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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

ANAIS
VI CONGRESSO NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DO
DELTA DO PARNAÍBA

“Áreas de proteção ambiental e


as possíveis transformações
do espaço”.

2019
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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

VI CORUC, Congresso Nacional de Unidades de Conservação do


Delta do Parnaiba

Anais do VI CORUC / Anais do VI Congresso Nacional de Unidades


de Conservação do Delta do Parnaiba: “Áreas de proteção
ambiental e as possíveis transformações do espaço” – Parnaiba/PI -
2019. Organizador: Prof.(a) DR. (a) Simone Cristina Putrick.
Universidade Federal do Delta do Parnaiba - UFDPar

487 f.

ISSN: 2446-5380

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

VI CONGRESSO NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DO


DELTA DO PARNAÍBA

UFPI - Parnaíba (PI), 12 a 14 de junho de 2019.

Realizado periodicamente desde 2011, o Congresso Nacional de Unidades de


Conservação do Delta do Parnaíba (CORUC) reúne especialistas reconhecidos do
Brasil e do Mundo para discutir temas ligados às Unidades de Conservação dentro
dos contextos atuais em que elas se encontram, considerado o segundo maior evento
brasileiro da área.

O CORUC é uma iniciativa do Curso de Turismo da Universidade Federal do Delta do


Parnaiba e teve como o principal parceiro em 2019 o Instituto Chico Mendes de
Conservação da Biodiversidade. Possui entre as atividades propostas, debates,
conferências, minicursos, e apresentação de trabalhos científicos. O evento tem como
temática em 2019: “Áreas de proteção ambiental e as possíveis transformações do
espaço”.

A importância de um projeto, pioneiro na região, tal qual se constitui esse evento é


respaldada pelas possibilidades de melhoria já identificadas em debates
desenvolvidos nas edições anteriores, que versaram acerca da atividade turística, das
Unidades de Conservação, do desenvolvimento regional, das comunidades locais e
demais temas pertinentes, em conjunto com propostas para potencializar os fatores
positivos em cada uma dessas questões.

Nesta coletânea, apresentamos, no formato de trabalho completo publicado em


evento, os 39 melhores trabalhos (selecionados pela Comissão Científica) a fim de
que o leitor online possa conhecer melhor o nosso evento e as experiências de
trabalho nele compartilhadas.

Boa leitura!

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

DR. (a) SIMONE CRISTINA PUTRICK

VI CORUC- CONGRESSO NACIONAL


DE UNIDADE DE CONSERVAÇÃO DO
DELTA DO PARNAÍBA
“Áreas de proteção ambiental e as
possíveis transformações do espaço”

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

PARNAIBA/PI, 2019
REITOR DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO DELTA DO PARNAIBA
Prof. Dr. Alexandro Marinho de Oliveira

COORDENADOR DO CURSO DE TURISMO – UFPI


Prof. Dr. Andre Riani Costa Perinotto

COORDENADOR DO EVENTO:
Prof.(a). Simone Cristina Putrick

COMISSÃO CIENTIFÍCA:
Dr. Aguinaldo Cesar Fratucci - acfratucci@turismo.uff.br

Dr. Anderson Guzzi - guzzi@ufpi.edu.br

Dr. André Riani Costa Perinotto - perinotto@ufpi.edu.br

Dr. David Leonardo Bouças da Silva - david.boucas@ufma.br

Dra. Edvania Gomes de Assis Silva - edvania@ufpi.edu.br

Dra. Eloise Silveira Botelho - eloise.botelho@unirio.br

Dr. Glauber Eduardo de Oliveira Santos - glauber.santos@usp.br

Dr. Helder Ferreira de Sousa - hintwoi@ufpi.edu.br

Dr. Jesus Rodrigues Lemos - jelemos@ib.usp.br

Dr. João Paulo Sales Macedo - jampamacedo@gmail.com

Dr. Luiz Antônio de Oliveira - luizantonio@ufpi.edu.br

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Dra Luzia Neide M. Teixeira Coriolano - luzianeidecoriolano@gmail.com

Dr. Martín Fabreau - fabreau@gmail.com

Dr. Milton Augusto Pasquotto Mariani - miltimari@terra.com.br

Dr. Osmar Gomes de Alencar Junior - jrosmar@hotmail.com

Dr. Pedro Sanches dos Reis - reisps@ufpi.edu.br

Dr. Rodrigo de Sousa Melo - rodrigomelo@ufpi.edu.br

Dr. Sérgio Rodrigues Leal - sergio.r.leal@ufpe.br

Dra. Shaiane Vargas da Silveira - shaiane@ufpi.edu.br

Dra. Simone Cristina Putrick – sputrick4@gmail.com

Dr. Vicente De Paula Censi Borges - vpborges@ufpi.edu.br

COMISSÃO ORGANIZADORA
Coordenadora Geral - Simone Cristina Putrick (UFPI)
Samantha Ribeiro (UFPI)
Denilson Damasceno Costa (UFPI)
Miguel Amorim (UFPI)
Taciana Freitas (UFPI)
Roberta Bonifácio (UFPI)

EDITORAÇÃO

Emilly Mayra De Sousa Silva

Simone Cristina Putrick

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EIXOS TEMÁTICOS

I. TECNOLOGIA DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO EM TURISMO


E EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO;
II. POLÍTICAS PÚBLICAS E PLANEJAMENTO EM TURISMO;
III. TURISMO, CULTURA E IDENTIDADE: EXPERIÊNCIAS
COMUNITÁRIAS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL;
IV. PATRIMÔNIO, TURISMO E SUSTENTABILIDADE: A
CONSTRUÇÃO DE TERRITORIALIDADES NA ARENA TURÍSTICA;
V. EMPREENDEDORISMO E EVENTOS COMO POTENCIALIDADE NO
TURISMO;
VI. PRÁTICAS DE LAZER E A SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA;
VII. SAÚDE E MEIO AMBIENTE;
VIII. BIODIVERSIDADE EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO;
IX. GEOTURISMO E GEOCONSERVAÇÃO EM UNIDADES DE
CONSERVAÇÃO;
X. GESTÃO DOS TERRITÓRIOS TURÍSTICOS E GLOBALIZAÇÃO.

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SUMARIO

IMPACTOS PROVOCADOS PELO TURISMO NA ATIVIDADE DE PESCA


ARTESANAL NO RIO CAMURUPIM EM BARRA GRANDE, CAJUEIRO DA PRAIA,
PIAUI; Frederico dos Santos Brito Rodrigues; Solano de Souza Braga; Francisco Pereira da
Silva Filho.................................................................................................................................10
GLOBALIZAÇÃO E VIAGENS: TURISMO BACKPACKER NA CIDADE DE
PARNAÍBA, PIAUÍ; Mateus Rocha dos Santos, Anderson Fontenele Vieira.......................25
ANÁLISE SWOT DO PARQUE NACIONAL DE SETE CIDADES-PI NA
PERSPECTIVA DO TURISMO; Nathalia da Silva Araujo, Ronaldo Oliveira Pereira Araujo,
Solano de Souza Braga..............................................................................................................38
ARTESANATO: ALIANDO AÇÕES DE EMPREGO E RENDA COM CONSERVAÇÃO POR
MEIO DE PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA UNIDADE DE CONSERVAÇÃO
FLONA PALMARES; Ana Lívia Lima Solano, Susane do Nascimento Pereira, Patrícia Maria Martins
Nápolis...................................................................................................................................................................53
AS ALTERAÇÕES SOCIOESPACIAIS NA PAISAGEM DA COMUNIDADE DE
BARRA GRANDE-PI EM DECORRENCIA DO TURISMO; Filipe Ribeiro Cardoso Porto
Antônio Rafael Antunes Lopes, Francysco Renato Antunes Lopes...........................................63
ASPECTOS DA GEODIVERSIDADE DO PARQUE NACIONAL SERRA DA
CAPIVARA, ESTADO DO PIAUÍ; João Jorge Vitalino de Sousa, Edmarcio Abreu de
Carvalho, Francisco Wellington de Araújo Sousa.....................................................................71
AULAS PRÁTICAS DE CAMPO EM UNIDADE DE CONSERVAÇÃO COM ÊNFASE
EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL; Kamanda Raylana Marques dos Reis, Victor Hugo
Gonçalves Silva, Patrícia Maria Martins Nápolis....................................................................84
AVES APREENDIDAS E ENTREGUES VOLUNTARIAMENTE NA UNIDADE DO
IBAMA DE PARNAÍBA, PIAUÍ; Iara da Hora Mateus, Anderson Guzzi, Airton Janes da
Silva Siqueira...........................................................................................................................95
CARACTERIZAÇÃO DAS ÁREAS NATURAIS PROTEGIDAS PARA ATIVIDADES
DE CIÊNCIAS: EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA CONSERVAÇÃO DA
BIODIVERSIDADE; Leonardo de Barros Santos, Rodrigo Nunes Galvão, Patrícia Maria
Martins Nápolis.......................................................................................................................109
DIAGNÓSTICO AMBIENTAL PARA A IMPLEMENTAÇÃO DO ECOTURISMO NA
FLORESTA NACIONAL DE PALMARES; Iuri Araújo Barros, Laís Fernanda Ferreira
Rodrigues; Patrícia Maria Martins Nápolis .............................................................................122

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ÉTICA AMBIENTAL EM HANS JONAS: NECESSIDADE DO PRINCÍPIO


RESPONSABILIDADE PARA CIVILIZAÇÃO TECNOLÓGICA; Nara Patrícia Mendes
da Silveira, Marcel Alcleante Alexandre de Sousa..................................................................137
FIOS DE MÉMORIA: PATRIMÔNIO CULTURAL DO DELTA DO RIO PARNAÍBA;
Elizabeth Aragão Magalhães, Jessica Alves da Silva, Áurea da Paz Pinheiro .......................144
GASTRONOMIA REGIONAL: UMA ANÁLISE NOS BARCOS DE PASSEIO AO
DELTA DO PARNAÍBA (PI); Gessinara Lima Vieira, Mayla Roberta de Brito Torres,
Mayara Maia Ibiapina .............................................................................................................158
CULTIVO DE HORTALIÇAS: MECANISMO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM
UMA ESCOLA DA REDE PÚBLICA DO MUNICÍPIO DE PARNAÍBA PIAUÍ; Darlison
Fontenele Sampaio, Maria Helena Alves.................................................................................170
INTERPRETAÇÃO AMBIENTAL NA UNIDADE DE CONSERVAÇÃO NA
FLORESTA NACIONAL PALMARES ALTOS- PIAUÍ; Thalita Gomes da Silva, Marcus
Morais Silva, Patrícia Maria Martins Nápolis.........................................................................180
LEVANTAMENTO DE ÁREAS NATURAIS PROTEGIDAS PARA ATIVIDADES DE
EDUCAÇÃO AMBIENTAL; Laís Fernanda Ferreira Rodrigues, Francisco Lucas da Silva
Marques, Patrícia Maria Martins Nápolis................................................................................193
NÍVEIS DE ANSIEDADE PRÉ COMPETITIVA NUMA AULA DE KRAV MAGA
PARA ALUNOS DO PROJETO SOCIOEDUCATIVO AMBIENTAL; João Batista de
Andrade Neto, Patricia Maria Martins Napolis........................................................................206
NOVOS REGISTROS E EXTENSÕES DE DISTRIBUIÇÃO DE AVES PARA A APA
DELTA DO PARNAÍBA, PIAUÍ, BRASIL; Jacianne Machado Sousa, Suely Silva Santos
Anderson Guzzi......................................................................................................................212
OBSERVAÇÃO SOBRE A DIMENSÃO ESPACIAL DA GEOGRAFIA APLICADA AO
TURISMO NA PRAÇA DA GRAÇA NA CIDADE DE PARNAÍBA – PIAUÍ; Denilson
Damasceno Costa, Joyce Lara Ribeiro Santos Silva, Solano de Souza Braga..........................224
PAISAGEM E TURISMO: UMA DISCUSSÃO CONCEITUAL; Filipe Ribeiro Cardoso
Porto, Antônio Rafael Antunes Lopes, Francysco Renato Antunes Lopes..............................243
PERSPECTIVA AMBIENTAL ACERCA DO USO DO SOLO EM AMBIENTES
COSTEIRO, APA DELTA DO PARNAÍBA, BRASIL; Davi Nascimento Costa; Juliana
Cardozo de Farias; Francisco Pereira Filho; Maria Gracelia Paiva Nascimento; Ivanilza Moreira
de Andrade..............................................................................................................................250
PESCADORES ARTESANAIS E CONSERVAÇÃO AMBIENTAL NA COMUNIDADE
PEDRA DO SAL (PI); Mayara Maia Ibiapina
.................................................................................................................................................259
PLANEJAMENTO DE ESPAÇOS DE LAZER: O CASO DA PRAÇA DE EVENTOS
MANDU LADINO, NA CIDADE DE PARNAÍBA, PIAUÍ; Rute Ferreira Xavier, Victor
Brito Dantas Martins, Anderson Fontenele Vieira...................................................................265
POSSIBILIDADES PARA A PRÁTICA DO ECOTURISMO NA ILHA DE BOM JESUS
EM PARNAÍBA-PI; Rosane Oliveira de Sousa, Mayara Maia Ibiapina................................278
REFLEXÕES TEÓRICAS SOBRE O TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO
LITORAL SUL SERGIPANO, DIMENSÕES PARA UM DESENVOLVIMENTO

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SUSTENTÁVEL; Lillian Mª de Mesquita Alexandre, Leonardo Farias da


Silva........................................................................................................................................291
TRANSFORMAÇÃO DO ESPAÇO: UM ESTUDO NA LAGOA DO PORTINHO
ENQUANTO PRODUTO OU RECURSO TURÍSTICO, Francisco Renan de Morais
Ramos, Leonardo Farias da Silva, Edvania Gomes de Assis Silva...........................................308
TURISMO AFRO-RELIGIOSO: A ANÁLISE DO POTENCIAL TURÍSTICO DA
CASA DE IEMANJÁ ILLÊ ASÉ OMO NI EJÁ SABAÁ ODÊ KWE SINFA NA CIDADE
DE PARNAÍBA-PI; Ana Izabel de Almeida, Sofia Araujo de Oliveira.................................328
TURISMO COMUNITÁRIO E TRABALHO: AS EXPERIÊNCIAS DOS
CONDUTORES LOCAIS DA BARRATUR, PIAUÍ; Hudson Lucas do Nascimento Gomes
Matheus Araujo de Oliveira, Amanda Maria dos Santos Silva................................................343
TURISMO NA COMUNIDADE BARRA GRANDE: UMA PERSPECTIVA ATRAVÉS
DO OLHAR DOS NATIVOS; Cláudio Ferreira da Silva Neto, Karolinda Albuquerque de
Lima, José Maria Alves da Cunha............................................................................................359
TURISMO PEDAGÓGICO NA ESTAÇÃO DE AQUICULTURA DA UNIVERSIDADE
FEDERAL DO PIAUÍ; Isadora Sousa de Oliveira, Ana Cristina Campos Marinho, Solano de
Souza Braga, Josenildo Souza e Silva......................................................................................370
UM ESTUDO SOBRE LÍNGUA INGLESA NAS AGÊNCIAS DE TURISMO DA
CIDADE DE PARNAÍBA, PIAUÍ; Laiane da Silva, Zelaine Pereira de Souza, Anderson
Fontenele Vieira......................................................................................................................393
VIVÊNCIAS COM A NATUREZA: UMA PROPOSTA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL
PARA AS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO; Iuri Araújo Barros, João Vítor Dutra de Lima
Pereira, Patrícia Maria Martins Nápolis ..................................................................................408
TERRITÓRIO E IDENTIDADE CULTURAL: A RENDA DE BILROS DE MORROS
DA MARIANA, ILHA GRANDE – PIAUÍ; Rita de Cassia Pereira de Carvalho, Simone
Cristina Putrick........................................................................................................................422
ATIVIDADE TURÍSTICA DESPERTANDO SENTIMENTO E EMOÇÃO NOS
MORADORES DE BARRA GRANDE: UM ESTUDO DE CASO; José Ricardo Fortes
Sampaio, Simone Cristina Putrick...........................................................................................433
TERRITÓRIO E TERRITORIALIDADES DE ATRATIVOS TURISCOS NA
TRANSAMAZÔNIA: O CASO DE ALTAMIRA NO ESTADO DO PARÁ; Orlando Bispo
dos Santos, Simone Cristina Putrick........................................................................................453

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IMPACTOS PROVOCADOS PELO TURISMO NA ATIVIDADE DE PESCA


ARTESANAL NO RIO CAMURUPIM EM BARRA GRANDE, CAJUEIRO DA
PRAIA, PIAUI

Frederico dos Santos Brito Rodrigues


Solano de Souza Braga
Francisco Pereira da Silva Filho

RESUMO
A relação do turismo com o modo de vida das comunidades locais motivou a produção desse
artigo, principalmente em relação a pesca artesanal e o desenvolvimento da atividade turística.
O objetivo dessa pesquisa foi analisar as relações entre o turismo e a pesca artesanal no Rio
Camurupim, no distrito de Barra Grande, no município de Cajueiro da Praia, litoral piauiense.
A metodologia utilizada foi pesquisa de campo com abordagem qualitativa, realizada com a
aplicação de questionários semiestruturados, subsidiados pela observação direta e revisões
bibliográficas de monografia, artigos e livros. Concluiu-se que a relação da pesca artesanal e
atividade turística não são harmoniosas em Barra Grande.

Palavras-chave: turismo, kit surf, impactos, pesca artesanal.

ABSTRACT
The relation between tourism and the way of life of local communities encouraged the
production of this article, in which the main objective is to investigate the relationship between
the preservation of the Camurupim river and the economic activities carried realized in the river,
mainly discussing the connection between artisanal fishing and tourist activity in the district of
Barra Grande, municipality of Cajueiro da Praia-PI. The methodology used was field research
with a qualitative approach, realized with the application of a semi structured quiz, supported
by direct observation and bibliographical reviews of monographs, articles and books. The
research identified that the relationship between artisanal fishing and tourism activity results in
impacts on the community.

Keywords: tourism; kitsurf, impacts, artisanal fishing.

INTRODUÇÃO

O distrito de Barra grande está localizado no município de Cajueiro da Praia/PI, onde


possui 4 km de extensão de praia e localiza-se dentro da APA do Delta do Parnaíba. A
comunidade local é formada por grupos de pescadores e por um núcleo com grande
infraestrutura e equipamentos turísticos. Esta localidade, como um todo, possui vários atrativos
turísticos, dentre eles está inserida a trilha do cavalo-marinho, que possui um percurso de 3 km
entre o Rio Camurupim e seus igarapés. A trilha surgiu como uma “brincadeira”, onde as
comunidades locais organizavam-se e levavam turistas e/ou visitantes para conhecer o seu
potencial natural.
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A localidade possui um relevante fluxo de turistas que procuram a mesma para a prática
de turismo de aventura, esportivo e ecoturismo. Pode-se citar, por exemplo, esportes como
Kitesurf, Stand Up Paddle, canoagem, pesca esportiva com vara e nado livre e visita a trilha do
Cavalo-Marinho, onde observa-se esta espécie no seu habitat natural. Fica visível a quantidade
de atrativos naturais existentes, sendo esse um dos pontos fortes para o turismo local. Dentro
desta perspectiva, o campo de estudo escolhido para este artigo foi o Rio Camurupim, para
avaliar como a comunidade local e o turismo se desenvolvem, levando em conta que existem
diversos impactos que afetam a área, influenciando a economia, as espécies da região e a própria
comunidade.
Pensar na quantidade de processos e agentes interagindo em um ambiente tão rico em
biodiversidade fez crescer a curiosidade de estudar esse ecossistema e suas interfaces com o
turismo, compreender tais questões é indispensável para entender como a comunidade tem se
inserido na cadeia turística. Neste sentido, surge o objetivo do trabalho, que busca analisar a
relação do turismo com a pesca artesanal no Rio Camurupim na comunidade de Barra Grande,
no município de Cajueiro da Praia, litoral do Estado do Piauí. Compreender o relacionamento
dessas atividades com a comunidade local é relevante para abranger o relacionamento do
turismo com a conservação ambiental e qualidade de vida dos envolvidos nas atividades como
moradores, pescadores, condutores e visitantes, assim como, o próprio desenvolvimento da
atividade turística com responsabilidade.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Na produção deste trabalho, optou-se por uma pesquisa de campo de abordagem


qualitativa, que auxiliou na observação, coleta, análise e interpretação de fatos e fenômenos que
ocorre dentro do ambiente natural de vivência. Seguindo essa linha, Fonseca (2002) destaca
que a pesquisa de campo se caracteriza pelas investigações em que, além da pesquisa
bibliográfica e/ou documental, se realiza coleta de dados junto a pessoas, com o recurso de
diferentes tipos de pesquisa (pesquisa ex-post-facto, pesquisa-ação, pesquisa participante...).
Para a elaboração do referencial teórico, foi utilizada a pesquisa bibliográfica, além da
busca em sítios da Internet a partir da visita a sites de periódicos e revistas especializadas, como
também dados primários, por meio de acesso a conteúdo documental como acervos de
biblioteca e banco de dados, o que forneceu base à realização do trabalho, da mesma forma o
sustento às formulações pertinentes ao tema. Nesta pesquisa, estabeleceu-se ainda observação
direta intensiva. Segundo Lakatos e Marconi (1992), a observação direta intensiva é um tipo de
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observação que "[...] utiliza os sentidos na obtenção de determinados aspectos da realidade.


Não consiste apenas em ver e ouvir, mas também examinar fatos ou fenômenos que se deseja
estudar".
Nesse sentido, a pesquisa qualitativa não se preocupa com representatividade numérica,
mas sim com o aprofundamento da compreensão de um grupo social, de uma organização, etc.
Os pesquisadores que adotam a abordagem qualitativa opõem-se ao pressuposto que defende
um modelo único de pesquisa para todas as ciências, já que as ciências sociais têm sua
especificidade, o que pressupõe uma metodologia própria. “Assim, os pesquisadores
qualitativos recusam o modelo positivista aplicado ao estudo da vida social, uma vez que o
pesquisador não pode fazer julgamentos nem permitir que seus preconceitos e crenças
contaminem a pesquisa” (GOLDENBERG, 1997, p. 34).
Portanto, a abordagem qualitativa, em sentido amplo, pode ser definida como uma
metodologia que produz dado a partir de observações extraídas diretamente do estudo de
pessoas, lugares ou processos com os quais o pesquisador estabelece uma interação direta para
compreender os fenômenos estudados. A partir de visitas, ocorreu a aplicação de questionários
e observação do ambiente local. Em seguida obtiveram-se dados coletados sobre o Rio
Camurupim, além das pesquisas sobre as atividades que influenciam o turismo no rio, por meio
de artigos e pesquisas bibliográficas que tiveram o Rio Camurupim como o campo de pesquisa
e atuação. É de relevante importância perceber como o turismo vem agindo na comunidade de
Barra Grande e no citado rio, além de tentar entender seu potencial como elemento de educação
ambiental da localidade.
Desse modo, aconteceu a pesquisa de campo no território da comunidade Barra Grande,
abrangendo indivíduos dos gêneros masculino e feminino, com faixa etária a partir dos 20 anos.
Nessa etapa, utilizou-se um modelo único de questionário contendo 20 perguntas
semiestruturadas, aplicados em quatro dias no período da manhã (15 a 18 de janeiro de 2018),
visando contemplar o maior número de moradores aleatoriamente. Por fim, os questionários
aplicados chegaram ao número de 100, possibilitando a construção do artigo com dados mais
plausíveis numericamente. Foi adotada uma amostra aleatória por conveniência. Optou-se por
não identificar os entrevistados para que os mesmos se sentissem à vontade em dar sua opinião;
posteriormente, os dados foram organizados e consolidados estatisticamente.

A SUSTENTABILIDADE NO TURISMO E O ECOTURISMO

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O turismo sustentável surge em consequência do turismo de massa. A Organização


Mundial do Turismo – OMT (2003) considera como sustentável e seguro o turismo que respeita
os aspectos físicos e ambientais capazes de influenciar diretamente nas condições de saúde,
qualidade de vida e segurança das pessoas e comunidades. Isto significa observar de uma forma
ímpar à relação entre os seres humanos, suas atividades e o uso que fazem do espaço no qual
estão envolvidos.
Dentro dessa perspectiva, Swarbrooke (2000, p. 111) afirma que "é preciso começar a
ver o turismo sustentável como parte de um sistema mais amplo de desenvolvimento
sustentável, um sistema aberto no qual cada elemento afeta os demais". Uma mudança em
qualquer elemento suscitará uma reação em cadeia nos outros elementos do sistema,
principalmente no socioambiental. Em outras palavras, mesmo que se tente desenvolver de
forma sustentável, qualquer segmento da atividade turística, isso sempre afetará outros
elementos turísticos ou não do sistema. Por exemplo, pode-se citar a redução no número de
turistas para diminuir os impactos negativos de uma determinada área ambiental, implicará ao
mesmo tempo num prejuízo a comunidade local, já que reduzirá benefícios econômicos trazidos
com a atividade turística em questão.
O turismo sustentável não é tão simples de se alcançar, pois envolve fatores como:
questões ambientais, econômicas, avanços tecnológicos, valores políticos, entre outros
elementos que podem influenciar na vida social da população receptora Swarbrooke (2000).
Para isso, torna-se necessária a criação de regras, de modo a evitar que os turistas adotem ações
prejudiciais ao meio ambiente. Pois com essas normas de conservação, protege-se a vida e ao
mesmo tempo se mantem a economia ativa, unindo assim responsabilidade e desenvolvimento.
O turismo já foi considerado uma atividade de baixo impacto ambiental, mas esse
cenário vem mudando gradualmente (Dias, 2003). Apesar dos esforços em se fazer um turismo
mais sustentável, estes ainda não são o suficiente. Atualmente diversos estudos apontam que a
atividade turística tem impactos consideráveis sobre o meio ambiente. Segundo Dias (2003, p.
87), “o turismo pode exercer pressão sobre os recursos naturais quando aumenta o número de
pessoas nas áreas turísticas onde esses recursos podem escassear devido ao aumento da
demanda”. Com o aumento da indústria turística e, principalmente, a pressão exercida, o
turismo que envolve a natureza acarreta prejuízos para a biodiversidade como um todo,
principalmente se não for fomentada com planejamento, por isso, a importância de direcionar
essas áreas para o ecoturismo, que tem como princípio a conservação da natureza.

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Esse segmento do turismo é caracterizado pelo contato com ambientes naturais, pela
realização de atividades que promovam a vivência e o conhecimento da natureza e pela proteção
das áreas onde ocorre, assim fundado nos conceitos de educação, conservação e
sustentabilidade. O ecoturismo pode ser ainda entendido como atividade turística baseada na
relação sustentável com a natureza, comprometidas com a conservação e a educação ambiental.
A definição de ecoturismo segundo Molina (2001, p. 159): "Em temos gerais, entende-se que é
um turismo que tem lugar em ecossistemas, em ambientes naturais, e, por outro lado, que busca
favorecer o conhecimento e aprendizado de manifestações naturais, mediante certas interações
de baixo impacto".
No entanto, a relação entre turismo e natureza pressupõe a utilização de um instrumental
multidisciplinar, em razão da variedade de fatores envolvidos – econômicos, políticos, sociais,
biológicos, legais administrativos etc. –, e da fragilidade dos ecossistemas que são os atrativos
comercializados. Para Cebalos-Lascurátin (apud DIAS, 2003, p.104): "O ecoturismo, como
componente essencial de um desenvolvimento sustentável, requer uma abordagem
multidisciplinar, um planejamento cuidadoso (tanto físico como gerencial) e diretrizes e
regulamentos rígidos, que garantam um funcionamento estável”.
Isso leva a percepção de que o ecoturismo não é apenas publicidade e a proteção de
alguma espécie. Este oferece também o desenvolvimento sustentável para as populações
localizadas em áreas escassas de atividades produtivas, e ainda pode gerar recursos para a
população ou para a proteção de ecossistemas fragilizados.
A partir disso, desprende-se que a atividade turística trás não só retornos culturais, mas
também uma grande quantidade de capital para as comunidades envolvidas em atividades
rentáveis economicamente, tanto em termos de exploração da natureza como a partir de prática
de esportes radicais, como na própria venda de bens nas margens dos locais em questão, tendo
sempre o princípio da sustentabilidade, como dever ser o ecoturismo e seu desenvolvimento.

O RIO CURUPURIM

O município de Cajueiro da Praia está localizado a 402 km de Teresina, capital do


Estado do Piauí onde está localizada Barra grande. Cajueiro da Praia conta com uma população
de 7.163 e uma área territorial de 270,264 km² (IBGE, 2010). É no distrito de Barra Grande que
está situado o Rio Camurupim, conforme a Figura 1, onde é realizada a a trilha do cavalo

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marinho uma das atrações mais apreciadas da

região.
Figura 1: Trajetos possíveis realizados para a contemplação do cavalo-marinho durante o passeio turístico
realizado em Barra Grande, PI. Fonte: Galvão, V. - “Definição da capacidade de carga (suporte) para passeio de
contemplação do cavalo marinho da praia de Barra Grande, município de Cajueiro da Praia no interior da APA
do Delta do Parnaíba estado do Piauí, Brasil”.

O Rio Camurupim nasce na cidade de Cocal, na Serra dos Macacos com o nome de Rio
dos Campos. Este atravessa a lagoa do Alagadiço e desemboca na mesma enseada do Rio São
Miguel, só que do lado leste da Barra Grande, que divide as áreas dos municípios de Luís
Correia e Cajueiro da Praia, no Estado do Piauí (PIEMTUR, 2007). O rio ainda passa pela
comunidade que herdou seu nome, pela comunidade de Camurupim, que pertence ao munícipio
de Luís Correia.
O Rio Camurupim, em Barra Grande, faz parte da Área de Proteção Ambiental (APA)
do Delta do Parnaíba. As APAs têm como objetivo proteger a diversidade biológica, disciplinar
o processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais. Nesse
sentido, o intuito da criação da APA do Delta do Parnaíba é de preservar e conservar os recursos
naturais lá existentes e melhorar a qualidade de vida da população local.
No Rio Camurupim acontecem, por exemplo, atividades como a pesca artesanal e a
criação de ostras, que são algumas das atividades econômicas desenvolvidas nesse manancial.
Com o desenvolvimento da atividade turística na localidade surge uma nova fonte de renda para
a economia local, que lança novas alternativas socioeconômicas para as comunidades que

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trabalham direta ou indiretamente com o turismo. Entretanto, para esse segmento econômico
seja utilizado da maneira correta, é necessário que haja um planejamento adequado, de acordo
com a realidade do lugar, que vise estimular o crescimento do turismo e fazê-lo de forma
controlada, ou seja, sustentável. Sendo assim, faz-se necessário definir um modelo de
desenvolvimento que permita a exploração de atividades sem causar problemas ao ecossistema,
que no caso de Barra Grande (Rio Camurupim) é diretamente influenciado pelo ambiente de
praia (Figura 2).

Figura 2: Vista aérea de Barra Grande, PI. Fonte: BGK, 2015.


Figure 2: Aerial view of Barra Grande, PI. Source: BGK, 2015.

A comunidade de Barra Grande, atualmente possui uma crescente demanda turística,


devido a trilha do cavalo marinho e do clima agradável para descanso e atividades esportivas,
especialmente o kitesurf, por causa da sua localização geográfica, que proporciona ótimos
ventos para esta modalidade esportiva.

TURISMO NO RIO CAMURUPIM E A PESCA ARTESANAL

Em alta temporada, a comunidade de pescadores de Barra Grande, distrito de Cajueiro


da Praia recebe um grande fluxo de turistas para a visitação das praias e da trilha do cavalo
marinho no Rio Camurupim. Segundo relato de donos de pousadas o distrito tem tido nove
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meses de alta temporada no ano, sendo o segundo semestre o período com mais visitante. Com
a sazonalidade, a procura por passeios ecológicos é grande. Segundo Sousa apud. Galeno (2010,
p. 55), a sazonalidade pode ser caracterizada como a “época de alta estação mais aprazível do
ano”. É nesse momento também que os empreendimentos turísticos tentam de toda as formas
aumentar a sua produção para agradar o grande público que visita a comunidade durante o ano,
especialmente na alta temporada, que vislumbra a “exploração” da atividade turística e os bens
naturais disponíveis.
Um olhar atento para essa exploração do turismo, exercida de forma desordenada, pode
acarretar problemas não só para comunidade, mas também para o Rio Camurupim e todo seu
ecossistema, com a degradação ambiental, que nada mais é do que a perda de espécies nativas.
Por isso, o turismo deve ser avaliado como um fator de mudança social, ambiental e econômica
que deve afetar tanto o Rio Camurupim, quanto a comunidade local com o mínimo de impacto
negativo possível. Além disso, as condições e o modo de vida dos envolvidos também não
podem sofrer mudanças negativas provenientes do turismo, especialmente a pesca artesanal,
que necessita também de um ambiente equilibrado, e que posteriormente pode ser
implementado na atividade como um forte indutor do fenômeno turístico, devido sua
potencialidade, por ser baseado na experiência dos pescadores dessa comunidade. Diante disso,
é importante assinalar as características da pesca artesanal, especialmente, a desenvolvida na
comunidade de Barra Grande. Dentro dessa perspectiva:
A pesca artesanal em Barra Grande é caracterizada pelo domínio de um saber pescar
baseado na experiência e pela propriedade dos meios de produção. É realizada com
instrumentos e procedimentos simples com estratégias diferentes e complexas. Os
pescadores artesanais utilizam locais de pesca específicos (rios, mar, estuário),
variados apetrechos de captura pesqueira (caçoeira, tarrafa, grosseira, anzol, etc.) e
pescam diversos produtos (peixes, moluscos, crustáceos). Sousa (2010 p. 42).

Com o relato do autor, observou-se que a pesca artesanal tem um baixo impacto no
ecossistema, pois os pecadores artesanais investigados utilizam técnicas simples para a
realização da pesca. No período da piracema, os pecadores diminuem a pesca e complementam
sua renda com agricultura de subsistência e outras atividades. É importante frisar que o pescador
local sabe da importância do Rio Camurupim para ele e para a comunidade, por demonstrar
sempre uma consciência ambiental, que é fundamental para manutenção desse ecossistema.
Além disso, a grande maioria dos pescadores entrevistados têm registro profissional na colônia
de pescadores, fator esse que facilita na organização da classe, no desenvolvimento de

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atividades, assim como os diversos processos que podem surgir, como por exemplo, dúvidas,
denúncias, ocorrências de ordem pesqueira ou ambiental.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A partir da análise dos 100 (cem) questionários respondidos, a maioria dos respondentes
é do sexo masculino (70%). A faixa etária dos entrevistados que predominou foi de 43 a 53
anos de idade (29%), seguido de 54 a 64 anos de idade (26%). Os demais com idade entre 32 a
42 anos (18%), com 21 a 31 anos (15%), até 20 anos (8%) e acima de 65 anos (6%). Já em
relação ao estado civil, a maioria dos entrevistados são casados (85%), os demais são solteiros
(10%) e viúvos (5%). Dos respondentes, 95% são da comunidade de Barra Grande os demais
(5%) são de Cajueiro da Praia e Parnaíba, que vem ao Rio Camurupim para praticar a pesca
esportiva. Sobre os motivos da ida ao rio, 74% que frequentam o manancial são pescadores
incluindo os que catam ostras, já 22% dos entrevistados vão apenas para o lazer e 4% ficaram
a cargo dos guias turísticos que tem o Rio Camurupim como fonte de trabalho e de comerciantes
que não frequentam o rio, mas comercializam os pescados.
Foi questionado ainda aos respondentes se estes compreendiam o Rio Camurupim como
um atrativo turístico e por quê. Nesse sentido, 90% disseram sim, sendo que a maioria das
respostas estavam atreladas ao “produto” da trilha do cavalo marinho como atrativo turístico,
além da procura de turistas ao rio para prática de esportes. Foi relatado ainda que aves
migratórias têm o rio Camurupim como rota, condição essa que proporciona um espetáculo a
ser observado tanto por turistas que visitam a comunidade quanto pelos próprios moradores,
que também tem a oportunidade de observar estas belezas naturais, que também pode vir a ser
considerado um produto turístico.
Ainda de acordo com a pesquisa foi possível identificar que diversas atividades são
realizadas no Rio Camurupim que vão desde lavagem de roupa, pesca artesanal, pesca esportiva
até a mergulho e passeios turísticos. Quanto à conservação do Rio Camurupim, 90% respondeu
que não estar boa porque quando a maré está vazando o mangue (mangue vermelho) fica seco,
situação essa que demonstra sua poluição (presença de resíduos), que pode acarretar na perda
de espécies, dessa forma, prejudicando a trilha do cavalo marinho, bem como o equilíbrio
ambiental. Os 10% restantes não souberam responder.
Além dessa problemática, foi possível também detectar, por meio das entrevistas e da
observação direta, que o Rio Camurupim, mesmo situado dentro de uma Área de Proteção
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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Ambiental, vem sofrendo diversos impactos negativos, que vão desde cultivo de camarões,
extração de areia, à prática de kitesurf que afeta também direta e indiretamente o rio.
Em relação a criação de camarão, esta gera alguns impactos ambientais, desde a
instalação dos tanques que comprometem o manguezal até o acúmulo de sedimentos nestes
locais, mesmo sendo um ecossistema de conservação marítima e fluvial. Oliveira e Mattos
(2007) citam alguns dos benefícios do ecossistema de manguezal, como sendo fontes de matéria
orgânica particulada e dissolvida para as águas costeiras adjacentes, constituindo a base da
cadeia trófica com espécies de importância econômica e/ou ecológica; área de abrigo,
reprodução, desenvolvimento e alimentação de espécies marinhas, estuarinas, límnicas e
terrestres, além de pouso de aves migratórias; proteção da linha de costa contra erosão,
assoreamento dos corpos d’água adjacente, prevenção de inundações e proteção contra
tempestades; manutenção da biodiversidade da região costeira; absorção e imobilização de
produtos químicos (por exemplo, metais pesados), filtro de poluentes e sedimentos, além de
tratamento de efluentes em seus diferentes níveis; fonte de recreação e lazer, associada ao seu
apelo paisagístico e alto valor cênico; fonte de proteína e produtos diversos, associados à
subsistência de comunidades tradicionais que vivem em áreas vizinhas aos manguezais.
Toda a construção de canais e tanques implica em impactos. “Em linhas gerais, os
impactos estão relacionados às mudanças na drenagem, desvio ou impedimento do fluxo das
marés, mudanças nas características físico-químicas do substrato, entre outras.” (OLIVEIRA;
MATTOS, 2007, p. 185). Em Barra Grande, a criação de camarões teve uma baixa aceitação
por parte da comunidade. Em entrevista com os moradores, alguns falam a respeito dos viveiros,
mas conhecidos como “Firma”. Sobre esses relatos os moradores descrevem que: “Nos viveiros,
quando é feita a despesca do camarão eles limpam os tanques com alguns produtos químicos e
despejam a água suja no rio, acarretando mau cheiro na água tem casos que o pescador de
caranguejo reclama de coceiras por causa dessa água suja e fedorenta”.
Quando perguntados se estes já haviam reclamaram da situação dos viveiros com
relação à manutenção, onde há o despejo de produtos químicos no rio, para o órgão competente,
muitos dos nativos não responderam por medo de represália dos donos dos viveiros; alguns
deles têm parentes trabalhando e, para não os prejudicar, optam por não responder. Por outro
lado, os poucos que responderam relatam que: “Por causa dos viveiros o rio abaixou seu nível
em alguns pontos, trajetos que se passava com a canoa agora pode passar a pé como parte do
mangue, que era rota para trilha do cavalo marinho, que agora esperam a maré encher para fazer

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a travessia comprometendo assim a rota”, assim como a sobrevivência dessa espécie, que
necessita do ambiente ecologicamente equilibrado.
Em questionamento com um representante da associação de pescadores se já foi
reclamar sobre tal situação, ele afirma que já, mas toda vez os empresários chegam com a
autorização e licença. Assim ficam sem ter o que fazer e aceitam a posição, mesmo sabendo
dos problemas. Outro problema que atinge mais diretamente o Rio Camurupim é a extração de
areia, acarretando problemas no canal do rio. Seguindo raciocínio, Oliveira e Mello (2016, p.
374) discorrem que: “o efeito imediato e direto desta ação é a redefinição dos limites do canal,
seja pela retirada ou adição de materiais, que por sua vez pode promover uma mudança no
padrão de fluxo e de transporte de sedimentos”. Oliveira e Mello (2016, p. 374) ainda explicam
que “as modificações das condições do canal podem ser propagadas a montante e jusante, bem
como lateralmente, e por outro lado podem impactar os ecossistemas aquáticos”. Essa prática
prejudica o Rio Camurupim e seu ecossistema, o que pode trazer um problema ainda maior se
continuar extraindo de maneira desordenada.
Mesmo ocorrendo esses impactos negativos, devido a ação antrópica, que podem
interferir na dinâmica fluvial e no ecossistemas aquáticos, ainda assim é possível a extração de
areia a partir de fontes localizadas no leito ativo de rio, sem criar impactos ambientais adversos,
desde que dentro das condições naturais de regime hidráulico do sistema fluvial, e mantido as
salvaguardas e práticas apropriadas (Langer & Glanzman 1993, Kondolf 1994a, OWRRI 1995
apud Oliveira e Mello, 2016). Conforme citado acima, é possível extrair sem agredir o meio
ambiente, utilizando práticas apropriadas, apesar de não ter constatado essa informação da
retirada de areia do rio, foram obtidos apenas relatos dos moradores que contam que caminhões
vêm quase todas as semanas, retiram a areia e vão embora. Não se sabe onde eles descarregam
essa areia.
É notório que o Rio Camurupim não está tendo o devido cuidado do órgão competente, sendo
que uma vez colocado em prática a extração de areia do leito do rio, dentre outros problemas já
citados, os efeitos negativos destas ações podem ser irreversíveis. Por outro lado, os bons ventos
da região viabilizam a pratica do kitesurf no distrito de Barra Grande, esporte este praticado
com muita frequência, mas sem a certificação da ABNT ou qualquer outra regulamentação.
Apesar de ser uma área propícia para esta atividade, pode-se perceber em diálogos com os
moradores, que a prática do kitesurf influencia diretamente a presença de peixes próximo a foz
do Rio Camurupim, situação que chega a causar transtornos aos pescadores locais. Diante disso,
um fato em especial, envolvendo pescadores e kitesurfistas foi relatado onde:
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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

[...] Certo dia, um grupo de pescadores, cansados de voltar para casa “de mãos
vazias” por causa de kitesurfistas que, com a maré cheia, migram para o
estuário do rio Camurupim e ali passam a tarde inteira velejando, “afastando
os peixes” com a agitação e o barulho que as pranchas provocam na água,
“botaram os gringos pra correr”, com facões e remos, ameaçando danificar os
equipamentos dos kitesurfistas. Também destruíram os obstáculos construídos
com troncos de árvores pelos kitesurfistas no intuito de intensificar a
experiência de aventura. (FERREIRA, 2012, p. 02).
Esse conflito dos pescadores com os kitesurfistas pode trazer uma imagem negativa para
a comunidade e para Barra Grande como atrativo turístico. Para pensar em uma solução para
esse conflito é necessária uma intervenção que auxilie conciliação entre ambas as partes,
determinados limites para a prática desse esporte, onde estes deixariam de lado sua execução
próxima a foz do Rio Camurupim, se limitando mais a praia. Os donos de pousadas, que apoiam
a pratica do kitesurf, devem realizar palestras de sensibilização junto aos praticantes e explicar
a importância para não adentrarem na foz do Rio Camurupim e muito menos no próprio rio,
evitando assim problemas futuro.
Quando questionados se a mesma tem conhecimento sobre a água poluída provindas
dos viveiros e despejadas no Rio Camurupim, que segundo moradores acarreta, em vários
problemas, como por exemplo, mau cheiro e coceiras, como resposta a gestora disse que “não
pode afirmar tal questão porque não há um estudo e nem pesquisa na área que possa sustentar
essa informação dada pelos moradores. Ainda assim, cabe ao órgão responsável apurar com
detalhes as reclamações da comunidade de Barra Grande”. Sobre os viveiros, segundo a
representante do órgão, “os proprietários têm licença para estarem no local, mas essa licença
permite impor regras, tais como de não deixar pescadores executar a prática de pesca nas
proximidades.” Ainda assim, moradores relatam que tais proibições estão sendo feitas. É válido
ressaltar que os pescadores se mostram mais preocupados com a manutenção do ecossistema e
sua possível poluição.
Não se sabe ao certo o estado de conservação de forma precisa desse ambiente de estudo.
Como citado antes pela a representante do ICMBio, é necessário haver um estudo mais
aprofundado na região, na qual inclui o Rio Camurupim. Em contraste, é afirmado que já
deveria haver um estudo na área, porém, os responsáveis admitem que por ser uma Área de
Proteção Ambiental fica difícil, uma vez que a área é muito extensa. A atividade econômica
desenvolvida na comunidade, de acordo com a entrevistada, é apenas a criação de camarão.
Entretanto, a atividade turística desenvolvida tem uma movimentação econômica importante
dentro da comunidade, além de outras ramificações socioeconômicas.

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Já em relação aos riscos, a representante do ICMBio citou a falta de saneamento básico


como um risco para o Rio Camurupim. Essa ainda destacou que Barra Grande, por receber um
grande fluxo e ser um destino turístico bastante procurado já devia ter um bom saneamento
básico. A falta de preocupação é bastante notável e só a comunidade sozinha não possui força
o suficiente para resolver certos aspectos, como o saneamento básico, por exemplo. Mas a
própria comunidade pode fazer reuniões entre eles e esclarecer a necessidade de se ter o cuidado
para não escoarem dejetos e outro resíduos para o rio, já que eles são os principais agentes que
fazem uso dessa riqueza natural, tendo estes o dever de cuidar e preocupar-se com esse bem da
natureza tão importante para a vida de toda a comunidade.
Essa preocupação dos nativos locais com o Rio Camurupim existe, por ser sua principal
fonte de renda e de sobrevivência, além de ser um atrativo turístico atualmente. No entanto, é
preciso destacar que muitos dos pescadores se recursaram a responder os questionários por
medo de represália de alguém ou de algum órgão. Foi possível perceber também que muitos
destes entrevistados não acreditam nas ações do ICMBio, principalmente porque membros
dessa instituição dizem que vão resolver os problemas, porém, na prática nada é feito, mesmo
esta comunidade sendo pertencente a uma Área de Proteção Ambiental (APA) do Delta do
Parnaíba, onde estes alegam ter esta dificuldade na execução do trabalho de conservação e
fiscalização por ser uma área muito extensa e por ter poucos agentes para estas funções.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa possibilitou observar que os moradores da comunidade de pescadores do


distrito de Barra Grande, município de Cajueiro da Praia-PI, têm conhecimento das dificuldades
encontradas, e uma preocupação com Rio Camurupim, por ser uma fonte de benefícios e por
abrigar seu principal atrativo, a trilha do cavalo marinho, e de outras espécies. A pratica
ecoturística realizada no Rio Camurupim visa a sustentabilidade ambiental, com a conservação
das belezas naturais, apesar da observação de diversos conflitos na área de estudo.
A construção de viveiros de camarão gera um conflito com os pescadores, uma vez que
os mesmos não podem pescar perto dos viveiros, criando um impasse sério com os empresários
locais. A prática do kitesurf no Rio Camurupim também é conflituosa com os pescadores, além
da extração de areia do mesmo e da quebra de confiança da comunidade com o ICMBio,
situação essa que se torna preocupante, já que se trata da instituição responsável pela
conservação e manutenção da APA Delta do Parnaíba.
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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Em meio a esses conflitos uma grande parte da comunidade ainda realiza a pesca
artesanal, um meio de vida simples e de subsistência. Já o turismo, apesar de ser uma atividade
econômica promissora na comunidade, de certo modo vem impactando de forma negativa o
distrito de Barra Grande, tanto nos aspectos socioeconômicos (na maioria das vezes positivos),
quanto socioambientais (principalmente na degradação ambiental). Um fato negativo,
observado pelos moradores, diz respeito aos privilégios que os empreendimentos turísticos têm,
pelo fato destes ter sempre autorização para construir seus estabelecimentos de frente para o
mar. Por outra lado, se algum morador da comunidade decidir construir nestes locais é
derrubado e impedido de edificar, fato que faz a comunidade se sentir excluída do processo de
fomentação da atividade turística, bem como, na aquisição de uma nova renda, por não
participar do fenômeno turístico em si.
Dessa forma, se faz imprescindível a construção de um planejamento estruturado em
locais com alta fragilidade ambiental, que possuem, por exemplo, animais ameaçados de
extinção ou a presença de atividades tradicionais, como é o caso do Rio Camurupim no distrito
de Barra Grande, pertencente ao município de Cajueiro da Praia.
Portanto, o trabalho permitiu observar que existem alguns conflitos e discussões na
perspectiva dos moradores, que foram firmes e consistentes as considerações aqui mencionadas.
A pesquisa também mostrou que estes problemas, caso haja um planejamento adequado, podem
ser verificados e sanados, dessa forma, promovendo atividades socioeconômicas e
socioambientais de forma sustentável, desde que haja a participação de toda a comunidade em
questão, das intuições responsáveis e da garantia que a atividade turística poderá ser fomentada
sem esquecer a população local e seus anseios ou até mesmo a inclusão de forma responsável
e definitiva da pesca artesanal, que certamente será mais uma peculiaridade desta área estudada,
por fim, espera-se que este estudo possa a vir contribuir com outros trabalhos futuros, afim de
contribuir com novas observações, que favoreçam toda a comunidade local e suas respectivas
atividades, especialmente as que envolvem os bens naturais como o Rio Camurupim.

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

GLOBALIZAÇÃO E VIAGENS: TURISMO BACKPACKER NA CIDADE DE


PARNAÍBA, PIAUÍ

Mateus Rocha dos Santos


Anderson Fontenele Vieira
RESUMO
O turismo backpacker é determinado por motivações diversas ocasionadas pela busca do
contato com outras culturas, meio ambientes ou por variadas formas de encontro pessoal. No
entanto uma das características principais desse segmento é a particularidade de ser realizado
de forma barata, individualiza ou em grupos menores, evidenciando neste ponto um turismo
alternativo. A cidade de Parnaíba, localizada no estado do Piauí foi a área objeto desse estudo,
que teve como objetivo geral identificar o perfil de turistas backpackers e quais suas motivações
em conhecer o destino em questão. Quanto aos procedimentos metodológicos foram realizadas
pesquisas bibliográficas sobre o tema, correlacionadas com aprofundamento das diferenças
entre esses turistas e as demais formas de realização de viagens. Por fim, concluímos que a
demanda de turismo backpacker é uma realidade que precisa ser considerada no contexto local,
principalmente, pelo crescimento que teve nos últimos anos. Além de termos dados sobre a
identificação do perfil dos turistas sujeitos da pesquisa, bem como suas motivações e
percepções sobre a cidade de Parnaíba.
Palavras-chave: Segmentação, turismo backpacker, motivações.

ABSTRACT

Backpacker tourism is determined by diverse motivations caused by the search for contact with
other cultures, environments or by various forms of personal encounter. However, one of the
main characteristics of this segment is the particularity of being carried out cheaply,
individualized or in smaller groups, evidencing at this point an alternative tourism. The city of
Parnaíba, located in the state of Piauí was the object of this study, which had as general objective
to identify the profile of backpackertourists and what their motivations are in knowing the
destination in question. As for the methodological procedures, bibliographic research was
carried out on the subject, correlated with deepening of the differences between these tourists
and the other forms of travel. Finally, we conclude that the demand for backpacker tourism is
a reality that needs to be considered in the local context, mainly due to the growth it has had in
recent years. In addition to having data on the identification of the profile of tourists subject to
the research, as well as their motivations and perceptions about the city of Parnaíba.

Keywords: Segmentation, backpacker tourism, motivations.

INTRODUÇÃO

Parnaíba é a segunda maior cidade do estado do Piauí em extensão territorial, localizada


na latitude 02°54’17’’ e longitude 41°46’36’’, na Planície Litorânea, Microrregião do Litoral
Piauiense, a uma distância de 339 km da capital, Teresina, tendo como via de acesso a BR -

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343. Apresenta área de 435,6 km², com população de 145.705 habitantes e densidade
demográfica de 334,51 hab/km², sendo que 137.507 dessa população reside na zona urbana
(IBGE, 2018). Seus limites são: ao Norte com o Oceano Atlântico e com Ilha Grande, ao Sul
com Buriti dos Lopes e Cocal, ao Leste com a cidade de Luís Correia e ao Oeste com o Estado
do Maranhão (CEPRO, 2013).
Considerada porta de entrada para o Delta do Parnaíba, ecossistema que faz parte de
uma Unidade de Conservação (UC) na categoria Área de Proteção Ambiental (APA), criada
em 28 de agosto, de 1996, e fiscalizada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade (ICMbio) (FROTA, 2017). A região da APA possui atrativos turísticos naturais
que fazem parte da Rota das Emoções, roteiro turístico que inclui áreas dos estados do Ceará,
Maranhão e Piauí. Por possuir atrativos naturais e estar localizada no litoral a cidade de Parnaíba
tem forte apelo para o turismo, predominando os segmentos mercadológicos de sol e mar e
ecoturismo. Não obstante, faz-se necessário que se mantenha os olhos para outros que vêm
despontando como o turismo backpacker ou mochileiro.
Apesar de não haver números sobre a demanda do segmento empiricamente percebe-se
o crescimento desse turista, que pratica um turismo alternativo e em grupos menores. Com isso
a cidade que antes direcionava sua estrutura de receptivo para equipamentos aos turistas de
lazer, tem ampliado a oferta de serviços de hospedagem, por exemplo, com a criação de hostels
e hospedagens alternativas. Reforçamos como uma das características do turista backpacker a
busca por serviços econômicos nas viagens. Embora esse segmento se faça presente no contexto
local é visto com pouca convicção, pois aparentemente não apresenta um rentável e imediato
retorno econômico.
Estudos de Silva (2011) e Oliveira (2005) apontam o segmento em questão como uma
forte tendência turística por outras regiões e países, principalmente, nos sul-americanos. Com
base no exposto, essa pesquisa trata de qualificar as dinâmicas do turismo backpacker em
Parnaíba para que possamos refletir sobre as influências desse, além de caracterizar esse turista
e o que estabelece sua permanência. A busca por essa compreensão surgiu por que além de
identificarmos o movimento mochileiro, não existem estudos relacionados sobre a temática na
área objeto de estudo sendo esse pioneiro.
Quanto a metodologia essa pesquisa é de natureza aplicada sendo realizado um estudo
explicativo por meio do método observacional. Quanto aos procedimentos técnicos foram feitas
pesquisa bibliográfica e de campo na perspectiva de estudo de caso, com uma abordagem

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

qualitativa tendo como bases teóricas (TRIVIÑOS, 1987; GOLDENBERG, 1997; MINAYO,
2001; FONSECA, 2002 e GIL, 2007).
Os dados secundários foram coletados por meio de questionário semiestruturado com
hóspedes em dois hostels. No referente a amostra foi feita uma amostragem representativa do
universo estudado, do tipo não probabilística por conveniência ou acidental, devido ao
desconhecimento do número total de elementos que se encontra no universo tendo como critério
de escolha a disponibilidade de participar de turistas com perfil backpacker.
Ressalta-se que não definimos a nacionalidade dos sujeitos da pesquisa, pois tentou-se
averiguar se neste ciclo transitório de turistas permeiam variedades de indivíduos. Dessa
maneira participaram da coleta 16 pessoas, os quais se propuseram a responder ao questionário
sem interferência dos pesquisadores. O questionário foi apresentado entre os meses de agosto,
setembro e outubro de 2018, onde se possui um fluxo de visitantes e turistas razoável.

FUNDAMENTOS E CONCEITOS DO TURISMO BACKPACKER

A intenção de encontrar um destino turístico se dá pelo motivo ou percepção que o


turista tem em sentir o local, previamente, existe no sentido diferenciado dos demais, no qual
dependerá da forma que este indivíduo constrói uma análise pessoal pelos aspectos visuais,
auditivos, tácteis, etc. (CIDADE, 2012; URRY, 2001). A ideia da viagem como instrumento de
aquisição do conhecimento assim como caminho para a autorreflexão, também figura como um
dos principais elementos motivadores do deslocamento. A saída de seu ambiente familiar e da
rotina somada à viagem feita de forma independente, põe o sujeito em comunicação com ele
mesmo (SILVA, 2011).
As viagens aqui associadas geralmente tendem às pessoas que procuram formas
independentes, sem muita comodidade ou luxo, que acreditam em uma fase de transição entre
a idade jovem e adulta, antes ou depois de um casamento, após o fim de uma graduação ou
mudança de carreira e emprego, ou até mesmo, se alto descobrir em meio a uma vida
descontrolada de problemas e preocupações (OLIVEIRA, 2005; CARVALHO, 2009;
SAWAKI, 2010; CIDADE, 2012).
Existem também casos de pessoas que tentam descobrir outros aspectos sociais ou
vivenciar o trajeto de uma comunidade ou região. Para estudiosos como Mowforth e Munt
(1998, apud. CARVALHO, 2009, pag. 49) é sugerido que os turistas mochileiros estão inclusos

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na categoria de turistas autocentrados, chamado por vezes de egoturistas por assim excluir-se
das outras formas de turismo.
Segundo os estudos de Carvalho (2009), os turistas na década de 70, desenvolveram um
paradigma onde se sobrepujam em duas linhas de tipologias, sendo os turistas
institucionalizados e os não institucionalizados. A primeira divisão trata dos que praticavam o
turismo de massa, geralmente, organizados por agências, com a finalidade de evitar riscos ou
prejuízos no trajeto aos destinos e logo em seguida aqueles que não seguiam à risca
intermediadores, os drifters, chamados assim, como viajantes quase sempre jovens, sem
destinos e por impulso, e os explorers (exploradores), designados aqueles com o propósito de
investigação ou desbravamento.
Logo para Cidade (2012), o mochileiro escolhe passar por situações desconfortáveis
pela pratica mais simples ou de menos consumo do que o turista convencional. Neste momento
o mochileiro acaba sendo designado como hippie, além de haver preconceito por serem
associados as drogas e ao marginalismo, o que faz com o turista backpacker acabe sendo visto
com outros olhares pela população. Pelo menos aqui no Brasil isso ainda é presente,
diferentemente dos países europeus, onde estes adotam disponibilidade e hospitalidade a este
turista, conforme é apresentado nos estudos feitos por REBELO (2012), em Portugal, e
OLIVEIRA (2005), no Brasil. “Se antes o turismo mochileiro era visto como uma atividade
marginal, associada a drogas, aos hippies e aos aventureiros irresponsáveis, hoje, os mochileiros
da Europa, Oceania e América do Norte realizam grandes viagens” (SAWAKI, SAWAKI,
2010). Cabe a reeducação e a transparência ao acesso de informações sobre este turista, e do
modo que este segmento representa para o restante dos locais e regiões que o recebem, visando
sua importância econômica e social, além da transferência cultural gerando um mutualismo de
experiências entre o mochileiro e a população. Embora seja um segmento novo, o turismo
mochileiro deixa explícito a atual formação do turismo, em que a procura de vivenciar os
aspectos mais humanísticos é notável e presente, ou seja, existe uma transformação
generalizada na perspectiva de se fazer uma viagem, seja ela pessoal, como forma de passagem
de uma fase para outra da vida (REBELO, 2012, pag. 18), seja para se auto descobrir em meio
a sociedade, ou até de mesmo buscar novas ideias, visões e expectativas.

TURISMO BACKPACKER EM PARNAÍBA: PERFIL SOCIOECONÔMICO,


MOTIVAÇÕES E REFLEXÕES

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

A partir dos dados obtidos observou-se que 69% dos participantes são do gênero
masculino enquanto 31% são do feminino. O número maior de homens se destaca,
possivelmente, pelo estilo de vida que o turismo backpacker “exige”, como pernoitar e transitar
entres cidades ou deparar-se com riscos ao bem-estar físico, que em relação ao gênero feminino
possam ser mais dificultosos ou gerar situações desconfortantes. De acordo com Cidade (2012),
esse tipo de segmento pode apresentar alguns riscos, como roubos durante as viagens, pernoitar
em lugares de difícil acesso, além de outros fatores de constrangimento que possam acontecer.
Quanto à faixa etária (gráfico 1) houve uma grande variação tendo maior destaque as
correspondentes entre 30 a 39 anos com 43,8%, seguido de 25 a 29 anos com 31,3%, e, entre
19 a 24 anos, e, 40 a 49 anos, ambos com 12,5%. Com base nos dados concluímos que o perfil
dos pesquisados corresponde ao perfil mais jovem sugerido por Carvalho (2009), Aoqui (2005),
Oliveira (2005) e Urry (2001). Conforme Rebelo (2012) aponta em seu estudo, por exemplo,
jovens buscam formas alternativas em viajar de forma econômica e independente buscando
trocas de experiências.

Gráfico 1 - Faixa etária dos sujeitos da pesquisa

Fonte: Dados da Pesquisa (2018).

Em relação a escolaridade (gráfico 2) vale destacar também uma variação significativa,


em que 37,5%, respectivamente, possuem Ensino Superior completo e Pós-graduação, 18,8%
Ensino Superior incompleto e 6,3% Ensino Médio completo.

Gráfico 2 – Escolaridade dos sujeitos da pesquisa


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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Fonte: Dados da Pesquisa (2018).

Assim, o viajante backpacker além de ser jovem se enquadra no perfil de estudante ou


que já finalizou seus estudos superiores (CARVALHO, 2009). Esse indivíduo antes de realizar
uma viagem nas perspectivas de mochileiro traz consigo a experiência ou formação acadêmica,
onde a partir desse ponto poderá vivenciar a realidade dos contextos socioculturais, ambientais
e econômicos dos destinos para os quais viajou (URRY, 2001).
Quanto as profissões ou ocupações foram identificados: pesquisadores, professores,
personal trainer, estudantes, bancário, agricultores, secretariados, supervisores, pedagogos,
redatores, músicos, desempregados, além de pessoas autônomas. Assim, ajuizamos que não
existe uma relação de classes econômicas ou de ocupação profissional que mais se encaixaria
nos sujeitos desse estudo, mas é demonstrado que os participantes possuem alguma carreira
profissional ou empreendimento.
Em relação a língua estrangeira falada destacamos que esses possuem fluência na língua
inglesa, espanhola ou em algum nível entre conversação e entendimento dos idiomas
supracitados. Assim, o número de falantes de língua inglesa é predominante, chegando a 10%,
sendo fluente ou possuindo uma formação intermediária do ponto de vista da compreensão e
comunicação. Em seguida, a língua espanhola com 4%, o francês com 1%, e, 1% não possuem
fluência em alguma outra língua. Durante a aplicação do estudo identificamos que alguns
possuem autonomia para se comunicar em línguas latinizadas, como o francês ou italiano.
Corroborando com Oliveira (2005), constatamos que é comum os turistas backpackers saberem
algum idioma além do seu de origem.
Quando questionados sobre sua identificação como turista mochileiro ou backpacker é
demonstrado que 62,5% se autodenominaram conforme retratado no gráfico 3. Com base nisso
30
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Carvalho (2015) qualificam esses viajantes como ego turistas, os que planejam suas próprias
viagens. Para Oliveira (2005), este turista não está focado no consumismo, por isso busca
formas econômicas de viajar. Como reflexão consideramos que o ser ou não mochileiro está
muito ligado a ideia de vivência individualizada para a busca da integralidade maior do ser,
pois o foco não é o de consumir um serviço pronto, comum aos turistas tradicionais, mas de se
permitir a descobrir por conta própria o que é o destino e quais as experiências possíveis nesse.

Gráfico 3 - Se identifica como turista backpacker

Fonte: Dados da Pesquisa (2018).

Quando enquadramos os entrevistados a um perfil de mochileiro, os participantes se


qualificaram em: drifter (sem destino); holiday backpackers ou tradicional (sem consumismo,
geralmente viajando sozinho); contemporâneo (ligado ao consumismo, tecnologias, geralmente
em grupos); road status (formas baratas e alternativas, e por tempo mais prolongado). Estes
perfis são apresentados no gráfico 4, onde se destacou o turista road status, com 50%. Implica-
se em afirmar conforme os conceitos propostos por Aoqui (2005) e Sawaki (2010), do encontro
desses perfis durante a aplicação dos questionários, nos quais demonstram que os viajantes
buscam formas diferenciadas de realizar suas viagens.

Gráfico 4 - Tipo de turista backpacker

31
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Fonte: Dados da Pesquisa (2018).

Ainda a respeito das motivações ou interesses destacam-se: férias ou lazer;


autoconhecimento; praticar o kitesurf e conhecer a paisagem da região; conhecer o país e
aprender sobre o local de cultura; conhecer o estado e suas praias; aprender português;
fotografias; conhecer o Nordeste do Brasil; experimentar coisas novas; trabalho e negócios.
A cidade de Parnaíba por possuir atrativos diversificados com ênfase ao Delta do
Parnaíba (ASSIS, 2016), pode proporcionar aos turistas formas de experiências, de modo que
suas perspectivas estejam voltadas em algum determinado ponto, como: conhecer as paisagens
naturais, experimentar a cultura local, ter contato com o ritmo da cidade, assim como atrativos
turísticos ou pelo fato de ser próxima de outras cidades com aspectos turísticos.
No referente ao motivo de ter escolhido o destino, neste caso a região têm-se também
múltiplas respostas nas quais apontamos: por convite de amigos; conhecer a Rotas das Emoções
e o Piauí; boa localização e conhecer o Delta do Parnaíba; baixo custo de vida; boa localização
em relação a outros atrativos turísticos; boa percepção de segurança; clima agradável; gosto de
praia e Nordeste; qualidade do esporte do kitesurf; os hostels auxiliam bastante na estada;
belezas naturais e estilo mais aventureiro; atrativos turísticos, históricos e culturais.
Assim, os aspectos que determinam os motivos das viagens destes visitantes são
determinados como aponta a pesquisa, pela brusca tentativa de se adequar ou que lhe traga o
bem-estar em meio a outras culturas, além do próprio contato com a natureza e outras paisagens
(CHRISTINO, SILVA, AGOSTINI, 2018).

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Por fim, quando questionados a respeito da opinião que tinham do destino tivemos
diversas respostas conforme quadro 1:

Quadro 1 - Opiniões sobre o destino Parnaíba.

Mais valorização dos pontos históricos; divulgação; melhoria em infraestruturas e passeios


em tours (free walking tour);
Desregulamentar totalmente o dito "transporte público", para promover a livre concorrência
e a livre escolha do passageiro;
Preservar e restaurar centro da cidade e mais profissionais preparados nos restaurantes
(atendimento);
Parnaíba é difícil de realizar atividades durante a noite;
Parnaíba é linda, e possui em volta belas praias;
Bela cidade, porém, os passeios são bem caros;
Mapear a cidade em forma de folder;
Maior orientação com relação a composição do Delta e suas opções de passeio de maneira
mais detalhada;
Melhorar os serviços turísticos e divulgar melhor a região;
Maior integração dos diferentes destinos turísticos.
Fonte: Dados da pesquisa (2018).

Com base nos dados concluímos que apesar da cidade de Parnaíba ter características
que reforçam o apelo para o turismo e por ser considerada potencialmente turística aos olhos
de quem estuda o campo epistemológico do turismo. Nas percepções dos entrevistados de um
modo geral, identificamos elementos que acusam sobre como o turista backpacker reconhece
ou reconheceu a cidade a partir de suas experiências. Dessa forma, acreditamos que pontos
como esses são relevantes e devem ser considerados pela gestão e para o planejamento turísticos
locais a fim de fomentar quais os modelos mais interessantes de turismo para atender não só a
demanda backpacker, mas de outros perfis. Repensar a cidade considerando o olhar de quem
não é daqui é relevante para o melhoramento dessa, principalmente, quando se trata de um local
que tem viés para o desenvolvimento da atividade turística.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir da pesquisa pode-se afirmar que o turismo backpacker na cidade de Parnaíba


possuiu fortes ligações com outras segmentações já desenvolvidas. Quando os atores do turismo
local percebem que existem turistas de determinada demanda, entende-se que essa é vigente,
ou seja, o crescimento turístico da cidade é adepto ao segmento backpacker, mesmo que não
desenvolvido de forma planejada. É claro que o turismo mochileiro possui um papel de
importância para o incremento econômico e cultural da região.
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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

O turista backpacker ao buscar motivações para conhecer o destino Parnaíba ou a região


turística, encontra um contexto com desenvolvimento estável e um custo baixo de vida, além
de apresentar riqueza natural, desde o Delta do Parnaíba às praias. Devemos considerar que as
segmentações turísticas que são desenvolvidas tendem a interagir com outras em uma simetria
nem sempre estável. Pois de acordo com nosso estudo o turista backpacker vem em busca do
kitesurf, das praias, de conhecer as comunidades presentes no litoral e dentro do Delta, busca
se aventurar e ter o maior contato possível com a natureza.
Por fim, espera-se que esse estudo pioneiro possa colaborar com a literatura cientifica
sobre esse tema ainda tão pouco debatido e quem saber chamar atenção da gestão pública e
privada, bem como outros atores no sentido de reconhecer o potencial do turismo backpacker
para o crescimento econômico local.

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

ANÁLISE SWOT DO PARQUE NACIONAL DE SETE CIDADES-PI NA


PERSPECTIVA DO TURISMO
Nathalia da Silva Araujo
Ronaldo Oliveira Pereira Araujo
Solano de Souza Braga

RESUMO
O Ecoturismo é uma alternativa de apreciar a natureza sendo um refúgio das atividades
rotineiras dos grandes centros. Áreas de proteção ambiental são salvaguardadas da atividade do
homem contribuindo para a preservação da biodiversidade do bioma e conservação para as
gerações futuras. Desta forma, como esses espaços são receptores de turistas, faz-se necessário
uma estrutura para recebê-los, assim, o principal objetivo do artigo é analisar a estrutura do
Parque Nacional de Sete Cidades localizado no Piauí, a partir da análise SWOT. A metodologia
empregada, foi de cunho qualitativo, bibliográfico e pesquisa de campo. Assim sendo, pode-se
concluir que o PARNA apresenta relevantes pontos fortes e oportunidades para se trabalhar o
turismo, entretanto observa-se necessárias melhorias a serem aplicadas para que se tenha um
melhor atendimento ao turista, além de investimentos em marketing atraindo, assim, mais
visitantes ao PARNA.

Palavras- Chave: PARNA de Sete Cidades; Análise SWOT, Unidade de Conservação.

ABSTRACT

Ecotourism is an alternative to appreciate nature being a refuge from the routine activities of
large centers. Environmental protection areas are safeguarded from human activity contributing
to the preservation of biome biodiversity and conservation for future generations. Thus, as these
spaces are recipients of tourists, it is necessary a structure to receive them, so the main objective
of the article is to analyze the structure of the National Park of Sete Cidades located in Piauí,
from the SWOT analysis. The methodology used was qualitative, bibliographical and field
research. Therefore, it can be concluded that PARNA presents relevant strengths and
opportunities to work tourism, however it is necessary improvements to be applied in order to
have a better service to tourists, in addition to investments in marketing, thus attracting more
visitors to PARNA.

Keywords: PARNA de Sete Cidades; SWOT Analysis, Conservation Unit.

