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P R O J E T O

AVES DE PARATY
U M A C I DA DE OB SE RVA DOR A DE AV E S
Associação Cairuçu
A Associação Cairuçu é uma ONG. Nasceu em
2002, quando um grupo de pessoas do Condomínio
Laranjeiras resolveu trabalhar para superar alguns
2 desafios sociais e ambientais da região.
São pessoas encantadas pelas belezas de Paraty, que
sempre apostam na ideia de somar esforços com o poder
público, com os moradores e com outras ONGs, para fazer
da cidade um lugar ainda melhor para se viver.
Nesse movimento, a Associação Cairuçu cresceu e
hoje é uma importante organização social da região,
com projetos nas áreas de educação, de promoção
da saúde, do turismo sustentável e do esporte. Várias
atividades são oferecidas gratuitamente para moradores
de diferentes regiões que compõem o município.
Turismo Sustentável Os primeiros esforços
Depois que o trecho da BR-101, entre o litoral de São Um dos projetos de turismo sustentável de Paraty foi
Paulo e Rio de Janeiro foi concluído, nos anos 70, mais realizado pela Associação Cairuçu em 2003. A idéia foi
conhecido como Rodovia Rio-Santos, o número de pessoas auxiliar moradores da região a se capacitarem para receber
que procuraram conhecer Paraty aumentou. Ou seja, a turistas em passeios na natureza. Assim surgiu o primeiro
estrada facilitou a vinda das pessoas das capitais do Sudeste Curso Básico de Monitores Ambientais, realizado em
para o litoral paratyense e, como o lugar é bonito, muita parceria com o Conselho Nacional da Reserva da Biosfera
gente decidiu fixar residência e morar ali. Em 20 anos, a da Mata Atlântica. O curso foi aberto para jovens de Paraty
população do município praticamente dobrou de tamanho. e apresentou muitos temas ambientais, educacionais e
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E no verão, curtir Paraty ganha um significado ainda mais profissionalizantes, todos com foco no turismo sustentável.
especial, com turistas vindos de todo o Brasil e do mundo. Entre 2003 e 2005, foram realizados outros encontros
Por melhor que sejam as intenções de todos de capacitação, o que resultou na formação de cerca de
(visitantes e moradores), esse volume de pessoas 50 monitores ambientais. Foi um projeto importante
atinge os ambientes naturais e urbano de Paraty, o que e inovador que até hoje rende frutos para a cidade.
acaba interferindo na harmonia local, impactando a Algum tempo depois, nos anos de 2010 a 2013, outro
natureza e a tranquila vida dos moradores da região. projeto para o município e para as Unidades de Conservação
E foi assim que a Associação Cairuçu se preocupou locais, como a APA do Cairuçu e o Parque Nacional da Serra
em trabalhar a ideia do turismo sustentável, isto é, da Bocaina, foi desenvolvido pela parceria técnica entre a
em pensar projetos que, junto com o poder público Fundação SOS Mata Atlântica e a Associação Cairuçu: o de
e com os moradores, ajudem Paraty a construir um Estudos de Capacidade de Suporte da Região Sul do Litoral
turismo de qualidade, para que todos possam usufruir de Paraty. Foram realizados mapeamentos e levantamentos
desse lugar da melhor forma possível, com segurança, para entender quantas pessoas um lugar pode receber, sem
respeito à cultura local e à preservação ambiental. que venha a ser degradado. Hoje, existem diversas iniciativas
de turismo sustentável na cidade, envolvendo universidades
e ONGs, como os projetos de Turismo de Base Comunitária
(realizados pelo Fórum de Comunidades Tradicionais e
Unidades de Conservação) e os Planos de Gestão Municipal
de Turismo (gerenciados pela Prefeitura, pelo Conselho
Municipal de Turismo e pelas Unidades de Conservação).
Projeto Aves de Paraty
E ntre tantos animais que vivem na Mata Atlântica, as
aves são ótimos exemplos para se compreender
a riqueza da biodiversidade que existe neste bioma.
Seguindo no caminho do Turismo Sustentável, as aves
chegaram voando na Associação Cairuçu, encontrando pessoas
Das 1.919 espécies registradas no Brasil, 891 que as receberam de braços e corações abertos. Em 2012, com
espécies vivem na Mata Atlântica, portanto, nesse o real desejo de realizar um projeto sobre as aves de Paraty que
ecossistema, estão aproximadamente 45% das reunisse a importância da beleza e diversidade desses animais
espécies do país. De todas as aves brasileiras, ao desenvolvimento social e ambiental da região, uma equipe
