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SOCIEDADE PORTUGUESA

PARA O ESTUDO DAS AVES

LABOR- LABORATÓRIO DE ORNITOLOGIA


– ICAAM - UNIVERSIDADE DE ÉVORA

INSTITUTO DA CONSERVAÇÃO
DA NATUREZA E DAS FLORESTAS

INSTITUTO DAS FLORESTAS E


CONSERVAÇÃO DA NATUREZA (MADEIRA)

SECRETARIA REGIONAL DA ENERGIA,


AMBIENTE E TURISMO (AÇORES)

ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA
DE ANILHADORES DE AVES

Parceiros 1
Ficha técnica

Citação recomendada DESIGN GRÁFICO

Equipa Atlas (2018). Atlas das Aves Invernantes e Migradoras de Frederico Arruda e Susana Costa
Portugal 2011-2013. Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, FOTO CAPA

LabOr- Laboratório de Ornitologia – ICAAM - Universidade de © Andy Hay - rspb.images.com


Évora, Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, Insti-
tuto das Florestas e Conservação da Natureza (Madeira), Secreta-
ria Regional da Energia, Ambiente e Turismo (Açores) e Associação
Portuguesa de Anilhadores de Aves. Lisboa.

Comissão Científica
Domingos Leitão1, Pedro Geraldes1, Helder Costa1, Carlos
Godinho2, João Rabaça2, Júlia Almeida3, Pedro Sepúlveda4,
Rita Melo5, Afonso Rocha6 e Frederico Lobo6

Equipa Atlas
COORDENAÇÃO E REVISÃO DE TEXTOS
Domingos Leitão1
MODELAÇÃO DE DADOS, PRODUÇÃO DE MAPAS E REVISÃO DE TEXTOS Co-financiamento
Carlos Godinho2, Luís Gomes2
EDP - Energias de Portugal
GESTÃO DE DADOS
Projeto co-financiado pelo Fundo EDP para a Biodiversidade 2010
Ana Meirinho1
Honeyguide Wildlife Holidays
GESTÃO DE VOLUNTÁRIOS E COLABORADORES
Vanessa Oliveira1
REVISÃO DE TEXTOS
Helder Costa1, Júlia Almeida3, Rui Machado1

1 Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves 2 LabOr- Labora- Entidades parceiras
tório de Ornitologia – ICAAM - Universidade de Évora 3 Instituto Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves
da Conservação da Natureza e das Florestas, IP 4 Instituto das LabOr- Laboratório de Ornitologia – ICAAM - Universidade de Évora
Florestas e Conservação da Natureza, IP - RAM 5 Secretaria Regio- Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, IP
nal da Energia, Ambiente e Turismo (Açores) 6 Associação Portu- Instituto das Florestas e Conservação da Natureza, IP - RAM
guesa de Anilhadores de Aves Secretaria Regional da Energia, Ambiente e Turismo (Açores)
Associação Portuguesa de Anilhadores de Aves

Coordenadores Regionais
Ana Isabel Fagundes, Ana Teresa Marques, António Rosa, Bárbara
Fráguas, Carlos Cruz, Carlos Pacheco, Carlos Pereira, Eduardo Reali- Apoio
nho, Hélder Cardoso, Henk Feith, João Tiago Tavares, José Jambas, Parque Biológico de Gaia
Marcial Felgueiras, Miguel Cardoso, Paulo Tenreiro, Paulo Travassos, ATN – Associação Transumância e Natureza
Pedro Cardia Lopes e Vitor Encarnação A ROCHA – Associação Cristã de Estudos e Defesa do Ambiente

CO-FINANCIAMENTO ENTIDADES PARCEIRAS

2 Ficha de espécies
SOCIEDADE PORTUGUESA INSTITUTO DA CONSERVAÇÃO SECRETARIA REGIONAL DA
PARA O ESTUDO DAS AVES DA NATUREZA E DAS ENERGIA, AMBIENTE E TURISMO
FLORESTAS (AÇORES)
LABOR- LABORATÓRIO DE
ORNITOLOGIA – ICAAM - INSTITUTO DAS FLORESTAS E ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA
UNIVERSIDADE DE ÉVORA CONSERVAÇÃO DA NATUREZA DE ANILHADORES DE AVES
(MADEIRA)

Ficha de espécies 3
Narceja-comum © Andy Hay
rspb.images.com

4 Ficha de espécies
Índice
Parceiros
06
Equipa
08
Nota Prévia
10
Textos introdutórios
12
14 Génese do projecto

15 Migração e invernada de aves em Portugal


18 Condições meteorológicas durante o período do atlas

19 Metodologia
28 Resultados gerais

Espécies regulares 30
32 Ficha explicativa 182 Gruiformes
34 Galiformes 190 Charadriiformes
40 Anseriformes 312 Pterocliformes
70 Procellariiformes 314 Columbiformes
90 Podicipediformes 326 Psittaciformes
96 Phoenicopteriformes 328 Cuculiformes
98 Ciconiiformes 332 Strigiformes
102 Pelecaniformes 346 Caprimulgiformes
124 Suliformes 358 Coraciiformes
130 Falconiformes 364 Bucerotiformes
140 Accipitriformes 366 Piciformes
178 Otidiformes 374 Passeriformes

Espécies com poucos registos 604


Referências bibliográficas 610
Ficha de espécies 5
Parceiros

SPEA A SPEA é uma organização não-governamental de


Sociedade Portuguesa ambiente sem fins lucrativos que promove o estudo e
para o Estudo das Aves conservação das aves e seus habitats, incentivando o desen-
www.spea.pt volvimento sustentável para benefício das gerações futu-
ras. A SPEA é o representante da Birdlife International em
Portugal, desde 1999. Além das atividades de investigação e
conservação da natureza, a SPEA também se dedica à sensi-
bilização, educação e divulgação ambiental. A SPEA coor-
denou este projeto Atlas, com responsabilidade ao nível da
comissão científica, administração, coordenação de voluntá-
rios, gestão de dados e comunicação.

O LabOr - Laboratório de Ornitologia da Universidade


LabOr de Évora está integrado no Grupo de Investigação Paisa-
Laboratório de Ornitologia
da Universidade de Évora gem, Biodiversidade e Sistemas Sócio-Ecológicos do Insti-
tuto de Ciências Agrárias e Ambientais Mediterrânicas
www.labor.uevora.pt
(ICAAM). Este enquadramento potencia como missão do
LabOr o desenvolvimento de ações de âmbito pedagógico,
científico e de extensão, em particular nas áreas da Ornito-
logia e Biologia da Conservação. O LabOr esteve represen-
tado na comissão científica e foi responsável pela promoção
do projeto e o pelo tratamento e modelação dos dados.

ICNF, I.P. O ICNF tem por missão propor, acompanhar e assegu-


Instituto da Conservação rar a execução das políticas de conservação da natureza
da Natureza e das Florestas e das florestas e a gestão das áreas protegidas, visando a
www.icnf.pt conservação, a utilização sustentável, a valorização, a frui-
ção e o reconhecimento público do património natural,
promovendo o desenvolvimento sustentável dos espaços
florestais e dos recursos associados, fomentar a competiti-
vidade das fileiras florestais, assegurar a prevenção estru-
tural no quadro do planeamento e atuação concertadas
no domínio da defesa da floresta e dos recursos cinegéti-
cos e aquícolas das águas interiores e outros diretamente
associados à floresta e às atividades silvícolas. O ICNF
esteve representado na comissão científica e foi respon-
sável pela promoção do projeto em Portugal Continental.

6 Parceiros
IFCN O Instituto das Florestas e Conservação da Natureza da
Instituto das Florestas Madeira (IFCN) está integrado na Secretaria Regional do
e Conservação da Natureza Ambiente e dos Recursos Naturais e tem por objetivos prio-
(Madeira) ritários: criar, promover e apoiar ações de conservação e
ifcn.madeira.gov.pt melhoria dos recursos naturais e da biodiversidade, defesa
da paisagem e do meio rural, nas diversas Áreas Protegidas;
e desenvolver e promover iniciativas de sensibilização e de
informação das populações locais, com especial atenção à
comunidade escolar e comunidade rural, e dos visitantes
relativamente a valores ambientais, culturais e paisagísticos,
bem como a sua utilização sustentada. Este Serviço tem sob
a sua jurisdição as Áreas Protegidas da Região Autónoma
da Madeira (RAM). O IFCN esteve representado na comis-
são científica e foi responsável pela promoção do projeto na
Região Autónoma da Madeira.

SREAT A SREAT é o departamento do Governo da Região Autó-


noma dos Açores que define e executa a política regional no
Secretaria Regional da Energia,
Ambiente e Turismo (Açores) setor energético, ambiental, do ordenamento do território e
urbanismo, dos recursos hídricos e da conservação da natu-
www.azores.gov.pt/Portal/pt/
reza e biodiversidade e do Turismo nos seus diversos aspe-
entidades/sreat
tos e sob uma perspetiva global e integrada, promovendo a
qualidade, educação e formação ambientais. A SREAT esteve
representada na comissão científica e foi responsável pela
promoção do projeto na Região Autónoma dos Açores.

APAA A APAA é uma associação sem fins lucrativos que promove


Associação Portuguesa e dinamiza o estudo das aves selvagens, através da sua anilha-
de Anilhadores de Aves gem e de outros processos de marcação. Desenvolve e apoia
www.apaa.pt a formação técnica e científica em ornitologia e conservação
da natureza. A APAA esteve representada na comissão cien-
tífica e foi responsável pela promoção do projeto junto dos
anilhadores de aves e por coordenar a recolha de dados atra-
vés de anilhagem científica.

Parceiros 7
Equipa

Agradecimentos

A equipa do Atlas das Aves Invernantes e Migradoras de


Portugal agradece a todos os colaboradores que de algum
modo contribuíram para este projecto. Só o apoio, dedica-
ção e profissionalismo de muitos tornaram possível esta aven-
tura ornitológica. Agradecemos especialmente a todos os que
deram trabalho voluntário, na recolha de dados, na coordena-
ção regional, no tratamento de dados, na produção e revisão
dos textos. Agradecemos também aos fotógrafos que, com a © Mike Langman
rspb-images.com

sua arte e altruísmo, abrilhantaram a monografia final deste


atlas. Agradecemos ainda a todas as entidades que apoiaram
este projecto financeiramente, com trabalho e com dados.

Revisão da metodologia Anilhadores de aves

Carlos Pereira, Carlos Santos, Gonçalo Elias, Hélder Afonso Rocha, António Cunha Pereira, Antó- Cardoso, Joana Cruz, José Alves, Júlio M. Neto,
Cardoso, Joana Andrade, João E. Rabaça, João nio Manuel Marques, António Manuel Rosa, Luis Pascoal da Silva, Nuno Ventinhas, Paulo Mota,
Nunes, Luís Costa, Michael Armelin, Paulo Catry, Carlos Godinho, Carlos Pacheco, Cláudia Matos, Paulo Tenreiro, Pedro Pereira, Sérgio Pedrosa-Mar-
Paulo Travassos, Pedro Pereira, Pedro Salgueiro, F. Bragança, Fernando Sabino Rodrigues, Filipe ques e Thijs Valkenburg
Ricardo Tomé, Rui Lourenço e Vitor Encarnação Moniz, Frederico Lobo, Guillaume Réthoré, Hélder

Autores de textos das espécies

Alexandre Leitão, Ana Isabel Fagundes, Ana Leal, Hugo Sampaio, Inês Catry, Inês Roque, Joana Andrade, Mendes, Milene Matos, Nuno Barros, Nuno Oliveira,
Ana Teresa Marques, Carlos Cruz, Carlos Godinho, Joana Santana, João E Rabaça, João Guilherme, João Nuno Vieira, Paulo Catry, Paulo Marques, Paulo Travas-
Carlos Pacheco, Carlos Pedro Diogo Santos, Carlos Nunes, João Paulo Silva, João Quadrado, João Tiago sos, Pedro A. Salgueiro, Pedro Cardia, Pedro Geraldes,
Pereira, Cecília Melo, David Gonçalves, Dília Mene- Tavares, Joaquim Teodósio, José Alves, Julieta Costa, Pedro Pereira, Pedro Salgueiro, Pedro Sepúlveda,
zes, Domingos Leitão, Filipe Canário, Frederico Lobo, Júlio Neto, Luis Pascoal Silva, Luis Reino, Luís Venâncio, Ricardo Lima, Ricardo Martins, Ricardo Tomé, Rogério
Gonçalo Elias, Helder Costa, Helena Reis Batalha, Luísa Catarino, Maria Peixe Dias, Miguel Araújo, Miguel Cangarato, Rui Lourenço, Rui Morgado e Teresa Catry

Fotógrafos

Agostinho Gomes, Alberto Maia, Ana Isabel Fagun- sio, Jorge Araújo da Silva, Jorge Meneses, Jorge Moreira, Rafael Palomo, Ricardo Guerreiro, Ricardo
des, António A Gonçalves, Bianca Vieira, Bruno Rodrigues, José Carlos Morais, José Frade, José Lourenço, Romão Machado, Ruben Coelho, Tânia
Maia, Carlos Cabral, Carlos Ribeiro, D. Trujillo, Juan Hernández, José Marques, José Sousa, José Pipa, Teodoro, Thijs Valkenburg, Tiago Caravana,
D’Almeida Simões, Dinis Cortes, Diogo Oliveira, Viana, Júlio Caldas, Luís Ferreira, Luís Quinta, Luís Tina Chaves, Victor Cruz e Victor Maia
Faísca, Filipe Viveiros, Helder Costa, Henrique Rodrigues, Marco Ferreira, Matthias Tissot, Nuno
Oliveira Pires, Jacinto Policarpo, João Quaresma, de Macedo, Paulo Belo, Paulo Loureiro, Paulo
Joaquim Antunes, Joaquim Grave, Joaquim Teodó- Marques, Pedro Geraldes, Pedro Monteiro, Pinto

8 Parceiros
Observadores de campo

Adriana Silva, Afonso Rocha, Agostinho Tomás, Batalha, Helena Campos, Helena Carvalho, Helena Miguel Mendes, Milene Matos, Nádia Coelho,
Alexandra Rodrigues, Alexandre H. Leitão, Alexan- Silva, Hélio Tomás, Henk Feith, Hernani Mesquita, Natália Melo, Neide Marguerido , Nelson Fonseca,
dre Pereira, Alfonso Godino, Alice Gama, Álvaro Hugo Rufp, Hugo Sampaio, Henrique Velez, Hugo Nélson Moura, Nelson Pereira, Nicola Pestana,
Reis, Alzira Pereira, Ana Alexandra Fonseca, Ana Zina, Humberto Pires, Inês Henriques, Inês Lopes, Nuno Alves, Nuno Barros, Nuno Cidraes Vieira,
Cesário, Ana Coelho Ferreira, Ana Isabel Fagundes, Inês Range, Inês Roque, Isidoro Soares Teodoro, Nuno Cidraes-Vieira, Nuno Faria, Nuno Guégués,
Ana Lopes Pereira, Ana Luísa Catarino, Ana Marga- Ivo Coelho, Jacinto Diamantino, Jael Palhas, Jaime Nuno Loura, Nuno Luz, Nuno Martins, Nuno Mota,
rida Marques, Ana Maria Pereira, Ana Mendes, Ana Bairos, Joana Andrade, Joana Cruz, João Adrião, Nuno Oliveira, Nuno Santos, Nuno Sarmento, Nuno
Penteado, Ana Pereira, Ana Teresa Pereira, André João Branco, João Calado da Maia, João Caria Seabra, Nuno Ventinhas, Olímpio Pedro, Otília
Antunes, André Ferreira, Andreia Dias, António Rodrigues, João Carlos Claro, João Castellano Tavares, Patrícia Lazcano, Patrícia Serrano Cande-
Barreira, António Cunha Pereira, António Espinha Rodrigues, João E. Rabaça, João Esteves, João las, Paulo Alves, Paulo Belo, Paulo Encarnação,
Monteiro, António Ginja, António A. Gonçalves, Gaiola, João Guilherme, João Luís Almeida, João Paulo Ferreira, Paulo Garcia, Paulo Mota, Paulo
António Marques, António Mendonça, António Rosa, Monteiro, João Nunes, João Paulo Carvalho, João Paixão, Paulo Pereira Pinto, Paulo Tenreiro, Paulo
António Vasconcelos, Augusto Faustino, Bárbara Paulo Duque, João Paulo Fernandes, João Paulo Travassos, Pedro Alexandre Salgueiro, Pedro Barão
Fráguas, Beatriz Estanque, Bernardo Conde, Bert Ferreira, João Pedro Pina, João Petronilho, João Cunha, Pedro Cardia, Pedro Cordeiro, Pedro Correia,
Snijder, Bruno Aveiro, Bruno Herlander Martins, Quadrado, João Rua, João Tiago Tavares, João Vaz, Pedro Cristóvão, Pedro de Jesus, Pedro Fernan-
Bruno Leitão, Bryan Myer, Carlos Almeida, Carlos Joaquim Muchaxo, Joël Bried, Jorge Amaral, Jorge des, Pedro Geraldes, Pedro Grilo, Pedro Lopes da
Carrapato, Carlos Franco, Carlos Godinho, Carlos Antunes, Jorge Cardoso, Jorge Miguel Pina, Jorge Silva, Pedro Loureiro, Pedro Lourenço, Pedro Miguel
Jorge Marques, Carlos Magalhães, Carlos Medeiros, Safara, Jorge Santos, Jorge Silva, José Artur Pinto, Araújo, Pedro Nicolau, Pedro Pereira, Pedro Rama-
Carlos Miguel da Cruz, Carlos Pacheco, Carlos Pedro José Conde, José Eduardo Antunes, José Flores lho, Pedro Ramos, Pedro Ribeiro, Pedro Salgueiro,
Santos, Carlos Pereira, Carlos Silva, Carlos Vilhena, Gomes, José Jambas, José João, José Marques, Pedro Sepúlveda , Peter Dedicoat, Rafaela Anjos,
Carolina Ferraz, Catarina Mourato, Catarina Varela, José Miguel Oliveira, José Paulo Cortez, José Paulo Rafael Moreira, Rafael Rocha, Raquel Tavares, Ray
Cátia Gouveia, Cátia Matos, Cecília Melo, Cidália Monteiro, José Raiado Pereira, Juan Conde, Júlio M. Tipper, Ricardo Barreiros, Ricardo Barrela, Ricardo
Ramada, Claire Duchenne, Cláudio Ferreira, Cláudio Neto, Júlio Reis, June Dedicoat, Laura Garcia, Leila Belo, Ricardo Brandão, Ricardo Ceia, Ricardo Jorge,
Heitor, Clive Viney, D’Almeida Simões, Daniel Santos, Duarte, Lídia Freixa, Luís Aguiar, Luís Alberto, Luís Ricardo Lima, Ricardo Nabais, Ricardo Ramalho,
Daniela Costa, Dário Cerejeira, David Amaro, David Carreira, Luis Côrte-Real, Luís Costa, Luís de Sousa, Ricardo Tomé, Ricardo Vieira, Rita Melo, Roger Skan,
Correia, David Gonçalves, David Guimarães, Dinis Luís Manso, Luís Nogueira Santos, Luís Pascoal Romão Machado, Rúben Coelho, Ruben Heleno, Rui
Geraldes, Diogo Amaro, Domingos Leitão, Duarte Silva, Luís Queirós, Luís Reino, Luís Venâncio, Luís Caratão, Rui Cordeiro, Rui Ferreira, Rui Lourenço,
Quintas, Edgar Ribeiro, Eduardo Mendes, Eduardo Vieira, Magnus Robb, Manuel Aldeias, Manuel Jorge Rui Marcão, Rui Massano, Rui Morgado, Rui Pucari-
Realinho, Ernesto Gonçalves, Fernando Canais, Santos, Manuel Matos, Manuel Petiz, Manuel Vascon- nho, Rui Quartin Costa, Rute Costa, Samuel Infante,
Fernando Faria Pereira, Fernando Leão, Fernando celos Abreu, Manuela Marques, Manuela Nunes, Samuel Sousa, Samuel Viana, Saúl Jorge, Sérgio
Rodrigues, Filipa Bragança, Filipa Machado, Filipe Manuela Rodríguez, Marcelo Dias, Marcial Felguei- Correia, Sérgio Doutor, Sérgio Madeira, Sérgio
Bustorff, Filipe Canário, Filipe Ceia, Filipe Correia, ras, Marco Ferreira, Marco Garcia, Marco Nunes, Marques, Sérgio Perez, Sérgio Ribeiro, Sérgio Salda-
Filipe Martins, Filipe Moniz, Flávio Oliveira, Fran- Marco Nunes Correia, Marco van Dalem, Marga- nha, Sérgio Timóteo, Sofia Capellán, Sofia Cruz,
cisco Azevedo, Francisco Barros, Francisco Costa rida Azeredo, Maria João Cunha, Maria Manuela Sofia Freitas, Sofia Goulart, Sónia Filipe, Sónia
Leme, Francisco Maia, Francisco Moreira, Francisco Rocha, Marília Morgado, Mário Carmo, Mário Costa, Manso, Susana Biber, Susana Campos, Susana
Morinha, Franscisco Azevedo, Franscisco Pereira Mário Estevens, Mário Ferreira, Mário Santos, Marisa Coelho, Susana Peixoto, Susana Silva, Tânia Abelha,
Azevedo, Frederico Lobo, Gabriel Alves, Gabriel Gomes, Marta Acácio, Marta Fonseca, Marta Fran- Tânia Pipa, Tânia da Silva Ribeiro, Teresa Marques,
Simões, Georg Schreier, Gillaume Rethoré, Glenis cisco, Marta Nunes, Marta Sendra , Mena Ferreira, Thijs Valkenburg, Tiago Ventura, Válter Medeiros,
Vowles, Gonçalo Hilário, Hélder Cardoso, Helder Miguel Canaverde, Miguel Capela, Miguel Cardoso, Vasco Godinho, Vicente Olazabal, Vítor Encarnação,
Costa, Hélder Vieira, Helena Alves da Silva, Helena Michael Davis, Miguel Ferreira, Miguel Gaspar, Xabier Vázquez Pumariño e Xosé Ramón Reigada.

Outras entidades e projectos que forneceram dados

A Direção Regional dos Recursos Florestais (DRRF, Programa Nacional de Monitorização de Aves A Associação Nacional de Caçadores de Galinholas
da Secretaria Regional da Agricultura e Ambiente Aquáticas Invernantes (ICNF) (ANCG) cedeu dados de galinhola (Scolopax rusti-
dos Açores) cedeu dados das suas monitoriza- cola) para o continente. Portal de registos ornitoló-
ções referentes à codorniz (Coturnix coturnix) e Projectos SPEA: Noticiário Ornitológico, Programa gicos: Biodiversity4all, eBird
galinhola (Scolopax rusticola) para o Arquipélago NOCTUA, Projecto ARENARIA, Contagem de Aves
dos Açores no Natal e Ano Novo (CANAN) e Contagens RAM

Parceiros 9
Nota prévia

O primeiro Atlas das Aves Invernantes e Migradoras de Portugal foi um projecto de muitos
ornitólogos, amadores e profissionais. Cada um, à sua medida, deu um contributo signifi-
cativo para o maior trabalho ornitológico colectivo dos últimos 10 anos. Várias centenas de
ornitólogos voluntários contribuíram com coordenação científica e operacional, realização
de visitas sistemáticas e anilhagem de aves, produção e revisão de textos, fotografias para
a monografia e uma miríade de registos adicionais. O trabalho de campo produziu quase
quatro mil horas de censo e 150 mil registos, cobrindo três quartos do território nacional, só
nas visitas sistemáticas. No total foram registadas mais de 400 espécies de aves, e mais de
300 com distribuição alvo de análise e publicação. Estes são resultados extraordinários, para
um projecto de âmbito nacional, cujo trabalho de campo decorreu em apenas dois anos.

A monografia do Atlas das Aves Invernantes e Migradoras de Portugal demorou mais


tempo do que o previsto para ser publicada. Uma situação difícil de justificar, mas que teve a
sua origem em cortes iniciais no financiamento e numa conjuntura de crise económica nacio-
nal e de mudanças grandes na estrutura da SPEA. Fatores esses a que se somaram algu-
mas opções de gestão que se revelaram menos positivas. Mas o mais importante é que esta
obra, que marca mais um importante patamar na ornitologia portuguesa, já está disponível
ao público. Pode agora ser consultada por todos, ser utilizada na gestão e na promoção do
território e acima de tudo na protecção das aves. Vai certamente ficar como referência para
trabalhos futuros. É uma obra que deve orgulhar os ornitólogos portugueses, e que vai certa-
mente incentivar todos a continuar e a fazer melhor pelo conhecimento e conservação das
aves em Portugal.

Obrigado a todos, pelo vosso precioso contributo!

Domingos Leitão
DIRETOR EXECUTIVO DA SPEA

10 Parceiros
Alcaravão © Andy Hay
rspb.images.com

Parceiros 11
Peneireiro-comum © Vincent Van Zalinge

12 Parceiros
Textos
introdutórios
GÉNESE DO PROJECTO 14

MIGRAÇÃO E INVERNADA DE AVES EM PORTUGAL 15

CONDIÇÕES METEOROLÓGICA DURANTE 18


O PERÍODO DO ATLAS

METODOLOGIA 19

RESULTADOS GERAIS 28

Parceiros 13
Textos introdutórios

Génese do projecto
Hoje os atlas ornitológicos com as suas virtudes e defei- pelos resultados obtidos no atlas da flora acima referido.
tos são unanimemente considerados como ferramentas Poucos anos depois, em 1976, haveria de surgir The Atlas
fundamentais para a gestão e conservação das populações of Breeding Birds in Britain and Ireland que é considerado o
de aves selvagens (ver por exemplo Donald & Fuller 1998). primeiro atlas de aves executado numa escala nacional (Shar-
O seu conceito e aplicação foi alargado a outros grupos rock 1976). Este trabalho rapidamente se tornou no modelo
animais, tornando-os assim peças fundamentais para um seguido um pouco por todo o mundo para obtenção de
melhor conhecimento da distribuição da biodiversidade. informação acerca da distribuição das espécies nidificantes.
Nas décadas que se seguiram diversos atlas foram produ-
É certo que desde o momento em que a Ornitologia se zidos e estima-se que cerca de 31% da superfície da terra
desenvolveu enquanto ciência que o conhecimento da distri- tenha sido abrangida por projectos deste género (Dunn &
buição das diferentes espécies de aves tem sido um dos seus Weston 2008). Foi nesse contexto que se realizou também
objectivos principais. No entanto, durante muito tempo, esse em Portugal o primeiro atlas das aves nidificantes, publicado
conhecimento foi obtido através da recolha de dados disper- em 1989 (Rufino 1989).
sos provenientes de diversas fontes e épocas.
Após a vaga dos primeiros atlas das aves nidificantes,
Os primeiros ensaios para mapear de forma organizada e rapidamente se tornou evidente que era preciso aplicar o
sistemática a distribuição de um conjunto de espécies tive- mesmo tipo de metodologia às espécies invernantes, cuja
ram lugar na década de 1950 no Reino Unido e, curiosa- distribuição era de uma forma geral pouco conhecida,
mente, incidiram não só sobre aves mas também sobre plan- quando comparada com a das nidificantes. Foi assim que,
tas. No caso das aves, a primeira experiência teve lugar na também no Reino Unido, foi efectuado na década de 1980
zona de West Midlands e abarcou um conjunto limitado de aquele que é considerado o primeiro atlas de aves invernan-
espécies utilizando uma quadrícula de 25x25 km (Norris 1951, tes (Lack 1986).
1960). Já no caso das plantas, os ensaios efectuados leva-
ram à elaboração do Atlas of the British Flora produzido pela No caso da Península Ibérica, e não obstante a elevada
Botanical Society of the British Isles e publicado em 1962, importância da região como local de invernada para um
considerado o primeiro atlas produzido a uma escala nacio- vasto conjunto de espécies europeias, os atlas de aves inver-
nal utilizando uma quadrícula 10x10 km (Perring & Walters nantes tardaram a chegar. Em Espanha foram desenvolvi-
1962). Foi em grande medida neste trabalho pioneiro que dos alguns projectos a nível regional mas o primeiro atlas
se viriam a inspirar os atlas ornitológicos que se seguiriam. de âmbito nacional foi publicado apenas em 2012 (SEO/
BirdLife 2012). No caso português, a primeira experiência
O primeiro atlas ornitológico conhecido utilizando a nesta matéria foi efectuada na década de 1980 no Barla-
quadrícula 10x10 km haveria de ser publicado em 1970 vento algarvio (Bolton 1987). Na década seguinte surgiram
abrangendo a zona de West Midlands (Lord & Munns 1970). diversos atlas de aves invernantes de âmbito regional, dois
Este trabalho foi baseado nas experiências levadas a cabo deles enquadrados em trabalhos mais abrangentes que
anteriormente na região, sendo certamente influenciado incluíram também a época de nidificação: Peneda-Gerês e

14 Textos introdutórios
serra da Malcata (Pimenta & Santarém 1996, Silva 1998). O Algumas espécies caracterizam-se por realizarem extraor-
primeiro trabalho a abranger nesta época do ano uma área dinárias deslocações intercontinentais. A garajau-do-ártico
superior a 10 000 km viria a ver a luz em 1998 e abarcou o
2
(Sterna paradisea), por exemplo, uma ave com cerca de 100
Baixo Alentejo (Elias et al. 1998). g de peso, realiza duas vezes por ano uma jornada contínua
de dois meses, na qual percorre mais de 20 000 km sobre o
A ideia de desenvolver um projecto atlas para as aves inver- mar, entre o Ártico, onde nidifica, e o Antártico, onde passa
nantes com abrangência nacional começou a ganhar forma o inverno (del Hoyo et al 1996). Estes animais possuem
logo após a conclusão do segundo atlas das aves nidifican- destinos específicos, para os quais se dirigem sazonal-
tes em Portugal que ocorreu em 2008. Parecia lógico que mente, percorrendo as mesmas rotas e visitando os mesmos
se deveria tirar partido da experiência acumulada com esse locais, num processo denominado “Migração Calculada
projecto e do enorme corpo de voluntários que nele partici- com Regresso” (Baker 1978).
pou, para avançar com um projecto que permitisse alcançar
um maior nível de informação respeitante ao Inverno. Numa Actualmente é possível individualizar no Globo Terres-
fase já mais avançada, a ideia evoluiu para englobar também tre a existência de “corredores migratórios” (flyways, Figura
a época da migração pós-nupcial e foi sob essa forma que 1). Estes são o conjunto dos locais, países e regiões usados
o projecto haveria de ser apresentado aos potenciais patro- por vários sistemas migratórios sobrepostos, pertencentes
cinadores. a diferentes espécies e populações, cada qual com as suas
preferências de habitat e estratégias de migração (Wader
O presente trabalho procura não só mapear a distribuição Study Group 1998). No conjunto destes sistemas existem
das aves invernantes mas também a das espécies migrado- espécies para as quais faltam ainda conhecimentos precisos
ras pós-nupciais. Trata-se assim de um projecto pioneiro e sobre os limites geográficos, sobre o dinamismo e a dimen-
enfermará possivelmente das limitações inerentes a tal situa- são das populações envolvidas, sobre os sítios e as regiões
ção. É no entanto um primeiro passo para colmatar uma mais importantes, e sobre a distribuição sazonal e os facto-
lacuna evidente no conhecimento ornitológico do território res que a afectam. Mas de um modo geral estes corredores
português. migratórios estão bem identificados e caracterizados.

Portugal está localizado no corredor migratório do Atlân-


Migração e invernada tico Oriental (East Atlantic Flyway). Este corredor migratório
de aves em Portugal liga uma faixa contínua de áreas de reprodução no Ártico,
que se estendem do Canadá Oriental até á Sibéria Central,
A migração das aves desde cedo atraiu a atenção dos com as áreas de reprodução e de invernada na Europa
naturalistas. Desde os aspectos mais elementares, como Ocidental e as áreas de invernada na África Ocidental e do
as rotas e as distâncias percorridas, até aos complicados Sul (BirdLife 2015). Corresponde a uma superfície superior a
processos fisiológicos e comportamentais, muitos têm sido 45M Km2 e inclui 75 países, que albergam os movimentos
os objectos de estudo e discussão relacionados com o tema. de 297 espécies de aves migradoras.

Textos introdutórios 15
Para muitos migradores do ártico, especialmente patos, Para muitas aves planadoras (aves de rapina, cego-
gansos e cisnes, a Europa Ocidental é o destino final. Para nhas, grous), constrangidas pela necessidade de correntes
outros, como as aves limícolas e os garajaus, é um ponto térmicas ascendentes para suster o voo, o mar Mediterrâ-
de passagem, numa viagem mais vasta, que terminará com neo representa um obstáculo intransponível. Consequen-
a invernada em África. temente, muitas aves de rapina optam por fazer a traves-
sia no ponto em que a distância é mais curta, o estreito
As aves aquáticas que migram pelo território continental de Gibraltar. Durante a temporada de migração cerca de
português dependem de uma vasta rede de zonas húmi- 250 000 aves de rapina passam sobre Gibraltar, incluindo
das costeiras desde o estuário do Minho a Norte, passando números impressionantes de bútio-vespeiro (Pernis apivo-
pelo estuário do Tejo, a zona húmida mais importante do rus), milhafre-preto (Milvus migrans) e águia-calçada
país, até ao estuário do Guadiana a Sul. As aves de passa- (Hieraaetus pennatus) (Bernis 1980, Finlayson 1992). Algu-
gem provenientes do Ártico juntam-se às aves que criaram mas destas aves passam antes por Portugal Continen-
nas zonas temperadas da Europa, incluindo Portugal, que tal, sendo a sua migração visível em alguns locais do Sul,
seguem também em direcção a África. como a península de Sagres e as serras algarvias.

FIGURA 1
Principais corredores migratórios

16 Textos introdutórios
Para além das aves aquáticas e das aves de rapina, olivais de Trás-os-Montes ao Algarve. As planícies alente-
vários outros grupos de aves migram por Portugal ou para janas e a lezíria do Tejo sustentam durante o inverno gran-
Portugal durante o outono e o inverno. As aves marinhas des populações de zoófagos e granívoros, como o abibe
constituem um dos grupos mais importantes. Quarenta e (Vanellus vanellus), a laverca (Alauda arvensis) e a petinha-
três espécies de aves marinhas ocorrem ao largo das costas -dos-dos-prados (Anthus pratensis), enquanto os monta-
de Portugal Continental e dos arquipélagos dos Açores e dos fervilham com pombos-torcazes (Columba palumbus),
da Madeira (Meirinho et al. 2014). A grande maioria destas piscos-de-peito-ruivo (Erithacus rubecula) e tentilhões
espécies é migradora, de passagem, invernante ou nidifi- (Fringilla coelebs). No meio das espécies mais abundantes,
cante sendo muito poucas as espécies residentes. Algumas encontramos outras menos comuns, como o milhafre-real
são provenientes das zonas de reprodução do Atlântico (Milvus milvus), o esmerilhão (Falco columbarius) e o grou
Norte e deslocam-se pelas águas portuguesas em direc- (Grus grus), ainda assim com populações importantes nos
ção as costas da África Ocidental onde passam o inverno, campos e florestas de Portugal.
como o alcatraz (Morus bassanus) e as três espécies de
moleiros (Stercorarius spp e Catharacta skua). Outras têm Os organismos migradores sofrem alterações drásticas
o limite sul na nossa latitude e ficam ao largo de Portugal durante o ciclo anual, para se ajustarem às diferentes condi-
durante todo o inverno, como a negrola (Melanitta nigra) ções do meio em que vivem. Uma das mais estudadas é a
e os alcídeos. Algumas pardelas ocorrem nas nossas águas variação da massa corporal, que corresponde à acumula-
no verão e outono, numa migração para sul, para áreas ção de reservas energéticas sob a forma de gordura asso-
de reprodução longínquas no Atlântico Sul, para aproveita- ciada aos movimentos migratórios de longa distância (Pier-
rem o verão austral. As aves marinhas que passam na nossa sma 1994). As aves migradoras experimentam também
costa têm diferentes padrões migratórios, mas estão todas outros ajustes morfológicos e comportamentais sazonais,
incluídas no Corredor Migratório do Atlântico Oriental. como as mudas da plumagem, as variações da taxa meta-
bólica basal e a variação dos padrões de gregarismo e da
Por último, devemos referir os passeriformes e outras dieta.
aves terrestres de pequeno e médio porte. A Península
Ibérica actua como um íman para muitas destas aves no As aves limícolas que nidificam no Árctico e subártico
outono e no inverno. As características mais amenas e húmi- são forçadas a abandonar estas regiões com a chegada do
das do clima nesta altura do ano, possibilitam um aumento frio no final do verão. Outras espécies, que nidificam em
da produtividade dos ecossistemas ibéricos, aumentando a regiões temperadas, realizam apenas pequenas desloca-
disponibilidade de alimento para as aves, particularmente ções pós-nupciais, empreendendo movimentos de longa
de invertebrados do solo e de frutos e bagas em matos e distância apenas em condições de frio extremo. Os cons-
florestas (Jordano 1985, Tellería 1988, Tellería et al. 1988). trangimentos energéticos estão na base da mecânica das
Esta abundância de alimento permite a passagem migra- migrações (Evans 1991, Piersma 1994), e as características
tória e a invernada em Portugal de elevados contingentes associadas a cada esquema de migração estão correlacio-
de pequenos passeriformes, particularmente turdídeos e nadas com componentes como a longevidade, a fecundi-
silvídeos, provenientes do Norte da Península e do Norte dade e o sucesso reprodutor, que traduzem os processos
da Europa, que povoam os matos mediterrânicos e os evolutivos de cada espécie.

Textos introdutórios 17
Os padrões migratórios das aves evoluíram como uma ram de migrar para África, permanecendo todo o ano nos
resposta adaptativa às flutuações sazonais na disponibi- locais de cria ou realizando pequenas deslocações no Sul
lidade de recursos alimentares. Neste sentido, a migra- da península Ibérica. O exemplo mais conhecido é o da
ção de longa distância permite que as aves que a reali- cegonha-branca (Ciconia ciconia), mas certamente existi-
zam possam beneficiar durante todo o ano de condições rão outros menos visíveis (Morgati & Pulido 2012) e que
ambientais com a máxima disponibilidade de recursos. começam a ser revelados por projectos de monitorização.
Existem factores à escala global, como a destruição do
habitat (Goss-Custard et al. 1994, Sutherland 1998, Perci-
val et al. 1998) e as alterações climáticas (McCarty 2001, Condições meteorológicas
Newton 2008) que são condicionantes das componen- durante o período do atlas
tes referidas anteriormente e motores da evolução dos
padrões de migração. Em Portugal Continental, o inverno de 2011/2012 foi
caracterizado pela ocorrência predominante de tempo frio
Os padrões de distribuição e da migração das aves estão e seco (Instituto de Meteorologia 2012). O outono come-
a mudar, em resposta à rápida mudança climática global, çou quente e seco, com temperaturas mais elevadas do
que no hemisfério norte é caracterizada principalmente por que o normal, registadas durante a maior parte do mês
um aumento das temperaturas de primavera e, consequen- de outubro. O mês de novembro foi normal, tendo-se
temente, pela antecipação de eventos importantes, como registado precipitação abundante em todo o território. Os
o aparecimento das folhas, a floração, a eclosão de lagar- meses de dezembro e janeiro foram essencialmente secos
tas e outros insectos e a reprodução de muitos organismos, e frios, com precipitação nula em quase todo o território. O
incluindo das aves (Cox 2010). Os padrões de migração total de precipitação mensal em dezembro foi muito infe-
das aves e, em particular a chegada ao local de nidificação, rior ao valor normal para o período de 1971 a 2000, com
tende a acompanhar esta antecipação da primavera. menos 102,8 mm, e a temperatura neste mês foi inferior
ao valor normal em 1,45ºC, sendo o nono mês de dezem-
Em Portugal o Projecto Chegadas (www.spea.pt/pt/ bro consecutivo com anomalias negativas da temperatura
estudo-e-conservacao/censos/projecto-chegadas/) tem mínima do ar (Instituto de Meteorologia 2012). No mês de
detectado uma antecipação do aparecimento primave- janeiro continuaram as temperaturas abaixo da média e a
ril em várias espécies de aves migradoras, como o milha- ausência de precipitação em todo o território. Desta forma,
fre-preto (Milvus migrans), o abelharuco (Merops apiaster) a situação de seca meteorológica intensificou-se em todo
ou a andorinha-daurica (Cecropis daurica). Algumas espé- o território continental, pelo que de acordo com o Obser-
cies evidenciam alterações dos padrões de migração que vatório de seca do IM, 76% do território encontrava-se em
vão muito além do factor temporal. Parte das populações seca moderada e 11% em seca severa no final de janeiro
de alguns migradores transaarianos simplesmente deixa- de 2012 (Instituto de Meteorologia 2012).

18 Textos introdutórios
Também nos arquipélagos dos Açores e da Madeira foi foi em média ligeiramente mais frio e chuvoso do que o
um inverno extremamente seco, com os valores de preci- normal (Meteo France 2013, Met-Office 2013). Os meses
pitação mais baixos registados desde que há observações de dezembro e janeiro foram relativamente normais no
meteorológicas (1864). A Norte, na Europa Ocidental, o que diz respeito à temperatura, com excepção de um
inverno de 2011/2012 foi muito atípico, principalmente período de frio intenso, com queda de neve, na segunda
devido às grandes variações de temperatura. Os meses metade de janeiro (Met-Office 2013). No que diz respeito
de dezembro e janeiro foram extraordinariamente quentes à precipitação, o inverno foi normal, com variações entre
em toda a região (Meteo France 2012, Met-Office 2012, meses.
KNMI 2012). A temperatura baixou abruptamente em
fevereiro, tendo-se registado uma vaga de frio polar que Tendo em conta estes dados meteorológicos, podemos
durou mais de duas semanas. No que diz respeito à preci- afirmar que os invernos de 2011/2012 e de 2012/2013
pitação, o inverno foi normal, apesar das variações gran- foram amenos e favoráveis à permanência das aves no
des observadas entre meses. Dezembro foi mais chuvoso Noroeste da Europa até ao final de janeiro. Em 2011/2012,
do que o normal e fevereiro foi mais seco (Meteo France as condições de seca que se verificaram a partir de janeiro
2012, Met-Office 2012, KNMI 2012). em Portugal Continental, podem ter limitado ainda mais
a ocorrência de populações de aves invernantes no nosso
O inverno 2012/2013 em Portugal Continental foi carac- território. Em 2012/2013, as condições de humidade no
terizado por valores médios da quantidade de precipita- solo e de temperatura foram mais favoráveis à permanên-
ção e da temperatura média do ar inferiores ao normal cia de aves invernantes em todo o território. Um inverno
(IPMA 2013). O trimestre dezembro-fevereiro foi ligei- ameno significa menos aves e um inverno seco significa
ramente mais frio que o normal, com uma temperatura condições ambientais de invernada mais adversas (Leitão
média de 9,5 °C, que corresponde a um desvio de -0,1 °C & Peris 2003). Neste contexto, seriam de esperar menos
em relação à normal (1971-2000). Dos 3 meses, fevereiro efectivos de aves invernantes durante os dois invernos do
foi o que registou a temperatura mais baixa e com o maior Atlas, comparativamente com invernos anteriores. Este
desvio (negativo) em relação à média. O valor médio da padrão terá ocorrido pelo menos nas zonas agrícolas
quantidade de precipitação no trimestre dezembro-feve- (Leitão 2012, 2013), mas provavelmente em outros habi-
reiro no território continental (329,4 mm), foi ligeiramente tats também. De um modo geral, seria também de espe-
inferior ao valor normal em cerca de 7%, classificando este rar uma maior concentração das aves em áreas mais favo-
inverno como normal a seco em todo o território. ráveis no inverno de 2011/2012, devido às condições de
seca, e uma maior dispersão dos contingentes invernantes
Nas ilhas atlânticas foi um inverno no geral quente, no inverno de 2012/2013, em que as condições de humi-
húmido no início (dezembro), mas seco no fim (janeiro e dade do solo foram mais favoráveis.
fevereiro). Mais a Norte na Europa o inverno de 2012/2013

Textos introdutórios 19
Metodologia

RECOLHA DE DADOS

Visitas sistemáticas

O Atlas das Aves Invernantes e Migradoras de Portugal FIGURA 2 - Exemplo da selecção de tétradas a amostrar
teve o objectivo de produzir mapas de distribuição e de numa quadrícula UTM 10x10 km

abundância relativa para todas as espécies de aves em


Portugal Continental e regiões autónomas dos Açores e
da Madeira, durante o período de inverno e da migração E J P U z
pós-nupcial. A metodologia padrão aplicada foi idêntica
em ambos os períodos de amostragem, inverno e migra-
ção, e visou recolher informação da abundância relativa
D I N T Y
através da contagem de aves num período fixo de tempo,
num conjunto de tétradas seleccionadas (2x2 km) dentro C H M S X
de uma quadrícula UTM 10x10 km. Cada tétrada foi visi-
tada uma vez no inverno e uma na migração.
B G L R W
Em cada quadrícula foram visitadas seis tétradas não
adjacentes. A figura 2 mostra um exemplo de distribui- A F K Q V
ção das tétradas incluídas nas visitas sistemáticas. A visita
sistemática a cada tétrada teve a duração de 30 minutos,
tendo sido realizado um percurso a pé, num passo regu- A época de inverno decorreu entre 15 de novembro e
lar, procurando amostrar os habitats mais representativos. 15 de fevereiro, e a época da migração (pós-nupcial) decor-
Durante este período foram contados todos os indiví- reu entre 1 de agosto e 15 de outubro. Exclusivamente para
duos de cada espécie (ouvidos ou visualizados) incluindo os Açores, os períodos de censo foram atrasados 15 dias
bandos (p. ex. tordos) em movimento de ou para dormi- (inverno, de 30 de novembro a 28 de fevereiro, e migra-
tórios. As tétradas que incluíam zonas costeiras segui- ção, de 15 de agosto a 31 de outubro). Durante o inverno as
ram a metodologia padrão, não havendo paragens para amostragens foram realizadas desde o nascer até ao pôr-do-
varrimento com binóculos da zona marítima, apenas para -sol. Durante a migração existiram dois períodos de censo:
confirmação na identificação de espécies. Foi feito um (1) manhã, até ao máximo de 4h após o nascer do sol e (2)
esforço para cobrir, tanto quanto possível em 30 minutos, tarde, as 4h anteriores ao pôr-do-sol. No decorrer das visitas
os habitats presentes na tétrada. Durante a migração foi era possível efectuar paragens no período de contagem em
dada particular atenção a habitats potenciais para muitas determinadas condições (por exemplo em condições meteo-
espécies migradoras (p. ex. galerias ripícolas, margens de rológicas adversas ou para procurar uma ave para correcta
zonas húmidas, etc). identificação).

20 Textos introdutórios
RECOLHA DE DADOS De forma a permitir uma cobertura comparável do
Observações não sistemáticas território nacional continental, e uma vez que existia um
desequilíbrio para o litoral das EEC, definiu-se que em
Todos os registos fora do período de 30 minutos das cada uma das 14 zonas atlas deveria ser realizada uma
visitas sistemáticas foram contabilizados como Registos amostragem por anilhagem. No litoral foi dada prioridade
Não Sistemáticos (adicionais). Todas as observações a zonas de caniçal e sua envolvência, e no interior a zonas
realizadas em outras alturas e/ou noutras áreas, fora das ripícolas e de matos. Estas áreas correspondem a locais de
visitas sistemáticas, foram consideradas como Registos paragem, alimentação e repouso durante a migração para
Não Sistemáticos, desde que tenham ocorrido dentro do um grande número de aves.
período do Atlas.
Em cada local foram realizadas duas sessões de
Os resultados de contagens realizadas em dormitórios, anilhagem, a primeira entre 28 de agosto e 4 de setembro,
zonas húmidas, orla costeira, etc., foram registados como e a segunda entre 25 de setembro e 2 de outubro. O
Registos Não Sistemáticos, embora as observações de número e dimensão de redes utilizadas (mínimo de 100 m
aves em movimentação de/para esses locais no decurso de rede) foi deixado ao critério dos anilhadores por forma
das visitas sistemáticas fossem incluídas na metodologia a optimizar as capturas de acordo com o local/habitat.
padrão dessa visita. Estas foram abertas 30 a 45 minutos antes do nascer do
sol, prolongando-se o seu funcionamento durante 5 h. Para
cada ave capturada foram retirados os seguintes dados:
RECOLHA DE DADOS espécie, anilha, idade, sexo, massa muscular, gordura,
Anilhagem comprimento da asa, comprimento da 8ª primária e peso.

Com o objectivo de obter informação sobre espécies Durante a primeira época de migração foram
de difícil detecção durante o período de migração pós- implementadas 26 estações de anillhagem,
nupcial, decidiu-se testar pela primeira vez a inclusão correspondendo a 24 quadrículas UTM 10x10 km, 16 no
da anilhagem científica num atlas. Adicionalmente, litoral e oito no interior de Portugal Continental (Figura 3).
pretendeu-se também ter uma noção do número de No total foram usados 8.359 m2 de redes para capturar 3
efectivos que migra pelo nosso território e se o fazem 656 aves pertencentes a 83 espécies. Em termos absolutos
preferencialmente junto à costa, ou se usam também no litoral foram capturadas mais espécies (L=69, I=59) e
o interior do país. Neste sentido, em articulação com a mais aves (L=2123, I=1533), mas foram utilizadas mais
Associação Portuguesa de Anilhadores de Aves – APAA, redes. No rácio entre o número de aves capturadas face
foi feito um apelo a todos os responsáveis por Estações ao total de redes colocadas, a tendência anterior inverte-
de Esforço Constante (EEC) e a anilhadores individuais se e verifica-se que esse valor é mais elevado no interior
para a participação no projecto. (L=0,41aves/m2; I=0,49 aves/m2).

Textos introdutórios 21
De uma forma geral as espécies mais capturadas foram FIGURA 3
espécies migradoras (Tabela 1) rouxinol-pequeno-dos-ca- Distribuição das 26 estações (por quadrícula UTM 10x10km)
de anilhagem realizadas na época da migração 2011
niços (Acrocephalus scirpaceus), felosa-musical (Phyllos-
copus trochilus), toutinegra-carrasqueira (Sylvia cantillans)
e felosa-das-figueiras (Sylvia borin), surgindo ainda neste
top cinco a toutinegra-de-barrete (Sylvia atricapilla). Esta
espécie, apesar de residente, efectua no final da repro-
dução pequenas migrações internas, além do aporte de
indivíduos que existe no inverno oriundos de populações
do Centro e Norte europeu. Estas espécies representa-
ram 47% do total de aves capturadas.

Houve espécies que apenas foram capturadas no lito-


ral e outras no interior, ou em que a percentagem de aves
capturada foi bastante superior num destes grupos (Tabe-
las 2 e 3). Quinze espécies apresentaram taxas de captu-
ras mais elevadas no litoral de onde se destacam, pelo
número de aves envolvidas, escrevedeira-dos-caniços
(Emberiza schoeniclus) (n=12; 100%), pisco-de-peito-azul
(Cyanecula svecica) (n=60; 91%), felosa-dos-junco (Acro-
cephalus schoenobaenus) (n=48; 96%) e rouxinol-peque-
no-dos-caniços (n=346; 91%). Sete espécies foram mais
comuns no interior destacando-se toutinegra-real (Sylvia
hortensis) (n=6; 100%), toutinegra-carrasqueira (n=270;
95%), felosa-das-figueiras (n=126; 60%), toutinegra-de-
-barrete (n=222; 56%) e papa-amoras-comum (Sylvia
communis) (n=52; 56%).

TABELA 1
Total de aves anilhadas por espécie, para as cinco espécies mais capturadas no global, litoral e interior

GLOBAL N LITORAL N INTERIOR N

1 Sylvia atricapilla 374 Acrocephalus scirpaceus 285 Sylvia cantillans 269

2 Phylloscopus trochilus 358 Phylloscopus trochilus 230 Sylvia atricapilla 219

3 Acrocephalus scirpaceus 318 Sylvia atricapilla 155 Phylloscopus trochilus 128

4 Sylvia atricapilla 283 Passer domesticus 118 Sylvia borin 126

5 Sylvia borin 204 Estrilda astrild 117 Turdus merula 87

22 Textos introdutórios
TABELA 2
Número de indivíduos capturados no litoral, interior e no geral, e respectiva percentagem de espécies migradoras capturadas no interior

ESPÉCIE LITORAL INTERIOR T O TA L G E R A L % INTERIOR

Sylvia hortensis - 6 6 100%

Sylvia cantillans 14 270 284 95%

Phylloscopus ibericus 2 20 22 91%

Phoenicurus phoenicurus 4 13 17 76%

Sylvia borin 83 126 209 60%

Sylvia atricapilla 174 222 396 56%

Sylvia communis 41 52 93 56%

TABELA 3
Número de indivíduos capturados no litoral, interior e no geral, e respectiva percentagem de espécies migradoras capturadas no litoral.

ESPÉCIE LITORAL INTERIOR T O TA L G E R A L % LITORAL

Emberiza schoeniclus 12 - 12 100%

Motacilla flava 8 - 8 100%

Muscicapa striata 5 - 5 100%

Oenanthe oenanthe 4 - 4 100%

Acrocephalus arundinaceus 3 - 3 100%

Cyanecula svecica 60 1 61 98%

Acrocephalus schoenobaenus 48 2 50 96%

Acrocephalus scirpaceus 346 33 379 91%

Hippolais polyglotta 18 4 22 82%

Phylloscopus collybita 29 7 36 81%

Saxicola rubetra 8 2 10 80%

Cecropis daurica 3 1 4 75%

Phylloscopus trochilus 232 128 360 64%

Locustella naevia 19 11 30 63%

Ficedula hypoleuca 64 41 105 61%

Luscinia megarhynchos 9 6 15 60%

Textos introdutórios 23
A tabela 4 representa uma comparação entre os dados sessões decorreram todas no mesmo intervalo temporal.
obtidos nas visitas sistemáticas e na anilhagem. É apresen- Inevitavelmente existiu uma tendência para que a maioria
tado o número de quadrículas UTM 10x10 km onde a espé- das estações se situasse no litoral, reflexo do que é o actual
cie foi detectada, bem como a percentagem de cobertura contexto da anilhagem nacional.
por método. Ou seja, o número de quadrículas onde a Os resultados mais relevantes estão relacionados com (1)
espécie foi observada sobre a totalidade de quadrículas a amostragem realizada no interior do território nacional,
amostradas por esse método. (2) a maioria das espécies capturadas serem migradoras,
(3) a importância do interior como corredor de migração
A adesão dos anilhadores a esta iniciativa foi extraor- para algumas espécies como Sylvia hortensis, S. cantillans,
dinária, tendo sido possível realizar mais 12 estações de S. borin e Phoenicurus phoenicurus e (4) a recolha de infor-
anilhagem, além das 14 estações necessárias para cobrir mação para espécies com menor detectabilidade nas visi-
as zonas Atlas. Foi assim possível realizar uma amostra- tas sistemáticas (Sylvia borin, Cyanecula svecica, Acroce-
gem ao nível do país de forma síncrona, uma vez que as phalus shoenobaenus, A. scirpaceus, Locustella naevia).

TABELA 4
Número de quadrículas UTM 10x10 Km onde as espécies foram detectadas por método de amostragem, e respectiva percentagem face ao total de quadrículas
amostradas (24 para a anilhagem e 174 para as visitas sistemáticas).

ESPÉCIE ANILHAGEM P E R C E N TA G E M S I S T E M ÁT I C A S P E R C E N TA G E M

Sylvia hortensis 2 8% 2 1%

Sylvia cantillans 9 38% 26 15%

Phoenicurus phoenicurus 6 25% 14 8%

Sylvia borin 15 63% 20 11%

Sylvia communis 15 63% 30 17%

Emberiza schoeniclus 2 8% 0 0%

Cyanecula svecica 10 42% 6 3%

Acrocephalus schoenobaenus 10 42% 2 1%

Acrocephalus scirpaceus 21 88% 16 9%

Locustella naevia 11 46% 3 2%

24 Textos introdutórios
RECOLHA DE DADOS PRODUÇÃO DE MAPAS E QUALIDADE DOS DADOS

Outras fontes de dados Produção de mapas

Apesar do grande contributo de muitos ornitólogos e Os mapas de abundância por espécie foram produzidos
do esforço em colocar as suas observações na plataforma com informação resultante das visitas sistemáticas. A uni-
PortugalAves, existiam registos espalhados por diversas dade selecionada para padronizar as observações e per-
outras fontes de informação (p. ex. Facebook, Noticiário mitir a comparação entre quadrículas foi o número de indi-
Ornitológico, outros portais de inserção de observações víduos por hora de observação. As classes de abundância
de aves, etc.). Neste sentido foi feita uma pesquisa desses foram selecionadas utilizando o método de classificação
registos dispersos, para o período do atlas, por forma de Jenks que procura agrupar os dados por classe da me-
a tentar reunir o máximo de informação disponível e lhor forma possível. Este agrupamento é feito por forma a
eventualmente melhorar os mapas de distribuição para reduzir a variância dos dados dentro de cada classe e, em
algumas espécies. Seguramente existem observações que simultâneo, maximizar a variância entre classes.
não foram consideradas, por não ter sido possível consultar
todas as fontes, ou por terem sido divulgadas após o final Sempre que existiram observações não sistemáticas
do projecto. estas foram adicionadas aos mapas para produzir mapas
com a melhor distribuição possível para cada espécie. Es-
Lista das fontes de informação consultadas: tas observações não foram contabilizadas para a abundân-

Noticiário Ornitológico (SPEA) cia uma vez que a recolha dos dados não seguiu a meto-
dologia sistemática.
Programa NOCTUA (SPEA)

Projecto ARENARIA (SPEA) Sempre que possível tentou-se modelar a distribuição


das espécies. Face à ausência de cobertura total com vi-
Contagem de Aves no Natal e Ano Novo – CANAN
(SPEA) sitas sistemáticas, optou-se por realizar uma interpolação
simples com base na frequência de ocorrência da espécie
Contagens RAM (SPEA)
por quadrícula 10x10. O resultado destes mapas são man-
Programa Nacional de Monitorização de Aves Aquáticas chas de distribuição potencial baseada na distância entre
Invernantes (ICNF) quadrículas com registos.

Dados sobre galinhola (Scolopax rusticola) foram


cedidos pela Direção Regional dos Recursos Florestais
(DRRF, da Secretaria Regional da Agricultura e Ambiente
dos Açores) e pela Associação Nacional de Caçadores
de Galinholas (ANCG)

Biodiversity4all

eBird

Textos introdutórios 25
PRODUÇÃO DE MAPAS E QUALIDADE DOS DADOS conta questões de nomenclatura já que, por motivos de
Qualidade dos dados ordem prática, não foi seguida a nova ordem sistemática
proposta pela BirdLife International.
Pela primeira vez os registos de um atlas Português No que diz respeito aos nomes vulgares, foram
foram submetidos numa plataforma online. Este processo utilizados em linhas gerais os sugeridos por Costa et al.
trouxe várias vantagens no acesso à informação e à forma (2000) com algumas modificações ortográficas (ver por
como ela vinha sistematizada. A principal desvantagem exemplo Gonçalves 1947). No caso de algumas espécies
esteve relacionada com a ausência de validação na que ocorrem nos arquipélagos dos Açores e da Madeira
plataforma PortugalAves, o que potenciou a existência de é igualmente apresentado, sempre que tal foi julgado
registos mal inseridos. A verificação destes registos ficou pertinente, o seu nome regional mais conhecido.
a cabo dos coordenadores regionais e, por último, na
comissão científica.
Raridades

Taxonomia e nomes vulgares Durante os trabalhos de campo deste atlas foram


observadas, nas visitas sistemáticas, 140 espécies de aves
Várias são as perspectivas existentes sobre a sistemática, cujos registos necessitam de homologação pelo Comité
a taxonomia e a nomenclatura ornitológica. O tema é Português de Raridades (CPR). Destas, 93 foram observadas
controverso e diversas entidades com competências nesta no Continente, 29 no arquipélago dos Açores, 10 no
área têm abordagens diferentes. arquipélago da Madeira e 17 no arquipélago das Selvagens.
A inclusão de uma espécie na categoria Raridade seguiu os
Sendo necessário adoptar uma abordagem taxonómica critérios do CPR disponíveis em: www.spea.pt/pt/observar-
que permitisse apresentar a informação de forma criteriosa aves/comite-portugues-raridades/. Não existindo decisão
optou-se, entre as várias hipóteses possíveis, por seguir as sobre a aceitação destes registos à altura da elaboração
recomendações emitidas pela BirdLife International nesta desta obra, a Comissão Científica optou por não incluir
matéria (ver HBW & BirdLife International 2017). A decisão estas espécies. Contudo, é disponibilizada uma listagem
tomada assegura a coerência com alguns documentos das espécies observadas (Tabela 5), bem como, a região
produzidos pela SPEA, enquanto representante em da sua observação (Portugal Continental, Açores, Madeira
Portugal da BirdLife International, e permitirá manter e Selvagens). Existem duas excepções, com concordância
uniformidade taxonómica entre este trabalho e outros do CPR, às espécies consideradas Raridades: gaivota-
documentos oficiais produzidos pelo estado português prateada Larus argentatus por ser uma espécie que irá
em assuntos relacionados com a ornitologia que seguem sair da lista de homologação e andorinhão-pálido Apus
também aquela orientação. Esta decisão teve apenas em pallidus na Madeira, por ser nidificante regular.

26 Textos introdutórios
TABELA 5
Lista das espécies consideradas raridade pelo CPR observadas durante os trabalhos do atlas por região de Portugal (C - Continental, A - Açores, M - Madeira e
S - Selvagens)

ESPÉCIE REGIÃO ESPÉCIE REGIÃO ESPÉCIE REGIÃO ESPÉCIE REGIÃO

Anser brachyrhynchus C Melanitta fusca C Ardeola ralloides S Pluvialis dominica C

Anser albifrons C Clangula hyemalis C Ardea herodias C Charadrius hiaticula S

Anser anser A Mergus merganser C Ardea alba A Charadrius dubius S

Branta leucopsis C Oxyura jamaicensis C Egretta gularis C Charadrius vociferus C

Branta bernicla C Gavia stellata C Egretta thula C Charadrius morinellus S, A

Cygnus olor C Gavia immer C Phaethon aethereus C Gallinago delicata C

Cygnus atratus C Thalasseus bengalensis C Phaethon lepturus C Limnodromus griseus C

Cygnus cygnus C Thalasseus elegans C Phalacrocorax auritus C Limnodromus A


scolopaceus

Tadorna ferruginea C Ardenna gravis C Falco tinnunculus A Limnodromus scolopaceus C

Aix sponsa A Puffinus yelkouan C Falco eleonorae M, S Bartramia longicauda C

Mareca strepera A Puffinus lherminieri C Falco peregrinus M, A Tringa erythropus A

Mareca americana C Pelagodroma marina C Pandion haliaetus A Tringa totanus A

Anas rubripes C Hydrobates castro C Gyps rueppellii C Tringa stagnatilis C

Spatula discors C Hydrobates leucorhous C Circus aeruginosus S Tringa melanoleuca C

Spatula clypeata A Podilymbus podiceps C Circus cyaneus A Tringa flavipes C

Spatula querquedula A Podiceps nigricollis A Circus macrourus C Tringa solitaria C

Anas crecca carolinensis M Phoeniconaias minor C Buteo rufinus C Tringa glareola A

Aythya ferina A Threskiornis aethiopicus C Porzana porzana A Xenus cinereus C

Aythya collaris C Plegadis falcinellus M, A Fulica cristata C Actitis macularius C

Aythya affinis C Platalea leucorodia A Haematopus ostralegus S, A Calidris pusilla C

Melanitta nigra C Botaurus lentiginosus C Himantopus himantopus S Calidris minutilla C

Melanitta perspicillata C Nyctanassa violacea C Vanellus gregarius C Calidris fuscicollis C

Textos introdutórios 27
TABELA 5 (Continuação)

ESPÉCIE REGIÃO ESPÉCIE REGIÃO ESPÉCIE REGIÃO ESPÉCIE REGIÃO

Calidris melanotos C Sterna dougallii C Phylloscopus fuscatus C Anthus petrosus C

Calidris himantopus C Sterna paradisaea M Phylloscopus inornatus C Serinus serinus A

Calidris subruficollis C Stercorarius longicaudus C Sylvia curruca C Carduelis carduelis S

Calidris pugnax M Streptopelia decaocto M, S Sylvia hortensis S Dendroica coronata C

Phalaropus lobatus C Clanga pomarina C Tichodroma muraria C Emberiza pusilla C

Steganopus tricolor C Asio flammeus M, S, A Pastor roseus C Emberiza rustica C

Larus hyperboreus C Apus apus M Turdus iliacus A Emberiza aureola C

Larus glaucoides C Apus pallidus M Saxicola maurus C Emberiza hortulana S

Larus argentatus C Jynx torquilla S Oenanthe deserti C Calcarius lapponicus C

Larus smithsonianus C Lanius senator S Ficedula parva C Passerina cyanea C

Larus melanocephalus A Alauda arvensis S Motacilla alba A

Larus atricilla C Acrocephalus agricola C Motacilla flava A

Xema sabini C Acrocephalus paludicola C Anthus hodgsoni C

Thalasseus sandvicensis A Hippolais icterina C, S Anthus cervinus C

Resultados gerais participou neste primeiro atlas das aves invernantes e


migradoras.
Este projecto atlas envolveu mais de 400 ornitólogos
voluntários. Entre os quais 17 coordenadores regionais, Os ornitólogos envolvidos realizaram 3850 horas
320 colaboradores que fizeram visitas sistemáticas, 25 de contagem de aves nas visitas sistemáticas, que
anilhadores credenciados, 59 autores de textos e 60 produziram 144 500 registos de observações. A
fotógrafos que cederam fotografias para a monografia cobertura das visitas sistemáticas atingiu os 55% no
final. Pode-se ainda incluir as centenas de observadores período da migração pós-nupcial (545 quadrículas
de aves que participaram com registos adicionais, via visitadas) e os 75% no período de Inverno (737
Contagens de Aves Aquáticas Invernantes, projectos quadrículas visitadas). Os registos adicionais permitiram
Arenaria, CANAN e Noctua, e portais PortugalAves, incluir mais 148 quadrículas no período pós-nupcial e 81
Biodiversity4All e eBird. Não será exagero afirmar que quadrículas no Inverno, aumentando a informação para
a maioria da comunidade ornitológica portuguesa muitas espécies.

28 Textos introdutórios
No total foram registadas 415 espécies, das quais 271
foram observadas em pelo menos duas quadrículas. Nos
mapas das Figuras 4 e 5 está representada a riqueza
específica para ambas as épocas de censo para o território
continental. É importante dizer que os mapas de riqueza FIGURA 4
Número de espécies
dizem respeito aos dados globais (visitas sistemáticas e detectadas por quadrícula
visitas adicionais), pelo que a comparação directa entre durante o inverno em
Portugal Continental.
quadrículas tem um enviesamento devido à assimetria de
esforço dos registos adicionais.

A diversidade de aves no inverno foi maior nas áreas


costeiras com zonas húmidas (rias, estuários e lagoas)
relativamente ao restante território continental. As
quadrículas com maior número de espécies estão localizadas
na costa Algarvia e costa Oeste, entre Sines e Peniche e
entre a ria de Aveiro e o estuário do Minho. Ao longo dos
vales do Baixo Tejo e do Baixo Sado existem quadrículas
com mais espécies de aves, bem como em alguns locais
coincidentes com as grandes barragens do interior Sul.
No período da migração o número de espécies de aves
registado por quadrícula foi de forma geral superior ao do
inverno. Na migração o padrão de variação da riqueza de
espécies de aves ao longo da costa e vales do Tejo e Sado
é semelhante ao do inverno. No interior, por outro lado,
parece haver menos quadrículas com número de espécies FIGURA 5
Número de espécies
mais elevado. Este padrão poderá ser real ou de alguma detectadas por quadrícula
durante a migração
forma mascarado pelo menor esforço de amostragem
pós-nupcial em Portugal
realizado nessas áreas. Continental.

Nos arquipélagos dos Açores, Madeira e Selvagens a


diversidade de aves por quadrícula é muito inferior à do
território continental, como seria de esperar, tendo em
consideração a geografia oceânica daquelas ilhas. Nas ilhas
dos Açores não existe diferença significativa no número
de espécies detectadas por quadrícula entre o período da
migração e o período de inverno. Na Madeira o número de
espécies registadas por quadrícula no período da migração
é muito superior ao registado no inverno, em vários casos
o dobro.

Textos introdutórios 29
Abibe
© John Bridges

30 Parceiros
Espécies
Regulares
32 FICHA EXPLICATIVA 182 GRUIFORMES

34 GALIFORMES 190 CHARADRIIFORMES

40 ANSERIFORMES 312 PTEROCLIFORMES

70 PROCELLARIIFORMES 314 COLUMBIFORMES

90 PODICIPEDIFORMES 326 PSITTACIFORMES

96 PHOENICOPTERIFORMES 328 CUCULIFORMES

98 CICONIIFORMES 332 STRIGIFORMES

102 PELECANIFORMES 346 CAPRIMULGIFORMES

124 SULIFORMES 358 CORACIIFORMES

130 FALCONIFORMES 364 BUCEROTIFORMES

140 ACCIPITRIFORMES 366 PICIFORMES

178 OTIDIFORMES 374 PASSERIFORMES

Parceiros 31
Ficha de Espécies
Ficha explicativa
As fichas das espécies
de ocorrência regular
apresentam as seguintes
secções informativas:

NOME COMUM

Perdiz
Alectoris rufa

NOME CIENTÍFICO
IMAGEM
Bruno Maia

TEXTO
David Gonçalves

FOTOGRAFIA ILUSTRATIVA
DA ESPÉCIE Modelação
INVERNO

DISTRIBUIÇÃO E ABUNDÂNCIA Distribuição e abundância ilhas da Madeira, Porto Santo e Desertas. Atualmente
no inverno a espécie só ocorrerá nas duas ilhas em que foi obser-
NO INVERNO Em Portugal Continental, durante o inverno, a
vada, Madeira e Porto Santo, onde é explorada cine-
geticamente e alvo de reintroduções anuais (Oliveira
distribuição e variação espacial da abundância da 1999; Biscoito & Zino 2002; Atlas das Aves do Arqui-
Esta secção de texto inclui a perdiz é semelhante à observada em período de pélago da Madeira 2014).
reprodução. Ou seja, apresenta uma ampla distribui-
análise dos padrões espaciais de ção, mas com lacunas na faixa litoral norte e centro.
A abundância é mais elevada no sul (sobretudo no Distribuição e abundância
abundância e ocorrência durante interior alentejano) e na faixa raiana de Trás-os-Mon- na migração pós-nupcial Modelação
tes e Alto Douro e Beira Interior. Dado tratar-se de
o período de inverno, em função uma espécie sedentária, estes resultados eram expec- No período pós-nupcial, em Portugal Conti- MI G R A Ç Ã O P Ó S -N U P C I A L
táveis. Como espécie cinegética é muito procurada e nental, a perdiz tem uma distribuição e variação
de factores geográficos, climáticos anualmente milhares de indivíduos criados em cati-
veiro são libertados em largadas e repovoamentos.
da abundância semelhantes às obtidas no inverno.
Sendo uma espécie sedentária, as diferenças regis-
e do habitat. Por vezes é incluída Nos Açores a perdiz não foi registada em qual-
tadas na distribuição entre ambos os períodos estu-
dados não deverão corresponder a diferenças reais,

informação sobre a ocorrência de quer ilha durante o inverno. Ela foi introduzida nas
ilhas açorianas aquando da sua colonização (Frutuoso
mas sim às limitações de amostragem.

subespécies e sobre a dimensão 1522-1591) e reintroduzida posteriormente várias


vezes (Bannerman & Bannerman 1966). Atualmente,
Nos Açores a espécie foi registada nas ilhas
Terceira e Faial, estando essas ocorrências associa-

das populações. só na ilha do Pico existe uma população estabelecida


(presume-se de efetivo reduzido). Nas restantes ilhas
das a práticas cinegéticas (indivíduos provenientes
de libertações ou que terão escapado de provas de
por vezes observa-se alguma perdiz, provavelmente caça).
aves que escapam das provas de caça, organizadas
com aves de cativeiro, ou libertadas ilegalmente. No arquipélago da Madeira, a espécie foi obser-
vada nas ilhas da Madeira (num número maior de
No arquipélago da Madeira ela também foi intro- quadrículas relativamente ao inverno) e Porto Santo.
duzida pelos colonizadores portugueses; no século Nesta última apresentou uma abundância mais
XVI, segundo Frutuoso (1522-1591), seria comum nas elevada.

FAMÍLIA
Nesta secção é referida 30 Espécies regulares • Galiformes

a família taxonómica à
qual a espécie pertence.

DISTRIBUIÇÃO E ABUNDÂNCIA MODELAÇÃO


NA MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL Esta secção apresenta dois mapas da modelação
Esta secção de texto inclui da probabilidade de ocorrência da espécie, em
informação equivalente à secção percentagem, de acordo com as classes apresentadas
anterior, mas referente ao período na legenda. Os dois mapas dizem respeito ao
da migração pós-nupcial território de Portugal Continental, um referente ao
inverno e outro ao período da migração pós-nupcial.

32 Ficha de espécies
As fichas das espécies
de ocorrência irregular
Continente
(com poucos registos)
apresentam as seguintes
secções informativas:
MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

NOME COMUM
Espécies regulares • Galiformes 31

NOME CIENTÍFICO

ABUNDÂNCIA DESCRITIVO
Esta secção apresenta seis mapas da distribuição da abundãncia da espécie, Uma secção de texto resumida sobre
em nº indivíduos por hora, de acordo com as classes apresentadas na legenda. a análise dos padrões espaciais de
São apresentados dois mapas relativos ao território de Portugal Continental, abundância e ocorrência, em função
dois mapas realtivos ao arquipélago dos Açores e dois mapas realtivos ao de factores geográficos, climáticos
conjunto do arquipélago da Madeira e do arquipélago das Selvagens. Cada e do habitat. Nesta secção é feita
um destes conjuntos tem um mapa referente ao inverno e outro ao período da referência aos registos efectuados
migração pós-nupcial. durante o período deste atlas.

Ficha de espécies 33
Perdiz
Alectoris rufa

IMAGEM
Bruno Maia

TEXTO
David Gonçalves

Modelação
I NV ERN O

Distribuição e abundância ilhas da Madeira, Porto Santo e Desertas. Atualmente


no inverno a espécie só ocorrerá nas duas ilhas em que foi obser-
vada, Madeira e Porto Santo, onde é explorada cine-
Em Portugal Continental, durante o inverno, a geticamente e alvo de reintroduções anuais (Oliveira
distribuição e variação espacial da abundância da 1999; Biscoito & Zino 2002; Atlas das Aves do Arqui-
perdiz é semelhante à observada em período de pélago da Madeira 2014).
reprodução. Ou seja, apresenta uma ampla distribui-
ção, mas com lacunas na faixa litoral norte e centro.
A abundância é mais elevada no sul (sobretudo no Distribuição e abundância
interior alentejano) e na faixa raiana de Trás-os-Mon- na migração pós-nupcial Modelação
tes e Alto Douro e Beira Interior. Dado tratar-se de
uma espécie sedentária, estes resultados eram expec- No período pós-nupcial, em Portugal Conti- M I GRA ÇÃ O PÓS- N U PCIA L
táveis. Como espécie cinegética é muito procurada e nental, a perdiz tem uma distribuição e variação
anualmente milhares de indivíduos criados em cati- da abundância semelhantes às obtidas no inverno.
veiro são libertados em largadas e repovoamentos. Sendo uma espécie sedentária, as diferenças regis-
tadas na distribuição entre ambos os períodos estu-
Nos Açores a perdiz não foi registada em qual- dados não deverão corresponder a diferenças reais,
quer ilha durante o inverno. Ela foi introduzida nas mas sim às limitações de amostragem.
ilhas açorianas aquando da sua colonização (Frutuoso
1522-1591) e reintroduzida posteriormente várias Nos Açores a espécie foi registada nas ilhas
vezes (Bannerman & Bannerman 1966). Atualmente, Terceira e Faial, estando essas ocorrências associa-
só na ilha do Pico existe uma população estabelecida das a práticas cinegéticas (indivíduos provenientes
(presume-se de efetivo reduzido). Nas restantes ilhas de libertações ou que terão escapado de provas de
por vezes observa-se alguma perdiz, provavelmente caça).
aves que escapam das provas de caça, organizadas
com aves de cativeiro, ou libertadas ilegalmente. No arquipélago da Madeira, a espécie foi obser-
vada nas ilhas da Madeira (num número maior de
No arquipélago da Madeira ela também foi intro- quadrículas relativamente ao inverno) e Porto Santo.
duzida pelos colonizadores portugueses; no século Nesta última apresentou uma abundância mais
XVI, segundo Frutuoso (1522-1591), seria comum nas elevada.

34 Espécies regulares • Galiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Galiformes 35


Codorniz
Coturnix coturnix

IMAGEM
Victor Maia

Distribuição e abundância sedentários; no centro/sul, muitas aves apre- Distribuição e abundância


no inverno sentam níveis de acumulação de gordura baixos na migração pós-nupcial
(indício de que não migram) e desenvolvimento
Em Portugal Continental a codorniz foi regis- sexual precoce (Fontoura & Gonçalves 1996a,b, No período de migração pós-nupcial, em
tada sobretudo na metade Sul, maioritariamente 1999, Fontoura et al. 2000, Gonçalves 2003). Portugal Continental, a presença da codorniz foi
no Ribatejo e Alentejo, o que parece confirmar registada em algumas quadrículas na parte norte,
que é nestas regiões (por razões climáticas e A codorniz também está presente nos arqui- mas a maioria das quadrículas com presença
de maior disponibilidade de habitat) que se pélagos dos Açores (subespécie C. c. contur- situam-se novamente na metade sul deste terri-
concentra a população invernante (Guyomarc’h bans) e da Madeira (subespécie C. c. confisa). tório. Normalmente a migração pós-nupcial
& Fontoura 1993, Fontoura & Gonçalves 1996a). Para os Açores foi possível obter registos inicia-se no final de setembro e atinge o máximo
A aparente distribuição fragmentada e a ausên- adicionais para as ilhas de São Miguel, Terceira, em outubro/novembro (Fontoura & Gonçalves
cia de registos noutras regiões podem dever- Graciosa, Faial e Pico, a partir da monitorização 1996a). A ausência da espécie em muitas zonas
-se à dificuldade de observação desta espécie; da atividade cinegética, realizada pela Direção do centro/norte provavelmente resultará das
frequentemente a sua presença só é revelada Regional dos Recursos Florestais. As popula- dificuldades, já referidas, na sua deteção. Este
pelo canto dos machos, que vocalizam pouco ções insulares são constituídas por aves essen- aspeto também terá influenciado os resulta-
durante o inverno. Neste período a codorniz cialmente sedentárias, presentes em todas as dos obtidos para os Açores e Madeira. No caso
será rara a norte do rio Douro, mas ocorrerá, ilhas de ambos os arquipélagos (Rodrigues et dos Açores houve também uma insuficiência de
em baixa abundância, nas paisagens aluviona- al. 2010, Romano et al. 2010), pelo que a sua cobertura neste período.
res dos vales do Vouga e do Mondego (Guyo- distribuição no inverno deverá ser semelhante à
marc’h & Fontoura 1993, Fontoura & Gonçalves obtida em período de reprodução (Equipa Atlas
1996a). 2008).

A população invernante será constituída por A não existência de registos em algumas


aves provenientes da Europa do Norte e Central ilhas será resultado de insuficiências de cober- TEXTO
mas, possivelmente, também por indivíduos tura e/ou da dificuldade em observar a espécie. David Gonçalves

36 Espécies regulares • Galiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Galiformes 37


005 Ganso-bravo
Anser anser

IMAGEM
Jorge Meneses

Distribuição e abundância número estando anualmente presentes alguns Distribuição e abundância


no inverno milhares de aves que frequentam os bancos na migração pós-nupcial
de vasa e as pastagens da Ponta da Erva e do
O ganso-bravo foi registado em Portugal Mouchão do Lombo (Catry et al. 2010, Leitão Durante o período pós-nupcial, este ganso
Continental de forma localizada. A maioria dos et al. 1998). Algumas barragens alentejanas foi registado num número reduzido de locais
registos ocorreu em zonas húmidas costeiras, têm recebido cada vez mais gansos-bravos de Portugal Continental, maioritariamente nos
desde a foz do Guadiana até à foz do Douro. invernantes, sendo já na ordem das centenas o estuários do Tejo e Douro e barragens alente-
Este ganso também foi registado em alguns número de aves observadas regularmente nas janas. Não foram obtidos registos na costa do
locais do interior, principalmente no Alentejo e barragens de Odivelas e Alqueva e na lagoa Algarve nem no interior Norte e Centro.
vale do Tejo, mas também nas regiões Centro dos Patos (Catry et al. 2010, Elias et al. 1998).
e Norte. De uma forma geral, os dados obtidos neste As populações invernantes do ganso-bravo
atlas para o Alto Alentejo e para as regiões são provenientes maioritariamente da Escan-
As maiores abundâncias obtidas neste Norte e Centro parecem indicar uma crescente dinávia e norte da Alemanha e são migrado-
atlas (entre 10 e 20 indivíduos por hora) não expansão da população invernante da espécie res que chegam tarde (Catry et al. 2010, Leitão
traduzem bem a abundância real da espé- em Portugal Continental. et al. 1998). As primeiras aves observam-se
cie em Portugal, em particular em sítios que em Outubro, daí a escassez de registos neste
frequenta com regularidade e abundância, O ganso-bravo ocorre de forma acidental período de censo.
como o estuário do Tejo ou algumas barragens nas ilhas atlânticas. Neste período foi regis-
do Alentejo. O estuário do Tejo é o local onde tado numa única quadrícula da ilha de São Não houve registos deste ganso nas ilhas
a espécie ocorre tradicionalmente em maior Miguel. atlânticas neste período do ano.