INTRODUÇÃO

O ecoturismo vem crescendo cada vez mais mediante à fuga dos grandes centros, os
quais possuem um ambiente estressante, fazendo com que as pessoas busquem um contato
maior com a natureza para fugir do ritmo das cidades, de forma consciente e sustentável.

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Dito isto, o Brasil é privilegiado com uma variedade de destinos ecológicos, possuindo
cinco biomas (Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica, Pampa, Amazônia e Pantanal). Devido à
grande quantidade de recursos naturais e uma variedade de biomas dentro do território nacional,
o Brasil é contemplado com vários tipos de ecossistemas, os quais abarcam diversas espécies
de animais e vegetais, o que proporciona, assim, a sua grande biodiversidade.
Sem embargo, 1Bohrer e Dutra (2009), afirmam que isso não advém apenas da grande
extensão territorial do país, mas também por estar localizado na zona tropical, com grandes
áreas de floresta tropical úmida, bioma que abriga uma proporção extremamente grande do total
de espécies que ocorrem no planeta
Contudo, dentro de cada bioma brasileiro, atuam as Unidades de Conservação (UC), as
quais têm como objetivo primordial a conservação desses espaços, bem como da diversidade
biológica dos ecossistemas, de forma que se preserve todo o patrimônio biológico e natural
existente nessas áreas.
Diante disto, caracterizado como UC de proteção integral, o Parque Nacional de Sete
Cidades surgiu a partir do Decreto Federal nº 50.744, de 8 de junho de 1961 e conta uma área
de 6.303,64 hectares. Localizado no Nordeste do estado do Piauí, o PARNA tem a finalidade
de preservar a biodiversidade e a cultura presentes no local, permitindo apenas atividades
planejadas e sustentáveis.
Dessa forma, o destino possibilita a visitação turística, promovendo o turismo científico,
ecoturismo e turismo de aventura, devido à grande diversidade de ecossistema presente na área,
bem como a possibilidade de realização de trilhas, a presença de cachoeira e de sítios
arqueológicos com pinturas rupestres dos índios tabajaras, cariris, e os tremembés, os quais
residiam no local há muitos anos.
Nessa perspectiva, o PARNA, possui grande potencial de atrativos turísticos para
promover a prática da atividade turística dentro do seu espaço, não obstante, faz-se necessário
que haja uma implementação de uma infraestrutura para uma recepção de qualidade e segurança
desses turistas e visitantes que buscam atividades em áreas naturais, bem como o bom manejo
desses espaços.

1
BOHRER, Claudio. DUTRA, Luiz. A Diversidade Biológica e o Ordenamento Territorial Brasileiro. In:
ALMEIDA, Flávio. SOARES, Luiz (Org.). Ordenamento Territorial: Coletânea de textos com diferentes
abordagens no contexto brasileiro. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2009. p. 117-147.

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Diante do exposto, o presente artigo tem como objetivo analisar o PARNA de Sete
Cidades através de uma análise SWOT, observando suas Strengths (Forças), Weaknesses
(Fraquezas), Opportunities (Oportunidades) e Threats (Ameaças), para, a partir disso,
promover melhorias para fomentar o turismo com base em princípios sustentáveis e neutralizar
os pontos negativos.

CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA

O PARNA de Sete cidades é um dos 3 existentes no estado do Piauí, criado em 8 de


junho de 1961 pelo Decreto Federal de 50.744. Localizado, na cidade de Piracuruca, na BR
222, km 6. Sendo visitado o ano todo devido à sua beleza natural, suas formações
geomorfológicas, as quais são diferenciadas por conterem formas peculiares como de elefante,
cachorro, casco de tartaruga, ademais da cabeça o imperador D. Pedro I, entre outros.
Inicialmente, com a criação do PARNA, tinha sob gestão o Instituto Brasileiro do meio
Ambiente (IBAMA), o qual era responsável pela fiscalização das atividades realizadas na área,
sendo substituído logo depois por outro órgão executor, o Instituto Chico Mendes de
Conservação da Biodiversidade (ICMBio), o qual exerce comando e poder de administração
desses espaços territoriais.
Na região compreendida pelo PARNA, é encontrado, portanto, a transição de dois
biomas. Dessa forma, 2Walter (1986), apud Coutinho (2005), considera como bioma, uma área
do espaço geográfico que possui dimensões superiores até um milhão de quilômetros
quadrados, representada por um tipo homogêneo de ambiente. Nesse aspecto, os biomas
presentes, os quais estão relacionados em significativo contato, são o cerrado e a caatinga.
Com efeito, faz-se mais presente dentro do PARNA, espécies típicas do cerrado, em se
falando de vegetação, tais como espécies como murici (Byrsonima crassifólia), lixeira
(Curatella americana), bacuri (Platonia insignis), pequi (Caryocar brasiliense) e pau-terra
(Qualea parviflora), avistadas com facilidade. Nas manchas de caatinga encontram-se juazeiros
(Ziziphus joazeiro), aroeiras (Schinus terebinthifolius) e cactos, como o xique-xique
(Pilosocereus Gounellei) (figura 01), e a coroa-de-frade (Melocactus zehntneri). (ICMBio)

Figura 01: Xique-xique (Pilosocereus Gounellei)

2
COUTINHO, Leopoldo. O Conceito de Bioma. Acta bot. bras, São Paulo, 14 jun. 2005. p. 13-23.

40
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Fonte: Pesquisa Direta, 2018.

O PARNA é caracterizado pela presença notável de diversas formações geológicas, as


quais são consideradas e denominadas “cidades”, os blocos de rochas, devido ao fato de
lembrarem formatos de pessoas, animais, objetos e ruínas de número 1 a 7 (figura 02). Tal a
denominação é devido a um jornalista cearense que visitou o PARNA em 1886, que ao ver as
formações rochosas assemelhou a uma cidade que se petrificou e fez uma publicação sobre o
PARNA, caracterizando as “cidades” encontradas por ele.

Figura 02: Mapa do PARNA. (Picture 02: Map of the National Park)

41
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Fonte: Piracuruca Web: reprodução, Márcio Gomes, s/d.

O mesmo possui uma área de 6.221 hectares, com alguns animais de ambos os biomas,
tais como o mocó (Kerodon rupestris), que de acordo com o que consta no Plano de Manejo de
Sete Cidades (1979, p. 28) é o “roedor mais tipicamente característico das áreas rupestres da
caatinga”; cutia (Dasyprocta punctata), jacu (Penelope ochrogaster), veado campeiro
(Ozotocerus bezoarticus), suçuarana (Felis concolor), jaguatirica (Leopardus pardalis), 22
espécies de cobras catalogadas e 52 espécies de pássaros, e algumas plantas medicinais como a
copaíba (Copaifera langsdorffii).
Ademais da formação geomorfológica presente visivelmente em abundância no
PARNA, como em formatos de elefante, cachorro, tartaruga, o imperador Dom Pedro I, mapas
de países, etc. É interessante mencionar, ainda, pinturas rupestres como aspectos histórico-
culturais, além de cachoeira e piscinas naturais, as quais podem ser visitadas durante o período
chuvoso.

As 7 Cidades
A primeira cidade é conhecida como Pedra do Canhão por conter formações geológicas
que se assemelham ao instrumento utilizado para guerra, podendo ser também comparadas a
troncos de árvores petrificados devido ao seu formato, no entanto, trata-se apenas de uma
formação na rocha ocorrida ao longo do tempo, contendo substâncias químicas como o ferro.
A segunda cidade, por sua vez, é o local no qual se encontra o ponto mais alto do
PARNA, o então denominado Arco do Triunfo, uma homenagem à França, visto que dois
franceses estiveram ali antes do PARNA ser preservado e também devido à sua forma que se
assemelha ao arco francês. O local pode ser chamado ainda de Portal dos Desejos, pelos
moradores do local, que sentiam uma concentração de energia e, dessa forma, começaram a
passar pelo arco e fazer um pedido, pois acredita-se que ao passar, deve-se fazer um pedido ou
desejo. Entretanto, há três desejos os quais não se podem fazer: o casamento, beleza e riqueza.
Além disso, essa formação rochosa também pode lembrar o formato de um tamanduá ou um
elefante.
Foram visitados alguns sítios ao longo do trajeto, os quais são entendidos como as
formações rochosas que contêm pinturas rupestres em sua estrutura. Nesse aspecto, são
catalogados 26 sítios no PARNA, no entanto, apenas cinco são abertos para visitação, visto que

42
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

os demais se encontram em uma área de reserva. Dessa forma, visitou-se um dos primeiros
sítios, conhecido como o sítio da mão de seis dedos.
No PARNA não foi feito um estudo detalhado a respeito das pinturas encontradas na
região, sendo realizada apenas uma sondagem por Conceição Lages, a qual usou o carbono 14,
para dar a datação e ter o conhecimento acerca do material que foi usado para fazer as pinturas.
Tendo isto, as pinturas encontradas do local têm entre 5 a 10 mil anos, e foi usado o dióxido
para fazer o levantamento dos materiais utilizados nas pinturas, tendo sido encontradas:
vegetais, argila e água, as quais misturadas, tinha-se a tinta.
Esse sítio é o único que conta com uma mão de 6 dedos estampado na formação rochosa.
Na parede, pode-se observar, também, pinturas de animais, pessoas, aves, pontos que
provavelmente serviam para contagem, etc. Dentro da área possui duas tradições, as quais são
as pinturas geométricas e pinturas agreste, que serviam como meio de comunicação dos povos
que ali habitaram.
Passando-se para o próximo sítio, sítio pequeno conhecido como cartório, devido à
grande quantidade de mãos estampada na parede em 3 formatos que, segundo Conceição Lages,
essa diferença servia para distinguir as tribos indígenas que fora os tabajaras, cariris, e os
tremembés, porém não há algo que comprove essa teoria. Nos sítios tem-se claramente visível
o problema do cupim, sendo necessária uma limpeza na estrutura da rocha, a qual é feita apenas
por Conceição Lages, pois não é permitido usar qualquer tipo de material químico.
A condutora relatou sobre o recente incêndio que ocorreu no PARNA em 2008, pois no
mês de outubro, novembro e dezembro, a temperatura chega a 40 graus, e a vegetação fica seca
e “toca uma na outra”, o que ocasiona o incêndio, além dos moradores que residem perto do
PARNA e fazem queimadas em suas roças, fato que pode afetar o PARNA. Após o incêndio
foi contratado 12 brigadistas que ficam durante 6 meses fiscalizando, e quando algum morador
próximo faz sua roça, eles ajudam para que não entre no parque. O incêndio danificou a
vegetação, animais, como o tamanduá, tucano, sagui, que ainda era possível ver no ano de 2007
segundo a condutora.
O outro sítio de pinturas rupestres que se visitou, chama-se A Pedra do Americano e
tem mais de 500 pinturas catalogadas. Recebe esse nome pois na década de 1950 passaram dois
norte-americanos que descobriram o sítio, os mesmos tiraram o excesso de areia e catalogaram.
Passando-se algum tempo, o PARNA foi inaugurado e, por conseguinte, eles voltaram a fim de
escavar mais, pois segundo os mesmos, ainda encontrariam mais pinturas, entretanto, não foi

43
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

mais permitido, uma vez que, segundo os moradores, na primeira vez que escavaram, os
mesmos levaram um pedaço de pintura para o seu país, porém sem alguma veracidade.
A próxima parada do trajeto foi na rocha parecida com uma jiboia, na qual embaixo de
sua “cabeça”, assemelha-se a livros empilhados, a cavidade chamada pedra do descanso. Dessa
forma, tal rocha serve de passagem para mirante, passando-se entre o “corpo da jiboia" para se
ter acesso ao mesmo, na qual encontram-se degraus para a conexão até o topo do mirante. O
mirante é o ponto mais alto com 50 metros de altura, 220 acima do nível do mar, e do seu topo
se pode observar 70% do PARNA, do mirante podem ser observadas as “cidades” 6, 5, 4 e 3.
Finalizando a segunda cidade, visitou-se o sítio do camaleão, nome dado por conta de
uma pintura que lembra tal animal. No local, existem, também, alguns pontinhos que lembram
algarismos romanos, pode-se observar que no local havia pinturas mais nítidas, pois, tais não
sofrem tanto com os raios do sol e com a chuva.
Na entrada da terceira cidade, foi visitado outro sítio de pintura, o qual não está
catalogado nos sítios de Conceição Lages, pois foram os próprios condutores do PARNA que
descobriram ao abrir a trilha para diminuir a caminhada no sol escaldante do cerrado-caatinga.
As pinturas são apenas pinturas em formato de traços.
Caminhou-se até chegar na rocha que possui o formato semelhante a três reis magos,
sendo que o do meio se encontra de costas, e os outros dois de perfil, observando a rocha ao
lado chamada pedra do segredo, a qual se assemelha a órgão sexual feminino. A seguir pôde
observar a pedra de D. Pedro I, a qual se caracteriza com o imperador, devido à semelhança do
perfil do mesmo.
Ao lado está a pedra dedo de Deus, pois há uma rocha em formato de coluna,
assemelhando-se a um dedo e está sozinha apontando para o céu. Finalizando, por fim, a terceira
cidade, tem-se a rocha que lembra um castelo, cujo furo em sua estrutura é onde acontece o
solstício de inverno, no qual o sol nasce mais cedo e seus raios entram dentro do furo e vai
crescendo no interior da rocha, até chegar ao outro lado, esse momento acontece apenas no dia
21 de junho.
Na quarta cidade, tem-se o pequeno arco, que ao passar, de mesmo modo que o Arco
do Triunfo, pode-se fazer um pedido. Ali, encontra-se a rocha no formato do mapa do Ceará,
mais a frente temos o mapa do Brasil.
Dando continuidade, tem-se a passagem do índio, cujo nome é devido ao fato de os
moradores acreditarem que serviam para os índios, no entanto, também era usado para os
moradores passarem e deixar a metade dos seus pecados. Dessa forma, ao passar, de acordo
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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

com o teste da fidelidade, não pode tocar na rocha. Ao lado temos o beijo dos lagartos, que
segundo a guia, diz a lenda que quando eles se beijassem toda região viraria mar.
Na quinta cidade, visitou-se a gruta do Catirina, um senhor rezador que chegou em 1931
com o seu filho, em busca da cura ou de esconder o seu filho Martinho Ferreira do Egito, pois
o mesmo tinha epilepsia, doença que na época era considerada contagiosa e demoníaca.
Os dois moraram na gruta por 13 anos até seu filho falecer com 52 anos no ano de 1944,
enterrado ao lado da gruta. Catirina tinha desejo de ser enterrado ao lado do filho, porém, não
foi realizado o que o mesmo desejava, pois ele saiu do local e ninguém soube do seu paradeiro
nem onde está enterrado. Na gruta contém um pilão, no qual ele fazia as ervas e pisava arroz.
Passou-se pela sétima cidade de ônibus, local no qual abriga uma rocha que se parece a
um dragão chinês; e a gruta do pajé, local que contém pinturas rupestres nas paredes e no teto
da rocha, identificados como pontinhos e riscos. Seguindo, por fim, para a última parada, a
Cachoeira do Riachão, queda d’água bem presente devido às chuvas, tendo, portanto, encerrado
o trajeto e as atividades guiadas.

UNIDADES DE CONSERVAÇÃO (UC)

Unidade de conservação, de acordo com o proposto pelo 3Sistema Nacional de Unidades


de Conservação da Natureza (SNUC), é definida como:

Espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas


jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído
pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob
regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de
proteção. (SNUC, 2000, p.5)

Nessa perspectiva, a criação das UC tem como objetivo primordial salvaguardar os


recursos naturais, de forma que proteja a diversidade biológica presentes nos biomas nacionais,
nos ecossistemas e nos mais variados habitats, tanto os terrestres, como os presentes nas águas,
a fim de proteger o patrimônio existente nessas áreas.

3
BRASIL, Ministério do Meio Ambiente. SNUC – Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza:
Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000; Decreto nº 4.340, de 22 de agosto de 2002; Decreto nº5.746, de 5 de abril de
2006. Plano Estratégico Nacional de Áreas Protegidas: Decreto nº 5.758, de 13 de abril de 2006. Brasília: MMA,
2011. 76 p.

45
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Nesse contexto, o SNUC foi instituído pela Lei número 9.985, de 18 de julho de 2000,
decretada pelo Congresso Nacional, a qual estabelece critérios e normas para a criação,
implantação e gestão das UC, como consta no seu artigo 1º. Tendo pois, isto, sua criação
resultou em uma significativa ascensão na elaboração de um modelo de sistema efetivo de áreas
protegidas no país.
O mesmo, ainda conforme a Lei 9.985/2000, será gerido pelos órgãos: consultivo e
deliberativo, isto é, o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA); órgão central, como
o Ministério do Meio Ambiente (MMA); e, por fim, os órgãos executores, como o Instituto
Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e o Instituto Brasileiro do meio
Ambiente (IBAMA); a fim de exercer comando e poder de administração desses espaços
territoriais (as UC).
As UC podem ser divididas em duas categorias propostas pelo SNUC. Nesse aspecto,
tem-se as unidades de conservação de proteção integral e as de uso sustentável, sendo que cada
uma se subdivide em diversas tipologias.
Dessa forma, as UC de proteção integral têm como objetivo fazer a manutenção dos
ecossistemas, visando à sua preservação, admitindo apenas o uso indireto dos seus atributos
naturais. Dentro dessas unidades, enquadram-se como tipologias: estação ecológica, reserva
biológica, parque nacional e monumento natural e suas respectivas definições.
As unidades de uso sustentável, por sua vez, têm como objetivo explorar o meio natural
e seus recursos ambientais renováveis de forma sustentável, socialmente justa e
economicamente viável. Nesse tipo de área protegida, estão enquadradas as categorias: Área de
Proteção Ambiental (APA), área de relevante interesse ecológico, floresta nacional (FLONA),
Reserva Extrativista (RESEX), reserva de fauna, reserva de desenvolvimento sustentável e
reserva particular do patrimônio natural e suas respectivas definições.
Sendo assim, dentro do proposto, pode-se afirmar que o Parque Nacional de Sete
Cidades está enquadrado dentro da categoria de UC de proteção integral, visto que não é
permitido dentro da área qualquer atividade de exploração como o extrativismo, agricultura ou
moradia no local. E, como já mencionado, tampouco deve ter como objetivo o alojamento de
visitantes como função de hospedagem, sendo apenas um local de passagem.
Silveira4 (2014) afirma que espaço turístico é, em outras palavras, aquele cuja criação
se deu para e/ou pelo turismo e apresenta uma dimensão real e imaginária, podendo ser mapeado

4
SILVEIRA, Marcos Aurélio Tarlombani da. Geografia aplicada ao turismo: fundamentos teórico-práticos.
Curitiba: InterSaberes, 2014.
46
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

e constitui alvo de ações de empresas locais ou de fora e dos planejadores e promotores


territoriais públicos e privados. Sem embargo, a pesar de o PARNA não ter sido criado para e
pelo turismo, tendo enfoque de proteção ambiental, acaba por ser desenvolvido pelas atividades
turísticas, visto que seu sustento se dá a partir da renda adquirida dos visitantes do parque.
Dessa forma, além de estar enquadrada na categoria de UC, como o visto nas aulas de
Biodiversidade Brasileira e Ecoturismo, o PARNA também pode ser caracterizado como um
sítio turístico, definido por 5Silveira (2014, p. 32) como “um lugar de visita e/ou passagem, e
não de estadia de turistas; ou seja, por onde o turista passa de visita, mas não permanece, até
mesmo porque não tem a função de hospedagem para turistas”. Desse modo, pode ser
constituído como atrativo turístico de acordo com o 6SEBRAE.

Os atrativos turísticos exercem papel fundamental para o desenvolvimento do


turismo receptivo, uma vez que compõem a oferta turística diferencial de uma
localidade, ou seja, são os principais responsáveis pela atratividade das regiões
turísticas, que geram os fluxos turísticos. A qualidade da oferta desses
atrativos impacta diretamente no posicionamento do destino no mercado
turístico. (SEBRAE, 2017, p. 7)

Dessa forma, como um atrativo ofertado na região, de característica natural, o PARNA,


juntamente com as suas “cidades”, suas especificidades e características peculiares, as quais o
fazem ser um local bastante diferenciado e que abarca um forte potencial natural e turístico;
possui sob gestão, órgãos executores, na categoria de instituições, os quais são responsáveis
pelo planejamento e desenvolvimento do local, como um espaço natural e turístico. Dessa
forma, tais órgãos têm como objetivo subsidiar as propostas de criação, bem como administrar
as UC federais, estaduais e municipais, dentro de suas respectivas esferas de atuação. (Redação
dada pela Lei nº 11.516, 2007)

METODOLOGIA

5
SILVEIRA, Marcos Aurélio Tarlombani da. Geografia aplicada ao turismo: fundamentos teórico-
práticos. Curitiba: InterSaberes, 2014. 32 p.
6
SEBRAE. Caderno de atrativos turísticos. São Paulo. Disponível em:
http://www.bibliotecas.sebrae.com.br/chronus/ARQUIVOS_CHRONUS/bds/bds.nsf/e6ab735ac11e71802d2e44c
bce6d63f4/$File/SP_cadernodeatrativosturisticoscompleto.16.pdf.pdf. Acesso em: 12 de nov. 2017. 17 p.

47
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Para a realização da presente pesquisa, utilizou-se como método a pesquisa bibliográfica


e documental por meio de leituras em livros, artigos, editais, documentos e legislação que
tratam do tema referente a Unidades de Conservação, Parques Nacionais, etc. Nessa
perspectiva, a pesquisa bibliográfica envolve “[...] toda bibliografia já tornada pública em
relação ao tema de estudo, desde publicações avulsas, boletins, jornais, revistas, livros,
pesquisas, monografias, teses, material cartográfico etc.” 7(LAKATOS; MARCONI, p.166,
2010)
Além disso, o presente artigo trata-se de uma abordagem qualitativa e pesquisa de
campo, pois através da visita ao PARNA nos dias 24, 25 e 26 de maio de 2019, foi analisada a
estrutura do local e, posto isto, realizou-se a análise SWOT a partir dos dados colhidos durante
a visita. Dessa forma, de acordo com 8Gil (2002) as análises qualitativas visam extrair a opinião
dos indivíduos sobre as situações em que vivem, neste caso, sobre a vivência no PARNA de
Sete Cidades.
A pesquisa de campo, por outro lado, conforme discorrem 9Lakatos e Marconi (2010,
p.169) “consiste na observação de fatos e fenômenos tal como ocorrem espontaneamente na
coleta de dados a eles referentes e no registro de variáveis que se presume relevantes para
analisá-las.”
Nesse sentido, após a realização da visita ao PARNA, foi possível coletar os dados e
informações conforme os condutores falavam, sendo possível elaborar uma lista para a posterior
análise SWOT.

Análise SWOT Aplicada no PARNA

A análise SWOT tem as iniciais derivadas das palavras em inglês Strengths (Forças),
Weaknesses (Fraquezas), Opportunities (Oportunidades) e Threats (Ameaças), conhecida
também como análise FOFA, surgiu a partir da década de 1960, na administração sendo uma
ferramenta dentro do planejamento estratégico, analisado o ambiente interno e externo do local,
a fim de auxiliar na tomada de decisões para atingir o objetivo final, desenvolvendo o turismo
do destino.

7
MARCONI, Marina. de Andrade.; LAKATOS, Eva Maria. Metodologia científica. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2010.
166 p.
8
GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002
9
MARCONI, Marina. de Andrade.; LAKATOS, Eva Maria. Metodologia científica. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2010.
169 p.
48
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

O método de análise SWOT consiste numa metodologia utilizada para


promover a análise de cenários, comumente utilizada em empresas. No
entanto, esta técnica vem sendo aproveitada também como ferramenta para
estabelecer o nível do desenvolvimento turístico em que se encontram as
localidades, analisando os pontos fracos e fortes, as fraquezas e oportunidades
destes locais. 10(DANTAS; MELO, 2008, p.118)

A análise ambiental interna, é caracterizada pelos pontos fortes e fracos de dentro da


organização do que pode ser feito para ser melhorado, dessa forma, faz-se necessário que saiba
quais são as necessidades da organização e as principais causas dos seus pontos fortes e fracos.
Já análise externa, compreende-se pelas oportunidades e ameaças do qual a organização
não tem controle, desse modo, faz-se necessário que saiba quais são os objetivos almejados a
longo prazo, conhecer os concorrentes e o público alvo, sendo alterações que devem ser feitas
para o melhorar posicionamento no mercado.
A partir do que foi observado na pesquisa de campo realizada nos dias 24, 25 e 26 de
maio de 2019, observa-se no quadro 01 a análise SWOT sugerida para o PARNA.

Quadro 01: Forças e fraquezas da análise SWOT.


FORÇAS FRAQUEZAS

Biodiversidade do local Falta de divulgação do destino turístico

Mudanças naturais de paisagem Falta de acessibilidade

Cicloturismo Poucas lixeiras nas trilhas

Instagram Sinalização bilingue

Público ecoturista Condutores não bilíngues

Cachoeira Não possui trabalho voltado para o marketing

Existência de hospedagem Não possui Facebook oficial

Presença de condutores Pouca oferta para os visitantes

Sítios arqueológicos Sinalização precária

Loja de souvenir Falta de materiais didáticos

10
DANTAS, Nathallye Galvão de Souza. MELO, Rodrigo de Sousa. O método de análise SWOT como ferramenta
para promover o diagnóstico turístico de um local: o caso do município de Itabaiana / PB. Caderno Virtual de
Turismo, v.8, n.1, 2008. 118 p.

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Turismo científico

Monumentos naturais

Fonte: Pesquisa direta, 2019.

Após observar os pontos fracos e fortes presentes na análise interna do PARNA, o quadro
02 específica aspectos da análise do que se encontra dentro do ambiente externo do parque,
caracterizados como oportunidades e ameaças.

Quadro 02: Oportunidades e ameaças da análise SWOT.


OPORTUNIDADES AMEAÇAS
Necessidade de fuga da rotina dos grandes Turismo de massa
centros
Proximidade da capital Teresina Demanda sazonal
Gestão de marketing por meio de alunos do curso Fragilidade do ecossistema
de Turismo
Comunidade atuando como condutor
Voluntariado para auxiliar na gestão do espaço
Preocupação do poder público com o
desenvolvimento do turismo como fator de
influência econômica
Valorização Cultural
Fonte: Pesquisa direta, 2019.

Assim, como posto dentro do quadro da análise SOWT realizada dentro do PARNA, é
possível observar alguns pontos a serem melhorados para um maior benefício tanto do Parque
como dos visitantes, podendo ser realizados a partir de estratégias

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tendo em vista os aspectos observados e as informações adquiridas ao longo da visita


ao PARNA, pôde-se observar que o mesmo, como um grande potencial turístico e um lugar que
possui grande riqueza natural e um ecossistema variado, encontrados na interseção de dois
biomas (cerrado e caatinga), além de diversos sítios com pinturas rupestres, apresentando como
oportunidades variadas formas de se fazer o turismo, tais como o ecoturismo, turismo de
aventura, turismo cultural, turismo científico, etc.
50
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Não obstante, apesar dessa vasta riqueza, percebe-se uma fraqueza no que diz respeito
à visitação e divulgação do Parque, pois nota-se que não há um serviço de marketing
responsável pela sua divulgação. Ademais, percebe-se a falta de incentivo voltada para o
turismo no local, enfocando aqui a presença de um Hotel e um Restaurante que estão
desativados há 10 anos, o que poderia ser uma oportunidade para o desenvolvimento do turismo
no local.
Como uma UC de Proteção Integral, pôde-se notar que o PARNA de Sete Cidades está
legalizado, sendo gerido pelo ICMBio e está seguindo as normas propostas pelo Sistema
Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), no que diz respeito às UC de Proteção Integral.
Dessa forma, apresenta fundamental importância na proteção de espécies tanto de animais como
vegetais da área de transição dos dois biomas, sendo necessário o controle de pessoas dentro do
PARNA devido À fragilidade do ecossistema.
O programa voluntariado é de suma importância para esse controle e na ajuda da gestão
do PARNA, podendo ser desenvolvidos incentivos voltados para o marketing e para o turismo,
corroborando para o desenvolvimento do espaço. Observou-se, do mesmo modo, que os
condutores são da região, o que é importante, pois possuem conhecimento acerca do lugar.
Assim sendo, faz-se necessário que haja mais trabalhos voltados ao marketing do
PARNA de Sete Cidades, visto que possui uma potencialidade turística considerável, fator que
poderia fomentar de sobremaneira o turismo no PARNA e na região, explorando também os
aspectos como sinalização, acessibilidade, capacitação dos condutores, etc., Diante do exposto,
pode-se concluir que os objetivos da pesquisa foram alcançados na perspectiva do turismo e, a
partir disso, espera-se obter um melhor desenvolvimento do PARNA.

REFERÊNCIAS

BOHRER, Claudio. DUTRA, Luiz. A Diversidade Biológica e o Ordenamento Territorial Brasileiro.


In: ALMEIDA, Flávio. SOARES, Luiz (Org.). Ordenamento Territorial: Coletânea de textos com
diferentes abordagens no contexto brasileiro. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2009. p. 117-147.

BRASIL, Ministério do Meio Ambiente. SNUC – Sistema Nacional de Unidades de Conservação da


Natureza: Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000; Decreto nº 4.340, de 22 de agosto de 2002; Decreto
nº5.746, de 5 de abril de 2006. Plano Estratégico Nacional de Áreas Protegidas: Decreto nº 5.758, de
13 de abril de 2006. Brasília: MMA, 2011. 76 p.

COUTINHO, Leopoldo. O Conceito de Bioma. Acta bot. bras, São Paulo, 14 jun. 2005. p. 13-23.

51
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

DANTAS, Nathallye Galvão de Souza. MELO, Rodrigo de Sousa. O método de análise SWOT como
ferramenta para promover o diagnóstico turístico de um local: o caso do município de Itabaiana / PB.
Caderno Virtual de Turismo, v.8, n.1, 2008. 118 p.

GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002.

MARCONI, Marina. de Andrade.; LAKATOS, Eva Maria. Metodologia científica. 7. ed. São Paulo:
Atlas, 2010.

SEBRAE. Caderno de atrativos turísticos. São Paulo. Disponível em:


http://www.bibliotecas.sebrae.com.br/chronus/ARQUIVOS_CHRONUS/bds/bds.nsf/e6ab735ac11e71
802d2e44cbce6d63f4/$File/SP_cadernodeatrativosturisticoscompleto.16.pdf.pdf. Acesso em: 12 de
nov. 2017. 17 p.

SILVEIRA, Marcos Aurélio Tarlombani da. Geografia aplicada ao turismo: fundamentos teórico-
práticos. Curitiba: InterSaberes, 2014.

PIRACURUCA WEB1. Mapa do Parque Nacional de Sete Cidades. Disponível em:


http://piracurucaweb1.blogspot.com.br/p/cultura.html. Acesso em: 25 de mai. 2018.

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

ARTESANATO: ALIANDO AÇÕES DE EMPREGO E RENDA COM CONSERVAÇÃO POR


MEIO DE PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA UNIDADE DE CONSERVAÇÃO
FLONA PALMARES

Ana Lívia Lima Solano


Susane do Nascimento Pereira
Patrícia Maria Martins Nápolis
RESUMO

Dentre os principais problemas ambientais enfrentados pelas comunidades que vivem no


entorno das Unidades de Conservação são a quantidade de resíduos sólidos produzidos pelas
pessoas e o seu destino final, dos quais grande parte dos materiais que iriam para os lixões
podem ser reaproveitados. O objetivo foi mostrar que materiais que são descartados na natureza,
podem ser transformados em artesanatos podendo gerar emprego e renda e contribuir com a
sustentabilidade local através de práticas de educação ambiental. O trabalho foi realizado na
comunidade Soturno, no entorno da Floresta Nacional Palmares (FLONA/Palmares). Foram
realizadas oficinas de reaproveitamento com enfoque em educação ambiental com mínimo de
materiais. Os participantes foram mulheres e muitas faziam algum tipo de reaproveitamento,
porém sem a preocupação ambiental, sem saber dos malefícios dos impactos dos resíduos
sólidos no ambiente. Verificou-se, ainda, a carência de informações sobre o assunto. As
atividades relacionadas à educação ambiental devem ser motivadoras e estimuladoras que
visem não só criatividade e sensibilidade, mas aprofundamentos acerca da importância das
práticas diárias no cotidiano para conservação do meio ambiente local.
Palavras-chave; Reaproveitamento; Resíduos Sólidos; Comunidade; Unidade de Conservação.

ABSTRACT
Among the main environmental problems faced by the communities that live around the
Conservation Units are the amount of solid waste produced by people and their final destination,
of which much of the materials that would go to the dumps can be reused. The objective was to
show that materials that are discarded in nature can be transformed into handicrafts and can
generate employment and income and contribute to local sustainability through environmental
education practices. The work was carried out in the Soturno community, around the Palmares
National Forest (FLONA/Palmares). Reuse workshops were held with a focus on
environmental education with minimal materials. The participants were women and many did
some kind of reuse, but without environmental concern, without knowing the harms of the
impacts of solid waste on the environment. There was also a lack of information on the subject.
Activities related to environmental education should be motivating and stimulating that aim not
only at creativity and sensitivity, but also about the importance of daily practices in daily life
for the conservation of the local environment.

Keywords: Reuse; Solid Waste; Community; Conservation Unit.

INTRODUÇÃO

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

A história apresenta dados e fatos de que os primeiros objetos feitos pelo ser humano
eram artesanais. Isso pode ser identificado no período neolítico (6.000 a. c) quando o humano
aprendeu a polir a pedra, a fabricar a cerâmica, e descobrir a técnica de tecelagem das fichas
animais e vegetais (HOLANDA, 2009).
A partir do século XIX o artesanato ficou concentrado em espaços conhecidos como
oficinas, onde um pequeno grupo de aprendizes vivia com o mestre-artesão, detentor de todo o
conhecimento técnico. Este oferecia, em troca de mão de obra barata e fiel, conhecimentos,
vestimenta e comida (HOLANDA, 2009).
A relevância da temática “artesanato”, propriamente dita, distingue-se a se tratar de uma
atividade existente em todo o mundo, sendo uma das mais remotas entre as exercidas pelo ser
humano. Na sua essência, a forma de produzir é exclusivamente do artesão, que tem o livre-
arbítrio de deliberar seu compasso de produção, uso de matéria-prima determinando sua
criação, por meio do seu saber e da sua cultura (LIMA, 2019).
O artesanato congrega o social, o econômico e o cultural do ser humano, proporcionando
emprego e renda para as camadas mais necessitadas, sendo uma ligação de desenvolvimento
deste grupo com o seu ambiente. Na complexa relação entre meio ambiente, sociedade e
economia existente no artesanato são notáveis que a inclusão social e a sustentabilidade
aconteçam por meio do seu desenvolvimento econômico sustentável (SACHS, 2008).
Em um sentido abrangente, a noção de desenvolvimento sustentável se remete à
necessária redefinição das relações entre sociedade humana e natureza, ou seja, uma mudança
substancial do próprio processo civilizatório. Entretanto, a falta de especificidade e a pretensões
totalizadora têm tornado o conceito de desenvolvimento sustentável difícil de ser classificado
no modelo concreto. Diante disso, é possível afirmar que não se constitui um paradigma no
sentido clássico do conceito, mas em um enfoque ou perspectiva que abrange princípios
normativos (GUIMARÃES, 2001).
A noção de sustentabilidade, por sua vez, implica a prevalência da premissa de que é
preciso determinar uma limitação definida nas possibilidades de crescimento e um conjunto de
iniciativas que levem em conta a existência de interlocutores e participantes sociais relevantes
e ativos. Isso é viável por meio de práticas educativas e de um processo de diálogo informado,
o que reforça um sentimento de responsabilidade e de constituição de valores éticos
(FLORIANI, 2003).
As premissas teóricas em torno do diálogo de saberes entre educação e meio ambiente,
nas suas múltiplas dimensões e como campo teórico em construção, tem sido apropriado de
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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

forma diferente pelos educadores ambientais, que buscam uma nova transversalidade de
saberes, um novo modo de pensar, pesquisar e elaborar conhecimento que possibilite integrar
teoria e prática (JACOBI, 2005). O principal eixo de atuação deve buscar acima de tudo, a
solidariedade, a igualdade e o respeito à diferença por meio da forma democrática de atuação
baseada em práticas integrativas e dialógicas. Entende-se que a Educação para cidadania trata
não só da capacidade do indivíduo de exercer os seus direitos na escolha e nas decisões políticas
de como ainda assegurar a sua total dignidade nas estruturas sociais (JACOBI, 2005).
Um dos grandes problemas ambientais atuais é a quantidade de resíduos sólidos
produzidos, dos quais a grande parte dos materiais que iriam para os aterros sanitários podem
ser reaproveitados. Nesse sentido, a Lei Nº 12.305 institui a Política Nacional dos Resíduos
Sólidos, dispondo sobre seus princípios e instrumentos, bem como sobre as diretrizes relativas
à gestão integrada e ao gerenciamento de resíduos sólidos. São incluídos os perigos, às
responsabilidades dos geradores e do poder público e os instrumentos econômicos aplicáveis
(BRASIL, 2010).
Mediante o exposto, surge a necessidade (e objetivo deste estudo) de investigar o que
as pessoas fazem com esses materiais, bem como apresentar o artesanato como uma forma de
reaproveitamento que além de contribuir para redução dos resíduos sólidos descartados, serve
como fonte de renda e geração de empregos.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A comunidade Soturno está localizada no entorno da Floresta Nacional de Palmares


(FLONA/Palmares), situada no município de Altos, região Centro-Norte do Estado do Piauí.
O município de Altos possui uma área de 957,654 km² e uma população de 38.822 habitantes
(IBGE).
FIGURA 1: Mapa da comunidade Soturno

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Fonte: Sala Verde UFPI

A FLONA/PALMARES é uma Unidade de Conservação (UC) de uso sustentável (9)


que, de acordo com o Ministério do Meio Ambiente, possui uma área de 170 hectares. É a
primeira e única UC de uso sustentável no Piauí que se enquadra na categoria Floresta Nacional.
Está inserida em uma zona de transição entre os biomas Caatinga e Cerrado, que tem uma
vegetação típica do Cerrado com espécies botânicas da Caatinga, Mata Atlântica e Amazônia e
com uma rica e variada fauna,
O presente estudo foi realizado a partir do método de grupo focal que se trata de uma
abordagem que:
[...] permite o alcance de diferentes perspectivas de uma mesma questão,
possibilitam a concepção de progresso de construção da realidade por
determinados grupos sociais, assim como as práticas cotidianas, atividades e
comportamentos prevalecentes no trabalho com alguns indivíduos que
compartilham traços em comum, relevantes para o estudo e investigação do
problema em questão (LOPES, 2014, p.484).

Junto ao grupo focal foi realizada ainda oficina de artesanato utilizando materiais
reaproveitados e exemplares da flora nativa. A oficina em questão foi realizada visando instigar,
a partir da prática, a produção de artesanato pelas mulheres da comunidade, bem como garantir
a troca de experiências.
Nessa perspectiva, a pesquisa-ação participante serviu de ferramenta de estudo. A opção
da pesquisa-ação para a condução deste estudo se deu principalmente pelo pressuposto de que
ela “é o instrumento ideal para uma pesquisa relacionada à prática” (ENGEL, 2000, p.183).
Junto ao grupo focal foi realizada uma oficina com materiais reaproveitados e
exemplares da flora nativa, a fim de não só instigar para o artesanato como também mostrar na
prática e trocar experiências e também, a pesquisa-ação participante serviu de ferramenta de

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

estudo. A opção de doação da pesquisa-ação para a condução deste estudo se deu


principalmente pelo pressuposto de que ela “é o instrumento ideal para uma pesquisa
relacionada à prática” (ENGEL, 2000, p.183).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Compreendendo a educação ambiental como processo responsável pela formação de


indivíduos preocupados com o meio ambiente, visando introduzir dinâmica sociais, de início
na comunidade local e, posteriormente, em redes mais amplas de solidariedade, promovendo a
abordagem colaborativa e crítica das realidades socioambientais e uma compreensão autônoma
e criativa dos problemas que se apresentam e das soluções possível para eles (SAUVÈ, 2005,
p. 317), foi realizada oficina de artesanato na comunidade Soturno.
A comunidade situada no entorno da FLONA/Palmares entende este espaço como
fundamental para a conservação ambiental e, embora esse entendimento se dê a partir do senso
comum, é fundamental para aquela comunidade, bem como à construção de práticas de
conservação do meio ambiente.
A FLONA/Palmares é, portanto, para aqueles e aquelas que convivem no seu entorno
um espaço de valorização do meio ambiente, uma referência de cuidados e de práticas de
conservação, visto que nas dependências da Floresta também é espaço de educação ambiental,
fundamental para o desenvolvimento pleno daquela comunidade, mas é possivelmente
observável a carência de informações sobre o assunto.
Dessa maneira, é visível a estima dos espaços da FLONA para a comunidade, sobretudo
para as mulheres que veem este também como parceira para a formação crítica de seus filhos,
pois é um espaço também de socialização e respeito.
Em consonância com esse pensamento, principalmente pela necessidade de promover
a educação ambiental e geração de renda para as famílias, foi realizada oficina de
reaproveitamento para mulheres. Um total de nove participantes, residentes da comunidade
Soturno participaram da oficina de artesanato e, antes, de um grupo focal sobre essa temática.
No primeiro momento do grupo focal foi perguntado às moradoras o que elas tinham
conhecimento sobre resíduos sólidos e o reaproveitamento destes. Foi perguntado também se
elas faziam algum tipo de reaproveitamento e de que modo. A maioria das participantes se
mostrou incompreensível com a denominação “resíduos sólidos”, então foi explicado o termo,
os tipos e os impactos destes na natureza. Na ocasião foi explicado sobre a Política Nacional de

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Resíduos Sólidos e os 5 R’s (repensar, reduzir, recusar, reaproveitar e reciclar). Logo após essa
explicação elas apresentaram seus pontos de vistas acerca da temática. Seguem algumas
respostas:
Participante 1: “Eu aproveito as garrafas de refrigerante pra botar água na geladeira”.
Participante 2: “Uso as latas secas pra guardar coisas”.
Participante 3: “Uso tecido de roupa velha e saco daqueles grandes de colocar goma e arroz pra fazer
tapete”.
A partir das respostas iniciais das participantes percebeu-se que elas faziam algum tipo
de reaproveitamento, porém sem nenhuma compreensão teórica mais aprofundada sobre
reaproveitamento de resíduos sólidos ou impacto destes no meio ambiente e da importância
disso. Faziam pelo costume de reutilizar esses materiais, principalmente utilizando-os enquanto
utensílios domésticos para guardar alimentos ou água na geladeira. Entretanto, esses objetos
eram utilizados “na sua forma mais bruta”. O artesanato pouco era considerado como uma
opção de reaproveitamento ou forma de customizar tais materiais, deixando-os mais atrativos
tanto para uso próprio como também uma possibilidade de venda, viabilizando, assim, a geração
de renda extra.
Dando continuidade, outras questões foram indagadas as participantes, por exemplo, se
elas faziam ou conheciam alguém que fizesse artesanato com esses materiais ou com
exemplares da natureza (galhos, sementes, cipó). Foi proposta uma troca de experiências
daquilo que elas conheciam sobre isso. Seguem algumas respostas que se destacaram:
Participante 4: “Eu pinto e bordo, faço de tudo. Faço descanso de panela, adorno de caneta, colo
sementes num pedaço de madeira ou no vidro e faço um arranjo de parede”

Participante 5: “A minha filha cobre o CD com crochê e faz flor pra enfeitar”.

Participante 6: “Tenho uma vizinha que pega o pote de vidro enche de terra e faz um vestido de crochê
e fica uma boneca linda que serve de enfeite de mesa ou como peso de porta”

Participante 7: “Faço os tapetes de saco e tecido das roupas de malha que não uso mais”

Participante 8: “Pego o coco babaçu (muito abundante na região) verde abro, colo e faço descanso
de copo”

A partir das abordagens foi possível saber aquilo que elas já conheciam de artesanato,
as habilidades que algumas possuíam. Nesse momento as participantes conseguiram interagir e
acolheram a proposta de troca de experiências. Esse primeiro momento, baseado na
comunicação e troca de experiências, teve o intuito de investigar se os resíduos sólidos eram
reutilizados e de que forma. Em caso de resposta positiva (o que se concretizou) esse
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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

reaproveitamento estava voltado também para a geração de renda. A proposta da pesquisa


narrativa em educação ambiental tem o poder de revelar as histórias da vida social e transformá-
las com os praticantes do processo ao se verem coautores de suas invenções cotidianas
(TRISTÃO, 2013, p.855).
Para verificar se o artesanato estava aliado à conservação ambiental como fonte de
emprego de renda perguntou-se para as moradoras qual o destino dos materiais fabricados por
ela e que elas citados. Apenas duas das participantes disseram que era para vender. Dentre as
outras respostas destacam-se para relaxar e para presentear os visitantes da
FLONA/PALMARES.
Logo em seguida, foi realizada uma oficina de artesanato na qual foram utilizados
materiais reaproveitados do cotidiano como potes de vidro, latas de leite, garrafa PET, papelão,
tecido de roupas velhas e também com sementes e galhos de árvores nativas da região. Foram
confeccionadas peças como suporte para doces, potes de biscoito, jarro para flor, porta joias,
entre outros.
Durante a oficina tornou-se evidente a empolgação das participantes para confeccionar
as peças, tanto durante a atividade quanto posteriormente, assim algumas das participantes
levaram parte do material que havia sido disponibilizado para continuar a confecção de peças
artesanais em suas residências.

A necessidade de abordar o tema da complexidade ambiental decorre


da percepção sobre o incipiente de reflexão acerca das práticas existente
e das múltiplas possibilidades de, ao pensar a realidade modo complexo
defini-la como uma nova racionalidade e um espaço onde se articulam
natureza, técnica e cultura. Refletir sobre ambiental abre uma
estimulante oportunidade para compreender a gestação de novos atores
sociais que se mobilizam para a apropriação da natureza, para um
processo educativo articulado e compromissado para a sustentabilidade
e a participação, apoiando numa lógica que privilegia o diálogo e a
interdependência de diferentes áreas de saber (JACOBI, PEDRO, 2003,
p. 191).

Essa empolgação foi motivada tanto pelo resultado da atividade, na qual aprenderam a
confeccionar novas peças e a incrementar as que já construíam. Neste momento, surgiu por
parte de uma das participantes a ideia de realizar uma feira de artesanato na comunidade,
animando ainda mais as praticantes que já começaram a discutir de que forma se organizariam
para tal evento.

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Uma vez por mês acontece na associação de moradores uma reunião com os habitantes
para organização das coisas que acontecem na comunidade. A partir da ideia da realização da
feira ficou acertado entre as participantes que cada uma faria o que tivesse apreendido de
artesanato, e no dia da reunião levariam e montariam um lugar tanto para expor quanto para
vender as peças confeccionadas.
FIGURA 2: Espaço de realização da oficina de artesanato na Associação da comunidade Soturno

Fonte: Autoria própria

FIGURA 3: Materiais produzido pelas participantes

Fonte: Autoria própria

FIGURA 4: Materiais que foram reaproveitados na oficina

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Fonte: Autoria própria.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
No trajeto desse estudo, tivemos como proposta investigar o que as pessoas fazem com
materiais que seriam descartados, bem como apresentar o artesanato como uma forma de
reaproveitamento que, além de contribuir para redução dos resíduos sólidos descartados, serve
como fonte de renda e geração de empregos.
Assim, a partir da vivência na comunidade percebeu-se a carência de atividades
relacionadas à educação ambiental, bem como a receptividade positiva da execução da oficina,
podendo destacar aqui a abertura das envolvidas na oficina para construção e realização de
novas proposições, atividades similares.
Durante a realização da oficina, as mulheres solicitaram que a equipe não deixasse de
frequentar a FLONA/Palmares e de dar assistência à comunidade levando mais proposições
para educação ambiental e sustentabilidade através de oficinas e minicursos.
Desta feita, ratificamos que este estudo representa um esforço para mostrar que materiais
que são descartados na natureza, podem ser transformados em artesanatos podendo gerar
emprego e renda e contribuir com a sustentabilidade local através de práticas de educação
ambiental
Com este intuito, buscou-se com este trabalho contribuir para o conhecimento sobre o
meio ambiente e sua conservação juntamente com a oficina de artesanato sustentável
incrementado com exemplares da natureza, gerando renda e promovendo empreendedorismo
individual e coletivo na comunidade local.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei Federal. nº 12. 305, de 02 de agosto de 2010. Disposições Gerais. Cap. I, art. n º
1. Política Nacional dos Resíduos Sólidos. Disponível:
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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305>. Acessado em
18/maio/2019.
ENGEL, Guido Irineu. Pesquisa e Ação. Educar. Editora da UFPR, Curitiba, n. 16, p 183,
2000.
FLORIANI, Dimas. Conhecimento, meio ambiente e globalização. Curitiba: Juruá, 2003.
GUIMARÃES, Roberto. A ética da sustentabilidade e a formulação de políticas de
desenvolvimento. In: VIANA, G. et al. (Org.) O desafio da sustentabilidade. São Paulo:
Fundação Perseu Abramo, 2001.
HOLANDA, Sérgio Buarque de. História da Civilização. São Paulo, Companhia Nacional.
2009
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Disponível em:
<http://ww2.ibge.gov.br/home>. Acesso em 01 mai. 2019.
Instituto Chico Mendes de Conservação Biodiversidade – ICMbio. Unidade de Conservação.
Disponível em: <http://www.icmbio.gov.br/portal/>. Acesso em 10 mai. 2019.
JACOBI, Pedro. Educação Ambiental: o desafio da construção de um pensamento crítico,
complexo e reflexivo. Educação e Pesquisa. São Paulo, v. 31, n. 2, p. 233-250, Universidade
de São Paulo. 2005
JACOBI, Pedro. Educação Ambiental e sustentabilidade. Caderno de Pesquisa Mar. São Paulo,
n. 118, p. 191. 2003
LIMA, Ricardo Gomes. Artesanato: cinco pontos para discussão. 2005. Disponível em:
<http://portal.iphan.gov.br/portal/baixarFcdanexo.do?id=569>. Acesso em 16 mar. 2019.
LOPES, Bernarda Elane Madureira. Grupo focal na pesquisa em ciências sociais e humanas.
Revista Educação e Políticas em Debates. v. 3, n. 2, p. 484, ago./dez. 2014
SACHS, Ignácio. Desenvolvimento: excludente, sustentável sustentando. Rio de Janeiro:
Garamond, 2008.
SAUVÉ, Lucie. Educação Ambiental: possibilidade e limitações. Educação e Pesquisa. São
Paulo. V. 31, n. 2, p. 317-322, maio/ago. 2005
TRISTÃO, Martha. Uma abordagem filosófica da pesquisa em educação embiental. Revista
Brasileira de Educação. v. 18, n. 55, p. 855. out/dez. 2013

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

AS ALTERAÇÕES SOCIOESPACIAIS NA PAISAGEM DA COMUNIDADE DE


BARRA GRANDE-PI EM DECORRENCIA DO TURISMO
Filipe Ribeiro Cardoso Porto
Antônio Rafael Antunes Lopes
Francysco Renato Antunes Lopes

RESUMO
O presente trabalho busca uma reflexão sobre a influência do turismo nas dinâmicas
socioespaciais na paisagem da comunidade de Barra Grande-PI. O turismo se fixou como
elemento dinamizador na localidade, promovendo a comunidade de vila de pescadores a um
destino internacional para turistas. Conflitos e divergências se tornaram mais constantes e o
modo de vida da população local sofreu mudanças sociais, econômicas e culturais. O objetivo
geral do trabalho é discutir introdutoriamente as dinâmicas socioespaciais na paisagem da
comunidade de Barra Grande, em decorrência direta do turismo fixado no local nas últimas
décadas. A metodologia consiste em levantamento bibliográfico e aplicação de entrevista
semiestruturada com atores locais. Percebeu-se que o turismo é um dinamizador das relações
sociais na comunidade, alterando realidades e promovendo ressignificações.
Palavras-chave: Barra Grande; Socioespacial; Comunidade; Turismo.
ABSTRACT
The present work seeks a reflection on the influence of tourism on socio-spatial dynamics in
the landscape of the community of Barra Grande-PI. Tourism has established itself as a driving
element in the locality, promoting the fishing village community to an international destination
for tourists. Conflicts and divergences became more constant and the way of life of the local
population underwent social, economic and cultural changes. The general objective of the work
is to discuss the socio-spatial dynamics in the landscape of the community of Barra Grande, as
a direct result of the tourism fixed on the site in recent decades. The methodology consists of
bibliographic survey and application of semi-structured interviews with local actors. It was
noticed that tourism is a driver of social relations in the community, changing realities and
promoting resignifications.
Keywords: Barra Grande; Socio-spatial; Community; Tourism.

INTRODUÇÃO

Localizada no município de Cajueiro da Praia, Barra Grande é uma das praias


componentes dos 66 km de litoral do estado do Piauí. A formação político-administrativa do
local é recente, precisamente em 1995, época em que Cajueiro da Praia surgiu de um
desmembramento do município de Luís Correia.

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Os moradores locais indagam que a formação de Barra Grande como povoado ocorreu
no século XIX, quando pescadores começaram a ocupar as imediações. O status de colônia de
pescadores persiste associado à imagem de um local paradisíaco que oferece tranquilidade e
belezas cênicas naturais.
Este conjunto de fatores foram propulsores para que entre as décadas de 1970 e 1980
grupos de veranistas e excursionistas começassem a movimentar Barra Grande durante os
períodos de férias. Nos anos 2000 o turismo passou a ganhar mais força com o início da prática
do esporte kitesurf na praia, influenciado diretamente pelo aproveitamento de ventos alísios que
ocorrem na região.
No decorrer destas décadas o turismo fixou-se como um dinamizador das realidades da
praia e do povoado de Barra Grande. Diversos perfis de visitantes passaram a conviver com os
moradores locais apropriando-se dos espaços antes existentes apenas para interações entre a
comunidade. Pessoas de alto poder aquisitivo que anteriormente eram apenas turistas passaram
a montar seus próprios estabelecimentos e a se fixar na localidade. As pousadas são os
principais exemplos destes equipamentos turísticos que surgiram no decorrer dos anos, muitas
destas propriedades de estrangeiros.
Segundo moradores locais, a comunidade passou por uma série de mudanças nos últimos
anos. O que antes se configurava como uma pequena vila com tradições comparadas às de uma
cidade de interior, começou a se consolidar como um destino para turistas do mundo inteiro.
Essas mudanças se referem ao modo de vida desta população, que antes pacata, passou a virar
alvo destas pessoas de fora.
O presente trabalho tem como objetivo discutir introdutoriamente as dinâmicas
socioespaciais na paisagem da comunidade de Barra Grande, em decorrência direta do turismo
fixado no local nas últimas décadas. A metodologia do trabalho consiste em levantamento
bibliográfico de autores que trabalham com temas transversais a pesquisa, como dinâmicas
espaciais, paisagem, cultura, identidade, comunidade, além das relações destes conceitos com
o turismo como fenômeno social. Também foram coletados três depoimentos de moradores de
Barra Grande, uma liderança local e dois profissionais que trabalham como turismo. Os dados
foram coletados em forma de entrevista semiestruturada, que teve como ponto principal a
percepção de cada sujeito sobre a atual relação da comunidade local com o turismo.

PAISAGEM, CULTURA, TURISMO E COMUNIDADE

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Em relação à apropriação do espaço para a reprodução das relações sociais, Carlos (1999,
p. 63) afirma que estas relações entre grupos sociais têm uma existência real enquanto
existência espacial concreta, na medida em que produzem e assim efetivamente a sociedade
produz o espaço. A autora advoga que a sociedade produz relações neste espaço e se apropria
do meio existente, da paisagem ocupada.
O geógrafo norte-americano Carl Sauer (1889-1975) contribuiu com a diferenciação
entre paisagem natural e paisagem cultural. Para ele, a paisagem natural é aquela que reflete as
formas e objetos da natureza, que existe com ou sem o homem (SAUER, 1998, p.29). O
conceito de paisagem cultural surge da interação com o meio natural:

A paisagem cultural é modelada a partir de uma paisagem natural por um


grupo cultural. A cultura é o agente, a área natural é o meio, a paisagem
cultural o resultado. Sob a influência de uma determinada cultura, ela própria
mudando através do tempo, a paisagem apresenta um desenvolvimento [...]
Com a introdução de uma cultura diferente, isto é, estranha, estabelece-se um
rejuvenescimento da paisagem cultural ou uma nova paisagem se sobrepõe
sobre o que sobrou da antiga. A paisagem natural é evidentemente de
fundamental importância, pois ela fornece os materiais com os quais a
paisagem cultural é formada (SAUER, 1998, p.59).

Aplicando a teoria ao tema proposto, a paisagem cultural de Barra Grande é resultado da


apropriação do meio social, as pessoas, ao meio natural, o ambiente. É essencial destacar que
na citação aparece a expressão “a introdução de uma cultura diferente” que trazida ao recorte
espacial em estudo pode ser comparada a fixação do turismo e a renovação que ele provoca no
povoado.
Quanto aos efeitos socioculturais do turismo, é inconcebível não incorporar a cultura de
um povo como uma das mais importantes motivações das viagens turísticas. Nesse contexto,
Ruschmann (1997, p.50) conceitua cultura de um povo como:

[...] os padrões explícitos ou implícitos do comportamento, adquiridos ou


transmitidos por símbolos, que constituem o patrimônio de grupos humanos,
inclusive sua materialização em artefatos. O aspecto mais importante de uma
cultura reside nas ideias tradicionais - de origem e seleção histórica - e,
principalmente, no de significado.

Em áreas primitivas e isoladas a chegada de um número exagerado de turistas pode até


mesmo levar as pessoas do lugar a deixarem suas casas e mudarem para outras áreas onde elas
possam continuar a viver em paz.
Archer e Cooper (2002, p.92) advogam que:

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Nos locais onde a origem cultural econômica dos turistas é muito diferente da
população nativa os resultados do convívio entre os dois grupos podem ser
favoráveis, mas a mistura pode acabar sendo explosiva. O chamado ‘efeito
demonstração’ da prosperidade em meio à pobreza pode suscitar um desejo
entre a população local de trabalhar arduamente para atingir níveis superiores
de educação a fim de imitar o modo de vida dos turistas. Por outro lado, em
muitos casos, a impossibilidade dos nativos atingirem o mesmo nível de
prosperidade pode gerar um sentimento de privação e frustração capaz de
encontrar uma saída na hostilidade e até na agressão.
Mercer In Theobald (2002) oferece uma análise interessante em que mostra que as
reações da comunidade anfitriã ao afluxo de turistas e as mudanças decorrentes do turismo têm
sido bem diversas, indo de uma resistência ativa até a aceitação passiva plena e mesmo a adoção
dos padrões culturais dos turistas.
As mudanças culturais são vistas por muitos estudiosos como um fenômeno da
globalização, que influi diretamente na cultura de uma localidade. Segundo Featherstone (1997)
a cultura já não pode mais proporcionar uma explicação adequada do mundo que nos permita
construir ou ordenar a vida cotidiana.
Para fundamentar a análise sociocultural na realidade da praia de Barra Grande devem
ser utilizados os conceitos de insiders e outsiders de Waldren (1996), categorias analíticas
criadas pela autora para explicar as relações entre nativos e forasteiros, do ponto de vista dos
habitantes de Mallorca.
As duas categorias dizem respeito às relações estabelecidas com o lugar: insiders são os
residentes tradicionais da ilha, que estavam lá antes da chegada dos outsiders – turistas e
empresários de fora que se estabeleceram no local.
No início do processo, quando o número de outsiders (que utilizavam a ilha como
refúgio paradisíaco nas férias) era menor do que o de insiders, os primeiros eram bem vistos
pelos segundos. Com o aumento do número de outsiders, os insiders passaram a se incomodar
com as significativas mudanças sociais que se desenrolaram, principalmente porque os insiders
se sentiam menos favorecidos. Os conceitos de Waldren guardam algumas semelhanças com
os conceitos de estabelecidos e outsiders de Elias e Scotson (2000).
Um resultado deste choque de realidades em Barra Grande pode ser observado no
incomodo que os insiders sentem com a cultura predadora dos outsiders. A instalação de meios
de hospedagens em destinos considerados turísticos é um exemplo local já investigado por
Coriolano e Vasconcelos (2007). Os autores atestam em seus estudos que na realidade do litoral
cearense a fixação de grandes estabelecimentos como os resorts, fazem as atividades
tradicionais dos pescadores perderem lugar e representatividade.
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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Em seus estudos sobre a geografia do litoral, Dantas (2009) advoga que o boom turístico
na região nordeste ocorreu entre o fim da década de 1980 e o início da década de 1990. O dado
do autor remete em especial as capitais nordestinas mas não diverge da realidade de Barra
Grande, que mesmo com o status de pequeno povoado, obteve um começo de ocupação turística
no mesmo período.
O conceito de comunidade defendido por Bauman (2003) deve ser destacado para
contextualizar a situação de Barra Grande. O autor se contrapõe à visão clássica de comunidade,
uma vez que comumente tem-se por comunidade sentimentos de pertencimento, protecionismo
e segurança. Para ele, a comunidade para ser preservada precisa ser vigiada e defendida;
trincheiras e baluartes são os lugares onde os que procuram aconchego, simplicidade e
tranquilidade comunitária terão que passar a maior parte de seu tempo
Sob o olhar geográfico, é preciso compreender que o turismo é um evento que ocorre
dentro de categorias de análises espaciais, pois o mesmo é fruto da contemplação da paisagem,
estando fortemente atrelado a vertente de poder, ou seja, territorialização, e fomentando a
formação de concepções de identidade com o espaço, estando assim atrelado ao conceito de
lugar, havendo forte ligação sentimental e imaterial com o espaço.

DADOS E DISCUSSÕES: A REALIDADE ATUAL DE BARRA GRANDE

Apesar de ser notável na paisagem, ações e padrões sociais vistos como tradicionais, em
determinados aspectos é possível se contemplar maior amplitude para o novo, os fenômenos
globalizados. Hoje as relações cotidianas ainda manteriam esta estrutura, mas em certos
momentos com uma abertura mais ampla para o novo, o globalizado. Nesse caso, o turismo é
provocador de novos diálogos, na maioria das vezes incompreendidos pela estrutura social
local.
O espaço físico de Barra Grande sofreu mais alterações ligadas a oferecer uma melhor
estrutura para a consolidação de um turismo nacional e até internacional, sem incluir
diretamente a comunidade, pois a maior parte destas melhorias são oriundas do setor privado,
fator que explica os persistentes problemas de abastecimento de água e energia, por exemplo.
O meio ambiente, a economia e a cultura local condicionaram-se ao turismo e seus
eventuais benefícios em alta estação e durantes os fins de semana. Esta adaptação tem como
intuito aproveitar positivamente oportunidades para melhorarem as condições de vida destes

67
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

agentes locais, o que diante de informações colhidas durante pesquisas prévias, nem sempre
ocorreu.
Os moradores que se sentem beneficiados diretamente pelo turismo são geralmente os
incluídos no seu processo de produção e ressignificação, que trabalham formal ou
informalmente com a atividade. É interessante destacar que isso não impede que muitos
envolvidos mostrem-se analíticos em relação à evolução deste turismo ao longo dos anos. Os
residentes que posicionam-se mais críticos em relação a situação da comunidade são moradores
que exercem algum papel de liderança local e mostram-se preocupados a nível de exercerem
papel de vigilantes.
Em razão das profundas relações de antítese, o novo contrapondo o tradicional, as
relações sociais em Barra Grande se assemelham aos conflitos observáveis em áreas litorâneas
brasileiras, entretanto, ambos os saberes e modos de vida possuem seus valores e significâncias
de grupo. A partir de analises geográficas levanta-se como hipótese central a coexistência dos
interesses, os quais naturalmente geram conflitos, mas que em determinados aspectos tem
favorecido o desenvolvimento socioeconômico local.
A população de Barra Grande apresenta uma resistência às pessoas de fora da localidade,
em sua maior parte, curiosamente denominadas de “italianos”. Em pesquisas preliminares
realizadas em Barra Grande constataram-se presentes nas falas dos moradores insatisfações em
relação ao turismo. A dona de casa e antiga liderança local, S. M., argumentou que o
crescimento do turismo ocorreu com o aumento na quantidade de pousadas e com a chegada de
pessoas investindo na implementação de empreendimentos turísticos.
Os turistas que vem pra cá eles poderiam olhar, por exemplo, a comunidade
melhor porque sujam muito, jogam garrafa de água na praia. Eles vêm pra cá
com um único objetivo: brincar e brincar e vão pra praia e acabou-se. Os
meninos tavam me chamando de lanterninha porque eu fiscalizava o que
acontecia aqui com umas ações minhas e da igreja. Eu acho que a gente tem
que preservar, fazer de tudo pra que isso aqui se torne um lugar melhor, um
polo turístico sustentável, que é o que não tá acontecendo no momento.11

Baseado no trecho acima é fundamental defender que Barra Grande é um importante


exemplo de lugar onde existem intensas relações que ocorrem em decorrência do turismo como
fenômeno e torna-se um rico objeto de estudos científico e transdisciplinar na sua essência.
Podemos observar a abrangência de possibilidades na investigação dos casos isolados ou
conjuntos que acontecem no local.

11
Entrevista concedida por S.M, dona de casa, a Francysco Renato Antunes Lopes em novembro de 2017.
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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Informações obtidas junto a F. O., integrante de uma das associações de guias locais e
ao também guia e membro de outra associação de condutores, D. S., pessoas da comunidade e
de comunidades vizinhas começaram a trabalhar nestas pousadas, mas geralmente em empregos
marginalizados. Nos discursos de todos os entrevistados um ponto em comum que chamou a
atenção foram os casos de prostituição existentes no povoado, o consumo de drogas ilícitas
como o crack e os casos de “homossexualismo”, enfatizados pela moradora S. M. Os
entrevistados atribuem estes fatos existentes a ida de turistas para região, em especial os
estrangeiros, que segundo eles, causam um fascínio na população local.
O turismo faz com que as populações nativas das áreas receptoras reinventem o seu
cotidiano e, normalmente, nesta reinvenção, a lógica da atividade turística se sobrepõe às
tradições locais e à própria identidade da comunidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A potencialidade de Cajueiro da Praia e consequentemente da praia de Barra Grande


para o turismo é notória. O turismo é uma atividade extremamente dinâmica, pela sua rapidez
e força, e se apropria do espaço e da paisagem local integrando novos elementos socioculturais
ao cotidiano já pré-estabelecido em uma determinada sociedade, episódio concretizado em
Barra Grande.
Percebeu-se que o turismo é um dinamizador das relações sociais na comunidade,
alterando realidades e promovendo ressignificações. Os conflitos são comuns em áreas que
passam a receber estímulos diferentes, em especial quando o fomento é externo. É fundamental
uma mediação do poder público em situações como essas, promovendo diálogos entre todos os
componentes envolvidos, com enfoque principal no bem estar da comunidade.
Desse modo, observa-se que Barra Grande possui elementos essenciais que possibilitam
um estudo transdisciplinar da sua realidade no mundo contemporâneo, um importante exemplo
de lugar onde existem intensas relações que ocorrem em decorrência do turismo, um rico objeto
de estudos científicos e multidisciplinar na sua essência. Pode-se observar a abrangência de
possibilidades na investigação dos casos isolados ou conjuntos que acontecem no local. Barra
Grande é rica em muitos aspectos e cientificamente cativante para qualquer estudioso da área
das Ciências Sociais e Humanas.

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

ASPECTOS DA GEODIVERSIDADE DO PARQUE NACIONAL SERRA DA


CAPIVARA, ESTADO DO PIAUÍ
João Jorge Vitalino de Sousa
Edmarcio Abreu de Carvalho
Francisco Wellington de Araújo Sousa
RESUMO

Objetivou-se com esta pesquisa discutir sobre a importância do Parque Nacional Serra da
Capivara com relação a geodiversidade, destacando os aspectos do patrimônio geológico-
geomorfológico, e sua contribuição para a prática do geoturismo local e regional. A
metodologia adotada no trabalho constou primeiramente de uma pesquisa bibliográfica sobre a
temática estudada, e a realização de inspeções à campo. Este parque está localizado no Sudeste
do Estado do Piauí, inserido totalmente na região semiárida do nordeste brasileiro, estando sua
área incluída nos municípios de Brejo do Piauí, Coronel José Dias, João Costa e São Raimundo
Nonato. Portanto, o referido parque apresenta uma relevante geodiversidade, principalmente
com relação as paisagens geomorfológicas, que são importantes atrativos na região. O
patrimônio natural tem contribuído para o desenvolvimento da prática do geoturismo, pois a
variedade de sítios presentes no parque, se mostram importantes no contexto dos valores
científico, educacional, cultural e econômico, contribuindo para a ampliação do conhecimento
sobre a geodiversidade e para o desenvolvimento sustentável no estado do Piauí.

Palavras chave: Unidades de Conservação; Geodiversidade; Patrimônio Geomorfológico.

ABSTRACT

The objective of this research was to discuss the importance of the Serra da Capivara National
Park in relation to geodiversity, highlighting the aspects of geological-geomorphological
heritage, and its contribution to the practice of local and regional geotourism. The methodology
adopted in the work consisted primarily of a bibliographical research on the theme studied, and
the performance of field inspections. This park is located in the Southeast of the State of Piauí,
totally inserted in the semiarid region of northeastern Brazil, and its area is included in the
municipalities of Brejo do Piauí, Coronel José Dias, João Costa and São Raimundo Nonato.
Therefore, this park presents a relevant geodiversity, mainly in relation to geomorphological
landscapes, which are important attractions in the region. The natural heritage has contributed
to the development of the practice of geotourism, because the variety of sites present in the
park, are important in the context of scientific, educational, cultural and economic values,
contributing to the expansion of knowledge about geodiversity and sustainable development in
the state of Piauí.

Keywords: Conservation Units; Geodiversity; Geomorphological Heritage.