213 são exclusivas da Mata Atlântica - elas são as foi formada por profissionais e voluntários da ONG. Seria um
chamadas aves endêmicas. O resultado é que a Mata projeto inovador para todos os envolvidos, e fundamental para
Atlântica abriga uma das maiores concentrações o fortalecimento da observação de aves na Mata Atlântica.
de espécies de aves por quilômetro quadrado do Contando com Daniel Cywinski e Sylvia Junghähnel, foi
mundo e, por isso, é considerado um dos melhores possível a construção de um projeto singular sobre as aves da
biomas para a prática da observação de aves. região. Para isso, ambos foram em busca de referências e de
  lugares que pudessem fortalecer as ideias sobre a observação
“A Mata Atlântica consegue a façanha de compactar de aves de forma séria e contextualizada. Visitaram programas
uma megabiodiversidade em um espaço pequeno.” das cidades de Ubatuba, de São Paulo e nos estados do
Ornitólogo Luciano Lima Mato Grosso, do Rio Grande do Sul e até mesmo fora do
Observatório de Aves do Instituto Butantan
país. Nessa última estada, pousaram em San Martín de Los
Andes, na Patagônia Argentina, onde acontecia a Feira de
4 Aves da América do Sul 2012 (Feria de Aves de Sudamérica).
Em contato com profissionais da Argentina, do Chile,
S egundo os novos estudos, existem
aproximadamente 18 mil espécies de aves no
mundo. O Brasil, com 1.919 espécies, é o segundo
da Colômbia e de alguns países da Europa, descobriram
objetivos comuns e informações essenciais para o projeto
país com maior número, atrás apenas da Colômbia. que nascia com o nome de Projeto Aves de Paraty. Não
A Bird Life International, que é a maior autoridade em havia dúvidas sobre os benefícios para a região, tanto para
aves do mundo, cria a chamada “lista vermelha”, isto a educação quanto para o desenvolvimento social e para o
é, a lista das aves ameaçadas de extinção. O Brasil meio ambiente e suas espécies, como para o fortalecimento
se mantém há muitos anos como o país com o maior de propostas para o turismo que preserva a vida.
número de espécies ameaçadas. São 174 espécies de Agregar valores ao patrimônio socioeducativo,
aves globalmente ameaçadas de extinção no Brasil, o cultural e ambiental da região paratyense via a prática
que representa 12% das aves ameaçadas do planeta! da observação das aves foi a base da missão do Projeto.
Colocar Paraty nos mapas nacional e internacional de
Referência: Save Brasil
birdwatching (observação de aves) foi o grande desafio.
Ficou claro que Paraty poderia se tornar um dos lugares mais
importantes do Brasil para essa prática de turismo e de estilo
de vida que já naquela época crescia muito em todo o mundo.
Mas, o melhor de tudo, foi descobrir que a floresta de
Paraty, a Mata Atlântica, é um dos melhores lugares do
Formigueiro-de-cabeça-negra (macho) mundo para o turismo de observação de aves e, ao mesmo
Formicivora erythronotos
Foto © Irmãos Mello
tempo, é um dos biomas que mais precisa de preservação.
Por tudo isso, o projeto se tornava tão importante e urgente.
A educação em uma cidade observadora de aves
Como a Associação Cairuçu tem experiência com
educação, naturalmente o Projeto Aves de Paraty começou
focado em encontrar maneiras de realizar ações educativas
com crianças, e entrar nas escolas com o tema das aves.
Além disso, era importante conversar com donos de
pousadas e agências de turismo sobre o potencial da
observação de aves como atividade turística. Os guias de
turismo, as pessoas da Prefeitura e os responsáveis pelas
reservas de floresta de Paraty, as Unidades de Conservação,
também precisavam participar do projeto. A tarefa parecia
enorme, mas a vontade em fazer e os pontos positivos
da região como celeiro de diversidade de aves foram
fundamentais para continuar. Iniciou-se, então, um projeto
único que, em poucos anos, conquistou resultados positivos.
Os objetivos principais do Projeto Aves de Paraty
- atuar no turismo, na educação e na preservação -
eram ousados e, para alcançá-los, sabíamos que seria
necessário um bom tempo para semear e, então, colher.
A colheita seria criar uma “cidade observadora de 5
aves”, um lugar onde todos os moradores valorizassem
as aves livres na natureza, reconhecessem esses animais
e a floresta onde vivem como um rico e exclusivo
patrimônio natural, cuja proteção e preservação
dependem de muito carinho e dedicação.
Festival Aves de Paraty

