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SUMÁRIO

01. CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

1. Características principais do consentimento .. 9


2. Abordagem do CEM ............................................... 11
3. Principais pontos da
Recomendação N°1 /2016 ....................................... 13
4. Assentimento livre e esclarecido ....................... 16
5. Intervenções na liberdade de
consentir do paciente .................................................. 17
Referências bibliográficas ......................................... 19

02. ERRO MÉDICO

1. lntrodução ................................................................... 22
2. Conduta médica ilícita ............................................ 24
3. Responsabilidade profissional -
subjetiva e pessoal ....................................................... 26
4. Nexo causa1................................................................29
5. Dano efetivo ...............................................................31
6. Dano patrimonial ...................................................... 32
7. Dano extra patrimonia l (moral) ............................ 32
8. Dano estético ............................................................33
9. Resultados adversos .............................................. 33
10. Teoria da perda de uma chance ...................... 37
Referências bibliográficas ........................................ 37

03. ÉTIMA MÉDICA, BIOÉTICA, DIREITO MÉDICO

1. Histórico ......................................................................42
'
2. Etica médica. bioética e direito médico ........... 42
3. Novo código de ética médica .............................. 44
4. Princípios fundamenta is do cód igo de
ética médica ....................................................................4 7
5. Bioética e pri ncípios teóricos ............................... 5 1
6. Princípios da declaração universal sobre
bioética e direitos humanos ...................................... 55
7. Direitos dos médicos .............................................. 57
Referências bibliog ráficas ........................................64

04. IATROGENIA

1. lntrod ução ...................................................................67


2. O que é a iatrogenia................................................ 67
3. "Erro" sem cu lpa médica (escusável)................ 77
4. A importância do sopesar dos pri ncípios
bioéticos- autonomia, benefício e dano .............. 77
Referências bibliográficas ............ ...................... ...... 8 1

05. RELAÇÃO COM PACIENTES E FAMILIARES

1. A Relação Médico - Paciente .................. ........ ...... 84


2. Re lação Entre Poder e Saber ..............................87
3. Autonom ia do Paciente e Consentimento ..... 89
Referências Bibliograficas ............. ....... ....... ....... ....... 93

06. RESPONSABILIDADE PROFISSIONAL

1. Int rod ução ..................................................................96


2. Sentidos da responsabilidade profissional .... 96
3. Elementos essenciais da responsabilidade
médica ............................................................................ 100
4. Excludent es do nexo de ca usalidade ........... 10 1
5. Anal isando a cu lpa: responsabilidade civi l
subjetiva x objetiva .................................. ....... ....... .... 103
6. Obrigação de meio x resultado ....................... 105
7. Responsabilid ade ético - profissional -
conselho regiona l de medici na (CRM) ........ ....... 106
8. Responsabilidade por ato médico .................. 110
9. Afastamento das atividades médicas .......... 110
10. Ausência a plantão méd ico ............................ 111
11. Consenti mento com o exercício ilegal
da medicina .................................................................. 111
12. Laudos. documentos médicos e
escla recimento ............................................................ 111
13. Descumprimento de legislações específicas 112
14. Descumprimento de normas do conselho 1 12
15. Descumprimento de dever funcional
e co laboração .............................................................. 113
Referências bibliog ráficas ..................................... 115
CONSENTIMENTO LIVRE
E ESCLARECIDO
CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO 9

1. CARACTERÍSTICAS Para alcançar essa liberdade é preciso


PRINCIPAIS DO que o paciente tenha acesso à infor-
CONSENTIMENTO mação e, mais que isso. é preciso que
seja esclarecido. Fat almente, trans-
O consentimento é um processo e
mitir ao paciente toda informação que
não um ato pontual. logo, o mesmo
o médico tem acerca da Medicina é
é construído ao longo de toda relação
impossível. no entanto. por meio de
médico-paciente sendo parte da prá -
linguagem adequada é possível que
tica médico, pois compreende-se que o médico esclareça as possibilidades
ser esclarecido e receber informações de tratamento. entenda as expectati-
adequadas é direito do paciente. Com vas do paciente e aquilo que o mes-
isso, como visto no Super Material so -
mo já sabe e como compreende sua
bre Relação com Pacientes e Familia-
saúde.
res. a relação médico-paciente tem
como um de seus fundamentos a co- A partir disso podemos depreender
municação. devendo sempre ser feita 3 características básicas do Consen-
de forma que permita a compreensão timento Livre e Esclarecido: é prévio.
do paciente acerca do que se refere o livre e esclarecido. Prévio. pois deve
seu processo de saúd e-doença. ser real izado anterior a conduta mé-
dica, exceto em caso de ri sco im inen-
Este consentimento cons iste no ato te de morte onde não é v iável dialo-
do paciente ou seu representante gar com o paciente acerca da conduta
legal decidir/concordar. após infor-
devendo o médico sempre agir pelo
mações e explicações por parte do princípio da beneficência e amparado
médico. com procedimentos diag- pelas melhores evidências disponí-
nósticos e terapêuticos que lhe são
ve is. Livre, pois o paciente não deve
indicados. Para tal prescinde-se que ser submetido a coe rção, ameaça,
o paciente t em garantido seu direi- indução durante seu processo deci-
to a autonomia, ou seja, sua capa -
sório tais interferências diversas ve-
cidade de se autogovernar que. por
zes ocorrem pel a vulnerabilidade so-
sua vez, prescinde da garantia de
cial do paciente. fazendo da coerção
liberdade de tomar suas decisões
algo não diretamente proporcionada
sem interferências. Como veremos
pelo médico. mas sim decorrente das
mais à frente. por vezes são realiza - "amarras soci ais" ao qual o paciente
das intervenções danosas por parte é submetido. Esclarecido. pois deve
de méd icos ou famil iares que acabam , .
conter informações necessanas
por suprimir a autonomia e liberdade
acerca do que está sendo proposto
dos pacientes ao longo do processo a partir de uma linguagem acessível
decisório.
CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO 10

para o paciente e sem uso de j argões


médicos.
bilidade de ser ferido". logo, as pessoas
Logo, a informação do paciente não estão submetidas a graus diferentes
deve ser encarada como um ato bu- de vulnerabilidade, sobret udo. em um
rocrático. mas sim uma etapa da re - país como o Brasil onde as desigua lda-
des são tão acentuadas e por isso temos
lação méd ico - paciente que garante graus diversos de vu lnerabilidades ent re
o respeito à dig nidade. autonomia e os pacientes. Na Medicina. mais especi-
liberdade humana. ficamente no serviço público, é possível
notar que além das doenças que em si
causam vulnerabilidades. as questões
econômicas e sociais se somam e levam
muitos pacient es a assinarem termos
de consentimento por medo de perder
aquela oportunidade de tratamento
ou por medo de t irar suas dúvidas e ser
deixado de lado. Por isso. cabe ao mé-
dico identificar as possíveis vulnera-
bilidades do paciente para então traçar
Dignidade
estratégias de cuidado que busquem
minimizar as mesmas. favorecendo o
exercício da autonomia.

Liberdade

É um processo e
Au tonomia não um ato pontual!

Informação

Direito do paciente!

Sem coerção. ameaça. indução


Informação necessária
ou outras interferências!
CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO 11

2. ABORDAGEM DO CEM um dano grave ou irreversível caso


o médico não haja de imediato.
No primeiro Capítulo do CEM. sobre
os Princípios Fundamentais. já é abor- No Capítulo V sobre Relação com Pa-
dado um aspecto relativo ao processo cientes e Familiares, o Art. 31 abor-
de esclarecimento que é o dever do da o aspecto da liberdade que já fa -
médico em aceitar as escolhas dos lamos anteriormente trazendo que é
seus pacientes relativos aos proce- vedado ao médico "desrespeitar o
dimentos diagnósticos e terapêuticos direito do paciente ou de seu repre-
desde que estes estejam adequados sentante legal de decidir livremente
e cientificamente reconhecidos. sobre a execuçã o de práticas diag-
nósticas ou te ra pêuticas". mais uma
No Capítulo IV sobre Direitos H u- vez. ressa ltando a exceçao que e o
- I

manos no artigo (Art.) 22 diz que é risco iminente de morte do mesmo. O


vedado ao médico "deixar de obter
Art. 34 deste mesmo Capítulo aborda
consentimento do paciente ou de seu
que é vedado ao médico "deixar de
representante legal após esclarecê- informar ao paciente o diagnóstico. o
-lo sobre o procedimento a ser reali -
prognóstico, os riscos e os objetivos
zado. salvo em caso de risco iminente
do tratame nto, salvo quando a co-
de morte", em seguida, o Art. 24 diz
municação direta possa lhe provocar
que é vedado ao médico "deixar de dano", nessa situação, a informação
garantir ao paciente o exercício do di- deve ser passada ao representante
reito de decidir livremente sobre sua
legal do paciente. Conforme discuti-
pessoa ou seu bem-estar. bem como do no Super Material sobre Ralação
exercer sua autoridade para limitá - com Pacientes e Familiares. esta si-
-lo". Mais uma vez. aqui vale ressa ltar
- I •
tuação trazida no A rt. 34 é chamada
a situação de exceçao que e o nsco de "privilégio terapêuti co", ou seja, o
iminente de morte onde não é re- "direito de não sa ber do paciente", em
comendado buscar consentimento
situações em que o mesmo se recu-
do paciente uma vez que o médico
sa a saber ou porque o médico nota
precisa garantir o compromisso de que informar traria mais dano do que
manutenção da vida do seu paciente.
benefício devendo neste caso repor-
mas também. vale destacar uma situ -
tar-se a algum membro da família ou
ação trazida na au la por Dra. Camila, representante legal. Porém, o médico
a qual até o momento não está con - não deve "abusar" do privilégio te-
templada no CEM. que é quando há rapêutico como forma de evitar dar
um risco de agravamento de dano,
notícias difíceis ou uma possível re-
ou seja, quando há iminência de
jeição do paciente ao tratamento que
será proposto. Em algumas situações,
CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO 12

a informação pode ser feita de modo pode ser obtido verbalmente e em


gradual para evitar danos ao pacien- seguida registrado todas as etapas
te. pois em alguns casos. ao invés de do mesmo em prontuário. Inclusive. é
já não dizer. é possível não dizer tudo importante lembrar que a escrita no
imediatamente. contando ao paciente prontuário é um direito que o paciente
apenas aquilo que ele esteja em con - tem e também uma forma do médico
dições de suportar. fazer uma prova de tudo que ele fez
O Código de Ética Médica (CEM) e do adequadamente no decurso do trata-
Conselho Federal de Medicina (CFM) mento do paciente. No entanto, como
não fazem exigências para que o vimos na aula de Dra. Cam ila. a assi-
con sent imento e esclarecimento do natura do paciente em um documento
paciente seja sempre feito por escrito a parte faz com que este documento
em um documento. levando em consi - tenha "força de lei" externa ao pron -
deração que na prática clínica. em al- tuário. por isso a mesma recomenda
gumas situações. este consentimento que o quanto possível seja real izado
o consentimento por escrito nos mol-
des que veremos a seguir.
CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO 13

3. PRINCIPAIS PONTOS DA Consentimento Livre e Esclarecido


RECOMENDAÇÃO N°1/2016 evidenciando três fases para obten-
ção do mesmo:
A Recomendação N°l de 2016
do CFM trata especificamente do

Como dito, como uma forma de com- estabelecendo uma relação de con-
provação que houve concordância do fiança entre ambas as partes (méd ico
paciente e de que todo processo foi e pacientes/familiares).
real izado respeitando a autonom ia do Para procedimentos médicos de
mesmo e respe itando as fases acima maior complexidade como: exames
citadas. o consentimento feito pores- invasivos. cirurgias, transplantes e
crito é o melhor para tal. No entanto. outros que o médico perceba que
pela dinâmica da prática clínica onde deve fazer, recomenda - se que o con-
por vezes fazer um consentimento sentimento seja feito por escrito. ado-
por escrito pode até causar estranhe- tando o nome de Termo de Consen-
za por parte do paciente interferindo timento Livre e Esclarecido (TCLE) o
tanto na relação com o mesmo, como qual não deve ser padronizado de
na dinâmica do procedimento a ser maneira igual para todos os pacien-
realizado. nestas situações. deve ser tes. mas sim deve ser feito um do-
garantida a comunicação mais efetiva cumento para cada procedimento
possível utilizando tom claro, gestos e
CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO 14

respeitando as particularidades de o que de modo algum enquadra-se


cada um. bem como de cada paciente. como boa prática.
Como vimos na aula de Ora. Camila. o É importante garantir que sendo o
TCLE é uma redução a termo de todo consentimento realizado por escrito
processo de consentimento realizado deve ser sugerido que o paciente leia
ao longo da relação entre médico e o mesmo com calma, discuta com
paciente. de modo que todo processo seus familiares, anote suas dúvi-
e detalha mento de todo percurso de das, medos e incertezas e tenha o
esclarecimento deve esta r escrito em espaço para rediscutir com o médi -
prontuário. Cabe diferenciar o ade - co. Por sua vez, o médico não deve
quado reg istro em prontuário da prá - foca r a autonomia do paciente ape -
tica da medicina defensiva a qual não nas no aspecto racional. não deven-
segue as recomendações éticas. pois do negligenciar aspectos emocionais.
sob a perspectiva da mesma todo pa- rel igiosos e valores que venham a in-
ciente é visto como potencial autor de fluenciar no processo de decisão do
um processo contra o médico o que paciente.
leva a muitos profissionais a realiza -
rem um excesso de exames e termos A elaboração do TCLE deve seguir
a seguintes orientações conforme a
Recomendação N°l/2016 do CFM:
CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO 15

TCLE


Declarações:
• Do paciente de que está
informado e esclarecido e
de que é LIVRE PARA NÃO
CONSENTIR, sem qualquer
penalização ou prejuízo.
• Do médico de que
explicou de forma clara
todo o procedimento.
CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO 16

Vale ressaltar que. ao assinar que indicado para pacientes incapazes


está concordando com o determ ina- de assinar um TCLE. mas que ainda
do procedimento este mesmo Termo assim têm direito de ser inform ado s
não deve ser considerado para incluir e esclarecidos quanto aquilo que se
pacientes em pesquisa vinculada ao refere ao seu processo de saúde-do-
médico. Para participação em pes- ença. A s regras para elaboração do
quisa um outro Termo. diferente do termo de assentimento seguem as
utilizado para o consentimento de mesmas do TCLE. Isso se aplica, por
procedimento terapêutico/diag nós- exemplo. a crianças e adolescentes
t ico. deve ser form ulado seguindo as quais devem ter um termo de as-
as reco mendações para pesq uisa sentimento com linguagem adequa -
com seres humanos (vide Resolução da para sua idade devendo seus pais/
N°466 do Conselho Naciona l de Saú- responsáveis assinar o TCLE.
de de 2012). Cabe aqui relembrar o que Dra. Ca-
·~----------------­
• SE LIGA! No caso de recusa de consen-
mila explicou acerca da compreensão
de capacidade ou incapacidade para
timento por crença rel igiosa como por
algo diante do Código Civil Brasileiro:
exem plo, paciente Testemunha de Jeo-
vá que recusa -se a receber transfusão entre O e 16 anos co nsidera -se que a
sanguínea. não cabe ao médico discutir pessoa é absolutamente incapaz. en -
com o paciente sobre sua interpretação tre 16 e 18 esta é relativamente ca -
religiosa. devendo considerar esta de-
paz e acima dos 18 anos considera-
cisão autônoma por partir de uma forte
convicção religiosa do paciente. O médi- -se que a pessoa é capaz de gerir sua
co deve estar atualizado no que diz res- vida civil.
peito às alternativas a transfusão san-
guínea já criadas pela ciência, devendo No entanto, na área da saúde é im-
o médico na existência do acesso a es- portante ressa lt armos que nem sem-
tas alternativas oferecê-las ao paciente. pre este critério etário corresponde
Caso estas alternativas não sejam sufi-
cientes (ou não estejam disponíveis) e
ao grau de autonomia do pacien-
o paciente esteja em risco iminente de te e capacidade de consentimen-
morte. o médico deverá praticar a trans- to diante de uma situação que afeta
fusão sanguínea sem o consentimento a sua saúde. Para tal. para avaliar a
do paciente e familiares. Fonte: Reco-
mendação N°l/2016 capacidade de uma pessoa consentir
deve levar em consideração não so-
mente os critérios etários. mas tam -
4. ASSENTIMENTO LIVRE bém psico lógicos e possibilid ade de
E ESCLARECIDO comunicação, de modo que: criança s,
O termo de assentimento (e não adolescentes < 18 anos. portadores
consentimento) livre e esclarecido é de doenças que comprometa a ca -
pacidade de entendimento. pessoas
CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO 17

inconscientes ou muito debilitadas prognóstico, complicar a terapêutica


não são consideradas capazes de ou exceder-se no número de visitas.
declarar consentimento. No entanto. consultas ou quaisquer outros pro -
isso não inviabiliza que as mesmas cedimentos médicos". A relação mé-
participem do processo. pelo contrá - dico-paciente não deve ser baseada
rio! A participação desses indivíduos em mentiras ou omissões, logo, é im -
considerados incapazes deve seres - portante que o médico inclusive bus-
timulada através da comunicação e que compreender se o paciente de
informação que ocorre antes da for- fato não tem condições de receber a
malização do TCLE e durante toda a informação, podendo inclusive obser-
relação médico- paciente- responsá- var isto em consu ltas subsequentes.
vel legal, devendo sua opinião ser Na aula de Ora. Cam ila algumas des-
considerada e seu direito à obten- sas possíveis interferências foram
ção do assentimento livre e escla- exemplificadas, tais como: erro. dolo.
recido garantido. coação. estado de perigo. Vale lem-
brar que. uma vez que o consenti -
5 . INTERVENÇÕES mento positivo do paciente seja re-
NA LIBERDADE DE sultado de uma intervenção este ato
CONSENTIR DO PACIENTE pode ser juridicamente anulado.
O erro por si só é quando o pacien-
Como mencionado. o consentimen-
te é induzido a algo que não entendia
to deve ser livre. ou seja, o paciente
bem e por isso o mesmo acaba ma -
não deve receber intervenções ex-
nifestando concordar com aquilo. O
ternas que interfiram na sua decisão
dolo é uma ação/omissão intencional
reti rando sua liberdade de fazê-la e,
por parte do méd ico com a intenção
com isso. suprimindo sua autonom ia.
de induzir/fortalecer/ma nter o pacien -
Muitas vezes essas intervenções po -
te em erro para que este conco rd e
dem ser causadas inclusive pela fa-
com algo que não realizaria de modo
mília que pedem para que o médico
a beneficiar o médico ou terceiros. A
não reve le totalmente do que se tra-
coação é quando é colocado no pen -
ta a intervenção diagnóstica ou tera-
samento do paciente o medo de so-
pêutica ou quando pedem para que o
frer dano físico ou moral a si ou sua
médico exagere acerca do quadro do
família caso negue-se a consentir. Já
paciente de modo a fazê-lo concordar
o estado de perigo é quando o pa-
com determinados procedimentos.
ciente ou pessoa de sua família, pela
Porém. de acordo com o Art. 35 do
necessidade de salvar aquele ente
CEM é vedado ao médico "Exagerar
de grave dano, assume desembolsar
a gravidade do diagnóstico ou do
quantia onerosa.
CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO 18

MAPA MENTAL: RESUMO CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO.

É um processo e não
um ato pontual!

Direito do paciente!

Intervenções no processo
de Consentimento
CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO 19

REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
/

Conselho Federa l de Medicina. Código de Etica Médica: Resolução CFM no 2.217, de 27 de


setembro de 2018 I Conselho Federa l de Medicina - Brasíli a: Conselho Federal de Medicina,
2019.108 p.
Conselho Federa l de Medicina. Recomendação N°1 de 2016.

Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura UNESCO. Declaração
Universal sobre Bioética e Direitos Humanos. Disponível em : https://bvsms.saude.gov.br/
bvs/publicacoes/declaracao univ bioetica dir hum.pdf.
,
ERRO MEDICO
ERRO MÉDICO 22

1. INTRODUÇÃO frente a denúncias de responsab ilida-


de civil e/ou penal do profissional de
Desde o final da década de 1990. es-
saúde. consequentes a erro médico.
pecificamente após o Código de De-
fesa do Consumidor {1998). a ques- Conforme pesquisa realizada em
tão da responsabilidade médica por 2007 no Conselho Regional de Medi-
alegativas de suposto erro profissio - cina do Estado da Bahia. entre as prin -
nal tem ganhado crescente e perma - cipais especialidades denunciad as
nente impulso. por erro méd ico estão: ginecologia e
obstetrícia. ciru rgia geral. anestesia.
Atua lmente. o paciente e a soci ed ade
ortopedia e clínica médica. sen do es -
não m ais co nsid eram o médico com
tes erros suposta mente ocorridos.
o antig o status de sacralid ade, onde
majorit ari amente. em um co nt exto
seus atos eram inquestionáveis. Do
cirú rgico de urgência/emergência em
pont o de v ista juríd ico. o médico pas-
hospit ais públicos.
sou a ser v isto como um prest ador de
serviços do mercado. como qualquer
outro e. por isso. sujeito a responder ESPECIALIDADES MAIS FREQUENTES NAS
pelas falhas e ilícitos que venha a co- DENÚNCIAS POR ERRO MÉDICO

meter no exercício profissional. Especialidade Frequência - n (%)


Ginecologia e Obstetrícia 37 (23,2%)
É indiscutível o desgaste e o crescente
Cirurgia Geral 14 (8,8%)
descrédito da profissão médica ent re
Anestesia 11 {6,9%)
a sociedade. Inquestionável. também.
Ortopedia 10 (6,3%)
a progressiva demanda de ações
Clínica Médica 8 {5,0%)
nos co nselhos de Medicina. buscan -
Outras 26 (16,4%)
do con denação por inf raçã o ética. e
Tabela 1. Especialidades mais frequentes nas denún-
no Judiciário. em busca de reparação cias de erro médico no CREMES segundo Bitencourt.
et ai
ERRO MÉDICO 23

Gráfico 1.
Tipos de atendimento mais freqüentes nas denúncias por erro médico.
A: urgência / emergência x eletivo;
B: cirúrgico x clínico;
C: público x privado.