TEXTO
Domingos Leitão

38 Espécies regulares • Anseriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Anseriformes 39


Ganso-do-egito
Alopochen aegyptiaca

IMAGEM
José Marques
[ ZéMarks ]

Distribuição e abundância no estuário do Tejo e Alentejo interior. Todos Continental, localizadas maioritariamente nos
no inverno envolveram um número reduzido de aves, indi- mesmos locais do inverno. Adicionalmente,
víduos isolados ou bandos com menos de dez houve apenas um registo na região Oeste e dois
O ganso-do-egito é uma espécie exótica, indivíduos. registos em novos locais no Alentejo, um dos
observada regularmente na natureza, em resul- quais envolvendo mais de 20 aves. A ocorrência
tado de fugas de colecções privadas e de jardins Não houve registos nas ilhas atlânticas. de observações consecutivas nas mesmas áreas,
públicos. Recentemente existem registos da sua parece indicar a existência de fugas recorrentes
nidificação perto de Évora e no Porto. ou então que as aves escapadas de cativeiro
Distribuição e abundância têm capacidade de permanecer na natureza por
Durante o inverno foi registada num número na migração pós-nupcial períodos longos.
reduzido de quadrículas de Portugal Continen-
tal. A norte, os registos ocorreram no estuá- Durante o período pós-nupcial, este ganso TEXTO
rio do Douro e no estuário do Cávado, e a sul, foi registado em oito quadrículas de Portugal Domingos Leitão

40 Espécies regulares • Anseriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Anseriformes 41


Tadorna
Tadorna tadorna

IMAGEM
Bruno Maia

Distribuição e abundância com escassa vegetação aquática, como salinas e Marim). No entanto ocorreram três registos em
no inverno vasas intermareais (Catry et al. 2010). Não houve locais diferentes (estuário do Mondego, foz do
registos nas ilhas atlânticas, onde a espécie é de Sizandro e albufeira de Alqueva).
A tadorna foi registada num número redu- ocorrência rara ou acidental.
zido de quadrículas do Sul de Portugal Conti- A tadorna é nidificante escassa, mas regular
nental. A maioria dos registos verificou-se em no leste da Ria Formosa e no sapal de Castro
áreas onde a ocorrência da espécie era já conhe- Distribuição e abundância Marim (Catry et al. 2010). Por isso, as aves que
cida, como os estuários do Tejo e do Sado, as na migração pós-nupciall ocorrem no outono e no inverno tanto podem
lagoas de Óbidos e dos Salgados, as rias do ser residentes reprodutoras como invernan-
Alvor e Formosa e sapal de Castro Marim (Catry Durante o período pós-nupcial, este pato foi tes provenientes de outros locais da Europa
et al. 2010). registado em apenas nove quadrículas de Portu- Ocidental (Catry et al. 2010).
gal Continental, localizadas maioritariamente
Esta espécie utiliza uma grande variedade de nos mesmos locais do inverno (estuários do Não houve registos de tadorna nas ilhas
zonas húmidas costeiras, mas sempre em locais Tejo e do Sado, Ria Formosa e sapal de Castro atlânticas neste período do ano.

TEXTO
Domingos Leitão

42 Espécies regulares • Anseriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Anseriformes 43


Frisada
Mareca strepera

IMAGEM
Dinis Cortes

Distribuição e abundância ção obtida mostra uma preferência por zonas o inverno, embora o número de registos tenha
no inverno húmidas interiores de natureza artificial, quer sido significativamente inferior. Foram obser-
sejam grandes albufeiras ou pequenos açudes, vadas maiores abundâncias no Alentejo e nas
A frisada ocorreu unicamente no território devendo uma parte importante da população zonas húmidas costeiras do Algarve, coinci-
de Portugal Continental, sobretudo na metade ser constituída por aves residentes. dindo com as áreas mais importantes de inver-
sul, mas também, de forma localizada, em zonas nada e de reprodução. As aves presentes neste
costeiras do norte e do centro. A sua distribui- período deverão ser sobretudo de origem local
ção foi mais uniforme no interior alentejano, na Distribuição e abundância e ibérica (Catry et al. 2010).
costa algarvia e no estuário do Tejo. As maio- na migração pós-nupcial
res abundâncias registaram-se no Alentejo, Durante este período foram obtidos dois
principalmente no centro da região, no oeste Em Portugal Continental a área de ocor- registos no arquipélago dos Açores, ambos na
do distrito de Portalegre e na lagoa de Santo rência da frisada durante a migração pós-nup- ilha Terceira, onde a espécie é de ocorrência
André, e no sapal de Castro Marim. A informa- cial foi muito semelhante à registada durante acidental.

TEXTO
Luís Venâncio

44 Espécies regulares • Anseriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Anseriformes 45


Piadeira
Mareca penelope

IMAGEM
Victor Maia

Distribuição e abundância 2010). Outros locais importantes são o estuá- das estuarinas, como o estuário do Tejo e a Ria
no inverno rio do Sado, a ria de Aveiro, os pauis do Baixo Formosa, mas também em lagoas costeiras,
Mondego, a lagoa de Santo André e algumas como as de Óbidos, de Albufeira e dos Salgados.
A piadeira foi registada ao longo de toda a barragens alentejanas.
faixa litoral de Portugal Continental, com uma Esta é uma espécie exclusivamente inver-
certa penetração para o interior nos vales do Não houve registos de piadeira durante o nante, cujas primeiras aves são normalmente
Tejo, Sado e Mondego. Adicionalmente foi inverno na ilha da Madeira. Nos Açores, onde registadas em Outubro (Catry et al. 2010). Daí
também encontrada em vários locais do interior se sabe que a espécie ocorre regularmente apresentar uma área de distribuição mais redu-
alentejano. em todas as ilhas (BirdingAzores), foi registada zida no outono do que no inverno. As aves que
apenas nas ilhas Terceira, São Jorge e Corvo. invernam no nosso país são provenientes de uma
Esta espécie utiliza uma grande diversidade vasta área do extremo Norte da Europa, que
de zonas húmidas, de água doce e salgada. inclui a Islândia, a Escandinávia e a Rússia (Catry
Pode ocorrer em estuários e lagoas costei- Distribuição e abundância et al. 2010).
ras, pauis e albufeiras (ver Catry et al. 2010). na migração pós-nupcial
A piadeira ocorre com maior abundância em Não se verificaram registos na Madeira, à
áreas estuarinas, com alguns milhares de aves Durante o período pós-nupcial, este pato foi semelhança do que tinha acontecido no Inverno.
registadas anualmente no estuário do Tejo e detectado num número muito menor de quadrí- Nos Açores, a piadeira foi registada nas ilhas
na Ria Formosa, os dois locais que albergam culas de Portugal Continental do que no inverno. Terceira, Flores, São Miguel e Santa Maria.
a maioria da população nacional (Catry et al. Foi registado principalmente em zonas húmi-
TEXTO
Domingos Leitão

46 Espécies regulares • Anseriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Anseriformes 47


Pato-real
Anas platyrhynchos

IMAGEM
Bruno Maia

TEXTO
Domingos Leitão

Modelação
I NV ERN O

Distribuição e abundância Nos Açores a espécie foi registada em São Miguel


no inverno e no Corvo, podendo no entanto ocorrer noutras ilhas
onde não foi detectada. Na Madeira foi registada em
O pato-real foi registado em todo o território de quatro quadrículas e também no Porto Santo.
Portugal Continental. Ocorreu de forma mais homo-
génea a sul do Tejo, estado ausente apenas nas
serras algarvias, ao passo que a norte desse rio a Distribuição e abundância
sua distribuição foi mais descontínua notando-se a na migração pós-nupcial
ausência ou ocorrência pontual em vastas áreas do
interior Norte e Centro. Este padrão coincide de uma Durante o período pós-nupcial, a distribuição do
forma geral com o que se conhece da distribuição pato-real é em tudo semelhante à do período de
deste pato para o período reprodutor. inverno. Os locais onde se registaram as maiores
abundâncias, como ria de Aveiro, Baixo Mondego, M I GRA ÇÃ O PÓS- N U PCIA L
Esta espécie utiliza uma grande diversidade estuário do Tejo, lagoa de Santo André e algumas
de zonas húmidas tanto de água doce como de barragens alentejanas, são também os mesmos. No
água salobra ou mesmo salgada. Pode ocorrer em entanto, há muitas quadrículas onde a espécie não
estuários, lagoas costeiras, rios, ribeiras, barragens, foi detectada neste período mas foi detectada no
açudes, arrozais e pauis (ver Catry et al. 2010). inverno. Este padrão poderá dever-se a falhas de
cobertura, mas também a um maior gregarismo
O padrão de abundância registado neste atlas da espécie nesta época do ano, em que as aves
parece traduzir, grosso modo, a variação da abun- se concentram para realizar a muda da plumagem
dância da espécie ao longo do território. As maio- (Rodrigues et al. 2001). Nos estuários do Tejo e
res concentrações registaram-se nas zonas húmidas Sado e na lagoa de Santo André os maiores bandos
da costa Oeste (ria de Aveiro, estuários do Tejo e do de pato-real são observados entre agosto e outubro
Sado e lagoa de Santo André), no Baixo Mondego, (ver Catry et al. 2010, Leitão et al. 1998).
no curso médio do Tejo e nas grandes barragens alen-
tejanas. A população invernante nas principais zonas Nos Açores, o pato-real foi registado nas ilhas de
húmidas ascende a cerca de 20000 aves, de prove- São Miguel e Corvo. Há que ter em conta que várias
niência essencialmente local e ibérica sendo poucas ilhas açorianas não foram visitadas neste período.
as aves provenientes doutros locais da Europa (Rodri- Na Madeira foi registado em cinco quadrículas. Não
gues et al. 2000, Catry et al. 2010). foi registado no Porto Santo.

48 Espécies regulares • Perdiz


Anseriformes
Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies
Espécies
regulares
regulares
• Anseriformes
• Perdiz 49
Pato-colhereiro
Spatula clypeata

IMAGEM
Ricardo Lourenço

Distribuição e abundância Sabe-se que as maiores abundâncias deste a espécie foi registada num número mais redu-
no inverno pato registam-se em algumas húmidas prin- zido de quadrículas, especialmente na costa a
cipais (Baixo Mondego, estuários do Tejo e norte do Tejo, no vale Tejo e no Baixo Alentejo.
O pato-colhereiro foi registado na maioria Sado, lagoa de Santo André e Ria Formosa),
das zonas húmidas costeiras de Portugal Conti- e num segundo plano em algumas barragens Neste período as populações deste pato
nental, entre o rio Minho e o rio Guadiana. No do Baixo Alentejo. A população invernante podem ter duas origens. Por um lado os
interior Sul, ocorreu um pouco por todo o vale ascende a cerca de 10000 aves, provenientes primeiros invernantes, que deverão ocorrer
do Tejo e Alentejo ao passo que no Norte e de toda a Europa do Norte (Catry et al. 2010). por toda a área de distribuição, e por outro o
Centro foi registado apenas em duas quadrí- reduzido número de indivíduos pertencente à
culas, uma no Douro e outra na Beira Baixa. Nos Açores, onde ocorre de forma aciden- população reprodutora, muito localizada no
Esta espécie utiliza uma grande diversidade tal, esta espécie foi registada em São Miguel interior do Alentejo e na costa Algarvia.
de zonas húmidas, quer de água doce quer e na Terceira. Não houve registos na Madeira,
de água salobra. Frequenta estuários, lagoas onde é também acidental. Nas ilhas o padrão de ocorrência foi idên-
costeiras, salinas, barragens, açudes, arrozais tico ao do inverno.
e pauis (ver Catry et al. 2010).
Distribuição e abundância
O padrão de abundância obtido neste atlas na migração pós-nupcial
não traduz a realidade da variação espacial da
abundância invernal da espécie, porque os Durante o período pós-nupcial, a distribui-
registos nos estuários do Tejo e Sado provêm ção do pato-colhereiro foi semelhante à que se TEXTO
maioritariamente de observações adicionais. obteve para o período de inverno. No entanto, Domingos Leitão

50 Espécies regulares • Anseriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Anseriformes 51


Arrábio
Anas acuta

IMAGEM
Bruno Maia

Distribuição e abundância Não se obtiveram registos na ilha da Os registos neste período foram obtidos
no inverno Madeira onde a espécie é aliás acidental. principalmente em zonas húmidas estuarinas,
Nos Açores onde a sua ocorrência é também como o estuário do Tejo e a Ria Formosa, mas
O arrábio ocorreu principalmente em zonas acidental foi observado nas ilhas do Faial, São também em lagoas costeiras, como as lagoas
húmidas costeiras, desde o estuário do Cávado Jorge e Corvo. de Óbidos e dos Salgados.
até ao estuário do Guadiana, passando pelo
Baixo Mondego e por algumas barragens alen- Distribuição e abundância A espécie não foi observada na Madeira.
tejanas. na migração pós-nupcial Nos Açores, o arrabio foi registado nas ilhas
Terceira e São Miguel.
A espécie frequenta águas pouco profun- Esta é uma espécie exclusivamente inver-
das em estuários, lagoas costeiras, barragens nante, cujas primeiras aves são normalmente
e pauis no interior (Catry et al. 2010). A popu- registadas em outubro (Catry et al. 2010).
lação média invernante é superior a 5000 aves, Não surpreende pois que durante o período
e é proveniente da Escandinávia, Finlândia e pós-nupcial tenha uma área de distribuição TEXTO
Rússia. muito mais pequena do que no inverno. Domingos Leitão

52 Espécies regulares • Anseriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Anseriformes 53


Marreco
Spatula querquedula

IMAGEM
Bruno Maia

Distribuição e abundância cultar a sua deteção. As aves registadas encon- lizadas no Alentejo, Algarve e Estremadura.
no inverno travam-se em lagoas costeiras ou pauis, com Ocorre com menor frequência neste período
vegetação marginal emergente, em locais com do que na migração pré-nupcial (Costa &
No inverno o marreco ocorreu apenas em elevadas concentrações de outros anatídeos. Guedes 1996) e a circunstância da maioria das
Portugal Continental, quase exclusivamente no aves se apresentar em plumagem de eclipse
sul do território, e de forma muito localizada. contribui para dificultar a sua identificação
Foram obtidos registos somente em seis quadrí- Distribuição e abundância (Catry et al. 2010) e consequente deteção
culas: duas no estuário do Tejo, duas no litoral na migração pós-nupcial nesta época.
algarvio, uma no Baixo Mondego e uma na lagoa
de Santo André. Para além de ser uma espécie Durante o período da migração pós-nupcial Foi também registado nas ilhas de Santa
rara neste período, a ocorrência entre bandos o marreco foi registado em cinco quadrículas Maria e Terceira, no arquipélago dos Açores,
de marrequinhas (Catry et al. 2010) tende a difi- da metade Sul do território continental, loca- onde a sua ocorrência é acidental.

TEXTO
Luís Venâncio

54 Espécies regulares • Anseriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Anseriformes 55


Marrequinha
Anas crecca

IMAGEM
Victor Maia

Distribuição e abundância vada ao longo de todo o litoral. As marrequi- ras aves chegam em agosto, razão pela qual
no inverno nhas-comuns que no Inverno chegam à Penín- a espécie foi detectada no período de migra-
sula Ibérica têm várias origens, abrangendo ção pós-nupcial. O padrão de distribuição,
A marrequinha na metade Sul de Portugal uma vasta área geográfica: França, Holanda, embora muito mais fragmentado, é consis-
pode ser encontrada tanto em zonas húmi- Alemanha, Reino Unido, Finlândia, Islân- tente com o observado no inverno: ocorre na
das costeiras como em águas interiores. A dia, Suécia e Rússia (Catry et al. 2010, SEO/ costa algarvia, lagoa de Santo André, estuá-
norte do rio Tejo ocorre principalmente junto BirdLife 2012). rio do Tejo, e pontualmente no litoral Centro e
ao litoral, em locais onde tradicionalmente é Norte, e no interior alentejano. A ausência de
conhecida a sua presença: lagoa de Óbidos, No arquipélago dos Açores a marrequinha registos no estuário do Sado, uma das zonas
pauis de Arzila e da Madriz, ria de Aveiro, foi observada no grupo Central e Oriental, principais de invernada, reflecte a ausência de
estuários do Cávado e Lima. De destacar as estando apenas ausente das ilhas Graciosa e cobertura neste período de amostragem.
observações na Beira Baixa, onde foi detec- São Jorge. Não houve registos no arquipélago
tada em três quadrículas. A sul parece estar da Madeira. No arquipélago dos Açores foi detectada
ausente do litoral alentejano, com excepção em menos ilhas, podendo este facto dever-se
da lagoa de Santo André que juntamente com a dois factores: a uma menor cobertura siste-
os estuários do Tejo e Sado albergam a maio- Distribuição e abundância mática durante este período e ao contingente
ria da população invernante em Portugal. Esta na migração pós-nupcial invernante chegar mais tarde do que no conti-
espécie é uma presença frequente nas massas nente. Durante este período houve um registo
de água do baixo e alto Alentejo, onde os A marrequinha é uma espécie invernante no extremo oeste da ilha da Madeira.
registos adicionais permitem compensar em Portugal, podendo ser observada até
algumas falhas de cobertura dando consis- abril, ainda quem números reduzidos. Apesar
tência ao padrão observado. Está ausente das de a maioria da população chegar ao nosso TEXTO
serras algarvias, podendo contudo ser obser- país a partir de outubro-novembro, as primei- Carlos Godinho

56 Espécies regulares • Anseriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Anseriformes 57


Pato-de-bico-vermelho
Netta rufina

IMAGEM
Joaquim Antunes

Distribuição e abundância Em termos de abundância, a lagoa de Santo ibérico, relacionados com a muda da pluma-
no inverno André constitui o local onde se concentra a gem ou até com situações de seca extrema.
maioria da população invernante no país. Apesar disso, não parece verificar-se altera-
O pato-de-bico-vermelho está ausente de ção significativa no padrão de distribuição
grande parte do território continental e a sua As aves que a ocorrem em Portugal durante da espécie neste período que, não obstante
ocorrência aparenta estar confinada apenas o Inverno deverão ser originárias de Espanha eventuais lacunas de cobertura, será seme-
à metade sul, onde tem uma distribuição (Catry et al. 2010). lhante ao que se verifica quer no inverno quer
bastante fragmentada. Nesse espaço geográ- na época de reprodução.
fico, a espécie frequenta quer zonas húmidas
naturais costeiras, quer planos de água arti- Distribuição e abundância
ficiais de albufeiras e açudes no interior. A na migração pós-nupcial
informação obtida aparenta reflectir com rigor
aquilo que serão os padrões de distribuição da Supõe-se que durante o período pós-nup-
espécie, não se verificando, aliás, diferenças cial as populações de pato-de-bico-vermelho
TEXTO
significativas com a situação que se conhece efectuem movimentos de carácter dispersivo Helder Costa
para o período de reprodução. com alguma amplitude no espaço geográfico O autor não segue o acordo ortográfico de 1990

58 Espécies regulares • Anseriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Anseriformes 59


Zarro-comum
Aythya ferina

IMAGEM
Ben Hall
rspb-images.com

Distribuição e abundância didade quando escolhe os locais para invernar, foi registado em números baixos durante este
no inverno necessita de vegetação aquática, uma vez que período. O zarro-comum no período pós-nup-
se trata de um anatideo que se alimenta no cial apresenta densidades muito baixas, tendo
A distribuição do zarro-comum durante o fundo (Cramp & Perris 1998). em conta que é um nidificante escasso e que
Inverno está dividida em polos, na sua grande os efetivos invernantes, vindos no norte da
maioria no Alentejo. É mais abundante nas O zarro-comum só nidifica em dois locais Europa só chegam entre Outubro e Novem-
lagoas costeiras de Santo André e Melides no do país, no complexo de barragens a Norte de bro (Cramp & Perris 1998). Este factor só se faz
Baixo Alentejo e em barragens e represas no Arraiolos no Alto Alentejo, e em lagos artificiais sentir em Santo André a partir de Dezembro
Alto Alentejo, na periferia destes locais exis- e reservatórios próximos da costa no Algarve. (Silveira et al. 2009).
tem populações invernantes menos numero-
sas. A Norte do rio Tejo foi localizado durante Durante este período os bandos de zarros
um Inverno em três locais diferentes em núme- Distribuição e abundância são de pequena dimensão, normalmente
ros baixos. Em Portugal Continental popula- na migração pós-nupcial abaixo dos vinte e cinco indivíduos.
ções invernantes ainda com alguma relevância
estão situadas na Lagoa dos Patos e na zona Depois da nidificação o zarro-comum
de Vilamoura. Parece dar preferência a gran- mantém-se fiel aos seus locais de pertença TEXTO
des reservatórios de água com pouca profun- tanto no Alto Alentejo como no Algarve onde Miguel Mendes

60 Espécies regulares • Anseriformes


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MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Anseriformes 61


Pêrra
Aythya nyroca

IMAGEM
Dinis Cortes

Distribuição e abundância de Évora (no Tojal) e no distrito de Beja, ainda Distribuição e abundância
no inverno que se conheçam observações anteriores na migração pós-nupcial
noutros locais do Alentejo, como na lagoa dos
Em Portugal Continental a pêrra ocorre Patos (Leitão & Cidraes-Vieira 2009) e Cabe- Dados anteriores a este atlas sugerem que
sobretudo como invernante, sendo apenas ção (Neves & Costa 1995). as pêrras ocorrem em Portugal sobretudo a
conhecido um registo de reprodução confir- partir de outubro (Catry et al. 2010), prova-
mada nas décadas recentes (Ministro & Fernan- Os dados recolhidos durante o atlas e velmente em resultado de movimentos de
des 2002). A espécie é bastante rara (Catry et outras observações posteriores publicadas dispersão efetuados pelas populações repro-
al. 2010). No atlas a pêrra foi detetada pontual- em noticiários ornitológicos, envolvem núme- dutoras espanholas (Farinha & Costa 1999) e,
mente em zonas húmidas costeiras, mas ros excecionais de indivíduos, particularmente, possivelmente, francesas e marroquinas (Pele-
também, em lagoas e albufeiras do interior. 18 indivíduos observados em janeiro de 2012 grín 2012). Este padrão pode explicar a quase
Com a exceção de dois indivíduos observados na lagoa de Santo André, e 27 indivíduos nas ausência de registos de pêrra durante a migra-
no Baixo Mondego, as restantes observações lagoas de Vilamoura em novembro de 2012. À ção pós-nupcial, dado que foi apenas obser-
de pêrra tiveram lugar no sul do país. Assim, semelhança de outros anatídeos, não se pode vada nas lagoas de Albufeira e dos Salga-
na costa oeste, este anatídeo foi registado nas excluir a hipótese de, pelo menos parte destes dos, durante este atlas, e no estuário do Tejo
lagoas de Albufeira e Santo André e, na costa indivíduos, serem provenientes de fugas de e lagoa dos Patos, noutros estudos (Leitão &
sul, apenas nas lagoas de Vilamoura, embora cativeiro. Cidraes-Vieira 2011).
existam registos noutros pontos do Algarve
(e.g. Quinta do Lago e lagoa dos Salgados). No A espécie não ocorre nos arquipélagos dos TEXTO
interior, a pêrra foi registada apenas no distrito Açores e da Madeira. João L Guilherme

62 Espécies regulares • Anseriformes


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MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Anseriformes 63


Negrinha
Aythya fuligula

IMAGEM
Faísca

Distribuição e abundância norte do Minho, onde a negrinha ocorre conti- Distribuição e abundância
no inverno nuamente ao longo da costa galega (Molina na migração pós-nupcial
2012). Para sul, foi encontrada pontualmente
A negrinha ocorre em Portugal Continental entre a ria de Aveiro e a Ria Formosa, desta- Durante o período pós-nupcial, a negrinha
essencialmente durante o inverno, sendo a sua cando-se as contagens de 400 indivíduos na foi observada pontualmente em algumas zonas
nidificação rara (Catry et al. 2010). Aparece em lagoa de Santo André. No interior do país, a húmidas do sul do país, especialmente ao longo
zonas húmidas ao longo da costa e em águas negrinha ocorre em baixos números, dispersa da costa: no estuário do Tejo, nas lagoas de Albu-
interiores, especialmente a sul do rio Tejo, em várias albufeira e lagoas. Em anos anterio- feira e de Santo André e na Ria Formosa. As aves
preferindo planos de água abertos e profun- res, no entanto, existem registos de concentra- invernantes provenientes essencialmente dos
dos (Catry et al. 2010). O número de negrinhas ções elevadas no Alto Alentejo (por exemplo territórios de reprodução no Norte e Oeste da
invernantes em Portugal diminuiu significativa- 462 indivíduos em Mourão; Leitão & Cidraes- Europa (MARM 2011), chegam a Portugal a partir
mente nas últimas décadas, tendo desapare- -Vieira 2011). No inverno de 2013/14, regista- do final de outubro (Catry et al. 2010), pelo que
cido quase por completo em alguns sítios. No ram-se contagens no Alentejo, com mais de as observações durante o período pós-nupcial
estuário do Minho, onde se registaram as maio- 200 indivíduos (Vítor Encarnação com. pess.). deverão referir-se a aves invernantes precoces.
res concentrações nos anos 1990 (por exem-
plo 120 indivíduos em Janeiro de 1995; Costa Apesar de ser acidental no arquipélago Nos Açores, a negrinha foi registada nas
& Rufino 1996), não foi observada durante o dos Açores, a negrinha foi detectada nas ilhas ilhas Terceira e São Miguel. Não foi registada na
atlas. Os dados disponíveis até 2006 sugerem do Corvo, Faial, Terceira e Santa Maria. Na Madeira.
uma forte regressão naquele estuário (apenas Madeira a ocorrência da negrinha é também
15 indivíduos em 2006; Vítor Encarnação com. acidental (Romano et al. 2010), mas não foi TEXTO
pess.), em contraste com o que se passa a detetada durante os trabalhos do atlas. João L Guilherme

64 Espécies regulares • Anseriformes


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INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Anseriformes 65


Negrola
Melanitta nigra

IMAGEM
José Viana

Distribuição e abundância Foi detectado em visitas sistemáticas apenas grosseira com o mapa do período de inverno.
no inverno em dois locais (próximo de Vila Praia de Âncora A maior quantidade de registos adicionais
e a sul da praia do Furadouro), fruto da voca- durante o inverno talvez resulte de uma maior
Durante o inverno, a negrola foi detectada ção terrestre da metodologia deste atlas. Não quantidade de indivíduos presente durante
principalmente na costa da metade norte do obstante, estes registos documentam uma área este período (meados de novembro a meados
território continental, de forma contínua de de ocorrência que deverá ser a de maior impor- de fevereiro) e da existência de programas de
Peniche a Ovar. De forma geral, isto deverá tância para a invernada desta espécie em terri- monitorização, como o projecto Arenaria, que
estar relacionado com a preferência por costas tório português (Ramírez et al. 2008). contribuiu com grande número desses registos.
pouco profundas e arenosas onde consegue
encontrar alimento em mergulho. Muitos dos O estatuto fenológico associado ao mapa Os registos da espécie nos Açores estão
restantes registos coincidem com a sua ocor- de inverno não é claro, uma vez que Catry et sujeitos a homologação pelo Comité Português
rência associada a estuários e lagoas costeiras al. (2010) regista a passagem pós-nupcial desta de Raridades, reflectindo uma elevada irregu-
(Catry et al. 2010), que normalmente advém espécie a partir de Julho até Janeiro. laridade e escassez de registos ao longo dos
de condições climatéricas adversas. Também anos. Nesse contexto, os registos aqui repre-
coincidindo com estudos anteriores, detectou- sentados coincidem com locais onde a espé-
-se a ocorrência na proximidade de Lisboa, na Distribuição e abundância cie já ocorreu anteriormente na ilha da Terceira
zona de Sagres e ainda próximo de Vila Real de na migração pós-nupcial (vide www.birdingazores.com e www.avesdosa-
Santo António, o que se enquadra numa área zores.com, 2014 ).
de invernada conhecida no Sotavento Algar- O mapa da distribuição durante a migração TEXTO
vio. pós-nupcial mostra apenas uma semelhança João Tiago Tavares

66 Espécies regulares • Anseriformes


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INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Anseriformes 67


Merganso-de-poupa
Mergus serrator

IMAGEM
António A. Gonçalves

Distribuição e abundância -se desde o Minho até ao Algarve mas é locali- máximo em Janeiro. A menor cobertura asse-
no inverno zada. O estuário do Sado é a zona onde tradi- gurada nesta época, associada provavelmente
cionalmente se concentra a maior parte da ao reduzido número de aves presentes no
Esta espécie, oriunda do Norte da Europa e população do país (Catry et al. 2010). país no início do Outono, poderão explicar a
do Árctico, frequenta sobretudo estuários, rias ausência de registos no período de migração
e lagoas costeiras, onde utiliza planos de água A espécie é acidental nos arquipélagos pós-nupcial. Convém notar igualmente que
desprovidos de vegetação e sujeitos à influên- atlânticos dos Açores e da Madeira e não foi aí a Península Ibérica faz parte do limite sul da
cia das marés. Pode ser vista também em observada no período abrangido pelos traba- área de invernada da espécie e que, por isso,
águas marinhas junto à costa e em baías abri- lhos de campo deste atlas. não há movimentos de passagem de aves pelo
gadas, provavelmente apenas de passagem, nosso território a caminho de África (Cramp &
não sendo certo que inverne regularmente no Simmons 1977).
mar (Catry et al. 2010). Não admira assim que a Distribuição e abundância
sua ocorrência esteja confinada à faixa litoral e na migração pós-nupcial
que não se tenham obtido registos no interior
do país onde o seu aparecimento, não sendo A chegada dos primeiros mergansos-de- TEXTO
desconhecido, se poderá considerar ocasional -poupa ao nosso país dá-se durante o mês Helder Costa
(ver Catry et al. 2010). A distribuição estende- de Outubro e o número de aves só atinge o O autor não segue o acordo ortográfico de 1990

68 Espécies regulares • Anseriformes


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MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Anseriformes 69


Freira-da-madeira e freira-do-bugio
Pterodroma sp.

IMAGEM
Filipe Viveiros

Freira-do-bugio

Distribuição e abundância Durante o período de inverno a freira-da- quadrículas da Madeira, uma no interior e
no inverno -madeira está ausente do território portu- três na costa, bem como numa quadrícula da
guês razão pela qual não seriam efetuados Deserta Grande.
A freira-da-madeira (Pterodroma madeira) registos desta espécie. Por outro lado, neste
e a freira-do-bugio (Pterodroma deserta) período, a freira-do-bugio está na fase final da Durante este período as freiras concen-
são espécies endémicas do arquipélago da época de reprodução, com a saída dos juve- tram-se em redor das ilhas Desertas, até uma
Madeira, nidificando na ilha da Madeira e nis em dezembro, utilizando a área marinha distância de 30 km do Bugio, sendo os locais
Ilhas Desertas, respetivamente. Atendendo à envolvente à área de nidificação, podendo ser com maiores densidades o Sudeste do Bugio
grande semelhança entre estas duas espécies, observada no mar. A ausência de registos de (3-4 aves/km2) e a costa Leste das Deser-
tanto em morfologia como no comportamento freira-do-bugio durante este período estará tas (2-3 aves/km2), entre a Deserta Grande e
em voo, não é fácil a distinção das mesmas no relacionada com a metodologia do atlas, que o Bugio. Estas espécies também podem ser
mar, razão pela qual os dados são apresenta- não é adequada ao censo de aves marinhas. observadas a norte da Madeira, bem como nas
dos em conjunto. proximidades do Porto Santo (1-2 aves/km2).
Outubro é a altura de maior frequência
A época de reprodução destas espécies Distribuição e abundância de ocorrência porque reflete a presença dos
ocorre entre março e dezembro, sendo que a na migração pós-nupcial juvenis da freira-da-madeira, bem como a
freira-da-madeira está presente na ilha entre grande atividade da freira-do-bugio no mar
março e outubro e a freira-do-bugio entre No período aqui denominado de “pós-nup- para alimentação das suas crias (Menezes et
junho e dezembro (Menezes et al. 2010). cial” as freiras foram detectadas em quatro al. 2010).

TEXTO
Dília Menezes

70 Espécies regulares • Procellariiformes


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MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Procellariiformes 71


Cagarra
Calonectris borealis

IMAGEM
Brandon Trentler

Distribuição e abundância gica é facilmente observada a partir de terra, esta espécie e/ou a metodologia de censo,
no inverno ocorrendo em toda costa continental durante pouco adequada à contagem de aves pelági-
a época de migração pós-nupcial. No entanto, cas a partir da costa.
Neste período houve apenas seis regis- neste atlas apenas foi registada entre Peniche
tos adicionais de cagarra. Durante o inverno e Vila Real de Santo António. Tendo em conta Nos arquipélagos dos Açores, Madeira e
esta espécie encontra-se nas suas áreas de a abundância conhecida da espécie para este Selvagens a cagarra foi registada com maior
invernada localizadas na costa sul-americana, período (Meirinho et al. 2014), seria de esperar abundância, pois é nestas regiões que se
região central do Atlântico Sul, costa sul-afri- um maior número de observações para toda a encontram as suas maiores colónias de nidifi-
cana – podendo-se estender ao oceano Índico costa. Apesar da dimensão reduzida da popu- cação, ocorrendo em todas as ilhas de ambos
– e no Atlântico Noroeste. Os indivíduos lação reprodutora do arquipélago das Berlen- os arquipélagos até meados de novembro,
observados ocasionalmente poderão corres- gas, as contagens de grandes grupos reali- altura em que as últimas aves abandonam as
ponder a um retorno antecipado às colónias zadas no passado (Moore 2000) indicam que áreas de reprodução. Mais uma vez seria de
de reprodução (Ramos et al. 2012). nem todos os indivíduos encontrados na zona esperar um maior número de registos e maio-
costeira de Portugal Continental são prove- res abundâncias do que aquelas representa-
nientes deste arquipélago, levando a supor das nos mapas, podendo estas limitações ter
Distribuição e abundância que uma grande parte destes têm origem nas as mesmas origens das listadas para a região
na migração pós-nupcial populações dos Açores, Madeira e/ou Caná- continental.
rias (Catry et al. 2010). O reduzido número de
Esta época coincide com a época de registos durante as visitas sistemáticas poderá
alimentação das crias de cagarra e migração ter diversas justificações, nomeadamente a TEXTO
pós-nupcial (Granadeiro 1991). Esta ave pelá- sensibilidade reduzida dos observadores para Nuno Oliveira

72 Espécies regulares • Procellariiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Procellariiformes 73


Pardela-preta
Ardenna grisea

IMAGEM
Bianca Vieira

Distribuição e abundância nental sendo considerados migradores pouco Está documentada a presença invernal
na migração pós-nupcial comuns (Catry et al. 2010). Parecem ocor- ocasional desta espécie ao largo da costa
rer mais frequentemente próximo de costa portuguesa (Paterson 1997, Ramírez et al.
A pardela-preta não foi detectada nos do que longe desta, ao contrário da parde- 2008, Walker 1996 in Catry et al. 2003), mas
trabalhos de campo do presente atlas, devido la-de-barrete, outro migrador de passagem a maioria das aves deverá passar entre Julho
à ausência de metodologia adequada às espé- oriundo do hemisfério sul (Alexandre Leitão, e Novembro, com outro pico de ocorrência
cies marinhas, de um modo geral. Apresen- com. pess., Ramírez et al. 2008), de forma que na primavera (Catry et al. 2003, Ramírez et al.
tam-se registos adicionais obtidos durante podem ser observados regularmente a partir 2008).
a passagem migratória na costa continental de terra. Não se obtiveram registos a norte do
portuguesa, que se enquadram no padrão de cabo Carvoeiro, embora a espécie seja consi- No que diz respeito às ilhas, houve apenas
ocorrência conhecido da espécie. As parde- derada um migrador comum a abundante na três registos durante o esforço de amostragem
las-pretas que nos visitam provêm principal- costa Norte de Espanha (Paterson 1997) e deste atlas, dois na Madeira e um nas Selva-
mente das ilhas Malvinas e da Terra do Fogo, o estudo de base para definir IBAs marinhas gens. De notar que esta espécie é considerada
percorrendo o oceano Atlântico no sentido tenha detectado a espécie no Norte de Portu- um migrador regular, ainda que escasso, tanto
horário, de acordo com os ventos dominan- gal (Ramírez et al. 2008). Isto parece sugerir nos Açores como na Madeira (Clarke 2006),
tes, e passando o inverno austral em zonas que os registos obtidos adicionalmente não especialmente entre agosto e outubro (ver
temperadas (Cramp & Simmons 1977). Ocor- reflectem de forma completa a distribuição www.birdingazores.com).
rem regularmente ao largo de Portugal Conti- geográfica da espécie.
TEXTO
João Tiago Tavares

74 Espécies regulares • Procellariiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Procellariiformes 75


Pardela-do-atlântico
Puffinus puffinus

IMAGEM
José Sousa

Distribuição e abundância a partir de costa, e normalmente observada res de passagem. A espécie nidifica também
no inverno isoladamente ou em pequenos grupos (Catry nas duas ilhas do grupo Ocidental do arquipé-
et al. 2010). A espécie foi registada ao longo lago dos Açores, tendo sido efectuados regis-
A pardela-do-atlântico é essencialmente de todo período migratório, em pontos de tos para ilha do Corvo. A inexistência de regis-
uma migradora de passagem nas águas censos costeiros em cabos ao longo do país, e tos na ilha das Flores resulta provavelmente
continentais, e uma nidificante e migradora pontualmente noutros locais da costa. de insuficiências de cobertura. Nesta região
de passagem nos arquipélagos dos Açores existe ainda uma observação em S. Miguel.
e Madeira, pelo que a espécie não foi dete- As aves registadas em Portugal Continen-
tada em observações sistemáticas para este tal deverão provir de colónias nas ilhas Britâ- Nas regiões insulares as observações foram
período em águas portuguesas. nicas, e observam-se principalmente aquando também de aves isoladas ou em pequenos
da passagem pós-nupcial (sobretudo entre grupos.
agosto e outubro) em direcção de territórios
Distribuição e abundância de invernada no Atlântico Sul (Del Hoyo et al.
na migração pós-nupcial 1996). A espécie nidifica em regiões interiores
da ilha da Madeira, existindo um registo efec-
A pardela-do-atlântico é uma ave marinha tuado para este período (Funchal), podendo TEXTO
de hábitos pelágicos, dificilmente avistada tratar-se de aves nidificantes, ou de migrado- Nuno Barros

76 Espécies regulares • Procellariiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Procellariiformes 77


Pardela-balear
Puffinus mauretanicus

IMAGEM
Ricardo Guerreiro

Distribuição e abundância A espécie não foi detectada nos arquipéla- próxima da zona litoral, podendo mesmo ser
no inverno gos dos Açores e da Madeira onde é conside- observada em baías e embocadouras dos rios
rada acidental. mais amplos, como o Tejo (Catry et al. 2010).
A pardela-balear foi observada entre Peni- Para além disso, caracteriza-se por formar
che e a parte central da costa sul, em apenas pequenos grupos em voo e grandes grupos
duas quadrículas, durante as visitas sistemáti- Distribuição e abundância quando poisadas no mar (Poot 2005). O redu-
cas. O Inverno marca o início da época repro- na migração pós-nupcial zido número de observações poderá estar
dutora da pardela-balear, sendo esperado que relacionado com a metodologia utilizada e
a maioria da população se encontre nas águas Ao contrário da maioria das espécies com a menor sensibilidade dos observadores
adjacentes às colónias de reprodução loca- incluídas neste atlas, durante este período a para as espécies marinhas.
lizadas nas Ilhas Baleares (Arcos 2011), o que pardela-balear encontra-se em plena migra-
poderá justificar o reduzido número de avista- ção pré-nupcial (Guilford et al. 2012). A espé- A espécie não foi avistada nos arquipélagos
mentos, a par das limitações da metodologia cie ocorreu praticamente ao longo de toda a dos Açores e Madeira.
para contar aves pelágicas. Os animais detec- costa. Em termos de densidade, apenas foram
tados poderão ser imaturos que se mantêm na registados valores para o cabo de São Vicente,
área de invernada ou migradores tardios que Ericeira e Porto, com maiores concentrações
se encontram em deslocação para os locais de no primeiro. A pardela-balear é uma espé- TEXTO
reprodução (Guilford et al. 2012). cie de fácil detecção pois mantém-se muito Nuno Oliveira

78 Espécies regulares • Procellariiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Procellariiformes 79


Pintainho
Puffinus lherminieri

IMAGEM
Ana Isabel Fagundes

Distribuição e abundância nhas mais difíceis de detetar no arquipélago (Porto Moniz no caso da ilha da Madeira) e pela
no inverno da Madeira, no entanto a ausência de regis- realização de viagens de barco (no caso das
tos neste período deve-se essencialmente ao Desertas). Nas Selvagens os indivíduos foram
O pintainho é uma ave marinha que nidi- menor número de observadores presentes na regularmente observados em terra, onde
fica apenas nas ilhas atlânticas dos arquipéla- Madeira, que efetuam observações a partir da pernoitavam em pequenas cavidades nas falé-
gos dos Açores, Madeira, Selvagens e Caná- costa e, ao reduzido número de embarcações sias. Nos Açores foi registada apenas na ilha
rias, entre os meses de dezembro e maio. que efetuam viagens entre ilhas. de São Miguel.
No arquipélago da Madeira nidifica nas ilhas
Desertas, Porto Santo e Madeira. De acordo Considerando que a metodologia utilizada
com dados de seguimento remoto, a espécie Distribuição e abundância nas visitas sistemáticas não é adequada para a
não empreende migrações de longa distân- na migração pós-nupcial observação de aves marinhas, acreditamos que
cia pelo que fora do período de reprodução a distribuição obtida não representa a realidade
permanece no mar, nas imediações das coló- No presente atlas, durante o período de da espécie, devendo a mesma estar presente
nias (González-Solís et al. 2007). migração a espécie foi registada em todas em mais locais em redor das ilhas da Madeira e
as ilhas do arquipélago da Madeira, exceto do Porto Santo e nas ilhas dos Açores.
Embora o pintainho nidifique no inverno, no Porto Santo. As aves registadas nas ilhas
durante este período a espécie não foi dete- Desertas e na Madeira foram observadas no TEXTO
tada. Atualmente esta é uma das aves mari- mar, através de observações a partir da costa Isabel Fagundes

80 Espécies regulares • Procellariiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Procellariiformes 81


Alma-negra
Bulweria bulwerii

IMAGEM
Tânia Pipa

Distribuição e abundância national 2014). Chega ao nosso território para vada nas zonas oeste e sul da ilha da Madeira e
no inverno nidificar em fins de março, permanecendo até na ilha de São Miguel (Açores).
setembro, altura em que as aves abandonam
Durante o período de inverno a alma-negra os locais de nidificação (Monteiro et al. 1996). Neste período a espécie utiliza as áreas
está ausente do território e das águas portu- marinhas envolventes às áreas de nidificação,
guesas razão pela qual não foram efetuados É comum em todo o arquipélago da podendo ser observada no mar ou a partir da
registos em nenhuma parte do nosso território. Madeira, com nidificação confirmada nas ilhas costa. No entanto, a metodologia de censo do
Desertas, Porto Santo e na ilha da Madeira atlas não é a mais indicada para a contagem
(Equipa Atlas 2013). É comum também no de aves marinhas a partir da costa. Essa será a
Distribuição e abundância arquipélago das Selvagens. Nos Açores, o principal razão para a escassez de registos de
na migração pós-nupcial único sítio de nidificação conhecido é o Ilhéu alma-negra.
da Vila, em Santa Maria (Ramírez et al. 2008).
Esta é uma espécie marinha pelágica,
usualmente encontrada longe de terra, exceto Durante este período, que coincide com a TEXTO
durante a época reprodutora (BirdLife Inter- época de nidificação, a alma-negra foi obser- Pedro Sepúlveda

82 Espécies regulares • Procellariiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Procellariiformes 83


Casquilho
Oceanites oceanicus

IMAGEM
Alastair Wilson
rspb-images.com

Distribuição e abundância Distribuição e abundância tima continental, só muito excepcionalmente


no inverno na migração pós-nupcial pode ser observado a partir de terra (Catry et
al. 2010), principalmente em dias com ventos
Não se obtiveram registos de casquilho Ao contrário do que se passa para a maio- muito fortes do quadrante oeste. Por outro
durante este período. A ausência de obser- ria das espécies abrangidas por este trabalho, lado, o casquilho é uma espécie pelágica de
vações está relacionada com o facto de a durante este período o casquilho encontra- difícil detectabilidade devido ao seu tamanho
espécie se encontrar em plena reprodução, -se em migração pré-nupcial. A espécie foi e comportamento errático, o que em conjunto
em colónias localizadas nos mares do sul, na observada maioritariamente a sul do cabo da com o ponto anterior deverá justificar a ausên-
Antártida e nalgumas ilhas subantárticas (del Roca. Apesar de ter uma distribuição conhe- cia de um maior número de registos.
Hoyo et al. 1992). cida que abrange toda a plataforma marí-
TEXTO
Nuno Oliveira

84 Espécies regulares • Procellariiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Procellariiformes 85


Roquinho
Hydrobates castro

IMAGEM
Pedro Geraldes

Distribuição e abundância territórios nacionais, enquanto a população vado, de forma casual, apenas no arquipélago da
no inverno de inverno ocorre apenas no arquipélago da Madeira, nomeadamente na zona sul da ilha da
Madeira. Madeira, no Porto Santo e nas ilhas Desertas, e no
O roquinho é uma espécie marinha pelá- arquipélago das Selvagens.
gica, que ocorre em todos os arquipélagos da Durante o período de inverno o roquinho
Macaronésia e em Portugal Continental, onde não foi detetado em nenhuma parte do territó- Os registos de roquinho foram escassos,
está restrito ao arquipélago das Berlengas. rio português, nem mesmo no arquipélago da devendo-se este facto essencialmente à metodo-
Apresenta duas populações com comporta- Madeira. logia de censo. A espécie utiliza as áreas marinhas
mento, morfologia e períodos reprodutivos envolventes às áreas de nidificação, podendo ser
bastante distintos. Uma inicia a sua repro- observada no mar ou a partir da costa. Devido à
dução em setembro/outubro (população de Distribuição e abundância localização das áreas de nidificação (zonas habi-
inverno), para abandonar os ninhos em feve- na migração pós-nupcial tualmente de acesso difícil), aos hábitos noturnos
reiro/março; e uma outra inicia a sua repro- em terra e ao facto de não ter existido uma meto-
dução em março/abril, para acabar em julho/ Durante o período pós-nupcial, coincidente dologia específica dirigida às aves marinhas, não
agosto (população de verão) (Nunes 2000). com a época de nidificação de ambas as popu- seria expectável que a espécie fosse detetada no
A população de verão ocorre em todos os lações (inverno e verão), o roquinho foi obser- decurso das visitas sistemáticas.

TEXTO
Pedro Sepúlveda

86 Espécies regulares • Procellariiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Procellariiformes 87


Alma-de-mestre
Hydrobates pelagicus

IMAGEM
RSPB
rspb-images.com

Distribuição e abundância são oriundas da Escócia, das ilhas Feroé, da vado pontualmente no cabo Carvoeiro, nas
no inverno Islândia e possivelmente da Irlanda (Catry et Berlengas, no cabo Raso, em Sines e em
al. 2010), deslocando-se até ao largo da África alguns pontos da costa algarvia, não tendo
Durante este período o alma-de-mestre do Sul, onde passam o inverno (del Hoyo et sido possível determinar a sua abundância,
não ocorre nas nossas águas. al. 1992). já que não houve registos efetuados durante
a realização da monitorização sistemática das
Sendo uma espécie pelágica, o alma-de- quadrículas.
Distribuição e abundância -mestre é de difícil observação a partir da
na migração pós-nupcial costa podendo no entanto ser bastante nume-
rosa mais ao largo durante todo o verão e no
Esta espécie é sobretudo migradora em início do outono (Catry et al. 2010). Durante o TEXTO
Portugal e as aves que passam na nossa costa período de migração pós-nupcial foi obser- Joana Andrade

88 Espécies regulares • Procellariiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Procellariiformes 89


Mergulhão-pequeno
Tachybaptus ruficollis

IMAGEM
Diogo Oliveira

TEXTO
Pedro Geraldes
O autor não segue o acordo ortográfico de 1990

Modelação
I NV ERN O

Distribuição e abundância de cobertura nesta região e não a um padrão de


no inverno distribuição regular.

Este mergulhão é comum em todo o país e Não foram efectuadas quaisquer observações M I GRA ÇÃ O PÓS- N U PCIA L
distribui-se de norte a sul, sendo mais comum na da espécie nos arquipélagos da Madeira, Açores e
metade sul. As populações de Portugal, tal como Selvagens onde a espécie é de ocorrência aciden-
as da generalidade do sul e oeste da Europa, são tal, o que se coaduna com o carácter residente da
essencialmente sedentárias mas podem efec- espécie.
tuar alguns movimentos de dispersão durante o
Inverno. Apesar destes hábitos sedentários, ao
comparar a distribuição resultante deste atlas com Distribuição e abundância
a que foi obtida noutros projectos semelhantes, na migração pós-nupcial
mas de âmbito regional, constata-se que a espécie
não foi detectada nalgumas zonas onde anterior- Durante a época de migração o padrão de
mente foi registada, o que pode dever-se a uma distribuição manteve-se muito semelhante ao que
cobertura mais exaustiva e direccionada de traba- foi obtido nos meses de Inverno, com a espécie a
lhos anteriores (Elias et al 1999). ser detectada num maior número de quadrículas a
sul do rio Tejo. Este padrão é concordante com as
No interior centro do país parece existir uma características destas populações europeias que
área de concentração de aves invernantes, o efectuam apenas pequenos movimentos dispersi-
que se poderá ficar a dever a um maior esforço vos (Cramp 1977).

90 Espécies regulares • Podicipediformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Podicipediformes 91


Mergulhão-de-poupa
Podiceps cristatus

IMAGEM
Jacinto Policarpo

Distribuição e abundância Caia, foram observadas 769 aves (L. Venâncio gentes invernantes, cuja magnitude se desco-
no inverno in Leitão & Cidraes-Vieira 2009-2010). Embora nhece (Gutiérrez 2012).
episódicas, estas concentrações reflectem o
No inverno, a espécie ocorre de forma incremento de efectivos invernantes em Portu-
dispersa por todo o Alentejo, interior Centro gal, que beneficia de tendências positivas na Distribuição e abundância
e Norte, litoral algarvio, estuários do Sado Europa (BirdLife 2014) e do aumento de habitat na migração pós-nupcial
e do Tejo e algumas zonas húmidas próxi- proporcionado pela construção de barragens.
mas. Tem sido observada em albufeiras do No resto da área de distribuição a abundân- A espécie apresenta uma distribuição pós-nup-
troço médio da bacia do Guadiana (Alqueva, cia deste mergulhão é irregular. A albufeira de cial semelhante às épocas estival e de invernada e
Mourão, Espargueiro e Pedrogão), pelo que a Santa Maria de Aguiar (Beira Alta) por exemplo, abundâncias mais elevadas nos principais locais de
ausência em grande parte dessa região dever- que registou os totais mais elevados em terri- ocorrência invernante. As concentrações durante
-se-á provavelmente a falhas de cobertura. As tório nacional entre 1993/94 e 1995/96, com 50 Agosto e Setembro em locais pouco frequentados
abundâncias mais elevadas encontraram-se a 70 aves (Costa & Guedes 1996), apresentou noutras épocas (estuário do Guadiana, Alves et al.
nas planícies alentejanas, em áreas de intensa sempre um número reduzido durante o atlas. 2009-2010 e 2011) e o aumento global do número
actividade agrícola, onde as médias e gran- de aves no Inverno indicia porém um comporta-
des represas de água para rega apresentam Apesar das populações ibéricas serem mento migratório e/ou dispersivo.
características de habitat favoráveis. Desta- sedentárias, é de supor que o aumento de
cam-se a este nível as albufeiras do Roxo e indivíduos observado nalguns locais e a Não foi detectado nos Açores e na Madeira,
do Caia, sendo também relevantes Montargil, contracção da área de invernada relativamente onde ocorre de forma acidental.
Maranhão e Póvoa e Meadas, no Alto Alentejo; à estival sejam explicados sobretudo por movi-
Odivelas, Alvito e Pego do Altar, no Alentejo mentos de natureza local/regional, já descri- TEXTO
Central; e Monte da Rocha, no Baixo Alen- tos na Península (Diaz et al. 1996). Será, ainda Rogério Cangarato
tejo. Em Fevereiro de 2008, só na Albufeira do assim, de considerar a afluência de contin- O autor não segue o acordo ortográfico de 1990

92 Espécies regulares • Podicipediformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Podicipediformes 93


Cagarraz
Podiceps nigricollis

IMAGEM
Bruno Maia

Distribuição e abundância Distribuição e abundância


no inverno na migração pós-nupcial
O cagarraz foi registado sobretudo na Durante o período pós-nupcial a espécie foi
metade Sul de Portugal Continental, com uma também registada na maioria das zonas húmi-
distribuição fragmentada, associado a zonas das costeiras onde foi observada no período de
húmidas como estuários, lagoas costeiras, sali- inverno. Os registos de maiores abundâncias
nas, aquaculturas, açudes e barragens (Catry et foram efectuados em albufeiras do Alto Alentejo
al. 2010). As maiores abundâncias registaram-se como o Caia e o Maranhão, e na zona litoral de
em áreas como a Ria Formosa, sapal de Castro Quiaios.
Marim, estuário do Sado, lagoa de Óbidos, lito-
ral de Esposende e massas de água no Alto No arquipélago dos Açores, onde a espécie é
Alentejo interior, como a albufeira do Mara- acidental, foi detetada em zonas costeiras das ilhas
nhão. A origem das aves invernantes no terri- Terceira e São Miguel. No arquipélago da Madeira
tório continental é incerta, podendo ser oriun- a espécie não foi registada.
das da Europa Central e Ocidental (Catry et al.
2010). A espécie não foi detetada nos arquipé- TEXTO
lagos da Madeira e Açores onde é acidental. Nuno Barros

94 Espécies regulares • Podicipediformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Podicipediformes 95


Flamingo
Phoenicopterus roseus

IMAGEM
José Sousa

Distribuição e abundância mente dependentes dos padrões de migração distribuição mais alargada nessas mesmas áreas.
no inverno e dispersão anuais (Catry et al. 2010). Os indiví- Podem ser encontrados flamingos um pouco por
duos que ocorrem em Portugal têm origem nas todas as zonas húmidas litorais a sul de Aveiro,
O flamingo distribui-se de forma descon- colónias do Sul de França e de Espanha, e mais bem como em zonas húmidas interiores, em parti-
tínua e localizada no território nacional, asso- pontualmente na Sardenha (Catry et al. 2010). cular a sul do rio Tejo. Neste período a abundân-
ciado às zonas húmidas com águas pouco cia da espécie é bastante superior face ao inverno,
profundas. No inverno foi observado nas prin- A espécie não ocorre nos arquipélagos ocorrendo tradicionalmente em bandos mais
cipais zonas húmidas costeiras do território da Madeira e Selvagens e é acidental no dos numerosos (Catry et al. 2010).
continental, em particular nos estuários dos rios Açores.
Tejo, Sado, Arade, Alvor e Mondego, na ria de
Aveiro, nas lagoas de Santo André, Salgados e
Óbidos, na Ria Formosa e no sapal de Castro Distribuição e abundância
Marim. Ocorreu também no interior do país, na migração pós-nupcial
em especial no Alentejo, onde está associado
à existência de açudes e albufeiras. A distri- No período pós-nupcial, os locais de ocor-
buição e abundância da espécie parecem ser rência de flamingo são idênticos aos do período TEXTO
muito variáveis entre anos, estando aparente- de Inverno, evidenciando-se, no entanto, uma Ana Teresa Marques

96 Espécies regulares • Phoenicopteriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Phoenicopteriformes 97


Cegonha-preta
Ciconia nigra

IMAGEM
Tina Chaves

Distribuição e abundância 1998). Com efeito a distribuição agora obtida é ocorre anualmente durante a migração. Após
no inverno bastante similar à observada naquele período a emancipação das crias a cegonha-preta
naquela região. tende a formar concentrações pós-nupciais
A cegonha-preta foi registada maioritaria- de pequenos grupos e próximas dos locais
mente isolada ou em pequenos grupos, no Durante a invernada, a cegonha-preta de nidificação que se vão tornando progres-
sul do país, embora tenham ocorrido também demonstra uma preferência por planos de sivamente menos numerosas, mas com maior
algumas observações ao longo do vale do Tejo água, nomeadamente açudes, barragens, rios, número de aves à medida que a época avança
e em Trás-os-montes. Contudo, tanto as obser- ribeiras e arrozais, parecendo estes últimos (Ferrero & Pizarro 2003). Os restantes regis-
vações na zona transmontana como na área do assumir cada vez maior importância (Cano et tos deverão corresponder a aves em migra-
Tejo Internacional, entre outras realizadas já al. 2014). É provável que a distribuição apre- ção, sendo que alguns desses locais pode-
no mês de Fevereiro, poderão corresponder sentada possa estar incompleta devido à rão também ser áreas de invernada recentes.
a aves em migração pré-nupcial. Num traba- dificuldade de detecção e reduzido efectivo No que respeita à abundância, a espécie foi
lho recente (Cano et al. 2014) concluiu-se que presente neste período. detectada de forma isolada ou em pequenos
o período de invernada estava compreendido grupos, aspecto que indicia que não terão sido
entre 1 de Novembro e 31 de Janeiro, sendo detectadas as principais áreas de concentra-
que fora desse período a probabilidade dos Distribuição e abundância ção pós-nupcial. A este facto está certamente
indivíduos serem migradores é elevada. De na migração pós-nupcial inerente a metodologia adoptada, não sendo
acordo com o mesmo trabalho, verifica-se que adequada para localizar os locais de concen-
a população invernante está a aumentar e a A cegonha-preta foi detectada essencial- tração desta espécie, quase sempre situados
expandir a sua área de distribuição, no entanto mente em áreas coincidentes com a distribui- em açudes ou cursos de água em locais com
esse aparente incremento não é perceptível ção da população nidificante e também em muito baixa presença humana.
quando comparamos as mesmas zonas ante- áreas costeiras com habitat favorável (essen-
riormente amostradas no âmbito do atlas de cialmente arrozais). Registou-se ainda a sua TEXTO
aves invernantes do Baixo Alentejo (Elias et al. presença no extremo sudoeste do país, onde Carlos Pacheco

98 Espécies regulares • Ciconiiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Ciconiiformes 99


Cegonha-branca
Ciconia ciconia

IMAGEM
Romão Machado

Distribuição e abundância tituídas maioritariamente por aves residentes, Distribuição e abundância


no inverno mas incluem também indivíduos migradores na migração pós-nupcial
provenientes maioritariamente de Espanha,
A cegonha-branca é um invernante comum mas também de França, Bélgica, Holanda, A migração pós-nupcial da cegonha-branca
no território nacional. A sua distribuição e Suiça e Alemanha (G. Rosa, com.pess). A inicia-se ainda durante o mês de julho (Finlay-
abundância aumentaram significativamente cegonha-branca é um migrador extrema- son 1992) e a espécie torna-se escassa na
nos últimos 20 anos, provavelmente em mente precoce e muitos dos locais de nidifi- maioria dos locais de reprodução durante o
resposta a um incremento da disponibilidade cação, essencialmente no sul do país, come- mês de agosto. Fora do período reprodutor
alimentar, quer pela adaptação à exploração çam a ser ocupados em dezembro e janeiro. a espécie é essencialmente gregária e apre-
de recursos tróficos nos aterros sanitários Desta forma, o registo de indivíduos durante senta uma distribuição mais confinada. As
quer pela introdução e expansão do lagos- os trabalhos de campo no âmbito do presente zonas húmidas do Centro e Sul do país, e os
tim-vermelho (Rosa et al. 1998). Nos invernos atlas poderão corresponder a indivíduos aterros sanitários parecem congregar a maio-
de 1995 e de 2008 foram estimados 1187 e já regressados das áreas de invernada. As ria das cegonhas presentes no território nacio-
10000 indivíduos, respectivamente, concen- maiores concentrações desta espécie foram nal durante este período.
trados em áreas de cultivo de arroz e em ater- registadas no Centro e Sul do país, estando
ros sanitários (Rosa et al. 2009). A distribuição normalmente associadas a aterros sanitários
no inverno coincide grosseiramente com as e zonas húmidas (estuários do Sado e Tejo,
áreas de nidificação. As populações de cego- Baixo Mondego e Baixo Vouga), particular- TEXTO
nha-branca invernantes em Portugal são cons- mente restolhos de arroz. Inês Catry

100 Espécies regulares • Ciconiiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Ciconiiformes 101


Íbis-preta
Plegadis falcinellus

IMAGEM
Faísca

Distribuição e abundância rio do Tejo é também uma área de ocorrên- Distribuição e abundância
no inverno cia de números elevados desta íbis (Catry et na migração pós-nupcial
al. 2010). Neste atlas esse facto não é visível
Embora presente durante todo o ano, porque a informação utilizada corresponde Durante o período de migração pós-nupcial a
a íbis-preta é sobretudo uma ave migra- maioritariamente a registos adicionais. A espécie encontra-se igualmente confinada a zonas
dora e invernante em Portugal Continental, espécie foi também registada noutras zonas húmidas do Centro e Sul do país, em densidades
cuja população se encontra em expansão. húmidas litorais ao longo do país, tendo sido relativamente semelhantes. A área onde foi regis-
A espécie ocorre dispersa por zonas húmi- a sua presença igualmente detetada no inte- tada maior abundância foi a lagoa de Santo André,
das como arrozais, estuários, terrenos alaga- rior, sobretudo na metade Sul do território. e em seguida os estuários do Sado e do Arade.
dos, sobretudo na faixa litoral Centro e Sul, As aves que chegam ao nosso país têm como Outras zonas que registaram densidades eleva-
onde pode formar bandos de centenas ou origem provável o Sudeste Europeu, e coló- das foram o Baixo Mondego e as lezírias do Tejo.
mesmo de milhares de indivíduos (Catry et al. nias recentemente estabelecidas em Espanha A espécie foi ainda registada de forma dispersa
2010). Estes bandos ocorrem em locais prefe- (Catry et al. 2010) por outras zonas húmidas costeiras e do interior
renciais de alimentação e em dormitórios Alentejano.
comunais. No estuário do Sado foram regis- A espécie é acidental nos arquipélagos
tadas as maiores densidades neste período, dos Açores e da Madeira e no decurso deste Neste período a espécie não foi detetada nos
seguido da lagoa de Santo André e outras projecto foi apenas obtido o registo de um arquipélagos dos Açores e Madeira.
zonas húmidas no Baixo Mondego. O estuá- indivíduo na ilha da Madeira.
TEXTO
Nuno Barros

102 Espécies regulares • Pelecaniformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Pelecaniformes 103


Colhereiro
Platalea leucorodia

IMAGEM
Bruno Maia

Distribuição e abundância A origem das aves invernantes em Portugal a influência da sua época de reprodução alar-
no inverno parece ser diversa e existem registos de aves gada se faz sentir, pois algumas das aves ainda
anilhadas que indicam que as mesmas são estarão próximas dos locais de nidificação em
É uma espécie típica de zonas húmidas. O provenientes de colónias espanholas e holan- Agosto, podendo a sua época de reprodu-
seu padrão de distribuição demonstra uma desas (Catry et al. 2010). Em relação a traba- ção estender-se até Setembro (Marques 1996
clara preferência pela metade sul do país. É lhos regionais anteriores a sua área de distri- in Catry et al. 2010). As aves ocorrentes em
pouco abundante na maioria da sua área de buição parece ser mais alargada, o que está Portugal podem possuir fenologias distintas,
ocorrência, mas pode ser observado regular- de acordo com a expansão recente da espécie ocorrendo provavelmente indivíduos estivais,
mente na costa algarvia e nas zonas húmidas e o aumento da sua população nidificante em outros de passagem e aves invernantes (Catry
mais importantes desta região, como a Ria Portugal e na Europa (BirdLife International et al. 2010). Com excepção das aves que ocor-
Formosa ou o sapal de Castro Marim onde se 2004, Catry et al. 2010). rem no sapal de Castro Marim, a passagem
localizam as concentrações mais importantes migratória de aves do resto da Europa para
fora do período reprodutor (Catry et al. 2010). Esta espécie não foi observada nos arqui- África não parece significativa nas zonas húmi-
Os estuários do Tejo e do Sado são áreas pélagos da Madeira, das Selvagens e dos das nacionais (Catry 1993, Leitão et al. 1998).
importantes para a espécie tal como outras Açores durante o Inverno. Foi efectuada uma única observação de colhe-
zonas húmidas de importância nacional como reiro na Ilha de São Miguel, o que confirma o
a ria de Aveiro ou o estuário do Mondego. Distribuição e abundância carácter de raridade da espécie nos arquipé-
Possui uma época de nidificação alargada que na migração pós-nupcial lagos e o seu estatuto de espécie divagante
começa no final de Fevereiro (Marques 1996 in ocasional.
Catry et al. 2010) pelo que algumas das quadrí- A distribuição do colhereiro durante o
culas onde a espécie foi detectada no período período de migração é muito semelhante à
de Inverno deste atlas poderão corresponder que apresenta no período de Inverno, embora
TEXTO
também a aves que já se encontrem nas suas a espécie seja menos frequente nas zonas Pedro Geraldes
áreas de nidificação. costeiras mais a norte. Também neste período O autor não segue o acordo ortográfico de 1990

104 Espécies regulares • Pelecaniformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Pelecaniformes 105


Abetouro
Botaurus stellaris

IMAGEM
Ben Andrew
rspb-images.com

Distribuição e abundância Durante o Inverno o abetouro alimenta- cimento que existia para a espécie, sendo
no inverno -se preferencialmente em águas baixas na contudo provável que ocorra pontualmente
procura de presas alternativas ao peixe, razão em mais locais e que não tenha sido detec-
No decorrer dos trabalhos deste atlas o pela qual frequenta áreas de arrozal próximas tada por falta de uma metodologia de censo
abetouro foi observado em cinco quadrícu- dos locais de invernada (SEO/BirdLife 2012). específica.
las, das quais apenas uma nas visitas sistemá-
ticas. A maioria dos registos obtidos situa-se Não existem registos recentes de nidifica-
no estuário do Tejo – Lezíria Grande de Vila ção em território nacional, pelo que a espé- Distribuição e abundância
Franca de Xira, arrozais da Companhia das cie deverá ser exclusivamente invernante na migração pós-nupcial
Lezírias e paul da Barroca – havendo ainda no nosso país. São conhecidos movimentos
registos na lagoa de Albufeira e no paul do amplos desta espécie, envolvendo principal- A espécie não foi detectada neste período de
Taipal. Todas estas observações foram em mente juvenis e/ou em invernos muito seve- amostragem.
locais onde é conhecida a presença da espé- ros (Martínez-Vilalta et al. 2015). Os poucos
cie nos últimos anos (Catry et al. 2010), sendo registos que existem apontam para que as
provavelmente a disponibilidade de habitat e aves que invernam na Península Ibérica sejam
alimento os factores determinantes para a sua oriundas da Europa Central (SEO/BirdLife TEXTO
ocorrência. 2012). A distribuição obtida reflecte o conhe- Carlos Godinho

106 Espécies regulares • Pelecaniformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Pelecaniformes 107


Garçote
Ixobrychus minutus

IMAGEM
Victor Maia

Distribuição e abundância registo entre 1987 e 2011 (Rodebrand 2013). Mondego, estuário do Tejo, lagoas de Santo
no inverno Durante o atlas a espécie foi detetada na ilha André e dos Salgados e caniçal de Vilamoura.
do Pico, uma fêmea adulta, em Janeiro de No interior do país o garçote foi identificado
O garçote ocorre em Portugal Continen- 2012 (NO 468). Na Madeira a espécie é ocasio- no Alqueva e numa pequena lagoa próximo
tal como reprodutor estival, sendo a sua nal, ocorrendo sazonalmente após episódios de Ponte de Sôr. Este último registo sugere
presença no território nacional durante o metereológicos irregulares (Romano et al. que o efetivo de aves migradoras (e mesmo
inverno ocasional (Catry et al. 2010). Esta 2010); no entanto, a espécie não foi registada invernantes) poderá ser maior do que o apre-
pequena garça ocorre essencialmente em neste atlas. sentado, dado não ter sido feito um esforço
habitats alagados com vegetação palustre de amostragem dirigido a esta espécie. Os
densa, preferindo áreas de caniçal (Phrag- garçotes observados deverão ser migradores
mites sp.), característica que, em conjunto Distribuição e abundância tardios, uma vez que os movimentos migrató-
com os seus hábitos crepusculares, tornam a na migração pós-nupcial rios pós-nupciais têm início no verão, tornan-
sua deteção relativamente difícil. Durante o do-se a espécie mais rara a partir de setembro
inverno o garçote foi registado pontualmente Durante a migração pós-nupcial a ocor- (Catry et al. 2010).
em locais que mantêm bom habitat, no estuá- rência de garçote em Portugal Continental
rio do Tejo, lagoa de Albufeira e, no Algarve, é mais expressiva. Nesta época, ainda que Esta espécie não foi observada em nenhum
nas áreas de Vilamoura e Ludo. bastante dispersos, os registos concentram- dos arquipélagos oceânicos neste período.
-se sobretudo ao longo da faixa costeira e,
No arquipélago dos Açores o garçote é de uma forma geral, em áreas em que a sua TEXTO
uma raridade, conhecendo-se apenas um reprodução é conhecida: ria de Aveiro, Baixo João L. Guilherme

108 Espécies regulares • Pelecaniformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Pelecaniformes 109


Goraz
Nycticorax nycticorax

IMAGEM
Faísca

Distribuição e abundância Nos Açores o goraz ocorre de forma aciden- tração de registos suplementares poderá resul-
no inverno tal, incluindo aves de origem Neártica (Farinha tar do maior número de observadores; não
e Costa 1999). No entanto, não foi observado obstante, parte destes registos refere-se a juve-
Em Portugal o goraz ocorre sobretudo durante o atlas. No arquipélago da Madeira o nis, certamente descendentes de casais que se
como nidificante estival, embora alguns indiví- goraz é acidental, não tendo sido observado reproduzem na região (por exemplo no jardim
duos fiquem no país durante o inverno (Catry et durante o atlas. zoológico de Lisboa). No Algarve, para além
al. 2010). O goraz ocorre em habitats de água do caniçal de Vilamoura, o goraz foi observado
doce como ribeiras, pauis, açudes e barra- em vários pontos do sotavento. No entanto,
gens. Durante o inverno obtiveram-se apenas Distribuição e abundância durante a migração pós-nupcial, o goraz deverá
um punhado de observações distribuídas pela na migração pós-nupcial ocorrer em várias zonas húmidas ao longo de
metade sul do Continente, em locais onde a toda a costa algarvia, como por exemplo, na
ocorrência do goraz parece ser regular durante Durante a migração pós-nupcial a distribui- lagoa dos Salgados, Ludo, rio Séqua (NO 2003,
todo o ano, mesmo como nidificante, como na ção do goraz é semelhante à do período de 2005) e sapal de Castro Marim (3 indivíduos em
zona de Tomar, no Baixo Tejo, centro de Lisboa, inverno; no entanto, os registos obtidos envol- 16 Julho de 2007, NO 2007).
estuário do Tejo e Vilamoura. Ainda que raro no vem um maior número de indivíduos (muitos
nosso país, os dados obtidos poderão sub-re- dos quais deverão ser adultos reprodutores O goraz não foi detetado em nenhum dos
presentar a distribuição do goraz durante e juvenis do ano, bem como aves migradoras arquipélagos oceânicos durante o período de
o inverno; visto ser uma garça com hábitos provenientes de outras populações, nomeada- migração pós-nupcial.
crepusculares e noturnos que durante o dia se mente Espanha e França (Catry et al. 2010). A
congrega em dormitórios (por exemplo o dormi- norte do Tejo o goraz foi registado no paul do
tório no sítio das Hortas, estuário do Tejo; NO Taipal (Baixo Mondego), tendo-se observado
2006; Costa 2011). A sua deteção é difícil sem cerca de 130 indivíduos, e próximo da vila de TEXTO
recurso a estratégias de prospecção dirigidas. Óbidos. Na área da grande Lisboa a concen- João L. Guilherme

110 Espécies regulares • Pelecaniformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Pelecaniformes 111


Papa-ratos
Ardeola ralloides

IMAGEM
Faísca

Distribuição e abundância vegetação palustre abundante e árvores frondo- do Tejo, e na lagoa de Albufeira, locais onde
no inverno sas (por exemplo Salix sp.) (Garrido-López 2012). se pode dizer que, embora em números muito
reduzidos, é regular (ver NO). É de salientar a
Neste período o papa-ratos foi apenas Nos Açores, o papa-ratos é uma raridade e ausência de registos, em locais onde a espé-
encontrado no sul do país, e em locais onde apenas se conhecem dois registos durante o cie tem vindo a ser observada, nomeadamente
se conhece a sua ocorrência durante o período inverno neste arquipélago (CPR, Birding Azores). nesta época do ano, tais como, os pauis do
reprodutor: em zonas húmidas do vale e estuá- Na Madeira o papa-ratos ocorre ocasionalmente Baixo Mondego e lagoa dos Salgados (ver NO,
rio do Tejo, na lagoa de Santo André e na costa (Romano et al. 2010), não tendo sido observado Catry et al. 2010). Esta situação deverá resultar
Algarvia, em diversos pontos entre a lagoa dos durante o atlas. do facto de não terem sido realizadas prospe-
Salgados e a Ria Formosa. O papa-ratos é uma ções dirigidas a esta espécie.
garça de ocorrência rara em Portugal Continen-
tal. É sobretudo estival, mas ocorre em Portugal Distribuição e abundância O papa-ratos não foi detetado nos Açores
de forma regular durante todo o ano (Catry et al. na migração pós-nupcial na migração pós-nupcial, embora se conheçam
2010). A maioria das aves reprodutoras ibéricas registos em anos anteriores durante esta época
inverna na África subsaariana, não sendo conhe- Durante a migração pós-nupcial o número do ano (Birding Azores).
cida a proveniência dos poucos indivíduos inver- de observações de papa-ratos foi inferior ao
nantes na península Ibérica (Catry et al. 2010, período de inverno. Durante este período No arquipélago da Madeira a espécie foi
Garrido-López 2012). No entanto, na Andaluzia migratório, os registos obtidos nas visitas siste- observada nas ilhas Selvagens, onde é acidental.
a relação entre o número de indivíduos reprodu- máticas referem-se a observações pontuais no
tores e o de invernantes sugere que a população interior Alentejano, região onde se conhecem
invernante seja fundamentalmente local (Garri- poucas observações de papa-ratos (ver NO,
do-López 2012). No período de inverno o papa- Elias et al. 1998). Os restantes registos compi- TEXTO
-ratos ocorre associado a zonas húmidas com lados tiveram lugar ao longo do vale e estuário João L. Guilherme

112 Espécies regulares • Pelecaniformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Pelecaniformes 113


Carraceiro
Bubulcus ibis

IMAGEM
Alejandro Bayer Tamayo

TEXTO
Domingos Leitão

Modelação
I NV ERN O

Distribuição e abundância habitats abertos, desde várzeas alagadas e arrozais


no inverno até pastagens, pousios e terrenos recentemente
lavrados, incluindo as áreas debaixo de coberto
O carraceiro apresenta uma distribuição quase arbóreo pouco denso (Farinha & Leitão 1996).
contínua na metade sul de Portugal Continental,
exibindo algumas falhas apenas nas serras algar- O carraceiro foi registado numa única quadrí-
vias e no interior do Baixo Alentejo. Na metade cula da ilha da Madeira e nos Açores foi registada
norte, ocorreu descontinuamente ao longo da apenas na ilha de Santa Maria. Esta espécie é de
M I GRA ÇÃ O PÓS- N U PCIA L
costa, até ao litoral de Esposende, e na campina da ocorrência rara, mas regular, nos dois arquipélagos.
Beira Baixa. Esteve ausente nas áreas densamente
florestadas e nas montanhas dos distritos de Coim-
bra, Viseu, Guarda, Aveiro e Porto, bem como de Distribuição e abundância
toda a área de Trás-os-Montes e Alto Minho. As na migração pós-nupcial
maiores abundâncias foram registadas no vale do
Tejo e em áreas abertas do Alto Alentejo. Durante o período pós-nupcial, o carraceiro
apresentou uma distribuição e uma abundância
Esta é uma espécie residente, que apresenta muito semelhantes às do período de inverno. Isto
aqui uma área de distribuição muito semelhante resulta do facto da espécie ser bastante sedentá-
à que é conhecida do período reprodutor. É muito ria. Na realidade o carraceiro realiza apenas movi-
gregária, nidifica em colónias e durante o inverno mentos dispersivos dentro da Península Ibérica e
forma dormitórios de grandes dimensões, por entre a península e o Norte de África (ver Catry et
vezes com alguns milhares de indivíduos (Fernán- al. 2010).
dez-Cruz & Farinha 1992).
Nas ilhas, a espécie foi registada em duas
O carraceiro utiliza uma grande diversidade de quadrículas da Madeira.

114 Espécies regulares • Pelecaniformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Pelecaniformes 115


Garça-real
Ardea cinerea

IMAGEM
Fra28

TEXTO
Pedro Miguel Mendes Araújo

Modelação
I NV ERN O

Distribuição e abundância Distribuição e abundância


no inverno na migração pós-nupcial
A garça-real tem uma distribuição muito abran- No período de migração pós-nupcial esta garça
gente, um pouco por todo o território de Portugal ocorre em todo o território de Portugal Continental,
Continental, durante o inverno. Ocorre principal- com maior representação no Sul. No Norte, a abun-
mente em zonas húmidas, albufeiras ou estuários, dância na foz do rio Cávado, na ria de Aveiro e todo o
apresentando números mais elevados na ria de Baixo Mondego é consideravelmente elevada, reve-
Aveiro, Baixo Mondego e bacia do rio Tejo. Estes lando a importância destas zonas húmidas no ciclo
são locais que proporcionam uma grande variedade anual desta espécie. A região de Trás-os-Montes e
de presas de que se alimentam, como por exemplo, Alto Douro apresenta valores muito baixos também
peixes, répteis e anfíbios. A abundância de garça- neste período, possivelmente por se tratar de uma M I GRA ÇÃ O PÓS- N U PCIA L
-real em todo o território nacional durante o período região muito árida e não proporcionar a esta espé-
de invernada poderá dever-se ao crescimento do cie locais com as condições adequadas de alimen-
efectivo reprodutor resultante do aparecimento tação, exceptuando alguns açudes e barragens. No
nas últimas décadas de novas colónias, sobretudo Sul realça-se a importância de todo o estuário do
a norte do rio Tejo. Ocorre, também, durante este Tejo e do Sado, bem como da Ria Formosa. A sua
período um influxo de aves provenientes do Norte ampla distribuição deve-se sobretudo a indivíduos
da Europa. A proliferação de barragens e açudes, residentes, que nesta época fazem pequenas movi-
que constituem óptimos locais de alimentação, mentos para locais mais favoráveis, principalmente a
será outro factor muito relevante para esta ampla nível de disponibilidade alimentar.
distribuição. Apesar de não haver registo de nidifi-
cação nos arquipélagos atlânticos, esta garça pode A garça-real encontra-se representada nos arqui-
ser observada nos Açores, nas ilhas de São Miguel, pélagos das Selvagens e da Madeira, com maior
Santa Maria, Pico e, em números muito reduzidos, incidência na parte Leste desta ilha. Não foi detec-
na ilha da Terceira. No arquipélago das Selvagens e tada nas Desertas no período de passagem. No
na ilha da Madeira pode ser observada em número arquipélago dos Açores tem menor representação,
consideravelmente mais elevado, não apresentando sendo observada nas ilhas de São Miguel, Santa
registos na ilha de Porto Santo nem nas Desertas. Maria, Terceira, Faial e Flores.