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Vinculado ao Projeto Aves de Paraty nasce um
evento. E que evento! O Festival Aves de Paraty.
Com foco em dar visibilidade ao tema na cidade, a
Associação Cairuçu convidou especialistas em observação
de aves, promovendo uma espécie de congresso
científico com formato descontraído, aberto a todos os
moradores e visitantes. E, acreditando que seu maior
público de divulgação seriam os alunos e professores das
escolas locais, buscou promover, durante o encontro,
atividades de educação ambiental e conscientização
sobre a biodiversidade das aves na região. Foi notável a
mobilização de parceiros para a realização do primeiro
Festival Aves de Paraty, o FAP, como se tornou conhecido.
Curso Infraestrutura para Observação de aves com Tietta Pivatto, em 2014
A Fundação SOS Mata Atlântica foi uma das primeiras
parceiras, juntamente com a Avistar, que há anos realiza
eventos similares em São Paulo e Rio de Janeiro, bem como
o Instituto Butantan do Estado de São Paulo, as Unidades
de Conservação governamentais e a Prefeitura de Paraty.
Foram muitas adesões voluntárias, muitas pessoas que se
tornaram amigas do FAP e que até hoje apoiam o projeto.
Durante o Festival Aves de Paraty de 2013 foi realizado
o primeiro curso de Infraestrutura para Observação 7
de Aves, ministrado pela professora Tietta Pivatto,
especialista do município de Bonito (Mato Grosso do Sul),
cidade referência em turismo ordenado e sustentável.
Foram cerca de 15 participantes, alguns guias de
turismo local e monitores ambientais que haviam
participado das formações anteriores da Associação Saída para observação de aves na estrada da Pedra Branca
Cairuçu. Naquele ano de 2013, o FAP foi realizado
no Morro do Forte de Paraty, numa parceria com
o Instituto Brasileiro de Museus (Ibram).
O primeiro FAP contou com mais de 700 crianças e
professores de diversas escolas de Paraty, que participaram
do circuito de atividades educativas, como palestras,
oficinas e saídas de observação guiadas por especialistas.
Considerado um sucesso, o primeiro FAP teve a
participação de observadores de aves e de ornitólogos
de todo o Brasil, como Luciano Lima, Guto Carvalho,
Martha Argel, Juan Pablo Culasso (Uruguai), entre outros.
O reconhecimento do FAP para o município de
Paraty veio através da Secretaria de Turismo, cuja
decisão foi incorporar o Festival Aves de Paraty
no Calendário Anual Cultural da cidade. Primeira saída para Observação de Aves do COA Paraty
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Festival Internacional na estrada Paraty-Cunha
Nos anos de 2014 e 2015, o Festival Aves de Paraty Horácio Matarasso, da Argentina, que propôs que
foi realizado em um local de eventos na Estrada o evento, no ano seguinte, acontecesse em Paraty.
Paraty-Cunha, no bairro da Ponte Branca. Foi uma E assim, em 2015, o Festival Aves de Paraty teve
experiência inovadora realizar o evento distante do caráter sul-americano, recebendo observadores de aves
Centro Histórico. A proposta foi ousada, pois não de todo o continente, participantes que se encantaram
seguia o costume da cidade em concentrar os eventos com toda a região e, claro, com a imensa diversidade de
na região central e histórica. O segundo FAP foi, então, aves. Foi marcante o reconhecimento desses incríveis
o evento pioneiro do Calendário Cultural da cidade observadores sobre a quantidade, diversidade e cores
a acontecer num bairro afastado, na região das matas das aves da Mata Atlântica, bem como a facilidade de
e cachoeiras. Foi no ano de 2014 que o FAP recebeu observá-las na região das praias, na preamar, além de
a visita do presidente da Feria de Aves de Sudamérica, constatarem aves de média e de grande altitude.