INTRODUÇÃO

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

As Unidades de Conservação (UCs) podem ser definidas como as áreas instituídas pelo
poder público para a proteção da fauna, flora, corpos d´água, solo, paisagens, e todos os
processos ecológicos pertinentes aos ecossistemas naturais. Estas também protegem o
patrimônio histórico-cultural, referente às práticas e o modo de vida das populações
tradicionais, permitindo o uso sustentável dos recursos naturais (BRASIL, 2000).
Desta maneira, as unidades de conservação servem para assegurar todas as diversidades
e os recursos genéticos associados. A importância dessas áreas para os seres humanos está
relacionada especialmente a regulação da quantidade e qualidade de água para consumo; e
principalmente prover a existência dos ecossistemas e condições ambientais das quais todos
necessitamos (GIANSANTI, 1998; BRASIL, 2000).
Nesse contexto, existem diversas modalidades ou categorias de Unidades de
conservação, que tem como um dos objetivos principais a proteção da natureza, como os
parques federais/estaduais/municipais, as reservas extrativistas, Áreas de Proteção Ambiental,
entre outras, que estão descritas no Sistema Nacional de Unidades de Conservação (BRASIL,
2000).
Além de dispor e preservar a biodiversidade, muitas unidades de conservação se
destacam devido aos elementos da geodiversidade que caracterizam a paisagem, que segundo
Brilha (2005), este termo está relacionado a diversidade geológica, incluindo não somente os
testemunhos derivados de um passado geológico, como o caso dos minerais, rochas e fósseis,
mas também aqueles processos atuais que darão origem a novos testemunhos.
É relevante ressaltar que no âmbito de discussões sobre geodiversidade encontram-se os
conceitos de geoturismo, geoconservação e patrimônio geológico-geomorfológico. Nesse
contexto, o estado do Piauí se destaca quando se refere a geodiversidade, apresentando em todo
seu território uma diversidade de rochas e formas de relevo, encontradas em sua maioria na
Bacia Sedimentar do Parnaíba (SILVA; LIMA, 2018).
Portanto, entre os locais que apresentam um potencial geoturístico no território
piauiense, se destacando por sua geodiversidade cita-se o Parque Nacional Serra da Capivara.
Criado em 5 de junho de 1979, o parque encontra-se assentado sobre as estruturas geológicas
do cristalino e sedimentar, o que confere ao mesmo uma importância com relação ao patrimônio
geológico e geomorfológico (ICMBIO, 2019).
Reconhecido em âmbito internacional, o Parque Nacional Serra da Capivara tem grande
importância na preservação dos vestígios arqueológicos que são encontrados na área. Esses
vestígios seriam a mais remota ocupação humana da América do Sul, há cerca de 50 mil anos.
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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Devido a essas especificidades o parque foi inscrito na lista do patrimônio mundial da Unesco
em dezembro de 1991 e tombado como patrimônio nacional pelo Iphan em setembro de 1993
(IPHAN, 2019).
Diante dessa importância, o objetivo do trabalho é discutir sobre a importância do
Parque Nacional Serra da Capivara com relação a geodiversidade, destacando os aspectos do
patrimônio geológico-geomorfológico, e sua contribuição para a prática do geoturismo local e
regional.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

De grande importância para a conservação da natureza, a geodiverisdade compreende um


conceito muito recente, que vem se destacando no campo das geociências. O termo foi
amplamente difundido a partir de 1993, durante a Conferência de Malvern, Reino Unido, sobre
“Conservação geológica e Paisagística”, e desde então vem ganhando importância no meio
científico, por meio de uma variedade de pesquisas, publicações de livros e artigos
(NASCIMENTO; RUCHKYS; MANTESSO-NETO, 2008).
Nesse contexto, a geodiversidade pode ser definida como a “variação natural
(diversidade) de aspectos geológicos (rochas, minerais, fósseis), geomorfológicos (formas da
Terra, processos físicos) e de solo. Inclui suas composições, relações, propriedades,
interpretações e sistemas”. (GRAY, 2004 citado por GRAY, 2005, p.5).
Nesse sentido, o planeta Terra apresenta uma grande variedade de ambientes e
ecossistemas de valiosa biodiversidade e geodiversidade, que a cada dia se transformam e se
modificam de forma natural, ou então pela ação antrópica, como por exemplo, a mineração
predatória, a construção de barragens, hidrelétricas, rodovias, disposição de resíduos sólidos
urbanos e industriais, vandalismo, depredação, entre outras. (BORBA, 2011, p.7).
No contexto da discussão sobre a geodiversidade, muitos outros conceitos tornaram-se
importantes no meio científico, como a geoconservação e o geoturismo. Conforme Sharples
(2002, citado por Brilha, 2005) a geoconservação apresenta como objetivo a preservação da
diversidade natural de significativos aspectos e processos geológicos, geomorfológicos e de
solo, mantendo a evolução natural desses aspectos e processos".
A geoconservação “tem como objetivo a conservação e gestão do patrimônio geológico
e processos naturais a ele associados”. (BRILHA, 2005, p. 53), em outras palavras, a
geoconservação tem como objetivo principal proteger a geodiversidade, garantindo sua
evolução natural.
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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Dessa forma o conceito de geoconservação é basicamente proteger e conservar toda


forma de material geológico que é encontrado na superfície terrestre no intuito de gerir e
preservar esses materiais encontrados, para ter uma melhor percepção sobre eles e poder
desenvolver projetos e pesquisar relacionadas a elas.
Com relação ao geoturismo, seu conceito é entendido como a prática do turismo que
possui como atrativo a natureza, os elementos abióticos, principalmente aqueles relacionados
ao patrimônio geológico (paisagens geomorfológicas, fósseis entre outros). As discussões em
torno do termo geoturismo também são recentes, sendo o conceito inicialmente desenvolvido
por estudiosos no continente europeu, entre eles destaca-se o inglês Thomas Hose.
(NASCIMENTO; SCHOBBENHAUS; MEDINA, 2008).
Foi a partir da definição Thomas Hose que o geoturismo passou a ser amplamente
divulgado. Esse pesquisador definiu o termo em 1995 como sendo “a provisão de serviços e
facilidades interpretativas que permitam aos turistas adquirirem conhecimento e entendimento
da geologia e geomorfologia de um sítio” (HOSE, 1995, citado por NASCIMENTO et. al,
2008).

METODOLOGIA

Esse trabalho foi desenvolvido a partir dos seguintes procedimentos metodológicos:


pesquisa bibliográfica e pesquisa de campo, como suporte à análise do tema proposto. O
levantamento bibliográfico constou da leitura e fichamento de artigos, dissertações, livros e
outras fontes que abordam a temática fundamentada no trabalho.
As inspeções à campo possibilitaram a observação das paisagens naturais da área de
estudo, com enfoque principalmente nos aspectos da geodiversidade (geologia, relevo, solos).
Esta etapa metodológica foi realizada em maio de 2019, utilizando como instrumentos de apoio
mapas, GPS, máquina fotográfica e caderneta de anotações.

LOCALIZAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

O Parque Nacional Serra da Capivara está localizado no Sudeste do Estado do Piauí, na


região semiárida do nordeste brasileiro. Possui cerca de 129.140 hectares e um perímetro de
214 km, e abrange os municípios de São Raimundo Nonato, Coronel José Dias, João Costa e
Brejo do Piauí (ICMBIO, 2019; BARROS et. al, 2012) A Figura 01 apresenta o mapa de
localização do Parque Nacional Serra da Capivara.

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Figura 01: Mapa de Localização do Parque Nacional Serra da Capivara, Piauí

Fonte: IBGE (2017); MMA (2018). Geoprocessamento: SOUSA (2018).

A proteção do PNSC foi ampliada pelo Decreto de nº 99.143 de 12 de março de 1990


com a criação de Áreas de Preservação Permanentes adjacentes, com total de 35 000 hectares.
Em 1986, foi criada pelos pesquisadores a Fundação Museu do Homem Americano
(FUMDHAM), entidade não governamental que tem como objetivo gerir e cuidar do Parque e
das pesquisas relacionadas na região. Atualmente a FUMDHAM, em cogestão com ICMBio
administram o Parque Nacional. (ICMBio, 2019; JÚNIOR; BITENCOURT, 2013).
Júnior e Bitencourt (2013) destacam que o turismo na Serra da Capivara tem se
constituído por um turismo de massa, formado na sua maioria de escolas da rede pública e
privada e de universidades públicas, que enxergam no parque uma forma de trabalhar a teoria
da sala de aula à prática no campo.

A GEODIVERSIDADE DO PAQUE NACIONAL SERRA DA CAPIVARA

Aspectos Geológicos

Há 440 e 360 milhões de anos, a região onde se constitui o parque era coberta pelo mar
Siluriano-Devoniano, limitado ao sul pelo escudo cristalino do Pré-Cambriano, onde está
inserida a Província Sedimentar do Parnaíba. Desse modo, a geologia da área de estudo se
caracteriza por duas estruturas geológicas: as rochas do embasamento cristalino e as formações
da bacia sedimentar do Parnaíba. No embasamento cristalino datado do pré-cambriano, são

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

encontrados os gnaisses do Complexo Sobradinho - Remanso, assim como os xistos, filitos,


metacalcários, calcixistos e quartzitos da Formação Barra Bonita, pertencente ao Grupo Casa
Nova (BARROS et. al., 2012).
O domínio cristalino ainda é formado pelos granitóides da Suíte Intrusiva Serra da
Aldeia. Com relação às características da estrutura sedimentar que compõe a área de estudo,
Barros et. al (2012), comentam que a litologia dessa grande estrutura está associada às
coberturas sedimentares fanerozóicas da margem sudeste da Bacia do Parnaíba representadas
por unidades dos grupos Serra Grande e Canindé.
O Grupo Serra Grande, é caracterizado por está assentado diretamente sobre micaxistos
do cristalino, segundo uma discordância erosiva ou em contato por falha, observados no interior
e no entorno da área do Parque Nacional da Serra da Capivara. Essa unidade geológica data da
era Paleozóica e período Siluriano, tem em sua composição arenitos grosseiros com leitos de
conglomerado oligomítico e intercalações de siltitos e folhelhos, possui sedimentação que se
inicia com arenitos brancos, grosseiros, conglomeráticos (BARROS, et. al. 2012; RADAM
BRASIL, 1973).
A formação Cabeças data do Paleozóico e Período Devoniano Médio, cujo nome tem
origem com a sequência de arenitos encontrada nas proximidades do povoado Cabeças,
município de Dom Expedito Lopes. Essa unidade geológica apresenta em sua composição
arenitos com intercalações delgadas de siltitos e folhelhos, com estratificação cruzada tabular
ou sigmoidal de grande porte. A figura 02 destaca afloramentos da formação Cabeças na área
do parque (BARROS et. al. 2012; RADAM BRASIL, 1993).

Figura 02: Fotografia destacando arenitos típicos da formação Cabeças à esquerda

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Fonte: Os autores, maio de 2019.

De acordo com Barros et. al (2012), a formação Ipu foi depositada no início do Siluriano
em ambiente fluvial anastomosado com influencia periglacial, apresenta os arenitos,
conglomerados, composto por pacotes de mais de 50 m de conglomerado grosseiro sub-
horizontal e níveis de arenito vermelho em camadas tabulares, deste ponto, Na figura 03,
observa-se uma visão panorâmica de uma extensa área de exposição da formação Ipu.

Figura 03: Arenitos e conglomerados da formação Ipu no Boqueirão da Pedra Furada

Fonte: Os autores, maio de 2019

Um exemplo de sitio geológico-geomorfológico onde há afloramentos da formação Ipu


diz respeito ao monumento do Arco do Triunfo da Pedra Furada (Ver figura 04). Nesse sítio

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

encontram-se arenitos, arenitos conglomeraticos e conglomerados suportado por clastos


predominantemente quartzosos com leve imbricação. Possui uma estratificação horizontal de
leitos longitudinais, depósitos residuais e de peneiramento típicos de deposições continentais
flúvio-glaciais do Siluriano (BARROS et. al, 2012).

Figura 04: Monumento geológico Arco do Triunfo da Pedra Furada

Fonte: Os autores, maio de 2019.

Situado estratigraficamente abaixo do Grupo Serra Grande, a Formação Pimenteiras,


datada do Devoniano, tem seu nome derivado do amontoado de folhelhos vermelhos no
município de Pimenteiras, Piauí. Essa unidade ocorre na forma de camadas alternadas de
arenitos e siltitos com nódulos de minerais ferruginosos e folhelho cinza escuro. Os siltitos, por
apresentarem menor resistência à erosão, contribuem para a instalação de grandes vales com
quebra na morfologia ocorrendo apenas onde as camadas do arenito mais resistentes se
destacam na paisagem (BARROS et. al., 2012; RADAM BRASIL, 1973).

Paisagem Geomorfológica

No que se refere à paisagem geomorfológica do Parque Nacional da Serra da Capivara


é formada por planaltos, serras e planícies, que são formas de relevo resultantes de
transformações que foram ocorrendo durante milhões de anos nas duas formações geológicas
que caracterizam a área. Desse modo, podem ser encontradas na área do parque os planaltos,
serras e planícies. (ICMbio, 2013).
Segundo Barros et. al. (2012), o relevo do Parque Nacional Serra da Capivara
compreende chapadas e vales, com desníveis de até 250 m, que compõem uma paisagem diversa
formada por vales dendríticos e boqueirões estreitos e profundos (slot canyons). Nas áreas onde

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

os vales são mais alargados instalam-se baixões ou desfiladeiros em cujas paredes, erodidas de
forma diferenciada em resposta às características próprias de cada substrato rochoso, diferentes
formas de abrigo foram esculpidas (Ver figura 05)

Figura 05: Fotografia destacando paisagem geomorfológica esculpidas sobre arenitos


da Formação Ipu

Fonte: Os autores, maio de 2019.

O relevo homoclinal, com mergulho para o interior da bacia, está representado na forma
de cuestas, de forma dissimétrica, côncavo íngreme, fortemente erodidas, caracterizado por
escarpa erosiva (front) com cornijas, depressão ortoclinal ou vertente do vale transversal
recoberta por pedimento, reverso da cuesta ou topo de inclinação suave e morros testemunhos
(BARROS et. al., 2012) (Ver figura 06).
Figura 06: Front escarpado da cuesta composta por arenitos do Grupo Serra Grande

Fonte: os autores, maio de 2019


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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Ainda conforme Barros et. al., (2012) na área do Parque Nacional Serra da Capivara são
reconhecidas três unidades geomorfológicas, a saber: os planaltos areníticos, cuestas e
pedimentos (ver figura 07). Os planaltos areníticos localizam-se a oeste do Parque, e formam
chapadas do reverso da cuesta, de relevo regular e monótono cuja altitude chega a 630 m.

Figura 07: Paisagem geomorfológica com presença de planaltos areníticos e


boqueirões

Fonte: os autores, maio de 2019.

As cuestas foram desenhadas em rochas predominantemente areníticas e


conglomeráticas do Grupo Serra Grande (Ver figura 08). O pedimento é uma vasta área de
deposição e acumulação detrítica, situada no sopé da cuesta, que se inclina suavemente a partir
dos bordos da cuesta rumo à calha central do rio Piauí (BARROS et. al., 2012).

Figura 08: Escarpa da cuesta do Grupo Serra Grande, em contato com o


embasamento pré-cambriano

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Fonte: Os autores, maio de 2019.

Aspectos pedológicos

Segundo Barros et. al, (2012), as características dos solos da área em estudo se destacam
por ser predominantemente rasos, pouco espessos, jovens, localmente pedregosos, e fortemente
influenciados pelo material de origem. Desse modo, os solos encontrados no referido parque
formaram-se a partir de alteração de gnaisses, filitos, mármores, quartzitos, xistos, arenitos,
siltitos e folhelhos.
Ainda conforme Barros et. al., (2012) predominam os latossolos, que são ricos em
alumínio e distróficos, de textura média a argilosa, e argissolos vermelho- -amarelos de textura
média a argilosa, fase pedregosa e não-pedregosa. Ainda podem ser encontrados os Neossolos
quartzarênicos, que apresentam boa profundidade, bem drenados, de baixa fertilidade,
relacionadas a áreas de ocorrência de fitofisionomias de caatinga/cerrado/floresta (Ver figura
09).

Figura 09: solos pedregosos encontrados no parque.

Fonte: Os autores, maio de 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Portanto, o Parque Nacional Serra da Capivara constitui uma importante Unidade de


Conservação, que apresenta uma notável geodiversidade, com destaque para o patrimônio
geológico-geomorfológico. As formas de relevo apresentam grande valor turístico e científico,
destacando-se principalmente pela beleza cênica das feições existentes no parque, relevantes
para o desenvolvimento de práticas da geoconservação e do geoturismo da região.
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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Nesse sentido, as feições ruiniformes encontradas na Serra da capivara são


consideradas relevantes patrimônios geomorfológicos, pois as formas de relevo representam
em sua composição a história geológica e climática da região. Essas feições também se
destacam com relação ao valor cultural e educacional, ao propiciar a prática de estudos e
pesquisa de seus aspectos físicos e históricos, como também um valor econômico, gerado
através do geoturismo que o Parque Nacional Serra da Capivara representa.
Como avanços observados no parque no que concerne ao desenvolvimento do turismo
na região está a construção do Aeroporto Internacional Serra da Capivara, e a inauguração do
Museu da Natureza. Estes exemplos contribuem para impulsionar o grande potencial turístico
da região.

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

AULAS PRÁTICAS DE CAMPO EM UNIDADE DE CONSERVAÇÃO


COM ÊNFASE EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Kamanda Raylana Marques dos Reis
Victor Hugo Gonçalves Silva
Patrícia Maria Martins Nápolis
RESUMO
O projeto foi realizado por alunos da Universidade Federal do Piauí, tendo como objetivo
principal sensibilizar crianças e adolescentes das comunidades do entorno da Unidade de
Conservação FLONA Palmares, sobre a importância social, geográfica, histórica e cultural do
bioma existe no local, através de aulas de campo com ênfase em educação ambiental. Foram
executadas sete dinâmicas de caráter educativo, incentivando a prática da pesquisa científica
por meio de investigações em campo e observando o conhecimento prévio dos mesmos sobre
a biodiversidade da Floresta dos Palmares. Pôde ser observado que as atividades práticas
contribuíram para o melhor entendimento dos envolvidos quanto à influência do conhecimento
científico no cotidiano, desenvolvendo competências que tendem a assumir atitudes de
cidadania crítica sobre a biodiversidade e a relevância da sua conservação.

Palavras-chave: Aula de Campo; Unidade de Conservação; Educação Ambiental.


ABSTRACT

The project was carried out by students of the Federal University of Piauí, with the main
objective of sensitizing children and adolescents from the communities surrounding the
FLONA Palmares Conservation Unit, about the social, geographical, historical and cultural
importance of the biome that exists on site, through field classes with emphasis on
environmental education. Seven educational dynamics were performed, encouraging the
practice of scientific research through field investigations and observing their previous
knowledge about the biodiversity of the Palmares Forest. It could be observed that practical
activities contributed to a better understanding of those involved regarding the influence of
scientific knowledge on daily life, developing competencies that tend to assume attitudes of
critical citizenship about biodiversity and the relevance of its conservation.

Keywords: Field Class; Conservation Unit; Environmental Education.

INTRODUÇÃO

Aulas de Campo
É mais do que sabido que as gerações precisam se relacionar melhor com o meio
ambiente. Uma proposta para as crianças é aprender da maneira que elas mais gostam, com
aulas práticas, de forma leve e divertida, para que aprendam a respeitar a natureza e tenham de
fato acesso à educação ambiental na sua vida cotidiana.

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

É preciso lançar mão de desafios para que estejam interessados no assunto,


chegando a agregar informações que os leve, provavelmente, a construir
conceitos científicos a partir das atividades orientadas. Assim, uma das
propostas é a estratégia da Aula de Campo (CATABRIGA, 2016, p. 09).
A aula de campo é utilizada, geralmente, como um complemento as atividades já
realizadas dentro da sala de aula, desta forma esta estratégia de ensino acaba servindo como
uma síntese ou recompensa para os alunos (DOURADO, 2006, p. 02), pois as informações
serão passadas de uma forma diferente do que é visto em sala de aula, feito de maneira dinâmica,
sendo assim a criança passa a fixar com mais facilidade o conteúdo, além de ficar mais fácil
associar a teoria com os elementos naturais visto na aula de campo.

Unidades de Conservação
A delimitação de áreas com vistas à preservação de seus atributos naturais evoluiu ao
longo da história a partir de suas raízes em atos e práticas das primeiras sociedades humanas
(MILLER, 1997, p. 134).

As necessidades de uso imediato e futuro dos recursos envolvendo animais,


água pura, plantas medicinais e outras matérias-primas, justificavam a
manutenção desses sítios, além de se constituírem em espaços de preservação
de mitos e ocorrências históricas. Tabus, éditos reais e mecanismos sociais
comunitários funcionavam - e ainda funcionam em muitos casos – como
reguladores do acesso e uso dessas áreas especiais (MILLER, 1997, p. 02).

Educação Ambiental
A necessidade de explorar os recursos naturais sem considerar as consequências futuras
que tal ato venha a provocar, faz com que se pense em formas de alertar a população sobre esses
problemas, e a melhor forma encontrada é a educação. A educação ambiental tomou formatos
populares no Brasil, por volta da década de 80, haja vista que os problemas ambientais que
assolavam o país e o mundo precisavam ser eliminados ou minimizados (DE ALMEIDA, 2001,
p. 01).
A Educação Ambiental deve ser vista com uma visão interdisciplinar, com caráter
transformador da realidade, onde o ambiente e a sociedade devem caminhar juntos
(RUSCHEINSKY, 2009, p. 425).
Atualmente, a questão ambiental tem alcançado dimensões muito sérias. Disso decorre
a necessidade de trabalhar a Educação Ambiental em seus vários níveis, para todas as faixas
etárias, partindo da realidade local até alcançar dimensões globais e a melhor forma encontrada

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

foi a instituição de discussões e conhecimentos sobre Meio Ambiente nas áreas da educação
formal e informal (DE ALMEIDA, 2001).
Partindo do pressuposto que educação ambiental é interdisciplinar e que pode ser
trabalhada em vários meios, ela se faz presente na relação sociedade e natureza, pois é
importante sensibilizar ar crianças a respeito dessa relação.
É preciso preparar os cidadãos para que sejam capazes de participar, de
alguma maneira, das decisões que se tomam nesse campo, já que, em geral,
são disposições que, mais cedo ou mais tarde, terminam por afetar a vida de
todos. Essa participação deverá ter como base o conhecimento científico
adquirido na escola e a análise pertinente das informações recebidas sobre os
avanços da ciência e da tecnologia (SANTOS, 2016, p. 1).
O principal objeto desse projeto foi sensibilizar crianças e adolescentes das
comunidades do entorno FLONA Palmares, sobre a importância social, geográfica, histórica e
cultural do bioma existente no local, através de uma aula de campo voltada para a Educação
Ambiental incentivando a prática da pesquisa científica por meio de investigações em campo.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Esse trabalho foi realizado no município de Altos, município brasileiro no estado do


Piauí, fazendo parte da Grande Teresina mais especificamente na Floresta Nacional dos
Palmares (FLONA), bioma caatinga, somando os 170 hectares. A FLONA tem como objetivos
o uso múltiplo sustentável dos recursos florestais e a pesquisa científica, com ênfase em
métodos para exploração sustentável de florestas nativas (IBGE, 2018).
Metodologia
Foi realizado com crianças e adolescentes das comunidades do entorno da FLONA
Palmares.
O presente artigo está pautado nos pressupostos da pesquisa ação de acordo com Gil
(2011, p. 31), na pesquisa-ação há um constante vaivém entre as fases, o qual se determina na
dinâmica do relacionamento entre os pesquisadores e a situação pesquisada, levando a um
entendimento lógico onde se adquire saberes específicos de uma relação fisicamente ativa.
A pesquisa-ação define-se como “um tipo de pesquisa com base
empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma
ação ou ainda, com a resolução de um problema coletivo, onde todos os
pesquisados e participantes estão envolvidos de modo cooperativo e
participativo” (THIOLLENT, 1985, p. 18).
Foi feito o reconhecimento do local com caráter informativo para promover o
aprofundamento do tema e levantar informações do lugar, mapeando o maior número possível
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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

de áreas que poderiam ser utilizados em aulas de campo. Houve a realização de uma conversa
instrutiva sobre a relevância da aula e o seu funcionamento, sendo tratados os objetivos gerais
das dinâmicas que foram realizadas dentro das trilhas.
De acordo com Micheletti, (2015, p. 01) a Dinâmica de Grupo dá-se através do
momento que temos três ou mais pessoas se comunicando e trocando informações, podemos
dizer que elas estão se movimentando, aprendendo e, se há uma interação, há dinâmica. A
dinâmica de um grupo é o seu movimento e a vida deste grupo é a inter-relação.
Para Marucci, (2015, p. 01) denomina a dinâmica como uma atividade que leva o
grupo a uma movimentação, por exemplo: como cada pessoa se comporta em grupo, como é a
comunicação, o nível de iniciativa, a liderança, o processo de pensamento, o nível de frustração
se aceita bem o fato de não ter sua ideia levada em conta, [...] é um instrumento de aproximação
de interesses.
O pressuposto aqui é que, se o aluno aprender sobre a dinâmica dos ecossistemas, ele
estará mais apto a decidir sobre os problemas ambientais e sociais de sua realidade quando for
solicitado, (MACHADO, 1982, p. 134). Antes da realização da primeira atividade lúdica foram
repassadas informações sobre segurança básica dentro de um ambiente natural, os riscos
apresentados e algumas medidas de cuidado, além do respeito com o ambiente. Nesse momento
os participantes mostraram conhecimento relatando a necessidade de se fazer silêncio ao longo
da trilha e se ter atenção durante todo o percurso, além de citarem a necessidade de se falar
apenas o necessário e andar todos sempre em grupo – sem dispersão.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram feitas sete dinâmicas, dentre elas: “Rastros, Objetos e Regurgitos”, “Imagem e
Ação”, “Mimetismo”, “Quem Não se Comunica, se Trumbica”, “Analisando a Minha Trilha”,
“Jogo da Teia Alimentar” e “Caixa Surpresa”. Que serão descritas a seguir.

1° atividade: “Rastros, Objetos e Regurgitos” (figura 1), realizada no início da aula


(Trilha Tuturubá), nelas os participantes andaram atentamente sobre a trilha na busca de
pegadas ou vestígios deixados por animais que se abrigam na FLONA. Os participantes
puderam ser questionados sobre qual possível animal poderia ter deixado tal rastro. Pôde ser
dito também informações sobre a importância de se realizar a coleta de rastros deixados por
animais na floresta tendo em vista a importância desse material para estudos relacionados ao
local. Nessa dinâmica foi apresentada a forma de fazer a massa de gesso e dito que dependendo
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da exposição da luz no local será importante deixar o gesso “curtir” por tempo necessário até
que esteja apito a ser removido.

Figura 1: Aplicação de gesso no local da


pegada para obter seu formato real.

(Foto: Ana Lívia Solano)

2° atividade: “Imagem e Ação”, (Trilha Cedro) foi explicado os objetivos e regras, nela
os participantes formaram duplas e um deles, dentro da dupla recebeu um cartão contendo o
nome de algum animal e o colocou na testa, este tentou adivinhar qual o nome do animal escrito
no cartão fazendo perguntas ao colega, procurando dicas e informações sobre características do
animal. Nessa atividade objetivou-se trabalhar e analisar a elaboração de perguntas
investigativas e o conhecimento da fauna local tendo por base o conhecimento prévio dos
participantes.

3° atividade: “Mimetismo”, aos participantes, foram feitas algumas perguntas sobre o


conhecimento deles a respeito do termo mimetismo (se eles sabiam o que é camuflagem e se
tem alguma diferença entre camuflagem e mimetismo). Posteriormente foi apresentado o
conceito de mimetismo como sendo um processo em que uma determinada espécie adquire
características semelhantes de outra (mais “forte” adaptável) como mecanismo de proteção.
Nisso foi trabalhados exemplos usando amimais locais, como por exemplo, cobra coral e a
cobra coral falsa. Além disso, o conceito camuflagem como sendo quando o animal se
assemelha muito com o ambiente em que vive que dificulta a localização, usando exemplos
borboletas que se misturam a paisagem. Tendo isso foi pedido para os alunos citarem exemplos
e se possível identificarem exemplos durante a trilha.

4° atividade: “Quem Não se Comunica, se Trumbica” em um ambiente aberto foi


passado as informações e instruções para realização da atividade. Nela os participantes
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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

receberam alguns cartões contendo nomes de algumas espécies de animais típicos da caatinga.
Esses cartões são duplicados (possuíam dois cartões para cada animal) e os animais escolhidos
emitem sons característicos (macaco, pica-pau, cobra). Aos participantes foi explicado que, ao
sinal, eles deveriam imitar o som do seu respectivo animal na intenção de localizar seu parceiro.
Nessa atividade além do conhecimento local, foram trabalhados os sentidos (principalmente a
audição).

Os animais usados na dinâmica foram:

• Pica-pau
• Cancã
• Cobra Coral
• Marimbondo
• Macaco
• Tamanduá
5° atividade: “Analisando a Minha Trilha” (figura 2) nelas os participantes receberam
uma lupa e um pedaço de barbante. O barbante serviu para demarcarem um pequeno território,
a lupa ajudou a realizar uma análise minuciosa na área demarcada pelo barbante. Nessa
atividade os participantes foram tratados como pesquisadores e a eles foi dado autonomia para
escolher o local e analisar aquilo que mais lhes interessava, além de expressarem seus
conhecimentos.
Figura 1: Crianças fazendo investigação de um local
delimitado por elas.

(Foto: Ana Lívia Solano)

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

6° atividade: “Jogo da Teia Alimentar”, nela os participantes simularam uma teia


alimentar. Os monitores fizeram algumas questões sobre os animais que se encontram na
FLONA, algumas espécies de plantas e animais existentes e quais relações são perceptíveis no
âmbito da floresta. Em seguida os monitores pedem para um dos participantes dizer como que
se inicia um processo de teia alimenta explicando que todos os participantes (cada um
representando um ser participante da teia) estão ligados (essa ligação será representada por um
barbante, assim dando início a toda a teia alimentar).Nessa dinâmica foi possível analisar o
conhecimento prévio dos participantes tanto em na questão da ordem dos seres envolvidos na
teia como também analisar o conhecimento dos participantes referente aos animais do FLONA.

Figura 2: Dinâmica do “jogo da Teia Alimentar”


sendo realizado.

(Foto: Ana Lívia Solano)

7° atividade: “Caixa Surpresa” (figura 4), nela os participantes foram vendados e


levados até uma caixa. Essa caixa continha uma abertura para que os participantes colocassem
uma das mãos e foram colocados alguns objetos da natureza. Cada participante colocou a mão
dentro da caixa e em seguida disse a um dos monitores o que ele acha que tinha dentro da caixa.
No segundo momento em outra caixa com um espelho dentro, foi informado que o animal mais
perigoso para a floresta é o ser humano, pois o mesmo destrói muito, conceitos de educação
ambiental foram aplicados para sensibilizar os participantes.

Figura 3: Dinâmica “Caixa Surpresa” onde o


participante coloca a mão dentro de uma caixa.

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

(Foto: Ana Lívia Solano)

As atividades foram adaptadas do livro Educando para a Conservação da Natureza da


autora Maria Cornélia Mergulhão. Ideais como recursos didáticos são importantes para
construir aprendizagem significativa dos conceitos ministrados. Junto a isso, a importância de
preservar a natureza e agir de modo a favorecer na sua manutenção. Após a atividade ainda em
ambiente natural, foi realizada pós a fim de verificar o conhecimento inicial dos participantes
com relação ao conhecimento pós-atividade, a fim de coletar informações a respeito do saber
cientifico e demais conteúdos ministrados na trilha. Por fim, foram analisados os dados obtidos
ao longo de todo o andamento do projeto.

De acordo com Piletti (1988, p. 06), a aula prática é muito importante para
os estudos de Ciências, pois é por meio dela que o educando aprende a tirar
conclusões e a fazer generalizações sem nenhum “esforço” [...]
desenvolvendo a capacidade de explicar o meio em que vive e podendo
atuar sobre ele.
As atividades lúdicas promoveram aos participantes uma visão diferente do ambiente
percorrido. O significado da atividade lúdica na vida da criança pode ser compreendido quando
se considera a totalidade dos aspectos envolvidos: preparação para a vida, prazer de atuar
livremente, possibilidade de repetir experiências, realização simbólica de desejos (CHATEAU,
1987, p.4). Pôde-se observar a percepção dos envolvidos, citando como exemplo a perspicácia
das respostas quando questionados sobre as diferenças características das duas trilhas e o tipo
de vegetação presente nas mesmas, especificamente na atual estação chuvosa. Eles relataram
que a primeira trilha (Tuturubá) era mais aberta, enquanto a segunda trilha (Cedro) parecia ser
mais densa, fechada e úmida.
Em alguns pontos das trilhas no que se refere as dinâmicas, ficou perceptível que alguns
participantes apresentaram dificuldades em fazer perguntas de caráter investigativo.

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Atividades educativas nas quais o educando interage com o ambiente, de


modo que as características do meio sejam de fato fundamentais para a
atividade e não apenas configurem um cenário distante, um palco que pode
ser substituído por outro qualquer, necessitam de reflexão para que sejam
práticas qualitativamente mais em pregadas (Pegoraro, 2003, p.30).

Situação esse que se modificou no decorrer das atividades, concluindo assim que o
objetivo de incentivar a prática de investigação científica foi atingido.
Ao longo de toda aula foram explanados alguns temas sobre o conceito de Fauna e Flora,
qual seria o processo de nascimento das plantas, o que seria equilíbrio ecológico e como os
animais e as plantas locais se relacionam em áreas naturais (a exemplo, foram citados os animais
que espalham sementes por uma área de floresta, reflorestando-a).
O planejamento foi dividido entre o pré-campo, campo e pós-campo. São fundamentais
para que os adolescentes estabeleçam relações entre a aprendizagem significativa e o senso
comum, pois segundo Carvalho, (1992, p. 09) conhecer os problemas que originaram a
construção dos conhecimentos a serem ensinados, sem o que os ditos conhecimentos aparecem
como construções arbitrárias.
Somente três adolescentes presentes disseram concordar com a dinâmica do espelho e
maioria mudou de ideia após ser explicado o quão grande é o impacto que causamos ao meio
ambiente.
Em relação à aula de campo, vincula a leitura e a observação, situações e ações que,
associadas à problematizarão e à contextualização encaminhadas pelo docente, ampliam a
construção do conhecimento pelo aluno (ZORATTO, 2014, p.04), e é perceptível que o uso de
ambientes naturais facilita no processo de ensino e aprendizagem tendo em vista a dinamicidade
que os participantes têm em relacionar conceitos e práticas. No mais, quando em contato direto
com a natureza, os alunos adotam uma visão por compartilharem o saber ao mesmo tempo em
que criam questões sobre o local vivenciado. Ademais, essa visão permite que os indivíduos
participantes de uma atividade em ambiente natural percebam a natureza como um todo e
observar que o meio ambiente é na verdade um laboratório natural.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Essa aula de campo serviu como momento de sensibilização para a causa ambiental,
sendo repassada aos participantes a importância de se ter uma educação ambiental para que
assim sejam preservados os ambientes naturais e as relações que neles existem.
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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Para LOPES e ALLAIN, (2002, p.134) a própria complexidade que envolve


uma aula de campo, em que os alunos depararam-se com uma quantidade
maior de fenômenos quando comparada a uma aula tradicional, pode
confundir os alunos na construção dos conceitos e lidar com essa
complexidade requer o estabelecimento de objetivos claros e um professor
bem preparado.
Ter um cidadão com capacidade à crítica, só é possível quando esse tem a oportunidade
de pensar, questionar, criar, formular hipóteses e derivar respostas. Isto posto, a aula de campo
proposta será fundamental como prática de ensino-aprendizagem na área de EA,
independentemente do grau de escolaridade da criança, pois proporcionará a elas uma visão
diferente do espaço científico que será estudado, resultando com que os mesmos possam
compreender, interagir e entender os fenômenos de forma diferente também, contribuindo
assim para a formação de críticas sobre o meio em que vive.

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

AVES APREENDIDAS E ENTREGUES VOLUNTARIAMENTE NA UNIDADE DO


IBAMA DE PARNAÍBA, PIAUÍ

Iara da Hora Mateus


Anderson Guzzi
Airton Janes da Silva Siqueira

RESUMO
As aves são o principal alvo do tráfico de animais silvestres no Brasil e correspondem a 80%
das espécies contrabandeadas no mercado negro, que movimenta em torno de três bilhões de
dólares por ano. Com o intuito de fazer o levantamento das aves de interesse econômico da
região, foi realizado o estudo a partir da análise dos Termos de Recebimento de Animais
Silvestres da Unidade do IBAMA de Parnaíba, Piauí. Os termos utilizados correspondem aos
anos de 2013 a 2016. Os dados do levantamento foram organizados em uma tabela que consta
todas as espécies que deram entrada na Unidade no período de análise. Foram analisados 172
termos de recebimento, correspondendo a 462 aves, pertencentes a 40 espécies, 18 famílias e
10 ordens. As Famílias com maior representatividade foram Psittacidae com oito espécies e
Thraupidae com seis espécies, sendo estas especificamente da subfamília Sporophillinae. As
três espécies mais abundantes foram: Dendrocygna viduata (Irerê) com 122 representantes,
seguida de Cacicus cela (Xexéu) 88 espécimes e Sporophila lineola (Bigodinho) com 84
exemplares. Registrou-se que a principal forma de entrada dos animais foi por apreensão, e a
soltura foi o método de destinação mais utilizado. No geral foram 462 aves que deram entrada
na Unidade do IBAMA de Parnaíba. Com estes dados é possível verificar as espécies mais
visadas pelo tráfico no Norte do estado do Piauí.

Palavras-Chave: Biodiversidade; Caça; Levantamento; Ornitologia; Tráfico.

ABSTRACT

Birds are the main target of wildlife trafficking in Brazil and account for 80% of the species
smuggled on the black market, which moves around three billion dollars a year. In order to
survey the birds of economic interest of the region, the study was carried out based on the
analysis of the Terms of Receipt of Wild Animals of the IBAMA Unit of Parnaíba, Piauí. The
terms used correspond to the years 2013 to 2016. The survey data were organized in a table that
contains all the species that entered the Unit in the analysis period. A total of 172 terms of
receipt were analyzed, corresponding to 462 birds, belonging to 40 species, 18 families and 10
orders. The families with the highest representativeness were Psittacidae with eight species and
Thraupidae with six species, which are specifically from the subfamily Sporophillinae. The
three most abundant species were: Dendrocygna viduata (Irerê) with 122 representatives,
followed by Cacicus cela (Xexéu) 88 specimens and Sporophila lineola (Bigodinho) with 84
specimens. It was recorded that the main form of entry of the animals was by apprehension, and
the release was the most used destination method. Overall, there were 462 birds that were
admitted to the IBAMA Unit of Parnaíba. With these data it is possible to verify the species
most targeted by trafficking in the North of the state of Piauí.
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Keywords: Biodiversity; Hunting; Survey; Ornitology; Trafficking.

INTRODUÇÃO
O Brasil é um dos países com maior diversidade de aves do mundo, possuindo um total
de 1.919 espécies registradas até o momento, distribuídas em 33 ordens e 103 famílias,
incluindo as aves que residem se reproduzem e visitam o país (PIACENTINI et al., 2015). Essa
riqueza corresponde a 21% de todas as espécies conhecidas no mundo (SICK, 1997) ou
aproximadamente 59% das aves conhecidas na América do Sul (SICK, 1997; SILVA, 2007),
no entanto, apesar de ser o país mais rico em diversidade, o Brasil é também o país com maior
número de aves globalmente ameaçadas de extinção (IBAMA, 2012).
O tráfico de animais silvestre é atualmente considerado o terceiro maior comércio ilegal
do mundo, perdendo apenas para o tráfico de drogas e armas. Neste cenário, o Brasil é um dos
principais países a comercializar e exportar patrimônio faunístico e florístico, sendo
responsável por 5% a 15% deste comércio ilegal. A maioria das espécies que abastecem este
comércio é oriunda das regiões tropicais, as quais detêm maior riqueza de aves (RENCTAS,
2001) que são o principal alvo do tráfico de animais silvestres no Brasil e correspondem a 80%
das espécies contrabandeadas no mercado negro, movimentando um valor em torno de
três bilhões de dólares (RENCTAS, 2015).
O Brasil ainda está muito longe de alcançar um estágio efetivo de combate às ilicitudes
ambientais. Falta ao país uma estratégia de fiscalização que tenha por base a inteligência e a
capacidade de efetivar um rigoroso e necessário controle sobre as atividades que direta ou
indiretamente incidem sobre o patrimônio faunístico brasileiro, pois o tráfico de animais
silvestres continua sendo uma atividade presente no país. Com o intuito de fazer o levantamento
das aves de interesse econômico da região, este estudo se deu a partir da análise dos Termos de
Recebimento de Animais Silvestres da Unidade do IBAMA de Parnaíba, Piauí.

MATERIAL E MÉTODOS

Area de estudo
O estudo foi realizado a partir da avaliação dos Termos de Recebimento de Animais
Silvestres da Unidade do IBAMA de Parnaíba, Piauí. A Unidade localiza-se na Rua Merval
Veras, 80 – Bairro Nossa Senhora do Carmo. Essa é responsável por fiscalizar e atender as

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

demandas de denúncias das cidades de Parnaíba, Luís Correia, Ilha Grande do Piauí, Caraúbas,
Buriti dos Lopes, Caxingó, Cocal dos Alves e Bom Princípio (Figura 1).

Figura 1. Abrangência da área de atendimento do IBAMA de Parnaíba

Fonte: Autores (2019)

Análise dos dados


Os termos em análise correspondem aos anos de 2013 a 2016 e contêm informações
relevantes dos animais, tais como: nome popular, nome científico, sexo, mansidão, data de
entrada e de saída. Os animais apreendidos podem ser destinados à soltura e ao CETAS - Centro
de Triagem de Animais Silvestres - de Teresina, Piauí. Na primeira, os animais são soltos em
fazendas cadastradas aptas a receberem animais silvestres, neste caso as aves estão saudáveis e
podem retornar a natureza. Na segunta situação os animais são encaminhados ao CETAS por
apresentarem estado de saúde debilitado, onde lá eles irão receber um atendimento de
veterinários e passar por um período na quarentena para poderem retornar a natureza, caso
estejam aptos e saudáveis.
A procedência dos animais também compõe as fichas de recebimento, sendo
classificadas de três maneiras: apreensão, caracterizado quando o recebimento de animais é
decorrente da ação fiscalizatória, realizadas pelos fiscais do IBAMA, pela Polícia Rodoviária
Federal (PRF) e pela Polícia Militar (PM), com aplicação de multas; entrega voluntária,
caracteriza-se quando o cidadão espontaneamente procura o órgão competente para entregar o
espécime que era ilegalmente mantido sob sua guarda. E a captura, que é resultado do
recolhimento do animal pelos fiscais do IBAMA em atendimento à solicitação da população.

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

As informações presentes nos termos de recebimento de animais silvestres foram


transferidas para planilhas separadas por ano, apresentando: data de entrada, nome popular,
nome científico, quantidade, procedência (Captura, apreensão, entrega voluntária), destino
(soltura ou CETAS) e data de saída.
Os dados do levantamento foram organizados em uma tabela que apresenta todas as
espécies que deram entrada na Unidade do IBAMA de Parnaíba, Piauí, no período de análise,
contendo suas respectivas quantidades, classificação taxonômica, status e uso dos animais pela
sociedade.
A nomenclatura científica e a classificação taxonômica das espécies basearam-se no
Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos (PIACENTINI et al., 2015). O estado de
conservação está de acordo com o International Union for Conservation of Nature and natural
Resources (IUCN, 2017) e Ministério do Meio Ambiente (MMA, 2014).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram analisados 172 termos de recebimento, correspondendo a 462 aves, pertencentes


a 40 espécies, 18 famílias e 10 ordens (Tabela 1). Cinco espécies são endêmicas do Brasil –
Aratinga jandaya, Eupsittula aurea, Cyanocorax cyanopogon, Icterus jamacaii, Paroaria
dominicana (PIACENTINI et al., 2015) e todas se encontram no quadro de pouco preocupante
em relação ao estado de conservação (IUCN, 2017; MMA, 2014).
Dentre as dezoito famílias listadas no estudo, seis se destacaram por possuírem um alto
índice de representatividade de espécimes, sendo elas: Anatidae (n=143 espécimes),
Thraupidae (n=104), Icteridae (n=101), Psittacidae (n=31), Tytonidae (n=16) e Cardinalidae
(n=13). Os dados encontrados corroboram com trabalhos semelhantes sobre tráfico de animais
silvestres na região Nordeste do Brasil (PEREIRA; BRITO, 2005; PAGANO et al., 2009; DE
MOURA et al., 2012).

Tabela 1. - Lista de espécies de aves apreendidas, entregues voluntariamente e capturadas entre os


anos de 2013 e 2016 na unidade do IBAMA de Parnaíba – Piauí.
Nome em Nome em
Táxon Status Uso N
Português Inglês
ANSERIFORMES Linnaeus, 1758
Anatidae Leach, 1820
Dendrocygninae
Dendrocygna viduata White-faced
Irerê R AL 122
(Linnaeus, 1766) Whistling-Duck

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Nome em Nome em
Táxon Status Uso N
Português Inglês
Dendrocygna autumnalis Black-bellied
Marreca-cabocla R AL 21
(Linnaeus, 1758) Whistling-Duck
Anatinae Leach, 1820
Cairina moschata
Pato-do-mato Muscovy Duck R AL 3
(Linnaeus, 1758)
Netta erythrophthalma Southern
Paturi-preta R AL 1
(Wied, 1833) Pochard
PELECANIFORMES Sharpe, 1891
Ardeidae Leach, 1820
Tigrisoma lineatum Rufescent Tiger-
Socó-boi R AL 3
(Boddaert, 1783) Heron
Bubulcus ibis (Linnaeus,
Garça-vaqueira Cattle Egret R AL 1
1758)
ACCIPITRIFORMES Bonaparte,
1831
Accipitridae Vigors, 1824
Rupornis magnirostris
Gavião-carijó Roadside Hawk R AR 3
(Gmelin, 1788)
CHARADRIIFORMES Huxley,
1867
Charadriidae Leach, 1820
Vanellus chilensis (Molina, Southern
Quero-quero R NE 1
1782) Lapwing
Rynchopidae Bonaparte, 1838
Rynchops niger Linnaeus,
Talha-mar Black Skimmer R NE 1
1758
COLUMBIFORMES Latham, 1790
Columbidae Leach, 1820
Columbina minuta Rolinha-de-asa- Plain-breasted
R AL 1
(Linnaeus, 1766) canela Ground-Dove
Columbina squammata
Fogo-apagou Scaled Dove R AL 3
(Lesson, 1831)
Columba livia Gmelin,
Pombo-doméstico Rock Pigeon R AL 1
1789
STRIGIFORMES Wagler, 1830
Tytonidae Mathews, 1912
Tyto furcata (Temminck, American Barn
Rasga mortalha R AR 16
1827) Owl
Strigidae Leach, 1820
Glaucidium brasilianum Ferruginous
Caburé R AR 3
(Gmelin, 1788) Pygmy-Owl
Athene cunicularia (Molina, Coruja-
Burrowing Owl R AR 1
1782) buraqueira
PICIFORMES Meyer & Wolf, 1810
Ramphastidae Vigors, 1825
Ramphastos toco Statius
R AR 2
Muller, 1776 Tucano Toco Toucan
FALCONIFORMES Bonaparte,
1831
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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Nome em Nome em
Táxon Status Uso N
Português Inglês
Falconidae Leach, 1820
Caracara plancus (Miller, Southern
Carcará R AR 2
1777) Caracara
PSITTACIFORMES Wagler, 1830
Psittacidae Rafinesque, 1815
Ara chloropterus Gray, Red-and-green
Arara-vermelha R AE 2
1859 Macaw
Aratinga jandaya (Gmelin, Jandaya
R, E AE 4
1788) Jandaia Parakeet
Eupsittula aurea (Gmelin, Peach-fronted
R AE 2
1788) Periquito-rei Parakeet
Eupsittula cactorum (Kuhl, Periquito-da-
Cactus Parakeet R, E AE 7
1820) caatinga
Forpus xanthopterygius Blue-winged
Tuim R AE 2
(Spix, 1824) Parrotlet
Pionus menstruus Maitaca-de- Blue-headed
R AE 1
(Linnaeus, 1766) cabeça-azul Parrot
Amazona amazonica Orange-winged
Curica R AE 6
(Linnaeus, 1766) Parrot
Amazona aestiva (Linnaeus, Papagaio Turquoise-
R AE 7
1758) verdadeiro fronted Parrot
PASSERIFORMES Linnaeus, 1758
Tyrannidae Vigors, 1825
Fluvicolinae Swainson, 1832
Xolmis cinereus (Vieillot,
Primavera Gray Monjita R AE 2
1816)
Corvidae Leach, 1820
Cyanocorax cyanopogon
Gralha-cancã White-naped Jay R, E AE 7
(Wied, 1821)
Turdidae Rafinesque, 1815
Turdus fumigatus
Sabiá-da-mata Cocoa Thrush R AE 5
Lichtenstein, 1823
Turdus rufiventris Vieillot, Rufous-bellied
R AE 9
1818 Sabiá-laranjeira Thrush
Mimidae Bonaparte, 1853
Mimus gilvus (Vieillot, Tropical
R AE 5
1807) Sabiá-da-praia Mockingbird
Icteridae Vigors, 1825
Cacicus cela (Linnaeus, Yellow-rumped
Xexéu R AE 88
1758) Cacique
Icterus jamacaii (Gmelin,
Corrupião Campo Troupial R, E AE 6
1788)
Gnorimopsar chopi
Pássaro-preto Chopi Blackbird R AE 7
(Vieillot, 1819)
Thraupidae Cabanis, 1847
Thraupinae Cabanis, 1847
Paroaria dominicana Cardeal-do- Red-cowled
R, E AE 12
(Linnaeus, 1758) nordeste Cardinal

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Nome em Nome em
Táxon Status Uso N
Português Inglês
Tachyphoninae Bonaparte,
1853
Coryphospingus pileatus Tico-tico-rei-
Pileated Finch R AE 2
(Wied, 1821) cinza
Sporophilinae Ridgway, 1901
Sporophila lineola
Bigodinho Lined Seedeater R AE 84
(Linnaeus, 1758)
Sporophila plumbea (Wied, Plumbeous
Patativa R AE 1
1830) Seedeater
Sporophila caerulescens Double-collared
Coleirinho R AE 4
(Vieillot, 1823) Seedeater
Sporophila leucoptera White-bellied
R AE 1
(Vieillot, 1817) Chorão Seedeater
Cardinalidae Ridgway, 1901
Cyanoloxia brissonii Ultramarine
Azulão R AE
(Lichtenstein, 1823) Grosbeak 13
TOTAL = 40 Espécies 462
Fonte: Autores (2019)
Legenda: R= Residente, E= Endêmico, AE = Animal de Estimação, AR= Ave de Rapina, AL=Alimentação, NE=
Não especificado, N= Número de Espécimes.

As duas famílias que se destacaram com maior número de espécies foram Psittacidae
(n=8) e Thraupidae (n=6), sendo esta especificamente da subfamília Sporophilinae. A grande
representatividade dessas duas famílias também foi destacada em trabalhos realizados nos
estados do Rio Grande do Sul (FERREIRA; GLOCK, 2014; ARAÚJO et al., 2010) e em Minas
Gerais (GOGLIATH et al., 2010; SOUZA; VILELA, 2013; SOUZA; VILELA; CÂMARA,
2014). O interesse por essas famílias está relacionado principalmente à beleza das cores,
plumagens e à melodia de seus cantos, além de possuírem uma ampla distribuição geográfica e
alta diversidade (GOGLIATH et al., 2010).
A representatividade dos Psittacidae no Brasil deve-se por este ser o país mais rico do
mundo em diversidade desses animais. Desde 1500 essa riqueza foi reconhecida, sendo
designado como “Terra dos papagaios” (SICK, 1997). Os Psitacídeos são aves bonitas, fáceis
de domesticar e inteligentes, sendo capazes de imitar a voz humana, são consideradas as aves
mais populares e procuradas como animal de estimação (RENCTAS, 2001). Em papagaios
silvestres a disposição de imitar sons manifesta-se raramente, diferente dos que são criados
como animais domésticos, uma vez que estes são estimulados reincidentemente a vocalizarem
(SICK, 1997).
Os Thraupidae possuem excepcionais qualidades canoras fazendo com que estes sejam
os pássaros mais disputados e melhor conhecidos pelo país (SICK, 1997). Dentro da família

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Thraupidae o gênero Sporophila é o preferido pelos criadores amadores. Os exemplares deste


gênero – Sporophila lineola, S. Plumbea, S. caerulescens e S. leucoptera – são mais procurados,
pois possuem um belo canto, e são de fácil manutenção, já que seu hábito alimentar é mais
simples e barato, constituído basicamente de sementes (ROCHA et al., 2006).
No geral foram efetuadas 58 entregas voluntárias, 31 capturas e 83 apreensões. Entre
2013 e 2014, registrou-se um maior índice de entrega voluntária, coincidindo com a
implantação do projeto de Reintrodução de Papagaios em fazendas da cidade de Caxingó, PI,
projetos coordenados por docentes e discentes da Universidade Federal do Piauí - Campus de
Parnaíba, além da parceria com o IBAMA. Porém, nos anos subsequentes observou-se um
declínio nessa forma de entrada. As apreensões e capturas mantiveram um equilíbrio, sem
mudanças bruscas.
No ano de 2013 foi trabalhada a educação ambiental nas escolas e comunidades, com o
objetivo de sensibilizar e informar aos moradores a importância da reintrodução das aves na
natureza e as consequências de manter em cativeiro animais silvestres. Subentende-se que após
as palestras muitos moradores se sensibilizaram e fizeram as entregas voluntárias, por isso, o
número elevado de entregas entre 2013 e 2014. No ano de 2014 os animais que viviam no
CETAS/IBAMA foram levados para as fazendas cadastradas de Caxingó, onde foram soltos em
viveiros. O projeto continua ativo com soltura de mais aves, seguidos de monitoramento para
acompanhar a adaptação dos espécimes na natureza.
Na lista de entrega voluntária a espécie com maior incidência foi Dendrocygna viduata
(Figura 2A) com 43 exemplares, seguido de Sporophila lineola (Figura 2B) com 25 exemplares
e Cacicus cela (Figura 2C) com 11 representantes. Em apreensão, Dendrocygna viduata, foi a
espécie com maior incidência (n=76), em seguida, Cacicus cela (n=72) e depois Sphorophila
lineola (n= 59). Na captura, o principal representante foi Tyto furcata com 16 exemplares
(Figura 2D), sendo que, captura caracteriza-se quando um fiscal do IBAMA recolhe o animal
de um lugar inapropriado para sua estadia, mediante ligação/solicitação da sociedade.
Araújo et al., (2010), relatam em seu trabalho - realizado na Região Central do Rio
Grande do Sul, que o grande número de entrega voluntária está relacionada, provavelmente, a
popularidade do IBAMA. Sendo reconhecido como um órgão protetor do meio ambiente. Souza
e Vilela (2013) apresentam que as entregas voluntárias ocorrem, principalmente, após
operações de fiscalização e também por meio da repercussão na mídia.

Figuras 2 A-D. Aves com maior índice de exemplares depositados no IBAMA de Parnaiba

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Fonte: Autores (2019)

No ano de 2014 a Unidade do IBAMA de Parnaíba recebeu vários espécimes por meio
de entrega voluntária, pelo fato da iniciação do projeto de reintrodução de papagaios em uma
das cidades que a Unidade atende. A iniciativa do projeto teve repercussão na mídia local, sendo
outro fator que incentivou as entregas. Portanto, a entrega voluntária ocorre mediante alguma
pressão, por meio da fiscalização ou quando o cidadão se conscientiza que comete um ato ilícito
ao manter em cativeiro um animal silvestre.
A apreensão é o método mais utilizado para recolhimento dos animais silvestres
mantidos em cativeiro. Geralmente ocorrem por meio de atendimentos de denúncias, ou
mediante ação fiscalizatória realizada pelo IBAMA. As apreensões podem ser realizadas por
outras entidades com poder de fiscalização, dentre eles PRF e PM. Diferente da entrega
voluntária, a apreensão tem aplicação de multa.
Matar, perseguir, caçar, apanhar, coletar, utilizar espécimes de fauna silvestre, nativos
ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade
competente, ou em desacordo com a obtida: multa de R$ 500,00 (quinhentos reais) por
indíviduo de espécie não constante de listas oficiais de risco ou ameaça de extinção. Multa de
R$ 5.000,00 (cinco mil reais), por indivíduo de espécie constante de listas oficiais de fauna
brasileira ameaçada de extinção, inclusive da Convenção de Comércio Internacional das
Espécies da Flora e Fauna Selvagens em Perigo de Extinção – CITES (BRASIL, 2008).

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

As multas são diversas e estão intimamente ligadas com o tipo de infração cometida,
com a espécie, com o fato de o exemplar estar ou não na lista dos animais com risco de extinção,
com o número de exemplares apreendidos, entre outros fatores, sendo responsabilidade do
fiscal, analisar o caso e depois aplicar a multa que mais se adeque ao tipo de infração.
Muitos dos espécimes que são apreendidos, geralmente apresentam estado debilitado,
como resultado dos maus tratos do tráfico. Gogliath et al., (2010), relatam que as aves
apreendidas muitas vezes estão em estado precário de vida, algumas são multiladas, passam
fome, sede e calor, além das que acabam vindo a óbito devido às condições inadequadas de
vida.
Entre as espécies apreendidas pelo IBAMA de Parnaíba, Dendrocygna viduata obteve
alta frequência, sendo inclusive a espécie com maior número de exemplares (n=122). Esta
espécie pertence à família Anatidae. No Piauí, os anatídeos são capturados em enormes
armadilhas colocadas nos habitats onde os bandos costumam ficar, geralmente em lagos e rios,
o que possibilita o aprisionamento de grande quantidade de espécimes. Após a captura são
vendidos para o consumo e ornamentação (DE MOURA et al., 2012).
A quantidade de espécimes registrados nesta pesquisa é superior aos encontrados por
Ferreira e Glock (2004), que registraram 63 exemplares na região do Rio Grande do Sul, visto
que, nesta região, estes animais não são tão apreciados quanto no estado do Piauí. No entanto,
foi inferior aos 344 espécimes registradas por De Moura et al., (2012) em Teresina, Piauí, já
que se trata de um estudo realizado pelo Centro de Triagem do IBAMA, que recebe exemplares
das outras unidades do estado.
As espécies que deram entrada na Unidade do IBAMA de Parnaíba podem ser
organizadas em três grupos principais, mediante a finalidade que estas espécies são utilizadas
pelos criadores.
O primeiro grupo é formado pelos Passeriformes e Psittaciformes que correspondem a
59,95% das aves do estudo. Os representantes desse grupo são, na maioria das vezes, utilizados
como animais de estimação. A criação de aves silvestres como animal de estimação está
presente na vida humana há muito tempo. No Brasil os índios já criavam e utilizavam os animais
como adorno e ornamentação, portanto, a criação de aves faz parte da cultura brasileira antes
mesmo do seu descobrimento (RENCTAS, 2001; CAMARGO; CAMARGO; SUEIRO, 2010).
Os Psittacidae são destaque globalmente como animais de estimação por serem formosos e
possuírem a capacidade de imitar a voz humana associada com sua inteligência. Os
Passeriformes também são as aves mais comercializadas pelos traficantes devido aos belos
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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

cantos dos seus representantes (GAMA; SASSI, 2008). Por serem tão cobiçadas, essas aves
possuem um valor econômico altíssimo (PEREIRA; BRITO, 2005).
O segundo grupo é formado pelos Anseriformes e Columbiformes, correspondendo a
33,77% dos espécimes que deram entrada no IBAMA. Os representantes desse grupo são
apreciados como fontes de alimentação. Os anatídeos caracterizam-se como importante reserva
econômica para o país, visto que estes são utilizados como fonte de alimentação e também de
renda resultante do comércio ligado à cinegética (SICK, 1997). Bezerra, Araújo e Alves (2011)
ressaltam seis famílias utilizadas como fonte alimentar. Dentre elas se destaca a família
Columbidae, que de acordo com os autores, os representantes dessa família apresentam uma
carne saborosa e rica em proteína, assim como ocorre com as outras famílias. No trabalho os
autores enfatizam que o consumo alimentar de aves faz parte da cultura Nordestina.
O terceiro grupo é composto pelos Strigiformes (corujas) e Falconiformes (carcará) que
correspondem a 5,84% das aves do estudo. Os representantes dessas ordens são conhecidos
como as aves de rapina. Normalmente não são criadas como animais domésticos, na realidade
elas provocam medo na sociedade, visto que associam algumas aves de rapina, em especial as
corujas, como sinal de azar e os Falconiformes, como perigosos (SICK, 1997). A entrada dessas
aves na Unidade do IBAMA ocorreu por captura, mediante solicitação da sociedade. Pagano et
al. (2009) e Santos et al. (2011), também obtiveram resultados semelhantes quanto a
representatividade dessas ordens na procedência captura.
Das espécies que deram entrada na Unidade do IBAMA durante os anos de 2013 a 2016,
a maioria, cerca de 94,6%, foram soltas em fazendas cadastradas. Os espécimes que estavam
muito debilitados ou que precisavam de cuidados eram encaminhados para o CETAS de
Teresina, em especial os da família Psittacidae porque eles eram os principais alvos dos maus
tratos do tráfico. Um espécime de Ramphastos toco da família Ramphastidae também foi
encaminhado ao CETAS por precisar de atendimentos médicos.
O método de soltura é o mais utilizado para destinação das aves que foram apreendidas.
A predominância da soltura também foi observada no trabalho de Destro et al., (2012) e Ferreira
e Glock (2004). Embora a soltura seja a destinação mais simples e bem vista, em alguns casos,
ela pode não ser a decisão mais responsável e correta a ser tomada (SILVEIRA, 2016). Na
maioria das vezes, as solturas ocorrem sem seguir um critério científico, apenas liberando no
mesmo local da apreensão. As solturas realizadas de forma irregular podem trazer grandes
riscos ecológicos (RENCTAS, 2001). Faz-se necessário a ampliação de pesquisas nesse tema,
pois são pouquíssimos os protocolos de reintrodução na natureza disponível para aves
105
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

brasileiras (SILVEIRA, 2016).


A reintrodução de espécimes na natureza é um método complexo, que exige muito
profissionalismo na execução, pois pode trazer riscos genéticos, sanitários e demográficos às
populações já existentes nos locais de soltura, além de haver riscos de mortalidades dos animais
reintroduzidos, quando os procedimentos pré e pós-soltura não são realizados com extremo
rigor científico (SILVEIRA, 2016).
De Melo (2013a) realizou monitoramento de um grupo de periquitão-maracanã,
Aratinga leucophthalma, proveniente de apreensão na represa do Jaguaribe, Jacareí- SP. No
trabalho é ressaltado o sucesso da reintrodução dos 26 espécimes soltos. Apenas um exemplar
veio a óbito e um apresentou comportamento manso, sendo devolvido para o CETAS. A soltura
e monitoramento de animais na natureza favorece a conservação da espécie, sendo assim, uma
das melhores alternativas de destinação das aves apreendidas por órgãos fiscalizadores (DE
MELO, 2013b).
Outra solução para evitar o problema de destinação dos animais apreendidos pelos
órgãos defensores é a amplilação e criação de novos CETAS para amenizar o envio imediato
de espécimes para zoológicos e criadores, devido à falta de espaço para abrigar as aves nos
CETAS já existentes. Cadastrar mais fazendas para acolher os espécimes com mais segurança
e na sua distribuição geográfica, evitando assim que os moradores da redondeza trafiquem esses
animais (NUNES; BARRETO; FRANCO, 2012).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As aves mais traficadas em Parnaíba/PI pertencem às ordens Passeriformes e


Psittaciformes. Foi constatado que as espécies listadas no estudo não são categorizadas como
ameaçadas segundo as listas vermelhas, sendo considerada pouco preocupante em relação ao
estado de conservação.
As aves de maior interesse econômico para a região de estudo, foram Dendrocygna
viduata, Cacicus cela e Sporophila lineola, a primeira como fonte alimentar e as outras duas
pela beleza e harmonia de seus cantos.
As ocorrências registradas neste trabalho permitem identificar as espécies de maior
interesse econômico e trófico. No entanto, seria importante para futuros mapeamentos registrar
a cidade de origem das aves, pois assim seria possível traçar a rota do tráfico em toda as áreas
de abrangência do IBAMA em Parnaíba/PI. Além disso, trabalhar a educação ambiental nas

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escolas em busca de minimizar os impactos da comercialização de animais silvestres, visto que


os males do tráfico ainda são pouco conhecidos pela população.

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

CARACTERIZAÇÃO DAS ÁREAS NATURAIS PROTEGIDAS PARA ATIVIDADES


DE CIÊNCIAS: EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA CONSERVAÇÃO DA
BIODIVERSIDADE
Leonardo de Barros Santos
Rodrigo Nunes Galvão
Patrícia Maria Martins Nápolis
RESUMO
As áreas naturais protegidas são de extrema importância para a manutenção da diversidade
biológica, além de serem ambientes riquíssimos em vida possibilitando ao professor atrelar seus
conteúdos através de vivências educativas no campo, propiciando o encorajamento, raciocínio
lógico, curiosidade e interação com seus alunos, favorecendo uma aprendizagem mais
significativa. O objetivo deste trabalho foi caracterizar áreas naturais protegidas para atividades
no ensino de ciências como aulas práticas de campo em uma perspectiva interdisciplinar. Foi
desenvolvido nas Unidades de Conservação: Floresta Nacional (Flona) de Palmares; Área de
Proteção Integral (APA), Delta do Parnaíba e Parque Nacional (PARNA) Serra da Capivara
entre os meses de março a maio de 2019, por meio de registros fotográficos, cadernos e fichas
de campo afim de identificar os locais visitados e percepções dos envolvidos, diante de uma
abordagem qualitativa. Todos os locais visitados foram selecionados em relevância, a sua
importância histórica, culturais e ambientais na qual possibilita melhorar a qualidade na
aprendizagem dentro do ensino de ciências em ambientes não formais. Diante das análises dos
dados coletados no decorrer das aulas práticas de campo, pode-se fazer uma descrição e
caracterização mais ampla sobre a importância das áreas protegidas para o desenvolvimento de
atividades educativas. Este trabalho fornece subsídio técnico-científicos para os professores, já
que o mesmo, dispõe de todo processo metodológico em relação a planejamento de atividades
de campo em ambientes naturais protegidos, desde escolha de conteúdos, local e roteiros.

Palavras-chave: Ensino de ciências; Aulas de Campo; Áreas Naturais Protegidas.

ABSTRACT
Protected natural areas are extremely important for the maintenance of biological diversity,
besides being very rich environments in life enabling the teacher to tie its contents through
educational experiences in the field, providing encouragement, logical reasoning, curiosity and
interaction with its students, favoring a more meaningful learning. The objective of this work
was to characterize protected natural areas for activities in science teaching as practical field
classes in an interdisciplinary perspective. It was developed in the Conservation Units: National
Forest (Flona) of Palmares; Integral Protection Area (APA), Parnaíba Delta and National Park
(PARNA) Serra da Capivara between March and May 2019, through photographic records,
notebooks and field records in order to identify the places visited and perceptions of those
involved, in view of a qualitative approach. All the places visited were selected in relevance,
their historical, cultural and environmental importance in which it allows to improve the quality
of learning within the teaching of sciences in non-formal environments. In view of the analysis
of the data collected during the practical field classes, a broader description and characterization
can be made about the importance of protected areas for the development of educational
activities. This work provides technical-scientific support for teachers, since it has the entire

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

methodological process in relation to the planning of field activities in protected natural


environments, from the choice of contents, location and scripts.

Keywords: Science teaching; Field Classes; Protected Natural Areas

INTRODUÇÃO

As áreas naturais protegidas são de extrema importância para a manutenção da


biodiversidade remanescente. São espaços territorialmente demarcados cuja principal função é
a conservação e/ou a preservação de recursos, naturais e/ou culturais, a elas associados
(MEDEIROS, 2003). Sua criação possui uma importância estratégica muito significativa, pois
é uma maneira de controle do território já que se estabelecem limites e dinâmicas de uso
específico. De acordo a União Mundial para a Conservação da Natureza (UICN), elas podem
ser estabelecidas como “uma área terrestre ou marinha especialmente destinada para proteção
e manutenção da diversidade e dos recursos naturais e culturais associados, movidos através de
instrumentos legais” (UICN, 1994), com características naturais relevantes, legalmente
instituídos pelo Poder Público, com objetivos de conservação e de limites definidos, sob-regime
especial de administração, às quais se aplicam garantias adequadas de proteção Lei 9.985/2000
(MMA, 2007).
Tendo como base a ideia anterior, temos total conhecimento que o Brasil passa por uma
forte “crise ambiental’’ acarretando uma perda significativa da biodiversidade. Espera-se que
essa situação mude, pois o país possuir uma legislação ambiental que defende a conservação
das nossas florestas e do meio ambiente, o mesmo tem firmado acordos internacionais nesse
sentido buscando a não degradação das suas florestas. Com isso o país criou o termo chamado
de unidade de conservação que é uma ferramenta indispensável para cumprir os compromissos
internos e internacionais além é claro de valorização dos bens naturais, minimizando os
problemas referentes à crise ambiental do qual o país está passando (JUNIOR, 2016).
Além de assumir sua importância ambiental, estética, histórica ou cultural, as UCs além
de serem importantes na manutenção dos ciclos ecológicos, e demandam regimes especiais de
preservação e ou exploração (COZZOLINO, 2004). Como mencionado, as mesmas, servem
para proteger a diversidade biológica e os recursos associados a ela, que são indispensáveis para
humanidade, já que essas áreas servem para manutenção do equilibro climático, manutenção
do ar, preservação e conservação da fauna e flora, contribuindo para a perpetuação da vida dos
seres vivos.

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Ao passar dos tempos educadores perceberam que esses espaços são grande atrativo
natural que poderiam ser grandes escolas ao céu aberto, principalmente envolvendo a área de
ciências, justamente por reunir em um único espaço toda diversidade ecológica. Mas como
atrelar ao ensino de ciências dentro dessas áreas protegidas? Possuímos a necessidade
imprescindível de melhorar o ensino básico no Brasil, em particular, o ensino de ciências. O
ensino correto de ciências encoraja o raciocínio lógico e a curiosidade, ajuda a formar cidadãos
mais aptos a enfrentar os desafios da sociedade e fortalece a democracia, dando à população
em geral melhores condições para participar dos debates cada vez mais sobre temas que afetam
nosso cotidiano (ABC, 2008).
Infelizmente o que tem ocorrido nas escolas é só mera transmissão de conhecimento,
fazendo com que o ensino se torne cada vez mais tradicional, ocasionando insatisfação por parte
dos alunos. Segundo Freire (2005), a educação deveria ir muito além da repetição, constituindo-
se em um instrumento de libertação, de superação das condições sociais vigentes. Isto quer
dizer que a educação precisa ser problematizadora e reflexiva fazendo com que o aluno busque
soluções para os problemas cotidianos. Por isso a importância de se trabalhar os conceitos
ambientais em sala de aula, para que os alunos solucionem problemas do dia-a-dia se
sensibilizem em relação às questões ambientais. Uma maneira de se conseguir desenvolver está
capacidade no aluno é trabalhando a Educação Ambiental nas escolas.
De acordo com a lei 9.975/99, educação ambiental consiste em processos por meio do
qual o individuo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades
atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, essencial á sadia
qualidade de vida e sua sustentabilidade. Além disso, é um componente essencial e permanente
da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e
modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-formal. (BRASIL, 1999).
O professor poderá atrelar o conceito de Educação ambiental (teoria) com a prática,
propondo aulas práticas de campo em áreas protegidas para os alunos, criando roteiros com o
intuito de que os alunos se tornem pessoas capazes de refletir, questionar e propor soluções
eficazes.
A Aula de Campo é uma ferramenta didática que auxilia na superação de vários desafios
e atua como sendo uma facilitador da aprendizagem, De acordo com Lima e Assis (2005, p.
112), “o trabalho de campo se configura como um recurso para o aluno compreender o lugar e
o mundo, articulando a teoria à prática, através da observação e da análise do espaço vivido e

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

concebido”. Ou seja, o trabalho fora da sala de aula tende a auxiliar a construção do


conhecimento.
O objetivo deste artigo é caracterizar áreas naturais protegidas para atividades de
ciências enfocando biodiversidade através de aulas práticas de educação ambiental sob
perspectiva interdisciplinar.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Caracterização da Área
Os locais onde o trabalho foi desenvolvido foram os seguintes municípios: Altos,
Parnaíba e Coronel José Dias, todos pertencentes ao estado do Piauí. A escolha ocorreu devido
aos três municípios citados, fornecerem subsídios suficientes e diversificados como dados para
a produção do trabalho, além de serem locais bem acessíveis e que se conciliam ao tema
trabalhado.
Área de Trabalho.
O trabalho foi desenvolvido nas seguintes Unidades de Conservação: Floresta Nacional
(Flona) Palmares, Área de Proteção Integral (APA) Delta do Parnaíba e Parque Nacional
(PARNA) Serra da Capivara (Figura 01).
A Floresta (FLONA) de Palmares está localizada no município de Altos-PI. Trata-se de
uma unidade de conservação (UC) federal de uso sustentável criada em fevereiro de 2005, com
extensão de 170 hectares. É uma área de transição entre os biomas da Caatinga e Cerrado, e ou
Caatinga e Matas dos Cocais, sendo caracterizada como área de tensão ecológica sobforma de
enclave ecótono (Território ou trato de terra de um país, encerrado no território de outro
contendo mistura florística entre outros tipos de vegetação (ICMBIO, 2008).
A segunda, Área de Proteção Ambiental (APA) Delta do Parnaíba foi criada em agosto
de 1996, possuindo uma área de 307.590,51 hectares e abrange três estados do Nordeste, Piauí,
Maranhão e Ceará, percorrendo todo litoral Piauiense.
O Parque Nacional (PARNA) da Serra da Capivara foi criado através do Decreto de nº
83.548 de 5 de junho de 1979, com área de 100.000 hectares. A proteção ao Parque foi ampliada
pelo Decreto de nº 99.143 de 12 de março de 1990 com a criação de Áreas de Preservação
Permanentes adjacentes com total de 35.000 hectares. (ICMBIO, 2018).

