isolada por 6 meses. 0 5-FU parece CA 19.9 após início do tratamento costuma ser lenta e gradual,
ser tão eficaz quanto à gencitabina, entretanto, devido ao per- a meia vida do CA 19.9 é de 15 a 33 dias. Há dados controver-
fil de toxicidade, a gencitabina tem sido a primeira opção. A sos sobre a correlação da queda desse marcador, após início da
RDT é uma conduta discutida principalmente com pacientes quimioterapia, e a sobrevida global, entretanto, a queda do CA
que apresentam tumor na cabeça do pâncreas e linfonodos 19-9 relaciona-se com resposta ao tratamento e pode ser usada
positivos ou margens comprometidas. como um parâmetro de seguimento, principalmente nos casos
O marcador tumoral mais utilizado no adenocarcinoma de onde o RECIST não se aplica (doença peritoneal sem nódulos
pâncreas é o antígeno carboidratado 19.9 (CA 19-9), cujo mensuráveis). Pelas recomendações da ASCO, o CA 19-9 deve
limite superior da normalidade é de 37 U/mL. Quando o in- ser avaliado a cada 1 a 3 meses para monitorização terapêuti-
tervalo de referência é ampliado para > 90 U/mL ou > 200 ca, e quando houver uma elevação, os exames de imagem são
U/mL, a especificidade para câncer pancreático em paciente indicados para confirmar progresso de doença.
com suspeita clínica atinge 85% e 95%, respectivamente. No O uso de CEA como rastreamento populacional não é recomen-
entanto, alguns fatores influenciam o valor do CA 19-9. Na dado para carcinoma colorretal. Na maioria dos casos o aumen-
vigência de insuficiência hepática, a metabolização e a de- to do CEA durante o tratamento indica progressão da doença.

277
Clínica cirúrgica | Vias biliares, pâncreas e fígado | Gabarito comentado

Os mecanismos possivelmente envolvidos no fígado cirróti- 30% dos pacientes no momento do diagnóstico. As elevações de
co são encurtamento do telômero cromossomal, proliferação AFP também podem ser observadas em outras doenças, como
alterada de hepatócitos e das células progenitoras hepáticas tumores de células germinativas, câncer gástrico, câncer de pul-
(stem cells), ativação de citocinas (por exemplo, IL-G) e de mão, bem como de estados inflamatórios crônicos, como a he-
proteínas que neutralizam a atividade supressora tumoral patite viral. Vários estudos têm demonstrado, no entanto, que
promovida pelo p53 e sistema NF-Kappa B. O gene p53 é um os níveis de AFP significativamente elevados correlacionam-se
gene supressor de tumor localizado no cromossomo 17, sen- com o tamanho do tumor, agressividade e piora do prognósti-
do responsável pela transcrição de proteína com peso mole- co com uma menor taxa de sobrevida. AFP também pode ser
cular de 53KD que possui importante papel no controle do útil como uma maneira de monitorar a progressão do tumor,
ciclo celular. Mutações neste gene são um fenômeno comum como resposta ao tratamento ou para detectar a recorrência da
na carcinogênese humana sendo encontradas entre 60% a doença. A AFP tem uma meia-vida curta e o nível muda dentro
80% nos tumores colorretais e em cerca de 50% de todos os de poucos dias após a proliferação, remoção ou destruição das
cânceres humanos, ou mais de 50 tipos de tumores. células tumorais. Marcadores tumorais recentes adicionais de
A perda do códon 12 do proto-oncogene K-ras foi demons- soro foram validados no CHC. Resposta a.
trada em metade de todos os casos de carcinoma de cólon e
reto, e em igual percentagem nos adenomas maiores que 1 cm, 24. Pancreatite aguda Apache ≥ 8 e proteína C reativa ≥ 150
contrastando com sua perda em apenas 10% dos adenomas mg/dL são marcadores de gravidades, portanto necrose pan
menores que 1 cm. O gene K-ras é normalmente presente na creática. A TC com contraste é fundamental para estabelecer
célula e encarregado da produção de proteínas G. Estas prote- o escore de Balthazar versus prognóstico. Resposta b.
ínas normalmente intervêm na inativação de fatores vincula-
dos ao crescimento e diferenciação celular através de um efeito
modulador sobre a enzima adenilciclase. Quando ocorre uma 25. Os episódios recorrentes de pancreatite aguda e a presen-
mutação no gene, obtém-se uma proteína G anormal que per- ça de material mucoide na papila duodenal são dados con-
deu sua capacidade para inativar o crescimento e a diferencia- sistentes para levantar-nos suspeita de neoplasia intraductal
ção celular, resultando em um processo contínuo e autônomo. produtora de mucina.
A perda de regiões específicas nos cromossomos está asso Entre os tumores exócrinos do pâncreas, as neoplasias pan-
ciada ao desenvolvimento de câncer de cólon em uma grande creáticas intraductais produtoras de mucina têm sido descri-
percentagem dos casos. Estas regiões dos cromossomos têm tas com maior frequência recentemente por duas razões: pelo
sido interpretadas como portadoras de genes supressores tu seu quadro clínico frequentemente caracterizado por crises
morais, cujo produto atua de forma negativa sobre o cresci de dor abdominal, lembrando crises de pancreatite aguda em
mento e a diferenciação celular. razão da oclusão temporária dos ductos pancreáticos e pelo
Αlfafetoproteína sérica (AFP) é mais comumente usada como seu prognóstico favorável. Apesar de ser reconhecida mais fre-
teste de triagem, porém tem sido demonstrado que tem um va- quentemente nos últimos anos, sua natureza, sua patogenia e
lor preditivo positivo precário, bem como uma baixa sensibili- sua relação com o carcinoma ductal pancreático permanecem
dade e especificidade. Os níveis séricos de AFP de 400-500 mg/ não esclarecidas. Do ponto de vista anatomopatológico são
mL são considerados diagnósticos de carcinoma hepatocelular, caracterizados pela proliferação intraductal de células produ-
embora seja possível que os níveis de AFP sejam normais em até toras de mucina em arranjo papilar. Observe a tabela a seguir:

Neoplasia sólida cística


Cistoadenoma Neoplasia intraductal
Cistoadenoma seroso pseudopapilar
mucinoso produtora de mucina
(Tumor de Frantz)
Faixa etária 50 aos 70 anos 50 aos 70 anos 50 aos 70 anos 20 aos 30 anos
Gênero Feminino > masculino Feminino Feminino = masculino Feminino = masculino
Apresentação Incidental ou dor abdo- Incidental ou dor abdomi- Incidental ou pancreatite Incidental ou dor abdominal
clínica minal ou efeito de massa nal ou efeito de malignida- ou malignidade ou efeito de massa
de
Potencial de Baixo Alto Alto (ducto principal) Alto
malignidade Baixo (ducto secundário)
Tratamento Ressecção, se sintomático Ressecção Ressecção (ducto principal) Ressecção
Seguimento ou ressecção
(ducto secundário)
Resposta c.

26. Síndrome de Zollinger-Ellison é gastrinoma, tumor secretor de gastrina. Todos os sintomas no início do curso da SZE
ocorrem por hiper-secreção de ácido gástrico secundário à secreção ectópica de gastrina pelo tumor.

278 SJT Residência Médica - 2015


30 Pâncreas

Tumores neuroendócrinos funcionantes mais comuns


Tumor Hormônio Célula Malignidade
Insulinoma Insulina Beta 10%
Gastrinoma Gastrina Não beta 60%
Glucagonoma Glucagon Alfa 2 75%
Vipoma VIP Não beta 50%
Somatostatinoma Somatostatina Delta 90%
VIP: peptídeo intestinal vasoativo.

A úlcera péptica de duodeno decorrente da hiperacidez gástrica é a manifestação mais frequente da doença. O diagnóstico
deve ser lembrado nas úlceras duodenais recidivantes. Em 50% dos casos, o paciente refere diarreia. A gastrina basal superior
a 200 pg/mL, na ausência do uso de bloqueadores H2 e inibidores da bomba de prótons, sugere gastrinoma. A taxa acima de
1.000 pg/mL é considerada diagnóstica. O antro residual pós-gastrectomia e a hiperplasia de células G do antro gástrico po
dem produzir sintomas semelhantes aos determinantes pelo gastrinoma. Nos casos de intermediários (gastrinemia entre 200
e 1.000 pg/mL), a secreção gástrica com acidez e volume elevados e o aumento de 200 pg/mL em 20 minutos da gastrina após
estímulo de injeção com secretina na dosagem de 2 UI/kg/peso sugerem fortemente o gastrinoma.
Úlcera péptica atípica de jejuno deve levantar suspeita para o diagnóstico de SZE. As complicações comuns à doença ulcerosa
péptica são frequentes na SZE (perfurações e hemorragias). Resposta d.

27. O termo nesidioblastose significa a presença de pseu- ressonância nuclear magnética ou, principalmente, por pun
doilhotas ou pequenos blocos de células endócrinas em lo ção com agulha fina. Também se reserva a intervenção pre-
calização ectópica, no mesênquima, nas septações fibrosas, coce para os pacientes graves, com insuficiência de múltiplos
junto aos ductos exócrinos ou revestindo-os parcialmente. A órgãos, que não apresentaram melhora após 72 horas de cui-
suspeita diagnóstica ocorre quando, no tratamento de uma dados intensivos. Quanto à intervenção sobre a necrose não
hipoglicemia não cetótica no recém-nascido, há impossibili- infectada, esta deve ser postergada ao máximo, se possível após
dade de manutenção da normoglicemia, infundindo glicose a terceira semana. Para sua abordagem diversas modalidades
a 20% (10 a 20 mg glicose/kg/min.) via acesso venoso central. cirúrgicas podem ser empregadas, como registra a tabela. Atu-
O próximo passo é a dosagem sérica de glicose e insulina. É almente, os resultados do tratamento da pancreatite aguda leve
confirmada a HHPI quando a relação insulina/glicose > 0,3. são excelentes, com mortalidade inferior a 1%. Para as formas
As lesões pancreáticas costumam ser microscópicas e distribu- graves, mortalidade de 20% a 30% pode ser observada em ser-
ídas difusamente ou em aglomerados no parênquima, sendo viços em que cirurgiões e intensivistas possam dar ao paciente
difícil o diagnóstico por meios de imagem ou por palpação no atendimento multidisciplinar de excelência.
transoperatório. Na análise histopatológica estão presentes cé- Modalidades cirúrgicas na
lulas hipertrofiadas com núcleos gigantes e há um aumento na pancreatite aguda necrosante
proporção de células produtoras de insulina (imuno-histoquí- Tratamento convencional
mica). Resposta a.
Ressecção ou necrosectomia com drenagem
Reoperações, se necessário
28. Estamos diante de uma história clínica que é incontestá- Procedimentos abertos
vel com o diagnóstico de pancreatite aguda biliar, cuja evolu-
ção resultou em remissão precoce sem complicações próprias Ressecção ou necrosectomia e relaparotomias programadas
Tratamento abdominal aberto
do quadro agudo pancreático. Nessa mesma internação, após
avaliação clínica adequada, essa paciente deve ter indicação Tratamento com fechamento abdominal temporário
para colecistectomia, evitando, dessa forma, novos episódios Procedimentos fechados
de pancreatite aguda. Resposta b. Necrosectomia e lavagem local fechada contínua
Reoperações, se necessário
29. O tratamento cirúrgico das formas graves da pancreatite
aguda foi o que mais mudou, nos últimos 20 anos. Até o iní- Resposta b.
cio dos anos de 1980, a intervenção precoce sobre a necrose
pancreática era a conduta preconizada, sendo seguida de índi-
ces de mortalidade que oscilavam entre 30 %e 70%. Inúmeros 30. Nas formas graves de PA, pela frequente presença de ne-
estudos clínicos ensinaram que a intervenção retardada era crose e alto risco de infecção do pâncreas necrosado e ad-
mais efetiva, estando a necrose bem delimitada e seguindo-se jacências, assim como na PA de etiologia biliar, pela possi-
índices de mortalidade bem inferiores. A intervenção precoce bilidade de colangite ou mesmo colecistite concomitantes,
ficou, então, reservada para os casos de infecção da necrose recomenda se o uso de antibióticos de amplo espectro, com
pancreática, diagnosticada por tomografia computadorizada, cobertura para bactérias Gram-negativas. Não há indicações