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Diferenças de altitude

É um fator muito importante para a observação de


aves. São raros os lugares na Mata Atlântica que
possibilitam, como Paraty, que uma pessoa num mesmo
dia, observe aves ao nível do mar e, ao longo do mesmo
dia, alcance altitudes acima dos 1.500 metros. Isso
cria uma grande possibilidade de observar diferentes
espécies, pois a cada 300 metros de altitude, em
média, surgem novos grupos de espécies de aves.
Assim, um observador percorrendo a estrada Paraty-
Cunha, consegue ao longo de um único dia, iniciar suas Estudantes chegam para atividades educativas no FAP 2015
observações nos manguezais e áreas costeiras de
Paraty, ao nível do mar, e terminar na divisa com Cunha,
na Pedra da Macela, a 1.600 metros de altitude. Essa
característica de Paraty proporcionou condições para
que, em 2015, um grupo local, liderado pelo ornitólogo
Luciano Lima, observasse 225 aves em menos de
24 horas, obtendo um dos melhores resultados da
competição mundial de observação de aves, o Global Big 11
Day. O resultado chamou a atenção dos observadores
de aves do mundo todo, despertando a curiosidade
e interesse sobre esse lugar chamado Paraty.

Global Big Day Palestra com o ornitólogo Luciano Lima

U ma vez por ano, observadores de aves de todos


os cantos do mundo se esforçam para registrar o
maior número de espécies possíveis em 24 horas. O
grande e aguardado dia é conhecido como Global Big
Day e acontece sempre em maio. O evento é organizado
desde 2015 pelo Laboratório de Ornitologia de Cornell
(EUA) e tem alcançado números recordes a cada edição.
Em 2018, 28 mil pessoas de todos os continentes
participaram do Global Big Day. Juntas, registraram
6.899 espécies de aves. Ou seja, em apenas um dia foi
possível coletar dados de aproximadamente 70% de
todas as espécies de aves que existem no planeta!

A Roda de Passarinho no Festival de Aves de Paraty 2015


Festival da família e da fotografia no Morro Forte

Nos anos de 2016 e 2017, o Festival Aves de Paraty voltou


a ocorrer no Morro do Forte. Nesses dois anos, a marca do
festival foi, mais uma vez, a grande participação das crianças
no circuito de atividades educativas. No entanto, deve-se
dar destaque para a grande participação dos moradores
de Paraty. Consagrava-se, assim, o FAP na cidade, que ao
longo de quatro dias contou com os próprios paratyenses
para compor o ambiente com a alegria de suas famílias que
passaram o dia brincando e curtindo as atividades educativas
e de entretenimento. O FAP ganhou um astral de programa
familiar, um lugar de encontros em torno do tema das aves.
Além disso, em 2016 o FAP foi realizado junto com o
festival de fotografia da cidade, o Paraty em Foco. Essa
junção foi muito positiva, pois os eventos tinham muito a
acrescentar um ao outro, especialmente no segmento da
fotografia. O FAP levou para o Paraty em Foco encontros
importantes com a presença dos fotógrafos de natureza
Demonstração de anilhamento de aves, FAP 2016 João Quental e João Marcos Rosa, bem como o diretor da
Avistar Brasil, Guto Carvalho. Foi um momento muito
especial, marcando o tema da fotografia da natureza no
ano do maior evento de fotografia da América Latina.
Ainda em 2016, o FAP recebeu a Exposição Beleza
Ameaçada, do fotógrafo Tony Genérico. O sucesso
da exposição foi o encantamento de todos com a
técnica exclusiva dos “splashes”, desenvolvida e adaptada
para a fotografia de aves. A parceria entre os eventos
foi tão boa que o modelo se repetiu em 2017.
Nestes dois anos o FAP
se concretizou, tornando-se
bastante conhecido
pelos observadores de aves
de todos os cantos
do Brasil. E, então, aconteceu
algo inegavelmente distinto,
tornou-se base para um evento
similar para a cidade de
Porto Seguro (Bahia).
Atividade no manguezal Terra Nova durante o FAP 2017 Cidade do início... da história!
Nasce o Festival de Aves de Porto Seguro