116 Espécies regulares • Pelecaniformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Pelecaniformes 117


Garça-vermelha
Ardea purpurea

IMAGEM
Bruno Maia

Distribuição e abundância Distribuição e abundância período, que concentra um grande número


no inverno na migração pós-nupcial de indivíduos por se tratar de um local que
proporciona condições óptimas para a espécie
Durante o inverno a garça-vermelha têm As aves presentes no nosso território nesta (Pereira & Brito 2005). É possivelmente a área
uma distribuição muito localizada no territó- época correspondem essencialmente a aves mais importante para esta espécie em Portu-
rio nacional. A sua ocorrência é específica de migradoras que se encontram na sua desloca- gal, durante todo o ano.
zonas húmidas, como lagoas costeiras, estuá- ção para Sul, para os seus locais de invernada.
rios e pauis, onde pode encontrar locais de
alimentação adequados (Pereira & Brito 2005). Por se tratar de uma espécie com invernada
Pode ser apenas observada em locais muito na África Tropical, com movimentos migrató-
específicos, como é o caso da ria de Aveiro e rios direccionados para sul, a sua distribuição
barragem de Idanha. Pontualmente pode ocor- neste período é mais abundante na metade Sul
rer em algumas áreas de grande importância do território, em locais como o estuário o Tejo
na época reprodutora, como são exemplo o e a albufeira do Caia. A ria de Aveiro é a loca- TEXTO
Baixo Mondego e a Ria Formosa (Algarve). lização mais a norte da sua distribuição neste Pedro Miguel Mendes Araújo

118 Espécies regulares • Pelecaniformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Pelecaniformes 119


Garça-branca-grande
Ardea alba

IMAGEM
Joaquim Antunes

Distribuição e abundância das como rios, estuários, lagoas, pauis, arro- Distribuição e abundância
no inverno zais, albufeiras e barragens, canais e valas de na migração pós-nupcial
drenagem e por preferir zonas situadas a baixa
A garça-branca-grande já foi registada em altitude e relativamente planas, bem como Foram obtidos menos registos de garça-
Portugal Continental em todos os meses do águas pouco profundas (Catry et al. 2010, -branca-grande durante o período de migração
ano, mas é claramente mais abundante entre SEO/BirdLife 2012). Os registos obtidos neste pós-nupcial, o que era expectável dado tratar-
outubro e março, devido à permanência na atlas concentraram-se essencialmente na -se de uma espécie mais abundante durante
península Ibérica de indivíduos provavelmente área compreendida entre o rio Tejo e Castro o inverno. No entanto a sua distribuição pelo
provenientes da Europa Central e Ocidental. O Verde, sendo que mais para sul as observações território continental foi semelhante ao inverno,
número de indivíduos invernantes em Portugal foram escassas e restritas às zonas húmidas do centrada principalmente no Alentejo e dispersa
e Espanha aumentou significativamente nos Algarve. A norte do Tejo, excetuando os regis- ao longo de toda a faixa litoral mas limitada a
últimos 25 anos, consequência da expansão tos obtidos na região de Idanha-a-Nova, foi zonas húmidas costeiras. Uma vez mais não foi
para ocidente das populações que se repro- avistada somente ao longo do litoral, na maior detetada no Interior Norte.
duzem na Europa. Esta espécie, cuja ocorrên- parte dos casos em zonas húmidas costeiras
cia era considerada acidental, tornou-se assim como a lagoa de Óbidos, a ria de Aveiro e os Nos Açores foi registada apenas em Santa
em invernante regular (Catry et al. 2010, SEO/ estuários do Mondego, Douro, Cávado e Lima. Maria e no Faial.
BirdLife 2012). Pode ser observada de norte a
sul, no litoral e no interior, mas de forma loca- Nos Açores, onde é acidental, foi registada TEXTO
lizada por estar dependente de zonas húmi- em Santa Maria e no Pico (NO 468). Hugo Sampaio

120 Espécies regulares • Pelecaniformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Pelecaniformes 121


Garça-branca-pequena
Egretta garzetta
IMAGEM
Bruno Maia

TEXTO
Domingos Leitão

Modelação
I NV ERN O

Distribuição e abundância Miguel. No arquipélago da Madeira, foi registada


no inverno em cinco quadrículas desta ilha e no Porto Santo.

A garça-branca-pequena apresenta uma distri-


buição extensa na metade sul de Portugal Conti- Distribuição e abundância
nental, exibindo algumas falhas nas serras algar- na migração pós-nupcial
vias, na região Oeste e em zonas do interior
alentejano. Na metade norte, ocorreu de forma Durante o período pós-nupcial, esta garça
contínua na costa entre a ria de Aveiro e o estuá- apresentou uma distribuição muito semelhante à
rio do Minho, ao longo do Baixo Mondego e numa do inverno. Parece haver uma maior penetração
grande área da campina de Idanha. Esteve ausente da espécie no interior Norte mas a não ocorrên-
nas áreas densamente florestadas e nas montanhas cia nestas áreas durante o inverno poderá dever-se
dos distritos de Coimbra, Viseu, Guarda, Aveiro e a factores relacionados com limitações do esforço
Porto, bem como de toda a área de Trás-os-Montes de amostragem, mais do que com a sua verdadeira
e na maior parte do Alto Minho. As maiores abun- ausência.
dâncias foram registadas nas principais zonas húmi-
das, como a ria de Aveiro, os estuários do Tejo e do As garças-brancas-pequenas que ocorrem em
Sado, a ria do Alvor e as albufeiras do Alentejo. Esta Portugal fora do período reprodutor são principal-
M I GRA ÇÃ O PÓS- N U PCIA L
é uma espécie essencialmente residente, que apre- mente residentes. No entanto, podem chegar ao
senta aqui uma área de distribuição muito seme- nosso país alguns indivíduos provenientes de Espanha
lhante à área de distribuição conhecida durante e França (Catry et al. 2010). As populações de garça-
o período reprodutor. É gregária, nidificando em -branca-pequena em Portugal Continental são disper-
colónias e formando dormitórios durante o inverno sivas ou migratórias de curta distância. Fora da época
com centenas de indivíduos, por vezes com outras reprodutora, estas garças podem efectuar movimen-
garças, como o carraceiro (Fernández-Cruz & Fari- tos para outras zonas húmidas onde não nidificam
nha 1992). A garça-branca-pequena utiliza uma quer no espaço geográfico ibérico quer no Norte de
grande diversidade de habitats aquáticos, salga- África (ver Catry et al. 2010). Alguns indivíduos prove-
dos e dulciaquícolas, que inclui zonas intermareais, nientes de Espanha e França poderão chegar até ao
salinas, sapais, lagoas, várzeas alagadas, arrozais, nosso país nessa altura (Catry et al. 2010).
canais, pauis, albufeiras, açudes, rios e ribeiras
(Catry et al. 2010) Nos Açores, esta garça foi registada na ilha do
Corvo, Pico, Terceira e São Miguel. As limitações
É uma espécie que ocorre regularmente como de amostragem deverão justificar a sua ausên-
migradora em todas as ilhas atlânticas. Nos Açores, cia nas outras ilhas. Na Madeira, para além desta
foi registada nas ilhas do Pico, São Jorge, Graciosa, ilha, foi registada no Porto Santo. Foi registada nas
Terceira, Santa Maria e em cinco quadrículas de São Selvagens.

122 Espécies regulares • Pelecaniformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Pelecaniformes 123


Alcatraz
Morus bassanus

IMAGEM
Bruno Maia

Distribuição e abundância Segundo Walker (1996), entre novembro e abundâncias observadas foram em geral mais
no inverno fevereiro cerca de 90% dos indíviduos obser- baixas, principalmente na costa oeste, tendo
vados são adultos, sendo que a migração os valores mais elevados sido registados na
O alcatraz foi registado ao longo de toda a pré-nupcial é muito concentrada entre janeiro costa algarvia. Durante este período, predo-
costa Continental, sobretudo a sul de Peniche, e fevereiro, quando estas aves se deslocam de minam as aves imaturas. Em outubro o alcatraz
sendo a sua presença mais escassa na costa latitudes inferiores para as colónias europeias torna-se mais abundante, havendo tanto aves
Norte e Centro. As maiores abundâncias foram no Atlântico Norte. jovens como adultos que iniciam a passagem
registadas no cabo de São Vicente (Sagres) outonal para o Mediterrâneo e para a costa
onde chegaram a ser observados mais de atlântica de África (Catry et al. 2010).
1000 indivíduos. Esta passagem de aves não Distribuição e abundância
é rara, durante esta época do ano e ao longo na migração pós-nupcial Durante este período existe um registo na
da costa, podendo facilmente ultrapassar as ilha da Madeira.
600 aves por hora durante as primeiras horas A distribuição de alcatraz durante a migra-
da manhã, em locais como o cabo Carvoeiro, ção pós-nupcial é muito semelhante à obtida
cabo Raso, cabo Espichel, Sines e cabo de São no período de inverno, localizando-se sobre- TEXTO
Vicente (Catry et al. 2010, Sengo et al. 2012). tudo a norte do Porto e a sul de Peniche. Já as Joana Andrade

124 Espécies regulares • Suliformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Suliformes 125


Corvo-marinho
Phalacrocorax carbo

IMAGEM
Ben Andrew
rspb-images.com

Modelação
I NV E R NO

Distribuição e abundância tância em cruzar extensões oceânicas amplas, ravelmente superior aos 15097 indivíduos conta-
no inverno incluindo durante as migrações. Assim sendo, bilizados no censo de janeiro 2013 uma vez que
não surpreende que não surja senão espo- este não cobriu inúmeros dormitórios médios
O corvo-marinho nidifica em Portugal de radicamente nos arquipélagos dos Açores, ou pequenos, espalhados por todo o país. Por
forma muito pontual e localizada, sendo um da Madeira e das Selvagens (Jara et al. 2009, exemplo, no litoral marinho inverna cerca de um
colonizador recente (Almeida 2009). É pois Romano et al. 2010) e que não tenha sido milhar de indivíduos (Projecto Arenaria) que não
essencialmente uma espécie invernante, detetado durante os trabalhos de campo do foram contabilizados no censo recente. Também
vivendo no mar, em zonas estuarinas ou lagu- presente atlas. em muitos pequenos rios ou mesmo em ribeiras
nares costeiras, em rios, ribeiras e em albufei- do interior encontram-se dormitórios (muitas
ras. No inverno, o corvo-marinho distribui-se Em janeiro de 2013 foi organizado um censo vezes com mais de uma centena de indivíduos)
por praticamente todo o Portugal Continental, nacional de corvos-marinhos (Leitão et al. 2013). que ficaram por recensear.
embora com hiatos geográficos que corres- As principais concentrações verificaram-se,
pondem sobretudo a zonas de orografia mais como habitualmente, nas quatro maiores zonas
acidentada, onde os cursos de água são mais húmidas litorais do país: ria de Aveiro, estuário Distribuição e abundância
rápidos e estreitos e frequentemente bordeja- do Tejo, estuário do Sado e Ria Formosa; cada na migração pós-nupcial
dos por matas ripícolas altas, e por estas razões uma destas zonas junta regularmente cerca
evitados pela espécie. De notar também que de dois a três milhares de aves no Inverno. Dado que a maioria das aves vai chegando
em muitas quadrículas do interior onde a espé- Em muitas albufeiras do interior encontram- ao nosso país de outubro a dezembro, não
cie não foi detetada ela poderá estar de fato -se dormitórios de corvos-marinhos com várias surpreende que a distribuição obtida no final
presente, embora em muito baixa densidade. centenas de aves, ocasionalmente superando do verão e no outono seja muito menos ampla
mesmo um milhar de indivíduos, como na barra- do que aquela documentada para o inverno.
Apesar de habitar com regularidade águas gem de Crestuma Lever (Leitão et al. 2013) ou
marinhas, o corvo-marinho não se aventura na barragem de Alqueva (Catry et al. 2010). O TEXTO
longe da costa, e apresenta mesmo forte relu- total invernante em Portugal deverá ser conside- Paulo Catry

126 Espécies regulares • Suliformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Suliformes 127


Galheta
Phalacrocorax aristotelis

IMAGEM
Ron Knight

Distribuição e abundância dispersão de aves oriundas de núcleos repro- Distribuição e abundância


no inverno dutores da Galiza. na migração pós-nupcial
A galheta foi registada principalmente em É uma espécie residente que ocorre sobre- A distribuição de galheta no período
setores rochosos da costa continental Oeste e tudo na faixa costeira marinha rochosa entre pós-nupcial é semelhante à distribuição obtida
Sudoeste. Foi registada com maior abundân- o arquipélago das Berlengas, onde se localiza no inverno, assim como os padrões de abun-
cia na zona de Peniche e com menor abundân- o principal núcleo reprodutor da espécie e dância, o que reflecte uma forte associação
cia em setores mais a Sul: cabo da Roca, cabo Sagres. Os maiores valores de abundância da desta espécie residente aos locais de nidifica-
Espichel, cabo Sardão, cabo de São Vicente, espécie durante o inverno foram observados em ção durante todo o ano.
Sagres e Ponta da Piedade. Houve apenas um Peniche, já que estas aves se mantêm na proxi-
registo adicional no Minho litoral e, segundo midade dos locais de nidificação ao longo do
Catry et al. (2010), as observações neste sector ano (Catry et al. 2010), e por ser neste local que TEXTO
da costa durante o inverno poderão resultar da se encontra mais de 60% do efetivo reprodutor. Joana Andrade

128 Espécies regulares • Suliformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Suliformes 129


Francelho
Falco naumanni

IMAGEM
Henrique Oliveira Pires

Distribuição e abundância Ocorre de forma acidental nos arquipé- ficação do Baixo Alentejo e Évora. As aves
no inverno lagos da Madeira e dos Açores, mas não foi detectadas em passagem podem ter origem
registada nestes territórios no presente atlas. nas colónias de reprodução existentes em
O francelho apresenta uma distribuição território continental, ou poderão ser prove-
pontual e esparsa, encontrando-se em baixas nientes de Espanha (Catry et al. 2010). Os valo-
densidades na zona a sul do rio Tejo. Parte dos Distribuição e abundância res de abundância são muito superiores aos
registos da espécie coincidem com algumas na migração pós-nupcial registados no período de inverno.
das principais colónias de reprodução situa-
das na zona central do Baixo Alentejo. Apesar No período pós-nupcial o francelho ocorre
de ser uma espécie de ocorrência estival, as na zona sul do país. A norte do Tejo obte-
primeiras aves do ano podem ser observa- ve-se apenas um registo na zona da ria de
das no território continental ainda durante o Aveiro. Dado que nesta espécie o regresso a
inverno, a partir dos finais de janeiro (Catry África ocorre a partir de finais de agosto, não
2000). A abundância registada não ultrapassa surpreende que algumas das aves tenham sido TEXTO
1 a 3 indivíduos por hora. observadas na envolvente das áreas de nidi- Ana Teresa Marques

130 Espécies regulares • Falconiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Falconiformes 131


Peneireiro-comum
Falco tinnunculus
IMAGEM
Vincent Van Zalinge

TEXTO
João L Guilherme

Modelação
I NV ERN O

Distribuição e abundância São Torpes e Porto Covo e em Sagres. Ocorre em


no inverno todo o Algarve.

O peneireiro-comum ocorre como residente e Na Madeira ocorre a subespécie da Macaro-


como migrador em Portugal Continental. Em vários nésia (F. t. canariensis) que é residente em todo o
locais, especialmente em anos frios, juntam-se à arquipélago. Não ocorre nas ilhas Selvagens. Nos
população residente indivíduos invernantes prove- Açores o peneireiro-comum é raro e ocorre de
nientes da Europa do Norte e Central (Village 1990, forma acidental. No Inverno obteve-se apenas um
Adriaensen et al. 1998, Tomé & Catry 2010). Este registo de um indivíduo na ilha do Faial.
peneireiro usa diversos habitats abertos, como
campos agrícolas, pastagens e incultos, e áreas
pouco arborizadas. No inverno apresenta uma Distribuição e abundância
distribuição semelhante à da época de reprodução. na migração pós-nupcial
Está mais bem distribuído ao longo da faixa litoral
centro e em todo o Sul de Portugal, em oposição à Os movimentos migratórios pós-nupciais do M I GRA ÇÃ O PÓS- N U PCIA L
distribuição irregular registada na metade Norte do peneireiro-comum são pouco evidentes, pelo que,
país. Destaca-se a sua quase ausência nos extensos no período da migração pós-nupcial não existem
pinhais e eucaliptais do Centro e Norte. O penei- grandes diferenças na sua distribuição relativa-
reiro-comum é comum nas imediações de centros mente ao inverno e período nupcial. Neste período
urbanos, sendo notável o número de registos obti- a maior parte dos movimentos referem-se, prova-
dos na área da grande Lisboa. No vale do Tejo apre- velmente, a indivíduos juvenis em dispersão (Catry
senta uma distribuição regular, sendo particular- et al. 2010) e outros provenientes das populações
mente abundante nas áreas agrícolas e pastagens mais a norte. A península de Sagres é sem dúvida
em torno do estuário do Tejo (Catry et al. 2010), o local onde a migração outonal é mais evidente,
nomeadamente nos restolhos de arroz como refere tendo-se estimado em 2012 a passagem de 80 a
Lourenço (2009). No Alentejo detetaram-se maio- 100 indivíduos (Strix 2013).
res densidades nas zonas de Cabeção e Monforte,
nas planícies cerealíferas de Cuba, Beja, Ferreira Nos Açores obteve-se apenas um registo desta
do Alentejo e Aljustrel (Elias et al. 1998), nas pseu- espécie na ilha Graciosa. Na Madeira o peneireiro-
do-estepes de Castro Verde e ao longo de toda a -comum foi registado em todo o arquipélago. Foi
costa rochosa do sudoeste, nomeadamente entre registado nas Selvagens.

132 Espécies regulares • Falconiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Falconiformes 133


Esmerilhão
Falco columbarius

IMAGEM
Chris Gomersall
rspb-images.com

Distribuição e abundância na faixa litoral. Este aparente aumento da distinguir um padrão de distribuição marcado,
no inverno área de distribuição do esmerilhão, espécie havendo registos na faixa litoral e no extremo
discreta e que passa despercebida com faci- interior continental. O maior número de regis-
Este pequeno falcão é invernante em Portu- lidade, pode ser apenas fruto de um maior tos teve lugar no extremo sudoeste do país, nas
gal. Segundo Costa et al. (1996) a sua principal número de observadores experimentados no imediações da península de Sagres, provavel-
área de distribuição seria no Sul do país, no Norte do país. mente devido ao grande esforço de observa-
entanto durante este atlas a espécie foi detec- ção e concentração de observadores que aqui
tada de forma uniforme de norte a sul. Em O esmerilhão está ausente dos arquipéla- permanecem nesta altura do ano.
relação ao Atlas das Aves Invernantes do Baixo gos da Madeira, Selvagens e Açores durante o
Alentejo (Elias et al. 1999), detectou-se a espé- período de invernada. A única observação registada nos arquipéla-
cie em menos quadrículas, o que se explica gos da Madeira teve lugar no extremo oeste da
pela menor cobertura em anos e em visitas/ Madeira, o que comprova o estatuto de migra-
quadrícula. A espécie foi consistentemente Distribuição e abundância dor ocasional do esmerilhão nestas regiões.
observada ao longo do vale do rio Tejo o que na migração pós-nupcial Não foi registado nas Selvagens e nos Açores.
está de acordo com os trabalhos anterior-
mente referidos, mas no entanto foi também Durante a época de migração não houve TEXTO
observada com frequência no extremo Norte qualquer registo durante as visitas sistemáti- Pedro Geraldes
do país, tanto nas áreas mais interiores como cas. As observações ocasionais não permitem O autor não segue o acordo ortográfico de 1990

134 Espécies regulares • Falconiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Falconiformes 135


Ógea
Falco subbuteo

IMAGEM
Ben Andrew
rspb-images.com

Distribuição e abundância Distribuição e abundância período 2010-2013 foi de 14, STRIX 2014). A maio-
no inverno na migração pós-nupcial ria dos indivíduos que ocorre em Sagres é juve-
nil (Tomé et al. 1998) e aparecem essencialmente
A ógea é um pequeno falcão que ocorre em A ógea é uma ave migradora de longo curso entre a última semana de setembro e a terceira
Portugal Continental durante o período esti- que inverna no sul de África. Durante a migração semana de outubro. O registo mais precoce é de
val, sendo a sua ocorrência durante o período pós-nupcial, juntam-se aos reprodutores nacionais 17 agosto, podendo ser observada até quase ao
de inverno muito rara (Catry et al. 2010). É uma aves em passagem provenientes das populações período de inverno (11 de novembro no período
ave pouco abundante que ocorre associada a da Europa Ocidental, nomeadamente de França 2004-2014; STRIX dados não publicados).
manchas florestais (como pinhais, montados e e de Inglaterra (Catry et al. 2010). Não obstante,
carvalhais) entrepostas por áreas abertas de a ógea reproduz-se relativamente tarde, pelo que A ógea é extremamente rara no arquipélago
cultivo ou pousio. Neste atlas registaram-se muitos dos registos obtidos nos trabalhos do atlas dos Açores conhecendo-se apenas dois regis-
apenas duas ocorrências de ógea em Portugal poderão referir-se a indivíduos reprodutores. A tos, um dos quais durante os meses de migração
durante o inverno: uma no Norte, na zona de maioria dos registos tiveram lugar no terço norte pós-nupcial (Birding Azores).
Terras de Bouro, e outra no Sul, de um indiví- do continente, em locais em que a reprodução
duo na lagoa de Santo André, não se devendo da ógea é conhecida. No entanto, em compara- Na Madeira a ógea não foi detetada durante
excluir a possibilidade destas observações se ção, a quase ausência de registos no centro do a migração pós-nupcial, embora ocorra ocasional-
tratarem de aves migradoras tardias. país não seria expectável. Na península de Sagres mente durante este período (Birding Madeira).
a ógea pode ser observada durante o período
A ógea não foi observada nos arquipélagos de migração, ainda que em números baixos (o TEXTO
dos Açores e da Madeira neste período. número médio anual de indivíduos detetados no João L. Guilherme

136 Espécies regulares • Falconiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Falconiformes 137


Falcão-peregrino
Falco peregrinus

IMAGEM
Henrique Oliveira
Pires

Distribuição e abundância intensa e de uma menor detetabilidade no aqui por vezes invernem também aves prove-
no inverno inverno. Sobretudo na época fria, os falcões- nientes do Ártico russo, tal como acontece no
-peregrinos surgem amiúde em regiões onde sul de Espanha (Ganusevich et al. 2004).
Esta espécie cosmopolita distribui-se por não nidificam, sejam algumas zonas mais aber-
todo o território continental nacional ao longo tas de caraterísticas estepárias do Alentejo,
do ciclo anual, embora de forma bastante loca- seja em zonas húmidas do litoral, como por Distribuição e abundância
lizada. A distribuição invernal agora apurada exemplo na Ria Formosa ou a lagoa de Santo na migração pós-nupcial
apresenta poucas diferenças relativamente à André. Contudo, em várias dessas áreas a espé-
distribuição na época de reprodução. Os prin- cie também foi detetada durante a realização No continente, a distribuição pós-nupcial é
cipais núcleos reprodutores, seja nas serra- do Atlas das Aves Nidificantes, sendo provavel- semelhante à distribuição invernal, mas o mapa
nias escarpadas no norte e no centro, seja nos mente então representada por aves imaturas, obtido mais incompleto, devido ao esforço de
fraguedos dos vales de alguns rios do inte- não nidificantes. As aves observadas em Portu- observação mais reduzido. Por outro lado o
rior, ou ainda nas arribas do litoral centro e sul, gal na segunda metade do Verão, no Outono presente atlas vem revelar que, nos Açores e
mantêm-se ocupados no outono e no inverno. e no Inverno incluem a população nacional, na Madeira, esta espécie não nidificante surge
Os mapas sugerem que alguns dos territó- avaliada em 79-100 casais (Equipa Atlas 2008), de passagem com alguma regularidade, o que
rios localizados a maior altitude na monta- que se pensa ser essencialmente residente, mas atesta bem a formidável capacidade de movi-
nha possam ser temporariamente abandona- também aves provenientes do exterior, algu- mentação desta ave de rapina com popula-
dos, mas outros são ocupados todo o ano, e a mas das quais provavelmente se encontram ções migradoras de longa distância. Também
existência de movimentos altitudinais deveria de passagem, para irem invernar em África, nas Selvagens, apesar de não ter sido detetado
ser confirmada por estudos mais detalhados. e outras que chegam ao nosso país para aqui durante o presente atlas, o falcão-peregrino
A verdade é que os mapas também sugerem passar a invernada. Em Portugal são conhecidas ocorre com alguma frequência.
um abandono invernal de alguns territórios a recapturas de aves anilhadas em Inglaterra, em
menor altitude, o que poderá ser um padrão França, na Alemanha, na Polónia, na Suécia e na TEXTO
real, ou resultar de uma prospeção menos Finlândia (Catry et al. 2010), sendo possível que Paulo Catry

138 Espécies regulares • Falconiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Falconiformes 139


Águia-pesqueira
Pandion haliaetus

IMAGEM
Faísca

Distribuição e abundância (naturais ou artificiais), onde pesca. A maioria ponder simplesmente ao resultado do menor
no inverno das observações diz respeito a aves isoladas. esforço de amostragem. Mas poderá estar
Mas podem ocorrer várias aves juntas, com um também relacionado com a rapidez relativa
A águia-pesqueira é uma visitante de Inverno máximo de 10 já observadas (Catry et al. 2010). da passagem pelo nosso território. As águias-
regular e pouco comum, proveniente do norte -pesqueiras passam por Portugal Continental
da Europa. Observou-se nas zonas húmidas Na Madeira e nos Açores é uma ave de principalmente entre setembro e novembro,
costeiras (estuário do Cávado, Ria de Aveiro, ocorrência acidental, mas não foi registada permanecendo pouco tempo, sendo mais difí-
estuários do Mondego, Tejo, Sado, Mira, ria durante este atlas. cil a sua deteção pelos observadores de aves
Formosa, entre outras) e também nos troços (ver Catry et al. 2010).
baixos do Mondego e do Tejo e em grandes
barragens do Alentejo. Esta distribuição está Distribuição e abundância
de acordo com a distribuição invernante conhe- na migração pós-nupcial
cida para o Baixo Alentejo e para o resto do país
(Elias et al. 1998, Catry et al. 2010). Durante a migração pós-nupcial a águia-
-pesqueira apresenta uma área de distribui-
A águia-pesqueira está normalmente asso- ção mais limitada do que durante o Inverno. TEXTO
ciada a corpos de água com alguma dimensão O menor número de registos pode corres- Julieta Costa

140 Espécies regulares • Accipitriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Accipitriformes 141


Bútio-vespeiro
Pernis apivorus

IMAGEM
Associação Guarda-Rios
do Lima

Distribuição e abundância sula Ibérica (Esteller & Tirado 2011), concorre vessado anualmente por enormes contingentes
no inverno para que o número de aves desta espécie em desta espécie em direcção aos locais de inver-
passagem por Portugal seja relativamente nada no continente africano. Na região algar-
A presença do bútio-vespeiro não foi detec- reduzido, e daí, de difícil detecção. Regista-se via, nomeadamente na península de Sagres
tada durante o período invernal, em qualquer uma concentração de observações nas zonas onde se concentram regularmente grupos em
das regiões de Portugal. Trata-se de uma espé- serranas do centro do território, bem como no migração, a passagem desta espécie é visível
cie cuja totalidade da população europeia migra Alto Alentejo e no Algarve, e registos pontuais sobretudo entre o final de agosto e princípio
para os quartéis de inverno na África Equatorial, no Alto Minho, Douro interior e Beira Baixa. Em de outubro, com as contagens máximas diárias
pelo que não é expectável que ocorra no terri- parte, estas observações coincidem com áreas a serem registadas durante a última quinzena
tório português durante este período. tradicionais de nidificação, pelo que algumas de setembro, rondando a centena as aves que
das observações efectuadas poderão dizer anualmente atravessam essa região (Strix 2013).
respeito a aves ainda presentes nos seus terri- O bútio-vespeiro não está associado a habitats
Distribuição e abundância tórios de reprodução durante a execução dos específicos durante a passagem pós-nupcial,
na migração pós-nupcial trabalhos de campo. podendo preferir tão-somente áreas com árvo-
res como locais de pernoita.
O bútio-vespeiro foi escassamente regis- O bútio-vespeiro ocorre sobretudo durante
tado durante os trabalhos de campo deste a primeira metade da migração pós-nupcial, até Não foi registada a presença do bútio-
atlas, fruto, provavelmente, das baixas densi- final de setembro, sendo mais escasso a partir -vespeiro nos arquipélagos da Madeira e dos
dades em que ocorre como migrador, em do mês de outubro. É precisamente nesse Açores. A ocorrência desta espécie nestas
linha com o que acontece também durante o período que se assistem às maiores concen- regiões é meramente acidental.
período reprodutor. O facto de o principal trações em locais como a península de Sagres
corredor migratório das populações da Europa (Strix 2013), assim como no estreito de Gibraltar TEXTO
Ocidental se traçar pelo centro e leste da penín- (Zalles & Bildstein 2000). Este último local é atra- Alexandre H. Leitão

142 Espécies regulares • Accipitriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Accipitriformes 143


Peneireiro-cinzento
Elanus caeruleus

IMAGEM
Júlio Caldas

TEXTO
Carlos Cruz

Modelação
I NV ERN O

Distribuição e abundância no atlas das aves invernantes do Baixo Alentejo


no inverno (Elias et al. 1998), no último atlas das aves nidifi-
cantes em Portugal e também à que se verificou no
O peneireiro-cinzento foi registado de forma período da migração pós-nupcial (ver abaixo). Este
quase contínua na metade Sul de Portugal Conti- padrão sugere que estamos perante uma popula-
M I GRA ÇÃ O PÓS- N U PCIA L
nental, estando ausente apenas nas serras Algar- ção essencialmente sedentária, que realiza apenas
vias e no Baixo Guadiana. Na metade Norte foi pequenas deslocações (Carty et al. 2010).
registado de forma irregular ao longo da Costa até
à Ria de Aveiro e no interior Beirão e Transmon-
tano. O Tejo e a sua bacia formam uma espécie de Distribuição e abundância
fronteira. A sul a espécie é comum, com abundân- na migração pós-nupcial
cias mais elevadas nos povoamentos de sobro e
de azinho menos densos e sob-cobertos de cultu- Neste período, o peneireiro-cinzento ocorre
ras arvenses de sequeiro. Também pode ocorrer com padrões espaciais e de abundância semelhan-
associado a olivais tradicionais e a pequenas áreas tes aos descritos para o inverno. Durante o período
dispersas com pinhal de baixa densidade. A Norte pós-nupcial esta espécie pode ocorrer em concen-
do Tejo, a espécie ocorre com menor abundância, trações da ordem de várias dezenas, quer nas
associada à orla do floresta e a mosaicos agrícolas áreas de alimentação quer em dormitórios (Catry
com lameiros e sebes arbóreas. et al. 2010). Este comportamento pode dever-se
ao facto de no período pós-nupcial grupos familia-
A distribuição do peneireiro-cinzento no res constituídos pelas crias do ano e progenitores
inverno assemelha-se de um modo geral à obtida caçarem e dormirem nos mesmos locais.

144 Espécies regulares • Accipitriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Accipitriformes 145


Milhafre-real
Milvus milvus

IMAGEM
Diogo Oliveira

TEXTO
Rogério Cangarato
O autor não segue o acordo ortográfico de 1990

Modelação
I NV ERN O

Distribuição e abundância O milhafre-real reúne em Portugal contingen-


no inverno tes de duas populações distintas. Uma população
nidificante reduzida, aparentemente dispersiva e
A distribuição do milhafre-real obtida a norte do um número significativo de aves invernantes prove-
Tejo inclui a faixa raiana da Beira Interior e de Trás- nientes da Europa Ocidental e Central (Díaz et al.
-os-Montes. No Sul, abrange grande parte do Alen- 1996, Viñuela et al. 1999, Catry et al. 2010). À seme-
tejo, estando a espécie ausente das regiões litorais lhança do resto da Península Ibérica (Viñuela 2012),
e manchas florestais mais acidentadas. As serras de a espécie ocorre associada, sobretudo, a habitats
Grândola, Odemira, Monchique e Caldeirão cons- agro-florestais explorados em regime extensivo
tituem, aliás, barreiras de exclusão nos limites sul com pastagens, culturas de sequeiro e actividade
e oeste da distribuição, tal como o vale do Tejo a pecuária, sendo expectável que os actuais aterros
noroeste. Escasso fora das áreas referidas, inclusive sanitários utilizados pelas aves (e.g. Évora e Beja),
M I GRA ÇÃ O PÓS- N U PCIA L
no Algarve, este milhafre tem contudo presença estejam igualmente a influenciar a sua dinâmica
outonal regular na zona do Barlavento. espacial.

As abundâncias mais elevadas registam-se em


locais de maior disponibilidade de habitat favorável, Distribuição e abundância
como as planícies de Campo Maior, Évora e Castro na migração pós-nupcial
Verde. A par do aumento populacional nesta última
área, os dados disponíveis (Elias et al. 1998, CEAI A espécie frequenta genericamente as mesmas
dados n. publ., BIO3 dados n. publ.) revelam um áreas ao longo do ano, ainda que seja evidente o
expressivo processo de expansão no Baixo Alentejo abandono parcial dos locais de reprodução nas
desde há duas décadas. A população invernante a regiões Centro e Norte. Durante este período assis-
sul do Tejo foi estimada entre 1000 a 1250 indiví- te-se a um aumento generalizado da abundância
duos em 2003 e 2004, a partir da contagem dos 12 no Alentejo e no Barlavento Algarvio. A observação
dormitórios comunais conhecidos (CEAI dados n. de dormitórios comunais entre Maio e Agosto (e.g.
publ., S. Janeiro), mas contagens parciais recentes em Évora, dados próprios) prova a existência de um
(A. Godino, BIO3 dados n. publ.) sugerem um total número indeterminado de indivíduos não reprodu-
global superior na actualidade. tores presente nestas áreas, durante este período.

146 Espécies regulares • Accipitriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Accipitriformes 147


Milhafre-preto
Milvus migrans

IMAGEM
Victor

Distribuição e abundância do esforço de amostragem no atlas das aves As mais expressivas abundâncias que ocor-
no inverno invernantes do Baixo Alentejo a espécie não foi reram a norte do rio Tejo revelam-se associadas
registada naquela altura (Elias et al. 1998). a áreas onde a nidificação teve frequências de
O milhafre-preto é um migrador estival, ocorrência elevadas.
proveniente da África sub-Saariana, cuja maio- O milhafre-preto ocorre como acidental no
ria da população chega em Março e parte em arquipélago da Madeira apesar de não ter sido Neste período e no limite sul do território
Agosto. Foi registado em poucas quadrículas registado neste atlas. continental português, populações desta espé-
do território de Portugal Continental, desde o cie, à semelhança de outras populações de aves
Alto-Douro até ao Barlavento Algarvio. Estas de presa, procuram a partir de Sagres a traves-
ocorrências podem corresponder a invernantes Distribuição e abundância sia sem sucesso para o continente africano. Este
ou a migradores tardios. No Alentejo Central, na migração pós-nupcial fenómeno propícia frequentes observações
Baixo Alentejo e Alentejo Litoral os milhafres- destas aves ao longo da linha de costa neste
-pretos ocorrem ao longo de todo o inverno, Durante o período pós-nupcial a espé- período do ano.
associados muitas vezes a aterros sanitários, e cie ocorre um pouco por todas as regiões do
formam dormitórios mistos com milhafres-reais. território de Portugal Continental com exceção
do noroeste onde também não há registos de
A ocorrência de milhafre-preto no Inverno nidificação confirmada. Revela-se uma espécie TEXTO
é um fenómeno recente. Por exemplo, apesar migradora bastante precoce. Carlos Miguel Cruz

148 Espécies regulares • Accipitriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Accipitriformes 149


Britango
Neophron percnopterus

IMAGEM
Luís Rodrigues

Distribuição e abundância Distribuição e abundância África. A península de Sagres é um local regu-


no inverno na migração pós-nupcial lar de ocorrência de britango entre agosto e
outubro, sendo ali registados anualmente mais
Não houve observações de britango Durante o período pós-nupcial, o britango de meia centena de indivíduos, principalmente
durante as visitas sistemáticas, tendo sido foi registado nas áreas do Douro internacional, imaturos e juvenis (ver Catry et al. 2010).
possível confirmar a sua presença no território do Tejo internacional, da península de Setúbal
nacional durante o inverno através de regis- e da península de Sagres. Os dois primeiros A espécie não ocorre nas ilhas atlânticas.
tos adicionais. Apesar de ser uma espécie de locais correspondem às principais áreas de
abutre de ocorrência estival em Portugal, é reprodução da espécie em Portugal. Em parti-
possível a sua ocorrência no inverno, uma vez cular os alcantilados do Douro e afluentes,
que a maioria do efectivo populacional aban- onde nidifica a grande maioria dos 130 casais
dona o país no final de Outubro e regressa em portugueses (ver Catry et al. 2010). As aves
Março (Catry et al. 2010). Durante o inverno detectadas nestas áreas encontravam-se ainda
houve dois registos no Douro internacional, nas proximidades dos locais de reprodução.
coincidindo com uma das áreas de reprodução
da espécie, e dois registos a sul, no Alentejo, Os locais de ocorrência junto à costa são TEXTO
muito provavelmente de aves em migração. locais de passagem na migração outonal para Domingos Leitão

150 Espécies regulares • Accipitriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Accipitriformes 151


Grifo
Gyps fulvus

IMAGEM
Luís Ferreira

TEXTO
Domingos Leitão

Modelação
I NV ERN O

Distribuição e abundância Distribuição e abundância


no inverno na migração pós-nupcial
O grifo durante o inverno foi registado de Durante o período pós-nupcial, o grifo foi regis-
forma quase contínua na faixa fronteiriça que se tado numa área mais vasta do que no inverno. A
estende desde Miranda do Douro, a norte, até norte ocorreu na Peneda-Gerês e em Montesinho,
Campo Maior, a sul. Na metade norte do país a e a sul ocorreu em áreas vastas do Alentejo e na
distribuição deste abutre restringe-se à proximi- península de Sagres. O número de grifos observado
dade da fronteira, enquanto na metade sul, ocor- por unidade de tempo foi também maior do que
reu muito disperso por todo o território, incluindo no inverno. Nesta altura do ano não é raro obser-
M I GRA ÇÃ O PÓS- N U PCIA L
junto à costa. A maioria dos registos correspondeu varem-se bandos de grifos com uma centena de
a pequenos bandos, até poucas dezenas de aves. aves. Em certos locais de passagem, como a Costa
Sudoeste e a serra de Monchique, já foram observa-
O grifo utiliza zonas remotas e nidifica em dos bandos com mais de um milhar de grifos (Catry
escarpas fluviais e outros afloramentos rochosos et al. 2010).
(Catry et al. 2010). A faixa de ocorrência contínua
junto à fronteira corresponde aos principais locais No verão e no outono, já sem dependência dos
de reprodução do grifo em Portugal, nos troços locais de nidificação, a maioria das aves pode disper-
internacionais do Douro, Tejo e afluentes. Por sar por áreas mais vastas, em busca de alimento.
conseguinte, a população invernante nestas áreas Dai o grande número de observações em áreas de
deverá ser constituída maioritariamente por aves pastorícia extensiva longe de locais de nidificação,
residentes. A população invernante na maior parte como a área de Castro Verde. As populações do
do Alentejo e no Algarve, onde o grifo não nidi- norte da península têm de fugir ao rigor climático do
fica, deverá ser constituída por aves provenientes inverno, migrando para sul, chegando até ao Norte
de outros locais da península Ibérica. de África (Catry et al. 2010). Este fenómeno origina
os bandos espectaculares que em outubro se vêm
A espécie não ocorre nas ilhas atlânticas. na Costa Sudoeste e nas Serras do Algarve.

152 Espécies regulares • Accipitriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Accipitriformes 153


Abutre-preto
Aegypius monachus

IMAGEM
Rafael Palomo

TEXTO
Domingos Leitão

Distribuição e abundância Distribuição e abundância


no inverno na migração pós-nupcial
O abutre-preto foi registado com maior grau Durante o período pós-nupcial, o abutre-preto
de continuidade numa vasta área fronteiriça da foi registado em mais quadrículas do que no
Beira Interior. Foi também registado de forma mais inverno. Ocorreu em mais locais da Região Norte
dispersa nas regiões a sul do Tejo, incluído a costa, e de forma muito mais contínua em duas áreas
e no Douro Internacional. A maioria dos registos distintas do Alentejo. Curiosamente houve menos
correspondeu a aves isoladas ou a bandos inferio- registos na Beira Interior, mas também o grau de
res a cinco aves. cobertura foi muito menor do que no Inverno.
Modelação
Também o número de aves observadas por hora
O abutre-preto utiliza essencialmente áreas foi também maior do que no Inverno. M I GRA ÇÃ O PÓS- N U PCIA L
remotas, dominadas por montado de azinho e
zonas abertas com pastorícia extensiva. Esta espé- Parece haver um maior número de abutres-
cie esteve extinta como nidificante no nosso país -pretos a utilizar o nosso território no verão e
nas décadas de 1980 e 1990 do século passado outono comparativamente com o período de
(Catry et al. 2010). Durante os últimos 20 anos o Inverno. O facto de a maioria destas aves ser
número de registos tem vindo a aumentar um proveniente das colónias espanholas (ver Catry et
pouco por todo o interior de Portugal, tendo sido al. 2010), poderá estar na origem deste padrão.
registados casos de nidificação irregular em alguns No Inverno, quando tem início a reprodução, a
pontos da faixa fronteiriça: Douro Internacio- maioria das aves deve movimentar-se num terri-
nal, Malcata, Tejo Internacional e Barrancos. Esta tório mais próximo dos ninhos, e portanto mais
expansão do abutre-preto é provavelmente uma próximo da fronteira. Por outro lado, no verão,
consequência da recuperação da espécie nas coló- já sem dependência dos locais de nidificação, a
nias espanholas próximas da fronteira (ver Catry et maioria das aves pode dispersar por áreas mais
al. 2010), de onde provém ainda a maior parte das vastas, em busca de alimento. Daí a concentração
aves observadas em Portugal durante o inverno. de observações em áreas de pastorícia extensiva,
longe dos locais de nidificação, como a área de
A espécie não ocorre nas ilhas atlânticas. Castro Verde e outras no Alentejo.

154 Espécies regulares • Accipitriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Accipitriformes 155


Águia-cobreira
Circaetus gallicus

IMAGEM
Joaquim Antunes

TEXTO
Alexandre H. Leitão

Distribuição e abundância Distribuição e abundância


no inverno na migração pós-nupcial
A invernada da águia-cobreira vem sendo regis- Em Portugal Continental, a águia-cobreira
tada com regularidade no território continental de distribui-se de norte a sul durante este período
Portugal, bem como noutros locais da metade migratório, estando ausente sobretudo das faixas
sul da península Ibérica ao longo das últimas litorais centro e norte, e de grande parte da região
duas décadas (Strix in press, Martinez & Sanchez- noroeste. Esta distribuição coincide, em parte, com
-Zapata 1999, SEO/BirdLife 2012). Nos trabalhos a que se conhece para a época de reprodução.
de campo de inverno, a presença da espécie foi Trata-se de uma espécie que abandona os locais Modelação
registada quase exclusivamente na metade sul do de nidificação entre meados de agosto e princí-
M I GRA ÇÃ O PÓS- N U PCIA L
território, com especial incidência na região algar- pios de setembro, pelo que parte das aves regista-
via. Existem também alguns registos pontuais no das durante os trabalhos de campo neste período,
Baixo Alentejo, sem que aí a invernada seja tão poderão ainda ser exemplares nos seus territórios
frequente. No entanto, ressalva-se que o fluxo de de reprodução. Os valores de abundância mais
passagem na migração outonal da águia-cobreira elevados registaram-se nas zonas serranas centrais,
é bastante estendido no tempo, ocorrendo até aos Beira Baixa, Alto Alentejo e na região sudoeste.
primeiros dias de Dezembro (Strix 2013). Inclusive, Nesta última, mais concretamente na península
ocorrem dias com passagem intensa desta espé- de Sagres, foi onde se registaram os valores mais
cie pela península de Sagres durante a segunda elevados.
quinzena de Novembro, podendo chegar às duas
dezenas de aves num só dia, pelo que alguns dos Em Sagres, local onde se registam as maiores
registos pontuais aqui notados poderão dizer concentrações de aves planadoras, esta espécie é
respeito ainda a migradores, e não a exemplares registada ao longo de todo o período de migração
invernantes. pós-nupcial, de agosto a final de novembro, ocor-
rendo contagens máximas entre o final de setem-
A espécie não foi observada nos arquipélagos bro e princípio de outubro, assim como em meados
dos Açores e da Madeira. de novembro (ver também acima) (Strix 2013).

156 Espécies regulares • Accipitriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Accipitriformes 157


Águia-sapeira
Circus aeruginosus

IMAGEM
Faísca

Distribuição e abundância na zona do Ludo, Ria Formosa. A espécie terá onde por sua vez se havia já registado um incre-
no inverno sofrido uma expansão recente da sua área de mento significativo relativamente ao recensea-
ocorrência nas regiões do Ribatejo, Alentejo e mento anterior – 135 indivíduos entre 1990 e
A águia-sapeira apresentou uma distribui- Algarve. Com efeito, quando comparada com 1994 (Fernandes et al. 1996).
ção bastante fragmentada durante o inverno, a distribuição obtida no Atlas das Aves Inver-
encontrando-se essencialmente associada nantes do Baixo Alentejo (Elias et al. 1998) e no
a zonas húmidas litorais no norte, centro e censo de inverno realizado em 1998/99 (Rosa Distribuição e abundância
Algarve, onde frequenta essencialmente cani- et al. 2001) é evidente a expansão para áreas na migração pós-nupcial
çais, arrozais, sapais, lagoas e terrenos agrícolas do interior onde anteriormente não ocorria ou
abertos circundantes. No Alentejo e Ribatejo ocorria apenas esporadicamente. Também no Durante o período pós-nupcial a espécie foi
apresenta uma distribuição mais ampla, onde, Algarve a sua presença é actualmente mais registada essencialmente nas principais áreas
para além dos habitats referidos anteriormente, expressiva, ocorrendo em áreas do Barlavento de reprodução, onde aparentemente as popu-
ocorre também em lezírias e áreas abertas e onde estava ausente (Bolton 1987) e com uma lações são residentes (Rosa et al. 2001), e de
planas com culturas cerealíferas de sequeiro presença mais contínua no Sotavento do que invernada, havendo um conjunto de registos
e pastagens, geralmente com presença de na década de 1990 (Fernandes et al. 1996, Rosa que deverá corresponder a aves em passagem
açudes e charcas ricas em vegetação aquática et al. 2001). Embora se desconheça a dimen- migratória. Com efeito, destaca-se a presença
emergente. A sua abundância é mais elevada são da população invernante, tendo em conta de diversos registos na costa sudoeste e
em zonas húmidas costeiras, nomeadamente a evidente expansão da área de distribuição na zona de Sagres, onde a espécie é regular
na Ria de Aveiro, Baixo Mondego, estuários do da espécie e a tendência de crescimento da durante o período de passagem migratória (A.
Tejo e Sado, que coincidem maioritariamente população nidificante (Rosa et al. 2006, Equipa Leitão, com. pess.).
com as principais áreas de ocorrência da popu- Atlas 2008), é de assumir que esta seja supe-
lação reprodutora (Rosa et al. 2006, Equipa rior à registada no último censo, realizado em TEXTO
Atlas 2008) e ainda na lagoa de Sto. André, e 1998/99 – 347 indivíduos (Rosa et al. 2001) Carlos Pacheco

158 Espécies regulares • Accipitriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Accipitriformes 159


Tartaranhão-cinzento
Circus cyaneus

IMAGEM
Andy Hay
rspb-images.com

Distribuição e abundância mente oriundas de populações nidificantes no que para o Algarve. De uma maneira geral há
no inverno Norte da Península Ibérica, mas também de uma clara concentração de registos em zonas
outras regiões europeias (Alemanha e Reino do litoral, sobretudo a Sul. As primeiras aves
O tartaranhão-cinzento é claramente mais Unido) (Bernis 1966). migradoras surgem no fim do mês de Agosto,
abundante no Sul do território continental, permanecendo algumas delas até Março, ou
sobretudo na região central do Baixo Alentejo No arquipélago dos Açores foi detectado provavelmente mais pontualmente até ao
e Costa Sudoeste. Também parece ser relati- numa quadrícula da ilha do Pico. início do mês de Abril (ver Catry et al. 2010). Os
vamente abundante na Beira Interior, sendo movimentos pós-nupciais são mais evidentes,
de uma maneira geral, escasso no Norte do sobretudo no litoral entre os meses de Setem-
território. O padrão de distribuição parece Distribuição e abundância bro e Novembro (ver Catry et al. 2010), confir-
sugerir que evita áreas densamente arbori- na migração pós-nupcial mando o padrão obtido neste trabalho.
zadas, como sejam vastas áreas do litoral a
Norte do Tejo. Todavia é de realçar que na A presença desta espécie neste Atlas foi
região Norte parece ser, por vezes, localmente relativamente escassa, com uma concentração
comum (e.g. Peneda-Gerês e Montesinho). As de registos no sistema montanhoso Peneda- TEXTO
aves migradoras e invernantes são provavel- -Gerês, a Norte, mas também a Sul, com desta- Luís Reino

160 Espécies regulares • Accipitriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Accipitriformes 161


Tartaranhão-caçador
Circus pygargus

IMAGEM
Faísca

Distribuição e abundância de uma forma geral, em locais do território iniciando-se a migração entre meados de
no inverno onde a espécie ocorre em maiores abundân- Julho e início de Agosto (Limiñana et al. 2007).
cias durante a época de reprodução. No inte- Na Península de Sagres, o número de indiví-
O tartaranhão-caçador é uma espécie nidi- rior alentejano, aparece associado às zonas duos detectados durante a migração pós-nup-
ficante estival em Portugal Continental que onde ocorrem as grandes áreas de culturas cial é relativamente reduzido (Tomé et al.
migra para a Africa sub-saariana durante o cerealíferas extensivas de sequeiro, como é o 1998), tendo-se contado um número médio de
Inverno. A sua ocorrência durante o Inverno é caso de Castro Verde, e no Centro e no Norte 21 indivíduos nos anos de 2010 e 2012, com
rara e durante os trabalhos do atlas foi regis- do país ocorre em matos de altitude e pasta- uma data média do pico de passagem a 3 de
tado apenas uma vez, em Montalegre. gens naturais, como por exemplo, na zona da Setembro (Strix 2013).
Serra da Estrela e terras do Barroso. Obtive-
Durante este período não foi detectado nas ram-se vários registos adicionais de indiví- O tartaranhão-caçador ocorre apenas
regiões autónomas. duos associados a zonas de matos e estuários acidentalmente nos Açores e Madeira e não foi
ao longo da faixa litoral do Continente, o que detectado durante o período pós-nupcial em
deverá reflectir o maior número de observa- nenhum dos arquipélagos atlânticos.
Distribuição e abundância dores nestas regiões. Dados provenientes de
na migração pós-nupcial aves marcadas com emissores de satélite em
Espanha indicam que a dispersão pós-nupcial
Durante a migração pós-nupcial o tartara- do tartaranhão-caçador é bastante activa e TEXTO
nhão-caçador foi detectado pontualmente e, precoce (Limiñana et al. 2008, Strix in press), João L. Guilherme

162 Espécies regulares • Accipitriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Accipitriformes 163


Gavião Fura-bardos (Madeira)
Accipiter nisus

IMAGEM
Nuno de Macedo

Distribuição e abundância tada numa única quadrícula. Ainda assim, admi- mos registados nos primeiros dias de outubro.
no inverno te-se que a presença nesta ilha durante o inverno Atravessam anualmente a península de Sagres
seja mais alargada, aproximando-se, pelo entre uma a duas centenas de gaviões (Strix
O gavião está relativamente bem distribuído menos, à área de distribuição conhecida para a 2013). Admite-se que parte das aves regista-
pelo território de Portugal Continental. Veri- época de reprodução. Não é expectável que a das durante o período migratório, seja prove-
fica-se uma distribuição mais alargada face ao população residente madeirense seja reforçada niente do norte do continente europeu e venha
conhecido para a época de reprodução, e este por exemplares migradores provenientes de a invernar no território continental. As maiores
facto deve-se à chegada de alguns exempla- outros pontos do continente europeu. abundâncias registaram-se na península de
res exclusivamente invernantes provenientes Sagres e bacia inferior do Tejo, região Oeste,
de outras áreas do continente europeu, e que Minho, Douro Litoral, e em alguns pontos dos
reforçam o contingente residente do território Distribuição e abundância planaltos transmontanos e da Beira Baixa.
continental. Durante o inverno, esta espécie na migração pós-nupcial
está presente numa variedade alargada de habi- Durante a migração pós-nupcial, o gavião
tats, desde as tradicionais zonas florestais como A distribuição desta espécie, em Portugal apenas foi registado no arquipélago da
os pinhais e os montados, até às áreas abertas Continental durante o período de migração Madeira. A área de distribuição registada para
como as pseudo-estepes do Baixo Alentejo, pós-nupcial, não difere muito da encontrada a Madeira, única ilha onde ocorre, é ainda
ou a envolvente das grandes zonas estuarinas para o período de inverno. O padrão fenoló- assim, inferior à registada no período reprodu-
do Tejo e Sado. As maiores abundâncias foram gico verificado na península de Sagres, local tor. Dado que a subespécie insular é residente,
registadas sobretudo a norte do rio Tejo. mais importante de concentração de aves não se lhe conhecendo movimentos migrató-
planadoras migradoras em Portugal, indica que rios, admite-se que a distribuição em período
No que toca aos territórios insulares, esta o principal fluxo de passagem desta espécie migratório deverá ser mais alargada que a
pequena ave de rapina apenas está presente na ocorre entre a segunda metade de setembro reflectida pelos dados recolhidos durante os
Madeira (subespécie A.n. granti), onde foi regis- e a segunda metade de outubro, com máxi- trabalhos de campo.
TEXTO
Alexandre H. Leitão

164 Espécies regulares • Accipitriformes


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MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Accipitriformes 165


Açor
Accipiter gentilis

IMAGEM
Bruno Maia

Distribuição e abundância mais aos hábitos discretos da espécie do que a Europa. Mas não existem dados que o compro-
no inverno uma verdadeira ausência. vem e o número de açores em locais de migra-
ção, como Gibraltar ou Sagres é pouco expres-
O açor foi registado de forma descontí- O açor utiliza uma grande diversidade de sivo (ver Catry et al. 2010).
nua por todo o território de Portugal Conti- formações florestais, dominadas por conífe-
nental, sempre em números muito baixos. ras ou quercíneas, matos e terrenos agrícolas
Parece estar ausente de vastas áreas aber- (Catry et al. 2010). Distribuição e abundância
tas ou florestadas do Alentejo e do Algarve, na migração pós-nupcial
onde é aliás raro como nidificante. Também As aves que ocorrem em Portugal fora do
não foi registado em vastas regiões florestais e período reprodutor deverão ser maioritaria- Durante o período pós-nupcial, a distribui-
montanhosas do Centro e Norte onde deverá mente residentes. Mas algumas aves ibéricas ção e abundância do açor em Portugal Conti-
ocorrer como nidificante homogeneamente efectuam movimentos dispersivos, existindo nental foram idênticas às que se verificaram no
distribuído, em particular na faixa costeira recapturas em Portugal de aves anilhadas em inverno.
onde é mais abundante (ver Catry et al. 2010). Espanha (ver Catry et al. 2010). Também não é
Muitas destas ausências de registos, principal- de excluir a chegada a Portugal de aves inver- TEXTO
mente no Centro e Norte, poderão dever-se nantes provenientes do extremo norte da Domingos Leitão

166 Espécies regulares • Accipitriformes


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INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Accipitriformes 167


Águia-d’asa-redonda Milhafre (Açores) Manta (Madeira)
Buteo buteo

IMAGEM
Henrique Oliveira Pires

TEXTO
Carlos Pereira

Modelação

I NV ERN O

Distribuição e abundância Distribuição e abundância


no inverno na migração pós-nupcial
Durante o Inverno a águia-d’asa-redonda foi Durante o período de migração pós-nupcial,
registada de norte a sul de Portugal Continen- em Portugal Continental, a águia-d’-asa-redonda
tal, sendo mais abundante na Região Oeste e parece ter padrões de ocorrência e abundância
em alguns sectores do Alto Alentejo. Parece ser semelhantes aos registados durante o Inverno.
menos comum nas zonas serranas das Beiras Baixa M I GRA ÇÃ O PÓS- N U PCIA L
e Alta, assim como nas serras do Minho e de Trás- No aquipélago da Madeira, nesta época de
-os-Montes. No Algarve a águia-d’asa-redonda amostragem, a espécie foi detectada em todas as
ocorre bem distribuída neste período do ano. quadrículas, apenas estando ausente nas ilhas Selva-
gens. No arquipélago dos Açores foi mais abun-
No arquipélago da Madeira (spp. harterti) a dante em Santa Maria, em São Miguel e na Terceira,
águia-d’asa-redonda apenas não foi observada devendo-se a ausência de registos em São Jorge,
nas ilhas Selvagens, sendo mais abundante na assim como as falhas em quadrículas do Pico e do
zona Norte/Noroeste da Madeira. Faial, a uma cobertura insuficiente, não tendo sido
realizadas algumas quadrículas nessas ilhas durante
Nos Açores (spp. rothschildi) ocorre em sete este período de amostragem. Embora sejam quase
ilhas do arquipélago, apenas estando ausente inexistentes dados que comprovem a chegada de
no Grupo Ocidental, tendo-se verificado maiores migradores desta espécie aos Açores, a observação
abundâncias no Grupo Oriental e na Terceira. na Terceira, no Outono de 2012, de dois indivíduos
de plumagem muito clara, com características das
aves do Centro/Norte da Europa (Aves dos Açores
2014), parece sugerir a possibilidade de aves euro-
peias chegarem ao Arquipélago.

168 Espécies regulares • Accipitriformes


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INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Accipitriformes 169


Águia-imperial
Aquila adalberti

IMAGEM
Pinto Moreira

Distribuição e abundância que deverão corresponder a indivíduos errantes pode ser observada em campos de alimenta-
no inverno em prospecção de alimento. Desconhece-se a ção de aves necrófagas, onde se alimenta dos
dimensão da população invernante em Portugal. despojos aí colocados.
Em linhas gerais, a distribuição invernal da Esta deverá estar intimamente ligada ao efec-
águia-imperial coincide com a área dos princi- tivo nidificante (11 a 18 casais, em 2014; Grupo
pais núcleos reprodutores e também com áreas Trabalho da águia-imperial, dados não publica- Distribuição e abundância
de assentamento de jovens, nomeadamente dos) que é territorial e residente, a que acrescem na migração pós-nupcial
Beira interior sul, Moura/Barrancos e Mértola/ indivíduos em dispersão de zonas espanholas,
Castro Verde (Grupo Trabalho da águia-imperial, pelo que se pode inferir que a população deverá Na migração pós-nupcial o número de regis-
dados não publicados). Contudo, a distribuição situar-se entre os 30 e os 50 indivíduos. tos foi muito escasso, tendo coincidido parcial-
apresentada é algo mais restrita do que a conhe- mente com dois dos três núcleos reprodutores
cida no período reprodutor e do que a informa- No que respeita às preferências de habitat, a existentes, nas zonas de Moura/Barrancos e
ção existente para as áreas de assentamento águia-imperial frequenta essencialmente zonas Mértola/Castro Verde. Tendo em conta que os
de jovens, delineadas com base no registo de florestais mediterrânicas, como montados, e casais reprodutores são sedentários e territoriais
observações regulares de exemplares imatu- zonas abertas ocupadas com culturas cerealífe- e que neste período já se costumam registar
ros (C. Pacheco, dados não publicados). Prova- ras de sequeiro e pastagens, intercaladas com indivíduos juvenis dispersantes, bem como aves
velmente isso é devido à escassa cobertura em áreas de matos (Sanchéz et al. 2009), desde que imaturas nas zonas de assentamento, a distribui-
áreas importantes para a espécie, ao facto da possuam elevada disponibilidade de presas ção apresentada deverá estar muito incompleta,
metodologia adoptada não ser a mais adequada (Gonzaléz et al. 2008). De acordo com este facto que se deve muito provavelmente a falhas
para a deteção desta espécie e também pela autor as aves podem-se concentrar em encla- de cobertura, particularmente visíveis no núcleo
sua reduzida densidade e baixa conspicuidade. ves com alimento abundante, em particular o da Beira interior sul, e à fraca adequabilidade da
Surgem ainda alguns registos não coincidentes coelho-bravo, que é a sua presa mais impor- metodologia para a detecção desta escassa ave
com áreas de reprodução nem de assentamento, tante, mas também a perdiz. Pontualmente de rapina.
TEXTO
Carlos Pacheco

170 Espécies regulares • Accipitriformes


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INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Accipitriformes 171


Águia-real
Aquila chrysaetos

IMAGEM
Pinto Moreira

Distribuição e abundância por possuírem habitat adequado à espécie e são podendo ser encontrados por vezes a
no inverno registos históricos como local de reprodução. mais de 150 km dos seus território de origem
(Hardley 2009).
Durante a época de reprodução, que
normalmente tem início em Janeiro ou Feve- Distribuição e abundância Os dados recolhidos demonstram esta
reiro, os casais de águia-real tendem a redu- na migração pós-nupcial realidade. Menor número de registos e mais
zir o seu território vital a áreas relativamente afastados das zonas de reprodução. No
exclusivas (Watson 1997) e centrar a sua ativi- Nas populações do centro e sul da Europa nordeste de Portugal é clara a alteração da
dade próximo do local de nidificação, distribuí- não são conhecidos comportamentos verda- distribuição que passa de quase em exclusivo
dos sobretudo por escarpas fluviais ou monta- deiramente migratórios (Génsbøl 2008) mas é no vale do Douro durante o final do inverno
nhosas em locais de reduzida perturbação fora do período reprodutivo que a águia-real para um pouco por toda a região de Trás-os-
Humana. A população portuguesa da espécie tende a apresentar maior mobilidade e alargar -Montes após reprodução. Como a maioria da
está maioritariamente confinada às zonas de a sua distribuição. população se reproduz em zonas de fronteira
vales escarpados do nordeste de Portugal e este comportamento ocorre também para
do Tejo Internacional. Existindo ainda alguns É também durante este período que os Espanha, reduzindo o número de observações
registos nas zonas da Serra da Estrela e Gerês juvenis possuem comportamentos de disper- no território Português.

TEXTO
João Quadrado

172 Espécies regulares • Accipitriformes


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INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Accipitriformes 173


Águia-calçada
Hieraaetus pennatus

IMAGEM
Luis Rodrigues

Distribuição e abundância de ocorrência poderá estar relacionado com Nessa época do ano, grande parte das popu-
no inverno as preferências de habitat e condições climá- lações ibérica e francesa, as únicas existentes
ticas nesta época do ano. Assim, a espécie na Europa Ocidental, dirige-se para os quartéis
A ocorrência em Portugal Continental tende aparentemente a privilegiar regiões de de Inverno africanos situados a sul do Sara. A
durante o Inverno de algumas aves desta espé- clima ameno, com zonas húmidas e mosaicos maioria deste contingente de aves migrado-
cie tipicamente estival é um facto já de há muito de bosques e terrenos abertos. ras converge para o Estreito de Gibraltar. No
conhecido (ver por exemplo Costa 1994). A entanto, uma pequena parte pode derivar para
nível ibérico, é possível que a área de distribui- Os dados obtidos não permitem tirar ilações Oeste sendo observável na zona de Sagres,
ção nesta época do ano e o número de indiví- conclusivas quanto à sua abundância, sendo no com especial incidência no período entre a
duos envolvidos tenham vindo a aumentar (ver entanto aparente que a espécie é rara em toda segunda quinzena de Setembro e a primeira
por exemplo SEO/BirdLife 2012). Não obstante a área de distribuição. de Outubro. Contagens regulares aí efectua-
essa tendência, a distribuição agora obtida, das desde 1990 indicam que a região é local
ressalvando eventuais falhas de cobertura, de passagem regular para centenas de indi-
assemelha-se bastante à que existiria no início Distribuição e abundância víduos (Costa et al. 1998 ou Tomé et al. 1998,
da década de 1990. A espécie está ausente de na migração pós-nupcial Strix 2013).
vastas regiões, sobretudo no Norte e ocorre
de forma fragmentada no Centro e Sul do país No período pós-nupcial a águia-calçada TEXTO
nomeadamente nos vales do Mondego, Tejo e pode ocorrer um pouco por todo o país, com Helder Costa
Sado e no extremo Sul do Algarve. Este padrão a aparente excepção do quadrante noroeste. O autor não segue o acordo ortográfico de 1990

174 Espécies regulares • Accipitriformes


Continente

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INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Accipitriformes 175


Águia-perdigueira
Aquila fasciata

IMAGEM
Eduardo Barrento

Distribuição e abundância de Portugal (Catry et al. 2010). A coincidência nada. A ausência de registos no nordeste de
no inverno temporal entre o trabalho de campo do atlas Portugal Continental deverá resultar da dificul-
e o período de incubação de muitos casais dade em detectar uma espécie que é pouco
A águia-perdigueira é uma ave de rapina deverá ter contribuído para a relativa escas- abundante e que ocorre em baixa densidade,
de médio porte cujos adultos são essencial- sez de registos invernais, em particular nas pois nesta área existe um núcleo importante
mente sedentários e territoriais. Tem uma zonas onde é mais abundante no sul do país. de casais reprodutores (Fráguas 1999, Equipa
distribuição invernal em Portugal muito seme- Atlas 2008). Os registos de presença da águia-
lhante à distribuição na época de reprodução. -perdigueira na serra da Estrela e no norte da
De acordo com os dados obtidos, a águia- Distribuição e abundância Estremadura poderão resultar da dispersão de
-perdigueira distribui-se principalmente pela na migração pós-nupcial aves imaturas ou do estabelecimento de novos
Estremadura, Beira Baixa, Alto e Baixo Alen- territórios.
tejo, o Algarve, e está presente na Beira Alta Na metade sul de Portugal Continen-
e em Trás-os-Montes. Esta espécie começa tal a distribuição da águia-perdigueira nesta
a reprodução muito precocemente, efec- época tem uma grande correspondência com TEXTO
tuando as posturas ainda em Janeiro no sul a distribuição durante a reprodução e a inver- Pedro Cardia

176 Espécies regulares • Accipitriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Accipitriformes 177


Abetarda
Otis tarda

IMAGEM
Bruno Maia

Distribuição e abundância da Beira Baixa e também não foi registada Apesar da espécie ser sedentária na Penín-
no inverno em algumas zonas do Alentejo Central, o que sula Ibérica, registam-se movimentos de indi-
pode indicar o desaparecimento efetivo das víduos entre áreas habituais de ocorrência,
A abetarda no período invernal ocorre nas suas populações e/ou a sua reduzida abun- envolvendo especialmente aves não reprodu-
áreas de distribuição conhecidas, mas com dância nas mesmas áreas. É de referir que toras e machos jovens (Rocha 2006). Existem
uma contração importante relativamente ao estas áreas estão também a ser afetadas pela flutuações populacionais sazonais de maior
período reprodutor. instalação e ampliação de culturas permanen- ou menor envergadura nos vários núcleos
tes como vinhas e olivais intensivos, que natu- onde a espécie ocorre, o que poderá justifi-
O mapa obtido para este atlas sugere um ralmente são evitadas pelas abetardas. car as diferenças em termos de distribuição
acentuado declínio das populações desta nas duas épocas analisadas. Estas flutua-
espécie, espelhando o que se tem verificado ções numéricas são consideráveis, ocorrem
ao longo dos últimos anos. Exceção para a Distribuição e abundância ao longo de vários períodos do ano (Rocha &
região do Campo Branco (Castro Verde) que na migração pós-nupcial Moreira 1999, Cruz et al. 2003) e estão essen-
alberga mais de oitenta por cento da popu- cialmente relacionadas com a disponibilidade
lação portuguesa de abetarda (Pinto et al. No período pós-nupcial a abetarda ocorre de alimento.
2005) e que se apresenta estável. apenas no Alentejo, com valores mais expres-
sivos em termos de abundância nas planícies TEXTO
A espécie não foi registada nas planícies do Baixo Alentejo. Carlos Miguel da Cruz

178 Espécies regulares • Otidiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Otidiformes 179


Sisão
Tetrax tetrax

IMAGEM
José Viana

Distribuição e abundância de 2007 (Villers et al. 2010). O comportamento da população, apesar das falhas de amostra-
no inverno do sisão no Inverno é determinado, em grande gem. Durante esta fase os sisões realizam movi-
parte, por uma estratégia de anti-predação, mentos migratórios dentro da península ibérica
Em Portugal, durante o Inverno, o sisão evitando áreas mais perturbadas como sejam para locais com maior disponibilidade de plan-
ocorreu principalmente no Alentejo, tendo a proximidade de casas habitadas e de estra- tas verdes de que dependem para se alimen-
ainda sido registado no estuário do Tejo, Sapal das (Silva et al. 2004). São gregários, podendo tarem, uma vez que a maioria da vegetação
de Castro Marim, Ria Formosa e Sagres. As formar bandos com centenas de indivíduos, das áreas reprodutoras seca durante o Verão
maiores abundâncias foram encontradas na verificando-se a tendência dos bandos mais (Silva et al. 2007). Os movimentos migratórios
região de Castro Verde, coincidindo com a numerosos ocorrerem nas elevações mais altas, a partir de Castro Verde foram estudados por
zona de reprodução mais importante do país. por possivelmente corresponderem aos locais via da telemetria por satélite e evidenciaram a
Por não se ter censado um número considerá- com maior visibilidade, mais propícios para a importância do litoral alentejano, do estuário
vel de quadrículas de elevado potencial para concentração de indivíduos (Silva et al. 2004). do Tejo e das zonas agrícolas coincidentes com
a ocorrência da espécie no Alentejo, a compa- solos mais produtivos nas regiões de Beja e
ração da distribuição atual com a que resultou Évora (Silva et al. 2007; dados não publicados).
do censo de 2003-06 (Silva & Pinto 2006) é de Distribuição e abundância Verificaram-se também movimentos de sisões
difícil realização, contudo parece haver uma na migração pós-nupcial marcados em Vila Fernando para Espanha,
contração na área de distribuição da espé- nomeadamente para os regadios do Guadiana
cie, facto que requer no entanto confirma- No Verão, o sisão apresentou uma distri- na Província de Badajoz e para pastagens de
ção. A distribuição invernante tende a coinci- buição um pouco mais abrangente do que a altitude nas proximidades de Salamanca. Nesta
dir, na maioria dos casos, com a reprodutora que foi obtida no Inverno. Foram observados fase os sisões são menos gregários do que no
(Silva et al. 2014), devido ao regresso da maio- em maior abundância fora das principais áreas inverno, podendo as observações, no início do
ria dos indivíduos às regiões de reprodução. reprodutoras, o que está de acordo com a infor- Verão, envolver apenas indivíduos isolados ou
No entanto, nesta altura do ano podem ainda mação recolhida em trabalhos anteriores (Silva famílias (i.e. fêmeas e as crias).
ocorrer aves prevenientes de outras regiões da et al. 2014). À semelhança do Inverno, compa-
Europa Ocidental, como é o caso de aves fran- rando a distribuição atual com um estudo de TEXTO
cesas detetadas no estuário do Tejo no Inverno 2003-06, verifica-se uma aparente contração João Paulo Silva

180 Espécies regulares • Otidiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Otidiformes 181


Frango-d’água
Rallus aquaticus

IMAGEM
Bruno Maia

Distribuição e abundância a espécie foi registada com maior abundân- território continental, confinada a manchas de
no inverno cia foram a Ria da Aveiro e o Baixo Mondego, habitat propício, e com abundâncias semelhan-
encontrando-se também presente em zonas tes às do período de inverno. As áreas onde
O frango-d’água é residente, embora em húmidas de ampla dimensão como os estuários a espécie foi registada com maior abundân-
algumas zonas do país pareça ser mais abun- do Tejo e do Sado e a Ria Formosa, bem como cia foram novamente a Ria de Aveiro e o Baixo
dante no Inverno no que na Primavera, o que alguns locais no Norte e interior do país. Mondego, mas também a Lagoa de Óbidos.
é consistente com a existência de populações Outras zonas húmidas onde a espécie foi dete-
migratórias (Catry et al. 2010). A espécie encon- A espécie não foi registada nos arquipéla- tada foram Castro Marim, Ria Formosa, lagoa
tra-se confinada a zonas húmidas com vegeta- gos dos Açores e Madeira onde é considerada de Santo André, estuários do Arade,Tejo,
ção densa como pauis, arrozais, valas, estuários de ocorrência acidental. Cávado e Minho, bem como alguns locais no
e lagoas, pelo que a sua distribuição é dispersa interior do país.
ao longo do país, acompanhando as manchas
de habitat adequado. Distribuição e abundância A espécie não foi detetada nos arquipélagos
na migração pós-nupcial dos Açores e da Madeira.
As baixas densidades registadas poderão
estar relacionadas com o facto de a espécie ser Durante o período pós-nupcial a espécie TEXTO
muito discreta e de difícil deteção. As áreas onde ocorreu de forma igualmente dispersa pelo Nuno Barros

182 Espécies regulares • Gruiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Gruiformes 183


Camão
Porphyrio porphyrio

IMAGEM
Jorge Rodrigues

Distribuição e abundância tica emergente. Contudo, a distribuição apre- população invernante se deverá situar próximo
no inverno sentada é significativamente mais restrita que dos 300 indivíduos.
a conhecida no período reprodutor, estando
A distribuição invernal obtida para o camão seguramente sub-representada devido à
coincide, quase na totalidade, com algumas das escassa cobertura em áreas onde a espécie está Distribuição e abundância
áreas de reprodução conhecidas (Pacheco & presente ao longo do ano (por exemplo açudes na migração pós-nupcial
McGregor 2004, Equipa Atlas 2008, C. Pacheco no estuário do Sado e Pateira de Fermentelos),
dados não publicados) para esta espécie geral- e ao facto da metodologia adoptada não ser a No período de migração pós-nupcial a distri-
mente classificada como residente em Portugal mais adequada para a deteção desta espécie e buição obtida foi algo similar à observada no
(Catry et al. 2010). As excepções correspondem também pela sua baixa conspicuidade. inverno, embora ainda mais incompleta. Tendo
à quadrícula mais a norte, que se localiza numa em conta que a população nidificante tende a
área onde não havia registos da espécie e às Desconhece-se a dimensão da população ser sedentária e que muitas das áreas de repro-
duas quadrículas mais a oeste na região costeira invernante em Portugal, no entanto, esta deverá dução regulares não se encontram representa-
algarvia, coincidentes com a Ria de Alvor, onde estar intimamente ligada ao efectivo nidificante, das, é provável que a distribuição obtida se deva
a sua nidificação não foi ainda confirmada. De que é residente e que deverá rondar os 120 a falhas de cobertura e à fraca adequabilidade
uma forma geral o camão surge intimamente casais (C. Pacheco, dados não publicados) e à da metodologia para a detecção desta espécie
associado a zonas húmidas, como pauis, cani- sua descendência a que poderão acrescer indi- pouco conspícua.
çais, lagoas costeiras e açudes e charcas, desde víduos oriundos de zonas espanholas (Pacheco TEXTO
que possuam abundância de vegetação aquá- & McGregor 2004). Assim, pode-se inferir que a Carlos Pacheco

184 Espécies regulares • Gruiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Gruiformes 185


Galinha-d’água
Gallinula chloropus

IMAGEM
Luis Quinta

TEXTO
Pedro Geraldes
O autor não segue o acordo ortográfico de 1990

Modelação

I NV ERN O

Distribuição e abundância Santa Maria e Terceira, tal como no Atlas de Aves


no inverno nidificantes (Equipa Atlas 2008), o que sugere igual-
mente a existência de uma população residente.
A galinha-d´água é uma das espécies aquáti- Nas Ilhas do Pico e de São Miguel, a espécie não
cas mais comuns em todo o país. Possui uma distri- foi detectada no Inverno, ao contrário do sucedido
buição alargada de norte a sul, embora seja mais durante a nidificação.
abundante na metade sul de Portugal Continen-
tal devido a maior disponibilidade de habitat. Está
presente numa grande variedade de habitats aquá- Distribuição e abundância
ticos, o que explica a sua abundância e distribuição. na migração pós-nupcial M I GRA ÇÃ O PÓS- N U PCIA L

A maior parte da sua população invernante é Neste período a espécie apresenta uma distri-
constituída por aves residentes embora durante o buição semelhante à de Inverno, com uma área de
Inverno, esta população seja aumentada por aves distribuição mais contínua no Sul do continente e
provenientes de outros países, nomeadamente do mais fragmentada na região Norte, aparentemente
centro e norte da Europa (Catry et al. 2010). condicionada pela disponibilidade de habitat.

A galinha-d´água está presente tanto na ilha da Na Madeira e Porto Santo foi registada nos
Madeira, como na de Porto Santo, embora de forma mesmo locais do que durante o Inverno e época de
localizada e restrita a pequenas lagoas. O mesmo nidificação (Equipa Atlas 2008).
padrão foi observado durante a época de nidifica-
ção (Equipa Atlas 2008). Podemos por isso deduzir No arquipélago dos Açores foi detectada
que se trata de uma pequena população residente. também nas mesmas áreas do que no Inverno,
Também no arquipélago dos Açores a espécie embora nesta época tenha sido também detectada
foi detectada em pequenos números nas ilhas de na ilha de São Miguel.

186 Espécies regulares • Gruiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Gruiformes 187


Galeirão
Fulica atra

IMAGEM
Luis Rodrigues

TEXTO
Carlos Pereira

Modelação

I NV E R NO

Distribuição e abundância tes em Portugal Continental são provenien- norte a sul de Portugal Continental, notando-
no inverno tes essencialmente de Espanha, mas já foram -se contudo um ligeiro aumento na área da
registadas anilhas do Reino Unido e da Holanda Costa Vicentina. Na lagoa de Santo André e
Durante o Inverno o galeirão foi registado (Catry et al. 2010). em algumas outras áreas, registam-se picos
a Sul do rio Tejo, sobretudo em barragens e de abundância no final do Verão e no Outono
açudes do interior alentejano, no litoral algar- No arquipélago da Madeira foi observado (ver Catry et al. 2010), indicando a existência de
vio, e, com excepção da costa de Santo André/ nas ilhas da Madeira e de Porto Santo. Nos fortes movimentos dispersivos em Portugal e na
Melides, não foi detectado na área da Costa Açores, durante a época de Inverno apenas península Ibérica.
Vicentina. A Norte do rio Tejo a distribuição da foi observado na Lagoa das Furnas e na Lagoa
espécie estende-se por todo o litoral, estando Azul, em São Miguel, e no Paul da Praia e Reser- Também, à semelhança do período de
ausente no interior e zona raiana. Em Portu- vatório do Cabrito na Terceira. Nos arquipéla- Inverno, no arquipélago madeirense, foi regis-
gal Continental o galeirão-comum frequenta gos da Madeira e dos Açores as observações tado nas ilhas da Madeira e de Porto Santo. Nos
preferencialmente lagoas costeiras, pauis, reportam sobretudo aves em lagoas, reservató- Açores foi detectado em Santa Maria, em São
açudes e barragens (Catry et al. 2010). A popu- rios de água, charcas e por vezes ribeiras. Miguel e na Terceira, verificando-se durante
lação invernante é variável, na ordem daspou- esta época de amostragem uma maior distri-
cas dezenas de milhar. Embora existam flutua- buição espacial da espécie. É provável que a
ções interanuais, há alguns locais que registam Distribuição e abundância ausência de registos em algumas zonas conti-
regularmente várias centenas de indivíduos. na migração pós-nupcial nentais e ilhas açorianas se deva a uma cober-
São exemplo disso as lagoas de Santo André tura insuficiente, pois embora durante os traba-
e de Albufeira, a Ria Formosa, os estuários do Durante o período de migração pós-nup- lhos de campo deste atlas a espécie não tenha
Guadiana, do Sado e do Tejo e Barrinha de cial o padrão de ocorrência do galeirão foi sido detectada é conhecida a sua presença em
Esmoriz (Catry et al. 2010). As aves invernan- muito semelhante ao da época de Inverno, de alguns locais não referenciados nos mapas.