279
Clínica cirúrgica | Vias biliares, pâncreas e fígado | Gabarito comentado

para uso de antimicrobianos nas PA leves. De um modo ge- creático, com rotura do canal de Wirsung, pois é essencial ao
ral, hoje, admite-se o uso de ATB profilaticamente em pa- cirurgião saber onde se deu a secção. Resposta a.
cientes com necrose superior a 30% do tecido pancreático
e disfunções orgânicas clinicamente siginificativas. Deve-se
optar pelo uso regular de solução analgésica contendo mepe- 31. Hipertrigliceridemia e hipercalcemia são as causas meta-
ridina (até 100-150 mg a cada 3-4 horas se necessário) já que bólicas de pancreatite aguda, sendo que os outros distúrbios
a morfina ocasiona espasmo do esfíncter de Oddi, levando metabólicos e hidroeletrolíticos mencionados não são causas
à exacerbação da doença. Quando a dor for muito intensa, conhecidas de pancreatite. Resposta b.
pode-se usar o equipamento de infusão contínua, controlado
pelo próprio paciente, ou o bloqueio anestésico dos nervos
32. Pancreatoduodenectomia de Whipple é o padrão-ouro de
esplâncnicos, que, além da ação sedativa, pode ajudar a au-
tratamento para pacientes com carcinoma de pâncreas com
mentar a irrigação sanguínea do órgão. Para as formas mais
doença operável. A experiência do cirurgião e do centro ci-
leves, o uso de metamizol (Dipirona®) pode ser suficiente. A
rúrgico é fundamental na obtenção de resultados adequados
utilização de aspiração nasogástrica não deve ser conside-
com esse procedimento. A mortalidade hospitalar fica em
rada uma rotina ficando restrita àqueles pacientes com íleo
torno de 3,8% nos centros que realizam mais de 16 operações
paralítico. A maioria dos pacientes apresenta formas leves
ao ano, comparada a 16,3% naqueles centros que realizam
de doença (pelo menos 80%). Há estudos bem conduzidos
menos de uma cirurgia ao ano.
mostrando que a realização da CPER e papilotomia nas pri-
meiras 48 horas, em pacientes com PA biliar grave, reduziu O procedimento de Whipple compreende a remoção da cabeça
substancialmente a taxa de complicações, o tempo de inter- do pâncreas, duodeno, jejuno proximal, colédoco e vesícula bi-
nação e a mortalidade. Ainda não está claro se a papilotomia liar. Uma gastrectomia parcial também é realizada. Anastomoses
endoscópica reduz a mortalidade porque diminui a gravida- pancreática e biliar e gastrojejunostomia completam a operação.
de da pancreatite (prevenindo a piora ou a instalação da ne- Variações dessa técnica cirúrgica, como pancreatectomia total e
crose pancreática), ou simplesmente porque trata a infecção cirurgia ultrarradical (com remoção da veia porta e realização
biliar. Se há sepse biliar, a indicação da CPER é indiscutível. de pancreatectomia total e linfadenectomia retroperitoneal),
A infecção biliar deve ser suspeitada quando há sinais clí- não demonstraram melhora da sobrevida e associam-se à maior
nicos de colangite, deterioração progressiva das provas da morbidade, devendo ser reservadas para casos específicos. Ou-
função hepática, leucocitose, dilatação dos ductos biliares tra técnica com crescente popularidade é o procedimento de
ao ultrassom, bacteremia documentada e suspeita de cálculo Whipple com preservação do piloro, no qual o antro gástrico,
biliar impactado na papila. Outra indicação bem aceita da o piloro e o duodeno proximal não são removidos (cirurgia de
papilotomia endoscópica é para os pacientes portadores de Traverso-Longmire). Parece haver diminuição no tempo ope-
PA biliar que apresentam um mau risco cirúrgico. Nesses ratório e na necessidade de transfusões e esvaziamento gástrico
pacientes, o procedimento pode prevenir recidivas da PA e tardio, sem aumento de recorrência ou mortalidade. Por sua
suas complicações, mesmo se não for possível ou desejável localização anatômica, os carcinomas do corpo e da cauda do
a colecistectomia. Uma maneira de reduzir o risco inerente pâncreas raramente são ressecáveis. Nos raros casos em que essa
ao procedimento é procurar manipular apenas o ducto biliar. opção é viável, a pancreatectomia distal subtotal (com ou sem
Outra indicação inconteste da CPER é o traumatismo pan- esplenectomia) é o procedimento de escolha. Resposta b.

280 SJT Residência Médica - 2015


Questões para Treinamento
31 Fígado

Angelina Caron – Clínica Cirúrgica – 2013 Angelina Caron – Clínica Cirúrgica – 2013
1. Conforme a segmentação hepática descrita por Clau- 2. Com relação ao diagnóstico do carcinoma hepatoce-
de Couinaud em segmentos I, II, III, IV, V, VI, VII e lular (CHC), é CORRETO afirmar:
VIII e esquematizada na figura abaixo conforme as le- a) a dosagem de alfafetoproteína tem importante va-
tras a, b, c, d, e, f, g e h, analise as assertivas e assinale lor para o diagnóstico, porém não tem importância
a alternativa correta. prognóstica
b) a tomografia computadorizada e a ressonância mag-
nética apresentam achados geralmente não caracte-
rísticos na maioria dos CHC
c) os níveis de alfafetoproteína são geralmente mais
baixos nos pacientes jovens
d) a arteriografia é raramente necessária para o diag-
nóstico
e) a tomografia computadorizada é o exame de ima-
gem utilizado inicialmente na investigação
 ACERTEI  ERREI  DÚVIDA

Cruz Vermelha – 2013


3. Das doenças metabólicas e genéticas que podem evo-
I. Os segmentos assinalados como B, C e H cor- luir para carcinoma hepatocelular, uma é conside-
respondem respectivamente aos segmentos VII, rada de grande importância. Assinale de qual delas
VIII e I. estamos falando:
II. Em geral, o suprimento arterial e a drenagem biliar a) hemocromatose
dos segmentos assinalados como A,B,C,D e E ocor- b) gastrite atrófica
re através do sistema setorial posterior direito. c) hidatidose
III. A drenagem venosa do segmento assinalado d) alcoolismo crônico
como H, é única, e drenando através de múlti-
e) hepatite A
plas veias pequenas diretamente na veia cava in-
ferior.  ACERTEI  ERREI  DÚVIDA
IV. Os segmentos assinalados como E, F e G corres-
pondem respectivamente aos segmentos II, III e IV.
Hospital Municipal São José – 2013
a) V, V, F, V 4. Os doadores limítrofes para o transplante hepático,
b) F, V, F, V melhor denominados “doadores com critérios expan-
c) V, F, V, F didos (DCE)”, são definidos como aqueles com fatores
d) F, F, V, V de risco que podem aumentar a incidência de disfun-
e) V, V, F, F ção ou não do funcionamento primário do enxerto e,
 ACERTEI  ERREI  DÚVIDA consequentemente, o impacto no resultado.
Clínica cirúrgica | Vias biliares, pâncreas e fígado | Questões para treinamento

São considerados todos fatores de risco, exceto: a) insuficiência cardíaca


a) portador assintomático de hepatite C b) insuficiência hepática grave
b) idade do doador igual ou maior a 60 anos c) ascite refratária
c) tempo de isquemia fria acima de 12 horas d) encefalopatia hepática grave
d) níveis de sódio acima de 155 mEq/L associado e) doença hepática policística
e) presença de esteatose macrovesicular maior que 30%
 ACERTEI  ERREI  DÚVIDA
 ACERTEI  ERREI  DÚVIDA
UFPR – Clínica Cirúrgica – 2012
8. Com relação aos abscessos hepáticos, assinale a alter-
Nossa Senhora das Graças – Clínica Cirúrgica – 2013
nativa correta.
5. Paciente do sexo feminino 47 anos descobre em exa-
a) a drenagem cirúrgica é o método de primeira esco-
me de rotina lesão de 8 x 7 cm ocupando os segmen-
lha para o tratamento dos abscessos piogênicos
tos VII e VIII do fígado com diagnóstico tomográfico
b) a drenagem cirúrgica é o método de primeira esco-
de hemangioma. A paciente é assintomática, porém
lha para o tratamento dos abscessos amebianos
está insegura, pois tem medo que a lesão malignize ou
c) a drenagem cirúrgica é o método de primeira esco-
rompa espontaneamente. A melhor conduta seria:
lha para o tratamento dos abscessos fúngicos
a) hepatectomia, pois realmente por se tratar de he-
mangioma gigante (> 4 cm) o mesmo apresenta ris- d) a drenagem percutânea é o método de primeira es-
co significativo de ruptura colha para o tratamento dos abscessos piogênicos
b) embolização do mesmo, pois é assintomático e) a drenagem percutânea é o método de primeira es-
c) embolização seguido de radiofrequência por ser as- colha para o tratamento dos abscessos amebianos
sintomático  ACERTEI  ERREI  DÚVIDA
d) conduta expectante com acompanhamento por exa-
me de imagem UFPR – Clínica Cirúrgica – 2012
e) transplante hepático 9. Qual dos tumores hepáticos abaixo é mais comum
 ACERTEI  ERREI  DÚVIDA nos pacientes com retocolite ulcerativa?
a) colangiocarcinoma
b) angiossarcoma
PUC-PR – Clínica Cirúrgica – 2013 c) adenoma
6. Para as doenças hepáticas agudas ou crônicas irrespon- d) hemangioma
sivas à alternativas terapêuticas, o transplante hepático e) hiperplasia nodular focal
é considerado o tratamento de escolha. O progresso
técnico na área permitiu que a sobrevida no Brasil che-  ACERTEI  ERREI  DÚVIDA
gasse a 80% no primeiro ano do transplante hepático.
Sobre as indicações e contraindicações do transplante UNIFESP – Gastroenterologia clínica – 2012
de fígado, analise as afirmações a seguir: 10. Hipertensão portal segmentar é complicação de:
I. A doença cardiopulmonar grave não relacionada a) cirrose hepática
à doença hepática é considerada uma contrain- b) esquistossomose
dicação absoluta ao transplante hepático. c) mielofibrose
II. A presença de neoplasia extra-hepática é consi- d) hepatite crônica pelo vírus C
derada uma contraindicação absoluta ao trans- e) pancreatite crônica
plante hepático.  ACERTEI  ERREI  DÚVIDA
III. Mesmo em pacientes com alcoolismo persistente
é possível a indicação do transplante hepático.
IV. Pacientes com infecção pelo HIV e hepatite C PUC-PR – Clínica Cirúrgica – 2012
não são considerados atualmente como con- 11. Sobre o hepatocarcinoma é CORRETO afirmar:
traindicação ao transplante hepático. a) raramente está associado à cirrose
b) não é um tumor hepático primário maligno comum
É correto o que se afirma APENAS em: c) é vascularizado predominantemente por via portal
a) I, II, III e IV d) sua variante fibrolamelar é a forma mais agressiva de
b) I e III todos os tipos de hepatocarcinomas hepáticos
c) III e IV e) a ressecção ou o transplante hepático são os trata
d) I, III e IV mentos que oferecem as melhores sobrevidas
e) I, II e IV
 ACERTEI  ERREI  DÚVIDA
 ACERTEI  ERREI  DÚVIDA
USP-RP – Clínica Cirúrgica – 2012
UFPR – Clínica Cirúrgica – 2012 12. Mulher de 60 anos de idade, portadora de cirrose, está-
7. NÃO é contraindicação de derivação portossistêmica gio B7 na classificação de Child. Endoscopia digestiva
intra-hepática (TIPS): com varizes esofágicas, hemograma com plaquetas de

282 SJT Residência Médica - 2015


31 Fígado

40.000. No rastreamento ambulatorial com ultrasso- UFRJ – 2011


nografia foi detectada lesão de 5,5 cm no segmento VII 16. Homem, 55 anos, com cirrose alcoólica, chega à
e VIII. Ressonância nuclear magnética de abdome con- emergência com desconforto abdominal inespecífi-
firma lesão com a mesma dimensão, hipervascular na co e febre (38ºC) há 2 semanas. Relata hiporexia nos
fase arterial, com lavagem rápida na fase portal e for- últimos meses. Há 1 ano, episódio de pancreatite bi-
mação de pseudocápsula. Após estadiamento clínico e liar. Usa espironolactona 100 mg/dia. Exame físico:
oncológico, qual a melhor conduta no momento: aumento do volume abdominal, com macicez móvel
a) ressecção hepática de decúbito e leve desconforto à palpação superficial,
b) quimioembolização difusamente, sem sinais de irritação peritoneal. Para-
c) suporte clínico centese: líquido amarelo citrino, albumina 1,8 g/L e
d) transplante hepático 500 leucócitos (35% de polimorfonuclear); albumina
sérica 2,8 g/L. Culturas do líquido ascítico em anda-
 ACERTEI  ERREI  DÚVIDA
mento. A principal hipótese diagnóstica é:
a) peritonite bacteriana espontânea
UFC – Clínica Cirúrgica – 2011 b) peritonite bacteriana secundária
13. Mulher 35 anos apresenta nódulo hepático de 6 cm c) ascite pancreática
em segmento V. À TC, lesão hipercaptante na fase ar- d) peritonite tuberculosa
terial. Qual a sua conduta?  ACERTEI  ERREI  DÚVIDA
a) observação
b) investigar tumor primário em outros sítios
c) biópsia hepática guiada por US HUEC-PR – Clínica Cirúrgica – 2011
d) biópsia hepática por videolaparoscopia 17. São causas clínicas do edema dos membros inferiores,
e) hepatectomia segmentar EXCETO:
a) obstrução da drenagem venosa e linfática
 ACERTEI  ERREI  DÚVIDA b) insuficiência cardíaca congestiva
c) síndrome nefrótica
d) ascite
AMRIGS – 2011
e) cirrose
14. Quando se analisam as complicações que podem ocor-
rer em um paciente com cirrose, é valido afirmar que:  ACERTEI  ERREI  DÚVIDA
a) no sangramento agudo por ruptura de varizes de esô-
fago, além da terapia endoscópica, os pacientes devem IJF-CE – 2011
ser submetidos à terapia farmacológica, idealmente 18. A descrição clássica dos sintomas do abscesso hepá-
precoce, inclusive antes da endoscopia diagnóstica tico é febre, icterícia e dor no quadrante superior di-
b) nesses pacientes, a ascite é uma complicação frequente, reito que se exacerba com o toque e a palpação, sendo
sendo que as doenças crônicas do fígado são responsá- fundamental diagnosticar a etiologia para se instituir
veis por ate 50% das causas de derrame peritoneal o tratamento mais adequado. São características do
c) em um paciente com ascite, o diagnóstico presunti- abscesso piogênico, EXCETO:
vo de peritonite bacteriana espontânea deve ser feito a) mais comum em pacientes jovens
quando se tiver mais de 500 leucócitos por mm3 no b) mais comum em homens do que em mulheres
líquido de ascite c) geralmente acomete o fígado direito
d) com os avanços dos conhecimentos da fisiopatologia d) cultura sanguínea positiva
da síndrome hepatorrenal, atualmente se sabe que o
caráter funcional dessa complicação não é mais con-  ACERTEI  ERREI  DÚVIDA
siderado de grande relevância
e) o asterixis é um sinal patognômonico de encefalopa- IJF-CE – Clínica Cirúrgica – 2011
tia portossistômica 19. Com relação aos tumores benignos do fígado, assina-
 ACERTEI  ERREI  DÚVIDA le a opção verdadeira:
a) o adenoma celular do fígado é predominantemente
encontrado em mulheres pós-menopausa com his-
Hospital Albert Einstein – 2011 tória de uso crônico de contraceptivos orais
15. A síndrome hepatorrenal na sua apresentação clínica b) o adenoma celular do fígado dificilmente sangra e
assemelha-se à: sua transformação maligna é extremamente rara
a) insuficiência renal aguda pós renal c) a hiperplasia nodular focal é geralmente diagnosti-
b) nefrite intersticial aguda cada por TC contrastada onde se observa massa hi-
c) necrose tubular aguda pervascular com uma cicatriz central hipodensa
d) glomerulonefrite rapidamente progressiva d) os hemangiomas são tumores raros e geralmente são
e) insuficiência renal aguda pré-renal descobertos na vigência de um sangramento