Em 2018, a cidade de Porto Seguro (Bahia) fez seu cercadas pelo bioma Mata Atlântica. Apesar de possuírem
primeiro festival de aves. O evento nasceu pela participação características biológicas peculiares às suas regiões, há
de integrantes da cidade de Porto Seguro no FAP 2017.  pontos semelhantes entre as aves das florestas da costa da
O Festival de Aves de Porto Seguro procurou seguir o cidade de Porto Seguro e as aves encontradas nas matas
modelo de Paraty, organizando um circuito de atividades de Paraty, tais como diversidade de espécimes e cores.
para crianças das escolas da cidade, contando com Além das semelhanças das aves em suas regiões, deve-
palestras, oficinas e saídas para observação. As duas cidades se destacar que as duas cidades históricas brasileiras
possuem características semelhantes. Ambas possuem possuem ainda mais convergências, como a presença
patrimônios históricos seculares e são cidades à beira mar, de populações tradicionais (indígenas e caiçaras) nas
proximidades de suas unidades de conservação. E os
desafios são os mesmos: equilibrar o desenvolvimento
humano, o turismo e a preservação da natureza.
Os organizadores dos dois eventos uniram
esforços e conhecimento, o que é fundamental para
a consolidação da irmandade entre os eventos de
observação de aves em Porto Seguro e Paraty.
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O Festival de Aves
ocupa o Centro
Histórico
Em 2018, o Festival Aves de Paraty desceu a montanha
do Morro do Forte para ocupar o Centro Histórico de
Paraty, sendo montado no Largo de Santa Rita, uma linda
14 praça que é um dos cartões postais da cidade histórica.
Em parceria com o Sesc e a Prefeitura de Paraty, o evento
ganhou um novo formato e outra dimensão. E mais uma vez
contou com uma exposição fotográfica. O convidado foi o
fotógrafo de natureza João Quental. Suas fotos retrataram as
Aves da Mata Atlântica, espécies existentes no trecho sudeste
deste bioma. Neste ano, o festival escolheu o manguezal
Terra Nova do Centro Histórico, como o local para as
atividades educativas. Nesse espaço, rico para a observação
de aves, as crianças vivenciaram experiências utilizando
binóculos, acompanhadas por educadores especializados.
Uma das novidades em 2018 foi o Passaporte FAP, um
livreto que as crianças receberam na chegada do evento
como apoio e roteiro para as suas atividades. O passaporte
permitiu o registro dos desafios vencidos por cada uma das
crianças participantes. Às atividades educativas somaram-
se palestras, saídas para observação, espetáculos de teatro,
música e dança, e as presenças de convidados especiais,
como as cobras do Instituto Butantan, trazidas de São Paulo
para o reconhecimento de sua importância na natureza.
Festival Aves de Paraty
sai do ninho da Cairuçu
Desde 2018, a Associação Cairuçu vem
procurando refletir sobre uma decisão muito
importante, a de ampliar o FAP no mundo.
Para isso seria necessária a transferência de coordenação
do evento. Uma das ideias seria passá-lo oficialmente
para a cidade, num reconhecimento de que o festival
pertence a Paraty. Além disso, o FAP deveria alcançar sua
sustentabilidade, nova gestão, novos parceiros e identidade
autônoma. Esse caminho não parecia fácil e, como um
pássaro que aprende a voar, havia incertezas. Mas, era
o momento de saltar, de forma segura e confiante.
Assim, a coordenação do Festival Aves de Paraty
iniciou diálogos com o Sesc Paraty - que em 2018 já
havia acolhido o evento com o Clube de Observadores
de Aves de Paraty e outros amigos e parceiros. O
interesse de todos os envolvidos resultou em uma
nova etapa de vida para o Festival Aves de Paraty. 15
Aves da Minha Escola
O Projeto Aves da Minha Escola (AME) surgiu em
2015, como uma ação integrada ao FAP. A ideia foi
levar para dentro das escolas municipais de Paraty uma
ação de educação sobre o tema das aves, que aconteceria
durante os oito meses do ano letivo. Ao surgir, a meta do
projeto era que em alguns anos o Aves da Minha Escola
pudesse percorrer toda a rede municipal de educação,
marcando presença em todas as 34 escolas municipais.
Hoje, pode-se afirmar que Paraty é a primeira cidade
brasileira a ter um projeto de educação ambiental com o
tema das “aves livres” em todas as escolas municipais.
Entre os anos de 2015 e 2019, o projeto percorreu
19 escolas com ações semanais, mantidas ao longo do
ano letivo de maneira transversal ao currículo escolar,
envolvendo alunos, professores e gestores escolares.
O Aves da Minha Escola é uma atividade lúdica, que
trabalha com o tema da riqueza da diversidade de aves
da Mata Atlântica e, mais que tudo, estimula a percepção
16 da beleza e do valor das aves livres na natureza.
É, sem dúvida, uma ação pioneira de educação, no
gênero, apoiada pela Secretaria Municipal de Educação
de Paraty e patrocinada pelo Instituto Humanize. Ao
longo dos oito meses de trabalho na escola, os estudantes
participam de oficinas de desenho e de pintura de aves
e, ao final, fazem a pintura coletiva de um grande painel
nos muros e paredes da escola, e em suportes de madeira
e tecido que, finalmente, formam uma exposição de arte
montada em escolas e outros espaços públicos da cidade.
Principais objetivos do Aves da Minha Escola
 
}} Gerar conhecimentos sobre as aves
de Paraty e da Mata Atlântica
}} Comunicar, por meio da arte, a diversidade de
aves dentro e no entorno das escolas, tanto
para a comunidade escolar quanto para os
moradores dos bairros onde estão as escolas
}} Sensibilizar estudantes e professores,
através de vivências de educação
ambiental, sobre a importância de se
conhecer e proteger as aves livres
}} A partir do conhecimento das aves,
trabalhar os conceitos de conservação
dos ambientes em que elas vivem
}} Contribuir positivamente na formação de
uma cidade observadora de aves