O Urgência/Emergência (n- 71) Cirúrgico (n-97) Público (n• U>9)
o Eletivo (na68) • Clfniro (n.SO) • Privado (n 2:1)
• Nl!o ldentifi01do (n=20) • N!o ídcntificado (n•l2) • Nilo ídcntifi01do (n-23)

Figura 1. Tipos de atendimento mais frequentes na denúncia por erro médico no CREMES segundo Bitencourt, et al].
Fonte: BITENCOURT. Almir Galvão Vieira et ai . Análise do erro médico em processos ético-profiSSIOnais: implicações
na educação médica. Rev. bras. educ. med.. Rio de Janeiro. v. 31. n. 3. p. 223-228. Dec. 2007

Questiona-se. inicialmente. se há real profissional a se desdobrar. assumin -


aumento do erro médico ou se o fato do vários subempregos.
reflete. apenas. um aumento de re- Na realidade, não se pode negar que
gistro. fruto da maior conscientização as condições de trabalho impróprias
dos cidadãos em relação aos seus para o exercício da medicina. sem os
direitos. ajudada, ainda,pela maciça recursos humanos e materiais míni -
exposição da classe médica na mí- mos e indispensáveis para uma boa
dia que explora e hipertrofia as suas prática, são, infelizmente. encontra -
fa lhas. das na maioria dos casos. mesmo nas
Paralelamente. os órgãos corpora - capitais e. pior ainda, nos recantos
tivos da classe médica relacionam o longínquos dos interiores do Brasil.
aumento do ilícito profissional com a A falta de uma simples agulha de
deterioração marcante das condições sutura a material de assepsia e me-
de trabalho, a deficiente formação dicamentos básicos. evoluindo para
profissional, a proliferação exagerada os mais elementares exames labora-
e injustificada das escolas médicas toriais. dificulta e por vezes impede a
no Brasil e. sobremaneira. a proleta- atuação correta do médico. ferindo a
rização e consequente vi l remune - dignidade do doente. Por sua vez. o
ração do traba lho médico que leva o
ERRO MÉDICO 24

médico, sobremaneira proletarizado e ao dever de indenizar ou não, ou


submetido aos contratos de medicina seja, em que se debate a ocorrência
de grupo ou seguro de saúde. vê -se ou não ocorrência de erro médico a
impossibilitado de atuar com a au- ser reparado. Cumpre observar que
tonomia necessária ao seu bom de- é devida a reparação, ou melhor. é
sempenho. sendo limitado nos meios constatada a responsabilidade médi -
de diagnóstico e cura- e em determi- ca que faz surgir o dever de indenizar.
nadas circunstâncias, até obstado no somente na presença concomitante
tempo de internação necessário para de três pressupostos constitutivos:
a cura do paciente.
• CONDUTA: açao - ou om issão
cu lposa;
2. CONDUTA MÉDICA • NEXO DE CAUSALIDADE: liga-
ILÍCITA ção entre a conduta e o possível
Conforme tem se noticiado. nos cam - prejuízo (dano);
pos médico e jurídico tem-se verifica - • DANO: moral ou patrimonial - ne-
do no Brasil o aumento substancial cessariamente deverá ser efetivo.
de processos nos quais se discute a existente e verificável
responsabilidade de médicos quanto

OMISSÃO

Legenda: Elementos essenciais


da responsabilidade profissional

Conduta dolosa x culposa direcionadas a causar o dano) +


Culpa Stricto Sensu
A culpa é um elemento imprescindí-
vel quando se trata da responsabili- • Culpa Stricto Sensu [em sentido
dade profissional. Pode ser dividia em restrito] =Imprudência e/ou Impe-
duas classificações: rícia e/ou Negligência
• Culpa Latu Sensu [em sentido O Violação de um dever de
amplo] =Dolo (vontade e intenção cuidado que gera um dano
ERRO MÉDICO 25

previsível e evitável, confor-


me os padrões de comporta-
mento do homem médio

CONFIGURAÇÃO DA CONDUTA CULPOSA

< CONDUTA

CULPA LATU SENSU

Deste modo. a conduta culposa será rudimentares exigidos numa


caraterizada quando constatado uma profissão.
destas três vertentes:
• IMPRUDÊNCIA: Imprudente é o
• IMPERÍCIA: Caracteriza -se pela médico que ,age sem a cautela
fa lta de observação das normas. necessária. E aquele cujo ato ou
por despreparo prático ou por in- conduta são caracterizados pela
suficiência
,
de conhecimentos téc- intempestividade, precipitação,
nicos. E a carência de aptidão, insensatez ou inconsideração.
prática ou teórica, para o de-
• NEGLIGÊNCIA: Caracteriza-se
sempenho de uma tarefa téc-
pela inação, indolência, inércia,
nica. Chama-se ainda imperícia
passividade. É a falta de obser-
a incapacidade ou inabilitação
vância aos deveres
,
que as circuns-
para exercer determinado ofício,
tâncias exigem. E um ato omissivo.
por falta de habilidade ou pela
quando podendo agir, o médico
ausência dos conhecimentos -
nao age.
ERRO MÉDICO 26

SE LIGA! Para caracterização da condu- SE LIGA! Não se pode partir do pressu-


ta culposa não é necessária a presença posto que um médico (a) agiu com im-
concomitante destas três vertentes de perícia por não ter determinada especia-
culpa, basta uma delas para que o médi- lidade. Em regra. o médico (a) pode atuar
co(a) seja responsabilizado. em todas as áreas. não há legislação
que proíba a atuação. ele(a) só não pode
anunciar/publicar especialidade que não
possui.

CULPA STRICTU SENSU


IMPERÍCIA(AÇÃO) IMPRUDÊNCIA(AÇÃO) NEGLIGÊNCIA(OMISSÃO)
Falta de observância aos deveres que
Agir sem a cautela. Conduta
Carência de aptidão, prática as circunstâncias exigem. Ausência de
tomada com intempestivida-
ou teórica, para o desempe- conduta, inércia, passividade, displicên-
de, precipitação, insensatez ou
nho de uma tarefa técnica. cia, indiferença. Quando podendo agir, o
inconsideração.
médico não age.
Tabela 2. Definição teórica das modalidade de culpa

SEI? DEVO? FIZ?


IMPRUDÊNCIA SEI DEVO FIZ ERRADO
IMPERÍCIA NÃO SEI NÃO DEVO FIZ
NEGLIGÊNCIA SEI DEVO NÃO FIZ
Tabela 3. Modalidades de culpa na prática

3. RESPONSABILIDADE sej a, aquela decorrente de dano cau-


PROFISSIONAL - sado em função de ato doloso ou
SUBJETIVA E PESSOAL culposo - ou sej a, mediante análise
da culpa. O agente ca usa dor do dano
Dentro da estrut ura da res ponsabili-
- o médico - atua com a violação de
dade civil. a responsab ilidade profis-
um dever jurídico originário. nor-
sional méd ica se enquadra no âmbito
malmente de cuidado- agir com pe-
da responsabilidade subjetiva. qual
rícia, prudência e perícia.
ERRO MÉDICO 27

ELEMENTOS DA RESPONSABILIDADE SUBJETIVA

CONDUTA
AÇÃO/OMISSÃO
Dolosa ou culposa

OBRIGAÇÃO
(DEVER ORIG INÁRIO)

• Não causar dano ao paciente.


atendendo-o com zelo, cuid ado, CIVIL (Regida pelo Código
prudência, perlcia e diligência Civi l e Código de Defesa do
Consumidor)

PENAL (Regida pelo


Essa modalidade de responsabil iza- Código Penal)

çã o profissional é também consagra-


da no Código de Ética Médica que ÉTICO-ADMINISTRATIVA
(Perante os Conselhos de
assegura a responsabilidade subjeti - MedicinaRegida pelo Código
de Ética Médica)
va e personalíssima tanto no capítulo
dos princípios fundamentais quanto
no capítulo sobre responsabilidade
profissiona I. sempre pessoal e não pode ser
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS presumida.

XIX - O médico se respo nsabili-


zará, em caráter pessoal e nun- Sendo assim. a responsab il idade éti-
ca presumido, pelos seus atos ca do profissional da Medici na será
profissionais, resultantes de re- apurada sem exceção. com base nos
lação partic ular de confiança e d itames da responsabilidade subje-
executados com d iligência , com- tiva. com obrigação de caráter perso -
petência e prudência nalíssimo (onde não pode ser trans -
CAPÍTULO 3- RESPONSABI- ferida para quem quer que seja), de
LIDADE PROFISSIONAL culpa obrigatoriamente na modali-
, dade provada. Pelo menos no âm -
E vedado ao médico: Art. 1o
bito ético, jamais poderá o julgador
Causar dano ao paciente, por
(no caso os Conselheiros) presumir
ação ou omissão. caracterizá -
a culpa do médico denunciado - o
vel como imperícia. imprudência
que eventualmente ocorre no âmbi -
ou negligência. Parágrafo único.
to da justiça comum, onde se obser-
A responsabilidade médica é
va processos sendo iniciados com a
ERRO MÉDICO 28

antecipação da percepção de culpa da defesa de seus direitos, in-


do médico (culpa p resumida). clusive com a inversão do ônus
Em âmbito ético. qualquer alegação da prova, a seu favor, no pro-
cont ra o profiss ion al médico deverá cesso civil, quando, a critério
ser cabalmente comprovada pelo do juiz, for verossímil a alega-
autor da demanda, e essas provas ção ou quando for ele hipossu-
do autor devem englobar todos ficiente, segundo as regras or-
os elementos da responsabilidade dinárias de experiências;
subjetiva (conduta, dano, nexo de
causalidade e culpa) . Na impossi- A chama da inversão do ônus da pro -
bilidad e de prova de pelo menos um va ocorre. porta nto, pelo motivo de o
desses elementos o médico deverá ordenamento j uríd ico co nsumerist a
ser absolvido em âmbito ético. ident ifica r o paciente- cons umid or -
como a parte hipossuficiente da rela-
Culpa presumida e a inversão do ção, quer dizer. a parte mais "f rági l",
dever de provar não apenas no sentid o subjetivo, mas
também no sentid o de capacidade/
Conforme o art igo 3 73 do Código conhecimento técnico pa ra provar os
de Processo Civil, a regra geral. no fatos alegados.
processo civil, é que cabe ao autor
Tendo isso em vista , o processo se
provar o fato constitutivo de seu
inicia partindo do pressuposto q ue o
direito e ao réu provar a existência
médico é cu lpado, devendo ele com -
de fato impeditivo, modificativo ou
p rovar que não errou, ou seja, provar
extintivo de seu direito. Ou sej a, a
que agiu com prudência, perícia e dili -
regra geral é que cabe ao paciente -
gência. afinal. dife rente do paciente -
quem alega o erro médico - provar
con sumidor - , ele detém capacid ade
a sua ocorrência. Contudo, não é o
técnica para provar que agiu dentro
que comume nte se vê nos processos
dos preceitos da boa prática médica.
em que paciente e médicos figuram .
respectivament e. como auto r e réu. ·~--------------­

SE LIGA! Ressalte-se que a inversão do
Como m uit os d os Tribunais têm en -
ônus da prova não é a regra. ela pode
quadrad o a rel ação médico - paciente ocorrer mediante solicitação do pacien-
em uma relação de consumo, o que te o por ofício do próprio juiz. Para que
se observa no cu rso dos processos é ela ocorra, as alegações do paciente -
consumidor- devem ter um mínimo de
a aplicação do artigo 6° do Código de verossimilhança/coerência. Além disso,
Defesa do Con sumidor: durante a dilação probatória - fase do
processo de produção de provas, escu-
Art. 6° São direitos básicos do
ta de testemunhas. perícia, etc - essa
consum idor: V III - a facilitação percepção antecipada de culpa pode
~
ERRO MÉDICO 29

ser afastada. Por isso. ressalta-se ainda fatores. Por isso. na análise do supos-
mais a necessidade de registro de to-
das as condutas médicas em prontuário,
to erro médico. deve-se analisar mi-
a fim de que este possa servir de ins- nuciosamente se não houve a ocor-
trumento para afastar essa percepção rência de nenhum excludente dessa
de culpa. demonstrando que o médico relação de causa e efeito.
cumpriu com todos os deveres de con-
duta que lhes eram devidos.

Excludentes do nexo de
4. NEXO CAUSAL causalidade

O nexo de ca usalidade é a relação Est a relação deve se manter íntegra .


de causa e efeito entre a ação ou ou seja, não deve ser "interrom-
omissão do agente e o dano veri- pida" por nenhum outro fato que
ficado. O erro deve ser a origem do concorra para um resultado diver-
dano. Esta relação entre o erro e o so daquele que normalmente acon-
dano deve ser estabelecida. Não há teceria. Em geral, são eventos que
que se observar a mera superveniên - colaboram de maneira contundente
cia cronológica. mas sim um nexo ló- para o desfecho negativo. São eles:
gico de causalidade. Os artigos 186 • FATO EXCLUSIVO DA VÍTIMA: a
e 927 do Código Civil ressaltam esta conduta do paciente é determi-
relação. expressando. em ambos. o nante para o desfecho negativo
verbo "causar": do quadro. São situações em que
Art. 186. Aque le que. por ação o resultado adverso do tratamen -
ou omissão voluntária. negligên- to médico teve como ca usa odes-
cia ou imprudência, v iolar direito cumprimento às recomen dações
e causar dano a outrem, ainda sobre cuidados ou procedimentos
que exclusivame nte mora l. co - que seriam imprescindíveis e in-
mete ato ilícito. co ndicionais para a devida cura.
que vão desde uma alta por aban -
Art. 927. Aq uele que, por ato ilí-
dono a uma suspensão precoce de
cito ( arts. 186 e 187 ). causar
reméd ios, entre outros.
dano a outrem. fica obrigado a
repará - lo. Ex. Paciente que contraria as orien -
tações médicas pós cirúrgicas e
provoca a ruptura dos pontos.
Muitas vezes. entretanto, torna-se
difícil identificar o fato que constitui
a verdadeira causa do dano. Em ou -
tras, o dano não é decorrente de uma
só causa. mas res ultado de múltiplos
ERRO MÉDICO 30

mas. em verdade. elas advinham


LIGA! Não há que se falar em culpa de manobra realizada por seu
exclusiva do paciente quando o médi- fisioterapeuta.
co não cumpriu o dever de informar. Ex:
paciente que fez uma cirurgia nos seios • CASO FORTUITO OU FORÇA
e no pós-operatório não se abstém de MAIOR: Evento inevitável e/ou
dirigir. pois o médico não a orientou a fi -
car sem realizar aquela atividade por um imprevisível.
determinado período. Há clara respon-
sabilidade profissional por descumpri-
mento do dever de informar. Do mesmo Por fim. fica claro que. comprova da a
modo. quando um paciente compra um re sponsabilidade do paciente, ou de
remédio errado por conta da ilegibilida-
fato de terceiros. ou a ocorrência de
de da letra escrita pelo médico na receita
há responsa bilidade profissional. caso fort uito ou força maior. fica o
médico demandado isento de res-
ponsabilização, por conseguinte,
• FATO DE TERCEIRO: Condu - isento também do dever de repa-
ta adotada por uma terceira pes- ração dos danos. E. se o médico se
soa que é determinante para o julgar ofendido pelos danos patrimo-
desfecho. niais ou extrapatrimoniais causados
Ex: Paciente acusa médico cirur- pela falsa imputação. acreditamos
gião ortopédico pelas dores que que tem ele o direito de pleitear uma
passou a suportara pós a cirurgia indenização contra o paciente

EXCLUDENTES DO NEXO DE CAUSALIDADE

CULPA EXCLUSIVA DA
VÍTIMA

FATO DE TERCEIRO

CASO FORTUITO I
FORÇA MAIOR
ERRO MÉDICO 31

~
~
5. DANO EFETIVO z
z .. ~
~ -
~

,- CONCEITO! O dano é entend ido como


Não há, juridicamente, erro médi- a lesão - diminuição ou subtração - de
co sem dano ou agravo à saúde de qua lquer bem ou interesse jurídico.
terceiro. A falta do dano. que é da es- seja patrimonial ou moral. O dano pode
ser defin ido como a lesão (diminuição
sência e um dos pressupostos bási-
ou destruição) que, devido a um certo
cos do erro médico. descaracterizao evento, sofre uma pessoa, contra a sua
erro, inviabiliza o seu ressarcimen- vontade, em qualquer bem ou interesse
to e desconfigura a responsabilida- ju rídico, patrimon ial ou moral
de civil.

SE LIGA! É preciso que o dano seja efe-


tivo, não há que se fa lar em erro médico
em um contexto em que apenas se cogi-
te uma possível conduta danosa

ESPÉCIES DE DANO

EMERGENTES

Efetiva e imediata dimi nuição do patrimônio Danos mediatos e futuros ao patrimônio


do paciente da vítima. a perda daquilo que ele esperava
ganhar
ERRO MÉDICO 32

6. DANO PATRIMONIAL 7. DANO


EXTRAPATRIMONIAL
É o dano que atinge o patrimônio da
(MORAL)
vítima. a saber o conj unt o de re lações
jurídicas dos quais o sujeito participa Dano moral é a lesão sofrida pelo su -
- ., .
e que sao apree~ ave1s em pecun1a,
, .
jeito físico ou pessoa natural em seu
envolve uma noção de prejuízo finan - patrimônio ideal. ent endendo - se por
ce iro e diminuição de patrimônio. O patrimônio ideal. em contraposição
dano patrimonial pode ser de dois ti - a patrimônio material. o conjunto de
pos: emergentes e lucros cessantes. tudo aqu ilo que não seja suscetível de
va lor econômico
, ,&
Espécies: ~~·~
~ ~

,CONCEITO! lesão a um interesse que


• EMERGENTES: Efetiva e imedia- visa satisfação ou gozo de um bem ju -
ta diminuição do patrimônio do rídico extrapatrimonial contido nos direi-
tos da personalidade (vida. int egridade
paciente Ex: despesas médico- corporal. liberdade. honra. decoro. inti-
- hospitalares. medicamentos. ho- midade, sentimentos afetivos e a pró-
norários médicos. etc pria imagem) ou nos direitos da pessoa
(nome. capacidade. estado de família)".
• LUCROS CESSANT ES Danos Diferencia-o. outrossim, do dano moral
mediatos e futuros ao patrimô- indireto que envolve interesse não pa-
trimonial. como a perda de um bem de
nio da v ítim a, a perda daquilo valor afetivo.
que ele esperava ganhar
Ex: paciente taxista que, em vi r-
tude de erro médico, tem um pós A Constitu ição Federa l e o Código Ci-
operatório ma is longo do que o es - v il discip linam expressamente o direi -
perado, fica ndo assim impossibili- to a repa ração do dano moral:
ta do para o trabalho, deixa ndo de Constit uição Federal d e 1988
auferir rend a. Art. 5° Todos são iguais perante
a lei, sem distinção de qualquer
LIGA! Existem algumas condições natureza. garantindo-se aos bra-
para que um dano seja indenizável: o sileiros e aos estrangeiros resi -
prejuízo deve ser certo, atual, não du-
dentes no País a inviolabilidade
v idoso. Deve ser direto e consequência
imediata dos fatos imputados ao pro- do direito à vida, à liberdade. à
fissional. Deve ser especial. no sentido igualdade. à segurança e à pro -
de afetar individual e pessoalmente a priedade, nos termos seguintes:
pessoa que o invoca.
V- é assegurado o direito deres-
posta. proporcional ao agravo.
ERRO MÉDICO 33

além da indenização por dano


material, moral ou à imagem; SE LIGA! Tanto é considerado um dano
estético que a súmula 387 do Supe-
X - são invioláveis a intim idade, rior Tribunal de Ju stiça (STJ) aut oriza a
a vida priv ada, a honra e a im a- cumulação de indenizações: "É lícita a
gem das pessoas, assegurado o cumulação das indenizações de dano
direito a indenização pelo dano estético e dano mora l"

material ou moral deco rrente de


sua violação; 9. RESULTADOS
Código Civil ADVERSOS
Art. 186. Aq uele que, por ação A primeira coisa a ser ressaltada é
ou om issão volunt ária, negligên- que nem todo resultado adverso na
cia ou im prudênci a, violar direito assistência à saúde individual ou
e ca usar dano a outrem, ainda coletiva é sinônimo de erro médico.
que exclusivamente moral, co- A parti r dessa prem issa, deve- se co -
mete ato ilícito. meçar a desf azer o preconceito que
existe em torno dos resultados atíp i-
SE LIGA! Pela própria definição. deve- cos e indesej ados na relação profis -
- se ter em ment e que não há um meio sional entre médico e pacient e. Exi -
obj etivo de mensurar ou comprovar o ge-se muito dos médicos, mesmo
dano moral. Em razão do acentuado ca-
ráter subjetivo. os Tribunais entendem a
sabendo que sua ciência é inexat a e
comprovação do dano mora l in re ipsa, que sua obrigação é de meios e não
o que quer dizer que provado o fato que de resultad os.
supostamente o ensejou. provado est á o
dano moral A inda que a vida sej a um bem imen -
surável. a superva lorização desta
ciência não encontrou uma fórm u-
8. DANO ESTÉTICO la mágica e infalível. Por isso não se
H á quem cons idere o dano estético pode concordar com a alegação de
como uma espécie do dano moral, que t odo resultado infeliz e indese -
mas os Tri bunais têm entendido o jáv el sej a um erro méd ico. Com isso
dano estét ico como um da no autôno - não se quer nega r que o erro méd i-
mo e independent e, sendo ele qual- co exista. Ele existe e existe até mais
quer anomalia que a vít ima passe a do que se alega . São decorrentes de
ost entar no seu aspecto f ísico, decor- uma forma anômala e inadequada
rente de agressão á sua int egrid ade de conduta profissional, contrária à
pessoal lex artis e capaz de produzir danos
à vida ou à saúde do paciente por
imprudência ou negligência.
ERRO MÉD ICO 34