 ACERTEI  ERREI  DÚVIDA  ACERTEI  ERREI  DÚVIDA

283
Clínica cirúrgica | Vias biliares, pâncreas e fígado | Questões para treinamento

IJF-CE – Clínica Cirúrgica – 2011 a) após paracentese evacuadora (> 4 L), em pacientes
20. Paciente de 54 anos, sexo masculino, vírus C po- com ascite volumosa
sitivo, portador de carcinoma hepatocelular loca- b) no manuseio da oligúria, associada à furosemida,
lizado no segmento III e cirrose classificada como em pacientes sépticos
Child B. Conduta: c) como solução coloidal de preferência na reposição
a) transplante hepático volêmica em pacientes politraumatizados
b) hepatectomia esquerda d) em pacientes desnutridos, com albumina sérica me-
nor que 2 g%
c) ablação térmica
d) quimioembolização  ACERTEI  ERREI  DÚVIDA
 ACERTEI  ERREI  DÚVIDA
Unificado-MG – Clínica Cirúrgica – 2011
25. Paciente do sexo feminino, 62 anos, apresenta, há cin-
UFRJ – Clínica Cirúrgica – 2011 co dias, icterícia e dor progressiva no hipocôndrio di-
21. Adolescente, 17 anos, no décimo dia de pós-operató- reito. Informa piora nas últimas duas horas com febre
rio de apendicectomia por apendicite aguda diagnos- de 39,1ºC, acompanhada de calafrios e intensificação
ticada tardiamente, desenvolve quadro de anorexia, da dor. Exames complementares realizados em regi-
me de urgência: ultrassom revelou dilatação das vias
febre alta (39 ºC) com calafrios e dor abdominal mais
biliares intra e extra-hepáticas, bioquímica do sangue
intensa no quadrante superior direito. A hipótese
mostrou aumento das bilirrubinas direta e indireta,
diagnóstica mais provável é: transaminases pouco acima do normal, além de ele-
a) colecistite aguda alitiásica vação da gama-GT e da fosfatase alcalina. A causa
b) abscesso hepático mais provável para o quadro descrito é:
c) hepatite tóxica medicamentosa a) colangite esclerosante
d) pneumonia de lobo inferior direito b) hepatite aguda viral
c) neoplasia maligna da papila duodenal
 ACERTEI  ERREI  DÚVIDA d) obstrução do colédoco por cálculo

 ACERTEI  ERREI  DÚVIDA


UNICAMP – Clínica Cirúrgica – 2011
22. Mulher, 55 anos, deu entrada no pronto-socorro, re-
Unificado-MG – 2011
ferindo quadro de sangramento digestivo alto (hema-
26. Paciente do sexo feminino, 64 anos, do lar, fez ultras-
têmese e melena). Apresenta estigmas de hepatopatia
sonografia de rotina e foram detectados três nódulos
crônica, está sem ascite e encontra-se estável hemodi- hepáticos, em segmentos diversos, cujo laudo relatava
namicamente. A conduta imediata é: serem “sugestivos de lesão secundária”. Ela é assinto-
a) passagem de balão de Sengstaken-Blakemore mática e não há história prévia de câncer. Em relação
b) cirurgia de derivação venosa a este caso, assinale a afirmativa correta:
c) cirurgia de desconexão ázigo-portal a) era de se esperar que a paciente estivesse ictérica
d) reposição volêmica, endoscopia e terapêutica farma- b) estas metástases podem ser hiper ou hipoecogênicas
cológica c) obrigatoriamente, o sítio do tumor primário deve
drenar para o sistema porta
 ACERTEI  ERREI  DÚVIDA d) se a paciente fosse cirrótica, o risco de implante de
lesões secundárias no fígado seria maior
UNICAMP – Clínica Cirúrgica – 2011  ACERTEI  ERREI  DÚVIDA
23. Qual das afirmativas abaixo se caracteriza como con-
traindicação absoluta à passagem de TIPS em pacien-
Unificado-MG – 2011
te com hepatopatia crônica:
27. Paciente do sexo feminino, 34 anos, dor inespecífica no
a) insuficiência cardíaca direita
andar superior do abdome, intermitente, de pouca in-
b) ascite volumosa tensidade e sem relação com a alimentação. Ultrassono-
c) varizes de esôfago de grande calibre associado a va- grafia de abdome evidenciou nódulo hiperecogênico de
rizes gástricas 3 cm de diâmetro no segmento VII do fígado. Dentre as
d) trombose parcial do sistema portal opções abaixo, assinale a conduta mais adequada:
a) fazer ressonância magnética do abdome com con-
 ACERTEI  ERREI  DÚVIDA traste oral
b) fazer tomografia computadorizada multislice do ab-
UNICAMP – Clínica Cirúrgica – 2011 dome com contraste endovenoso
24. Com base em recentes diretrizes internacionais e na- c) proceder biópsia percutânea ecoguiada do nódulo
cionais, a reposição de albumina humana está indica- d) realizar biópsia laparoscópica do nódulo
da em qual das situações abaixo:  ACERTEI  ERREI  DÚVIDA

284 SJT Residência Médica - 2015


31 Fígado

Unificado-MG – Clínica Cirúrgica – 2011 d) está indicado nos casos de hepatite fulminante que
28. Paciente do sexo masculino, 62 anos, com colangio- se encaixam nos critérios do King’s College Hospital
carcinoma tipo Bismuth 3A (acometimento da bifur- ou nos critérios de Clichy
cação dos ductos hepáticos e dos ductos segmentares e) tumor maligno hepático com metástases extra-hepáti-
direitos) com invasão do segmento IV, sem invasão cas é uma contraindicação para o transplante hepático
vascular ou evidência de metástases. Bilirrubina total  ACERTEI  ERREI  DÚVIDA
de 26 mg/dL. Dentre as opções abaixo, assinale a con-
duta mais adequada e oportuna: UFRN – Urologia – 2011
a) drenagem biliar percutânea trans-hepática esquerda 32. A droga utilizada com eficácia no tratamento sistêmi-
e trissegmentectomia direita (ressecção dos segmen- co do hepatocarcinoma é:
tos IV, V, VI, VII e VIII) após queda dos níveis séri- a) cisplatina
cos de bilirrubina b) sorafenibe
b) embolização do ramo direito da veia porta e trisseg- c) gencitabina
mentectomia direita (ressecção dos segmentos IV, V, d) irinotecam
VI, VII e VIII) em 4 semanas
 ACERTEI  ERREI  DÚVIDA
c) quimioterapia com gencitabina
d) trissegmentectomia direita (ressecção dos segmen- UFRN – 2011
tos IV, V, VI, VII e VIII) 33. Considerando os critérios de Milão, há indicação de
transplante de fígado nos pacientes com hepatocarci-
 ACERTEI  ERREI  DÚVIDA
noma na presença de nódulo único de:
a) até 5 cm de diâmetro ou até 3 nódulos sendo, o
Unificado-MG – Clínica Cirúrgica – 2011 maior até 4,5 cm de diâmetro
29. Paciente do sexo masculino 55 anos, com cirrose etanó- b) até 6,5 cm de diâmetro ou até 3 nódulos, sendo o
lica, Child-Pugh B7, MELD 14, apresenta nódulo de 2,5 maior até 3 cm de diâmetro
c) até 5 cm de diâmetro ou até 3 nódulos, sendo o
cm de diâmetro no segmento VIII do fígado, hipervas-
maior até 3 cm de diâmetro
cular na fase arterial com wash-out porta, à tomografia
d) até 6,5 cm de diâmetro ou múltiplos nódulos, sendo
computadorizada do abdome. Dosagem sérica de alfa- o maior de 4,5 cm e o diâmetro somado dos nódulos
fetoproteína de 650 ng/mL (VR < 12 ng/mL). Dentre as até 8 cm
opções abaixo, assinale a afirmativa ERRADA:
a) a quimioembolização não constitui a melhor opção  ACERTEI  ERREI  DÚVIDA
neste caso
b) deve ser realizada a biópsia hepática ecoguiada UFRN – 2011
c) paciente tem indicação de hepatectomia 34. Com relação ao colangiocarcinoma, é correto afirmar:
d) paciente tem indicação de transplante hepático a) a drenagem biliar e a embolização da veia porta do
lado do fígado remanescente podem melhorar os re-
 ACERTEI  ERREI  DÚVIDA sultados das hepatectomias
b) a topografia mais frequente para esse tipo de tumor
UFSC – Clínica Cirúrgica – 2011 é o colédoco
c) em virtude dos riscos da hepatectomia nesses pa-
30. O fator mais estreitamente relacionado à mortalidade
cientes, é necessária a biópsia no pré-operatório
por sangramento de varizes esofágicas é:
para confirmação da indicação cirúrgica
a) contagem de plaquetas d) o transplante hepático é uma alternativa para o tra-
b) comorbidades associadas tamento
c) reserva funcional hepática
d) etiologia da hipertensão portal  ACERTEI  ERREI  DÚVIDA
e) magnitude da pressão portal
UFPE – 2011
 ACERTEI  ERREI  DÚVIDA
35. Mulher, 53 anos de idade, em fase final de insuficiên-
cia hepática, é encaminhada para avaliação de trans-
UFSC – Clínica Cirúrgica – 2011 plante hepático. Qual das alternativas abaixo torna o
31. O transplante de fígado é o tratamento definitivo transplante não recomendado?
para doenças hepáticas terminais. Sobre o transplan- a) história de câncer de mama há 5 anos sem evidência
de recidiva
te assinale a alternativa incorreta.
b) consumo de álcool ativo
a) os critérios de Milão definem a elegibilidade dos pa-
c) presença de 3 carcinomas hepatocelulares com 2 cm
cientes com carcinoma hepatocelular
de diâmetro cada um
b) a alocação dos órgãos no transplante hepático é ba- d) presença de síndrome hepatorrenal necessitando de
seada no tempo de espera em fila hemodiálise
c) em nosso meio, as principais indicações são para cir
rose hepática de etiologia viral por vírus C e álcool  ACERTEI  ERREI  DÚVIDA

285
Clínica cirúrgica | Vias biliares, pâncreas e fígado | Questões para treinamento

UFPE – Clínica Cirúrgica – 2011 PUC-RS – Clínica Cirúrgica – 2010


40. Mulher, 40 anos, assintomática, apresenta lesão hipe-
36. O transplante de fígado está indicado em qualquer pa-
recoica de 3 cm no lobo E do fígado, identificada em
ciente com doença hepática aguda ou crônica que cul-
ecografia de rotina. Tomografia computadorizada e
mine com a incapacidade para manter a qualidade de
ressonância magnética de abdome demonstram nó-
vida ou que resulte em complicações que levem risco
dulo hiperdenso com cicatriz estrelar central e septos
eminente de morte. Qual das condições relacionadas
fibrosos compartimentando a lesão em lóbulos. Qual
abaixo e presentes no estágio final da doença hepática,
não autoriza, de imediato, o transplante de fígado? é a melhor conduta frente a este caso?
a) recidiva incontrolada da hemorragia digestiva por a) observar, pois a lesão tem características benignas
rotura das varizes b) solicitar cintilografia hepática para afastar neoplasia
b) peritonite bacteriana espontânea maligna
c) encefalopatia refratária à terapêutica c) solicitar marcadores de hepatite viral
d) indicação de shunt portosistêmico intra-hepático d) indicar ressecção do nódulo, pois há risco de sangra-
transjugular (TIPS) mento
e) indicar ressecção do nódulo, pois há risco de ma-
 ACERTEI  ERREI  DÚVIDA lignização

 ACERTEI  ERREI  DÚVIDA


UFES – Clínica Cirúrgica – 2010
37. A formação da veia porta decorre mais comumente
pela confluência de: FESP – Clínica Cirúrgica – 2010
a) veia mesentérica superior e veia esplênica 41. Dentre os fatores etiológicos dos abscessos hepáticos,
b) veia mesentérica superior e veia mesentérica inferior observa-se que, em geral, eles decorrem mais fre-
c) veia mesentérica inferior e veia esplênica quentemente de:
d) veia mesentérica inferior e veia pancreática inferior a) infecções do apêndice cecal
e) veia mesentérica superior e veia pancreática inferior b) infecções das vias biliares
c) fatores criptogenéticos
 ACERTEI  ERREI  DÚVIDA
d) traumatismo do órgão

UFES – Clínica Cirúrgica – 2010  ACERTEI  ERREI  DÚVIDA


38. O ultrassom de abdome de rotina de um paciente de
60 anos, portador de cirrose hepática por vírus C, IPSEMG – Aparelho Digestivo – 2010
evidenciou um nódulo sólido de 3 cm em segmento 42. São afirmativas verdadeiras sobre o câncer de ducto
VI do fígado. A tomografia confirmou que o nódulo biliar extra-hepático, EXCETO:
tem hipercaptação de contraste na fase arterial. Al- a) o adenocarcinoma do tipo infiltrante é o mais frequente
fafetoproteína: 40 μg/L (normal: até 15 μg/L). Diag-
b) a ocorrência de metástase hematogênica é rara
nóstico mais provável:
c) o adenocarcinoma hilar geralmente não está asso-
a) sarcoma
ciado com distensão da vesícula biliar
b) adenoma
d) o envolvimento de ductos biliares secundários de
c) carcinoma hepatocelular (HCC)
um lado e encarceramento vascular do outro não
d) hiperplasia nodular focal
permite uma ressecção completa da lesão
e) hemangioma

 ACERTEI  ERREI  DÚVIDA  ACERTEI  ERREI  DÚVIDA

IPSEMG – Aparelho Digestivo – 2010 IPSEMG – Aparelho Digestivo – 2010


39. São afirmativas verdadeiras sobre o carcinoma hepa- 43. São afirmativas verdadeiras sobre o carcinoma hepa-
tocelular, EXCETO: tocelular, EXCETO:
a) a hiperplasia adenomatosa é uma lesão pré-maligna a) a hiperplasia adenomatosa é uma lesão pré-maligna
que pode ser curada pela ressecção que pode ser curada pela ressecção
b) a icterícia é um achado frequente b) a icterícia é um achado frequente
c) o carcinoma fibrolamelar é mais frequente em pacien- c) o carcinoma fibrolamelar é mais frequente em pacien-
tes jovens, sem cirrose e tem melhor prognóstico tes jovens, sem cirrose e tem melhor prognóstico
d) o único critério absoluto que torna o tumor irresse- d) o único critério absoluto que torna o tumor irresse-
cável é a presença de doença extra-hepática cável é a presença de doença extra-hepática

 ACERTEI  ERREI  DÚVIDA  ACERTEI  ERREI  DÚVIDA

286 SJT Residência Médica - 2015


Gabarito comentado
32 Fígado

1. A melhor forma de responder esta questão é reproduzir a figura padrão da segmentação hepática descrita por Claude Cou-
inaud.