188 Espécies regulares • Gruiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Gruiformes 189


Grou
Grus grus

IMAGEM
Andy Hay
rspb-images.com

Distribuição e abundância A dinâmica entre zonas de alimentação e pélagos dos Açores e Madeira, mas o facto
no inverno dormitórios regulares, leva a considerar cinco não foi registado neste atlas.
núcleos tradicionais de invernada: Campo
A área actual de invernada do grou em Maior, Mourão, Moura, Évora, e Castro Verde/
Portugal está bem representada na distribui- Mértola (Cruz 1986, Cruz et al. em prep.); os Distribuição e abundância
ção obtida e circunscreve-se praticamente a dois primeiros incluem aves de ambos os na migração pós-nupcial
planícies do interior alentejano, onde a espé- lados da fronteira. Carlos de Bragança (2006)
cie mostra forte relação com os montados sugere uma área mais alargada no passado, A chegada dos primeiros grous ao território
pouco densos explorados em modo extensivo mas presentemente fora destes núcleos, e.g. nacional acontece em meados de Outubro. Em
(Cruz 1991, Almeida 1992). De Outubro a início na Campina de Idanha, Paul do Boquilobo e número sempre crescente, mas bastante variá-
de Março, as aves concentram-se em dormi- Lagoa dos Patos, a ocorrência é esporádica e vel, as aves vão ocupando gradualmente os
tórios explorando os recursos tróficos dispo- em baixo número. Censos sistemáticos reali- núcleos tradicionais de invernada até às primei-
níveis num raio variável e, nessa perspectiva, zados desde 1996, revelam máximos acima ras semanas de Novembro. A distribuição do
os povoamentos de azinho influenciam parti- dos 10000 indivíduos em Janeiro de 2013 e grou observada nesta altura do ano reflete
cularmente a forma como utilizam o espaço. em Fevereiro de 2006 (Cruz et al. em prep.), as observações ocasionais registadas em
A pernoita é feita geralmente na margem de meses em que são registadas as maiores Castro Verde/Mértola, Moura e Mourão. Neste
albufeiras de pequena e média dimensão; abundâncias no País. As aves anilhadas na período, pequenos grupos de aves podem
contudo, na margem esquerda do Guadiana Suécia e observadas em Portugal (Pacheco, marcar presença fora das áreas regulares, como
utilizam também ilhas (Alqueva) e o leito de Almeida & Franco in Catry et al. 2010) e a sugere o registo efectuado no Algarve.
ribeiras em vales cavados (Ardila). Em anos de recuperação na Finlândia, em Maio de 1993,
maior pluviosidade este padrão altera-se, com do único grou anilhado em Portugal, indiciam
TEXTO
aves a pernoitar em charcas e lagoas tempo- que parte dos efectivos invernantes no país
Carlos Miguel Cruz
rárias, que antes não ofereciam condições, e a são provenientes de países escandinavos. O & Rogério Cangarato
abandonar os cursos de água. grou ocorre ainda como acidental nos arqui- Os Autores não seguem o acordo ortográfico de 1990

190 Espécies regulares • Charadriiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Charadriiformes 191


Alcaravão
Burhinus oedicnemus

IMAGEM
Faísca

Distribuição e abundância al. 2010). Neste contexto é muito provável que forma muito mais localizada, destacando-se,
no inverno as elevadas abundâncias detectadas, por exem- relativamente ao inverno, a sua ausência da
plo, nas zonas da Ria Formosa ou de Castro faixa costeira entre Santo André e Aljezur e a
O alcaravão foi observado sobretudo a sul do Marim se devam principalmente à presença de maior fragmentação da sua distribuição no
rio Tejo, exceptuando-se a este padrão alguns indivíduos exclusivamente invernantes, oriun- interior alentejano. As maiores abundâncias
registos pontuais efectuados nos distritos de dos de outros locais. Por último, de referir que é foram obtidas nas zonas de Mourão, Granja e
Bragança, Porto e Castelo Branco. A sul, distri- provável que a área de distribuição real da espé- Alter do Chão, tendo também sido considerá-
buiu-se do litoral ao interior, embora de forma cie neste período seja um pouco mais contínua veis nas zonas de Campo Maior, Avis, estuário
algo fragmentada. As maiores abundâncias do que a aqui apresentada, sobretudo no inte- do Tejo e Évora. O menor esforço de cobertura
foram obtidas no interior alentejano, em áreas de rior alentejano, uma vez que durante o inverno o no período pós-nupcial face ao Inverno pode
estepe cerealífera como Alter do Chão, Mourão alcaravão ocorre em bandos que têm actividade explicar alguma da variação obtida entre esta-
ou Castro Verde, mas também na zona costeira, diurna muito discreta, sendo por isso particular- ções. Não obstante, é provável que a área de
em sistemas dunares ou complexos de salinas, mente difíceis de detectar. distribuição real durante o período pós-nupcial
como no sudoeste alentejano, na Ria Formosa seja mais contínua do que aquela apresentada,
ou em Castro Marim. Apesar de ser uma espé- A espécie não foi observada nos arquipéla- pelos mesmos motivos que foram apontados
cie essencialmente residente no nosso país, a gos atlânticos. para o período de inverno. A espécie não foi
população invernante deverá incluir alguns indi- observada nos arquipélagos atlânticos.
víduos migradores oriundos da Europa Ociden-
tal (Catry et al. 2010). Existem também dados Distribuição e abundância A espécie não foi detetada nos arquipélagos
que apontam para que nalgumas áreas o alca- na migração pós-nupcial dos Açores e da Madeira.
ravão possa efectuar alguns movimentos sazo-
nais. Por exemplo, no Algarve têm sido detecta- Tal como no inverno, durante o período
dos bandos durante o inverno em áreas onde é pós-nupcial o alcaravão foi observado quase TEXTO
escasso durante a época reprodutora (Catry et exclusivamente a sul do rio Tejo, embora de Rui Morgado

192 Espécies regulares • Charadriiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Charadriiformes 193


Ostraceiro
Haematopus ostralegus

IMAGEM
D’Almeida Simões

Distribuição e abundância ICNF de 2004-2013 e do Projecto Arenaria de onde se verifica um aumento gradual dos efec-
no inverno 2009-2011) e é constituída maioritariamente tivos que, de duas a três centenas de indivíduos
por aves provenientes do Reino Unido e da em Julho, ascendem a mais de oitocentos em
Em Portugal Continental, o ostraceiro Holanda (Cidraes-Vieira 1998). Novembro (Cidraes-Vieira 2004).
ocorre na faixa litoral, sendo muito raros os
registos no interior. A espécie utiliza predo- No arquipélago dos Açores, a espécie ocorre Na época de migração foi registada a
minantemente estuários e zonas lagunares de forma acidental, tendo sido detectada em S. sua presença no arquipélago dos Açores, da
costeiras, sendo a linha de costa utilizada por Miguel durante o período de inverno. Madeira e das Selvagens. Nos Açores, a sua
menos de 16% das aves (Lecoq et al. 2013). É presença foi detectada na ilha de S. Miguel,
mais abundante na zona sul do pais, sendo a Nos arquipélagos da Madeira e das Selva- embora sejam conhecidos registos em outras
Ria Formosa o local mais importante de inver- gens, a espécie ocorre também de forma ilhas (e.g. Jara et al. 2009-2010)
nada com cerca de 3/5 dos efectivos nacio- acidental, não tendo sido registada durante os
nais, seguindo-se-lhe o estuário do Sado. Em trabalhos deste atlas no período de inverno. A espécie não foi detetada nos arquipéla-
conjunto, estes dois sítios albergam 3/4 dos gos dos Açores e da Madeira.
efectivos nacionais. Os outros locais relevan-
tes a nível nacional são o estuário do Minho, a Distribuição e abundância
Ria de Aveiro, a lagoa de Óbidos, o estuário do na migração pós-nupcial
Tejo, a costa de Aljezur e a Ria de Alvor.
No período migratório pós-nupcial a distri-
A população invernante foi estimada em buição é semelhante à do inverno. A Ria Formosa TEXTO
1240 indivíduos (com base nas contagens do continua a ser o principal local de ocorrência, Paulo Catry

194 Espécies regulares • Charadriiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Charadriiformes 195


Pernilongo
Himantopus himantopus

IMAGEM
Faísca

TEXTO
Ana Teresa Marques

Modelação

M I GR AÇÃ O PÓS- N U PCIA L

Distribuição e abundância et al. 2010). Alguns dos pernilongos observa- Os padrões de distribuição do pernilongo
no inverno dos durante o inverno deverão ser sedentários durante o período pós-nupcial são semelhantes
(Rufino & Neves 1995), no entanto, a origem aos obtidos para o inverno. A espécie ocorre
É a sul do rio Tejo que o pernilongo se encon- da maioria das aves observadas neste período pontualmente ao longo da faixa litoral a Norte
tra em maior número e onde tem uma maior ainda está por determinar (Catry et al. 2010). do rio Tejo, e de forma mais regular, ainda que
área de distribuição. Foi encontrado nos estuá- esparsa, na faixa litoral a sul desse rio, em parti-
rios do Tejo e do Sado, na lagoa de Santo André Os resultados obtidos indicam valores de cular na costa algarvia. No interior do país está
e por toda a costa algarvia. É também comum abundância semelhantes entre a zona litoral presente de forma dispersa no Alentejo. A
no interior alentejano, desde que existam habi- e a zona interior do país, contrariamente aos abundância da espécie atingiu valores supe-
tats aquáticos disponíveis. A Norte do rio Tejo resultados de contagens do CEMPA/ICNB que riores aos registados na invernada, com um
foi encontrado na ria de Aveiro e ao longo do rio indicam valores superiores na zona algarvia, máximo de 20,0 indivíduos por hora.
Mondego. Registaram-se valores máximos de nomeadamente na Ria Formosa e em Castro
adundância de 13,7 aves por hora. Marim (Catry et al. 2010). Algumas das aves observadas neste
período podem ainda ser reprodutoras ou
Estes dados corroboram a expansão da A espécie não foi observada nos arquipéla- juvenis, dado que os indivíduos migrantes
população invernante de pernilongo no terri- gos da Madeira e dos Açores. podem abandonar tardiamente os locais de
tório continental (Rufino & Neves 1995), a qual reprodução (Lopes et al. 2005).
estava confinada ao sotavento algarvio na
década de 1980, com os primeiros registos no Distribuição e abundância Foi efectuado um registo no arquipélago
estuário do Tejo a datar dos anos 1990 (Catry na migração pós-nupcial das Selvagens onde a espécie é acidental.

196 Espécies regulares • Charadriiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Charadriiformes 197


Alfaiate
Recurvirostra avosetta

IMAGEM
Faísca

Distribuição e abundância Ocidental (Delany et al. 2009). Os efectivos Distribuição e abundância


no inverno mais importantes desta espécie concentram- na migração pós-nupcial
-se nos estuários do Tejo e do Sado, destacan-
O alfaiate ocorre maioritariamente em do-se ainda a Ria de Aveiro, a Ria Formosa e a Em Portugal, os movimentos de migra-
estuários e sistemas lagunares costeiros, Reserva Natural de Castro Marim como locais ção pós-nupcial do alfaiate são pouco notórios
sendo mais raramente encontrado em lagoas importantes para a invernada da espécie. Nos (Catry et al. 2011). Durante os meses de Agosto
e barragens do interior do país. Nos ecossis- trabalhos do presente Atlas, a espécie foi a Outubro a espécie ocorre em pequenos núme-
temas costeiros, os alfaiates alimentam-se em ainda detectada no interior centro, nas barra- ros na maioria dos locais de invernada, sendo
extensas zonas intertidais e, em menor grau, gens de Montargil e Maranhão, e na barragem apenas localmente abundante nas suas áreas
em complexos de salinas. As populações de de Beringel, no interior sul do país. Tendên- de reprodução, maioritariamente localizadas no
alfaiate invernantes em Portugal são oriun- cias de decréscimo foram registadas no estuá- sotavento algarvio (Catry et al. 2004). Em relação
das em grande parte do Mar de Wadden rio do Tejo entre as décadas de 1970 e 1980, à distribuição registada no inverno nos traba-
(Holanda, Alemanha e Dinamarca), mas e na Ria de Aveiro nos últimos 35 anos (Catry lhos do presente Atlas, é de mencionar apenas a
também do Reino Unido, França e Espanha. et al. 2011). No entanto, no estuário do Sado presença da espécie na Barragem do Caia.
Apesar de significativas variações interanuais e na Ria Formosa, bem como no estuário do
no número de aves, a população invernante Tejo desde os anos 1990, os efectivos popula- A espécie não ocorre nos arquipélagos dos
ultrapassa frequentemente uma dezena de cionais evidenciam alguma estabilidade (Catry Açores e da Madeira.
milhar de indivíduos (Catry et al. 2011), repre- et al. 2011). A espécie não ocorre nos arquipé- TEXTO
sentando 10-20% da população da Europa lagos dos Açores e da Madeira. Teresa Catry

198 Espécies regulares • Charadriiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Charadriiformes 199


Abibe
Vanellus vanellus

IMAGEM
José Viana

TEXTO
Domingos Leitão

Modelação

I NV E R NO

Distribuição e abundância Esta espécie é gregária durante o inverno, Distribuição e abundância


no inverno podendo ser observada em bandos, por na migração pós-nupcial
vezes com várias centenas de aves. As maio-
Durante o inverno o abibe foi registado de res concentrações foram registadas no Baixo Durante este período o abibe apresentou
forma contínua em vastas áreas da metade sul Tejo e um pouco por todo o Alentejo. uma distribuição semelhante à do inverno, mas
de Portugal Continental e em algumas áreas com maior descontinuidade e menor abun-
da metade norte. No sul ocorreu por todo o O abibe é uma espécie essencialmente dância. Este período de censo não amostrou
Alentejo e ao longo de toda a costa, estando invernante em Portugal (Catry et al. 2010), os maiores contingentes de aves provenien-
ausente nas serras algarvias, nas serras de cuja população é proveniente de uma vasta tes do Norte da Europa, que só chegam ao
Odemira, Cercal e Grândola e de grande região da Europa Ocidental, que inclui a nosso país no final de outubro (Leitão 2003).
parte da península de Setúbal e da zona Península Ibérica, França, Ilhas Britânicas, Os abibes que ocorrem em Portugal durante
oeste. Na metade norte ocorreu de forma Países Baixos, Alemanha, Escandinávia e toda os meses de agosto e setembro são essencial-
regular na campina de Idanha e de forma a bacia do Báltico (Leitão & Peris 2004). Estas mente aves provenientes de locais de repro-
irregular ao longo da costa e dos planaltos aves utilizam principalmente os campos aber- dução mais próximo, na Península Ibérica e em
Beirão e Transmontano. Esteve ausente nas tos do sul e do litoral, procurando alimento França (Leitão 2003, Catry et al. 2010).
áreas florestais e montanhosas entre o Tejo em pastagens, pousios, restolhos e terrenos
e o Douro e foi registado num número muito lavrados (Leitão 1999). Neste período o abibe foi registado na
reduzido de quadrículas a norte do Douro. Terceira e em São Miguel. A espécie é de ocor-
Esta distribuição coincide com o padrão de O abibe não foi registado na Madeira e rência rara, mas regular nos Açores. Não foi
distribuição invernal conhecido para a espé- nos Açores nesta altura do ano. registada na Madeira, onde também é rara
cie (Leitão & Peris 2003, Catry et al. 2010). mas de ocorrência regular.

200 Espécies regulares • Charadriiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Charadriiformes 201


Tarambola-dourada
Pluvialis apricaria

IMAGEM
Teodoro

TEXTO
Domingos Leitão

Modelação

I NV E R NO

Distribuição e abundância Esta distribuição coincide com o padrão inver- A tarambola-dourada não foi registada na
no inverno nal conhecido para a espécie (Leitão & Peris Madeira e nos Açores, onde é uma espécie de
2003, Catry et al. 2010). Esta espécie é gregá- ocorrência acidental.
Durante o inverno a tarambola-dourada foi ria durante o inverno, podendo ser observada
registada quase exclusivamente na metade em bandos, por vezes com vários milhares de
sul de Portugal Continental. No sul ocorreu aves. As maiores concentrações foram regista- Distribuição e abundância
nas áreas abertas do Alentejo interior, do vale das no Alto Alentejo. na migração pós-nupcial
do Baixo Tejo e ao longo da costa, estando
ausente das serras algarvias, das serras costei- A tarambola-dourada é uma espécie exclu- Durante este período a tarambola-dourada
ras de Odemira até Grândola, das serras do sivamente invernante no nosso país (Catry et apresentou uma distribuição muito fragmen-
interior (Portel, Ossa e São Mamede) e de al. 2010). As aves que invernam em Portugal tada. A espécie é rara e localizada nesta altura
grande parte da península de Setúbal e da são provenientes de uma vasta região árctica do ano, porque o grosso dos contingentes só
zona oeste. Na metade norte ocorreu de forma e sub-árctica, desde a Islândia até a Penín- chegam ao nosso país em meados de novem-
esporádica ao longo da costa, na campina de sula do Taimir, no Norte da Sibéria (Leitão & bro (Leitão 2003).
Idanha e no planalto Transmontano. Esteve Peris 2004). Estas aves utilizam principalmente
ausente de vastas áreas florestais e monta- os campos abertos do sul e do litoral, procu- Neste período não ocorreram registos na
nhosas entre o Tejo e o Douro e foi registada rando alimento essencialmente em pastagens Madeira e nos Açores.
apenas em cinco quadrículas a norte do Douro. e pousios (Leitão 1999).

202 Espécies regulares • Charadriiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Charadriiformes 203


Tarambola-cinzenta
Pluvialis squatarola

IMAGEM
Faísca

Distribuição e abundância No entanto, conhecem-se numerosas observa- a espécie ocupa um menor número de locais
no inverno ções de tarambola-cinzenta em ilhas do grupo e é menos abundante do que durante a inver-
central e em Santa Maria, nos invernos de nada. As principais zonas húmidas do noroeste
Fora da época de reprodução, a tarambo- 2011/2012 e 2012/2013 (http://avesdosazores. do continente parecem ser mais importantes
la-cinzenta ocorre principalmente em zonas wordpress.com/) pelo que a sua real distribui- como locais de invernada do que como áreas
costeiras e estuarinas (Snow & Perrins 1998). ção no arquipélago deverá ser mais alargada do de repouso e alimentação no âmbito dos
Exceptuando três registos no interior alente- que a aqui apresentada. A escassez de registos deslocamentos migratórios pós-reprodutores
jano, esta espécie apresenta uma distribuição invernais de tarambola-cinzenta nestes arquipé- (Cardia 2011).
invernal restrita às zonas húmidas junto ao lito- lagos atlânticos deverá justificar-se pela distân-
ral. Tem uma distribuição invernal mais extensa cia face às principais rotas de migração e a redu- Os registos insulares de tarambola-cinzenta
na metade sul do território continental, onde se zida disponibilidade de habitat adequado. na migração pós-nupcial restringiram-se a duas
localizam os mais importantes locais de inver- ilhas do grupo central dos Açores: Terceira e
nada (Catry et al. 2010): o estuário do Tejo, o Pico. Uma vez que a cobertura geográfica foi
estuário do Sado e a ria Formosa. Na metade Distribuição e abundância bastante menor durante esta época, é possível
norte do continente, a tarambola-cinzenta tem na migração pós-nupcial que a distribuição da espécie seja mais extensa,
uma presença mais localizada, embora possa sendo esta hipótese apoiada pela observação
ser pontualmente abundante em alguns estuá- Durante a migração pós-nupcial, a taram- de tarambolas-cinzentas na ilha de Santa Maria
rios no noroeste e na ria de Aveiro. bola-cinzenta é menos abundante no conti- em duas ocasiões no mês de Outubro de 2012
nente, embora tenha uma distribuição muito e pela observação de uma ave em São Miguel,
A tarambola-cinzenta deverá ser uma ave semelhante à da época de invernada (Catry et em duas ocasiões em Setembro de 2011 (aves-
invernante muito escassa nas ilhas dos Açores al. 2010). Durante este período, os locais mais dosazores.wordpress.com/).
e Madeira. Durante este trabalho registou-se a importantes para esta espécie são os estuários
sua presença apenas numa quadrícula da ilha do Tejo e Sado, a lagoa de Santo André e a TEXTO
São Miguel e numa da Terceira, nos Açores. Ria Formosa. Na metade norte do continente Pedro Cardia

204 Espécies regulares • Charadriiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Charadriiformes 205


Borrelho-grande-de-coleira
Charadrius hiaticula

IMAGEM
Faísca

Distribuição e abundância Nos arquipélagos, e no âmbito dos traba- grande medida a do inverno, tendo sido detec-
no inverno lhos de campo deste Atlas, foi apenas regis- tada um pouco por toda a faixa costeira e em
tado no Cabo da Praia na Ilha Terceira e no algumas zonas húmidas do interior. Em termos
Esta é uma limícola que ocorre sobretudo Pico, Açores. Existem no entanto referências de abundância destacam-se a ria de Aveiro, a
nas grandes zonas húmidas costeiras de Portu- à sua presença também em São Miguel e em ria Formosa e o litoral de Esposende
gal Continental. Foi detectada também um Santa Maria (Pereira 2010), na Madeira e no
pouco por toda a costa continental não estua- Porto Santo, e é acidental nas Selvagens. Já nos Açores a sua distribuição parece
rina (em ca. de 15% das quadrículas visitadas ser mais alargada durante a migração, tendo
no âmbito do Projecto Arenaria; Lecoq et al. sido detectada novamente na Terceira, mas
2013), na qual se encontra sobretudo asso- Distribuição e abundância também no Pico, no Corvo e nas duas ilhas
ciada a substratos rochosos (Lourenço et al. na migração pós-nupcial do Grupo Oriental. Esta maior dispersão na
2013). Durante o inverno este borrelho distri- distribuição da espécie durante a migração
bui-se também por algumas zonas húmidas Portugal Continental encontra-se na rota pós-nupcial é visível também pela sua ocor-
do interior, podendo ser observado a procurar migratória dos borrelhos-grandes-de-coleira rência no arquipélago da Madeira, onde foi
alimento nas margens de açudes e barragens que nidificam no Árctico e invernam na costa detectada na lagoa do Lugar de Baixo, no
(Elias et al. 1998). africana, sendo os meses de Agosto e Setem- Porto Santo e nas Ilhas Selvagens.
bro os que apresentam o maior fluxo de migra-
É particularmente abundante nas rias dores na costa portuguesa (Catry et al. 2010).
Formosa e de Aveiro, reflexo provavelmente
da sua preferência por sedimentos mais areno- A distribuição desta espécie em Portugal TEXTO
sos (Granadeiro et al. 2007). Continental durante este período reflecte em Maria Peixe Dias

206 Espécies regulares • Charadriiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Charadriiformes 207


Borrelho-semipalmado
Charadrius semipalmatus

IMAGEM
João Quaresma

Distribuição e abundância do âmbito dos trabalhos de campo deste atlas Todos os registos obtidos durante este
no inverno (Notícias dos Açores 2013). período foram realizados no mês de Outubro, o
que parece corresponder ao período de maior
Esta é uma espécie de origem neártica, O borrelho-semipalmado não ocorre no movimentação de espécies neárticas nos Açores.
que tem sido registada nos Açores com regu- Continente nem na Madeira.
laridade. Até 2011 era considerada uma espé- O borrelho-semipalmado ocorre preferen-
cie acidental, cujas observações necessitavam cialmente em zonas costeiras, sujeitas ao ciclo
de homologação pelo Comité Português de Distribuição e abundância das marés, podendo estas no entanto apre-
Raridades. na migração pós-nupcial sentar diversas tipologias de habitat, como:
piscinas naturais, praias arenosas e de calhau
Durante o Inverno o borrelho-semipal- No decorrer da migração pós-nupcial a rolado, estruturas portuárias e pastagens adja-
mado apenas foi registado na ilha Terceira, na espécie foi detectada em Santa Maria, na centes. A espécie foi também observada, com
pedreira do Cabo da Praia, local onde pode ser Terceira e no Faial, sendo conhecidos no menor frequência, em aeroportos, margens de
observado durante todo o ano (Pereira 2013). entanto diversos registos nas Flores, no Corvo, lagoas e pastagens. A maior parte das obser-
Contudo, existem várias observações desta em São Jorge, no Pico e em São Miguel (Azores vações diz respeito a um ou dois indivíduos,
espécie em São Miguel e no Pico, realizadas fora Bird Sightings 2014; Notícias dos Açores 2014). sendo raros os bandos maiores.

TEXTO
Carlos Pereira

208 Espécies regulares • Charadriiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Charadriiformes 209


Borrelho-pequeno-de-coleira
Charadrius dubius

IMAGEM
Faísca

TEXTO
Ana Teresa Marques

Modelação

M I GR AÇÃO PÓS- N U PCIA L

Distribuição e abundância Apesar da distribuição localizada, a abun- regularidade durante o mês de Setembro
no inverno dância da espécie neste período revelou-se (Catry et al. 2010). A abundância da espécie
superior à obtida durante a migração pós-nup- não ultrapassou os 4,7 indivíduos por hora.
O borrelho-pequeno-de-coleira ocorre cial, atingindo as 6 aves por hora.
maioritariamente no interior do país, nos Parte dos registos têm correspondência
distritos de Évora e Portalegre. A espécie A espécie não foi observada nos arquipéla- com os locais de reprodução, já que estes
foi também observada, de forma pontual, gos da Madeira e dos Açores durante o inverno. borrelhos podem permanecer nos territórios
no interior do distrito de Beja e na faixa lito- de nidificação até aos finais de Agosto. No
ral, em particular na ria de Aveiro, nos estuá- Distribuição e abundância entanto, a maioria das aves observadas neste
rios do Tejo e do Sado e no rio Mondego. na migração pós-nupcial período correspondem a indivíduos em passa-
Os registos no Algarve foram escassos. A gem para sul, podendo ter origem noutras
maioria dos invernantes deverá correspon- No período pós-nupcial a espécie ocorre regiões europeias, nomeadamente na Europa
der a indivíduos reprodutores, que chegam de forma dispersa pelo território continental. A setentrional (Catry et al. 2010).
cedo ou que passam o inverno na Península maioria dos registos centra-se na zona interior
Ibérica (ver del Hoyo et al. 1996). Mas não do Alentejo, com registos pontuais no distrito A espécie foi observada no arquipélago
se pode afastar a possibilidade de existirem de Castelo Branco. Também se fizeram obser- da Madeira, nas ilhas Selvagens, registo que
indivíduos invernantes originários do Norte vações um pouco por toda a zona costeira, deverá estar associado a aves que se desviam
da Europa. onde a espécie costuma ser observada com das rotas de migração.

210 Espécies regulares • Charadriiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Charadriiformes 211


Borrelho-de-coleira-interrompida
Charadrius alexandrinus

IMAGEM
Faísca

Distribuição e abundância dunares, lagoas costeiras, praias fluviais, arrozais, Marim. Foram obtidos alguns registos no inte-
no inverno terrenos alagados, represas (Elias et al. 1998, rior, a norte, no distrito da Guarda e, a sul, no
Catry et al. 2010) e ainda, no arquipélago dos distrito de Évora. Registaram-se abundâncias
Durante o Inverno o borrelho-de-colei- Açores, em aeroportos (pistas e terrenos adja- mais elevadas no Litoral Norte e no Algarve,
ra-interrompida ocorre em todo o litoral, de centes), instalações portuárias, pastagens costei- facto que parece ir ao encontro do referido por
norte a sul, sendo mais abundante na Ria de ras e terrenos lavrados (Aves dos Açores 2014). Catry et al. (2010) nesta época do ano, em que
Aveiro, estuários do Tejo e Sado, assim como ocorrem aves oriundas de várias proveniências,
no Algarve, na área da Ria Formosa e Castro A população invernante é da ordem dos de passagem, sendo possivelmente mais nume-
Marim. No interior existe um registo, a norte, poucos milhares de aves, originários das popu- rosas que as invernantes.
no distrito da Guarda e, a sul, dois registos nos lações reprodutoras ibéricas e de países mais
distritos de Évora e Beja. a norte, como a Alemanha, Holanda e França No arquipélago da Madeira, a espécie foi
(Catry et al. 2010). detectada em Porto Santo, e nos Açores obtive-
Nos Açores, apenas foi detectado em Santa ram-se registos na zona do aeroporto de Santa
Maria, na área do aeroporto, e na Terceira, na Maria, na área costeira da Praia da Vitória e na
zona da Praia da Vitória, locais onde é conhe- Distribuição e abundância Cadeira das Lajes, na Terceira. A espécie poderá
cida a sua ocorrência como residente (Pereira na migração pós-nupcial ocorrer noutras ilhas do arquipélago açoriano no
2010). No arquipélago da Madeira não foi Outono e Inverno (Pereira 2010), embora tal não
obtido qualquer registo durante esta época de No período de migração pós-nupcial, a espé- tenha sido reportado durante os trabalhos de
amostragem. cie mantém o mesmo padrão de distribuição campo deste atlas.
observado no Inverno, tendo sido registado de
O borrelho-de-coleira-interrompida pode forma mais homogénea, sobretudo no estuá- TEXTO
ocorrer em estuários, salinas, praias e zonas rio do Tejo, na Ria Formosa e na zona de Castro Carlos Pereira

212 Espécies regulares • Charadriiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Charadriiformes 213


Borrelho-ruivo
Eudromias morinellus

IMAGEM
Paulo Belo

Distribuição e abundância Continental, localizadas maioritariamente junto


no inverno à costa. É uma espécie pouco abundante que
pode ocorrer por todo o país, em áreas planas
O borrelho-ruivo é uma espécie muito rara e abertas (Catry et al. 2010). Estas aves são origi-
em Portugal durante o inverno. Não foram efec- nárias das regiões árticas e alpinas do norte da
tuados quaisquer registos da espécie durante Europa e passam por Portugal entre o fim de
este período. julho e novembro.

Relativamente às ilhas, neste período do


Distribuição e abundância ano, o borrelho-ruivo foi registado numa única
na migração pós-nupcial quadrícula, na ilha de Santa Maria (Açores). A
espécie é de ocorrência rara e acidental, tanto
Durante o período pós-nupcial, este borrelho nos Açores como na Madeira. TEXTO
foi registado em nove quadrículas de Portugal Domingos Leitão

214 Espécies regulares • Charadriiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Charadriiformes 215


Galinhola
Scolopax rusticola

IMAGEM
D. Trujillo

Distribuição e abundância períodos venatórios demonstram que é mais que grande parte do efetivo só chega a Portu-
no inverno abundante na região centro/sul do país (Gonçal- gal Continental a partir do final de Novem-
ves et al. 2012, Rodrigues et al. 2013a,b). bro (Gonçalves et al. 2012, Rodrigues et al.
A metodologia de censo adotada para este 2013a,b). Assim, o período definido para avaliar
atlas não é a mais adequada para a detecção da Nos arquipélagos dos Açores e Madeira a a distribuição e abundância durante a migra-
galinhola. Assim, recorreu-se à análise de regis- galinhola é residente e a sua distribuição no ção pós-nupcial não foi o mais adequado. O
tos adicionais provenientes da monitorização inverno não deverá ser diferente da obser- único registo adicional obtido neste período
da caça a esta espécie, realizada em Portugal vada em período de reprodução. Nos Açores, não justifica a apresentação do mapa corres-
Continental pela Associação Nacional de Caça- a espécie era dada como ausente das ilhas pondente.
dores de Galinholas e nos Açores pela Direção Graciosa e Santa Maria, mas recentemente
Regional dos Recursos Florestais. Estes registos, foram observadas aves em exibição na ilha Os hábitos sedentários da galinhola nos
embora sujeitos a enviesamento geográfico, Graciosa (2013, M.Leitão com. pess.). Os regis- arquipélagos dos Açores e Madeira suge-
são importantes para perceber a distribuição da tos adicionais, obtidos na caça, dizem respeito rem que a sua distribuição durante o período
galinhola nestes territórios. Na Madeira a espé- só às ilhas Terceira e Pico. pós-nupcial não será diferente da distribuição
cie não foi observada durante as visitas sistemá- durante a reprodução. Existirão casos exce-
ticas, nem se obtiveram registos adicionais. cionais, como os das duas galinholas caçadas
Distribuição e abundância em Porto Santo, uma em 1997 e outra em 1998
Em Portugal Continental a galinhola só na migração pós-nupcial (Oliveira 1999).
ocorre no outono e no inverno. O facto de ter
sido observada em todos os distritos sugere A variação da abundância de galinhola ao TEXTO
uma distribuição alargada. Os dados de vários longo de vários períodos venatórios mostra David Gonçalves e Tiago Rodrigues

216 Espécies regulares • Charadriiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Charadriiformes 217


Narceja-galega
Lymnocryptes minimus

IMAGEM
Agostinho Gomes

Distribuição e abundância devendo-se mais esta escassez de observações e nos Açores, em Santa Maria, em São Miguel,
no inverno a uma inadequada técnica de amostragem nos na Terceira e no Corvo (C. Pereira in CPR 2008;
habitats onde ocorre (Pereira 2000). BirdingAzores 2011). Ainda durante o período
Durante os trabalhos de campo deste atlas deste atlas foi registada na ilha Terceira (Aves
foram apenas obtidos nove registos de narceja- A narceja-galega frequenta o mesmo género dos Açores 2013).
-galega em Portugal Continental. Estas obser- de habitats que a narceja-comum: restolhos de
vações foram efectuadas sobretudo no sul, arroz, diversos terrenos alagados, margens de
quatro delas nos vales dos rios Tejo e Sado. pauis, orlas de sapais alagados, margens de Distribuição e abundância
Na Ria de Aveiro, no vale do Baixo Mondego, lagoas e açudes (Catry et al. 2010) e, no arqui- na migração pós-nupcial
no estuário do Alvor, ou nos arrozais de Rio pélago açoriano, pastagens intensivas alaga-
Frio e do Caia, alguns dos locais onde a espé- das, pastagens semi-naturais e margens de A narceja-galega não foi detectada neste
cie é mais abundante (Pereira & Campos 2000, lagoas e charcas. período, apesar de existirem registos anteriores
Pereira 2000, Catry et al. 2010), não foi realizado a este atlas (C. Pereira in CPR 2008, BirdingA-
qualquer registo. Assim, a distribuição muito Nas regiões insulares a narceja-galega foi zores 2011).
localizada desta pequena limícola, referen- detectada apenas na ilha Terceira. Existem
ciada no mapa, não deverá corresponder à sua referências anteriores que comprovam a sua TEXTO
real situação no nosso país durante o Inverno, ocorrência acidental na Madeira (Costa 2011) Carlos Pereira

218 Espécies regulares • Charadriiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Charadriiformes 219


Narceja-comum
Gallinago gallinago

IMAGEM
Tiago Caravana

Distribuição e abundância Unido, a Finlândia, a Eslováquia, a Repú- Distribuição e abundância


no inverno blica Checa, a Áustria e a Ucrânia (Catry et na migração pós-nupcial
al. 2010).
Durante o Inverno a narceja-comum foi Durante o período pós-nupcial a narceja
registada de norte a sul do território conti- A espécie não foi detectada na Madeira também foi detectada de norte a sul de Portu-
nental, embora apresentando uma grande durante a realização dos trabalhos de campo gal Continental, mostrando áreas de desconti-
descontinuidade geográfica. As maiores deste atlas, embora seja invernante rara e nuidade mais acentuadas; não foi registada na
abundâncias verificaram-se nas zonas húmi- irregular nesta ilha (Costa et al. 2011). Nos bacia do Mondego, facto que se deverá prova-
das costeiras dos distritos de Aveiro e bacias Açores foi detectada em todas as ilhas, com velmente a amostragem insuficiente.
dos rios Mondego, Tejo e Sado, assim como excepção de Santa Maria e da Graciosa,
na área das lagoas de Melides e de Santo evidenciando um padrão de distribuição No arquipélago dos Açores a espécie
André. A Norte e a Sul do rio Tejo a espécie espacial semelhante ao da época de repro- apenas foi registada em Santa Maria, em São
revela-se pouco abundante, ou ausente nas dução (Pereira 2005, Equipa Atlas 2008). No Miguel, na Terceira e Flores. De referir que em
zonas que coincidem com os grandes maci- Faial, em São Jorge e na Terceira foi onde se Santa Maria, em São Miguel e numa quadrí-
ços montanhosos ou serras; ainda que essa registaram as maiores abundâncias. As ausên- cula da Terceira os registos aconteceram fora
ausência se possa dever a uma cobertura cias em Santa Maria e na Graciosa devem-se da sua área de reprodução, contrariamente à
insuficiente, assim como ao facto de se tratar provavelmente a cobertura insuficiente, pois maioria das observações realizadas durante o
de uma espécie de difícil detecção. Os indi- fora do período de realização deste trabalho Inverno. A ausência de registos nas restantes
víduos invernantes no nosso país podem ter é conhecida a sua presença nessas ilhas (Aves ilhas deve-se a falta de cobertura durante este
origens tão diversas como a Islândia, o Reino dos Açores 2014). período de amostragem.

TEXTO
Carlos Pereira

220 Espécies regulares • Charadriiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Charadriiformes 221


Milherango
Limosa limosa

IMAGEM
Faísca

Distribuição e abundância das contagens sistemáticas nas quadrícu- Distribuição e abundância


no inverno las do estuário do Tejo, onde é comum a na migração pós-nupcial
presença de mais de 30 mil aves nos arrozais
Em Portugal ocorrem duas subespécies, em Janeiro e Fevereiro (Cidraes-Vieira et al. Durante a migração pós-nupcial, esta
L.l. limosa originária maioritariamente da 2009), explica-se pela ausência censos diri- espécie também ocorre sobretudo no litoral
Holanda e L.l. islandica proveniente da Islân- gidos para esta espécie altamente gregá- sul, utilizando principalmente salinas e vasas
dia. A população europeia da primeira subes- ria. As outras zonas mais importantes neste intermareais, sendo o estuário do Tejo e o
pécie encontra-se em declínio, enquanto que período são os arrozais do Sado e as salinas sotavento algarvio as zonas mais importan-
a da segunda está em expansão (Gill et al. do sotavento algarvio que atingem mais de tes (Cidraes-Vieira et al. 2009). Nos Açores
2007). No continente, esta espécie inverna 15 mil e de 1500 indivíduos, respectivamente a espécie apenas foi detectada, durante os
sobretudo nas principais zonas húmidas do (Cidraes-Vieira et al. 2009). É um migrador trabalhos deste atlas, em Santa Maria e na
litoral sul, onde são mais abundantes os habi- precoce, sendo os indivíduos presentes nos Terceira. É pouco comum neste arquipélago,
tats onde se alimenta, nomeadamente arro- arrozais no final do inverno, aves em escala na sendo o Cabo da Praia o local onde ocorre
zais, salinas e vasas intermareais (Cidraes- migração pré-nupcial. com mais frequência (e.g. Leitão & Cidraes-
-Vieira 1998). Também pode ser observada -Vieira 2011). A espécie não foi registada nos
em lagoas costeiras, açudes e terrenos No arquipélago dos Açores a espécie foi arquipélagos da Madeira e das Selvagens
encharcados, por vezes no interior. Neste detectada apenas na ilha da Terceira, exis- durante os trabalhos deste atlas, mas são
período, a maioria das aves que se alimenta tindo no entanto registos para a ilha de S. conhecidos alguns registos no arquipélago
em ambientes salinos é da subespécie islan- Miguel (e.g. Leitão & Cidraes-Vieira 2008). da Madeira (e.g. Elias 2005).
dica, enquanto que nos arrozais é da subes- É uma espécie ocasional no arquipélago da
pécie nominal (Alves et al. 2010). A inexis- Madeira (Romano et al. 2010), tendo sido TEXTO
tência de observações durante a realização neste período registada em Porto Santo. Nuno Cidraes-Vieira

222 Espécies regulares • Charadriiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Charadriiformes 223


Fuselo
Limosa lapponica

IMAGEM
Faísca

Distribuição e abundância dinávia e L. l. taymyrensis que se reporduz na localização no Centro do país, na bacia do
no inverno Sibéria. Ambas ocorrem no período da migra- Tejo. Uma vez que indivíduos em migração
ção, mas os indivíduos que invernam em Portu- utilizam diversas áreas de repouso, é natu-
No período de inverno o fuselo apresenta gal correspondem exclusivamente à subespé- ral que zonas húmidas não costeiras possam
uma distribuição exclusivamente costeira cie lapponica, cujo limite sul de distribuição é também ser utilizadas neste período. À seme-
ocupando áreas estuarinas, nomeadamente os o Sul da Europa (van de Kam et al. 2004). lhança do período de Inverno, a ocorrência
estuário do Tejo e Sado e as rias Formosa e de da espécie nas visitas sistemáticas registou-
Aveiro, bem como áreas de costa não estua- Existe um registo em São Miguel (Açores) -se sobretudo nas zonas estuarinas da Ria
rina (Lecoq et al. 2013). Sendo mais abundante durante o inverno. Esta espécie encontra- Formosa, Estuários do Sado e do Cávado,
no Algarve, esta espécie apresenta também -se ausente do arquipélago da Madeira no sendo no entanto o efectivo consideravel-
números de efectivos consideráveis na zona período de inverno. mente menor neste período.
Norte, particularmente no Minho. O estuário
do Tejo é uma reconhecida área de invernada Nos Açores, apenas um registo na Ilha
do fuselo, com números próximos ou superio- Distribuição e abundância Terceira foi obtido durante este período, possi-
res a 200 indivíduos registados no período de na migração pós-nupcial velmente indicando a utilização deste local
inverno de 2010 (Alves et al. 2011). Em Portu- como repouso por indivíduos em migração.
gal ocorrem duas subespécies de fuselo que Durante o período pós-nupcial o fuselo
ocupam distintas áreas reprodutoras no ártico: apresenta uma distribuição também exclu- TEXTO
L. l. lapponica, reproduz-se no norte da Escan- sivamente costeira com a excepção de uma José A. Alves

224 Espécies regulares • Charadriiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Charadriiformes 225


Maçarico-galego
Numenius phaeopus

IMAGEM
Faísca

Distribuição e abundância Nos Açores o maçarico-galego foi detec- homogénea ao longo do litoral a norte da Ria
no inverno tado na quase totalidade das ilhas, sendo de Aveiro e na costa Vicentina, e mais espa-
excepção a ilha das Flores. Foi detectado na çada no litoral da Estremadura. Nesta época,
Durante o inverno o maçarico-galego ocupa ilha da Madeira e em Porto Santo, com uma os locais onde foram detectadas as abundân-
exclusivamente locais situados nas zonas costei- abundância relativamente baixa. cias mais elevadas encontram-se igualmente
ras de Portugal Continental, estando bem na metade Sul do país. Contudo, o litoral
distribuído nas zonas húmidas dos estuários Norte apresenta também números relevan-
do Tejo e Sado e das rias de Aveiro e Formosa, Distribuição e abundância tes durante este período, o que muito prova-
bem como na envolvência destas áreas. É no na migração pós-nupcial velmente se poderá dever a movimentos
entanto de realçar a utilização de habitats não migratórios. No arquipélago dos Açores, e à
estuarinos pelo maçarico-galego, sendo que a Na migração pós-nupcial o maçarico- semelhança do período de inverno, a espé-
costa não estuarina alberga mais de um terço -galego foi detectado num maior número cie foi detectada em todos os grupos de
da sua população invernante (Lecoq et al. de locais em Portugal Continental. Embora ilhas, seguindo também neste período um
2013). Esta espécie apresenta uma distribui- muitos destes locais sejam os mesmos do gradiente crescente de abundância do grupo
ção mais vasta na metade Sul do país, sendo período de inverno, como é o caso das gran- Ocidental para o grupo Oriental. Na Madeira
também aqui onde ocorre em maior número, des zonas húmidas, a distribuição desta a espécie foi detectada em todas as ilhas do
particularmente no Algarve. espécie no período migratório torna-se mais arquipélago.

TEXTO
José A. Alves

226 Espécies regulares • Charadriiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Charadriiformes 227


Maçarico-real
Numenius arquata

IMAGEM
Faísca

Distribuição e abundância e a Ria Formosa. A lagoa de Óbidos é um local lhante à do período de inverno, mas exclusi-
no inverno de particular relevância para esta espécie, vamente confinada a zonas costeiras. De igual
tanto no período de inverno como de migra- forma, a abundância é superior na metade Sul
O maçarico-real foi detectado a inver- ção pós-nupcial (Lourenço 2006). De notar do país, particularmente na Ria Formosa e
nar em vários pontos da costa portuguesa e também a presença desta espécie em número estuários do Sado e do Tejo (Alves et al. 2010 &
numa zona húmida no Interior Centro do país, superior a 150 indivíduos no estuário do Tejo 2011). Contudo, o número de indivíduos detec-
estando muito associado a habitats de vasa entre Agosto e Fevereiro durante dois invernos tados nestas áreas é bastante superior no
intermareal ou a outros tipos de sedimentos consecutivos (Alves et al. 2010 & 2011). período migratório, reflectindo a sua função
finos, comuns em zonas húmidas. Esta asso- como zonas de paragem durante a migração
ciação deve-se à alimentação quase exclu- pós-nupcial (Alves et al. 2010 & 2011).
siva de presas que se encontram soterradas Distribuição e abundância
nestes sedimentos (van de Kam et al. 2004). na migração pós-nupcial
Esta espécie encontra-se em maior abundân-
cia nas zonas estuarinas do Sul do país, sendo No período de migração pós-nupcial a TEXTO
de destacar o Estuário do Sado, a Ria de Alvor distribuição do maçarico-real é muito seme- José A. Alves

228 Espécies regulares • Charadriiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Charadriiformes 229


Perna-vermelha-bastardo
Tringa erythropus

IMAGEM
António A. Gonçalves

Distribuição e abundância tudo em zonas húmidas de interior na África nomeadamente no centro e norte do país. Em
no inverno sub-sariana (van de Kam et al. 2004) apresen- termos de abundância, esta espécie apresenta
tando uma abundância relativamente baixa em valores semelhantes em duas zonas húmidas
O perna-vermelha-bastardo é pouco Portugal. costeiras (estuário do Tejo e Castro Marim) e
comum em Portugal. Nos censos sistemáti- numa zona de interior. Note-se que ao contrá-
cos foi registado em apenas dois locais do rio da maioria das aves limícolas que migram
interior no período de Inverno. Os registos Distribuição e abundância ao longo da costa, o perna-vermelha-bastar-
adicionais indicam a sua presença nas grandes na migração pós-nupcial dousa rotas migratórias de interior, parando
zonas húmidas costeiras na metade Sul do país para repousar em zonas húmidas interiores
para além do interior do Alentejo. Apesar de Durante a migração pós-nupcial o perna- (van de Kam et al. 2004).
poder estar presente em números superiores -vermelha-escuro foi detectado na quase
a 100 indivíduos no estuário do Tejo (Alves et totalidade das áreas em que foi registado no TEXTO
al. 2009 & 2010), esta espécie inverna sobre- período de inverno e também noutras zonas, José A. Alves

230 Espécies regulares • Charadriiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Charadriiformes 231


Perna-vermelha-comum
Tringa totanus

IMAGEM
José Sousa

Distribuição e abundância e do Sado são as principais áreas invernada do da invernada. Na metade norte do continente,
no inverno perna-vermelha, podendo por vezes acolher ocorre apenas nos principais estuários e zonas
mais de dois milhares de indivíduos (Alves et al. húmidas costeiras, mas a sul do Tejo frequenta
O perna-vermelha-comum é uma espé- 2010, 2011). A espécie está também presente também zonas húmidas interiores, principal-
cie predominantemente migradora, ainda que numa ampla zona do interior do Alto Alentejo e, mente no Alto Alentejo. Nesta época o perna-
existam populações sedentárias na costa Atlân- de forma localizada, na Beira Baixa. -vermelha é mais abundante junto ao litoral, em
tica europeia. As principais zonas de invernada particular nas zonas húmidas do sudeste algar-
situam-se na bacia Mediterrânica, na Península No arquipélago da Madeira, o perna-ver- vio e no estuário do Tejo, que albergam nesta
Ibérica e na África Ocidental (Snow & Perrins melha só foi registado numa quadrícula da ilha época efectivos superiores face ao período de
1998). Em Portugal Continental distribui-se de Porto Santo, durante a invernada. Não foi invernada (Alves et al. 2010, 2011).
predominantemente pelas quadrículas junto detectado nos Açores no âmbito dos trabalhos
ao litoral, de forma muito semelhante à distri- de campo deste atlas, existindo posteriormente Relativamente aos arquipélagos macaronési-
buição na época de reprodução. A principal e registos na ilha Terceira no Inverno de 2013 cos, a espécie foi registada durante a migração
mais extensa zona de ocorrência localiza-se no (Aves dos Açores 2013). pós-nupcial apenas na ilha Terceira, nos Açores.
Sudeste do Algarve, englobando a Ria Formosa
e o Sapal de Castro Marim. No seu conjunto,
as zonas húmidas do sudoeste ibérico, entre a Distribuição e abundância
Ria Formosa e a baía de Cádiz (Espanha; Hortas na migração pós-nupcial
2012), devem constituir a mais importante zona
de invernada do perna-vermelha na Península A distribuição do perna-vermelha-comum TEXTO
Ibérica. Na costa ocidental, os estuários do Tejo na migração pós-nupcial é muito semelhante à Pedro Cardia

232 Espécies regulares • Charadriiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Charadriiformes 233


Perna-verde
Tringa nebularia

IMAGEM
Luís Rodrigues

Distribuição e abundância populacionais encontram-se no sudeste Algar- cial tem uma presença mais alargada no inte-
no inverno vio, e nos estuários do Tejo e Sado, embora a rior do Alentejo, quando comparado com a
espécie possa ser abundante em zonas húmi- invernada, e ocorre, de forma muito localizada,
Na Europa Ocidental é uma espécie essen- das de menores dimensões. na Beira Baixa e em Trás-os-Montes.
cialmente migratória que inverna em zonas
húmidas das costas atlântica e mediterrânica Nos Açores, o perna-verde foi detectado Nos Açores, o perna-verde foi detectado
(Cramp & Simmons 1983). É menos gregário nas três maiores ilhas do grupo central e na ilha em ambas as ilhas do grupo oriental assim
do que outras limícolas, pelo que é observado de Santa Maria, no grupo oriental. como nas ilhas Terceira e do Pico, no grupo
normalmente em bandos pouco numerosos. central.
O perna-verde é mais abundante e tem uma
distribuição invernal mais alargada na metade Distribuição e abundância No arquipélago da Madeira o perna-verde
sul do território continental, onde ocorre nas na migração pós-nupcial foi detectado na ilha de Porto Santo e na da
principais zonas húmidas do litoral e do inte- Madeira.
rior do Baixo e Alto Alentejo. Na metade norte Tal como no período invernal, o perna-
está quase restrito às principais zonas húmi- -verde foi detectado principalmente em zonas
das litorais. Pelo número de quadrículas onde húmidas (estuários e rias) junto ao litoral do TEXTO
a espécie foi detectada, os principais núcleos território continental. Na migração pós-nup- Pedro Cardia

234 Espécies regulares • Charadriiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Charadriiformes 235


Maçarico-bique-bique
Tringa ochropus

IMAGEM
Faísca

TEXTO
Domingos Leitão

Modelação

I NV ERN O

Distribuição e abundância Distribuição e abundância


M I GRA ÇÃ O PÓS- N U PCIA L
no inverno na migração pós-nupcial
Durante o inverno o maçarico-bique-bique foi Durante o período pós-nupcial, o maçarico-
registado de forma descontínua por toda a metade -bique-bique apresenta uma distribuição seme-
sul de Portugal Continental e no distrito de Castelo lhante à do inverno, mas um pouco mais regular. A
Branco. A norte desta área, foi registado apenas abundância nesta altura do ano é também maior
num pequeno número de quadrículas muito disper- do que no inverno, tal como já referido por outros
sas. A abundância da espécie foi sempre reduzida, autores (Catry et al. 2010). A origem das aves que
correspondendo a maior parte das observações ocorrem em Portugal é desconhecida. Mas deverá
a aves isoladas (Catry et al. 2010). O maçarico- corresponder às áreas de nidificação mais próxi-
-bique-bique ocorre numa grande variedade de mas, da Escandinávia, bacia do Báltico e Rússia
zonas húmidas, naturais e artificiais, normalmente ocidental (Catry et al. 2010).
protegidas das marés. Tais como, margens de ribei-
ras, rios ou canais, barragens ou açudes, terrenos Relativamente às ilhas, neste período do ano,
alagados, arrozais ou pauis, lagoas costeiras e sali- o maçarico-bique-bique foi registado numa única
nas abandonadas (Catry et al. 2010). quadrícula na Madeira. A espécie é de ocorrên-
cia rara e acidental, tanto nos Açores como na
O maçarico-bique-bique não foi registado na Madeira.
Madeira e nos Açores nesta altura do ano.

236 Espécies regulares • Charadriiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Charadriiformes 237


Maçarico-de-dorso-malhado
Tringa glareola

IMAGEM
António A. Gonçalves

Distribuição e abundância Distribuição e abundância so-malhado pode ser observado entre agosto
no inverno na migração pós-nupcial e novembro, numa grande variedade de
zonas húmidas de água doce ou salgada, mas
Durante este período, o maçarico-de-dor- Durante o período pós-nupcial, este maça- normalmente protegidas da acção das marés
so-malhado foi registado apenas em cinco rico foi registado em 11 quadrículas de Portu- (Catry et al. 2010).
quadrículas de Portugal Continental. Trata-se gal Continental, localizadas junto à costa,
de uma espécie muito rara como invernante, entre a Ria Formosa, a Sul, e a Ria de Aveiro, Relativamente às ilhas, neste período do
que ocorre em Portugal como migrador de a Norte. A espécie não foi registada em algu- ano, o maçarico-de-dorso-malhado foi regis-
passagem. mas zonas húmidas costeiras onde ocorre tado numa única quadrícula, na ilha Terceira
regularmente, como o sapal de Castro Marim, (Açores). A espécie é de ocorrência rara e
Nas ilhas apenas foi observado numa a lagoa de Santo André e o estuário do Sado. acidental, tanto nos Açores como na Madeira.
quadrícula do arquipélago da Madeira. Isto poderá dever-se à menor capacidade da
metodologia implementada para a detecção TEXTO
das espécies mais raras. O maçarico-de-dor- Domingos Leitão

238 Espécies regulares • Charadriiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Charadriiformes 239


Maçarico-das-rochas
Actitis hypoleucos

IMAGEM
Luis Rodrigues

Distribuição e abundância çando o número de efetivos desta espécie maiores abundâncias têm sido registadas nos
no inverno (Catry et al. 2010). meses de outono (nomeadamente entre julho
e outubro), havendo um pico do fluxo migrató-
O maçarico-das-rochas é uma espécie asso- Nos territórios insulares apenas foram rio no mês de agosto (Lourenço 2006, Alves et
ciada a zonas húmidas que ocorre ao longo de efetuadas observações nas ilhas da Madeira al. 2010, 2011). Este facto sugere que o terri-
todo o litoral de forma dispersa, sobretudo em e Porto Santo, tratando-se de um invernante tório continental é mais importante enquanto
estuários e lagunas costeiras. Surge ainda em ocasional de números reduzidos neste arqui- local de passagem da rota migratória do que
charcas e albufeiras no interior Sul do territó- pélago (PNM 2009). enquanto local de invernada desta espécie
rio continental de forma descontínua mas com (Catry et al. 2010).
relativa frequência, especialmente no Norte
alentejano. É um invernante raro no interior a Distribuição e abundância A presença da espécie foi também registada
norte do Tejo, aparecendo apenas de forma na migração pós-nupcial em ambos os arquipélagos: nas ilhas Terceira
esporádica. Durante este período julga-se que e São Miguel, nos Açores; e na Madeira, no
a população seja na sua maioria composta por Durante o período de migração pós-nup- arquipélago homónimo. As observações desta
indivíduos residentes (Rufino 1989), embora cial esta espécie ocorre descontinuamente por espécie em ambos os arquipélagos têm sido
em muitos casos não sedentários dada a sua todo o país, embora de forma mais expressiva cada vez mais regulares ao longo dos últimos
ausência em alguns locais de nidificação confir- do que no inverno. É mais abundante no lito- anos, apesar de o número de indivíduos envol-
mados (Elias et al. 1998). Este facto sugere ral, sobretudo em estuários (Cávado, Douro, vido ser reduzido. A sua frequência de ocorrên-
que alguns indivíduos efetuem movimentos Tejo, Sado), rias (Aveiro, Formosa) e lagunas cia, sendo maior neste período, estará ligada
de dispersão, sendo isso mais visível no norte costeiras (Óbidos). É menos abundante no com os movimentos migratórios.
do país. Contudo, alguns indivíduos migrantes interior do país, onde ocorre associada a zonas
oriundos da Europa Ocidental, Central ou do húmidas, como pauis, charcas, albufeiras e TEXTO
Norte também invernam em Portugal refor- troços de rios. Vários estudos indicam que as Pedro A. Salgueiro

240 Espécies regulares • Charadriiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Charadriiformes 241


Rola-do-mar
Arenaria interpres

IMAGEM
Faísca

TEXTO
Paulo Catry

Modelação

M I GR AÇÃO PÓS- N U PCIA L

Distribuição e abundância grosseiros e ostreiras, locais com rochas, sali- em aproximadamente 3000 indivíduos. A impor-
no inverno nas, por vezes ocorrendo também em arrozais tância numérica da população invernante nas
(Granadeiro et al. 2007, Catry et al. 2010). regiões insulares é desconhecida, mas o facto de
A rola-do-mar é uma limícola característica no quadro do Projecto Arenaria se terem recen-
de zonas costeiras, sejam elas praias, estuá- Nos arquipélagos dos Açores, da Madeira e seado 395 indivíduos em cerca de 10% do lito-
rios ou zonas lagunares, e só excecionalmente das Selvagens a rola-do-mar tem uma distribui- ral açoriano leva a pensar que o contingente das
pode ser encontrada longe do mar. Os resul- ção ampla, encontrando-se em praticamente zonas insulares poderá ser muito significativo em
tados do trabalho de campo no quadro do todas as ilhas (sendo de crer que algumas termos nacionais (ver https://sites.google.com/
presente projeto mostram isso mesmo. Ao ausências indicadas nos mapas correspon- site/projectoarenaria/Home).
longo do litoral a rola-do-mar é quase omni- dam a falhas de cobertura). As ausências do
presente, faltando apenas onde existem gran- arquipélago da Madeira no inverno não são As aves que passam em migração e inver-
des extensões de praias arenosas sem rocha, reais, o que é comprovado pelos resultados do nam em Portugal são originárias de uma vasta
particularmente nos distritos de Coimbra e de Projecto Arenaria. região que vai da ilha de Ellesmere (no Ártico
Leiria. Para além da óbvia associação às zonas canadiano) e da Gronelândia ao Ártico russo,
rochosas, análises estatísticas detalhadas da A população invernante na costa não-estua- passando pela Escandinávia (Delany et al.
distribuição e abundância indicam que as rina continental foi estimada em cerca de 2300 2009, Catry et al. 2010,).
rolas-do-mar preferem zonas com intermareal indivíduos pelos censos organizados no âmbito
amplo e regiões com maior presença humana do Projecto Arenaria em 2009/10 e 2010/11
no litoral (maior densidade populacional), mas (Lecoq et al. 2013). A população nos setores Distribuição e abundância
que tendem a evitar praias perturbadas por estuarinos e lagunares costeiros tem sofrido na migração pós-nupcial
pessoas e cães, bem como setores onde nidifi- bastantes flutuações, cifrando-se, entre 2005
cam falcões-peregrinos (Lourenço et al. 2013). e 2007, em cerca de 700 aves (CEMPA/ICNB in A distribuição durante a passagem migrató-
Nas zonas estuarinas ou lagunares, as rolas-do- Catry et al. 2010), pelo que podemos estimar a ria pós-nupcial não apresenta diferenças subs-
-mar favorecem setores com sedimentos mais população invernante em Portugal Continental tanciais relativamente à distribuição de inverno.

242 Espécies regulares • Charadriiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Charadriiformes 243


Seixoeira
Calidris canutus

IMAGEM
Faísca

Distribuição e abundância espécie cuja distribuição e efectivos invernan- Distribuição e abundância


no inverno tes são fortemente variáveis de ano para ano na migração pós-nupcial
(Catry et al. 2010).
Durante o inverno a seixoeira foi registada Durante este período a seixoeira parece
em zonas húmidas ao longo da costa conti- Parece ser mais abundante na migração ter uma distribuição mais ampla. Foi registada
nental, com apenas um registo no interior. pré-nupcial (não amostrada neste atlas) do num número maior de zonas húmidas, mas
Ocorreu tanto em zonas húmidas de grande que na migração pós-nupcial e invernal (ver continuou ausente do estuário do Sado e da
dimensão (Ria Formosa e o estuário do Tejo), Catry et al. 2010, Alves et al. 2011). Ocorre Ria de Aveiro. Por outro lado, foi observada
como em zonas húmidas mais pequenas (ria principalmente nas zonas intermareais dos em vários locais da costa rochosa e arenosa
do Alvor, estuário do Mira, lagoa de Santo estuários e rias. As aves que ocorrem em (não estuarina).
André, lagoa de Óbidos, estuário do Douro e Portugal são provenientes do ártico Siberiano
estuário do Cávado). Alguns (poucos) registos (subespécie C. c. canutus) e do neárctico Nos Açores, a seixoeira foi registada em
correspondem a aves detetadas em praias. (subespécie C. c. islandica). duas quadrículas, uma em São Miguel e uma
Curiosamente, não foi detetada em algumas na Terceira. Na Madeira não houve qualquer
zonas húmidas de grande dimensão, como os Nas ilhas, onde a espécie é rara, mas de registo.
estuários do Guadiana e do Sado e a Ria de ocorrência regular, foi registado em duas
Aveiro, onde já foi observada anteriormente quadrículas dos Açores, uma da ilha Terceira
(Catry et al. 2010, Alves et al. 2011). Estas e outra na ilha do Pico. TEXTO
ausências podem dever-se ao fato de ser uma Domingos Leitão

244 Espécies regulares • Charadriiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Charadriiformes 245


Pilrito-das-praias
Calidris alba

IMAGEM
José Carlos Morais

TEXTO
Teresa Catry

Modelação

I NV E R NO

Distribuição e abundância lações de pilrito-das-praias invernantes em migração pós-nupcial é em tudo semelhante


no inverno Portugal reproduzem-se maioritariamente na àquela registada no inverno. A partir do mês
Gronelândia, e constituem aproximadamente de Agosto e até Outubro, as aves oriundas
O pilrito-das-praias distribui-se ao longo de 3% da população do Atlântico Este (Delany et das áreas de reprodução começam a passa-
toda a costa continental portuguesa, estando al. 2009). No arquipélago dos Açores, a espé- gem com destino aos locais de invernada na
apenas ausente em sectores dominados por cie ocorre como invernante nos grupos oriental costa ocidental Africana, podendo ser, em
costa rochosa e falésias. A população inver- e central. Não foram obtidos registos no arqui- alguns locais e/ou períodos, mais abundantes
nante foi recentemente estimada em cerca de pélago da Madeira. De notar, no entanto, que a do que durante o inverno (Catry et al. 2010,
3600 indivíduos, que ocorrem preferencial- espécie pode não ter sido detectada nos traba- Catry et al. 2011).
mente em praias arenosas, e apenas 20% da lhos do presente Atlas em algumas das ilhas
população está concentrada em áreas estua- dos arquipélagos mencionados, especialmente No arquipélago dos Açores a espécie foi
rinas, maioritariamente nos estuários do Tejo nos Açores, por insuficiência de cobertura. detectada em ilhas de todos os grupos. No
e do Sado (Lecoq et al. 2013). No litoral, as arquipélago da Madeira ocorreu tanto na
maiores densidades desta espécie ocorrem no Madeira como no Porto Santo. À semelhança
norte e centro do país, sendo que no centro Distribuição e abundância do que aconteceu no período de inverno,
a maior concentração de aves é registada na na migração pós-nupcial a cobertura insuficiente poderá justificar a
boca do estuário do Tejo. No sotavento algar- ausência da espécie em algumas ilhas do
vio as densidades são de um modo geral Em Portugal Continental, a distribuição arquipélago dos Açores.
menores do que na costa ocidental. As popu- do pilrito-das-praias durante o período de

246 Espécies regulares • Charadriiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Charadriiformes 247


Pilrito-pequeno
Calidris minuta

IMAGEM
Faísca

Distribuição e abundância ria concentrada na Ria Formosa e no estuário menos no Continente e Açores. No Conti-
no inverno do Tejo (Catry et al. 2010, Alves et al. 2011). nente, foi registada num número maior de
As aves que ocorrem em Portugal são originá- zonas húmidas, na costa e no interior. Foi regis-
Durante o inverno o pilrito-pequeno foi rias da tundra árctica da Rússia e da Escandi- tado em pequenas zonas húmidas do Algarve
registado principalmente em grandes zonas návia (ver Catry et al. 2010). Alimenta-se numa (lagoa dos Salgados e Sagres), em vários locais
húmidas costeiras do sul de Portugal Conti- grande variedade de corpos de água, como costa Ocidental Centro e Norte (foz do Sizan-
nental. Ocorreu de forma mais uniforme no zonas intermareais, tanques de salinas, arro- dro, lagoa de Óbidos, estuário do Mondego,
estuário do Tejo e no sotavento algarvio (Ria zais, lagoas, açudes e barragens. ria de Aveiro, barrinha de Esmoriz, foz do
Formosa e Castro Marim). De forma pontual, Douro e estuário do Cávado) e em três locais
foi registado no estuário do Sado, lagoa Nas ilhas, onde a espécie é rara, mas de do interior Alentejano.
de Santo André e Ria do Alvor e ainda num ocorrência regular, foi registado apenas numa
local no interior alentejano e noutro no Baixo quadrícula da ilha Terceira (Açores). Nos Açores, o pilrito-pequeno foi regis-
Mondego. Este padrão parece estar, no geral, tado em três ilhas (Santa Maria, São Miguel
de acordo com a distribuição conhecida desta e Terceira. Na Madeira não houve qualquer
espécie durante o inverno (Catry et al. 2010). Distribuição e abundância registo.
na migração pós-nupcial
A população deste pilrito invernante em
Portugal Continental é reduzida, raramente Durante este período o pilrito-pequeno TEXTO
ultrapassando o milhar de indivíduos, a maio- parece ter uma distribuição mais ampla, pelo Domingos Leitão

248 Espécies regulares • Charadriiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Charadriiformes 249


Pilrito-de-temminck
Calidris temminckii

IMAGEM
Dinis Cortes

Distribuição e abundância Sado, na lagoa dos Patos, na Ria Formosa e em


no inverno Castro Marim, que são os locais onde ocorre
tradicionalmente com maior frequência (Catry
O pilrito-de-temminck é uma espécie rara et al. 2010). É uma espécie pouco abundante,
em Portugal durante o inverno. Não foram que ocorre principalmente no Sul e frequenta
efectuados quaisquer registos da espécie vários tipos de zonas húmidas de água doce
durante este período. parada e água salgada, mas protegidas das
marés (Catry et al. 2010). As aves são originá-
rias das regiões árticas da Escandinávia e da
Distribuição e abundância Sibéria, passando por Portugal, maioritaria-
na migração pós-nupcial mente entre Agosto e Outubro.

Durante o período pós-nupcial, este pilrito Relativamente às ilhas, também não houve
foi registado em sete quadrículas de Portugal qualquer registo neste período do ano. A
Continental, localizadas maioritariamente junto espécie é de ocorrência rara e acidental, tanto TEXTO
à costa. Foi registada nos estuários do Tejo e nos Açores como na Madeira. Domingos Leitão

250 Espécies regulares • Charadriiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Charadriiformes 251


Pilrito-escuro
Calidris maritima

IMAGEM
Faísca

Distribuição e abundância espécie pode formar também grupos peque- No arquipélago dos Açores também se
no inverno nos que em Portugal não ultrapassam uma trata de um invernante raro, tendo sido regis-
dezena de indivíduos. A população invernante tado na ilha Graciosa e no Pico.
No território continental o pilrito-escuro em Portugal Continental será constituída por
é considerado uma espécie invernante rara, poucas dezenas de aves (Catry et al. 2010). O arquipélago da Madeira fica fora da sua
o que se reflete numa distribuição bastante área normal de ocorrência, contudo há notí-
localizada durante este período. É conhecido É um migrador tardio e os primeiros avis- cia da observação de um indivíduo na baía do
por ser bastante fiel aos seus locais de inver- tamentos no nosso país verificam-se a partir Funchal durante o período de realização deste
nada, sendo a costa do Estoril o mais tradicio- do início de novembro, podendo ser obser- atlas (Bjorn Bergenholtz em Noticiário Ornito-
nal (Catry et al. 2010). Neste atlas, para além vado até abril, por vezes ainda em maio. Esta lógico SPEA, edição nº 513).
desta zona foi registado na Ria Formosa, no espécie inverna na costa atlântica da América
Cabo Carvoeiro e no litoral Norte, entre os do Norte e da Europa, do lado europeu a
rios Douro e Cávado. Península Ibérica representa o limite meridio- Distribuição e abundância
nal da sua área de distribuição. Nesta região na migração pós-nupcial
Em Portugal está geralmente associado à é mais comum no Norte de Portugal e Espa-
faixa litoral rochosa, sendo também frequente nha do que no Sul. Até ao momento não há O pilrito-escuro não ocorre normalmente
a utilização de estruturas artificiais como dados que nos indiquem qual a origem destes no nosso território durante este período.
pontões e construções de cimento, nomeada- indivíduos, contudo suspeita-se que venham
mente portos de abrigo (BirdLife International das regiões árticas ou subárticas da Sibéria,
2014, Catry et al. 2010, SEO/BirdLife 2012). É da Europa, da Gronelândia ou do Canadá
frequente a observação de indivíduos isola- (BirdLife International 2014, Catry et al. 2010, TEXTO
dos ou acompanhados de rolas-do-mar, mas a SEO/BirdLife 2012). Hugo Sampaio

252 Espécies regulares • Charadriiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Charadriiformes 253


Pilrito-de-peito-preto
Calidris alpina

IMAGEM
José Sousa

Distribuição e abundância toras do Báltico e do Reino Unido (ambas C. registou concentrações da ordem dos seis a
no inverno a. schinzii) (Delany et al. 2009). Nos arquipé- oito mil indivíduos em 2010 e 2011 (Alves et al.
lagos dos Açores e da Madeira, esta espécie 2011, 2014) e ultrapassando os 12 mil em 2012
O pilrito-de-peito-preto está associado ocorre de forma pontual, dado o afastamento (Grupo de Monitorização de Aves Aquáticas
principalmente às zonas estuarinas de Portu- dos seus principais locais de invernada mais do Estuário do Tejo, dados não publicados).
gal Continental, mas ocorre também, embora próximos, em Portugal Continental e na costa
com fraca abundância, em lagoas costeiras e de Marrocos, tendo sido registada apenas em As aves que passam na migração pós-nup-
em algumas barragens no interior alentejano. duas quadrículas nos Açores. cial em Portugal têm como destino a costa
Noroeste de África (sobretudo a Mauritânia) e
Mais de 90% do efetivo populacional nacio- são oriundas das populações reprodutoras da
nal invernante desta espécie (de quase 40 mil Distribuição e abundância Islândia (C. a. schinzii) e do Este da Gronelân-
aves), centra-se apenas em quatro zonas húmi- na migração pós-nupcial dia (C. a. arctica), mas sobretudo da primeira,
das (CEMPA/ICNF, dados não publicados de por ser muito mais numerosa (Lopes et al.
2010-2012): os estuários do Tejo e do Sado No período de migração pós-nupcial, o 2006, Delany et al. 2009).
(cada um com 25-30%) e as rias Formosa e de pilrito-de-peito-preto distribui-se de forma
Aveiro (cada uma com 18-20%). Foras destas muito semelhante à observada no inverno, Nos arquipélagos dos Açores e da Madeira
áreas, destacam-se os estuários do Mondego utilizando genericamente o mesmo tipo de esta espécie ocorre de forma isolada, tal
e Guadiana, com populações da ordem das habitats. como no inverno, o que deve estar relacio-
centenas de indivíduos (CEMPA/ICNF). nado com o seu afastamento em relação à
Embora por vezes seja nos pequenos estuá- rota migratória ao longo das costas europeia
A população invernante em Portugal é rios que os picos de abundância na migração e africana (principalmente no caso dos Açores)
composta sobretudo por aves que se repro- pós-nupcial se notem mais facilmente (Catry e com a reduzida disponibilidade de habitat
duzem no Norte da Escandinávia e Noroeste et al. 2010), com concentrações de centenas adequado nas ilhas.
da Rússia (C. alpina alpina) (Lopes et al. 2006, de aves, são os estuários maiores que cons-
Delany et al. 2009), mas inclui também aves tituem os locais mais importantes de stopo- TEXTO
das (muito menores) populações reprodu- ver, nomeadamente o estuário do Tejo, que Ricardo Martins

254 Espécies regulares • Charadriiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Charadriiformes 255


Pilrito-de-bico-comprido
Calidris ferruginea

IMAGEM
Luis Rodrigues

Distribuição e abundância passando a centena de indivíduos, a maior parte et al. 2010). No Continente, foi registada num
no inverno concentrada na Ria Formosa e no estuário do número maior de zonas húmidas costeiras,
Tejo (Catry et al. 2010, Alves et al. 2011). Alimen- comparativamente com o inverno, tendo sido
Durante o inverno o pilrito-de-bico-comprido ta-se numa grande variedade de corpos de água, também observada em pequenas zonas húmi-
foi registado principalmente junto à costa de como zonas intermareais, tanques de salinas, das da costa sul e ocidental, desde a lagoa
Portugal Continental, em zonas húmidas grandes lagoas, açudes e barragens. dos Salgados até ao estuário do Cávado.
e pequenas. Ocorreu de forma mais uniforme
no estuário do Tejo e no Sotavento algarvio (Ria Nas ilhas, onde a espécie é rara, mas de As aves que ocorrem em Portugal são origi-
Formosa e Castro Marim). Mas foi também regis- ocorrência regular, foi registado apenas numa nárias da tundra árctica a Norte e a Leste do
tado no estuário do Sado, lagoa de Santo André, quadrícula da ilha Terceira (Açores). Báltico (ver Catry et al. 2010).
Ria do Alvor e várias pequenas zonas húmidas
da costa Sudoeste e da costa a norte de Aveiro. Nos Açores, o pilrito-de-bico-comprido foi
Foi ainda registado em dois locais no interior Distribuição e abundância registado numa quadrícula da Ilha Terceira, e
alentejano. Este padrão parece estar no geral na migração pós-nupcial na Madeira, foi registado numa quadrícula da
de acordo com a distribuição conhecida desta costa sul.
espécie durante o inverno (Catry et al. 2010). Os dados deste atlas sugerem que pilri-
to-de-bico-comprido tem distribuição mais
A população deste pilrito invernante em ampla durante este período do que no Inverno, TEXTO
Portugal Continental é reduzida, raramente ultra- em coerência com outros estudos (ver Catry Domingos Leitão

256 Espécies regulares • Charadriiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Charadriiformes 257


Combatente
Calidris pugnax

IMAGEM
Victor Maia

Distribuição e abundância lago da Madeira. Foi registado nos Açores, na ilha Nos Açores o combatente foi registado
no inverno Terceira, onde é um migrador raro, mas regular. apenas na ilha terceira e na Madeira não houve
registos neste período.
Durante o inverno o combatente foi regis-
tado apenas em 17 quadrículas de Portugal Distribuição e abundância A metodologia, algo desadequada para as
Continental, a maioria junto à costa, nas zonas na migração pós-nupcial espécies mais raras, e as falhas de cobertura
húmidas principais. Esta espécie é pouco abun- terão contribuído de forma significativa para
dante no inverno, ocorrendo numa grande Durante o período pós-nupcial, o comba- uma escassez de registos desta espécie, tanto
variedade de zonas húmidas, de água doce tente ocorreu em 18 quadrículas de Portugal no Continente, como nos Açores.
ou salgada, mas normalmente protegidas das Continental, mas com mais localizações no inte-
marés (ver Catry et al. 2010). rior. Nesta altura do ano a espécie deverá ser
mais abundante do que no inverno (ver Catry et
Foi registado na ilha de Porto Santo, apesar al. 2010), mas os dados deste atlas não permi- TEXTO
de ser uma espécie rara e acidental no arquipé- tem confirmar esse padrão. Domingos Leitão

258 Espécies regulares • Charadriiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Charadriiformes 259


Famego
Larus canus

IMAGEM
Faísca

Distribuição e abundância Ocorre ao longo de toda a faixa costeira, desde final de Novembro (Catry et al. 2010). Por este
no inverno o Minho ao Algarve, tanto em praias como em motivo, o intervalo temporal durante o qual
portos, estuários e rias. As principais áreas de decorreram os censos da migração pós-nup-
O famego nidifica no centro e norte da ocorrência situam-se na Estremadura, entre o cial, deverá ter sido demasiado precoce para
Europa mas no Inverno prefere zonas de clima cabo da Roca e a foz do Tejo, e a costa entre caracterizar os movimentos desta espécie em
mais ameno e frequenta também as costas do Peniche e São Martinho do Porto. Portugal. Ocorre de forma muito localizada
Sul do continente (Snow & Perrins 1998). Esta na costa sul e ocidental, sendo que todos os
espécie é muitas vezes observada no meio de registos obtidos resultaram de observações
bandos de outras espécies de gaivotas, o que Distribuição e abundância ocasionais. As principais áreas de ocorrência na
dificulta a sua detecção e contribui para subes- na migração pós-nupcial migração pós-nupcial são a costa entre Peniche
timar a real dimensão dos seus efectivos e da e a lagoa de Óbidos e, de forma mais dispersa,
sua área de ocorrência em Portugal. O famego é um migrador tardio que ocupa o litoral algarvio, entre a Ria Formosa e a penín-
os tradicionais locais de invernada apenas a sula de Sagres.
É uma espécie pouco frequente em Portugal partir da segunda metade de Outubro (região TEXTO
tendo sido apenas detectada no continente. do grande Porto; Nyctea 2011) ou mesmo no Pedro Cardia

260 Espécies regulares • Charadriiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Charadriiformes 261


Gaivota-de-audouin
Larus audouinnii

IMAGEM
Faísca

Distribuição e abundância Distribuição e abundância altura do ano podem constituir concentrações


no inverno na migração pós-nupcial pós-nupciais de aves nidificantes nas colónias
algarvias, e/ou aves das colónias espanholas
A gaivota-de-audouin foi detetada na Ria No período pós-nupcial esta gaivota foi do Mediterrâneo Ocidental, que migram atra-
Formosa e pontualmente ao longo do Algarve, registada em vários pontos do Algarve. Foi vés do estreito de Gibraltar (Catry et al. 2010).
sendo a espécie mais rara a Norte desta mais abundante nas zonas envolventes às coló-
região. Foi na Ria Formosa que se registaram nias de reprodução do sotavento, ocorrendo
os maiores valores de abundância da espé- pontualmente em mais locais do que durante
cie. A invernada da gaivota-de-audouin em o período de inverno. A espécie foi também
Portugal Continental é tradicionalmente rara, registada noutros pontos da costa continen-
mas nos últimos anos parece estar a assumir tal, sendo mais escassa do que no Algarve.
alguma regularidade na área referida (Catry et As maiores concentrações em território algar-
al. 2000). Estas aves poderão ter origem maio- vio parecem ocorrer no mês de agosto, dimi-
ritariamente em colónias espanholas do Medi- nuindo ao longo de setembro (Leal & Lecoq TEXTO
terrâneo (Catry et al. 2010). 2005). As aves de passagem por Portugal nesta Nuno Barros

262 Espécies regulares • Charadriiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Charadriiformes 263


Gaivota-de-bico-riscado
Larus delawarensis

IMAGEM
Faísca

Distribuição e abundância
no inverno Não foi registado nas ilhas, apesar de ser
uma espécie de ocorrência regular nos Açores
A gaivota-de-bico-riscado é uma inver- e na Madeira.
nante rara em Portugal, proveniente da costa
Leste da América do Norte. Durante este
período, foi registada apenas em 10 quadrí- Distribuição e abundância
culas da costa Ocidental de Portugal Conti- na migração pós-nupcial
nental, localizadas em três zonas, Lisboa,
Peniche e Porto. A espécie pode ocorrer Neste período, foi registada em três locais,
noutros pontos da costa, desde o Algarve até entre Peniche e o estuário do Sado. Não foi
ao Minho, frequentando costas rochosas e registada nas ilhas.
arenosas, zonas portuárias, estuários, salinas e TEXTO
lagoas costeiras (Catry et al. 2010). Domingos Leitão

264 Espécies regulares • Charadriiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Charadriiformes 265


Gaivotão-real
Larus marinus

IMAGEM
Faísca

Distribuição e abundância tejano, onde não tinha sido referenciado no Distribuição e abundância
no inverno Atlas das Aves Invernantes do Baixo Alentejo na migração pós-nupcial
(Elias et al. 1998). Embora a área de distribui-
O gaivotão-real distribui-se pelas zonas ção invernal do gaivotão-real seja extensa, esta Esta espécie ocupa os tradicionais locais de
costeiras da Europa, geralmente dentro dos não é ocupada de forma contínua. Adicional- invernada em Portugal Continental entre o início
limites da plataforma continental (Snow & mente, nos locais onde ocorre associa-se com de Julho (Cardia 2011, Nyctea 2011) e a segunda
Perrins 1998). frequência a outras gaivotas (gaivota-de-pa- metade de Setembro (Catry et al. 2010). No
tas-amarelas, gaivota-d’asa-escura, etc.), o que continente, o gaivotão-real tem uma distribui-
É uma espécie relativamente escassa, dificulta a sua detecção e contabilização (Catry ção semelhante à da época invernal e ocorre
tendo sido detectada nas visitas sistemáticas et al. 2010). Por estes motivos, a metodologia nos mesmos tipos de habitats. No entanto, face
a três quadrículas na costa oeste do território deste atlas não é a mais indicada para detectar ao período de invernada, a espécie foi detec-
continental. No entanto, os registos adicionais e quantificar a abundância desta espécie. tada num menor número de quadrículas.
demonstram que ocorre em toda a costa atlân-
tica continental, desde a foz do Cávado até à ria No arquipélago dos Açores o gaivotão- Nos Açores, o gaivotão-real foi detectado
Formosa, em praias, pequenos portos piscató- -real foi detectado na ilha Terceira e na ilha em duas quadrículas, na ilha Terceira e na ilha
rios e nos principais estuários e rias. O gaivotão- do Corvo. No entanto, a sua distribuição de São Miguel, mas a espécie foi também
-real não foi detectado na foz do Minho, uma invernal neste arquipélago poderá ser mais observada na ilha do Pico, em Outubro de
área de presença regular (Catry et al. 2010) e extensa do que estes resultados sugerem. 2012 (Aves dos Açores 2012).
que está próxima da principal área de invernada Por exemplo, existe um registo da espécie
em Espanha (Cousido et al. 2012). Em sentido em São Miguel, em Janeiro de 2013 (Aves TEXTO
oposto, a espécie foi detectada no litoral alen- dos Açores 2013). Pedro Cardia

266 Espécies regulares • Charadriiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Charadriiformes 267


Gaivota-prateada
Larus argentatus

IMAGEM
Helder Costa

Distribuição e abundância Houve um único registo no interior, numa Tal como no caso do gaivotão-real, embora
no inverno barragem do Alto Alentejo. a área de distribuição da gaivota-prateada
seja extensa, esta não é ocupada de forma
A gaivota-prateada é uma espécie relati- Neste período a gaivota-prateada não foi contínua. Também se associa com frequência
vamente escassa, cujos registos necessitam detectada nos Açores, Madeira e Selvagens. a outras gaivotas (gaivota-de-patas-amarelas,
de homologação pelo Comité Português de gaivota-d’asa-escura, etc.), o que dificulta a
Raridades. Apesar disso, tem sido observa- sua detecção e contabilização. Por estes moti-
ção regularmente e com mais frequência por Distribuição e abundância vos, a metodologia deste atlas não é a mais
todo o litoral do território continental. na migração pós-nupcial indicada para detectar e quantificar a abun-
dância desta espécie.
Neste atlas durante o inverno foi detec- Neste período a gaivota-prateada foi detec-
tada nas visitas sistemáticas a duas quadrícu- tada em mais quadrículas do que durante o Nos Açores, a gaivota-parateada foi detec-
las na costa oeste do território continental. inverno. A sua distribuição na costa foi inclu- tada apenas em duas quadrículas da ilha
No entanto, os registos adicionais demons- sivamente maior, estendendo-se para sul até Terceira. Não foi detectada na Madeira e nas
tram que ocorre em mais locais da costa ao barlavento algarvio. Esta distribuição mais Selvagens
atlântica continental, desde a foz do Cávado vasta, do Minho ao Algarve, está de acordo
até à Sines, em praias, pequenos portos com dados mais antigos referenciados em TEXTO
piscatórios e nos principais estuários e rias. Catry et al. (2010). Domingos Leitão

268 Espécies regulares • Charadriiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Charadriiformes 269


Gaivota-de-patas-amarelas
Larus michahellis

IMAGEM
Ana Isabel Fagundes

TEXTO
Nuno Oliveira

Modelação

I NV ERN O

Distribuição e abundância Distribuição e abundância


no inverno na migração pós-nupcial
A gaivota-de-patas-amarelas é uma espécie Tendo em conta o seu carácter residente,
principalmente residente. No território continen- considera-se que durante este período ocorre a
tal ocorre sobretudo ao longo da faixa costeira, dispersão pós-nupcial (Catry et al. 2010). A distri-
frequentando igualmente zonas arenosas e rocho- buição obtida é semelhante à que foi encontrada
sas (Catry et al. 2010). A sua distribuição pode esten- no Inverno, ocorrendo ao longo de toda a costa
der-se a algumas zonas interiores, principalmente continental. A maioria dos indivíduos observa-
ao vale do rio Douro e ao Baixo-Alentejo. Esta ave dos no continente tem origem na Ilha das Berlen-
é mais abundante a norte do cabo Carvoeiro, notan- gas, onde se localiza a maior colónia de reprodu-
do-se uma abundância particularmente grande na ção (Catry et al. 2010). No entanto, ao longo das
região de Leiria, que poderá estar associada à exis- últimas décadas tem-se notado um aumento dos
tência de um aterro municipal. É uma espécie opor- núcleos reprodutores localizados em centros urba-
tunista, estando a sua distribuição e abundância nos. Adicionalmente, uma reduzida proporção de M I GRA ÇÃ O PÓS- N U PCIA L
fortemente associadas com a existência de fontes indivíduos invernantes terá origem nas colónias
de alimento de origem antropogénica – por exem- localizadas nas costas atlântica e mediterrânea de
plo aterros sanitários, ETAR, fábricas de farinha de Espanha (ver Arizaga et al. 2010) e Norte de África
peixe, portos de pesca, complexos de salinas e terre- (Baaloudj et al. 2012).
nos agrícolas junto ao litoral.
Tanto nos Açores como na Madeira a espé-
A população residente nas ilhas pertence a cie encontra-se distribuída por todas as ilhas. Nos
uma subespécie distinta, Larus michahellis atlan- Açores existe uma maior abundância nas ilhas da
tis. A ave distribui-se por todas as ilhas do arqui- Terceira e São Miguel. No Arquipélago da Madeira
pélago dos Açores, com maiores abundâncias nas a espécie é mais abundante na zona da Ponta de São
ilhas Terceira e São Jorge. Em relação ao arquipé- Lourenço, Funchal e Deserta Grande. Em ambos os
lago da Madeira, a sua distribuição abrange igual- arquipélagos as populações são bastante inferio-
mente todas as ilhas, tendo maiores abundâncias res à população residente do continente, provavel-
na Deserta Grande e na zona mais oriental da mente por não terem uma tão grande disponibili-
Madeira – a Ponta de São Lourenço. dade alimentar de origem antropogénica.