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Figura 01 – Mapa de Localização das Unidades de Conservação Pesquisadas


Tipos de Pesquisa
O trabalho caracteriza-se como pesquisa de campo e pesquisa observação, diante de uma
abordagem qualitativa.
Segundo Gil (2002) uma pesquisa de campo caracteriza:
Tipicamente, o estudo de campo focaliza uma comunidade, que não é
necessariamente geográfica, já que pode ser uma comunidade de trabalho, de
estudo, de lazer ou voltada para qualquer outra atividade humana.
Basicamente, a pesquisa é desenvolvida por meio da observação direta das
atividades do grupo estudado e de entrevistas com informantes para captar
suas explicações e interpretações do que ocorre no grupo. Esses
procedimentos são geralmente conjugados com muitos outros, tais como a
análise de documentos, filmagem e fotografias. (GIL, 2002. p 53).
A observação como ferramenta de obtenção de dados usado na presente pesquisa foi
feita durante o decorrer de três aulas de campo. Em fichas e caderno de campo foram anotadas
descrições dos locais visitados, falas de alunos, de guias, e das percepções presentes no decorrer
das visitas, assim servindo como material de análise para a caracterização das áreas protegidas
visitadas.
Para LAKATOS (2003)
A observação ajuda o pesquisador a identificar e a obter provas a respeito
de objetivos sobre os quais os indivíduos não têm consciência, mas que
orientam seu comportamento. Desempenha papel importante nos processos
observacionais, no contexto da descoberta, e obriga o investigador a um
contato mais direto com a realidade. É o ponto de partida da investigação
social. (LAKATOS, 2003.p.190).

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Diante das análises dos dados coletados durante as visitas em campo, pode-se fazer uma
descrição e caracterização mais ampla sobre a importância das áreas protegidas para o
desenvolvimento de atividades educativas de forma interdisciplinar, além de possibilitar a
preservação e conservação da biodiversidade local, propiciando o contato direito dos alunos
com todo contexto social, cultural, histórico e ambiental do ambiente visitado. Nesse contexto,
segundo VALENTI; OLIVEIRA; DODONOV E SILVA (2012. p.268) afirmam que a
conservação da biodiversidade é um dos importantíssimos componentes para a sustentabilidade
dentro das suas dimensões ecológicas, econômicas e sociocultural, na qual as áreas protegidas,
ou unidades de conservação assumem o principal papel de conservação biológica junto à
diversidade cultural associada a ela.
Dentre os diferentes ambientes o educador pode abordar diversas temáticas dentro do
ensino de ciências. Na figura 2, apresentamos os assuntos possíveis a serem trabalhados na
Flona Palmares:

Figura 02: Temas que podem ser trabalhados no Flona Palmares


Local Temas Abordagens

• O que é biodiversidade, definição e exemplos do


que é biodiversidade;
• Importância da biodiversidade para o meio
ambiente;
Biodiversidade • Compreender a relação entre os diferentes seres
vivos;
• Identificar atitudes que prezem pela conservação
e preservação da biodiversidade.
• Definir ecologia;
Ecologia • Reconhecer a importância da ecologia;
• Conceituar biosfera, populações, comunidades,
bióticos e ecossistemas;

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Floresta Nacional • Compreender o conceito de interação ecológica;


Flona de Palmares • Identificar as interações ecológicas
exemplificadas em imagens;
(Altos – PI) Interações ecológicas • Desenvolver a capacidade de diferenciar e
caracterizar as interações ecológicas;
• Perceber a importância das interações
ecológicas, para o desenvolvimento dos
ecossistemas.
• Conceituar e aprimorar as reflexões acerca da
problemática dos recursos naturais e do meio
ambiente;
• Construir conhecimentos sobre os recursos
Recursos Naturais naturais em escala planetária e sobre sua
conservação;
• Relacionar as necessidades humanas com relação
de uso dos recursos naturais frente à perda da
biodiversidade.
• Preservar o meio ambiente.
• Entender o que é meio ambiente.
Meio Ambiente • Reconhecer atitudes adequadas e inadequadas
para o meio ambiente.

Fonte: própria

Nesta área percebe-se uma grande variedade de flora e fauna, podendo ser enfatizados temas
da biodiversidade e sua importância para o meio ambiente (Figura 03).

Figura 03: Aula de campo realizada no Flona Palmares.

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Na figura 4, destacamos os conteúdos que podem ser trabalhados no Delta do Parnaíba,


entre eles:
Figura 04: Temas que podem ser trabalhados no Delta do Parnaíba
Local Temas Abordagem

• Relembrar a definição de ecossistema para,


então, compreender o conceito de bioma;
• Identificar e caracterizar os principais biomas
Biomas brasileiros;
• Compreender, de modo geral, as relações
existentes entre a flora e fauna dos biomas;
• Avaliar os riscos e ameaças que os biomas
brasileiros enfrentam atualmente.
• Incorporar o respeito e o cuidado para com o
O ambiente e seus meio ambiente.
aspectos físicos e • Compreender o que são fatores abióticos.
químicos • Conhecer a importância dos fatores abióticos
para o nosso meio.
Delta do Parnaíba • Entender que os seres vivos do mangue têm
(Parnaíba – PI) necessidades semelhantes, como: alimentação,
respiração e reprodução;
Mangue • Deduzir quais as relações estabelecidas por um
conjunto de seres vivos entre si em um
manguezal e sua interação com esse ambiente
físico;
• Interpretar o funcionamento de um manguezal,
para compreender que os seres vivos e o
ambiente sofrem mudanças ao longo do tempo.

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

• Sensibilizar sobre a responsabilidade individual


em termos de valores éticos, atitudes e
comportamento ecologicamente correto, nos
tornando multiplicadores de valores e virtudes;
Educação ambiental • Provocar no educando a percepção de que a
questão ambiental é o resultado da forma de
como a sociedade interage com o meio
ambiente, ou seja, do processo de
transformação da natureza, feito pelos
indivíduos em níveis locais, individuais,
coletivos e globais.
• Compreender a influência do homem no meio
em que vive;
Impactos ambientais • Delinear as relações entre o padrão de consumo
e o crescimento urbano na atualidade com a
degradação ambiental;

Fonte: própria
Devido a sua relevância e suas características naturais, o Delta do Parnaíba, possui uma
variedade de espécies tanto de flora e fauna. O local é um bioma onde se encontram os mangues
e são de suma importância preservá-lo e conservá-lo para as gerações futuras. O educador
poderá abordar questões socioambientais (Figura 05) aliadas à práticas de educação ambiental.

Figura 05: Coletas de lixo no Delta do Parnaíba

Na figura 6, apresentamos os temas a serem abordados por educadores no Parque


nacional Serra Da Capivara:

Figura 06: conteúdos que podem ser trabalhados na Serra da capivara


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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Local Conteúdo(s) Como pode ser trabalhado

• Identificar os elementos que caracterizam o


cerrado;
Cerrado • Reconhecer a importância do cerrado como um
bioma que abriga um terço das espécies
vegetais e animais;
• Problemas ambientes referentes a este bioma.
• Reconhecer a importância do solo para os seres
vivos;
• Considerar o solo como um recurso natural
Solos necessário aos seres vivos;
Parque nacional • Reconhecer a necessidade de conservar o solo;
Serra Da Capivara • Compreender como as queimadas, o
desmatamento e o lixo podem prejudicar o
(Coronel José Dias
solo.
– PI)
• Identificar por que as chuvas são raras,
irregulares e as temperaturas altas. Não há rios
perenes no Parque e existem longos períodos
Clima de estiagem.
• Discutir fatores ou elementos climáticos que
regulam o clima local;
• Estabelecer uma relação entre o clima e a
vegetação
• Compreender o conceito de fauna e flora;
• Identificar a biodiversidade, fauna e flora,
Fauna e Flora presentes no cerrado;
• Relacionar fatores que favorecem a
preservação e conversação da flora e fauna
locais.
• Caracterizar o relevo que é formado por
chapada – planície e baixões (declives) – com
paredões das serras de até 200 metros;
• Definição de: montanha, planalto, planície e
Relevo depressão;
• Compreender a dinâmica de formação das
principais formas de relevo da superfície
terrestre.
• Identificar os movimentos realizados pelas
placas tectônicas na superfície terrestre

Fonte: própria
Diante das observações e anotações a Serra da Capivara possui um grande acervo a céu
aberto com grande relevância para humanidade. Nesse quadro há diversos assuntos que o

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

podem ser abordados em aulas práticas de campo, dos quais destacamos: variedade do solo,
clima, relevo, fauna e flora, além dos aspectos históricos e antropológicos do lugar, com
exuberante beleza cênica, de riquezas culturais e patrimoniais.

Figura 07: Educação Ambiental no Parque Serra da Capivara.


Dentro das observações e anotações feitas durante as coletas de dados nas atividades de
campo pode se perceber o envolvimento dos alunos com causas discutidas no desenvolvimento
das práticas, tais como preservação e conservação da natureza. Percebe-se que esses momentos
além de serem oportunos á aprendizagem eles possibilitam a sensibilização dos envolvidos,
pois estão ligados diretamente com as emoções e sensações dos mesmos. (ZEIDAN; KOVASKI
e OBORA, 2013. p.4).
Segundo SENICIATO e COVASSAN (2004. p.134) as aulas de campos também
possibilitam aos professores estímulos e consequentemente inovações no seu trabalho como
educador, e assim os mesmos se empenham mais nas orientações dos alunos, buscando
mecanismo de envolvimento e motivação dos discentes em atividades educativas
interdisciplinares, onde certas dificuldades obtidas em ambientes formais são fragmentadas
permitindo o conhecimento significativo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este artigo fornece subsídio técnico-científicos para educadores e ambientalistas, já


que o mesmo, dispõe de todo processo metodológico em relação ao planejamento de aula
prática de campo em ambientes naturais protegidos, desde a escolha de conteúdo, locais e
roteiros. Notou-se que as áreas naturais protegidas além de serem locais riquíssimos em
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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

biodiversidades são locais bem propícios à aprendizagem, já que possibilita o contato direto
entre os aprendizes e a natureza, estimulando-os a uma aprendizagem significativa através das
práticas educativas.
Este trabalho demonstra que as aulas de campo podem ser consideradas ferramentas
eficazes e efetivas, favorece aos educandos construção de atitudes e valores de conservação e
preservação da natureza, podendo destacar a formação de pessoas mais sensíveis e críticas
quanto aos cuidados com a mesma, além de ser momentos oportunos e privilegiados à
aprendizagem.
Por tanto, é de grande relevância colocar em uso todo conhecimento construído
durante esses momentos, e a busca de novas alternativas de envolvimento aos discentes com
aquilo que aprendam, que seja de estrema importância para nossa sobrevivência e bem estar do
planeta como o cuidado da biodiversidade, oferecendo oportunidade de interagir, criticar e
buscar soluções para os problemas enfrentados. Nesse sentido é que o mesmo possa fazer
grande diferença no âmbito do ensino de Ciências Naturais, na temática da Biodiversidade das
áreas protegidas.

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121
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

DIAGNÓSTICO AMBIENTAL PARA A IMPLEMENTAÇÃO DO ECOTURISMO NA


FLORESTA NACIONAL DE PALMARES
Iuri Araújo Barros
Laís Fernanda Ferreira Rodrigues;
Patrícia Maria Martins Nápolis
RESUMO
Tido como um dos segmentos do turismo, o ecoturismo alia os princípios da conservação
ambiental ao envolvimento de comunidades locais, sendo abraçado pelo conceito da
sustentabilidade e fazendo uso do patrimônio natural e cultural, aliando-os à promoção do bem-
estar das populações e adotando como intermédio o incentivo à preservação de ambientes
naturais. Atualmente, o ecoturismo encontra-se como um dos segmentos prioritários para o
desenvolvimento do turismo no Brasil. Nesse sentido, é importante que sejam realizados
estudos em Unidades de Conservação com o objetivo de levantar as potencialidades e
aperfeiçoar os pontos que necessitam de atenção para a devida implementação do ecoturismo
nessas áreas. Dentro desse ideário, o presente trabalho tem o objetivo de produzir um
diagnóstico ambiental estratégico para a Floresta Nacional de Palmares, em Altos – PI, partindo
do estudo de suas atuais dificuldades e potencialidades. Para a elaboração do estudo partimos
da revisão bibliográfica e observações diretas, in loco. Sob a ótica dos objetivos, esse trabalho
é tido como exploratório. Foram feitas pesquisas em periódicos, dissertações, livros e artigos
que abordassem temáticas relacionadas ao ecoturismo, à Floresta Nacional de Palmares e aos
problemas e soluções relacionadas às Unidades de Conservação. Para o levantamento e
avaliação das dificuldades e possibilidades para a implantação do ecoturismo na FLONA
Palmares utilizamos, por intermédio dos voluntários que atuam na UC, a Matriz SWOT que
apontou como potencialidades da FLONA sua rica fauna e flora, trilhas e abertura para
atividades de ensino e pesquisa. Em contrapartida, a matriz demonstrou que a Unidade carece
de uma melhor gestão e mais segurança. Com a análise da Matriz SWOT da Floresta Nacional
de Palmares, ficou perceptível que a Unidade tem potencial para o desenvolvimento de
Atividades relacionadas ao ecoturismo, todavia necessita que sejam estabelecidas soluções para
a resolução de suas atuais dificuldades.

Palavras-chave: Diagnóstico Ambiental; Matriz SWOT; Gestão.

ABSTRACT
Regarded as one of the segments of tourism, ecotourism combines the principles of
environmental conservation with the involvement of local communities, being embraced by the
concept of sustainability and making use of natural and cultural heritage, combining them with
the promotion of the well-being of populations and adopting as an intermediary the incentive
to preserve natural environments. Currently, ecotourism is one of the priority segments for the
development of tourism in Brazil. In this sense, it is important to have studies carried out in
Conservation Units with the objective of raising the potentialities and improving the points that
need attention for the proper implementation of ecotourism in these areas. Within this area, the
present work aims to produce a strategic environmental diagnosis for the Palmares National
Forest, in Altos - PI, starting from the study of its current difficulties and potentialities. For the
preparation of the study, we started from the literature review and direct observations, in loco.
From the perspective of objectives, this work is considered exploratory. Research was done in
journals, dissertations, books and articles that addressed topics related to ecotourism, the
Palmares National Forest and problems and solutions related to conservation units. For the
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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

survey and evaluation of the difficulties and possibilities for the implementation of ecotourism
at FLONA Palmares, we used, through the volunteers working at the UC, the SWOT Matrix,
which pointed out as potential of FLONA its rich fauna and flora, trails and openness to
teaching and research activities. On the other hand, the matrix demonstrated that the Unit lacks
better management and more security. With the analysis of the SWOT Matrix of the Palmares
National Forest, it was perceived that the Unit has potential for the development of Activities
related to ecotourism, but needs solutions to be established to solve its current difficulties.

Keywords: Environmental Diagnosis; SWOT Matrix; Management.

INTRODUÇÃO

Diversos são os teóricos que procuram fundamentar o conceito de turismo. Nesse


sentido, fica entendido que por mais diversificados que sejam, os conceitos para tal termo
encontram-se em um processo de formação dado o atual contexto dinâmico social. Beni (1998)
preceitua que as definições de turismo permeiam um teor econômico, técnico e holístico. Dentro
dessa linha de pensamento, destacamos a noção mais utilizada sendo esta a oferecida pela
Organização Mundial do Turismo (OMT), defendendo a atividade turística como sendo “o
movimento de pessoas a lugar diverso do qual habite por tempo inferior a 360 dias, desde que
esta não realize atividades econômicas” (OMT, 2001, p. 11).
O turismo pode ser avaliado como um fenômeno que possibilita a geração de empregos
(SANTOS; RIBEIRO; SILVEIRA, 2018), serve como fonte de renda para a localidade que é
inserida (MORAES; NOVO, 2014) além de servir como aporte para o desenvolvimento da
região onde é praticado (BARBOSA, 2004), sendo necessário que o mesmo atue de forma
planejada e organizada (BRASILEIRO; MEDINA; CORIOLANO, 2012). Ao mesmo tempo, é
imprescindível que se conjugue o desenvolvimento do local onde o turismo está localizado com
o bem-estar da comunidade destinatária, servindo como subsídios necessários para os turistas,
além de preservar o ambiental natural do local (FERREIRA; CARNEIRO, 2005).
Tido como segmento do turismo, o ecoturismo, por sua vez, parte dos princípios da
atuação turística, surgindo como reflexo dos movimentos ambientais e da emergência da
problemática advinda com o aquecimento global (GRIMM; ALCÂNTARA; SAMPAIO, 2018).
Nesse sentido, o ecoturismo é um segmento da atividade turística que utiliza, de forma
sustentável, ‘’o patrimônio natural e cultural, incentiva sua conservação e busca a formação de
uma consciência ambientalista através da interpretação do ambiente, promovendo o bem-estar
das populações” (BRASIL, 1994, p. 19).

123
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

O ECOTURISMO EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO


Adotando como princípios a conservação ambiental ligada ao envolvimento de
comunidades locais, sendo abraçado pelo conceito da sustentabilidade, o ecoturismo faz uso do
patrimônio natural e cultural, aliando-os à promoção do bem-estar das populações e adotando
como intermédio o incentivo à preservação de ambientes naturais. Dessarte, constitui-se como
uma forma de reintegração do ser humano ao meio ambiente, ofertado a aquele momentos de
reflexão perante este. Ribeiro (2013) defende que o ecoturismo, juntamente com o
reconhecimento de seu potencial de atrativos presentes nos patrimônios natural e cultural, atua
como um quadro favorável, pois identifica esses atrativos como espaços de grande relevância
para o turismo na região.
Para que uma atividade se classifique como sendo do segmento do ecoturismo, é
importante que ela adote quatro características básicas: “respeito às comunidades locais;
envolvimento econômico efetivo das comunidades locais; respeito às condições naturais e
conservação do meio ambiente e interação educacional’’ (BARROS, 2004, p. 153).
Atualmente, o ecoturismo encontra-se como um dos segmentos prioritários para o
desenvolvimento do turismo no Brasil (BRASIL, 2006). Ao mesmo tempo, presentemente ele
é visto como uma atividade pautada no lucro, desenvolvida de modo desalinhada dos princípios
e causas ambientais e pautada apenas nos princípios mercadológicos, deixando às margens os
ideários sustentáveis (WWF-BRASIL, 2001).
Dado o grande potencial que as Unidades de Conservação possuem para as práticas
relacionadas ao ecoturismo, é possível que ele atue nessas áreas protegidas de modo a contribuir
para a conservação desses ambientes ao mesmo tempo que sirva de respaldo nos processos de
sustentabilidade e Educação Ambiental. Todavia, é importante que essas práticas sejam
realizadas paralelamente à preservação do local (KLEIN et al., 2011).
No Brasil, as Unidades de Conservação são orientadas pela Lei Federal n.º 9.985/2000
que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC), ferramenta
que serve de alicerce para a criação, implantação e gestão das Unidades de Conservação no
país, sistema esse que fundamenta políticas ambientais relacionadas às áreas protegidas e
conceitua as Unidades de Conservação (UCs) Brasileiras como sendo um:
espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais,
com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder
Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime
especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção
(BRASIL, 2000).

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Contendo uma abundante biodiversidade, com riquezas em termos ambientais e


culturais, muitas Unidades de Conservação Brasileiras não vêm recebendo a devida atenção e
assim não cumprem com os objetivos para os quais foram criadas (SCHIAVETTI; MAGRO;
SANTOS, 2012), além de serem tidas como um patrimônio natural isolado da sociedade, não
sendo utilizadas de maneira adequada.
À visto disso, para que a utilização desse potencial seja efetivado nas atividades de
ecoturismo, é necessária a atuação de políticas públicas para que esses ambientes sejam
utilizadas como espaços para a difusão de atividades, ações e práticas voltadas para a
sensibilização de seus visitantes sobre a questão ambiental e sobre a importâncias das áreas
naturais protegidas (MATHEUS; RAIMUNDO, 2017), isso para a salvaguarda dos mais
diversos processos ecológicos, aliando as práticas às questões econômicas e socioambientais
preceituadas pelo ecoturismo (OLIVEIRA, 2007).
É valoroso exprimir que o desenvolvimento de atividades em conjunto com a natureza
deve abranger desde a fauna, a flora e as formações rochosas de um local, até suas paisagens e
espetáculos naturais mais extraordinários (BRASIL, 2010). Nesse sentido, é importante que
sejam realizados estudos nas mais diversas Unidades de Conservação com o objetivo de
levantar suas potencialidades e aperfeiçoar os pontos que necessitam de atenção para a devida
implementação do ecoturismo nessas áreas. Dentro desse ideário, o presente trabalho tem o
objetivo de produzir um diagnóstico ambiental estratégico para a Floresta Nacional de
Palmares, em Altos – PI, partindo do estudo de suas atuais dificuldades e potencialidades.

PROCEDIMENTOS METÓDOLOGICOS
A Floresta Nacional de Palmares é uma Unidade de Conservação Federal de Uso
Sustentável localizada no município de Altos, no Estado do Piauí. Legalmente instituída por
intermédio do Decreto Presidencial de 21 de fevereiro de 2005, a FLONA Palmares é
considerada a Primeira e única Floresta Nacional em território Piauiense. Possuindo uma área
aproximada de 170 hectares, ela é tida como um espaço que abriga uma rica e variada Flora e
Fauna, com exemplos de espécies botânicas da Caatinga, Mata Atlântica e Amazônia, além de
espécies de animais silvestres, entre mamíferos, répteis e aves. Por conta do desordenado
crescimento urbano, ações antrópicas e uma insuficiente gestão administrativa, a FLONA
Palmares encontra-se prejudicada e com um funcionamento chegando às raias do desfecho.

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Para a elaboração do presente estudo partimos dos pressupostos da revisão


bibliográfica (GIL, 1999) e observações diretas (in loco) com a identificação e análise local dos
problemas socioambientais da área de estudo (YIN, 2001). Sob a ótica dos objetivos,
classificamos esse trabalho como sendo exploratório (LAKATOS; MARCONI, 2000). Foram
feitas pesquisas em periódicos, dissertações, livros e artigos que abordassem temáticas
relacionadas ao ecoturismo, à Floresta Nacional de Palmares e aos problemas e soluções
relacionadas às Unidades de Conservação.
Para o levantamento e avaliação das dificuldades e possibilidades para a implantação
do ecoturismo na FLONA Palmares, utilizamos a Matriz SWOT (SANTOS et al., 2018), uma
ferramenta muito utilizada para a elaboração de um diagnóstico institucional/estratégico, tida
como um mecanismo propício para a elaboração de um mapa situacional, com base na
identificação das forças e fraquezas das organizações, e das oportunidades e ameaças existentes
no ambiente (CARRANZA, 2017). O termo SWOT é uma sigla proveniente do inglês dos
termos Strengths (pontos fortes), Weaknesses (pontos fracos), Opportunities (oportunidades)
e Threats (ameaças). Os pontos fortes e fracos, em geral, são internos, enquanto as
oportunidades e as ameaças, na maioria dos casos, têm origem externa (FERNANDES et al.,
2013).
No âmbito do presente trabalho, esse diagnóstico foi feito por intermédio dos
participantes do Projeto Sala verde da Universidade Federal do Piauí (UFPI) que atuam como
voluntários na Floresta Nacional de Palmares por meio do Projeto de voluntariado do Instituto
Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Para tanto, um questionário foi
repassado a eles, através de um link da ferramenta “Formulários Google’’ com o objetivo de
identificar os atuais pontos fortes e fracos, bem como as oportunidades e ameaças da UC. A
análise e sistematização das respostas ofertadas pelos voluntários foram feitas através dos
critérios propostos por Bardin (2010) para a Análise de Conteúdo. As respostas foram
sistematizadas por categorias e para a elaboração das porcentagens, consideramos não apenas
uma única palavra-chave para cada resposta, ou seja, as respostas foram agrupadas e analisadas
consoante com o número de vezes que cada fator foi comentado a cada pergunta.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Com base na literatura e nas respostas dadas pelos voluntários, propomos uma
sistematização dos atuais problemas que dificultam a implantação do ecoturismo na Floresta
Nacional de Palmares, além das possibilidades que a UC possui para realização desse segmento
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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

do turismo. O questionário em estudo foi distribuído a 12 participantes do projeto Sala Verde


da Universidade Federal do Piauí (UFPI) que atuam como voluntários na FLONA Palmares.
Como as respostas do formulário tinha um caráter subjetivo, cada participante da pesquisa
pontuou nas respostas um ou mais pontos dentro de cada pergunta. Assim, em determinadas
respostas tinham mais de uma categoria que foram consideradas na Análise.
A análise da matriz SWOT para constatar as alternativas e dificuldade para a
implementação do Ecoturismo na FLONA Palmares parte da necessidade de se realizar o
planejamento para ter entendimento das direções a serem perfilhadas partindo do cenário atual
já que o planejamento é visto como um “processo racional para a tomada de decisão, com vistas
a selecionar e executar um conjunto de ações necessárias e suficientes que possibilitarão partir
de uma situação atual existente e alcançar uma situação futura desejada” (PALUDO, 2009,
p.37).
Quando questionados sobre os pontos fortes que a FLONA Palmares possui, 66,6%
das respostas destacaram a rica Fauna e Flora que a UC abriga. Outros 41,6% das respostas
apontaram as trilhas como recursos e potencialidades internas à FLONA. 58,3% das respostas
indicaram a potencialidade do local para atividades relacionadas ao ensino, aula e pesquisas, e
outros 16,6% das respostas destacara a rica biodiversidade que o local possui.
De fato, a FLONA Palmares possui uma rica Fauna e Flora, o que pode ser adotado
como potencial interno que o local possui. Em relação à flora, a floresta encontra-se em uma
área de transição do Cerrado com a Caatinga, tendo como tipologia vegetal a floresta estacional
semidecidual, apresentando fauna com atuação desses dois biomas (MINEIRO, 2012), além de
apresentar espécies botânicas típicas da Amazônia.
Em relação às trilhas, estas são tidas como principal atrativo no âmbito da FLONA.
Segundo Feitosa et al. (2012), a Unidade possuía um total de 11 trilhas. No entanto, de acordo
com informações prestadas pela atual gestão administrativa da FLONA, a UC conta
presentemente com 10 trilhas ativas, isso devido a construções imobiliárias no seu entorno.
Dentro dessa quantidade, as trilhas são variadas em: extensão, sendo que algumas chegam a
1.673 metros, enquanto outras possuem apenas 575 metros; em grau de dificuldade já que
algumas para serem percorridas necessitam de cordas e demandam de esforço e aptidão física
dada a altitude do terreno, enquanto outras podem ser percorridas de bicicleta ou a pé, já que o
terreno é plano. Outra variante das trilhas da FLONA é a altitude, sendo que algumas delas
possuem pontos a mais de 200 metros acima do nível do mar (FEITOSA et al, 2012).

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

No contexto da FLONA, as trilhas podem ser utilizadas como via de condução para o
ambiente natural que a UC em questão possui, para contemplação da natureza, além da
possibilidade de serem praticados esportes radicais, a recreação e o ecoturismo (GUALTIERI-
PINTO et al., 2008). Decerto, as trilhas da FLONA têm um grande potencial pois são ricas em
pontos interpretativos e possuem uma estrutura física, biofísica, paisagística e ecológica
apropriada para a recepção de pessoas dos mais variados públicos (FEITOSA et al, 2013).
Outro grande potencial que a Unidade possui é a abertura para a realização de aulas e
atividades práticas de campo. Para Fernandes (2007), a aula de campo seria toda aquela que
contempla a locomoção e a mudança dos discentes para um ambiente dissemelhante aos espaços
de estudo contidos em ambientes formais de ensino. A FLONA Palmares, por ser uma Unidade
de Conservação de Uso sustentável, possibilita com certa flexibilidade a realização de
atividades práticas, já que elas apresentam menores restrições de uso pois seu objetivo básico é
justamente compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável de parcela de seus
recursos naturais (ARAÚJO, 2007).
Sobre os pontos fracos da FLONA, 66,6% das respostas foram atribuídas à falta de
sinalização e placas indicativas ao longo das trilhas. Já 58,3% das respostas relataram que a UC
conta com uma pequena quantidade de profissionais qualificados para trabalharem em uma
Unidade de Conservação, sendo destacada a falta de pessoal para a atuação como guias nas
trilhas. 41,6% das respostas destacaram a pouca divulgação e segurança que o local possui e
33,3% mencionaram a má gestão da parte administrativa como fator que inibe o desempenho
da FLONA. 25% das repostas descreveram a pouca quantidade de recursos que o local possui
e outros 16,6% das respostas destacaram a falta do pano de manejo.
Apesar de possuir um número expressivo e com uma boa estrutura biofísica e
paisagística, as trilhas da FLONA Palmares são limitadas no quesito sinalização. Ao longo delas
faltam placas contendo informes sobre distância a ser percorrida ao longo de cada trilha, o grau
de dificuldade que elas possuem, as indicações de direções para se chegar a locais específicos,
além dos animais e plantas que podem ser encontrados ao longo do caminho. As poucas placas
que a FLONA possui indicam apenas os nomes das trilhas e são encontradas no início de cada
uma, não trazendo mais informações. Para Ikemoto (2008), a presença das placas ao longo das
trilhas possibilita a visita autoguiada, agrega atratividade às trilhas, além de sinalizarem
informações importantes para o visitante sobre conteúdo ou orientação.
Outro ponto que requer atenção em relação às fraquezas da FLONA é a quantidade de
profissionais que fazem parte do atual quadro administrativo. Tal precariedade pode encontrar
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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

respaldo no fato de a UC não possuir um Plano de manejo (ROCHA et al, 2015), o que facilitaria
o manejo em si e a gestão adequada da Unidade. No mais, tal insuficiência administrativa é
central em relação a outros problemas encontrados na FLONA já que essa insuficiência
influencia na gestão de modo geral. Para se ter sucesso em relação às UCs, é preciso mais que
um rico patrimônio natural, é necessário que seja adotada uma gestão que busque articulações
com outras instituições e faça da UC um espaço para diálogo, aliando-se com a comunidade,
aproximando o conhecimento tradicional com o conhecimento científico, adotando, assim, uma
gestão integrada e participativa (BRASIL, 2018).
Em relação às oportunidades, 41,6% das respostas destacaram o ecoturismo e o
turismo como alternativas oportunas à FLONA Palmares. 25% das respostas descreveram a
necessidade de ser dar visibilidade à Unidade por meio de divulgação em mídias e outros 25%
relataram a necessidade de atrações e eventos envolvendo a UC. 16% das respostas afirmaram
que o local necessita de pesquisas por parte da comunidade acadêmica e outros 16%
descreveram a necessidade de articulações políticas ou com entidades que possam subsidiar
ações na FLONA.
O ecoturismo é tido atualmente como um dos segmentos do turismo que mais ganha
força, além de ser portador de um grande potencial por ser um instrumento com capacidade de
incrementar a renda das comunidades tradicionais no contexto das áreas naturais (PORTO;
CARDOSO; SILVA, 2014). Na conjuntura das Unidades de Conservação, é importante que se
perceba os valores ambientais e culturais que essas áreas possuem, valores que podem se
converter em atrativos de ecoturismo, integrando o circuito de turismo da região onde a UC se
encontra (BRASIL, 2018).
De acordo com Coelho (2006), o ecoturismo prima pelo baixo impacto causado na
natureza por conta da quantidade de pessoas que participam de suas atividades e pela proposta
de usufruir de forma sustentável o espaço turístico. Para tal é relevante que esse segmento seja
realizado de modo planejado e assim não acabe se tornando mais uma forma de apropriação do
espaço natural. No entanto, tal potencialidade não tem sido reconhecida na FLONA Palmares
devido à falta de recursos para nutrir atividades e serviços dirigidos a visitante e por ela possuir
um insuficiente número de pessoas atuando no local, o que dificulta a realização de atividades
relacionadas ao segmento ecoturismo.
No quesito visibilidade à UC, é percebível a falta de divulgação nos mais diversos
meios de comunicação sobre as atividades e atrativos que a FLONA Palmares possui. Sendo
assim, a parcela de público que realiza visitas à FLONA é circunscrita a estudantes e
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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

pesquisadores que vão ao local para estudos e afins. Dentro desse contexto, a Educomunicação,
segundo Menezes (2015), seria uma alternativa de associar a Comunicação com a Educação
Ambiental no intuito de contribuir com os objetivos da comunicação. Na FLONA Palmares,
essa associação mobilizaria uma gestão participativa da UC, trazendo atores sociais que podem
compartilhar informações da Unidade. Assim, a população de modo geral teria a oportunidade
de reconhecer a área, o papel desse local e sua importância.
Outro ponto que merece destaque é a necessidade de pesquisas no meio acadêmico, o
que viria a contribuir com a própria divulgação de informações para a comunidade científica a
respeito da FLONA Palmares. A WWF-Brasil (2008) preceitua que a pesquisa científica
relacionada tanto à biodiversidade da UC quanto a gestão, serve de subsídio na formulação de
políticas públicas para a Unidade, além de ser aporte para o manejo adequado da área natural.
No tocante às ameaças, 50% das respostas relataram o fator segurança como sendo
motivo que prejudica a execução dos objetivos da FLONA. Outros 50% destacaram como
ameaças as ações antrópicas como elementos externos e inibidores que prejudicam a atuação
da UC. 33,3% das respostas descreveram a Construção civil e a urbanização como sendo motivo
que ameaçam a Unidade em questão. Já 16,6% das respostas destacaram a falta de verba e
recursos e outros 16,6% apontaram o próprio risco de fechamento.
Em verdade, a FLONA Palmares encontra-se situada ao lado da Colônia Agrícola
Penal Major César Oliveira, uma unidade penitenciária pertencente à Secretaria de Justiça do
Estado do Piauí. Tal fator acaba levando um status de insegurança para a UC já que a alguns
apenados da Penitenciária têm como rota de fuga as áreas no entorno da FLONA e, como dito
preteritamente, a FLONA conta com um número muito limitado de funcionários, dentre estes
os próprios seguranças do local. Tal limitação impede um monitoramento adequado da Floresta
e do seu entorno.
Quanto às ações antrópicas, muitas vezes as áreas protegidas são ilhas isoladas de
remanescentes naturais, imersas em uma matriz de paisagem antrópica (LIMA; DORNFELD,
2014). De acordo com informações prestadas pela Administração da FLONA, essas ações vêm
ocorrendo de modo mais pontual e em menor quantidade, isso por conta da sensibilização que
as comunidades no entorno têm sobre a Unidade. Para Feitosa et al. (2014), a presença da UC
proporcionou a essas comunidades uma mudança no comportamento já que antes as ações como
a caça e as queimadas eram mais constantes na região.
No quesito da construção civil e urbanização, a UC vem sofrendo perdas com o
desordenado crescimento urbano. Ao lado oeste da flona, como dito anteriormente, encontra-
130
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

se a penitenciária Major Cesar. A leste encontra-se em andamento a construção de um


condomínio particular, obra essa que já veio a prejudicar e pôr fim a uma das trilhas
pertencentes à FLONA. Para Neves et al. (2018), há um paradoxo entre crescimento econômico
e conservação dos recursos naturais no tocante às UCs, no qual o anseio pelo desenvolvimento
é tomado como justificativa para implementar obras prejudiciais ao meio ambiente, legalmente
protegidas.
Outra ameaça que coloca em risco a FLONA Palmares é a insuficiência de recursos
alocados para a UC. Para Maganhotto et al. (2014), as Unidades de Conservação apresentam
dificuldades relacionadas ao despreparo e rotatividade dos servidores, carência de recursos
financeiros, ocupações irregulares e desafetação de sua área. Schiavetti et al. (2012) defende
que para uma boa atuação, é de suma importância que a área da UC seja detentora de alguns
itens fundamentais, a exemplo dos recursos humanos e financeiros, além de uma boa
infraestrutura e um plano de manejo.
Dadas as respostas apresentadas e suas devidas análises foi elaborada uma Matriz
SWOT para a FLONA Palmares. Para a sua elaboração, as respostas foram agrupadas em
conformidade com o número de vezes que cada fator foi comentado em cada resposta. Tendo
isso em vista, foram apontados 22 pontos fortes e 29 pontos fracos para a UC, totalizando 51
fatores internos à FLONA, e foram elencadas 12 oportunidades e 20 ameaças, totalizando 32
fatores externos à UC. Cada fator apresentado é seguido pela quantidade de vezes que ele foi
citado nas respostas.

QUADRO 1: Matriz SWOT da Floresta Nacional de Palmares


Potencialidades Dificuldades
Pontos fortes Pontos fracos
(Strengths) (Weaknesses)
Fauna e flora: 8 Falta de sinalização/placas: 8
Aspectos internos

Atividades de ensino/aula/pesquisas: 7 Falta/quantidade de profissionais


(organização)

aptos a trabalharem em UC: 7


Trilha: 5 Pouca divulgação e Segurança: 5

Biodiversidade/diversidade: 2 Má gestão/parte administrativa: 4


Recursos: 3
Falta de plano de manejo: 2
Oportunidades Ameaças
(Opportunities) (Threats)

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Ecoturismo e turismo: 5 Insegurança, por ter ao lado uma


penitenciária: 6
Aspectos externos
(Ambiente) Visibilidade/divulgação em mídias: 3 Ações antrópicas/Caça/queimadas: 6
Atrações e partição em eventos: 3 Construção civil/ urbanização: 4
Pesquisas: 2 Falta de verba/recurso: 2
Articulações políticas ou com outras Risco de fechar: 2
entidades: 2

Fonte: Adaptado pelos autores a partir de Chiavenato e Sapiro (2003, p. 188)


Em relação à análise interna, podemos perceber que as potencialidades da FLONA
estão relacionadas à sua Fauna e Flora, à sua abertura para as atividades de ensino e pesquisa,
e suas trilhas. Em contrapartida, dentro das dificuldades, FLONA Palmares não possui uma boa
divulgação de sua diversidade biológica e ainda tem de lidar com uma má gestão administrativa
que conta com uma quantidade insuficiente de pessoal.
É considerável que os aspectos relacionados à parte administrativa são fatores que
implicam em um bom funcionamento para a UC. Desse modo, se a Unidade não conta com
uma boa gestão e se esta encontra-se com uma insuficiente quantidade de pessoas, fica evidente
que a UC beira o fim. No mais, e aqui cabe comento, a falta de um plano de manejo é fator
preocupante já que ele é um dos instrumentos mais importantes para o manejo da UC e o seu
zoneamento.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a análise da Matriz SWOT da Floresta Nacional de Palmares, ficou perceptível


que a UC tem potencial para o desenvolvimento de Atividades relacionadas ao ecoturismo, isso
por conta de sua biodiversidade, de ter rica uma fauna e flora, além de ser detentora de trilhas
com disponibilidade para todos os públicos. Todavia, para que esse segmento do turismo seja
executado na UC é imprescindível que o local adote medidas de segurança e supra suas
necessidades relacionadas à gestão administrativa e estrutura para atender seu público. Uma
proposta seriam as parcerias entre o Poder Público e a própria sociedade civil para uma fonte
indireta de recursos (GODOY; LEUZINGER, 2015).
É avaliável que a falta de um plano de manejo torna-se um dos fatores que mais pesam
em relação à manutenção da FLONA (apesar de este ter sido citado apenas 2 vezes), isso porque
o plano de manejo adota uma visão multidisciplinar em relação à UC, considerando as
particularidades e possibilidades para a Unidade, além de ponderar as diversas informações que

132
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

a rondam (a exemplo da biodiversidade do local), do contexto em que a UC está inserida e do


seu histórico.
É importante destacar que o presente trabalhou adotou o ponto de vista de uma parcela
razoável e pontual da sociedade que atua e é envolvida com a Floresta Nacional de Palmares.
Com isso, os dados aqui apresentados podem sofrer alterações se considerados outros públicos.
Outrossim, a escolha pelo público aqui entrevistado deu-se por conta do contato mais direto e
constante que este possui com a FLONA Palmares.

REFERÊNCIAS

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classe mundial. Belo Horizonte: SEGRAC, 2007.
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ÉTICA AMBIENTAL EM HANS JONAS: NECESSIDADE DO PRINCÍPIO


RESPONSABILIDADE PARA CIVILIZAÇÃO TECNOLÓGICA

Nara Patrícia Mendes da Silveira


Marcel Alcleante Alexandre de Sousa

RESUMO
O artigo discute o princípio responsabilidade de Hans Jonas e a educação ambiental a partir de
uma única perspectiva: a vida no planeta Terra. Em sua obra O princípio responsabilidade:
ensaio de uma ética para a civilização tecnológica (1979), o filósofo apresenta os fundamentos
éticos para o meio ambiente e critica a técnica moderna a qual é uma ameaça a biodiversidade.
Essa postura filosófica reflete um novo paradigma no campo da ética levando o homem a pensar
nos direitos de cada ser vivo. Assim, a discussão sobre o tema pretende defender a tese de que
a responsabilidade ambiental e essencial para a preservação dos seres vivos.

Palavras – chave: Filosofia. Ética. Hans Jonas.

ABSTRACT

The article discusses hans jonas' responsibility principle and environmental education from a
single perspective: life on planet Earth. In his work The principle of responsibility: essay of
an ethics for technological civilization (1979), the philosopher presents the ethical
foundations for the environment and criticizes the modern technique which is a threat to
biodiversity. This philosophical posture reflects a new paradigm in the field of ethics leading
man to think about the rights of each living being. Thus, the discussion on the subject intends
to defend the thesis that environmental responsibility is essential for the preservation of living
beings.

Keywords: Philosophy. Ethics. Hans Jonas

O texto tem como tema a ética ambiental e pretende questionar as posturas do homem
moderno em relação à natureza. É oriundo de pesquisas bibliográficas e está fundamentado na
filosofia de Hans Jonas.
Hans Jonas, filósofo alemão, publicou em 1979 a obra “O princípio responsabilidade:
ensaio de uma ética para a civilização tecnológica”i. Tratá-se de uma crítica a técnica moderna
e aos filósofos antropocêntricos. Nesta perspectiva, é possível investigar com o tratado os
fundamentos éticos que equivalem à preservação do meio ambiente. Pensa-se assim, porque
propõe o princípio responsabilidade um imperativo fundamental para a vida no planeta Terra.
Tratando-se de uma filosofia, pensou-se que a sua teoria pudesse contribuir para a tríplice
retomar\debater\aplicar com a possibilidade de uma responsabilidade segura para a existência
da vida no planeta.

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Desse modo, o tema da responsabilidade joniana e da educação ambiental se


apresentam como significativas na conscientização de um povo descentralizado de sua relação
com a natureza. É preciso retomar aos valores, aos direitos à vida, já que, diante da morte, teme
e nada causa medo ao homem.
Com a técnica moderna é possível perceber o quanto a retomada é urgente, pois a
técnica moderna está sendo produzida demasiadamente em longa escala. O aquecimento global
é um exemplo mais concreto dessa necessidade a qual as investigações desse trabalho, a partir
da filosofia de Hans Jonas, apresenta. Assim, em que instante o homem deve regredir, levando
em consideração que para o progresso é esperado alcançar os principais padrões que equivalem
para o desenvolvimento e, portanto, o bem estar momentâneo.
Diante do dióxido de carbono (CO2)ii, o Corofluorcarbono (CFC), o Metano (CH2), o
Ácido nítrico (HNO3) e o Ozono (O3)iii o ser vivo moderno tem uma relação permanente
chegando a ultrapassar uma pequena vivência com o natural. A técnica moderna apresenta-se
perigosa para o bem estar das futuras vidas por causa da produção desses perigosos gazes.
Diante disso, acredita-se que o princípio responsabilidade do filósofo Hans Jonas possa
apresentar à educação ambiental os fundamentos que correspondam às exigências do consumo
exagerado, passando, portanto, a colocar o ser humano ante a face da extinção da sua própria
raça e a de tantos outros seres vivos. Assim, procurar-se-á apresentar as primeiras concepções
do conceito de responsabilidade, para uma perspectiva ambiental e nelas o fundamento
filosófico necessário a existência dos seres vivos.
O tema do meio ambiente a partir de um olhar filosófico questiona o agir humano em
relação à biodiversidade. Diferente da preocupação tradicional, a ética de Hans Jonas apresenta
uma racionalidade pratica ora objetiva, ora subjetiva. Embora seja para a vida humana, a ética
ambiental contradiz a ética tradicional. A “ética é um conjunto de valores e princípios, de
inspiração e dedicações que valem para todos, pois estão ancorados na nossa própria
humanidade” (BOFF, 2003, p.11). A Ética Antropocêntrica se difere da Ética Ambiental. Esta
se refere ao agir para com o meio ambiente que não deixa de excluir o homem, enquanto aquela,
Hans Jonas diz que: “a significação ética dizia respeito ao relacionamento direto de homem
com homem, inclusive o de cada homem consigo mesmo; toda ética tradicional é
antropocêntrica” iv e leva em consideração apenas o homem.
Diante disso, um paradigma da filosofia prática é apresentado como uma evolução do
homo sapiens. Isso pode ser percebido ao levar em consideração a história do ser humano e de
seu pensamento. Ao sair da pré-história, no período paleolítico e neolítico, em pequena escala,
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consegue dar uma evolução aos instrumentos que eram usados para a produção de alimentos.
Nem a pedra lascada, nem a pedra polida podem ser consideradas um mal para os homens.
Lidavam com a techné de modo simples e em nenhum momento poderiam ser pensadas como
um problema para os seres vivos. No entanto, o perigo não estava nas engenharias das cavernas
e em sua evolução.
O povo grego, no período clássico, desenvolveu um sistema fechado de sociedade. É
possível encontrar nessa sociedade uma preocupação com a formação do cidadão grego. A pólis
para os gregos, neste espaço de tempo, era o centro em que os filósofos, Platão e Aristóteles,
especificamente, se preocupavam. Eles escreveram tratados referentes ao bem viver: Platão
escreveu n‘A República a cidade ideal e Aristóteles na Política sua concepção de estado.
Até aqui, foi preferido apresentar duas realidades que tem um significado para a
exposição da temática. Pode-se dizer que a evolução da técnica e o modo de pensar
antropocêntrico, em especial, dos gregos são conduzidos ao grande risco que, ante o momento
da evolução do saber científico, o homo sapiens vai aos poucos desenvolvendo. O problema da
técnica pode melhor ser entendida com o seguinte argumento:

o grande risco ‘que se encontra encerrado no sucesso extraordinário do poder


tecnológico é aquele que envolve a possibilidade de desfiguração da essência
ou natureza daquilo que tradicionalmente é pensado sob o conceito de ser
humano’. Além disso, a vida do planeta também pode entrar em jogo. Para
evitar tais riscos, é preciso ‘domesticar’ a técnica (GIACOIA apud ZIRBEL,
2005, p. 4).

Hans Jonas cita o coral da Antígona, de Sófocles (2006, p. 31) para melhor expressar a relação
desastrosa entre a antiga técnica e a moderna.
Na pólis a responsabilidade dizia respeito ao agir eticamente diante de outro ser
humano. Virtuoso é o nome dado por Aristóteles àqueles que se apresentassem medianos. Na
Ética a Nicômaco é possível perceber as características antropocêntricas que correspondem a
um bom cidadão.
Os antigos que desenvolveram uma técnica para melhor lidar com os desafios da
natureza e mais tarde em beneficio aos povos nômades não eram prejudiciais aos mesmos, pois
a terra tinha capacidade de se auto-renovar, o trabalho exercido sob o meio ambiente era
insuficiente para um desastre ecológico.

Numerosas são as maravilhas da natureza, mas de todas a maior é o homem!


Singrando os mares espumosos, impelido pelos ventos do sul, ele avança e
arrosta as vagas imensas que rugem ao redor! E Gea, a suprema divindade,
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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

que a todos mais supera, na sua eternidade, ele a corta com suas charruas,
que, de ano em ano, vão e vêm, fertilizando o solo, graças à força das
alimárias! Os bandos de pássaros ligeiros; as hordas de animais selvagens e
peixes que habitam as águas do mar, a todos eles o homem engenhoso captura
e prende nas malhas de suas redes. Com seu engenho ele amansa, igualmente,
o animal agreste que corre livre pelos montes, bem como o dócil cavalo, em
cuja nuca ele assentará o jugo, e o infatigável touro das montanhas. E a língua,
e o pensamento alado, e os sentimentos de onde emergem as cidades, tudo
isso ele ensinou a si mesmo! E também a abrigar-se das intempéries e dos
rigores da natureza! Fecundo em recursos, previne-se sempre contra os
imprevistos. Só contra a morte ele é impotente, embora já tenha sido capaz
de descobrir remédio para muitas doenças, contra as quais nada se podia fazer
outrora. Dotado de inteligência e de talentos extraordinários, ora caminha em
direção ao bem, ora ao mal... Quando honra as leis da terra e a justiça divina
ao qual jurou respeitar, ele pode alçar-se bem alto em sua cidade, mas
excluído de sua cidade será ele, caso se deixe desencaminhar pelo Mal.

No canto é possível notar que o homem lhe dá com a natureza, ainda, de forma
equilibrada, embora use de artimanha para se autobeneficiar. Mesmo assim, não se pode dizer
que este seria um problema para a humanidade, para a biodiversidade. Porém, notam-se as
possibilidades de avanços, especificamente, nos instrumentos confeccionados pela inteligência
humana. Ele evolui e desenvolve técnicas cada vez mais sofisticadas e que melhor corresponda
aos seus desejos.
Hans Jonas, com o texto citado, apresenta a ideia de que o homem pertence à natureza.
Por isso, deve ser compreendido como o mais habilidoso, porém não o mais importante. A
habilidade, característica do homem, é compreendida como a forma/modo de lhe dá com as
coisas que lhe rodeiam. Cabe a ele usar essa capacidade para perpetuar a vida no planeta. A
cidade do homem não é apenas um espaço geográfico, mas a Terra. Então, a sua racionalidade
deve contribuir para o bem de todos os seres vivos. Este equilíbrio contradiz a destruição, o pôr
em risco algo que não tem dono.
A notícia que chegou aos leitores do G1, a seguir, Centenas de animais marinhos surgem
mortos em praias de São Paulo, mostra o problema da evolução da técnica. Ei-la:

mais de 200 animais marinhos foram encontrados mortos nas areias das praias
da Baixada Santista e Litoral Sul de São Paulo entre sexta-feira (16) e sábado
(17). Só neste sábado foram encontrados mais de 120 pinguins, três tartarugas
e outras cinco aves marinhas em Peruíbe. Outros 22 animais foram achados
mortos em Praia Grande. Técnicos investigam a causa da mortandade, que
pode estar ligada à frente fria associadas a correntes marítimas. Um dia antes,
56 pinguins, três tartarugas e um golfinho foram recolhidos sem vida em Praia
Grande. Apenas uma tartaruga sobreviveu e foi encaminhada para o Aquário
de Santos. Em Iguape, no Litoral Sul, os que conseguem sobreviver recebem
o atendimento da Polícia Ambiental. Biólogos e técnicos fizeram o
reconhecimento das espécies. Os pesquisadores vão encaminhar alguns
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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

animais para a Universidade de São Paulo, onde serão feitos estudos para
identificar a causa do número elevado de mortesv.

Hans Jonas (2006, p. 32) diz que “a violação da natureza e a civilização do homem
caminham de mãos dadas” pode-se dizer que este caminho é o espaço entre a preocupação com
o seu desenvolvimento na pólis até os dias atuais. A natureza está perdendo para a
irracionalidade humana, o seu espaço. Ela está sendo menosprezada pela civilização
antropocêntrica. “Antes de nossos tempos as interferências do homem na natureza, tal como ele
próprio as via, eram essencialmente superficiais e impotentes para prejudicar um equilíbrio
firmemente assentado” (idem).
Contrário a isso, com o desenvolvimento das técnicas do homem, o perigoso problema
compromete a preservação do meio ambiente. Da técnica o homem passa ao homo faber e é a
esse que o Princípio Responsabilidade se apresenta com maior significado e é urgente. Por isso,
da ética do agora, Hans Jonas apresenta e propõe a ética do agora e do futuro. É preciso cuidar
responsavelmente dos bens que é de toda a humanidade e ela é responsável por cuidar e procurar
meios para que outros possam apreciar e ter os mesmos cuidados. É preciso, portanto, agir
responsavelmente para com o patrimônio da humanidade.
Desse modo, a Educação Ambiental e o Princípio Responsabilidade de Hans Jonas
andam juntos, sendo que, este procura dar fundamentos para uma educação consciente e
libertadora de campanhas de consumo levando às ações concretas.
Sobre a responsabilidade, Hans Jonas entende como algo que está inebriado às questões
valorativas. “[...] é o cuidado reconhecido como obrigação em relação a um outro ser, que se
torna ‘preocupação’ quando há uma ameaça à sua vulnerabilidade” (idem, p. 352). Não se trata
de algo que é um bem para o ego, mas um bem comum. No entanto, é preciso entender que:

nenhuma teoria voluntarista ou sensualista, que define o bem como aquilo que
desejamos, é capaz de dar conta desse fenômeno primordial da existência, pois
a responsabilidade de lidar com a reivindicação de um deve-se imperativo, o
fundamento psicológico da capacidade de influenciar a vontade, isso é o
fundamento racional do dever. A responsabilidade para Hans Jonas tem um
aspecto objetivo (o da razão) e um subjetivo (o da emoção). (idem, p. 157).

Com estas características conceituais da filosofia prática de Hans Jonas é possível


retomar a compreensão de valor numa dimensão ecológica. A razão humana dispõe de
capacidades cognitivas para escolher como agir ante o bem e o mal. Sabe-se que as suas obras
tomaram lugar e estão a ponto de substituir o natural pelo artificial. Desse modo, o natural está

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ameaçado e é a ele que a responsabilidade deve se voltar. Isso acontece quando existe a culpa,
o medo que possa corresponder aos crimes cometidos a um bem.

O poder causal é condição da responsabilidade. O agente deve responder por


seus atos: ele é responsável por suas conseqüências e responderá por elas, se
for o caso. Em primeira instância isso deve ser compreendido do ponto de
vista legal, não moral. Os danos causados devem ser reparados, ainda que a
causa não tenha sido um ato mau e suas consequências não tenham sido nem
previstas, nem desejadas (idem, p. 165).

Diante disso, Peter Singer (2002, p. 296) diz que: “nossa posição traça os limites das
considerações morais que dizem respeito a todas as criaturas sencientes, mas deixa os outros
seres fora desses limites”. É perguntado “tenho o direito?” Por isso, é necessário compreender
que a ameaça poderá privar as futuras gerações de conhecer e apreciar a diversidade natural que
está ao seu redor.
A posição de Hans Jonas é a conclusão pertinente a qual estas discussões se dirigem:
“um patrimônio degradado degradaria igualmente os seus herdeiros” (2006, p. 353). Logo, a
defesa de um Princípio Responsabilidade como fundamento para a Educação Ambiental torna
o direito à vida um patrimônio exclusivo de cada ser vivo. É preciso pensar nas situações
ecológicas de nossos tempos e também a posterior. Reciclar, cuidar, pensar, amar, desapego...
são algumas medidas que o homem moderno deveria realizar.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARISTÓTELES, Ética a Nicômaco. Tradução de Pietro Nassetti. São Paulo: Martin Claret,
2007. (Coleção a obra prima de cada autor).
BOFF, Leonardo. Ética e eco-espiritualidade. Campinas, SP: Versus, 2003.
JONAS, Hans. O princípio responsabilidade: ensaio de uma ética para a civilização
tecnológica. Tradução do original alemão Marine Lisboa, Luiz Barros Montez. Rio de Janeiro:
Contraponto PUC-RIO, 2006.
ZIRBEL, Ilze. Pensando uma ética aplicável ao campo da técnica: Hans Jonas e a Ética da
Responsabilidade. Socitec e-prints. Florianópolis. V. 1, n. 2, p. 3-11, jul-dez, 2005. Disponível
em: <http://www.socitec.pro.br/e-
prints_vol.1_n.2_pensando_uma_etica_aplicavel_ao_campo_da_tecnica.pdf>. Acesso em: 18
de abr. de 2011.
SINGER, Peter. O meio Ambiente. In: __. Ética Prática. Tradução de Jefferson Luiz
Camargo. 3º ed. São Paulo: Martins Fontes, p. 279-304, 2002.

<*>. Trabalho desenvolvido a partir do projeto de Extensão Fundamentos Éticos para o Meio
Ambiente cadastrado na PROEAC – UEPB.
142
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

i. Tradução do original alemão Marine Lisboa, Luiz Barros Montez. Rio de Janeiro: Contraponto PUC-
RIO, 2006.

ii.
As ações ilegais dos humanos contradizem essa luta. Foi apresentado no veiculo de comunicação
“Do globo natureza” que Garimpos ilegais podem aumentar desmatamento da Amazônia em MT.
Disponível em: http://g1.globo.com/natureza/noticia/2011/08/garimpos-ilegais-podem-aumentar-
desmatamento-da-amazonia-em-mt.html. Acesso em: 14 de agosto de 2011.

iii. São gases resultantes das atividades do ser humano. O CO2 é responsável por 64% do efeito
estufa. Seus responsáveis são: o petróleo, gás natural, carvão e a desflorestação. O CFC corresponde
a 10% no processo de efeito estufa. São usados em sprays, motores de avião, plásticos, e solventes
usados em indústria de eletrônica. O CH2 por 19%. É produzido por campos de arroz, por gado e pelas
lixeiras. O HNO3 por 6 % e surgem da combustão da madeira e de combustíveis fósseis, também, pela
decomposição de fertilizantes químicos e por micróbios. Esses dados podem ser conferidos no Manual
da CF de 2010. Edições CNBB, no capítulo VER: As atividades do ser humano que mudaram o planeta.

iv. Hans JONAS, Característica da ética até o momento presente, p 35.


vv.
Fonte: http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2010/07/centenas-de-animais-marinhos-surgem-
mortos-em-praias-de-sp.html. Acesso em 08 de agosto de 2010.

143
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

FIOS DE MÉMORIA: PATRIMÔNIO CULTURAL DO DELTA DO RIO


PARNAÍBA
Elizabeth Aragão Magalhães
Jessica Alves da Silva
Áurea da Paz Pinheiro
RESUMO
Este artigo surgiu através de uma pesquisa que teve como objeto de estudo as histórias e/ou
relatos orais da comunidade de Canárias, localizada na Ilha das Canárias, Delta do Rio
Parnaíba, Meio Norte do Brasil. Tendo como intuito identificar qual o significado de seus
objetos e conhecimentos para eles mesmos, e que a partir dessa perspectiva possa gerar uma
reflexão nos próprios habitantes sobre o passado, a memória social que ali paira, o
entendimento do presente e a reflexão de um futuro próximo, ou seja, refletir sobre um
desenvolvimento local sustentável formado por atores locais, membros da comunidade.
Utilizou-se para tal pesquisa a metodologia qualitativa a partir de bibliografias e métodos
etnográficos. Foi um trabalho acompanhado durante dois anos que pôde se perceber uma área
com significativo potencial turístico e de saberes ancestrais singulares, porém, estão se
perdendo rapidamente com a chegada da globalização, e que surge a partir desta problemática
a oportunidade do turismo intervir através de um planejamento interdisciplinar.
Palavras-chave: Turismo Cultural. Patrimônio. Memória. Delta do Rio Parnaíba. Ilha das
Canárias.

ABSTRACT

This article arose through a research that had as object of study the stories and /or oral reports
of the community of Canarias, located in the Canary Island, Delta of the Parnaíba River, Middle
North of Brazil. Aiming to identify the meaning of their objects and knowledge for themselves,
and that from this perspective can generate a reflection in the inhabitants themselves about the
past, the social memory that hangs there, the understanding of the present and the reflection of
the near future, that is, reflect on a sustainable local development formed by local actors,
members of the community. The qualitative methodology was used for this research based on
bibliographies and ethnographic methods. It was a work accompanied for two years that it was
possible to perceive an area with significant tourist potential and singular ancestral knowledge,
however, are rapidly lost with the arrival of globalization, and that arises from this problem the
opportunity of tourism to intervene through interdisciplinary planning.

Keywords: Cultural Tourism. Heritage. Memory. Parnaíba River Delta. Canary Island.

INTRODUÇÃO
O artigo aqui proposto foi parte do projeto “Paisagens da Ilha: patrimônio, museus e
sustentabilidade”v desenvolvido durante os anos de 2014-2016. O território eleito para a
pesquisa está situado no Delta do Parnaíba, Meio Norte do Brasil, especificamente a
comunidade de Canárias, uma das cinco comunidades da Ilha das Canáriasv5, parte da RESEX
(Reserva Extrativista Delta do Rio Parnaíba), sob a gestão do ICMBio (Instituto Chico
144
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Mendes de Biodiversidade). A criação da APA e RESEX justificam-se pela necessidade de


proteger os meios de vida e a cultura das comunidades ali estabelecidas, assegurando os
recursos naturais do território; a visita pública é permitida, desde que respeite os interesses
locais.
O Delta do Parnaíba é um importante território da Costa Nordeste do Brasil. O Rio
Parnaíba é uma estrada líquida, divisor natural entre os estados do Piauí e do Maranhão. As
ilhas do Delta se localizam em águas calmas, em uma região rica em biodiversidade, fauna e
flora, com destaque para os manguezais e encontro do rio com o mar (PINHEIRO, 2010). O
território é singular em lugares, celebrações, formas de expressões, saberes e fazeres
associados à pesca artesanal, fabricação e comercialização de artefatos de pesca elaborados
por pescadores e artesãos nativos ou fixados no local a partir da década de 1970.
De acordo com Pinheiro (2010), a região do Delta do Parnaíba foi ocupada
inicialmente por populações indígenas. Em meados do século XVIII, sua história esteve
associada ao ciclo da criação do gado, da manufatura ligada ao charque e ao agro-
extrativismo da carnaúba. A partir dos anos oitenta do século XX, intensificaram-se os
problemas sociais e ambientais na região, gerados pelo turismo não planejado e massificado,
especulação imobiliária e por formas de extrativismo não planejadas, ocasionando
desequilíbrios ambientais, sociais e culturais.
A pesquisa se justifica pela necessidade de reconhecer e tornar visível para os
moradores locais à importância do reconhecimento dos saberes ancestrais da comunidade
como patrimônio cultural tangível e/ou intangível, riqueza imensurável que na maioria das
comunidades tradicionais está se perdendo por conta das novas tecnologias e o turismo
massificado, não planejado, para que posteriormente se pudesse realizar uma atividade
planejada que usufruísse desse patrimônio através do turismo cultural.
Ao longo da pesquisa, no trabalho de investigação, se utilizou como base o Manual
de Aplicação do Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC), disponibilizado pelo
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan)v, já que trata-se de um
documento voltado para a pesquisa, coleta e organização de informações do patrimônio
cultural, com o intuito de buscar referências culturais, ou seja, os objetos, práticas e lugares
apropriados pela cultura na construção de sentidos de identidade; popularmente chamados de
raiz de uma cultura, essas referências culturais são constituídas por bens culturais nos quais
o grupo/comunidade se vêm e querem ser reconhecidos pelos outros, ou seja, os objetos, o
saber e as pessoas envolvidas. Foi proposta também a prática do inventário participativo
145
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

dentro desta pesquisa, que será discutido logo mais utilizando a base teórica de Hurgues de
Varine (2012).
Como já mensurado, voltando ao patrimônio cultural, este parte da vida das pessoas,
é um conjunto de bens culturais que se quer transmitir as próximas gerações,tem importância
não somente para um individuo, mas para um grupo/comunidade. O patrimônio cultural é um
objeto de ligação entre esses indivíduos e está presente na vida cotidiana de cada um.
Percebemos que com todos esses processos de “evolução” que o mundo vem passando,
algumas coisas vêm se perdendo com o passar do tempo, algumas muito importantes que
deveriam ser mantidas, como um dos bens mais preciosos que temos: a memória, na qual
temos guardadas lembranças, aprendizados, histórias, etc.; podendo ser consideradas como
referências patrimoniais.
Um monumento ou prédio dificilmente será de um ato de vandalismo, por exemplo,
por parte de alguém que conhece seu significado, que conhece o que ele representa para sua
própria história como cidadão, simplesmente porque se identificará com aquele monumento
ou prédio. (BARRETTO, 2000, p. 47). A partir dessa afirmativa de Barreto, se faz notar a
importância da valorização do patrimônio cultural dentro de uma comunidade como peça
fundamental para que haja a preservação de seus bens, sejam eles materiais ou imateriais.

DESENVOLVIMENTO

Patrimônio Cultural e desenvolvimento


O conceito de patrimônio veio se modificando nas últimas décadas, no inicio, em
1937 era tido como Patrimônio Histórico e Artístico no qual era constituído pelo conjunto de
bens móveis e imóveis existentes no país e cuja conservação fosse de interesse público. Após
51 anos, o país sofreu algumas mudanças, dentre elas a do conceito de patrimônio, onde este
se reconheceu, enfim, como Patrimônio Cultural. Segundo a Constituição de 1988,
patrimônio cultural se define como “[...] bens de natureza material e imaterial, tomados
individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória
dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira.” (BRASIL, 1988)v
Patrimônio cultural é um conjunto de bens culturais que estão presentes na vida
cotidiana, que ligam os indivíduos de um grupo/comunidade e que normalmente são
repassados para as próximas gerações, são eles: objetos, as celebrações, os saberes, etc. A
partir dessas informações sobre patrimônio cultural, onde se promove a valorização e
146
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

consagração daquilo que é comum para determinada comunidade, vale ressaltar as três
categorias citadas por Tomaz (2010):
[...] a primeira engloba os elementos pertencentes à natureza, ao meio
ambiente; a segunda refere-se ao conhecimento, às técnicas, ao saber e ao
saber-fazer; e a terceira trata mais objetivamente do patrimônio histórico,
que reúne em si toda a sorte de coisas, artefatos e construções resultantes
da relação entre o homem e o meio ambiente e do saber-fazer humano [...]
(TOMAZ, 2010, p. 03)8
Dentre essas três categorias trabalhou-se mais a fundo a segunda, pois se trata
especificamente do conhecimento, dos saberes, e é exatamente isto que se deseja nesta
pesquisa. Desta forma, pode-se afirmar que ao longo do tempo o patrimônio foi e ainda é um
instrumento para o desenvolvimento. Segundo Varine (2012), o desenvolvimento depende
dos habitantes locais:
O desenvolvimento local, mesmo considerado em sua dimensão
econômica, é antes de tudo um assunto de atores, e, sobretudo, de atores
locais: políticos e funcionários, trabalhadores, quadros e dirigentes de
empresas são membros de uma comunidade de vida e de cultura da qual
compartilham – mesmo quando chegamos há pouco ou quando são
„veranistas‟, ou residentes temporários – o patrimônio humano, cultural,
natural. (VARINE, 2012, p. 18).

A importância da participação da comunidade é nítida, segundo Varine (2012), os


verdadeiros atores são os criadores do patrimônio, antes de serem exploradores. Assim, o
patrimônio não tem sentido se não estiver em seu local de origem e permanência, como
também o desenvolvimento sustentável não se constrói fora da comunidade e
consequentemente sem a comunidade.
O desenvolvimento não se faz „fora do solo‟. Suas raízes devem se nutrir
dos numerosos materiais que, na maioria, estão presentes no patrimônio: o
solo e a paisagem, a memória e os modos de vida dos habitantes, as
construções, a produção de bens e de serviços adaptados às demandas e às
necessidades das pessoas, etc (VARINE, 2012, p.18).

A partir dessas informações podemos constatar que o patrimônio cultural utilizado


como recurso de desenvolvimento só poderá ser viável se ocorrer de baixo para cima, onde a
comunidade tem o conhecimento de que este patrimônio é um bem comum que lhes
proporciona a base e um terreno de futuro e que a responsabilidade pela sua conservação e
vida é de todos. Não esquecendo que o patrimônio é mutável, está ligado ao tempo, mas que
durante esse processo natural de mutação ele não deverá perder sua essência.
Utilizou-se como base para a pesquisa o Manual de Aplicação do Inventário
Nacional de Referências Culturais (INRC), disponibilizado pelo Instituto do Patrimônio
147
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Histórico e Artístico Nacional (Iphan), já que se trata de um documento voltado para a


pesquisa, coleta e organização de informações do patrimônio cultural, com o intuito de buscar
referências culturais, ou seja, os objetos, práticas e lugares apropriados pela cultura na
construção de sentidos de identidade, popularmente chamados de raiz cultural, essas
referências culturais são constituídas por bens culturais, nos quais a comunidade se vê e quer
ser reconhecida pelos outros.
O patrimônio cultural no qual esses indivíduos estão inseridos, é um conjunto de
bens culturais, são os bens que se quer transmitir às próximas gerações, no qual tem
importância não somente para um individuo, mas para a comunidade como um todo, o
patrimônio cultural é um objeto de ligação entre esses tais indivíduos e está presente na vida
cotidiana de cada um, ou seja, é a identidade de um povo.
O conceito identidade implica o sentimento de pertença a uma comunidade
imaginada, cujos membros não se conhecem, mas partilham importantes
referências comuns: uma mesma história, uma mesma tradição. [...] Além
da questão identitária, a recuperação da memória leva ao conhecimento do
patrimônio e este, à sua valorização por parte dos próprios habitantes locais.
(BARRETTO, 2000)v

A identidade de um povo é, em sua totalidade, a representatividade da vida cotidiana.