O que se quer afirmar é que além do -. a exemplo da ocorrência de erro


erro profissional existem outras cau- escusável, acidente imprevisível,
sas que favorecem o mau resulta- resultado incontrolável e iatrogenia
do, como as péssimas condições
de trabalho e a penúria dos meios
E LI GA! Esta ndo na esfera da licitude,
indispensáveis no tratamento das são eventos que ocorrem sem a per-
pessoas. Não deixa t ambém de ser cepção de culpa. Vale lembrar que para
mau resu ltado o fato de os pacientes percepção de culpa - ação ou omissão
- são necessários os requisitos de pre-
não terem leitos nos hospitais. não se - visibilidade e evitabilidade da condu-
rem atendidos nos ambulatórios por ta, ambos analisados conforme padrões
falta de profissionais ou não poderem de comportamento do "homem/médico
médio". Ausentes estes requisitos. não
comprar os remédios recomendados
há que se falar em culpa, por conseguin-
para sua assistência. te. nem em responsabilidade profissio-
Deste modo, além do erro médico- lo- nal ou dever de indenizar.

calizado na esfera da ilicitude-. pode-


-se falar de outros resultados adver-
sos -localizadas na esfera da licitu de
ERRO MÉDICO 35

: RESULTADOS ADVERSOS- DISTINÇÕES IMPORTANTES NO DIREITO MÉDICO


ERRO MÉDICO 36

Erro escusável posit iva, não há que se falar em con-


duta culposa do médico. mas sim em
Erro escusável não é denominação
conduta escusável.
tecnicamente adequada enquanto
referência às lesões previsíveis de-
correntes de ato médico praticado SE LIGA! O denominado "ERRO CRAS -
com correção e zelo. Erro é termi- SO" não se enquadra nesse contexto.
tendo em vista que o erro crasso é aque-
nologia que pressupõe falha, equí- le que que destoa do comportamento
voco, culpa. A "cond uta" escu sável, médio esperado por médicos que por-
portanto. é aquela que mesmo ge- ventura se encontrassem em contex-
tos semelhantes. ou seja, por analogia.
rando um dano, não enseja o dever
se outro médico estivesse na mesma
de reparação para o médico, tendo posição. com os conhecimentos que se
em vista {1) a imperfeição da ciên- espera que um médico tenha. com os
cia e a {2) falibilidade da medicina. recursos e ferramentas disponíveis na-
quele contexto, se esse médico - consi-
Não é considerado ato ilícito, como o derado pelos Tribunais como o "médico
erro médico. tendo em vista que na médio" - agisse de forma distinta, então
há que se falar de conduta ilícita - cul-
realidade existem lesões, previstas
posa-. gerando portando, o dever de
na literatura médica, que podem se indenizar.
materializar durante o tratamento
a despeito da experiência e zelo do
profissional, o qual não pode ser Acidente imprevisível
responsabilizado pelos limites da No acidente imprevisível há um resu l-
r • •
A •
propna c1enc1a. tado lesivo. supostamente oriundo de
caso fortu ito ou força maior, à integri -
O erro de diagnóstico dade fís ica ou psíquica do paciente
durante o ato médico ou em face dele.
É o erro profissional ou t écnico - de- porém incapaz de ser previst o e evi -
co rridos em ci rcunst ância que ense- tad o. não só pelo autor. mas por out ro
jam dúvidas reais, controvérsias na qualquer em seu lugar
p rópri a ciência médica. Não devem
ser compreendidos como cu lposos,
mediante a análise de que naquele Resultado incontrolável
idêntico contexto. com as ferramen- O resultado incontrolável seria aque-
tas e conhecimentos disponíveis. ou- le decorrente de uma situação grave
tro médico também poderia incorrer e de curso inevitável. Ou seja, aque -
com a mesma conduta. que também le resultado danoso proveniente de
poderia se equivocar no diagnóstico. sua própria evolução. para o qual
Se a resposta para esta análise for as condições atuais da ciência e a
ERRO MÉDICO 37

capacidade profissional ainda não 10. TEORIA DA PERDA DE


oferecem solução. Por isso. o médico UMA CHANCE
tem com o paciente uma "obrigação
O conceito de perda de uma chance
de meios" e não uma "obrigação de
(perte d'une chance) envolve erro no
resultados". Ele assume um compro-
atuar médico por ação ou omissão,
misso de prestar meios adequados.
fazendo com que o paciente perca.
de agir com diligência e de usar seus
efetivamente. a chance de eliminação
conhecimentos na busca de um êxito
do sofrimento desnecessário ou, ain-
favorável, o qual nem sempre é certo.
da. a chance de retardar a morte com
preservação ra zoável da qualidade
latrogenia de vida. Se é verdade que a noção
de perda de uma chance se liga a de
latrogenia pode ser definida com o
prejuízo. ela é também inseparável da
uma síndrome não punível. caracteri -
condição de nexo de causalidade.
zada por dano inculpável. no corpo ou
na saúde do paciente. consequente A demora na solicitação de exames
de uma aplicação terapêutica. isenta específicos para o diagnóstico. como
de responsabilidade profissional - ou a punção liquórica 22 num caso de
seja, não gera o dever de indenizar. meningite 23, retardaria a possibi -
São manifestações- consequência s- lidade de um diagnóstico precoce e.
decorrentes do emprego de medica- muitas vezes, haveria a perda de uma
mentos em geral, atos cirúrgicos ou chance de cura. A ausência fa ltosa do
quaisquer processos, de tratamento médico ao parto, por exemplo, poderá
fe itos pelo médico. E o dano previ- privar a criança da chance de nascer
sível e necessário, que tem como sem uma deformação.
pressuposto a vontade do médico A não solicitação de um exame de ru-
dirigida a um determinado resulta- béola durante o exame pré-nupcial,
do, o qual só poderá ser alcançado por sua vez, a privará da chance de
através do procedimento técnico evitar as consequências da rubéo la
recomendado. congênita 2 4. O dano não poderá ser
totalmente estranho à chance per-
dida e a perda de uma chance não
poderá ser puramente hipotética.
ERRO MÉDICO 38

CONFIGURANDO A TEORIA DA PERDA DE UMA CHANCE

PERDA DE RESULTADO
ESPERADO COM
BENEFÍCIO CERTO

RESULTADO PERDIDO

PLAUSIBILIDADE E
RAZOABILI DADE

A teoria da perd a de uma chance é de {perda de uma chance de evitar um


origem francesa e no Brasil pode ser prejuízo ocorrido}
identificada com a configuração dos Essa situação requer:
seguintes contextos:
A) Processo efetivamente em curso
1} Interrupção, por conduta ilícita,
de processo de obtenção de algo B) Haver possibilidade de interrupção
benéfico no futuro Em med icina, juri dicamente. cha -
Aqui a reparação feita não será relativa ma-se este cont exto de "perda de
à integralidade do que se esperava, mas chance de cura ou sobrevivência".
sim proporcional à perda promovida. Para caracteri zação desta situação
Uma parte da doutrina afirma que essa e consequente dever de reparação,
reparação só pode ser devida quando pergunta-se: Qual a chance séria e
supera 50% da chance perdida, mas o rea l de result ado favoráve l ao trata-
entendimento majoritário discorda des- mento? Qual a chance de sucesso
se percentual, valendo a aplicação inde- terapêutico? Provado que à época
pendente do percentual verificado existiam altas chances de interrom-
per aquele processo de doença, que
poderia evitar um prejuízo já ocorrido,
SE LIGA! Circunstância diversa daque- haverá responsabilidade profissional,
la que ocorre quando falamos de lucros
cessantes. Aqui a indenização não é
por conseguinte. o dever de indenizar
pela vantagem perdida. mas sim pela
perda da possibilidade de conseguir a
vantagem. SE LIGA! Para configuração de ambas
as situações - 1 e 2 -. é necessário que
se tenha uma estatística segura. assim
como a comprovação da culpa médica.
2} Não interrupção, por conduta o que é geralmente é demonstrado pelo
ilícita, de processo desfavorável perito no curso do processo, especifica-
mente na fase de produção de prova
ERRO MÉDICO 39

REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
BITENCOURT, Almir Galvão Vieira et ai . Análise do erro médico em processos ético-profis-
sionais: implicações na educação médica. Rev. bras. educ. med .. Rio de Janeiro . v. 3 1. n. 3.
p.223 - 228.Dec 2007
Erro médico e responsab ilidade civil I Fernando Gomes Correia- Lima. - Brasília: Conselho
Federal de Medicina. Conselho Reg ional de Medicina do Estado do Piauí. 20 12.92 p.

VASCONCELOS C. Responsabilidade médica e judicialização na relação médico paciente.


Rev. Bioét. (lmpr.) 20 12: 20 (3): 389-96

VASCONCELOS. Cami la. Judicialização da Medicina no Brasil: um a análi se crítico propositiva


de um problema persistente sob a ótica da Bioética de Intervenção. 20 17. 155f. Tese (Dou-
torado em Bioética)- Universidade de Brasília, Brasíl ia. 20 17.

FRANÇA Genival. Direito médico- 15. ed. - Rio de Janei ro: Forense. 2019
Código de Ética Médica: Resolução CFM no 2.2 17. de 27 de setembro de 20 18. modificada
pelas Resoluções CFM n° 2.22212018 e 2.22612019 I Conselho Federal de Medicina - Bra-
sília: Conselho Federa l de Medicina . 2019.
GAGLIANO. Pablo Stolze: PAM PLONA.Rodolfo. Manual de direito civil volume único. São
Pa ulo: Sara iva. 20 18
ÉTICA MÉDICA, BIOÉTICA,
,
DIREITO MEDICO
ÉTICA MÉDICA, BIOÉTICA, D IREITO MÉDICO 42

1. HISTÓRICO do exercício da cidadania. a exigir o


compartilhamento de decisões com
Todas as profissões estão subme- ,
os pacientes e/ou seus responsa-
t idas ao controle da conduta mora l veis legais. A habilitação e a com pe -
de quem as exerce. em gera l. sob a tência passaram a ser uma exlgen-. "
forma de códigos ético- profissionais,
cia para o exercício da profissão. De
que são constituídos por um conjun- nada mais adiantavam as virtudes
to de regras que explicitam direitos da compaixão, o afeto e a tolerân-
e deveres. Ao buscar suas origens,
cia do médico, sem o desenvolvi-
pode - se dizer que o Código de Ética mento da habilidade e atualização
Médica resu lta de uma seleção his- dos seus conhecimentos junto aos
tórica de regras de comportamento
avanços da ciência.
moral, que se mostram. com o trans-
correr do tempo, eficazes e necessá- Neste sentido. a ética médica con-
rias para regular a profissão médica. temporânea vai se ajustando aos an-
ao assegurar uma prestação eficiente seios da sociedade. tendo mais signi-
de serviços profissionais. com o obje- ficação nos dilemas e nas demandas
t ivo maior de servir ao ser humano e de uma moralidade fora de sua tra-
à coletividade. dição. Os va lores sociais e cultu ra is
que a socieda de assimila e necessita
O regramento ético da Medicina per- passam a ajustas o ato profissional
maneceu por mais de dois mil anos
do médico. tendo o conceito de éti-
sob a influência do chamado período
ca uma tendência a se adapta a um
hipocrático. submetido aos rigores modelo de profissionalização que
da tradição e das influências religio - vai sendo ditado por outras pesso-
sas. A virtude e a prudência eram
as, não médicas.
elementos a balizar o agir ético-
-profissional . Era prevalente o princí-
pio de que acima de tudo se deveria 2. ÉTICA MÉDICA,
provar o médico um bom homem. BIOÉTICA E DIREITO
A Teoria das virtudes. base do corpus MÉDICO
hipocraticum . inspirou a ética médica. . " .
Apesar de parecerem s1non1mos. a
com especial realce no Juramento.
Ética Médica. a Bioética e o Direito
A partir da segunda metade do sécu- Médico são campos de estudos dis-
lo XX a profissão médica começou a tintos. Va le ressaltar que na prática
perder os vínculos com a ética clás- médica, todos eles têm aplicação e
sica. O paternalismo perdeu força, ao funciona lidade. devendo ser observa-
ceder espaço para outras profissões dos como campos complementares.
da área da saúde e como decorrência Conhecer os princípios da Bioética.
ÉTICA MÉDICA, BIOÉTICA, DIREITO MÉDICO 43

bem como os fundamentos da Ética Médico - quando eventualment e ne-


Médica e todos os aspectos teóricos cessário. Para melhor compreensão.
desses dois campos é de grande im- faz- se necessário o delineamento de
portância para guiar condutas e el a- cada uma dessas áreas:
borar a defesas no campo do Direito

ÉTICA MÉDICA, BIOÉTICA E DIREITO MÉDICO

DIREITO MÉDICO

ÉTICA MÉDICA BIOÉTICA

Figura 1: Complementaridade dos campos de estudo na prática médica

,
Etica Médica p ráti ca. reflete-se como o dever de
' máximo respeito ao paciente e ao
A Eti ca Médica diz res peito aos as-
exercício da medicina.
pectos comportamentais que um
médico deve adotar no exercício
de sua profissão. Ao passo que traz Bioética
elementos normativos. regu lando
as condutas. prescrevendo possíveis Está no campo da filosofia aplicada.
sanções - pena lidades-, para o des- refere-se ao comportamento ou con-
cumprimento destas. a Etica Médica duta do homem em relação à vid a. ela
também tem uma perspectiva prin- designa uma "ética aplicada à vida".
cipiológica, que exige do profi ssional uma ética para as ciências da vida.
da medicina uma visão humanística p articularmente atenta aos princípios
das relações que estabelece com seus fundamentadores do agir humano
pacientes. fam il iares dos pacientes e e sem descurar uma função normat i-
até mesmo colegas de profi ssão. Na va que é sua também.
ÉTICA MÉDICA, BIOÉTICA, DIREITO MÉDICO 44

Direito Médico médico - paciente deságua nos Tribu-


,
nais ou até mesmo no Conselho Re-
E o ramo do Direito que busca com -
gional de Medicina, a técnica jurídica
preender a dimensão do direito fun-
ou a técnica biologicista, argumen-
damental à saúde e suas implicações
tadas de forma pura e isolada, não
sociais e jurídicas, estudando a in-
bastam. Deve-se tem em mente que
f luência da Biotecnologia na área de
o que mais honra a prática médica é
saúde e seus reflexos sobre o Direito
' o respeito que o médico demons-
além d a defesa dos profissionais da
tra ao seu ofício e principalmente
área de saúde e d a promoção do Di-
ao seu paciente, evidenciando assim
reito à saúde.
, que o médico compreende os aspec-
E necessário ente nder que quan- tos humanísticos das normas que
do um conf lito originado na relação regulam sua profissão.

'
MODELO BIOLOGICISTA MODELO HUMANISTA

X
Figura 2: Quadro comparativo - modelo humanista x biologicista

3. NOVO CÓDIGO DE pelo próprio co rpo de con selheiros


ÉTICA MÉDICA do CFM, pelos Conselhos Regionais
de Medicina. pelas demais entidades
O Conselho Federal de Medici-
médicas, por instituições científicas
na publico u a Resoluçã o CFM no
e universitárias e pelos médicos em
2.2 17/ 20 18, no Diário Oficial da
geral.
União em 1o de novembro de 20 18'
gue estabeleceu o novo Código de Conf orme o inciso VI, constante no
Etica Médica (CEM), trazendo inova- Preâmbulo - parte introdutória - do
ções com relação à versão anterior (de Código de Ética Médica, este é com -
2009), decorrentes de propostas for- posto por:
muladas no período de 2016 a 20 18
ÉTICA MÉDICA, BIOÉTICA, DIREITO MÉDICO 45

CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA

04 DISPOSIÇÕES GERAIS

11 NORMAS
26 PRINCÍPIOS
DICEOLÓGICAS

Figura 1: Composição Geral do Código de Ética Médica

• 26 princípios fundamentais do • CapítuloVII- Relaçãoentremédicos


exercício da medicina
• Capítulo V III- Remuneração
• 11 normas diceológicas [Conjunto Profissional
de direitos profissionais]
• Capítulo IX - Sigilo profissional
• 117 normas deontológicas [Con- • Capítulo X - Documentos Médicos
junto de deveres profissionais]
• Capítulo XI - Audito ria e perícia
• 04 disposições gerais
médica
• Capít ulo XI I- Ensino e Pesquisa
• Capítuloi - PrincípiosFundamenta is Médica
• Capítulo 11- Direitos dos Méd icos • Capítu lo XIII - Publicidade Médica
• Capítulo 11 1- Responsabili dade • Capítulo XIV- Disposições gerais
profissional
• Capítu lo IV- Direitos Humanos
• Capítulo V- Relações com pacien-
tes e familiares
• Capítulo V I- Doação e transplante
de órgãos e tecidos
ÉTICA MÉDICA, BIOÉTICA , DIREITO MÉDICO 46

SE LIGA! O que faz um médico ser pro-


cessado no conselho? Apenas às nor-
mas deontológicas há possível impo-
sição de pena disciplinar em caso de
descumprimento. Quando é feita uma
denúncia no Conselho, os Conselheiros
avaliam as sindicâncias e quando ela é
convertida em Processo Ético Profissio -
nal. eles colocam ali as capitulações que
porventura tenham sido descumpridas
pelos médicos.

CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA

Capítulo VIII - Remuneração


Capítulo I- Princípios Fundamentais
Profissional

Capítulo 11 - Direitos dos Médicos Capítulo IX - Sigilo profissional

Capítulo 111 - Responsabilidade


Capítulo X - Documentos Médicos
profissional

Capítulo XI - Auditoria e
Capítulo IV - Direitos Humanos
perícia médica

Capítulo V - Relações Capítulo XII - Ensino e


com pacientes e familiares Pesquisa Médica

Capítulo VI - Doação e
Capítulo XIII - Publicidade Médica
transplante de órgãos e tecidos

Capítulo VIl - Relação entre médicos Capítulo XIV - Disposições gerais

Figura 2: Composição Específica do Código de Ética Médica


ÉTICA MÉDICA, BIOÉTICA, DIREITO MÉDICO 47

4. PRINCÍPIOS Medicina defensiva: pedir tudo para


FUNDAMENTAIS DO todos de forma indistinta. Isso é per-
CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA nicioso e bastante oneroso. Vai mui-
to mais além. Para cada caso, deve
Existem 26 princípios fundamentais
o médico atender de forma huma-
que possuem a finalidade de dar su -
nizada e particularizada, selecio-
porte vital a todas as normas éticas já
nando para cada situação, todas
editadas ou a serem futuramente es -
as medidas que entender válidas
critas. São eles:
para esclarecimento do que está
I - A med icina é uma profissão a ocorrendo.
serviço da sa úde do ser humano
Do contrário. ainda que aja através
e da coletividade e será exercida
da Medicina defensiva, estará bem
sem discriminação de nenhuma
aquém do que se poderia chamar de
natureza.
conduta zelosa e certamente uti liza n-
11 - O alvo de toda a atenção do do bem menos de sua capacidade
médico é a saúde do ser humano, profissional. desrespeitar um ditame
em benefício da qual deverá agir ético principiológico.
com o máximo de zelo e o melhor , :.&:.
~ ~~
de sua capacidade profissional
~ ~ONCEITO! A medicina defensiva, na
111 - Para exercer a medicina com prática, se caracteriza pela utilização
honra e dignidade, o médico ne- exagerada de exames complementares,
uso de procedimentos terapêuticos su-
cessita ter boas condições de tra- postamente mais seguros. encaminha-
balho e ser remunerado de forma mento frequente de pacientes a outros
j ust a. especialistas e a recusa ao atendimento
de pacientes graves e com maior pot en-
IV - Ao médico cabe zelar e tra- cial de complicações.
ba lhar pelo perfeito desempe-
nho ético da medicina. bem como
pelo prestígio e bom conceito d a V - Compete ao médico aprimorar
profissão. continuamente seus conhecimen -
tos e usar o melhor do progresso
científico em benefício do paciente
Zelar significa se empenhar. cuidar. e da sociedade.
ter interesse. Tais conceitos passam
pela utilização de todos os métodos
reconhecidos como cientificamente Com base na utilização da lex artis
válidos para auxiliar o paciente, in- (arte da profissão). cada profissional
cluindo condutas diagnósticas e de médico possui o indissociável dever
tratamento. Não se trata de utilizar a de se dedicar da melhor maneira,
ÉTI CA MÉDI CA , BIOÉTICA , D IREITO MÉDICO 48

disponibilizando ao seu paciente o


máximo de seus conhecimentos in- SE LI GA! Este texto consagra de forma
telectuais e suas habilidades técni- explícita dois dos quatro princípios da
bioética. no caso a beneficência e a não
cas. utilizando-se, ainda. de todos os
maleficência.
recursos necessários e disponíveis
para beneficiar seus assistidos.
VI - O médico guardará absoluto VIl - O médico exercerá sua pro -
respeito pelo ser humano e atuará fissão com autonomia. não sen-
sempre em seu benefício. mesmo do obrigado a prestar serviços
depois da morte. Jama is uti lizará que contrariem os ditames de sua
." .
co n se~ene~ a ou a quem não desej e,
seus conheci mentos para causar
sofrimento fís ico ou moral. para o excetuadas as situações de ausên -
extermínio do ser humano ou para cia de outro médico, em caso de
A • A •

permitir e acobertar tentativas con- urgenCia ou emergenCia, ou quan -


tra sua dignidade e integridade. do sua recusa possa trazer danos à
saúde do paciente.