270 Espécies regulares • Charadriiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Charadriiformes 271


Gaivota-d‘asa-escura
Larus fuscus

IMAGEM
Paulo Marques

TEXTO
Paulo Marques

Modelação

I NV ERN O

Distribuição e abundância de São Jorge e Ilha Terceira) em números reduzi-


no inverno dos. No caso do arquipélago da Madeira apenas
foi observada na costa sul da Ilha da Madeira.
A gaivota-d‘asa-escura foi detectada, ainda que
descontinuamente, nas zonas costeiras e estua-
rinas do território continental. Contudo, é uma Distribuição e abundância
espécie que deverá estar presente ao longo de na migração pós-nupcial
toda a costa (Projecto Arenaria 2013) devendo as
falhas ser devidas a problemas de cobertura, fato Durante a migração pós-nupcial a gaivota-
parcialmente corrigido pelas observações adicio- -d’asa-escura foi observada ao longo da costa e
nais. A espécie está ainda presente ao longo da áreas estuarinas do território continental, com uma
bacia do rio Tejo e no Alentejo onde evita as zonas distribuição muito semelhante à de inverno, pelo
de orografia mais acidentada. Ocorre também que também neste período a presença da espécie
ao longo do rio Douro. A população invernante deverá ocorrer ao longo de toda a costa. A espé-
é constituída sobretudo por indivíduos da subes- cie foi detectada em números mais reduzidos que
pécie L. f. graellsii provenientes sobretudo do os observados durante o inverno. A dificuldade na
Reino Unido e Holanda mas pode incluir indiví- distinção entre aves do primeiro inverno desta espé-
duos das subespécies L. f. intermedius (Alema- cie e as da gaivota-de-patas-amarelas poderá ter M I GRA ÇÃ O PÓS- N U PCIA L
nha e Noruega) e L. f. fuscus (Suécia e Finlândia) contribuído para uma subestimação da abundân-
(Marques et al. 2009). As gaivotas-de-asa-escura cia especialmente neste período onde se sabe que,
não se distribuem uniformemente pelo território contrariamente ao inverno, esta é a classe etária mais
uma vez que exploram fontes de alimento asso- abundante (Marques et al. 2010). Apesar de isso não
ciadas a atividades humanas como aterros sani- ter sido detectado neste atlas, sabe-se que podem
tários e portos de pesca onde podem alcançar verificar-se neste período grandes concentrações
concentrações elevadas. A espécie forma ainda de aves as quais incluem indivíduos de passagem
dormitórios que podem albergar números eleva- para o Norte de África e indivíduos que chegam
dos de indivíduos como acontece no estuário do para invernar na Península Ibérica (Jorge et al. 2011).
Tejo (Lecoq et al. 2012). Estes deverão ser os casos
das quadrículas com maiores densidades como no Durante a migração, e no que diz respeito ao
Barlavento Algarvio, nomeadamente em Portimão, arquipélago dos Açores, a espécie foi detectada
e na região norte do estuário do Tejo. no grupo central estando presente na Terceira
e Pico. No arquipélago da Madeira a espécie foi
Neste período do ano, a espécie foi detectada registada na Ilha da Madeira tanto na costa sul
no grupo central do arquipélago dos Açores (Ilha como na costa norte.

272 Espécies regulares • Charadriiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Charadriiformes 273


Guincho-comum
Larus ridibundus

IMAGEM
Faísca

TEXTO
Pedro Cardia

Modelação

I NV ERN O

Distribuição e abundância Distribuição e abundância


no inverno na migração pós-nupcial
O guincho-comum nidifica em zonas húmi- A migração pós-nupcial do guincho-comum na
das nas latitudes médias da região do Paleártico Europa inicia-se de forma relativamente precoce,
Ocidental. Após a reprodução, frequenta zonas entre Junho e Julho e prolonga-se até Novembro
intertidais estuarinas, costas abrigadas com zonas (Cramp & Simmons 1983). Em geral é menos abun-
arenosas ou de vaza e também ocorre no interior dante e tem uma distribuição menos contínua na
(Snow & Perrins 1998). migração pós-nupcial, quando comparada com
a época de invernada. O estuário do Tejo é a mais
No continente, ocorre de forma alargada ao importante zona húmida para o guincho-comum na M I GRA ÇÃ O PÓS- N U PCIA L
longo de toda a costa e nas principais zonas húmi- migração pós-nupcial. Outras áreas importantes para
das litorais, com particular destaque para a zona a espécie são a lagoa de Santo André, a ria de Aveiro
do estuário do Tejo. No interior está presente em e o estuário do Lima. No interior norte do continente,
zonas húmidas naturais ou artificiais, sendo esta está presente na bacia do Douro e na Beira Baixa.
presença particularmente importante na Beira
Baixa e no Alto e Baixo Alentejo. No interior norte No Açores, o guincho-comum foi detectado nas
é pouco abundante e distribui-se ao longo do rio duas ilhas do grupo ocidental e no grupo central
Douro e alguns dos seus afluentes. (ilha Terceira). Esta espécie foi detectada de forma
localizada na costa sul e oriental da ilha da Madeira
Nos arquipélagos dos Açores e Madeira esta e na ilha de Porto Santo. A distribuição desta espé-
espécie tem uma presença muito reduzida: nos cie nos arquipélagos dos Açores e Madeira é mais
Açores foi detectada em duas quadrículas, nas extensa na migração pós-nupcial do que na inver-
ilhas de São Miguel e Terceira; na Madeira foi nada. Este padrão dever-se-á, principalmente, a
detectada numa quadrícula. aves que durante a deslocação para os locais de
invernada se afastam das rotas migração junto ao
continente europeu.

274 Espécies regulares • Charadriiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Charadriiformes 275


Gaivota-de-bico-fino
Larus genei

IMAGEM
António A. Gonçalves

Distribuição e abundância região, o que parece indiciar que a origem Sotavento algarvio. A gaivota-de-bico-fino
no inverno provável das aves observadas em Portugal é considerada uma migradora de passagem
está nas colónias localizadas em Espanha que se tornou regular nos últimos anos sendo
Esta espécie é pouco abundante e muito (Catry et al. 2010). sobretudo observada de fim de Março a Maio
localizada. A totalidade das observações foi e entre Junho e Outubro (Catry et al. 2010).
efectuada no Algarve, concentrando-se sobre- A gaivota-de-bico-fino está ausente dos
tudo no Sotavento. Nos últimos anos a popu- arquipélagos da Madeira, Selvagens e Açores.
lação invernante parece ter aumentado, o que
se traduz num maior número de observações
desta espécie (Catry et al. 2010). Distribuição e abundância
na migração pós-nupcial
Dados de anos anteriores confirmam uma TEXTO
distribuição restrita à costa algarvia, com Durante a época de migração a espécie Pedro Geraldes
algumas observações esporádicas fora desta mantém a distribuição restrita à região do O autor não segue o acordo ortográfico de 1990

276 Espécies regulares • Charadriiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Charadriiformes 277


Gaivota-de-cabeça-preta
Larus melanocephalus

IMAGEM
Faísca

Distribuição e abundância como é o caso das praias da Linha de Cascais nente Este-Oeste por oposição à tradicional
no inverno (Poot & Flamant 2006), nomeadamente no Guin- Norte-Sul e com as populações reprodutoras
cho, Estoril, Carcavelos e Oeiras. Ou ainda pelo na zona Atlântica e na zona Mediterrânica a
A gaivota-de-cabeça-preta é uma espécie fato da espécie poder alimentar-se longe da encontrarem-se na Península Ibérica durante
que em Portugal, durante o inverno, apresenta costa, no mar (Poot 2003, Poot & Flamant 2006), a migração e inverno (Carboneras et al. 2010).
hábitos costeiros e está presente esporadica- tornando difícil a monitorização da espécie sem A sua distribuição durante o período migra-
mente no interior. Durante o inverno a espécie uma metodologia mais específica. tório é bastante semelhante à do inverno,
distribui-se no litoral norte, nas regiões de Lisboa com exceção da costa alentejana e litoral
e de Cascais, no estuário do Tejo e na costa algar- Com um mínimo populacional estimado em norte, contudo a sua presença foi detectada
via, em especial na zona de Faro e Olhão. Adicio- 7.000-8.000 indivíduos (Poot & Flamant 2006) num menor número de visitas sistemáticas.
nalmente é conhecida a invernada da gaivota-de- seria de esperar encontrar indicadores de abun- Os valores de abundância detectados são da
-cabeça-preta no estuário do Mira em Vila Nova dância mais elevados. mesma ordem de grandeza dos resultados do
de Milfontes (Moore 1998, Projecto Arenaria inverno.
2013). O reduzido número de quadrículas onde A espécie não foi reportada nos arquipéla-
a espécie foi registada em visitas sistemáticas gos dos Açores, Selvagens e Madeira. Durante a migração a espécie foi apenas
indicia que a amostragem não conseguiu detec- detectada na costa sul da Ilha da Madeira
tar e avaliar a sua presença. Este facto foi em devendo-se esses registos provavelmente
grande medida colmatado pelas observações Distribuição e abundância a indivíduos perdidos da sua rota normal de
adicionais que fazem com que o mapa final esteja na migração pós-nupcial migração. A espécie não foi observada no
bastante aproximado ao que será a realidade. A arquipélago dos Açores.
baixa cobertura sistemática foi influenciada pelo A gaivota-de-cabeça-preta apresenta
fato da espécie ter uma distribuição localizada, hábitos migratórios muito interessantes, reali- TEXTO
apesar de ser abundante nos sítios onde ocorre, zando uma migração com uma forte compo- Paulo Marques

278 Espécies regulares • Charadriiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Charadriiformes 279


Gaivota-pequena
Hydrocoloeus minutus

IMAGEM
Bruno Maia

Distribuição e abundância Castro Marim). A ocorrência da espécie no Distribuição e abundância


no inverno litoral pode indicar a existência de uma área na migração pós-nupcial
de invernada ao largo de Portugal Continen-
A gaivota-pequena é uma espécie de ocor- tal (Paterson 1997), estando os registos costei- Neste período a gaivota-pequena foi
rência rara ou pouco comum no nosso país ros provavelmente associados à ocorrência registada apenas em quatro pontos da costa
e não foi detectada nos trabalhos de campo de condições climatéricas adversas no mar ocidental portuguesa. Não houve registos nas
do presente atlas. Registos adicionais foram (Cramp & Simmons 1983). Neste atlas não se regiões insulares dos Açores e da Madeira,
obtidos durante o Inverno ao longo da costa detectaram gaivotas--pequenas fora da orla onde a espécie é considerada acidental, com
(na ria de Aveiro, na zona de Peniche e Lagoa costeira e os registos em águas interiores pare- raríssimas ocorrências (Clarke 2006, www.
de Óbidos, no estuário do Tejo, junto à lagoa cem ser pontuais na bibliografia (e.g. na Lagoa birdingazores.com).
de Santo André, na ria de Alvor, na Quinta do dos Patos e na Albufeira do Divor, Noticiário
Lago, nas imediações de Tavira e na zona de Ornitológico).
TEXTO
João Tiago Tavares

280 Espécies regulares • Charadriiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Charadriiformes 281


Gaivota-tridáctila
Rissa tridactyla

IMAGEM
Romão Machado

Distribuição e abundância Distribuição e abundância época de migração (normalmente a partir de


no inverno na migração pós-nupcial cabos). Segundo Catry et al. (2010), a espécie
ocorrerá principalmente a partir de Novem-
No inverno esta gaivota foi registada A gaivota-tridáctila é uma espécie de hábi- bro até Março/Abril. É provável que haja dife-
apenas em cinco pontos da costa ocidental tos pelágicos, cuja ocorrência junto ao litoral renças importantes no alcance dos seus movi-
portuguesa, entre Peniche e Sines. está frequentemente associada a condições mentos entre anos diferentes (ver Paterson
climatéricas adversas ou à detecção de aves 1997).
Não se obtiveram quaisquer registos de debilitadas (e.g. com crude na plumagem).
gaivota-tridáctila nas regiões insulares: nem Devido à vocação terrestre da metodolo- Não foi registada nas regiões insulares dos
nos Açores (onde a espécie ocorre de forma gia de censos aplicada neste estudo não se Açores e Madeira.
regular no inverno; Paterson 1997, Clarke obtiveram quaisquer registos sistemáticos
2006) nem na Madeira, onde a gaivota-tridác- desta espécie. Registos adicionais permitiram TEXTO
tila é considerada rara (Clarke 2006. detectar a espécie junto ao litoral durante a João Tiago Tavares

282 Espécies regulares • Charadriiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Charadriiformes 283


Tagaz
Gelochelidon nilotica

IMAGEM
José Viana

Distribuição e abundância vação de indivíduos com anilhas de cor sugere de iniciarem a migração para África, surgindo
na migração pós-nupcial que uma parte importante das aves que ocor- regularmente grupos familiares com crias
rem no estuário do Tejo, por vezes em núme- ainda dependentes dos progenitores (Pacheco
A presença do tagaz foi documentada ros elevados, é oriunda das colónias alente- & Venâncio, dados não publicados). As restan-
apenas no período da migração pós-nupcial janas e da Extremadura espanhola (Pacheco tes observações ocorreram numa albufeira e
e no território de Portugal Continental. Obti- & Venâncio, dados não publicados). Neste numa lagoa costeira.
veram-se registos em quatro quadrículas no período as aves foram essencialmente obser-
estuário do Tejo, uma no interior alentejano e vadas em arrozais (estuário do Tejo), onde TEXTO
uma na costa do barlavento algarvio. A obser- podem permanecer algumas semanas antes Luís Venâncio

284 Espécies regulares • Charadriiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Charadriiformes 285


Garajau-grande
Hydroprogne caspia

IMAGEM
Dinis Cortes

Distribuição e abundância A maioria destas observações correspon- et al. 2010) e estão em trânsito para áreas de
no inverno deu a indivíduos isolados ou em pequenos invernada na costa Ocidental Africana (Del
grupos. Hoyo et al. 1996). Este movimento começa-se a
O garajau-grande ocorre como inver- fazer notar em princípios de agosto, podendo
nante na metade Sul do território continental. A espécie não foi detetada nos arquipéla- prolongar-se até finais de outubro (Catry et al.
Frequenta habitats estuarinos, lagoas costei- gos da Madeira e Açores onde a sua ocorrên- 2010). Para este período apenas foram regis-
ras e salinas. De uma forma geral pode ser cia é acidental. tadas aves no Algarve, com maior abundância
considerado pouco comum e a área da Ria na Ria Formosa. Outras áreas onde a espécie
Formosa é aquela onde foi mais abundante. foi detetada foram Castro Marim, lagoa dos
Obtiveram-se também registos noutras zonas Distribuição e abundância Salgados, estuário do Arade e Sagres. Não
costeiras do Sul do país como Castro Marim, na migração pós-nupcial foram obtidos registos nos arquipélagos da
lagoa dos Salgados, estuário do Arade, lagoa Madeira e Açores.
de Santo André, estuários do Tejo e do Sado. Durante o período pós-reprodutor as aves
No interior foi efectuada uma observação na presentes no território continental têm prova- TEXTO
zona das minas de São Domingos, Mértola. velmente origem no Norte da Europa (Catry Nuno Barros

286 Espécies regulares • Charadriiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Charadriiformes 287


Garajau-de-bico-preto
Thalasseus sandvicensis

IMAGEM
Bruno Maia

Distribuição e abundância O garajau-de-bico-preto está ausente dos conhecidos no nosso país em que ocorre prin-
no inverno Arquipélagos da Madeira e Açores como espé- cipalmente como migradora de passagem
cie invernante. entre meados de Agosto e meados de Outubro
O garajau-de-bico-preto distribui-se por (Catry et al. 2010).
toda a costa continental portuguesa tendo
sido obtido um único registo no interior do Distribuição e abundância Outros trabalhos com metodologias orien-
país. A ampla distribuição da espécie deve- na migração pós-nupcial tadas para a detecção de espécies marinhas
-se ao facto de estar presente tanto em zonas confirmam estes fluxos migratórios entre Julho
arenosas como rochosas e mesmo em lagoas, Tal como no período de invernada este e Novembro (contagens RAM) em toda a faixa
açudes e zonas estuarinas, embora seja uma garajau distribui-se de norte a sul do país ao litoral do país, com maiores abundâncias a
espécie pouco abundante. Foi observada em longo de toda a zona litoral. Foram regista- reportar nos meses de Agosto e Setembro.
maior número de quadrículas em redor das das maiores abundâncias de aves em passa-
principais zonas húmidas do país, nomea- gem migratória na Póvoa do Varzim, Porto, nos Esta espécie foi registada num único local da
damente na Ria de Aveiro, nos estuários do cabos Carvoeiro e Raso, nos estuários do Tejo costa sul da Madeira e está ausente do arquipé-
Tejo e do Sado, na Ria Formosa e em Castro e Sado, Sines, cabo de São Vicente e em toda lago Açores como migradora regular.
Marim. Destaca-se ainda a região litoral do a costa algarvia.
Algarve, onde a espécie se distribui de forma TEXTO
uniforme, com maiores abundâncias regista- As maiores abundâncias registadas neste Pedro Geraldes
das no sotavento. período estão de acordo com os padrões O autor não segue o acordo ortográfico de 1990

288 Espécies regulares • Charadriiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Charadriiformes 289


Garajau-rosado
Sterna dougallii

IMAGEM
Joaquim Teodósio

Distribuição e abundância Distribuição e abundância indivíduos nos Açores de forma não sistemá-
no inverno na migração pós-nupcial tica, em São Miguel, na Terceira e no Pico,
provavelmente pertencentes às colónias locais.
A área de invernada documentada para O garajau-rosado é raro em Portugal Conti- Uma vez que nos Açores nidifica regularmente
esta espécie situa-se na costa ocidental afri- nental durante este período e até hoje são em todas as ilhas (Pereira 2010), a ausência
cana, pelo que não são conhecidos quais- conhecidos poucos registos da sua passa- de deteções em Santa Maria, Graciosa e Faial
quer registos da sua presença em Portugal gem migratória (Catry et al. 2010), o que justi- dever-se-á a amostragem insuficiente ou a difi-
Continental durante este período (Catry et al. fica que não tenha sido detetada nesta região culdades na identificação da espécie. Em São
2010). Neste atlas também não foi detetado durante este atlas. Jorge, Flores e Corvo a espécie não foi dete-
nenhum indivíduo, seja no continente ou nos tada por falta de cobertura.
territórios insulares. Foi observada em quatro quadrículas da TEXTO
costa da Madeira e foram observados alguns Hugo L. Sampaio

290 Espécies regulares • Charadriiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Charadriiformes 291


Garajau-comum
Sterna hirundo

IMAGEM
José Sousa

Distribuição e abundância 461, 462 e 463); no entanto, no decurso deste e pensa-se que no território continental seja
no inverno Atlas a espécie apenas foi registada em Santa constituída essencialmente por indivíduos
Maria. A espécie não foi registada no Arqui- provenientes do Reino Unido, da Fino-Es-
O garajau-comum é raro em todo o terri- pélago da Madeira ao longo do período de candinávia e de outros países do Norte da
tório nacional durante este período, uma inverno. Europa (Catry et al. 2010).
vez que a sua principal área de invernada se
estende pela costa ocidental africana (Catry Pelo contrário, nos arquipélagos da
et al. 2010). Os poucos indivíduos que perma- Distribuição e abundância Madeira e dos Açores grande parte das
necem em Portugal durante o inverno estão na migração pós-nupcial observações será de indivíduos que aí se
restritos à faixa litoral e utilizam sobretudo reproduzem e respetivos juvenis. A ausência
zonas húmidas costeiras. Durante este período a espécie pode ser de registos para este atlas em São Jorge e nas
observada praticamente ao longo de toda a Flores, onde a espécie nidifica regularmente
Em 2011 foram obtidos alguns registos costa, havendo contudo poucos registos no (Pereira 2010), e nas Ilhas Selvagens deve-se
tardios nos Açores (maioritariamente no Pico), extremo norte de Portugal Continental. O seu provavelmente a insuficiente amostragem ou
correspondentes a indivíduos avistados no avistamento é facilitado a partir de cabos, falhas de cobertura.
final de novembro e em meados de dezem- sendo ainda comum em estuários e lagoas
bro (Carlos Pereira, Cecília Melo e Joel Bried costeiras. A migração pós-nupcial ocorre TEXTO
em Noticiário Ornitológico SPEA, edições nº sobretudo de agosto a meados de outubro Hugo L. Sampaio

292 Espécies regulares • Charadriiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Charadriiformes 293


Garajau-do-árctico
Sterna paradisea

IMAGEM
Ruben Coelho

Distribuição e abundância em Portugal Continental que aqui ocorre sobre- No continente todos os registos obtidos são
no inverno tudo entre Agosto e Outubro (Catry et al. 2010). referentes a observações adicionais, efectuadas
Esta espécie efectua longas migrações desde sobretudo a partir de promontórios rochosos
Esta espécie está ausente do país durante os seus territórios de nidificação nas Ilhas Britâ- como os cabos Carvoeiro, Raso ou S. Vicente.
o período de Inverno, o que se confirmou nicas, Norte da Europa e Árctico, até aos terri- Uma outra observação não sistemática foi efec-
pela ausência de qualquer registo no territó- tórios de invernada dos extremos da África do tuada nas imediações da lagoa dos Salgados.
rio nacional, seja no continente ou nas regiões Sul, América do Sul e limite do gelo Antárctico
autónomas. (del Hoyo et al. 1996). A espécie é ocasional nos arquipélagos
dos Açores e da Madeira e durante este atlas
Os seus hábitos marcadamente pelágicos apenas foi efectuado um registo no extremo
Distribuição e abundância fora da época de reprodução e a dificuldade de Este da ilha da Madeira.
na migração pós-nupcial a distinguir do gaivina-comum dificultam a sua
observação e identificação a partir de terra e TEXTO
O garajau-do-árctico é um migrador de contribuem para a pouca informação disponível Pedro Geraldes
passagem observado em pequenos números sobre a espécie em Portugal. O autor não segue o acordo ortográfico de 1990

294 Espécies regulares • Charadriiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Charadriiformes 295


Chilreta
Sternula albifrons

IMAGEM
José Viana

Distribuição e abundância do sotavento algarvio, nomeadamente nas (del Hoyo et al. 1996). O pico de passagem
no inverno áreas da Ria Formosa e do sapal de Castro no Sul do país parece ocorrer em finais de
Marim, mas também na zona costeira de Vila julho, princípios de agosto, decrescendo o
Foram obtidos apenas dois registos desta do Conde. Existiram outros registos, a maio- número de aves até finais de setembro (Caty
espécie no período de inverno. ria costeiros, ao longo da faixa costeira a et al. 2010).
norte do cabo Mondego, e em zonas húmi-
das mais a sul, como os estuários do Tejo e A espécie não foi detetada nos arquipé-
Distribuição e abundância Sado, e lagoa de Santo André. As aves obser- lagos da Madeira e Açores, onde é conside-
na migração pós-nupcial vadas podem ser provenientes de colónias rada acidental.
portuguesas ou de outros países da Europa,
Durante o período pós-reprodutor a chil- que migram em direcção a áreas de inver- TEXTO
reta foi detetada em maior número na zona nada situadas na costa Ocidental africana Nuno Barros

296 Espécies regulares • Charadriiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Charadriiformes 297


Gaivina-dos-pauis
Chlidonias hybrida

IMAGEM
Victor Maia

Distribuição e abundância húmidas costeiras, como são os casos do português, variando entre algumas unidades
no inverno estuário do Tejo, lagoa de Santo André e ria e poucas dezenas de exemplares. Excepcio-
Formosa, assim como numa pequena área nalmente, já foram registadas concentrações
Não foi registada a presença desta espécie do Alto Alentejo. É seguramente uma espé- de até meia centena de aves (Leitão in Leitão
durante o inverno, em qualquer região do terri- cie pouco abundante na passagem migrató- & Cidraes-Vieira 2010). Tradicionalmente,
tório português. A quase totalidade da popu- ria pós-nupcial. No entanto, a escassez de concentra-se em zonas lacustres como pauis,
lação europeia migra em direcção às áreas de registos aqui apresentados não reflecte a real albufeiras e açudes, assim como em salinas e
invernada, que se situam em África, pelo que presença desta ave aquática no nosso terri- canteiros de arroz alagados. Ao contrário da
não é expectável a sua presença em Portugal, tório, durante este período migratório. Esta sua congénere gaivina-preta, só muito rara-
durante este período. No entanto, salienta- é uma espécie que tendencialmente efec- mente se observa em migração sobre o mar.
-se a existência de invernada regular de gaivi- tua concentrações pós-nupciais a partir de
na-de-faces-brancas em regiões de Espanha, meados de Julho, pelo que uma parte subs- Durante os trabalhos de campo deste atlas,
nomeadamente em zonas próximo da fronteira tancial dos efectivos migradores que passam não foi registada a presença da gaivina-dos-
portuguesa, como é o caso das marismas do por Portugal pode não ter sido registada no -pauis nas regiões insulares.
Guadalquivir (SEO/Birdlife 2012). decorrer dos trabalhos de campo deste atlas.
Para além dos locais mencionados, são conhe-
cidos registos de algumas dezenas de aves,
Distribuição e abundância em locais como o estuário do Sado, a lagoa
na migração pós-nupcial dos Patos, a ria de Aveiro e o sapal de Castro
Marim. Habitualmente observam-se números
Em Portugal Continental, foi registada a relativamente pequenos nas áreas de alimen- TEXTO
presença desta espécie em algumas zonas tação, durante a migração pelo território Alexandre H. Leitão

298 Espécies regulares • Charadriiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Charadriiformes 299


Gaivina-preta
Chlidonias niger

IMAGEM
Bruno Maia

Distribuição e abundância cos da espécie, como estuários, lagoas costei- riores, na Beira Baixa (barragem de Idanha) e
no inverno ras e rias, bem como no mar (por exemplo no Baixo Alentejo (barragem do Alvito), o que
nas Berlengas). Ao longo da costa continental sugere que durante a migração pós-nupcial a
A gaivina-preta ocorre em Portugal durante oeste, a gaivina-preta tende a ser mais comum espécie utiliza rotas migratórias sobre terra, tal
as suas deslocações migratórias pré e pós durante a migração pós-nupcial comparati- como acontece durante a migração pré-nup-
nupciais (Catry et al. 2010), entre os territó- vamente ao período pré-nupcial (Catry et al. cial (Catry et al. 2010).
rios de reprodução na Europa Central e Orien- 2010), pelo que, o número de registos obti-
tal e as áreas de Invernada ao longo da costa dos se pode considerar menor do que seria de A gaivina-preta ocorre de forma aciden-
Ocidental africana (BirdLife International 2014). esperar. Por exemplo, a espécie não foi regis- tal nos Açores e Madeira, mas não foi detec-
Durante os meses de Inverno a espécie não foi tada nos estuários do Tejo e do Sado, locais tada em nenhum dos arquipélagos durante os
detectada em Portugal Continental nem nos que habitualmente reúnem um maior número meses de migração pós-nupcial. Para além da
arquipélagos dos Açores e da Madeira. de indivíduos (Catry et al. 2010). Este resul- subespécie nominal (Chlidonias niger niger),
tado pode dever-se ao facto de não ter sido em anos anteriores existem registos da subes-
feito um esforço de amostragem dirigido, pécie americana (Chlidonias niger surinamen-
Distribuição e abundância conjugado com as particularidades migra- sis) em ambos os arquipélagos durante esta
na migração pós-nupcial tórias da espécie, tal como, movimentar- altura do ano (Jara et al. 2010, Muchaxo et al.
-se geralmente em pequenos bandos (Catry 2011).
Durante o período pós-nupcial a gaivina- et al. 2010), e encontrar-se em passagem no
-preta foi essencialmente detectada ao longo nosso país (Farinha & Costa 1999). A espécie TEXTO
da costa oeste e sul em habitats característi- foi também registada em zonas húmidas inte- João L. Guilherme

300 Espécies regulares • Charadriiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Charadriiformes 301


Alcaide
Catharacta skua

IMAGEM
António A. Gonçalves

Distribuição e abundância (Georg Schreier, com. pess.) e só acidental- No arquipélago da Madeira, onde o alcaide
no inverno mente se observam dentro de estuários ou rias é considerado um invernante e migrador de
(e.g. Catry et al. 2003, Noticiário Ornitológico). passagem escasso mas regular (Clarke 2006),
O alcaide é o maior representante da famí- foi registado em três quadrículas da Madeira e
lia dos stercorarídeos que ocorre na Europa. uma das Desertas.
Foi detectado nas contagens sistemáticas Distribuição e abundância
de inverno apenas junto a Faro, mas a espé- na migração pós-nupcial Foi também registado nas Selvagens, onde
cie inverna um pouco por todo a costa conti- é uma espécie cujos registos carecem de
nental, como a bibliografia (Catry et al. 2010, Na época de migração outonal, obtive- homologação pelo Comité Português de Rari-
Paterson 1997, Ramírez et al. 2008) e ainda os ram-se registos adicionais ao longo de toda dades.
registos adicionais aqui mapeados compro- a costa sul de Portugal, e a sua ausência no
vam. Trata-se uma ave marinha de ocorrência Norte deve-se provavelmente a uma escas- No contexto desta publicação, não se
principalmente pelágica, pelo que a metodo- sez no número de observadores dedicados conseguiram registos provenientes dos Açores,
logia empregue neste atlas apresenta limita- à observação de aves no mar que contribuí- onde só recentemente o alcaide foi excluído
ções óbvias na caracterização da sua distribui- ram para este atlas com dados relativos a esse das espécies cujos registos carecem de homo-
ção e fenologia. Idealmente, observa-se em período. logação pelo Comité Português de Raridades,
excursões pelágicas e a partir de cabos, e com sendo a espécie é considerada um visitante
condições climatéricas adversas chegam a A espécie ocorre durante todos os meses regular no outono e no inverno (Clarke 2006).
registar-se concentrações de centenas de indi- do ano, sendo pouco frequente entre junho
víduos junto à costa. Pontualmente, detectam- e setembro, e mais numeroso em novembro TEXTO
-se dormitórios de alcaide próximo da costa (Ramírez et al. 2008). João Tiago Tavares

302 Espécies regulares • Charadriiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Charadriiformes 303


Moleiro-do-ártico
Stercorarius pomarinus

IMAGEM
Bruno Maia

Distribuição e abundância nental particularmente durante o período a caminho das zonas de invernada na África
no inverno pós-migratório, sobretudo entre meados de Ocidental (Del Hoyo et al. 1996). A maioria dos
agosto até ao princípio de novembro, aparen- registos foi efectuada a partir de pontos de
A espécie é essencialmente migradora de tando ter um pico de passagem em meados observação em promontórios, como os cabos
passagem. No entanto foram obtidos alguns de outubro (Catry et al. 2010). Durante este de São Vicente, Espichel, Raso ou Carvoeiro,
registos adicionais no inverno. A migração da período a espécie pode ocorrer ao longo de com registos esporádicos noutros pontos da
espécie estende-se até bastante tarde, pelo toda a costa, sendo no entanto mais propí- costa. Em termos de número, estes registos
que se torna dúbio atribuir um verdadeiro cia a sua observação a partir de promontó- envolveram desde indivíduos isolados, até
estatuto de invernante às aves registadas rios, sobretudo na presença de ventos fortes algumas dezenas de aves.
neste período (Catry et al. 2010). do quadrante Oeste. Um factor que aumenta
a dificuldade de deteção da espécie é a faci- No arquipélago da Madeira foram efetua-
lidade de confusão com o moleiro-pequeno. dos registos em Porto Moniz, referentes a
Distribuição e abundância Estes factos fazem com que a abundân- indivíduos isolados. A espécie é considerada
na migração pós-nupcial cia desta espécie nas nossas águas seja mal acidental no arquipélago dos Açores e não
conhecida, e provavelmente subestimada. As foram efectuados registos no decorrer deste
O moleiro-do-ártico é uma ave marinha de aves que frequentam as águas de Portugal projecto.
hábitos pelágicos. A presença deste moleiro Continental deverão ter origem em territó- TEXTO
faz-se notar em águas do território conti- rios de nidificação no Ártico, encontrando-se Nuno Barros

304 Espécies regulares • Charadriiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Charadriiformes 305


Moleiro-pequeno
Stercorarius parasiticus

IMAGEM
Victor Maia

Distribuição e abundância para o hemisfério Sul fora da época de repro- tórios em toda a faixa litoral do país, espe-
no inverno dução, período em que se distribui desde o cialmente nos meses de Abril e Maio (Cramp
Sul dos continentes americano e Africano até & Simmons 1985) e de Agosto a início de
Esta espécie foi registada em apenas à Austrália e Nova Zelândia (del Hoyo et al. Novembro (Catry et al. 2010).
quatro locais durante o inverno, possivel- 1996).
mente devido à metodologia não estar orien- Existem vários registos de moleiros-pe-
tada para a detecção de espécies de hábitos Em Portugal Continental o moleiro-pe- quenos em zonas marcadamente pelágicas
pelágicos. A presença de moleiros-pequenos queno é observado com mais frequência que confirmam a sua presença durante as
nas águas continentais nacionais é conhecida perto de terra após períodos de temporal, migrações, também nas áreas oceânicas mais
e existem registos regulares de pequenos podendo mesmo penetrar em zonas estuari- afastadas do litoral continental, e nas imedia-
números de aves observadas neste período nas e outras zonas húmidas costeiras (Catry ções dos Arquipélagos da Madeira e dos
no Algarve (Bolton & Beale 1997) e junto ao et al. 2010). A espécie distribui-se ao longo Açores, onde a espécie ocorre em peque-
cabo raso (Catry et al. 2010). de toda a costa continental portuguesa (Catry nos números durante as épocas de migra-
et al. 2010), mas a distribuição apresentada ção. Apesar destes movimentos conhecidos,
Nos Arquipélagos da Madeira e Açores a pode reflectir algumas falhas de cobertura durante o período deste atlas apenas foram
espécie não foi observada durante o período resultantes da ausência destas condições efectuadas duas observações no arquipélago
de inverno. atmosféricas específicas durante os perío- da Madeira.
dos de censo. Apesar desta distribuição frag-
mentada, registaram-se várias observações
Distribuição e abundância pontuais ao longo da costa, desde o Minho
na migração pós-nupcial até ao leste algarvio, sobretudo nas zonas
correspondentes a promontórios marinhos. TEXTO
Espécie que nidifica no extremo norte da Outros trabalhos orientados para a detecção Pedro Geraldes
Eurásia e da América do Norte, migrando de espécies marinhas indicam fluxos migra- O autor não segue o acordo ortográfico de 1990

306 Espécies regulares • Charadriiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Charadriiformes 307


Airo
Uria aalge

IMAGEM
Hennie J. Cuper

Distribuição e abundância Norte-Europeias (Catry et al. 2010). Apenas sobretudo a partir de novembro e durante
no inverno cinco observações foram efectuadas neste todo o período de inverno, facto que está na
período, a maioria referente a indivíduos isola- origem da ausência de registos para o período
O airo é um invernante pouco comum no dos, que tiveram lugar na praia de Faro, nos pós-reprodutor.
território continental, distribuindo-se por toda cabos Raso e Carvoeiro, porto de Peniche e
a faixa costeira, parecendo no entanto ser mais lagoa de Óbidos.
escasso a sul do cabo Carvoeiro (Catry et al.
2010). Trata-se de uma espécie de difícil dete-
ção. Não é normalmente observado a partir Distribuição e abundância
da costa e não costuma penetrar em baías ou na migração pós-nupcial
estuários. A maioria das aves que ocorrem em
Portugal deverá provir de colónias Britânicas, O airo é um invernante tardio, cuja presença TEXTO
podendo também ter origem noutras colónias nas águas do território continental é notada Nuno Barros

308 Espécies regulares • Charadriiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Charadriiformes 309


Torda-mergulheira
Alca torda

IMAGEM
José Viana

Distribuição e abundância o que se confirma com dados de outros projec- nental portuguesa entre Peniche e o cabo de
no inverno tos simultâneos com este atlas (Meirinho et al. São Vicente. Trabalhos com metodologias
2014) Esta ave pode ser observada em Portugal específicas para a detecção de espécies mari-
A torda-mergulheira é uma espécie inver- entre Outubro e Maio, sendo os picos de abun- nhas indicam fluxos migratórios de Outubro até
nante regular que se distribui de norte a sul dância nos meses de Outubro, Novembro e de início de Maio (Meirinho et al. 2014) em toda
do país. A escassez de registos sistemáticos Fevereiro, o que coincide com os seus movi- a faixa litoral do país, com maiores abundân-
deve-se à metodologia não orientada para mentos para os territórios de invernada a partir cias a reportar nos meses de Novembro e de
a detecção de espécies marinhas apesar da das suas colónias de nidificação que se situam Fevereiro. Uma vez que os picos de migração
espécie estar presente, o que se comprova na Islândia, nas Ilhas Feroé, nas ilhas Britânicas ocorrem ainda dentro do período considerado
pela existência de vários registos adicionais. e na França (Cramp & Simmons 1985). como de Inverno, esse pode ser outro factor
No mapa apresentado é possível observar pelo qual a espécie foi pouco detectada no
vários registos no Norte do território conti- A torda-mergulheira é ocasional nos arqui- período de migração pós-nupcial considerado
nental, na região de Lisboa e na costa Algar- pélagos da Madeira e Açores, não tendo aqui pela metodologia deste Atlas.
via. Estas observações, na sua maioria corres- sido registada durante este atlas.
pondem a visitas adicionais, que indiciam a Não existem registos de migração regular
presença da espécie ao longo de toda a costa nos arquipélagos da Madeira ou dos Açores.
continental Portuguesa. Distribuição e abundância
na migração pós-nupcial
A informação previamente existente aponta TEXTO
a espécie como mais comum nas águas costei- Nesta época do ano foram efectuados cinco Pedro Geraldes
ras a Norte da foz do rio Tejo (Catry et al. 2010), registos de torda-mergulheira na costa conti- O autor não segue o acordo ortográfico de 1990

310 Espécies regulares • Charadriiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Charadriiformes 311


Cortiçol-de-barriga-preta
Pterocles orientalis

IMAGEM
Faísca

Distribuição e abundância permaneceriam no inverno (dados próprios, a principal área de invernada com mais de 50%
no inverno Catry et al. 2010). Embora não tenha sido detec- das aves (Elias et al. 1998, Cardoso 2013).
tada nalguns locais, por insuficiências de amos-
Espécie residente, pouco comum e locali- tragem, admite-se que a espécie apresente uma
zada, que frequenta sobretudo peneplanícies distribuição invernante similar à expressada Distribuição e abundância
semiáridas desarborizadas com pastagens, no período estival. As densidades obtidas no na migração pós-nupcial
pousios longos, cereais de sequeiro, alqueives âmbito do atlas reflectem a grande importância
e leguminosas de inverno (Cardoso et al. 2007). das ZPE de Mértola e de Castro Verde, onde em Apesar de ser sedentária e de se conhecerem
No inverno ocorre na metade oriental do Alen- 2000 e 2001 os bandos observados atingiram movimentos dispersivos provenientes de regiões
tejo, nomeadamente em Castro Verde, Mértola, os 150 indivíduos (J. Pedro, Almeida et al. 2003). sujeitas a condições climatéricas mais adversas
Mourão, Reguengos de Monsaraz e Évora e, em A espécie será menos abundante na região de (SEO/BirdLife 2012), o aumento do tamanho dos
reduzido número, em Campo Maior (L. Venân- Mourão, embora se suponha que as abundân- bandos e a flutuação dos números em diversas
cio). Também ocorre no planalto de Martim cias reais (com grupos com 66 e 74 aves, em contagens (Cardoso 2013) sugerem a existência
Longo (dados próprios) e na Campina da Idanha 2012 e 2013, J.L. Almeida) sejam maiores que de fluxos entre diferentes áreas após a reprodu-
(C. Pacheco). Nas últimas duas décadas, verifi- as apuradas. Cardoso (2013) refere um total de ção. No entanto, o facto da espécie apresentar um
cou-se o desaparecimento da espécie em algu- 660 indivíduos nas ZPE de Castro Verde, Vale do período reprodutivo tardio, com posturas conhe-
mas bolsas de habitat favorável com a instalação Guadiana, Moura-Mourão-Barrancos e Reguen- cidas entre Junho e Agosto (Almeida et al. 2003),
de culturas permanentes (povoamentos flores- gos de Monsaraz em 2013; contudo, as enormes impossibilita a interpretação dos valores obtidos.
tais, olivais e vinhas) em Castro Verde e Évora flutuações interanuais dificultam uma estimativa
(dados próprios), além da extinção de vários populacional (em 2009, as duas primeiras áreas TEXTO
núcleos reprodutores (Trás-os-Montes, Beira detinham 837 indivíduos). Com evolução posi- Rogério Cangarato & Carlos Miguel Cruz
Alta, Alter do Chão e Monforte) onde as aves tiva nos últimos 10 anos, Castro Verde constitui Os autores não seguem o acordo ortográfico de 1990

312 Espécies regulares • Pterocliformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Pterocliformes 313


Pombo-das-rochas
Columba livia

IMAGEM
José Sousa

TEXTO
Tiago Rodrigues
e David Gonçalves

Modelação

I NV ERN O

Distribuição e abundância foi observada em grande parte do território conti-


no inverno nental, notando-se maior frequência e abundâncias
mais elevadas na região do grande Porto e distritos
Na interpretação dos padrões de distribuição vizinhos, certamente devido à existência de popu-
e abundância do pombo-das-rochas é importante lações ferais e domésticas numerosas, associadas
ter em conta a dificuldade em distinguir os indi- ao meio urbano. Nos Açores, foi observada em
víduos selvagens desta espécie dos da sua varie- todas as ilhas, na maioria das quadrículas amostra-
dade doméstica, assim como, devido à miscigena- das, sendo evidente a menor abundância nas ilhas
ção entre eles, a possibilidade de já não existirem do grupo oriental. No arquipélago da Madeira a
populações verdadeiramente selvagens em territó- espécie só foi registada nas ilhas de Porto Santo e
rio nacional. Mesmo nos Açores e na Madeira, onde Madeira, tendo esta última os níveis de abundância
os indivíduos selvagens pertencem a uma subes- mais elevados, sobretudo nas quadrículas próximas
pécie diferente (C. l. atlantis), a pureza das suas do litoral onde a disponibilidade de habitat será
populações é questionável (Bannerman & Banner- maior; nas ilhas Desertas será mais rara, enquanto M I GRA ÇÃ O PÓS- N U PCIA L
man 1966). Assim, os mapas apresentados refleti- no arquipélago das Selvagens há registos frequen-
rão a distribuição de ambas as formas da espécie. tes de indivíduos da forma doméstica (Atlas das
Algumas populações são tidas como mais próximas Aves do Arquipélago da Madeira 2014).
das populações originais, nomeadamente as locali-
zadas na Peneda-Gerês, vales superiores do Douro
e Tejo e na costa Sudoeste (Rufino 1989, Pimenta Distribuição e abundância
& Santarém 1996). Nos Açores e na Madeira, é na migração pós-nupcial
possível que as aves que nidificam mais afastadas
de aglomerados urbanos e em ilhéus ainda mante- Como referido anteriormente, o pombo-das-
nham as suas características selvagens (Oliveira -rochas é sedentário e a sua distribuição deverá
1999, Biscoito & Zino 2002). O pombo-das-rochas permanecer igual ao longo do ano. As diferen-
é uma espécie sedentária, pelo que a sua distribui- ças entre os dois períodos em análise, quer no
ção durante o inverno em Portugal Continental, continente quer nas regiões autónomas, maiori-
nos Açores e na Madeira, não difere da distribui- tariamente resultarão de insuficiências de cober-
ção registada durante o período de reprodução tura (evidente sobretudo no caso dos Açores, no
(Equipa Atlas 2008). Durante o inverno, a espécie período pós-nupcial).

314 Espécies regulares • Columbiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Columbiformes 315


Seixa
Columba oenas

IMAGEM
Armstrong Park

Distribuição e abundância dutivo (Catry et al. 2010). No Baixo Alentejo a dispersão das aves após o período nupcial a
no inverno seixa apresentou uma distribuição mais limitada partir das zonas de cotas mais elevadas, onde
e uma abundância menor do que aquelas que nidifica (Purroy 1997, SEO/BirdLife 2012). A
A distribuição desta espécie evidência a sua foram determinadas em 1998 no Atlas de Aves presença desta espécie na costa ocidental
escassez no interior norte (serras da Peneda Invernantes do Baixo Alentejo (Elias et al. 1998). de Sintra, estuário do Tejo, Ponta de Sagres
Gerês, Barroso e Montesinho) e destaca a rela- e Tavira enquadra-se num contexto de passa-
tiva abundância no interior alentejano, durante A seixa apresenta no interior alentejano uma gem migratória referenciada por outros auto-
o período de inverno. A escassez de registos no distribuição alargada, embora de forma descon- res (Catry et al. 2010, Felgueiras et al. 2002).
limite norte do país, ainda que possa resultar da tínua. A sua concentração em algumas áreas do Do mesmo modo, a presença da espécie no
dificuldade na sua detecção, em consequên- Alentejo dever-se-á certamente à chegada de interior alentejano deverá corresponder às
cia da sua baixa conspicuidade e de eventual exemplares essencialmente provenientes de primeiras aves a chegar aos locais de inver-
falha na cobertura de habitat adequado para Espanha e até do norte da Europa (SEO/BirdLife nada. Esta espécie continua ausente, tal como
a espécie, reflete a sua quase ausência nesta 2012, Catry et al. 2010, Elias et al. 1998). no Atlas de Aves Nidificantes, da área da serra
parte do território durante o período de inver- da Malcata onde tinha sido registada a sua
nada, tal como referenciado para o noroeste da ocorrência em número reduzido durante todo
península Ibérica (SEO/BirdLife 2012). De facto Distribuição e abundância o ano (Silva 1998).
Pimenta & Santarém (1996) já haviam referido na migração pós-nupcial
a escassez desta espécies na Peneda-Gerês no
inverno, observação que faz supor que estas O padrão da distribuição e abundância TEXTO
aves possam dispersar após o período repro- da seixa no período de migração sugere a Paulo Travassos

316 Espécies regulares • Columbiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Columbiformes 317


Pombo-torcaz
Columba palumbus

IMAGEM
Carlos Ribeiro

TEXTO
Tiago Rodrigues
e David Gonçalves

Modelação

I NV ERN O

Distribuição e abundância residente (C. p. azorica). À semelhança da distribui-


no inverno ção observada durante o período de reprodução
no Continente (Catry et al. 2010), a sua presença foi
O pombo-torcaz está presente todo o ano em registada na maioria das quadrículas amostradas,
Portugal. No continente, durante a invernada, à em todas as ilhas, sendo que a ilha Terceira apre-
população reprodutora junta-se um importante sentou valores de abundância mais elevados.
efetivo migrador proveniente do Norte e Centro
da Europa, bem como da vizinha Espanha (Gallego Atualmente a espécie é acidental nos arquipéla-
1985, Butkauskas et al. 2008, Catry et al. 2010). gos da Madeira e Selvagens.
Durante este período, a espécie foi observada em
todo o território continental, mas foi no interior
centro-sul de Portugal que se registaram os valo- Distribuição e abundância
res de abundância mais elevados, coincidindo com na migração pós-nupcial
parte da zona onde a pressão cinegética à espé- M I GRA ÇÃ O PÓS- N U PCIA L
cie será mais elevada (Santos et al. 2001). Todos os Durante a migração pós-nupcial o pombo-tor-
anos, nesta região, a gestão agro-silvo-pastoril dos caz também foi registado em todo o território
montados proporciona abrigo e alimento a milhões continental. Durante este período a marcada dife-
de pombos-torcazes que aí passam o inverno (Bea rença de abundância entre Norte e Sul que se viria
et al. 2003, Elias et al. 1998). Juntamente com as a observar no inverno não era ainda evidente.
regiões espanholas contíguas, é o principal quartel
de invernada do pombo-torcaz na Península Ibérica Nos Açores a cobertura das ilhas foi deficiente
(Bea et al. 2003). A espécie permanece nas regiões no período pós-nupcial. Tendo em conta os hábi-
nortenhas durante o inverno, mas aparentemente tos sedentários do pombo-torcaz no arquipélago,
com níveis de abundância inferiores aos observa- a sua distribuição não deverá ser diferente da
dos na época de reprodução. É possível que estas observada durante a invernada e período de nidi-
populações sejam sedentárias (Rufino 1989, Bea et ficação. A abundância mais elevada na ilha Terceira
al. 2003). já havia sido observada por Dickens & Neves
(2005), que indicaram ainda que as diferenças de
No arquipélago dos Açores, o pombo-torcaz habitat entre ilhas seriam causadoras das variações
está representado por uma subespécie endémica de abundância entre elas.

318 Espécies regulares • Columbiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Columbiformes 319


Pombo-da-madeira
Columba trocaz

IMAGEM
Carlos Cabral

Distribuição e abundância existem áreas fragmentadas do seu habitat, boa parte dos registos tenham sido informa-
no inverno sendo frequentemente observado em áreas ções complementares, obtidas fora das visitas
de floresta exótica e de campos agrícolas sistemáticas. As áreas com maior abundân-
A distribuição de pombo-da-madeira adjacentes à Laurissilva (Equipa Atlas 2013). cia registada localizam-se, sem surpresa, nas
encontrada durante o período de inverno A ausência de um maior número de registos vertentes norte da ilha.
restringiu-se às vertentes norte do maciço poderá ser devida ao caráter discreto que a
montanhoso central e costa norte da ilha da espécie apresenta ao longo de todo o ano
Madeira, áreas onde se encontram as melhores (Oliveira & Jones 2001).
manchas de floresta laurissilva, habitat prefe-
rencial desta espécie endémica da Madeira
(Oliveira 2003). Distribuição e abundância
na migração pós-nupcial
Na época de reprodução apresenta uma
distribuição mais alargada, que inclui áreas Durante o período pós-nupcial foi detetada TEXTO
na vertente sul da ilha da Madeira, onde ao longo de toda a ilha da Madeira, ainda que Pedro Sepúlveda

320 Espécies regulares • Columbiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Columbiformes 321


Rola-brava
Streptopelia turtur

IMAGEM
Les Bunyan
rspb-images.com

TEXTO
David Gonçalves

Modelação

M I GR AÇÃO PÓS- N U PCIA L

Distribuição e abundância Distribuição e abundância No arquipélago dos Açores a espécie não


no inverno na migração pós-nupcial foi registada em período pós-nupcial. No
entanto, para este arquipélago, existem alguns
Durante o período de inverno em Portu- No período pós-nupcial a rola-brava foi registos, escassos, da sua observação em
gal Continental a rola-brava só foi registada registada um pouco por todo o território de período nupcial (registos entre Maio e Julho)
em cinco quadrículas, sendo baixa a abundân- Portugal Continental. A variação espacial da nas ilhas das Flores, Corvo, Pico, Terceira, São
cia obtida nas quatro quadrículas visitadas de abundância evidência um padrão geral homo- Miguel e Santa Maria (Rodrigues et al. 2010,
forma sistemática. Estes resultados eram espec- géneo, que não parece relacionado com o Rodebrand 2014). No arquipélago da Madeira
táveis, pois esta espécie é uma migradora trans- padrão heterogéneo observado em época a rola-brava foi observada em duas quadrícu-
-sahariana que se reproduz na Europa e que só de reprodução (Equipa Atlas 2008). Ou seja, las, uma situada na ilha da Madeira e outra nas
raramente é observada em Portugal Continen- o padrão de registos obtidos em período ilhas Selvagens, confirmando assim o seu esta-
tal durante o Inverno (Catry et al. 2010). pós-nupcial parece evidenciar a influên- tuto de visitante ocasional comum (Biscoito
cia da migração que, normalmente, se inicia & Zino 2002, Romano et al. 2010), Havendo
Nos arquipélagos dos Açores e Madeira a em Agosto, atinge o seu máximo em Setem- mesmo um registo de nidificação confirmada
rola-brava não foi detetada neste período no bro, decaindo significativamente em Outubro (Zino 1991).
âmbito dos trabalhos deste atlas. (Catry et al. 2010).

322 Espécies regulares • Columbiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Columbiformes 323


Rola-turca
Streptopelia decaocto

IMAGEM
Ray Kennedy
rspb-images.com

TEXTO
Carlos Pereira

Modelação

I NV ERN O

Distribuição e abundância Nas regiões insulares apenas foi observada numa


no inverno quadrícula na zona sudoeste da Madeira, e nos
Açores, onde é residente em algumas ilhas (Pereira
A rola-turca foi resgistada em todo o territó- 2010), foi reportada na ilha do Pico em duas quadrí-
rio de Portugal Continental, mostrando contudo culas e numa no Faial. Existem ainda registos, efec-
uma maior descontinuidade na sua distribuição a tuados durante a época de amostragem, em São
Norte do rio Tejo, sobretudo nas áreas que parecem Miguel e na Terceira, embora recolhidos fora do
corresponder às zonas das serras mais altas da Beira âmbito deste atlas (Aves dos Açores 2014).
Baixa, Beira Alta, Minho e Trás-os-Montes.
M I GRA ÇÃ O PÓS- N U PCIA L
Esta é uma espécie que se tem vindo a expan- Distribuição e abundância
dir naturalmente por toda a Europa e também em no inverno
Portugal. No final dos anos 80 do século passado
a rola-turca era uma espécie localizada, cuja popu- A distribuição continental da rola-turca durante
lação não ultrapassava os 100 casais. Desde então o período de migração pós-nupcial estende-se de
colonizou todo o país de norte para sul (ver Catry et norte a sul, evidenciando uma maior descontinui-
al. 2010). Actualmente estima-se que existam entre dade geográfica no norte, parecendo esta menor
10.000 e 50.000 casais e a população continua a distribuição coincidir com os maciços serranos das
aumentar, tendo crescido 100% entre 2004 e 2011 regiões beirãs, minhota e transmontana. Note-se
(ICNF 2013). contudo, que a ausência em algumas zonas poderá
ser acentuada devido a falhas de cobertura.
A rola-turca prefere meios urbanos e peri-ur-
banos, ocorrendo em jardins, parques, pomares e No arquipélago da Madeira, embora com poucos
outros arvoredos, silos, instalações de gado e outros registos durante esta época, apenas não foi detec-
locais onde encontra alimento abundante, sempre tada nas Desertas, tendo nos Açores sido observada
associada a casas e instalações agro-pecuárias. em São Miguel, na Terceira, no Pico e no Faial.

324 Espécies regulares • Columbiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Columbiformes 325


Periquito-rabijunco
Psittacula krameri

IMAGEM
Faísca

Distribuição e abundância no caso de Mira e Porto são conhecidas obser- A informação sobre movimentos dispersivos
no inverno vações nestes locais, existindo inclusive um desta espécie é escassa, havendo dados para
núcleo reprodutor no Mira (Equipa Atlas 2008). a área de Londres que dão uma taxa de expan-
O periquito-rabijunco é uma espécie são de 0,4 km/ano, num período de 12 anos
exótica, originária da África tropical e sul da Durante as amostragens de inverno a espé- (Buttler 2003). Face ao inverno, para além da
Ásia, que ocorre no estado selvagem, em cie não foi detetada nos arquipélagos dos Lisboa, mantiveram-se registos nas Caldas da
Portugal Continental, desde os anos 80 do Açores, Madeira e Selvagens, apesar de haver Rainha, Lagos e Portimão, o que pode indi-
século passado (Matias 2002). Indivíduos no Atlas das Aves Nidificantes referência à sua ciar uma maior estabilidade da espécie nestes
provenientes de fugas de cativeiro encontra- ocorrência na ilha de São Miguel nos Açores. locais.
ram nos parques e jardins urbanos, com vege-
tação arbórea de grande e médio porte, condi- Durante este período a espécie foi dete-
ções para o seu estabelecimento. No período Distribuição e abundância tada no arquipélago dos Açores nas ilhas de
de inverno a espécie permanece confinada à na migração pós-nupcial São Miguel e em Santa Maria, o que constitui
sua principal área de ocorrência – Lisboa. Fora uma nova zona de ocorrência. Foi efectuada
da Grande Lisboa existiram registos adicio- No período pós-nupcial a distribuição do também uma observação na ilha da Madeira,
nais dispersos pelo país, associados a áreas periquito-rabijunco mantém-se idêntica à de onde foi confirmada a reprodução da espécie
costeiras e de elevada densidade populacional inverno, sendo a maioria dos registos na zona em 2009 (Equipa Atlas 2013).
(Porto, Mira, Caldas da Rainha, Lagos, Porti- de Lisboa. Estes resultados parecem suge-
mão). Provavelmente muitos destes registos rir que a distribuição da espécie se mantém TEXTO
dizem respeito a fugas de cativeiro, contudo estável no seu principal núcleo populacional. Carlos Godinho

326 Espécies regulares • Psittaciformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Psittaciformes 327


Cuco-rabilongo
Clamator glandarius

IMAGEM
Faísca

Distribuição e abundância Este do Alentejo e Beira Baixa, sendo a espé- e que os registos mais tardios são geralmente
no inverno cie praticamente ausento do litoral e Norte referentes a aves juvenis e muitas vezes já fora
do país. A espécie não foi registada nas ilhas, das áreas de nidificação (Catry et al. 2010).
O cuco-rabilongo é uma espécie esti- apesar de poder ocorrer de forma acidental na Os dados agora recolhidos comprovam este
val em Portugal Continental, relativamente Madeira. padrão, com registos pontuais espalhados
pouco numerosa, cuja ocorrência coincide pelo país, tanto no litoral como no interior, em
com as áreas mediterrânicas de cariz continen- número muito reduzido e na sua maioria fora
tal (Equipa Atlas 2008), encontrando-se muito Distribuição e abundância dos territórios de nidificação.
associada a áreas abertas, planícies ou monta- na migração pós-nupcial
dos pouco densos (Catry et al. 2010). A espé- Durante este período a espécie não foi
cie foi detetada no âmbito dos trabalhos deste Trata-se de um migrador trans-saariano, detetada nos arquipélagos dos Açores, Selva-
atlas por ser um migrador precoce, chegando que parte precocemente do nosso país. É gens e Madeira.
ao nosso país ainda no inverno, entre meados referido que os adultos começam a deixar as
de Janeiro e Março (Catry et al. 2010). Os regis- áreas de nidificação em Junho, tendo a maioria TEXTO
tos neste período foram efectuados na metade já abandonado o território a partir de Agosto, Nuno Barros

328 Espécies regulares • Cuculiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Cuculiformes 329


Cuco-cinzento
Cuculus canorus

IMAGEM
Ben Andrew
rspb-images.com

Distribuição e abundância País. A obtenção desta distribuição fragmen- abundância de aves na metade norte do país,
no inverno tada pode estar relacionada com os hábitos o que coincide com a distribuição conhecida
secretivos da espécie fora do período de repro- da espécie na época de reprodução (Equipa
Espécie que se encontra completamente dução e consequente falta de informação (Catry Atlas 2008).
ausente do país durante os meses de Inverno. et al 2010). Segundo os mesmos autores o cuco-
Não foi registada qualquer observação siste- -cinzento é de uma espécie migradora precoce O único registo obtido nas regiões autó-
mática ou ocasional, o que se coaduna com o que abandona os locais de criação muito cedo, nomas refere-se a uma observação na Ponta
carácter migrador da espécie que se desloca por vezes iniciando a migração em meados de do Pargo, na ilha da Madeira, o que confirma
para Sul do Sara durante os meses de Inverno. Julho, o que pode ajudar a interpretar o baixo a raridade da espécie e o seu carácter como
número de registos obtidos, quando compara- migrador ocasional na região. No arquipélago
dos por exemplo com os do atlas das aves nidi- dos Açores não foi obtido qualquer registo de
Distribuição e abundância ficantes onde se obteve uma distribuição contí- cuco-cinzento.
na migração pós-nupcial nua de norte a sul do país (Equipa Atlas 2008).
TEXTO
Espécie detectada em poucas quadrículas Apesar do pequeno número de observa- Pedro Geraldes
de Portugal Continental, mas de norte a sul do ções obtidas, é possível constatar uma maior O autor não segue o acordo ortográfico de 1990

330 Espécies regulares • Cuculiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Cuculiformes 331


Coruja-das-torres
Tyto alba

IMAGEM
Faísca

Distribuição e abundância inexistência de uma metodologia dirigida às (Rabaça et al. 2013). Dados de anilhagem suge-
no inverno aves noturnas e da própria discrição da coruja- rem que alguns juvenis possam ocasionalmente
-das-torres fora da época de reprodução. percorrer distâncias muito superiores (máx. 255
A coruja-das-torres é uma espécie residente km, referente a uma ave proveniente de Espa-
que nidifica em todo o território continental (T. nha; CEMPA 2009). A lezíria sul de Vila Franca
a. alba) e na ilha da Madeira, ocorrendo regu- Distribuição e abundância de Xira (estuário do Tejo) é conhecida como área
larmente também nas ilhas de Porto Santo e na migração pós-nupcial de concentração de juvenis de coruja-das-torres
Deserta (subespécie endémica T. a. schmitzi; neste período (Tomé & Valkama 2001), podendo
Equipa Atlas 2013). Está sobretudo associada Durante o período pós-nupcial a distribui- a espécie ocorrer em concentrações superiores
a habitats agrícolas abertos, embora também ção da coruja-das-torres no território continen- a 10 indivíduos/km em alguns troços (I. Roque
esteja presente em áreas florestais pouco tal é semelhante à distribuição no período de dados não publicados). No vale do Tejo, os habi-
densas e áreas urbanas. Durante o inverno, a inverno. Na Madeira, por outro lado, a espécie tats mais utilizados pela espécie para se abri-
espécie não foi detetada em algumas áreas com foi detetada no extremo oposto da ilha. Apesar gar durante a dispersão pós-natal consistem
nidificação confirmada. No entanto, uma vez das falhas na amostragem, a distribuição da sobretudo em manchas florestais (povoamen-
que os adultos permanecem nas imediações coruja-das-torres em todo o território nacional tos mistos de sobreiros e pinheiros, montados
do ninho durante todo o ano (Taylor 1994), a deverá ser muito aproximada à que se conhece e pinhais) contíguas a áreas agrícolas abertas,
coruja-das-torres deverá ocorrer em todo o para o período reprodutor (Equipa Atlas 2013, sendo também comum a utilização de árvores
território de Portugal Continental e em grande GTAN-SPEA 2013). isoladas nas bermas das estradas como poisos
parte da ilha da Madeira neste período, à seme- diurnos (Rabaça et al. 2013).
lhança do que acontece no período reprodutor O período pós-nupcial corresponde à
(Equipa Atlas 2008, GTAN-SPEA 2013). As gran- dispersão pós-natal dos juvenis, que podem TEXTO
des descontinuidades nos mapas resultam da percorrer distâncias geralmente até 60 km Inês Roque

332 Espécies regulares • Strigiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Strigiformes 333


Mocho-d’orelhas
Otus scops

IMAGEM
Frank Vassen

Distribuição e abundância obtido durante o período de migração foi de não serem conhecidos registos de nidifi-
no inverno muito reduzido, facto que traduzirá a dificul- cação de mocho-d’orelhas, a zona não apre-
dade de deteção desta espécie, de hábitos senta habitats propícios à sua reprodução. No
O mocho-d’orelhas é um migrador estival eminentemente noturnos. Por outro lado, as entanto, é conhecido que um número indeter-
em Portugal Continental, que não ocorre nos vocalizações conspícuas, que muitas vezes minado de indivíduos desta espécie ocorre
arquipélagos dos Açores, Madeira e Selva- denunciam a presença da espécie durante o aqui anualmente durante a migração pós-nup-
gens. Apesar de em Espanha se ter já confir- período reprodutor, praticamente deixam de cial, sobretudo durante setembro e outubro
mado a invernada de indivíduos em diferentes se ouvir após a nidificação (Sacchi et al. 1997), (STRIX in press).
regiões (SEO/BirdLife 2012), no nosso país os dificultando ainda mais a sua deteção.
registos durante o inverno são muito escassos
e limitados sobretudo ao barlavento algarvio Os registos obtidos durante o presente
(Catry et al. 2010). Durante os trabalhos do atlas localizaram-se dentro dos limites conhe-
presente atlas a espécie não foi detetada. cidos para as principais áreas ocupadas pela
espécie durante o período reprodutor (Equipa
Atlas 2008, GTAN-SPEA 2013). Assim, estes
Distribuição e abundância registos poderão ter envolvido indivíduos
na migração pós-nupcial ocupando ainda territórios de nidificação. A
única provável exceção verificou-se na área TEXTO
O número de registos de mocho-d’orelhas de Sagres (sudoeste algarvio), onde para além Ricardo Tomé

334 Espécies regulares • Strigiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Strigiformes 335


Bufo-real
Bubo bubo

IMAGEM
Melow Cat

Distribuição e abundância o período de amostragem de inverno coinci- de neste período ocorrer a dispersão pós-na-
no inverno diu com o início da reprodução desta espécie. tal dos juvenis, os seus movimentos são geral-
Apesar de ser um predador de topo, os indi- mente curtos e as áreas de assentamento
O bufo-real ocorre em grande parte de víduos territoriais têm uma área vital relativa- localizam-se geralmente na envolvente dos
Portugal Continental, sendo no entanto mais mente pequena e estável ao longo de todo o territórios ocupados por adultos reproduto-
comum na metade interior, desde Trás-os- ano (Penteriani & Delgado 2010). Os registos res (Penteriani & Delgado 2010). Pelas razões
-Montes até ao Algarve, e na Estremadura e obtidos durante o inverno estão incluídos na metodológicas já descritas, o número de regis-
Ribatejo. Atinge maior densidade nos vales do área de distribuição conhecida, que contudo tos de bufo-real obtidos durante Rui Louren-
Guadiana e seus afluentes, embora não refle- é mais abrangente do que a representada çopós-nupcial foi igualmente reduzido. Como
tido no mapa de distribuição. A sua ocorrên- (Equipa Atlas 2008, GTAN-SPEA 2013). tal, o mapa não reflete a totalidade da distri-
cia é, em grande medida, condicionada pela buição durante este período. Por esta razão, é
presença de afloramentos rochosos, incluindo importante que os mapas desta espécie sejam
escarpas, falésias, cristas e pedreiras. Devido Distribuição e abundância sempre interpretados em complementaridade
aos seus hábitos noturnos e ocorrência em na migração pós-nupcial com outra informação sobre a sua distribuição,
baixa densidade, houve poucos registos de nomeadamente a que consta no Atlas das aves
bufo-real resultantes da metodologia utili- Dado o carácter residente do bufo-real, a nidificantes em Portugal (Equipa Atlas 2008).
zada. O mapa não reflete por isso a totalidade área de ocorrência durante o período pós-re-
da distribuição durante o inverno. O bufo-real produtor deverá ser bastante semelhante à do TEXTO
é residente e territorial durante todo o ano, e inverno e restante período reprodutor. Apesar Rui Lourenço

336 Espécies regulares • Strigiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Strigiformes 337


Coruja-do-mato
Strix aluco

IMAGEM
Joaquim Antunes

Distribuição e abundância habitats, é mais comum nas áreas florestais. A constrangimentos metodológicos. Tendo em
no inverno sua densidade é mais elevada em povoamen- consideração, o carácter residente da coruja-
tos florestais autóctones, nomeadamente no -do-mato, é expectável que não existam dife-
Apesar de ser uma espécie relativamente Alto Alentejo e Ribatejo. renças relevantes na distribuição desta espé-
comum em Portugal Continental, o número de cie ao longo do ano. Embora a maioria dos
registos obtido durante o inverno foi reduzido, movimentos de dispersão dos juvenis deva
uma vez que não houve uma metodologia Distribuição e abundância ocorrer entre habitats de melhor qualidade
específica dirigida às aves noturnas. A coruja- na migração pós-nupcial para a coruja-do-mato (Santos et al. 2013), é
-do-mato é residente e territorial ao longo do no entanto possível a ocorrência desta espécie
ano. Por esse motivo, e embora esteja sub-re- No período pós-nupcial o número de regis- nalguns habitats menos propícios para a repro-
presentada, a distribuição coincide com os tos de coruja-do-mato foi igualmente redu- dução durante este período.
limites conhecidos (Equipa Atlas 2008, GTAN- zido, no entanto, o padrão de distribuição é
-SPEA 2013). A coruja-do-mato está presente concordante com o do inverno. Da mesma
em praticamente todo o território de Portugal maneira, o mapa deste período é uma sub-re- TEXTO
Continental. Apesar de ocorrer em diversos presentação da distribuição real, devido aos Rui Lourenço

338 Espécies regulares • Strigiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Strigiformes 339


Mocho-galego
Athene noctua

IMAGEM
Faísca

Distribuição e abundância dos da Europa, atingindo 7 casais/km2 em áreas lhante ao registado durante o inverno. Este
no inverno de montado de azinho aberto e 2,5 casais/km2 resultado era esperado, uma vez que a espé-
em áreas de estepe cerealífera (Tomé et al. cie é sedentária, permanecendo a maioria dos
Esta pequena ave de rapina noturna, que não 2008). adultos nos seus territórios durante o outono
ocorre nos arquipélagos dos Açores, Selvagens e inverno. Também os movimentos de disper-
ou Madeira, é residente em Portugal Continental. Embora seja apontado um pico de atividade são juvenil são relativamente curtos, esten-
vocal dos mochos-galegos para o período Feve- dendo-se, geralmente, apenas até 20 km de
Uma grande parte dos indivíduos é muito reiro-Abril (Zuberogoitia & Campos 1998, Centili distância do território natal (Van Nieuwe-
sedentária, permanecendo nos mesmos territó- 2001), coincidente em parte com o período de nhuyse et al. 2008).
rios durante vários anos (van Nieuwenhuyse et estudo do presente atlas, os seus hábitos predo-
al. 2008), o que justifica a relativa semelhança minantemente crepusculares ou noturnos justifi- O menor número de localizações durante
entre a distribuição invernal obtida no presente carão a ausência de deteção numa grande parte este período, relativamente ao inverno,
atlas e aquela apresentada durante o período do país, onde a espécie também deverá estar ter-se-á devido a uma menor conspicuidade
reprodutor. Tal como noutros trabalhos reali- presente, embora, por vezes, de forma fragmen- da espécie durante o final do verão e o outono,
zados à escala nacional (Equipa Atlas 2008, tada e em baixa densidade. quando a sua atividade vocal é menor.
GTAN-SPEA 2013), os dados obtidos neste atlas
mostram que o mocho-galego é mais frequente
e abundante na metade sul do país, em parti- Distribuição e abundância
cular no Alentejo, Algarve e Estremadura. Em na migração pós-nupcial
algumas regiões do Baixo Alentejo, como em
Castro Verde e Almodôvar, a densidade da O padrão de distribuição do mocho-ga- TEXTO
espécie regista alguns dos valores mais eleva- lego durante este período foi bastante seme- Ricardo Tomé

340 Espécies regulares • Strigiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Strigiformes 341


Bufo-pequeno
Asio otus

IMAGEM
Teodoro

Distribuição e abundância observação durante os trabalhos de campo deste Portugal Continental: dois na Região Oeste,
no inverno atlas. Contudo, existem registos em São Miguel, um na Berlenga, um em Alcácer do Sal e outro
na Terceira e no Pico (Aves dos Açores 2014). na zona de Sagres. Neste último local é conhe-
O bufo-pequeno apenas foi detectado em cida desde alguns anos a passagem regular de
nove quadrículas em Portugal Continental, tendo O bufo-pequeno utiliza vários tipos de dezenas de indivíduos (Catry et al. 2010, Caná-
estes registos sido obtidos maioritariamente no florestas, preferindo zonas de orla, na proxi- rio et al. 2012).
sul: na área do estuário do Tejo, no Alentejo e no midade de terrenos abertos, onde caça. O
Algarve. A Norte do rio Tejo, apenas se obteve escasso número de registos está relacionado Nos Açores, não foi detectado durante
um registo, na zona de Coimbra. As populações com as densidades baixas e carácter discreto realização dos trabalhos de campo deste
desta espécie invernantes no Continente deve- desta espécie (Catry et al. 2010). atlas. Mas existe um registo, obtido durante o
rão ser constituídas por aves residentes e por período de amostragem, na Terceira (Aves dos
aves migradoras provenientes de Espanha e de Açores 2014).
países mais a Norte (ver Catry et al. 2010). Distribuição e abundância
na migração pós-nupcial
No arquipélago dos Açores, onde esta espé-
cie é residente nas ilhas dos grupos Oriental e Durante o período pós-nupcial apenas se TEXTO
Central (Pereira 2005; 2010) não houve qualquer obtiveram cinco registos de bufo-pequeno em Carlos Pereira

342 Espécies regulares • Strigiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Strigiformes 343


Coruja-do-nabal
Asio flammeus

IMAGEM
Helder Costa

Distribuição e abundância Alentejo interior e na Costa Sudoeste, recolhi- partir de finais de setembro (Tomé et al. 1992).
no inverno das no âmbito de outros trabalhos (GTAN-S- O número de registos obtidos durante este
PEA 2013, STRIX in press, respectivamente). período foi bastante menor que no inverno,
A coruja-do-nabal é uma invernante de difí- A grande mobilidade das corujas-do-nabal havendo uma coincidência parcial entre os
cil deteção, devido aos seus hábitos predo- durante o inverno traduz-se ainda na ocorrên- locais onde a espécie foi detetada nas duas
minantemente crepusculares e noturnos e à cia de indivíduos nos arquipélagos dos Açores épocas. Contudo, no outono observaram-se
sua reduzida atividade vocal. Ainda assim, os e nas ilhas Selvagens. No inverno a espécie corujas-do-nabal também em áreas costei-
registos obtidos durante o presente atlas são utiliza como terrenos de caça sapais, margens ras diferentes, como nas zonas da lagoa de
na sua maioria coincidentes com os locais de valas ou de planos de água, salinas, arrozais Óbidos, cabo da Roca e Sagres, sendo ainda
habituais de invernada conhecidos em Portu- e pastagens (Tomé et al. 1992). Embora não conhecida a sua ocorrência noutros pontos
gal Continental (Tomé et al. 1992, Catry et haja estimativas publicadas, o número de coru- do litoral centro e sul (Catry et al. 2010). Em
al. 2010, GTAN-SPEA 2013). Estes incluem jas-do-nabal que invernará anualmente em Sagres a espécie ocorre regularmente durante
sobretudo áreas costeiras de norte a sul do Portugal poderá ultrapassar a centena (GTAN- a migração outonal (Costa et al. 1998, STRIX in
país, como a Ria de Aveiro, os estuários dos -SPEA dados não publicados), sendo regu- press), tendo sido observada à noite a tentar
rios Mondego, Tejo e Sado, a lagoa de Santo lar observarem-se concentrações superiores capturar em voo passeriformes em migração,
André, a Ria do Alvor, e a Ria Formosa. Durante a uma dezena de indivíduos, pelo menos nos como tordos-pintos (Canário et al. 2012). A
os trabalhos do atlas foi também detetada em estuários do Tejo e do Sado (Catry et al. 2010). espécie não foi detetada nos arquipélagos da
regiões mais interiores, como nos vales infe- Madeira, Selvagens e Açores durante a migra-
riores dos rios Mondego e Tejo, na barragem ção pós-nupcial.
do Caia e nas planícies do Baixo Alentejo. O Distribuição e abundância
registo obtido na serra do Caldeirão poderá na migração pós-nupcial
indicar que a área de invernada da espécie é
mais alargada do que a representada no mapa, Durante a migração pós-nupcial a coru- TEXTO
o que também é sugerido por observações no ja-do-nabal ocorre em Portugal sobretudo a Ricardo Tomé

344 Espécies regulares • Strigiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Strigiformes 345


Noitibó-de-nuca-vermelha
Caprimulgus ruficollis

IMAGEM
Diogo Oliveira

Distribuição e abundância Distribuição e abundância embora possa ser potencialmente um pouco


no inverno na migração pós-nupcial mais alargada. Neste período poderá ocorrer
em locais onde não se reproduz, uma vez que
O noitibó-de-nuca-vermelha é uma espécie Tal como nas outras espécies de aves notur- durante a migração a espécie pode ser menos
migradora que ocorre em Portugal Continen- nas, também o número de registos de noitibó- seletiva nos habitats usados. A migração
tal apenas durante o período de reprodução, -de-nuca-vermelha é reduzido, o que se deve pós-nupcial desde a Península Ibérica para as
geralmente entre a segunda metade de Abril e ao seu comportamento discreto (com menor áreas de invernada na África Ocidental deverá
o final de Setembro (Catry et al. 2010, GTAN- atividade vocal neste período) e à ausência de ocorrer sobretudo entre a segunda quinzena
-SPEA 2013). Durante os trabalhos deste atlas uma metodologia direcionada para este grupo de agosto e a primeira semana de outubro
não houve qualquer registo no período de de espécies. A distribuição para o período de (Ponce et al. 2009, SEO/BirdLife 2012).
inverno. O número de registos de invernada migração pós-nupcial é, no geral, coincidente
desta espécie em Espanha é muito escasso com aquela conhecida para o período repro- TEXTO
(SEO/BirdLife 2012). dutor (Equipa Atlas 2008, GTAN-SPEA 2013), Rui Lourenço

346 Espécies regulares • Caprimulgiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Caprimulgiformes 347


Noitibó-cinzento
Caprimulgus europaeus

IMAGEM
Bruno Maia

Distribuição e abundância gada, foram detetados vários indivíduos inver- de não-deteção com áreas onde é localmente
no inverno nantes, sobretudo entre meados de dezembro e abundante (Catry et al. 2010). Os resultados
meados de fevereiro (SEO/Birdlife 2012). das amostragens dirigidas às aves noturnas
O noitibó-cinzento é uma espécie migradora (NOCTUA Portugal) sugerem ainda que, neste
que ocorre em Portugal Continental durante o período, a espécie poderá ocorrer em grande
período de reprodução, sobretudo entre finais Distribuição e abundância parte do território nacional a sul da área de
de abril e setembro, podendo ser localmente na migração pós-nupcial nidificação confirmada (GTAN-SPEA 2013). O
detetado até outubro (Catry et al. 2010, GTAN- número reduzido de registos no âmbito deste
-SPEA 2013). Nos últimos 100 anos estão docu- Enquanto migrador tardio, durante parte atlas resulta de não ter existido uma meto-
mentados avistamentos pontuais da espécie deste período de amostragem o noitibó-cin- dologia dirigida às aves noturnas, bem como
até à primeira quinzena de novembro (Elias et. zento permanecia ainda nas suas áreas de da menor conspicuidade da espécie após o
al 2008). Durante os trabalhos deste atlas não reprodução. Consequentemente, o padrão período reprodutor decorrente da reduzida
houve registos da espécie no período de amos- de distribuição da espécie aproxima-se da sua atividade vocal nessa fase.
tragem de inverno. Contudo, em Espanha, onde distribuição conhecida durante o período repro-
o noitibó-cinzento é considerado um migrador dutor (GTAN-SPEA 2013), com maior expres- TEXTO
pouco abundante, embora de distribuição alar- são a norte do Tejo e com alternância de áreas Inês Roque

348 Espécies regulares • Caprimulgiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Caprimulgiformes 349


Andorinhão-preto
Apus apus

IMAGEM
Victor Maia

TEXTO
Alexandre H. Leitão

Modelação

M I GR AÇÃO PÓS- N U PCIA L

Distribuição e abundância durante a migração pós-nupcial, o andorinhão- exemplares ao longo do mês de setembro e,
no inverno -preto distribui-se de forma ampla, de norte por vezes, ainda em outubro. Provavelmente,
a sul, com uma concentração de observa- grande parte destas aves mais retardatárias
No decorrer dos trabalhos de campo deste ções na faixa litoral e, de forma mais evidente, são migradoras provenientes do norte e centro
atlas o andorinhão-preto foi detectado em duas na metade norte do território. São frequen- da Europa, em trânsito para as áreas de inver-
quadrículas na região de Lisboa. São escassas tes as concentrações pós-nupciais que esta nada situadas na África equatorial (Akesson
as observações de andorinhão-preto em pleno espécie efectua em zonas húmidas, como os et al. 2012), e executando paragens no nosso
inverno (Catry et al. 2010). No entanto, não é de estuários do Tejo, Mondego e Sado, lagoa território para reabastecimento energético de
descartar a hipótese de algumas dessas obser- de Santo André, ria de Aveiro, bem como em forma a continuarem a sua rota migratória.
vações de inverno efectuadas num passado zonas lagunares e estuarinas do Algarve, para
recente corresponderem na realidade a ando- citar algumas das mais importantes. O mapa Não existem registos para os territórios
rinhões-pálidos, devido á semelhança entre as obtido representa, de certa maneira, esta insulares. Não surpreenderá que possa ocorrer
duas espécies e ao facto desta última espé- tendência da espécie para se concentrar em durante a passagem migratória, nos arquipé-
cie ter uma época reprodutora bastante mais zonas húmidas litorais, locais que proporcio- lagos da Madeira e das Selvagens, dada a sua
longa, podendo abandonar os locais de nidifi- nam elevada disponibilidade de alimento. É proximidade com o arquipélago das Canárias
cação mais tarde. Daí subsistirem dúvidas sobre também frequente associar-se a outras espé- onde se verifica uma passagem regular no final
a presença de exemplares invernantes de ando- cies de apodiformes nestas concentrações, do verão e princípio do Outono (Lorenzo et al.
rinhão-preto, em Portugal. registando-se várias centenas de exemplares, 2003, Barone & Lorenzo 2007). Ainda assim,
ou mesmo alguns milhares. a presença do andorinhão-preto na Madeira
deverá ser seguramente pouco frequente, e
Distribuição e abundância Uma parte considerável dos andorinhões- difícil de detectar, dada a possível confusão
na migração pós-nupcial -pretos abandona as áreas de reprodução com espécies como o andorinhão-da-serra e o
em meados de agosto. Em Portugal Conti- andorinhão-pálido.
No território de Portugal Continental e nental, podem ainda ser observados alguns

350 Espécies regulares • Caprimulgiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Caprimulgiformes 351


Andorinhão-da-serra
Apus unicolor

IMAGEM
Aurelio Martín

Distribuição e abundância Esta distribuição está relacionada com a Foi observada em quase todas as quadrí-
no inverno existência de abrigo em fendas de falésias culas da ilha da Madeira e o maior valor de
e escarpas, ribeiras e núcleos urbanos assim abundância foi registado no norte da ilha,
O andorinhão-da-serra é uma espécie endé- como com locais onde a espécie possa encon- no segmento entre São Vicente e Seixal.
mica da Macaronésia que nidifica apenas trar insetos em voo para se alimentar. Também foram registados elevados valores
nos arquipélagos da Madeira e das Canárias. de abundância no segmento oeste, entre a
Durante o inverno, a maior parte da população A ausência de registos no Porto Santo Ribeira Brava e a área do Paul da Serra, na
de ambos os arquipélagos migra para a costa durante este período resulta provavelmente parte norte entre Santana e São Jorge e na
norte de Africa (Snow & Perrins 1998; Martín de insuficiência de cobertura pois a espécie ilha do Porto Santo.
& Lorenzo 2001), no entanto há uma parte da tem sido observada nesta ilha ao longo de
população que é residente, pelo que a espécie todo o ano. As aves presentes durante este período
pode ser observada ao longo de todo o ano. provavelmente são nidificantes, que só iniciam
a sua migração no final de setembro e outubro
Durante este período, as aves residentes, Distribuição e abundância (Martín & Lorenzo 2001).
foram registadas apenas na ilha da Madeira e a na migração pós-nupcial
maior abundância foi registada no concelho do
Funchal. A parte norte da ilha compreendida Durante o período pós-nupcial a espécie
entre Santana e São Jorge e o planalto localizado foi detetada em todas as ilhas do arquipélago TEXTO
no segmento oeste – o Paul da Serra, também da Madeira, exceto nas ilhas Selvagens. Isabel Fagundes
apresentaram abundâncias significativas.