Não uma representação do agora, mas de todo o percurso que foi feito até se chegar ao hoje,
ou seja, identidade é trajetória. Trajetória de um povo que lutou, celebrou, construiu e
desconstruiu também. Porém, de acordo com Barretto (2000), “um monumento só
permanecerá intacto se grande parte da comunidade tiver o conhecimento do significado de
identidade que ele traz e o sentimento de pertencimento do mesmo.”.
Este pensamento se refere não somente a monumentos, mas também sobre a reflexão
e conhecimento de questões políticas, educacionais, econômicas, sociais, etc. Acredita-se que
o desenvolvimento de ações de pesquisa e registro são ao mesmo tempo educativas, pois
envolverá as pessoas do lugar, que terão outra visão em relação aos patrimônios culturais que
lá existem. A educação, a pesquisa, a sensibilização pelo conhecimento, pelos saberes e
modos de fazer ancestrais permitirão o desenvolvimento de habilidades e competências
físicas, intelectuais e morais, gerando assim outra perspectiva de vida, outras possibilidades
de geração de renda, na qual contribuirão para a sustentabilidade social, econômica e
ambiental da comunidade, possibilitando construir uma relação mais sólida no universo
social e cultural dessas pessoas.

Turismo cultural e inventário participativo. 148


VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Acredita-se que para a comunidade local um inventário não é necessário, pois esta
não reconhece as riquezas que têm por está tão imersa na rotina; não se apercebe do
patrimônio que vive e produz todos os dias, não nota, pois ainda é um patrimônio vivo. Mas
para nós, pesquisadores da área do turismo, o inventário é indispensável, mesmo sendo
exaustivo e renovável. De acordo com Varine (2012) existem alguns tipos de inventários, são
eles: “o inventário tecnocrático, é o mais frequente, faz uso de diagnósticos diretos e frios,
apenas como quantitativo; inventário científico, neste é feito levantamento de dados de
proprietários e coletividade local para coleta de informações, sem a participação da
população; inventário compartilhado, elaborado e aplicado por interesses municipais, com a
participação apenas de alguns grupos da comunidade; inventário participativo, que possui um
caráter mais difícil, é lento e requer um estudo mais aprofundado da comunidade/grupo em
questão e será neste tipo de inventário que irá se trabalhar, no qual temos a participação da
comunidade local na sua construção.”
[...] Se os elementos mais evidentes do patrimônio são recenseados sem
dificuldade, outras escolhas, menos „clássicas‟, revelam a importância que
a população dá aos lugares, objetos e documentos que balizam sua história
social e cultural, menos se não correspondem aos critérios tradicionais.
(VARINE, 2012, p. 54).

O inventário participativo também tem seus defeitos exatamente por trabalhar


diretamente com os indivíduos daquela comunidade e quando se trata de pessoas e história
oral existem as subjetividades dos habitantes e os fenômenos da moda e se têm também as
perspectivas que sobrepõem ao inventário, como se essa comunidade quisesse resguardar
esse patrimônio. Porém, tais indivíduos devem se sentir pertencentes e responsáveis por esse
patrimônio, para que se possa haver a conservação e assim a continuidade destes bens
culturais para outras gerações.
Tendo a educação patrimonial como um efeito do método, faz-se com que o
patrimônio se mantenha vivo na comunidade, gerando uma conscientização e mudança nas
atitudes desses indivíduos, atingidos por esse processo educacional e consequentemente
reflexivo à sua identidade. A conservação, que significa manter, guardar para que se
prolongue seu tempo de vida, faz com que os indivíduos se mantenham integrados no
dinamismo do processo cultural, o que permite evitar a deterioração deste patrimônio.
A questão não é manter o patrimônio para lucrar com ele, mas sim lucrar com ele para
poder mantê-lo. Daí então entra o Turismo (disciplina planejadora) inserindo o turismo
149
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

cultural (atividade planejada) a partir da motivação do turista por dado atrativo, ou seja, o
patrimônio cultural, mas poderá comportar aqui também, no caso da comunidade de
Canárias, outro atrativo, o patrimônio natural, já que se trata de uma Área de Proteção
Ambiental.
Analisando o turismo segundo o critério da motivação, aparece uma quase
infinita variedade de possibilidades, que podem ser agrupadas em duas
grandes divisões, o turismo motivado pela busca de atrativos naturais e o
turismo motivado pela busca de atrativos culturais. Assim entende-se por
„turismo cultural‟ todo turismo em que o principal atrativo não seja a
natureza, mas algum aspecto da cultura humana. Esse aspecto pode ser a
história, o cotidiano, o artesanato ou qualquer outro dos inúmeros aspectos
que o conceito de cultura abrange. (BARRETTO, 2000, p. 19)

A partir disto pode-se dá uma importância maior para os eventos, tradições e saberes
que ali acontecem, podendo assim mantê-los vivos e gerando um recurso rentável de uma
forma planejada e sustentável para a comunidade.
Pode-se criar um produto turístico cultural sem falsificações para agradar
os turistas. Basta pensar que o produto está dirigido não apenas a uma
plateia de curiosos forasteiros (estrangeiros ou não), mas também aos
primeiros cidadãos locais, que seu objetivo é mostrar às gerações jovens
qual foi o processo pelo qual sua sociedade passou para chegar ao ponto em
que se encontra. (BARRETTO, 2000, p.76- 77)

Assim, se terá a conscientização de que o patrimônio, seja ele cultural ou natural, não
pertence e não deve pertencer apenas a uma geração, ele deve ser repassado, visto,
contemplado e posto em prática por outras gerações, ele pertence ao futuro e por essa razão
tem por obrigação ser conservado pela própria comunidade detentora desse patrimônio e por
políticas públicas que o protejam.

História oral e sua importância como patrimônio.

No século XIX, a historiografia passou a ser apenas fonte subsidiária e de baixo valor
histórico, pois representaria um testemunho falível por ser influenciada por interesses
pessoais, além de apresentar mentiras e calúnias; se os documentos escritos estavam nessa
situação, quem diria os depoimentos orais, foram praticamente ignorados.
Porém, na década de 1960, em uma universidade da ilha britânica, buscava-se o
testemunho de pessoas comuns e de idosos, enquanto a história oral norte-americana estava
voltada para os homens socialmente reconhecidosv. Toma-se como referência esse tipo de
testemunho britânico, pois as histórias da comunidade, os processos pelos quais passaram
150 e
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

ainda passam os costumes, os fazeres, só podem ser relatados por pessoas que ali vivem
presentes no cotidiano, realmente com “a mão na massa”, pessoas que tenham várias histórias
pra contar, de suas vidas, da comunidade, de seus antepassados, de costumes, tradições,
lendas, brincadeiras, modos de fazer, etc.
História é sinônimo de memória, havendo uma relação de fusão. Elas não se
distinguem. A história se apodera da memória coletiva e a transcreve em palavras. É nesse
momento que a história dá voz ao “povo” pela primeira vez. (FREITAS, 2002, p.59)
No Brasil, a história oral ocorreu por uma das primeiras experiências, no Museu da
Imagem e do Som – MIS/SP (1971), que se dedica à memória cultural brasileira. Porém, a
experiência mais importante tem sido a do Centro de Pesquisa e Documentação de História
Contemporânea do Brasil – CPDOC, fundada em 1975, ligada à Fundação Getúlio Vargas,
Rio de Janeiro. O CPDOC é o melhor exemplo da bem-sucedida experiência com história
oral no Brasil, tanto pela qualidade de seu acervo quanto pela realização de comunicações,
palestras e edições de obras sobre a teoria e metodologia da história oral.
Destaca-se a utilização da metodologia para estudos sociológicos pelo Centro de
Estudos Rurais e Urbanos, Ceru – Universidade de São Paulo, desde meados dos anos 1970.
Como é o nosso caso, o método também vem sendo bastante aplicado em projetos de diversas
áreas de estudo, afirmando-se assim uma metodologia de natureza interdisciplinar.
A história oral, segundo Freitas (2002), “é um método de pesquisa que utiliza a técnica
da entrevista e outros procedimentos articulados entre si, já Allan Nevis tem como Moderna
História Oral, pois faz uso de equipamentos eletrônicos, como gravadores, câmeras, etc.; ou
seja, é método, pois é utilizado por pesquisadores ou profissionais que necessitam de
depoimentos para desenvolver trabalhos e/ou matérias; é também técnica, pois necessita do
uso de alguns procedimentos para que se tenha um bom e eficaz resultado daquilo que se
quer da entrevista, e fonte por ser utilizada como referência de histórias, dados, etc.”. Na qual
é dividida em três gêneros distintos: tradição oral é aquela passada de geração em geração
por pessoas mais velhas, principalmente familiares; história de vida, como o nome já diz, são
histórias da vida das próprias pessoas que estão dando o depoimento; história temática, são
histórias que tem como objetivo um assunto especifico.
A globalização trouxe muitos benefícios para a sociedade, como a possibilidade de
conhecimento de outras culturas por meio de computadores, diálogos online com pessoas de
outros países e continentes, entre outras facilidades. Mas muitas desvantagens chegaram
junto com ela, ao mesmo tempo em que ela aproximou nações, afastou também aqueles151
que
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

se tinha mais próximo, como um simples diálogo frente-a- frente, ou sentar na calçada para
conversar.
Por isso a importância do resgate e preservação da memória de uma comunidade,
segundo Tomaz (2010):
[...] Esse preservar da memória não está ligado apenas à conservação de
relíquias antigas ou edificações, mas também à preservação de toda uma
história, todo um caminho percorrido pela sociedade, desde seus tempos
mais remotos até aos dias de hoje, interligando-os pela sua importância
nesse processo de contínuo movimento e constante transformação.
(TOMAZ, 2010, p. 04)

Assim percebemos que com todos esses processos de “evolução” que o mundo vem
passando, algumas coisas vêm se perdendo com o passar do tempo, umas muito importantes
que deveria se manter, como o patrimônio imaterial mais precioso que temos: a memória, na
qual guardamos lembranças, aprendizados, histórias, etc.
Todos nós somos e fazemos parte de um patrimônio riquíssimo, com nossos percursos
de vida, nossas memórias e histórias por consequência das vivências em sociedade, e onde
passarmos devemos deixar esse legado através da oralidade ou escrita, isso pode se ter como
uma das justificativas do porque da importância da história oral, mesmo sendo ela subjetiva.
Em história oral o entrevistado é considerado, ele próprio, um agente
histórico. Neste sentido, é importante resgatar sua visão acerca de sua
própria experiência e dos acontecimentos sociais dos quais participou. Por
outro lado a subjetividade está presente em todas as fontes históricas, sejam
elas orais, escritas ou visuais (FREITAS, 2002, p.69).

Poderá se confirmar também durante a entrevista que a fala do entrevistado se


modifica de acordo com o sexo, pois de acordo com Freitas (2002) “o homem faz uso da voz
ativa e a mulher da passiva, e que os silêncios do entrevistado podem significar mais do que
suas palavras, aos quais devemos decifra-los.”v
Esse tipo de entrevista também traz benefícios para os entrevistados, pois faz com que
eles por vezes relembrem episódios, fatos que não relembravam há muito tempo e isso faz
com que o cérebro funcione melhor, é como se fosse um exercício. “Na Inglaterra existe uma
instituição chamada Age Exchange Reminiscence Centre, que faz uso da história oral para a
gerontologia, produzindo livros, peças, e exposições baseado em memória de pessoas idosas.
Tornou-se também um museu do cotidiano, com objetos e utensílios do século passado.”v

METODOLOGIA
152
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

O trabalho teve início por meio da pesquisa bibliográfica, que “consiste no levantamento
de referências teóricas já analisadas, e publicadas por meios escritos e eletrônicos, como
livros, artigos científicos, páginas de web sites” (FONSECA, 2002, p.32). Tal pesquisa serviu
de base no apanhado de informações durante o desenvolvimento teórico, dialogando sobre o
conceito de patrimônio cultural, como o turismo (atividade planejadora) poderia vir a
contribuir na preservação deste legado cultural e posteriormente fornecer estrutura para que
pudesse debater sobre o que é apresentado dentro da conceituação e o que é observado ao
final do trabalho.
Tal pesquisa, tendo como objetivo investigar o significado de patrimônio cultural dentro
de uma comunidade, fez o uso da abordagem qualitativa. “Tal abordagem parte da obtenção
de dados descritivos através de contato direto e interativo do pesquisador com a situação
objeto pesquisada; frequentemente em pesquisas como essa, o olhar do pesquisador se faz
através do olhar do participante para poder entender os fenômenos estudados” (NEVES,
1996). Foi através desta abordagem que a pesquisa ocorreu, pois durante todo o trabalho teve-
se o contato com a situação objeto para que se pudesse analisar o olhar da comunidade em
relação ao patrimônio cultural.
Tendo uma análise por meio da história oral como uma técnica, se teve a necessidade de
ir à campo. Surgiu então a necessidade da pesquisa de campo, que “caracteriza-se pela
investigação que, além da pesquisa teórica, se realizará coleta de dados descritivos”
(FONSECA, 2002).
Foi utilizado durante a pesquisa o recurso etnográfico por meio do método da história
oral. “Este método requer um período longo de estudo, pois terá que ter um contato maior
com o objeto de pesquisa, passando a desenvolver técnicas de observações, contato direto e
participação em atividades” (NEVES, 1996). A história oral, segundo Freitas (2002), é um
método de pesquisa que utiliza a técnica da entrevista e outros procedimentos articulados
entre si, como já se foi apresentado no referencial teórico deste trabalho. Nos três gêneros de
história oral que também já foram citados, a pesquisa se fez a partir do último gênero, história
temática, pois pudemos nos moldar de acordo com o que queríamos do entrevistado.13
Entretanto, a história se faz com documentos, se não houver escritos, devem e serão orais,
principalmente agora com as facilidades da tecnologia; e história oral se faz a partir de
lembranças. Para isso utilizou- se o inventário participativo juntamente com o INRC, que já
foram discutidos anteriormente, para que pudessem ajudar na realização dos registros
etnográficos desta pesquisa. 153
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

A memória do individuo depende do seu relacionamento com a família,


com a classe social, com a escola, com a Igreja, com a profissão, com os
grupos de convívio e os grupos de referências peculiares a esse individuo.
Nessa perspectiva, lembrar-se é uma ação coletiva, pois, embora o
individuo seja o memorizador, a memória somente se sustenta no interior
de um grupo. (FREITAS, 2002, p.67)

Dessa forma se constata que a quantidade de entrevista não é relevante, pois o método
da história oral é representativo, a história é ligada àquele grupo e se sustenta ali. Como já
vimos, o método de história oral também funciona como exercício para o cérebro dos
entrevistados; assim, podemos visualizar que a pessoa com mais idade (3ª idade) foi a mais
apropriada para ser o sujeito desta pesquisa, por motivo de maior tempo de vivência e
experiência com o meio.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Foram realizadas atividades, a exemplo oficinas de economia criativa sob a gestão do


Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR-MA) secção do Estado do Maranhão;
contatos diretos e entrevistas com habitantes locais, o que revelou ao longo da pesquisa
pessoas desinformadas no que refere ao conhecimento dos patrimônios que detêm.
Percebeu-se durante o acompanhamento do INRC o interesse e disponibilidade dos
moradores da Ilha das Canárias em colaborar com a pesquisa, o que foi essencial para o
andamento e construção do inventário participativo, o que permite a valorização do
patrimônio cultural e natural do território que abrigam.
Segundo Hugues de Varine (2013), o desenvolvimento local é formado por atores
locais, por membros da comunidade de vida e de cultura que compartilham seus patrimônios.
Ao longo da pesquisa confirmou-se as potencialidades de constituição de um pólo na Ilha das
Canárias do Ecomuseu Delta do Rio Parnaíba; uma natureza de museu de base comunitária,
ao mesmo tempo integral e integrador, que viabilize programas e ações socioeducativas,
culturais, de economia criativa, de turismo cultural, etc.; um equipamento que permita o
conhecimento e reconhecimento do rico e complexo patrimônio cultural do território.
Um polo museológico dirigido não ao turista, apenas, mas, sobretudo aos residentes
com o fito de mostrar às gerações presentes e futuras o processo pelo qual a comunidade
passou para chegar ao ponto que se encontra. (BARRETTO, 2000, p.76- 77)

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

FIGURA 01: Artesanato feito por residentes da Ilha das Canárias | matéria-prima -carnaúba.
Fonte: Autor, 2016.

O que se propõe para pôr em prática em futuros trabalhos e utilizar como produto e
serviço é um mapa cultural do território, com destaque para os espaços indicados pelos
habitantes, lugares que os representem, que sejam marcadores de identidade, de relevância
histórico cultural, espaços repletos de sentidos e significados para a comunidade, são eles: o
rio; os materiais de pesca, à exemplo a rede de pesca; o artesanato feito por eles; a igreja ; a
lagoa; os festejos, como o aniversário da comunidade, onde os moradores realização várias
atividades – como campeonato de futebol e corrida de jegue -, ect. O que se propõe
juntamente com o mapa, para se construir em próximos projetos, é uma roteirização turística
na localidade baseada no legado cultural, onde terá que obedecer a quatro requisitos básicos:
preservação do local; adoção de políticas de administração do bem, restrição ao número de
visitantes e delimitação de espaços de visitação por período do ano e temporada, em
consequência de fatores naturais, como por exemplo a existência ou não de lagoas.
A roteirização deve ser pensada com base em um planejamento sustentável, com o
intuito de integrar os habitantes nas dinâmicas locais, de forma a motivar formas de
rentabilidade, conhecimento, reconhecimento, valorização e promoção do patrimônio
cultural e natural; permitido atividades geradoras de trocas de saberes e fazeres entre
visitantes e visitados, sem afetar o meio cultural e natural do território, sempre com a
participação da comunidade, dos residentes, atores diretos do roteiro em solo: caminhadas,
passeios de charretes, visitação em ranchos, oficinas de construção de embarcações etc.

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

FIGURA 02: Passagem em uma área alagada por consequência do inverno. Passeio de
charrete ofertado por nativo.

Fonte: Autor. 2015.

O que se percebe na comunidade é a introdução massiva das tecnologias de


comunicação. Em uma das entrevistas, uma senhora relatou que a nova geração (os jovens)
não se importam mais com os valores cotidianos e o patrimônio que ali se encontra. Algo
preocupante e que deve ser revisto pelos seus próprios habitantes, o que justifica este
planejamento turístico cultural ,com a colaboração de profissionais da área do Turismo.
Sendo então as contribuições para futuros trabalhos práticos, segere-se: Mapa Cultural
com todos os PI‟s (Pontos de Interesse) da comunidade de Canárias. Roteiro Turístico
Cultural: construído a partir dos PI‟s do mapa cultural, de acordo com os requisitos
básicos já expostos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Há na comunidade das Canárias um repertório de patrimônio cultural e natural


singular. A comunidade é admirável e receptiva; com o aprimorar do planejamento de
turismo cultural haverá benefícios para os residentes. O que se tentou foi auxiliar na
salvaguarda dos patrimônios para que sigam as dinâmicas contemporâneas, sensibilizar as
gerações presentes e futuras sobre a importância de ações e reflexões que alterem o presente
e prospectem o futuro.

REFERÊNCIAS

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF, Senado, 1988.


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VARINE, H. As Raízes do Futuro: O patrimônio a serviço do desenvolvimento local. Trad.:
Maria de Lourdes Parreiras Horta. Porto Alegre, RS: Medianiz, 2013.

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GASTRONOMIA REGIONAL: UMA ANÁLISE NOS BARCOS DE PASSEIO AO


DELTA DO PARNAÍBA (PI)
Gessinara Lima Vieira
Mayla Roberta de Brito Torres
Mayara Maia Ibiapina

RESUMO
A gastronomia e o turismo estão entrelaçados, considerando que a alimentação é parte
fundamental na receptividade e na hospitalidade das pessoas, essa hospitalidade reflete
diretamente na impressão que será levada pelo indivíduo, onde a cultura torna–se presente e
será compartilhada. A partir dessa reflexão deu-se início ao presente artigo que tem como
objetivo a realização da análise de SWOT, com foco na alimentação regional oferecida dentro
dos barcos de passeio ao Delta do Parnaíba (PI), analisando os pontos positivos, negativos,
fraquezas e ameaças do cardápio apresentado aos turistas. De acordo com a pesquisa realizada
ficou claro que o Delta do Parnaíba tem uma natureza rica, podendo ser melhor explorada, para
a extração de pescados, camarões e crustáceos, identificou-se a necessidade de maiores
investimentos para a melhoria dos serviços de alimentos e bebidas, afinal os turistas tornam-se
cada dia mais exigentes no quesito gastronomia.

Palavras-Chave: Gastronomia Cultural; Análise SWOT; Delta do Parnaíba.

ABSTRACT

Gastronomy and tourism are intertwined, considering that food is a fundamental part of people's
receptivity and hospitality, this hospitality reflects directly on the impression that will be carried
by the individual, where culture becomes present and will be shared. From this reflection began
the present article that aims to perform the analysis of SWOT, focusing on the regional food
offered within the boats to the Parnaíba Delta (PI), analyzing the positives, negatives,
weaknesses and threats of the menu presented to tourists. According to the research carried out
it was clear that the Parnaíba Delta has a rich nature, and can be better exploited, for the
extraction of fish, shrimp and crustaceans, it was identified the need for greater investments to
improve food and beverage services, after all tourists become increasingly demanding in terms
of gastronomy.

Keywords: Cultural Gastronomy; SWOT Analysis; Parnaíba Delta.

INTRODUÇÃO

O ser humano sente cada vez mais necessidade de se conectar com a natureza, cultura e
a gastronomia de outros povos, a partir desse desejo, surge uma variedade de opções para o
desenvolvimento da atividade turística, assim o turismo e gastronomia passa a ser importante
atividade interligada a vida e a identidade das comunidades ribeirinhas.

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Do mesmo modo, o turismo também tem a capacidade de intercambio, unindo pessoas


de todas as etnias e características sociais tendo um papel importante na arte de conhecer o
novo, de experimentar e vivenciar novos hábitos e sabores, além de deslumbrar novas
paisagens, certamente essas vivências tornam-se momentos inesquecíveis na memória afetiva
de cada visitante.
Quanto a gastronomia, esta é uma experiência ligada a atividade turística e cultura, cada
consumidor tem um paladar diferenciado para analisar aquela refeição, além disso, as
contribuições do setor ultrapassam o campo econômico, “envolve o Estado e o setor produtivo,
na medida em que proporciona oportunidades integradas no campo social, político, cultural e
ambiental, contribuindo para a redução das desigualdades regionais e a distribuição de renda”
(Brasil, 2007, p.4), portanto, é uma atividade humana de grande relevância, envolvendo vários
setores, movimentando a economia de uma determinada região.
A gastronomia nos dias atuais tem sido excelente motivador para a escolha de destinos
turísticos, onde os indivíduos procuram conhecer traços culturais do local visitado através da
alimentação. Como afirma Lobo (2008), os turistas estão “sempre em busca de novidade,
originalidade, e a comida é um atrativo, pois representa a possibilidade de descobrir novos
sabores e características culturais dos ambientes por onde passam”. As variações de sabores e
as deliciosas comidas de um lugar o tornam único e inesquecível aos olhos dos turistas.
Nessa perspectiva, Azambuja (2001) coloca que a gastronomia típica das comunidades
se transforma em produto turístico trazendo uma característica cultural de uma localidade
porque o prazer gastronômico vem acompanhado de um legado culinário, envolvendo gerações
passadas de conhecimentos e ingredientes de característica local, assim, o turismo tem relação
direta com a gastronomia de um determinado local.
E essa troca de gostos, ideias e culturas despertou a necessidade de desenvolvido do
ainda pouco conhecido turismo cultural que é a tentativa de “compreender as atividades
turísticas relacionadas à vivência do conjunto de elementos significativos do patrimônio
histórico e cultural e dos eventos culturais, valorizando e promovendo os bens materiais e
imateriais da cultura” (Ministério do Turismo [MTUR], 2006, p. 13). A partir dessa relação
procura-se nesse estudo compreender de que forma está sendo apresentada a cultura
gastronômica das comunidades do Delta do Parnaíba para as demais.
A presente pesquisa foi realizada numa região conhecida como Delta do Parnaíba, que
está localizado na zona costeira do Brasil, tendo como a porta de entrada o litoral do Piauí e
finalizado no Maranhão. Tem como característica o fato de desaguar em mar aberto, sendo
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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

único das Américas com tal prestígio, de belezas naturais e exuberantes é abundante em
ecossistemas, tais como mangues, praias, dunas e igarapés (Silva,2016). Onde se pode banhar
em lagoas de águas cristalinas formadas nas dunas por consequência das chuvas, além do banho
de mar e de rio.
A gastronomia pode possuir grande importância na caracterização cultural desse
passeio, por tanto, tem-se como objeto de estudo o passeio tradicional dos barcos do Delta do
Parnaíba, pois possui uma relação direta com a apresentação da gastronomia local para o turista
através das refeições oferecidas a bordo.
Nesse sentido esse estudo foi motivado pelo seguinte questionamento: Qual a força,
fraqueza, oportunidade e ameaças da alimentação oferecida aos visitantes dentro dos barcos de
passeio ao Delta do Parnaíba (PI) considerando a importância da cozinha regional para os
atrativos turísticos?
O objetivo a realização da análise de SWOT, tendo como foco a alimentação regional
oferecida nos barcos de passeio ao Delta do Parnaíba (PI), além disso, as informações colhidas
podem contribuir com a melhoria do serviço e apresentação da gastronomia local,
incrementando ao passeio do Delta novas atratividades.

GASTRONOMIA, CULTURA E TURISMO

A partir da descrição do grande dicionário da Língua Portuguesa (1981) conceitua que


gastronomia como: “a arte de cozinhar, de modo que se proporcione o maior prazer aos que
comem; a arte de regalar com bons acepipes, de comer bem, de saber apreciar os bons petiscos”
Alfredo Saramago (2002, p. 15) complementa que “a Gastronomia é um discurso sobre o prazer
da mesa, é tributaria da variedade e funde-se na escolha e na seleção”, portanto, a gastronomia
cria laços com a cultura, e se torna uma troca de experiências. Vale ressaltar que para Pantel
(apud FLANDRIN & MONTANARI, 1998, [s.p]):

As refeições têm seu lugar em uma história cultural e sua instituição marca o
início das relações comunitárias de um povo, que coincidem, em maior ou
menor grau, com a constituição de uma identidade política a comensalidade é
uma das estruturas de identidade do cidadão. [s.p]

Cada local tem seus ingredientes produzidos pela natureza de acordo com seu território,
o que influência diretamente na cultura culinária de um povo, cultura essa que passa de geração
para geração. Como descrito por Fischler (1998, p. 276) “os alimentos representam a ligação
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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

mais primitiva e entre a natureza e cultura, fazendo parte da raiz que liga o povo, uma
comunidade ou um grupo à sua terra e à sua alma de sua história”.
Pedraza (2004), em sua fala destaca que “não são apenas os alimentos que diferem de
uma cultura para outra; há variações em sua forma de cultivo, colheita, preparo, serviço e
ingestão”, assim, a forma como os alimentos são cultivados, colhidos, posto à mesa representam
uma forte ligação com uma cultura e a regionalidade de um povo, o que acaba por expressar o
ato de bem acolher os turistas.
A gastronomia brasileira possui uma série características, nossa culinária contém
influências dos africanos e portugueses, no entanto o que prevalece é o legado indígena e dentro
delas há formas especificas de preparar cada receita, o uso da panela de barro é o diferencial e
da toda uma particularidade, que chega a ser notado pelos visitantes. Leal (1998) acrescenta
que:

A origem de nosso povo, acrescida a fatores como a geografia do país, fez com
que a cozinha brasileira variasse bastante de um lugar para o outro, embora
existam características comuns a determinadas áreas. São esses traços
característicos que determina várias cozinhas regionais em nosso país,
cozinhas essas que estão se trocando constantemente de norte a sul, com
modificações e adaptações locais (Leal, 1998, p. 123).

Nesse contexto, cada lugar possui uma cultura diferente, a gastronomia conta a sua
história através de alimentos exóticos e ricos em detalhes e sofisticação, para alguns lugares é
certo comer carne de cachorro e de cavalo, já outros não comem carne por considera-la sagrada,
cada um com sua diferença, mas que faz disso um atrativo, tendo como base a valorização da
cozinha regional.
Dentro dessas circunstâncias, vale ressaltar que a gastronomia apresenta costumes que
a converte em identidade cultural de um povo, trazendo suas particularidades como um
elemento identificador, acrescenta-se que o modo de preparar o alimento também é um
elemento identificador.
Dentz (2011) afirma que “a identidade está diretamente ligada à memória, pode-se
entendê-la como aspetos peculiares de um determinado povo, como suas crenças, ritos e
experiências comuns”, essa memória gastronômica pode transportar o homem a lugares e
lembranças que viveram em um determinado tempo de sua vida que estão esquecidas, a cozinha
regional tem essa magia de levar a lugares que geralmente estão esquecidos.

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A gastronomia e o turismo estão entrelaçados, considerando que a alimentação é parte


fundamental na receptividade e na hospitalidade das pessoas, essa hospitalidade reflete
diretamente na impressão que será levada pelo indivíduo, almeja-se assim que essa seja feita da
melhor forma possível. Furtado (2004) conceitua que:

A gastronomia é como um produto, ou mesmo um atrativo de uma


determinada localidade, é muito importante do ponto de vista turístico, pois
apresenta novas possibilidades, na verdade, não tão novas, mas nem sempre
bem exploradas, que são as diversas formas de turismo voltadas para as
características gastronômicas de cada região. (FURTADO, 2004, [s. p]).

Compreende-se que o turismo é uma das atividades mais importantes, além de gerar
renda e movimentar o mercado de trabalho ele dar destaque ao país, pessoas do mundo inteiro
vem visitar os encantos que o lugar oferece, a culinária brasileira é um ponto importante para o
turismo, pois possuem produtos exóticos e com sabores que geralmente agradam ao paladar,
cada região possui seu prato local tendo diversas formas de preparo e ingredientes específicos,
fazendo do prato um turismo gastronômico.
Em relação ao turismo Azambuja (2001, p. 74) “inúmeras cidades e regiões aproveitam-
se de suas raízes, tradições e expressão cultural traduzidas na culinária, ofertando um produto
diferenciado, muito além do simples souvenir ”, dentro dessa possibilidade as práticas culinárias
e gastronômicas cooperam essencialmente para o entendimento das características inerentes a
cada localidade visitada, apresentando referências históricas e étnicas; formas de preparação,
temperos, receitas modernas e tradicionais, saberes culinários, espaços de alimentação, entre
outros aspectos.
Assim, segundo Antonini (2004) a gastronomia de um local se apresenta como uma
forma de aumentar a oferta turística e como um produto agregado ao turismo cultural vem
indicando a gastronomia como muito mais que uma simples arte culinária, mas como
importante veículo da cultura popular pela forma como vivem os habitantes de cada região em
determinada época.
A alimentação é um ato importante, que vai muito além do simples comer, está ligada a
identificação de um povo, sua maneira de viver em grupo, na preparação do alimento, sua
simbologia, de ser aceito pelos outros e até mesmo de se relacionar com o mundo. Para Schluter
(2003) “é uma construção simbólica, uma forma de classificação que cria um sentimento de
pertencimento”. Acredita-se que a identidade cria elo com o indivíduo e o torna parte de um
grupo social. O autor acrescenta que: 162
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A identidade também é comunicada pelas pessoas através da gastronomia, que


reflete suas preferências e aversões, identificações e discriminações, e, quando
imigram levam consigo, reforçando seu sentido de pertencer ao lugar que
deixaram. Dessa forma vai-se criando uma cozinha de caráter étnico utilizada
com muita frequência no turismo para ressaltar as características de uma
cultura particular (SCHLUTER, 2003, p.32).

A gastronomia é considerada uma dessas atividades dinâmicas, utilizada para


desenvolvimento turístico de um lugar, servindo de difusor de uma cultura, tornando esse
destino um produto turístico a ser consumido pelos visitantes, afinal a gastronomia vai além de
uma necessidade básica do ser humano, ela tornou-se assim uma forma prazerosa de
alimentação, pois o ato degustar uma boa comida transforma-se em arte através da montagem
dos pratos.
Como descrito por Braune (2007, p.19), “é gastronomia todo prato feito com arte, em
que os ingredientes são selecionados por sua qualidade e elaborados com uma técnica que tem
por objetivo a perfeição no sabor e no respeito as características culturais do prato. ” Sendo
assim, a gastronomia trabalha de maneira harmoniosa a junção de cores, sabores e temperos
misturada com a criatividade de quem os prepara. Trazendo consigo um pouco da sua cultura
culinária presente em sua memória afetiva.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A pesquisa exploratória teve abordagem qualitativa analisando e caracterizando os


serviços de alimentos e bebidas dos barcos, quanto a sua regionalidade e tentando compreender
a opinião dos clientes sobre os produtos apresentados.
O primeiro passo da pesquisa realizada foi o deslocamento das pesquisadoras até o Porto
dos Tatus onde saem as embarcações para a realização do passeio tradicional do Delta do
Parnaíba. O passeio é feito por seis empresas, mas as pesquisadoras tiveram acesso a dois deles,
dos quais participaram de todo o percurso e conseguiram conferir o que era ofertado aos turistas,
fizeram todas as refeições junto aos turistas.
Segundo informações dos próprios funcionários todas as empresas apresentam
características semelhantes na oferta de alimentação no barco, o que tornou as duas visitas
suficientes para nossa observação exploratória.

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Foram realizadas entrevista semiestruturadas com funcionários e clientes/turistas, em


dois sábados do mês de novembro, sendo cada dia em uma embarcação diferente, com o
objetivo de investigar a qualidade dos serviços de alimentos e bebidas oferecidos durante o
passeio. A tripulação é composta por sete colaboradores sendo um guia de turismo, duas pessoas
para o serviço de bar, uma cozinheira, uma auxiliar de cozinha e três marinheiros.
Após coletados os dados aplicou-se a análise de SWOT que é o acrônimo para Strengths,
Weaknesses, Oppotunities and Threats que traduzidos para a língua portuguesa formam a sigla
FOFA que significa forças, oportunidades, fraquezas e ameaças, a análise de SWOT ou matriz
FOFA, é uma ferramenta simples e muito útil para que uma empresa entenda o ambiente e para
criar a base de informações necessárias para planejar o futuro (Kotler, 1992).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Por meio dessa observação constatou-se que os serviços oferecidos pelos barcos são
parecidos e com poucas alterações entre os cardápios. Na compra do voucher o cliente/turista
tem inclusa a alimentação básica: frutas, almoço e caranguejada, caso consuma bebidas,
petiscos e almoço devem pagar por seu consumo.
Percebe-se pouca opção e variedade disponível de consumo, os seis barcos só
comercializam uma única marca de cerveja, limitando os gostos dos visitantes, percebeu-se que
os itens extras do cardápio não são suficientes para o consumo, como os tira gostos que são
apenas dois tipos de proteínas os mesmos servidos no almoço, mudando só a forma preparo.
A coleta de dados foi feita através de questionários, entrevistas e observação direta para
sugestão de melhorias, realizou-se assim a aplicação de dois tipos de questionários, um para os
funcionários e outro para os turistas, com perguntas semiestruturadas que permite uma
espontaneidade abrindo espaço para que outras questões sejam abordadas no decorrer da
aplicação, aproximando o entrevistado e o aplicador.
Desta forma, foram realizadas 60 entrevistas nos barcos de passeio com o destino ao
Delta do Parnaíba (PI), onde os entrevistados eram de localidades diferentes e com idades
variadas, de acordo com a pesquisa notou-se que mais de 44% dos visitantes vieram do Ceará
em excursão. No que se refere a gênero, 70% do público era feminino, em relação a faixa etária
dos entrevistados varia de 10 a 80 anos, 53 dos 60 entrevistados visitavam o Delta do Parnaíba
pela primeira vez, percebe-se que o público maior é de familiares dos quais procuram conhecer

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o lugar visitado, a pesquisa também mostrou que 56% dos entrevistados ficam sabendo do
passeio por recomendações de amigos ou excursões.
O foco principal da entrevista era saber qual a opinião dos turistas em relação ao que é
oferecido e se representa tal regionalidade, os 60 entrevistados concordaram que os pratos que
compõem o cardápio oferecidos nos barcos tem sim sua regionalidade. Os dados coletados
mostram que os entrevistados revelaram estar satisfeitos com o passeio, e que fariam o
novamente, exceto um entrevistado que afirmou que não faria o passeio novamente, sua
justificativa deu-se pelo fato da paisagem não se modificar, sempre irá continuar igual.
A pesquisa confirmou a satisfação dos turistas quanto ao ambiente do barco e que os
pratos servidos são compatíveis, mas que pode ser adaptado e inserido outros pratos regionais,
pois alguns esperavam uma maior variedade de bebidas, petiscos e sobremesas e não se
opunham a pagar o valor estabelecido pelas empresas o que iria a aumentar o entusiasmo e a
bagagem gastronômica de alguns turistas que querem sair do tradicional, lembrando que a
gastronomia pode ser utilizada como um fator de identidade regional, uma vez que em um
mesmo país podem haver uma cultura gastronômica característica de cada região, moldando-se
como um elemento diferencial de cada povo.
Segundo todos os entrevistados peixes e frutos do mar são os alimentos do cardápio que
identificam o passeio com sua região. a alimentação. Porém a pesquisa procurava saber dos
entrevistados quais pratos poderiam ser adicionados para aumentar essa aproximação da
alimentação oferecida com o local.
O Quadro 1 reúne a opinião dos entrevistados quanto a sugestões de pratos a serem
oferecidos para o aprimoramento dos serviços ofertados nos barcos A e B.

QUADRO 1: SUGESTÕES DE PRATOS A SEREM OFERECIDOS


RESPOSTAS:
• Variedade de peixes;
• Bolinhos de peixes e camarão;
• Ensopado de camarão;
• Batata frita;
• Opções de carnes;
• Maria Isabel;
• Pirão de peixe;
• Feijoada/feijão;
• Saladas variadas;
• Mariscos;
• Maior variedade de frutas;
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• Tortas de caranguejo, siri e camarão;


• Ostras;
• Sucos etc.
Fonte: Pesquisa Direta

A partir dessa experiência constatou-se que a regionalidade está presente nas refeições
e as pesquisadoras tiveram um maior contato pessoal com os clientes, podendo assim ouvir um
pouco de suas expectativas e necessidades quanto a gastronomia piauiense.
Com base nas informações coletadas através da aplicação dos questionários e com a
observação direta montou-se um quadro estrutural para o melhor entendimento dos pontos
abordados.
Facilitando a compreensão e a melhoria dos serviços oferecidos nos barcos.
Apresentando assim visão mais ampla e clara aos empresários e a sociedade em geral a respeito
do que se pode oferecer aos turistas de acordo com suas necessidades e desejos. Como mostra
no Quadro 2.

QUADRO 2: QUADRO DE ANÁLISE SWOT DA ALIMENTAÇÃO OFERECIDA


NOS PASSEIOS DO DELTA DO PARNAÍBA
ASPECTOS POSITIVOS ASPECTOS NEGATIVOS

FORÇAS FRAQUEZAS

• Um dos principais atrativos turístico da


• Falta de variedade nos cardápios
rota das emoções;
de alimentos e bebidas;
• Grande fluxo de turistas em alta e baixa
• Poluição sonora (música alta);
temporada;
• Falha nas políticas públicas
• Local com acesso privilegiado,
direcionadas ao turismo;
facilitando a obtenção dos produtos base
• Espaço físico restrito (cozinhas
para as refeições;
pequenas);
• As cozinheiras residem nas
• Falta de visão estratégica dos
comunidades do Delta do Parnaíba.
empresários.
• Os produtos frescos.

OPORTUNIDADES AMEAÇAS
• Baixo custo para a obtenção de peixes e • Concorrência de outros Estados da
crustáceos a serem servidos a bordo; Rota das emoções;
• Geração de renda para a comunidade; • Degradação do ambiente natural;
• Oferta de emprego. • Cardápio rotineiro, para o paladar do
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consumidor;
• Clientes mais exigentes a procura de
sabores diferenciados.

Fonte: Elaborado pelo autor

Os pontos fortes da análise de SWOT encontrada pelas pesquisadoras se dão desde o


local onde é desenvolvido o passeio, pois é um dos principais atrativos turísticos da rota das
emoções e recebe a visitação de turistas em alta e baixa temporada, há uma seleção quanto a
escolha das frutas, verduras e legumes que são servidos, pois as empresas prezam por alimentos
frescos adquiridos em feiras livres horas antes do passeio.
Outro ponto forte é que as cozinheiras pertencem as comunidades locais, e trazem
consigo a cultura regional, percebeu-se que a equipe é bem competente e unida, dentro da
cozinha observa-se uma boa pratica de higiene e manipulação de alimentos. Nas oportunidades
viu-se que o local é um grande gerador de renda e de emprego, pois facilita a obtenção da
matéria prima que serve como base para o preparo das refeições servidas a bordo, o barco tem
acesso as comunidades que sobrevivem da pesca adquirindo os produtos diretamente da fonte.
Quanto aos pontos fracos notou-se que há uma falta de variedade nas opções dos
cardápios, a poluição sonora incomoda os animais silvestres, há uma falta de Políticas públicas
voltadas para o turismo na região, a cozinha é pequena e acaba dificultando a presença de mais
colaboradores para a melhoria do serviço, os empresários da área estão muito habituados a
mesmice e não procuram se reciclar para o melhor planejamento das suas empresas.
No que diz respeito a ameaças constatou-se que a concorrência dos outros estados das
rotas das emoções que são Maranhão e Ceará estão se destacando, pois buscam sempre
investigar e aprimorar suas qualidades em serviços de todas as escalas, incluindo o de alimentos
e bebidas, o cardápio é repetitivo e não varia nada entre petiços e as refeições.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo com a pesquisa realizada, ficou claro que o Delta do Parnaíba tem uma
natureza rica composta por vários rios, mangues e igarapés e acaba por desaguar em mar aberto
o que torna muito variada sua fonte gastronômica, podendo ser melhor explorada, afinal pode-
se extrair desses biomas os pescados e camarões de agua doce e salgada, além de crustáceos
como siri, caranguejo, ostras, sururu etc.

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Observa-se com essa análise que é esse tipo de alimentação que vem ao imaginário do
turista ao pensar em Delta do Parnaíba, porém as empresas estão deixando ainda a desejar nesse
tipo de satisfação, pois a variedade ofertada é pouca, porém vimos na prática que as cozinhas
são pequenas e talvez não consigam suportar essa demanda, o que acaba sendo um obstáculo
para a melhoria do serviço, além do pequeno número de funcionários da cozinha.
Esse estudo mostrou ainda que precisa - se investir mais para a melhoria desse desejo
dos visitantes, afinal os turistas tornam-se cada dia mais exigentes no quesito gastronomia, as
pessoas têm um paladar bem mais apurando, o ser humano alimenta-se não só por necessidade
e sim por prazer.
A partir desse estudo fica aberto novos questionamentos e ideias a serem desenvolvidas
no setor de turismo gastronômico no Delta do Parnaíba. Levando em consideração que objetivo
da pesquisa foi alcançado onde através dos dados coletados pudemos desenvolver um quadro
com análise SWOT, mostrando seus pontos fortes e fracos, suas oportunidades e ameaças na
alimentação oferecida aos visitantes dentro dos barcos de passeio ao Delta do Parnaíba (PI)
considerando a importância da cozinha regional para os atrativos turísticos.
As cozinheiras dos barcos são pertencentes as comunidades do Delta do Parnaíba o que
acaba por preservar essa culinária tradicional, afinal uma boa apresentação da gastronomia local
pode ser uma forma de sensibilizar os visitantes sobre a conservação da biodiversidade, da
gastronomia e das culturas locais, além de torna-se parte da sua memória afetiva, levando assim
boas informações dos atrativos para o público que venha a ser tornar o nosso futuro visitante.

REFERÊNCIAS

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169
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

CULTIVO DE HORTALIÇAS: MECANISMO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM


UMA ESCOLA DA REDE PÚBLICA DO MUNICÍPIO DE PARNAÍBA PIAUÍ
Darlison Fontenele Sampaio
Maria Helena Alves
RESUMO
Atividades escolares ligadas à conservação do meio ambiente são indispensáveis para os
estudantes desenvolverem uma consciência ambiental saudável. O presente trabalho foi
desenvolvido na Unidade Escolar Polivalente Lima Rebelo - CETI, com 20 alunos do 1º e 2º
ano do ensino médio tendo por objetivo ensinar e demonstrar aos alunos a preparação, plantio
e obtenção de hortaliças de forma que os mesmos tivessem a vivência socioambiental.
Inicialmente foi desenvolvido um projeto, que fosse executado pelos bolsistas do Programa
Institucional de Bolsas de Iniciação a Docência (PIBID) envolvendo a supervisora sob
orientação do coordenador do programa. Após a preparação do ambiente físico, foi delineado
o procedimento de plantio das hortaliças e após a socialização, foi aplicado um questionário
semiestruturado, contendo sete questões básicas e objetivos sobre a importância do projeto
horta na escola para a melhoria da conscientização socioambiental. No transcorrer da entrevista
buscou-se inferir se os respondentes consideravam importante ter uma horta orgânica na escola.
As respostas foram positivas, pois percebeu-se que a maioria dos entrevistados, cerca de 14
alunos (70%), afirmaram reconhecer a importância da horta, e apenas 6 (30%) não
consideraram importante a implantação de uma horta orgânica na intuição. Na análise dos
questionários aplicados ficou evidente o aprendizado dos alunos em relação ao tema exposto, o
que torna possível afirmar que projetos desenvolvidos em ambientes externos à sala de aula são
uma ferramenta excelente de trabalho.

Palavras-chave: socioambiental; horta na escola; discentes.

ABSTRACT

School activities related to environmental conservation are indispensable for students to


develop a healthy environmental awareness. The present work was developed at the Lima
Rebelo Multipurpose School Unit - CETI, with 20 students from the 1st and 2nd year of high
school aiming to teach and demonstrate to students the preparation, planting and obtaining of
vegetables so that they had the socio-environmental experience. Initially, a project was
developed, which was executed by the scholarship holders of the Institutional Program of
Teaching Initiation Scholarships (PIBID) involving the supervisor under the guidance of the
program coordinator. After the preparation of the physical environment, the procedure of
planting vegetables was delineated and after socialization, a semi-structured questionnaire was
applied, containing seven basic and objective questions about the importance of the garden
project in the school to improve socio-environmental awareness. During the interview, it was
sought to infer whether the respondents considered it important to have an organic garden at
school. The answers were positive, because it was noticed that the majority of the interviewees,
about 14 students (70%), stated that they recognized the importance of the vegetable garden,
and only 6 (30%) did not consider it important to implement an organic vegetable garden in
intuition. In the analysis of the questionnaires applied, it was evident the students' learning in
relation to the theme mentioned above, which makes it possible to affirm that projects
developed in environments outside the classroom are an excellent work tool.
170
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Keywords: socio-environmental; vegetable garden at school; Students.

INTRODUÇÃO
Na grande amplitude do processo educacional a educação ambiental é uma ferramenta
indispensável no combate de problemáticas ambientais dentro do contexto da educação,
mecanismo este, capaz de contribuir com transformações de hábitos do meio social, como
destaca o Programa Nacional de Educação Ambiental – ProNEA (BRASIL, 1999).
O caminho da educação ambiental na legislação do Brasil prima pela universalização da
prática educativa presente em todas as esferas da sociedade, desde de 1973, com o Decreto
n°73.030, que criou a Secretaria Especial do Meio Ambiente explicitando, entre suas
atribuições, a promoção do esclarecimento e educação do povo brasileiro para o uso adequado
dos recursos naturais, tendo em vista a conservação do meio ambiente (LIPAI, 2010).
Morin (2008), defende a ideia que as premissas da educação ambiental devem está
diretamente associadas ao ensino básico, no entanto para que isso ocorra é necessário a
integração das formas de conhecimento de maneira dinâmica, buscando a construção de valores
múltiplos sem a fragmentação do conhecimento.
Segundo Morin (2008),
A fragmentação do saber impede o enfretamento de realidades cada vez mais
caracterizadas como polidisciplinares, transversais e globais. A partir desse
contexto, a inserção da Educação Ambiental como campo interdisciplinar de
construção de sujeitos cidadãos objetiva desenvolver nos indivíduos a
formação de valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e
competências, como ressaltado no artigo 1° da lei n° 9.795/99 (MORIN, p. 7,
2008).

Atualmente existe uma grande preocupação com problemas ambientais atuais e futuros
em decorrência, principalmente, de práticas antrópicas desenfreadas. Diante dessa problemática
surgiram vários debates com o objetivo de sancionar medidas para a minimização desses
impactos presentes em uma espera global, através de projetos de curto, médio e longo prazo.
Entre esses debates alguns projetos tiveram proporções históricas de nível mundial, como a
conferência de Estocolmo (1972) e a conferência Rio de 1992 (Rio Eco 92) (LANG, 2009).
No decorrer dos citados debates o termo sustentabilidade parece ter se constituído em um
ambiente de grandes repercussões entre o meio acadêmico, empresarial e governamental, tanto
no Brasil como nas demais nações do mundo, o que pode ser observado a partir da importância
que passou a ser dada às questões socioambientais após a década de 1970 (LANG, 2009).
A sensibilização da comunidade escolar pode fornecer um passo inicial que transcende o
ambiente escolar, atingindo todo o meio ao qual a escola está situada, desde o bairro no qual
171
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

está localizada até mesmo as comunidades mais afastadas, das quais os discentes são oriundos,
assim como professores e funcionários, formando assim potenciais multiplicadores de
informações e atitudes diretamente relacionadas às práticas de educação ambiental construídas
na escola (RUY, 2006).
O conjunto constituído pela família, escola e sociedade têm a responsabilidade na
construção de hábitos saudáveis, por parte dos estudantes, para que os mesmos, futuramente,
sejam capazes de encontrar um equilíbrio alimentar e consequentemente uma boa qualidade de
vida, para gerar “frutos” positivos na adolescência e na vida adulta e os pais tem um papel
indispensável nas práticas alimentares, estabelecendo os alimentos, o local e o momento
adequado para seu consumo, mas ao mesmo tempo fazendo com que suas crianças utilize seus
próprios recursos e desenvolva respeito pelo meio ambiente (PAIVA, 2010).
Atividades escolares ligadas a conservação do meio ambiente são indispensáveis para que
os estudantes desenvolvam uma consciência ambiental saudável, práticas como hortas na escola
auxiliam no incentivo ao consumo de hortaliças, na maioria das vezes, percebidas por eles como
“não aceitáveis” ou “de gosto ruim”, como alface, repolho, couve, cebolinha, cenoura, tomate
entre outras. Em meio ao desenvolvimento de atividades práticas como a supracitada vai se
demonstrando, de maneira descontraída, as contribuições que tais alimentos podem trazer para
um bom desempenho escolar, possibilitado pelo acesso à alimentação necessária nesta fase de
desenvolvimento. O desenvolvimento de uma horta na escola pode servir como fonte de
alimentação e atividades didáticas, oferecendo grandes vantagens às comunidades envolvidas
(NOGUEIRA, 2005).
Para Morgado (2006),
A horta inserida no ambiente escolar pode ser um laboratório vivo que
possibilita o desenvolvimento de diversas atividades pedagógicas em
educação ambiental e alimentar unindo teoria e prática de forma
contextualizada, auxiliando no processo de ensino aprendizagem e
estreitando relações através da promoção do trabalho coletivo e
cooperado entre os agentes sociais envolvidos (MORGADO, p. 4,
2006).
Embora uma alimentação saudável nas escolas seja amplamente discutida e preconiza o
Programa Nacional de Alimentação Escolar – PNAE que dispõe da gestão da alimentação
escolar, do Conselho de Alimentação Escolar, das cantinas e cozinhas nas escolas e o trabalho
dos nutricionistas e da educadora na escola (BRASIL, 2010).
A grande maioria das instituições de ensino, principalmente públicas, não apresenta
grandes mudanças em suas cantinas, de forma geral pode ser observado uma prática repleta,
172
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

principalmente, de alimentos industrializados, pobres em vitaminas, como salgados fritos,


bolos, que são os brandes vilões da alimentação dos estudantes (PIMENTA; RODRIGUES,
2011).
O contato direto com a natureza é indispensável para as crianças e adolescentes, pois
através destas elas serão capazes de desenvolver práticas ecologicamente corretas e saudáveis.
A Organização Mundial da Saúde (1997) afirma que o principal meio de promover a saúde é
através da escola, isso se deve ao fato da escola ser um ambiente social, no qual várias pessoas
convivem diariamente, além de ser o local onde estudantes, professores e funcionários passam
a maior parte de seu tempo. Observa-se que é na escola onde os programas de educação e saúde
pode ter maior repercussão, beneficiando os alunos na infância e na adolescência (SANTOS,
2014).
As instituições de ensino possuem o dever de desenvolver projetos de educação ambiental
em larga escala, voltados principalmente para o desenvolvimento de hábitos saudáveis. Nesse
meio de aprendizado o educador deve desenvolver meios que despertem a consciência
socioambiental dos educandos, sabendo utilizar diferentes tipos de estratégias de ensino, que
contribuirá para uma grande melhora na alimentação das crianças (FELICE ET AL, 2007).
O projeto de horta na escola pode ser considerado um laboratório vivo que possibilita o
desenvolvimento de diversas atividades pedagógicas em educação ambiental e alimentar
unindo teoria e prática de forma contextualizada, auxiliando no processo de ensino-
aprendizagem e estreitando relações através da promoção do trabalho coletivo e cooperado
entre os agentes sociais envolvidos (MORGADO, 2006).
O presente trabalho desenvolvido na Unidade Escolar Polivalente Lima Rebelo - CETI,
pertencente à rede pública de ensino do município de Parnaíba-PI, teve por objetivo ensinar e
demonstrar aos alunos a preparação, plantio e obtenção de hortaliças de forma que os mesmos
tivessem uma vivência socioambiental através da prática na horticultura exigindo observação
reflexão diária, principalmente, sobre suas práticas alimentares.

MATERIAIS E MÉTODOS

Este trabalho foi desenvolvido na Unidade Escolar Polivalente Lima Rebelo, CETI
situada no município de Parnaíba, PI com 20 alunos do 1º e 2º ano do ensino médio.
Inicialmente foi desenvolvido um projeto, que foi executado pelos os bolsistas do PIBID com
o auxílio da supervisora sob orientação da coordenadora do programa. Logo após a elaboração
173
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

do projeto, ocorreu a apresentação do mesmo para a coordenação da instituição assim como


para os professores. Em seguida a aprovação do projeto, aconteceu à conversação e
apresentação da proposta para os discentes alvos.
Para iniciar o projeto, foi realizado um processo de sensibilização com os alunos, através
de uma palestra áudio visual, discutindo os principais pontos do projeto e seu desenvolvimento,
assim como, foram delineadas metas para o cumprimento do cronograma de execução,
destinando tarefas para os grupos nomeados entre os alunos, delegando funções especificas para
a realização e manutenção da horta na escola.
Após a etapa inicial de apresentação, foi realizado um levantamento de materiais
necessários para a realização do projeto e o mesmo apresentado para a coordenação da
instituição. Com a aprovação dos materiais solicitados para a escola, iniciou-se o trabalho de
preparação do local para ser implantada a estrutura da horta. O projeto necessitou da interação
e cooperação constante de todo o grupo de alunos, professores e funcionários envolvidos na
causa.
Após a preparação do ambiente físico, ocorreu uma nova reunião com todos os alunos e
profissionais envolvidos, para delinear como seria o procedimento de plantio das hortaliças. Os
grupos anteriormente formados ficaram responsáveis por trazerem semente e/ou mudas de
hortaliças que seriam implantadas na horta. Ao final das discussões foi estipulado uma data
para ocorrer o plantio das mesmas. Importante salientar que para o plantio necessitou de um
tempo previamente para que a matéria orgânica estivesse pronta.
Passado o período de maturação da matéria orgânica, todos os grupos trouxeram o
material biológico que haviam disponibilizado a conseguir, ocorrendo na data prevista o plantio
das semente e mudas. Concluído a segunda fase do projeto, uma nova reunião foi realizada para
articular a rotatividade dos grupos na manutenção da horta, o que envolvia regar as hortaliças
diariamente, a retirada de ervas daninhas, o controle de incidência solar sobre os cultivares,
entre outros procedimentos eventuais.
Ressalta-se que foi importante ampla revisão bibliográfica especifica sobre o assunto
realizado pelo bolsista do PIBID, sendo o mesmo responsável pelo desenvolvimento da
atividade.
Com a execução do cronograma, foi estipulado uma data para à socialização junto a
comunidade escolar, alunos, corpo administrativo, corpo docente, e familiar dos alunos, para
que assim toda a comunidade envolvida dentro do meio escolar pudesse ter conhecimento sobre
o projeto que estava sendo realizado na instituição. 174
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Com a finalidade de tomar conhecimento sobre o feedback do projeto logo após a


socialização foi aplicado um questionário semiestruturado, aos discentes com questionamentos
básicos e objetivos sobre a importância do projeto horta na escola para a melhoria da
consciência socioambiental, assim como, para seu conhecimento sobre hábitos alimentares
saudáveis.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

O presente estudo é resultado de uma pesquisa realizada com educandos do 1º e 2º ano


do ensino médio que frequentam a rede pública da área urbana do município de Parnaíba Piauí.
O diálogo com as turmas ocorreu através de grupos de discussões, com a temática meio
ambiente e sustentabilidade enfatizando a implantação de uma horta orgânica na escola. No
decorrer do processo, pudemos observar que os alunos demonstraram grande interesse pelo que
estava sendo discutido. Aparentemente, os participantes manifestaram bastante atenção nas
discussões e atividades propostas acerca da temática.
Com o intuito de mensurar o aproveitamento do projeto aplicamos e analisamos 20
questionários semiestruturado respondidos pelos participantes do projeto ao final do mesmo,
onde constatamos que eles reconhecem a importância da conservação do meio ambiente assim
como do uso de práticas sustentáveis. uscando um maior entendimento acerca do que os alunos
compreendem sobre o assunto alimentos orgânicos, lançamos o seguinte questionamento: Você
sabe o que é uma horta orgânica? A resposta mais recorrente com 14 respondentes (70%)
afirmaram compreender o significado da temática acima, no entanto 11 (30%) alunos afirmaram
desconhecer o termo.
Sansonovicz e Gacioli (2015) define em um trabalho similar que a horticultura orgânica
é o sistema de produção que exclui o uso de fertilizantes sintéticos de alta solubilidade,
agrotóxicos, reguladores de crescimento e aditivos para a alimentação animal, compostos
sinteticamente. Sempre que possível baseia-se no uso de estercos animais, rotação de culturas,
adubação verde, compostagem e controle biológico de pragas e doenças.
Os alunos também foram indagados se eles tinham conhecimento sobre o porquê é mais
saudável o consumo de hortaliças orgânicas? 11(55%) dos entrevistados relataram conhecer a
justificativa para esta afirmação e 9 (45%) dos discentes afirmaram desconhecer esta afirmação.
Diversos autores relatam que os alimentos produzidos sob sistema orgânico possuem,
frequentemente, teores de vitamina C superiores aos produzidos convencionalmente,
175
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

(ARVANITI; ZAMPELAS, 2003). Desta forma, parece importante lembrar o papel da escola,
colaborando para construção e desenvolvimento da consciência crítica dos pais e dos próprios
alunos acerca de suas preferências e escolhas alimentares (COSTA; SCHMITZ, 2005).
No transcorrer da entrevista busca-se inferir se os respondentes consideravam importante
ter uma horta orgânica na escola. As respostas foram positivas, pois percebeu-se que a maioria
dos entrevistados, cerca de 14 alunos (70%), afirmaram reconhecer a importância da mesma
contrapondo a 6 (30%) que não consideraram importante a implantação de uma horta orgânica
na intuição. Jardzwski (2005) afirma em seu trabalho que,
A horta na escola oferece benefícios para todo corpo escolar, através da
diminuição de gastos com a alimentação, permite a colaboração dos
alunos, enriquecendo o conhecimento deles, estimula o interesse dos
alunos pelos temas desenvolvidos com a horta, além de fornecer
vitaminas e sais minerais importantes à saúde dos alunos
(JARDZWSKI p. 4, 2005).

Em relação à alimentação na escola, os alunos foram abordados com a questão: a


alimentação distribuída pela escola atualmente contém hortaliças?” Os discentes em sua
maioria afirmaram que, às vezes a escola serve hortaliças na alimentação 13 (65%), dos
entrevistados, 3 (15%) afirmaram que hortaliças está presente na alimentação da instituição e 4
(20%) responderam desconhecer este tipo de alimento na escola em que estudam, conforme
quadro abaixo.
Mancuso et al. (2013) discute que a aceitação dos alimentos, principalmente hortaliças é
influenciado por diversos fatores, entre eles questões de familiaridade com os alimentos, que é
resultado, principalmente, das experiências da criança com os mesmos, sendo necessário expô-
la ao alimento rejeitado várias vezes. Sullivan e Birch (1994) mostraram em seu trabalho que a
aceitação de novos alimentos aumenta por meio do contato direto e exposições repetidas com
os mesmos.
Com o objetivo de constatar como era a alimentação diária dos discentes foi lançado o
seguinte questionamento: você costuma ingerir hortaliças frequentemente em sua alimentação?
A maioria 11 (55%) afirmaram não consumir frequentemente hortaliças e 9 (45%) dos
entrevistados responderam que consomem diariamente hortaliças em suas refeições.
A maioria dos entrevistados, que somam um total de 14 discentes (70%), afirmaram que
“acharam interessante a iniciativa por parte do bolsista do PIBID em implantar uma horta
orgânica na escola”, 2 (10%) responderam que “acharam interessante o projeto” e 4 (20%) dos
alunos consideraram a iniciativa parcialmente interessante.
176
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Pimenta e Rodrigues (2011) coletaram resultados similares em um trabalho realizado em


uma Escola pública do bairro de Capuava (GO), onde a comunidade escolar relatou que através
da horta foi possível contribuir diretamente na merenda dos alunos, levando alimento de boa
qualidade, sem agrotóxico, inserindo na alimentação escolar um habito mais saudável, sendo o
custo benefício do projeto de valor inestimável, por valorizar o meio ambiente e proporcionar
conhecimento.
Os alunos também foram questionados sobre: “você considera importante que seja dado
continuidade no projeto horta na escola? Pôde-se observar que, nas respostas um maior número
de entrevistados 11 (55%) afirmaram que é de suma importância que o projeto tenha
prosseguimento na escola, 3 (15%) relataram que não querem continuar participando do projeto
e 6 (30%) responderam que “tanto faz”.
Santos (2014) discute em seus resultados, que para a comunidade a influência da horta na
merenda escolar e na mudança de hábitos alimentares tornou-se bastante notório durante as
refeições realizadas na escola. Essa sensibilidade construída por meio do projeto evidencia
garantias de uma sustentabilidade ecológica, na comunidade escolar, além de contribuir em
novas formas de pensar e agir dos educandos, já que anteriormente o consumo desses alimentos
eram menos evidente pelas merendeiras durante as refeições e no cardápio.

CONCLUSÃO

No decorrer do desenvolvimento desse projeto na escola, os discentes puderam


disseminar os seus conhecimentos com todo o colegiado, assim como com os seus familiares,
onde foi possível observar grande desenvoltura dos mesmos quando demonstraram grande
interesse no desenvolvimento do projeto e manutenção do mesmo.
Na análise dos questionários aplicados após as atividades, ficou evidente o aprendizado
dos alunos em relação ao tema exposto, o que torna possível afirmar que projetos desenvolvidos
em ambientes externos à sala de aula são ferramentas excelentes de trabalho que envolve e
instiga os alunos a participarem ativamente, revelando uma boa atividade para ser executada
com os alunos.

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INTERPRETAÇÃO AMBIENTAL NA UNIDADE DE CONSERVAÇÃO NA


FLORESTA NACIONAL PALMARES ALTOS- PIAUÍ
Thalita Gomes da Silva
Marcus Morais Silva
Patrícia Maria Martins Nápolis
RESUMO
O contato com meio natural é salutar para a vida do ser humano, permitindo novos aprendizados
e experiências. As trilhas disponibilizam possibilidades para interpretação, sensibilização e
práticas de educação ambiental. Baseado neste contexto, o presente trabalho tem como objetivo
catalogar Pontos Interpretativos nas Trilhas pertencente à Unidade de Conservação (UC)
Floresta Nacional (FLONA) Palmares, Altos - Piauí, além de mapear área. Os dados foram
coletados nos dias 05 e 06 de abril de 2019, por meio do método de Indicadores de Atratividade
de Pontos Interpretativos (IAPI). Esse método contribui para a transmissão de conhecimento e
sensibilização em áreas naturais. Foram percorridas sete trilhas da unidade de conservação com
a finalidade em examinar e demarcar os pontos interpretativos, permitindo uma conexão maior
entre natureza e ser humano.

Palavras-chave: Trilhas interpretativas; Ensino Não Formal Unidade de Conservação.

ABSTRACT

Contact with the natural environment is salutary for the life of the human being, allowing new
learning and experiences. The trails provide possibilities for interpretation, awareness and
environmental education practices. Based on this context, the present work aims to catalog
Interpretive Points in trails belonging to the Conservation Unit (UC) Floresta Nacional
(FLONA) Palmares, Altos - Piauí, in addition to mapping area. Data were collected on April 5
and 6, 2019, using the Interpretive Point Attractiveness Indicators (IAPI) method. This method
contributes to the transmission of knowledge and sensitization in natural areas. Seven trails of
the conservation unit were covered in order to examine and demarcate the interpretative points,
allowing a greater connection between nature and the human being.

Keywords: Interpretive tracks; Teaching Non-Formal Conservation Unit.

INTRODUÇÃO

A procura do ser humano pelo entendimento, significado e contato direto com os


espaços naturais pode ser apontada como uma das atividades mais propensas da atualidade, uma
vez que está cada vez mais compreensível pela sociedade a desconexão entre o ser humano e o
meio ambiente, a devassidão dos recursos e das paisagens naturais motivadas pelas ações
antrópicas.

As trilhas são rotas definidas pelo manejo da vegetação e do pisoteio dos visitantes em
uma determinada área, aspirando à preservação, conservação e delimitação do impacto
180
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

ambiental, sendo excelentes espaços para que haja interação e aproximação entre humano e a
natureza, uma vez que ambos são pertencentes entre si (Mendonça, 2011) afirma que é
necessário o ser humano se entender como parte da natureza, devendo existir uma reciprocidade
por parte do humano e não só vê a natureza com distanciamento e de forma utilitária.
A Unidade de Conservação (UCs) são áreas naturais passíveis de proteção cujo
propósito é a conservação do habitat e do ecossistema natural. Divididas em duas categorias:
UC de uso sustentável, que possibilitam a extração dos recursos naturais de forma equilibrada
propiciando o desenvolvimento de atividades econômicas, sociais e ambientais, e UC é de
proteção integral objetiva a proteção da natureza por isso o acesso é exclusivo, as regras e
normas restritas, por exemplo, não é permitindo a coleta ou danos aos recursos naturais. As
categorias de uso sustentável são: área de relevante interesse ecológico, floresta nacional,
reserva de fauna, reserva de desenvolvimento sustentável, reserva extrativista, Área de Proteção
Ambiental (APA) e Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN). Já as categorias de
proteção integral são: estação ecológica, reserva biológica, parque, monumento natural e
refúgio de vida silvestre. (ICMBio 2019)
Diante das diversas ameaças antrópicas que afetam a biodiversidade, até mesmo em
áreas protegidas, o desenvolvimento de práticas ambientais é indispensável para a preservação
das espécies locais. Diante disso, a Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000, estabeleceu o Sistema
Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), visando à conservação da variedade de
espécies biológicas e dos recursos genéticos no território nacional e nas águas jurisdicionais, a
proteção das espécies ameaçadas de extinção e a valorização econômica e social da diversidade
biológica.
Perante a situação da biodiversidade brasileira o Ministério do Meio Ambiente (MMA)
acompanhado de perto pela Comissão Nacional da Biodiversidade (CONABIO), que tem papel
relevante na discussão e implantação das políticas sobre a biodiversidade, bem como identificar
e propor áreas e ações prioritárias para pesquisa, conservação e uso sustentável dos
componentes da biodiversidade. Uma das grandes preocupações é com as espécies brasileiras
ameaçadas de extinção, sobre exploração - exploração excessiva, não-sustentável, em com
consequências negativas que, cedo ou tarde, serão prejudiciais do ponto de vista
físico/quantitativo, qualitativo, econômico, social ou ambiental, requerendo políticas
específicas de recuperação tanto de fauna terrestre e aquática como de flora. Ocorre que o
processo de extinção está relacionado ao desaparecimento de espécies ou grupos de espécies
em um determinado ambiente ou ecossistema. (MMA, 2019) 181
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

As áreas destinadas à proteção dos diversos ecossistemas necessitam de uso e


administração planejados, de modo que sua conservação seja garantida e contemple as
finalidades ambientais, científicas, culturais, recreativas e econômicas (MILANO, 2001).
Assim, as atividades de educação e lazer em ambientes com relevante potencial paisagístico e
grande biodiversidade podem se tornar importantes ferramentas para conservação e preservação
desses espaços (JESUS & RIBEIRO, 2006).
As trilhas são utilizadas com frequência em projetos como meio de interpretação
ambiental visando não somente a oportunidade de conhecimentos, mas também propiciando
atividades que analisam os significados dos eventos observados no ambiente, bem como as
características do mesmo (ZANIN, 2006). Além de propiciar o contato com a natureza, o
descanso, a fruição, são também meios eficazes na interação ser humano/natureza e podem
contribuir na formação da sensibilização ambiental (SIQUEIRA, 2004). Esse mecanismo têm
sido um dos meios mais utilizados para a, tanto em ambientes naturais, como em ambientes
construídos (VASCONCELLOS, 1997). A interpretação ambiental é uma possibilidade em
introduzir nos seres humanos a compreensão e apreciação em relação ao meio ambiente.
De acordo com Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMbio) no
Brasil um sistema de trilhas só foi realizável na criação do primeiro Parque Nacional de Itatiaia
em 1937 situado na Serra da Mantiqueira, nos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro. Em
contrapartida, atualmente estão muito presentes em programas educativos para uso público,
permitindo o desenvolvimento de atividades de educação ambiental tanto em âmbito formal
quanto informal. Para Vasconcellos 2006, p.12 a Educação Ambiental é definida como uma
dimensão dada ao conteúdo e a prática da educação, orientada para resolução de problemas
concretos do meio ambiente, por meio de enfoques interdisciplinares e de uma participação
ativa e responsável de cada indivíduo e da coletividade.
Segundo Mello (2006), um método importante na Educação Ambiental é transformar a
teoria da sala de aula em prática, usando os recursos ecológicos na qual se destacam as trilhas
interpretativas. Uma trilha pode ser compreendida como um caminho feito propositalmente e
manejado em ambiente natural ou rural, com grau limitado de intervenção, apresentada como
ferramenta educativa, atrativo turístico, infraestrutura e equipamento recreativo. É importante
também levar em consideração que muitas vezes as trilhas precedem a criação das Unidades de
Conservação onde se encontram.
A Educação Ambiental possibilita a formação de valores e atitudes sensíveis à
diversidade, à complexidade e à solidariedade diante dos outros seres humanos e da natureza
182
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

(CARVALHO, 2004). Por isso, é necessário não só oferecer informações, como também propor
experiências que reconstruam a conexão entre o ser humano e a natureza (TOMAZELLO;
FERREIRA, 2001).
Uma boa interpretação depende de uma boa escolha de pontos interpretativos, dos
atrativos, dos temas e assuntos que serão abordados, e das atividades que serão desenvolvidas
durante o percurso (TEXEIRA; NAPOLIS, 2018).
Portando objetivo desse trabalho foi catalogar Pontos Interpretativos nas Trilhas
pertencente à Unidade de Conservação (UC) Floresta Nacional (FLONA) Palmares, Altos -
Piauí, além de mapear área. Contudo, para que haja efetividade nos Pontos Interpretativos é
necessário um planejamento bem elaborado, contendo etapas, ações e investigação para resultar
em cooperação melhor entre o ser humano e a natureza.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Área de estudo
A pesquisa foi desenvolvida na Unidade de Conservação Floresta Nacional Palmares-
FLONA Palmares, localizada no município de Altos, no Estado do Piauí. A mesma se encontra
a cerca de 20 km da capital Teresina, na BR 343, no km 327. É oficializada pelo diploma legal
de criação: Decreto Presidencial s/nº de 21 de fevereiro de 2005 e gerenciada por um chefe,
analistas, estagiários, voluntários do ICMbio, guias e seguranças terceirizados. De acordo com
ICMbio a FLONA Palmares está inserida em uma zona de transição entre os biomas Caatinga
e Cerrado, caracterizada como área de tensão ecológica sob forma de enclave ecótono. Tem
como objetivos: promover o manejo e uso múltiplo dos recursos florestais, a pesquisa científica,
a manutenção das espécies nativas e a proteção dos recursos naturais, além da recuperação de
áreas degradadas e a educação ambiental. (MMA, 2019).
Essa Floresta é uma Unidade de Conservação Federal de Uso Sustentável. É uma
floresta estacional semi-decidual, formada por vegetação típica do Cerrado com espécies
botânicas da Caatinga. Segundo levantamento florístico (LIMA, 2013), feito em maio de 2004
e publicado em 2013, foram feitas 20 parcelas permanentes de 1.000m², totalizando uma área
amostral de 02 hectares, no qual foram identificados 1.435 indivíduos arbóreos entre 87
espécies diferentes. Em referência à fauna da área, é possível observar várias espécies de
animais mamíferos, insetos, aves, répteis e anfíbios, sobre os indivíduos arbóreos das quais
podemos citar: Caneleiro (Cenostigma macrophyllum), Tuturubá (Pouteria macrophlylla),

183
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Imburana de Cambão (Bursera leptophloeos), Cedro (Cedrela fissilis), Ipê (Tabebuia


chrystricha), Marfim (Balfourodendron riedelianum).
As trilhas da FLONA Palmares foram feitas por antigos caçadores que frequentavam a
região, logo em seguida, a área foi instituída como Unidade de Conservação. As trilhas
abrangem novos significados como possibilidades para conservação, turismo ecológico,
pesquisa, aula de campo, desenvolvimento sustentável dentre outros. Existe também na
FLONA Palmares o projeto socioeducativo ambiental denominado de “Mirim Cidadão” em
parceria com Polícia Militar do Piauí, no qual participam, semanalmente, aproximadamente
cerca de 30 crianças e adolescentes que possuem uma faixa etária de 05 a 17 anos de idade.
Sua estrutura física é composta por uma sede administrativa central, dividida em vários
setores: pesquisas científicas, sala de aulas, alojamentos masculinos e femininos, galpão,
banheiros, casa do administrador, estufas de mudas nativas, energia elétrica e água de poço
tubular com sistema de encanação distribuída em todos os setores da sede. Após a área de
recepção da FLONA, localizam-se as entradas para as trilhas dentro da floresta, com uma
disponibilidade de 11 trilhas, sendo sete abertas à visitação. As trilhas foram nomeadas
conforme suas características marcantes, com nomes populares de árvores da flora encontradas
na floresta, a saber: trilha do Ipê ou principal, trilha do Cedro, Tuturubá, Babaçu, Jatobá,
Aroeira, LTS (linha de transição), destaque para trilha Caneleiro que está desativada devido
ação antrópica, no lugar da trilha foi feito um muro de concreto, onde divide a UC de um projeto
imobiliário e as trilhas Sapucarana, Marfim e Sapucaia estão inativas.