Guardar sig nifica "conservar para o


fim que se destina". "acompanhar A relação médico - paciente deve ob -
para proteger". "não infringir". Por servar sempre a autonomia do pa -
sua vez. absoluto respeito se refere ciente em suas decisões. deliberan-
ao fato de que honrar o ser huma- do conjuntamente com o médico ou
no, ter apreço e consideração pela até mesmo recusando alguma forma
vida, pela saúde e pela integrida- de intervenção. Por outro lado. existe
de física, psíquica e social de cada também a autonomia do profissiona l
paciente é situação inquestionável médico. que pode se recusar a aten-
que não comporta nenhum tipo de der. sa lvo em situa ções especiais e
limitação ou restrição. taxativas.

Respeitar o ser humano em todas as A autonomia é um dos basilares prin-


suas particularidades é mandatário cípios da bioética e para o médico
para cada médico, em cada segundo significa a liberdade de decidir, em
de sua vida profissiona l. sendo ina - última instância técnica, de for-
ceitável qualquer atentado, sob qual- ma correta, livre e consciente, qual
quer pretexto. à dignidade da pes soa a conduta a ser tomada. Por meio
do paciente. deste princípio. se assegura ao mé-
dico se recusar a prestar seus ser-
viços quando estes contrariem os
ditames de sua consciência.
ÉTICA MÉDICA, BIOÉTICA, DIREITO MÉDICO 49

Pode -se exemplifica r est a situação O sigilo médico, enquanto direito


como aquela em que o médico se do paciente e dever do médico, é o
recusa a iniciar/continuar um trata- guardião da liberdade e da relação
mento. que segundo ele, possa haver de confiança que deve existir entre
necessidade de transfusões sanguí- o médico e o paciente. O médico, por
neas e o pacient e. Testemunha de força invencível inerent e à sua ativi -
Jeová, terminantemente rejeite esse dade profissional, se torna um confi-
proced imento. dente necessá rio do seu assistido, fi -
cando, port anto, obrigado a guardar
sigilo sobre toda e qualquer infor-
SE LIGA! De forma t axativa. e não como
meras situações exemplificat ivas, deve mação que obtiver em decorrência
o médico obrigatoriamente prestar de sua atuação médica.
seus serviços sempre que ocorram pelo
menos uma das seguint es situações: A) O segredo é uma das manifestações
ausência de outro médico 8) caso de da fidelidade interpessoa l nas rela -
urgência ou emergência C) quando ções humanas e profissionais. not a-
sua recusa possa trazer danos à saú-
de do paciente.
dament e na relação médico - paciente.
O fundamento para sua manuten -
ção assenta -se no princípio cons-
VIII - O médico não pode, em ne- titucional da Dignidade da Pessoa
nhuma circunstância ou sob ne- Humana
nhum pretexto, re nunciar à sua li- XII - O médico empenh ar- se -á
berdade profissiona l, nem permiti r pela melhor adequação do traba -
quaisquer restrições ou imposições lho ao ser humano. pela eliminação
que possam prejudica r a eficiência e pelo cont ro le dos riscos à saúde
e a co rreção de seu traba lho. inerentes às atividades laborais.
IX - A med icina não pode, em ne- XIII - O médico comun ica rá às au-
nhuma circunstância ou forma. ser toridades competentes quaisquer
exercida como comércio. formas de det erioração do ecossis-
X - O traba lho do médico não pode tema. prej udiciais à saúde e à vida.
ser explorado por terceiros com XIV - O médico empenh ar- se -á
objetivos de lucro. fina lidade políti- em melhorar os padrões dos servi -
ca ou religiosa. ços médicos e em assumir sua res -
XI - O médico guardará sigilo a ponsabilidade em relação à saúde
respeito das informações de que pública, à educação sanitária e à
detenha conhecimento no desem- legislação referente à saúde.
penho de suas funções, com exce - XV - O méd ico será solidário
ção dos casos previstos em lei. com os movimentos de defesa da
ÉTICA MÉDICA, BIOÉTICA, DIREITO MÉDICO 50

dignidade profissional. sej a por responsabilidade subjetiva, com


remuneração digna e justa. sej a obrigação de caráter person alíssimo
por condições de trabalho com - (onde não pode ser transferida para
patíveis com o exercício ético- quem q uer que seja). de culpa obri g a-
-profissional da medicina e seu tori amente na modalidade provada.
aprimoramento técnico - científico. Pelo menos no âmbito ético. jamais
XVI - Nenhuma disposição estatu - poderá o julgador (no caso os Con-
tária ou regimenta l de hospital ou selheiros) presumir a culpa do mé-
de institu ição. pública ou privada. dico denunciado.
limitará a escolha. pelo médico. dos Em âmbito ét ico. qualquer alegação
meios cientifica mente reconheci- contra o profi ssional méd ico deverá
dos a serem praticados pa ra esta- ser cabalmente comprovada pelo
belecer o diagnósti co e executar o autor da demanda, e essas provas
t ratamento. salvo quan do em be - do autor devem englobar todos
nef ício do paciente. os elementos da responsabilidade
XVII - As relações do médico com subjetiva (conduta, dano, nexo de
os demais profissionais d evem causalidade e culpa) . Na impossi-
basear- se no respeito mútuo. na bilidade de prova de pelo menos um
liberdade e na independência d e desses elementos o médico deverá
cada um. buscando sempre o inte- ser absolvido em âmbito ético.
resse e o bem - estar do paciente Deve - se destacar ainda , que o inciso
XVIII - O médico te rá. p ara com prevê que a responsabilidade ética
os colegas. respeito. consideração do médico deverá ser apreciada ex-
e solid ari ed ade. sem se eximir de clusivamente pelos atos profissio-
denunciar atos que contrariem os nais (méd icos). decorrentes da rela-
postu lados éticos. ção médico paciente entre o méd ico
XIX - O médico se responsabili- e seu assistido.
zará . em caráter pessoal e nunca XX - A natureza persona líssima da
presumido. pelos seus ato s pro - at uação profissional do médico não
fissionais. resultant es de relação ca racteriza relação de con su mo.
particular de confiança e executa- XXI - No processo de tomada de
dos com diligência. competênci a e decisões profissionais. de acordo
prudência com seus ditames de consciên-
ci a e as previsões legais, o médico
A responsabi lidade ética do profi s- aceitará as escolhas de seus pa-
sional da Medicina será apura da sem cientes relativas aos procedimen-
exceção. com base nos ditames d a t os diagnósticos e tera pêuticos por
ÉTICA MÉDICA, BIOÉTICA, DIREITO MÉDICO 51

eles expressos. desde que ade - benefício para os pacientes e para


quadas ao caso e cientificamente a sociedade.
reconhecidas. XXIV - Sempre que participar de
pesquisas envolvendo seres hu-
A relação médico-paciente é possui- manos ou qualquer animal. o mé-
dora d e elementos indispen sávei s dico respeitará as normas ética s
t ais como confiança e a cooperação nacionais, bem como protegerá
mútua. mas é de direito que a con- a vu lnerabilidade dos sujeit os da
vivência entre assistido e assisten- pesqu1sa.
te observe sempre a autonomia do XXV - Na aplicação dos con heci-
paciente em suas decisões, per- mentos cri ados pelas novas tec-
mitindo-se que o doente decida nologias. cons iderando-se suas
conjuntamente com o médico, as- repercussões tanto nas g erações
segurando-lhe até mesmo o di- presentes quanto nas f uturas. o
reito de recusar alguma forma de médico zelará para que as pessoas
intervenção não sejam discriminadas por ne-
A autonomia talvez seja o principal nhuma razão vinculada à herança
princípio da bioética. justamente por genética. protegendo-as em su a
estabelecer a ligação entre a conduta dignidade. identidade e integridade.
profissional e a Dignidade d a Pessoa XXVI - A medicina será exercid a
H umana do paciente. Resguarda a com a uti lização dos meios técni-
liberdade do assistido para decidir, cos e científicos disponíveis que v i-
em última instância, de forma in- sem aos melhores resulta dos.
formada, livre e consciente, qual a
conduta a ser tomada.
5. BIOÉTICA E PRINCÍPIOS
XXII - Nas sit uações clínicas irre- TEÓRICOS
versíveis e term inais. o médico evi-
tará a real ização de procedimentos O termo "Bioética" surgiu pela primei-
diagnósticos e tera pêuticos desne- ra vez nos Estados Unidos. em 197 1.
, . , .
cessanos e prop1c1ara aos paCien - e sob a mão de Van Renssealer Pot-
tes sob sua atenção todos os cui - ter. um investigador da área da onco -
dados paliativos apropriados. logia de 1971, em Madison. Universi-
dade de Wisconsin. Ele forja o t ermo
XXIII - Quando envolvido na pro-
"Bioética" par designar uma nova dis-
dução de conhecimento científi -
ciplina que combina o conhecimento
co. o médico agirá com isençã o.
biológico com o conhecimento dos
independência, veracidade e ho -
valores humanos. "Bioética" designa
nesti dade. com vist a ao maior
ÉTICA MÉDICA, BIOÉTICA, DIREITO MÉDICO 52

então uma disciplina que recorre às princípios. embora facilmente identi-


ciências biológicas para melhorar ficados em suas características. não
a qualidade de vida do ser huma- possuíam um caráter autônomo ou
no. no sentido em que permite ao ho- absoluto; nenhum possui precedên-
mem participar na evolução biológica. ci a ou hierarquia sobre o outro. No
preservando a harmonia universal. seu conjunto - inter e transdisciplinar
.
- servem como regras gera1s para
Apesar de efetivamente o termo ter
sido cunhado em meados da déca- orientar a tomada de decisão, fren-
da de 70. co nvém pontua r que des- te aos problemas éticos e ainda se
de a década de 50. com os eventos prestam a ordenar as discussões
sociais, políticos e econômicos que de cada caso. São eles:
, \ I • , •
ocornam a epoca. 1n1c1ava-se o ques-
tionam ento acerca do uso dos recur- Respeito a Autonomia
sos natu rai s, bem como dos limites
tecno-científicos das ações humanas O princípio de respeito à autonomia.
e acesso a assistência em saúd e. derivado direto do princípio constitu -
cional da Dignidade da Pessoa Hu-
Nesse contexto. observou-se o acir-
mana. se refere a capacidade de o
ramento entre os avanços científicos
paciente conhecer, buscar e decidir
tecnológicos e o respeito à dignidade
tudo aquilo que julga ser o melhor
do ser humano. Com o intuito de evi-
para si mesmo. Para que ela possa
tar que o sujeito se tornasse um obje-
exercer esta autodeterminação são
to no curso galopante das evoluções
necessárias duas cond ições f unda-
tecnológ icas. diversos cód igos de
mentais do assisti do: capacidade
conduta foram criados elencando to -
jurídica para agir, compreendendo
dos os direitos humanos a serem res-
da fo rma ma is completa possível as
peit ados. são alguns deles: Cód igo de
informações que lhe foram passada s,
Nuremberg (1947); Declaração Uni-
inclus ive englobando cada alternativa
versa l dos Direitos Humanos (1948);
que lhe for apresentada e ainda, li-
Relató rio Belmont (1978)
berdade de vontade. permitindo que
Em 1979, os americanos Tom L. Be- decida o melhor para si. sem qual-
auchamp e James F. Childress pu- quer interferência externa.
blicam um livro chamado "Principies
Permite este princípio que cada pa-
of Biomedical Ethics". onde expu se-
ciente tenha seus próprios pontos
ram uma teoria embasada em qua-
de vista e opiniões. fazendo escolhas
tro princípios básicos - respeito à
autônomas. livres conscientes e inde-
autonomia, justiça não maleficên-
pendentes. agindo apenas segundo
cia e beneficência. Cada um desses
seus valores e convicções. Na prática
ÉTICA MÉD ICA, BIOÉTICA, DIREITO MÉDICO 53

assistencial , é a observância a este Não maleficência


princípio que embasa a relação mé-
Determina que o profissional de saú-
dico- paciente e o consentimento
de. no caso o médico, tem o dever
informado e esclarecido, para a re-
de intencionalmente. abster-se de
alização de qualquer tipo de pro-
causar qualquer tipo dano (moral,
cedimento preventivo, diagnóstico,
material, estético, à imagem, físi-,
terapêutico ou experimental.
co ou psíquico) ao seu paciente. E
Para que seja válido o consenti men- considerado pelos estudiosos como o
to dado pelo paciente. o princípio da pri ncípio fundamental da ética médi-
autonomia obriga o médico a dar ao ca. Jurid icamente este preceito possui
paciente a mais completa e aces- sua versão em latim - primum non
sível informação possível. com o nocere - q ue sig nifica não prejudicar.
intu ito de promover uma compreen - Reflete o mínimo ético do dever pro -
são adequada da situação e. assim, fissiona l. q ue. se não cumprido, expõe
permitir a tomada de decisão do as- o médico a demandas éticas e jurídi-
sistido, que na maioria dos casos terá cas por suposta má - prática.
A • • I •
consequenCi as 1rrevers1ve1s.
Respeitar a autonomia significa ~ ~--------------
auxiliar o paciente, estimulando x === HORA DA REVISÃO!
sua independência, e ensinando-o Obrigação de não causar dano intencio-
a hierarquizar seus valores e pre- nalmente. além de não prejudicar. abs-
tendo-se de impedir a real ização dos
ferências, para que possa discutir interesses de outras pessoas.
cada conduta médica sugerida.
, o;&
.~ ·~~

~ ,CONCEITO! Autonomia é a capacidade


Beneficência
do sujeit o se autogoverna r. de se auto Enq uanto o princípio anterior tem uma
atribuir normas. para além da perspecti-
natureza de abstenção (se abster de
va juríd ica. Auto = "de si mesmo" Nomos
= "normas. lei" ca usa mal ao paciente), este é asso -
ciado à excelência profissional. signi-
v=== tã

~ ~ORA
ficando uma atitude de ação, de fa-
DA REVISÃO! zer o bem, de agir para beneficiar
Características essenciais: 1- Que o su- o assistido. Significa fazer o que é
jeito possua liberdade contra interferên- melhor para o paciente, não só do
cia de outras pessoas; 2- Que não sofra li- ponto de vista técnico-assistencial,
mitações pessoais em sua compreensão
mas também do ponto de vista éti-
Em síntese: a) Liberdade para tomada
de decisão; b) Ausência de qualquer es- co. É utilizar todos os conhecimentos e
pécie de coação habilidades profissionais, a serviço do
bem - estar do paciente. considerando
ÉTICA MÉDICA, BIOÉTICA, DIREITO MÉDICO 54

a minimização dos riscos e a má- lato que abarca ações em geral que
xima otimização dos benefícios do pretendem o benefício. Utilidade:
procedimento proposto. Aval iação ent re os benefícios e des-
O princípio da beneficência obriga vant agens que porvent ura senam
o profissional de saúde a ir mu ito à causados através do ato]
frente da mera não maleficência (não
causar danos intencionais). Exige- se Justiça
uma efetiva contribuição para o
bem-estar dos pacientes, promo- O Princípio de Just iça, segundo pilar
vendo ações iniciais para prevenir da Bioét ica, está associado de forma
ou remover o dano, ou o risco ao prepondera nte com as relações equi-
dano. É diretamente relacionado com tativas ent re grupos sociais, preocu -
a dicotomia que envolve benefícios pando-se com a correta e justa dis-
versus ri scos/custos. tribuição quantitativa e qualitativa
de bens e recursos comuns, igua-
Beneficência Posit iva: a promoçao
lando ao máximo possível as opor-
do agir para o bem em um sentido
tunidades de acesso a estes.

BIOÉTICA E SEUS PRINCÍPIOS BASILARES


ÉTICA MÉDICA, BIOÉTICA, DIREITO MÉDICO 55

6. PRINCÍPIOS DA avanço do conhecimento científico.


DECLARAÇÃO UNIVERSAL das práticas médicas e tecnologi as
SOBRE BIOÉTICA E associadas.
DIREITOS HUMANOS
Elaborada em 2005 e aprovad a por Autonomia e Responsabilidade
mais de 191 países, a Declaração tra - individual
ta das questões éticas relacionadas à
Deve ser respeitada a autonomia
med icina, às ciê ncias da vida e às tec-
dos ind ivíd uos para tomar decisões,
nologias associadas q uando aplica-
quando possam ser respo nsáveis por
das aos seres humanos, levando em
essas decisões e respeitem a auto no -
co nta suas d imensões sociais, leg ais
m ia dos dema is. Devem ser toma d as
e ambientais. Conforme a Declara çã o,
medidas especiais para proteger di-
nas decisões tomadas ou práticas de-
reitos e interesses dos indivíduos não
senvolvidas por aqueles a quem ela
capazes de exercer autonomia.
é dirigida. devem ser respeitados os
. , . .
pnnCJplos a segu1r.
Consentimento
Dignidade Humana e Direitos • Qualquer intervenção médica pre-
Humano ventiva. diagnóstica e terapêutica
só deve ser realizada com o con -
• A dignidade huma na , os direitos
sentim ento prévio. livre e escla re-
humanos e as liberdades fu nda-
cido do indivíduo envolvido. base-
mentais devem ser res peitados
ado em informação adequada. O
em sua tota lid ade.
co nsentimento deve. q uando apro -
• Os interesses e o bem-estar do in- priado. ser manifesto e poder ser
d iv íduo devem ter prioridade sobre retirado pelo ind ivíd uo envolvido a
o interesse exclusivo da ciência ou q ualquer momento e por qualq uer
da sociedade. razão, sem acarretar desvantagem
ou preconceito.

Benefício e Dano • A pesquisa científica só deve ser


realizad a com o prévio. livre. ex-
Os benefícios diretos e indiretos a pa-
presso e esclarecido consenti -
cientes. sujeitos de pesquisa e outros
mento do indivíduo envolvido. A
indivíduos afetados devem ser maxi-
informação deve ser adequada.
mizados e qualquer dano possível a
fornecida de uma forma compre-
tais indivíduos deve ser minimizado.
ensível e incluir os procedimentos
quando se trate da aplicação e do
para a retirada do consentime nto.
ÉTICA MÉDICA, BIOÉTICA, DIREITO MÉDICO 56

O consentimento pode ser retirado Privacidade e confidencialidade


pelo indivíduo envolvido a qualquer
A privacidade dos indivíduos envol -
hora e por qualquer razão. sem
vidos e a confidencialidade de suas
acarretar qualquer desvantagem
informações devem ser respeitadas.
ou preconceito. Exceções a este
Com esforço máximo possível de pro-
princípio somente devem ocorrer
teção, tais informações não devem
quando em conformidade com os
ser usadas ou reveladas para outros
padrões éticos e legais adotados
propósitos que não aqueles para os
pelos Estados. consistentes com
quais foram coletadas ou consenti-
as provisões da presente Declara-
das. em consonância com o dire ito
ção. particularmente com o Art igo
internacional. em pa rticular com a le-
27 e com os direitos humanos.
gislação internacional sobre direitos
• Em casos específicos de pesqui- humanos.
sas desenvolvidas em um grupo
de indivíduos ou comunidade. um
consentimento adicional dos re - Igualdade, Justiça e Eqüidade
presentantes legais do grupo ou A igualdade fundamental entre todos
comunidade envolvida pode ser os seres humanos em termos de dig-
buscado. Em nenhum caso. o con - nidade e de direitos deve ser respei-
sentimento coletivo da comunida - tada de modo que todos sejam trata-
de ou o consentimento de um líder dos de forma justa e equitativa
da comunidade ou outra autorida-
de deve substituir o consenti men-
to informado individual. Não-discriminação e
não-estigmatização
Nenhum indivídu o ou gru po deve ser
Respeito pela vulnerabilidade
discriminado ou estigmatizado por
humana e integridade individual
qualquer ra zão, o que constitui viola-
A vulnerabilidade humana deve ser ção à dignidade humana. aos direitos
levada em consideração na aplica - humanos e liberdades fundamentais.
ção e no avanço do conhecimento
científico. das práticas médicas e de
SE LIGA! A Declaração deve ser consi-
tecnologias associadas. Indivíduos e derada em sua totalidade e seus prin-
grupos de vulnerabilidade específica cípios devem ser compreendidos como
devem ser protegidos e a integrida- complementares e interrelacionados.
Cada princípio deve ser interpretado no
de individual de cada um deve ser
contexto dos demais. de forma perti-
respeitada. nente e adequada a cada circunstância.
ÉTICA MÉDICA, BIOÉTICA, DIREITO MÉDICO 57