Etapas do Aves da Minha Escola

}} Capacitação dos professores, coordenadores,


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diretores e merendeiros das escolas
}} Observação e estudo de aves
no entorno das escolas
}} Atividades educativas lúdicas
}} Estudos de conhecimentos
científicos sobre as aves
}} Plantio de mudas de árvores atrativas para aves
}} Vivências de gravação sonora - paisagens
sonoras no entorno das escolas
}} Produção artística e de comunicação
relacionadas às aves
}} Manutenção, pelos estudantes, do
aplicativo do projeto criado por eles
}} Pinturas das aves nas fachadas das escolas

PATROCÍNIO
Clube de Jovens de Paraty na
Observadores de Aves observação de aves
A partir do Festival Aves de Paraty 2013 foi formado Uma das consequências significativas do Projeto Aves
o Clube de Observadores de Aves Paraty (COA Paraty). de Paraty foi o surgimento de jovens observadores de
O grupo passou a fazer saídas mensais para a prática da aves, uma garotada que se engajou de forma muito ativa
observação de aves e hoje reúne 68 pessoas que se organizam e que se formou espontaneamente ao longo dos anos
através de um grupo de rede social. Esse grupo fotografa e de projeto. Eles se conectam com outros jovens em
monitora as aves de Paraty diariamente e tem feito registros todo o mundo e se denominam Young Birders, formando
inusitados de aves pouco ou nunca registradas em Paraty. uma rede jovem de observação e de construção de
O COA Paraty vai muito além da fotografia. O fato de conhecimento. Muito orgulho dessa garotada!
contar com tantas pessoas observando as aves e realizando
documentações sonoras e fotográficas sistemáticas é um
exemplo de como pessoas comuns (não ornitólogos)
podem colaborar com a ciência, acrescentando diariamente
informações e registros sobre a avifauna de um território.
Isso é conhecido no meio científico como Ciência
Cidadã e representa, nos dias de hoje, um importante
movimento que tem colaborado muito com os cientistas,
18 agregando informações para o conhecimento das aves.
Uma derivação importante do COA Paraty foi um
grupo que passou a monitorar a presença do Socó-
boi-escuro (Tigrisoma fasciatum) nos rios de Paraty.
A ave estava desaparecida há mais de um século no
Estado do Rio de Janeiro. Sua identificação ocorreu
durante o Festival Aves de Paraty de 2015, por dois
observadores da cidade do Rio de Janeiro que estavam
no evento e hospedados justamente na principal área de
ocorrência da ave. Este registro, de enorme importância,
criou uma atenção especial à presença da ave em Paraty
que, desde então, passou a ser monitorada e estudada
por ornitólogos e observadores de aves num processo
participativo e integrado pioneiro no Brasil.
As observações são registradas em um grupo de rede social
e organizadas cientificamente pelo ornitólogo Luciano Lima,
do Observatório de Aves do Butantan e da Fazenda Bananal.
Paraty conquista título de Patrimônio Mundial

Foi no de ano 2019 que Paraty finalmente conquistou


o título de Patrimônio Cultural e Natural Mundial da
Unesco. E, sim, o FAP 2018 colaborou com a iniciativa
da candidatura da cidade. A visita da comissão avaliadora
da Unesco coincidiu com o período de realização do
FAP. Foi muito oportuno, então, para a equipe técnica
da Associação Cairuçu, apresentar o Projeto Aves de Patrimônio Cultural e Natural Mundial
Paraty aos profissionais da Unesco, além de promover
com eles uma saída a campo para a observação de aves.
A descontração e o diálogo entre todos marcaram
o astral desse momento junto à Mata Atlântica,
C om um importante acervo arquitetônico e
ricas paisagens naturais, a cidade de Paraty
foi reconhecida em 2019 como Patrimônio
sobretudo para o diretor da ONG, Daniel Cywinski, Cultural e Natural Mundial da Unesco. O centro
e para o ornitólogo Luciano Lima. Ambos guiaram os histórico, cercado de quatro áreas de conservação
avaliadores por uma trilha do trecho de Paraty, dentro ambiental - Parque Nacional da Serra da Bocaina,
do Parque Nacional da Serra da Bocaina, e com certeza Reserva Estadual da Joatinga, Área de Proteção
influenciaram o processo de avaliação sobre o território, Ambiental do Cairuçu e Estação Ecológica de
as estratégias e as políticas públicas de educação, Tamoios, tem um território de quase 149 mil 17
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além da valorização dos patrimônios naturais. Essa hectares protegidos. Além da natureza exuberante,
experiência foi mencionada nos relatórios da Unesco, Paraty abriga comunidades tradicionais,
que indicaram Paraty para a etapa final de qualificação. indígenas, quilombolas e caiçaras, que misturam
Foi mais uma contribuição das aves de Paraty! cultura e biodiversidade de forma única.
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Guias das Aves de Paraty
Desde o início, o Projeto Aves de Paraty se preocupou
em gerar materiais de apoio para observação de aves
na região. Partindo de listagens de aves da década de
80, foram produzidos seis guias de aves que reuniram
mais de 300 espécies das 477 registradas em Paraty.
Os guias do Projeto Aves de Paraty foram os
primeiros para a observação de aves produzidos
especialmente para a cidade, e hoje ajudam turistas,
moradores e estudantes nas práticas de campo.
Os guias apresentam imagens detalhadas das aves mais
avistadas em Paraty e arredores, e com o aprimoramento
das últimas versões, passaram a fornecer informações
técnicas, como por exemplo o Dimorfismo Sexual
(diferença entre macho e fêmea), a separação por ambientes
(aquático, áreas abertas, urbanos e florestas) e também
informações sobre hábitos alimentares e tamanho das aves.
Além de serem materiais didáticos, os guias
são de uso comum, pois facilitam a prática dessa
apaixonante arte de observar aves em seus ambientes
naturais, se constituem como objetos de recordação
da cidade, e são facilmente adquiridos por turistas.
Dimor fismo Sexual