Trilhas e Pontos Interpretativos


Durante os meses de março a maio de 2019 foram realizados, pelo Grupo de Pesquisa
em Educação Ambiental e Etnoconhecimento (GPEEA)v, visitas semanais ao FLONA
Palmares. Para a realização das atividades foi adotado o método de Indicadores de Atratividade
de Pontos Interpretativos (IAPI), além de ficha de campo para anotações em cinco trilhas.
O Método IAPI, aqui adotado e adaptado a nossa realidade, consiste em planejar e traçar
pontos estratégicos nas trilhas com valores e atrativos, que desperte o interesse e a curiosidade
do visitante. O método IAPI compreendido por Vasconcellos (2006) simplificou em quatro
fases, para facilitar a marcação e aumentar o grau de apreciação dos pontos interpretativos pelo
visitante e aderir ao máximo aos fatores abiótico e biótico existentes na área. No quadro abaixo
mostra as fases e a descrição do passo a passo do adotado:
Quadro 01- Etapas do método IAPI
184
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Fase 1: Fase 2: Levamento Fase 3: Elaboração Fase 4: Seleção


Levantamento dos e Seleção de da Ficha de Campo: Final:
Pontos Relevantes Indicadores:
para Interpretação:
Nessa fase inicial foi Momento em que é A intensidade era Nessa fase os pontos
feito um selecionado os atribuída a cada
que obtiverem maior
reconhecimento da pontos ao mesmo indicador, depois
área, a fim de tempo foram alterado em uma pontuação na ficha
conhecer bem o local registrados os somatória de
de campo devem ser
e marcar os pontos. recursos naturais pontuação com
visíveis para a valores de 1 a 3 com selecionados como
escolha de alguns referência a
Pontos
indicadores de qualidade do
atratividade por visitante, que, ao Interpretativos sendo
exemplo: final depois de
considerado por
diversidade, beleza e avaliados permitiram
conforto. A escolha determinar os seguinte índice de
dos indicadores de principais pontos da
atratividade.
atratividade trilha. É importante
utilizados na ressaltar que cada
avaliação dos pontos área analisada deverá
selecionados deve ter uma ficha de
fundamentar-se na campo própria,
facilidade de sua contendo os
identificação em elementos
campo e na considerados mais
possibilidade de importantes.
repetição desta
avaliação outros
observadores.
Fonte: Elaboração própria 2019.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O percurso das trilhas foi no intuito de examinar e demarcar os pontos interpretativos.


Para isso foi utilizado um GPS da marca Gramin 72HTM que possibilitou a demarcação dos
pontos de interesse e relevantes da área. Foram percorridas sete trilhas que são: Aroeira, Linha
de transição (LTS), Ipê, Babaçu, Jatobá, Cedro e Tuturubá, destacado na cor vermelha como
mostra a figura 01 abaixo:

Figura 01: Mapa do percurso das trilhas da FLONA Palmares.

185
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Fonte: Elaboração Sala verde- UFPI/2019.

Durante o percurso nas trilhas foi possível observar primatas, espécies conhecidas
popularmente de Bugio (Alouatta sp.) e macaco-prego (Sapajus sp.) e observar árvores de
grande porte, pegadas de pequenos animais, variedades de insetos. FLONA apresenta vegetação
florestal semelhante mata atlântica e arvores nativa do cerrado e da caatinga, a maioria do
terreno apresenta-se plano, solo arenoso argiloso e rochoso, alguns pontos apresenta elevações
bem acentuadas e presença de pedras soltas, animais que podem ser encontrados como: cervos,
cotia, paca, gambá, cobras, primatas e avifauna, indicativos de queimadas, cantos de pássaros,
pele de cobra e outros, assegurado da grande diversidade da fauna e flora desta Unidade de
Conservação.
O quadro abaixo demonstra a duração, tamanho e o grau de dificuldade de cada trilha
interpretada. Afirmando que o tempo gasto nos percursos das trilhas dependerá das condições
reais dos envolvidos.

Quadro 02: Aponta o tempo de duração, tamanho e o grau de dificuldade de cada trilha interpretada.
Nomes Tamanho Tempo de percurso Grau de dificuldade
Trilha Aroeira 1.575 m 1h e 45min. Moderada

186
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Trilha Ipê 1.435 m 1h e 30 min. Baixo


Trilha Jatobá 300 m 40 min. Baixo
Trilha Cedro 1.404 m 60 min. Baixo
Trilha Tuturubá 243 m 15 min. Baixo
Trilha Babaçu 400 m 20 min. Baixo
Trilha LTS 853 m 30 min. Baixo
Fonte: Elaboração própria 2019.

Durante as caminhadas nas sete trilhas, constituídas: Trilha Aroeira, Trilha do Babaçu,
Trilha Cedro, Trilha do Ipê, Trilha Jatobá, Trilha Tuturubá e Trilha LTS, foram selecionados
46 pontos principais, possível de atratividade, em que foram feitas anotações e marcações em
cada ponto escolhido. No quadro 03 mostra os 46 pontos marcados.

Quadro03- Pontos selecionados


Numeração Nome da Pontos Interpretativos. Descrição dos Pontos e
Trilha Atratividades (Abordagem)
dos Pontos
P1 T. Aroeira Entrada da Trilha Registrada a presença de
primatas, macaco prego
(Sapajus sp).
P2 T. Aroeira Eucalipto (Eucalyptus) Abordagem de vegetação
exótica introduzida
P3 T. Aroeira Elevação do Terreno Início da 1º elevação da trilha,
predominância: solo rochoso.
Subida com auxílio de cordas.
P4 T. Aroeira Ubiratan (Crescentia Árvore ocorrência no norte e
cujete) nordeste, observado presenças
de primatas.
P5 T. Aroeira Jacarandá (Jacaranda Diferentes tipos de solo
mimosifolia)
P5 T. Aroeira Imburana (Commiphora Características do bioma
leptophloeos) Mata Atlântica
P6 T. Aroeira Cajá (Spondias mombin) Árvores frutíferas
P7 T. Aroeira Aroeira (Schinus Árvore símbolo e que nomeia
terebinthifolius) a trilha.
P8 T. Aroeira Angico Branco Importância da vegetação
(Anadenanthera nativa
colubrina)
P9 T. Aroeira Entroncamento a direita. Término da trilha Jatobá.
P10 T. Aroeira Caneleiro (Cenostigma Árvore nativa da caatinga
macrophyllum)/Subida a
esquerda
P11 T. Aroeira Cupinzeiro Relações Ecológicas 187
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

P12 T. Aroeira Caneleiro (Cenostigma Indicativo de queimada.


macrophyllum)/Cedro
(Cedrela fissilis)
P13 T. Aroeira Descida Estudos sobre declives no solo
P14 T. Aroeira Sapucaia (Lecythis
Importância da conservação
pisonis) vegetação
P15 T. Aroeira Caneleiro (Cenostigma Indícios de queimadas, solo
macrophyllum) arenoso.
P16 T. Aroeira Jatobá (Hymenaea Importância da vegetação
courbaril) nativa
P17 T. Aroeira Final da trilha Discutir conceitos de
preservação
P18 T.LTS Capinzal (Pennisetum Presença de vegetação
setaceum) primaria com arbusto e solo
argiloso.
P19 T.LTS Rocha Solos rochosos
P20 T.LTS Entroncamento Discutir conceitos ecologicos
P21 T. Ipê Início Introduzir conceitos de Meio
ambiente natural
P22 T. Ipê Entroncamentos Abordagem de Educação
ambiental
P23 T. Ipê Bancos Introduzir conceitos
científicos
P24 T. Jatobá Entrada Importância das Unidades de
Conservação
P25 T. Jatobá Cedro (Cedrela fissilis) Presença de primatas, prego e
bugio.
P26 T. Jatobá Portal Jatobás. Discutir
sustentabilidade
P27 T. Jatobá Angico Branco Abordagem da flora local.
(Anadenanthera
colubrina)
P28 T. Babaçu Entrada Abordagem histórica da
ocupação do lugar.
P29 T. Babaçu Bambuzal (Bambusa Indicador de queimada.
vulgaris)
P30 T. Babaçu Solo Arenoso Característico de solo pobre
em nutrientes.
P31 T. Babaçu Caneleiro (Cenostigma Árvore símbolo
macrophyllum)
P32 T. Babaçu Final Discutir a relação do ser
humano com a natureza
P33 T. Tuturubá Entrada Abordagem interdisciplinar
na natureza
P34 T. Tuturubá Entroncamento Abordagem educativa sobre
flora nativa
P35 T. Tuturubá Cajazeira (Spondias Árvore predominante do
mombin) bioma Cerrado
188
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

P36 T. Tuturubá Cipó de escada Vegetação do Cerrado.


(Bauhinia Splendens)
P37 T. Tuturubá Bancos Importância de discutir
conservação
P38 T. Cedro Início Início com educação
ambiental
P39 T. Cedro Angico Branco Árvore medicinal.
(Anadenanthera
colubrina) e Cupinzeiro
P40 T. Cedro Caneleiro (Cenostigma Árvore símbolo
macrophyllum)
P41 T. Cedro Tuturubá (Pouteria Árvore símbolo
macrophylla)
P42 T. Cedro Presidio Discutir problemas sociais
P43 T. Cedro Impactos Discutir problemas
socioambientais
P44 T. Cedro Pente de Macaco Árvore símbolo
(Pithecoctenium
crucigerum)
P45 T. Cedro Bebedouro Natural Importância para
sobrevivência de algumas
espécies
P46 T. Cedro Final Processo de sensibilização
Fonte: Elaboração Própria.
Após ter executada as fases 01 e 02 do método IAPI foi aplicado uma segunda ficha de
campo representado no quadro 03, seguindo o método e adequando as condições encontradas
sendo assim possível através da análise e pontuação selecionar os principais pontos da trilha.
Foi denominado de Pontos Interpretativos aqueles que obtiveram maior pontuação, os valores
eram de 1 a 3 pontos e no final foi feita a somatória, por seguinte era marcado o ponto. Foram
selecionados no total das sete trilhas 46 pontos potenciais à interpretação e desse foram
selecionados 14 pontos interpretativos representado no quadro 04.

Quadro 04-Ficha de campo indicando os 14 pontos escolhidos.


TEMA SUBTEMAS INDICADORES

Interação e Tipos Animais Tipos de Diversidade Beleza Conforto Valor


percepção de solo nativos vegetação Total dos
em pontos
ambiente
natural.
Ponto 01 X X 2 2 3 7
Ponto 02 X 2 2 3 7

189
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Ponto 03 X X 3 3 2 8
Ponto 04 X 3 3 2 8
Ponto 05 X 2 3 2 7
Ponto 06 X 2 3 2 7
Ponto 07 X X 2 2 2 6
Ponto 08 X X 3 2 2 7
Ponto 09 X 3 2 2 7
Ponto 10 X 3 2 2 7
Ponto 11 X X 2 3 2 7
Ponto 12 2 3 2 7
Ponto 13 X X 2 3 3 8
Ponto 14 X 2 3 3 8
Fonte: Elaboração própria 2019.

Do ponto 01 ao 05 e do 07 ao 12 havia potencialidades de indicativos de beleza e


diversidade. No local existem diversas espécies de árvores que chamam atenção pela sua
imponência, grande porte, outras com predominância de cipós e galhos. No ponto 03 é ideal
para ficar em silêncio e ouvir o som da floresta e a diversidade de avifauna. No ponto 06: terreno
plano e presença de solo rochoso. Nos pontos 13 e 14 ficava os bancos, ponto de descanso,
momento de conversas, local escolhido para roda de conversas, reflexão e sensibilização.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As trilhas interpretativas são recursos naturais capazes de promover vários


direcionamentos e objetivos importantes para benefícios da vida, não só do ser humano como
também para espaço natural no qual precisa ser mais preservado e conservado. Foi possível
constatar que o método IAPI desenvolvido por Magro e Freixêdas e adaptado por Vasconcellos
favoreceu para a triagem dos pontos interpretativos contribuindo para as escolhas de cada ponto.
Portando observou-se que os registros dos pontos interpretativos proporcionam intensa
interação com a natureza possibilitando ao individuo uma mudança significa de valores.
Adquirindo conhecimento através do contato íntimo com a natureza.

190
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

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192
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

LEVANTAMENTO DE ÁREAS NATURAIS PROTEGIDAS PARA


ATIVIDADES DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Laís Fernanda Ferreira Rodrigues
Francisco Lucas da Silva Marques
Patrícia Maria Martins Nápolis
RESUMO

As Unidades de Conservação são áreas naturais de suma importância para a conservação do


meio ambiente, por serem espaços legalmente protegidos por lei, tornam-se locais ideais para a
prática de atividades de educação ambiental não formal, pois além de possuírem riqueza em
biodiversidade, fazendo com que as pessoas tenham um contato direto com a natureza, também
podem serem abordados assuntos relacionados à cultura, à história dos povos que já viveram
nessas áreas, entre outros. O objetivo desse trabalho foi fazer um levantamento de locais em
quatro Unidades de Conservação: Floresta Nacional (Flona) Palmares; Área de Preservação
Ambiental (APA) Delta do Parnaíba; Parque Nacional (PARNA) de Ubajara e PARNA Serra
da Capivara para ações de Educação Ambiental. As coletas aconteceram entre os meses de
março a maio de 2019. Por meio de visitas in locu registros de campo. Foram levantados e
escolhidos 20 pontos para planejamento e ações práticas de Educação ambiental. Pode se
perceber que há inúmeros locais nas UC’s para abordagem da educação ambiental. Os
levantamentos fazem-se necessários, pois pode-se planejar e sugerir medidas mitigadoras,
sendo uma forma de contribuição para que áreas naturais protegidas mantenham -se
conservadas por meio de práticas de educação ambiental.
Palavras-chave: Unidade de Conservação, Educação Ambiental, Ensino não Formal e
biodiversidade.

ABSTRACT
Conservation Units are natural areas of paramount importance for the conservation of the
environment, because they are legally protected spaces by law, they become ideal places for
the practice of non-formal environmental education activities, because in addition to having
wealth in biodiversity, making people have a direct contact with nature, issues related to culture
can also be addressed , to the history of the peoples who have lived in these areas, among others.
The objective of this work was to survey sites in four Conservation Units: National Forest
(Flona) Palmares; Environmental Preservation Area (APA) Parnaíba Delta; National Park
(PARNA) of Ubajara and PARNA Serra da Capivara for Environmental Education actions. The
collections took place between March and May 2019. Through visits in locu field records.
Twenty points were collected and chosen for planning and practical actions of Environmental
Education. You can see that there are numerous locations in UC's to approach environmental
education. The surveys are necessary, because it can be planned and suggested mitigating
measures, being a form of contribution for protected natural areas to remain preserved through
environmental education practices.
Keywords: Conservation Unit, Environmental Education, Non-Formal Education and
Biodiversity.

193
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

INTRODUÇÃO

De acordo com lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999 “Entende-se por educação ambiental
não formal as ações e práticas educativas voltadas à sensibilização da coletividade sobre as
questões ambientais e à sua organização e participação na defesa da qualidade do meio
ambiente’’ (BRASIL, 1999).
Para LIBÂNEO (1985) entende-se por educação não formal aquela estruturada fora do
sistema escolar convencional, podendo referir-se tanto a trabalhos em escolas, em atividades
extracurriculares como à comunidade em geral.
A educação ambiental não formal, por ser desenvolvida fora do ambiente escolar, torna-
se responsabilidade de toda a sociedade. Portanto como ela pode ser aplicada fora das escolas,
qualquer espaço pode ser trabalhado EA como praças, parques, museus e etc. Outro local
estratégico para a prática de ações de EA são as unidades de conservação, por serem locais de
conservação do meio ambiente, possuem uma rica biodiversidade. De acordo com OLIVEIRA
et al (2017) os espaços que geralmente são proporcionados estes tipos de programas educativos
são no interior das UC’s, que por sua vez estão voltadas para o uso público, com gestão
participativa, sendo um espaço peculiar em promover ações sociais.
Segundo Torres (2008), as UC’s recebem um público bastante diversificado, como
turistas, pesquisadores, estudantes e os moradores do entorno, porém o público alvo das ações
de EA para a sensibilização ambiental nas UC’s, geralmente são os estudantes. De acordo com
VALENTI ET et al (2012) Nos trabalhos de educação ambiental que seguem uma linha
pedagógica conservadora e comportamental, é muito comum a priorização do público infantil
com a justificativa de que as crianças é que terão o papel de mudar o futuro do planeta. Observa-
se que as ações de EA nas UC’s na maioria das vezes ficam restritas apenas com
crianças/estudantes. Esse artigo teve como objetivo realizar um levantamento de Unidades de
Conservação que tenham potencial para o desenvolvimento de atividades de Educação
Ambiental.

UNIDADES DE CONSERVAÇÃO

Conceituadas pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC),


as Unidades de Conservação são definidas como um ‘’espaço territorial e seus recursos
ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes,
legalmente instituídos pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos,
194
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

sob-regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção’’


(BRASIL, 2000). As Unidades de Conservação são dividias pelo SNUC em duas grandes
categorias: as de proteção integral e as de uso sustentável.
As Unidades de Proteção Integral têm como principal objetivo a proteção da natureza,
por isso as regras e normas são mais restritivas. Já as Unidades de Uso Sustentável são como
as áreas que visam conciliar a conservação da natureza com o uso sustentável dos recursos
naturais.
Nesse sentido, as Unidades de Conservação, frente a atual crise ambiental e
sociocultural, têm a difícil missão, juntamente com outros instrumentos de conservação e
preservação ambiental, de servir como ferramenta para a preservação dos mais diversos
ecossistemas que formam os mais diversos biomas, assegurando as características naturais
destes, servindo de amparo para a fauna e flora, além de propiciar um ambiente viável à vida
de populações e a continuidade de habitats naturais. (BRASIL 2000)
No entanto, e frente ao atual e errôneo conceito de desenvolvimento sustentável –
pautado no capitalismo com um discurso neoliberalista que mercantiliza o ambiente natural
gerando, de um lado, um crescimento econômico e uma transformação tecnológica como nunca
vistos antes e, por outro, a preocupante condição social de inúmeras pessoas, além de problemas
ambientais assustadores – as Unidades de Conservação encontram-se ameaçadas pelo
crescimento desordenado das cidades, por questões políticas e ideologias, além de ações ilegais
advindas da própria sociedade. Nas palavras de Pedlowski et al (1999) A distribuição espacial
e a forma geométrica das unidades de conservação, a proximidade das estradas e o grande
número de segmentos interessados na exploração dos recursos existentes dentro das áreas
protegidas contribuem para determinar o processo de proteção ambiental como uma tarefa
bastante difícil (PEDLOWSKI; DALE; MATRICARDI, 1999, p. 103)
À vista disso faz-se necessário a busca por ferramentas e estratégias que objetivem a
guarda e continuidade das UC’s para que seja garantida a representatividade dos biomas e
populações que nestes vivem. Tais ferramentas e estratégias encontram respaldo na Educação
Ambiental. Fato é que a Educação Ambiental, de acordo com Reigota (1998), por si só não é
capaz de resolver todos os atuais problemas ambientais, mas ela pode ser determinante na
formação de cidadãos com conhecimento e consciência dos problemas ambientais e, com esse
conhecimento, passam a atuar perante suas realidades buscando mudanças de comportamento.
A Educação Ambiental no contexto das UC’s deve permear dentro e no entorno dessas
áreas para que os mais diversos indivíduos zelem e protejam esses ambientes de preservação.
195
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Sendo assim, faz-se necessária uma Educação Ambiental crítica e emancipatória para que os
indivíduos e a coletividade, bem como as questões sociais e ambientais, sejam refletidos em
unidade. (MMA, 2019)
De forma mais geral, as atividades em educação ambiental nessas áreas têm como
objetivo a mudança de atitude dos indivíduos que vivem no entorno de cada UC em relação ao
lugar protegido para a formação de novos entendimentos e valores indispensáveis para a
conservação da biodiversidade e o desenvolvimento socioambiental da região. Muitas das
comunidades do entorno de algumas UC desconhecem sua existência e seus propósitos, não
sabem que aquela área é uma área protegida, onde muitos caçam, fazem retirada ilegal de
madeira. E este tipo de situação muitas das vezes não é levado por isso nesse contexto à
educação ambiental surge como uma ferramenta poderosa para a solução desses conflitos da
sociedade e UC.
A análise de propostas de desenvolvimento visando à conservação em unidades de
conservação pode contribuir para a identificação de elementos que questionem a
funcionalidade, as contradições e os limites do desenvolvimento sustentável, envolvendo, em
última instância, a reflexão sobre a relação entre a sociedade e o ambiente (TEIXEIRA, 2005).

BIODIVERSIDADE

O Brasil é um dos países mais ricos do mundo em megadiversidade, concorrendo com


a Indonésia pelo título de nação biologicamente mais rica do nosso planeta. Privilegiado como
é, todavia, raramente atrai atenção pelo que possui; particularmente, é criticado pelo que está
perdendo através do desmatamento; da conversão das paisagens naturais em reflorestamentos,
plantações de soja e pastagens; e da expansão industrial e urbana. Embora as ameaças à vida
silvestre e às paisagens naturais do país sejam dramáticas, o Brasil também tem se tornado um
líder mundial em conservação da biodiversidade, principalmente por causa de seu, sempre
crescente. (RUSSELL A.; GUSTAVO A. B; ANTHONY B.; KATRINA BRANDON; 2005)
A situação da biodiversidade brasileira é acompanhada de perto também pela Comissão
Nacional da Biodiversidade (Conabio), que tem papel relevante na discussão e implantação das
políticas sobre a biodiversidade, bem como identificar e propor áreas e ações prioritárias para
pesquisa, conservação e uso sustentável dos componentes da biodiversidade. Uma das grandes
preocupações do governo é com as espécies brasileiras ameaçadas de extinção, sobreexplotadas
- exploração excessiva, não-sustentável, em com consequências negativas que, cedo ou tarde,
serão prejudiciais do ponto de vista físico/quantitativo, qualitativo, econômico, social ou
196
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

ambiental - ou ameaçadas de sobreexplotação, requerendo políticas específicas de recuperação


tanto de fauna terrestre e aquática como de flora. Ocorre que o processo de extinção está
relacionado ao desaparecimento de espécies ou grupos de espécies em um determinado
ambiente ou ecossistema. (MMA 2019)

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Caracterização da Área

Este levantamento foi realizado nos municípios de Altos/PI - Floresta Nacional (Flona)
Palmares; Parnaíba/PI - Área de Preservação Ambiental (APA) Delta do Parnaíba, Ubajara/CE
- Parque Nacional (PARNA) de Ubajara e São Raimundo Nonato /PI- PARNA Serra da
Capivara (Figura 01).

Figura ¡Error! solo el documento principal. : Mapa de Localização das UCs envolvidas (Fonte própria)

O município de Altos está situado na região metropolitana da grande Teresina, possui


população estimada de acordo com o último censo (IBGE, 2016) de 38.822 habitantes.
A Floresta Nacional (Flona) de Palmares é uma unidade de conservação (UC) federal
de uso sustentável criada em fevereiro de 2005. Com área de 170 hectares, localizada no
município de Altos-Pi, é a primeira e única unidade de conservação de uso sustentável na
categoria de Floresta Nacional (ICMBIO, 2005).
A Área de Proteção Ambiental (APA) Delta do Parnaíba foi criada em agosto de 1996,
possui uma área de extensão de 307.590,51 hectares e abrange três estados do Nordeste, Piauí,
Maranhão e Ceará, percorrendo todo litoral Piauiense. A APA abrange 10 municípios: Tutoia,

197
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Paulino Neves, Araioses e Água Doce no Maranhão, Ilha Grande, Parnaíba, Luís Correia e
Cajueiro da Praia no Piauí, Chaval, Barroquinha no Ceará (ICMBio, 1996).
O Parque Nacional de Ubajara, no Ceará, Unidade de Conservação Federal de Proteção
Integral, localizado nos municípios de Ubajara, Tianguá e Frecheirinha, está aberto à visitação,
onde dispõe de alguns atrativos tais como: trilhas, mirantes, grutas e cachoeiras. (ICMBio,
2002).
O Parque Nacional (Parna) da Serra da Capivara foi criado através do Decreto de nº
83.548 de 5 de junho de 1979, com área de 100.000 hectares. Localizado no semiárido
nordestino, fronteira entre duas formações geológicas, com serras, vales e planície, o parque
abriga fauna e flora específicas da Caatinga. O parque está situado no município de Coronel
José Dias, (ICMBIO, 1979). De acordo com o instituto brasileiro de geografia e estatística
(IBGE, 2018), o município possui uma população aproximadamente de 4.678 habitantes.
O trabalho foi desenvolvido nos meses de março a maio de 2019, o levantamento foi
realizado através de registros fotográficos e registro de campo. Trata-se de um de um estudo
qualitativo adotando como aporte a pesquisa de observação (VIANA, 2003; TEIXEIRA, 2015)
e a pesquisa de campo (FONSECA, 2002) na composição dos resultados. Nesse sentido temos
que a pesquisa de observação, sendo adotada como uma técnica científica e como método de
coleta de dados é uma importante fonte de informação nas pesquisas em educação. Ela deve ser
tratada com muito cuidado, pois exige técnicas específicas para ter valor científico e ser capaz
de alcançar os objetivos definidos pelo pesquisador (TEIXEIRA, 2015). No mais, pressupõe-
se que a realização de uma pesquisa de observação deve ter objetivos criteriosamente traçados,
um planejamento oportuno, além de um registro sistemático dos dados e a verificação da
validade de todo o desenrolar do seu processo e da confiabilidade dos resultados (VIANA,
2003).
Nesse sentido, VIANA (2003) defende que a observação casual é diferente da
observação de cunho científico. Para o autor a observação científica tem o objetivo de coletar
dados que sejam pertinentes, válidos, confiáveis e convenientes com as finalidades da pesquisa
sendo que essa coleta roga a imersão do pesquisador no campo de trabalho. No mais, um estudo
adotando como subsídio a observação requer além de um bom planejamento, um sustentáculo
teórico-científico para que o estudo venha a possuir uma acepção científica. No mais, é
importante destacar que na pesquisa de observação o pesquisador deve minimizar ao máximo
sua influência durante as análises já que, por evidente, é impossível eliminá-lo do local já que
a sua presença é indispensável para tal pesquisa (VALLADARES, 2007). 198
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Ao mesmo tempo, a Pesquisa de Campo é defendida por VIANA (2003) como sendo a
observação de fatos e fenômenos tal como ocorrem espontaneamente. Ela tem o objetivo de
obter informações e/ou conhecimentos a respeito de um problema, para o qual se procura uma
resposta, ou de uma hipótese, que se queira comprovar, ou, ainda, descobrir novos fenômenos
ou as relações entre eles. Consiste na observação de fatos e fenômenos tal como ocorrem
espontaneamente, na coleta de dados a eles referentes e no registro de variáveis que se
presumem relevantes, para analisá-los (LAKATOS; MARKONI, 2003, p. 186).
As fases da pesquisa de campo podem ser sintetizadas em: realização de uma pesquisa
bibliográfica sobre o tema em questão; de acordo com a natureza da pesquisa, devem-se
determinar as técnicas que serão empregadas na coleta de dados e na determinação da amostra;
antes que se realize a coleta de dados é preciso estabelecer tanto as técnicas de registro desses
dados como as técnicas que serão utilizadas em sua análise posterior (LAKATOS; MARKONI,
2003, p. 186).

RESULTADOS E DISCUSSÃO
A partir dos dados coletados em campo, foi feito um quadro de proposições de
atividades de educação ambiental, a serem desenvolvidas nas unidades de conservação, foi
elaborado um quadro com temas geradores, em locais que podem ser trabalhados nas UCs, são
assuntos que podem ser usados estimular ações, pesquisas e desenvolvimento de projetos de
conservação da biodiversidade do local.

Figura 2- Atividade para se trabalhar Educação Ambiental

Unidade de Conservação Assuntos/ Locais que podem ser Temas Geradores


trabalhados

FLONA de Palmares · Trilha Interpretativa

(Altos - Pi) · Fauna Local

· Flora Local
Biodiversidade
· Relações Ecológicas

· Bioma Cerrado

199
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Delta do Parnaíba · Praias

(Parnaíba - PI) · Bioma restinga Conservação


· Lixo

· Manguezal

· Ecoturismo

Parque Nacional de · Bioma Mata Atlântica


Ubajara (Ubajara - CE)
· Extinção de Espécies Espécies ameaçadas
· Espécies Endêmics

·Recursos Hídricos
Conservação

Parque Nacional da Serra · Bioma Caatinga Uso de ocupação humana


da Capivara
· Formação Rochosa
(Coronel José dias- PI)
· Evolução

· Tipos de Solos

· Arte Rupestre

A UC é um ótimo local para conhecer a biodiversidade presente no bioma cerrado, uma


maneira de isso acontecer seria por meio da realização de trilhas interpretativas, já que a UC
possui algumas trilhas com pontos de interpretação. Segundo (SAMPAIO; GUIMARÃES,
2009) as trilhas interpretativas devem ser realizadas em locais que possuem uma vasta
biodiversidade, com o objetivo de serem contemplados suas plantas, animais e fungos. A UC
flona de palmares é um ótimo local para conhecer a biodiversidade presente no bioma cerrado,
uma maneira de isso acontecer seria por meio da realização de trilhas interpretativas, já que a
UC possui algumas trilhas com pontos de interpretação, que através de aulas de campo podem
ser explorados vários temas como a fauna, flora e todas as relações ecológicas presente nesse
bioma. Segundo (SAMPAIO; GUIMARÃES, 2009) as trilhas interpretativas devem ser
realizadas em locais que possuem uma vasta biodiversidade, com o objetivo de serem

200
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

contemplados suas plantas, animais e fungos. A Educação ambiental sempre esteve relacionada
a conservação da biodiversidade, da ecologia seus sistemas de vida (Sato, 2002).

Figura 3 Cenostigma macrophyllum Figura 4 Cedrela fissilis

(Conhecida popularmente como Caneleiro) (Conhecido popularmente como Cedr o)

Na APA delta do Parnaíba deve ser trabalhado a questão de conservação do bioma


restinga e do manguezal, através de atividades de educação ambiental. De acordo com
(DANTAS), 2012 a Educação Ambiental pode assumir um papel transformador, no qual a
responsabilização dos indivíduos permite o estabelecimento de um novo tipo de
desenvolvimento. A EA pode ser, portanto, um instrumento para modificar um quadro crescente
de degradação socioambiental. Na UC, o ecoturismo é realizado, porém deve ser trabalhada
com os turistas a sensibilização ambiental sobre a importância de manter as praias limpas e a
conservação da vida marinha.

Figura 5: Mangue do Delta do Parnaíba Figura 6: Margem do rio Parnaíba

201
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

No Parque Nacional de Ubajara, foi observada uma riquíssima diversidade de espécies


tanto na fauna como na flora. Os dados apresentados contribuem significativamente para o
conhecimento e ensino da Educação Ambiental se forem trabalhados corretamente no ensino
não formal. Principalmente com o tema as espécies ameaçadas.

Figura 7: Tapirira guianensis Figura 8: Parque nacional de Ubajara

Na UC serra da capivara observou-se através de relatos de alguns populares que a


própria comunidade no entorno sabe da importância deste local para evolução humana, este
parque literalmente é uma laboratório a céu aberto, pois possui vários assuntos a serem
abordados em uma aula de campo, tais como aspectos do bioma caatinga, formações rochosas
e tipos de solos, também pode ser realizadas pesquisas sobre evolução através dos fósseis e
pinturas rupestres que foram encontrados nas cavernas e sítios arqueológicos. De acordo com
(MARIE, 2003) ‘’o parque nacional serra da capivara guarda informações muito importantes
sobre a pré-história brasileira. As pinturas rupestres que foram (e continuam sendo) encontradas
mostram que os primeiros vestígios humanos no continente americano foram deixados há mais

de 50 mil anos’’.

202
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Figura 9: Pintura rupestre da Serra da Capivara Figura 10: Vista Panorâmica da Serra da Capivara

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Educação Ambiental deve permear pelas mais diversas áreas. No âmbito das
Unidades de Conservação, estas são detentoras de um grande potencial para se trabalhar
metodologias embasadas na educação frente o meio ambiente.
O desenvolvimento do presente trabalho possibilitou uma análise das áreas visitadas sendo
adotado um olhar clínico para a elaboração de propostas de atividades de EA para essas
unidades de conservação. E pode se trabalhar de forma bem ampla diversos temas em cada UC
que foi visitada.
Pôde-se observar que nas quatros UC´s as atividades de EA são incipientes. Porém por
meio do levantamento realizado foi constatado que as UC´s possuem grande potencial para a
realização de ações de EA, por essa razão foi apontado sugestões por meio de eixos temáticos
em ambientes não formal
Tento em vista o quão as UC são carentes de atividades em EA, pode se observar durante
cada visita que o levantamento de atividades em Educação Ambiental não só é importante como
muito necessário em cada uma, pois através de cada atividade pode se trabalhar a preservação,
conservação do local e da biodiversidade através de atividades educativas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

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205
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

NÍVEIS DE ANSIEDADE PRÉ COMPETITIVA NUMA AULA DE KRAV


MAGA PARA ALUNOS DO PROJETO SOCIOEDUCATIVO AMBIENTAL
João Batista de Andrade Neto
Patricia Maria Martins Napolis
RESUMO
Este estudo investigou os níveis de ansiedade pré-competitiva em 25 alunos, com média de
idade entre 05 a 12 anos, sendo 20 do sexo masculino e 05 do sexo feminino, durante uma aula
experimental de Krav Maga – Defesa Pessoal Israelense, realizada pelo Projeto Socioeducativo
Ambiental Palmares, desenvolvido na Unidade de Conservação no Parque Nacional Floresta
dos Palmares na cidade de Altos PI em junho de 2019. Após explicação conforme resolução
196/96 do Conselho Nacional de Saúde e com autorização do responsáveis, os alunos
responderam ao questionário de ansiedade pré-competitiva (CSAI-2) 15 minutos antes da aula
experimental. O teste revelou que mais da metade dos alunos, independente de gênero
consideram a atividade proposta como um desafio com alto nível de importância, considerando
que os níveis de ansiedade cognitiva chegam a 54,28% e a somática 56,7, uma diferença de
(3,14%) quando comparado ao masculino na cognitiva e de (3,64%) na somativa, o que nos
assegura que o entre os gêneros, o feminino chegou a aula mais ansioso, mesmo em menor
número no estudo. No entanto, no tocante a autoconfiança, percebeu-se que o gênero masculino
obteve um maior valor, sendo a diferença apresentada de (13,21%), fato este atribuído ser este
gênero mais propenso as atividade de (L/AM/MEC). Este trabalho contribui para uma reflexão
sobre da ansiedade provocada em novas situações, criadas pela implantação de atividades
práticas em Projetos Sociais com crianças, possibilitando assim, conhecer como variam os
estados de ansiedade e de autoconfiança em uma nova experiencia, sabendo que a ansiedade
poderá afetar positivamente ou negativamente no rendimento posterior dos alunos, devendo ser
motivo de atenção aos coordenadores, professores, técnicos, psicólogos e estudiosos da área.

Palavras-chave: Ansiedade; Krav Maga; Competição; Unidade de Conservação.

ABSTRACT

This study investigated the levels of pre-competitive anxiety in 25 students, with a mean age
between 05 and 12 years, 20 males and 05 females, during an experimental class of Krav Maga
– Israeli Personal Defense, carried out by the Palmares Environmental Socio-Educational
Project, developed at the Conservation Unit in the Floresta dos Palmares National Park in the
city of Altos PI in June 2019. After being explained according to resolution 196/96 of the
National Health Council and with the authorization of the guardian, the students answered the
pre-competitive anxiety questionnaire (CSAI-2) 15 minutes before the experimental class. The
test revealed that more than half of the students, regardless of gender, consider the proposed
activity as a challenge with a high level of importance, considering that cognitive anxiety levels
reach 54.28% and somatic 56.7, a difference of (3.14%) when compared to males in cognitive
and (3.64%) in the summative, which assures us that the between genders, the female came to
the most anxious class, even in smaller numbers in the study. However, regarding self-
confidence, it was noticed that the male gender obtained a higher value, being the difference
presented of (13.21%), a fact attributed to this gender being more prone to the activities of
(L/AM/MEC). This work contributes to a reflection on anxiety provoked in new situations,
created by the implementation of practical activities in Social Projects with children, thus
making it possible to know how the states of anxiety and self-confidence vary in a new
206
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

experience, knowing that anxiety may positively or negatively affect the students' later income,
and should be a reason for attention to coordinators, teachers, technicians, psychologists and
scholars in the area.

Keywords: Anxiety; Maga Krav; Competition; Conservation Unit.

INTRODUÇÃO

A temática ansiedade pré-competitiva atualmente é objeto de inúmeras pesquisas e estudos


na área da Psicologia do Esporte e da Educação Física. A competição esportiva ou a
participação em uma atividade desconhecida, ocupa um lugar de destaque entre os fenômenos
sociais em todo mundo.
Da pratica em projetos sociais; clubes, escolinhas, academias e escolas até aquelas feitas
em praças públicas ou até nas ruas, os benefícios psicológicos proporcionados pelo esporte são
amplamente discutidos na literatura, como por exemplo: a prevenção e tratamento de alterações
psíquicas em jovens, bem como, a atenuação e agressividade, diminuição do estresse maior
tolerância; emocional ao estresse desenvolvimento emocional e de traços; positivos do caráter,
como a disciplina, o trabalho em equipe e o respeito entre pares, dentre outros, (BERTUOL e
VALENTINI, 2006).
Para Gaya e Cardoso (1998) as criancas e adolescentes se engajam na pratica esportiva para
aprender novas habilidades; exercitar-se; divertir-se; fazer novos amigos; participar de desafios;
competir; obter sucesso; realizar-se pessoalmente e excitar-se por meio de jogos.
Como parte integrante das atividades do Projeto Socioeducativo Ambiental Palmares
desenvolvido há 11 anos, na Floresta Nacional de Palmares na cidade de Altos PI, foi realizada
uma aula experimental de Krav Maga no dia 18 de junho de 2019, aos alunos do Projeto. O
Krav Maga é um método de defesa pessoal desenvolvido no Estado de Israel em 1940, que se
utiliza de movimentos de torções, projeções, socos e chutes para a defesa pessoal.
Esta modalidade de luta detém hoje, uma crescente relevância social e contemporaneidade,
dada a sua popularidade mundo afora, visando estimular o desenvolvimento do ser integral,
físico, emocional, espiritual, profissional dos participantes, o que parece ter despertado algo
singular nos alunos. Andrade Neto (2009)
Assim, aponta-se ser fundamental entender as forças psicológicas que agem sobre um aluno
de um Projeto Social inserido em uma atividade de luta desconhecida, e se o novo desafio pode
desorganizar o seu comportamento. Neste caso, um aspecto digno de consideração é a
ansiedade, que pode provocar problemas psicológicos principalmente no início da adolescência,
207
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

período em que os alunos estão em fase de formação física, psíquica e na busca da sua própria
identidade.
Relacionando a ansiedade-estado competitiva com outros fatores no esporte como a
atividade física saudável propostas pelo Projeto Socioeducativo Ambiental Palmares e o estado
emocional dos alunos observado na aula de Krav Maga, buscou-se investigar os níveis de
ansiedade pré-competitiva, em relação ao desempenho obtido por eles.

METODOLOGIA
Amostra
Para a composição dos participantes utilizou-se uma amostra intencional constituída de 25
alunos, com média de idade entre 05 a 12 anos, sendo 20 do sexo masculino e 05 do sexo
feminino matriculados no Projeto Socioeducativo Ambiental Palmares, desenvolvido na
Unidade de Conservação no Parque Nacional Floresta dos Palmares na cidade de Altos PI.
Todos os sujeitos participaram livre e espontaneamente do estudo conforme preconiza a
resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde e com autorização do responsável.
O Parque (FLONA) é uma Unidade de Conservação federal com 170 hectares e grande
diversidade na fauna e flora, localizado em uma área de transição entre caatinga e cerrado.
Sendo hoje uma área de proteção ambiental pertencente ao Instituto Chico Mendes de
Conservação da Biodiversidade (ICMBio/MMA) que tem o objetivo de proteger os recursos
naturais, manutenção das espécies nativas, promoção de pesquisas científicas e uma opção para
quem busca relaxar nas grandes sombras das árvores

Instrumentos e Procedimentos na coleta dos dados

O instrumento utilizado foi um questionário denominado Inventário do Estado de


Ansiedade Competitiva - II (CSAI-2), traduzido e validado para português por Raposo (2004).
O questionário é composto por 27 questões, são divididas em 3 subescalas (ansiedade
cognitiva, ansiedade somática e autoconfiança), nas quais o sujeito opta por quatro graus
correspondente ao seu estado momentâneo: 1 = nada, 2 =alguma coisa, 3 = moderado e 4 =
muito, de acordo com a pergunta. A pontuação das subescalas é obtida pela somatória das
respostas, com pontuação variando de 9 a 36. Para propósitos de interpretação, os dados da
ansiedade cognitiva, somática e autoconfiança são categorizados em baixa (de 9 a 18 pontos),

208
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

média de (19 a 27 pontos) e alta de (28 a 36 pontos). O questionário foi aplicado 15 min antes
da aula no dia 18 de junho de 2019. (Foto 1)
Os dados foram tratados por meio de estatística descritiva (média e desvio padrão). Uma
planilha foi construída por meio do software Excel XP.
RESULTADO E DISCUSSÃO
3.1 Resultado
Tabela 1 – Distribuição percentual, média da ansiedade-estado cognitiva somática e
autoconfiança antes da aula.
Grupos N Ansiedade Cognitiva Ansiedade Somática Autoconfiança
Gêneros
Masculino 16 (64%) 25,57 26,53 32,94
Feminino 09 (36%) 28,71 30,17 19,73

Os dados obtidos através do questionário CSAI-2 mostram de forma básica que mais da
metade dos alunos, independente de gênero consideram a atividade proposta como um desafio
com alto nível de importância, considerando que os níveis de ansiedade cognitiva chegam a
54,28% e a somática 56,7.
O gênero feminino apresentou uma diferença de (3,14%) quando comparado ao
masculino na cognitiva e de (3,64%) na somativa, o que nos assegura que o entre os gêneros, o
feminino chegou a aula mais ansioso, mesmo em menor número no estudo.
No entanto, no tocante a autoconfiança, percebeu-se que o gênero masculino obteve um
maior valor, sendo a diferença apresentada de (13,21%), fato este atribuído ser este gênero mais
propenso as atividade de (L/AM/MEC).

DISCUSSÃO
No estudo de Silva (2012) é demonstrado que o nível de ansiedade é mais alto em
alunos/atletas jovens, em particular os pré-adolescentes, que em outras faixas etárias. Os jovens
alunos/atletas, com pouca experiência como nesta faixa etária de 05 e 12 anos de idade, por não
apresentar uma estabilidade emocional, por estarem conscientes do que está em jogo, e
manifestarem uma ansiedade de estado competitiva mais alta que os esportistas de mais idade,
ou com mais experiência.
A ansiedade é uma forma de expressão, diante dos efeitos da ação e vivência dos
processos, diante dos efeitos da ação e vivência dos processos emocionais. Nesse sentido

209
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

participar dos eventos esportivos/novas atividades nesta fase maturacional leva o indivíduo a
adquirir essa vivencia.
Para Cratty (1984) e Machado (1997), afirmam que estudos sobre ansiedade estado
revelam a presença desta e momentos que antecedem, durante e após as competições.
A ansiedade ocorre sempre por um “medo” do futuro, de algo que estará por vir, que já
acontece ou de situações outros que adivinhão em destes. Segundo Machado, (1997) é sabido
que o aluno/atleta entra em estado de ansiedade por não saber o que acontecerá na
competição/aula. Em seu decorrer, esta ansiedade se transforma , dando lugar a certo
relaxamento e após o término seu nível volta a oscilar pela expectativa da repercussão do
resultado. Futuramente, este estado final voltará a interferir no evento, uma vez que será o ponto
de partida para nova preparação, podendo alterar o desempenho de aluno/atleta, tanto positiva
como negativamente.
A ansiedade de estado acima do percentil de 33,78 é considerada normal nesta faixa
etária de 11 e 12 anos de idade, pois é considerada pelos autores que é impossível diminuir os
níveis de ansiedade, pois ela é vista como positiva.Para Martens citado por Rubio, (2003)
observa-se que o nível de ansiedade e mais alto em alunos/atletas jovens, em particular os pré-
adolescentes, que em outras idades.
Os jovens alunos/atletas com pouca experiência como nesta faixa etária 05 e 12 anos de
idade, por não apresentarem uma estabilidade emocional a suportar este tipo de pressão em uma
nova atividade, por estarem conscientes do que está em jogo, manifestam uma ansiedade -
estado competitiva mais alto que os esportistas de mais idade ou com mais experiência.
Assim sendo, buscam-se meios para atingir níveis ideais de ansiedade para cada aluno-
atleta desempenhar da melhor forma passível, visando principalmente o seu bem estar.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho contribui para uma reflexão sobre da ansiedade provocada em novas
situações, criadas pela implantação de atividades práticas em Projetos Sociais com crianças,
possibilitando assim, conhecer como variam os estados de ansiedade e de autoconfiança em
uma nova experiencia, sabendo que a ansiedade poderá afetar positivamente ou negativamente
no rendimento posterior dos alunos, devendo ser motivo de atenção aos coordenadores,
professores, técnicos, psicólogos e estudiosos da área.

REFERÊNCIAS 210
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

ANDRADE NETO. João Batista de. Defesa Pessoal e Bastão Tonfa. Campinas, SP, Editora
Gril, 2009.
_________________. Ensinando Lutas na Escola. Campinas, SP, Editora Gril, 2011.

Academia Brasileira de Ciências. O Ensino de ciências e a educação básica: propostas para


superar a crise. Rio de Janeiro. Academia Brasileira de Ciências, 2008. 56p.
L Bertuol. Valentini N.C. Revista da Educação Física. ansiedade competitiva de adolescentes:
gênero, maturação, nível de experiência e modalidades esportivas. Maringá, PR v. 17, n. 1, p.
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Cratty, B.J.; Psicologia do Esporte. Rio de Janeiro: Prentice-Hall do Brasil. 1984.
Rubio, K. Psicologia do Esporte: teoria e prática. São Paulo. Casa do Psicólogo. 2003.
Samulski, D.M. Psicologia do Esporte. São Paulo. Manole. 2002.
Silva, A. relação ansiedade estado e desempenho dos goleiros de futsal nas olímpiadas
escolares
Machado, A.A. Psicologia do Esporte. Temas Emergentes. Jundiaí. Ápice. 1997.
Guedes, D. P.; J. E. S. Netto. Participation Motivation Questionnaire: tradução e validação
para uso em atletas-jovens brasileiros. Revista Brasileira de Educação Física e Esportes. V. 27
n.1. São Paulo. 2013.

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

NOVOS REGISTROS E EXTENSÕES DE DISTRIBUIÇÃO DE AVES PARA A APA


DELTA DO PARNAÍBA, PIAUÍ, BRASIL

Jacianne Machado Sousa


Suely Silva Santos
Anderson Guzzi
RESUMO
A Área de Proteção Ambiental Delta do Parnaíba, localizada na foz do Rio Parnaíba, estado do
Piauí, abrigar ecossistemas marinhos onde ocorrem endemismos e alta biodiversidade, mas com
uma avifauna ainda pouco conhecida. O objetivo deste trabalho foi registrar e ampliar a
distribuição de duas espécies de aves com ocorrência nesta área: Anas bahamensis (marreca-
toicinho), Gampsonyx swainsonii (gaviãozinho), ambas registradas no município de Parnaíba
em dois pontos distintos. A primeira, com maior extensão de distribuição, foi G. swainsonii,
em que a ocorrência mais próxima está localizada no Parque Nacional Serra da Capivara/PI, a
cerca de 600 km. A. bahamensis, que apresentou uma extensão de distribuição de
aproximadamente 176 km, distância equivalente entre Santo Amaro/MA, no Parque dos
Lençóis Maranhenses e este registro. Estas ocorrências piauienses permitem compor
mapeamentos pontuais da avifauna do Delta do Parnaíba, incentivando a aplicação de futuros
planos de conservação nesta área de proteção, dada sua relevância para estas e outras espécies
de aves que utilizam esta área para reprodução, alimentação e repouso.

Palavras-Chave: Ocorrência. Anas bahamensis. Gampsonyx swainsonii. Avifauna.

ABSTRACT

The Delta do Parnaíba Environmental Protection Area, located at the mouth of the Parnaíba
River, state of Piauí, house marine ecosystems where endemic diseases and high biodiversity
occur, but with a bird fauna still little known. The objective of this work was to record and
expand the distribution of two bird species occurring in this area: Anas bahamensis (marreca-
toicinho), Gampsonyx swainsonii (hawk), both recorded in the municipality of Parnaíba in two
distinct points. The first, with a greater distribution extension, was G. swainsonii, in which the
closest occurrence is located in the Serra da Capivara/PI National Park, about 600 km. A.
bahamensis, which presented a distribution extension of approximately 176 km, equivalent
distance between Santo Amaro/MA, in the Lençóis Maranhenses Park and this record. These
piauiense occurrences allow to compose specific mappings of the avifauna of the Parnaíba
Delta, encouraging the application of future conservation plans in this area of protection, given
their relevance to these and other species of birds that use this area for reproduction, feeding
and rest.

Keywords: Occurrence. Bahamensis anas. Swainsonii gampsonyx. Avifauna.

INTRODUÇÃO

O Brasil é apontado como um dos países onde ocorre uma das maiores diversidades
biológicas de aves no mundo, totalizando mais de 1.919 espécies, segundo o Comitê Brasileiro
212
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

de Registros Ornitológicos (PIACENTINI et al., 2015). Toda essa riqueza representa 17% de
todas as espécies já registradas, o que corresponde a aproximadamente 57% das espécies de
aves catalogadas em toda América do Sul (SICK, 1997). Cerca de 92% da avifauna do país é
composta por espécies residentes, sendo o restante das espécies (8%) classificadas como
migrantes (SICK, 1993).
Apesar de toda essa diversidade, o Brasil apresenta o maior índice de espécies
ameaçadas em todo Neotrópico (COLLAR, 1997) e um dos maiores em aves ameaçadas no
mundo, segundo levantamento da BirdLife International (CHNG et al., 2015), em que a
destruição e a fragmentação de habitats são apontadas como as causas mais relevantes para o
aumento destes números (MARINI; GARCIA, 2005). Esses e outros fatores elevam o país para
um nível considerável de prioridade em aplicações de investimentos em conservação (SICK,
1997).
A Área de Proteção Ambiental (APA) Delta do Parnaíba, localizada na zona costeira
dos estados do Ceará, Maranhão e Piauí, caracteriza-se por seus ecossistemas marinhos de
mangue e uma fauna e flora fortemente particularizadas (BRASIL, 2002). Situado na foz do
Rio Parnaíba, o Delta do Parnaíba é considerado o único em mar aberto das Américas e, de um
ponto de vista ecológico, determina a presença de endemismos e expressiva biodiversidade para
a região (MATTOS; IRVING, 2003).
Observando outros estudos realizados na região a diversidade e riqueza são semelhantes,
224 espécies foram amostradas na região norte do Piauí (CARDOSO et al., 2013; GUZZI et al.
2015; SANTOS, 2017; SANTOS, 2018; NASCIMENTO, 2018) e no Delta do Parnaíba 139
espécies diferentes de aves, das quais 113 foram consideradas residentes, 8 endêmicas do Brasil
e 17 visitantes do Hemisfério Norte (GUZZI et al., 2012).
O Delta do Parnaíba é apontado como uma área de concentração de aves no Brasil, e
destacado como área importante para sua conservação, que está diretamente relacionada com a
identificação de sítios de alimentação, repouso e reprodução, a perda de um sítio pode acarretar
na diminuição e até mesmo na extinção local de alguma espécie. Por isso, trabalhos de
monitoramento de populações são fundamentais para conhecimento e conservação das espécies
presente na área (TELINO-JUNIOR; AZEVEDO-JUNIOR; LYRA-NEVES, 2003; OLIVEIRA
et al., 2016). Nesse sentindo objetivou-se relatar o registro Anas bahamensis e Gampsonyx
swainsonii e ampliar suas distribuições para a Área de Proteção Ambiental (APA) Delta do
Parnaíba.

213
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

MATERIAL E MÉTODOS

ÁREA DE ESTUDO

O Delta do Parnaíba é uma região constituída por uma tensão ecológica, a qual abrange
a sudoeste, Cerrados, a leste, Caatinga e ao norte, ecossistemas marinhos, tornando tal área
como de importância ímpar para o litoral brasileiro (BRASIL, 2002). Visando, entre outros
objetivos, proteger as riquezas biológicas da fauna e flora da região, foi criada pelo Decreto
Federal de 28 de agosto de 1996, a Área de Proteção Ambiental (APA) Delta do Parnaíba, a
qual engloba uma área de 313.809 hectares.
A APA possui porções territoriais tanto na orla marítima quanto na plataforma
continental, abrangendo três estados, sendo eles: Ceará, nos municípios de Barroquinha e
Chaval; Maranhão, nos municípios de Água Doce, Araioses, Paulino Neves e Tutóia; e Piauí,
nos municípios de Cajueiro da Praia, Ilha Grande, Luís Correia e Parnaíba. A região ainda
interliga pontos turísticos importantes, como Jericoacoara, no Ceará, com os Lençóis
Maranhenses, no Maranhão (BRASIL, 1996).
A região em que esta APA se insere, caracteriza-se pelas vastas planícies flúvio-
marinhas entremeadas por uma rede de canais, os quais constituem as ilhas do delta. Neste
ambiente também predominam formações de mangues, que se desenvolvem graças aos
processos de acumulação flúvio-marinha, e dunas móveis no seu interior (ANDRADE et al.,
2012). São observadas cinco unidades geomorfológicas nesta área de proteção: faixa de praia e
dunas; planície flúvio-marinha; planície fluvial; tabuleiros costeiros; e maciços residuais dos
granitos de Chaval/CE (CHAVES et al., 2009).
Segundo a classificação de Köppen, o clima da região é do tipo tropical quente e úmido
(Aw), onde há um alto índice de pluviosidade demarcado pela influência da massa Equatorial
Atlântica ao longo dos meses de janeiro a junho (BASTOS, 2011). Como resultado das
variações que constituem o solo e da profundidade do lençol freático, a vegetação do delta
adquire características particulares, ocorrendo vegetação pioneira de dunas; vegetação de
Tabuleiros formada por mata seca, caatinga, cerrado e cerradão; vegetação de Mangues,
localizados nas proximidades dos fluxos de água; vegetação de Restinga; e de Caatinga
(CHAVES et al., 2009).

REGISTRO DAS ESPÉCIES 214


VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Os registros das espécies de aves ocorreram em Parnaíba, inserida na APA Delta do


Parnaíba. Foram registradas, em pontos distintos, Anas bahamensis e Gampsonyx swainsonii.
Considerando um transecto entre os pontos de registro, o registro de A. bahamensis tem,
aproximadamente, 21,85 km de distância do registro de G. swainsonii. Para o auxílio na
identificação das espécies foram utilizados guias de campo de ornitologia (SIGRIST, 2009a,
b). A nomenclatura científica e popular está de acordo com a lista de espécies das aves do Brasil
do Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos (PIACENTINI et al., 2015) e a International
Union for Conservation of Nature and Natural Resources (IUCN, 2017) foi utilizada para
identificação dos status de conservação das espécies.

Anas bahamensis
O registro de A. bahamensis ocorreu no dia 26 de abril de 2015 durante uma amostragem na
forma de transecto linear em uma área próxima a uma lagoa temporária no município de
Parnaíba, nas proximidades da Usina Eólica da Pedra do Sal (02°50'22.81"S, 41°41'56.46"O),
localizada na praia da Pedra do Sal. Os espécimes foram registrados com uma câmera digital
Nikon Coolpix P520 e identificados com auxílio de guia de campo.

Gampsonyx swainsonii
G. swainsonii foi registrado na região de Parnaíba, nas proximidades do rio Igaraçú
(03°01'32"S, 41°45'56"O), durante a realização de um transecto linear realizado entre os dias
30 de novembro de 2015 e 04 de dezembro de 2015. O espécime foi fotografado com câmera
digital Nikon Coolpix P520 e identificado com auxílio de guia de campo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Anas bahamensis
Foram registrados espécimes adultos (Figura 1) e filhotes (Figura 2) de Anas
bahamensis em uma área próxima à uma lagoa temporária, em área de restinga. A mesma
espécie também foi registrada por Almeida et al. (2012) em remanescentes de restinga (cordões
de dunas, lagoas e áreas de drenagens e formações arbustivas) ao longo da zona de expansão
urbana de Aracaju, Sergipe, ambiente semelhante ao do presente registro.

215
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Figura 1. Casal de marrecas-toicinho (Anas bahamensis) próximo à uma lagoa temporária, em Parnaíba/PI
(Couple of mallards (Anas bahamensis) next to a temporary pond in Parnaíba / PI)

Fonte: Foto cedida por Antônio Gildo Soares dos Santos

Figura 2. Espécime adulto de marreca-toicinho (Anas bahamensis) registrado com filhotes nadando na lagoa
(Adult specimen of mallard-toothed (Anas bahamensis) registered with cubs swimming in the lagoon).

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Fonte: Foto cedida por Antônio Gildo Soares dos Santos

Por tratar-se de uma espécie localizada dentro de um limite de distribuição estabelecido


por Carboneras (1992), que se estende desde o norte da América do Sul até o norte do Brasil,
sugere-se que esta possa pertencer a subespécie Anas bahamensis bahamensis Linnaeus, 1758.
Registros de anatídeos necessitam de mais detalhamentos, visto que as informações já
conhecidas desse grupo são deficientes e até escassas para a região nordeste do Brasil, sendo
estes mais estudados ao Sul do país (ACCORDI, 2010).
Os espécimes adultos registrados à beira da lagoa possuíam características que poderiam
sugerir uma distinção entre macho e fêmea, onde o macho possui uma mancha avermelhada
mais nítida no bico e um branco mais intenso na região das bochechas, já a fêmea possui estas
mesmas colorações, porém em cores opacas (CARBONERAS, 1992; SICK, 1997). A presença
do casal de adultos e dos espécimes filhotes (Figura 2) sugerem a utilização da lagoa temporária
para reprodução da espécie. Pereira (2010) afirma a importância da preservação desse tipo de
ambiente para o estabelecimento de populações de anatídeos e que perturbações ambientais,
geradas por fatores antrópicos, refletem de forma negativa, causando prejuízos a estas.

217
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Com uma tendência populacional estável e fora dos limites de vulnerabilidade, A.


bahamensis possui status de conservação de menor preocupação (LC) (IUCN, 2017). Porém a
família à qual pertence a espécie está entre as mais apreciadas pelos caçadores, devendo esta
merecer atenção quanto à sua preservação, principalmente em época de muda, onde acentuam-
se os seus índices de vulnerabilidade (FABIÃO et al., 2001).
O registro confirmado mais próximo ao atual no município de Parnaíba/PI, é de Soares
e Rodrigues (2009) em Santo Amaro/MA, no Parque dos Lençóis Maranhenses. O município
situa-se a aproximadamente 176 km a oeste em relação ao registro atual em Parnaíba. Assim o
presente registro apresenta uma ampliação da distribuição desta espécie em aproximadamente
176 km, o que corresponde à distância entre Santo Amaro e Parnaíba.

Gampsonyx swainsonii
Foi registrado um espécime de Gampsonyx swainsonii nas proximidades do rio Igaraçú
(Figura 3). Roos et al. (2006) também registraram no Lago de Sobradinho, Bahia, esta espécie
que habitava caatinga arbórea, formação vegetal predominante no local do atual registro em
Parnaíba. E Roda e Pereira (2006), em estudos no Centro Pernambuco, Nordeste do Brasil, a
consideraram rara, com apenas dois registros em toda a área amostral.

Figura 3. Gampsonyx swainsonii

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Fonte: Foto cedida por Antônio Gildo Soares dos Santos

O espécime em questão, localizado no norte piauiense, enquadra-se dentro do limite de


distribuição estabelecido por Thiollay (1994) para a subespécie Gampsonyx swainsonii
swainsonii Vigors, 1825, que se estende do Brasil ao sul do Rio Amazonas até o leste do Peru,
leste da Bolívia, Paraguai e norte da Argentina. Para Sigrist (2009b), no Brasil a espécie vem
sofrendo expansões, o que pode estar associado aos desmatamentos constantes na região
Sudeste do país, que ocasionam, segundo Pelanda e Carrano (2013), na devastadora redução da
Mata Atlântica, bioma em que ocorre intenso endemismos de aves.
Ave de rapina diurna, o gaviãozinho encontrava-se empoleirado no alto de uma
palmeira. Segundo Sick (1997), aves de rapina possuem elevada importância no equilíbrio
ecológico, uma vez que controlam populações das quais se alimentam. Assim os rapinantes são
também excelentes indicadores da qualidade ambiental, uma vez que desempenham importante
papel nesse nível trófico (FERGUSON-LEES; CHRISTIE, 2001).
Com uma tendência populacional aparentemente estável, G. swainsonii possui um status
de conservação ainda longe dos limiares de vulnerabilidade, que o permite ser considerado
como de menor preocupação (LC) (IUCN, 2017). Porém Sick (1997) afirma que os gaviões,
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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

em sua maioria, encontram-se ameaçados por fatores antrópicos, principalmente pela destruição
de seus habitats e sua caça indiscriminada. O que para Roda e Pereira (2006) torna a inclusão
do grupo indispensável nas políticas de conservação regionais.
O novo registro de G. swainsonii no município de Parnaíba ampliou a distribuição desta
espécie, uma vez que o mais próximo desta região era, segundo Olmos e Albano (2012), para
o Parque Nacional Serra da Capivara, no Piauí, distante 600 km, aproximadamente, desta
ocorrência. Godoi et al. (2012) afirmam a importância de registros pontuais de aves de rapina,
sobretudo das consideradas raras e ameaçadas, e em áreas ainda pouco estudadas, uma vez que,
dada sua relevância para a natureza, aumenta-se o conhecimento e conservação da
biodiversidade nestas áreas.
As informações obtidas neste trabalho demonstram que a distribuição de S. leucogaster
na área de estudo foi a maior, com aproximadamente 865 km de extensão, em que o registro
mais próximo localiza-se no Atol das Rocas/RN. Seguida por G. swainsonii, com cerca de 600
km, onde a ocorrência mais aproximada está no Parque Nacional Serra da Capivara/PI. E por
último, A. bahamensis, com 176 km, distância equivalente entre Santo Amaro/MA, no Parque
dos Lençóis Maranhenses e este registro.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As ocorrências registradas neste trabalho permitem compor os mapeamentos pontuais


avifaunísticos na região do Delta, contudo ainda são insuficientes para determinar aspectos mais
detalhados destas espécies, como densidade populacional, movimentos migratórios, entre
outros dados importantes na verificação da qualidade de ecossistemas e na investigação de
alterações sofridas no ambiente.
Os registros de A. bahamensis, G. swainsonii, ganham maior destaque por ocorreram na
Área de Proteção Ambiental Delta do Parnaíba, região ainda pouco conhecida quanto à sua
avifauna, o que permite à esta reter olhares para aplicação de futuros planos de conservação
destas e de outras espécies de aves que fazem desta área local para nidificação, repouso e
alimentação. Esses registros também podem gerar interesse para a implantação de novas
unidades de conservação na costa brasileira, assim como manutenção das já existentes.

REFERÊNCIAS

220
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

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STRAUBE, F. C.; ACCORDI, I.; PIACENTINI, V.; CÂNDIDO-JR., J. F. Ornitologia e
Conservação: ciência aplicada, técnicas de pesquisa e levantamento. Rio de Janeiro: Technical
Books Editora, 2010. p. 189-216.
ALMEIDA, B. J. M.; ALMEIDA, B. A.; SOUZA, A. G.; ESPARZA, J. M. R.; FERRARI, S.
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TERESINA, EMBRAPA MEIO-NORTE. 32 p., 2011.
BRASIL. Zoneamento ecológico-econômico do baixo rio Parnaíba. Subsídios técnicos,
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BRASIL. Decreto n° 99.274, de 6 de junho de 1990. Dispõe sobre a criação da Área de Proteção
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OBSERVAÇÃO SOBRE A DIMENSÃO ESPACIAL DA GEOGRAFIA APLICADA


AO TURISMO NA PRAÇA DA GRAÇA NA CIDADE DE PARNAÍBA - PIAUÍ
Denilson Damasceno Costa
Joyce Lara Ribeiro Santos Silva
Solano de Souza Braga

RESUMO
Este artigo tem como objetivo principal mostrar como a Praça da Graça, localizada na cidade
de Parnaíba, litoral do Piauí, se desenvolve em termos sociais, geográficos e turísticos. Para
isso, este estudo buscou apresentar os elementos que constituem o espaço da Praça da Graça,
com uma reflexão acerca do homem enquanto transformador e ator do cenário. Para chegar
neste objetivo, realizou-se um levantamento geográfico e aplicado nas atividades turísticas que
rodeiam o locus de estudo, a partir das discussão de autores que norteiam a geografia e aplicada
ao turismo sendo Milton Santos e Adyr Apparecida Balastreri Rodrigues, e o comportamento
do ser humano analisado por Iving Goffman, foi utilizado o método de pesquisa observação
participante para análise de dados da pesquisa. Com isso, entendeu-se que a Praça da Graça é
um dos principais espaços diversificados, que atende tanto os moradores locais quanto os
turistas.

Palavras-chave: Praça da Graça, Elementos, Turismo, Transformação, Homem.

ABSTRACT

This article aims to show how Praça da Graça, located in the city of Parnaíba, coast of Piauí,
develops in social, geographical and tourist terms. For this, this study sought to present the
elements that constitute the space of Praça da Graça, with a reflection about man as transformer
and actor of the scenario. To reach this goal, a geographic survey was carried out and applied
in the tourist activities surrounding the study locus, based on the discussions of authors who
guide geography and applied to tourism being Milton Santos and Adyr Apparecida Balastreri
Rodrigues, and the behavior of the human being analyzed by Iving Goffman, the participant
observation research method was used for analysis of research data. With this, it was understood
that Praça da Graça is one of the main diversified spaces, which serves both locals and tourists.

Keywords: Praça da Graça, Elements, Tourism, Transformation, Man.