DECLARAÇÃO UNIVERSAL SOBRE BIOÉTICA E DIREITOS HUMANOS

Igualdade, Justiça e Eqüidade

7. DIREITOS DOS Não discriminação


MÉDICOS I - Exercer a medicina sem ser dis-
Como já foi citado acima. o Código de criminado por questões de religião.
Ética Médica abarca tanto uma pers- etnia. cor. sexo. orientação sexu al.
pectiva deontológica, que t rata dos nacionalidade. idade. condição so-
deveres dos médicos, quanto uma cial. opinião política. deficiência ou
perspectiva diceológica. que tra - de qualqu er outra natureza
ta dos direitos dos médicos. A ssim XI - É direito do médico com defi-
com o qualquer ser hum ano. os médi- ciência ou com doença. nos lim ites
cos t ambém tê m direitos e garantias de suas ca paci d ades e da segu -
f undamentais que devem ser respei- rança dos pacientes. exercer a pro-
tadas para o digno exercício de sua fi ssão sem ser discriminado.
profissão. O Capítu lo 11d o Código de
'
Etica Médica consagra 11 direitos.
são eles: A Constituição de 1988 já prevê a
proi bição de atos discriminatórios de
qualquer natureza. E' important e t er
SE LIGA! O descumprimento destas
normas diceológicas - não possibilita
em mente que o direito de alguém.
a abertura de Sindicância ou Processo necessariamente corresponde ao de-
Ético Profissional, entretanto, merecem ver de outras pessoas de respeitá-
o mesmo respeito e cumprimento que se -lo. Se ao médico se assegura o livre
exige das normas deontológicas- estas.
aptas a instaurar processos disciplinar. exercício da Medicina sem ser discri -
m inado. implica dizer que é dever d os
ÉTI CA MÉDI CA , BIOÉTICA, D IREITO MÉDICO 58

outros (médicos ou não) respeitarem públicos com caráter filantrópico


esse direito. ou não. aind a que não faça parte
do seu co rpo clín ico. respeita das
as normas técnica s aprovadas pel o
Autonomia profissional Conselho Regional de Medicina da
11 - Indicar o procedimento adequa- pertinente jurisdição.
do ao paciente. observadas as prá - VIl - Requerer desagravo público
ticas cientificamente reconhecidas ao Conselho Regional de Medici-
e respeitada a legislação vigente na quando atingido no exercício de
111 - Apo nt ar falhas em normas. sua profissão.
contratos e p ráticas internas das
institu ições em que traba lhe quan-
Este dispositivo traduz um direito
do as julgar indignas do exercício
absolutamente inalienável e indele-
da profissão ou prejudiciais a si
gável do médico assistente. Reflete
mesmo. ao paciente ou a terceiros. , . .
a sua propria autonomia e 1sençao
-
devendo comunicá-las ao Conse-
profissional, afastando a possibili-
lho Regional de Medicina de sua
' dade de qualquer tipo de interfe-
j urisdição e à Comissão de Etica da ,
rência de terceiros. Somente o me-
institu içã o, quand o houver.
dico tem o poder/dever de indicar,
IV - Recus ar-se a exercer sua pro - com exclusividade, e sob a sua res-
fissão em instituição pública ou pri - ponsabilidade pessoal, o procedi-
vada onde as cond ições de traba- mento adequado ao paciente. Re -
lho não sej am dignas ou possam fere-se a capacidade e ao direito do
, .
prejudicar a própria saúde ou a do médico de governar a sua propna
paciente. bem como a dos demais atuação profissional.
profissionais. Nesse caso, comuni-
Este poder/dever d e indicação im pli-
cará com j ustificativa e maior brevi -
ca na escolha, dentre todos os pro-
dade sua decisão ao diretor técnico.
cedimentos cientificamente aceitos.
ao Conselho Regional de Medicina
disponíveis e adequados para aquela
de sua jurisdição e à Comissão de
situação. daquele a ser utilizado. Na
Ética da instituição. quando houver
verdade. o termo "indicar" engloba,
VI - Internar e assistir seus pa- inclus ive. não indicar nada. quando o
cientes em hospitais privados e caso assim o requerer.
ÉT ICA MÉDICA, BIOÉTICA , DIREITO MÉDICO 59

Suspensão lícita de atividade


SE LIGA! A base do exercício da medici-
na é a relação médico-paciente. os dois
V - Suspend er su as ativi dades. in-
sujeitos dessa relação intersubjetiva de- dividualmente ou colet ivamente.
vem ter suas autonomias respeitadas. A quand o a instituição pública ou pri-
indicação médica de adequação deve vada para a qual t rabal he não ofe-
vir acompa nhada de informações so-
bre os demais possíveis tratamentos, recer cond ições ad equadas para o
informando o motivo pelo qual houve exercício profissiona l ou não o re -
a eleição de um ou de outro (redução munerar digna e justamente, res-
de riscos). Não havendo risco de mor-
sa lvadas as situações de urgência
te ou danos graves irreversíveis. pode o
paciente decidir por outro. contanto que e emergência, devendo com un i-
seja cientificamente reconhecido e lícito. car imediatamente sua decisão ao
Conselho Regiona l de Medicina.

SE LIGA! Por motivos evident es a re- Os Conselhos de Medici na devem


cusa a exercer a profissão em alguma ser informados constantemente pela
instituição deve ser devidamente jus-
categoria médica. d e todos os pro -
tificada e fundamentada com fatos e
provas e comunicados com celeridade blemas das instituições que ponham
aos sujeitos elencados para que o pro- em ri sco a qualid ad e do at endimento
blema seja corrigido o mais breve pos- e deve sim su spendê-l as. sob pena
sível e assim haja o mínimo prejuízo aos
assistidos.
de ser corresponsável. Em qualquer
caso, à motivação deve estar mui-
to bem delimitada e comprovada.
Lembrem -se que esses art igos lis- Sempre dirá respeito a análise do
tados acima dialogam com um dos risco de causar danos aos pacien-
princípios f undamenta is listados no tes, em decorrência da falta de con-
Capítu lo I. especificame nte: VI II - O dições adequadas de atendimento.
médico não pod e, em nenhuma cir- Deve se sopesar entre o atendimento
cunstânc ia ou sob nenhum pretexto. da forma precária que est á, e os pre-
• I • I •
renunciar à sua liberdade profis- JUizos que ocas1onara. se acaso se In-
sional, nem permitir quaisquer res- sistir em trabal har daquela forma.
trições ou imposições que possam
prej udicar a eficiência e a correção de
SE LIGA! Competência para regramen-
seu trabalho. to de suspensão de atividade e greve
é do legislador federal. Lei 7783/89. O
Código de Ética Médica define apenas
parâmetros para o exerdcio do direito
lega l e como proceder junto ao Conse-
lho Regional.
ÉTICA MÉDICA , BIOÉTICA, DIREITO MÉDICO 60

Tempo de consulta Objeção de consciência


VIII - Decidir. em qualquer circuns - IX - Recusar-se a realizar atos mé-
tância. levando em consideração dicos que. embora permitidos por
sua experiência e capacidade pro- lei. sejam contrários aos ditames
fissional. o tempo a ser dedicado ao de sua consciência
paciente sem permitir que o acú-
m ulo de encargos ou de co nsultas
venha prejudicar seu t rab al ho. Recusa r- se significa negar-se ou
opor-se a alguma coisa, no caso a
realização de qualquer ato médico
Nad a. nem ninguém tem o poder de - preventivo, propedêutico, tera-
interferi r sobre essa ga rant ia profis- pêutico ou experimental. Espelha a
sional. Somente o médico é o j uiz nes- liberdade de consciência, a auto-
te caso. Somente ele e mais ninguém. determinação da vontade médica.
tem o direito/dever de avaliar o tempo Respeita o direito à privacidade e
necessário para cada ato. Não exist e não ingerência do Estado em ques-
tabelamento temporal para nenhum tões privativas de consciência indi-
tipo de ação profissional. Não há ta- vidual. É a materialização da liber-
xímetro de ,consultas ou ampulhetas dade de pensamento, de exercício
cirúrgicas. E antiético qualquer tipo de crença religiosa ou de convicção
de cronometragem como instru- filosófica ou político. O médico tem
mento de eficiência na atenção ao o direito de exercer a medicina sem
paciente. que sej a discriminado
Deve-se ter em mente que cada caso
é um caso. A doença pode até ser a Ex: Imag ine que uma mulher de
mesma. mas as v icissitud es de cada v inte e sete anos com plen a ca -
paciente são variáveis. assim como paci dade civi l e cinco fi lhos. Com
também o são a experiência e a capa- o consentimento do cônjuge. le-
cida de profissional de cada médico. galmente estaria o médico gine-
Pelo atendimento. seja "rápido" ou co-obstetra autorizado a proceder
"demorado". o único responsável pelo a laqueadura tubária, desde que
que venha a ocorrer é o médico. Como obviamente observados os de-
a responsabilidade pessoal não po- mais requisitos como orientação.
derá ser transferida. jamais este deve autorização escrita e prazo. Ocor-
aceitar ingerência externa que possa. re que por motivos pessoais. este
de alguma forma. prejudicar o seu tra- profissional é radicalmente contra
balho e em última instância. desservir procedimentos de cont racepção
o próprio paciente. ditos defin it ivos. Ass im. embora
ÉTICA MÉDICA, BIOÉTICA, DIREITO MÉDICO 61

legalmente autorizado, por ques - Estabelecimento de Honorários


tão de foro íntimo de consciênci a.
X - Estabelecer seus honorários de
estaria se recusando a real izar a
forma justa e digna
laqueadura.
Observa-se que o caso não é ur-
gência ou emergência. Nesta situ- É chamada de honorários a justa re-
ação poderia o méd ico argumen- muneração paga pelos serviços
ta r com a paciente e companheiro prestados ao paciente, quando na
pa ra convencê - los. se fo r o caso. clínica privada. Tem essa denom ina -
dos procedime ntos alternativos. ção em face de não exist ir uma equi-
menos ra dicais e reversíveis. Em va lência entre a retri buição monetária
não convencendo. restaria ao mé- e um bem de tão alto va lor. como a
dico apenas encaminhar o casal vida ou a saúde. Fica o doente. por-
para outro profissiona l. elaborando t anto. obrigado à consideração por
re latório circunstanciado. tais benefícios. Toda pessoa que
exerce legalmente a medicina tem
direito a perceber honorários. Es-
Lembrem-se que esses artigos lis- tabelecer o valor dos honorários é
tados acima dialogam com um dos um direito ético do médico. Só este
princípios fundamentais listados no tem o poder de determinar ou fixar
Capítulo I, especificamente: VIl - O o valor do seu trabalho profissional.
méd ico exercerá sua profissão com
Honorários se refere a remuneração.
autonomia. não sendo obriga do a
E' toda e qualquer contraprestação
prest ar serviços que contrariem os di-
pecuniária (exprimível em dinhei-
tames de sua consciência ou a quem
ro) , decorrente de um serviço pro-
não deseje, excetuadas as situações
fissional efetivamente prestado.
de ausência de outro médico, em
caso de urgência ou emergência, Este direito é excl usivo do médico. e
ou quando sua recusa possa trazer só ele pode aquilatar o grau de sua
danos à saúde do paciente qualificação profissional. qualidade e
a dificuldade de cada ato médico. A
justeza e a dignidade destes honorá-
SE LIGA! É responsabilidade do diretor
rios passam pela sua mais escorreita
técnico da instituição providenciar outro
profissional para fazer um procedimento e precisa fixação. dentro dos padrões
quando um médico exercer seu direito da Medicina. Esta liberdade. porém.
de objeção de consciência. não tem caráter absoluto. Por ques-
tões éticas. não pode ser extremado.
ou seja, não pode ser caracterizado
como vil. tampouco como extorsivo.
ÉTICA MÉDICA, BIOÉTICA, DIREITO MÉDICO 62

DIREITO DOS MÉDICOS

i o IX
ÉTICA MÉDICA, BIOÉTICA, DIREITO MÉDICO 63

MAPA MENTAL- ÉTICA MÉDICA, BIOÉTICA, DIREITO MÉDICO

Princípios Fundamentais Remuneração Profissional

Direitos dos Médicos Sigilo profissional

Responsabilidade profissional Documentos Médicos

Direitos Humanos Auditoria e perícia médica

Relações com pacientes e familiares Ensino e Pesquisa Médica

Doação e transplante de órgãos e tecidos Publicidade Médica

Relação entre médicos Disposições gerais

BENEFICÊNCIA

NÃO MALEFICÊNCIA

JUSTIÇA
ÉTICA MÉD ICA, BIOÉTI CA, DI REITO MÉDICO 64

REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
-Código de Ética Médica: Resolução CFM no 2.217. de 27 de setembro de 2018 . modificada
pelas Reso luções CFM n° 2.22212018 e 2.22612019 I Conselho Federa l de Medicina- Bra-
sília: Conselho Federa l de Medicina. 2019.
-Barros Júnior. Edmilson de Almeida. Código de ética médica: comentado e interpretado I
Edmilson de Almeida Barros Júnior. - Timburi. SP: Editora Cia do eBook. 20 19.
-FRANÇA Genival. Di reito médico- 15. ed. - Rio de Janeiro: Forense. 20 19
-Minossi JG, Silva A L. Medicin a defensiva: uma prática necessária? Rev Col Bras Cir. [perió-
dico na Internet ] 20 13;40(6).

-Unesco. Declaração Universal sobre Bioética e Direitos Humanos. Adotada por aclamação
no dia 19 de Outubro de 2005 pela 33a sessão da Conferência Geral da UNESCO
IATROGENIA
IATROGENIA 67

1. INTRODUÇÃO Neste imenso universo de riscos que


giram em torno da prática médica,
Nos últ imos 100 anos tem-se ob- faz-se indispensável abordar o tema
servado um grande aumento na ex- da latrogen ia, afi nal, dife renciar um
pectativa de vida da população em
dano iatrogênico de um dano gera-
decorrência de mudanças nas prin - do por erro médico é imprescindível
cipais causas de doença e morte. As para a análise da Responsabilidade
principais ameaças à saúde eram
Profissional.
infecciosas e doenças parasitárias,
atingindo principalmente os bebês e
crianças, já nos dias atuais estão ma is 2. O QUE É A IATROGENIA
relacionadas às doenças crô nicas não
transmissíveis, que acometem princi-
palmente adu ltos e idosos.
~NCEITO! latrogen ia pode ser defi-
nida como uma síndrome não punível.
O mundo está preste a vivenciar o caracterizada por dano inculpável. no
corpo ou na saúde do paciente, canse-
marco demográfico onde as pessoas quente de uma aplicação t erapêutica.
com 65 anos ou mais serão em maior isenta de responsabilidade profissio-
número que as crianças (com menos nal ou seja, não gera o dever de inde-
de 5 anos). lsto se deve ao decréscimo nizar. São manifestações- consequ-
ências- decorrentes do emprego de
na s ta xas de fert ilidade e aumentos m edicamentos em geral, atos cirúrgi-
na espera nça de vida, ambos decor- cos ou quaisquer processos de trata-
rentes, dentre outros fatores, do uso mento f eitos pelo médico.
de tecnologias aplicadas à saúde.
Com o incremento do uso da tecno - latrogenia é uma palavra que deri-
logia - evolução dos medicamentos, va do grego: o radica l iatro («iatrós"),
equipamentos e novas técnicas de- signifi ca médico. reméd io, med icina;
senvolvidas pelas pesquisas médicas. geno («gennáo"), aquele que gera.
, .
deve- se ter em conta que o exerCICIO produz; e "la", uma qualidade. A iatro-
da medicina é e sempre será acom- genia poderia, portanto, ser entendida
panhado por uma margem de risco como qualquer atitude do médico.
que lhe é inerente. Como diria o gran- Entretanto, o estudo das ocorrência s
de pensador da medicina, William iatrogênicas t raz consigo dificuldades
Osler, "A Medicina é uma ciência de inerentes. A própria conce ituação do
incerteza e uma arte de probabilida- te rmo é motivo de forte divergência
de", ou seja, não se deve exigir ou es- dout riná ria, sendo passível das inter-
perar dela uma certeza que não lhe é pretações mais diversas.
característica.
José Carlos de Carvalho entende
como iatrogênico o dano previsível e
IATROGENIA 68

, .
necessano, que tem como CONCEITUANDO A IATROGENIA
pressuposto a vontade do
médico dirigida a um deter-
minado resultado, o qual só
poderá ser alcançado atra-
vés do procedimento téc-
nico recomendado. Ao se
referi r a "necessidade", o au -
tor parece atribuir à iatroge-
nia conotação restrita às cir-
cunstâ ncias em que a lesão
proveniente do ato médico,
além de previsível,
e, certa quanto a'
sua materialização
no mundo fenomê-
nico. Cite - se. como
exemplo, a necessidade de am -
putação de membro inferior para
que se evit e o alastramento de
uma infecção.
O que dizer sobre aquelas situ -
ações em que o dano. também
previsível, é incerto quanto à
sua ocorrência? Note-se que há
intervenções e procedimentos
médicos que apresentam um
potencial lesivo que pode se mani- " .
consequene~as, prevendo, supon-
festar ou não. Essa incerteza pode
ser t raduzida na alta ou baixa pro- do. Logo, é dotado de previsibilidade
babilidade de ocorrência de um de- tudo aquilo que aind a não ocorreu no
terminado dano. mundo dos fatos, mas que pode ser
previsto. antecipado. O event o objeto
da previsão. por sua vez. poderá ser
O que é "previsibilidade"? certo ou incerto. Em outras palavras,
o agente que antevê um determ inado
O ve rbo "prever" nos remete à ação de
f ato pode ter certeza ou não sobre a
antever, significa verificar com ante-
sua materialização.
cedênc ia e concl uir sobre as prováveis
IATROGENIA 69

Na aferição p rát ica da iatrogenia, po - • Necessidade da conduta médica


de-se dizer que a previsibilidade Com este requisito deve- se ter em
, .
recai sobre as poss1ve1s consequ- mente a necessidade de se fazer
ências lesivas advindas de uma in- uma ponderação a respeito dos
tervenção médica. O grau de previ- impact os de determinada conduta
sibilidad e do dano deverá ser aferido médica, especificamente os bene-
conforme o estágio da medicina no fícios e os danos que ela pode
momento da prática do ato médico. acarretar - como bem orienta os
Por isso, o meio de prova pericia l será princípios bioéticos da beneficên-
de suma importância nesse tocant e. cia e não maleticência. Deve-se
sobretudo por apresentar ao Juízo obj etiva r máximos benefícios e
como a questão se encontra discip li- , . . ,
mm1mos preJUizos.
nada na literatu ra méd ica.
• Previsibilidade do dano
Nas palavras de Miguel Kfouri Neto:
A ntes de realizar a conduta. além
"Para se det erminar se o evento
de dialogar com o paciente sobre
era ou não previsível, utiliza-se o
os benefícios que podem ser gera-
standard do médico diligente. Se,
dos. é imprescindíve l para o médi-
para a generalidade dos médi-
co sinalizar os possíveis danos que
cos, a causa do dano, nas cir-
aquela conduta pode desencadear.
cunstâncias consideradas, não
O dano deve ser p revisível e o pa -
poderia ser superada, nem ao
ciente deve manifest ar seu consen -
menos cogitada, admitir-se-á
t imento com tal possibilidade de
o resultado como inevitável ou
ocorrência, devendo o médico re -
imprevisível. Tal aferição é cas u-
gistrar tudo em prontuário, de modo
ística- e leva rá em co nta o apa-
que em uma eventual demanda j u-
relhamento e meios disponíve is.
dicial ele co nsiga comprovar que foi
É necessário que se t rate de um
um dano previsto e informado.
fato presente, não de hipótese
f ut ura - e que de modo algum
possa se imput ar qualquer res - • Cumprimento do dever de
quício de cu lpa, ident ificáve l no informar
compo rtame nt o do médico"
Este requisito é de máxima impor-
tâ ncia na co nfig uração da latroge-
Requisitos nia. ganhando ainda ma is relevân -

Para con statação da lat rogenia sao - cia ao se v islumbrar a sociedade de


risco como realid ade pós - moderna.
necessários t rês requisitos:
É necessário que o paciente estej a
IATROGENIA 70

esclarecido e tenha consciência da bem claro o seu dever de meio -


necessidade da conduta médica empregar as melhoras técnicas
- que se dará única e exclusiva - para a realização do tratamento - .
mente em busca do resgu ardo de não tendo como garantir qualquer
sua saúde. Neste esclarecim ento resultado. o que inclusive é vedado
dialogado, deverá o médico deixa r pela ética médica.

REQUISITOS PARA CONFIGURAÇÃO DA IATROGENIA


IATROGENIA 71

escrita (Termo de Consentimento


LIGA! A obrigação do médico é de Livre e Esclarecido}.
meio porque o objeto do seu contrato
é a própria assistência ao seu pacien-
c) A redação do documento deve
te, quando se compromete empregar ser fe ita em linguagem clara, que
todos os recursos ao seu alcance, sem, perm ita ao paciente entender o
no entanto, poder garantir sempre um
procedimento e suas consequên -
sucesso. Diferente da obrigação de fim ,
que obriga a um resultado específico. o cias. na medida de sua compreen-
fim a ser atingido é o objeto contratado. são. Os termos científicos, quando
I • •
necessanos. prec1sam ser acom -
panhados de seu sig nificado. em
• Consentimento Livre e Escla- linguagem acessível.
recido (Recomendação CFM no
01/2016) a) O esclareciment o
SE LIGA! Pode haver circunstâncias.
claro. pertinente e suficiente sobre
ainda. em que a intervenção médica te-
justificativas. objetivos esperados, nha sido realizada conforme as regras da
benefícios. riscos. efeitos colate - profissão. tendo o médico sido omisso
rais, complicações. duração. cuida- quanto aos riscos de lesão no momen-
to de obtenção do consentimento livre
dos e outros aspectos específicos e esclarecido do paciente. Ainda que o
inerentes à execução tem o obje- dano materializado seja independen-
tivo de obter o consentimento li- te da boa técnica empregada, ou até
inerente ao procedimento realizado, o
vre e a decisão segura do paciente
médico poderá ser responsabilizado
para a rea lização de procedimen - pela violação do dever de informar.
tos médicos. Portanto. não se en -
quadra na prática da denominada
medicina defensiva.
SE LIGA! É possível que o diálogo in-
b) A forma verba l é a normalmente
formativo a respeito do que pode vir a
utilizada para obtenção de consen - ocorrer não abarque consequências ra-
t imento pa ra a maioria dos procedi- ras. não vistas cotidianamente pela me-
mentos rea lizados. devendo o fato dicina. o que não inviabiliza a percepção
da iatrogenia.
ser registrado em prontuário. Con -
tudo, recomenda - se a elaboração
IATROG ENIA 72

O DEVER DE INFORMAR COMO ELEMENTO AUTÔNOMO NA CONFIGURAÇÃO DA IATROGENIA

Porque não há responsabilidade


profissional - dever do médico de
indenizar?