Figura: Anatomia segmentar do fígado como vista em laparotomia na posição anatômica (A) e na posição ex vivo (B).

Resposta c.

2. Atualmente a dosagem sérica da alfafetoproteína não possui valor nos programas de vigilância nem no diagnóstico do
CHC. A associação da dosagem de alfafetoproteína ao exame de ultrassonografia aumenta as taxas de falso positivo e os cus-
tos. Todavia alfafetoproteína contribui para a detecção de recidiva, quando inicialmente elevada e continua sendo utilizada
neste contexto. Dentre os métodos não invasivos, em pacientes cirróticos, considera-se como compatível com CHC uma lesão
focal de1-2 cm com hipervascularização arterial e lavagem rápida venosa em dois estudos de imagem, ou lesão com mais de
2 cm com um único estudo com as mesmas características descritas. Os estudos aceitos são a ultrassonografia com contraste,
a TC e a RM com estudo dinâmico. A ultrassonografia desempenha um papel significativo no rastreamento e na detecção
precoce do CHC, mas em geral, o diagnóstico definitivo e o planejamento de tratamento contam com a TC e a RNM.
A arteriografia é raramente necessária para o diagnóstico já que os exames de imagem acima definem a grande maioria dos
diagnósticos.
Clínica cirúrgica | Vias biliares, pâncreas e fígado | Gabarito comentado

Achado de nódulo
em fígado cirrótico
durante seguimento

< 1 cm 1-2 cm > 2 cm

Repetir US a cada Realizar dois Realizar um


3-4 meses estudos dinâmicos estudo dinâmico

Estável além de Crescimento Padrão vascular Padrão Padrão Padrão Padrão


18-24 meses típicos coincidente vascular típico vascular atípico vascular vascular em estudo
nos dois estudos em estudo nos dois estudos atípico dinâmico

Retornar Proceder de Biópsia


protocolo padrão acordo com
de seguimento o tamanho
(6-12 meses) da lesão
Diagnóstico de CHC Não conclusiva Outro diagnóstico

Repetir biópsia ou
estudo vascular

Mudança do padrão
vascular/crescimento

Repetir estudo
ou biópsia

Positivo Negativo

Tratar como CHC

Resposta d.

3. Das doenças metabólicas que podem evoluir para o CHC, Grupos de risco para o desenvolvimento do CHC (Cont.)
a mais importante é a hemocromatose. O risco é maior em
Cirrose biliar primária estágio 4
pacientes cirróticos, que devem ser cuidadosamente acom-
panhados. Aproveite e valorize as informações contidas na Hemocromatose genética e cirrose
tabela abaixo: Deficiência de alfa 1 antitripsina e cirrose
Cirrose por outras causas
Grupos de risco para o desenvolvimento do CHC
Grupos populacionais nos quais a vigilância é recomendada Resposta a.
Homens asiáticos portadores do VHB com idade superior a 40
anos
4. A escassez de doadores conduziu ao uso mais frequente de
Mulheres asiáticas portadoras do VHB com idade superior a 50
fígados que seriam descartados no passado. As expressões “do-
anos
ador marginal” e “critérios expandidos de doadores” evoluíram
Portadores do VHB com história familiar de CHC à medida que os programas de transplantes foram forçados a
Negros com hepatite B utilizar doadores e não ideias. Entre estes, temos doadores ido-
Cirróticos portadores do VHB sos, doadores HCV e HBV Ab-positivos e fígados com grau
moderado de esteatose (até 30%). Embora a idade do doador
Cirróticos pelo VHC
tenha trazido impacto negativo aos resultados, a maioria dos

288 SJT Residência Médica - 2015


32 Fígado

programas considera, agora, a utilização de doadores de até 75 – Doença cardíaca e pulmonar avançadas.
ou 80 anos de idade. Essa conduta foi necessária devido à ne- Relativas
cessidade desesperada de órgãos para salvar vidas, e é apoiada
por evidências científicas de um processo de envelhecimento – Idade (acima de 70 anos): o limite de idade tem sido cada
relativamente lento do parênquima hepático. Parece que en- vez maior, no que concerne à recepção de transplantes hepá-
xertos de doadores com sorologias positivas para um patógeno ticos, com sobrevida bastante favorável. Pacientes com idade
presente no receptor (i.e., hepatite B ou C) podem ser utili- avançada possuem uma morbidade e mortalidade maiores
zados com resultados iguais aos de transplante com enxertos associadas a doenças extra-hepáticas preexistentes (diabete,
não infectados, contanto que o fígado não tenha hepatite gra- doenças cardíacas e pulmonares).
ve ou fibrose estabelecidas. Esteatoses graves em enxertos de – Obesidade: pacientes obesos podem oferecer mais difi-
fígado são associadas a um alto grau de não funcionalidades culdade técnica e maior morbimortalidade pós-operatória.
primárias, mas podem ser obtidos resultados aceitáveis caso Pacientes obesos (IMC > 35) têm uma maior incidência de
a esteatose seja de leve a moderada (10% a 30%). Sempre que deiscência e infecções de ferida operatória, além de possíveis
um enxerto marginal é utilizado, variáveis controláveis, como complicações vasculares.
tempo isquêmico frio, devem ser mantidas em um mínimo.
– Suporte familiar e social inadequado: pacientes sem supor-
Critérios como tempo de isquemia fria acima de 12 horas, níveis te social e familiar adequado podem ter prognósticos piores
de sódio acima de 150 mEq/L e presença de esteatose macrove- quando comparados a outros receptores. A falta de medica-
sicular maior que 30%,como dito acima, são critérios que sina- ção imunossupressora é a maior causa de rejeição tardia nos
lizam para maior risco de disfunção do transplante. Resposta a. pacientes transplantados.
– Hepatocarcinoma fora dos critérios de Milão: pacientes
5. É o tumor benigno mais comum do fígado, geralmente diag- com lesões acima de 5 cm ou lesões multicêntricas possuem
nosticado incidentalmente. A frequência em necropsias varia maiores índices de recorrência da doença. Nestes pacientes,
de 0,5% a 7%. É mais comum em mulheres e adultos, em geral, outras formas de tratamento devem ser consideradas (ressec-
localizado no lobo direito e em mais de 90% dos casos são le- ção, quimioembolização).
sões pequenas. Ocasionalmente o tumor é grande ou múltiplo. – Síndrome hepatopulmonar com PO2 < 50 mmHg: apesar
A etiologia do tumor é discutível. Fala a favor de participação da reconhecida reversão desta síndrome após o transplan-
hormonal a incidência maior em mulheres, o crescimento te hepático, hipoxemia severa está associada a aumento de
ocasional em grávidas e com uso de anticoncepcionais. Mas é mortalidade pós-operatória.
também muito comum em homens. Macroscopicamente são – Falência renal: é importante a distinção entre síndrome he-
lesões esponjosas, subcapsulares, compressíveis, com aspecto patorrenal e insuficiência renal crônica. Pacientes com síndro-
de favo de mel. Microscopicamente, é formado por espaços
me hepatorrenal apresentam reversão da síndrome na maioria
vasculares cheios de sangue, revestidos por endotélio. Trom-
dos casos após transplante, enquanto pacientes com insufici-
bose é comum, com septos fibrosos e calcificações, represen-
ência renal crônica devem ser considerados como candidatos
tando resolução de processo trombótico anterior.
para transplantes simultâneos do rim e fígado. A presença de
É assintomático na imensa maioria dos casos, e o diagnóstico hiponatremia (comum em pacientes com insuficiência hepá-
é feito por exames de imagem. Os raros pacientes sintomáticos tica e renal) pode levar a complicações neurologicas no pós-
podem ter dor abdominal e massa palpável. Raramente ocorre -operatório, principalmente a mielinólise pontina.
síndrome de coagulação vascular disseminada em hemangio-
Com a descoberta de novos agentes antivirais e controle da
mas gigantes (síndrome de Kabach-Merrit). A complicação
doença, a infecção por vírus HIV tornou-se uma contraindi-
mais temível é a ruptura espontânea ou traumática do heman-
cação relativa em centros selecionados. Resposta e.
gioma, com hemorragia, dor, distensão abdominal e choque.
Mas a história natural do hemangioma é benigna, e mesmo
em tumores maiores as complicações são muito raras. Não há 7. Esse procedimento tem como objetivo descomprimir o
necessidade de tratamento na maioria dos casos. Em hemagio- sistema portal mediante a criação de uma derivação do flu-
mas gigantes e sintomáticos, embolização pode ser utilizada. xo sanguíneo do sistema portal para a circulação sistêmica.
Neste caso a conduta mais adequada é expectante com acom- Um cateter é introduzido em uma veia supra-hepática atra-
panhamento por exame de imagem. Resposta d. vés da veia jugular interna. Nesse ponto, é feito um pertuito
através do parênquima hepático até um ramo da veia porta.
Uma prótese metálica autoexpansível é colocada para manu-
6. Com a evolução do transplante hepático, as contraindica- tenção do shunt. As indicações para o procedimento incluem
ções tornaram-se bastante resumidas. sangramento por varizes não controlado por terapia medica-
Absolutas mentosa ou endoscópica, sangramento recidivante por vari
zes esofagogástricas, ascite refratária, hidrotórax refratário e
– Doença neoplásica maligna extra-hepática. hipertensão portal por obstrução pós-hepática.
– Sepse: uma vez controlado o quadro de sepse, o paciente As complicações do TIPS incluem: (1) encefalopatia, uma
pode ser reconsiderado para o transplante. vez que o shunt não é seletivo; (2) estenose e obstrução da
– Alcoolismo ativo ou uso de drogas: a maioria dos centros prótese (ocorrem em até 50% dos pacientes em um ano –
considera 6 a 12 meses como período de abstinência alcoóli- há necessidade de acompanhamento e revisão da prótese de
ca pré-transplante. maneira continuada).

289
Clínica cirúrgica | Vias biliares, pâncreas e fígado | Gabarito comentado

O TIPS serve como uma “ponte” para o transplante hepático 9. Elementar. Há muito se reconhece a associação de colangi-
e sua maior vantagem é de propiciar um shunt portossistêmi- te esclerosante primária com RCU.
co sem as complicações de um grande procedimento cirúrgi-
A colangite esclerosante primária (CEP) é doença hepática
co em hepatopatas em estado grave. Resposta c.
crônica, colestática, ainda sem etiologia totalmente esclare
cida, com envolvimento de componentes imunológicos e ge
8. A drenagem percutânea guiada por US com cateter per- néticos. Caracteriza-se por inflamação, fibrose e estenose dos
manece como a opção terapêutica mais utilizada e é efetiva ductos biliares intra- e/ou extra-hepáticos. Evolui para cirro-
mesmo para múltiplos abscessos. Geralmente um ou mais se e insuficiência hepática. Não há medicamentos específicos
cateteres do tipo pig-tail 8 a 14F são utilizados nas cavidades que controlem tal evolução e o tratamento para as formas
dos abscessos. Como alternativa, a punção com agulha e o avançadas ou com complicações é o transplante hepático.
esvaziamento de coleções pequenas podem ser considerados Acomete principalmente homens abaixo de 40 anos de ida-
em casos de abscessos múltiplos. As taxas de sucesso variam de, e tem alta associação com doença inflamatória intestinal
de 85% a 100% em séries recentes. (DII), mais frequentemente com retocolite ulcerativa (RCU).
O sucesso técnico ocorre quando é possível a colocação adequa- Em geral, é partir de exames de controle dessa patologia que
da do(s) cateter(es) dentro da cavidade do abscesso, permitindo se encontram alterações hepáticas, que levam à investigação
a drenagem de líquido e a diminuição do tamanho do abscesso. de CEP, a hepatopatia mais associada às DII.
Já o sucesso clínico é definido como melhora dos sintomas, As complicações da CEP incluem estenoses dominantes com
diminuição da febre e leucocitose e resolução da cavidade prurido e/ou icterícia, colelitíase, colangiocarcinoma, má-
residual. As falhas variam de 12% a 36% e são mais frequen- -absorção de vitaminas lipossolúveis, osteopenia, cirrose,
tes na presença de múltiplos abscessos, abscessos volumosos Hipertensão Porta e suas complicações. A prevalência de co-
com diversas loculações, naqueles com conteúdo muito es-
langiocarcinoma entre pacientes com CEP é alta, variando de
pesso e debris necróticos ou que têm comunicação com as
4,8% a 36,4%. Resposta a.
vias biliares ou são relacionados com tumores. Alguns auto-
res recomendam que o tratamento cirúrgico deva ser a pri-
meira escolha nos abscessos maiores que 5 cm. 10. Hipertensão porta segmentar é resultado da trombose
Quando a drenagem cirúrgica é necessária, é importante revi- de veia porta ou de veia esplênica. Pancreatite crônica pode
sar a TC e as relações do abscesso com as estruturas vasculares complicar com compressão da veia esplênica e consequente-
e biliares. No transoperatório, realiza se a punção com agulha mente HP segmentar. Resposta e.
para confirmação da localização do abscesso e do local da dre-
nagem se não houver cateter posicionado. Após localização se-
gura e remoção de toda secreção purulenta, as loculações são 11. Cirrose é o principal fator de risco para hepatocarcinoma
desfeitas com dissecção digital e a cavidade é irrigada com so- (CHC). O CHC é responsável por mais de 90% das neopla-
lução salina, seguida de hemostasia apropriada e colocação de sias malignas primárias que ocorrem no fígado. Atualmente
um ou mais drenos 28F, os quais são retirados somente quan- é a causa mais frequente de morte em pacientes cirróticos.
do houver mínima secreção e os exames de imagem confirma-
rem a retração da cavidade do abscesso. Nos casos em que há Em geral, o CHC surge a partir da evolução de um nódulo re-
comunicação do abscesso com as vias biliares, a drenagem por generativo hepatocitário. Cada nódulo regenerativo do fígado
CPER pode ser importante para a resolução do quadro. cirrótico exibe algum grau de atipia celular, podendo evoluir
ABCESSO HEPÁTICO PIOGÊNICO
para um nódulo displásico que progride em um terço dos ca-
(DOR ABDOMINAL, FEBRE, ICTERÍCIA)
sos para a formação de um fenótipo maligno. Dessa forma, a
regeneração que ocorre em todo o parênquima hepático torna
Eco ou tomografia abdominal o ambiente favorável para o desenvolvimento da neoplasia. O
tumor passa a estimular a angiogênese a partir das arteríolas
hepáticas, recebendo vascularização arterial abundante.
Hemocultura
Antibióico O variante fibrolamelar ocorre em fígado não cirrótico, in-
Hidratação
divíduos mais jovens, crescimento mais lento, encapsulado,
não se marca de produção de alfafetoproteína e não se as-
Múltiplos socia a síndromes paraneoplásicas. O prognóstico é melhor.
Coleção
pequenos
abscessos
única A ressecção hepática é a melhor opção de tratamento em fí-
gados que não apresentam cirrose e deve ser individualizada
nos pacientes com fígados cirróticos.
Tratamento Drenagem
clínico percutânea O transplante de fígado é o tratamento de escolha para pa-
Cultura da secreção
cientes cirróticos com tumores únicos ≤ 5 cm e tumores mul-
Falha tinodulares pequenos (três nódulos ≤ 3 cm). A sobrevida,
respeitados esses critérios, está ao redor de 70% em cinco
anos, com taxas de recidiva em torno de 15%.
Drenagem
cirúrgica O principal limitante a essa forma de terapia permanece
sendo a escassez de órgãos para transplante. Atualmente, a
Resposta d. legislação utiliza o critério de gravidade MELD – Model for