INTRODUÇÃO
O presente trabalho surge pela necessidade de compreender a caracterização da Praça
da Graça como elemento constitutivo e, de certa forma reflexo, do espaço geográfico central da
cidade de Parnaíba – Piauí. Fazendo jus a organização deste lugar, sendo as praças partes
presentes nos centros urbanos, logo pretende-se apresentar como as mesmas se transformam a
partir dos elementos constituintes e “atuantes” neste espaço. Atentai bem, essa palavra servirá
de norte para a compreensão do ser “homem” e transformador, e sua influência na construção

224
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

do meio e ocupação do espaço. Também demonstrando a relação estreita que há entre a


Geografia, o Turismo e a Sociedade.
Estudos sobre uma percepção geográfica, turística e social andam quase sempre
entrelaçados. É o que se pode observar partir de pesquisas sobre os elementos constitutivos do
espaço e das categorias de análise espacial de Milton Santos (1985) e as observações Sócio
antropológicas de Irving Goffman (1975). As praças estão presentes na realidade de todos os
espaços urbanos, porém ir a campo, pensar, observar e produzir conhecimento sobrepondo
apenas o que está visível nesses espaços não é comum. Logo, surge um interesse sobre estas
perspectivas que podem ser observadas e desmembradas em diversas partes, contribuindo para
o conhecimento cientifico, empírico e social.
Para o embasamento teórico, foi utilizado como principal fonte o texto “Natureza e
Métodos de Análise do Espaço do Turismo”, escrito por Adyr Apparecida Balastreri Rodrigues,
em homenagem a Milton Santos e publicado no livro “O Mundo do Cidadão, o Cidadão do
Mundo” (RODRIGUES, 1996) , além da leitura de caráter sócio antropológica “A
representação do eu na vida cotidiana” de Irving Goffman (1985), trazendo nesse contexto uma
compreensão sobre a perspectiva social do espaço, além de textos complementares sobre a
abordagem dessa pesquisa, utilizando do método observação participante, sendo de fato uma
pesquisa de natureza qualitativa. Foi utilizado registro fotográfico, e as imagens recolhidas
foram destacadas ao longo do texto para que se possa ter uma melhor visualização de cada um
dos pontos trabalhados.
Pretende-se contribuir com a pesquisa científico e social, de tal forma a perceber este e
outros espaços com outros olhares, enriquecer o pensamento empírico por meio do que está
circundado e suas transformações, além da realização de pesquisas e/ou projetos que possam
contribuir com estes espaços, e a quem participa deles. Pretende-se, ainda, motivar a pesquisa
“observador participante” e ao, mesmo tempo, contribuir para o planejamento de um Turismo
mais justo à todos.
O objetivo deste artigo é fazer a análise dos elementos constitutivos do espaço e das
categorias de análise espacial, buscando compreender melhor o espaço geográfico do conjunto
Praça da Graça, sendo esta parte da história da cidade de Parnaíba. Também busca-se descrever,
por meio da observação participante e da antropologia urbana, como ocorre a transformação da
mesma, de fato por meio de uma acuidade mais antropológica. Sendo assim, é de relevância
realizar o levantamento destes elementos que caracterizam a praça, e como pode influenciar nas
atividades turísticas e contribuir para a sociedade. 225
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO


Parnaíba é um município localizado no litoral do Piauí (MAPA 1), possui
aproximadamente uma área de 435, 573 km² e uma população estimada de 150, 547 habitantes,
segundo dados do IBGE (2010). Dentre os atrativos turísticos da cidade, a Praça da Graça é um
dos que possuem maior relevância, tanto por sua importância histórica, quanto pelo fato de ser
um dos locais com maior fluxo de pessoas. Diariamente, é possível notar um grande fluxo de
pessoas naquela área em comparação com as outras praças existentes na cidade, isso se deve
em grande parte à vastidão de equipamentos situados dentro e no entorno de seu perímetro.

MAPA 1: localização de Parnaíba no litoral piauiense. Fonte: BORGES (2018: 203)

A Praça da Graça, principal objeto de estudo dessa pesquisa, foi fundada em 1917 pelo
intendente Nestor Veras, na cidade de Parnaíba no Piauí, antes de sua fundação era conhecida
como “Lagoa da Onça” nos tempos de feitorias, posteriormente recebeu o nome de “Largo da
Matriz, assim como foi o local onde foi dado o grito de independência do Brasil” (IBGE, 2019).
Esta nasceu de um local onde apenas existia uma grande área quadrada coberta por terra e
cercada por vegetação nativa. Foi por anos um dos principais pontos de sociabilização da
comunidade parnaibana após a saída do cinema, no não mais existente, Cine Teatro Éden.
Atualmente o local é composto por diversos elementos que caracterizam a praça e há
um fluxo diário de pessoa nas dependências da praça, e abriga importantes objetos de valor
histórico para a cidade, dentre eles: O monumento da independência, o marco zero, a igreja de
Nossa Senhora da Graça e a igreja do Rosário. “Os espaços livres existentes nas cidades e
marcados pelas aglomerações humanas estavam, em geral, relacionados à existência de
mercados populares (comércio) ou ao entorno de igrejas e catedrais” (VIEIRO E BARBOSA,
2009, p. 1/3). Além disso, costuma ser palco de alguns eventos da cidade, principalmente
226 de
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

cunho religioso, devida à presença das duas igrejas sendo a Igreja Nossa Senhora das Graças, e
a Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos.
A praça passou por várias transformações ao decorrer dos anos, desde sua fundação, até
o período atual. A proficuidade diária na praça deve-se à grande concentração de equipamentos
ali dispostos, e nas suas proximidades, que atendem as necessidades de cada um. Através das
transformações pelas quais a praça passou, foram implantados bancos, lotéricas, correios, lojas,
bancas de revistas, além da presença constante dos vendedores ambulantes. Conforme esses
novos equipamentos foram adicionados à praça, o lugar foi ganhando uma nova forma, até
atingir o seu atual estado.

O HOMEM COMO TRANSFORMADOR DO ESPAÇO


De início, é de suma importância compreender o que é a observação participante, sua
importância para o pesquisador, e como alcançar seus objetivos por meio desse método. A
observação confunde-se muito com o sentar e observar, porém vai além disso, ir ao campo exige
que se tenha uma bagagem teórica, ou seja, conhecer a teoria e conhecer o campo
antecipadamente, sendo assim “[...] afirmar que o campo é perpassado pela teoria não significa
dizer que ele está submetido a ela. Por definição, a realidade superará sempre a teoria. Em
outras palavras, o campo irá sempre surpreender o pesquisador.” (URIARTE, 2012, p.02).
Assim perceber-se o quão o campo pode ser a fonte chave de uma pesquisa observada. Isso se
dá pelas continuidades do tempo e espaço, “[...] entender o espaço geográfico também é
compreender o papel que essa ciência possui no sentido de investigar a sua realidade tanto em
seu aspecto social quanto em suas premissas naturais, com ênfase nas relações entre sociedade
e natureza” (PENA, 2017, p.01).
A todo instante o mundo está em constante transformação como dizia o pensador
Heráclito de Éfeso “Não é possível entrar no mesmo rio duas vezes”, seguindo esse pensamento
é notável as transformações constantes, seja em casa, no clico de amigos, na universidade, no
trabalho, e/ou em qualquer lugar. Com isso, nota-se que há uma necessidade de expressar-se, e
de se apresentar em cada meio que participa, identificar-se ou mesmo reconhecer-se enquanto
“ser”, sendo essas faces variantes em cada ocasião, como Goffman (1985) afirma que estamos
o tempo todo atuando, e não é toa que a palavra “pessoa” incialmente significa “máscara”
(GOFFMAN, 1985), logo identifica-se que as transformações presentes na Praça dá-se pela
necessidade de transformar, pertencer e atuar nesses espaços, harmônicos, com estética visual,
adequando-se às transformações do “moderno”. 227
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Para se chegar nesta reflexão do homem enquanto ator nos cenários, é importa destacar
as formas de comunicação que Goffman (1985) aborda, por meio das expressões transmitidas
e pelas expressões emitidas. As transmitidas equivalem ao conjunto de formas verbais, ou seja,
a forma de veiculação das informações contidas neste tipo se caracterizam mais com a fala. Já
as expressões emitidas são tidas como informações transmitidas de forma não verbal, portanto,
o homem emite informações de acordo com o contexto em que está no momento, de forma
teatral.
Este comportamento é acompanhado de algumas configurações, utilizadas pelo homem,
como por exemplo: o cenário e a fachada. Estas duas características são descritas por Goffman
(1985, p.31). A primeira são as partes cênicas de equipamento expressivo que compõem um
dado espaço, e a segunda é “relativo aos outros itens de equipamento expressivo, aqueles que
do modo mais íntimo identificamos com o próprio ator, e que naturalmente esperamos que o
sigam onde quer que vá”.
Portanto, ao relacionar este tipo de comportamento por meio da forma de comunicação
de expressão emitida com o cenário que a Praça da Graça evoca, tem-se que cada pessoa que
se encontra no lugar desempenha algum papel cênico e deseja que a sua atuação seja aceita pela
“plateia”, ou seja, as pessoas que ali observam. É o que Goffman (1985, p.25) relata ao enfatizar
que “quando um indivíduo desempenha um papel, implicitamente solicita de seus observadores
que levem a sério a impressão sustentada perante eles".
Levando esta análise em consideração, pode-se observar que o homem, enquanto
elemento constitutivo do espaço (SANTOS, 1988) atua nos demais elementos, os quais pode-
se caracterizar aqui como “territórios”, que de acordo com Goffman (1975), são espaços
limitados por barreiras de percepção. Todavia, podem existir territórios separadas por
interações verbais, ou seja, podem existir diversas atuações em uma mesma região ou lugar,
mas estas atuações são separadas por grupos. O mesmo espaço pode abrigar diferentes
territorialidades ao longo do dia, pois pode ser um ponto comercial e de encontros religiosos
pelo dia e de noite se transformar em pontos de encontro para atividades marginais. Nesse ponto
as teorias de Goffman (1985) e Santos (1988) se entrelaçam: Os cenários e os atores trazem
uma representação análoga ao que Santos estabelece como fixos e fluxos.
Enquanto lugar, a Praça da Graça possui estas características. É um espaço onde vários
grupos se constituem, e, uma mesma pessoa, pode transitar por estes grupos e tentar manter um
padrão de comportamento, visto que este padrão se caracteriza como uma “região de fachada”
(GOFFMAN, 1975). A exemplo disso, pode-se citar aqui os vendedores ambulantes
228que
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

utilizam a Praça da Graça. A sua “região de fachada” é a Praça. Estas pessoas tentam manter
um padrão de comportamento e encenação no espaço.
Ao atrelar estas ideias à atividade turística, tem-se que o turista, ao visitar outros
espaços, ou seja, outros cenários, cria então uma fachada para que seu comportamento enquanto
viajante possa seguir um padrão. Mais ainda, o indivíduo cria uma “região de fachada”, que
pode ser entendida como os espaços que são visitados. Todavia, apesar de criar estas regiões, o
seu comportamento será diferente, em todos estes lugares visitados. A “região de fachada” do
ponto “A” é diferente do ponto “B”.
Como já explicitado anteriormente, não só os turistas ou visitantes atuam em diferentes
cenários, mas também os próprios moradores locais. As pessoas que visitam a Praça da Graça
mantêm guardados um padrão para seguir nos momentos em que estão na própria Praça. O
vendedor ambulante costuma parar as pessoas que por ali transitam, para vender o seu produto.
Sua atuação é feita e sua expressão é transmitida a partir do padrão da “região de fachada”. A
mensagem é recebida, entendida e aceita por aquele ou aqueles que o ouvem, ou seja, a sua
plateia.
A plateia, então, analisará a sua expressão emitida, e só a partir daí terá uma resposta.
Dependendo da resposta, o vendedor continuará a sua encenação com o seu padrão, definido
pela sua “região de fachada”, a Praça. E a plateia também seguirá com este padrão. Portanto, é
assim que se dá a configuração do homem, enquanto ser atuante, no cenário da Praça da Graça.

TURISMO E A UTILIZAÇÃO DAS PRAÇAS

O turismo é uma atividade segmentada e bastante holística, e um fenômeno com


variantes possibilidades de se pesquisar e fazer turismo, deste modo, Andrade (2000, p.17 apud
THOMAZI; BAPTISTA, 2018, p. 793) afirma que apesar de todas as viagens importarem “em
deslocamento físico e espacial e revertam em gastos e lucros, o fenômeno turismo, em sua
concepção ideal pura, é um deslocamento realizado por prazer a locais que despertem algum
tipo de interesse objetivo ou subjetivo”.
Enquanto (MOESCH, 2002, p.17) considera que o turismo “é uma combinação
complexa de inter-relacionamentos entre produção e serviços, em cuja composição integra-se
uma prática social com base cultural, com herança histórica, a um meio ambiente diverso,
cartografia natural, relações sociais de hospitalidade, troca de informações interculturais”.
Outros autores como Panosso Netto e Trigo (2002), asseveram que turismo é um grande
229
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

negócio mundial, e que vai além disso, o turismo proporciona as vivências com pessoas, troca
de culturas, ambientes, etnias e perspectivas diferenciadas. As praças como espaços que
proporcionam lazer, e essa troca de culturas e reconhecimento do outro, não está fora disso.
As praças tem um papel fundamental na vida urbana, principalmente por serem espaços
de lazer e recreação que estão atreladas ao turismo, além das manifestações culturais e
atividades que podem ser exercidas nelas, sendo “Os espaços públicos de lazer, ou seja, praças
e parques são fundamentais para a qualidade de vida de uma cidade, pois permitem inter-
relações entre as pessoas, consequentemente entre moradores e visitantes (DENARDIN E
SILVA, p.01. 2011). O lazer é a fonte principal desses espaços, mesmo que para descansar, ou
visitar em um determinado horário um atrativo, neste caso as praças proporcionam essa troca
de culturas e vivencias assim como o turismo. “Os espaços públicos de lazer são utilizados de
diversas maneiras com as funções de integrar e sociabilizar a população, da mesma forma que
ajudam a desenvolver e fortalecer o sentimento comunitário” (DENARDIN E SILVA, p.02.
2011).
A paisagem é um fatores que influenciam na escolha de um destino, mesmo sendo em
uma rede social ou presencialmente, e “A praça também desempenha uma função estética ligada
ao embelezamento das cidades ao diversificar a paisagem tornando-a agradável aos olhos de
quem a vê, além da função social promovendo o convívio entre as pessoas” (FERNANDES E
COSTA, p. 911, 2015), Nesse sentido Yokoo (2009) diz que a paisagem é amplia a conexão
homem, natureza e lazer, sendo a mesmo criando uma harmonia entre os elementos presentes.
Nessa perspectiva é possível afirmar que “A paisagem representa diferentes momentos do
desenvolvimento de uma sociedade, compreendendo os elementos que atendem às necessidades
desta nova estrutura social” (DENARDIN E SILVA, p.04. 2011). No que diz respeito ao lazer
e turismo “As praças são importantes espaços públicos de socialização e lazer urbano utilizadas
pela população, principalmente em cidades onde não existem variadas opções de lazer”
(FERNANDES E COSTA, p. 916, 2015).
O turismo nas praças é voltado mais as atividades de lazer e recreação com o intuito de
se apropriar desses espaços e utiliza-los ao viés econômico e social, e nesses espaços sempre
ocorreram as transformações ambientais e antrópicas, “A paisagem de ontem não é a mesma de
hoje, e amanhã, provavelmente será diferente dessas. Em se tratando de cidades, isto ocorre
ainda com maior intensidade e velocidade, uma vez que esta é mais dinâmica que a paisagem
rural” (YOKOO, 2009p.10), As praças se transformam a todo momento tendo como principais

230
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

atuantes o meio e o homem, influenciando sempre na construção do novo e saciando seus


desejos e necessidades.

ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO ESPAÇO


Os objetos que estão presentes em nosso entorno, são bastante visualizados e pouco
contestados sobre a função de cada como componente do espaço em que vivemos, é esse o
ponto o qual proporciona esse trabalho, identificar, observar analisar e definir esses
equipamentos. Na concepção de Rodrigues (1992) existem pelo menos duas formas de se
entender o espaço geográfico, e a primeira delas, a mais prática, seria observar a sua expressão
fisionômica, a paisagem. Sendo assim a própria praça como um todo é a paisagem em suas
diversas formas e elementos que a compõe.
Para que se possa dar início à análise dos elementos contidos na praça, primeiramente alguns
conceitos devem ser compreendidos. A começar pelo fato de que esses elementos podem ser
fixos, porém não estáticos, sendo aqueles que permanecem no mesmo local. Além de fixos,
também podem ser fluxos, correspondendo àqueles que estão ou podem estar em movimento.
Usando a linguagem do turismo “fixos, porém não estáticos, são os centros emissores da
demanda, de onde partem os fluxos para os núcleos receptores [...]” (Rodrigues, 1996, p. 62).
Os elementos constitutivos do espaço na análise de Milton Santos são compostos por: homem,
firmas, instituições, infraestrutura e meio ecológico.

HOMEM
O homem como o ser transformador do espaço, ou seja, realizador de todas as atividades
que transformam o meio em que está inserido, é o principal objeto para o desenvolvimento das
atividades que alavancarão a construção de todo este meio, seja na forma de demanda ou oferta
de serviços, “Os homens são componentes do espaço, seja na qualidade de fornecedores de
trabalho, seja na de candidatos a isso” (SANTOS, 1988, p. 06). A Figura 1 mostra a atividade
do homem na Praça da Graça.
Os homens, ou seja, homens e mulheres, como seres individuais e sociais,
correspondem, no turismo, à demanda turística, à população residente e a todos os indivíduos
responsáveis pelo funcionamento de outros elementos, tais como os representantes das firmas,
as instituições etc. (RODRIGUES, 1996, p. 66).

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Figura 1: mostra atividade antrópica, ou seja, o homem como transformador do espaço na Praça da Graça.
Fonte: Costa e Silva (2017)

O fluxo das atividades se concentra nessa localidade da cidade por conter uma
quantidade de equipamentos que se utilizam no dia-a-dia como banco, lotéricas, lojas,
lanchonetes, áreas informativas (posto de informações turística e informações históricas da
praça). Pode ser observado vendedores ambulantes, de salada de fruta, agua de coco,
vendedores de artesanato (hippies), pipoqueiro, vendedor de picolé, porém estas pessoas com
tais características não são as únicas a transformar este meio, também há aquelas que usufruem
de todos os equipamentos do entorno da praça, como moradores, visitantes ou até mesmo uma
simples pessoa ao passar pela praça.
Estes componentes do espaço na análise do turismo, pode-se dizer que são fluxos, pois
eles interagem entre diversos pontos em que podem desenvolver suas atividades, que tem como
principal definição: “Desloca-se em volumosos fluxos para lugares distintos de seu domicilio
habitual, dirigindo para núcleos receptores, onde interage com a população anfitriã, elemento
não menos importante do espaço do turismo, que somente na última década tem sido
comtemplado nos estudos geográficos do fenômeno” (RODRIGUES, 1996, p. 66). Nessa
perspectiva a interação do homem e o meio em diferentes locais é sempre mantendo o contato
com a população nativa, sendo assim ofertando seus serviços, não somente em um lugar estável,
mas se locomovendo em diversos ambientes da cidade, ou locais próximos a praça.

FIRMAS
Firmas em uma análise geográfica é a prestadora de bens e serviços, ofertam elementos
que iram satisfazer a necessidade e os anseios do homem, para Milton Santos (1985) destaca-
se com o mesmo de que Firmas têm como principal funcionalidade a produção de bens e de

232
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

serviço. Um exemplo para representar firma são as lojas, no entorno da Praça da Graça é
perceptível à presença de lojas que tem essa principal função.

Figura 2: Exemplo de firma que se encontra na Praça da Graça, Lojas Americanas.


Fonte: Costa e Silva (2017)

Observa-se na Figura 2, o exemplo de Firma no entorno da praça da graça pode ser


destacado uma das principais que fica em um ponto alvo, é as Lojas Americanas que ofertam
bens e serviços, como aparelhos eletrônicos, livraria, cosméticos, vestuário entre outros
produtos. Pode ser encontrado também farmácias, papelarias, clínicas odontológicas, loja de
artigos religiosos, óticas, entre uma variante de lojas encontradas em todo o entorno da Praça.
No que refere ao turismo, correspondem aos serviços de hospedagem, alimentação, às agências
e operadoras de viagens, às companhias aéreas e de outras modalidades de transporte, aos
sistemas de promoção e comercialização de toda natureza em diversas escalas, incluindo as
poderosas empresas de Marketing e publicidade, de fundamental importância internacional
(RODRIGUES, 1996, p. 66)
No turismo as firmas são compostas por agências, transporte, serviços de hospedagem,
ou seja, todos os bens e serviços voltados à atividade turística, tendo como papel fundamental
na construção do fenômeno turístico.

INSTITUIÇÕES
No que diz respeito às instituições, podem ser definidas como à supra estrutura.
Produzem métodos ou “normas, ordens e legitimações”. Delas emanam ações racionais,
pragmáticas, ditadas pelas forças da economia hegemônica e ao serviço do Estado”
(RODRIGUES, 1996, p. 67). Ou seja, as igrejas que se encontram na praça são consideradas
233
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Instituições por conta das mesmas, criarem suas normas para os praticantes da religião. Figuras
3 e 4.

À esquerda - figura 3. Igreja Nossa Senhora da Graça. Á direita - Figura 4. Igreja Nossa Senhora do Rosário dos
Pretos. Costa e Silva (2017)

A Igreja Nossa Senhora da Graça foi umas das primeiras praças a serem construídas na cidade
de Parnaíba, a partir dela foi criada a Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos no século
XVIII sem data ao certo de sua inauguração, foi construída exclusivamente para os escravos,
mantendo-os afastados da classe alta, na época. Um fato importante sobre as igrejas é que elas
são as únicas setecentistas localizadas em quadras residenciais (IPHAN,2014). Na praça
ocorrem eventos tradicionais que as igrejas organizam, deste modo atraindo visitantes e
proporcionando certa demanda ao local, beneficiando o turismo e a comunidade.

INFRAESTRUTURA
Caracteriza-se por todos os equipamentos que estão presentes na praça como suporte
para toda a comunidade e visitantes, como rede elétrica, água, informativos, acessibilidade, rede
de esgoto, estacionamento entre outros que se pode usufruir.
As infraestruturas são importantes elementos do espaço do turismo. Além da infraestrutura de
acesso, representada pela rede de transportes e de comunicações, costuma-se nos trabalhos de
diagnósticos turísticos, inventariar a infraestrutura urbana, tais como rede de água, de energia,
de abastecimento, de saneamento básico, de coleta de lixo e de esgoto (RODRIGUES, 1996, p.
68).
Na praça é perceptível que há a presença dos seguintes equipamentos que compõem a
infraestrutura: como coletores de lixo, saneamento básico por parte da prefeitura municipal, a
acessibilidade no entorno da praça como rampas de acesso e piso tátil (Figura 5).
234
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Figura 5. Rampa de acessibilidade.


Fonte: Costa e Silva (2017)

No entorno da praça é possível ser observado a presença de equipamentos de informação


turística, ou seja, de apoio ao turista, que no começo do ano de 2017 apenas continha um mapa
da área de estudo em péssimo estado, não havia posto de informação turística e placas de
sinalização, como a praça passou por uma reforma na atual gestão de Francisco de Assis de
Moraes Souza, também conhecido como “Mão Santa”, ocorreu uma série de mudanças, em
relação aos investimentos não exclusivamente na Praça da Graça, mas em outras que existem
na cidade. (Figuras 6 e 7).

À esquerda - Figura. 6. Antigo mapa informativo dos pontos turísticos da cidade. À direita - Figura.7. Atual
mapa informativo dos pontos turísticos da cidade. Fonte: Costa e Silva (2017)

Assim destaca que, “Os serviços de apoio ao turismo, nomeadamente segurança,


comunicação e saúde, também podem ser classificados como pertencentes às infraestruturas”
(RODRIGUES, 1996, p. 69). O mapa serve como norte para os visitantes se localizarem durante
a sua visitação pela praça, e o posto de informação é um dos equipamentos de grande

235
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

importância no turismo o, pois é onde o turista coletará informações sobre o lugar onde se
encontra.

MEIO ECOLÓGICO
Como último dos elementos temos o meio ecológico, que segundo Rodrigues (1996) ao
citar Milton Santos (1985) é compreendido como o “conjunto de complexos territoriais a base
física do trabalho humano”. Rodrigues afirma também que esse elemento abrange muito mais
que somente os objetos naturais, mas que o meio ecológico é também a parte física não
ambiental, podendo ser as placas de sinalização de cunho ecológico (Figura 8).

Figura 8. Meio Ecológico presente na praça.


Fonte: Costa e Silva (2017)

Nos limites internos da praça podemos observar como meio ecológico: as árvores, os
arbustos, e toda a vegetação inclusa. Recentemente, com a nova gestão da cidade, outros
elementos foram inseridos no local, tais como: placas trazendo informações à população sobre
a preservação e cuidados com o meio-ambiente e a fonte de água restaurada. Na atualidade, as
árvores oferecem um ambiente mais ameno e sombreado às pessoas que circulam o local, além
de servirem como adorno para a praça. Podemos definir o meio ecológico como um elemento
fixo, já que se mantém inerte no local.

CATEGORIAS DE ANÁLISE GEOGRÁFICA APLICADA AO TURISMO


Assim como os elementos constitutivos do espaço, as categorias de análise geográfica
também podem ser encontradas dentro do território da praça. As categorias propostas por
Milton Santos (1985), são compostas por cinco pontos principais, sendo eles: forma, função,
estrutura e processo. Esta análise juntamente com a dos elementos, tem grande importância
236para
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

a compreensão do espaço e seus equipamentos. No turismo se aplica a todos os meios que


visitantes e comunidade local vão usufruir e dispor, desde o homem na transformação do espaço
ao todo que é a articulação de desenvolvimento da praça.

FORMA
A forma é a primeira das quatro categorias de análise geográfica, representada dentro
da geografia como a paisagem do local, e a forma com a qual ela se caracteriza. Entretanto, para
a análise turística, a paisagem é um importante recurso empregado principalmente para vender
a imagem do local. “A paisagem é um notável recurso turístico, desvelando alguns objetos e
desvelando outros, por meio da posição do observador, quando pretende encantar e seduzir”
(RODRIGUES, 1996, p. 72). A imagem serve como um fator principal na escolha de um
destino.

Figura 9. Praça da Graça após sua revitalização.


Fonte: Costa e Silva (2017).

Na Figura 9 está sendo representada a paisagem da praça em sua forma estética, ou seja,
como os equipamentos que estão na praça se articulam, e formam a imagem da mesma, e como
sevem de porte para à sua promoção e atrativo apenas com a utilização da imagem.

FUNÇÃO
Essa categoria aborda o papel de cada elemento separadamente, ou seja, implica dizer
que um espaço especifico vai ter sua própria tarefa ou papel desempenhado separadamente.
Pode-se também entender a função dos objetos que compõe o espaço, ou seja, compreender as
formas. “[...] função é ação, a interação supõe interdependência funcional entre os elementos”
(SANTOS, 1985, p. 7). Um elemento não exerce necessariamente somente uma função,237
o seu
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

objetivo vai depender das necessidades das pessoas ao redor, essas que vão mudando no
decorrer do tempo.

Figura 10. Banco do Brasil, localizado na Praça da Graça.


Fonte: Costa e Silva (2017).

Pode-se observar o Banco do Brasil (Figura 10), como um objeto que tem sua própria
função ofertando suporte em questão ao fornecimento de atividades financeiras, é possível
perceber o fluxo constante de pessoas que passam pelo local para utilizar os seus serviços. O
prédio está em um local bem localizado da praça, desta forma sendo de fácil acesso. Para o
turismo a função que o banco exerce é de colaborar para com as pessoas que estão utilizando
dos equipamentos que se localiza no perímetro da praça.

ESTRUTURA
A praça apresenta um espaço livre para circulação e área verde, um lago artificial
iluminado com placas de concreto e uma passarela sobre o mesmo e os demais caminhos
pavimentados com pedra portuguesa. Além dos monumentos presentes como, Marco Zero,
Monumento da Independência, o Coreto.
O monumento da Independência, antes ponto focal do lugar, passou a se encontrar num
espaço estreito entre dois amplos jardins cujo paisagismo não favoreceu sua contemplação,
retirando-lhe assim, a função primordial de marco de convergência, algo que frequentemente
ocorria em remodelações de espaços públicos (CULLEN, 2004, 29). Segue as figuras 11 e 12.

238
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Figura 11. Monumento da Independência Figura 12. Posto de Informações Turísticas


Fonte: Costa (2019) Fonte: Costa(2019)

A sua estrutura engloba também: a acessibilidade presente na praça, representada pela


instalação de rampas e piso tátil; o transporte (táxi, moto táxi) de passageiros; o posto de
informação turística para fornecer um atendimento de qualidade ao turista, ofertando
gratuitamente mapas, guias e folhetos da cidade; a segurança, realizada pela Guarda Municipal;
placas informativas e rede de acesso Wi-fi; estacionamentos nas laterais para atender a maior
demanda de utilização de veículos.
Conforme explanado por Rodrigues (1999) e Albach (2010), a Estrutura expressa a ação e
interação recíprocas entre os elementos, enfocando, a mútua dependência entre as partes e o
todo, ou seja, a funcionalidade espacial. Exemplificada nos elementos da oferta turística como
a infraestrutura de apoio ao turismo, serviços e equipamentos turísticos. (Figura 11).
Pode ser observado na (Figura 12) o posto de informações turística servindo de apoio
aos visitantes, e o lixeiro que representa o meio ecológico em prol da preservação do patrimônio
e do meio ambiente, e ainda é perceptível o fluxo de pessoas e os ambulantes que compõem a
praça. Assim podem ser considerados a estrutura que dá forma a praça.

PROCESSO
A última categoria de analise geográfica segundo Rodrigues (1996), corresponde às
interações entre todas as outras categorias, forma, função e estrutura. Nessa categoria O tempo
tem função fundamental para a percepção do processo de mudança do espaço, recursos que são
consideradas naturais com o tempo podem também se tornarem recursos históricos, ou seja, é
um processo continuo, com isso são formados os objetos e os espaços turísticos.

239
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Figura 13. Homem realizando o processo de uso da praça.


Fonte: Costa e Silva (2017).

Pode ser visualizado na (figura 13) um conjunto de ações sendo realizadas ao mesmo
tempo, a forma como a praça está organizada e constituída para que possa chamar a atenção do
turista e visitantes, é possível notar também a estrutura que compõe o espaço. Ainda
possibilitando ver objetos que exercem papeis de função, como o Banco do Brasil e os Correios.
Para o turismo todas essas ações e elementos que formam esse espaço ajudam a configurar o
local adequadamente para que a atividades possam de fato acontecer.

CONSIDERAÇÃOES FINAIS
A praça da Graça enquanto potencial turístico, vem sendo aprimorada de acordo com os
gestores de cada período. Conforme o passar dos anos, com a introdução de equipamentos que
vão favorecer ao homem, pois todos os componentes que estão em seu entorno são em função
do e para o homem.
Com base na observação participantes percebe-se que cada elementos estará
desenvolvendo suas atividades para que ocorra de fato o funcionamento da praça. A abordagem
dos elementos constitutivos do espaço e as categorias de analise geográfica aplicada ao
Turismo, são de suma importância para compreender a função de cada um com base no meio
em que estão inseridos. Tanto os elementos, quanto as categorias também possuem a sua
importância para o turismo, a inserção de cada um que está no perímetro da praça possibilita às
pessoas que circulam pelo espaço poder de usufruir de suas funcionalidades, servindo tanto para
o turista como para a própria população da cidade.

240
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Deve-se ainda ressaltar a importância de estudos como este que possam proporcionar
posteriores pesquisas e possíveis projetos aplicáveis nesses espaços, para que sempre aprimore
o planejamento e organização dos espaços de forma sensibilizada aos possíveis impactos.

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

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242
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

PAISAGEM E TURISMO: UMA DISCUSSÃO CONCEITUAL


Filipe Ribeiro Cardoso Porto
Antônio Rafael Antunes Lopes
Francysco Renato Antunes Lopes
RESUMO
A presente pesquisa propõe uma discussão introdutória sobre o conceito de paisagem e a
produção do fenômeno turístico como elemento agregador de valores sociais, econômicos e
culturais para a sociedade. O objetivo geral do trabalho é apresentar embasamento teórico sobre
a relevância da paisagem para a sociedade a na produção do turismo como elemento social. A
metodologia do trabalho consiste em levantamento bibliográfico de autores que trabalham com
discussões sobre paisagem e turismo. Percebeu-se que a paisagem e o turismo oriundo nela são
pontos fundamentais de dinamismo em uma sociedade e na reconfiguração espacial conduzida
pelo homem, agregando valor a uma localidade.

Palavras-chave: Paisagem; Turismo; Sociedade; Espaço.

ABSTRACT

This research proposes an introductory discussion about the concept of landscape and the
production of the tourist phenomenon as an aggregating element of social, economic and
cultural values for society. The general objective of this work is to present theoretical basis on
the relevance of the landscape for society to the production of tourism as a social element. The
methodology of the work consists of a bibliographic survey of authors who work with
discussions about landscape and tourism. It was noticed that the landscape and tourism derived
in it are fundamental points of dynamism in a society and in the spatial reconfiguration led by
man, adding value to a locality.

Keywords: Landscape; Tourism; Society; Space.

INTRODUÇÃO

O conceito de paisagem apresenta o homem e as suas ações edificadoras, sua interação


com a natureza resultando em bens culturais. Simultaneamente surgem valores sociais,
econômicos e organizacionais que garantem um funcionamento de ordem institucional. A
paisagem cultural é a prova do papel do homem e sua evolução gradativa como agente
modificador do espaço e criador de costumes, normas e códigos. O turismo é um fenômeno
social oriundo desta diversidade promovida pela reconfiguração espacial, essencial para a
economia e cultura de qualquer sociedade contemporânea.
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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

O objetivo geral do trabalho é apresentar embasamento teórico sobre a relevância da


paisagem para a sociedade a na produção do turismo como elemento social. A metodologia do
trabalho consiste em levantamento bibliográfico de autores que trabalham com discussões sobre
paisagem e turismo. Os matériais consultados foram livros de demais trabalhos acadêmicos,
fontes fundamentais para a consulta de conhecimentos sobre os temas.

ELEMENTOS DA PAISAGEM E DO TURISMO

A paisagem surge de algumas percepções, de construções e de elementos culturais que


são atribuídos a um espaço. Em 1925, Carl Sauer em A Morfologia da Paisagem afirmou que
a paisagem geográfica é a ação da cultura, ao longo do tempo, sobre a paisagem natural. A
premissa do autor é importante para se entender que a paisagem aparece da interação entre
homem e meio ambiente.
Em toda a sua pluralidade e capacidade de transformar, o homem já atribui significado
a natureza há milhares de anos e gradativamente foi surgindo à noção de que o que ele fazia era
produzir cultura.
Muitas ciências buscam compreender a complexidade das ações antrópicas a partir de
estudos sobre este legado conhecido como cultura. As ciências sociais enfocam em seus
trabalhos o objetivo em identificar elementos que marquem os princípios da cultura e suas
manifestações no tempo e espaço. A geografia é uma das primeiras ciências a abordarem a
temática.
O termo cultura foi introduzido pela primeira vez na geografia com os trabalhos do
alemão Ratzel no campo de investigação da antropogeografia, assimilada pela geografia
humana, direcionada ao estudo das relações entre sociedade e meio. Assim sendo, na geografia
a análise cultural é vista como um subcampo da geografia humana, tendo como objetivo de
interesse a diversidade do meio ambiente transformado pelo homem (WAGNER;
MIDESSELL, 1962).
A cultura se manifesta em um espaço, a porção material de um lugar, sendo ao mesmo
tempo, este lugar convencionado em espaço material e imaterial. A este ambiente onde o
homem cria e recria sua cultura se denomina paisagem. Durante muito tempo, perdurou entre
as ciências humanas, o pensamento de que a paisagem, os seus elementos constitutivos, o tempo
e o espaço, deveriam ser vistos como objetos de dimensões absolutas, separados um do outro.

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Hoje se sabe que, a paisagem como uma categoria do espaço sofre influência direta do
tempo e da história com suas dimensões transformadoras. As investigações sobre o tema
constituem estudos de autores distintos que construíram uma teia de informações acerca do
tema paisagem.
Na Alemanha do século XVIII, Humboldt fez referência à paisagem demonstrando seu
interesse pela fisionomia e aspecto da vegetação, pelo clima, sua influência sobre os seres e o
aspecto geral da paisagem, variável conforme a natureza do solo e sua cobertura vegetal
(ROUGERIE; BEROUTCHATCHVILI, 1991). O alemão Humboldt foi pioneiro na construção
dos significados acerca da paisagem e o seu enfoque na vegetação demonstra a influência
positivista que influenciava a geografia na época.
Friedrich Ratzel ao final do século XIX e Ferdinand Von Richtofen (discípulo de
Humboldt) já no século XX, também foram dois estudiosos que desenvolveram teorias com
abordagens racionais, respectivamente sobre relações de causa que interagem na natureza e
sobre a superfície terrestre e a inter-relação da litosfera, atmosfera, biosfera e hidrosfera
(MOURA; SIMÔES, 2010).
No século XX novos elementos surgiram através da colaboração de pensadores de áreas
diversas. Passarge (1931) defende o clima como fator preponderante na distribuição da vida na
terra; E. Neef e J. Haase (1973) abordam que a troca de informação cria um elo entre o homem
e o meio; e Schuluter (1920) afirmou a visão que o homem tem da natureza através da percepção
e como influências psicológicas influenciam esta formação (MOURA; SIMÔES, 2010).
Das contribuições, é necessário destacar Carl Troll que em 1966 apresentou a paisagem
a partir de um conceito ecológico, ou seja, dos elementos naturais, apresentando o conceito
funcional como resultado de todos os geofatores, inclusive a economia e a cultura,
caracterizando assim, a paisagem cultural (MOURA; SIMÔES, 2010).
Os elementos e fatores que constroem a paisagem se figuram a partir de processos
relacionais e é relevante resgatar a afirmação de que as paisagens refletem transformações
espaço-temporais e conservam testemunhos do passado. Ab’Saber (2001) defende a ideia de
que a paisagem é sempre uma herança que começou em tempos pré-históricos e é dinâmica e
operante até o presente.
Mesquira e Brandão (1995, p. 69) confirmam esses processos espaço-temporais nas
relações humanas, ao dizer que “tiempo y espacio confluyemenlo cotidiano”. Estebanez (1990)
advoga que na geografia humana, sendo uma introspecção crítica reflexiva necessária, a
paisagem tem que ser algo mais do que as paisagens de tempo, terrenos e casas. Devem
245ser
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

incluídos os sentimentos, conceitos e teorias que o homem construiu para a sua dinâmica social
ao longo do tempo. Para ele a paisagem é definida como um ambiente físico e simbólico criado
em um processo dialético, fruto das relações culturais desenvolvidas pelas sociedades que nele
habitam.
Neste painel das ações culturais humanas que constroem a paisagem, que é solidificada
pelo trabalho e percepção do homem, um agente provocador e realizador de feitos. Para Collot
(1990) as definições de paisagem remetem a três elementos essenciais: a ideia de ponto de vista,
a de parte e a de unidade.
No primeiro elemento, a paisagem é definida de acordo com o ponto de vista de onde é
observada. Ela não é um objeto independente em face do qual o sujeito se situaria em uma
relação de exterioridade. Ela se revela numa experiência em que sujeito e objeto são
inseparáveis, especialmente porque o sujeito se acha envolvido pelo espaço que é mensurado a
partir dele mesmo.
No segundo elemento, a paisagem oferece a quem observa apenas parte de uma area.
Essa limitação se liga a dois fatores: a posição do observador, que determina a extensão de seu
campo visual e ao relevo da área observada. As lacunas decorrentes dessa restrição são
observáveis de dois modos: pela circunscrição da paisagem dentro de uma linha, além da qual
nada é visível (horizonte externo) e pela existência no interior do campo, de partes não visíveis
(horizonte interno).
Na convivência entre o olhar e a paisagem, essas lacunas não devem ser tomadas como
aspectos negativos, pois elas são preenchidas pela percepção que ultrapassa o simples dado
sensorial e complementa as lacunas. Deste modo, a parte observável de uma área desta
paisagem nunca deve ser vista isoladamente, pois cabe agregar a ela os valores culturais
(conceitual e simbólico).
Por fim, é necessário atentar que esta limitação do espaço visível acaba assegurando a
unidade da paisagem. Isto é, por não se deixar observar totalmente é que a paisagem se constitui
como totalidade coerente. Um conjunto não se define senão pela exclusão de certo número de
elementos heterogêneos e é essa convergência que torna a paisagem apta a significar: "ela fala
a quem olha" (COLLOT 1990, p. 24).
Para Collot (1990) a paisagem é definida como o espaço ao alcance do olhar e a
disposição do corpo, se revestindo de significados vinculados aos comportamentos possíveis.

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Dessa maneira nos confrontamos o problema central: qualquer paisagem é


composta não apenas por aquilo que vem a frente de nossos olhos, mas
também por aquilo que se esconde dentro de nossas cabeças [...] nos estamos
preocupados não com os elementos, mas com a essência, ideias organizadoras
que utilizamos para dar sentido àquilo que vemos (MEINIG apud HOLZER,
1992, p. 208).

A paisagem se apresenta em nível regional e articula-se em lugares, apresentando um


conceito ainda mais complexo. A partir deste pressuposto, a visão sistêmica da paisagem
possibilita o estudo da mesma contextualizada não somente com a geografia, mas também
conversando e interagindo com as ciências humanas em geral. Os conceitos formados acerca
da paisagem configuram-se na visão sistêmica, onde todos os elementos colaboram com a
construção dos significados. Para Bertrand (1978) a paisagem é um produto social, é uma
resultante da história local ou regional.
Partindo do princípio de Machado (1988), de que a paisagem é o cenário onde transcorre
a vida do homem, o resgate de elementos históricos na busca por entender a formação da
identidade de um grupo foi outro ponto levantado.

A paisagem é antes de tudo, um macrovestígio geográfico. Por que é um


macrovestígio? Simplesmente porque toda ação humana ocorre na paisagem,
ela abrange a totalidade das alterações sobre o meio físico e ainda contempla
significados e simbolismos. Ao se olhar a paisagem, deve-se atentar que a
mesma possui uma ancestralidade, ou seja, a marca original de quem a
concebeu e a alterou primeiro. A história pode ser observada pela paisagem
com tamanha precisão quanto por meio de registros escritos ou artefatos
arqueológicos. Esse resgate histórico que a paisagem permite ao observador é
um dos marcos de estudo de identidade. Cada cultura, cada época sob
determinado contexto econômico e político deixam na paisagem, por meio da
arquitetura, das alterações sobre o espaço ou ainda a não intervenção sobre o
ambiente; que acabam por contemplar a dinâmica social e geográfica humana.
A paisagem é mais do que uma categoria espacial, é a prova mais dinâmica da
cultura humana.

A importância do turismo como um movimento dinâmico e contemplador de paisagens


também deve ser destacado por Machado (1988).

O turismo, enquanto fenômeno social é um elemento importantíssimo que


ajuda a compreender a dinâmica da paisagem. Lembre-se que não existe
paisagem natural, só é paisagem porque o homem alterou ainda que
simbolicamente, os aspectos naturais. O turismo resignifica o ambiente,
agrega valor histórico, desperta sentimentos identitários; enfim, vende a
paisagem. Os elementos cênicos e estéticos de um espaço 247são
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

supervalorizados conforme o interesse de quem busca o turismo. Nem sempre


a paisagem é considerada bela para mim ou para você, mas sempre a paisagem
terá importância para alguém e, este é o trunfo dessa categoria. O turismo rural
vende a paisagem simples, interiorana, que para muitos simboliza a paz,
enquanto para outros é marca de ultrapassado ou chato. É a mesma paisagem,
mas com interpretações distintas por pessoas distintas. Sabendo disto, o
turismo adapta cada simbolismo da paisagem conforme o grupo. Exemplifico
com Ibiza no Mediterrâneo. É um lugar onde todo o tipo de turista é agradado
em um mesmo cenário paisagístico. Se você almeja tranquilidade, lá tem e se
você deseja festejar, lá é festa 24 horas. O turismo é dinâmico e nesta dinâmica
ressignifica a paisagem com intencionalidade comercial.

A valorização de locais que trazem apelos históricos, culturais e consequentemente,


paisagísticos fortes, são um propulsor para a fixação de atividades turísticas, atividades estas
essenciais na corroboração de novas dinâmicas espaciais. A paisagem turística não é definitiva.
Para Santana (2009) a atividade turística é uma forma de consumo transitória, efêmera, na qual
prima o prazer de sentir mais do que a apropriação em si de bens e serviços.
O turismo é um ordenador e apropriador do espaço e seus elementos. Theobald (2000) o
define como o movimento de indivíduos e grupos de uma localização geográfica para outra por
prazer e/ou negócios, sempre em caráter temporário. Na prática os seus significados e seus
efeitos são mais complexos. Visitantes, forasteiros ou turistas consomem a paisagem, se abrem
para esta experiência e carregam consigo um poder. Exercem um fascínio que vai além do lado
financeiro de simplesmente deixar o dinheiro aonde vão. O turista carrega a sua cultura aonde
vai, causam fascínio nos locais onde visitam e seus hábitos podem ser incorporados pelo local
visitado. É uma interessante relação de troca que necessita de cuidado justamente para não
haver descaracterização das peculiaridades locais e consequentemente da cultura e em uma
escala maior da paisagem.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Denominar a paisagem é uma investigação que vai além do ato de se ver o horizonte. A
paisagem é a união da interação do homem com a natureza e dela surgem novos valores,
significados e símbolos que regem a vida humana e social. Interpretar a paisagem nem sempre
é fácil e exige esforço e sensibilidade para perceber, sentir pontos que ultrapassam o visual,
mas que moldam vidas e culturas distintas, importantes fontes de pesquisa para a geografia.
O turismo é uma prática social agregada ao mercado e os aspectos comerciais não devem
ser esquecidos nas discussões envolvendo cultura e paisagem. Os valores atribuídos dependem
248
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

da experiência do visitante, dos anseios serem ou não atendidos. O turista tem grande
responsabilidade na construção dos atributos socioculturais do local em que visita, tanto na
divulgação quanto na percepção que a comunidade visitada pode ter durante um contato, que
posteriormente pode fazer com que ela incorpore novos atributos para esta “venda” ou
mantenha os já trabalhados.
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Pyrénéss et Sud Ouest, v. 49, n. 2, p. 239-258, 1978.
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249
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

PERSPECTIVA AMBIENTAL ACERCA DO USO DO SOLO EM AMBIENTES


COSTEIRO, APA DELTA DO PARNAÍBA, BRASIL

Davi Nascimento Costa


Juliana Cardozo de Farias
Francisco Pereira Filho
Maria Gracelia Paiva Nascimento
Ivanilza Moreira de Andrade
RESUMO
A degradação ambiental, e consequentemente do solo, deve-se ao fato de que os agentes
causadores não compreendem que o ambiente é um instrumento, onde vários componentes se
complementam para funcionar harmonicamente. Tendo em vista que as pessoas possuem pouco
conhecimento e sensibilidade em relação ao solo, o que possibilita uma degradação em maior
escala com fatores, a exemplo da poluição, erosão e perda da biodiversidade vegetal, tem-se
proposto ações voltadas à educação para sua conservação. Dentro deste contexto, objetivou-se
sensibilizar alunos do ensino fundamental (1° ao 9° ano) sobre a importância do solo para a
manutenção da biodiversidade do município de Ilha Grande, localizada na Área de Proteção
Ambiental do Delta do Parnaíba. Assim, atividades de EA foram realizadas em quatro turmas
do ensino básico, na comunidade Tatus, Ilha Grande, PI, com o intuito de promover essa
sensibilização. No total foram realizadas quatro palestras tendo como tema central “solos”,
cujas abordagens incluíram: usos, tipos de solos e a relação com a conservação, flora de
ambientes costeiros, como restinga e manguezais, suas características e melhores práticas,
como por exemplo, a destinação adequada dos diversos tipos de resíduos, a participação em
sala de aula também foi amplamente explorada em vários momentos, incluindo a confecção de
uma composteira utilizando garrafas pet. Atividades como estas possibilitam aos professores e
alunos diálogos de sensibilização sobre questões associadas ao solo e o lixo por meio da
reciclagem como método de ensino e aprendizagem.

Palavras-chave: Biodiversidade, Ecologia, Educação Ambiental.

ABSTRACT

Environmental degradation, and consequently soil, is due to the fact that the causative agents
do not understand that the environment is an instrument, where several components
complement each other to function harmoniously. Considering that people have little
knowledge and sensitivity in relation to the soil, which allows a degradation on a larger scale
with factors, such as pollution, erosion and loss of plant biodiversity, actions aimed at education
for its conservation have been proposed. Within this context, the objective was to sensitize
elementary school students (1st to 9th grade) about the importance of soil for the maintenance
of biodiversity in the municipality of Ilha Grande, located in the Environmental Protection Area
of the Parnaíba Delta. Thus, AS activities were carried out in four classes of basic education, in
the Community Of Atus, Ilha Grande, PI, in order to promote this awareness. In total, four
lectures were held with the central theme "soils", whose approaches included: uses, soil types
and the relationship with conservation, flora of coastal environments, such as restinga and
mangroves, their characteristics and best practices, such as the proper destination of the various
250
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

types of waste, participation in the classroom was also widely explored at various times ,
including making a compost using pet bottles. Activities such as these enable teachers and
students to raise awareness of issues associated with soil and garbage through recycling as a
method of teaching and learning.

Keywords: Biodiversity, Ecology, Environmental Education.

INTRODUÇÃO
O manguezal é um ecossistema de transição entre os ambientes terrestre e marinho, onde
ocorre, no geral, o encontro das águas de rios com as águas do mar, sendo típico de regiões
tropicais e subtropicais (SCHAEFFER-NOVELLI, 1995) recobrindo uma área estimada de
25.000 km² de extensão, distribuída em 7.408 km² de linha costeira do país.
O solo é um importante componente na construção da biodiversidade deste ecossistema,
sendo essencial na produção de alimentos desde o crescente fértil e para a vida no planeta. Além
disso, é um dos conteúdos programáticos do 6° ano do ensino fundamental, tendo grande
importância para a humanidade e sua evolução. Várias atribuições relacionadas ao mesmo vêm
sendo discutidas nas ultimas décadas, dando ênfase principalmente as que estão diretamente
relacionadas ao funcionamento dos ecossistemas e condições ambientais (WEBER; VIEIRA,
2018). Embora estejam havendo uma ampliação nas discussões sobre as temáticas ligadas as
questões ambientais em escolas, universidades e veículos de comunicação, pouco se debate
sobre o solo e a degradação causada por agentes poluidores e erosões naturais ou provocadas
pela ação humana (COSTA et al., 2012).
A degradação ambiental, e consequentemente, do solo é atribuída aos agentes poluidores
que não compreendem o meio ambiente como uma “engrenagem”, onde vários componentes
se complementam para funcionar perfeitamente. Com o solo a mesma problemática se repete,
onde a maioria das pessoas desconhecem sua importância ecológica e suas interações com os
componentes importantes ao funcionamento pleno da vida na terra como as interações com a
litosfera, biosfera, atmosfera e a hidrosfera o que forma uma série de conexões, fazendo com
que a degradação ou destruição de um destes componentes ambientais promova o declínio dos
outros (BRADY et al., 2009).
Tendo em vista que a degradação do solo é um fator preocupante, sendo ocasionado pela
poluição, erosão e outros fatores, acarretando posteriormente perda da biodiversidade vegetal e
contaminação dos lençóis freáticos tem-se proposto ações voltadas à educação em solos
(MUGGLER et al., 2006). Segundo Ruellan (1988), uma das formas de integrar os
conhecimentos obtidos nas universidades através de ensino, pesquisa e extensão
251aos
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

conhecimentos ligados a comunidade externa é promover ações que unifiquem estes debates
entre professores, alunos e pesquisadores.
Para que haja maior sensibilização de crianças, jovens e adolescentes sobre este recurso
natural são necessárias ações que promovam mais discussões nas escolas sobre a qualidade do
solo, já que este recurso tem efeito profundo na saúde e na produtividade de dos ecossistemas
(BECKER, 2005). A educação sobre solos tem como objetivo sensibilizar as pessoas da
importância deste recurso para a manutenção da vida saudável na terra, bem como a
manutenção de ecossistemas dependentes do mesmo. No processo de conhecimento sobre a
temática solo o mesmo deve ser compreendido como um recurso não renovável, e por isso, sua
conservação é de importância extrema e seu uso deve ser de forma responsável e sustentável
(FELIX et al., 2019).
Dentre os vários trabalhos que tratam da relação manejo de solo e sua conservação podem
ser citados Wadt (2003), Stefanoski et al. (2013), Segnorini et al. (2018) e Schmidt et al. (2018).
Outros autores dedicaram-se a associar a temática do solo sob a perspectiva da educação
(MOLETA, 2013), que contribuem para a manutenção adequada deste recurso.
Dentro deste contexto, objetivou-se sensibilizar alunos do ensino fundamental (1° ao 9°
ano) na Escola Municipal Dom Paulo Hipolito de Souza Libori, localizado no município de Ilha
Grande, PI sobre a importância do solo para a manutenção da biodiversidade na Área de
Proteção Ambiental do Delta do Parnaíba e de como reduzir os resíduos sólidos utilizando a
coleta seletiva e composteiras como métodos de ensino-aprendizagem.

MATERIAL E MÉTODOS
Área de Estudo
As intervenções foram realizadas na Escola Municipal Dom Paulo Hipolito de Souza
Libori localizada em Ilha Grande-PI. Este município foi elevado à categoria de cidade em 26
de janeiro de 1994, desmembrando-se de Parnaíba. Ainda é importante frisar que o município
de Ilha Grande localiza-se na maior ilha da APA do Delta do Parnaíba (ICMBIO, 2019).
A Escola Municipal Dom Paulo Hipolito de Souza Libori oferece Educação Infantil e
Ensino Fundamental (1° ao 9° ano) na comunidade Tatus, que durante a palestra contou com a
participação de aproximadamente 50 alunos. Obedecendo aos aspectos legais, este trabalho foi
aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Federal do Piauí (UFPI) sob o n°
91754118.2.0000.5214 e parecer consubstanciado n° 2.725.597.

252
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Coleta de dados

Durante o processo de ensino-aprendizagem foram realizadas palestras expositivas


dialogadas, dinâmicas de grupo e atividades ludo pedagógicas abrangendo a temática “solos” e
contextualizando com a realidade dos atores. A técnica do “survey” (BABBIE, 2001) foi
utilizada para comparar o entendimento dos alunos diante da ação educativa com o adquirido
após a realização das atividades, levando à conclusão de que o processo foi eficiente permitindo
a construção do conhecimento sobre o ecossistema costeiro regional, utilizando práticas de EA,
discussões acerca dos resíduos sólidos junto ao público-alvo. Para que este mecanismo servisse
como ferramenta eficiente, foi utilizado em função de temas específicos, com objetivos
concretos e aplicado de acordo com a realidade dos alunos.

Análise dos dados


A análise qualitativa dos dados ocorreu durante a palestra dialogada, por meio de
atividades e dinâmicas, com questionamentos sobre a temática, permitindo conhecer as visões
de mundo dos discentes de acordo com sua realidade.
Foram realizadas avaliações ao final das palestras por meio de questionamentos, com a
formação de grupos de discussão, que também ajudou na percepção dos palestrantes durante a
mediação do aprendizado pelos discentes em questão.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Perfil dos discentes


Quanto ao público, foram cerca de 50 alunos do 1° ao 9° ano tendo a faixa etária de 06
até 13 anos de idade, todos regularmente matriculados na Escola Municipal Bom Paulo,
município de Ilha Grande do Estado do Piauí.

Dinâmicas temáticas
No total foram quatro palestras proferidas tendo como tema central “solos”, sendo
abordados nas vertentes, usos e importância para agricultura, tipos de solos, práticas para
conservação, flora de ambientes costeiros, como restinga e manguezais, suas características e
práticas para a conservação

253
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

No primeiro momento da palestra sobre conceitos de solo, os alunos relataram como


denominam este termo e definiram o que era solo arenoso e argiloso, os quais são chamados de
“areia, terra, barro, dunas e morro”.
Durante as conversas com os alunos sobre os tipos de solo, foi possível conhecer as
percepções de mundo das crianças que reconhecem as variedades desse recurso encontrado na
região e, que estão presentes no cotidiano destes, a exemplo, do solo arenoso encontrado nas
dunas, que é denominado por eles de “areia”. De acordo com Moleta (2013) diálogos
contextualizados e ligados à realidade dos estudantes integra conteúdos teóricos e práticos,
possibilitando um confronto de ideias e uma melhor compreensão do conteúdo abordado.
Além disso, é válido destacar a importância de intervenções realizados em escolas que
relaciona o conhecimento científico com o conhecimento local, sendo estas oportunidades para
sensibilizar sobre a adoção de atitudes para a manutenção e conservação dos solos. Sobre o solo
humífero, os alunos reconheceram que esse solo é o tipo com maior teor de matéria orgânica,
sendo os mais férteis e utilizados para agricultura, pois é arejado, permeável e fornece grande
parte dos sais minerais necessários às plantas.
Levando-se em consideração os solos característicos da região, trabalhou-se acerca dos
“solos de manguezais” onde foi abordado de forma participativa, gerando sempre grandes
discussões e questionamentos devido ao fato de que cada aluno, residente na região, a maioria
tem ao menos um dos pais pescadores/agricultores em áreas próximas ao ecossistema
manguezal, desenvolvendo algum tipo de trabalho.
Ainda sobre o solo do mangue os educandos relataram que a coloração escura do
manguezal é explicada pela presença da matéria orgânica, constantemente depositada, somando
assim aos conceitos trabalhados anteriormente.
Quanto à vegetação, foram realizadas observações pontuais ao passo que detalhou-se
quais as espécies ocorrentes na região, sendo, a flora caracterizada pela presença (Mangue
manso, mangue vermelho e siriba), sendo respectivamente: Laguncularia racemosa (L.) C. F.
Gaertn, Rhizophora mangle L. e Avicennia germinans (L.) L. Trabalhou-se ainda os termos
científicos desde ecossistema como “pneumatóforos”, raízes aéreas e decomposição de matéria
orgânica. Foram, ainda, discutidas adaptações dessas espécies com as características do solo
neste ambiente e a importância destas na fixação do solo, fonte de madeira, meios de reprodução
e abrigo para animais como ostras, mariscos e peixes ocorrentes na região.
Quanto ao trabalho acerca das práticas de conservação do solo, bem como seu
ordenamento, os alunos foram proativos, principalmente, quando questionados sobre
254 os
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

possíveis malefícios da disposição irregular dos resíduos sólidos no meio ambiente, onde
relataram que não se deve “jogar lixo no chão, na rua ou no quintal de casa”, já que pode trazer
diversos transtornos ao ambiente natural e, consequentemente, a comunidade local, como a
poluição do próprio solo, dos mananciais (rios, lagos, igarapés, aquíferos, etc.), dentre outros
que foram relatados pelos alunos. Estes também tomaram conhecimento da existência da Lei
nº12.305/2010 que trata da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), que busca ordenar
e regular a forma como o país, assim como o municípios de Ilha Grande, deve lidar com estes
resíduos, especialmente, quanto ao seu armazenamento, coleta, transporte e destinação final.
No decorrer da palestra os alunos ainda foram indagados sobre os diferentes tipos de
resíduos que podem ser gerados pela sociedade, que de acordo com suas percepções iniciais
expuseram conhecer como “lixo” apenas papéis, garrafas de plásticos, carteiras danificadas e
resto de comida. Estes relatos aconteceram de acordo com a realidade local e sua proximidade
com esses produtos descartados. Por outro lado, foi apresentado aos alunos a existência de
outros poluentes do solo e do meio ambiente, como por exemplo, fertilizantes, pesticidas e
inseticidas, que são utilizados em plantações de diversos grãos e frutas. Além desses, foram
apresentados ainda produtos químicos como gasolina, material de limpeza, metais pesados e o
chorume, que surge com a decomposição de material orgânico.
Com o intuito de reverter esses problemas decorrentes da disposição irregular de
resíduos sólidos no ambiente, foi explanado aos alunos as possíveis soluções, como por
exemplo, a utilização de pesticidas, fertilizantes e inseticidas naturais, bem como, os cuidados
ao descartar o lixo, principalmente os resíduos químicos, por serem os principais ativos de
poluição de solos e mananciais, além da utilização da coleta seletiva. Este último é uma das
etapas mais importantes da reciclagem, já que separa os resíduos descartados que ainda poderão
ser reaproveitados, dessa forma, contribuindo para a redução desse material descartado no meio
ambiente. Esta etapa da palestra também foi bastante lúdica e pedagógica, especialmente, pelo
conhecimento das principais cores utilizadas no sistema de armazenamento dos resíduos sólidos
antes da possível coleta para a reciclagem, onde o vermelho é correspondente ao
condicionamento do plástico, a cor azul direcionada ao papel, amarelo ao metal, verde e marrom
aos vidros e orgânicos respectivamente.
Complementando e contextualizando, trabalhou-se também a importância da flora para
conservação dos solos, destacando a importância da coleção botânica localizada na
Universidade Federal do Piauí. Na ocasião, durante a palestra intitulada de “Herbário HDELTA
e a conservação da flora regional” foram apresentados aos alunos exemplares tombados
255 no
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

acervo didático da coleção e espécies cultivadas no Horto de Plantas alimentícias Prof. Dr.
Afrânio Fernandes. Diante da mostra dos exemplares foi discutido com o público sobre
importância das plantas para o meio ambiente e como a contaminação do solo afeta as plantas,
bem como acerca das espécies botânicas dos mais diversos ecossistemas ocorrentes na
comunidade.
Para finalizar esse tema, a turma, dividida em grupos, deveria propor um projeto
alternativo viável, importante em termos socioeconômicos e ambientais para essas áreas,
através de uma propaganda.
Alguns termos são de difícil assimilação pelos alunos, por isso, gincanas foram usadas
para relembrem às novas palavras e conceitos vistos ao longo das palestras, auxiliando a
aprendizagem (MARTINS, et al., 2011).
A participação em sala de aula também foi amplamente explorada em vários momentos,
incluindo a confecção de uma composteira utilizando garrafas pet. A composteira é uma
maneira sustentável, fácil e de baixo custo, cujos benefícios são: aumento do teor de matéria
orgânica para o solo, auxilia na melhoria da qualidade desse recurso natural, aumentando assim
a produtividade das plantas e ainda contribui para a mitigação de gases de efeito estufa.

CONCLUSÃO
Conclui-se que, foi possível sensibilizar alunos do ensino fundamental (1° ao 9° ano)
sobre a importância do solo e seus diversos usos, especialmente pela agricultura, assim como,
reduzir os resíduos sólidos no ambiente utilizando composteiras como método de ensino-
aprendizagem na Escola Dom Paulo como uma alternativa plausível para este tipo de problema,
no caso o lixo orgânico. Além de possibilitar mudanças de hábitos dos alunos com atividades
práticas e recreativas interdisciplinares de reciclagem de resíduos sólidos, através da coleta
seletiva. Atividades como estas possibilitam aos professores e alunos ampliar o leque de
conhecimento e trabalhar a problemática do solo e do lixo por meio da reciclagem como método
de educação sobre solos e seus diversos usos.
Por causa da sua biodiversidade e fragilidade, as áreas de mangue e restinga faz-se
necessário trabalhar conjuntamente a EA em prol do conhecimento relacionados a estes
ecossistemas, possibilitando que a sociedade tenha acesso a estudos e pesquisas que
demonstrem a importância da conservação para a manutenção destes ambientes. E nada mais
assertivo de começar estas ações por meio de crianças e adolescentes, que naturalmente estão
mais abertos ao conhecimento e sua propagação. 256
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

REFERÊNCIAS

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258
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

PESCADORES ARTESANAIS E CONSERVAÇÃO AMBIENTAL NA


COMUNIDADE PEDRA DO SAL (PI)
Mayara Maia Ibiapina
RESUMO
A presente pesquisa partiu da observação do modo como a comunidade se relaciona com a
natureza, para isso, é de fundamental importância a compreensão de um grupo que permanece
caracterizando a Pedra do Sal, os pescadores artesanais, o objetivo é realizar breve reflexão
sobre a contribuição dos pescadores artesanais da Pedra do Sal para a conservação ambiental
da Área de Proteção Ambiental Delta do Parnaíba, área onde a comunidade está inserida.
Estudar a importância de povos tradicionais é importante para justificar a proteção de seus
territórios, refletindo sobre o processo desordenado e insustentável de exploração econômica
desses locais. A pesquisa teve abordagem qualitativa e utilizou a pesquisa bibliográfica, a
observação direta e entrevistas semiestruturadas com moradores da comunidade para tecer
reflexões sobre o tema. A pesca ultrapassa o sentido de profissão, trata-se de um modo de vida
com trabalho livre e comumente apresenta regime coletivo. Os pescadores artesanais tem modo
de vida tradicional, sua forma de lidar com a natureza é passada pelas gerações, mostrando uma
identidade alicerçada na ancestralidade. Nesse sentido, a ligação espiritual e mística das
comunidades tradicionais com a natureza sugere uma relação de cuidado e respeito.

Palavras-Chave: Natureza; Povos tradicionais; APA Delta do Parnaíba;

ABSTRACT
This research started from the observation of how the community relates to nature, for this, it
is of fundamental importance to understand a group that remains characterizing pedra do Sal,
artisanal fishermen, the objective is to conduct a brief reflection on the contribution of artisanal
fishermen of Pedra do Sal to the environmental conservation of the Environmental Protection
Area Delta do Parnaíba , area where the community is inserted. Studying the importance of
traditional peoples is important to justify the protection of their territories, reflecting on the
disordered and unsustainable process of economic exploitation of these sites. The research had
a qualitative approach and used bibliographic research, direct observation and semi-structured
interviews with community residents to weave reflections on the subject. Fishing goes beyond
the sense of profession, it is a way of life with free work and commonly presents collective
regime. Artisanal fishermen have a traditional way of life, their way of dealing with nature is
passed down through the generations, showing an identity based on ancestry. In this sense, the
spiritual and mystical connection of traditional communities with nature suggests a relationship
of care and respect.

Keywords: Nature; Traditional peoples; Parnaíba Delta APA.

INTRODUÇÃO
A Pedra do Sal está dentro de uma Unidade de Conservação – UC, a APA Delta do
Parnaíba, que foi criada através do Decreto S/N de 28 de agosto de 1996, compreendendo um
perímetro de 460.812 metros e uma área de aproximadamente 313.800 ha.

259
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

A APA Delta do Parnaíba abrange os municípios: Luís Correia, Ilha Grande e Parnaíba,
no estado do Piauí; Araioses e Tutóia, no estado Maranhão; Chaval e Barroquinha, no estado
do Ceará, além de águas jurisdicionais. Os principais objetivos desta UC são: proteger os deltas
dos rios Parnaíba, Timonha e Ubatuba, com sua fauna, flora e complexo dunar; proteger
remanescentes de mata aluvial; proteger os recursos hídricos; melhorar a qualidade de vida das
populações residentes, mediante orientação e disciplina das atividades econômicas locais;
fomentar o turismo ecológico e a educação ambiental; e preservar as culturas e as tradições
locais (BRASIL, 1996).
Os moradores da Comunidade Pedra do Sal enfrentam muitas intervenções em seu
território, de uma forma geral, historicamente, essas intervenções são percebidas ao longo de
todo o litoral brasileiro. Gradualmente, o que antes eram comunidades voltadas para a pesca
artesanal, vão se transformando com os efeitos da modernidade. O que se observa é a lógica de
mercado e a competição se instalando na proporção em que novos valores são estabelecidos e
a lenta expulsão esses pescadores de seus locais de moradia principalmente devido à
especulação imobiliária.
A presente pesquisa partiu da observação do modo como a comunidade se relaciona
com a natureza, para isso, é de fundamental importância a compreensão de um grupo que
permanece caracterizando a Pedra do Sal, os pescadores artesanais para entender o seguinte
questionamento: Qual a contribuição dos pescadores artesanais da Pedra do Sal para a
conservação ambiental da APA Delta do Parnaíba?
O objetivo deste artigo é realizar breve reflexão sobre a contribuição dos pescadores
artesanais da Pedra do Sal para a conservação ambiental da APA Delta do Parnaíba. Estudar a
importância de povos tradicionais é importante para justificar a proteção de seus territórios,
refletindo sobre o processo desordenado e insustentável de exploração econômica desses locais.
A pesquisa teve abordagem qualitativa e utilizou a pesquisa bibliográfica, a observação direta
e entrevistas semiestruturadas com moradores da comunidade para tecer reflexões sobre o tema.

PESCA ARTESANAL E PEDRA DO SAL


Como observado durante a pesquisa, a pesca ainda é uma atividade que marca a
tradicionalidade da Comunidade Pedra do Sal, por isso é preciso entender como os conflitos
gerados, entre os interesses modernizadores e a atividade da pesca, tocam o modo de vidas
desses pescadores artesanais em relação com: o mar, a terra, o trabalho, a família, as crenças e
a sua sociabilidade intra e interlocal. 260
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Segundo a Lei 11.959/2009 a pesca artesanal é praticada “diretamente por pescador


profissional, de forma autônoma ou em regime de economia familiar, com meios de produção
próprios ou mediante contrato de parceria, desembarcado, podendo utilizar embarcações de
pequeno porte, e a atividade” (BRASIL, Lei 11.989, 2009, art. 8). Ainda para efeitos dessa lei,
consideram-se atividade pesqueira artesanal: “os trabalhos de confecção e de reparos de artes e
petrechos de pesca, os reparos realizados em embarcações de pequeno porte e o processamento
do produto da pesca artesanal” (BRASIL, Lei 11.989, 2009, art. 4).
É necessário relembrar que pescador artesanal é muito mais que uma profissão, e que
conhecer esse grupo é elemento fundamental para a compreensão da questão central da
pesquisa, compreender quais os conflitos socioambientais vividos pela Comunidade Pedra do
Sal. Em geral, entender as relações sociais dos pescadores da comunidade é relevante na
compreensão de como o processo de desenvolvimento tem sido imposto a territórios de
pequenas comunidades no estado do Piauí.
A comunidade surgiu de uma vila de pescadores, e hoje, mesmo seu espaço
apresentando características diversas, ela ainda tem a pesca artesanal como importante fator de
reprodução do seu território, portanto, estas famílias carregam culturalmente uma ligação forte
com o mar, a pesca e a natureza que o cercam; por isso, os atores da pesquisa serão estes
pescadores.
Como já mencionado anteriormente, a comunidade em estudo possui relação intima com
seu território e com os recursos naturais, e apontam a existência de muitos conflitos que
extrapolam as esferas sociais ou unicamente ambientais, por isso a utilização do termo
‘conflitos socioambientais’, segundo Little (2004, p.1) “podemos classificar um conflito
determinado como sócio-ambiental quando o cerne do conflito gira em torno das interações
ecológicas”, essa definição sugere a presença de grupos e instituições sociais diferentes que
interagem entre si e com o seu meio meio biofísico.

POVOS TRADICIONAIS, PESCA E CONSERVAÇÃO AMBIENTAL


Nesse ponto, constatamos a ligação que a comunidade tem com a natureza, uma relação
como uma simbiose. Diegues (2001) explica que muitas comunidades tradicionais:

Ainda não foram totalmente incorporadas à lógica do lucro e do mercado,


organizando parcela considerável de sua produção em torno da auto-
subsistência. Sua relação com a natureza, em muitos casos, é de verdadeira
simbiose, e o uso dos recursos naturais só pode ser entendido dentro de uma
261
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

lógica mais ampla de reprodução social e cultural, distinta da existente na


sociedade capitalista (DIEGUES, 2001, p. 79).