D imorfismo Sexual é um termo técnico para se


referir às diferenças físicas entre machos e
fêmeas da mesma espécie.
Às vezes, são relativas ao tamanho, e outras
vezes, por exemplo, têm a ver com a estética,
como cores da plumagem.
Muitas espécies têm essas diferenças e, saber
isso, é fundamental para o reconhecimento, isto
é, para a identificação das aves.
Por isso, é importante que o material utilizado,
no caso os guias, tenha o cuidado de apresentar Artesanato divulga
essas características, especialmente nas aves
mais comuns, onde elas são marcantes.
avifauna de Paraty
Um dos melhores exemplos de dimorfismo sexual
Muitos artesãos de Paraty passaram a trabalhar o
é o Tiê-sangue (Ramphocelus bresilius)
tema das aves da região em suas produções. Parte
cujo macho é extremamente vermelho
desse acervo é reunido na Feira de Artesanato,
e a fêmea é marrom.
que ocorre desde 2018, durante o FAP. 21
São peças que representam as aves em cerâmica, madeira,
tecido, pinturas, bijuterias, roupas, imãs de geladeira,
cestarias, esculturas e muitas outras formas de expressão
de artes e manufaturas que valorizam o colorido da
diversidade das aves. Além de servirem como lembranças
decorativas, ajudam a divulgar essa riqueza da cidade.
PROJETO AVE
EDUCAÇÃO PRESERVAÇÃO
Projeto Aves da Minha Escola Aproximação com as Unidades de Conservação
Em parceria com a Secretaria Municipal de Participação das Unidades de Conservação
Educação de Paraty e com patrocínio do Instituto nos Festivais Aves de Paraty.
Humanize, 19 escolas foram atendidas nas regiões
rural, costeira e urbana do município. Mais de 448 Participação do Projeto Aves de Paraty em eventos
crianças participantes em cinco anos de ação. organizados pelos órgãos ambientais.

Ações Educativas Festival Aves de Paraty Promoção do tema da observação de aves nos
4.200 crianças participantes em seis anos de evento. fóruns e conselhos regionais de meio ambiente.