: ~RA DA REVISÃO
Vale lembrar que a responsabilidade
profissional pode ser compreendida
em dois sentidos: Moral e Ético Jurídi-
co. O primeiro diz respeito ao dever de
agir com responsabilidade e respeito. o
descumprimento deste dever não gera
repercussão na esfera jurídica Já o se-
gundo. refere-se à obrigação legal que
todo médico tem de cumprir com seus
deveres de conduta profissional- qual
seja, agir com prudência, perícia, dili-
gência - .0 descumprimento deste de-
veres gera repercussões na esfera j urídi-
ca. o que quer dizer que o médico pode
ser responsabilizado na esfera civil. pe-
nal ou ad ministrativa. devendo indenizar
o paciente pelo descumpri mento de seu
dever originário
IATROGENIA 73

SENTIDO ÉTICO-JURÍDICO DA RESPONSABILIDADE PROFISSIONAL

~ ~ORA DA REVISÃO!
A responsabilidade profissional. assim como o dever
de indenizar somente são constatados na presença
concomitante de três elementos essenciais: l)Condu-
ta (ação ou omissão- com análise de culpa): 2) Nexo
de causalidade ( ligação entre a conduta e o possível
prejuízo) 3) Dano (moral ou patrimonial - necessaria-
mente deverá ser efetivo. existente e verificável)

ELEMENTOS ESSENCIAIS DA RESPONSABILIDADE PROFISSIONAL -


INEXISTÊNCIA DE CONDUTA CULPOSA NA IATROGENIA
IATROGENIA 74

A iatrogenia, apesar de excluir a res- expondo- o a riscos previsíveis, es-


ponsabilidade civil médica, não o faz perados ou não de acordo com o seu
através da ruptura do nexo de causa - estado de saúde e literatura médica.
lidade entre a conduta e o dano, mas riscos estes que se materializam a
sim pela impossibilidade de atri- despeito do profissional ter agido em
buição de culpa ao médico. Desse conformidade com as regras da me-
modo. adjetivar o dano iatrogênico de dicina. provocando lesão à saúde do
imprevisível ou inevit ável não é tec- paciente (dano).
nicamente adequado, na medida em Para melhor aferição dos reflexos da
que o instituto passa a se conf undir iatrogen ia no reg ime de res ponsa bi-
com o caso fortu ito e força maior. lidade civil médica, os pre ssupostos
Genival de França (2010) faz essa identificados foram colocados entre
distinção, ao diferenciar erro médico parênteses. Sendo a responsabili-
dos acidentes imprevisíveis, a sa - dade civil médica de natureza sub-
ber. lesões provocadas à integridade jetiva, para que o médico seja con-
física ou psíquica do paciente por ato denado ao dever de indenizar. o juiz
médico cuja ocorrência não poderia deve se convencer da existência de:
ser prevista ou evitada, situação em a) conduta humana voluntária; b)
que se configura o caso fortuito ou lesão à saúde do paciente; c) nexo
força maior. causal entre a conduta e o dano; e
Registra, ainda, que tais circunstân- d) o agir culposo do profissional.
cias ainda não se confundem com o Retornando-se à descrição da situ -
que chama de resultado incontro- ação iatrogênica . percebe-se que o
lável: situação grave, de curso inevi- único elemento faltante e necessá-
tável, para a qual o estágio atu al da rio para que haja responsabilidade
ciência e a capacida de profissional civil médica é a culpa. Na iatrogenia.
ainda não oferecem solução. a conduta do médico é irretorquível,
A iatrogen ia é situação j urídica que pautada nas normas da profissão e
tem como gérmen o reconhecimen- realizada com todo o zelo profis-
to de que existem riscos inerentes sional. O dano dela proveniente se
à prática da medicina, cuja possibi- deve aos limites da própria ciência,
lidade de materialização independe cujo objeto de estudo é de grande
da observância da boa prática mé- fragilidade - o ser humano. Apesar
dica. A situação iatrogênica pode as- da constante evolução tecnológica. a
sim ser descrita: um médico (agente) medicina será sempre acompanhada
submete seu paciente a um procedi - da criação de riscos.
mento (conduta humana voluntária),
IATROGENIA 75

Atribuir ao médico responsabilidade elemento culpa, tem-se que a na-


pela materialização de riscos já co- tureza jurídica da iatrogenia é a de
nhecidos. cuja possibilidade de gerar excludente de responsabilidade ci-
dano ao paciente ultrapassa o uso vil médica. Sem culpa, resta invi-
da melhor técnica. é ônus insuportá- ável a condenação do profissional
vel. que causaria grande desestímulo a indenizar o paciente pela lesão
ao exercício da profissão. Ausente o suportada.
IATROGENIA 76

- I

DISTINÇOES IMPORTANTES NO DIREITO MEDICO

X X X X
IATROGENIA 77

3. "ERRO" SEM CULPA dos princípios da autonomia, just iça


MÉDICA (ESCUSÁVEL) e beneficência, conferiu ao paciente
um novo papel na relação com seu
Erro escusável não é denominação
médico.
tecnicamente adequada enquanto
referência às lesões previsíveis de- Este último, antes detentor de todo o
correntes de ato médico praticado poder decisório q uanto à submissão
com correção e zelo. Erro é termi- do paciente a exames e procedimen-
nologia que pressupõe falha, equí- tos, passou a recon hecê-lo como su-
voco, culpa. A "cond uta" escu sável, j eito autônomo, capaz de tomar de-
porta nto, é aquela que mesmo ge- cisões sobre sua própria saúde. Para
rando um dano, não enseja o dever ta nto, o profiss ional deverá informar
de reparação para o médico, tendo ao paciente os riscos, benefícios e
em vista {1) a imperfeição da ciên- demais implicações do t ratamento
cia e a {2) falibilidade da medicina. proposto, ga rantindo-se a presta-
ção legítima de consentimento livre e
Não é considerado ato ilícito, como o
esclarecido.
erro médico, tendo em v ista que na
realidade existem lesões, previstas
na literatura médica, que podem se SE LIGA! Em um contexto de urgência/
emergência - risco eminente de morte
materializar durante o tratamento
ou dano grave e irreversível- é sabido
a despeito da experiência e zelo do que não há tempo hábil para fazer essas
profissional, o qual não pode ser ponderações, devendo o médico agir,
responsabilizado pelos limites da nestes casos, com a conduta necessária
, • • A • para resguardar a vida do paciente.
propna c1enc1a.

latrogenia x erro médico - um


4. A IMPORTÂNCIA
abismo de diferença
DO SOPESAR DOS
PRINCÍPIOS BIOÉTICOS - latrogenia e erro médico são concei-
AUTONOMIA, BENEFÍCIO E tos inconciliáveis e incompatíveis,
DANO a percepção de ocorrência de uma
exclui a ocorrência de outra.
O exercício da medicina na atualid a-
de pouco se assemelha com a pos- A lesão iatrogênica seria aquela pre-
tura paternalista atribuída à medicina visível, decorrente de procedimento
hipocrática, que perdurou até meados necessário e realizado pelo médico
do século XX. A incorporação, pela de maneira diligente. Não gera res-
Bioética clássica, da tríade valorativa ponsabil idade em nenhuma de sua s
da Revo lução Francesa sob a forma esferas, aproximando-se de uma
imperfeição dos conhecimentos
IATROG ENIA 78

científicos. Aqui. o médico adota Estudo de caso


conduta consciente e deliberada. di-
Veja - se. como exemplo. estudo de
recionada a um determinado resulta -
caso sobre a perfuração de mucosa
do. qual seja. a melhoria do estado de
esofágica por sonda entérica. Cynthia
saúde de seu paciente
dos Santos e outros (2006) se debru-
As falhas no exercício da profissão - çaram sobre caso em que paciente do
erro médico -. por sua vez. ingressam sexo feminino. com 77 anos de idade.
no âmbito da ilicitude e da respon- foi levada ao pronto-socorro em es-
sabilidade civil, na medida em que o ta do grave após queda da própria al -
profissional age com culpa. A falta tu ra ocorrid a ci nco dias antes. No t er-
do dever objetivo de cuidado traz ceiro dia de internação, foi remet ida
efeitos indesejáveis, que poderiam à unidade de terapia intensiva (UTI) ,
ter sido evitados pelo médico. pois seu quadro havia evoluído com
A inexistência de marcos jurídicos e a hipot ensão arterial. rebaixame nto do
carência de estudos específicos sobre nível de consciência. desorientação e
o tema agravam a indefinição da linha sonolência.
que separa a iatrogenia e o erro mé- Dentre outras medidas adotadas. foi
dico. linha de distinção essa de suma instalada sonda entérica. cujo posi -
importância para a prática médica. na cionamento foi confirmado por radio -
medida em que uma enseja respon- grafia tóraco-abdominal. No décimo
sabilidade e reparação e a outra não segundo dia de internação. diante das
- ou seja. repercussões jurídicas dis- alterações verificadas em exames la-
t intas para o profissional da medicina. boratoriais. a paciente foi submet ida a
endoscopia digestiva alta. exame que
evidenciou lesão ulcerosa bu lba r de
IATROGENIA ERRO MÉDICO
2.5 em. com sinais de sangramento
Possui nexo entre con - Possui nexo entre con-
duta e dano duta e dano pregresso. A endoscopia permitiu a
Conduta perita, pruden - Conduta imperita, im- visualização de fa lso t rajeto da son da
te e diligente prudente e negligente entérica no esôfago proximal. Diante
Dano previsível, condu- Dano previsível, condu- do ocorrido. a sonda entérica foi re-
ta necessária ta desnecessária t irada sem complicações. sendo lo-
Cumpre obrigação Descumpre obrigação
cada nova sonda. A paciente evoluiu
anterior anterior
com novos episódios de hemorragia
Não gera dever de
indenizar
Gera dever de indenizar digestiva. choque séptico refratário e
Âmbito da licitude Âmbito da ilicitude
óbito. não relacionados às intercor-
Tabela 1. Notas distintivas entre latrogenia e Erro
rências provocadas pela sonda (SAN-
Médico TOS et. ai.. 2006).
IATROG ENIA 79

As sondas entéricas são est rut uras ser dano oriundo de uma situação
• A '
maleáveis. radiopacas (o que permite 1atrogemca.
identificação através de exame radio- No caso submetido a estudo. ora
lógico). com 50 a 150 em de compri- descrito. a paciente era idosa e se en-
mento e diâmetro externo de 4 mm. contrava em estado de saúde grave.
São introduzidas v ia nasal com vistas fatores que interferem sobremanei-
à administração de medicamentos e ra na colocação da sonda. Observe-
inf usão de dieta. Sua colocação é pro - -se. ai nd a, que a primeira rad iografia
cedi mento sim ples. mas sujeit o a g ra- re alizad a acusou o posicionament o
ves com plicações. a exemp lo de seu adequado da sonda. te ndo sido a in -
mau posicio na mento. O risco de mau te rcorrência ident ificada de maneira
posicio namento da sonda é maior na d iligente poucos d ias d epois d a ve -
UT I. sobretudo em pacientes co m dis- rificação de resultados de exame la-
túrbios neurológ icos. inco nscientes. boratorial, através d a rea lização de
id osos ou traqueostom izados (SAN- endoscopia.
TOS et. ai.. 2006).
Nessas circunstâncias. descabida
São apontadas formas de se evitar a a responsabilização civil do médi-
perfuração do esôfago, como a inst a- co pelo dano decorrente do mau
lação por profissional experiente. usar posicionamento da sonda, por se
sondas de material suave para uso tratar de episódio que decorre dos
prolongado e realizar a passa gem d a próprios limites da ciência médica,
sonda por endoscopia. Cont udo. uma ônus este que não pode ser supor-
das principais causas de perfura- tado pelo médico, sob pena de se
ção esofágica consiste em predis- tornar garantidor universal da saú-
posição anatômica, provocadas por de humana.
características físicas, como a ida-
• A • , Casos como este. em que o exame
de, obesidade, proemmenc1as os-
seas, dentre outras.
d as q uestões de fato é d a ma is alt a
complexidad e, ex igem análise apura-
Chegou-se à conclusão de que os ca- d a do o perador do direito. principal-
sos d e perfuração devem ser identifi - mente q uant o à avaliação da conduta
cados precocemente para trat amento médica: se cond izente com os proto -
adequado. cujo prognóstico é influen- colos e deveres da profissão ou ina-
ciado por diversos fatores. dentre eles dequada. tendo agido o profissional
o tempo entre a lesão e o tratamento. com culpa.
o local da perfuração e o tamanho d a
lesão (SANTOS et. ai.. 2006). Como Retome-se. então. o seguinte questio-
namento: aquelas situações em q ue
se vê. a perfuração do esôfago ou
provocação de lesão ulcerosa pode
o dano. embora previsível. é incerto
IATROGENIA 80

quanto à sua ocorrência, também se encontrava a paciente no estudo de


subsumem ao co ntexto da iatroge- caso referido. a conduta médica po -
nia? Sim . a iatrogenia é circunstân- deri a dar ensejo à responsabi lidade
cia que abrange lesões previsíveis civil do profissional. Se identificada a
decorrentes de ato médico, não só perfuração do esôfago tardiamente,
aquelas cuja materialização é certa restando comprovado que o médico
e necessária, mas também aquelas tinha meios de identificação precoce
cuja ocorrência é incerta, de alta da dita intercorrência, estaria confi -
ou baixa probabilidade, desde que gurada sua conduta negligente. sen -
previstas na literatura médica. do devida reparação civil ao paciente
Atente- se para o fato de que. na lesado.
mesma circunstância em que se
IATROGENIA 81

REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
ARAÚJO, A na Thereza Meirelles. BARBOSA. Amanda Souza. Dano iatrogênico e erro mé-
dico: deli neamento dos parâmetros para aferição da responsabilidade. Revista Thesis Juris.
São Paulo, 2017;

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Bras Med Trab.2019;17(0):18-19

TAVAR ES. Felipe de Medeiros. Reflexões acerca da iatrogenia e educação médica. Rev. bras.
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FRANÇA Genival. Direito médico- 15. ed. - Rio de Janei ro: Forense. 2019
CO NSELHO FEDERA L DE MEDICINA. Recomendação CFM no 1/2016. Dispõe sobre o pro-
cesso de obtenção de consentimento livre e esclarecid o na assistência médica
RELAÇÃO COM PACIENTES
E FAMILIARES
RELAÇÃO COM PACIENTES E FAMILIARES 84

1. A RELAÇÃO práticas sempre buscando preservar


MÉDICO-PACIENTE os direitos dos pacientes. no dia a dia
é possível not ar que nem todos os
A relação médico- paciente (RM P) é
profissionais baseiam suas práticas
tema de muita discussão na ética mé-
no cultivo destas relações. gerando
dica devido a importância do seu tema
inclusive processos nos respectivos
e necessidade cada vez mais do aper-
Conselhos Regionais de Medicina.
feiçoamento desta relação para o coti-
diano da prática médica seja ela na ci-
rurgia ou na clínica. O Código de Ética SE LIGA! Além do direito de decidir. a
Declaração Universal sobre Bioética e
Médica (CEM). em seu capítulo V. abor- Direitos Humanos. dentre outros princí-
da especificamente o tema da relação pios. diz que o paciente tem direito a(ao)
com pacientes e fam iliares evidencia ter respeitada a sua dignidade humana.
logo no seu primeiro artigo (Art.). o 31. sua autonomia. sua vulnerabilidade e
integridade individual. ser beneficiados
que é "vedado ao médico desrespeitar e ter seus danos minimizados. sigilo.
o direito do paciente ou de seu repre- igualdade~ustiça/equidade. não discri-

sentante legal de decidir" acerca das minação e respeito às diversidades. Vale


ressaltar que. tais direitos dizem respeito
práticas de saúde a serem realizadas
aos pacientes, bem como seu respecti-
"salvo em caso de iminente risco de vo representante legal em casos onde
morte". Este último trecho é importa nte o paciente não pode ou no momento
ressaltar. pois o princípio maior da Me- não consegue decidir por si próprio.

dicina é resguarda a vida. ou seja. caso


o paciente esteja em risco de morrer.
Discutiremos melhor a seguir acerca
devem ser utilizados os recursos dis-
da autonomia do paciente. mas de
poníveis e baseados em evidências
antemão podemos ressaltar que este
científicas para salvar sua vida.
não somente tem autonom ia para
Nem sempre na história da medicina a decidir as abord agens em saúde q ue
RMP foi baseada nos d ireitos domes- serão toma das consigo, mas tam bém
mo o que levou depois de um tempo pode tomar a decisão por não saber
a necessidade de regulamentar estes sobre o seu quadro clínico deven-
direitos através do CEM. mas também do tudo ser dito a seu representan-
a partir da Declaração Universal so- te legal. Outra situação neste cam po
bre Bioética e Direito s Humanos que é trazida pelo A rt. 34 do CEM trata r
alerta inclusive para os direitos dos exatamente acerca de ser "veda do ao
pacientes quando estes são subme- médico deixar de informar o paciente
tidos a pesquisas científicas. Apesar o diagnóstico. prognóstico. os riscos e
de atualmente muito se falar da im- objetivos do t ratamento", porém caso
portância da RMP basear-se em boas o médico avalie que dar a notícia pode
RELAÇÃO COM PACIENTES E FAMILIARES 85

causar um dano ainda maior para o a o estabelecimento da RM P que é


paciente a comunicação deve ser fei - a comunicação, neste caso, tanto a
ta diretamente ao seu representan - comunicação verbal quanto o regis -,
te legal. Esta situação é chamada de tro desta por escrito no prontuário. E
"privilégio terapêutico" ou "direito através da comunicação que é possí-
de não saber", mas vale ressaltar vel ao chegar ao respeito ao paciente
que o médico não deve "abusar" do citado acima, bem como incrementa a
uso do privilégio terapêutico como perspectiva de confiança e confiden -
forma de evitar dar notícias difíceis cialidade dentro da RMP. no enta nto.
ou uma possível rejeição do paciente pa ra que esta comunicação seja reali-
ao tratamento que será proposto. zada do melhor modo a mesma deve
Como vimos até agora existe um pilar vir acompanhad a da empatia que é a
fundamenta l (ou f undamento como sensibilização do profissional mé-
foi chamado por Ora. Camila) para dico pelas mudanças sentidas pelo
paciente.

MAPA MENTAL: FUNDAMENTOS DA RELAÇÃO MEDICO PACIENTE


RELAÇÃO COM PACIENTES E FA MILIA RES 86

&"
\ ,~
~
SAIBA MAIS!
O artigo sugerido por Dra. Camila: Patient-Physician Communication: Why and How (TRA-
VALINE. et ai, 2005) aborda exatamente a importância da comunicação entre médicos e
pacientes a qual cont ribui inclusive pa ra melhores resultados em saúde destes. de modo que
considera-se que tão importante quanto a informação que está sendo transmitida ao
paciente é a maneira como isto é feito A lgo importante trazido por este artigo é o treina-
mento das habilidades de comunicação dos acadêmicos de med icina como forma de capaci-
tá -los para uma comunicação efetiva com os pacientes e. de fato. a inserção do treinamento
no currícu lo médico acerca da comunicação de notícias difíceis e da relação médico-paciente
tem sido realizado com êxito em diversas Escolas Médicas no Brasil tornando esses futuros
profissiona is aptos a lida r com o paciente da melhor maneira possível.
Travaline et ai (2005) explica em seu artigo, através de um checklist, como esta comunicação
com o paciente deve ser realizada est as etapas seguem abaixo com algumas adaptações
realizadas por Dra. Camila, como frisado por ela, seguir estas et apas não somente melhora a
RMP como pode vir a reduzir os números de processos contra méd icos que têm como gran-
de motivação entraves na comunicação com seus pacientes. Aproximadamente 85% dos
processos contra médicos acontecem devido a comunicação com pacientes e familiares
não ser boa. portanto. a boa comunicação é "redutora de danos" quando compreendemos
que a judicialização da medicina t raz danos não somente para os médicos. mas também para
os pacientes.

Avaliar o que o
Manter a simp licidade na fala
paciente já sabe

Avaliar o que o Dizer a verdade


paciente quer saber (conforme desejo do paciente)

Ser empático Manter o desejo de esperança


(promoção do vínculo) (sem prometer resultado)

Desacelerar a entrega Preparar-se para reações


de informações (inclusive o silêncio)

Atentar para
comunicação não verbal

Figura 1. Etapas para a boa relação médico pacien te Fonte: Adaptação aula SanarFiix do artigo de Travaline et ai.
RELAÇÃO COM PACIENTES E FAMILIARES 87

·E·
~l~
~ , SAIBA MAIS!
No Brasil e no mundo tem se notado o aumento da prática da medicina defensiva. ou seja.
uma prática médica de aumentar os procedimentos diagnósticos e terapêuticos com o pro-
pósito de evitar processos por má prática da medicina. Com isso. essa estratégia da medicina
defensiva é utilizada por médicos para evitar a ocorrência de processos judiciais e diminuir o
risco de indenização das possíveis vítimas (os pacientes). O número de litígios contra médi-
cos já chega a 3 novas ações por hora em decorrência de "suposto erro médico". A ministra
do Superior Tribunal de Justiça cita que: "Há não muito tempo, a medicina era praticamente
uma arte. a arte de curar(..) Curava-se valorizando o indivíduo. Todavia, essa realidade cedeu
lugar à medicina empresarial. na qual o atendimento pessoal é substituído pelo atendimento
em massa. impessoa l ( .. )onde. a relação médico-paciente é mitigada pelo lucro". A medicina
defensiva tem. portanto. dificultado ainda mais a relação médico- paciente. neste estudo rea-
lizado por Vale & Miyazaki 75% dos médicos ent revistados afirmaram fazer uso da medicina
defensiva tanto por pedido dos próprios pacientes como por medo de serem processados.
Fonte VALE. H.M. & MIYAZAKI. M.C.O.S. Medicina defensiva: uma prática em defesa de
quem7 Rev. bioét. (lmpr.). 20 19; 27 (4): 747-55.
O ideal é que seja realizado o teste sorológico (ELISA) para Strongyloides (lgG). Se o teste for
negativo não é necessário realizar a profilaxia. Entretanto. na maioria das vezes. o corticoide
deve ser introduzido rapidamente e. por isso. é feita a profilaxia empírica. sem a realização de
exames.