352 Espécies regulares • Caprimulgiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Caprimulgiformes 353


Andorinhão-pálido
Apus pallidus

IMAGEM
Victor Maia

TEXTO
Gonçalo Elias
O autor não segue o acordo ortográfico de 1990

Modelação

M I GR AÇÃO PÓS- N U PCIA L

Distribuição e abundância grande parte da região centro e sul, com uma mais completos passaria, provavelmente, pela
no inverno presença mais marcada no litoral e alguns realização de um censo dirigido.
registos pontuais na região norte. Sendo esta
Em Portugal Continental o andorinhão-pálido uma espécie cujo período de nidificação é No arquipélago da Madeira a espécie foi
não foi registado durante o período de Inverno. especialmente prolongado, devido à realiza- detectada em cerca de metade das quadrículas
ção de duas posturas (Cramp 1985), é prová- da ilha da Madeira; é provável que as observa-
Na região da Madeira, onde é conhecida a vel que muitas das observações efectuadas ções se refiram a aves nidificantes, pelas razões
existência de uma população nidificante, houve na época de migração digam respeito a nidi- já apontadas para o caso do território continen-
um registo durante a estação fria, contudo a ficantes tardios. Em termos de abundância, os tal. Não é possível traçar um quadro de abun-
escassa informação disponível não permite dados obtidos não permitem traçar um quadro dância devido à insuficiência de dados.
esclarecer se existe uma invernada regular na completo, uma vez que mais de três quar-
região. tos dos registos obtidos durante o presente Convém igualmente ter presente que as difi-
atlas dizem respeito a registos adicionais, culdades de identificação, resultantes de uma
não quantificados; este resultado sugere possível confusão com o andorinhão-preto (no
Distribuição e abundância que maioria dos contactos com este andori- caso do continente) e com o andorinhão-da-
na migração pós-nupcial nhão aconteceu fora das visitas sistemáticas, -serra (no caso da Madeira) poderão ter contri-
provavelmente como consequência dos hábi- buído para mascarar a sua distribuição real.
A distribuição do andorinhão-pálido tos coloniais desta espécie, cuja detecção e
durante o período da migração pós-nupcial quantificação é difícil com métodos de amos- Este andorinhão não foi observado na região
coincide, em larga medida, com a que se veri- tragem como os que foram utilizados neste dos Açores, embora seja conhecida a sua ocor-
fica no período reprodutor, isto é, abrange uma projecto. A obtenção de dados quantitativos rência de forma acidental nesta região.

354 Espécies regulares • Caprimulgiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Caprimulgiformes 355


Andorinhão-real
Tachymarptis melba

IMAGEM
António A. Gonçalves

Distribuição e abundância envolvente se pratica a agro-pastorícia exten- Na costa Sudoeste a presença desta espé-
no inverno siva. No período de migração pós-nupcial cie foi mais notória, coincidindo, por compa-
a distribuição dos registos obtidos é na sua ração com o Atlas de Aves Nidificantes, com
O andorinhão-real é um migrador estival. maioria coincidente com as áreas de nidifica- a área onde se registou a sua presença no
Não foi registado durante este período. ção referenciadas para o nosso país contudo, período reprodutor. Esta concentração de
é notória a escassez de registos no vale do rio registos, para além de representar as longas
Douro, no troço internacional e na envolvência distâncias percorridas por aves desta espé-
Distribuição e abundância da primeira metade do troço nacional. Desta- cie na procura de alimento em redor das suas
na migração pós-nupcial ca-se ainda o número reduzido de registos de colónias, reflete certamente a passagem de
ocorrência desta espécie na costa Oeste, até aves em migração, pelo menos até ao final do
O andorinhão-real permanece em territó- ao cabo Espichel. mês de outubro (Purroy 1997), ao longo da
rio nacional, e na Península Ibérica em geral, costa sul.
até ao mês de outubro (Catry et al. 2010, SEO/ Sendo uma espécie conspícua e fácil de
BirdLife 2012). Na época de reprodução, esta detetar, as escassas observações registadas no Este andorinhão não foi registado nos
espécie apresenta uma distribuição repar- interior Norte e Centro do território continen- arquipélagos dos Açores e da Madeira, onde
tida por três núcleos localizados no Nordeste tal até à costa Oeste sugerem o abandono das ocorre de forma rara e acidental.
Transmontano, Estremadura e nas costas áreas de reprodução e, consequente disper-
Sudoeste e do Barlavento Algarvio, encon- são do andorinhão-real rumo ao Sul, que se TEXTO
trando-se vinculada à presença de afloramen- deve iniciar a partir do mês de agosto com as Paulo Travassos
tos rochosos de grandes dimensões em cuja aves juvenis (Cramp 1985).

356 Espécies regulares • Caprimulgiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Caprimulgiformes 357


Rolieiro
Coracias garrulus

IMAGEM
Faísca

Distribuição e abundância nental. A espécie foi observada em baixas dos registos adicionais de rolieiro em passa-
no inverno densidades em áreas de nidificação, como gem um pouco por todo o litoral, nomeada-
as regiões de Castro Verde e da Beira Baixa mente na Ria de Aveiro, na zona de Lisboa e
O rolieiro é um migrador estival. Não foi (Castelo Branco / Idanha-a-Nova), mas não foi em Sagres.
registado durante este período. observada na zona de Elvas / Vila Fernando,
onde também nidifica (Catry et al. 2011, Não ocorre nos arquipélagos da Madeira,
Marques et al. 2005). É referido que os casais Selvagens e Açores.
Distribuição e abundância podem permanecer nos territórios até ao mês
na migração pós-nupcial de Agosto (Catry et al. 2010). Foram ainda
registados alguns indivíduos no Alto Alentejo
No período pós-nupcial o rolieiro ocorre de e Trás-os-Montes, que deverão corresponder TEXTO
forma pontual e dispersa no território conti- a indivíduos em dispersão. Foram ainda obti- Ana Teresa Marques

358 Espécies regulares • Coraciiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Coraciiformes 359


Guarda-rios
Alcedo atthis

IMAGEM
Faísca

TEXTO
Filipe Canário

Modelação

I NV ERN O

Distribuição e abundância forçados a efetuar movimentos para áreas afastadas


no inverno das suas áreas normais de ocorrência (Keller et al.
1989).
O guarda-rios distribui-se por quase todo o terri-
tório continental. A sua distribuição é provavelmente O guarda-rios ocorre de forma acidental nos
mais uniforme do que o mapa sugere. Sendo uma arquipélagos da Madeira e dos Açores, mas não foi
espécie que praticamente só pode ser encontrada detectado durante este período.
em zonas húmidas, e muitas vezes em baixas densi-
dades, é espectável que em muitas quadrículas em
que não se realizou uma prospeção específica para Distribuição e abundância
este tipo de habitats o guarda-rios tenha sido difí- no inverno
cil de localizar. Ainda assim, durante o inverno esta
ave parece ser mais frequente no litoral e ao longo Apesar de, alguns guarda-rios efetuarem movi-
das bacias dos grandes rios do sul, como o Tejo, o mentos migratórios, a maioria dos indivíduos desta
M I GRA ÇÃ O PÓS- N U PCIA L
Sado e o Guadiana e mais escasso nas zonas serra- espécie são residentes (Catry et al. 2010). Uma vez
nas e em áreas do interior onde a disponibilidade que o mapa da sua distribuição durante o inverno e
de cursos de água é menor. Embora seja uma ave na migração pós-núpcial não parecem diferir signi-
considerada residente, fora do período reprodutor ficativamente, é praticamente impossível distinguir
alguns indivíduos, sobretudo aves jovens, ocorrem locais preferenciais de passagem ou de concentra-
com maior frequência em estuários, lagoas costeiras ção de indivíduos migradores. Pode-se apenas refe-
e outros habitats aquáticos que não possuem carac- rir que, à semelhança do que acontece no período
terísticas adequadas para a sua nidificação (Catry et de invernada, já durante o período pós-nupcial
al. 2010). Através da recaptura de aves anilhadas, parece haver uma tendência para mais indivíduos
sabe-se também que durante a época fria chegam serem observados junto ao litoral ou nas bacias dos
ao nosso país, embora em números reduzidos, guar- maiores rios do sul.
da-rios provenientes de outros países europeus,
como o Reino Unido, a Bélgica e a Espanha (Catry O guarda-rios foi registado no nordeste da ilha
et al. 2010). É provável que em invernos mais seve- da Madeira durante o período pós-nupcial. Nesta
ros nas latitudes mais a norte, com a congelação ilha, esta espécie é acidental, sendo por vezes
de diversos cursos de água, mais indivíduos sejam observada na porção terminal dos cursos de água.

360 Espécies regulares • Coraciiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Coraciiformes 361


Abelharuco
Merops apiaster

IMAGEM
Faísca

Distribuição e abundância que tenham sido visitadas apenas no final do madura. Estes registos corresponderam certa-
no inverno período de censo tiveram uma probabilidade mente a indivíduos migradores de passagem.
reduzida de contar com a presença desta Pode-se também concluir que o litoral centro
O abelharuco é um migrador transariano de espécie. e norte, onde a espécie não ocorre como nidi-
ocorrência estival em Portugal Continental. A ficante, também não aparenta ser usado como
grande maioria do seu efetivo abandona o terri- Apesar de ser difícil analisar o seu padrão corredor migratório, o que se pode explicar
tório nacional na segunda metade de agosto, de distribuição e abundância no período da pelo facto desta ave também se encontrar
sendo escassos os registos desta ave nos meses migração pós-nupcial pela razão acima invo- ausente das áreas imediatamente a norte,
de outubro e novembro e muito raros no inverno cada, os dados permitem supor que esta ave nomeadamente da Galiza (Aymí 2003).
(Catry et al. 2010). Assim, não surpreende que migra em frente alargada, predominando
tenha sido registado em apenas três quadrícu- as observações dentro da área de distribui- Não foi registado nos Açores, Selvagens
las durante o período de inverno. Igualmente ção enquanto nidificante. Esta corresponde e Madeira, apesar de ali ocorrer de forma
em Espanha, a invernada desta espécie é extre- às zonas de maior influência mediterrânica, acidental.
mamente rara (SEO/BirdLife 2012). encontrando-se o abelharuco ausente do
noroeste do país, de grande parte da Beira
Litoral e da Estremadura a norte do Tejo
Distribuição e abundância (Equipa Atlas 2008). No entanto, existem algu-
na migração pós-nupcial mas observações fora da sua área de reprodu-
ção, como é o caso da serra de Montesinho,
As observações de abelharuco a partir de onde se registaram abundâncias relativa- TEXTO
setembro são raras. Por isso, as quadrículas mente elevadas, e de alguns locais na Estre- Filipe Canário

362 Espécies regulares • Coraciiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Coraciiformes 363


Poupa
Upupa epops

IMAGEM
Faísca

TEXTO
João L. Guilherme

Modelação

I NV ERN O

Distribuição e abundância observado na Ilha Terceira a 9 de Fevereiro de 2012,


no inverno NO 472). Apesar de comum na Madeira, a poupa foi
registada apenas na ilha do Porto Santo.
Em Portugal Continental a poupa é uma espé-
cie estival e residente, comum em diversos habitats
naturais e semi-naturais. No inverno, a poupa parece Distribuição e abundância
evitar zonas de maior altitude (Catry et al. 2010), na migração pós-nupcial
como os maciços do Gerês, Montesinho, Alvão,
Montemuro e Estrela, no norte e centro do país, e Durante a migração pós-nupcial verifica-
favorecer as áreas com menor pluviosidade (SEO/ -se, em Portugal Continental, a passagem de
BirdLife 2012, Elias et al. 1998) ao longo de prati- poupas migradoras provenientes das popula-
camente todo o interior Norte, Alentejo e Algarve. ções da Europa Ocidental (Reichlin et al. 2009).
Assim, durante o inverno, a poupa ocorre descon- Neste período, destaca-se a ocorrência da poupa
tinuamente ao longo da Beira Alta, Terra Quente e em diversos locais junto à costa, que a espécie
M I GRA ÇÃ O PÓS- N U PCIA L
vale do Côa. Na Beira Baixa, a espécie encontra-se parece evitar durante o inverno. A sua ocorrên-
mais bem distribuída e com maiores abundâncias cia em migração em locais costeiros, em particu-
associadas aos vastos montados de azinho. No vale lar no Algarve, é referida em Catry et al. (2010). É
do Tejo e nos mosaicos agrícolas da Estremadura, a também significativa a presença de poupas migra-
espécie ocorre de forma regular. A poupa é comum doras a maiores altitudes, nomeadamente no
em quase todo o território Alentejano, embora nas Douro Internacional e no maciço de Montemuro.
serranias do sudoeste e costa rochosa se registe Tal como no inverno, é interessante a presença da
de forma mais esporádica e associada a terrenos espécie na área da grande Lisboa, região onde
agrícolas, pastagens e dunas (STRIX in press). No não tem nidificação confirmada. A sul, destacam-
Baixo Alentejo registam-se maiores abundâncias -se núcleos de maiores densidades de poupa no
na metade oriental da região, como já referido por interior alentejano, bem como a ocorrência ao
Elias et al. (1998). Já no Algarve, a poupa é comum longo da Costa Sudoeste, nomeadamente nos
ao longo de todo o território, embora Bolton (1987) pinhais da região de Sines e em Sagres, conforme
refira ser mais escassa no Barlavento. já detectado em STRIX (in press). Nos Açores a
poupa não foi detectada. Na Madeira, foi apenas
A poupa não foi registada nos Açores embora registada na ilha do Porto Santo.
a sua ocorrência no inverno seja ocasional (1 ind.

364 Espécies regulares • Bucerotiformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Bucerotiformes 365


Torcicolo
Jynx torquilla

IMAGEM
Dinis Cortes

Distribuição e abundância registos no período de Inverno incluam aves que a passagem desta espécie nas zonas lito-
no inverno vindas de outros países europeus (e.g. Catry rais ocorrerá sobretudo entre meados de
et al. 2010). Agosto e o meio de Outubro com a ocorrên-
A presença do torcicolo no período inver- cia de registos pontuais no final do mês de
nal em Portugal Continental é há muito assi- Outubro e no início de Novembro. Apesar de
nalada com vários registos nos meses de Distribuição e abundância durante o período reprodutor estar normal-
Inverno, nomeadamente no Alentejo (ver na migração pós-nupcial mente associado a zonas com pelo menos algu-
Rufino 1989, Elias et al. 1998) e península mas árvores, na migração pós-nupcial pode ser
de Setúbal (Catry et al. 2010). Existem ainda O torcicolo é uma espécie estival pouco observado numa grande variedade de habi-
dados históricos da Invernada desta espécie abundante durante o período pós-nupcial. tats, incluindo zonas costeiras desarborizadas
no litoral Norte, nomeadamente na Póvoa No entanto, os escassos registos durante este (Catry et al. 2010). Existem algumas capturas de
de Varzim (Tait 1924, Reis Júnior 1931). Para período estão muito provavelmente associa- aves desta espécie com anilha estrangeira (e.g.
Espanha também está confirmada a invernada dos, ao seu carácter esquivo e à dificuldade em Suécia, Alemanha) durante este período, suge-
desta espécie, sobretudo para as regiões da detectar esta espécie nesta altura do ano (não rindo a ocorrência de uma passagem migratória
Andaluzia e Extremadura e, de uma forma vocaliza). Deste modo, a colecção de registos de aves vidas de países de outras latitudes da
mais restrita, para o Levante e Catalunha obtidos não apresenta um padrão assinalável Europa (vide Catry et al. 2010).
(SEO/BirdLife 2012). De realçar que este e distintivo, parecendo todavia ser mais abun-
autor também assinala a ocorrência de torci- dante no Centro e Sul do território. Catry et al. Existe apenas um registo para as ilhas Deser-
colo durante este período para toda a zona (2010) assinala que durante este período surge tas no Arquipélago da Madeira e um registo em
costeira, desde o País Vasco até à Galiza. Este com alguma frequência na costa, nomeada- São Miguel nos Açores, reflectindo a raridade
Atlas confirmou este estatuto, com registos mente no litoral algarvio e Estremadura o que desta espécie nas regiões autónomas.
de norte a sul mas que apresentam uma clara é confirmado neste Atlas, mas estendendo-se
concentração no centro do país, incluindo a essa área a outras regiões como a costa alen- TEXTO
região de Lisboa. É provável que alguns dos tejana e o litoral Norte. Também é assinalado Luís Reino

366 Espécies regulares • Piciformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Piciformes 367


Pica-pau-galego
Dryobates minor

IMAGEM
Dinis Cortes

Distribuição e abundância nado com o facto de ser uma espécie de difí- Distribuição e abundância
no inverno cil detecção e de necessitar de um esforço de na migração pós-nupcial
observação adicional. Esta é uma das espécies
O pica-pau-galego foi registado de forma que teria beneficiado com um esforço direccio- O padrão de distribuição obtido neste
dispersa de norte a sul de Portugal Continen- nado de detecção. período foi em tudo idêntico ao do Inverno,
tal. Ocorreu principalmente no interior Norte e com mais alguns registos no Algarve e Baixo
Centro, no vale do Tejo, Alto Alentejo e metade Este pica-pau prefere florestas dominadas Alentejo.
ocidental do Baixo Alentejo. por quercíneas (ver Catry et al. 2010), sendo
mais abundante nas áreas com montados e
A escassez de registos não permite dese- florestas de sobreiro do Ribatejo e do Alentejo.
nhar um padrão de variação da abundância. TEXTO
O reduzido número de registos estará relacio- Esta espécie não ocorre nas ilhas atlânticas. Domingos Leitão

368 Espécies regulares • Piciformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Piciformes 369


Pica-pau-malhado
Dendrocopos major

IMAGEM
Bruno Maia

TEXTO
Filipe Canário

Modelação

I NV ERN O

Distribuição e abundância nuos de eucalíptos e pinhal, onde ocorre em densi-


no inverno dades baixas (Equipa Atlas 2008, Catry et al. 2010).

O pica-pau-malhado, durante o inverno, distri-


bui-se praticamente por todo o território de Portu- Distribuição e abundância M I GRA ÇÃ O PÓS- N U PCIA L
gal Continental. Esta ave apenas está ausente na migração pós-nupcial
das áreas desarborizadas do país, localizadas
sobretudo no Baixo Alentejo. Deve-se referir que Durante o período da migração pós nupcial,
provavelmente a ausência de algumas quadrícu- esta espécie distribui-se por todo o país, sendo
las que foram prospetadas se poderá dever aos menos frequente e abundante nas zonas raianas
seus hábitos solitários e, por vezes, pouco cons- das Beiras e Alentejo. É particularmente escasso
pícuos. Tal como acontece no período reprodu- nas áreas menos arborizadas do Alentejo interior.
tor, é mais comum na metade ocidental do país, Este padrão é coincidente com o observado no
tendo-se observado as abundâncias mais elevadas inverno, como é esperado numa espécie residente.
nos montados de sobro do Ribatejo e nas zonas
arborizadas da Beira Litoral e Alto Minho. Este Não se conhece qualquer recaptura em Portu-
pica-pau pode ser observado em praticamente gal de aves anilhadas noutros países, nem que
todos os habitats florestais e mesmo em zonas de se tenham recuperado no estrangeiro anilhas de
matos com árvores dispersas, em galerias ripícolas aves capturadas em Portugal. Está documentada,
e em jardins. Prefere florestas mistas, montados e no entanto, a existência de alguns movimentos
bosques de caducifólias aos povoamentos contí- pós-nupciais à escala local (Catry et al. 2010).

370 Espécies regulares • Piciformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Piciformes 371


Peto-real
Picus sharpei

IMAGEM
Alberto Maia

TEXTO
Filipe Canário

Modelação

I NV ERN O

Distribuição e abundância Distribuição e abundância M I GRA ÇÃ O PÓS- N U PCIA L


no inverno na migração pós-nupcial
O mapa de distribuição do peto-real no inverno O padrão de distribuição do peto-real no
é em tudo semelhante ao da sua distribuição no período pós-nupcial pouco difere do observado
período reprodutor (Equipa Atlas 2008), eviden- durante o inverno e primavera. Trata-se de uma
ciando o caráter residente das suas populações. A ave com hábitos predominantemente sedentários.
sua distribuição é certamente condicionada pela
disponibilidade de habitat. Este pica-pau prefere Até ao final do século passado não se haviam
bosques com solo nu ou intercalados com zonas obtido quaisquer registos de petos-reais anilha-
abertas onde captura formigas, o seu alimento dos no nosso país e capturados no estrangeiro,
preferencial. É mais comum no norte do país (em nem recapturas em Portugal de aves anilhadas
especial no noroeste), nas regiões mais florestadas noutros países (Catry et al. 2010). No entanto,
do centro e no Algarve, e uma vez que é uma ave existem evidências de que esta espécie realiza
de hábitos florestais está ausente das áreas mais pequenos movimentos de âmbito local, podendo
abertas do Alentejo e das áreas mais urbanizadas ser observada fora dos locais mais usuais de ocor-
do país. É também pouco comum na zona raiana rência (Catry et al. 2010).
das Beiras.

372 Espécies regulares • Piciformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Piciformes 373


Picanço-real
Lanius meridionalis

IMAGEM
Joaquim Antunes

TEXTO
Luís Reino

Modelação

I NV ERN O

Distribuição e abundância Distribuição e abundância


no inverno na migração pós-nupcial
A distribuição de Inverno do picanço-real é A distribuição desta espécie no período
largamente coincidente com a sua distribuição pós-nupcial parece coincidir com a distribuição
no período reprodutor. Globalmente, encontra-se tanto no período reprodutor, como no Inverno.
associada às zonas de maior influência mediter- Tal facto, poderá ser devido ao carácter essen- M I GRA ÇÃ O PÓS- N U PCIA L
rânica do território continental, evitando as zonas cialmente sedentário desta espécie em Portugal
mais arborizadas e com maior precipitação do lito- Continental, havendo no entanto evidências para
ral Norte e Centro. É claramente mais abundante movimentos com alguma amplitude (vide Catry et
no Alto e Baixo Alentejo, ocorrendo pontualmente al. 2010). Por exemplo, no sistema da Peneda-Ge-
noutras regiões, como na Estremadura, Ribatejo, rês é assinalada a chegada de algumas aves a partir
Beira Interior e Nordeste transmontano. Frequenta do Outono (Pimenta & Santarém 1996), e foi regis-
uma grande variedade de habitats abertos e semi- tada uma ave anilhada na zona de Badajoz, recap-
-abertos, incluindo planaltos montanhosos do turada na Beira Litoral (Candeias & Castro 1982).
Norte e Centro do país dominados por matagais, Existem também registos em vários locais do litoral
mas também montados e outros sistemas agro-flo- de Norte a Sul que apontam para a chegada de
restais abertos, plantações florestais jovens, poma- aves invernantes (Catry et al. 2010).
res, entre outros. Ocasionalmente pode ocorrer
em parques urbanos nas regiões do Interior, nas
lezírias do Baixo Tejo e nas planícies alentejanas,
ocorrendo ainda em zonas desprovidas de árvores
(Catry et al. 2010) onde normalmente não nidifica.

374 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 375


Picanço-barreteiro
Lanius senator

IMAGEM
Bruno Maia

Distribuição e abundância migração pós-nupcial sobretudo, entre o final o mês de outubro, existindo todavia alguns
no inverno do verão e início do outono. A distribuição no registos até ao início de novembro (Catry et al.
período pós-nupcial é largamente coincidente 2010, Elias et al. 2008).
A presença desta espécie no inverno, com a distribuição no período reprodutor, ocor-
nomeadamente entre os meses de dezembro e rendo essencialmente na área de maior influên- Na Região Autónoma da Madeira obteve-
janeiro é há muito conhecida (Elias et al. 2008), cia mediterrânica, de norte a sul do país. Toda- -se um registo nas ilhas Selvagens, reflectindo
nomeadamente para o Algarve. Durante o via, esta espécie é claramente mais abundante o carácter acidental desta espécie neste terri-
presente Atlas esta espécie não foi observada na metade sul, sobretudo nas zonas do Baixo tório.
no Algarve, todavia todos os registos concen- Alentejo e Algarve onde existe uma concentra-
traram-se na metade sul. ção assinalável de registos.

A maior parte dos adultos desta espécie


Distribuição e abundância migram até ao fim de julho, mas a migração
na migração pós-nupcial dos juvenis pode prolongar-se durante todo o
mês de setembro, até início de outubro (Catry
O picanço-barreteiro é uma espécie estival et al. 2010). A sua migração pode-se consi- TEXTO
no território continental, realizando-se a sua derar como sendo bastante escassa durante Luís Reino

376 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 377


Papa-figos
Oriolus oriolus

IMAGEM
Dinis Cortes

Distribuição e abundância mediterrânico, frequentemente ao longo dos deverá ocorrer numa percentagem desconhe-
no inverno cursos de água. É notória a ausência da espé- cida das numerosas quadrículas que não foram
cie de uma larga faixa costeira desde a foz do alvo de visitas sistemáticas nas duas épocas
O papa-figos é uma espécie migradora que Minho até à zona de Cascais e que se estende de migração pós-nupcial abrangidas pelo
inverna em África, a sul do deserto do Sara. para o interior de forma marcada nas Beiras, presente trabalho.
Não foram registadas observações de papa-fi- o que sugere que poderá utilizar rotas mais
gos em Portugal durante o trabalho de campo interiores nos seus movimentos de migração. Não foi registado nos arquipélagos dos
do período de invernada. Conhecem-se apenas O papa-figos foi detectado de forma muito Açores, Selvages e Madeira, apesar de ocorrer
cinco registos invernais (Molina 2012), o que localizada na faixa de território que se estende como migrador acidental.
indica que a invernada desta espécie na penín- desde o troço médio do rio Tejo até ao troço
sula deverá ser um acontecimento muito raro. nacional do rio Guadiana.

No terço norte do território, as observações


Distribuição e abundância da espécie concentram-se nas quadrículas da
na migração pós-nupcial bacia hidrográfica do Douro e no centro detec-
ta-se uma concentração de registos ao longo
Nesta época, a espécie ocorre preferen- do vale do Tejo. A distribuição aqui apresen- TEXTO
cialmente nas regiões de clima marcadamente tada deverá estar incompleta, pois a espécie Pedro Cardia

378 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 379


Gaio
Garrulus glandarius

IMAGEM
Victor Maia

TEXTO
Domingos Leitão

Modelação

I NV ERN O

M I GRA ÇÃ O PÓS- N U PCIA L


Distribuição e abundância com campos agrícolas, galerias ripícolas, parques e
no inverno jardins urbanos (ver Catry et al. 2010).

O gaio foi registado em todo o território de Esta espécie não ocorre nas ilhas.
Portugal Continental. Ocorreu de forma mais homo-
génea a norte do rio Tejo e nas serras algarvias, e de
forma mais localizada no Alentejo e na Beira Baixa. Distribuição e abundância
As maiores abundâncias verificaram-se em grande na migração pós-nupcial
parte da região Norte, na Beira Alta e em partes
da serra do Caldeirão e na região de Odemira. As A distribuição e abundância do gaio durante o
menores densidades registaram-se no Alentejo, período pós-nupcial são idênticas às do inverno.
particularmente nas áreas mais abertas do interior. Facto que não é de estranhar devido ao carácter
sedentário da espécie que mantém os seus territó-
O gaio frequenta uma grande diversidade de rios durante todo o ciclo anual, efectuando apenas
meios florestais, incluindo povoamentos com folho- alguns movimentos dispersivos no Outono, envol-
sas e resinosas, montados, bosques intercalados vendo sobretudo aves jovens (ver Catry et al. 2010).

380 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 381


Charneco
Cyanopica cooki

IMAGEM
Joaquim Grave

TEXTO
Filipe Canário

Modelação

I NV ERN O

Distribuição e abundância Esta é uma ave essencialmente residente,


no inverno sendo quase coincidente a área de distribuição no
inverno com a da época reprodutora (Equipa Atlas
Durante o inverno o charneco distribui-se 2008).
sobretudo pela metade sul de Portugal Conti-
nental, estando, no entanto, ausente de alguns M I GRA ÇÃ O PÓS- N U PCIA L
locais do Alto Alentejo e da costa alentejana entre Distribuição e abundância
Sines e Odeceixe. No Norte e Centro apenas foi na migração pós-nupcial
registado na zona fronteiriça entre o Tejo Interna-
cional e a zona de Miranda do Douro. Observa- Sendo uma espécie que não realiza movimen-
ram-se abundâncias mais elevadas na sua área de tos migratórios e cujos movimentos dispersivos
ocorrência na Beira Baixa, ao longo da bacia do aparentam ser de curta distância, a sua distri-
Guadiana e pontualmente no Ribatejo e Algarve. buição e abundância no período da migração
As densidades mais reduzidas registaram-se, em pós-nupcial são praticamente idênticas às regis-
geral, tanto nas áreas desarborizadas como nas tadas no inverno e primavera. Ainda assim, sabe-
com povoamentos florestais mais densos, estando -se que, embora raramente, os charnecos podem
o charneco também praticamente ausente de realizar alguns movimentos dispersivos alargados
zonas urbanas e dos locais com altitudes mais no período pós-reprodutor, podendo ser obser-
elevadas. As ausências na sua área de distribui- vados fora das áreas habituais de ocorrência. São
ção estarão provavelmente relacionadas com uma exemplo disso as observações históricas obtidas
reduzida tolerância a climas frios e secos (Palo- no Alto Minho durante o período pós-nupcial
mino et al. 2011). (Sacarrão 1971).

382 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 383


Pega
Pica pica

IMAGEM
Jorge Araújo da Silva

TEXTO
Ana Luísa Catarino

Modelação

I NV ERN O

Distribuição e abundância está normalmente associada a áreas agrícolas e


no inverno áreas peri-urbanas, que variam consoante a região M I GRA ÇÃ O PÓS- N U PCIA L
do país no que diz respeito às características do
A pega possui uma distribuição bastante habitat.
dispersa por todo o território continental mas com
uma clara predominância no interior do Alentejo. A espécie não ocorre nos arquipélagos dos
É uma espécie residente, sendo expectável que Açores, Selvagens e Madeira.
ocorra nas mesmas regiões durante todo o ano.
Distribuição e abundância
Não foi registada na Beira Litoral, Estremadura, na migração pós-nupcial
sudoeste alentejano e Algarve. A espécie ocorre
como nidificante no Algarve, Estremadura e Beira Na migração pós-nupcial a distribuição da
Litoral, mas de forma localizada. Talvez por isso não pega é muito semelhante à que foi obtida para o
tenha sido detetada durante os trabalhos deste inverno, mas com abundâncias menores. Uma vez
atlas. No entanto, existem locais onde a pega-ra- que a espécie é residente, as falhas de distribuição
buda não ocorre desconhecendo-se a razão, uma durante este período em comparação com a distri-
vez que existem habitats aparentemente favorá- buição reprodutora devem estar relacionadas com
veis à sua sobrevivência (Catry et al. 2010). Esta ave o menor esforço de amostragem do presente atlas.

384 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 385


Gralha-de-bico-vermelho
Pyrrhocorax pyrrhocorax

IMAGEM
Dinis Cortes

Distribuição e abundância em toda a faixa leste desta região a partir da num contexto de declínio populacional, revela
no inverno década de 80 do séc. XX (Jorge 1994, Álvares também a existência de flutuações sazonais e
2001, Catry et al. 2010). inter-anuais no número de aves e na ocupação
No período de inverno a gralha-de-bico- de territórios. A aparente ausência de registos
-vermelho apresenta uma distribuição coinci- Distribuição e abundância de gralha-de-bico-vermelho em áreas onde
dente com os núcleos populacionais conheci- na migração pós-nupcial outros estudos confirmaram a sua ocorrência,
dos em Portugal: as serras da Peneda e Gerês, pode resultar de uma insuficiente cobertura,
Barroso e Alvão, Douro Internacional, serra da No período pós-reprodução, a distribuição aliada ao carácter pouco conspícuo da espécie,
Estrela, serras de Aire e Candeeiros e Costa da espécie deixa de estar representada nas designadamente quando as aves se encontram
Sudoeste. serras do Noroeste de Portugal. Esta escas- em alimentação longe dos seus abrigos.
sez de registos pode resultar da tendência dos
Neste período, exiset uma aparente núcleos populacionais se concentrarem em A ocorrência de gralha-de-bico-vermelho foi
expansão da área de distribuição, quando bando na procura de alimento em áreas recôn- registada pela primeira vez em atlas na serra da
comparada com aquela que foi obtida em ditas (SEO/BirdLife 2012) e/ou a cotas mais Estrela, embora no século passado tenha sido
época de nidificação. Este facto pode estar elevadas (Blanco et al. 2007). Apesar de residen- referenciada por diversas vezes nesta região em
relacionado com as deslocações que estas tes, as aves que compõem cada um dos núcleos trabalhos dirigidos para o estudo e monitoriza-
aves realizam para longe do seu território (sobretudo as não reprodutoras) podem reali- ção das tendências populacionais da espécie
habitual, em bandos de menores dimensões, zar deslocações entre núcleos com distâncias em Portugal (Farinha 1988, Projeto Bico Verme-
para procurar alimento (Lovari 1976, Jorge superiores a 100 km (Zuñiga 1989, Banda 2007, lho dados não publicados).
1994). Este comportamento pode permitir a SEO/BirdLife 2012, Maumary et al. 2007, Projeto
observação de exemplares em áreas onde Bico Vermelho dados não publicados).
TEXTO
é menos comum, como em Castro Verde e
Laboratório de Ecologia
Mértola, evidência corroborada por observa- A sua baixa densidade em território nacional, Aplicada da UTAD
ções realizadas na região do Baixo Alentejo e para além de refletir o número reduzido de aves (Projeto Bico Vermelho)

386 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 387


Gralha-de-nuca-cinzenta
Corvus monedula

IMAGEM
Thijs Valkenburg

Distribuição e abundância distância que esta espécie realiza para regiões


no inverno A eventual concentração dos exempla- mais meridionais com o aproximar do inverno
res estará associada à formação de gran- (Purroy 1997, SEO/BirdLife 2010, Pimenta &
Na distribuição da gralha-de-nuca-cin- des bandos comunitários durante o inverno Santarém 1996). Destaca-se ainda a norte o
zenta no inverno, destaca-se a ausência em por aves provenientes de núcleos de outras registo da espécie junto ao rio Douro (Régua)
praticamente todo o território a norte da Beira regiões (Elias et a., 1998, Catry et al. 2010). que poderá representar uma tentativa de reco-
Baixa, com exceção de região de Bragança. lonização desta região uma vez que, ainda
Esta espécie surge dispersa ao longo da Beira durante a realização do Atlas de Aves Nidifi-
Baixa e do interior alentejano. Aparenta ter Distribuição e abundância cantes, este local foi abandonado pela espé-
sofrido nas últimas duas décadas uma redu- na migração pós-nupcial cie, não sendo comum a sua presença desde
ção da sua área de distribuição no interior do então (Paulo Travassos, com. pess.).
Baixo Alentejo, face aos resultados obtidos A distribuição da gralha-de-nuca-cinzenta
por Elias et al. (1998) nesta mesma região. A em período pós-nupcial e migratório eviden- A distribuição da gralha-de-nuca-cinzenta
escassez de registos desta espécie poderá ser cia uma maior fragmentação dos registos e no período pós-nupcial e de inverno coincide,
o reflexo de eventual redução populacional uma maior concentração de indivíduos na na sua maioria, com áreas onde ainda se desen-
em algumas regiões do país onde a espécie envolvente aos locais de dormitório conheci- volve a agro-pastorícia extensiva (campos de
era mais abundante como nidificante (Rufino dos. A ausência da espécie do interior norte cereais, pousios, pastagens, e áreas de matos
1989, Equipa Atlas 2008, Elias et al. 1998, do país, até à Beira Baixa, pode ser o resul- baixos) maioritariamente localizadas a altitu-
Catry et al. 2010). tado dos movimentos pós-nupciais de curta des médias abaixo dos 1000 m.
TEXTO
Paulo Travassos

388 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 389


Gralha-preta
Corvus corone

IMAGEM
Andy Hay
rspb-images.com

TEXTO
Rogério Cangarato
O autor não segue o acordo
ortográfico de 1990

Modelação

I NV ERN O

Distribuição e abundância arvoredo dispersas, em particular, de pinhal. Os indi-


no inverno cadores actuais mostram uma tendência populacio-
nal positiva (Leitão 2011), sendo de registar aumentos
No Inverno a gralha-preta está presente em evidentes em diversos locais do país, nomeadamente
quase todo o território continental, sendo porém na zona de Lisboa e no Ribatejo (Catry et al. 2010).
escassa na zona meridional do interior alentejano e A partir dos dados do Atlas das Aves Invernantes do
muito localizada no Algarve, como acontece de resto Baixo Alentejo (Elias et al. 1998) percebe-se igual-
na época estival. Embora pontualmente a presença mente um incremento global em grande parte da
da espécie possa não ter sido detectada em locais região abrangida por esse estudo.
de densidades reduzidas, com excepção para as
duas áreas referidas, as ausências no mapa deverão
reflectir sobretudo limitações de amostragem. Distribuição e abundância
na migração pós-nupcial
As densidades apuradas no âmbito do presente
Atlas são bastante variáveis em toda a área de Durante este período de migração o padrão
M I GRA ÇÃ O PÓS- N U PCIA L
distribuição, com os efectivos a serem mais nume- de utilização do território é muito semelhante ao
rosos nos sistemas agro-florestais da Região Centro apurado nos períodos de Inverno e de reprodução,
e das bacias dos rios Tejo e Sado, bem como no tal como verificado no resto da Península Ibérica
planalto litoral da Costa Alentejana. Os dormitórios (Villar 2012).
típicos da espécie podem reunir aqui várias deze-
nas ou mesmo uma a duas centenas de aves (obser- Os mapas obtidos e, especialmente, as densi-
vações próprias, Catry et al. 2010). dades registadas nas épocas analisadas, reforçam
o carácter sedentário da espécie em Portugal. No
A utilização regular da generalidade dos habitats entanto, e apesar da maior parte dos estudos reali-
disponíveis, inclusive em meio urbano (como, por zados se referirem sobretudo a movimentos disper-
exemplo, em Lisboa), confirma a grande plasticidade sivos de pequena escala, admite-se a inclusão de
deste corvídeo. As abundâncias mais elevadas ocor- indivíduos procedentes de populações migradoras
rem associadas a habitats agrícolas fragmentados, nos contingentes invernantes nacionais.
bastante intervencionados e com exploração pecuá-
ria. Vários autores (e.g. Catry et al. 2010) relacionam a A gralha-preta não foi detectada nas ilhas,
ocorrência da espécie com a diversificação dos recur- apesar de ocorrer de forma acidental nos Açores e
sos tróficos, além da disponibilidade de manchas de na Madeira.

390 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 391


Corvo
Corvus corax

IMAGEM
Tiago Caravana

TEXTO
Helder Costa
O autor não segue o acordo ortográfico de 1990

Modelação

I NV E R NO

Distribuição e abundância zadamente no litoral. Este padrão de distri- Distribuição e abundância


no inverno buição está relacionado com as preferências na migração pós-nupcial
ecológicas da espécie que tende a favore-
O corvo é sedentário no nosso país, efec- cer regiões pouco perturbadas, com povoa- Tal como já acima referido, não se conhe-
tuando quando muito deslocações de carác- mento disperso e baixa densidade popula- cem movimentos significativos de corvos
ter dispersivo de pequena amplitude. Não cional (Catry et al. 2010). no nosso território. Por esse motivo os
surpreende pois que a distribuição obtida, padrões de distribuição e abundância obti-
apesar das evidentes lacunas resultantes As maiores abundâncias, tal como durante dos no período de migração pós-nupcial são
de falhas de cobertura, coincida em grande o período de nidificação, foram encontra- bastante semelhantes aos do Inverno.
parte com aquela que se conhece para a das nas regiões do interior. Nestas zonas
época de reprodução. Em termos gerais com maior densidade de aves observam-se
pode-se dizer que no inverno ocorre de por vezes bandos de dimensão considerável
forma quase contínua no interior do país, de explorando fontes de alimento abundante
Trás-os-Montes até ao Algarve, e mais locali- como aterros sanitários e outras.

392 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 393


Chapim-carvoeiro
Periparus ater

IMAGEM
José Sousa

TEXTO
Gonçalo Elias
O autor não segue o acordo ortográfico de 1990

Modelação

I NV ERN O

Distribuição e abundância Este chapim apresenta uma clara preferência


no inverno pelas plantações de pinheiro-bravo, sendo mais
abundante neste tipo de habitat, embora também
A distribuição do chapim-carvoeiro no território ocorra noutro tipo de formações arbóreas.
continental durante o período de invernada carac-
teriza-se por uma presença ampla a norte do rio
Tejo e uma ausência em quase todo o território a sul Distribuição e abundância
M I GRA ÇÃ O PÓS- N U PCIA L
deste rio. Este padrão coincide, em larga medida, na migração pós-nupcial
com aquele que se verifica durante a época de nidi-
ficação e sugere que as aves que ocorrem no país O padrão de ocorrência durante a época de
são essencialmente sedentárias. A presença no migração pós-nupcial é bastante semelhante ao
litoral a sul do rio Tejo parece ser um fenómeno que se registou no período de invernada, veri-
relativamente recente (Equipa Atlas 2008, Catry ficando-se uma presença mais contínua e uma
et al. 2010), sendo de admitir que a espécie possa maior abundância no noroeste do país. A propor-
estar a passar por um processo de expansão nessa ção de quadrículas em que a espécie foi detec-
região, no entanto a escassez de informação não tada foi menor que no Inverno, em particular nas
permite traçar um panorama completo. regiões onde é menos abundante (Trás-os-Mon-
tes, Beira Baixa, bacia do rio Tejo). Esta situação
Em termos de abundância, verifica-se que a poderá estar relacionada com uma maior dificul-
espécie é mais comum no noroeste, tornando-se dade de detecção, uma vez que a espécie é vocal-
mais escassa à medida que nos afastamos dessa mente pouco activa nesta época do ano.
região, mas localmente pode ser bastante nume-
rosa, como acontece por exemplo na zona de
Sintra e em certas áreas do litoral centro.

394 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 395


Chapim-de-poupa
Lophophanus cristatus

IMAGEM
Faísca

TEXTO
Gonçalo Elias
O autor não segue o acordo ortográfico de 1990

Modelação

I NV ERN O

Distribuição e abundância conhece para outros períodos do ano, apresen-


no inverno tando mais descontinuidades a sul que a norte,
particularmente no interior alentejano. A sul
Este chapim é residente e a sua distribuição no do rio Tejo a distribuição surge concentrada na
Inverno é bastante semelhante à que se verifica metade litoral, particularmente na bacia do Sado
durante a época dos ninhos: ocorre de norte a sul e nas serras algarvias. Em termos de abundân-
do território, embora com algumas descontinuida- cia, esta parece ser maior no terço norte do terri-
M I GRA ÇÃ O PÓS- N U PCIA L
des na região de Lisboa e no interior alentejano. tório, particularmente no nordeste transmon-
Os dados disponíveis não permitem identificar de tano e em certas zonas da Beira Litoral, embora
forma inequívoca as zonas de maior abundância. também tenham sido registadas algumas bolsas
No entanto, a norte do rio Tejo notam-se abun- de abundância elevada mais para sul; estas varia-
dâncias mais elevadas no interior norte e no lito- ções deverão estar relacionadas com as prefe-
ral centro; a sul deste rio a espécie parece ser rências de habitat e com a maior continuidade do
mais frequente na metade litoral. Estas diferenças coberto vegetal, tal como acontece no período
poderão ficar a dever-se à maior disponibilidade de invernada. Dado que não são conhecidos
de habitat favorável nessas zonas, nomeadamente movimentos migratórios nesta espécie, as dife-
matas de resinosas (Catry et al. 2010). renças na distribuição que se verificaram entre o
Inverno e a migração poderão estar relacionados
com o grau de cobertura obtido em cada um dos
Distribuição e abundância períodos.
na migração pós-nupcial
A distribuição durante o período de migra-
ção pós-nupcial é bastante semelhante à que se

396 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 397


Chapim-real
Parus major

IMAGEM
Bruno Maia

TEXTO
Domingos Leitão

Modelação

I NV ERN O

M I GRA ÇÃ O PÓS- N U PCIA L

Distribuição e abundância sebes, pomares, parques urbanos e jardins (ver


no inverno Catry et al. 2010).

O chapim-real foi registado em todo o território Não ocorre nas ilhas atlânticas.
de Portugal Continental.

As maiores abundâncias verificaram-se em Distribuição e abundância


grande parte das regiões Norte e Centro, com na migração pós-nupcial
excepção de uma vasta área da zona Centro,
dominada por plantações de eucalipto. Esta é uma O padrão de distribuição do chapim-real
espécie sedentária que utiliza uma grande gama obtido neste período foi em tudo idêntico ao que
de habitats arbóreos, como bosques de quercí- se verificou no Inverno e coincide com aquele que
neas, de coníferas ou mistos, galerias ripícolas, se conhece para o período reprodutor.

398 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 399


Chapim-azul
Cyanistes caeruleus

IMAGEM
Luis Quinta

TEXTO
Domingos Leitão

Modelação

I NV ERN O

Distribuição e abundância montados de sobro e azinho, galerias ripícolas,


no inverno sebes, pomares, parques urbanos e jardins (ver
Catry et al. 2010). Apesar de ser essencialmente
M I GRA ÇÃ O PÓS- N U PCIA L
O chapim-azul foi registado em todo o territó- sedentário, sabe-se que este chapim pode efec-
rio de Portugal Continental. As ausências no mapa tuar movimentos altitudinais (ver Catry et al. 2010),
estão maioritariamente relacionadas com even- que deverão ocorrer principalmente nas terras
tuais falhas de cobertura, exceptuando as regiões altas do Norte e Centro, como reacção ao rigor do
Norte e do extremo sudeste onde existem várias inverno.
quadrículas amostradas nas quais a espécie não foi
mesmo detectada. A espécie não ocorre nas ilhas atlânticas.

As maiores abundâncias verificaram-se em


grande parte das regiões Centro, Ribatejo e Oeste, Distribuição e abundância
Alto Alentejo e Baixo Alentejo ocidental. Esta varia- na migração pós-nupcial
ção da abundância coincide grosso modo com o
padrão que se conhece para o período reprodutor. O padrão de distribuição do chapim-azul obtido
neste período foi em tudo idêntico ao que se veri-
Esta é uma espécie que utiliza uma grande ficou no Inverno e coincide com aquele que se
gama de habitats arborizados, como florestas e conhece para o período reprodutor.

400 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 401


Chapim-de-mascarilha
Remiz pendulinus

IMAGEM
Faísca

Distribuição e abundância buição irregular, mas pontualmente abun- situados maioritariamente ao longo do litoral
no inverno dante (Marti & del Moral 2003). Existem ainda ocidental. É provável que os locais de ocorrên-
evidências (recuperações de anilhas) de aves cia tenham sido subestimados devido a insu-
Esta espécie ocorre essencialmente em migradoras originárias do Centro e Norte da ficiente cobertura das áreas favoráveis a esta
zonas de caniçal com arbustos ou árvores, Europa. Contudo, não existem estudos deta- espécie.
como salgueiros e tamargueiras. Durante lhados sobre esta espécie em Portugal, pelo
o Inverno foi detectada principalmente nas que a contribuição das várias populações
zonas húmidas do litoral, sendo mais abun- para o efetivo invernante é desconhecido.
dante no Sul do país do que no Norte, onde é
extremamente escassa, ocorrendo apenas no
paul do Taipal, no Baixo Mondego. A origem Distribuição e abundância
destas aves é variada. Algumas (poucas) serão na migração pós-nupcial
residentes, pois trata-se de um nidificante
irregular em Portugal. Outras são provenien- Durante o período migratório pós-nupcial, TEXTO
tes de Espanha, onde apresentam uma distri- esta espécie foi detectada em alguns locais Júlio Manuel Neto

402 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 403


Andorinha-das-barreiras
Riparia riparia

IMAGEM
Faísca

Distribuição e abundância Distribuição e abundância O período de migração pós-nupcial desta


no inverno na migração pós-nupcial espécie decorre sobretudo durante agosto e
setembro, podendo estender-se pelo mês de
A andorinha-das-barreiras inverna a sul do As observações de andorinha-das-barrei- outubro.
Saara, sendo rara a sua presença no nosso terri- ras obtidas durante este período resultaram
tório durante este período do ano. Foi registada num mapa de distribuição fragmentado, mas À semelhança do que se verificou no
maioritariamente na metade sul de Portugal com registos de norte a sul do território. Foi inverno, a espécie não foi detetada nos arqui-
Continental e associada a zonas húmidas como avistada em várias quadrículas do Algarve, pélagos atlânticos durante este período do
estuários, rias, lagoas costeiras e pauis. Contudo onde é rara como nidificante. Praticamente ano.
a maior parte das observações foi obtida no mês não foi registada em regiões como Trás-os-
de fevereiro, podendo corresponder às primei- -Montes, em partes do Centro (de Vagos a
ras chegadas do ano. A área normal de ocorrên- Vilar Formoso e da Nazaré ao Tejo Interna-
cia desta espécie não abrange os arquipélagos cional) e em grande parte do distrito de Beja.
das Selvagens, da Madeira e dos Açores e não Foi mais abundante a sul do Tejo, com as
foi aí registado qualquer indivíduo durante a maiores densidades a concentrarem-se no TEXTO
realização deste atlas. Alto Alentejo. Hugo L. Sampaio

404 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 405


Andorinha-das-rochas
Ptyonoprogne rupestris

IMAGEM
José Frade

TEXTO
Ricardo F. de Lima

Modelação

I NV ERN O

Distribuição e abundância (Catry et al. 2010, SEO/BirdLife 2012). Esta prefe-


no inverno rência pode, pelo menos em parte, justificar a sua
escassez em grande parte da metade sul do lito-
M I GRA ÇÃ O PÓS- N U PCIA L
Durante o inverno a andorinha-das-rochas ral de Portugal Continental.
foi observada de Norte a Sul de Portugal Conti-
nental. No entanto é escassa junto ao litoral na
metade Sul do país, com excepção do Algarve. Distribuição e abundância
As maiores abundâncias verificaram-se na zona na migração pós-nupcial
central da metade Norte do país, e mais pontual-
mente no barlavento algarvio, em Noudar e junto Durante o período pós-nupcial a andorinha-das-
a Torre de Moncorvo. Esta espécie está ausente -rochas apresenta uma distribuição semelhante
das ilhas. Sabe-se pouco sobre a origem das aves à do período de invernada, embora seja menos
que invernam em Portugal, mas é provável que frequente junto ao litoral. Esta alteração na distri-
ao efectivo reprodutor nacional se juntem aves buição está de acordo com a tendência conhecida
oriundas de Espanha, França e outros países euro- da espécie para aparecer em zonas de menor alti-
peus, onde a espécie se torna menos abundante tude e junto à costa sobretudo durante o Inverno
durante este período (Catry et al. 2010). Esta (SEO/BirdLife 2012). O aparecimento da espé-
espécie aparece sobretudo em escarpas rocho- cie nas zonas de invernada é relativamente tardio,
sas, tanto em serras como no litoral, e ocasional- começando nos finais de Setembro e terminando
mente em zonas urbanas ou em zonas húmidas geralmente antes de Abril (Catry et al. 2010).

406 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 407


Andorinha-das-chaminés
Hirundo rustica

IMAGEM
Faísca

TEXTO
Hugo Sampaio

Modelação

I NV ERN O

Distribuição e abundância inverno, a andorinha-das-chaminés foi registada


no inverno apenas numa quadrícula da ilha da Madeira e numa
na ilha Terceira, Açores.
A maior parte dos indivíduos desta espécie
inverna a sul do Saara, contudo alguns perma-
necem no norte de África ou no sul da Europa, Distribuição e abundância
nomeadamente na península Ibérica. Não se sabe na migração pós-nupcial
qual a origem destes indivíduos, se são nativos
destas regiões ou se são provenientes de outros A península Ibérica representa um importante
países europeus (SEO/BirdLife 2012). Durante o corredor migratório para grande parte das popu-
inverno, as observações de andorinha-das-chami- lações europeias de andorinha-das-chaminés. A M I GRA ÇÃ O PÓS- N U PCIA L
nés estão associadas principalmente a zonas húmi- migração pós-nupcial desta espécie decorre nesta
das naturais ou artificiais, terrenos alagados, valas região sobretudo nos meses de verão mas durante
de irrigação ou cultivos de regadio, locais onde outubro ainda podem ser observados indivíduos
se concentra maior quantidade de insectos (Catry em movimento para sul (Catry et al. 2010, SEO/
et al. 2010, SEO/BirdLife 2012). Os registos deste BirdLife 2012). Durante este período a espécie foi
atlas revelam que durante o inverno esta andorinha observada de norte a sul de Portugal Continental,
é rara no terço Norte de Portugal, mas comum a tendo sido claramente mais abundante na metade
sul do Tejo. No entanto há que ter em conta que se ocidental do território. Por outro lado, ao contrário
trata de uma espécie estival com chegada precoce do que aconteceu no período de inverno, as maio-
e que grande parte das observações foram realiza- res abundâncias foram registadas a norte do Tejo.
das a partir de meados de janeiro, podendo corres- É regular a observação de indivíduos em migra-
ponder a indivíduos recém-regressados ao nosso ção nos arquipélagos, das selvagens, da Madeira
país. Por exemplo, na Costa Sudoeste a amostra- e dos Açores, no entanto neste atlas só em quatro
gem foi realizada na segunda semana de feve- quadrículas foram obtidos registos adicionais, uma
reiro. Nos arquipélagos dos Açores e da Madeira, na ilha da Madeira, uma nas Selvagens, uma na
onde pode ocorrer de forma ocasional durante o Terceira e outra na ilha do Corvo.

408 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 409


Andorinha-dáurica
Cecropis daurica

IMAGEM
Faísca

Distribuição e abundância Contudo metade dos registos desta espécie camente todas as quadrículas algarvias. As
no inverno durante o inverno ocorreram perto da segunda maiores lacunas espaciais de ocorrência desta
metade do mês de Fevereiro ou posteriormente espécie, no território continental, durante o
Esta andorinha é uma espécie nidificante e provavelmente correspondem às primeiras período de migração pós-nupcial ocorreram
e migradora transaariana. Contudo ocorre- chegadas de indivíduos migradores. nas quadrículas do extremo Norte, assim como
ram alguns registos da sua presença durante o do Centro litoral e interior. De uma forma gros-
período de invernada no território continental, seira a distribuição durante este período é um
embora sempre em baixas densidades. Estes Distribuição e abundância reflexo da sua área e abundância durante o
registos são maioritariamente na metade sul do na migração pós-nupcial período de nidificação.
país, e geralmente em quadrículas adjacentes ao
litoral ou a rios, e mais concentrados no Algarve. A andorinha-dáurica tem, nas últimas Esta espécie não foi registada nos Açores,
Os locais de ocorrência no período de inver- décadas, registado um aumento populacio- Selvagens e Madeira, onde ocorre de forma
nada são locais de clima mais ameno durante o nal tal como uma expansão de Sul para Norte acidental.
Inverno e possivelmente de uma maior disponi- (Catry et al. 2010). Esta andorinha é notoria-
bilidade alimentar, como por exemplo o Algarve mente mais comum e abundante na metade TEXTO
e nos vales do Tejo e do Sado (Catry et al. 2010). Sul de Portugal, tendo sido detetada em prati- Luis Pascoal da Silva

410 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 411


Andorinha-dos-beirais
Delichon urbicum

IMAGEM
Joaquim Antunes

Distribuição e abundância açudes, rios ou lagoas costeiras, podendo ser Distribuição e abundância
no inverno registada junto de outras espécies de ando- na migração pós-nupcial
rinha (Catry et al. 2010, SEO/BirdLife 2012).
Apesar de haver uma pequena população O Algarve foi a região do país com maior De um modo geral ao longo deste período
que permanece na península Ibérica, sujeita a concentração de registos, tendo havido igual- a andorinha-dos-beirais ocorre de norte a sul
flutuações anuais em resultado das condições mente alguma continuidade na distribuição do território continental apesar de não ter sido
ambientais, a maior parte dos indivíduos desta das observações ao longo do Tejo, desde o registada em grande parte dos distritos de
espécie inverna a sul do Saara desde o prin- estuário até à fronteira com Espanha. Foram Viana do Castelo, Coimbra, Leiria, Setúbal e
cípio de novembro até ao início de fevereiro. recolhidos poucos registos no Norte, onde a Beja. No final da época reprodutora é possí-
Desta forma a maior parte dos registos reuni- presença desta espécie foi mais marcada no vel observar bandos de grande dimensão que
dos neste atlas, fruto de observações realiza- interior do território, principalmente na região se reúnem antes de rumar para sul. O período
das já em fevereiro, deverá corresponder a do Douro Internacional. de migração pós-nupcial ocorre sobretudo
aves que regressaram dos locais de invernada durante os meses de verão, sendo já poucos
em África. A andorinha-dos-beirais ocorre ocasional- os indivíduos observados a partir de outubro
mente nos arquipélagos dos Açores, Selva- (Catry et al. 2010, SEO/BirdLife 2012).
Durante este período a andorinha-dos-bei- gens e Madeira, tendo sido registada nas
rais é geralmente observada na metade sul do Desertas e em Porto Santo no âmbito dos Não foi observada no arquipélago dos Açores
território e a cotas baixas, associada a cultivos trabalhos do atlas. mas foi registada na Madeira e nas Selvagens.
de regadio e zonas húmidas como barragens,
TEXTO
Hugo Sampaio

412 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 413


Chapim-rabilongo
Aegithalos caudatus

IMAGEM
Bruno Maia

TEXTO
Gonçalo Elias
O autor não segue o acordo ortográfico de 1990

Modelação

I NV ERN O

Distribuição e abundância Distribuição e abundância


M I GRA ÇÃ O PÓS- N U PCIA L
no inverno na migração pós-nupcial
O chapim-rabilongo distribui-se de norte a sul Na época de migração pós-nupcial, a distri-
do país. No entanto existe um claro contraste entre buição desta espécie não é muito diferente da
a situação registada a norte do rio Tejo, onde a que foi obtida durante o período de invernada:
espécie apresenta uma distribuição relativamente a norte do rio Tejo, uma distribuição bastante
contínua, e o território a sul deste rio, onde o mapa contínua; a sul deste rio, uma distribuição muito
apresenta mais descontinuidades, sugerindo que fragmentada no Alentejo, contrastando com
a sua ocorrência nesta região é mais fragmentada; uma presença mais notória no Algarve. No que
só no extremo sudoeste alentejano e no Algarve é se refere à abundância, a informação disponí-
que a espécie parece surgir novamente de forma vel sugere que a espécie é mais numerosa para
contínua, mas nesta última região parece ser muito norte do rio Mondego, tornando-se progressi-
escassa ou estar ausente da faixa costeira. Os vamente mais escassa para sul deste rio. No sul
dados quantitativos sugerem que a maior densi- do país, parece estar ausente de vastas áreas,
dade de ocorrência é acompanhada de uma maior em especial das zonas menos arborizadas do
abundância: efectivamente as maiores abundân- Alentejo, provavelmente devido à falta de habi-
cias registaram-se no norte e no centro. tat favorável.

414 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 415


Calhandra-real
Melanocorypha calandra

IMAGEM
José Sousa

Distribuição e abundância provável que a menor conspicuidade da espé- jano. Ainda assim, neste período foi possível
no inverno cie durante o inverno, em virtude de ter menos detectar a espécie na região da Beira Interior,
actividade vocal e de formar frequentemente nas zonas de Idanha-a-Nova e de Figueira
A calhandra-real foi observada essencial- bandos mistos com outras cotovias, a torne de Castelo Rodrigo, onde não foi registada
mente nas planícies do interior alentejano, menos detectável. Por último, o menor esforço no inverno. As maiores abundâncias foram
onde encontra maior disponibilidade de habi- de prospecção deste trabalho relativamente obtidas, tal como no inverno, nos núcleos de
tat, e, mais pontualmente, nos distritos de ao Atlas das Aves Nidificantes pode também Campo Maior, Alter do Chão, Castro Verde e
Lisboa, Setúbal, Santarém e Bragança. Os ter contribuído pontualmente para algumas Mértola, mas também nas zonas de Idanha-
maiores valores de abundância foram detecta- das diferenças observadas. -a-Nova e de Serpa. As diferenças entre o
dos na zona de Alter do Chão, mas também padrão de distribuição observado e o da
nas regiões de Campo Maior, Castro Verde e A espécie não ocorre nos arquipélagos dos época reprodutora poderão ser explicadas
Mértola. Globalmente, e como seria de espe- Açores, das Selvagens e da Madeira. pelos mesmos factores que foram enumerados
rar de uma espécie residente e relativamente para o inverno, designadamente pelo compor-
sedentária, o seu padrão de distribuição tamento gregário da espécie e pela sua menor
durante o inverno reflecte, ainda que de uma Distribuição e abundância detectabilidade neste período. A maior frag-
forma mais fragmentada, o da época repro- na migração pós-nupcial mentação da distribuição obtida na época
dutora. Esta maior fragmentação deverá ficar pós-nupcial face ao inverno deverá refletir o
a dever-se sobretudo aos hábitos gregários Durante o período de migração pós-nup- fato da espécie ter uma detectabilidade ainda
da espécie durante o inverno e à concentra- cial a calhandra-real apresenta um padrão de menor neste período, em virtude de ser ainda
ção dos seus bandos nas áreas de habitat mais distribuição ainda mais localizado do que no menos vocal.
favorável, o que implica um padrão de ocor- inverno, encontrando-se praticamente confi-
rência necessariamente mais heterogéneo nada às zonas correspondentes aos seus prin- TEXTO
(Morgado et al. 2010). Não obstante, é também cipais núcleos reprodutores no interior alente- Rui Morgado

416 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 417


Calhandrinha
Calandrella brachydactyla

IMAGEM
José Sousa

Distribuição e abundância quadrículas na metade norte. A distribuição pousios, terrenos lavrados e cultivos arvenses
no inverno encontrada neste atlas está contida dentro da na fase inicial (Moreira & Leitão 1996, Moreira
área de distribuição da população nidificante. et al. 2007, Catry et al. 2010). Passa o Inverno
Não foi registada neste período. Parte dos registos pode corresponder a indiví- em África, a sul do Sara.
duos ainda nos territórios de nidificação, mas
há registos que correspondem certamente Não foi registada nos arqupélagos atlânti-
Distribuição e abundância a movimentos migratórios. Nomeadamente cos, onde ocorre de forma acidental.
na migração pós-nupcial os registos de pequenos bandos, comuns na
migração pós-nupcial (ver Catry et al. 2010).
Durante este período, a calhandrinha foi
registada de forma dispersa na metade sul Esta espécie frequenta zonas planas, aber- TEXTO
de Portugal Continental e apenas em quatro tas e com vegetação esparsa, como pastagens, Domingos Leitão

418 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 419


Cotovia-de-poupa
Galerida cristata

IMAGEM
José Sousa

TEXTO
Joana Santana

Modelação

I NV ERN O

M I GRA ÇÃ O PÓS- N U PCIA L


Distribuição e abundância mesmo por observadores experientes. Não são
no inverno conhecidos movimentos migratórios desta espé-
cie, devendo as populações invernantes ser resi-
A cotovia-de-poupa foi registada de norte a dentes (Catry et al. 2010).
sul de Portugal Continental, ocorrendo no entanto
apenas pontualmente no Minho e Beira Litoral. A
sua distribuição no território nacional é moldada Distribuição e abundância
em grande medida pelo habitat, preferindo zonas na migração pós-nupcial
abertas; mas também pela altitude, evitando zonas
montanhosas. As maiores abundâncias da coto- Durante o período pós-nupcial a espécie
via-de-poupa verificaram-se assim a sul, nomea- mantém os mesmos padrões de ocorrência e de
damente no Ribatejo e Alentejo, mas também na abundância do inverno. Foi detectada de norte
Beira Baixa, na região Sul do distrito de Castelo a sul de Portugal Continental, ainda que apenas
Branco. Os dados relativos à distribuição e abun- pontualmente no Minho e Beira Litoral, sendo mais
dância da cotovia-de-poupa são no entanto muito abundante no Sul do que no Norte. Tal como no
incertos devido à dificuldade de distinguir esta período de inverno, as populações são residentes
espécie da sua congénere (cotovia-montesina), (Catry et al. 2010).

420 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 421


Cotovia-montesina
Galerida theklae

IMAGEM
António A. Gonçalves

TEXTO
Joana Santana

Modelação

I NV ERN O

Distribuição e abundância Tanto quanto se conhece a cotovia-montesina


no inverno não efectua movimentos migratórios, devendo as
populações invernantes ser residentes. No entanto
A cotovia-montesina foi registada de norte a é de realçar que esta espécie torna-se gregária
M I GRA ÇÃ O PÓS- N U PCIA L
sul de Portugal Continental mas evitou toda a faixa durante o inverno, formando pequenos bandos,
litoral Norte e Centro, estando também ausente na contrariamente à sua congénere cotovia-de-poupa
Estremadura e na península de Setúbal. A distribui- (Catry et al. 2010).
ção desta espécie durante o inverno é assim mais
restrita ao interior e ao Sul do território Continen-
tal do que a da sua congénere cotovia-de-poupa, Distribuição e abundância
estando apenas presente no litoral a sul de Sines. na migração pós-nupcial
As maiores abundâncias de cotovia-montesina Durante o período pós-nupcial a espécie
verificaram-se no interior do Alentejo, estando ocorre, tal como no inverno, de norte a sul de
sobretudo associadas a habitats abertos, desde Portugal Continental, evitando no entanto toda
meios agrícolas intercalados com matagais e zonas a faixa litoral Norte e Centro, estando também
pedregosas, matagais arborescentes, montados ausente na Estremadura e península de Setúbal.
abertos, a pinhais jovens. No entanto, é de notar As maiores abundâncias verificam-se nas regiões
que erros de identificação desta espécie, por mais ocidentais do Alto Alentejo mas também no
confusão com a cotovia-de-poupa, poderão condi- Baixo Alentejo. Tal como no período de inverno, as
cionar os resultados obtidos (Catry et al. 2010). populações são constituídas por aves residentes.

422 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 423


Cotovia-dos-bosques
Lullula arborea

IMAGEM
Marco Ferreira

TEXTO
Joana Santana

Modelação

I NV ERN O

Distribuição e abundância dante nas terras mais altas em zonas onde normal-
no inverno mente nidifica, podendo mesmo desaparecer nas
cotas mais elevadas (por exemplo nas serras da
A cotovia-dos-bosques foi registada de norte a Peneda-Gerês e da Malcata, Pimenta & Santarém
sul do território de Portugal Continental, apesar de 1996, Silva 1998), indiciando a existência de movi-
ser pouco frequente no Litoral a norte do rio Tejo. mentos altitudinais.
O padrão de ocorrência desta espécie é modelado
M I GRA ÇÃ O PÓS- N U PCIA L
em grande parte pela presença de árvores em
zonas agrícolas, evitando no entanto áreas flores- Distribuição e abundância
tais muito densas. As maiores abundâncias surgem na migração pós-nupcial
assim a Norte, nos mosaicos agrícolas do Nordeste
Transmontano e da Beira Interior; mas também a Durante o período pós-nupcial a espécie ocorre
Sul, nos maciços calcários da Estremadura e nas também em todo o território de Portugal Continen-
regiões dominadas por montados do Ribatejo, do tal, sendo mais frequente no Litoral a norte do Tejo
Alentejo (Elias et al. 1998) e do Algarve (serras de do que durante o inverno. As maiores abundâncias
Monchique e Caldeirão). As populações invernan- da cotovia-dos-bosques verificam-se, tal como no
tes de cotovia-dos-bosques são constituídas por inverno, no interior de Trás-os-Montes e na Beira
aves residentes mas também por aves migratórias Interior, sendo também muito abundante no Riba-
provenientes da Europa Central. Algumas popula- tejo, Alentejo e Algarve. As populações durante
ções desta espécie realizam também movimentos este período são constituídas por aves residentes
dispersivos locais durante o período de Inverno e migratórias, observando-se movimentos disper-
(Catry et al. 2010, Elias et al. 1998). Por outro lado, sivos locais (Catry et al. 2010), à semelhança do
durante o inverno esta espécie é menos abun- que acontece no período de inverno.

424 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 425


Laverca
Alauda arvensis

IMAGEM
Júlio Caldas

TEXTO
Pedro A. Salgueiro

Modelação

I NV ERN O

Distribuição e abundância Distribuição e abundância


no inverno na migração pós-nupcial
A laverca apresenta uma distribuição mais Durante o período de migração pós-nupcial,
extensa neste período do que na primavera, quando esta espécie exibe ainda uma distribuição muito
se encontra maioritariamente confinada às regiões similar à do período de nidificação, estando
montanhosas do Centro e Norte. Durante o inverno restringida ao Centro e Norte montanhoso com
esta espécie ocorre no maciço calcário estreme- especial ênfase para as serras do Marão e Monte-
nho e nas terras altas do interior até à região Norte, muro. Contudo começam a surgir, ainda que de
onde ocupa maioritariamente áreas de matos e forma dispersa, concentrações de indivíduos com
prados, e mais a sul nos terrenos agrícolas e pasta- números interessantes no Sul do país, nomeada-
gens nas regiões do Ribatejo e Alentejo até à região mente no norte e na raia do Alentejo. Esta distri-
M I GRA ÇÃ O PÓS- N U PCIA L
mais raiana da Beira Baixa, onde o gregarismo desta buição pode traduzir o facto de esta espécie ser
espécie proporciona a observação de bandos com um migrador tardio. Alguns autores (Telleria et al.
número apreciável de indivíduos. Escasseia no 1999, Catry et al. 2010, SEO/BirdLife 2012) apon-
Algarve e em regiões onde a prevalência de coberto tam para que as chegadas da espécie aos territó-
arbóreo limita a sua ocorrência. A população inver- rios de invernada comecem em número represen-
nante em Portugal Continental congrega indivíduos tativo a partir de outubro e que o fluxo migratório
residentes que serão na sua maioria sedentários, seja mais intenso durante os meses de novembro
permanecendo nas áreas de reprodução ou even- e dezembro.
tualmente fazendo movimentos para cotas inferiores,
e indivíduos invernantes que poderão ser oriundos Nos territórios insulares, esta espécie foi regis-
de uma vasta área de distribuição (Catry et al. 2010). tada apenas no arquipélago dos Açores, mais
propriamente na ilha Terceira. Apesar de ser raro
No que respeita os territórios insulares, esta acontecer, nos movimentos migratórios podem
espécie é considerada um visitante ocasional nesta ocorrer desvios de indivíduos da rota habitual até
época nos arquipélagos das Selvagens e Madeira aos territórios insulares.
(Leitão & Cidraes-Vieira 2011) e raro nos Açores
(Muchaxo et al. 2011).

426 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 427


Fuinha-dos-juncos
Cisticola juncidis

IMAGEM
Joaquim Antunes

TEXTO
Joana Santana

Modelação

I NV ERN O

M I GRA ÇÃ O PÓS- N U PCIA L

Distribuição e abundância Distribuição e abundância


no inverno na migração pós-nupcial
A fuinha-dos-juncos foi registada de norte a sul Durante o período pós-nupcial a espécie apre-
do território de Portugal Continental, ainda que senta um padrão de ocorrência semelhante ao de
com ocorrência pontual em Trás-os-Montes, parte inverno, estando no entanto ausente nas regiões
ocidental do Douro Litoral e Beiras Alta e Baixa. de Trás-os-Montes e Beira Alta. As maiores abun-
As maiores abundâncias verificaram-se nas regiões dâncias da fuinha-dos-juncos verificam-se a sul,
agrícolas da Estremadura, do Ribatejo e no litoral na Estremadura, Ribatejo, península de Setúbal e
do Baixo Alentejo. As populações de fuinha-dos- Baixo Alentejo. Tal como no período de inverno,
-juncos durante o inverno deverão ser residen- as populações presentes durante este período são
tes no território nacional, ainda que Tait (1924) e constituídas por aves residentes.
Coverley (ca. 1945) se referissem às populações
existentes no litoral Norte como estivais, o que
actualmente não se deverá verificar como indicam
os dados do presente atlas.

428 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 429


Rouxinol-bravo
Cettia cetti

IMAGEM
José Sousa

TEXTO
Milene Matos

Modelação

I NV ERN O

Distribuição e abundância A espécie está ausente dos arquipélagos dos


no inverno Açores, das Selvagens e da Madeira.

O rouxinol-bravo foi registado em todo o terri-


tório de Portugal Continental, embora, de um Distribuição e abundância M I GRA ÇÃ O PÓS- N U PCIA L
modo geral, aparente ser mais comum no Centro e na migração pós-nupcial
Sul do país do que no Norte. A espécie é particu-
larmente abundante na região do Ribatejo, onde Durante o período pós-nupcial o rouxinol-
existe elevada disponibilidade de habitat favorá- -bravo ocorre também em todo o território de
vel, sendo também de salientar as abundâncias Portugal Continental. No entanto, a distribuição
registadas na faixa litoral norte e nalgumas quadrí- aparenta ser um pouco mais alargada do que no
culas isoladas do Alentejo e Algarve. A espé- inverno, principalmente na região Norte, onde a
cie é essencialmente sedentária no país, embora sua presença foi registada num maior número de
possa efetuar movimentos de curta distância. Os quadrículas. Todavia, as zonas de maior abundân-
dados sugerem que em certas regiões do interior, cia são sensivelmente as mesmas que durante o
nomeadamente na Beira Alta, é significativamente inverno. Catry et al. (2010) referem que a espécie
menos abundante nos meses mais frios do que na é essencialmente sedentária, mas pode efetuar
Primavera e Verão (Catry et al. 2010). Em zonas de movimentos curtos, dentro da mesma região.
caniçal, um dos biótopos preferenciais, as popula-
ções invernantes são dominadas por fêmeas (Neto A espécie está ausente dos arquipélagos dos
2003, Bibby & Thomas 1984). Açores, das Selvagens e da Madeira.