290 SJT Residência Médica - 2015


32 Fígado

End-Stage Liver Disease – e concede uma pontuação especial nestes casos (20 pontos na inclusão em lista, 24 pontos após três
meses, 29 pontos após seis meses), a fim de abreviar a espera. Mesmo assim, um considerável número de pacientes que aguar-
da em lista (20%) é posteriormente excluído da possibilidade de transplante em razão da evolução da doença além do critério
de Milão, que é o parâmetro definido pelo legislador como indicação para transplante. Por esse motivo, recomenda-se o trata-
mento neoadjuvante como forma de prevenir a saída de lista (drop-out) para transplante, muito embora o nível de evidência
seja baseado em estudos de coorte, séries de casos e casos-controle. Até o presente momento, o verdadeiro impacto desse tipo
de intervenção sobre as taxas de sobrevida, recidiva e drop-out não está totalmente definido. Os principais métodos utilizados
são a alcoolização percutânea, a ablação por radiofrequência, a embolização e quimioembolização dos tumores. Resposta e.

12. Na classificação de Child-Pugh grau A (5-6 pontos), B (7-9 pontos) e C (10-15 pontos). Os pacientes classificados como
Child B e C têm alta morbimortalidade após a hepatectomia parcial, quando comparados aos pacientes Child A. A RNM
deste paciente é compatível com o diagnóstico de hepatocarcinoma.
O estadiamento do CHC segundo os critérios de Barcelona (BCLC) está mais bem estabelecido no meio científico. Esse
sistema leva em consideração o tamanho (Okuda) e número de tumores e o grau de invasão (invasão vascular), a função
hepática (Child-Pugh; hipertensão porta) e, finalmente, o estado físico do paciente (performance status). Pode-se, ainda,
ligar o estadiamento com as modalidades terapêuticas e com a expectativa de vida.
São cinco estágios:
1. Estágio muito inicial (O): lesão única, menor que 2 cm, sem invasão microvascular ou disseminação, pressão porta e valores
de bilirrubina normais, pacientes Child A ou B.
2. Estágio inicial (A): nódulo único ou até 3 nódulos menores ou iguais a 3 cm, Child A ou B.
3. Estágio intermediário (B): nódulos grandes ou doença multinodular, sem sintomas relacionados com o câncer, sem invasão
microvascular ou disseminação extra-hepática, Child A ou B.
4. Estágio avançado (C): sintomas relacionados com o câncer e/ou com invasão vascular ou disseminação extra-hepática.
5. Estágio fina (D): tumor extenso, levando à deterioração do estado físico (performance status > 2 mais de 50% do tempo aca-
mado) e/ou com disfunção hepática avançada (Child C).

CHC

Estágio O Estágio A-C Estágio D


PS, Child-Pugh A-B PS 0-2, Child-Pugh A-B PS > 2 Child-Pugh C

Estágio muito Estágio inicial Estágio intermediário (B) Estágio Estágio final
inicial (O) 1 CHC ou 3 Multinodular avançado (C) (D)
1 CHC < 2 cm nódulos < 3 cm PS 0 Invasão portal,
PS 0 N1, M1, PS1-2

1 CHC 3 nódulos < 3 cm

Pressão portal/
Bilirrubina

Aumentada Doenças associadas

Normal Não Sim

Ressecção Transplante ARF QETA Sorafenibe Tratamentos


Sintomáticos
Tratamentos curativos Tratamentos paliativos

Sistema de estadiamento e tratamento segundo os critérios BCLC. ARF: radioablação; QETA: quimioembolização.

Resposta b.

291
Clínica cirúrgica | Vias biliares, pâncreas e fígado | Gabarito comentado

13. Trata-se de uma lesão única com características tomo- € sem melhora com reposição volêmica com 1 g/kg de al-
gráficas compatíveis com hepatocarcinoma. Este nódulo bumina (máximo de 100 g) por dois dias consecutivos;
único no segmento V do fígado, que à TC se apresenta com € ausência de choque;
lesão hipercaptante na fase arterial, é diagnóstico de hepato- € sem uso de drogas nefrotóxicas;
carcinoma em fígado não cirrótico. A ressecção hepática é a
melhor opção de tratamento para esta paciente e, portanto, € sem doença renal parenquimatosa evidenciada por pro-
hepatectomia segmentar. Resposta e. teinúria > 500 mg/dia, hematúria > 50 céls/campo ou
USG renal anormal.
As características laboratoriais (FE sódio < 1%, sódio urinário
14. De fato, na vigência de sangramento agudo por varizes de < 10 mEq/L, relação sérica ureia/creatinina > 40) e histológicas
esôfago, a conduta consiste, antes de tudo, em estabilização são semelhantes às da IRA pré-renal, no entanto os pacientes
hemodinâmica, tentativas farmacológicas de coibir o sangra- com SHR não respondem a reposição volêmica. Resposta e.
mento (terlipressina, somatostatina ou octreotídeo), sendo a
endoscopia digestiva alta com ligadura ou esclerose realizada
dentro das primeiras 12 horas (opção A, correta!). 16. Estamos diante de um paciente cirrótico com quadro de
peritonite, a primeira impressão seria PBE, no entanto o nú-
A principal etiologia de ascite é a doença hepática crônica, res
mero de PMN deveria ser igual ou maior que 250 células/mm³
pondendo por pelo menos 78% dos casos (opção B, errada!).
e o GASA deveria ser maior ou igual a 1,1. Para PBS a conta-
PBE é uma complicação observada em pelo menos 30% dos gem de PMN deverá ser também igual ou superior a 250 célu-
cirróticos (particularmente Child C), e o diagnóstico já é es- las/mm³, e na avaliação com cultura mostraria flora mista com
tabelecido quando a quantidade de PMN for igual ou maior dois ou mais germes, e para reforçar lembranças pertinentes,
que 250 células/mm³ (opção C, errada!). a glicose estará abaixo de 50 mg/dL, a concentração de prote-
Claro que SHR é uma insuficiência renal aguda funcional ínas no líquido ascítico > 1 g/dL, a DHL > limite superior de
em pacientes cirróticos ascíticos, cuja gravidade é sempre re- normalidade do sérico, além do CEA no líquido ascítico acima
levante, e que tem como tratamento curativo o transplante de 5 ng/mL e fosfatase alcalina no líquido ascítico > 240 U/L.
hepático. Histologicamente a funcional renal é comprovada- Temos na verdade neste paciente um GASA menor que 1,1,
mente preservada, logo, a sua base fisiopatológica é funda- leucócitos totais com 35% de PMN (175 células/mm³), o res-
mentalmente hemodinâmica (opção D, errada!). tante pode ser compreendido como sendo à custa de linfócitos,
Asterixis é um achado comum na insuficiência hepática, e levando em conta a história de cirrose e a baixa imunida-
mas que também pode ser documentado no DPOC grave, de relacionada à doença subjacente, torna-se mais provável o
na uremia e outras encefalopatias metabólicas (opção E, er- diagnóstico de tuberculose peritoneal. Na ascite pancreática,
rada!). Resposta a. além do GASA ser menor que 1,1, o parâmetro mais sensível é
amilase no líquido ascítico maior que 1.000 UI/L, e a história
atual não é sugestiva de pancreatite, assim como o passado não
15. SHR é o desenvolvimento de insuficiência renal funcional traz lembranças de episódios recorrentes de pancreatite, para
em pacientes com insuficiência hepática aguda ou crônica, que pensarmos como complicação ascite pancreática. Resposta d.
apresentam hipertensão portal e ascite. Estudos recentes em ani-
mais de laboratório e pacientes cirróticos sugerem que a trans-
locação bacteriana pode desempenhar um papel importante na 17. ICC, síndrome nefrótica e cirrose hepática são causas de
SHR, agravando a função circulatória. Acredita-se que a translo- ascite e da mesma forma cursam com edema de membros
cação bacteriana pode provocar uma resposta inflamatória, com inferiores, portanto edemas que confluem com manifesta-
aumento da produção de citocinas pró-inflamatórias (TNF-α e ções tanto de ascite versus edema de membros inferiores. De
interleucina-6) e de fatores vasodilatadores (óxido nítrico) na repente o preceptor, seleciona para a opção D, ascite, e obvia-
circulação esplâncnica. Essa resposta pode levar à vasodilatação mente dependendo da causa de ascite esta poderá ou não ser
de vasos arteriais esplâncnicos, contribuindo para a síndrome. causa de edema de membros inferiores. Gabarito oficial: D.
Muitas vezes, determinados eventos ocorrem rompendo esse
fino equilíbrio (resposta inflamatória e vasodilatação esplânc-
18. A idade típica do paciente com abscesso hepático pio-
nica + vasoconstrição sistêmica), como hemorragia digestiva,
gênico é de 50 a 70 anos, faixa etária relacionada com maior
perda excessiva de fluidos ou infecções (especialmente a peri-
prevalência de diverticulite e doença das vias biliares por
tonite bacteriana espontânea). Os pacientes com maior risco
cálculos ou malignidade, embora hoje haja uma tendência
para desenvolver a SHR são aqueles com disfunção circulatória,
de se acreditar em um maior número de casos criptogênicos.
hipovolemia (mesmo que relativa), maior ânus vasoconstritor
Há um leve predomínio no sexo masculino. A maioria dos
(afetando a circulação renal) e maior resposta inflamatória sis-
abscessos piogênicos em geral é isolada se localiza no lobo
têmica. É importante lembrar que os rins são histologicamente
direito do fígado. Os abscessos múltiplos também têm predi-
normais e sua função tubular ainda está preservada no momen-
leção pelo lado direito, mas podem envolver ambos os lobos.
to do diagnóstico, com ávida retenção de sódio e oligúria.
Os sintomas de um abscesso hepático bacteriano são inespe-
Novos critérios diagnósticos para SHR:
cíficos. A febre, mal-estar, perda de apetite, e perda de peso
€ cirrose com ascite; são os mais comuns. Surpreendentemente, a febre está ausente
€ creatinina > 1,5 mg/dL; entre 5% e 20% dos pacientes. A dor no quadrante superior