Promoção de saídas para observação de aves


TURISMO nas Unidades de Conservação de Paraty.
22 Representação e diálogo Manutenção de diálogos com técnicos, guarda-parques e
Presença no Conselho Municipal de Turismo, gestores de unidades fomentando propostas para projetos.
diálogo permanente com a rede municipal de
turismo, empresários, guias e agenciadores. Destaque para espécies ameaçadas
Identificação e monitoramento do Socó-boi-escuro
Divulgação do destino Paraty nas Feiras de (Tigrisoma fasciatum) e destaque no FAP 2017.
Observação de Aves do Brasil e da América
do Sul (Feria de Aves de Sudamérica). Divulgação e destaque no FAP e no Guia de 2016
para o Formigueiro-de-cabeça-negra (Formicivora
Formação erythronotos), espécie endêmica da região.
Promoção de oito encontros e oficinas para capacitação
técnica de pessoas atuantes no mercado de turismo de Paraty. Incentivo à política pública
Apoio à Secretaria de Urbanismo e elaboração do
Realização de seis Festivais Aves de Paraty e pré-projeto para criação da Praça de Observação de
produção de seis Guias Aves de Paraty. Aves no Manguezal Terra Nova, onde ornitólogos
apoiados pelo Projeto Aves de Paraty identificaram
Criação de materiais de apoio ao turismo mais de 60 espécies de aves, inclusive endêmicas e
Elaboração de seis guias Aves de Paraty, para identificação, em lista de ameaçadas na região da Mata Atlântica.
com mais de 300 espécies mapeadas e organizadas
em materiais didáticos de grande qualidade.
S DE PA R AT Y
CONQUISTAS FESTIVAL AVES DE PARATY A R T I C U L AÇ Õ E S E PA R C E R I A S
}} Seis festivais realizados entre os anos 2013 e 2018 }} Prefeitura de Paraty
}} Mais de 12 mil participantes }} Instituto Butantan
}} 4.200 crianças inscritas em atividades educativas }} Avistar
}} 34 especialistas brasileiros }} Feria de Aves de Sudamérica
}} 4 especialistas estrangeiros convidados }} Save Brasil
}} 36 palestras }} Instituto Humanize
}} 42 atividades educativas }} Fundação SOS Mata Atlântica
}} 8 workshops sobre turismo de observação de aves }} Fazenda Bananal
}} 12 saídas para observação de aves }} Associação de Guias de Turismo de Paraty (Piratii)
}} 11 exposições de arte e fotografia }} Jipeiros Associados de Paraty (JAP)
23
}} Aves da Minha Escola }} Conselho Municipal de Turismo de Paraty
}} Paraty Convention & Visitors Bureau
}} Paraty em Foco
}} Instituto Estadual do Ambiente do Rio de Janeiro (Inea)
}} Instituto Chico Mendes de Conservação
da Biodiversidade (ICMBio)
}} Instituto Brasileiro de Museus (Ibram)
}} Sesc Paraty
Associação Cairuçu
Presidente
Ana Helena de Moraes Vicintin

Vice-Presidente Equipe Festivais Aves de Paraty


Rosemarie T. Nugent Setubal diretor executivo
Daniel Cywinski
Conselho Deliberativo gerente jurídico - financeiro
Telma Toledo
Ana Claudia Borghi
auxiliares administrativas
Ana Helena de Moraes Vicintin Will Gonçalves e Elisa Pereira
Ana Paula Ribeiro Tozzi designer
Luciana Terezinha Simão Vilella Jeiel Silva
Marcia Bossa Graça Scripilliti produtores fap
Paulo Kastrup e Geiza Monteiro
Maria Camila Giannella Brant de Carvalho
cenografia fap
Olavo Egydio Setúbal Júnior Bia Rocco e Wagner Preto
Renata de Camargo Nascimento coordenação de educação
Roberto Luiz Leme Klabin Bete Canela e Sylvia Junghähnel
Rosana Filomena Vazoller coordenadores de área
Gilmara Kíria, Andrea Doalmo, André Lima
Rosemarie T. Nugent Setubal
arte - educadores
Ulysses de Paula Eduardo Júnior Germain Templar e Camila Calvo
foto e vídeo
Conselho Fiscal Grupo Ocupação 16, Antonio Garcia, Débora Monteiro
André Alicke de Vivo
Clóvis Ermírio de Moraes Scripilliti Ficha Técnica desta publicação - 2019
José Olympio da Veiga Pereira
coordenação e redação
Mauro Tozzi Netto suplente Daniel Cywinski

Conselho Consultivo design e edição de imagens


Renato Rizzaro
Cláudio Dinucci Giannella
Flavio Ognibene Guimarães revisão

José Roberto Marinho Celso Vicenzi


João Carlos da Costa e Silva Monteiro | página
fotografia

Paulo Matarazzo Suplicy Acervo Cairuçu 18, 19


Raquel Cristina Raphael da Rocha Sanches Antônio Garcia 12 (acima), 20, 21 (abaixo)
Walter José Senise Cintia Celeste 21 (acima)
Daniel Cywinski 1a e 4a capas, 2, 3, 5, 10, 11, 13, 17
Diretoria Executiva
Grupo Jovem Comunicador 8, 9, 12 (abaixo)
Telma de Toledo Pereira
João Quental 14
Renato Rizzaro
Saíra-militar (Tangara cyanocephala) 2 a capa
Saí-verde fêmea (Chlorophanes spiza) 3a capa
Saíra-sete-cores (Tangara seledon) folha de rosto
Gavião-caboclo (Heterospizias meridionalis) 2, 3
Batuíra-de-coleira (Charadrius collaris) 5
Ninho e Tecelão (Cacicus chrysopterus) 16
Corucão (Podager nacunda) 23
Sylvia Junghähnel 15

Paraty - Rio de Janeiro - Brasil


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Fone +55 24 3371 4803

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