430 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 431


Cigarrinha-malhada
Locustella naevia

IMAGEM
Dinis Cortes

Distribuição e abundância Europa ocidental e setentrional. Esta é uma 2010), mas caracteriza-se por um reduzido
na migração pós-nupcial ave de hábitos muito discretos no decurso da número de deteções que não deverá traduzir
migração pós-nupcial, geralmente mantendo- uma raridade da espécie, mas tão-somente
A cigarrinha-malhada só se encontra em -se oculta por entre vegetação densa. Prefere as dificuldades de observação já aludidas.
Portugal durante as passagens migratórias, caniçais, juncais e outra vegetação palustre, Em habitats adequados, a cigarrinha-ma-
não nidificando nem invernando no nosso mas também surge em matos curtos de vários lhada pode chegar a ser numerosa durante
país. A migração pós-nupcial dá-se sobre- tipos ou em prados com erva alta e sebes, as migrações, como acontece por exemplo
tudo em agosto e em setembro. A origem das locais onde descansa e se alimenta por perío- nos caniçais e bunhais da lagoa de Santo
aves que cruzam o território nacional é larga- dos curtos entre voos migratórios. André (Catry et al. 2004), onde não foi efec-
mente desconhecida, havendo pelo menos tuado qualquer registo.
uma recaptura ligando o nosso país à Bélgica O mapa agora obtido confirma a distribui-
(Catry et al. 2010), sendo provável que a maio- ção ampla já conhecida e típica dos migra- TEXTO
ria, ou mesmo a totalidade, das aves venha da dores terrestres de passagem (Catry et al. Paulo Catry

432 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 433


Cigarrinha-ruiva
Locustella luscinioides

IMAGEM
Radovan Václav

Distribuição e abundância exclusivamente em grandes caniçais. A passa-


no inverno gem migratória para a África subsariana de
populações a norte de Portugal é negligen-
Esta espécie inverna essencialmente na ciável ou nula, não existindo recuperações
África subsariana, estando ausente de Portu- de aves anilhadas no estrangeiro (Neto et al.
gal durante este período. 2008). Os registos obtidos durante o período
migratório pós-nupcial ocorreram essencial-
mente em zonas húmidas ao longo da faixa
Distribuição e abundância litoral onde existem populações nidificantes. A
na migração pós-nupcial dificuldade na detecção desta espécie após a
época de nidificação, em que raramente canta,
Esta é uma espécie nidificante muito loca- e insuficiências de cobertura provavelmente TEXTO
lizada em Portugal Continental, ocorrendo subestimaram os locais de ocorrência. Júlio Manuel Neto

434 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 435


Felosa-dos-juncos
Acrocephalus schoenobaenus

IMAGEM
Romão Machado

Distribuição e abundância É uma ave discreta, que vive em povoa- lagoa de Santo André, a espécie é comum nos
na migração pós-nupcial mentos de vegetação ripícola cerrada, como caniçais durante Agosto e Setembro.
são os caniçais, os bunhais ou os juncais.
A felosa-dos-juncos é uma migradora tran- Assim, a sua deteção não é fácil. Acresce Os dados de recapturas de aves anilha-
sariana que não nidifica nem inverna em Portu- que na migração pós-nupcial a maioria das das indicam que por Portugal passam felo-
gal, encontrando-se entre nós apenas durante felosas-dos-juncos chega ao nosso país com sas-dos-juncos provenientes das ilhas britâ-
as passagens migratórias. Os dados obtidos grandes reservas de gordura, acumuladas em nicas, de França, da Holanda, da Alemanha
durante a realização do presente atlas suge- regiões situadas mais a norte, e assim não e da Escandinávia (Catry et al. 2010). Estas
rem uma distribuição ao longo de todo o lito- necessita de permanecer aqui durante muito aves invernam nas zonas húmidas da África
ral do país, com escassos registos no interior. tempo, seguindo viagem após uma curta Ocidental, tanto no Sahel como mais a sul, em
É de facto no litoral que se encontra maior paragem (Bibby & Green 1981, Catry et al. regiões dominadas por vegetação natural de
disponibilidade dos habitats favorecidos por 2004). Por estes motivos, e apesar de prova- savanas arborizadas e florestas tropicais secas
esta espécie, nomeadamente em pauis e nas velmente grande número de felosas-dos-jun- ou semi-secas (Zwarts et al. 2009).
margens de estuários ou de zonas lagunares cos passarem por Portugal em cada Verão, a
costeiras. Contudo, é possível, quiçá mesmo verdade é que muito poucas são detetadas.
provável, que esta pequena ave também tenha A maioria dos registos normalmente dá-se
uma distribuição razoavelmente ampla no inte- aquando de sessões de capturas de aves com
rior, e que a falta de registos reflita sobretudo redes verticais para proceder à sua anilha- TEXTO
a dificuldade de deteção já aludida. gem. Em certos locais, como por exemplo na Paulo Catry

436 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 437


Rouxinol-pequeno-dos-caniços
Acrocephalus scirpaceus

IMAGEM
Faísca

TEXTO
Júlio Manuel Neto

Modelação
Distribuição e abundância Centro e Norte da Europa (Andueza et al.
M I GR AÇÃO PÓS- N U PCIA L
no inverno 2013, Procházka et al. 2013). Apesar de a sua
abundância ser mais elevada nas zonas húmi-
Esta espécie inverna principalmente na das do litoral e noutros locais de nidificação,
África subsariana, estando ausente de Portu- ocorreu um pouco por todo o país, à exceção
gal durante este período. Os únicos quatro de grande parte do interior Norte. Durante
registo de rouxinol-pequeno-dos-caniços este período, pode ser detectado em habi-
efectuados neste período deverão corres- tats atípicos para a espécie, com destaque
ponder a chegadas precoces. para locais onde existem obstáculos à migra-
ção (notavelmente no Algarve). No entanto, a
sua detectabilidade é baixa, estando a área
Distribuição e abundância de ocorrência provavelmente subestimada.
na migração pós-nupcial
Relativamente aos arquipélagos atlân-
O rouxinol-pequeno-dos-caniços é o ticos, foi registado apenas nas Selvagens,
mais abundante passeriforme especialista onde é uma espécie de ocorrência regular
em caniçal que nidifica em Portugal, sendo durante a migração. Na Madeira é uma espé-
as suas populações acrescidas durante a cie rara ou acidental e nos Açores nunca foi
migração por indivíduos provenientes do registado.

438 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 439


Rouxinol-grande-dos-caniços
Acrocephalus arundinaceus

IMAGEM
Michele Lamberti

Distribuição e abundância tende a ocorrer essencialmente neste tipo de o período migratório pós-nupcial e às limita-
no inverno habitat, tendo sido registada principalmente ções da cobertura, a sua área de ocorrência
em zonas húmidas do litoral mas também em neste período deve estar fortemente subesti-
Esta espécie inverna exclusivamente na alguns (poucos) locais no interior. Embora não mada.
África subsariana, estando ausente de Portu- haja estudos detalhados sobre estes rouxinóis,
gal durante este período. supõe-se que, tal como a cigarrinha-ruiva, as
aves de passagem provenientes das popula-
ções ocidentais da Europa migrem mais a leste,
Distribuição e abundância sendo raras em Portugal. Os registos obti-
na migração pós-nupcial dos durante a migração localizam-se essen-
cialmente nos locais de nidificação. Devido
Sendo uma especialista em caniçais, a à migração precoce (Catry et al. 2010), ao TEXTO
distribuição desta espécie durante a migração comportamento discreto destas aves durante Júlio Manuel Neto

440 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 441


Felosa-poliglota
Hippolais polyglotta

IMAGEM
Dinis Cortes

TEXTO
João E. Rabaça

Modelação
Distribuição e abundância o país, tanto de norte para sul como do lito-
M I GR AÇÃO PÓS- N U PCIA L
no inverno ral para o interior. Esta diferença nos resulta-
dos obtidos nestes dois períodos fenológicos
A felosa-poliglota não foi registada durante consecutivos poderá dever-se à menor conspi-
o período de inverno no decorrer dos traba- cuidade da espécie após a época de reprodu-
lhos deste atlas. ção que torna menos acessível a sua deteção.

É também possível que parte importante


Distribuição e abundância do seu fluxo migratório tenha ocorrido ante-
na migração pós-nupcial riormente ao início dos trabalhos de campo
(ver Catry et al. 2010).
A felosa-poliglota é uma migradora nidi-
ficante tardia com uma ampla distribuição Por último, há a destacar os registos adicio-
no território continental durante a época de nais, responsáveis por cerca de 46% do total
reprodução. Não obstante, a distribuição de quadrículas em que a espécie foi dete-
obtida durante a migração pós-nupcial é algo tada. Estes registos foram mais expressivos no
fragmentada, embora se verifique uma certa Algarve, Lisboa e Vale do Tejo e na região do
consistência na deteção da espécie em todo Oeste.

442 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 443


Felosa-musical
Phylloscopus trochillus

IMAGEM
José Viana

TEXTO
Luis Pascoal da Silva

Modelação
Distribuição e abundância dades encontram-se distribuídas ao longo da
M I GR AÇÃO PÓS- N U PCIA L
no inverno costa e no Sul do país. Esta espécie foi dete-
tada apenas em aproximadamente metade das
A felosa-musical foi detetada em 4 quadrí- quadrículas de visitas sistemáticas; todavia foi
culas durante o período de inverno. Os regis- capturada em todos os locais onde se realiza-
tos desta espécie são esporádicos e também ram sessões de anilhagem para este projeto.
não se pode descurar a hipótese de erros na A não deteção desta espécie em número tão
identificação, com outros Phylloscopus, por elevado de quadrículas face a sua abundância
parte de observadores menos experientes. pode estar relacionada com a não familiaridade
desta espécie para alguns observadores e/ou
com as datas da realização das visitas às quadri-
Distribuição e abundância culas, que podem ter sido efetuadas antes ou
na migração pós-nupcial depois do período de ocorrência típica desta
espécie no país. A maior extensão onde não foi
A felosa-musical é tipicamente uma migra- detetada localiza-se do nordeste do distrito da
dora de passagem transaariana bastante abun- Guarda ao norte do distrito de Bragança.
dante e que pode ser observada numa grande
variedade de habitats. Está presente em quase Ocorre nos arquipélagos da Madeira e das
todo território continental, e as maiores densi- Selvagens.

444 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 445


Felosinha-comum
Phylloscopus collybita

IMAGEM
José Sousa

TEXTO
Luis Pascoal da Silva

Modelação

I NV E R NO

Distribuição e abundância contudo registos de indivíduos de subespécies nha-comum é uma nidificante muito escassa
no inverno oriundas de regiões localizadas mais a leste, e das migradoras mais tardias no país, sendo
como a Sibéria (Catry et al. 2010). registada normalmente a partir do final de
No período de inverno a felosinha-comum Setembro. É de esperar que a sua presença
foi encontrada em quase todas as quadrículas tenha sido registada essencialmente no fim
prospetadas, sendo sem dúvida uma ave muito Distribuição e abundância da época migratória e que tenham ocorrido
abundante durante este período na maioria do na migração pós-nupcial movimentos depois desta. Contudo não são
território continental. As maiores densidades de descartar possíveis confusões com outras
são encontradas principalmente junto ao litoral Esta espécie esteve presente em grande espécies de felosas, principalmente com a
e na metade Sul do país. Por outro lado, a zona parte do território continental, durante o felosinha-ibérica, podendo assim existirem
com menores densidades localiza-se no inte- período de migração pós-nupcial. Destaca-se alguns erros na real distribuição durante este
rior Norte. Esta felosa parece assim evitar as a sua ausência de grande parte da Beira Lito- período.
zonas mais frias de Portugal. A maioria das aves ral, assim como do Baixo Alentejo. De notar
presentes em Portugal são aparentemente que, no quadrante nordeste do país foi dete- Esta espécie foi detetada no sudeste da
oriundas de populações nidificantes em lati- tada, de uma forma geral, em abundâncias ilha da Madeira e nas Desertas no período
tudes médias da Europa Ocidental, existindo semelhantes ao período de Inverno. A felosi- migratório.

446 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 447


Felosinha-ibérica
Phylloscopus ibericus

IMAGEM
Dinis Cortes

Distribuição e abundância que essa ocorrência seja em números muito quadriculas onde se reproduz. Mais tímida
no inverno baixos e possivelmente de forma irregular fora da época reprodutora, esta ave pode
(Onrubia 2012). Contudo, a elevada seme- então facilmente passar despercebida, prin-
A felosinha-ibérica tem a sua principal lhança com a felosinha-comum em termos cipalmente se ocorrer em baixas densidades,
área de invernada a sul do Saara (Catry et de plumagem, assim como das vocalizações sendo de considerar que a sua distribuição
al. 2008, Rodríguez et al. 2013). Registaram- de inverno (Rodríguez et al. 2013), leva a que nesse período seja mais ampla que a obtida. É
-se alguns indivíduos durante o período de não se possa deixar de considerar a possibi- possível que esteja presente durante a migra-
Inverno, com uma distribuição irregular de lidade de alguns registos resultarem de erros ção na maioria dos locais com habitat florestal
norte a Sul do país, mas mais concentrada de identificação. favorável, nomeadamente florestas de Quer-
no Centro. Alguns dos registos efetuados cus sp. e galerias ripícolas. Todavia a elevada
são provavelmente aves migradoras a regres- parecença entre os membros do género Phyl-
sar às áreas de reprodução, uma vez a popu- Distribuição e abundância loscopus, principalmente com a felosinha-co-
lação inicia o retorno em fevereiro (Rodrí- na migração pós-nupcial mum, podem ter originados alguns registos
guez et al. 2013), mas é plausível que outros incorretos, tal como no inverno.
correspondam a invernantes genuínos. Exis- Ocorre de forma irregular um pouco por
tem já alguns registos de invernada no Sul todo o território continental, não tendo sido TEXTO
da península Ibérica, contudo é considerado identificada a sua presença em muitas das Luis Pascoal da Silva

448 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 449


Felosa-de-papo-branco
Phylloscopus bonelli

IMAGEM
Dinis Cortes

Distribuição e abundância dizer respeito a aves em passagem ou a indiví- vidades de observação, tendo como resultado
no inverno duos nidificantes que ainda se encontravam nas a existência de um grande volume de informa-
suas zonas de origem e não haviam iniciado a ção. Houve ainda registos dispersos por outros
Esta espécie não foi observada no período migração. Por outro lado, o sul do país, onde locais do território continental, nomeadamente
de Inverno. Dado que se trata de uma migra- houve muitos registos em locais onde não é no litoral centro e na bacia do rio Tejo.
dora outonal relativamente precoce, os regis- conhecida a nidificação da espécie, em espe-
tos em Novembro são bastante raros. cial junto à faixa costeira; estes registos deve- A escassez de registos sistemáticos e as
rão respeitar essencialmente a aves observa- baixas abundâncias verificadas não permitem
das na sua migração pós-nupcial. Destaca-se retirar conclusões quanto à abundância relativa
Distribuição e abundância o extremo sudoeste do território, nomeada- desta espécie durante o período de migração.
na migração pós-nupcial mente a região do cabo de São Vicente, onde
se encontra a maior concentração de observa- Esta felosa não foi detectada nos Açores
Em Portugal Continental, durante o período ções (essencialmente não sistemáticas), o que nem na Madeira, no entanto nesta última região
de migração pós-nupcial esta felosa foi detec- poderá reflectir uma presença mais frequente é conhecida a sua ocorrência como acidental.
tada em duas grandes zonas geográficas bem desta felosa, mas também um maior esforço
distintas. Por um lado, o interior norte e centro, de amostragem nessa região, onde nos últi-
TEXTO
onde se situa um dos principais núcleos de nidi- mos anos têm decorrido diversos programas de Gonçalo Elias
ficação; os registos aqui apresentados poderão monitorização de aves migradoras e outras acti- O autor não segue o acordo ortográfico de 1990

450 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 451


Toutinegra-de-barrete
Sylvia atricapilla

IMAGEM
José Viana

TEXTO
Pedro Pereira

Modelação

I NV ERN O

Distribuição e abundância pélago da Madeira, onde ocorre a subspécie S. a.


no inverno heineken, foi detectada apenas na ilha principal.
A não detecção da espécie no Porto Santo dever-
Durante o inverno, a toutinegra-de-barrete -se-á a insuficiência na cobertura, na medida em
ocorre ao longo de todo o território continen- que aí foi detectada no decorrer de outros traba-
tal. Pode ser considerada uma espécie abundante lhos (Sepúlveda et al. 2013).
ou localmente muito abundante, contudo não se
reparte homogeneamente ao longo do território.
A norte do rio Tejo, é mais abundante nos distritos Distribuição e abundância
de Coimbra, Leiria e Castelo Branco. Localmente na migração pós-nupcial
é também abundante no Alto Minho, em Trás-os-
-Montes e na região de Lisboa. A sul do Tejo, onde Durante a passagem pós-nupcial, as abundân-
as abundâncias são em média inferiores às regista- cias da toutinegra-de-barrete são em média infe-
das nas regiões mais a norte, a margem esquerda do riores às observadas durante o inverno. O padrão
M I GRA ÇÃ O PÓS- N U PCIA L
Guadiana e o barrocal Algarvio destacam-se como de ocorrência da espécie a norte do Tejo é seme-
as principais áreas de ocorrência. lhante ao descrito para aquela época do ano. A
região centro assume contudo menor importân-
Durante o inverno a espécie ocupa todo tipo de cia à escala nacional. A sul do Tejo está circuns-
habitats arborizados ou com arbustos altos, sendo crita às áreas mais húmidas e com menor insolação,
particularmente abundante em vinhas, olivais e apresentando uma distribuição semelhante à que
matagais. As descontinuidades, em particular as ocupa durante a época de nidificação. Apesar de
registadas no Alentejo, devem-se à escassez de ser conhecida a passagem de indivíduos não nidi-
habitat favorável. Os efectivos residentes no terri- ficantes com origem na Europa Central e do Norte
tório continental pertencentes à subspécie S. a. (Catry et al. 2010), esse afluxo não se repercutiu
heineken são reforçados por indivíduos perten- num aumento do número de registos ao longo do
centes à subspécie nominal com origem na Europa período de amostragem. A insuficiência de cober-
Central e do Norte (Catry et al. 2010). Nas ilhas tura durante a migração não possibilitou o registo
atlânticas deverá ser essencialmente uma espé- em todo o arquipélago dos Açores, nomeadamente
cie residente. Nos Açores a subspécie S. a. gularis na ilha do Corvo e em São Jorge. No arquipélago
ocorre em todas as ilhas, atingindo maiores abun- da Madeira, para além da ilha principal foi também
dâncias nos grupos Central e Oriental. No arqui- detectada em Porto Santo e nas Desertas.

452 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 453


Felosa-das-figueiras
Sylvia borin

IMAGEM
António A. Gonçalves

Distribuição e abundância esta espécie em visitas regulares. Por exem- campanhas de anilhagem mais antigas (Santos
na migração pós-nupcial plo, em alguns locais do Minho (por exem- Junior et al. 1985). Os dados também parecem
plo Caminha e Valença) é um migrador outo- comprovar abundâncias relativamente seme-
A felosa-das-figueiras é uma migradora nal comum e relativamente fácil de observar lhantes entre o litoral e o interior do território.
transariana mais abundante na migração (obs. pessoal), mas a distribuição obtida neste Os dados de anilhagem sugerem que as aves
pós-nupcial do que na migração no período Atlas não confirmaram este estatuto. Na migra- em migração no nosso território provém sobre-
primaveril. Durante este período a espécie ção outonal, ocorre sobretudo entre meados tudo da Europa Ocidental, Central e do Norte
foi registada de forma dispersa um pouco por de agosto e a primeira quinzena de novem- com destaque para indivíduos anilhados com
todo o território de Portugal Continental. bro, sendo todavia mais abundante entre a anilha da Alemanha e Bélgica (Catry et al. 2011).
segunda semana de setembro e meados de
Os registos obtidos neste Atlas sugerem outubro (Catry et al. 2011). No decorrer da Não foi registada nas ilhas, onde ocorre de
que esta espécie é mais abundante na metade migração outonal e, ao contrário de outras forma acidental.
Norte, sobretudo no Centro Norte e, mais a espécies migradoras é também abundante
Sul, no Algarve. Contudo, este padrão deverá no interior do território, como comprovam os TEXTO
ser consequência das dificuldades de observar dados de anilhagem deste atlas, mas também Luís Reino

454 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 455


Papa-amoras
Sylvia communis

IMAGEM
Faísca

Distribuição e abundância em altitudes médias e elevadas situadas a tante passagem outonal com uma trajectória
no inverno norte do maciço central, merecendo destaque mais ocidental. De resto, Tellería et al. (1999)
a existência desde há décadas de um núcleo referem que a maioria dos papa-amoras-co-
O papa-amoras foi registado em apenas isolado na serra de Monchique. muns efetuam a migração pós-nupcial pela
uma quadrícula de Portugal Continental. Prova- metade ocidental da península.
velmente serão aves em migração precoce Durante a migração pós-nupcial a espécie
para os locais de reprodução. é detetável de norte a sul do país, mas com De notar a existência de um registo adicio-
maior notoriedade no centro-norte onde surge nal nas ilhas Selvagens, onde a espécie ocorre
com abundâncias mais elevadas. Está ausente regularmente durante a migração. Não foi
Distribuição e abundância no Alentejo nas zonas em que os usos do detectada na Madeira e Porto Santo, onde
na migração pós-nupcial solo são dominados por culturas arvenses de ocorre de forma acidental.
sequeiro. Realce ainda para a ocorrência da
O papa-amoras é um migrador nidificante espécie ao longo da faixa litoral e no resto do TEXTO
que no território nacional nidifica sobretudo Algarve, sugerindo a existência de uma impor- João E. Rabaça

456 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 457


Toutinegra-real
Sylvia hortensis

IMAGEM
Dinis Cortes

Distribuição e abundância nental, de norte a sul e nas serras algarvias, região do Oeste e costa do barlavento algar-
no inverno usualmente com baixas abundâncias. Os resul- vio), pode indiciar a existência de trajetórias de
tados obtidos na migração pós-nupcial, apesar passagem mais ocidentais.
A tourinegra-real não foi registada neste de escassos, são de algum modo consistentes
período. com a distribuição da espécie no período da De notar a existência de um registo adicio-
sua nidificação, tendo em conta a sua dete- nal nas ilhas Selvagens.
ção de norte a sul ao longo da faixa interior do
Distribuição e abundância território. Catry et al. (2010) referem aliás que
na migração pós-nupcial as passagens migratórias de toutinegras-reais
são raras fora das áreas de criação. Todavia, o
A toutinegra-real ocorre durante a época facto de a espécie ter sido registada em três TEXTO
de reprodução no interior do território conti- locais distintos na faixa litoral do país (Aveiro, João E. Rabaça

458 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 459


Toutinegra-dos-valados
Sylvia melanocephala

IMAGEM
Júlio Caldas

TEXTO
Carlos Godinho

Modelação

I NV ERN O

Distribuição e abundância de norte a sul de Portugal Continental, sendo


no inverno mais abundante no centro e sul do país. À seme-
lhança do inverno, os registos adicionais permi-
A toutinegra-dos-valados apresenta durante o tem completar a distribuição desta espécie, prin-
inverno uma distribuição muito semelhante à dete- cipalmente naquelas onde ela é mais comum. A
tada durante o período de reprodução. Encontra- toutinegra-dos-valados é uma espécie restrita
-se distribuída ao longo de todo o país, estando à região Mediterrânica, ocupando na Península
M I GRA ÇÃ O PÓS- N U PCIA L
ausente apenas nas zonas serranas do norte. Os Ibérica os pisos termo e mesomediterrâneo, não
registos pontuais permitiram em alguns casos sendo conhecidos registos de indivíduos em
compensar lacunas de informação, nomeadamente migração.
no Estuário do Tejo, Alto e Baixo Alentejo e Algarve,
dando uma maior continuidade à área de distribui- É expectável que aves juvenis façam alguns
ção. Os valores de abundância mais elevados foram movimentos dispersivos de pouca amplitude,
registados no Algarve, Estremadura e nordeste provavelmente dentro da área de distribuição
Transmontano. A espécie aparenta assim uma conhecida. Segundo Aymí & Gargallo (2006) a
elevada sedentariedade da área ocupada, mesmo presença de indivíduos invernantes a sul do Sara
ao nível da Península Ibérica (SEO/Birdlife 2012). reflete alguns eventos de migração de longa
distância, e que a dificuldade em distinguir entre
indivíduos residentes e migradores resulta de
Distribuição e abundância uma elevada sobreposição da sua área de distri-
na migração pós-nupcial buição.

Durante o período pós-nupcial a toutinegra-


-dos-valados mantém a sua ampla distribuição

460 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 461


Toutinegra-de-bigodes
Sylvia cantillans

IMAGEM
Faísca

Distribuição e abundância ção bastante fragmentada ao longo de todo É uma espécie tipicamente mediterrânica,
no inverno o território continental, existindo um maior preferindo áreas de matos bem desenvolvi-
número de registos no interior do país. Este dos e povoamentos jovens de quercíneas, tole-
A toutinegra-de-bigodes é uma migradora padrão insere-se dentro da área de distribui- rando algumas árvores dispersas (Shirihai et al.
de longa distância que normalmente deixa os ção da espécie durante o período reprodu- 2001). Durante a migração pode ocorrer numa
quarteis de invernada na África subsariana a tor. A ausência de uma continuidade de regis- maior amplitude de habitats, desde zonas de
partir de fevereiro a início de maio, ocorrendo a tos principalmente na zona de Trás-os-Montes matos a jardins. Durante as sessões de anilha-
passagem primaveril na bacia do Mediterrâneo e Beira Interior, onde a espécie é bastante gem realizadas no primeiro de ano de amostra-
maioritariamente entre meio de março e final de comum na primavera, pode estar relacionada gem foram capturadas 284 toutinegras-de-bi-
maio (Aymí et al. 2013). Durante os trabalhos na com a menor detetabilidade que evidência godes, 95% das quais nas estações do interior
época de inverno a espécie foi detetada uma no período pós-nupcial. Segundo Catry et al. do país.
vez no final de janeiro em Trás-os-Montes. (2010) é possível observar a toutinegra-de-bi-
godes nas regiões litorais durante o período
de migração outonal, nomeadamente entre o
Distribuição e abundância início de agosto e novembro. Durante os traba-
na migração pós-nupcial lhos deste atlas este facto apenas foi obser-
vado na área de maior influência mediterrânea,
Durante o período pós-nupcial a touti- existindo registos durante todo o período de TEXTO
negra-de-bigodes apresenta uma distribui- amostragem até inícios de outubro. Carlos Godinho

462 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 463


Toutinegra-tomilheira, cigarrinho (MADEIRA)
Sylvia conspicillata

IMAGEM
Dinis Cortes

Distribuição e abundância pode afastar a espécie dos locais de repro- (Aymí & Gargallo 2006), altura em que regressa
no inverno dução (Aymí & Gargallo 2006). Na última aos territórios de invernada no norte de África.
década existem registos de toutinegra-tomi- Esta espécie foi detetada ao longo de todo o
Em Portugal Continental ocorre a subespé- lheira na Madeira durante o inverno de 2003, período de amostragem na migração pós-nup-
cie nominal que é estival, não havendo regis- tendo sido também observada em Porto Santo cial, existindo registos até início de outubro. A
tos no período de inverno. Na Madeira ocorre (Birding Madeira 2014). maioria das observações foi em locais coinci-
a subespécie S. c. orbitalis que é residente. dentes com a área de distribuição no período
Apesar da cobertura total do arquipélago a reprodutor, não havendo dados que apontem
espécie apenas foi observada numa quadrícula Distribuição e abundância qualquer padrão de migração. No arquipélago
na ilha da Madeira. Seria espectável que sendo na migração pós-nupcial da Madeira a espécie foi detetada na ilha da
residente exibisse um padrão de distribuição Madeira e em Porto Santo. Ao contrário do
semelhante ao observado na Canárias, onde é A toutinegra-tomilheira é uma represen- inverno, a distribuição na ilha da Madeira é
frequente em todo o arquipélago, mesmo no tante Mediterrânica típica do género Sylvia, mais alargada, tendo sido registadas as maio-
inverno (SEO/Birdlife 2012). Este baixo número com requisitos de habitat bastante restritos res abundâncias na mesma quadrícula onde a
de registos pode estar relacionado com a exis- (Shirihai et al. 2001), estando associada a zonas espécie ocorreu no inverno.
tência de alguns movimentos para áreas onde de matos baixos e esparsos (Rabaça et al.
as temperaturas mínimas durante o inverno 2002). A migração pós-nupcial é pouco conspí- TEXTO
sejam mais elevadas (SEO/Birdlife 2012), o que cua ocorrendo entre final de Agosto e Outubro Carlos Godinho

464 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 465


Toutinegra-do-mato
Sylvia undata

IMAGEM
Marco Ferreira

TEXTO
Pedro A. Salgueiro

Modelação

I NV ERN O

Distribuição e abundância ou a cotas inferiores (Telleria et al. 1999), sendo


no inverno a população residente reforçada no inverno por
populações migrantes (Catry et al. 2010).
A toutinegra-do-mato distribui-se ao longo do
território continental de forma fragmentada, ocor- Esta espécie encontra-se ausente nos territó-
rendo predominantemente no Norte e Centro rios insulares.
interior do país, estando presente também no
Sudeste alentejano e Algarve. Nas restantes áreas Distribuição e abundância
é menos frequente e surge de forma dispersa. na migração pós-nupcial
Parece exibir uma relativa tolerância geográfica,
orográfica (ocorre tanto em montanha como em A distribuição da espécie durante a época de
M I GRA ÇÃ O PÓS- N U PCIA L
planície) e térmica (desde o interior norte frio ao migração pós-nupcial apresenta comparativa-
litoral ameno), pelo que a sua distribuição deverá mente um padrão mais marcado, verificando-se
ser sobretudo limitada pela disponibilidade de uma ocorrência mais escassa no litoral centro,
habitat (Elias et al. 1998, Catry et al. 2010). Tipica- Ribatejo e Alentejo, com pequenos núcleos popu-
mente associada a matos extensos (van den Berg lacionais dispersos. O Norte e Centro interior, e o
2001), a sua distribuição é de certa forma sobrepo- Sudeste alentejano e Algarve permanecem como
nível com a dominância deste tipo de habitats que as áreas onde se regista maior abundância e uma
são mais frequentes no interior montanhoso do distribuição mais contínua. Pouco se sabe acerca
país. Ainda que de forma esparsa, surge noutras dos movimentos migratórios desta espécie julgan-
regiões de paisagem florestal (litoral centro) ou do-se, contudo, que o fluxo de migração desta
agrícola (Alentejo), onde a extensão de áreas com espécie seja tardio, começando a população inver-
matos e a estrutura dos mesmos é propícia. Neste nante a instalar-se em território nacional durante o
período a distribuição é relativamente coincidente mês de Outubro (Catry et al. 2010). O único registo
com a referente à época de nidificação, indiciando existente refere a recuperação de uma anilha entre
um carácter residente e sedentário. Contudo, Lisboa e Setúbal em novembro de 1960, de um
esta espécie apresenta movimentos dispersivos e indivíduo capturado no sudoeste de França em
parcialmente migratórios para zonas mais térmicas setembro do mesmo ano (Cantos 1992).

466 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 467


Estrelinha-de-poupa
Regulus regulus

IMAGEM
Bruno Maia

Distribuição e abundância azinhais e matas ribeirinhas (Pimenta & Santa- quadrículas: uma no distrito do Porto e outra
no inverno rém 1996, Silva 1998). no distrito de Bragança. No sul apenas foram
obtidos registos suplementares, em Lisboa e
Durante o Inverno, a estrelinha-de-poupa, Nos Açores, onde está representada por três no Algarve. Nos Açores, a população é cons-
ocorre no território continental predominante- sub-espécies (Rodrigues & Michielsen 2010), tituída por indivíduos residentes. Esta ocorre
mente na zona centro e norte. No sul os seus foi registada em todas as ilhas, com excepção com elevada abundância em todas as ilhas,
registos são quase inexistentes, com excep- do Corvo e da Graciosa. Nesta última ilha o com excepção do Corvo e da Graciosa. Não
ção de Setúbal, onde foi registada nas visitas seu estatuto é incerto, existindo alguns, raros, foi detectada em São Jorge, e no Pico e Flores
sistemática, e das regiões de Lisboa e Algarve, registos que parecem indicar a sua ocorrên- apenas foi observada em registos suplemen-
onde a ocorrência da espécie foi detectada cia ocasional (Pereira 2010). A abundância da tares. Estes dados não representam a distri-
através de registos suplementares. De referir espécie no arquipélago é elevada e está asso- buição nas ilhas neste período e aparentam
que a espécie não foi registada no noroeste de ciada a habitats florestais e matos dominados contradizer os dados do atlas de nidificantes,
Portugal, região em que no decurso do Atlas da por urze (Erica azorica) e cedro-do-mato (Juni- que refere as maiores abundâncias para as
Aves do Parque Nacional da Peneda-Gerês a perus brevifolia) (Melo 1998). Parece adaptar-se ilhas do Pico e São Jorge. Tal deve-se, prova-
espécie ocorreu, numa área geográfica restrita bem a povoamentos mistos e a floresta exótica velmente, a uma insuficiência da amostragem
e com abundâncias que se revelaram variáveis de criptoméria. As populações invernantes nas durante a época de migração.
de ano para ano (Pimenta & Santarém 1996). ilhas são essencialmente constituídas por aves
Embora não exista um conhecimento preciso, residentes (Pereira 2010).
admite-se que, tal como em Espanha, as popu-
lações invernantes sejam constituídas por
indivíduos oriundos, sobretudo, do norte da Distribuição e abundância
Europa (Catry et al. 2010). Esta espécie surge na migração pós-nupcial
associada a florestas e matas contendo conífe-
ras, desde pinhais a matas mistas de folhosas No período pós-nupcial a estrelinha-de- TEXTO
e resinosas, e mais raramente em carvalhais, -poupa foi registada no norte do país, em duas Cecília Melo

468 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 469


Estrelinha-real
Regulus ignicapilla

IMAGEM
José Sousa

TEXTO
Pedro Cardia

Modelação

I NV ERN O

Distribuição e abundância Distribuição e abundância


no inverno na migração pós-nupcial
A estrelinha-real habita os bosques bem desen- A distribuição que aqui se apresenta tem
M I GRA ÇÃ O PÓS- N U PCIA L
volvidos, de coníferas ou folhosas, nas zonas mais muitas semelhanças com a distribuição na época
húmidas da Península Ibérica (Tellería et al. 1999). de reprodução, mas difere desta última na ocupa-
Esta espécie tem uma extensa distribuição inver- ção da terra quente transmontana e de áreas a sul
nal, sendo mais abundante no centro e no noroeste do Tejo, onde é invernante. Está ausente de exten-
do continente. No Inverno, comparativamente com sas áreas com reduzido coberto arbóreo e mata-
as épocas de nidificação e migração pós-nupcial, gais pouco desenvolvidos no Alentejo (Elias et al.
verifica-se uma maior ocupação das zonas raianas 1998) e no nordeste transmontano. A distribuição
do centro (Silva 1998) e norte e um maior número da estrelinha-real no litoral centro e, em particular,
de registos a sul do vale do Tejo, onde a espécie no Minho e na metade ocidental de Trás-os-Mon-
é quase exclusivamente invernante. Está ausente tes deverá ser mais extensa do que a que aqui
de uma grande parte do Alentejo, onde o coberto se apresenta, o número de quadrículas visitadas
arbóreo é reduzido e os matagais pouco desenvol- nestas áreas é relativamente reduzido.
vidos (Elias et al. 1998).

As estrelinhas-reais invernantes na península


Ibérica deverão ter origem na Europa Ocidental
(Catry et al. 2010).

470 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 471


Bis-bis
Regulus madeirensis

IMAGEM
Thijs Valkenburg

Distribuição e abundância tada nesta ilha, nem os dados obtidos neste Distribuição e abundância
no inverno atlas durante a época de inverno evidenciam na migração pós-nupcial
movimentações entre as ilhas do arquipélago.
No período de inverno o bis-bis distribui- A distribuição durante este período é muito
-se por quase toda a ilha da Madeira, sendo Se compararmos os dados de distribui- semelhante à obtida durante o inverno. As
mais abundante em áreas cobertas por vege- ção primaveril (Sepúlveda et al. 2013) com abundâncias também foram semelhantes no
tação indígena e nas vertentes voltadas a os dados obtidos, verifica-se que durante entanto nas áreas de maior altitude registou-
norte. a primavera a espécie ocupa uma área de -se uma diminuição nesta época. No extremo
distribuição mais ampla em relação à época oeste foi registada a presença da espécie o que
Esta espécie é endémica das ilhas da de inverno. Este padrão poderá estar relacio- não se verificou durante o período invernal.
Madeira e do Porto Santo. A nidificação da nado com diferenças no esforço de amostra-
espécie em Porto Santo foi confirmada apenas gem ou então com um possível maior grega-
em 2001 (Barone & Delgado 2001). Nos últi- rismo durante o inverno, tal como noutras TEXTO
mos anos a sua presença não tem sido regis- espécies do mesmo género. João Nunes

472 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 473


Carriça
Troglodytes troglodytes

IMAGEM
Bruno Maia

TEXTO
Ana Luisa Catarino

Modelação

I NV ERN O

Distribuição e abundância de aves do Norte da Europa recuperadas (SEO/


no inverno BirdLife 2012).

A carriça distribui-se amplamente pelo terri- Não foram registados indivíduos desta espécie
tório continental, à excepção do Baixo Alentejo nos arquipélagos atlânticos.
M I GRA ÇÃ O PÓS- N U PCIA L
e Beira Baixa onde apresenta uma distribuição
irregular. Os valores de abundância mais eleva-
dos registaram-se ao longo da faixa litoral. Esta é Distribuição e abundância
uma espécie que está associada a bosques húmi- na migração pós-nupcial
dos e zonas com matagais densos, matas ripí-
colas e escarpas sombrias com vegetação (Elias Tal como acontece no inverno, a carriça distri-
et al. 1998, Catry et al. 2010). Em locais onde a bui-se por quase todo o território continental,
precipitação é mais escassa procura zonas com à excepção do Alentejo e Beira Baixa. Os dados
vegetação ribeirinha e áreas mais ensombradas e disponíveis no nosso país indicam que esta é uma
húmidas. No inverno pode ser ainda encontrada espécie essencialmente sedentária, mas é refe-
em caniçais (Catry et al. 2010). rido que o facto de a carriça ser uma ave abun-
dante e ter uma taxa de recaptura muito baixa difi-
É possível que alguns indivíduos provenien- culta a percepção de movimentos migratórios em
tes de populações mais setentrionais possam pequena escala (Catry et al. 2010).
visitar-nos durante a época fria, como já foi
registado em Espanha, onde, apesar do redu- Não foram registados indivíduos desta espécie
zido número de recapturas existem três registos nos arquipélagos atlânticos.

474 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 475


Trepadeira-azul
Sitta europaea

IMAGEM
D’Almeida Simões

TEXTO
Domingos Leitão

Modelação

I NV ERN O

Distribuição e abundância Esta é uma espécie sedentária na globali-


M I GRA ÇÃ O PÓS- N U PCIA L
no inverno dade da sua área de distribuição, por isso não
é de estranhar o elevado grau de coincidência
A distribuição da trepadeira-azul estende-se por da distribuição agora obtida com a do período
vastas áreas de norte a sul de Portugal Continental. reprodutor.
A espécie aparenta estar ausente, no entanto, na
maior parte da faixa costeira ocidental a norte de Esta espécie não ocorre nas ilhas atlânticas.
Lisboa, de parte significativa da zona fronteiriça de
Trás-os-Montes, Beira Interior, do Alentejo Interior
e da costa Algarvia. Distribuição e abundância
na migração pós-nupcial
A trepadeira-azul prefere florestas dominadas
por quercíneas (ver Catry et al. 2010), sendo mais O padrão de distribuição da trepadeira-azul
abundante nas áreas com montados e florestas obtido neste período foi em tudo idêntico ao que
de sobreiro do Ribatejo, Alto Alentejo e metade se verificou no Inverno e coincide com aquele que
ocidental do Baixo Alentejo. Este padrão de abun- se conhece para o período reprodutor.
dância é coincidente com o que se conhece para o
período reprodutor.

476 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 477


Trepadeira-comum
Certhia brachydactyla

IMAGEM
Diogo Oliveira

TEXTO
Ana Luísa Catarino

Modelação

I NV ERN O

M I GRA ÇÃ O PÓS- N U PCIA L


Não foram registados indivíduos desta espécie
Distribuição e abundância nos arquipélagos.
no inverno
A trepadeira-comum está presente em pratica- Distribuição e abundância
mente todo o território continental mas apresenta na migração pós-nupcial
abundâncias superiores em zonas a sul do rio Tejo,
onde se encontram vastas áreas de montados bem Durante o período pós-nupcial a trepadeira-co-
desenvolvidos. Apesar de apresentar uma distribui- mum ocorre também em todo o território continen-
ção ampla, a sua abundância é escassa ou mesmo tal, mostrando maiores abundâncias na sua parte
ausente de algumas zonas do interior. sul. No nosso país não há registo de movimentos
migratórios para esta espécie (Catry et al. 2010),
Esta inexistência de registos da trepadeira-co- que mostra sinais de sedentarismo em toda a sua
mum deve-se ao facto dessas áreas serem menos área de distribuição (Cramp et al. 1993).
arborizadas, pois esta espécie frequenta florestas
quer de resinosas como de folhosas (Elias et al. Não foram registados indivíduos desta espécie
1998, Catry et al. 2010). nos arquipélagos.

478 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 479


Mainato-de-poupa
Acridotheres cristatellus

IMAGEM
Henrique Oliveira
Pires

Distribuição e abundância uma fuga de cativeiro pontual, tal como se Esta espécie encontra-se ausente dos terri-
no inverno conhecem outros registos isolados em Braga tórios insulares.
(Catry et al. 2010) e Évora (Matias 2009-2010)
Espécie originária da China Central e sem evidências do estabelecimento de popu-
Sudeste asiático que em 1997 foi introdu- lação nesses locais. Todas as observações Distribuição e abundância
zida na península de Setúbal, mais concre- registadas correspondem a registos adicio- na migração pós-nupcial
tamente em Corroios por fuga de cativeiro nais, não tendo sido detetado nas visitas
(Matias 2002). A espécie tem vindo a expan- sistemáticas deste Atlas. Apesar de a espécie No período de migração pós-nupcial não
dir a sua área de distribuição desde então poder surgir em habitats como sapais, arri- se registam alterações relevantes na distribui-
(Matias 2009-2010, 2011). No período de bas e cultivos parcelares, está muitas vezes ção do mainato-de-crista, de onde se presume
inverno foram observados indivíduos nas associada a meios urbanos que são frequen- que a espécie esteja circunscrita à região da
margens Norte e Sul do Tejo, nos concelhos temente menos amostrados. É possível que Grande Lisboa e península de Setúbal. Não
de Lisboa, Oeiras, Almada e Seixal, onde exista alguma subestimação da área de distri- se conhecem movimentos significativos desta
a espécie se encontrará estabelecida, de buição desta espécie, nomeadamente pela espécie pelo que será sedentária nos locais
acordo com os registos recentes que se vêm ausência de registos na zona de Sintra, Sesim- onde ocorre.
a acumular (Matias 2009-2010, 2011). A acres- bra e Setúbal onde a sua ocorrência também
centar ainda um registo perto de Santarém, se encontra descrita (Catry et al. 2010, Matias TEXTO
na zona de Alcoentre, que se pode tratar de 2009-2010, 2011). Pedro A. Salgueiro

480 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 481


Estorninho-malhado
Sturnus vulgaris

IMAGEM
Carlos Ribeiro

Distribuição e abundância Forma dormitórios comunais de grande dimen- nental foi registado em menos locais compara-
no inverno são, muitas vezes em centros urbanos. tivamente com a época de Inverno.

Em Portugal Continental, o estorninho- Nas regiões insulares foi observado numa Na Madeira apenas foi observado numa
-malhado foi registado sobretudo a norte do quadrícula da Madeira, onde é considerado quadrícula, e no arquipélago açoriano, com
rio Tejo, embora com grande irregularidade. “invernante muito raro” (Costa 2011). Nos menos registos em relação ao Inverno, não
Parece ser mais abundante em algumas áreas Açores, onde é residente e relativamente foi observado em São Jorge e nas Flores; no
do litoral Norte e Centro, e na zona de Lisboa comum a subespécie S. v. granti, (Pereira 2010), entanto a ausência de registos nestas ilhas,
e Vale do Tejo, estando ausente de vastas foi registado em todas as ilhas do arquipélago, assim como algumas falhas evidentes no
regiões do interior. revelando-se particularmente abundante em mapa, devem-se a uma cobertura insuficiente
Santa Maria, na Terceira, no Faial e no Corvo nesta época de amostragem.
As aves que ocorrem em Portugal Conti-
nental são invernantes provenientes maiori-
tariamente da Europa Central e de Leste, até Distribuição e abundância
à Rússia (Catry et al. 2010). Ocorre sobretudo na migração pós-nupcial
de outubro a fevereiro e procura alimento
essencialmente em meios agro-pastoris, como Durante o período de migração pós-nup- TEXTO
olivais, pastagens e aparcamentos de gado. cial, o estorninho-malhado em Portugal Conti- Carlos Pereira

482 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 483


Estorninho-preto
Sturnus unicolor

IMAGEM
Faísca

TEXTO
Hugo L. Sampaio

Modelação

I NV ERN O

Distribuição e abundância cie residente e de hábitos sedentários, restrita aos


no inverno países mais ocidentais da bacia do Mediterrâneo.

O estorninho-preto foi registado praticamente


em todo o território continental, parecendo ser, Distribuição e abundância
de um modo geral, mais abundante no quadrante na migração pós-nupcial
Leste de Portugal, nomeadamente em Trás-os-Mon-
tes, na Beira Baixa e no interior do Alentejo, onde a Como foi referido anteriormente o estorninho-
paisagem dominante é de mosaico agrícola. Nesta -preto é sedentário, apesar de os juvenis poderem M I GRA ÇÃ O PÓS- N U PCIA L
época é uma espécie gregária e com enorme plasti- efetuar movimentos dispersivos de algumas cente-
cidade em termos de seleção de habitat, mantendo nas de quilómetros dentro da área de distribuição
contudo a sua preferência por ambientes humaniza- da espécie (SEO/BirdLife 2012). Durante esta época
dos, como núcleos urbanos, pastagens e diversos distribui-se igualmente de forma contínua por todo
tipos de campos de cultivo, nos quais se alimenta o território de Portugal Continental. As regiões
maioritariamente de sementes e frutos (SEO/BirdLife onde se obtiveram maiores abundâncias foram Trás-
2012). Tal como acontece em Espanha, a sua distri- -os-Montes, Beira Alta e ao longo de todo o inte-
buição durante este período do ano apresenta-se rior do Alentejo. A partir de setembro e até ao final
semelhante à da época de reprodução, podendo do inverno o estorninho-preto pode formar grupos
contudo ser avistado com maior frequência a de alguns milhares de indivíduos que se reúnem
alimentar-se em campos agrícolas abertos, uma vez em dormitórios (Catry et al. 2010). Estes bandos,
que não está tão dependente da presença de árvo- que podem ser mistos com estorninhos-malhados,
res. Por outro lado, durante o inverno poderá ser efetuam diariamente movimentos locais desde os
menos abundante nos locais de reprodução situa- dormitórios até aos campos onde se alimentam,
dos a maior altitude, resultado de movimentações num raio que pode ascender a várias dezenas de
regionais (Catry et al. 2010). Trata-se de uma espé- quilómetros (SEO/BirdLife 2012).

484 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 485


Melro-de-colar
Turdus torquatus

IMAGEM
Joaquim Antunes

Distribuição e abundância Não foi detetado nos arquipélagos das alguma regularidade em mais locais, nomea-
no inverno Selvagens, da Madeira e dos Açores, onde damente nas arribas costeiras do Cabo da
ocorre de forma acidental. Roca e do Cabo Espichel (Catry et al. 2010).
O melro-de-colar tem uma distribui- A sua presença neste período também está
ção extremamente localizada em Portugal associada à existência de zimbrais.
Continental. Durante o inverno foi obser- Distribuição e abundância
vado na região do Douro, na serra da Estrela na migração pós-nupcial As aves observadas em Portugal perten-
e no Barlavento algarvio, registando sempre cem à subespécie nominal, proveniente da
abundâncias muito baixas. Apesar do redu- O melro-de-colar pode ser observado em Escócia e Escandinávia, e à subespécie T. t.
zido número de observações, estas parecem Portugal a partir do mês de Setembro, tendo alpestris, que nidifica na Cantábria, Pirinéus e
confirmar a sua associação a zonas rochosas o pico de passagem de migração outonal nos Alpes (Catry et al. 2010).
com vegetação pouco desenvolvida, tanto em meses de outubro e novembro. Tal como para
serras como em falésias costeiras (Catry et al. o período de invernada, a espécie tem uma
2010). Também de notar que a sua distribuição distribuição muito localizada, envolvendo um
parece coincidir com a existência de zimbrais, número reduzido de aves, que ocorrem zonas
o que sugere que o melro-de-colar depende costeiras e serranas. No entanto durante a
das bagas desta espécie para alimentação migração pode ser observada numa maior TEXTO
durante o inverno (SEO/BirdLife 2012). diversidade de habitats e é observada com Ricardo F. de Lima

486 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 487


Melro-preto
Turdus merula

IMAGEM
Faísca

TEXTO
Milene Matos

Modelação

I NV ERN O

Distribuição e abundância Açores está bem distribuído e é abundante em


no inverno todas as ilhas. Na Madeira é também abundante,
mas ocorre apenas na ilha com o mesmo nome.
O melro-preto apresenta uma distribuição
contínua por todo o território de Portugal Conti-
M I GRA ÇÃ O PÓS- N U PCIA L
nental, corroborando a sua bem conhecida plasti- Distribuição e abundância
cidade adaptativa. No entanto, e à semelhança do na migração pós-nupcial
que acontece na época de nidificação, no inverno
também aparenta ser menos abundante no Alen- Durante o período pós-nupcial, o melro-preto
tejo, eventualmente devido a um certo evitar das ocorre também em todo o território de Portugal
zonas mais áridas e desarborizadas. Continental, mantendo a aparente maior abun-
dância no norte e centro do País, relativamente às
As populações portuguesas são sobretudo regiões alentejanas.
sedentárias, no entanto, em Portugal, assim como
em Espanha, o número de efetivos presentes Aparentemente, nos arquipélagos dos Açores
aumenta no inverno devido à chegada de indiví- e da Madeira mantém os padrões de distribuição
duos migradores, oriundos da Europa Central e do e abundância verificados no inverno. A ausência
Norte (Santos 1982, Catry et al. 2010). de registos nalguns locais dos Açores, nomeada-
mente em São Jorge, deverá dever-se a insuficiên-
O melro-preto é residente também em ambos cia na amostragem.
os arquipélagos atlânticos (Costa et al. 2011). Nos

488 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 489


Tordo-zornal
Turdus pilaris

IMAGEM
Joaquim Antunes

Distribuição e abundância Esta é uma espécie cujo efetivo invernante Distribuição e abundância
no inverno em Portugal é, normalmente, reduzido, mas na migração pós-nupcial
varia muito de ano para ano, em função das
O número de quadrículas com presença condições climatéricas verificadas em países O tordo-zornal parece ser uma espécie fran-
de tordo-zornal em Portugal Continental mais a norte na Europa: em invernos mais frios camente rara durante o período de migração
durante o inverno é relativamente reduzido, um maior número de indivíduos chegará ao pós-nupcial delimitado para os trabalhos de
restringindo-se sobretudo à metade norte do nosso país, podendo-se observar por vezes campo do presente atlas, pois foi avistado em
território. Esta espécie apresenta uma distri- bandos de dezenas, ou mesmo centenas de apenas sete quadrículas. Isto pode ser expli-
buição invernante muito fragmentada, não indivíduos (Catry et al. 2010). cado, em parte, pelas flutuações anuais nos
sendo fácil individualizar uma região onde números de indivíduos (referidas anteriormente),
ela seja mais abundante. O tordo-zornal pode Apesar de não se terem verificado quaisquer mas também pelo facto de o período de migra-
ocorrer em vários tipos de habitats flores- registos nos territórios insulares portugueses, ção pós-nupcial desta espécie em Portugal se
tais, agrícolas ou de matagais, sobretudo em esta espécie é considerada uma migradora e iniciar em outubro (Catry et al. 2010), podendo-
zonas de altitude (Catry et al. 2010), podendo invernante ocasional para os arquipélagos dos -se assim ter registado apenas os primeiros indi-
isto explicar, das quadrículas onde a espécie Açores (registado na maioria das ilhas açoria- víduos migradores.
foi observada, os locais onde a abundância foi nas, Rodrigues et al. 2010) e Madeira (Romano
mais elevada. et al. 2010). TEXTO
Pedro Andrade e
David Gonçalves

490 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 491


Tordo-ruivo
Turdus iliacus

IMAGEM
Joaquim Antunes

TEXTO
Pedro Andrade
e David Gonçalves

Modelação

I NV E R NO

Distribuição e abundância origem geográfica, sobretudo da Europa a presença de tordo-ruivo no decorrer dos
no inverno Ocidental, Ilhas Britânicas e Fenoscândia trabalhos do presente atlas.
(Fontoura 2005, Catry et al. 2010).
O tordo-ruivo é uma espécie bem distri- Distribuição e abundância
buída pelo território continental português Relativamente aos territórios insulares, esta na migração pós-nupcial
durante o período de invernada, sendo parti- espécie foi registada numa das quadrículas da
cularmente abundante no interior Norte e ilha Terceira, Açores, com abundância redu- No período de migração pós-nupcial a
Centro e no maciço calcário estremenho. Um zida. Este parece constituir um registo inédito presença do tordo-ruivo foi registada em
regime alimentar que dá preferência a azei- para esta ilha açoriana, dado que esta espécie apenas 14 quadrículas. Este reduzido número
tonas poderá explicar uma maior abundância só estava registada para as ilhas de São Miguel de observações será atribuível sobretudo
em zonas com mais olival (Fontoura & Mene- e Santa Maria, onde ocorre também apenas a questões de fenologia, dado que a maior
ses 1996). Mas pode ocorrer numa grande de forma ocasional (Rodrigues et al. 2010). parte dos indivíduos desta espécie que
variedade de habitats florestais, agrícolas ou Este carácter ocasional verifica-se também inverna, ou utiliza o nosso território na passa-
matagais. As aves invernantes em território para o arquipélago da Madeira (Romano et gem migratória, surge apenas no mês de
continental incluem indivíduos de uma ampla al. 2010), embora aqui não se tenha registado novembro (Catry et al. 2010).

492 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 493


Tordo-pinto
Turdus philomelos

IMAGEM
Joaquim Antunes

TEXTO
Pedro Andrade
e David Gonçalves

Modelação

I NV E R NO

Distribuição e abundância bagas ou invertebrados como fonte de alimento. só chegam ao nosso território a partir do final de
no inverno As aves invernantes em Portugal serão sobre- outubro (Catry et al. 2010), estes números baixos
tudo originárias da Europa Central e Fenoscân- poderão corresponder aos indivíduos nidifican-
Ao longo do período de inverno foi detectada dia (Fontoura 2005, Catry et al. 2010). tes em território continental português. Durante
a presença de tordo-pinto ao longo de toda a a migração pós-nupcial a espécie parece relati-
extensão do território continental, na maioria das A espécie não foi detectada nos arquipélagos vamente mais abundante no Norte do país, um
quadrículas amostradas. As zonas de abundância dos Açores e Madeira. Não há registos de ocor- padrão semelhante ao que se verifica durante a
mais elevada estão localizadas nas regiões inte- rência regular desta espécie nos arquipélagos. época de nidificação (Equipa Atlas 2008).
riores, sobretudo na Beira Baixa e Ribatejo, mas
também no interior alentejano, sotavento algar- Esta espécie não ocorre de forma regu-
vio e Trás-os-Montes, parecendo acompanhar de Distribuição e abundância lar nos arquipélagos dos Açores e Madeira
forma aproximada as zonas com maior densidade na migração pós-nupcial durante o período de migração pós-nupcial,
de cultivo de oliveira (INE 2011). Esta associação não tendo sido detectada a sua presença
próxima do tordo-pinto aos olivais no inverno é O tordo-pinto, com uma presença mais durante os trabalhos de campo. No entanto,
previsível tendo em conta que esta é, quando discreta neste período do que no inverno, tem existem registos, raros, desta espécie para as
disponível, a fonte de alimento preferida por uma distribuição alargada ao longo do terri- ilhas açorianas de Santa Maria e São Miguel
esta espécie (Fontoura & Meneses 1996). Apesar tório continental durante a época de migra- (Rodrigues et al. 2010) e para a ilha da Madeira
disto, a espécie pode surgir numa grande varie- ção pós-nupcial, mas de forma relativamente (Romano et al. 2010). Estes correspondem
dade de habitats nesta época do ano, incluindo descontínua. Dado que a maior parte das aves provavelmente a aves errantes, não signifi-
bosques, matagais e várias tipologias de mosai- migradoras desta espécie, provenientes sobre- cando a existência de um fluxo migratório
cos agro-florestais, aproveitando outros frutos, tudo de países do Norte e Noroeste europeu, significativo nestas ilhas.

494 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 495


Tordoveia
Turdus viscivorus

IMAGEM
Joaquim Antunes

TEXTO
Pedro Andrade
e David Gonçalves

Modelação

I NV ERN O

Distribuição e abundância A tordoveia não foi observada nos arquipéla-


no inverno gos dos Açores e Madeira durante os trabalhos de
campo. No entanto, ela é considerada invernante
A tordoveia é uma espécie que ocorre em ocasional na ilha da Madeira (Biscoito & Zino 2002,
quase todo o território continental português Costa et al. 2011).
durante o período de inverno. No entanto, a sua
abundância é claramente mais elevada no inte-
rior norte, nas regiões de Trás-os-Montes e Beira Distribuição e abundância
Alta, onde a sua presença foi registada em quase na migração pós-nupcial M I GRA ÇÃ O PÓS- N U PCIA L
todas as quadrículas. No resto do território conti-
nental a espécie ocorre de forma irregular, sobre- Durante a época de migração pós-nupcial a
tudo nas regiões litorais e no Alentejo, embora se tordoveia apresenta, surpreendentemente, distri-
notem algumas zonas onde parece ser localmente buição muito fragmentada no Continente, ocor-
abundante, como no Alto-Minho, algumas zonas rendo em mais quadrículas no noroeste do território,
do Ribatejo e Alto Alentejo. Esta distribuição à semelhança do que ocorre na época de inverno e
parece refletir os locais com habitats mais propí- no período reprodutor (Equipa Atlas 2008). Aqui,
cios para a tordoveia, nomeadamente mosaicos sobretudo na zona do Parque Natural de Montesi-
agro-florestais (Catry et al. 2010). O padrão global nho e na cintura que liga as serras do Barroso-Alvão-
é relativamente semelhante ao encontrado para a -Marão, parece ser relativamente comum.
época de nidificação, o que poderá indicar que a
maior parte da população portuguesa é residente Nos arquipélagos dos Açores e Madeira não
(Equipa Atlas 2008, Catry et al. 2010), embora se foram registadas ocorrências para esta época do ano,
conheçam registos de aves anilhadas em países do embora se conheçam alguns registos de ocorrência
Norte e Centro da Europa recapturadas em Portu- da espécie nos Açores, na ilha de São Miguel (Rodri-
gal (Catry et al. 2010). gues et al. 2010), e na Madeira (Romano et al. 2010).

496 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 497


Pisco-de-peito-ruivo
Erithacus rubecula

IMAGEM
Ray Kennedy
rspb-images.com

TEXTO
Domingos Leitão

Modelação

I NV ERN O

Distribuição e abundância no Porto Santo. As populações invernantes nas ilhas


no inverno são essencialmente constituídas por aves residentes.

Durante o inverno o pisco-de-peito-ruivo foi


registado em todo o território de Portugal Conti- Distribuição e abundância
nental. As maiores abundâncias verificaram-se em na migração pós-nupcial
M I GRA ÇÃ O PÓS- N U PCIA L
grande parte das regiões Norte, Centro e de Lisboa,
com exceção da raia dos distritos da Guarda e de Durante o período pós-nupcial a espécie ocorre
Castelo Branco e partes dos de Aveiro e Coim- também em todo o território de Portugal Continen-
bra. No sul, as zonas com maior abundância estão tal. É mais abundante na metade norte deste territó-
circunscritas a enclaves como o sudoeste alentejano rio do que na metade sul. Tal como no período de
e a parte central do Algarve. As populações inver- inverno, as populações presentes na metade norte
nantes na parte norte são constituídas em parte são constituídas por aves residentes e por aves
por aves residentes e em parte por aves migratórias migratórias, enquanto que na metade sul são consti-
provenientes da Europa do Norte, Central e Oriental tuídas principalmente por migradores de passagem
(Catry et al. 2010). No sul as populações são maiorita- e por invernantes mais precoces.
riamente constituídas por aves migratórias.
Ocorre em ambos os arquipélagos, sendo mais
A espécie ocorre também em ambos os arquipé- abundante nos Açores do que na Madeira. Está
lagos atlânticos, sendo mais abundante nos Açores ausente no Corvo e nas Flores (Pereira 2010), e
do que na Madeira. No primeiro caso, está ausente também nas Desertas e Selvagens. Também não foi
do Corvo e das Flores (Pereira 2010). No segundo detetado no Porto Santo, possivelmente por insufi-
caso, está ausente das Desertas e não foi detetado ciência de amostragem.

498 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 499


Rouxinol-comum
Luscinia megarhynchos

IMAGEM
Joaquim Antunes

Distribuição e abundância Distribuição e abundância de África, invernando no Leste do Senegal,


no inverno na migração pós-nupcial Oeste da Etiópia e Uganda (Collar & Chris-
tie 2013). Contudo, na Península Ibérica esta
O rouxinol-comum é uma espécie estival Durante o período de migração pós-nup- passagem pode ocorrer desde o final de
em Portugal Continental, onde permanece cial esta espécie apresenta uma distribuição agosto a outubro, com os juvenis a passarem
de meados de março a meados de outubro. A bem mais reduzida do que a conhecida para o mais cedo do que os adultos, havendo regis-
maioria dos indivíduos regressa dos quartéis período reprodutor, onde ocorre em pratica- tos de aves capturadas em finais de setem-
de invernada na segunda quinzena de março mente todo o território continental. As ausên- bro (zona de Penamacor, Évora, Odiáxere,
para onde retorna em agosto/setembro (Catry cias de áreas onde a espécie é frequente e Portimão) e até meio de outubro em Espanha
et al. 2010). Este facto leva a que o número de abundante na primavera, como a Beira Alta, (SEO/Birdlife 2014).
registos durante o inverno seja muito escasso, Ribatejo, Alto Alentejo e sudoeste Alente-
mesmo ao nível da península Ibérica (SEO/ jano devem ser encaradas com precaução. Os
BirdLife 2012). Durante os trabalhos de inverno hábitos discretos do rouxinol-comum, asso-
a espécie foi detetada em três locais, Riba- ciados a uma elevada diminuição da atividade
tejo, Beira Alta e sudoeste Alentejano, todos vocal no período pós-nupcial, contribuem
em finais de janeiro princípios de fevereiro de para uma baixa detetabilidade durante esta
2013. Curiosamente dois destes registos são altura. A migração pós-nupcial ocorre desde
geograficamente próximos dos registos de o final de julho a início de setembro, através TEXTO
inverno conhecidos - Golegã e Seia. de uma rota ampla que abrange todo o norte Carlos Godinho

500 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 501


Pisco-de-peito-azul
Cyanecula svecica

IMAGEM
Victor Maia

Distribuição e abundância seus habitats preferidos: sapais, juncais e que não são frequentadas no tempo mais frio,
no inverno caniçais em águas salobras, geralmente sujei- e surgir mesmo em biótopos atípicos, como
tos ao regime das marés. A espécie também sejam matos costeiros.
Os mapas obtidos no quadro deste frequenta caniçais, bunhais e outros povoa-
projeto atlas vêm confirmar o que em linhas mentos ripícolas em contextos dulçaquícolas, Os piscos-de-peito-azul invernantes em
gerais era já conhecido: durante o inverno, o mas em Portugal estes biótopos são relativa- Portugal são maioritariamente da subespécie
pisco-de-peito-azul é uma espécie de distri- mente raros fora da faixa litoral. namnetum que nidifica sobretudo em França
buição essencialmente litoral, ocorrendo de (Constant & Eybert 1995). No Verão e Outono
norte a sul do país. É sobretudo nas grandes passam por Portugal muitos piscos-de-pei-
zonas húmidas costeiras nacionais que esta Distribuição e abundância to-azul da subespécie cyanecula, havendo
espécie se encontra, com destaque para a Ria na migração pós-nupcial recapturas de aves deste tipo anilhadas na
de Aveiro, os estuários do Tejo e do Sado, e Polónia, na Alemanha, na Suíça, na Áustria, na
a Ria Formosa. Em menor número, também Na passagem migratória pós-nupcial, a Holanda, em França e em Espanha (Catry et al.
frequenta zonas húmidas mais pequenas, distribuição do pisco-de-peito-azul eviden- 2010, Correia 2011, Neto & Correia 2012).
como lagoas costeiras, pauis ou peque- ciada pelo mapa é muito semelhante à que foi
nos estuários. No interior, o pisco-de-peito- registada de inverno. Isto apesar do facto de
-azul é mais escasso do que no litoral, o que que esta pequena ave pode, quando de passa- TEXTO
poderá refletir a menor disponibilidade dos gem, surgir em muito pequenas zonas húmidas Paulo Catry

502 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 503


Rabirruivo-preto
Phoenicurus ochruros

IMAGEM
Diogo Oliveira

TEXTO
Pedro A. Salgueiro

Modelação

I NV ERN O

Distribuição e abundância Distribuição e abundância


no inverno na migração pós-nupcial
O rabirruivo-preto é uma espécie que se distri- Durante a época de migração pós-nupcial esta
bui ao longo de todo o território continental durante espécie apresenta uma distribuição mais seme-
o inverno. Ocorre nos territórios a norte do Tejo, lhante à verificada no período reprodutor do que a
nomeadamente nas regiões estremenha, com ênfase referente ao período de invernada, ou seja, exibe
no maciço calcário, e galaica, de maior influên- uma distribuição contrastante, sendo esta prati-
cia atlântica, onde regista as maiores abundâncias, camente contínua a norte do sistema Montejun-
apresentando ainda importantes núcleos no interior to-Estrela e irregular a Sul. A norte a espécie foi
do país (por exemplo na Beira Baixa). Contudo rareia observada na maioria das quadrículas amostradas
em locais elevados e mais frios (por exemplo nas apresentando elevadas abundâncias nas regiões
serras da Estrela e Peneda-Gerês; Catry et al. 2010, estremenha e galaica, enquanto nas regiões de
M I GRA ÇÃ O PÓS- N U PCIA L
SEO/BirdLife 2012). No Sul do país ocorre de forma maior influência mediterrânica foram obtidos valo-
uniforme, embora em densidades mais baixas, onde res comparativamente mais baixos. Esta espécie
se salientam os núcleos do Sudoeste alentejano e exibe padrões de migração tardios, entre outu-
costa vicentina e do Norte alentejano. A distribui- bro e novembro (Cramp 1988, Telleria et al. 1999,
ção invernal desta espécie resulta da existência de Catry et al. 2010), pelo que a escassa ocorrência,
diferentes populações onde o número de efetivos nomeadamente no sul do país, se pode dever a
residentes é reforçado por indivíduos invernantes este facto. De referir ainda que o máximo de indi-
oriundos da Europa Central e Ocidental (Elias et al. víduos observados, localizado na zona do cabo
1998, Catry et al. 2010). Esta população invernante Carvoeiro, representa um valor discrepante que
distribuir-se-á provavelmente por todo o território, se pode dever a um evento de migração.
mas é no Sul que a sua presença se torna por demais
evidente (Elias et al. 1998), contrastando fortemente Nos territórios insulares, a espécie foi regis-
com a distribuição irregular que esta espécie apre- tada no arquipélago da Madeira, mais especifica-
senta enquanto reprodutor. mente nas ilhas Selvagens, onde é de ocorrência
rara ou ocasional (Clarke 2006). Está ausente dos
Não foram registadas quaisquer observações Açores.
nos territórios insulares neste período.

504 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 505


Rabirruivo-de-testa-branca
Phoenicurus phoenicurus

IMAGEM
Joaquim Antunes

Distribuição e abundância Distribuição e abundância também nas Beiras Alta e Baixa, no Ribatejo
no inverno na migração pós-nupcial e em áreas mais perto do litoral, como na
zona da Grande Lisboa e no sudoeste alente-
Durante o inverno o rabirruivo-de-testa- Durante o período de migração pós-nup- jano (designadamente nas Serras de Grândola
-branca foi registado apenas ocasionalmente no cial o rabirruivo-de-testa-branca tem uma e do Cercal). Dados recolhidos em estações
território de Portugal Continental, ao contrário distribuição mais alargada em Portugal Conti- de anilhagem comprovam a tendência para
do que acontece na primavera, época em que nental, havendo, no entanto, um maior número esta espécie ser mais frequente em zonas do
ocorre de norte a sul de Portugal Continental, de ocorrências na metade sul deste território. interior do país durante a época de migração
embora quase sempre em densidades baixas As aves que passam por Portugal durante este pós-nupcial. Nos arquipélagos dos Açores e
e muito associado a habitats como carvalhais período de migração têm origem sobretudo da Madeira não houve qualquer registo desta
e montados de sobro. No inverno esta espé- na Europa Ocidental e Central, e na Escandi- espécie durante as épocas de amostragem
cie foi apenas detetada em pontos isolados no návia (BWP 2008). A passagem para sul deste para este Atlas. Contudo, noutros anos exis-
centro/norte do país, mais precisamente nos migrador transariano é relativamente tardia, tem registos muito pontuais desta espécie
distritos de Santarém, Viseu e Guarda. Embora ocorrendo o maior fluxo de migração entre em ambos os arquipélagos durante o período
a sua principal zona de invernada se localize a segunda metade de setembro e a primeira de migração pós-nupcial (Jara et al. 2010,
em África, a sul do deserto do Saara, existem quinzena de outubro (Catry et al. 2010). Nesta Muchaxo et al. 2011).
ocasionalmente registos de aves a invernar época as maiores abundâncias desta espécie
na bacia do Mediterrâneo, nomeadamente na foram detetadas no Algarve (nomeadamente
Península Ibérica (BWP 2008). Nos arquipéla- na parte central e na área de Sagres), nas zonas
gos dos Açores e da Madeira não houve qual- interiores de fronteira no Alto e Baixo Alen- TEXTO
quer registo desta espécie no inverno. tejo, e em Trás-os-Montes. No entanto, ocorre Ana Isabel Leal

506 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 507


Cartaxo-nortenho
Saxicola rubetra

IMAGEM
Faísca

Distribuição e abundância Distribuição e abundância destes indivíduos em alguns pontos do litoral


no inverno na migração pós-nupcial como na zona de Sagres, cabo de São Vicente.
A migração outonal é considerada tardia, atin-
Existem alguns registos desta espécie no O cartaxo-nortenho ocorre em Portugal gindo um pico no final de Setembro e início
território continental durante o período de Continental com uma distribuição bastante de outubro.
inverno, maioritariamente localizados no inte- fragmentada. Surge numa grande variedade
rior do Norte, Centro e Alto Alentejo. Parte de habitats, sobretudo em pastagens secas, Neste período, a espécie foi registada no
destes registos poderá ser de verdadeiros terrenos baldios, restolhos e outros terrenos arquipélago da Madeira mas com abundâncias
registos de migradores pré-nupciais precoces abertos, preferindo locais com vedações e muito reduzidas. Nos Açores não foi efectuado
e outra parte poderá ser certamente devida a pequenos arbustos que sirvam de poiso (Catry qualquer registo, apesar da espécie ocorrer
erros de introdução de dados. et al. 2010). É possível observar concentrações como migrador acidental.

TEXTO
Ana Luísa Catarino

508 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 509


Cartaxo-comum
Saxicola torquatus

IMAGEM
Joaquim Antunes

TEXTO
Ana Luisa Catarino

Modelação

I NV ERN O

Distribuição e abundância ção pelo território continental bastante ampla. Em


no inverno termos de abundâncias são visíveis concentrações
de cartaxo-comum nas regiões da Estremadura,
Durante o inverno o cartaxo-comum foi obser- Ribatejo e Alentejo. O cartaxo-comum é uma espé-
vado em todo o território continental, registando cie residente no nosso país, contudo chegam a
as maiores abundâncias na região do Alto Alen- Portugal para invernar aves provenientes de países
tejo, sudoeste do Alentejo e costa Vicentina. Esta mais a norte no continente europeu, como o Reino
é uma espécie que evita bosques fechados, matos Unido e a França (Elias et al. 1998). Harris & Bolton
M I GRA ÇÃ O PÓS- N U PCIA L
muito densos e áreas urbanizadas, sendo muito (1990) também afirmam que em algumas áreas do
frequente numa imensa variedade de biótopos Algarve esta espécie só está presente na época
como zonas agrícolas, pastagens, pousios, monta- fria. Em certos pontos do litoral há uma passagem
dos de sobro e azinho, sebes e arbustos, vege- de indivíduos em dispersão ou em migração nos
tação dunar e orlas de zonas húmidas (Elias et al. meses de setembro e outubro e que desaparecem
1998; Catry et al. 2010). em finais de fevereiro ou na primeira quinzena de
março (Catry et al. 2010).
Não foram registados indivíduos desta espécie
nos arquipélagos. Não foram registados indivíduos desta espécie
nos arquipélagos.

Distribuição e abundância
na migração pós-nupcial
Na época de migração pós-nupcial esta espé-
cie, tal como no inverno, apresenta uma distribui-

510 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 511


Chasco-cinzento
Oenanthe oenanthe

IMAGEM
Faísca

TEXTO
Pedro Pereira

Modelação

M I GR AÇÃO PÓS- N U PCIA L

Distribuição e abundância ocorre em todo o território continental, apre- cial deverão ter origem na Europa Ocidental,
no inverno sentando uma distribuição mais contínua na Escandinávia, Islândia ou Gronelândia (Catry et
metade sul. A norte do Tejo a distribuição é al. 2010). Tratando-se de uma espécie conspí-
Durante o inverno o chasco-cinzento foi dispersa, em parte coincidente com os cumes cua e de fácil identificação o mapa apresentado
registado tanto no território continental como das regiões montanhosas onde também nidi- deverá corresponder com boa fiabilidade aos
nas regiões autónomas. As suas ocorrências fica. Ocorre ainda em alguns sectores da faixa seus padrões de ocorrência.
são extremamente localizadas e não apresen- litoral e em áreas abertas da região de Castelo
tam um padrão definido. Boa parte dos indi- Branco. A sul do Tejo, onde será exclusiva- Ocorre também nos arquipélagos atlânti-
víduos detectados, em particular no conti- mente migrador de passagem, as abundâncias cos, embora seja pouco abundante. Foi detec-
nente, poderá corresponder a migradores mais elevadas foram registadas no Baixo Alen- tado nos grupos Central e Oriental dos Açores.
pós-nupciais tardios. Contudo, a presença de tejo interior. Pontualmente, as abundâncias são A sua ausência no grupo Ocidental dever-se-á à
aves durante o mês de fevereiro em todas as também elevadas junto à costa, como acontece ausência de amostragem sistemática na região.
regiões pode indiciar também a ocorrência de na península de Sagres. Os primeiros indivíduos No arquipélago da Madeira foi registado na
migradores pré-nupciais precoces. de passagem deverão surgir essencialmente a ilha principal e nas Desertas. Foi registado nas
partir de meados de agosto, sendo o mês de Selvagens. A disponibilidade de habitat deverá
setembro aquele em que a migração se faz ser o principal fator condicionante da ocorrên-
Distribuição e abundância sentir com maior intensidade. cia da espécie durante o período de passa-
na migração pós-nupcial gem pós-nupcial. O chasco-cinzento selec-
As aves que atravessam o território conti- ciona preferencialmente terrenos abertos com
Na migração pós-nupcial o chasco-cinzento nental nacional durante a passagem pós-nup- escassa vegetação.

512 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 513


Chasco-ruivo
Oenanthe hispanica

IMAGEM
Faísca

Distribuição e abundância dentes com as regiões de maior abundância (Catry et al. 2010). A maioria dos indivíduos
no inverno enquanto nidificante. A larga maioria dos regis- nidificantes deverá abandonar o território antes
tos ocorreu no interior Alentejano. de agosto, muito embora durante os trabalhos
O chasco-ruivo é um migrador estival. Não de campo a espécie tenha sido detectada até
foi registado durante o período de Inverno. Os habitats ocupados durante o período meados de outubro. Para além disso, não se
de passagem são idênticos aos ocupados no pode excluir o efeito de eventual dificuldade
período de nidificação, consistindo em áreas de identificação uma vez que usa os mesmos
Distribuição e abundância abertas de baixa cobertura herbácea, como habitats que o chasco-cinzento, uma espécie
na migração pós-nupcial sejam alqueives e restolhos. A presença de muito mais abundante durante este período e
muros de pedra ou afloramentos rochosos com a qual poderá ser confundida.
Na migração pós-nupcial o chasco-ruivo favorecem a sua presença. Ocorre também em
ocorre apenas no território continental. A sua locais com algumas árvores ou arbustos disper- Esta espécie não foi registada nos arquipé-
distribuição está principalmente associada sos, como montados esparsos, culturas perma- lagos atlânticos.
às regiões de clima mediterrânico do interior. nentes ou terrenos abandonados invadidos por
Está praticamente ausente dos sectores lito- matos. A escassez de registos obtidos pode
rais. Trata-se de uma espécie pouco abundante dever-se não apenas a uma verdadeira rari-
que não apresenta uma distribuição uniforme. dade da espécie no nosso país, mas também TEXTO
De um modo geral, as localizações são coinci- à migração precoce que lhe é característica Pedro Pereira

514 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 515


Melro-das-rochas
Monticola saxatilis

IMAGEM
Joaquim Antunes

Distribuição e abundância montanhosas do Centro e Norte de Portugal.


no inverno Durante a época de migração foi detetada nos
seus locais de nidificação, principalmente no
O melro-das-rochas é um reprodutor esti- maciço central e no sistema montanhoso da
val que inverna a sul do deserto do Saara, Peneda-Gerês.
razão pela qual não foi registado em Portugal
durante este período. Adicionalmente, durante o período do Atlas
existe um registo no Sul do país, certamente
de um individuo em migração para o local de
Distribuição e abundância invernada, como por diversas vezes registado
na migração pós-nupcial ao longo do Centro e Sul do território conti-
nental (Catry et al. 2010).
O melro-das-rochas nidifica sempre em TEXTO
baixas densidades e exclusivamente das zonas Luis Pascoal da Silva

516 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 517


Melro-azul
Monticola solitarius

IMAGEM
José Viana

Distribuição e abundância confirmaram a sua presença durante o inverno. o caráter sedentário da mesma. Apesar disso,
no inverno Estes autores sugerem que parte da popula- poderão ocorrer movimentos dispersivos ou
ção poderá efetuar movimentos para altitu- migratórios de parte da população para fora
A distribuição desta espécie centra-se maio- des inferiores durante este período. Na região dos locais de nidificação e de invernada (Catry
ritariamente na região interior e nas serras algar- do Baixo Alentejo, a distribuição obtida no et al. 2010). A amplitude destes movimentos
vias, correspondendo essencialmente à área presente trabalho coincide em geral com a que pode mesmo levar as aves até ao norte de
de nidificação. No entanto, existem algumas se conhece para aquela região (Elias et al. 1998). África (Telleria et al. 1999)
observações fora dessas áreas, nomeadamente
no litoral Norte, o que poderá indicar falhas de Não são conhecidos registos de aves
deteção no período reprodutor - causadas pela Distribuição e abundância estrangeiras recuperados em Portugal ou o
baixa densidade da espécie - ou a presença de na migração pós-nupcial inverso (Catry et al. 2010), o mesmo ocorrendo
indivíduos que fazem movimentos dispersivos em Espanha (SEO/Birdlife-anillamiento).
(Catry et al. 2010). O mapa de distribuição para esta época é
muito semelhante ao obtido para o período
A espécie não foi detetada na zona da Pene- invernal e os registos ocorrem essencialmente TEXTO
da-Gerês, onde Pimenta & Santarém (1996) na área de nidificação da espécie, atestando Carlos Pedro Santos

518 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 519


Taralhão-cinzento
Muscicapa striata

IMAGEM
Luís Ferreira

Distribuição e abundância Alentejano e o Vale do Guadiana são as áreas de machas florestais e pequenos bosques em
no inverno onde a espécie atingiu abundâncias mais eleva- campos agrícolas. Embora a passagem possa
das, sendo também aquelas onde a continui- decorrer em agosto, a maioria dos indivíduos
Esta é uma espécie reprodutora estival, que dade espacial de observações foi maior. As atravessa o país durante o mês de setembro.
não foi registada durante o inverno. áreas desarborizadas e secas da raia a norte do Para além de nidificantes no território nacio-
rio Tejo e do interior do Alentejo, bem como nal, a maioria destes indivíduos deverá ter
as zonas densamente arborizadas da região origem na Europa Central e Ocidental (Catry
Distribuição e abundância Centro foram evitadas. et al. 2010).
na migração pós-nupcial
Os habitats ocupados durante a migração Esta espécie não foi registada nos arquipé-
No período de migração pós-nupcial, esta pós-nupcial são diversificados. Em geral, a lagos atlânticos.
espécie ocorre ao longo de todo o território presença de árvores em baixas densidades e
continental. Trata-se de uma espécie pouco a escassez de vegetação no sob-coberto são
abundante e com uma distribuição descontínua. elementos importantes para a sua ocorrên- TEXTO
O Douro litoral, Trás-os-Montes, o sudoeste cia. Nos habitats ocupados incluem-se orlas Pedro Pereira

520 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 521


Papa-moscas
Ficedula hypoleuca

IMAGEM
José Viana

Modelação

M I GR AÇÃO PÓS- N U PCIA L

Distribuição e abundância o território de Portugal Continental. É abun- 2013). As aves observadas em Portugal perten-
no inverno dante por toda a área de ocorrência e durante cem sobretudo às populações das subespécies
o pico da passagem migratória pode ser uma nominal e ibérica (Catry et al. 2010).
O papa-moscas é uma espécie exclusiva- das espécies mais abundantes em locais com
mente migradora em território nacional, pelo habitat adequado. Prefere zonas arborizadas, Durante este período existe um registo da
que foi registada apenas em três quadrículas como matas ripícolas onde abundam os insec- espécie no arquipélago das Selvagens.
durante o período de invernada. tos de que se alimenta, mas também ocorre em
habitats mais abertos, onde aparece associada a
sebes e matos (Catry et al. 2010).
Distribuição e abundância
na migração pós-nupcial Esta espécie reproduz-se entre Espanha e
o Cazaquistão, e para Norte em toda a penín-
O papa-moscas pode ser observado desde o sula escandinava, passando o inverno na África TEXTO
final de Julho até ao início de novembro por todo sub-sariana ocidental (BirdLife International Ricardo F. de Lima

522 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 523


Melro-d’água
Cinclus cinclus

IMAGEM
Victor Maia

TEXTO
Carlos Godinho

Modelação

I NV ERN O

Distribuição e abundância tos na serra de S. Mamede, não tendo sido possí-


no inverno vel verificar se a espécie mantém esse padrão no
inverno, uma vez que esta área não foi alvo de pros-
De forma semelhante à distribuição observada peção sistemática. M I GRA ÇÃ O PÓS- N U PCIA L
durante o período de reprodução, o melro-d‘água
ocorre, durante o inverno, nas terras altas do norte
e centro do país. A maioria das observações diz Distribuição e abundância
respeito a indivíduos isolados, não sendo portanto na migração pós-nupcial
visível nenhum padrão de gregarismo. Os dados
disponíveis apontam para que as populações do No período de migração pós-nupcial esta espé-
oeste e sul europeu sejam maioritariamente seden- cie apresenta uma distribuição muito semelhante
tárias, preferindo zonas de maior altitude mesmo à do inverno, o que mais uma vez aponta para o
no inverno, podendo tolerar temperaturas extre- sedentarismo do melro-d’água no território nacio-
mamente frias desde que exista disponibilidade nal. No norte de África e em Espanha são conheci-
de água límpida e corrente (Catry et al. 2010, SEO/ dos movimentos pós reprodução, pelo menos em
BirdLife 2012, Ormerod et al. 2013). Parece confir- altitude, descendo para rios de planície e por vezes
mar-se a ausência da espécie da zona raiana da até áreas costeiras (Cramps & Simmons 2004, SEO/
Beira Baixa e Beira Alta, tendência já registada no BirdLife 2012, Ormerod et al. 2013). No decorrer
Atlas das Aves Nidificantes em Portugal. A sul do rio dos trabalhos deste atlas não houve observações
Tejo existem, para o período de nidificação, regis- que confirmem este facto em Portugal.