292 SJT Residência Médica - 2015


32 Fígado

direito do abdome auxilia na indicação da necessidade de uma nodulares focais são frequentemente múltiplas (10% a 20%) ou
avaliação mais rigorosa, mas está presente em menos da meta- são associadas com hemangiomas cavernosos (20%). Na TC
de dos pacientes. A icterícia é ainda menos frequente, exceto se dinâmica, as hiperplasias nodulares focais são isoatenuadas ou
a infecção subjacente for uma colangite decorrente de obstru- levemente hipoatenuadas em exames sem contraste. Observa-se
ção biliar. Cerca de um terço dos pacientes apresenta náuseas e rápida intensificação de contraste na fase arterial e perda rápi-
vômitos. A identificação de um abscesso hepático como causa da do contraste da lesão, de modo que ela se torna isointensa
de sintomas constitucionais, inespecíficos exige um alto índice na fase venosa. Uma cicatriz central avascular é vista frequen-
de suspeita. O exame físico revela hipersensibilidade doloro- temente, às vezes com uma artéria nutridora correndo para o
sa à palpação abdominal no quadrante superior direito e he- meio da lesão. Na RM contrastada, as lesões são isointensas em
patomegalia em 50% dos pacientes. Os exames laboratoriais imagens ponderadas em T1 e permanecem isointensas ou são
habitualmente revelam leucocitose. As hemoculturas podem ligeiramente hiperintensas em imagens ponderadas em T2. A
ser negativas. Em geral, as enzimas hepáticas estão normais ou cicatriz central é hipointensa em imagens ponderadas em T1,
levemente aumentadas, a menos que exista obstrução biliar; mas hiperintensa em imagens ponderadas em T2. Como na
neste caso, a fosfatase alcalina pode estar substancialmente TC contrastada, a intensificação rápida e intensa de contraste
elevada. A radiografia do tórax pode indicar um hemidiafrag- na fase arterial dissipa-se rapidamente. Tipicamente, a cicatriz
ma direito elevado. As imagens do abdome obtidas por ultras central tem um baixo sinal em imagens ponderadas em T1 e se
sonografia (US) ou tomografia computadorizada (TC) com intensifica com contraste. Hemangioma hepático é o tumor be-
contraste intravenoso identificam abscesso único ou abcessos nigno mais comum do fígado, é um achado em até 7% da popu-
múltiplos dentro do fígado. A TC tem uma sensibilidade um lação geral, e na maioria das vezes é assintomático, não costuma
pouco melhor, e tanto a US quanto a TC são superiores à cin- crescer, não tem relação com malignidade, e só eventualmente
tilografia com tecnécio marcado. O maior desafio com o qual pode desencadear uma síndrome denominada Kasabach-Mer-
um médico se depara diante de um abscesso hepático é o de rit: hemangioma cavernoso gigante e CIVD. Resposta c.
saber distinguir entre um abscesso bacteriano e um abscesso
amebiano e de um cisto hidático (equinocócico). Na ausência
20. A ressecção hepática tem sido o tratamento de escolha para
de febre e leucocitose, é razoável uma abordagem não invasi- os pacientes com CHC e função hepática preservada. Graças aos
va para obtenção de exames por imagem e testes sorológicos avanços no diagnóstico, nas técnicas cirúrgicas e nos cuidados
para E. histolytica e Echinococcus granulosus. Se esses exames perioperatórios, a ressecção hepática atualmente nos dá uma boa
forem negativos, se houver febre e leucocitose ou se a suspeita taxa de sobrevida, que excede 50% em cinco anos, com mortalida-
de uma lesão focal for um abscesso bacteriano, está indicada de cirúrgica variando de 0% a 6,4% em centros especializados de
a aspiração com agulha guiada por US ou TC, com coloração cirurgia hepatobiliar. O grau de comprometimento da função he-
pelo método de Gram e cultura do aspirado. pática é fator prognóstico significativo após a ressecção para CHC.
A base do tratamento do abscesso piogênico hepático repou- Os autores japoneses utilizam o teste da indocianina verde para
sa em antibioticoterapia sistêmica e drenagem das coleções. identificar os melhores candidatos, enquanto a medida da pressão
Na maioria dos casos, a drenagem percutânea ou cirúrgica portal e os níveis de bilirrubina são os parâmetros utilizados nos
deve ser proposta logo de início. Pacientes com coleções países ocidentais. Em 1996, o grupo de Barcelona observou que a
maiores que 5 cm de diâmetro ou com sinais sistêmicos de ressecção para CHC em pacientes com hipertensão porta, defini-
infecção grave devem ser vistos como urgência e submetidos da como gradiente de pressão da veia hepática maior ou igual a 10
a drenagem assim que as condições hemodinâmicas e respi- mmHg, levava a uma alta incidência de descompensação hepática
ratórias estiverem estabilizadas. Resposta a. pós-operatória, com taxa de sobrevida por cinco anos < 50%. Esses
resultados foram a base do sistema de estadiamento BCLC, no qual
a ressecção hepática é contraindicada para pacientes com hiperten-
19. O adenoma hepático é tumor de mulheres jovens, inti- são portal. Recentemente, as recomendações de tratamento para
mamente relacionado ao uso de ACO, e entre os tumores be- CHC baseadas no BCLC foram propostas na Europa e nos EUA.
nignos do fígado é o que de fato se associa a risco de malig- Essas diretrizes recomendam que a ressecção hepática seja realizada
nidade, maior de risco de sangramento e que exige discussão somente em pacientes com tumor único sem hipertensão portal (o
quanto à conduta cirúrgica (opções A e B, erradas!). que neste caso contraindica a ressecção e orienta como melhor con
A hiperplasia nodular focal é uma reação benigna a uma mal- duta o transplante). Uma das razões das indicações restritas para
formação arterial congênita dentro do fígado. A lesão tipica- ressecção são os piores resultados em longo prazo nos pacientes
mente consiste em uma cicatriz estrelada vascular com tecido com múltiplos CHC e/ou hipertensão porta.
conjuntivo, ductos biliares rodeados por hepatócitos prolifera-
dos e células de Kupffer separadas por septos fibrosos. A hiper Classificação de Okuda
plasia nodular focal ocorre predominantemente em mulheres Classificação Pontos
em idade reprodutiva. A relação com o uso de anticoncepcio-
0 1
nal oral é controversa; alguns estudos sugerem uma associação
do uso de anticoncepcional em longo prazo com a hiperplasia Tamanho do tumor < 50% > 50%
nodular focal e com complicações como hemorragia ou infarto. Ascite Não Sim
Entretanto, a descontinuação do uso de anticoncepcional não
Albumina (g/dL) ≥3 <3
leva à cura da hiperplasia nodular focal. Há uma predominância
em mulheres de 2 a 4:1, e as lesões são tipicamente diagnosti- Bilirrubina <3 ≥3
cadas em mulheres com idade entre 20 e 50 anos. Hiperplasias Estágio I: 0 ponto; estágio II: 1 ou 2 pontos; estágio III: 3 ou 4 pontos.

293
Clínica cirúrgica | Vias biliares, pâncreas e fígado | Gabarito comentado

Embora a ressecção cirúrgica seja considerada uma tera- Aqui não há indicação de ATB profilaxia, já que este paciente
pia curativa para os pacientes com CHC, menos de 20% não está com ascite, logo, o risco para PBE não deve ser jus-
dos pacientes são candidatos a esse tratamento. Ela é re- tificável. Resposta d.
servada para pacientes com tumor único sem hipertensão
porta e com níveis normais de bilirrubina. Se essas condi-
ções não forem preenchidas, os pacientes devem ser consi- 23. A derivacão portossistêmica intra-hepática (TIPS) é um
derados para o transplante hepático ou terapias ablativas procedimento que tem como objetivo descomprimir o sis-
locais. Com relação ao controle da doença de base (cirro- tema portal mediante a criação de uma derivação do fluxo
sanguíneo do sistema portal para a circulação sistêmica.
se hepática), a ressecção e as terapias ablativas locais, en-
tretanto, não apresentam nenhum efeito ou apresentam Por via jugular, cateterizamos a veia hepática direita e, através
efeito negativo sobre a função hepática remanescente. O de um trajeto trans-hepático, é puncionado o ramo direito da
transplante hepático pode perfeitamente controlar o tu- veia porta. Após implantarmos o stent entre o ramo portal
mor em estágio precoce e o fígado subjacente que pode e a veia hepática, controlamos sua expansão de acordo com
conter lesões pré-cancerosas, metastáticas ou novas lesões. a gradiente de pressão portossistêmico. Podemos classificar
Portanto, a sobrevida livre de recorrência é melhor nos pa o sucesso do TIPS em: técnico, hemodinâmico e clínico. O
cientes submetidos ao transplante do que nos que sofreram sucesso técnico se refere à criação bem-sucedida de uma
ressecção. anastomose portossistêmica, que deve ocorrer em aproxima-
damente 95% dos casos. O sucesso hemodinâmico é conside-
No trabalho do Prof. Makuuchi, foram analisados 434 pacientes
rado quando se consegue um gradiente de pressão 12 mmHg,
submetidos à ressecção hepática para tratamento de CHC. Os
embora vários autores considerem gradientes diferentes para
pacientes foram divididos de acordo com o número de tumor
cada tipo de indicação (de < 12 mmHg no tratamento de san-
em único (n = 308) e múltiplo (n = 126). Os pacientes também
gramento e de 8 mmHg no tratamento de ascite refratária).
foram classificados pela presença (n = 136) ou ausência de hi-
O sucesso clínico se refere ao período durante o qual o pa-
pertensão portal (n = 250). Na análise multivariada, a presença
ciente permanece livre dos sintomas que indicaram o TIPS.
de múltiplos tumores não esteve associada à sobrevida, mas foi
Quando bem indicado o TIPS oferece sucesso clínico em
um fator preditor independente sobre o risco de recorrência. O
cerca de 90% dos casos, e numerosos estudos prospectivos
principal preditor de pior sobrevida foi a classificação de Child-
e retrospectivos têm documentado sua eficácia no tratamen-
-Pugh B. Na análise multivariada, a presença de hipertensão
to de sangramentos e ascite refratária. Estenose do stent por
portal não foi preditor de pior sobrevida e maior taxa de recor-
hiperplasia da íntima é bastante comum no primeiro ano.
rência. Esses resultados indicam que a ressecção hepática pode
Com base nesses dados, foram desenvolvidos stents recober-
ser feita com segurança na presença de hipertensão portal.
tos para uso específico em TIPS (esqueletos de liga metáli-
Entretanto, a principal desvantagem da ressecção hepática é ca recobertos com politetrafluoroetileno [PTFE]), que têm
a alta taxa de recidiva tumoral, que pode ocorrer entre 70% mostrado menos taxas de estenose, com patência entre 87% e
e 100% em cinco anos. Essa recorrência pode ser precoce ou 81% de seis meses a um ano e que, por não serem englobados
tardia, se for realizada antes ou depois de dois anos da res- pela parede do vaso, permitem melhor manipulação cirúrgi-
secção, respectivamente. Na recorrência precoce, as variáveis ca nos casos em que o TIPS é ponte para transplante. Outra
tumorais, como presença de nódulos satélites, invasão micro- vantagem do stent recoberto é que não há risco de contami-
vascular e número de tumores, são os principais preditores nação do trajeto trans-hepático com bile, causa comum de
de recidiva. Já na recorrência tardia, as variáveis relaciona- trombose aguda do stent.
das com atividade necroinflamatória viral parecem ser mais
importantes. Até o momento, não há relatos de terapias que Indicações
possam prevenir de forma eficaz esse tipo de recorrência. Sangramentos de varizes esofagianas incontroláveis por endos-
Resposta a. copia e medicamentos
Recorrência de sangramentos após esclerose de varizes (pelo
21. O quadro é compatível com abscesso piogênico (febre, menos dois episódios necessitando de transfusão)
calafrios e dor abdominal no hipocôndrio direito) secun- Descompressão temporária em pacientes candidatos a trans-
dário a complicações de apendicite aguda. Sabemos que o plante hepático
diagnóstico tardio de apendicite aguda pode incorrer em Ascite refratária ou hidrotórax
complicações como abscesso hepático, pileflebite (infecção
Oclusão venosa hepática (Budd-Chiari)
do sistema porta) e abscesso do psoas. Resposta b.
Gastropatia hipertensiva
Síndrome hepatopulmonar
22. Levando em conta que estamos diante de uma paciente
em hemorragia digestiva alta e estigmas de hepatopatia crô Contraindicações de utilização de TIPS
nica, a compreensão mais imediata é pensarmos tratar-se de Absolutas Relativas
ruptura de varizes de esôfago, mas não obrigatoriamente a Prevenção primária de sangra- Hepatocarcinomas, especial-
etiologia neste caso seja somente de varizes rotas. De qual- mento de varizes esofagianas mente em posição central
quer forma, a conduta imediata para ambas as condições é Insuficiência cardíaca direita Obstrução de todas as veias
a mesma: ressuscitação volêmica, tratamento farmacológico grave hepáticas
– terlipressina ou análogos da somatostatina – e endoscopia
Múltiplos cistos hepáticos Trombose portal
constituem o tripé desta etapa.