2. RELAÇÃO ENTRE entre as outras áreas da saúde. mas


PODER E SABER principalmente com os pacientes que
como falamos aqui até então devem
Durante muito tempo não se discutia
ser os principais responsáveis pelas
acerca do poder médico, pois era de
decisões acerca de sua saúde. Va le
comum acordo que o discurso deste
ressa ltar que, dentre as causas de
deveria prevalecer sendo o mesmo o
erro médico. o abuso de poder, ou
senhor absoluto de t oda decisão to -
seja. quando o méd ico atua de forma
mada dentro da sua prática clínica.
in sensata (ao realizar. por exemplo.
dando a Med icina poder soberano.
um procedimento desnecessário) é
pois os médicos passam a t er leg itimi-
o único item que depende exclusiva-
dade para tomar decisões acerca da
mente da atuação do mesmo.
vida dos seus pacientes. Tal realida -
de ainda se mantêm na prática clínica Na grande parte das vezes é exercida
apesar do aumento das discussões a medicina paternalista em que a prá-
acerca da autonomia dos pacientes tica médica se coloca de forma ver-
nos currículos das Escolas Médicas. tical sobre a melhor opção de trata-
mas com o tempo, não somente a so- mento e intervenções para o paciente
ciedade compreende que é necessá- com base nas evidências disponíveis.
rio que o saber seja compartilhado Porém. diversas evidências já têm
RELAÇÃO COM PACIENTES E FAMILIARES 88

mostrado que há melhor adesão me- O sistema de saúde inglês tem um


dicamentosa. mudanças nos hábitos lema que resume do que se trata a
de vidas e mais satisfação do pacien- decisão compartilhada: " Nenhuma
te quando a decisão é compartilha- decisão a meu respeito sem a mi-
da entre médico e paciente/fami- nha participação" e. a decisão com-
liares. Em geral, os médicos no Brasil partilhada trata-se exatamente disso
não estão habituados a compartil har o médico e a pessoa decidem juntos
o poder até chegar ao ponto em que sobre tratamentos e outras condutas
seja "permitido" que as pessoas deci- re lativas aos cuidados de saúde da
dam acerca da sua respectiva saúde. mesma.

Conversa 1
tipo equipe
Trabalha em conjunto, ·vamos convef'Sdr como
descreve escolhas, oferece uma equipe para tomar a
apoio e pergunta decisão que melhor se
_____........_
sobre objetivos
encaixa para você"

Escuta ativa
3 2
Prestar muita
Conversa atenção e responder Conversa
tipo decisão de forma acurada tipo opções

Informa-se sobre Deliberação Discutem-se


as preferências e alternativas,
Pensar cuidadosamente
realiza decisões com base
nas opções quando é
baseadas nelas nos princípios
necessária uma
de comunicação
decisão
de risco
·oiga-me o que é
mais importante para "Vamos comparar
você nesta decisão • as posSibilidades"

Figura 2. Modelo das três conversas para obtenção de decisões compartilhadas


Fonte: Tratado de Medicina de Famflia e Comunidade. 2019.
RELAÇÃO COM PACIENTES E FAMILIARES 89

Porém, como vimos na aula de Ora. durante sua tomada de decisões,


Camila. para que o paciente tenha bem como pressupõe que não sofra
autonomia dentro deste processo limitações pessoais para sua com -
decisório é preciso que o mesmo te- preensão. Dentro da Medicina. o
nha liberdade, a qual somente será Conselho Federal de Medicina atrela
conquistada quando o paciente na Recomendação N°l/2016 a auto -
tem acesso à informação e. mais nomia do paciente ao consentimento
que isso. quando este é esclarecido livre e esclarecido, pois a noção de
acerca das questões relativas a sua consentimento funda-se no princí-
doença, tratamentos disponíveis. etc. pio ético da autonomia, sendo. por-
Transmitir ao paciente toda informa - tanto. o consentimento um direito
ção que o méd ico tem acerca da Me- humano. Para isso, é important e a
dicina é impossível. no entanto. por comunicação efet iva entre médico e
meio de linguagem adequada é pos- paciente. onde o primeiro deve usar
sível que o médico escla reça as pos- linguagem acessível ao nível de es-
sibilidades de tratamento. entenda as colaridade do segundo. sem uso dos
expectativas do paciente e aquilo jargões médicos e termos técnicos.
que o mesmo já sabe e como com- Sobre consentimento livre e escla-
preende sua saúde. Ao proporcio- recido temo na plataforma uma aula
nar conhecimento ao paciente e fazer e um super material sobre o tema.
esta troca de conhecimentos, o mé- por isso não iremos aprofundar este
dico liberta o paciente do estado de tema aqui.
"não conhecedor" ao qual este sem-
pre foi relegado dentro da Medicina.

3. AUTONOMIA
DO PACIENTE E
CONSENTIMENTO
Cabe agora evidenciar um pouco do
que se trata essa autonomia que fa-
lamos até aqui e que é tão impor-
tância para o bom estabelecimento
da RMP. Autonomia é a capacida-
de do sujeito se autogovernar o
que pressupõe uma liberdade con -
tra interferências de outras pessoas
(por exemplo, médicos) sem coação
RELAÇÃO COM PACIENTES E FAMILIARES 90

\~~\"
~ SAIBA MAIS!
Estudo realizado com 300 pacientes idosos lúcidos, sem doenças psíquicas ou demência,
submetidos a procedimentos médicos invasivos no Hospital das Clínicas de Porto Alegre
teve como objet ivo ava liar a percepção de coerção dos mesmos no internamento. Verificou-
-se que a percepção de coerção foi baixa (82,7% sendo que destes 39.7% não perceberam
qualquer coerção. 28% notaram g rau mínimo de coerção e 15% t inha grau ba ixo de per-
cepção de coerção) . Outro resultado foi que 18,8% dos pacientes delegaram ao médico a
decisão sobre os procedimentos/intervenções que seriam realizados ou por pela gra-
vidade do quadro ou por não terem conhecimento suficiente para decidir o que seria
melhor. Todos os pacient es t inham em seus prontuá rios o Termo de Consentimento Livre
e Esclarecido mesmo quando foram submetidos a procedimentos de urgência e emergên -
cia. Os autores então, diante da ba ixa percepção de coerção dos pacientes que disseram
sentir-se respeitados por terem sua voluntariedade preservada, inferem que o médico após
o diagnóst ico explicou aos pacientes acerca das possibilidades de t rat amento, livre de pres-
sões externas. de modo que receberam orientações acerca dos procedimentos e opt aram por
realizá-lo ou em casos urgentes isso ficou sob responsabilidade dos médicos ou familiares.
Fonte: W ITTMANN-VIEIRA, R: GOLDIM. J.R Percepção de coerção de pacientes submet idos
a proced imento médico invasivo. Rev. bioét. (lmpr.) . 2019: 27 (4) 683-90
O ideal é que seja realizado o teste sorológico (ELISA) para Strongyloides (lgG). Se o test e for
negativo não é necessário rea liza r a profilaxia. Entretanto, na maioria das vezes, o corticoide
deve ser introduzido rapida mente e, por isso, é feita a profilaxia empírica, sem a realização de
exames.

Como dito, a relação médico- pacien - si mesmo sobre assuntos que dizem
te era (ainda ma is) assimét rica e em respeito a si mesmo. Como vimos na
nome do princípio da beneficência o aula de Dra. Camila, as pessoas elas
paciente era submet ido a diversos têm um fim em si mesmas de acordo
proced imentos, ciru rg ias e tratamen- com a perspectiva de Kant, logo, es-
tos sem que fosse dado a este o de- tas têm dignidade e não preço como
vido esclarecimento das cond utas os obj etos. Sabendo que as pessoas
propost as ou outra s opções, sendo a têm dignidade, liberdade e por isso
decisão exclus ivamente do médico. têm autonomia. podemos compre-
No entanto, em 1988 com a Constitui- ender como isso se expressa na área
ção Bra sileira o Esta do Bras ileiro re - da saúde que é através do esclare -
conhece a dignidade humana como cimento efet ivo por parte do méd ico
fundamento deste. Sendo a dignida- acerca dos cuidados em saúde que
de humana a própria autonomia do serão oferecidos para que o paciente
ser humano na percepção ético-ju rí- possa dar seu consentimento livre de
dica, reconhece-se que o ser humano quaisquer influências. por isso o nome
tem poder de decidir livremente por "consentimento livre e escla recido".
RELAÇÃO COM PACIENTES E FAMILIARES 91

_A•&
"..?': ~
....
~ ~ modo que as pessoas estão sub-
~ , CONCEITO! metidas a graus diferentes de vul-
Os quatro referenciais básicos da bioéti- nerabilidade sobretudo em um país
ca são os princípios da autonomia. não como o Brasil onde as desigua ldades
maleficência. beneficência e da justiça.]
são tão acent uadas e por isso t emos
g raus diversos de vu lnerabil idades
O princípio do respeito a autono- entre os pacient es que vão além da
mia tem sido uma das principais vul nera bilidade física causada pelas
ferramentas para a RMP. deven- doenças conhecidas na Med icina.
do o profiss ional de saúde respeita r Por isso. é importante que sempre
as decisões do paciente dando ele- se identifiq ue as possíveis vulne -
mentos para que o mesmo decida rabil idades do paciente para então
através do esclarecimento acerca de t raçar estratégias de cuidado que
suas dúvidas, sua condição de saú- busquem minimizar as mesmas
de e oferecendo possibilidades de para então favorecer o exercício
t ratamento baseada em evidências da autonomia . A capacidade civil é
chegando - se aquele conceito de de- um conceito mais ut ilizado no direito
cisão compa rt ilhada. No Capítulo IV que diz respeito a "gerência na vida
(sobre Direit os H umanos). Art. 22 civil" que determ inada pessoa passa
do CEM diz que é vedado ao méd i- a te r. então: ent re O e16 anos con-
co "deixar de obter consentiment o sidera-se que a pessoa é absolut a-
do pacien te ou de seu representante mente incapaz, entre 16 e 18 esta é
legal após escla recê- lo sobre o pro - relat ivamente capaz e acima dos 18
cedimento a ser rea lizado, salvo em anos considera-s e que a pessoa é
caso de risco iminente de mort e" em capaz de gerir sua vi da civil. No en -
seg uida. o A rt. 24 diz que é vedado tanto, na área da saúde é importante
ao méd ico "deixar de garantir ao pa - ressa ltarmos que nem sempre este
ciente o exercício do direito de deci- critério etário corresponde ao grau
dir livremente sobre sua pessoa ou de autonomia do paciente diante
seu bem - est ar. bem como exercer de uma situação que afeta a sua
sua autori dade para limitá - lo". saúde.

Uma análise trazida na aula de Dra .


Camila é a d ifere nça ent re vulnera -
bilidade, autonom ia e capacidade ci-
vil do paciente. A vulnerabilidade é
a "susceti bilidade de ser ferido" de
RELAÇÃO COM PACIENTES E FAMILIARES 92

MAPA MENTAL: RESUMO RELAÇÃO COM PACIENTE E FAMILIARES


RELAÇÃO COM PACIENTES E FAMILIARES 93

REFERÊNCIAS
BIBLIOGRAFICAS
Conselho Federal de Medicina. Código de Ética Méd ica: Resolução CFM no 2.217, de 27 de
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RESPONSABILIDADE
PROFISSIONAL
RESPONSABILIDADE PROFISSIONAL 96

1. INTRODUÇÃO Em face desta última causa, ressal-


ta-se a importância da empatia, da
A responsabilidade médica tem sido
pessoalidade e da conformação da
um tema bastante debatido no Bra-
confiança na relação médico-pa-
sil nos últimos anos. sobretudo após
ciente, de modo que seja possível es-
o aumento do número de processos
tabelecer um bom canal de comuni -
judiciais envolvendo médicos na Jus-
cação. Do contrário, alguma suposta
tiça Comum. Este contexto. em que
falha no tratamento ou insati sfação
possivelmente se podem encontra r
do paciente com a lgo que não foi
aspectos positivos, à medida que re-
muito bem esclarecido poderá levar
presenta o aumento da cidadania
o profissional da med icina a ser res-
na busca pelo acesso à Justiça, tam -
ponsabilizado - seja nos Tribunais
bém poderá trazer aspectos negati-
ou nos Conselhos Regiona is.
vos quando tende a ind icar a judicia-
lização excessiva da medicina, com
crescimento no número de demandas 2. SENTIDOS DA
evitáveis. RESPONSABILIDADE
, :.;::.;:.
..~ PROFISSIONAL
~ ~ONCEITO! A judicialização da medi- A responsabilidade profissional pode
cina é um fenômeno em que pacientes
ser compreendida em dois sentidos:
e médicos conflitam em demandas no
âmbito do judiciário. em geral figuran-
do como autores e réus. respectivamen-
te. sobretudo quando se trata de de- Sentido Moral
mandas indenizatórias.
Significa agir com responsabilida-
de. trata-se de um médico que age
Em geral, esses conflitos provêm da com zelo. sensatez. moderação. Tem -
relação assistencial da qual ambos -se. assim. o profissional que atua
faziam parte. e podem discutir, espe - com cuidado e respeito para com o
cia lmente. tanto a efetiva ocorrê ncia paci ente, assim, pode-se adjetivá-lo
de erros médicos, quanto alegações moralmente como um méd ico res-
d e cometimentos de erros cujos p onsável. Tal responsabilidade não é
fatos não restaram propriamente dotada de coercitividade. ou seja, não
esclarecidos por meio do diálogo, haverá penalidade para o médico que
ferramenta de comunicação de dis- se comportar de forma distinta da es-
cursos cuja ausência ou insuficiência perada no campo da moral. este po -
podem ser identificadas como um derá apenas ser censurado. no cam-
problema que persiste na história da po da consciência. pelo paciente ou
medicina. por seus fami liares.
RESPONSABILIDADE PROFISSIONAL 97

,
Sentido Etico-Jurídico imprudente, imperita ou negligente,
surge ent ão, um dever sucessivo.
H á um princípio j urídico segundo o
que é o dever de indenizar.
qual todas as pessoas são obrigadas
a responder por danos cau sados a
terceiros. a fim de que sejam resguar- Responsabilidade, para o
dados os interesses dos ind ivíduos Direito, nada mais é do que uma obriga -
ção derivada - um dever que só surge
no seio da coletividade. Quando um depois do aconteciment o de um fato -
médico vai atender um paciente, ele de assumir as consequências jurídicas
tem um dever originário: agir com de um fato, consequências estas que
podem variar (indenização e/ou puni-
prudência, perícia e diligência. Se
ção do sujeito responsável pelo fato) de
esse dever originário é descumpri- acordo com os interesses lesados.
do, ou seja , se o médico age de fo rma

SENTIDO ÉTICO-JURÍICO DA RESPONSABILIDADE

OBRIGAÇÃO (DEVER ORIGINÁRIO)

RESPONSABILIDADE(DEVER SUCESSIVO/
SECUNDÁRIO DE INDENIZAÇÃO)

• CIVIL
(Regida pelo Código Civil e Código
de Defesa do Consumidor)

• PENAL
(Regida pelo Código Penal)

• ÉTICO-ADMINISTRATIVA
(Perante os Conselhos de Medicina
Regida pelo Código de Ética Médica)
RESPONSABILIDADE PROFISSIONAL 98

Diferente da responsabilidade no cessantes até o fim da convales-


sentido moral. a responsabilidade éti- cença. além de algum outro pre-
co-jurídica é dotada de coercitividade. juízo que o ofendido prove haver
ou seja, seu cumprimento é obrigató- sofrido.
rio. imperativo. podendo ser aplicada Art. 951. O disposto nos artigos
uma penalidade para o médico que 948. 949 e 950 aplica-se ainda no
se comportar de forma diversa da- caso de indenização devida por
quela definida nas normas jurídicas aquele que, no exercício de ativi-
vigentes. dade profissional, por negligên-
At ualmente, o princípio da respon - cia, imprudência ou imperícia,
sabilidade profissional é aceito por causar a morte do paciente, agra-
todos - méd icos. j uristas e a própria var-lhe o mal, causar-lhe lesão,
sociedade - , desde que na aprecia- ou inabilitá-lo para o trabalho.
ção desses feitos fique caracteriza-
da uma conduta irregular ou inade-
quada contra o paciente, durante ou 2 . Responsabilidade Penal - Disci-
em face do exercício médico. plinada pelo Código Penal

No Brasil. a responsabilidade ético- Art. 18. Diz-se o crime: (...);


-jurídica do médico pode se dar em 11 - culposo. quando o agente deu
três âmbitos: causa ao resultado por impru-
dência, negligência ou imperícia.

1. Responsabilidade Civil - Discipli- Art. 133. Abandonar pessoa que


nada pelo Código Civil está sob seu cuidado, guarda,
vigilância ou autoridade. e. por
Art. 186. Aque le que. por ação ou qua lquer motivo, inca paz de de-
omissão voluntária. negligência fe nder-se dos ri scos resultantes do
ou imprudência, violar direito e abandono
ca usar dano a outrem. ainda que
exclusivamente moral. comet e ato Art. 135. Deixar de prestar assis-
ilícito. t ência. quando é possível fazê-lo
sem risco pessoal. à criança aban-
Art. 927. Aquele que. por ato ilícito donada ou extraviada. ou à pessoa
(artigos 186 e 187). causar dano a inválida ou ferida. ao desamparo
outrem fica obrigado a repará-lo. ou em grave e iminente perigo; ou
Art. 949. No caso de lesão ou não pedir. nesses casos. o auxílio
outra ofensa à saúde. o ofensor da autoridade pública:
indenizará o ofendido das des- Art. 135-A. Exigir cheque caução,
pesas do tratamento e dos lucros nota promissória ou qualquer
RESPONSABILI DADE PROFISSIONAL 99

garantia, bem como o preenchi- caracterizável como imperícia,


mento prévio de formulários admi- imprudência ou negligência.
nistrativos. como condição para o Parágrafo único. A responsabilida-
atendimento médico-hospitalar de médica é sempre pessoal e não
emergencial: (Incluído pela Lei n.0 pode ser presumida.
12.653. de 2012.)
Pena - detenção. de 3 (três) meses
SE LIGA! O Direito permite que a con -
a 1 (um) ano. e multa. (Incluído pela duta do médico(a) seja investigada nos
Lei n.0 12.653, de 2012.) 3 âmbitos ao mesmo tempo, podendo
o médico (a) ser penalizado(a) pelo
mesmo fato de 3 formas distintas.
tendo em vista que as instâncias são
3. Responsabilidade Ético-Profis- independentes e autônomas. A única
sional (CRM/CFM) - Disciplinada possibilidade de uma instância influen-
pelo Cód igo de Ética Médica ciar a outra é quando no âmbito penal
o médico é absolvido com fundamento
Capítulo 3: Responsabilidade na "Inexistência do fato" (Código Penal,
Profissional Art 386)
,
E vedado ao médico:
Art. 1 o Causar dano ao pa-
ciente, por ação ou omissão,

SAIBA MAIS!
O Ministério Público do Estado da Bahia tem o NACRES (Núcleo de Apuração de Crimes
Relativos a Erros na Área de Saúde). O cidadão que acredita ter sido vítima de erro cometi-
do por profissionais da área de saúde pode procurar este núcleo para que sejam adotadas
as providências cabíveis. Verificando-se a ocorrência de erro e afastada a hipótese de "ma u
resu lt ado" (aquele resultado indesejado, mas que desde o início era possível acont ecer). o
Promotor responsável pela apuração, através do NACRES. encaminhará os autos ao JECRIM
(Juizado Especial Criminal) nos casos de lesão corporal culposa ou fará denúncia. que será
encaminhada a uma das Varas Criminais nos casos de homicídio culposo.
RESPONSABILIDADE PROFISSIONAL 100

SENTIDOS DA RESPONSABILIDADE PROFISSIONAL

3. ELEMENTOS
ESSENCIAIS DA
RESPONSABILIDADE
MÉDICA
Conforme tem se noticiado nos cam -
pos médico e jurídico tem-se ve rifica- RESPONSABILIDADADE CIVIL
do no Brasil o aumento substancia l
de processos nos qua is se discute a
respo nsabil idade de médicos quan- RESPONSABILIDADADE PENAL
to ao dever de indenizar ou não, ou
seja, em que se debate a ocorrência RESPONSABILIDADADE
ou não ocorrência de erro médico a ÉTICO- PROFISSIONAL

ser reparado. Cumpre observar que


é devida a reparação, ou melhor. é
RESPONSABILIDADE PROFISSIONAL 101

co nst atada a responsabilidade médi- • NEXO DE CAUSALIDADE: liga -


ca que f az surgir o dever de indenizar, ção ent re a conduta e o possível
somente na presença concomitante prej uízo (dano);
de três pressupostos constitutivos:
• DANO: moral ou patrimon ial - ne-
cessa riamente deverá ser efetivo.
• CONDUTA: ação ou omissão; existente e verificável