524 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 525


Pardal-comum
Passer domesticus

IMAGEM
Faísca

TEXTO
Paulo Marques

Modelação

I NV ERN O

Distribuição e abundância do Atlas das Aves Nidificantes e sugerindo que as


no inverno populações desta espécie, introduzida nos Açores
(Summers-Smith 1988), estão consolidadas em
Os resultados do atlas para esta espécie eviden- todas as ilhas. A sua abundância é especialmente
ciam que está distribuída por todo o território conti- elevada na ilha Terceira.
nental com uma distribuição que coincide com a da
época reprodutora, fato que seria de esperar devido
ao carácter sedentário da espécie. É de referir a Distribuição e abundância
sua ausência num número reduzido de quadrículas na migração pós-nupcial
sistemáticas na região centro, possivelmente devido
aos povoamentos florestais intensivos que a espé- A espécie está presente em todo o território e a
cie tende a evitar. A ausência da espécie nalgumas sua distribuição, durante o período de migração, é
zonas do Baixo Alentejo é difícil de interpretar, uma muito semelhante à dos períodos de reprodução e
M I GRA ÇÃ O PÓS- N U PCIA L
vez que segundo Elias et al. 1998 a espécies está de invernada. A sua abundância, sem nenhum padrão
presente em toda a área durante o inverno. territorial evidente, destaca-se em algumas quadrí-
culas onde se observam elevadas concentrações da
A sua abundância é variável ao longo do terri- espécie; este facto poderá ser resultado do compor-
tório não parecendo seguir o padrão detectado no tamento gregário da espécie, especialmente notório
Atlas de nidificantes, o qual sugeria uma concentra- nesta altura do ano, em que se formam dormitórios
ção com densidades mais elevadas na região lito- comunitários onde se concentram os adultos e os
ral. Durante o inverno as zonas de maior abundân- indivíduos recrutados na primavera anterior.
cia surgem amplamente distribuídas mas ocorrem
sobretudo na região a sul do rio Mondego, onde A presença da espécie no arquipélago do
se obtiveram abundâncias elevadas em diversas Açores neste período estará incompleta supon-
quadrículas (superiores a 100 indivíduos por hora). do-se que a sua distribuição deverá cobrir uma
área semelhante à registada no inverno. As áreas
O pardal-comum está presente no arquipélago não assinaladas correspondem às quadrículas não
dos Açores, mas está ausente da Madeira e das amostradas e não à ausência da espécie. É na
Selvagens. Nos Açores foi detectada a sua ocor- Ilha Terceira e Ilha de São Miguel que existem as
rência em todas as ilhas, confirmando os dados concentrações mais elevadas.

526 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 527


Pardal-espanhol
Passer hispaniolensis

IMAGEM
Juan Emílio

Distribuição e abundância bandos mistos com o pardal-comum, pode- migratórios muito bem definidos (Marques
no inverno rão ter limitado o seu registo fora da área 2004). O mapa de distribuição para a migra-
tradicional de reprodução, como é o caso do ção pós-nupcial segue genericamente o
No inverno os pardais-espanhóis apresen- estuário do Sado onde a espécie pode ocor- padrão de presença da espécie nas outras
tam uma distribuição semelhante à ocupada rer (Elias & Moore 2003, Tomé & Tomé 2013). épocas do ano, sendo que dentro da faixa
durante a época reprodutora, apesar de o interior que ocupa apresenta uma distribui-
número de quadrículas onde a espécie foi Relativamente às ilhas, a espécie apenas ção bastante descontínua. É no Alto Alentejo
detectada ter sido inferior. A espécie ocorre está presente no arquipélago da Madeira, que a espécie é detectada em mais quadrícu-
sobretudo nas zonas interiores raianas de onde ocorre no extremo oriental da Ilha da las. A abundância não segue nenhum padrão
Bragança a Castro-Marim, atingindo presen- Madeira e na Ilha de Porto Santo, ilhas que territorial específico, contudo os valores são
ças mais significativas no planalto de Idanha- apresentam populações estáveis desde a bastante inferiores quando comparados com
-a-Velha e no Alto Alentejo. A sua presença sua colonização pela espécie nos anos 30 os de inverno. As observações adicionais
foi também detectada no Algarve (tanto no do século XX (Summers-Smith 1988). Como contribuem para um aumento muito interes-
Barlavento como no Sotavento), região onde no Continente, também no arquipélago da sante da área de distribuição neste período,
tem sido observado regularmente no inverno, Madeira a distribuição de inverno coincide com a sinalização da ocorrência da espécie
nomeadamente na ria de Alvor (Réthoré & com a do período de reprodução. em zonas como os estuários do Tejo e do
Garmute 2011, Réthoré 2013), e no estuário Sado, assim como ao longo do litoral algar-
do Tejo, onde a ocorrência da espécie era já vio. No arquipélago da Madeira a distribui-
conhecida (Elias & Moore 2003). As observa- Distribuição e abundância ção e abundância no período de migração
ções adicionais contribuíram para completar o na migração pós-nupcial pós-outonal coincidem com o descrito para
mapa. A sua distribuição não uniforme assim o inverno.
como a dificuldade de detecção durante o O pardal-espanhol é uma espécie gregá-
inverno, devido à plumagem menos distintiva ria e com comportamento nómada, que na TEXTO
dos machos e à possibilidade de formação de Península Ibérica não apresenta movimentos Paulo Marques

528 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 529


Pardal-montês
Passer montanus

IMAGEM
Dinis Cortes

TEXTO
Hugo Sampaio

Modelação

I NV ERN O

Distribuição e abundância componente da sua dieta durante este período do


no inverno ano (SEO/BirdLife 2012). Por se tratar de um passe-
riforme relativamente discreto é natural que ocor-
O pardal-montês foi observado de norte a ram falhas na sua deteção. Por outro lado associa-
sul do território continental, contudo ocupou -se regularmente ao pardal-comum (Catry et al.
maior número de quadrículas a norte do Tejo, 2010), o que dificulta a sua identificação particu-
tal como acontece durante o período reprodu- larmente por parte de observadores menos expe-
tor. Foi particularmente abundante no vale que rientes. Estas características podem justificar a
liga Chaves e Vila Pouca de Aguiar. Pelo contrá- ausência de deteções em muitas das quadrículas M I GRA ÇÃ O PÓS- N U PCIA L
rio, foi registado em poucas quadrículas do Baixo que ocupa durante o período reprodutor.
Alentejo e praticamente não foi encontrado no
Algarve.
Distribuição e abundância
A população ibérica será sobretudo residente, na migração pós-nupcial
apesar de alguns indivíduos efetuarem movimen-
tos dispersivos a partir do final da época de repro- A distribuição do pardal-montês durante este
dução. Durante o inverno é mais provável encon- período de amostragem assemelha-se à obtida
trar esta espécie em planícies e nas depressões para o inverno, ou seja, com poucos registos no
de grandes rios, ausentando-se parcialmente das sul e distribuído de forma ampla mas irregular
áreas de reprodução situadas nas montanhas mais pelo resto do território continental. Apenas no
elevadas. Tem preferência por habitats humaniza- distrito de Vila Real se obteve uma distribuição
dos, nomeadamente cultivos alagáveis e de rega- mais contínua, tendo aí sido registado em várias
dio, pequenas povoações, mosaicos agropecuá- quadrículas. Foram obtidas abundâncias mais
rios, montados de sobro e pomares, nos quais elevadas no distrito de Portalegre, mais precisa-
se alimenta de sementes de herbáceas, principal mente na região de Avis.

530 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 531


Pardal-francês
Petronia petronia

IMAGEM
Dinis Cortes

Modelação

M I GR AÇÃO PÓS- N U PCIA L

Distribuição e abundância obtidos são escassos para permitir tirar conclu- pequenas deslocações de carácter disper-
no inverno sões acerca desse aspecto. sivo. Assim, no território continental a distri-
buição no período pós-nupcial coincide em
O pardal-francês é aparentemente seden- A espécie ocorre também no arquipélago grande parte com a que foi obtida no Inverno
tário no nosso país, razão pela qual a distri- da Madeira mas curiosamente não foi detec- e com a que se conhece na época de repro-
buição obtida se assemelha bastante à que tada nas visitas sistemáticas. Esse facto pode dução.
é conhecida para a época de reprodução. A dever-se a um insuficiente esforço de prospec-
ausência verificada no Inverno em grande ção e detecção, e/ou aos hábitos mais discre- No caso da Madeira foram efectuados
parte do Baixo Alentejo dever-se-á por certo a tos da espécie nesta altura do ano. registos em apenas uma quadrícula facto que,
falhas de cobertura ou a um deficiente esforço mais uma vez, não reflecte necessariamente a
de observação. Em termos gerais pode dizer- ausência da espécie mas antes a insuficiência
-se que este pardal ocorre de norte a sul, com Distribuição e abundância da metodologia para detectar a espécie nesta
excepção da metade litoral Norte e Centro e na migração pós-nupcial altura do ano.
de quase todo o Algarve. No que diz respeito
TEXTO
à abundância, esta aparenta ser maior no inte- Tanto quanto se sabe, esta espécie não Helder Costa
rior do território continental mas os dados efectua movimentos migratórios mas apenas O autor não segue o acordo ortográfico de 1990

532 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 533


Tecelão-de-cabeça-preta
Ploceus melanocephalus

IMAGEM
Henrique Oliveira
Pires

Distribuição e abundância conhece actualmente em Portugal, não tendo do Tejo e foi registado na lagoa dos Salgados
no inverno havido observações em áreas como o paul da (Silves), no paul da Tornada e na ria de Aveiro.
Tornada, Loures e ria do Alvor (Catry et al. 2010).
Esta é uma espécie exótica, originária da Este tecelão tem uma época de reprodução
África subsariana, que foi detetada em Portugal Esta espécie não ocorre nos Açores, na muito alargada, que decorre de março a outu-
pela primeira vez nos anos 90 do século passado Madeira e nas Selvagens. bro (Matias 2002, Catry et al. 2010), sendo mais
(Matias 2002, Catry et al. 2010). O tecelão-de- conspícuo nessa altura do ano. Ou seja, devido
-cabeça-preta ocorre em zonas alagadas, com aos seus comportamentos nupciais, torna-se
tabúa, choupos e salgueiros (Matias 2002). Distribuição e abundância mais fácil de detetar durante o período deno-
na migração pós-nupcial minado “pós-nupcial”, do que no período de
Durante o período de inverno foi detectado inverno deste atlas.
em três zonas: Ria Formosa/Vilamoura, estuário Durante o período pós-nupcial a espécie
do Tejo e paul do Boquilobo. Esta é uma área ocorreu numa área mais vasta do que no inverno. TEXTO
de distribuição menor do que aquela que se Foi registado em mais quadrículas no estuário Domingos Leitão

534 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 535


Bispo-de-coroa-amarela
Euplectes afer

IMAGEM
Faísca

Distribuição e abundância Até ao momento, esta ave está ausente dos tadas no que parece corresponder a zonas
no inverno Açores, Selvagens e Madeira, não tendo sido agrícolas junto à foz do Tejo e Sado, mas
registada nas ilhas no período de invernada ou também na ria de Aveiro, Mondego, Santa
Esta espécie exótica, que parece ter-se de migração pós-nupcial. Cruz e Ria Formosa. No período de migração
naturalizado em Portugal (Matias 2002), pós-nupcial esta ave não foi observada numa
encontra-se circunscrita a alguns vales irriga- das quadrículas mais interiores da zona do vale
dos, estuários, pauis e arrozais, geralmente Distribuição e abundância do Tejo onde tinha anteriormente sido obser-
localizados na faixa litoral do território conti- na migração pós-nupcial vada no período reprodutor. Também não
nental. No inverno, foi registada apenas nos foi observada nos arrozais de Elvas, mas isso
estuários do Tejo e Sado, Baixo Mondego, Ria Durante o período pós-nupcial, a distri- pode dever-se à falta de cobertura dessa área
Formosa, ria de Aveiro e nos arrozais de Elvas. buição desta espécie parece ser ligeiramente nas mesmas amostragens.
Estes registos coincidem com a distribuição mais alargada, incluindo não só as zonas de
na época de reprodução, excepto numa das invernada como algumas áreas circundantes.
quadrículas mais interiores da zona do vale do Durante as contagens sistemáticas, a ave foi
Tejo, de onde parece estar ausente no inverno detetada nos estuários do Tejo, Sado e na ria TEXTO
(Equipa Atlas 2008). de Alvor. Observações adicionais foram regis- Helena Batalha

536 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 537


Bico-de-lacre
Estrilda astrild

IMAGEM
Carlos Ribeiro

TEXTO
Helena Batalha

Modelação

I NV ERN O

Distribuição e abundância Distribuição e abundância


no inverno na migração pós-nupcial
Durante o inverno esta ave residente, introdu- Durante o período pós-nupcial, a distribuição
zida em Portugal na década de 1960 (Rufino 1989, da espécie parece ser ligeiramente mais alargada
Reino & Silva 1998), foi registada principalmente na que no inverno, mas mais restrita que na época
metade litoral do país. A espécie mostra uma distri- de reprodução. Sendo uma ave residente com o
buição mais homogénea nos distritos de Lisboa, período de reprodução coincidente parcialmente
Leiria e Santarém, na zona litoral centro, seguindo-se com a época de amostragens outonais (Rufino
o litoral algarvio, parte do Alentejo e zonas irrigadas 1989, Tenreiro & Petronilho 2002), não se regis-
M I GRA ÇÃ O PÓS- N U PCIA L
como as bacias hidrográficas do Sado, ria de Aveiro tam grandes diferenças entre a sua distribui-
e Cávado. As maiores abundâncias foram registadas ção nos períodos reprodutor, de migração e de
nas mesmas zonas e em alguns pontos do Alto Alen- invernada. Não foi registado em áreas vastas das
tejo e Trás-os-Montes. Estes registos correspondem Beiras, de Trás-os-Montes e do interior do Alen-
provavelmente a observações em zonas alagadas, tejo. Estas são zonas montanhosas ou áridas, com
irrigadas, ou adjacentes a rios ou barragens, habi- pouca ocorrência dos habitats húmidos preferi-
tats bastante frequentados por esta espécie (Bata- dos por esta espécie. As zonas com maior abun-
lha 2011, Reino & Silva 1998). O bico-de-lacre parece dância de bicos-de-lacre localizam-se no litoral
estar ausente da maior parte das áreas mais secas centro, na lezíria ribatejana, no litoral algarvio e
e montanhosas do país, nos distritos de Bragança, costa norte.
Castelo Branco, Guarda e o interior alentejano,
provavelmente devido a menor ocorrência de habi- Tal como na época de invernada, nos Açores foi
tat favorável. registado apenas em S. Miguel e na Terceira. Na
Madeira foi registada em mais quadrículas além
Nos Açores foi apenas registado em S. Miguel e da zona de Machico, nomeadamente na parte sul
na Terceira, e na Madeira apenas na zona de Machico. da ilha. Houve ainda registos em Porto Santo.

538 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 539


Bengali-vermelho
Amandava amandava

IMAGEM
Aaron Maizlish

Distribuição e abundância em Portugal na década de 80 (Matias 2002). apresenta uma preferência por zonas húmidas,
no inverno A espécie foi detectada em menos locais do principalmente pauis, arrozais e as valas asso-
que na época de reprodução, o que não seria ciadas com vegetação palustre (Catry et al.
Esta espécie não foi detectada no período espectável uma vez que as épocas de amos- 2010). No decorrer deste atlas as observações
de inverno. tragem (quer a de migração quer a de Inverno) de bengali-vermelho foram no vale do Sado,
abrangem o período reprodutor da espécie nos arrozais da Companhia das Lezírias, a norte
(Julho a Dezembro - Matias 2002, Payne 2010, de Lisboa e em Idanha-a-Nova. Esta última é
Distribuição e abundância SEO/BirdLife 2012). Assim, o reduzido número uma nova localização para a espécie.
na migração pós-nupcial de registos pode resultar, muito provavel-
mente, de uma cobertura insuficiente do terri-
Esta espécie exótica originária do sul e tório, até porque não houve registos no prin- TEXTO
sueste asiático foi provavelmente introduzida cipal núcleo conhecido, em Elvas. A espécie Carlos Godinho

540 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 541


Capuchinho-dominó
Lonchura punctulata

IMAGEM
Vitor Cruz

Distribuição e abundância já identificadas anteriormente como locais de Não se sabe muito sobre a biologia da
no inverno reprodução, o que parece indicar uma certa reprodução desta espécie (Catry et al. 2010),
estabilidade das populações da espécie. para além do facto de se reproduzir no verão
Esta é uma espécie exótica, originária do e no outono. Isto foi testemunhado neste
Sudeste Asiático, que foi detetada em Portu- Esta espécie não ocorre nos Açores e na trabalho, com a observação de grupos fami-
gal pela primeira vez no final dos anos 90 do Madeira. liares na zona da Chamusca. Os registos feitos
século passado (Catry et al. 2010). Têm sido no âmbito deste atlas parecem indicar que o
observados juvenis voadores de forma espo- capuchinho-dominó mantém as áreas origi-
rádica durante os meses de outubro e novem- Distribuição e abundância nais de ocorrência no vale do Tejo e Algarve
bro, em locais tão díspares como Portimão e na migração pós-nupcial e encontra-se em expansão no território entre
Golegã (Catry et al. 2010). Durante o período estas áreas.
de inverno o capuchinho-dominó foi detetado Durante o período pós-nupcial a espé-
em três locais distintos, o vale do Tejo, na área cie foi registada no vale do Tejo e no vale do
da Golegã e Chamusca, o vale do Sado, na área Sado, nas áreas onde já havia sido detetada no
de Alcácer do Sal e Torrão, e o vale do Arade, inverno, e adicionalmente no vale do Sorraia TEXTO
na área de Portimão. Duas destas áreas foram em Coruche. Domingos Leitão

542 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 543


Ferreirinha-serrana
Prunella collaris

IMAGEM
Matthias Tissot

Distribuição e abundância serras do Caramulo, Estrela e Açor e no cabo ocorre se situarem amiúde em zonas remotas
no inverno de S. Vicente. Foram ainda obtidos registos da e de difícil acesso, o que dificulta a sua pros-
sua ocorrência em Trás-os-Montes, nas serras peção regular, é provável que a presença da
O estatuto fenológico da ferreirinha-ser- de Sintra e Montejunto, em Marvão e no Baixo ferreirinha-alpina no território continental seja
rana na península Ibérica parece ser o de resi- Alentejo próximo de Mértola. Parece eviden- mais expressiva do que a documentada no
dente, mas durante o inverno as aves deslo- ciar uma certa fidelidade aos locais de inver- presente Atlas.
cam-se para altitudes inferiores podendo nada tanto em Portugal (Catry et al. 2010)
inclusive atingir o nível do mar. Em Portugal como em Espanha (Tellería et al. 1999, Ponce
ocorre apenas como invernante, e possivel- & Leal 2012). São normalmente observados Distribuição e abundância
mente oriunda de Espanha. pequenos grupos ou indivíduos isolados, na migração pós-nupcial
mas há registos excepcionais de mais de duas
No âmbito deste atlas foi possível comprovar dezenas de aves (Catry et al. 2010). A ferreirinha-serrana não foi registada neste
a distribuição ampla mas localizada da espécie, período de censo.
tendo sido detetada a sua presença em locais Tendo em conta a distribuição alargada da
de altitude e em afloramentos rochosos como espécie, a regularidade da sua presença em TEXTO
na zona de Vimioso (distrito de Bragança), nas diversos locais e o facto de os habitats onde João E. Rabaça

544 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 545


Ferreirinha-comum
Prunella modularis

IMAGEM
Joaquim Antunes

TEXTO
Pedro Cardia

Modelação

I NV ERN O

Distribuição e abundância de parte da Beira Litoral e da faixa costeira da


no inverno Estremadura poderá relacionar-se com a existên-
cia de extensas áreas ocupadas por plantações de
É uma espécie típica da região temperada pinheiro-bravo e eucalipto (Travassos 2008).
do Paleártico Ocidental, que estende a sua área
de distribuição até às regiões mediterrânicas,
sub-árctica e boreal (Snow & Perrins 1998). A Distribuição e abundância
ferreirinha-comum é claramente mais abundante na migração pós-nupcial M I GRA ÇÃ O PÓS- N U PCIA L
no inverno do que na migração pós-nupcial. Nas
regiões montanhosas de maior altitude é menos Tem uma distribuição semelhante à da época
abundante no Inverno, o que sugere que algumas de reprodução, concentrando-se nas regiões mais
das aves que aí nidificam efectuam deslocações húmidas do interior norte mas evitando as áreas
altitudinais (Pimenta & Santarém 1996, Silva 1998). de influência mediterrânica de Trás-os-Montes
e das beiras. A sul do sistema central tem uma
A ferreirinha-comum ocorre em todo o territó- distribuição muito reduzida e localizada sobre-
rio continental, sendo mais abundante no norte. tudo junto ao litoral. A ausência de registos numa
Ocorre de forma mais localizada nas serras do parte importante do Minho e do Douro Litoral
sudoeste, entre o Algarve e o Baixo Alentejo. No dever-se-á à reduzida percentagem de quadrícu-
terço norte do continente ocorre frequentemente las visitadas nessa região. A distribuição aqui apre-
junto à costa, por vezes a poucos metros do mar sentada deverá estar incompleta, pois a ferreiri-
(Cardia 2011). Tem uma ampla distribuição em nha-comum deverá ocorrer em quadrículas que
Trás-os-Montes, que inclui a zona da terra quente, não foram alvo de visitas sistemáticas nas épocas
onde não nidifica. É pouco comum e localizada nas de migração pós-nupcial.
zonas de culturas extensivas e vegetação arbustiva
pouco desenvolvida do Alentejo. A sua ausência

546 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 547


Alvéola-branca
Motacilla alba

IMAGEM
Luis Rodrigues

Distribuição e abundância praticamente negra e branca). Esta última é claramente menos abundante no Baixo Alen-
no inverno menos comum do que subespécie nominal. tejo e no Algarve, o que advém da ausência
dos efectivos invernantes antes de Outubro
A alvéola-branca ocorre em todo o território Na Madeira, onde a espécie é tradicional- (Catry et al. 2010). Também poderá indiciar
continental durante o inverno (outubro a março), mente considerada um invernante escasso a existência de comportamento sedentário
sendo raras as quadrículas visitadas onde a (Clarke 2006), foi detectada em Porto Santo e da população nidificante (pois esta tem uma
espécie esteve ausente. Ocupa uma grande em quatro quadrículas na ilha da Madeira. distribuição geográfica semelhante).
diversidade de habitats, inclusivamente urba-
nos, mas com predominância de áreas abertas A espécie foi registada em três quadrícu-
onde consiga encontrar alimento e.g. ao nível Distribuição e abundância las da ilha da Madeira e numa quadrícula das
do solo, em margens de áreas alagadas ou na na migração pós-nupcial Selvagens.
proximidade de rebanhos. Portugal Continen-
tal recebe invernantes das subespécies M.a.alba Durante a época de migração, a espécie TEXTO
e M.a.yarrelli (de coloração mais contrastante, tem distribuição igualmente alargada mas é João Tiago Tavares

548 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 549


Alvéola-amarela
Motacilla flava

IMAGEM
José Sousa

Distribuição e abundância Distribuição e abundância nência de indivíduos no seu local de nidificação


no inverno na migração pós-nupcial até o mês de setembro. Por outro lado, parece
haver uma ausência marcada de registos no
A alvéola-amarela é uma ave migradora Os registos durante a passagem migrató- Nordeste Transmontano, onde não nidifica.
estival e de passagem pouco comum a comum ria ocorreram consistentemente ao longo do
e localizada (Catry et al. 2010). Mas registaram- litoral, e de forma mais fragmentada ao longo Não foram obtidos registos nas regiões
-se diversas observações durante o período de de toda a área continental. Nesta fase as aves insulares. Esta alvéola é considerada acidental
inverno um pouco por todo o território conti- podem aparecer em qualquer zona aberta, tanto nos Açores como nas ilhas do arquipé-
nental (incluindo censos sistemáticos e regis- como restolhos ou relvados, e na proximidade lago da Madeira.
tos adicionais). Poderão tratar-se de migrado- de zonas húmidas. Dá-se destaque a um núcleo
res pré-nupciais precoces ou de indivíduos que de observações junto a Vila Pouca de Aguiar, TEXTO
efectivamente passam o inverno em Portugal. no Norte, onde não se pode excluir a perma- João Tiago Tavares

550 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 551


Alvéola-cinzenta
Motacilla cinerea

IMAGEM
Diogo Oliveira

TEXTO
João Tiago Tavares

Modelação

I NV ERN O

Distribuição e abundância A espécie não ocorre nas ilhas do arquipélago


no inverno das Selvagens.

A alvéola-cinzenta ocorre como invernante na


generalidade do território continental português. Distribuição e abundância
A sua distribuição apresenta descontinuidades na migração pós-nupcial
mais relevantes em Trás-os-montes, Douro interior
e parte da Beira Litoral, onde as falhas de amostra- Durante a passagem migratória, efectuaram-se
M I GRA ÇÃ O PÓS- N U PCIA L
gem podem estar a afectar a percepção dos resul- registos nas áreas principalmente nos quadrantes
tados, no Alentejo e no Algarve, presumivelmente noroeste e centro-oeste do território continental,
por causa da menor disponibilidade de habi- com descontinuidades mais acentuadas e uma
tat. Nas ilhas esta espécie ocorre principalmente abundância relativa inferior ao que foi registado
enquanto residente, estando presente a subespé- para o inverno.
cie M. c. patriciae na totalidade das ilhas açorianas
(Pereira, 2010), assim como da subespécie M. c. . Sendo uma espécie maioritariamente resi-
schmitzi na ilha da Madeira. Nos Açores foi detec- dente nos territórios insulares é expectável que a
tada em todas as ilhas sendo mais abundante no distribuição se mantenha entre os períodos amos-
Grupo Central. Os registos da sua presença na ilha trados. A menor cobertura sistemática durante a
do Porto Santo, onde terá nidificado no passado migração resulta na ausência de registos em São
(ver Atlas das Aves do Arquipélago da Madeira), Jorge, colmatados por observações adicionais
devem-se apenas a indivíduos migradores (ou no Pico, Flores e Corvo. As maiores abundâncias
eventualmente aves em dispersão das restantes foram registadas na ilha Terceira. Na Madeira o
ilhas). Na ilha da Madeira foi detectada em todas padrão de ocorrência é idêntico ao do inverno,
as quadrículas. tendo existido registos nas Ilhas Desertas.

552 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 553


Petinha-de-richard
Anthus richardi

IMAGEM
António A. Gonçal-
ves

Distribuição e abundância nentes do litoral (cabos). Nesses locais, têm um em Peniche e outro na península de Sagres.
no inverno sido registados pequenos grupos de aves que Possivelmente porque a maior parte das aves
permanecem durante o período de invernada. poderá ter chegado a partir de meados de
A petinha-de-richard é uma migradora de As observações mais a Norte são registos em Outubro, ou seja, após o final dos trabalhos
passagem e invernante rara no nosso país, locais atípicos, em especial o registo obtido da de campo. A fenologia conhecida da espécie
sendo proveniente de uma área de reprodu- zona de Viseu no fim de novembro, já que se em Portugal Continental aponta para que esta
ção vasta (do Sul da China até à Sibéria). Neste conhecem outros registos em zonas interiores espécie esteja presente principalmente de
atlas, foi detectada durante a invernada num mas associados a uma tipologia de habitat já outubro a abril (Catry et al. 2010).
número muito reduzido durante os censos descrita (lagoa dos Patos, Beja, www.avesde-
sistemáticos e em registos adicionais. Ocor- portugal.com). Esta espécie não tem registos nas ilhas.
reu principalmente em áreas do litoral do terri-
tório continental, muitas das quais são locais
habituais de ocorrência (Sagres e cabo de Distribuição e abundância
São Vicente, lagoa de Santo André, Peniche e na migração pós-nupcial
lagoa de Óbidos), onde existem zonas abertas,
como restolhos e pastagens, frequentemente Obtiveram-se apenas dois registos adicio- TEXTO
associadas a zonas húmidas ou zonas proemi- nais em Portugal Continental neste período, João Tiago Tavares

554 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 555


Petinha-dos-campos
Anthus campestris

IMAGEM
Faísca

Distribuição e abundância Distribuição e abundância A petinha-dos-campos ocorre acidental-


no inverno na migração pós-nupcial mente nas regiões insulares. Não foi registado
durante os trabalhos do atlas.
A petinha-dos-campos é uma ave nidi- A espécie é um pouco mais comum
ficante e migradora de passagem escassa, enquanto migradora. Ocorreu um pouco por
sendo rara como invernante (Catry et al. 2010). todo o território continental, destacam-se
Por conseguinte, durante o inverno, foi detec- alguns conjuntos de observações em áreas
tada num número reduzido de locais, nomea- conhecidas de nidificação (por exemplo em
damente em alguns pontos espalhados pelo Bragança, serra da Lousã e Castro Verde),
Alto Alentejo, perto de Grândola (onde foram que foram obtidas principalmente durante o
detectadas 12 aves) e entre a serra da Malcata mês de agosto. É provável que estas observa-
e Freixo de Espada à Cinta. Também foram ções digam respeito a indivíduos nascidos nas TEXTO
obtidos registos adicionais na Estremadura. imediações ou em dispersão. João Tiago Tavares

556 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 557


Corre-caminhos
Anthus berthelotii

IMAGEM
José Juan Hernández

Distribuição e abundância ciais que se caracterizam por zonas abertas Distribuição e abundância
no inverno compostas por gramíneas, desde a faixa litoral na migração pós-nupcial
até às zonas de maior altitude do maciço monta-
Durante época de inverno o corre-caminhos nhoso central. O fato de a maior abundância ter A espécie está presente em ambos os arqui-
está amplamente distribuído por todo o territó- sido registada na área da Ponta de São Lourenço pélagos durante o período pós nupcial. As
rio dos arquipélagos da Madeira e das Selvagens, pode estar relacionado com os fatores climatéri- abundâncias mais elevadas foram registadas nas
onde ocorrem as subespécies A. b. madeirensis cos ou com a existência de alguns movimentos ilhas Desertas, ponta de São Lourenço e paul da
e A. b. berthelotii, respetivamente. É mais abun- locais, uma vez que as populações invernantes Serra que está localizado na área centro-ociden-
dante nas Selvagens, Desertas e ponta de São são constituídas por aves residentes na ilha. tal da ilha da Madeira.
Lourenço (situada na extremidade leste da ilha da
Madeira). Se comparamos a distribuição invernal Aparentemente a espécie é sedentária, mas Provavelmente as populações registadas
com o período de reprodução (Sepúlveda et al. comparando os dados primaveris com os inver- neste período são na sua maioria residentes
2013) não se verificam discrepâncias acentuadas. nais, provavelmente verificam-se movimentos nas áreas onde foram detetadas, no entanto os
entre os locais onde ocorre durante as duas dados sugerem tal como na época de inverno
Na ilha da Madeira a espécie distribui-se de estações, não havendo evidências de migrações movimentações entre as zonas de menor e
forma homogénea por todos os habitats poten- entre as ilhas. maior altitude.

TEXTO
João Nunes

558 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 559


Petinha-das-árvores
Anthus trivialis

IMAGEM
Antómio Gonçalves

Modelação

M I GR AÇÃO PÓS- N U PCIA L

Distribuição e abundância do país, mas também noutras regiões como as decorre, sobretudo, durante o mês de Setem-
no inverno regiões do oeste e de Lisboa, conforme ates- bro e início de Outubro (vide Catry et al. 2010).
tam os dados obtidos neste trabalho. Prova- Todavia, no Noroeste e fora dos locais de nidifi-
No decorrer do Inverno foi apenas detec- velmente, a distribuição algo incompleta desta cação é observável logo na primeira metade de
tada na metade Sul do território, confirmando espécie também poderá espelhar alguma difi- Agosto, aumentando consideravelmente a sua
o estatuto de uma espécie rara como inver- culdade em identificar esta petinha, sobre- abundância ao longo do mês (obs. pessoal).
nante (Elias et al. 2008). tudo pelo facto de neste período a maioria
dos contactos com a espécie serem auditivos. Esta espécie não foi detectada nos Açores,
Na migração Outonal frequenta uma grande nem na Madeira, onde ocorre de forma aciden-
Distribuição e abundância variedade de habitats, arborizados ou não, mas tal. Também não foi detectada nas Selvagens,
na migração pós-nupcial também uma grande diversidade de meios onde é um migrador raro, mas regular.
abertos, incluindo campos agrícolas, pousios
A petinha-das-árvores é uma migradora e descampados, por vezes em meios urbanos,
pós-nupcial relativamente comum no territó- como na cidade de Lisboa onde é observada TEXTO
rio continental, sobretudo na metade Norte com relativa facilidade. O fluxo principal de aves Luís Reino

560 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 561


Petinha-dos-prados
Anthus pratensis

IMAGEM
Faísca

TEXTO
Luís Reino

Modelação

I NV ERN O

Distribuição e abundância Também não foi detectada nas Selvagens, onde é


no inverno um migrador raro, mas regular.

A petinha-dos-prados é uma das espécies


M I GRA ÇÃ O PÓS- N U PCIA L
invernantes mais abundantes de Portugal Conti- Distribuição e abundância
nental, distribuindo-se pela generalidade do na migração pós-nupcial
território continental. Os resultados deste traba-
lho sugerem que esta espécie é mais abundante É uma migradora pós-nupcial, surgindo a
no Sul e menos comum nas serras e planaltos do grande maioria das primeiras aves já no mês de
Norte e Centro do país. Esta petinha encontra-se outubro. De uma maneira geral é mais abun-
associada a uma grande variedade de habitats, dante na metade Norte de Portugal Continen-
desde que não demasiado fechados. É particu- tal, havendo todavia zonas de maior ocorrência
larmente abundante em pastagens, margens de como em algumas zonas do Alto Alentejo e litoral
zonas húmidas, restolhos de arroz, terrenos lavra- centro. A sua maior escassez na generalidade da
dos, sistemas agro-florestais abertos, entre outros metade Sul decorrerá sobretudo, do facto de esta
(vide Catry et al. 2010). Esta espécie permanece no espécie ser uma espécie migradora pré-sariana,
nosso território até março, sendo já relativamente cujas primeiras aves originárias do Norte e Centro
escassos os registos no decorrer do mês de abril. da Europa deverão chegar em primeiro lugar, às
zonas de maior latitude do continente.
Esta espécie não foi detectada nos Açores,
nem na Madeira, onde ocorre de forma acidental.

562 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 563


Petinha-ribeirinha
Anthus spinoletta

IMAGEM
Faísca

Distribuição e abundância Catry et al. (2010) assinalam que as primei- Distribuição e abundância
no inverno ras petinhas-ribeirinhas surgem nas zonas de na migração pós-nupcial
invernada no início de Outubro, embora mais
A petinha-ribeirinha é uma espécie nidifi- a Sul só sejam regularmente avistadas a partir É uma migradora pós-nupcial pouco comum e
cante muito rara. Relativamente ao inverno, do final de outubro, ou já no decorrer de a distribuição alcançada neste atlas refletirá, por
os dados obtidos neste Atlas suportam a ideia novembro. A informação sobre a origem das um lado a escassez da espécie mas, por outro,
que esta espécie poderá ocorrer de norte a aves invernantes em Portugal é escassa, exis- alguma dificuldade na sua identificação. Os dados
sul do país, evitando apenas as zonas mais tindo todavia a captura de duas aves anilha- obtidos confirmam estes elementos, sendo clara-
áridas e com poucas massas de água (barra- das nos Alpes (vide Catry et al., 2010). No mente mais abundante no Norte e Centro, mas
gens, açudes, ou zonas húmidas), mas também inverno pode estar associada a uma grande com o registo de algumas aves nas zonas Oeste,
zonas densamente arborizadas. É mais abun- variedade de habitats, como sejam lamei- Lisboa e Algarve. Apesar desta escassez, existem
dante a Norte, ainda que os dados obtidos ros e pastagens, campos agrícolas parcial- alguns registos no Nordeste que atestam a sua
apenas reflictam a sua abundância nesta área mente alagados, restolhos de arrozais e de abundância em alguns locais desta região. Por
de uma forma parcial, visto que em algumas outras culturas agrícolas e, muito frequente- exemplo, foram registadas pelo menos dez indi-
áreas do Nordeste a espécie chega a ser rela- mente, nas margens de barragens e peque- víduos na barragem de Serra Serrada no Parque
tivamente comum (por exemplo na barragem nos açudes. Em algumas zonas do interior, Natural de Montesinho (1300 m), em 23 de setem-
do Azibo e lameiros em volta da cidade de como na região de Bragança, pode inclusive bro de 1993 (obs. pessoal).
Bragança). Para além do Nordeste é também ser observada em pequenas pastagens ou
muito abundante em grandes zonas costeiras lameiros existentes na sua malha urbana (obs. TEXTO
(por exemplo estuário do Tejo e ria de Aveiro). pessoal). Luís Reino

564 Espécies regulares • Passeriformes


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MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 565


Tentilhão-comum
Fringilla coelebs

IMAGEM
Victor Maia

TEXTO
Ana Luísa Catarino

Modelação

I NV ERN O

Distribuição e abundância A espécie ocorre também em ambos os arqui-


no inverno pélagos, sendo mais abundante nos Açores onde
está presente em todas as ilhas, do que na Ilha da
O tentilhão-comum foi observado em todo o Madeira. As populações invernantes nas ilhas são
território continental, registando as maiores abun- essencialmente constituídas por aves residentes.
dâncias nas regiões Norte e Centro, exceptuando
o distrito de Coimbra e parte do distrito de Castelo
Branco. A sul, as zonas com maior abundância Distribuição e abundância
situam-se no sudoeste alentejano e no Algarve. na migração pós-nupcial M I GRA ÇÃ O PÓS- N U PCIA L
Durante a época de nidificação esta ave procura
habitats onde exista vegetação de porte arbóreo Durante o período pós-nupcial a espécie ocorre
mas no inverno, frequenta uma gama de biótopos também em todo o território de Portugal Conti-
mais diversificada, estando menos dependente da nental sendo a parte sul do país aquela que regista
presença de árvores de médio ou grande porte menor abundância. A partir de meados de outu-
(Catry et al. 2010). Nesta época do ano é comum bro é possível observar bandos de tentilhões-co-
esta espécie juntar-se em bandos em conjunto com muns provenientes doutros países europeus, sendo
outras espécies de fringilídeos (Elias et al. 1998). possível observar a migração, por exemplo ao
É possível que na composição destes bandos se longo da faixa costeira (Catry et al. 2010).
encontrem indivíduos migradores provenientes do
norte da Europa e aves nacionais que se tenham A ausência da espécie de algumas ilhas do arqui-
deslocado dos seus locais de nidificação para áreas pélago dos Açores durante o período de migração
mais abertas (Catry et al. 2010). estará relacionada com a menor cobertura siste-
mática, facto realçado pela informação dada pelos
A norte é possível observar movimentos altitudi- registos adicionais. A distribuição na ilha da Madeira
nais (Catry et al. 2010). é semelhante à que foi observada no inverno.

566 Espécies regulares • Passeriformes


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MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 567


Tentilhão-montês
Fringilla montifringilla

IMAGEM
Dinis Cortes

Distribuição e abundância sua distribuição para sul em busca de alimento, da segunda metade do mês de Outubro. Este
no inverno nos invernos mais rigorosos (Clement & Arkhi- facto pode ter contribuindo para que não exis-
pov 2010, SEO/Birdlife 2012). Esta variação inte- tam registos de tentilhão-montês nas visitas
O tentilhão-montês é uma espécie inver- ranual foi visível nos resultados obtidos nos dois sistemáticas, uma vez que os primeiros indi-
nante no território nacional, apresentando uma invernos abrangidos por este atlas: o inverno víduos a chegar ao nosso território parecem
distribuição ao longo de todo o país, ainda que de 2011/12 foi caracterizado por um período fazê-lo após o período de amostragem consi-
de forma bastante fragmentada. É mais comum de seca e frio prolongado, havendo registos derado neste atlas – 15 de outubro. Todos os
a norte do rio Tejo do que a sul, onde apenas de tentilhão-montês em apenas 3% do total de registos que existem, são resultado de obser-
foi detetado em sete quadrículas. A espécie quadrículas amostradas; na época de 2012/13 vações adicionais, situando-se na sua maioria
foi mais frequente em Trás-os-Montes e Minho a precipitação e a temperatura médias foram junto à costa. A excepção a este padrão são
fazendo um contínuo com a Galiza onde é um semelhantes à normal, tendo-se observado a dois registos na serra da Estrela.
invernante comum (SEO/Birdlife 2012), Beira espécie em 16% das quadrículas. Os habitats
Alta, Beira Litoral e Ribatejo. Os registos adicio- preferencialmente usados durante inverno são Na maioria dos casos estas aves não são
nais, apesar de escassos, são coincidentes com florestas de zimbros, galerias ripícolas, cultivos migradores em passagem, mas sim os primei-
as principais áreas identificadas nas visitas siste- de regadio e mosaicos agrícolas (SEO/Birdlife ros indivíduos a chegarem ao nosso território.
máticas. Este facto atribui alguma coerência aos 2012), onde procura alimento muitas vezes asso- Estes primeiros registos estão de acordo com
padrões observados, pelo que a distribuição ciado a outras espécies de fringilídeos. Clement & Arkhipov (2010) que sugerem a
irregular da espécie pode ser fiel à realidade nos chegada desta espécie à costa mediterrânea a
invernos amostrados. meio de outubro, existindo ainda um pequeno
Distribuição e abundância número de indivíduos que atravessa o Estreito
Esta espécie pode apresentar padrões de na migração pós-nupcial de Gibraltar até à costa de Marrocos e Argélia.
distribuição distintos entre anos, uma vez que
a variabilidade inter-anual no período de inver- De acordo com Catry et al. (2010), existem TEXTO
nada é elevada (Catry et al. 2010), estendendo a diversos registos de tentilhão-montês a partir Carlos Godinho

568 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 569


Milheirinha
Serinus serinus

IMAGEM
José Viana

TEXTO
Milene Matos

Modelação

I NV ERN O

Distribuição e abundância ibérico, ao longo do ciclo anual, que dificultam a


no inverno definição concreta dos seus padrões de migração
e distribuição (Catry et al. 2010).
A milheirinha apresentou uma distribuição
praticamente contínua no território continental A espécie está ausente dos arquipélagos dos
de Portugal. As ausências registadas no mapa Açores, das Selvagens e da Madeira.
M I GRA ÇÃ O PÓS- N U PCIA L
de distribuição parecem dever-se, de um modo
geral, a descontinuidades na amostragem. As
maiores abundâncias foram registadas no terço Distribuição e abundância
central do país. Embora seja comummente consi- na migração pós-nupcial
derada como uma espécie residente em Portugal,
na verdade apresenta um complexo padrão migra- Durante o período pós-nupcial a milheirinha
tório que ainda não está completamente escla- ocorre também de norte a sul do território conti-
recido. Os dados existentes indicam que a espé- nental. No entanto, face ao período de inverno,
cie é parcialmente migradora no norte do país e apresenta uma distribuição mais reduzida em
localmente também no Centro, sendo as popu- todo o Alentejo, nalgumas regiões do Algarve, e
lações nidificantes mais numerosas que as inver- de um modo geral, no interior norte e centro. Esta
nantes (Catry et al. 2010). Durante o período de escassez de milheirinhas nalguns locais durante o
invernada, o território nacional acolhe milheiri- período pós-nupcial (por exemplo nos estuários
nhas oriundas do norte de Espanha (Asensio 1985) do Tejo e Alvor) tinha sido já reportada por Catry
e, provavelmente, também de locais exteriores à et al. (2010), não sendo no entanto claro se se deve
península Ibérica. No entanto, existem registos de a migrações ou a redistribuições locais das aves
movimentos mais aleatórios no espaço geográfico por diferentes biótopos após a reprodução.

570 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 571


Canário-da-terra
Serinus canaria

IMAGEM
Carlos Ribeiro

Distribuição e abundância Madeira e nas Ilhas Desertas, sendo menos Distribuição e abundância
no inverno abundante no Porto Santo e todo o maciço na migração pós-nupcial
Central e costa oeste da ilha da Madeira.
Durante o inverno o canário-da-terra foi Neste período, as maiores abundâncias
registado em todas as ilhas dos arquipélagos O canário-da-terra é uma espécie endé- registadas no arquipélago dos Açores locali-
dos Açores e da Madeira, estando ausente do mica da Macaronésia, que frequenta uma zaram-se na ilha de Santa Maria, Ilha Terceira
arquipélago das Selvagens. boa variedade de habitats, o que explica e sudeste da ilha do Faial. No arquipélago da
a sua ampla distribuição em cada uma das Madeira, a espécie é mais abundante nas ilhas
Nos Açores ocorre com maior abundância ilhas onde ocorre. Em geral, a sua abundân- Desertas, sendo notória na ilha da Madeira
nas ilhas do grupo central, nomeadamente na cia diminui com a altitude (Melo 1999, Oliveira uma abundância tendencialmente superior
ilha do Pico e ilha Terceira, com as menores & Menezes 2004). É uma espécie sedentária nas áreas de litoral, que não é exclusiva para o
abundâncias a serem registadas na ilha de São e por esse motivo a sua área de reprodução período pós-nupcial, já que o mesmo se veri-
Miguel. Na Madeira foi detetada com maior é coincidente com a área que ocupa durante fica no período de inverno e durante a época
abundância ao longo do litoral este da ilha da o inverno. de reprodução (Equipa Atlas, 2013).

TEXTO
Pedro Sepúlveda

572 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 573


Verdilhão
Chloris chloris

IMAGEM
Faísca

TEXTO
Frederico Lobo

Modelação

I NV ERN O

M I GRA ÇÃ O PÓS- N U PCIA L


Distribuição e abundância também ocorre como nidificante. Não ocorre no
no inverno arquipélago das Selvagens.

Esta espécie ocorre em todo o território de


Portugal Continental. A distribuição alargada Distribuição e abundância
e em densidades elevadas dever-se-á ao facto na migração pós-nupcial
desta espécie utilizar todos os tipo de formação
arbórea, tanto em zonas rurais como urbanas, Durante a época de migração pós-nupcial esta
com tendência apenas para evitar zonas florestais espécie foi também registada em todo o territó-
muito densas e extensas, como monoculturas de rio de Portugal Continental, no entanto com maior
pinheiro e eucalipto. abundância junto à faixa costeira.

No arquipélago dos Açores foi registada Durante esta época foram observados verdi-
apenas na ilha de São Miguel, apesar de ocorrer lhões no arquipélago dos Açores, ilhas de São
como nidificante na Terceira e no Pico. No arquipé- Miguel e Terceira, e no arquipélago da Madeira,
lago da Madeira apenas na ilha da Madeira, onde apenas na ilha da Madeira.

574 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 575


Lugre
Spinus spinus

IMAGEM
Jeannie Debs

TEXTO
Frederico Lobo

Modelação

Distribuição e abundância tada no arquipélago da Madeira, apenas na ilha I NV E R NO


no inverno da Madeira, onde é residente. Não foi regis-
tada no arquipélago das Selvagens.
Esta espécie foi registada de forma descon-
tinua por todo o território de Portugal Conti-
nental durante a época de invernada. A sua Distribuição e abundância
distribuição irregular poder-se-á justificar pela na migração pós-nupcial
utilização específica de alguns estratos arbó-
reos e arbustivos onde procura alimento, como Durante a época de migração pós-nupcial
amieiros e bétulas (Catry et al. 2010). Esta espé- esta espécie apenas foi registada de forma
cie ocorre normalmente em bandos que pode- muito irregular e em baixas densidades no
rão conter números superiores a 30 indivíduos, território de Portugal Continental. Os registos
e muitas vezes integra bandos com outras efetuados nesta época deverão corresponder à
espécies de fringilídeos. chegada das primeiras aves invernantes.

Não foi registada no arquipélago dos Foi registada no arquipélago da Madeira,


Açores, onde ocorre acidentalmente. Foi regis- apenas na ilha da Madeira.

576 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 577


Pintassilgo
Carduelis carduelis

IMAGEM
Andy Hay
rspb-images.com

TEXTO
Frederico Lobo

Modelação

I NV ERN O

Distribuição e abundância Distribuição e abundância


no inverno na migração pós-nupcial
Durante o Inverno esta espécie foi observada Esta espécie durante o período de migra-
em todo o território de Portugal Continental, ção pós-nupcial foi registada em todo o territó-
sendo no entanto mais abundante na zona Centro rio de Portugal Continental, com uma abundância
e Sul do País. Este facto deve-se a uma tendên- muito homogénea, à exceção do litoral Noroeste. M I GRA ÇÃ O PÓS- N U PCIA L
cia populacional de migração para sul de forma Observada regularmente tanto em zonas urbanas
a evitar condições climatéricas invernais, mais como zonas rurais, prefere habitats semiabertos,
adversas a Norte (Catry et al. 2010). Nesta época com formações arbóreas nas redondezas tal como
do ano esta espécie junta-se em bandos, muitas as orlas de carvalhais, pinhais, matas mistas de
vezes com indivíduos de outras espécies de frin- folhosas e resinosas e ainda vegetação ribeirinha,
gilídeos. evitando zonas densamente arborizadas.

Esta ave foi registada em todas as ilhas do No arquipélago dos Açores, durante este
arquipélago dos Açores. No arquipélago da período, não existem registos sistemáticos para
Madeira foi observada na ilha da Madeira e não São Jorge, Pico, Corvo e Flores, tendo os registos
foi registada no Porto Santo, apesar de ali ocorrer adicionais confirmado a ocorrência da espécie nas
como residente. Foi registada nas Selvagens. Flores e no Pico. A não deteção nas restantes ilhas
dever-se-á a limitações na cobertura de prospeção.

No arquipélago da Madeira esta espécie foi


registada nas ilhas da Madeira e do Porto Santo.

578 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 579


Pintarroxo
Linaria cannabina

IMAGEM
Joaquim Antunes

TEXTO
Hugo Sampaio

Modelação

I NV ERN O

Distribuição e abundância Na Madeira, onde também é residente, foi regis-


no inverno tado apenas numa das quadrículas amostradas e não
foi observado em Porto Santo possivelmente por
O pintarroxo é um residente comum em Portu- amostragem insuficiente. Também não foi registado
gal Continental que se distribui de norte a sul do nas Desertas e no arquipélago das Selvagens, onde
território durante o inverno. Contudo obteve-se não se reproduz atualmente, nem no arquipélago
uma visível descontinuidade no distrito do Porto, dos Açores, onde a espécie é acidental.
onde a espécie não foi registada em grande parte
das quadrículas prospetadas. Foi mais abundante
na região do Oeste, na metade norte do distrito Distribuição e abundância
de Vila Real e no Baixo Alentejo, principalmente ao na migração pós-nupcial
longo da costa. M I GRA ÇÃ O PÓS- N U PCIA L
Durante o período de migração pós-nupcial o
Apesar de no nosso país ser considerado resi- pintarroxo distribuiu-se por todo o território continen-
dente, o pintarroxo realiza movimentos fora do tal, mas revelou-se pouco comum na costa Alentejana,
período reprodutor, tornando-se por exemplo no Litoral Centro e no Grande Porto. Pelo contrário foi
menos abundante nos pontos mais elevados do particularmente abundante na região do Oeste e nas
norte e centro do território continental. Durante serras do Marão e do Alvão e em Trás-os-Montes.
o inverno é frequente a formação de bandos de
grande dimensão que se alimentam em áreas aber- Nesta época do ano Portugal recebe indivíduos
tas como terrenos incultos ou lavrados, restolhos migradores de outros países europeus, observan-
e searas, podendo ser observado junto de outros do-se um fluxo migratório predominantemente pelo
fringilídeos (Catry et al. 2010). Nesta época, indi- litoral e durante o mês de outubro, sendo que muitas
víduos oriundos de países do Norte e Centro da aves chegam a atravessar o Estreito de Gibraltar
Europa, cujas populações são total ou parcialmente (Catry et al. 2010).
migradoras, permanecem na península Ibérica e
noutros países da bacia do Mediterrâneo (SEO/ Foi pouco comum na ilha da Madeira e não foi
BirdLife 2012). registado nas restantes ilhas portuguesas.

580 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 581


Cruza-bico
Loxia curvirostra

IMAGEM
Victor Maia

Distribuição e abundância cia por vastas áreas do país (Catry et al. 2010). Distribuição e abundância
no inverno Aparentemente, em nenhum dos dois inver- na migração pós-nupcial
nos deste atlas ocorreu uma “invasão” de
Durante o inverno o cruza-bico foi regis- cruza-bicos. Durante o período pós-nupcial o cruza-bico
tado de forma irregular na metade norte de foi registado, nas visitas sistemáticas, apenas
Portugal Continental, com um único registo Pressupõe-se que os indivíduos invernantes no extremo Norte, nas zonas do Gerês, Alvão
a sul, junto à costa de Oeiras. As maiores sejam provenientes do norte da Europa, refor- e leste de Montesinho. Estas áreas correspon-
abundâncias verificaram-se nas zonas monta- çados em invernos mais severos por aves da dem em parte às áreas de nidificação da espécie
nhosas do Barroso e do Parque Natural de Escandinávia e Rússia, o que leva a um aumento em Portugal, parecendo indicar que os registos
Montesinho, tendo sido registado também do número de efetivos (Catry et al. 2010). nesta altura do ano correspondem essencial-
nas áreas da Peneda-Gerês, Nogueira, Alvão, mente a aves que ainda não abandonaram os
Montemuro, Estrela e Lousã. Esta é uma Não foi registado nos arquipélagos atlân- locais de cria. Houve um único registo adicio-
espécie eruptiva, que em determinados outo- ticos, onde é uma espécie de ocorrência rara nal na península de Sagres, que corresponde
nos e invernos ocorre com alguma abundân- ou acidental. necessariamente a aves em migração.

TEXTO
Domingos Leitão

582 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 583


Dom-fafe
Pyrrhula pyrrhula

IMAGEM
Bruno Maia

TEXTO
Frederico Lobo

Modelação

Distribuição e abundância Distribuição e abundância I NV E R NO


no inverno na migração pós-nupcial
Durante a época de invernada esta espé- Esta espécie foi registada durante a migra-
cie foi registada de forma irregular e em baixas ção pós-nupcial sobretudo no extremo Norte
densidades por todo o território de Portugal do território de Portugal Continental. Esta distri-
Continental. Durante este período é possível buição a Norte coincide grosso modo com a
observar esta espécie em pequenos grupos distribuição da população nidificante no nosso
de dois a seis indivíduos (Pimenta & Santarém território Continental. Os registos adicionais
1996). Estas aves utilizam ambientes florestais corresponderão a indivíduos que já terão come-
densos e sombrios, como carvalhais e matas çado a migração para áreas de invernada.
ribeirinhas, podendo utilizar também matas
mistas de folhosas e de resinosas, ou pinhais Ausente nos arquipélagos dos Açores, das
com sub-bosque denso. Selvagens e da Madeira.

Ausente nos arquipélagos dos Açores, das


Selvagens e da Madeira.

584 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 585


Priolo
Pyrrhula murina

IMAGEM
Pedro Monteiro

Distribuição e abundância nativa (floresta laurissilva) e onde se encon- vação de indivíduos para quem visita a sua área
no inverno tram mais recursos alimentares nesta altura do de ocorrência.
ano (Ramos 2005). A humanização da paisa-
O priolo é uma espécie endémica da ilha gem ao longo dos séculos levou a uma acen-
de São Miguel, Açores, onde ocorre apenas tuada alteração do uso do solo, com perda Distribuição e abundância
na zona montanhosa a leste, correspondente de vastas zonas de laurissilva e com isso redu- na migração pós-nupcial
aos concelhos do Nordeste e da Povoação. zindo também o habitat ideal do priolo. Na
É uma espécie residente e muito associada à última década têm decorrido projectos para O padrão de distribuição não se alte-
floresta nativa dos Açores, a laurissilva. Durante recuperação do habitat do priolo e monitoriza- rou significativamente, mas ocorreu em mais
o inverno as principais áreas de alimentação ção da sua população. A população começou quadrículas do leste de São Miguel do que
estão nas zonas mais interiores da serra da a aumentar, tendo sido estimada em cerca de durante o Inverno. A espécie é sedentária, mas
Tronqueira e Pico da Vara, onde se podem 1300 indivíduos em 2013. Com o aumento da nesta altura do ano ocorre em altitudes mais
encontrar as melhores manchas de vegetação população também tem sido mais fácil a obser- baixas em busca de alimento.

TEXTO
Joaquim Teodósio

586 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 587


Bico-grossudo
Coccothraustes coccothraustes

IMAGEM
Bruno Maia

Distribuição e abundância ocasionados por aves provenientes do estran- tos. De acordo com Catry et al. (2010), não
no inverno geiro, sendo conhecidas recapturas de aves existe evidência de que as populações em
anilhadas na Alemanha e França (Catry et al. Portugal sejam migradoras, uma vez que a
As observações desta espécie ocorreram 2010). Também em Espanha, onde estão regis- espécie pode ser observada durante todo o
essencialmente no Alentejo, Nordeste transmon- tadas 30 recapturas de aves provenientes de ano na maior parte dos locais onde se repro-
tano e serra do Marão, embora também tenham vários países europeus (SEO/Birdlife-anilla- duz. O menor esforço de amostragem e a
sido efectuados alguns registos dispersos miento), a área de distribuição no Inverno não baixa detectabilidade da espécie deverão ter
noutras áreas. Por ser uma ave de difícil deteção, coincidiu com a área de nidificação, havendo contribuído para o baixo número de registos,
devido aos seus hábitos discretos, esta distribui- registos numa área mais extensa (Prieta 2012). face ao atlas das aves nidificantes.
ção deverá estar incompleta. Também no atlas
de Aves Invernantes do Baixo Alentejo, consi-
derou-se que a distribuição da espécie deverá Distribuição e abundância
ser mais contínua do que a obtida, cobrindo por na migração pós-nupcial
isso, grande parte desta região (Elias et al. 1998).
A distribuição observada no período de
Muitos dos registos coincidem com a área migração é semelhante à do período de TEXTO
de nidificação mas outros não, podendo ser inverno, embora com menor número de regis- Carlos Pedro Santos

588 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 589


Escrevedeira-amarela
Emberiza citrinella

IMAGEM
Associação Guarda-Rios
do Lima

Distribuição e abundância sobretudo em zonas serranas. A espécie não foi fringilídeos e outras escrevedeiras poderá difi-
no inverno registada do Sul, apesar de serem conhecidos cultar a detecção desta espécie neste período
alguns registos muito pontuais a Sul do Tejo do ano (SEO/BirdLife 2012).
A escrevedeira-amarela é uma das espécies (por exemplo na zona do Sado, CC Moore, com.
nidificantes com distribuição mais confinada pess.). A sua manifesta raridade não permite
em Portugal Continental, restrita sobretudo extrair muitas informações sobre os habitats Distribuição e abundância
ao sistema montanhoso Peneda-Gerês. No preferidos nesta época do ano, sendo de crer na migração pós-nupcial
decorrer do inverno é ainda mais rara, havendo que sejam zonas agrícolas. Provavelmente no
pouquíssimos registos documentados. Por inverno a espécie apresentará uma distribuição Os escassos registos neste período deve-
exemplo, Pimenta & Santarém (1996) não assi- mais abrangente do que é reflectida por este rão corresponder às áreas de reprodução da
nalam esta espécie para a região da Peneda- Atlas, mas as dificuldades de detecção e algum espécie.
-Gerês. Os registos alcançados neste Atlas desconhecimento por parte dos observadores,
confirmam a sua raridade. A maior parte dos poderão limitar os dados obtidos. Por exemplo, TEXTO
poucos dados obtidos estão na metade norte, a associação desta espécie a bandos mistos de Luís Reino

590 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 591


Escrevedeira-de-garganta-preta
Emberiza cirlus

IMAGEM
Andy Hay
rspb-images.com

TEXTO
Luís Reino

Modelação

I NV ERN O

Distribuição e abundância plo referida para mais áreas do Parque Nacional da


no inverno Peneda-Gerês das que aqui assinaladas (Pimenta &
Santarém 1996). É de crer que a utilização do habi-
Durante o inverno a escrevedeira-de-gargan- tat neste período seja relativamente semelhante
ta-preta foi registada na generalidade do terri- à realizada no período de nidificação. Por conse-
tório, encontrando-se todavia ausente de vastas guinte, na metade Sul do território deverá estar
áreas mais áridas e desarborizadas do interior Sul mais associada a manchas florestais de dimen-
e Centro de Portugal Continental. Também parece são média ou grande, como sejam os montados
ser rara na região do Algarve e nas zonas mais de sobro e azinho, e por vezes montados mistos M I GRA ÇÃ O PÓS- N U PCIA L
arborizadas do litoral Norte e Centro. As maio- com pinheiros, como os da bacia do Sado. Normal-
res abundâncias verificaram-se em grande parte mente habita as orlas destas formações florestais e
do Oeste, Ribatejo, parte do Alto Alentejo, mas agro-florestais (Catry et al. 2010). A Norte parece
também em algumas áreas do interior Norte e preferir zonas de mosaico agrícola, normalmente
Centro. No Sul parecem ainda existir alguns encla- associadas a pequenos bosquetes e a diferentes
ves, como na zona do estuário do Sado, serra do tipos de sebes arbóreas ou arbustivas (veja-se
Cercal e algumas zonas da costa Sudoeste. Todavia por exemplo, Rufino 1989, Reino 1994, Pimenta &
a distribuição desta espécie no inverno deverá ser Santarém 1996).
observada com alguma cautela, não apenas aten-
dendo às dificuldades de detecção nesta época, Distribuição e abundância
sobretudo devido a uma menor actividade vocal, na migração pós-nupcial
mas também em resultado das falhas de cober-
tura em algumas áreas, por exemplo no centro do Durante o período pós-nupcial a espécie apre-
país e noroeste. Nesta última região, ainda que senta uma distribuição semelhante à registada no
pouco abundante, a espécie deverá apresentar período invernal, devendo-se às ausências a falhas
uma distribuição mais completa, sendo por exem- de cobertura e problemas de detectabilidade.

592 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 593


Cia
Emberiza cia

IMAGEM
José Viana

TEXTO
Carlos Pedro Santos

Modelação

I NV ERN O

Distribuição e abundância que poderá explicar a deteção da espécie na região


no inverno de Lisboa, onde não nidifica.

Durante o período de inverno, a cia foi observada


maioritariamente a norte do rio Tejo e nas serras Distribuição e abundância
M I GRA ÇÃ O PÓS- N U PCIA L
algarvias, estando praticamente ausente do Alentejo na migração pós-nupcial
e da região litoral entre Setúbal e Viana do Castelo.
As maiores abundâncias parecem ocorrer nas serras A distribuição neste período é quase idêntica
das regiões Centro e Norte do país. Esta distribuição à registada no período de inverno. Os registos na
corresponde essencialmente à sua área de nidifica- região de Lisboa, em locais que não correspondem
ção, atestando o carácter sedentário desta espécie. aos dos registos de inverno, dever-se-ão a aves que
efetuam alguns movimentos dispersivos de maior
Os registos no litoral alentejano constituem uma longitude, conforme já se tinha referido antes. Em
novidade face ao Atlas de Aves Invernantes do Baixo Espanha, de 13 aves anilhadas, verificou-se que 11
Alentejo (Elias et al. 1998), embora os seus autores permaneceram no mesmo local e duas foram recu-
já apontassem para essa possibilidade. Na Pene- peradas a 65 e 100 km de distância (Telleria et al.
da-Gerês (Pimenta & Santarém 1996) e na serra da 1999). Também não pode ser excluída a possibili-
Estrela (Catry et al. 2010) são referenciados movi- dade de erros de identificação e de introdução de
mentos altitudinais, das serras para os vales, de parte dados para justificar alguns destes registos. Não
da população, no período de inverno. Também são são conhecidos registos de aves estrangeiras recu-
apontadas evidências da existência de movimentos peradas em Portugal ou em Espanha, nem o inverso
dispersivos de alguns indivíduos (Catry et al. 2010), o (Catry et al. 2010); (SEO/Birdlife – anillamiento).

594 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 595


Sombria
Emberiza hortulana

IMAGEM
Joaquim Antunes

Distribuição e abundância Projeto Chegadas da SPEA, o registo mais De acordo com Catry et al. (2010) as
no inverno precoce foi a 26/03/2009 (Feith, 2009). aves começam a migração pós-nupcial em
agosto, mas Pimenta & Santarém (1996) refe-
No período de amostragem de inverno rem a presença da espécie na Peneda-Ge-
deste Atlas apenas foi detetado um indivíduo, a Distribuição e abundância rês até à primeira semana de outubro. Santos
14/02/2013, na costa alentejana. Deverá tratar- na migração pós-nupcial Júnior & Isidoro (1963) anilharam um indivíduo
-se de um indivíduo em migração pré-nupcial desta espécie em setembro, outro em outu-
para norte, dado que a zona onde foi obser- As observações da espécie neste período bro e outro ainda em novembro de 1962, no
vado não está incluída na área de nidificação ocorreram de forma dispersa por todo o país, Mindelo, área onde a espécie não foi detetada
da espécie. Tanto no Atlas das Aves do Baixo com exceção da região noroeste e do baixo no âmbito deste Atlas. Em 1959 foi também
Alentejo (Elias et al.1998) como no Atlas de Aves Alentejo. As observações realizadas em agosto anilhado um indivíduo em dezembro (Isidoro
Invernantes de Espanha (SEO/Birdlife 2012), a registaram-se todas a norte do rio Tejo, maio- 1960). É provável que uma parte dos migra-
espécie não é referida. Este registo será um dos ritariamente na área de nidificação da espécie, dores de passagem seja originária de outros
mais prematuros até agora conhecidos para a no interior Centro e Norte. As observações em países europeus, sendo conhecida a recap-
espécie em Portugal, em conjunto com a anilha- datas posteriores ocorreram tanto na área de tura de uma ave anilhada na Suécia (Catry et
gem de duas aves na Reserva Ornitológica do nidificação como mais a sul, quer na zona lito- al. 2010). Em Espanha, estão registadas 10
Mindelo em Fevereiro de 1962 (Santos Júnior & ral quer no interior. Isto parece demonstrar recapturas de indivíduos provenientes de
Isidoro 1963). De acordo com Catry et al. (2010) que a espécie poderá utilizar várias rotas de vários países europeus e também de uma
existem observações da espécie no sul do país migração, não sendo possível concluir por uma ave anilhada em Lagos (SEO/Birdlife - aAnilla-
a partir de meados de março e, no âmbito do rota preferencial. miento).

TEXTO
Carlos Pedro Santos

596 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 597


Trigueirão
Emberiza calandra

IMAGEM
Faísca

TEXTO
Joana Santana

Modelação

I NV ERN O

Distribuição e abundância de Portugal Continental deverão ser maioritaria-


no inverno mente constituídas por aves residentes na Penín-
sula Ibérica (Catry et al. 2010). Contudo, algumas
O trigueirão foi registado no Sul e interior aves poderão ser provenientes do norte da Europa
Norte, ocorrendo pontualmente nas regiões do (Elias et al. 1998).
litoral Norte e Centro do território de Portugal
Continental. Este padrão de ocorrência é aparen- M I GRA ÇÃ O PÓS- N U PCIA L
temente modelado pelo clima, evitando as regiões Distribuição e abundância
de maior influência atlântica onde a precipitação na migração pós-nupcial
é mais elevada; mas também pelo habitat, prefe-
rindo áreas abertas em detrimento de áreas muito Durante o período pós-nupcial os padrões de
arborizadas. A ocorrência do trigueirão durante ocorrência do trigueirão são muito semelhantes aos
o inverno é também condicionada pela altitude, do inverno, ocorrendo no sul e interior Norte, com
estando genericamente ausente nas terras mais ocorrência pontual no litoral Norte e centro do terri-
altas, nomeadamente das serras da Peneda-Ge- tório de Portugal Continental. Tal como no inverno,
rês (Pimenta e Santarém 1996), da Nogueira, da esta espécie é mais abundante a sul do rio Tejo, no
Estrela (Catry et al. 2010) e da Malcata (Silva 1998). Alto Alentejo (por exemplo Ponte de Sor e Alter do
As maiores abundâncias do trigueirão verificam- Chão), mas também do Baixo Alentejo (por exem-
-se assim a sul do rio Tejo, sendo particularmente plo Mourão, Castro Verde e Sines). São conhecidos
abundante nas áreas agrícolas abertas e planas grandes movimentos de migração pós-nupcial de
do Alto Alentejo e em algumas regiões do Baixo abandono das terras altas do Centro e Norte de
Alentejo, nomeadamente em Fronteira, Campo Portugal Continental, distribuindo-se pela sua área
Maior, Elvas e Moura. As populações invernantes de ocorrência de inverno (Catry et al. 2010).

598 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 599


Escrevedeira-dos-caniços
Emberiza schoeniclus

IMAGEM
Faísca

Distribuição e abundância pode ser muito abundante, aglomerando-se chegam a Portugal em outubro mas a grande
no inverno centenas de indivíduos em dormitórios de onde maioria dos indivíduos apenas em novembro
dispersam para se alimentar. Este comporta- (Neto et al. em preparação). Consequente-
Em Portugal ocorrem duas subespécies de mento dificulta a determinação de padrões mente, durante o período migratório pós-nup-
escrevedeira-dos-caniços, a subespécie nomi- geográficos de abundância, para o que seria cial esta espécie foi detectada principalmente
nal, que é exclusivamente invernante, e a subes- necessário um censo dirigido a esta espécie. nos locais onde reside em Portugal (subespé-
pécie E. s. lusitanica, que é residente (Neto et cie lusitanica), sendo particularmente abun-
al. 2013). Esta espécie ocorre principalmente dante na região de Aveiro. Os registos obtidos
em zonas de caniçal, mas a espécie nominal Distribuição e abundância durante este período fora dos locais de nidifica-
usa frequentemente os campos agrícolas adja- na migração pós-nupcial ção são escassos, compreendendo apenas os
centes para se alimentar. Durante o inverno foi migradores mais precoces.
detectada em todas as zonas húmidas do lito- Os primeiros migradores (da subespé-
ral, bem como em alguns locais no interior onde cie nominal), originários do Norte de França, TEXTO
existem manchas de caniço. Em alguns locais Alemanha, Polónia, Suécia e República Checa, Júlio Manuel Neto

600 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 601


Escrevedeira-das-neves
Plectrophenax nivalis

IMAGEM
Ben Andrew
rspb-images.com

TEXTO
Carlos Godinho

Distribuição e abundância além dos detectados neste atlas: Lagos, cabo Nos Açores, onde é conhecida a ocorrên-
no inverno de São Vicente, cabo Raso, cabo Carvoeiro, cia regular da espécie (Bolton et al. 2001), foi
Peniche, barrinha de Esmoriz, estuário do detectada em todos grupos. À semelhança
A escrevedeira-das-neves é uma espé- Douro, Póvoa do Varzim e Viana do Castelo. do que aconteceu no continente, os regis-
cie exclusivamente invernante em Portugal. No interior do território a maioria das obser- tos adicionais foram fundamentais para aferir
A maioria das suas populações, oriundas do vações situa-se na Serra da Estrela, sendo este a distribuição da espécie. Os dados obtidos
norte da Europa e da Gronelândia, é migra- provavelmente o local mais regular de inver- no período do atlas, bem como em invernos
dora, situando-se o norte de Portugal no nada, existindo observações em pelo menos anteriores, confirmam o estatuto de invernante
extremo sul da sua área de invernada (Rising nove dos últimos 15 invernos (Catry et al. 2010, regular da escrevedeira-das-neves nos Açores.
2011). É uma espécie típica de montanha que eBird/PortugalAves 2015). A espécie foi observada no Corvo, Flores,
no inverno pode ocorrer desde as serras altas Faial, Graciosa, Terceira e Santa Maria.
até à costa, onde frequenta zonas rochosas e A espécie pode ser observada em Portu-
sistemas dunares (SEO/BirdLife 2012). Durante gal Continental entre outubro e março (existe
os trabalhos deste atlas foi observada em seis apenas um registo em setembro – Catry et al. Distribuição e abundância
quadrículas no continente: serra do Larouco, 2010), sendo que o período ideal deverá situar- na migração pós-nupcial
foz do Cávado, serra da Estrela e Vila Real de -se entre outubro e janeiro, sendo novembro o
Santo António. A escrevedeira-das-neves é mês com maior número de observações (dados Esta espécie não foi detectada neste período
uma invernante regular em Portugal, podendo até 2007 – Catry et al. 2010, dados 2009-2014 de amostragem.
ocorrer em diversos locais ao longo costa, - eBird/PortugalAves 2015).

602 Espécies regulares • Passeriformes


Continente

MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIAL
INVERNO

Açores

Madeira

Espécies regulares • Passeriformes 603


604 Parceiros
Espécies
com poucos
registos

Trepadeira-dos-muros
© Imran Shah

Parceiros 605
Espécies com poucos registos

Faisão Franga-d’água-grande Mainato-indiano


Phasianus colchicus Porzana porzana Acridotheres tristis

Esta espécie de origem asiática é utilizada A franga-d’água-grande é uma espécie Esta espécie de origem asiática foi observada
em largadas com fins cinegéticos por todo o rara no nosso país, cuja distribuição e estatuto na zona da Grande Lisboa, mais concretamente
país. As aves que sobrevivem a estas activida- fenológico não estão bem definidos (Catry et nos jardins de Carcavelos.
des estão provavelmente na origem de diver- al. 2010). Estes factos aliados às dificuldades
sos registos ao longo de todo o ciclo anual. na sua detecção levaram a que apenas tivesse
Durante os trabalhos do presente atlas a espé- havido dois registos durante o presente atlas.
cie foi registada em ambas as épocas de amos- Esta será uma espécie maioritariamente migra-
tragem. No Inverno foi observada em duas dora de passagem, havendo contudo indícios
quadrículas, uma no Minho (Viana do Castelo) de invernada de alguns indivíduos. A espécie
e outra na Beira Litoral. Na época de migra- foi observada no inverno no interior alentejano
ção existe um registo na Beira Baixa e outro no e durante a migração na lagoa de Albufeira.
Sotavento Algarvio.

Papagaio-do-mar
Fratercula artica

Esta ave marinha pelágica inverna ao


largo da costa portuguesa. A escassez
de observações deve-se à inadequação
da metodologia deste atlas para as aves
pelágicas e às dificuldades em observar esta

© Dave Curtis
espécie a partir da costa. Foi registada em
apenas três locais da costa ocidental (Peniche,
Cascais e Santiago do Cacém).

Periquito-de-cabeça-azul
Psittacara acuticaudata
© Dean Morley

Durante os trabalhos de campo do presente


atlas foi apenas obtido um registo desta
espécie exótica de origem sul-americana. Este
teve lugar no período de inverno em Lisboa,
onde aliás nidifica.

Pato-mudo
Cairina moschata
Periquito-da-guiné
Esta espécie oriunda da América do Sul é Poicephalus senegalus
frequentemente mantida em cativeiro, exis-
tindo diversos registos de aves em liberdade. Esta espécie de origem africana foi detectada
© Tony Smith

Durante os trabalhos de campo a espécie foi por duas vezes em Lisboa, reflectindo um
observada no Minho e Beira Baixa, durante o padrão comum a várias das espécies exóticas
Inverno, e no Porto e Póvoa do Varzim durante observadas durante os trabalhos do atlas.
a migração.

606 Espécies com poucos registos


Falaropo-de-bico-grosso Perdiz-do-mar
Phalaropus fulicarius Glareola pratincola

O falaropo-de-bico-grosso é uma espécie A migração pós-nupcial da perdiz-do-mar


migradora de passagem essencialmente ocorre bastante cedo (Catry et al. 2010), pelo
pelágica existindo contudo alguns registos que a maioria dos efectivos desta espécie
ao longo da costa e inclusive no interior do podia já ter deixado o nosso território no
território nacional (Catry et al. 2010). Durante o período de amostragem considerado (agosto
presente atlas foi efectuada uma observação, – outubro). A única quadrícula onde a espécie
durante o período de migração, na foz do rio foi detectada no período de migração situa-se
Sizandro (Torres Vedras). no Alto Alentejo, coincidindo com a área de
nidificação conhecida.

© Radovan Václav
Picanço-de-dorso-ruivo
Lanius collurio

Foram efectuadas quatro observações


de picanço-de-dorso-ruivo no período de
migração, três das quais a norte do rio Douro,
coincidindo com as áreas conhecidas de
reprodução da espécie: uma no Parque Natural Caturrita
do Alvão e duas no Parque Nacional Peneda- Myiopsitta monachus
Gerês. É conhecido que a rota principal de
migração da espécie não passa pelo sul de As observações de caturrita, uma espécie
Portugal, pelo que registos fora das áreas de exótica proveniente da América do Sul,
nidificação são raros, tendo existido apenas restringiram-se à zona de Lisboa, onde são
uma observação no sul do país. conhecidos alguns registos nos últimos anos
© Santiago Garcia Velasco

(Catry et al. 2010, Matias 2002).

Felosa-pálida
Iduna opaca

A felosa-pálida é uma espécie muito rara


em Portugal, e de difícil identificação devido
a semelhanças com a felosa-poliglota. Fora do
© Radovam Václav

período de reprodução este facto agrava-se


uma vez que o comportamento vocal diminui
substancialmente. Estes factores contribuíram
para que a espécie apenas fosse detectada
© JRxpo

numa quadrícula, na albufeira do Caia - distrito


de Portalegre.

Espécies com poucos registos 607


Espécies com poucos registos

Periquito-comum Trepadeira-dos-muros
Melopsittacus undulatus Tichodroma muraria

Exceptuando um registo no inverno na Todas as observações desta espécie foram


Azambuja todas as observações desta espécie efectuadas na barragem de Santa Luzia –
de origem australiana tiveram lugar na zona da Pampilhosa da Serra. Este é um local onde se
Grande Lisboa. Os indivíduos vistos em liber- conhecem registos frequentes de invernada da
dade no nosso país são todos oriundos de trepadeira-dos-muros, tendo sido observada
fugas de cativeiro. em pelo menos nove dos últimos 15 invernos
(Catry et al. 2010, PortugalAves/eBird 2015).

© Sergey Yeliseev
Chasco-preto
Oenanthe leucura

As observações de chasco-preto restringem-


se aos núcleos identificados no Atlas das Aves
Nidificantes, Vale do Douro e seus afluentes e
Tejo Internacional. No período do inverno as
observações foram todas no Vale do Douro,
enquanto na migração existe um registo próximo
© Heather Paul

do núcleo do Tejo Internacional. O reduzido


número de registos em ambas as épocas pode

© Imran Shah
ser um reflexo do declínio da população.

Rouxinol-do-mato
Cercotrichas galactotes Calhandrinha-
-das-marismas
Apesar de ser um migrador tardio e a sua
Calandrella rufescens
vocalização poder ser ouvida em meados
de agosto, durante os trabalhos deste
atlas a espécie apenas foi detectada numa As observações de calhandrinha-das-ma-
quadrícula no Sul do país. Este facto pode rismas, em ambos os períodos do atlas, ocor-
estar relacionado (1) com o reduzido número reram naquela que é a sua área principal de
de quadrículas amostradas no início de ocorrência em Portugal - Reserva Natural do
© Dean Morley

agosto e/ou (2) com uma falha nos habitats Sapal de Castro Marim e Vila Real de Santo
prospectados. Esta observação enquadra- António, e suas imediações.
se na área de distribuição de nidificação da
espécie.

608 Espécies com poucos registos


Picanço-de-dorso-ruivo
© Nik Borrow

Espécies com poucos registos 609


Tarambola-dourada © Andy Hay
rspb.images.com

610 Parceiros
Referências
Bibliográficas

Parceiros 611
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