294 SJT Residência Médica - 2015


32 Fígado

Infecção sistêmica sem con- Coagulopatia grave (INR > 5) torna-se necessário que haja bloqueio à drenagem biliar (op-
trole ou sepse ção A, errada!).
Obstrução biliar não drenada Trombocitopenia grave (< As características ecográficas podem variar de acordo com o
20.000 plaquetas/cm3) sítio primitivo. Assim as metástases hiperecogênicas tendem
Hipertensão pulmonar grave Hipertensão pulmonar mo- a originar-se no TGI ou ocorrem a partir de carcinoma de cé-
derada lulas claras renais, carcinoides, coriocarcinomas, carcinomas
Encefalopatia hepática grave
de ilhotas pancreáticas e tumores de tireoide. As metástases
colorretais podem representar desafio no diagnóstico dife-
Resposta a. rencial com hemangiomas, necessitando ocasionalmente de
complementação diagnóstica por RM, cintilografia ou arterio-
24. A albumina é uma proteína presente em grandes con- grafia. Já metástases hipoecogênicas podem ser originárias de
centrações no plasma humano e a principal responsável pela tumores de mama, pulmão e linfomas. O padrão em “olho de
manutenção da pressão coloidosmótica. Além desta função boi” ou em alvo (com zona hipoecoica periférica) é frequente-
ela também está associada ao transporte de substâncias vitais mente encontrado em metástases broncogênicas. Metastases
e a inativação de substâncias tóxicas. Dois terços da albumina calcificadas (com ecogenicidade acentuada e sombra poste-
corporal estão no compartimento extravascular. Na prática rior) são originárias mais frequentemente de adenocarcinoma
clínica atual a indicação mais frequente é nas reposições vo- mucinoso do cólon (opção B, correta!). As metástases hepáti-
lêmicas quando está contraindicado o uso de cristaloides ou cas ocorrem essencialmente por via sanguínea, sendo portal
substitutos sintéticos do plasma. para os cânceres do aparelho digestivo e arterial para os ex
tradigestivos. As propagações linfáticas ou por contiguidade
Em doentes portadores de síndrome nefrótica, insuficiência são menos frequentes (opção C, errada!). O risco de implantes
hepática grave, enteropatias perdedoras de proteína e gran- secundários no fígado é menor nos fígados cirróticos, e este
des queimados onde haja hipoproteinemia aguda com com-
fato é compreensível levando em conta a circulação hepatofu-
prometimento hemodinâmico (hipotensão, choque), queda
gal observada nestes pacientes. Resposta b.
da filtração glomerular (oligúria) ou alteração da função re-
nal (elevação das dosagens de creatinina); Em situações de
reposições volêmicas agudas com refratariedade ao uso de 27. A primeira impressão é que se trata de um hemangioma
cristaloides; No tratamento de ascites volumosas refratárias, hepático, mas é claro que a avaliação subsequente deve ser
preferencialmente na reposição de paracenteses volumosas efetivada, e o próximo passo é solicitar a RNM. Tipicamente,
(superior a 5 litros drenados); Na profilaxia ou tratamento os pequenos hemangiomas são homogeneamente hipereco-
de síndrome hepatorenal associado à peritonite bacteriana gênicos e bem definidos na US. Nódulos maiores (> 5 cm)
espontânea (PBE) em pacientes cirróticos (atualmente para podem ter aspecto heterogêneo com áreas hipoecogênicas
PBE a indicação fica restrita aos pacientes com cratinina sé- devido à trombose ou necrose. A US com Doppler revela
rica > 1 mg/dL, ou ureia > 60 mg/dL ou bilirrubina total > ausência de fluxo arterial no interior do nódulo que, apesar
4 mg/dL); Na reposição volêmica em grandes queimados; de ricamente vascularizado, tem como característica a baixa
Reposição volêmica em procedimentos de plasmaférese tera- velocidade do fluxo sanguíneo. Pequenos vasos podem ser
pêuticas; Para preenchimento (priming) da bomba de circu- identificados na periferia do nódulo. Já a US com contraste
lação extracorpórea (CEC) em cirurgias cardíacas. De todas tem alta acurácia para o diagnóstico dos hemangiomas na
as indicações, aquela que se encontra respaldada pelas últi- fase arterial devido à detecção, em tempo real, do enchimen-
mas diretrizes internacionais e nacionais, é a que diz respeito to periférico globular do contraste, que progride de forma
à paracentese de grande volume em pacientes com ascite vo- centrípeta até o enchimento total da lesão nas fases portal
lumosa (maior ou igual a 5 litros). Resposta a. e tardia. Os hemangiomas são vistos na fase arterial da TC
como lesões hiperdensas cujo enchimento do contraste é ti-
25. Estamos diante de um quadro agudo de icterícia obstrutiva picamente direcionado da periferia para o centro do nódulo
(icterícia, gama-GT e FA elevadas, com dilatação ductais intra (aspecto de algodão), sendo a fase precoce do contraste com
e extra-hepática) em uma mulher idosa. O início do quadro enchimento apenas periférico e, na fase tardia do contraste,
com dor, evolução clínica com febre e calafrios, configura um enchimento da região central da lesão. O nódulo permanece
quadro de colangite aguda, e que por trás de tudo quem está homogeneamente hiperdenso nas fases portal e tardia. Pe-
orquestrando está situação é litíase biliar complicada com co- quenos hemangiomas (< 2 cm) podem ser completamente
ledocolítiase. Próximos passos: ATB e descompressão da via contrastados na fase arterial e não apresentar o padrão tí-
biliar (drenagem endoscópica da via biliar principal). Caso pico, achado descrito em até 15% a 30% dos pequenos he-
as condições clínicas permitam, os cálculos serão removidos mangiomas quando utilizada a TC. A acurácia da RM para
após a papilotomia. Lembrar que a complicação mais grave da o diagnóstico dos hemangiomas é de aproximadamente 90%
colangite aguda é o abscesso hepático e esta é responsável por e a principal característica é o intenso sinal nas sequências
muitos casos de abscesso hepático piogênico (na maioria das em T2, dando o aspecto brilhante. O padrão após a injeção
casuísticas é a principal causa). Resposta d. do contraste gadolínio (via venosa) é similar ao da TC, ou
seja, da periferia para o centro, sem modificação nas fases
venosa e tardia. A cintilografia com pool de hemácias pode
26. Claro que a presença de metástases hepáticas não é obri- ser uma alternativa diagnóstica com sensibilidade de 85% e
gatoriamente coincidente com quadro de icterícia, para tanto especificidade de 100% para lesões > 2 cm. A biópsia percu-

295
Clínica cirúrgica | Vias biliares, pâncreas e fígado | Gabarito comentado

tânea não é recomendada devido ao risco de sangramento, utiliza a cateterização da artéria hepática ou de seus ramos
especialmente nos nódulos de maior diâmetro e subcapsu- para produzir embolização. A substância usada para embo-
lares. Acompanhamento com exames de imagem deve ser lizar é geralmente a gelatina. As variantes do método são a
realizado periodicamente nos casos de hemangiomas > 5 cm. quimioembolização (introdução de quimioterápicos, como
A cirurgia é indicada apenas para as lesões que determinam dexorrubicina, mitomicina e cisplatina) e a lipiodolização
sintomas ou com risco de ruptura. Resposta c. (injeção de Lipiodol, que fica mais tempo retido na célula tu-
moral, prolongando o efeito dos quimioterápicos). O supri-
28. Nos casos em que o colangiocarcinoma se estende para os mento predominantemente arterial que o tumor recebe é o
ductos hepáticos direito (Bismuth IIIa) ou esquerdo (Bismu- racional para a embolização, que produz necrose das células
th IIIb) deve-se considerar a realização de uma hepatectomia neoplásicas. Ainda é discutível se a introdução de quimiote-
direita ou esquerda. Nos tumores tipo III a ressecção do pa rápicos aumenta a eficácia da embolização. Metanálise recen-
rênquima além de permitir melhor acesso para a anastomose te indica que a sobrevida é significativamente maior no grupo
coledocojejunal facilita a toilette ganglionar. A ressecção he- tratado com embolização, comparado a controles (sobrevida
pática biliar deve ser reservada para os casos em que a neo- de dois anos: embolização em 41%; grupo controle: 27%). A
plasia tem envolvimento unilobar, com bom risco cirúrgico. seleção dos pacientes para embolização deve ser cuidadosa:
A ressecção do parênquima quando indicada deve seguir os cirróticos Child A, assintomáticos, com tumor multinodular,
seguintes passos técnicos: incisão do parênquima, ligadura
sem invasão vascular ou metástases. São contraindicações:
dos ramos da veia porta e da artéria hepática e por fim secção
hepatopatia descompensada, bilirrubinas acima de 2 mg, en-
do ducto biliar para garantir boa margem de segurança.
cefalopatia, insuficiência renal, infecção, alergia a iodo, trom-
O procedimento cirúrgico standard consiste na hepatecto- bose portal e tumor ocupando mais de 50% do parênquima
mia, ressecção dos ductos biliares extra-hepáticas e dissecção hepático. Os pacientes com baixa reserva funcional ou com
do linfonodos regionais. A extensão da hepatectomia pode
trombose portal não devem ser embolizados.
ser: hepatectomia direita ou esquerda, hepatectomia amplia-
da além da trissegmentectomia esquerda. O candidato ideal para a ressecção é o paciente com tumor
pequeno (menor que 5 cm, preferencialmente menor que 3
cm), função hepática bem preservada, bilirrubinemia normal
e sem hipertensão portal relevante (ausência de varizes eso-
fágicas, ausência de esplenomegalia, com plaquetas acima de
VIII
VII 100 mil e com gradiente de pressão hepática igual ou menor
II
que 10 mmHg). Nessa situação, a sobrevida de cinco anos
I pode chegar a 70%. Nos pacientes com hipertensão portal re-
IV
levante, a sobrevida cai para 50%, e naqueles com hipertensão
III
V VI portal relevante e hiperbilirrubinemia, a sobrevida de cinco
anos é de apenas 25%. Na prática, é difícil se achar o candida-
to ideal para ressecção. Os resultados da ressecção são limita-
dos por dois problemas importantes: a recorrência tumoral e
a própria evolução da hepatopatia crônica, que muitas vezes
mata o paciente antes do tumor. A recorrência pode chegar
Resposta d. a 50% ao fim de um ano, variando de 50% a 100% em cinco
anos. É mais comum nos tumores grandes, não encapsulados,
ressecados sem margem de segurança, nos mal diferenciados
29. Incontestável que o diagnóstico é câncer primitivo de
e nos que apresentam mutação do gene p53. A recorrência
fígado. A decisão é quanto à conduta, e já de antemão fica
pode ser precoce ou tardia. A precoce é causada por lesões
claro que não há indicação de biópsia, já que as característi-
residuais, originadas do tumor primário A tardia resulta de
cas clinicorradiológicas e laboratoriais são diagnósticas. Os
desenvolvimento de tumores multicêntricos, sendo lesões no-
critérios Child-Pugh e MELD não colocam este paciente no
vas no fígado cirrótico. Recorrência precoce tem prognóstico
grupo de alto risco para mortalidade levando em conta o
ruim, sendo muitas vezes causada por ruptura de tumor, in-
grau de insuficiência hepática (MELD entre 10 a 19 pon-
vasão venosa e ressecção inadequada. Os fatores de risco de
tos, a taxa de morte em três meses foi de 28% e a taxa de
recorrência tardia são cirrose, atividade da doença hepática,
mortalidade total foi de 27%). Se estivermos diante de um níveis de transaminases e tumores múltiplos. Em resumo, o
paciente cirrótico de origem alcoólica, e a questão não espe- melhor candidato à ressecção é o cirrótico Child “super” A,
cifica se o paciente parou de beber, não é possível incluí-lo com função hepática muito preservada. Os pacientes Child
na indicação de transplante, que seria na verdade a melhor A com hipertensão portal e Child B têm risco significativo de
proposta terapêutica. Este paciente pode ser candidato a descompensação no pós-operatório. O paciente Child A, sem
quimioembolização, embora não seja o melhor candidato. hipertensão portal, com tumor pequeno, mas localizado em
A quimioembolização arterial é um método terapêutico que posição que obriga ressecção de todo o lobo direito, também

296 SJT Residência Médica - 2015


32 Fígado

não deve ser ressecado. A opção B é errada, mas diante do que das crianças com o fator multiplicador de escore estabelecido
temos, as demais opções ficam a desejar. Resposta b. para esses pacientes e à baixa pontuação atribuída aos pa-
cientes com doenças colestáticas pelo próprio MELD, mesmo
quando em condições avançadas de sua doença Talvez, a so-
30. O principal fator preditivo de mortalidade por sangramen-
lução em longo prazo passe pela criação de organismos não
to de varizes de esôfago é a reserva funcional hepática, e esta
governamentais suprapartidários e isentos, tais como o são a
afirmação fica clara, quando comparamos pacientes Child A,
OPTN (www.optn.org) e a UNOS (www.unos.org) nos Esta-
Child B versus Child C. Este último grupo apresenta maior
dos Unidos. Com a esfera de decisões fora da administração
morbidade e mortalidade quando comparado aos grupos A e
pública, mas constituída por representantes do governo, da
B. A população Child C com insuficiência hepática grave apre-
sociedade civil, dos médicos, dos pacientes etc., a tendência
senta maior chance de encefalopatia hepática irreversível e
é que se crie uma sociedade cada vez mais justa. Resposta b.
complicações como PBE e síndrome hepatorrenal. Resposta c.

32. Sorafenibe é um inibidor oral de proteínas cinases en-


31. O transplante é a primeira opção para pacientes com tu-
volvidas em vias de sinalização na hepatocarcinogênese, cujo
mores multicêntricos (três nódulos < 3 cm) ou aqueles com
efeito principal é o bloqueio da angiogênese e da proliferação
disfunção hepática avançada. Em termos teóricos, o trans-
celular. Estudo recente multicêntrico e randomizado em pa
plante pode simultaneamente curar o tumor e a cirrose he-
cientes com carcinoma hepatocelular em fase avançada mos-
pática subjacente. O amplo critério de seleção aplicado duas
trou sobrevida maior (em torno de 3 meses) no grupo que
décadas atrás levou a resultados muito ruins em termos de
usou o medicamento. Resposta b.
recorrência (32 a 54%) e sobrevida (sobrevida < 40% em cin-
co anos), mas permitiu a identificação dos melhores candida-
tos ao transplante. O estudo divisor de águas de Mazzaferro e 33. Embora a ressecção cirúrgica seja considerada uma tera-
cols., em 1996, estabeleceu o transplante hepático como uma pia curativa para os pacientes com CHC, menos de 20% dos
opção viável para tratar o CHC. Eles mostraram que, quando pacientes são candidatos a esse tratamento. Ela é reservada
o transplante era restrito a pacientes com CHC precoce (de para pacientes com tumor único sem hipertensão porta e
finido como um tumor < 5 cm ou dois a três tumores, todos com níveis normais de bilirrubina. Se essas condições não fo-
< 3 cm), a sobrevida em quatro anos era de 75%, similar à rem preenchidas, os pacientes devem ser considerados para o
de pacientes com cirrose sem CHC. O critério desenvolvido transplante hepático ou terapias ablativas locais.
por Mazzaferro e cols. tornou-se o critério de Milão e tem
Com relação ao controle da doença de base (cirrose hepá-
sido amplamente aplicado ao redor do mundo para seleção
tica), a ressecção e as terapias ablativas locais, entretanto,
de pacientes com CHC para transplante (opção A, correta!).
apresentam nenhum efeito ou efeito negativo sobre a fun-
Em nosso meio, as principais indicações são para cirrose hepá- ção hepática remanescente. O transplante hepático pode
tica de etiologia viral por vírus C e álcool (opção C, correta!). perfeitamente controlar o tumor em estágio precoce e o
Está indicado nos casos de hepatite fulminante que se encai- fígado subjacente que pode conter lesões pré-cancerosas,
xam nos critérios do King’s College Hospital ou nos critérios metástaticas ou novas lesões. Portanto, a sobrevida livre de
de Clichy (opção D, correta!). recorrência é melhor nos pacientes submetidos a transplan-
te do que nos que sofreram ressecção.
Tumor maligno hepático com metástases extra-hepáticas
é uma contraindicação para o transplante hepático, assim Como não existe tratamento clínico efetivo para o CHC, a re
como os tumores hepatobiliares (colangiocarcinoma) são moção física ou sua destruição antes da metástase extra-hepá-
contraindicações relativas (opção E, correta!). tica é a única chance de cura. Infelizmente, a doença hepática
subjacente e o fato de o CHC ser geralmente multicêntrico fa-
Mais recentemente, sob pressão das ONGs, o Ministério da
zem com que a maioria dos casos não seja adequada para res-
Saúde constituiu uma Comissão de experts com representa-
secção. Embora haja outros métodos de ablação tumoral, esses
tividade nacional e, após análise detalhada de suas ponde-
rações, considerando a lista de espera, os transplantes reali- algumas vezes não são capazes de destruir completamente o
zados e a mortalidade em lista, estabeleceu a Portaria 1.160 CHC. Portanto, o transplante hepático, que permite tanto tra-
(publicada no Diário Oficial da União em 29 de junho de tar o tumor quanto a doença hepática subjacente, tem grande
2006) mudando o critério cronológico rígido para o critério apelo teórico no tratamento desse tipo de tumor.
de gravidade baseado no MELD/PELD. Passados dois anos, O transplante é a primeira opção para pacientes com tu-
os dados estatísticos demonstram que não houve aumento da mores multicêntricos (três nódulos < 3 cm) ou aqueles
mortalidade pós-operatória, reduziu-se a mortalidade na lis- com disfunção hepática avançada. Em termos teóricos,
ta de espera e, mais importante, passou-se a não transplantar o transplante pode simultaneamente curar o tumor e a
pacientes que não tinham indicação para o procedimento. Na cirrose hepática subjacente. O amplo critério de seleção
realidade, há ainda que se corrigir distorções, notadamente aplicado duas décadas atrás levou a resultados muito ruins
em relação ao carcinoma hepatocelular, à elevada priorização em termos de recorrência (32% a 54%) e sobrevida (so-