ELEMENTOS ESSENCIAIS DA RESPONSABILIDADE

OM ISSÃO

4. EXCLUDENTES DO íntegra, ou sej a, não deve ser "in-


NEXO DE CAUSALIDADE terrompida" por nenhum outro fato
que concorra para um resultado
Como j á visto. assim como a condu -
diverso daquele que normalmente
ta e o dano. o nexo de causal idade é
aconteceria. Em geral, são eventos
um elemento essencial para que haj a
que colaboram de maneira contun-
a responsabilização do médico. Este
dente para o desfecho negativo. São
nexo. nada mais é do que a relação
eles:
de causa e efeito entre a conduta e
o dano. Esta relação deve se manter
RESPONSABILIDADE PROFISSIONAL 102

• FATO EXCLUSIVO DA VÍTIMA: a passou a suportara pós a cirurgi a


conduta do paciente é determi- mas. em verdade. elas advinham
nante para o desfecho negativo de manobra realizada por seu
do quadro. São situações em que fisioterapeuta.
o resultado adverso do tratamen -
• CASO FORTUITO OU FORÇA
to médico teve como causa odes -
MAIOR: Evento inevitável e/ou
cumprimento às recomendações
imprevisível.
sobre cuidados ou procedimentos
que seriam imprescindíveis e in-
condicionais para a devida cura. Por fim. fica claro que. com provada a
que vão desde um a alta por aban - responsabilidade do paciente, ou de
dono a uma suspensão precoce de fato d e terce iros, ou a ocorrência de
re médios. entre outros. caso fort uito ou força ma ior, fica o
• Ex. Paciente que contraria as orien- médico demandado isento de res-
tações médicas pós cirú rgicas e ponsabilização, por conseguinte,
provoca a ruptura dos pontos. isento também do dever de repa-
ração dos danos. E. se o médico se
• FATO DE TERCEIRO: Condu- julgar ofendido pelos danos patrimo-
ta adotada por uma terceira pes- niais ou extrapatrimoniais causados
soa que é determinante para o pela falsa imputação, acreditamos
desfecho. que tem ele o direito de pleitear uma
• Ex: Paciente acusa médico ciru r- indenização contra o paciente.
gião ortopédico pelas dores que

EXCLUDENTES DA RESPONSABILIDADE PROFISSIONAL

CONDUTA
CULPA EXCLUSIVA
DA VÍTIMA

EXCLUDENTES

CASO FORTUITO I
FORÇA MAIOR
RESPONSABILIDADE PROFISSIONAL 103

5. ANALISANDO A CULPA: direcionadas a causar o dano) +


RESPONSABILIDADE CIVIL Culpa Stricto Sensu
SUBJETIVA X OBJETIVA • Culpa Stricto Sensu [em sen-
A culpa é um elemento imprescindível tido restrito] = Imprudência e/
quando se trata da responsabilidade ou Imperícia e/ou Negligência
civil profissional. Pode ser dividia em * Violação de um dever de cuida-
duas classificações do que gera um dano previsível e
evitável, conforme os padrões de
• Culpa Latu Sensu [em sentido
comportamento do homem médio
amplo] = Dolo (vontade e intenção

ELEMENTOS DA CULPA

CULPA STRICTU SENSU


RESPONSABILIDADE PROFISSIONAL 104

Deste modo. a conduta culposa será • NEGLIGÊNCIA: Caracteriza- se


ca rat erizada quand o constatado uma pela inação, indolência, inércia,
destas três vertentes: passividade. E' a f alta de obser-
vância aos deveres
,
que as circun s-
• IMPERÍCIA: Caracteriza -se pela
tâncias exigem. E um ato omissivo,
falta de observação das normas.
quando podendo agir, o médico
por despreparo prático ou por in-
suficiência de conheciment os t éc-
- age.
nao
'
nicos. E a carência de aptidão,
prática ou teórica, para o de- SE LIGA! Para caracterização da condu-
sempenho de uma tarefa téc- ta culposa não é necessária a presença
concom itante destas t rês vertent es de
nica. Chama - se ainda imperícia culpa. basta uma delas para que o médi-
a incapacidade ou inabilitação co(a) seja responsabilizado.
para exercer determinado ofí-
cio, por falta de habilidade ou
pela ausência dos conhecimen-
tos rudimentares exigidos numa SE LIGA! Não se pode partir do pressu-
posto que um médico (a) agiu com im-
profissão.
perícia por não ter determinada especia-
• IMPRUDÊNCIA: Imprudente é o lidade. Em regra, o médico (a) pode atuar
em todas as áreas. não há legislação
médico que age sem a cautela que proíba a atuação. ele(a) só não pode
necessária. E' aq uele cujo ato ou anunciar/publicar especialidade que não
conduta são caracterizados pela possui.
intempestividade, precipitação,
insensatez ou inconsideração.

CULPA STRICTU SENSU


IMPRUDÊNCIA(AÇÃO) NEGLIGÊNCIA(OMISSÃO)
Falta de observância aos deveres
Agir sem a cautela. Conduta que as circunstâncias exigem. Au-
Carência de aptidão, prática ou te-
tomada com intempestivida- sência de conduta, inércia, passi-
órica, para o desempenho de uma
de, precipitação, insensatez ou vidade, dis plicência, indiferença.
tarefa técnica.
inconsideração. Quando podendo agir, o médico
não

A responsabilidade civil. enquanto Contudo. faz- se necessário pontuar


fenômeno j urídico decorrente da con - que existem duas cl assificações im-
vivência conflituosa do homem em portantes dentro da responsabi lidade
sociedade. é. na sua essência. uma civi l. tomando por base a análise da
coisa só: ter o dever de indeniza r. cu lpa. são elas:
RESPONSABILI DADE PROFISSIONAL 106

relação jurídica entre o médico e seus descaso, impulsividade ou falta


pacientes. de observância às regras técnicas.
Não poderá ser culpado se chegar à
~
~ ·~
-:: ,....-O NCEITO! Obrigação é uma relação
j uríd ica pessoal que vincula duas pes-
conclusão de que todo empenho foi
inútil em face da inexorabilidade do
soas. credor e devedor. em razão da caso, quando o especialista agiu de
qual uma fica "obrigada" a cumprir uma acordo com a "lei da arte", ou seja,
prest ação d e int eresse de outra pes-
soa, podendo ser uma prest ação de se os meios empregados eram de
d ar, fazer, não fazer e inden iza r. uso atual e sem contraindicações
~ - ~

• DE MEIO: Obriga a realiza-


:~ORA DA REVISÃO!
A responsabilização médica. portanto.
ção de atividade específica,
só ocorre quando a obrigação de meio
com prudência, zelo e perícia, não é cumprida. ou seja . em razão da
sem garantia de obter o re- violação de um dever pactuado. qual
sultado esperado. A ativida- seja o de empregar os melhores meios
técnico-científicos para o tratamento.
de é o próprio objeto contratado.
Ex: O médico tem o dever de usar
todos os meios técnico-científicos
adequados para o tratamento do SE LIGA! Há entendimento nos Tribu-
paciente. contudo, caso o pacien- nais de que quando o médico promete
te não seja curado. ele não poderá o resultado de algum tratamento. espe-
cialmente mostrando fotos de "antes/
ser responsabilizado
depois", ele pode ser responsabilizado
• DE RESULTADO (FIM): obriga a mesmo que sua obrigação seja de meio.
Além disso. há também o entendimen-
um res ultado específico. o fim a se to de que em ciru rg ia estética. não re-
atingir é o objeto co ntrata do. paradora. a obrigação do médico e de
resultado.

A obrigação do médico é de meio


porque o objeto do seu contrato é a 7. RESPONSABILIDADE
própria assistência ao seu paciente. ÉTICO-PROFISSIONAL-
quando se compromete empregar to- CONSELHO REGIONAL DE
dos os recursos ao seu alcance, sem, MEDICINA (CRM)
no entanto. poder garantir sempre um De acordo com o artigo 2° da Lei
sucesso. 3268/57. que trata dos Conselhos de
Só pode ser considerado culpado Medicina do país: "O conselho Federal
se ele procedeu sem os devidos e os Conselhos Regionais de Medici-
cuidados, agindo com insensatez, na são os órgãos supervisores da
RESPONSABILIDADE PROFISSIONAL 105

• Responsabilidade Civil Objetiva: H á entendimento consol idado nos


É aquela decorrente de da no cau- Tribunais de Justiça do país de que se
sado independente da culpa do aplica o Código de Defesa do Con-
agente. Mesmo que o agente não sumidor na solução de conf litos en -
tenha sido culpado pelo dano tre médicos e pacient es, sendo estes.
causado, haverá uma presunção respectivament e cons iderados como
de culpa, ou seja, ele será res- fornecedor e cliente. No CDC. a re-
ponsabilizado em razão do dever gra geral é a responsabilidade objet i-
geral de vigilância a que está obri - va, contudo, tratando-se da relação
gado a ter. O Código Civi l disciplina médico-paciente, a responsabilida-
essa responsabi lidade no seguinte de por eventual "defeito/erro" no
artigo: serviço prestado é subjetiva - com
Art. 927. Aq uele que. por ato ilícito análise da culpa - e definida no se -
(art igos 186 e 187), causar dano a guinte art igo:
outrem fica obrigado a repará- lo. Art. 14. O fornecedo r de serviços
Parágrafo único. Haverá obrigação responde. independentemente da
de reparar o dano, independente- existência de culpa, pela repara -
mente de culpa, nos casos espe- ção dos danos ca usados aos con -
cificados em lei. ou quando a ativi- sum idores por defeitos relativos à
dade normalmente desenvolvida prestação dos serviços. bem como
pelo autor do dano implicar, por por informações insuficientes ou
sua natureza, risco para os direi- inadequadas sobre sua f ruição e
riSCOS.
tos de outrem.
§ 4 o A responsabilidade pesso-
• Responsabilidade
,
Civil Subjeti-
al dos profissionais liberais será
va: E aquela decorrente de dano
apurada mediante a verificação
ca usado em função de ato doloso
de culpa.]
ou cu lposo. O agente causado r do
dano at ua com a violação de um
dever jurídico orig inário. normal- -
6. OBRIGAÇAO DE MEIO X
mente de cuidado. Só poderá ser RESULTADO
responsabilizado mediante a aná-
Um dos fatores que também colabora
lise de sua culpa para a ocorrência
do dano alegado. para o elevado número de demandas
jud iciais sobre a profissão médica é
a confusão que se fa z a respeito do
H á uma imensa discussão acerca da tipo de obrigação do profissional da
relação médico - paciente ser enqua - medicina, ou seja, qual a natu reza da
drado como uma re lação de consumo.
RESPONSABILIDADE PROFISSIONAL 107

ética profissional em toda a Repú- A apuração prossegue e será feita


blica e ao mesmo tempo, julgadores por uma Câmara do Conselho Regio-
e disciplinadores da classe médica, nal - composta por alguns médicos -
cabendo-lhes zelar e trabalhar por que julgarão se é o caso de arquivar
todos os meios ao seu alcance. pelo a denúncia,
ou de instaurar um Pro-
perfeito desempenho ético da medi- cesso Etico Profissional para apurar
cina e pelo prestígio e bom concei - de formar mais esmiuçada a condu -
to da profissão e dos que a exerçam ta em, questão. Instaurado o Proces-
legalmente.". so Etico-Profissional, haverá uma
A responsabilidade ético-profissional série de procedimentos para ouvir o
é disciplinada pelo Código de Ética paciente. o médico. as testemunhas,
Médica (Resolução CFM no 2.217. ava liar as provas e fina lmente julgar.
de 27 de setembro de 2018), regi- O julgamento
,
é a fase fina l do Pro -
da pelo Código de Processo Ético cesso Etico Profissional, é nela que o
Profissional (RESOLUÇÃO CFM No os Conselheiros decidem - através de
2.145/2016) e tem. em síntese. o se - votos - se o médico será absolvido
guinte rito: ou condenado.

A apuração é dividida em duas fases: As penalidades são fixadas no artigo


Sindicância e Processo Ético Profis- 22 da Lei 3268/57, são elas: a) ad -
sional. O paciente que se sentir lesa- vertência confidencial em aviso re -
do de alguma forma por uma condu- servado; b) censura confidencial em
ta médica pode fazer uma denúncia aviso reservado; c) censura pública
no Conselho Regiona l de seu Estado. em publicação oficial; d) suspensão
Nesta denúncia serão analisados al- do exercício profissional até 30 (trin-
guns requis itos, se preenchidos. ini- ta) dias; e) cassação do exercício pro -
cia - se um procedimento chamado fissiona l, ad referendum do Conselho
Sindicância. esta é uma espécie de Federa l.
"invest igação preliminar", na qual o
médico é chamado a se manifestar
sobre os fatos alegados na denúncia.
RESPONSABILIDADE PROFISSIONAL 109

Código de ética médica: capítulo 3 condutas que não devem ser adota-
das pelos médicos em seu exercício
O capítulo sobre responsabilidade
,
profissional. Esses 21 artigos podem
profissional no Código de Etica Mé-
ser divididos em 8 grupos:
dica é composto de 21 artigos, to-
dos disciplinando expressamente
RESPONSABILIDADE PROFISSIONAL 110

8. RESPONSABILIDADE ~~--------------------
POR ATO MÉDICO "" /CoNCEITO! Ato médico específico é o
' conjunto de práticas e de ensinamentos
E vedado ao médico: exercido ou supervisionado de forma
exclusiva pelos que estão legalmen -
Art. 1 o Causar dano ao paciente.
te habilitados para o exercício da pro-
por ação ou omissão. caracterizá- fissão médica e aceito e recomendado
vel como imperícia. imprudência ou pelas instituições responsáveis pela
negligência. fiscalização da medicina. pelas institui-
ções médicas científicas e pelos apare-
Parágrafo único. A responsabili- lhos formadores desta profissão. Este
dade médica é sempre pessoal e ato médico específico está delimitado
por um núcleo conceitual que inclui a
não pode ser presumida
propedêutica e a terapêutica médicas
Art. 2° Delegar a outros profissio - como atividades estritamente privativas
do médico. Exemplo: atestar óbito. pra -
nais atos ou atribuições exclusi-
ticar uma anestesia ou proceder a uma
vas da profissão médica. laparotomia.
Art. 3° Deixar de assumir res-
ponsabilidade sobre procedimen-
9. AFASTAMENTO DAS
to médico que indicou ou do qual
ATIVIDADES MÉDICAS
pa rticipou. mesmo quando vá-
rios médicos tenham assistido o Art. 7° Deixar de atender em se-
paciente. tores de urgên cia e emergência.
Art. 4° Deixar de assumir a res- quando for de sua obrigação fa-
ponsabilidade de qualquer ato zê-lo. mesmo respaldado por deci-
profissional que tenha praticado são majoritária da categoria.
ou ind icado. ainda que solicitado Art. aoAfastar-se de suas ativi-
ou consentido pelo paciente ou por dades profissionais. mesmo tem -
seu representa nte legal. porariamente. sem deixar outro
Art. so Assumir responsabilida- médico encarregado do atendi-
de por ato médico que não prati- mento de seus pacientes inter-
cou ou do qual não participou. nados ou em estado grave.

Art. 6° Atribuir seus insucessos


SE LIGA! Em caso de afastamento tem-
a terceiros e a circunstâncias porário. é dever do méd ico deixar outro
ocasionais. exceto nos casos em médico encarregado. Lembre-se que
que isso possa ser devidamente enquanto o seu colega não chega, você
deve permanecer no plantão e comuni-
comprovado.
car a direção técnica para providenciar
outro plantonista.
RES PONSABILIDA DE PRO FI SSIONAL 111

10. AUSÊNCIA A PLANTÃO Os interesses da profissão médica.


MÉDICO embora implique esta um re laciona-
mento mais ou menos rese rvado en -
Art. go Deixar de comparecer a
tre o paciente e o médico. não estão
plantão em horário preestabele-
exclusivamente na esfera privada,
cido ou abandoná-lo sem a pre-
pois a saúde dos indivíduos encontra -
sença de substituto. salvo por justo -se no âmbito da ordem pública. ad -
impedimento. mitindo-se haver maiores vantag ens
Parágrafo único. Na ausência de sociais se lhes for dada uma correta
médico plantonista substituto. a assistência. A licença para o exercí-
direção técnica do estabeleci- cio da med icina é um ato exclusivo
mento de saúde deve providen- da autoridade do Est ado. A profissão
ciar a substituição. está regida por obrigações e deveres.
disciplinados nas normas adminis -
SE LIGA! É devido o cumprimento de
trativas e universitárias. E o exercício
responsabilidades assumidas. ainda ilegal, por sua vez. está submetido às
que na instituição estejam presentes ou- infrações do Código Penal.
tros profissiona is que assistiram aos pa-
cientes. de maneira que, havendo ne-
cessidade de ausência, deve o médico
cuidar pa ra fa zer-se substituir. MU l-
12. LAUDOS,
TO CUIDA DO AO FA ZER-SE SUBS- DOCUMENTOS MÉDICOS E
TITUIR! Certifique-se de ter um registo ESCLARECIMENTO
documental do aceite do colega (E-mail.
preferencialmente. com nome completo. Art. 11. Receitar, atestar ou emi-
CRM e telefone do médico substituto) . tir laudos de forma secreta ou ile-
Tenha cu idado com ferramentas infor-
gível, sem a devida identificação
mais - telefone. whatsapp - e não deixe
de informar a direção da in stituição. de seu número de registro no Con -
selho Regional de Medicina da sua
jurisd ição, bem como assinar em
11. CONSENTIMENTO COM branco folhas de receituários,
O EXERCÍCIO ILEGAL DA atestados, laudos ou quaisquer
MEDICINA outros documentos médicos.
Art. 10. Acumpliciar-se com os Art. 12. Deixar de esclarecer o
que exercem ilegalmente a me- trabalhador sobre as cond ições de
dicina ou com profissionais ou t ra balho que ponham em risco sua
instituições médicas nas quais se saúde. devendo comunicar o fato
pratiquem atos ilícitos. aos empregadores responsáve is.
Parágrafo único. Se o fato persis -
tir, é dev er do médico comunicar
RESPONSABILIDADE PROFISSIONAL 112

o ocorrido às autoridades compe- 111 - criar embriões com fina-


tentes e ao Conselho Regional de lidades de escolha de sexo.
Medicina eugenia ou para originar hí-
Art. 13. Deixar de esclarecer o bridos ou quimeras.
paciente sobre as determinantes § 3° Praticar procedimento de
sociais, ambientais ou profissionais procriação medicamente assis -
de sua doença. tida sem que os participantes
estejam de inteiro acordo e de-
v idamente esclarecidos sobre o
13. DESCUMPRIMENTO método.
DE LEGISLAÇÕES
ESPECÍFICAS Art. 16. Intervir sobre o geno-
ma humano com vista à sua mo-
Art. 14. Praticar ou indicar atos dificação. exceto na terapia gê-
médicos desnecessários ou proi- nica, excluindo - se qualquer ação
bidos pela legislação vigente no em células germinativas que re-
País. sulte na modificação genética da
Art. 15. Descumprir legislação descendência.
específica nos casos de trans-
plantes de órgãos ou de tecidos,
esterilização, fecundação artifi-
14. DESCUMPRIMENTO DE
NORMAS DO CONSELHO
cial, abortamento. manipulação
. , .
ou terap1a genet1ca. Art. 17. Deixar de cumprir, sal-
§ 1o No caso de procriação medi- vo por motivo justo. as normas
camente assistida, a fertil izaçã o emanadas dos Conselhos Fede-
não deve cond uzi r sistematica - ral e Regionais de Medicina e de
mente à ocorrência de embriões atender às suas requisições ad -
supranumerários. ministrativas. intimações ou not ifi-
cações no prazo determ inado.
§ 2° O médico não deve reali-
zar a procriação medicamente Art. 18. Desobedecer aos acór-
assistida com nenhum dos se - dãos e às resoluções dos Conse-
guintes objetivos: lhos Federal e Regionais de Medi-
cina ou desrespeitá-los.
I -criar seres humanos gene-
ticamente modificados;
11 criar embriões para
investigação;
RESPONSABILIDADE PROFISSIONAL 11 3

15. DESCUMPRIMENTO ou privado da assistência à saú-


DE DEVER FUNCIONAL E de. interfi ram na escolha dos me-
COLABORAÇÃO lhores meios de prevenção. diag-
nóstico ou t ratamento disponíveis
Art. 19. Deixar de assegurar.
e cientificamente reconhecidos no
quando investido em cargo ou
interesse da saúde do paciente ou
função de direção, os direit os dos
da sociedade.
médicos e as demais condições
adeq uadas para o desempenho Art. 21. Deixar de colaborar com
éti co - profissional da medicina as aut oridades sanitárias ou infrin-
gir a legislação pertinente.
Art. 20. Permitir que interesses
pecuniários, políti cos. religiosos ou
de quaisquer outras ordens. do seu
empregador ou superior hierár-
quico ou do financiador público
RESPONSABILIDADE PROFISSIONAL 108

RESPONSABILIDADE ÉTICO-PROFISSIONAL

REJEITA ACOLHE

ARQUIVA

INSTAURA

a) advertência confidencial em aviso reservado;

b) censura confidencial em aviso reservado;

c) censura pública em publicação oficial;

d) Suspensão do exercício profissional até 30 (trinta) dias;

e) cassação do exercício profissional, ad referendum do Conselho Federal.


RESPONSABILIDADE PROFISSIONAL 115

REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
VASCONCELOS C. Responsabilidade médica e judicialização na relação médico paciente.
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