297
Clínica cirúrgica | Vias biliares, pâncreas e fígado | Gabarito comentado

brevida < 40% em cinco anos), mas permitiu a identifi- sucesso dessa conduta, já que menos de 10% dos pacientes
cação dos melhores candidatos ao transplante. O estudo submetidos a transplante hepático sobreviveram sem tumor
divisor de águas de Mazzaferro e cols., em 1996, estabe- por mais de 2 anos. Gabarito oficial: D.
leceu o transplante hepático como uma opção viável para
tratar o CHC. Eles mostraram que, quando o transplante
era restrito a pacientes com CHC precoce (definido como 35. Veja a tabela abaixo. Fique atento a esta pergunta!
um tumor < 5 cm ou dois a três tumores, todos < 3 cm), Contraindicações ao transplante hepático
a sobrevida em quatro anos era de 75%, similar à de pa- Absolutas Relativas
cientes com cirrose sem CHC. O critério desenvolvido por
Morte cerebral Infecção pelo HIV
Mazzaferro e cols. tornou-se o critério de Milão e tem sido
Uso ativo de drogas ilícitas ou ál- Idade > 70 anos
amplamente aplicado ao redor do mundo para seleção de
cool
pacientes com CHC para transplante. Esses resultados fo-
Ausência de suporte social Colangiocarcinoma*
ram confirmados por outros grupos. A grande barreira
ao transplante hepático no tratamento dos pacientes com Problemas psiquiátricos graves Trombose de veia porta
CHC é a escassez de órgãos no mundo. O longo tempo de Tumores malignos extra-hepáticos Replicação ativa do VHB
espera em lista resulta em maiores taxas de retirada de lis ou metastáticos
ta (drop-out), principalmente por progressão tumoral. Na Doenças cardíacas ou pulmonares
análise por intenção de tratamento, se o tempo de espera graves
é de dois meses, a sobrevida em dois anos é de 84% no Infecção sistêmica ativa não con-
grupo submetido ao transplante, mas, se for mais de cinco trolada
meses, cai para 54% mesmo nos pacientes que se encaixam AIDS
nos critérios de Milão. Resposta c. Trombose extensa do leito espleno-
mesentérico
*O transplante hepático no colangiocarcinoma está sendo realizado em pro-
34. A localização mais comum do colangiocarcinoma é hilar,
tocolos de pesquisa com critérios de seleção estritos, utilizando-se quimio-
denominado tumor de Klatskin (tumor na bifurcação do he-
terapia e radioterapia adjuvantes. AIDS: síndrome da imunodeficiência ad-
pático comum), portanto opção B, errada!
quirida; HIV: vírus da imunodeficiência humana; VHB: vírus da hepatite B.
Vários estudos documentaram que a presença de icterícia
aumenta as complicações dos pacientes submetidos a proce- Resposta b.
dimentos cirúrgicos. No entanto o papel da drenagem biliar
pré-operatória nos pacientes com icterícia obstrutiva por
neoplasia maligna permanece controverso, sendo necessária 36. Avaliando a tabela, fica claro que a opção D não se encaixa
nos paicentes com colangite aguda, não existindo vantagens entre as condições que autorizam a indicação imediata para o
do seu uso nos demais pacientes (opção A, errada!). transplante hepático. O TIPS é uma ponte entre o momento atu-
al do paciente e o transplante, portanto haverá um tempo de es-
O diagnóstico de colangiocarcinoma é clinicorradiológico
tabilidade clínica que pode tornar a avaliação subsequente mais
(ultrassonografia com Doppler e colangiorresonância), não
pertinente, deixando o transplante para um segundo momento.
havendo necessidade de biópisa pré-cirúrgica. A citologia
de material obtido por escovação pode ser importante no Critérios de indicação do transplante de fígado
diagnóstico diferencial de estenose do ducto biliar, princi- Critérios clínicos
palmente na diferenciação de colangite esclerosante primária Encefalopatia grave ou progressiva
de colangiocarcinoma. Entretanto, resultados falso-negativos
Ascite refratária
permanecem significativos e os falso-positivos são ocasional-
Peritonite bacteriana espontânea recorrente
mente observados (opção C, errada!).
Hemorragia por varizes esofágicas
Ressecção completa do tumor com margens negativas é o
Fadiga intensa
único tratamento curativo para colangiocarcinoma. Apesar
de a maioria dos cirurgiões limitar o procedimento cirúr- Prurido incontrolável
gico à ressecção das vias biliares com margens negativas, Síndrome hepatorrenal
alguns autores preferem incluir hepatectomia parcial con- Síndrome hepatopulmonar
comitante em bloco para certificar-se da ressecção comple- Doença óssea com fraturas
ta do tumor. A reconstrução biliar deve ser realizada com Colangites com sepse recorrentes
hepaticojejunostomia em Y-de-Roux. Embora o transplante
Cirrose hepática com Child B ou C
seja uma modalidade de tratamento possível para o colan-
giocarcinoma, e a seleção dos pacientes deve ficar restrita Carcinoma hepatocelular dentro dos critérios de Milão
a casos excepcionais (tumor pequeno, sem invasão gan- Carcinoma neuroendócrino metastático, com o primário já res-
secado, sem metástases a distância
glionar), a revisão da literatura é desapontadora quanto ao

298 SJT Residência Médica - 2015


32 Fígado

Critérios de indicação do transplante de fígado São contraindicações à ressecção: metástases extra-hepá-


ticas, tumor multifocal ou difuso, cirrose avançada com in-
Retransplante precoce por trombose de artéria hepática ou dis-
função primária do enxerto suficiência funcional, comorbidades importantes. A idade
por si não é fator de risco, podendo a ressecção ser indi-
Critérios bioquímicos
cada a pacientes com mais de 70 anos. A possibilidade de
Bilirrubina sérica > 10 mg% (doença colestática)
ressecção do tumor depende do tamanho e do número das
Formas fulminantes lesões, da distribuição nos nódulos, da invasão vascular e
Critério de King’s College do estado funcional do fígado. A margem de segurança da
Com acetaminofeno (paracetamol) ressecção deve ser de 1 cm.
pH < 7; INR > 6,5; creatinina > 3,4 O carcinoma fibrolamelar é um hepatocarcinoma que incide
Sem acetaminofeno em jovens, não tem relação com cirrose hepática, não se as-
INR > 6,5 ou socia a paraneoplasias, não secreta alfafetoproteína e possui
Idade < 10 ou > 40 anos melhor prognóstico do que o HCC clássico. Resposta b.
Hepatite não A, não B; halotano; drogas
Encefalopatia após sete dias da icterícia 40. O diagnóstico de imagem é compatível com hiperplasia
Critério de Clichy nodular focal (tumor benigno do fígado), e o ponto de re-
Encefalopatia e fator V ferência para pensarmos nesse diagnóstico é a descrição de
cicatriz estrelar central documentada na imagem.
Inferior a 30% em maiores de 30 anos
Inferior a 20% em menores de 30 anos A hiperplasia nodular focal (HNF) é o segundo tumor só
lido mais frequente do fígado, com prevalência de 2,5%
INR: International Normalized Ratio.
a 8%. É mais frequente em mulheres (relação 8:1), com
Resposta d. pico de incidência entre a terceira e a quinta década de
vida. Aproximadamente 70% das pacientes usam anti-
37. A veia porta é formada pela união da veia mesentéri- concepcional oral. A maioria das HNF consiste em lesões
únicas, com diâmetro médio de 3 a 5 cm, que tendem a
ca superior com a veia esplênica. Este último vaso recebe
permanecer estáveis nos controles de imagem. É conside-
a veia mesentérica inferior. O fluxo sanguíneo hepático
rada uma proliferação hiperplásica dos hepatócitos nor-
normal é de 1.500 mL/min., representando 20% do débi
mais, secundária a malformações vasculares preexistentes
to cardíaco. A veia porta é responsável por 75% do fluxo
no fígado, hipótese sustentada pela associação de HNF a
sanguíneo para o fígado e a artéria hepática por 25%. A
outras malformações vasculares, como telangiectasia he-
veia porta mede, em média, 6,5 cm de extensão e 0,8 cm
morrágica hereditária. O uso de anticoncepcional oral e
de diâmetro. A pressão portal é dinâmica e varia com
a gestação não são fatores etiológicos relacionados com
mudanças na postura, pressão intra-abdominal e respira-
o surgimento de HNF, mas podem favorecer seu cresci-
ção. Normalmente, a pressão na veia porta é baixa como
mento, uma vez que pacientes em uso desses hormônios
nos sinusoides hepáticos, variando entre 10 e 15 cm de
tendem a ter lesões maiores e mais vascularizadas. Apesar
água. Entretanto, fatores que dificultem o fluxo sanguí
desses relatos, a indicação de descontinuidade da terapia
neo no sistema porta podem ocasionar hipertensão por-
com anticoncepcional oral em pacientes nas quais a HNF
tal, que é definida como uma pressão do sistema portal
é diagnosticada não é clara.
acima de 25 a 30 cm de água, quando mensurada tran-
soperatoriamente, ou quando a pressão sinusoidal trans- O achado radiológico característico é a cicatriz central, pre
mitida a partir da veia hepática for superior a 6 mmHg. sente em somente 30% dos casos. Na US, a maioria das HNF
Resposta a. é isoecogênica e de difícil diferenciação do parênquima adja-
cente, mas em alguns casos podem ser hiper ou discretamente
hipoecogênicas. A US com Doppler pode apresentar o padrão
característico, com vasos arteriais dispostos de forma radiada
38. Paciente portador de cirrose hepática, HCV+, com nódu- com fluxo em direção centrífuga. Tal achado ao estudo com
lo sólido hepático que na tomografia com contraste apresenta Doppler tem alta especificidade, mas baixa sensibilidade.
hipercaptação na fase arterial é compatível com hepatocarci-
noma. A elevação mesmo que pouco significativa da alfafeto-
proteína complementa a impressão diagnóstica. Resposta c. 41. Esta é uma questão que nos trouxe uma inovação. Em
todos os tratados de medicina interna, a mesma informação
concensual sobre a causa mais comum de abscesso hepático
39. A respeito de hepatocarcinoma todas as afirmações estão piogênico: doenças das vias biliares complicadas com infecção.
corretas, EXCETO, a opção D, uma vez que são contraindi- A 18ª edição do Sabiston informa que trabalhos mais recen
cações para ressecção tumoral curativa: tes demonstraram que a causa mais comum de abscesso pio-

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Clínica cirúrgica | Vias biliares, pâncreas e fígado | Gabarito comentado

gênico do fígado é criptogênica, que na literatura mundial Critérios de ressecabilidade do colangiocarcinoma hilar
corresponde somente de 10% a 15% dos casos. Resposta c. (tumor de Klatskin)
Atrofia de um lobo hepático com envolvimentos dos ductos bi-
liares secundários
42. Histologicamente, mais de 90% dos colangiocarcinomas ex-
Metástases a distância, inclusive para linfonodos N2*
tra-hepáticos são adenocarcinomas. Subtipos macroscópicos do
colangiocarcinoma, como o esclerosante (nodular), o nodular e *Linfonodos N2: peripancreático, periduodenal, celíaco, mesentérico su-
o papilar têm sido descritos. Tumores esclerosantes são os mais perior, pancreaticoduodenal posterior.
comuns, causando um espessamento anular do ducto biliar.
Resposta a.
Em contraste com o carcinoma de vesícula biliar, o câncer
de ducto biliar extra-hepático é caracterizado por extensão
local, com baixa taxa de metástases a distância. Metástases 43. A respeito de hepatocarcinoma todas as afirmações estão
para linfonodos locais ocorrem em aproximadamente 50% corretas, EXCETO, a opção D, uma vez que são contraindi
dos casos, enquanto metástases a distância são detectadas em cações para ressecção tumoral curativa:
menos de 10% dos pacientes. Claro que a localização hilar
São contraindicações à ressecção: metástases extra-hepáti-
não permite distensão da vesícula, que para estar presente a
cas, tumor multifocal ou difuso, cirrose avançada com insu-
obstrução deve-se fazer abaixo do cístico.
ficiência funcional, comorbidades importantes. A idade por
si não é fator de risco, podendo a ressecção ser indicada a
Critérios de ressecabilidade do colangiocarcinoma hilar pacientes com mais de 70 anos. A possibilidade de ressec
(tumor de Klatskin) ção do tumor depende do tamanho e do número das lesões,
Condições médicas gerais inadequadas para tolerar procedi- da distribuição nos nódulos, da invasão vascular e do estado
mento cirúrgico de grande porte, inclusive cirrose hepática funcional do fígado. A margem de segurança da ressecção
Envolvimento bilateral dos canalículos bilaterais secundários deve ser de 1 cm.
Envolvimento ou oclusão da veia porta O carcinoma fibrolamelar é um hepatocarcinoma que in-
Envolvimento ou oclusão da artéria hepática própria ou do cide em jovens, não tem relação com cirrose hepática,
ramo do lobo hepático remanescente
não se associa a paraneoplasias, não secreta alfafetopro-
Atrofia de um lobo hepático com envolvimento da veia porta teína e possui melhor prognóstico do que o HCC clássico.
contralateral
Resposta b.

300 SJT Residência Médica - 2015

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