A pesca ultrapassa o sentido de profissão, trata-se de um modo de vida com trabalho


livre e comumente apresenta regime coletivo. Os pescadores artesanais tem modo de vida
tradicional, sua forma de lidar com a natureza é passada pelas gerações, mostrando uma
identidade alicerçada na ancestralidade.
Para Diegues (2008) na concepção mítica das sociedades tradicionais existe uma
simbiose entre o homem e a natureza, tanto nas técnicas, atividades e produção, quanto no
campo simbólico. Nesse sentido, a ligação espiritual e mística das comunidades tradicionais
com a natureza sugere uma relação de cuidado e respeito. Segundo Diegues (2001) as
comunidades tradicionais apresentam pontos importantes:

a) dependência e até simbiose com a natureza, os ciclos naturais e os recursos


naturais renováveis a partir dos quais se constrói um modo de vida;
b)conhecimento aprofundado da natureza e de seus ciclos que se reflete
na elaboração de estratégias de uso e de manejo dos recursos naturais.
Esse conhecimento é transferido de geração em geração por via oral; c)
noção de território ou espaço onde o grupo social se reproduz econômica
e socialmente; d)moradia e ocupação desse território por várias gerações,
ainda que alguns membros individuais possam ter-se deslocado para os
centros urbanos e voltado para a terra de seus antepassados; e) importância
das atividades de subsistência, ainda que a produção de mercadorias possa
estar mais ou menos desenvolvida, o que implica uma relação com o
mercado; f) reduzida acumulação de capital; g) importância dada à
unidade familiar, doméstica ou comunal e às relações de parentesco ou
compadrio para o exercício das atividades econômicas, sociais e culturais;
h) importância das simbologias, mitos e rituais associados à caça, à pesca
e atividades extrativistas; i) a tecnologia utilizada é relativamente simples,
de impacto limitado sobre meio ambiente. Há reduzida divisão técnica e
social do trabalho, sobressaindo o artesanal, cujo produtor (e sua família)
domina o processo de trabalho até o produto final; j) fraco poder político,
que em geral reside com os grupos de poder dos centros urbanos; l) auto-
identificação ou identificação pelos outros de se pertencer a uma cultura
distinta das outras (DIEGUES, 2001, p. 87-88).

O conhecimento da natureza é a principal base de sustentação, é através dele que os


pescadores identificam os ciclos da natureza, pontos de pesca, sinais das águas. Porém, esta
natureza está sendo modificada de forma agressiva pela ação antrópica, isso dificulta a
identificação dos elementos que orientam os ciclos da vida pesqueira. É visível que a
dependência, em maior ou menor grau, com a sociedade capitalista causa efeitos
desorganizadores nessas comunidades.
262
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Para Diegues (2001) esses sistemas tradicionais de manejo não se tratam somente de
exploração econômica dos recursos, eles revelam “a existência de um complexo de
conhecimentos adquiridos pela tradição herdada dos mais velhos, de mitos e símbolos que
levam à manutenção e ao uso sustentado dos ecossistemas naturais” (DIEGUES, 2001, p. 85),
portanto, a comunidade tradicional exerce um papel importante na conservação desse ambiente,
funciona como uma troca, pois o conhecimento empírico da natureza marca a criação de
sistemas de manejo desses recursos naturais, a existência do respeito aos ciclos naturais permite
tempo para a capacidade de recuperação das espécies de animais e plantas utilizadas.
Segundo Dias Neto e Dornelles (1996) um dos principais problemas no litoral brasileiro
é a sobrepesca, trata-se da captura acima das quotas estabelecidas pelos órgãos ambientais para
garantir a manutenção dos estoques pesqueiros; soma-se a isso uma série de problemas
associados à ação antrópica que leva um declínio dos estoques de pesca, agravando um estado
de crise da atividade pesqueira na costa do país.
Esses problemas se agravam gradativamente, forçando, muitas vezes, práticas proibidas
de pesca. As comunidades pesqueiras que praticam a pesca artesanal, geralmente, demonstram
maior preocupação com a sustentabilidade dos recursos, pelo respeito à natureza como fonte de
alimento e reprodução social.
Para Diegues (1995), a característica da subsistência tem desaparecido do litoral
brasileiro, sendo mais praticada em comunidades ribeirinhas e indígenas, e é exercida
simultaneamente com a caça e a lavoura; e ainda utiliza o comércio por economia de trocas.
Essa característica também é encontrada na comunidade em estudo, a Pedra do Sal, que hoje
não apresenta mais uma característica de produção apenas de subsistência, mas sim uma
diversificação de atividades inclusive com fins comerciais, como são discutidos nos estudos
dos espaços rurais.
Ao sugerir uma diversificação dos usos dos espaços rurais, Carneiro (2012) explica que
houve uma ampliação considerável do leque de atividades exercidas no meio rural, entretanto,
essas atividades mesmo sendo atividades econômicas devem considerar as relações sociais e os
atores sociais envolvidos.
Assim, é necessário ressaltar que a categoria “pescador artesanal” diz respeito não só a
profissão exercida, por trazer um debate importante sobre as populações tradicionais e a sua
defesa na permanência e reprodução territorial em seus locais de origem.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

263
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Mesmo com uma diversificação de atividades e atores a pesca artesanal ainda é a


principal atividade econômica da Comunidade Pedra do Sal, para compreender os conflitos
socioambientais e os prejuízos à conservação ambiental da região é necessário pesquisar mais
profundamente o modo de vida da comunidade, como se dá a pesca e suas relações sociais e
como os conflitos impactam no seu modo de vida.
Por fim, os novos estudos revelam muitos avanços quanto ao modo de perceber a
conservação ambiental. O que se espera é que o conhecimento tradicional, e, sobretudo as
técnicas de manejo patrimoniais, sejam reconhecidos como uma forma legítima de garantir os
recursos naturais para futuras gerações, para resolução de conflitos entre populações
tradicionais e as sociedades conservacionistas.
REFERÊNCIAS

BRASIL. República Federativa do Brasil. Decreto s/n de 28 de Agosto de 1996. Criação da


Área de Proteção Ambiental (APA), denominada Delta do Parnaíba. 1996. Disponível em <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/DNN/Anterior%20a%202000/1996/Dnn4368.htm >
Acesso em: 08 nov. 2018.
______. Lei 11.959, de 13 de junho de 2008. Dispõe sobre as Colônias, Federações e
Confederação Nacional dos Pescadores, regulamentando o parágrafo único do art. 8o da
Constituição Federal e revoga dispositivo do Decreto-Lei no 221, de 28 de fevereiro de 1967.
Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11699.htm >
Acesso em 05. mar. 2019.
CARNEIRO, Maria José. Do “rural” como categoria de pensamento e como categoria
analítica. In. ______. (Coord.). Ruralidades contemporâneas: modos de viver e pensar o rural
na sociedade brasileira. Rio de Janeiro: Mauad/FAPERJ, 2012.
DIAS-NETO & DORNELLES. L. C. C. Diagnóstico da pesca marítima do Brasil. Brasília:
IBAMA, 165 p. (Coleção Meio Ambiente. Série Estudos Pesca, 20), 1996.
DIEGUES, A. C. O mito moderno da natureza intocada. 3 ed. São Paulo : Hucitec Núcleo de
Apoio à Pesquisa sobre Populações Humanas e Áreas Úmidas Brasileiras, USP, 2001.
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NUPAUB-USP, 1995.
____________ (org.). Etnoconservação: novos rumos para a proteção da natureza nos
trópicos. 2ed. Coleção Ecologia e Cultura. São Paulo: Hucitec, 2008.
LITTLE Paul Elliot. A etnografia dos conflitos sócio-ambientais: bases metodológicas e
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Disponível em:
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17 nov. 2018

264
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

PLANEJAMENTO DE ESPAÇOS DE LAZER: O CASO DA PRAÇA DE EVENTOS


MANDU LADINO, NA CIDADE DE PARNAÍBA, PIAUÍ.
Rute Ferreira Xavier
Victor Brito Dantas Martins
Anderson Fontenele Vieira
RESUMO
Este artigo teve como objetivo identificar a percepção sobre lazer de usuários da Praça Mandu
Ladino, localizada na cidade de Parnaíba, por meio de uma pesquisa aplicada que buscou
produzir conhecimento acerca do objeto em estudo, levantando variáveis sobre as relações de
caráter social e patrimonial, que desenvolveram em seu ambiente, no qual, tem um papel
importante na socialização e ligação com a natureza. Levando em conta o que se pode adaptar
para uma melhor utilização, através de equipamentos de lazer e realizações de eventos que
desenvolve as múltiplas funções do lazer e turismo. E os resultados obtidos pelos sujeitos, foi
uma boa aceitação da Praça, porém os investigados apontam a necessidade de um espaço mais
estruturado para momentos recreativos, e incentivos à cultura e esportes entre ouros aspectos
no tocante ao turismo, como mais eventos.

Palavras-chave: Espaços de lazer; Praças; Turismo.

ABSTRACT

This article aimed to identify the perception about leisure of users of Mandu Ladino Square,
located in the city of Parnaíba, through an applied research that sought to produce knowledge
about the object under study, raising variables about the social and patrimonial relationships
they developed in their environment, in which it has an important role in socialization and
connection with nature. Taking into account what can be adapted for better use, through leisure
equipment and event achievements that develops the multiple functions of leisure and tourism.
And the results obtained by the subjects, was a good acceptance of the Square, but the
investigated point out the need for a more structured space for recreational moments, and
incentives to culture and sports among our aspects regarding tourism, such as more events.

Keywords: Leisure spaces; Squares; Tourism.

INTRODUÇÃO

Ao pensar o planejamento de espaços públicos urbanos enquanto elementos


constitutivos de atratividade para o turismo nas cidades, não se pode perder de vista o enfoque
das espacialidades das praças, bem como seu valor urbano, social e de lazer. Segundo Santos
(1997, p. 51), as praças são “formadas por conjuntos indissociáveis”, além de “sistemas de
objetos e ação” agregando valor as urbes e promovendo as interações sociais.
As praças fazem parte da paisagem no ambiente urbano mesmo que às vezes
distorcidas pelo mau uso ou má conservação pela sociedade em geral desse bem público. Assim,
elas são planejadas para fazer parte da estruturação relacional do urbano e da natureza, inserindo
265
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

a paisagem como fuga do cotidiano, promovendo relações sociais e momentos de lazer. Na


perspectiva de Santos (1997, p. 83): “o espaço uno e múltiplo, por suas diversas parcelas, e
através do seu uso, é um conjunto de mercadorias, cujo valor individual é função do valor que
a sociedade, (...), atribui a cada pedaço de matéria, (...)”.
É significativo avultar a importância das ações dos indivíduos que podem criar marcas
urbanas, que são historicamente incorporadas às paisagens. Por meio da apropriação do espaço
pela multiplicação do uso de um modo particular e por concentração de pessoas devido algum
atrativo. Dessa forma, os usuários potenciais precisam ser incentivados a isto, pois muitas vezes
estão descontentes com seus espaços de lazer ou desconhecem as possibilidades em sua
comunidade ou em sua cidade (SANTOS, 1997).
Dessa forma, apontamos que o lazer é um direito legitimado pela Constituição Federal
- CF (BRASIL, 1988), para tanto, é necessário a existência de espaços garantidos pelo Estado
que promovam vivências relacionadas ao lazer. É imperativo também compreendermos a
função de um espaço público para comunidade onde ele se situa, bem como seu valor material
e imaterial.
Portanto, esse trabalho trata do planejamento de espaços de lazer com foco na Praça
Mandu Ladino, localizada na cidade de Parnaíba, Piauí, e sua relevância como um espaço de
convivência, lazer, turístico e urbanístico. Baseado no exposto, a problemática de pesquisa foi
balizada pelas seguintes questões: Como os frequentadores da área estudada valoram esse
espaço público? Quais as práticas de lazer são mais comuns e realizadas por usuários da área?
Em virtude disso, este estudo teve como objetivo - identificar a percepção de usuários
da Praça Mandu Ladino sobre seu valor enquanto equipamento de lazer e turístico da cidade de
Parnaíba.
A metodologia da pesquisa é de natureza aplicada, caracterizando-se como uma
pesquisa descritiva. Foram aplicados 100 questionários de múltiplas escolhas, nos dias 16 e 17
do mês Junho, do ano de 2017, com usuários que utilizavam a praça para o lazer. Vale ressaltar
que estes foram selecionados por meio de uma amostra aleatória simples, tendo como critério
de inclusão ser jovens e adultos independentemente da idade.
A pesquisa bibliográfica caracterizada pela investigação de diferentes fontes referentes
ao tema foi feita por meio de livros, artigos científicos, abordando as temáticas: as praças como
espaços públicos de lazer, a relação do turismo com lazer e a apropriação dos usuários por estes
espaços. Quanto à abordagem é qualitativa, pois a partir dos dados coletados, pode-se

266
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

compreender a percepção dos sujeitos pesquisados e como estes valoram a área objeto do
estudo.
Por fim, a análise dos dados foi feita por meio do programa Excel (2010), de modo que
foram elaborados gráficos que expressassem as respostas dos sujeitos pesquisados. Para tanto,
foi feita análise de conteúdo dos questionários aplicados, que segundo Bardin (2011, p.15), “a
análise do conteúdo é um conjunto de instrumentos de cunho metodológico em constante
aperfeiçoamento, que se aplicam a discursos (conteúdos e continentes)”.

Caracterização da Praça Mandu Ladino

A Praça Mandu Ladino fica localizada em uma área bem urbanizada da cidade de
Parnaíba possibilitando aos usuários em geral opções de lazer e cultura. Legalmente, esse
espaço foi institucionalizado pela Lei Municipal n° 2.475, de 17 de abril de 2009, sancionada
pelo então prefeito José Hamilton Furtado Castello Branco. O nome dado é em homenagem a
um guerreiro indígena nascido em São Miguel do Tapuio (Altos - PI), pertencente a tribo Arani
e que em meados de 1717 lutou para evitar que seu povo fosse dizimado (NOVE, 2016).
Foi construída em uma área que pertencia à antiga REFFSA (Rede Ferroviária Federal
Sociedade Anônima), extinta estrada de Ferro, entre a Rua Santos Dumont e a Avenida Padre
José Raimundo Vieira, no Bairro de Fátima, zona norte da cidade de Parnaíba. Situada em uma
área denominada de Esplanada da Estação e favorecida por um local com elementos históricos.
Sua arquitetura simples é composta por canteiros ajardinados, quadra de esportes e dois palcos
para shows; seu piso é de blocos de tijolos ecológicos, que facilitam a drenagem da água para
o solo, além de bancos com estrutura de madeira, lixeiras e placas educativas e de identificação
(DADOS DA PESQUISA, 2016).
Foi inaugurada na noite do dia 22 de junho de 2007, durante a abertura do VII Arraial
de São João da Parnaíba e o I Encontro Regional de Folguedos do Norte do Piauí, Ceará e
Maranhão, o evento durou 20 dias (NOVE, 2016). Portanto, mesmo que recente tem se notado
que a praça tem tido um valor muito grande para a população, principalmente, sua contribuição
em receber as manifestações culturais que ganham um estímulo a mais nas festividades do São
João da Parnaíba, desde o ano de 2007, quando passou a ser realizada na Praça Mandu Ladino,
e que inicialmente recebeu o nome “quadrilhódromo”, referência a grupos de dança juninas as
quadrilhas, devido ser o primeiro evento a ser realizado na praça antes mesmo da conclusão
das obras, que durou três meses (DADOS DA PESQUISA, 2016). 267
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Percebe-se que a praça tem atraído centenas de pessoas que vem ver as competições
das quadrilhas e do bumba-meu-boi, esses públicos são tanto da cidade de Parnaíba como as
circunvizinhas. Fazendo com que os eventos realizados em seu recinto atraíssem vendedores
ambulantes, onde muitos aproveitam para comercializar alguns produtos artesanais, gêneros
alimentícios como - comidas típicas da região e bebidas, ou seja, a praça de certa maneira
influência no fator socioeconômico de seus frequentadores seja por interesse no lazer como
comercial (DADOS DA PESQUISA, 2016).
No quesito ambiente (figura 1) a área é um exemplo de beleza e cuidado com a
natureza possuindo um jardim amplo com muitas arvores, grama verde e conservada, uso
sustentável de materiais reciclados, bancos de madeira trazendo uma imagem mais rústica e
atraente aos frequentadores, visto que existe toda uma preocupação paisagística. Sua maior
parte é totalmente coberta por vegetação, tornando-a mais aconchegante para quem frequenta
com a finalidade do descanso, folga e esporte, entre outras atividades que podem ser
desenvolvidas, na quadra para futsal, campo e aparelhos para ginástica (DADOS DA
PESQUISA, 2016).
Figura 1 - Localização da praça Mandu Ladino

Fonte: Google Earth (2017).

Praça Mandu Ladino e as Práticas de Lazer

De acordo com os questionários aplicados foi possível fazer um levantamento sobre os


sujeitos da pesquisa, contendo os gêneros e faixas etárias, conforme quadro 1.
268
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Quadro 1 - Perfil dos sujeitos da pesquisa


Gênero Feminino 40,0%
15 a 20 16,0%
20 a 25 7,0%
Faixa etária 26 a 40 12,0%
41 a 60 4,0%
Acima 60 1,0%
Gênero Masculino 60,0%
15 a 20 33,0%
20 a 25 13,0%
Faixa etária
26 a 40 13,0%
41 a 60 1,0%
Total
100,0%
Geral

Fonte: Dados da pesquisa (2017).

Assim, os respondentes eram em sua maioria de homens com idades entre 15 a 20


anos, conformando 33% e 13% entre 26 a 40 anos, e em uma quantidade menor com 16%
mulheres com idade de 15 a 20 anos, e somente 13% dos homens e 12% mulheres tinham idades
de 26 a 40 anos, os quais se apropriam do espaço para diversas atividades, como: caminhada,
futsal, skates, patins, luta de capoeira, além dos que vão somente contemplar a natureza do
espaço.
Os participantes da pesquisa foram questionados sobre as relações de socialização
quando estão na praça (gráfico 1), de modo que responderam: acompanhados de amigos 50%,
20% com companheiro(a)s, 19% com filhos, e sozinhos, apenas 9%. A partir dos dados
podemos concluir que a área é um espaço que estimula a socialização permitindo a reprodução
das mais diversas relações e habilidades sociais interpessoais. Na visão de Del Prette e Del
Prette (2001), os encontros sociais não ocorrem no vazio, mas sim, em determinados contextos
e situações específicas que favorecem sua ocorrência.

Gráfico 1 - Relações de socialização quando estão na praça Mandu Ladino

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Sozinho Outros : irmãos,


9% netos, cachorro,
alunos
1%
Companheiros
(a)
20%

Amigos
Pais
50%
1%

Filhos
19%

Fonte: Dados da Pesquisa (2017).

Ao serem indagados sobre o nível de satisfação no atendimento de suas necessidades


de lazer (gráfico 2), percebemos que 51% se sente satisfeito, 37% nem satisfeito e nem
insatisfeito e que 12% se sente insatisfeito. Del Prette e Del Prette (2001), consideram que a
satisfação é uma demanda subjetiva e que deve considerar aquilo que para o indivíduo é tido
como uma necessidade independente da categoria dessa. Em se tratando do lazer enquanto
necessidade social, ajuizamos que a praça Mandu Ladino teve um indicativo bem maior de
satisfação, certamente por ser um ambiente que remete a fuga do cotidiano e que proporciona
efetividade das relações sociais.

Gráfico 2 - Nível de satisfação no atendimento das necessidades de lazer

Insatisfeito Nem satisfeito e nem insatisfeito Satisfeito

12%

51%
37%

Fonte: Dados da pesquisa (2017).

Aos pesquisados foi questionado se frequentariam mais a praça se tivessem incentivo


para práticas esportivas (gráfico 3). Portanto, 82% dos respondentes disseram que concorda,
15% que nem concorda e nem discorda, e 3% que discorda. Com isso, concluímos que270
o uso
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

do espaço deve perpassar além da socialização, mas também, ao estímulo da ocorrência de


esportes promovidos regulamente por organizações públicas e privadas locais, pois, como
aponta Gomes et al. (2010), a essência do lazer é a vivência lúdica manifestada de várias
maneiras e que faça bem as pessoas, tendo o exemplo dos esportes como uma dessas. Estudos
de Silva et al. (2016) e Menezes; Lima Júnior (2017) apontam a importância do incentivo ao
esporte em praças sendo essa mais uma possível forma de praticar o lazer.

Gráfico 3 - Aumentaria a frequência a praça Mandu Ladino se tivesse mais incentivo para práticas esportivas
Concorda Discorca Nem concorda e nem discorda

3% 15%

82%

Fonte: Dados da pesquisa (2017).

Complementando a questão anterior buscamos identificar o tempo de permanência dos


usuários nas dependências da área pesquisada (gráfico 4). Assim, 60% afirmou que costuma
ficar de 2 a 3 horas, 24% até 1 hora, e, 8%, respectivamente, disseram que ficam de 4 a 5 horas
ou mais de 5 horas. Com base nos dados podemos afirmar que o tempo de permanência é
relativamente curto e certamente a falta de atividades esportivas regulares pode ser um fator
que influencia nisso. De acordo com a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988,
no Artigo 217, a promoção de atividades esportivas é configurada como “dever do Estado
fomentar práticas desportivas formais e não formais, como direito de cada um” (BRASIL,
1988).

Gráfico 4 - Tempo de permanência na praça Mandu Ladino

271
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

8% Até 1 hora
8% 24%
De 2 à 3 horas

De 4 à 5 horas

60%
Mais de 5 horas

Fonte: Dados da pesquisa (2017).

Perguntamos aos participantes o que implicaria para eles não frequentarem a praça
(gráfico 5), nesse caso foram apresentadas muitas categorias de situações e condições que
envolviam estrutura, além de ter sido dada a opção de apontar três alternativas. Levando em
conta os dados coletados e considerando as categorias mais representativas: 30% alegou
ausência de policiamento, 17% disse ser iluminação inadequada, 11% falta de manutenção e
limpeza, e 6%, respectivamente, pela falta de espaços para práticas esportivas e também para
brincadeiras, bem como falta de realização de eventos.
Com base no exposto, podemos relacionar que a ausência de policiamento se destacou
por conta do sentimento de insegurança devido ao aumento da criminalidade na cidade de
Parnaíba. Apesar da ausência de números recentes sobre isso, empiricamente, enquanto
moradores sabemos que os casos de violência e crimes aumentaram nos últimos anos e como
um dos fatores relacionável é o crescimento populacional.
Em relação a iluminação e falta de manutenção e limpeza, elementos que fazem parte
da infraestrutura básica, acuramos que a praça se encontra bem iluminada, limpa e
aparentemente existe uma regularidade da gestão pública local com a manutenção da área. Por
fim, destacamos que o dado sobre a baixa realização de eventos é muito relevante, uma vez que
estes contribuem para aumentar a atratividade turística da praça Mandu Ladino. Cidades que
planejam o turismo e acreditam na organização de eventos para atrair visitantes possuem
calendário anual de eventos organizados.

Gráfico 5 - Razões pelas quais não frequentaria a praça Mandu Ladino

272
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Pela falta de Pela falta de outras: dificudade de


divugação do lugar Pela reputação eventos locomaçoa, pouca
do lugar Pelo Fluxo de acessibilidade, falta
Pelo2%
o estilo das 6%
de banheiros público,
2% veículos
pessoas que falta de tempo
frequentam 1%
5%
1%
Pelo movimento de Inluminaçao
pessoas pelo local inadequada
Calçada inadequadas 1% 17%
para uso
4%
Espaço para sentar
inadequado (bancos)
1%
Falta de espaço para a
prática de esportes
6%
Falta de policiamento
Falta de 30%
brinquedos Arborização
(playground) inadequada
6% 2% Falta de
Visual do lugar manutenção/limpeza
4% 11%

Fonte: Dados da pesquisa (2017).

No que difere da questão anterior o (gráfico 6) aponta as razões pelas quais os


respondentes frequentam a Praça Mandu Ladino, nesse quesito também foi indicado mais de
uma alternativa pelos inqueridos, no caso três, e feito o diagnóstico das alternativas dos
mesmos. Onde o visual do lugar sem dúvidas foi a alternativa mais citada pelos indivíduos, com
19% dos respondentes apontando seu contentamento, reflexo que a natureza contribui com a
paisagem da cidade.
Pois o que se percebe nas cidades é uma imagem construída a partir do contraste suas
áreas verdes, praças e parques, que na qual proporcionam uma agradabilidade estética quando
bem distribuídos e cuidados, o mais importante, frequentados pela população
(CASTROGIOVANNI, 2007).
E mesmo com o percentual menor (10%) a arborização também influência para a
presença desses sujeitos no local, afinal faz parte do visual ou da paisagem. E Santos (1997) ele
confirma isso em dizer que a “paisagem é um conjunto de formas”, e de maneira mais sucinta
está “entre homem e natureza”, embasando assim o referencialmente de praças como espaço
urbano.
Outro ponto em destaque conforme os respondestes, e que embasam a importância
desse logradouro é a relação em que eles têm com o espaço, e o que o espaço fornece para
fortalecer o elo entre usuário e Praça, (gráfico 9) 7% objetaram que a praça é um espaço
confortável, traz recordações e que tem equipamentos culturais, por conseguinte sua motivação
273
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

vem de uma combinação de fatores, que podem ser desde a infraestrutura adequada como
iluminação, manutenção e limpeza, espaços para a prática de esportes, brinquedos, espaço para
sentar, policiamento e até pelo movimento de pessoas.

Gráfico 6 - Variáveis que indica as razões que os inqueridos frequentam a praça

outras: espaço
confortável,
equipamentos
Pela reputação do
culturais , espaço
lugar Pela realização de
que traz recordação
1% eventos
7%
3%
Inluminaçao
Pelo movimento de
14%
pessoas pelo local
7% Policiamento
Espaço para sentar 8%
(bancos) Manutenção/limpeza
7% 8%
Espaço para a prática
de esportes Visual do lugar
11% Brinquedos
(playground) 19%
5%
Arborização
10%

Fonte: Dados da pesquisa (2017).

A Praça Mandu Ladino apresenta elementos que podem contribuir positivamente para
a aparência, como arborização, jardins floridos e com gramas, bancos, espaço confortável que
trazem recordações, e equipamentos culturais como área para shows com palco. Além do
potencial turístico que representa para a cidade.
Em relevância a isso, os indivíduos avaliaram a Praça Mandu Ladino um atrativo
turístico (80%), visto que, ela está situada em um lugar em que ao seu lado contempla um
castelo, considerado patrimônio histórico da cidade de Parnaíba, o Castelo do Tó, apresentando
charme ao ambiente das imediações.
Pois o que se percebe nas cidades é uma imagem construída a partir do contraste de
suas áreas verdes, proporcionando uma agradabilidade estética quando bem distribuídos e
cuidados, o mais importante, frequentados pela população. Fazendo com que as expressões
culturais desses espaços se tornem produto da própria comunidade, contribuindo em sua
totalidade para o bem-estar dos mesmos, nas várias possibilidades de atividades que podem ser
usufruídas e oferecidas nesses lugares ao ar livre.

CONSIDERAÇÕES FINAIS 274


VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Os principais resultados obtidos a partir dessa investigação, das quais trazem variáveis
que afetam a percepção sobre o lazer dos usuários da Praça Mandu Ladino e a intensidade de
uso dos espaços públicos com fins de recreação, trouxe o entendimento de que esses
usufrutuários mesmo que não entendendo de fato o significado da palavra “lazer”, que o mesmo
pode ser compreendido de várias formas, usufrui desse espaço urbano, ou desse lugar em estudo
com intuito da confraternização, entretenimento, fuga do cotidiano e a busca pela saúde física
e mental por meio do esporte e entretenimento.
Ressaltando assim, a importância tanto material como imaterial dessa praça para essas
pessoas, pois se tornou um lugar onde elas podem ir e encontrar na paisagem conforto, paz de
espirito, além de boas recordações. Pois, não se voltaria nesse lugar ou não frequentaria se não
atendesse suas necessidades mesmo que primarias, como uma estrutura relativamente boa
considerando seus amplos espaços e sua conservação estrutural.
Mesmo existindo ressalvas, para a estrutura física da praça algumas até bastante
gritantes como a falta de banheiros públicos, bebedouros, atentando ainda a melhoria na
iluminação, manutenção e limpeza, e investimentos em equipamentos, assinalados pelos
usuários durante a pesquisa neste lugar, e que poderia fazer o momento de descontração dessas
pessoas mais agradável.
É interessante notar, conforme foi abordado durante a pesquisa desse trabalho um
conjunto de ações que se deve realizar de modo continuo, em que se possam visar resultados
que interessem aos atores urbanos implicando mudanças no espaço como produto de um todo.
E para isso, é importante o incentivo na transformação e revitalização dos espaços de lazer
como produto especial por meio da imagem agregada ao lugar, onde o turismo possa explorar
tanto pelo o valor cultural e histórico que acarreta no processo de desenvolvimento das cidades.

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

POSSIBILIDADES PARA A PRÁTICA DO ECOTURISMO NA ILHA DE BOM JESUS


EM PARNAÍBA-PI.
Rosane Oliveira de Sousa
Mayara Maia Ibiapina
RESUMO
O presente artigo visa investigar as possibilidades de implantação de práticas do ecoturismo na
Ilha de Bom Jesus, município de Parnaíba – Piauí, essa área encontra-se dentro da Área de
Proteção Ambiental Delta do Parnaíba e possui uma variedade de ecossistemas como dunas,
manguezais e rios. Por possuir características ecológicas importantes faz-se necessário o estudo
da região, contribuindo para a utilização do local por um turismo ordenado e consciente. A
pesquisa teve abordagem qualitativa e natureza exploratória com utilização da pesquisa de
campo para aplicação de questionários e entrevistas livres a fim de descobrir informações sobre
a região ainda pouco explorada e subsidiar indicações de atividades de baixo impacto ambiental.

Palavras-chave: Planejamento, Ecoturismo, APA Delta do Parnaíba.

ABSTRACT
This article aimed to identify the perception about leisure of users of Mandu Ladino Square,
located in the city of Parnaíba, through an applied research that sought to produce knowledge
about the object under study, raising variables about the social and patrimonial relationships
they developed in their environment, in which it has an important role in socialization and
connection with nature. Taking into account what can be adapted for better use, through leisure
equipment and event achievements that develops the multiple functions of leisure and tourism.
And the results obtained by the subjects, was a good acceptance of the Square, but the
investigated point out the need for a more structured space for recreational moments, and
incentives to culture and sports among our aspects regarding tourism, such as more events.

Keywords: Leisure spaces; Squares, Squares, Squares, Squares Tourism, tourism.

INTRODUÇÃO
De acordo com Ministério do Turismo, ecoturismo é um segmento que, ao utilizar o
patrimônio natural e cultural, tem que estabelecer mecanismos que busquem ao máximo a
sustentabilidade dos locais, a diferença desse segmento entre outras formas de turismo, é que
ele incentiva a conservação desses espaços e busca a formação de uma consciência
ambientalista nos visitantes por meio da interpretação do ambiente, e com isso, busca a
promoção do bem-estar das populações (Brasil, 2010).
Neste contexto, o ecoturismo surge como alternativa de uma atividade menos
impactante ao meio ambiente, ele pode proporcionar um crescimento econômico, ajudar no
desenvolvimento de regiões menos favorecidas pelas políticas de desenvolvimento, e aliados a
278
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

isso, incentivar a conservação ambiental dessas regiões.


Portanto, a intenção desse artigo foi a busca por potencialidades na Ilha de Bom Jesus,
como é conhecida pelos moradores da área de entorno, no município de Parnaíba – PI, sempre
pensando em atividades mais sustentáveis e envolvimento da comunidade local, portanto
utilizando os princípios do ecoturismo, essa ligação entre áreas naturais, comunidade e
visitantes deve ser incentivada para reconstruir os laços entre homem e a natureza.
A presente pesquisa teve abordagem qualitativa e natureza exploratória com utilização
da pesquisa de campo para aplicação de questionários e entrevistas livres a fim de descobrir
informações sobre a região ainda pouco explorada e subsidiar indicações de atividades de baixo
impacto ambiental.
O objetivo da pesquisa foi investigar possibilidades de implantação da prática
ecoturística na área conhecida como Ilha de Bom Jesus no município de Parnaíba-PI, Brasil.
Para alcançar esse objetivo, foi necessário o levantar informações sobre a área a partir da própria
comunidade, que conhece bem a região por utilizar a área principalmente para pesca e lazer,
essas informações são relevantes para um futuro planejamento mais aprofundado da área. Após
isso, foram feitas visitas ao local para identificação e registro dos possíveis atrativos, que
inclusive são indicados pelos entrevistados, e por fim, foi possível identificar pontos fortes da
região e sugerir atividades a serem exploradas na área.
Devido grande necessidade de ferramentas do turismo, o ecoturismo é uma das
modalidades que vem num crescente desenvolvimento, por esse motivo, é que foi pensado no
ecoturismo, como um segmento alternativo para explorar de forma sustentável a localidade em
questão, colocando em evidência sua beleza natural. Contudo, ao praticar o ecoturismo deve-se
pensar em não agredir o meio ambiente, onde conservando este bem comum e que as futuras
gerações poderão desfrutar dessas belezas.
A escolha desse tema se deu pela oportunidade de analisar a possibilidade de inserção
da localidade em roteiros turísticos através da prática do ecoturismo. Com isso, pode-se pensar
na conservação ambiental da Ilha de Bom Jesus aliado a atividade turística e gerar uma
alternativa de renda para pescadores e moradores de entorno da localidade, que podem oferecer
serviços de transporte ou condução de visitantes, diversificando as atividades do turismo de sol
e praia.

TURISMO E MEIO AMBIENTE


O turismo apresenta um dos maiores índices de crescimento na economia mundial.279
Para
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

melhor compreensão do processo de expansão do turismo, particularmente em relação ao meio


ambiente, Ruschmann explica que existem fases de relacionamento do turismo e o meio
ambiente:

A primeira fase, pioneira, ocorreu no século XVIII e se caracterizou pela


descoberta da natureza e das comunidades receptoras [...]. A segunda fase,
caracterizada por um turismo “dirigido” e etilista, ocorreu no final do século
XIX e início do século XX. Não havia a preocupação com a proteção
ambiental [...] A terceira fase, que corresponde ao turismo de massa, ocorre a
partir dos anos 50 e tem seu apogeu no transcorrer dos anos 70 e 80
(RUSCHMANN, 2010, p.20).

Nota-se que as fases pelas quais o turismo passou trouxeram fatores positivos e negativos,
principalmente no relacionamento do turismo com o meio ambiente, pois em muitos locais a
intensidade da atividade turística, despertam diversos conflitos inclusive pela fragilidade desses
ambientes. Ainda de acordo com Ruschmann:

A inter-relação entre o turismo e o meio ambiente é incontestável, uma vez


que este último constitui a “matéria prima” da atividade. A deterioração das
condições de vida nos grandes conglomerados urbanos faz com que o número
cada vez maior de pessoas procure, nas férias e nos fins de semana, as regiões
com belezas naturais (RUSCHMANN, 2010, p.20).

Portanto, a relação entre a atividade turística e o meio ambiente requer atenção, pois
este é essencial para que ocorra o turismo, o meio ambiente se torna um importante alicerce,
possui um conceito amplo e tem muitos elementos e variáveis a serem considerados como:
clima, temperatura, água, solos, flora, fauna e etc.
Nesse sentido, uma ponderação faz-se necessária para continuar este percurso de
levantamento bibliográfico, o conceito de meio ambiente que está sendo tratado neste artigo é
o de meio ambiente natural, pois ele tem relação direta, tanto com o tema proposto, como com
as especificidades do ecoturismo, ao qual se propõe ser explorado na pesquisa. Em geral o meio
ambiente é definido como um conjunto de condições que permite, abriga e rege a vida, como
está disposto na Lei da Política Nacional do Meio Ambiente, Lei Nº 6.938/81 (Brasil, 1981).
Vale ressaltar, porém, que o homem, enquanto indivíduo e/ou sociedade, está inserido
dentro de um conjunto de elementos físico-químicos e ecossistemas naturais, interferindo
diretamente nele, essa interação não pode ser desconsiderada.
Ruschmann (2010) enfatiza que é imprescindível estimular o desenvolvimento
harmonioso e coordenado do turismo, pois, o desequilíbrio do meio ambiente compromete a
280
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

atividade turística, desta forma, constata-se que o turismo quando devidamente planejado deve
inserir mecanismos de conservação desses espaços naturais. E nesse sentido, a conservação
ambiental contribui para a qualidade: dos espaços naturais, da vida da comunidade local e da
exploração econômica do turismo.

ECOTURISMO E PLANEJAMENTO

Nos últimos anos houve um crescimento grande com a preocupação social com relação
aos danos que o desenvolvimento vem causando ao meio ambiente. No Brasil, os primeiros
estudos sobre Ecoturismo remetem à década de 1980. Em 1985 a EMBRATUR deu início ao
“Projeto Turismo Ecológico” criando posteriormente a Comissão Técnica Nacional constituída
conjuntamente com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis (IBAMA) primeira iniciativa a ordenar o segmento (Brasil, 2010).
As políticas públicas de turismo no Brasil são orientadas pelos princípios da
sustentabilidade e fundamentadas na Constituição Brasileira que reserva a todos direitos ao
meio ambiente, impondo ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preserva-lo
as futuras gerações.
O turismo é uma prática econômica, social e ambiental e tem apresentado crescimento
tanto em países desenvolvidos como nos em desenvolvimento, a preocupação nesse sentido é
que em muitos casos, a atividade turística não tem tido preocupação ambiental nem social, se
restringindo apenas na exploração econômica de um determinado local até sua exaustão. É
nesse contexto que o ecoturismo se insere, buscando a promoção de uma nova forma de turismo
se tornando uma
viagem responsável que conserva o ambiente natural e mantém o bem estar da
população local. É praticado em pequenos grupos que não deixam indícios de
terem visitado uma área. Eles procuram compreender as relações existentes
nos ecossistemas, respeitá-las e mantê-las o mais intacta possível, em
harmonia com as populações locais. O ecoturismo pode ser entendido como o
turismo sustentável em áreas naturais (Dias, 2003, p. 107).

Apesar de não existe um consenso de uma definição fixa para ecoturismo como afirma
Wearing e Neil (2014), o conceito desse segmento envolve viagens para áreas naturais com
objetivos de aprender e vivenciar esses locais, sempre pensando em conserva-los, afinal o
ecoturismo surge também como “uma viagem responsável, em que se conservam os ambientes
e se sustenta o bem estar da população local” (Wearing e Neil, 2014, p. 269).
Para complementar o posicionamento teórico deste artigo, é importante utilizar a
281
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

observação de Lindberg e Hawkins (2002, p. 103 apud SANTOS, 2012, p. 23) onde afirmam
que fazer ecoturismo é “provocar e satisfazer o desejo que temos de estar em contato com a
natureza é explorar o potencial turístico visando à conservação e ao desenvolvimento, é evitar
o impacto negativo sobre a ecologia, cultura e a estética”.
Quanto a impactos causados, define-se que são os efeitos (positivos e negativos) que a
atividade turística exerce sobre esses locais, não podemos esquecer é que a influencia desses
impactos está diretamente ligado ao planejamento aplicado, como afirma Dias (2003, p. 79), o
que acontece muitas vezes a nível local, é que “o turismo apresenta-se como uma atividade de
crescimento rápido, e de modo geral as prefeituras não conseguem em tempo suficiente
dimensionar seus impactos”.
Portanto, como “toda atividade humana, o ecoturismo oferece grandes possibilidades de
desenvolvimento, mas também envolvem riscos” (Brasil, 2002, p.22), e como explicado, podem
definir se esses impactos são positivos ou negativos, é a profundidade do planejamento dessas
áreas.
O Planejamento permite produzir o cenário que se deseja, evitando situações
indesejáveis e adaptando-se ao inesperado (Brasil, 2002). Para transformar os atrativos em
produtos do ecoturismo o primeiro ponto é pensar no planejamento, levantando informações,
analisando o que a comunidade tem para oferecer e quais os pontos fortes e fracos, entendendo
se esta comunidade aceita a realidade do turismo.
É importante entender que a noção de impacto ambiental, econômico e social está ligada
a um julgamento de valores, cada grupo interessado pode dar diferente importância a cada um
deles, para isso, é necessário observar indicadores-chave da sustentabilidade citados por Dias
(2003), são eles: proteção do lugar, número de turistas que visitam o lugar, intensidade de uso,
relação entre turistas e residentes, controles de desenvolvimento, gestão de resíduos, plano de
uso e número de espécies, esses indicadores são importantes para garantir tanto a satisfação do
turista quanto da população local.
Nesse sentido é importante também entender que o “tipo de turista” que visita um
determinado local é importante para delimitar o ecoturista. O perfil do turista que busca um
produto rotulado de ecoturismo são pessoas que tem interesse pela natureza e questões
ambientais. Rodrigues (2003) classifica esses turistas em subgrupos adaptada do WTI (Word
Ressources Institut – 1991):

Pesquisadores ecoturistas: com fortes tendências ecologistas, altamente


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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

especializados, comprometidos com ONGs ou com instituições acadêmicas,


que além de investigadores participam das pesquisas como turistas.
Ecoturistas pesquisadores: pessoas interessadas em participar de grupos de
pesquisa em áreas de rica biodiversidade, encaixando-se pontualmente em
experiências científicas. Ecoturistas Naturalistas: pessoas interessadas em
viajar para áreas ricas em biodiversidade, a fim de observar a natureza ou
alguns aspectos singulares movidos por interesses específicos. É o caso dos
observadores de aves (watching birds), um segmento muito expressivo nos
EUA e Canadá. Ecoturistas casuais: que são movidos por interesses em
participar de experiências ecoturísticas, sem um interesse especifico
(RODRIGUES, 2003, p.35).

Desses quatros tipos de grupos, segundo as pesquisas realizadas sobre a demanda


turística ecoturística os grupos mais numerosos são os ecoturistas naturalistas e casuais, pois
não são muito exigentes, quanto ao conforto e acomodações.
Todos esses tipos de ecoturistas apresentam o fator que diferencia o ecoturismo dos
demais seguimentos: a preocupação em aprender (interpretar o meio) e vivenciar experiências,
e segundo o Ministério do Turismo brasileiro, “esse tipo de consumidor, de modo geral,
importa-se com a qualidade dos serviços, com a singularidade e autenticidade da experiência,
e com o estado de conservação do ambiente” (Brasil, 2010, p.37), portanto, é necessário o
ambiente ecologicamente conservado com experiências autênticas para a realização do
verdadeiro ecoturismo.

O PERCURSO METODOLÓGICO

A presente pesquisa teve abordagem qualitativa e natureza exploratória, no que se refere


às informações obtidas, para a coleta de dados, utilizou-se a pesquisa de campo, onde se fez a
identificação dos potenciais e possibilidades da prática do ecoturismo na região da Ilha de Bom
Jesus, pois de acordo com Lakatos e Marconi (2008, p. 108) a pesquisa de campo tem como
objetivo “conseguir informações e/ou conhecimentos acerca de um problema, para o qual se
procura uma resposta, ou de uma hipótese, que se queira comprovar, ou, ainda, descobrir novos
fenômenos ou as relações entre elas”.
Para melhor compreensão da pesquisa, é importante esclarecer, que se optou em dividir
os sujeitos em duas categorias: os informantes e os entrevistados. Durante o texto que segue,
foram chamadas de informantes as pessoas que conhecem o local, sua história e contribuiu com
informações iniciais, para registro desses dados foi utilizado uma conversa informal com a
anotação das informações passadas.

283
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Já aqueles que foram chamados de entrevistados, são os sujeitos que utilizam o local
com certa frequência, estes foram convidados a responder um breve questionário
semiestruturado, em sua maioria, são pessoas que residem na cidade de Luís Correia que
conhecem e utilizam a área em estudo, para lazer, caça e pesca.
Nesse ponto é importante ressaltar que embora a Ilha de Bom Jesus faça parte do
município de Parnaíba - PI, o melhor acesso para ela é pelo município vizinho, Luís Correa -
PI, portanto os moradores de Luís Correa são aqueles que mais utilizam essa área, essa
localização será melhor abordada mais a frente no texto. Desta forma, foram realizadas 10
entrevistas, todos residentes da cidade de Luís correia, com idade superior a 18 anos de acordo
com o quadro 06.

Quadro 01: Informantes e Entrevistados


DENOMINAÇÃO DESCRIÇÃO
INFORMANTE 1 Morador da ilha de bom Jesus quando criança.
Membro da Paróquia de Nossa Senhora da conceição, onde bom Jesus é
INFORMANTE 2
co-padroeiro.
ENTREVISTADOS 1 a 10 Pessoas que utilizam a área de estudo para lazer ou pesca.
Fonte: Elaborado pelas Autoras (2016)
Foi utilizado como instrumento de coleta de dados questionários semiestruturados, com
questões fechadas e abertas, as respostas foram transcritas e utilizadas na análise de dados, pois,
de acordo com Faria, Cunha e Felipe (2008 p. 40) “Os questionários podem conter perguntas
abertas, e as respostas podem ser obtidas de maneira livre, ou perguntas fechadas, limitadas a
determinadas respostas, tipo respostas com “x” ou números”, que possibilitam a análise dos
dados com mais eficácia para auxiliar nas discussões sobre a problemática em estudo.
Além disso, utilizou-se o registro fotográfico como objeto de observação dos atrativos
encontrados no local, com o intuito de divulgar as potencialidades turísticas da área. A pesquisa
foi realizada na Ilha de Bom Jesus no dia 20 de Maio de 2016.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

ESTUDO DE CARACTERIZAÇÃO DA ILHA DE BOM JESUS

A área da pesquisa é a Ilha de Bom Jesus que localizada no município de Parnaíba/PI,


cidade situada acerca de 345 km da Capital Teresina, com uma população estimada em 2010,
de 145.705 habitantes (IBGE, 2010).
284
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

A Ilha de Bom Jesus encontra-se dentro de uma Unidade de Conservação definida como
Área de Proteção Ambiental, APA Delta do Parnaíba. Criada pelo Decreto Federal de 28 de
agosto de 1996, envolvendo as áreas dos estados do Maranhão, Piauí e Ceará. Em um total de
313.809 há e perfazendo um perímetro de 460.812m de extensão, incluindo a área marítima. A
parte correspondente ao Maranhão abrange terras dos municípios de Tutóia, Araioses, Água
Doce e Paulino Neves. No Piauí, inclui parte do território de Parnaíba, de Luis Correia, de Ilha
Grande de Santa Isabel e Cajueiro da Praia. No Ceará, parte dos municípios de Chaval e
Barroquinha (ICMBIO, 2016).
De acordo com a pesquisa, a Ilha de Bom Jesus é usada para lazer, caça e pesca
realizadas por pessoas que conhecem o local que é uma área de rios, mangues e dunas, o mesmo
desemborca no mar. Sua duna conhecida como “Mirante” tem uma vista panorâmica do entorno
da Ilha de Bom Jesus. Com isso se vê a preservação desta região, por isso é que há grande
necessidade de ferramentas do turismo, o ecoturismo é uma das modalidades que vem num
crescente desenvolvimento.

Figura 01 – Localização da Ilha de Bom Jesus, Parnaíba-PI

Fonte: Google Maps, Adaptado pelas autoras (2016).

De acordo com os Informantes 1 e 2 a Ilha de Bom já foi habitada por várias famílias
entre os anos de 1960 a 1990, onde viviam basicamente da caça, pesca e criações de animais,
com o desenvolvimento da área urbana de Luís Correia, as famílias se deslocaram para a área
urbana da cidade, pois de acordo com o Informante 1, “surgia a necessidade de colocar os filhos
na escola e cuidar melhor de sua saúde”, percebe-se que o pequeno povoado não possuía
condições de comodidades para essas famílias. Atualmente não há moradores na localidade,
suas casas foram enterradas pelas dunas através da ação da natureza. 285
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Com a investigação, informantes e entrevistados citaram uma preocupação com o


desmatamento de mangues e mata ciliar, o que faz com que muitas espécies que eram
encontradas com facilidade, hoje, são difíceis de serem vistas, como por exemplo: Guará,
Garça-Parda, Macaco-Prego, Socó-Boi, dentre outras espécies antes vistas nesta região.
Além disso, esse desmatamento causa assoreamento de parte dos leitos dos rios e
igarapés que formam a Ilha de Bom Jesus, com isso a preocupação em preservar esse bem tão
importante da biodiversidade.
Diante disso, chega-se a uma primeira questão de análise, mesmo estando dentro da APA Delta
do Parnaíba, o local não apresenta a fiscalização e cuidado que merece, por ser área de estuários
e manguezais, este espaço demonstra grande relevância ambiental, portanto sugere-se a criação
de uma unidade de conservação municipal como forma inicial de conservação desse espaço.
A criação de uma unidade de conservação mais apropriada para o uso desse local se
justifica pela sua potencialidade para a prática do ecoturismo, pois, algumas pessoas trazem
seus familiares e grupos de pessoas que querem conhecer o “Outro Lado” (outro nome ao qual
é conhecida a Ilha de Bom Jesus), para se divertirem em seus momentos de lazer, desfrutando
de seus rios, dunas com vista panorâmica e observação da fauna e flora deste atrativo.

POSSIBILIDADES PARA A PRÁTICA DO ECOTURISMO NA ILHA DE BOM JESUS

Na Investigação por possibilidades de implantação da pratica de ecoturismo na Ilha de


Bom Jesus, foram aplicados 10 questionários com pessoas que frequentam a ilha com
frequência, essa amostra foi intencional, pois, buscaram-se atores envolvidos diretamente com
alguma atividade econômica exercida na área. Os entrevistados são 40% dos pesquisados são
do sexo feminino, enquanto 60% são do masculino. A faixa etária com maior relevância foi
entre 21 a 31, com 30% dos entrevistados. Dos entrevistados 100% residem no município de
Luís correia e utilizam a região para diversas atividades afins. O estado civil dos entrevistados
é de 60% de Solteiros e 40% de casados.
A primeira questão era a frequência que os entrevistados utilizam a área, onde 90%
afirmaram utilizar com frequências mensais, sendo que 10% utilizam diariamente os recursos
existentes no local no que se refere à captura dos pescados ali encontrados. Segundo, foi
questionado a finalidade que utilizam a região, 50% dos entrevistados relataram que utilizam a
área para lazer, seguidos de 40% desenvolvem atividades pesqueiras na mesma, e 10% fazem
uso com a pescaria esportiva com finalidade de entretenimento e não de subsistência 286
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

O terceiro e ultimo ponto abordado era sobre a atratividade do local pela percepção
deles, assim, se observou que 100% dos entrevistados relataram que a Ilha de Bom Jesus, tem
grande potencial turístico a ser explorado principalmente no que se diz respeito a prática do
ecoturismo. Com base nas entrevistas foi abordada a opinião sobre os possíveis atrativos que
poderiam ser desenvolvidos no local, sendo eles: trilhas ecoturísticas citada por seis pessoas,
como alternativa para o desenvolvimento do ecoturismo. Outras abordagens foram referentes a
Passeios nos manguezais, passeios de barco nos igarapés, canoagem, banhos de rio e
acampamento para contemplação e interação com a natureza do local.
Durante a visita ao local, foram realizados registros fotográficos, que confirmaram as
indicações dos moradores, As fotografias escolhidas para compor a Figura 02, apontam uma
visão geral do atrativo, porém, muitos itens foram observados durante a vista. Os itens mais
observados com possibilidade de compor o atrativo foram: A vegetação que apresenta mata
ciliar e manguezais, as dunas que se encerram nos rios, animais como caranguejos, peixes e
aves, a usina eólica, enfim, esses componentes formam uma paisagem interessante a ser
explorada, como apresentado na Figura 02.

Figura 02 – Fotografias da Ilha de Bom Jesus, Parnaíba – PI, Brasil

Fonte: Pesquisa direta

287
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

As fotografias reunidas na Figura 02 apresentam potencialidades para muitas atividades,


o Quadro 02 apresenta a lista de sugestões, pensando sempre, que toda atividade causa impactos
e que cada uma delas tem sua particularidade a ser estudada para minimiza-los. O Quadro 02
foi baseado na cartilha Ecoturismo: Orientações Básicas do Ministério do Turismo Brasil (2010,
p. 28 – 30), adaptada pelas autoras para abordar somente as atividades cabíveis ao local,
lembrando que as mesmas devem estar associadas ao passeio de barco que é a melhor forma de
acesso ao local.

Quadro 02 – Atividades Sugeridas para llha de Bom Jesus


Atividade Descrição
Observação de
Relaciona-se com o comportamento e habitats de determinados animais e vegetação.
Fauna e Flora
Atividade ainda tímida no país que consiste geralmente em caminhada por área com
Observação de
características geológicas peculiares e que oferecem condições para discussão da origem
formações
dos ambientes (geodiversidade), sua idade e outros fatores, por meio da observação direta
geológicas
e indireta das evidências das transformações que ocorreram na esfera terrestre.
Mergulho no mar, rios, lagos ou cavernas com o uso de máscara, snorkel e nadadeiras, sem
Mergulho livre
equipamentos autônomos para respiração.
Percursos a pé em itinerário predefinido. Existem caminhadas de um ou mais dias com a
Caminhadas necessidade de carregar parte dos equipamentos para pernoite em acampamentos ou
utilizando meios de hospedagem, em pousadas ou casas de família.
Conjunto de vias e percursos com função vivencial, com a apresentação de conhecimentos
Trilhas ecológicos e socioambientais da localidade e região. Podem ser autoguiadas por meio de
interpretativas sinalização e mapas ou percorridas com acompanhamento de profissionais, como Guias de
Turismo e Condutores Ambientais Locais.
Itinerários organizados para fotografar paisagens singulares ou animais que podem ser
Tour fotográfico
feitos a pé ou com a utilização de um meio de transporte.
Fonte: Brasil (2010), Adaptada pelas Autoras

Como indicado durante o artigo, a Ilha de Bom Jesus possui características ideias para a
prática do ecoturismo. O indicado é que se utilize em todos os casos o turismo alternativo.
Segundo Wearing e Neil (2014) o turismo alternativo se contrapõe ao turismo de massa, ou
seja, essa forma de turismo deve ser uma “alternativa” contrária ao que é visto como negativo
ou prejudicial do turismo convencional.
Assim, em seu sentido mais geral, o turismo alternativo pode ser definido
como formas de turismo que demonstram ser coerentes com os valores natural,
social e comunitário e permitem que tanto hospedeiros quanto hóspedes
desfrutem uma interação positiva e conveniente, e compartilhem experiências
(Wearing e Neil, 2014, p.5).

Nesse sentido, pensando na interação positiva entre turistas, comunidade e natureza,


indica-se a utilização dos segmentos do turismo que podem ser compatíveis ao turismo
alternativo. São eles: Turismo Cultural, Turismo Pedagógico, Turismo Científico, Turismo de
Aventura e o ecoturismo. 288
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Nesse contexto, deve-se uma preocupação com a rotulação do Ecoturismo apenas para
marketing, contemplando suas verdadeiras diretrizes. Portanto, deve haver um controle dos
indicadores de sustentabilidade, como afirma Swarbroke (2002), “é preciso, também, que os
governos controlem ao mesmo tempo e de maneira eficaz o ecoturismo de baixa qualidade
incentivando ativamente o ecoturismo sustentável de boa qualidade” (p.67). O surgimento de
um ecoturismo de “fachada” está associado ao pensamento do ecoturismo apenas com fins
mercadológicos e não como mecanismo de conservação ambiental e cultural.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho buscou analisar as possibilidades de implantação da prática


ecoturística na Ilha de Bom Jesus, com isso o objetivo é desenvolver atividades que possibilitem
a relação entre o turista e o local de forma sustentável salvaguardando os recursos naturais
existentes e sendo economicamente rentável para essas comunidades. Os dados coletados foram
revelaram uma pré-disposição ao ecoturismo, pois, todos os entrevistados, acreditam no
potencial do ecoturismo e apontaram muitas informações do local.
Concluiu-se que existem poucos registros sobre a região, o presente artigo torna-se
importante para estudos mais aprofundados da região. A pesquisa foi feita através de visitas,
onde foi identificado um ambiente natural, pouco conhecido, sendo mais frequentado por
pescadores e banhistas residentes em Luís Correia. Apesar de não haver no local infraestrutura
de apoio, os atrativos encontrados podem esperar no turismo de base comunitária uma saída
para uma exploração turística associada a outros atrativos da região.
Portanto, espera-se que o estudo possa servir de base para discussões futuras sobre os
atrativos naturais e as potencialidades locais, mesmo que estes se encontrem em unidades de
conservação, além disso, esses estudos servem para dar suporte nas questões de preservação e
conscientização dos recursos naturais contribuindo para o desenvolvimento do ecoturismo.

REFERÊNCIAS

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______. Ecoturismo: visitar para conservar e desenvolver a Amazônia. Brasília: Ministério do
Turismo, 2002.
______. Resolução PNMA nº 6938 de 31 de agosto que dispõe sobre a Política Nacional do
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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

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WEARING, S., & NEIL. J. Ecoturismo: Impactos, potencialidades e possibilidades. São Paulo:
Manole, 2014.

290
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

REFLEXÕES TEÓRICAS SOBRE O TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO


LITORAL SUL SERGIPANO, DIMENSÕES PARA UM DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL

Lillian Mª de Mesquita Alexandre


Leonardo Farias da Silva
RESUMO
O litoral sergipano é relativamente pequeno, entretanto, apresenta cenários paisagísticos e
atrativos naturais com potencial turístico. O litoral sul está composto pelos municípios de São
Cristóvão, Itaporanga D’Ajuda, Estância, Santa Luzia do Itanhy e Indiaroba, totalizando uma
área de 2.480 km². Nele o turismo passa a ser uma alternativa econômica cuja prática se
viabiliza há mais de trinta anos, com influências na organização do espaço a partir da instalação
de equipamentos de usos turísticos e com a geração de novos fluxos de pessoas com finalidade
turística, embora permaneça viciado na exploração do segmento de sol e praia, com um público
que busca o diferente, o novo, não apenas em termos de paisagens, mas essencialmente em
busca de novas experiências. Assim, o artigo propôs apresentar o Litoral Sul de Sergipe e uma
reflexão teórica sobre as práticas do Turismo de Base Comunitária-TBC em contra ponto ao
Turismo de Sol e Praia historicamente praticado em todo o Nordeste do Brasil. A pesquisa foi
descrita e qualitativa, tendo com a observação direta participante como recurso para a coleta
dos dados e registro fotográfico para ilustrar as questões apontadas ao longo da reflexão.
Entendemos como base concluinte, que o TBC para ser uma realidade viável para um modelo
de gestão participativo e pautado na sustentabilidade das dimensões de sustentabilidade aqui
apresentadas.

Palavras-chave: Litoral Sul Sergipano; Turismo de Sol e Praia; Turismo de Base Comunitária;
Dimensões de Sustentabilidade.

ABSTRACT

The coast of Sergipe is relatively small, however, it presents landscape scenarios and natural
attractions with tourist potential. The south coast is composed of the municipalities of São
Cristóvão, Itaporanga D'Ajuda, Estancia, Santa Luzia do Itanhy and Indiaroba, totaling an area
of 2,480 km². In it tourism becomes an economic alternative whose practice has been possible
for more than thirty years, with influences in the organization of space from the installation of
equipment for tourist uses and with the generation of new flows of people with tourist purpose,
although it remains addicted to the exploitation of the sun and beach segment, with an audience
that seeks the different , the new, not only in terms of landscapes, but essentially in search of
new experiences. Thus, the article proposed to present the South Coast of Sergipe and a
theoretical reflection on the practices of Community-Based Tourism-TBC against the point of
The Sun and Beach Tourism historically practiced throughout the Northeast of Brazil. The
research was described and qualitative, with the participant direct observation as a resource for
data collection and photographic record to illustrate the questions pointed out during the
reflection. We understand as a concluding basis that the TBC to be a viable reality for a
participatory management model based on the sustainability of the sustainability dimensions
presented here.

291
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Keywords: South Coast Sergipano; Sun and Beach Tourism; Community-based tourism;
Sustainability Dimensions.

INTRODUÇÃO
O litoral sergipano é relativamente pequeno, entretanto, apresenta cenários
paisagísticos e atrativos naturais com potencial turístico. Em termos geomorfológicos, registra-
se em seus ambientes físicos a presença da formação barreiras e, principalmente, da planície
costeira que recebe influência direta dos estuários (do rio São Francisco, do rio Japaratuba, do
rio Sergipe, do rio Vaza-Barris, do complexo Piauí-Real) e do Oceano Atlântico. Em função
dessa base territorial, a maior parte do litoral sergipano é ambientalmente frágil e por isso
necessita de uma ocupação ordenada (FONSECA, VILAR e SANTOS, 2010).
O litoral sul está composto pelos municípios de São Cristóvão, Itaporanga D’Ajuda,
Estância, Santa Luzia do Itanhy e Indiaroba, totalizando uma área de 2.480 km², apresentando
uma elevada fragilidade ambiental, acentuada pela presença de lagoas encaixadas entre cordões
litorâneos e os atrativos naturais são ampliados pela presença de uma elevada densidade de rede
hidrográfica e pela diversidade geomorfológica, que, aliados ao acesso rodoviário, facilitam a
utilização do espaço como área de segunda residência para o veraneio e o turismo (Figura 02)
(FONSECA, VILAR e SANTOS, 2010).
O relevo caracteriza-se por altitudes modestas e se eleva à medida que se caminha para
o interior. Classifica-se em planície litorânea e tabuleiros costeiros. A primeira estende-se de
norte a sul ao longo de toda a faixa costeira e é formada por praias, manguezais, restingas,
campos de dunas, as duas últimas com alturas de até 30 metros. A segunda, após a planície
costeira, em direção ao interior forma morros e colinas com altura de até 100 metros. Há
variedade de solos, dentre eles se destacam: arenoso do litoral (podzol, areias, quartzosas), “são
solos ácidos, profundos, de baixa fertilidade. Drenam com rapidez toda a água que cai e, devido
à salinização, dificultam o uso agrícola”. No entanto, os coqueiros adaptam-se a esse tipo de
solo; arenoso argiloso dos tabuleiros (podzóicos e latossolos) é de cor avermelhada pela
liberação de ferro existente na rocha, além de pobre em nutrientes; e devido à alta acidez,
necessita de corretivos: adubação orgânica e fertilizante. “A textura arenosa desses solos facilita
as ações erosivas, sobretudo quando o relevo é ondulado. A retirada da Mata Atlântica e a
exposição desse solo às chuvas, somadas aos processos de lixiviação e de escoamento
superficial, facilitando a degradação” (BRASIL, 2005, p. 52 apud SANTOS, 2009, p.77).
292
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Nele o turismo passa a ser uma alternativa econômica cuja prática se viabiliza há mais
de trinta anos, com influências na organização do espaço a partir da instalação de equipamentos
de usos turísticos e com a geração de novos fluxos de pessoas com finalidade turística, embora
permaneça viciado na exploração do segmento de sol e praia, com um público que busca o
diferente, o novo, não apenas em termos de paisagens, mas essencialmente em busca de novas
experiências.

Figura 01: Litoral Sul Sergipano e Municípios de investigação.


Crédito: Heleno Macedo, 2017.

Assim, cabe ressaltar que o presente trabalho propôs apresentar o Litoral Sul de
Sergipe e uma reflexão teórica sobre as práticas do Turismo de Base Comunitária-TBC em
contra ponto ao Turismo de Sol e Praia historicamente praticado em todo o
Nordeste do Brasil. A pesquisa foi descrita e qualitativa, tendo com a observação
direta participante como recurso para a coleta dos dados e registro fotográfico para ilustrar as
questões apontadas ao longo da reflexão.
O planejamento regional do turismo era gerido pela Secretaria Estadual de Turismo
(SETUR) e Empresa Sergipana de Turismo (EMSETUR) com eventual participação do setor
privado e terceiro setor por meio do Fórum Estadual de Turismo (FORTUR), as regiões/polos
de desenvolvimento turístico são representadas no Fórum que está organizado num modelo
293
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

tripartite na expectativa de reunir o poder público, setor privado e terceiro setor, ligando os
municípios ao estado para discutir e deliberar sobre o desenvolvimento integrado e sustentável
da atividade (SERGIPE, 2009).
Este planejamento atendeu as Diretrizes do Programa de Regionalização do Turismo
criado pelo Ministério do Turismo (Mtur) em 2004 (BRASIL, 2004), surtindo efeito em Sergipe
no ano de 2005, com uma divisão que contemplou cinco regiões/polos de desenvolvimento do
turismo: Costa dos Coqueirais, Velho Chico, Serras Sergipanas, Tabuleiros e Sertão das Águas.
Do Polo Costa dos Coqueirais é extraída a região objeto deste estudo, Litoral Sul de
Sergipe, abrangendo os municípios de Estância, Itaporanga D’Ajuda, Santa Luzia do Itanhy e
Indiaroba (Figura 02).

Figura 02: Polos de Desenvolvimento Integrado do Turismo em Sergipe


Fonte: SETUR, 2009.

De maneira geral, ordenar o território significa conjugar a ocupação do solo e o uso


dos recursos ambientais de acordo com a capacidade que a base territorial pode suportar, sendo
necessário analisar o ambiente em suas potencialidades, vulnerabilidades e limites (VILAR e
ARAÚJO, 2010).
O Polo Costa dos Coqueirais cobre a faixa que acompanha o litoral sergipano, da barra
do Rio Real, na fronteira com a Bahia, até a foz do Rio São Francisco, além de outras
294
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

comunidades próximas que apresentam grande potencial turístico, a exemplo de São Cristóvão.
Fazem parte os municípios: Brejo Grande, Pacatuba, Pirambu, Santo Amaro das Brotas, Barra
dos Coqueiros, Aracaju, Nossa Senhora do Socorro, Laranjeiras, São Cristóvão, Itaporanga
D’Ajuda, Estância, Santa Luzia do Itanhy e Indiaroba, com cerca de 720 mil pessoas e o melhor
que o Estado proporciona em termos de atrações, com uma infinidade de opções entre praias,
muitas ainda primitivas, alvas dunas, rios, mangues, coqueirais, estuário e o acervo histórico de
São Cristóvão, quarta cidade mais antiga do Brasil (Figura 03) (ALEXANDRE, 2003).

Figura 03: Área de abrangência do Polo Costa dos Coqueirais.

Crédito: Heleno Macedo, 2017.

O Polo Costa dos Coqueirais nasceu como área de planejamento do PRODETUR-NE I,


abrangendo tanto os municípios da costa atlântica sergipana mais Laranjeiras, Santo Amaro e
Santa Luzia do Itanhy, aqueles banhados pelo Rio São Francisco, área está reduzida
posteriormente com a retirada dos municípios banhados tão somente pelo São Francisco. Foram
selecionados os municípios por estarem relacionados às ações pontuais de investimentos em
projetos de TBC, em instâncias públicas, privadas ou de instituições de educação ou outras
(SERGIPE, 2009).

295
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

O Programa de Desenvolvimento do Turismo (PRODETUR), desde 1994 atua na


região, com intervenções e investimentos na região que vão desde a recuperação de rodovias
até a instalação de atracadouros de usos de pesca e turismo, tendo investido na área nos últimos
10 anos cerca de R$ 40 milhões (Figura 04). Isso deve ser associado aos investimentos do
Ministério do Turismo nos últimos cinco anos com cerca de R$ 350 milhões, notadamente pelos
investimentos das pontes Jornalista Joel Silveira sobre o Rio Vaza Barris, ligando a Capital
Aracaju a Itaporanga D’Àjuda e, a Ponte Gilberto Amado sobre o Rio Piauí, ligando Estância
a Indiaroba, servindo para reduzir o acesso entre as capitais de Sergipe e Bahia em cerca de 50
km viabilizando a chamada linha verde mais próxima da costa marítima, tendo como resultado
para o turismo o aumento do fluxo de pessoas (SILVA e ALEXANDRE, 2014).

Figura 04: Espacialização dos investimentos do PRODETUR


Fonte: SERGIPE, 2012.

Os equipamentos, serviços turísticos e infraestrutura nos municípios pesquisados


partem da identificação dos atrativos naturais e culturais realizados no estudo do Plano de
Desenvolvimento Integrado e Sustentável para o Turismo que serviu de base para a realização
do planejamento para a localidade e indicando as necessidades para que os investimentos
ocorressem ao longo dos anos.

EXPERIÊNCIAS DE DESENVOLVIMENTO A PARTIR DO TURISMO DE BASE


COMUNIÁRIA

296
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

O turismo pode contribuir para concretizar algumas das aspirações comunitárias na


medida em que se chegou à atividade econômica viável, socialmente solidária, culturalmente
enriquecedora e ambientalmente responsável, pois entender o turismo como um sistema
complexo, é mais do que necessário para a formulação de novas práticas que atendam as
dimensões relacionadas.
Conforme a definição trazida pelo documento Segmentação de Mercado, elaborado
pelo Ministério do Turismo (BRASIL, 2010, p.34), o “Turismo de Sol e Praia constitui-se das
atividades turísticas relacionadas à recreação, entretenimento ou descanso em praias, em função
da presença conjunta de água, sol e calor” e como tal, afirma Vilar e Santos (2010), em que “a
ocupação do litoral nordestino pode ser entendida por três momentos através dos quais se
registram significados variados sobre a concepção de litoraneidade e sobre a incorporação de
hábitos ocidentais pela população local”:

No primeiro momento se registra uma aversão à praia e ao marítimo. No


segundo, o litoral é apropriado como lugar de veraneio materializado
principalmente pela presença da segunda residência e do turismo litorâneo.
No terceiro, o capital imobiliário se articula ao turismo e se produz uma
configuração territorial, na qual novas formas de ocupação do espaço se
impõem e o litoral é incorporado pela lógica de valorização turística. Esse
trajeto histórico entre o medo, o desejo e a capitalização imobiliária
(necessidade ou obsessão?) de objetos geográficos tão inter-relacionados
como o mar, o litoral e a praia se faz por meio de práticas espaciais que
desvalorizam e valorizam e revalorizam as zonas costeiras e por isso
desenham um território que transita entre “vazio” e o adensamento. Ao longo
das últimas décadas, paulatinamente está sendo construída uma nova
geografia do litoral com formas e fluxos diferenciados que se materializam
numa urbanização seletiva que escolhe os ambientes costeiros como vetor
privilegiado de ocupação territorial (VILAR e SANTOS, 2010, p.37).

Isso faz com que os litorais em questão, tenham vários símbolos e significados no
imaginário do turista, seja nacional ou internacional e nesse momento, as cidades litorâneas
inseridas em roteiros turísticos nos Estados, tendem a receber, de forma planejada ou não,
incentivos para que o “turismo de praia e sol” seja tratado como estratégia de desenvolvimento
local, em que, teoricamente, as comunidades, agentes e atores locais, estejam envolvidos.
Assim, Gomes (2015) apresenta uma reflexão sobre um novo olhar para o turismo
sobre esse viés, o Turismo de Base Comunitária - TBC:
O TBC surge em duplo contexto mundial: por meio das ações que promovem
formas e um turismo responsável e sustentável; pelos esforços de conservação
e administração de áreas naturais protegidas, que vinculam a conservação da
biodiversidade e o desenvolvimento local comunitário (GOMES, 2015 apud
Hiwasaki, 2006, p.51). 297
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Teoricamente, diversos autores procuraram abordar a relação entre o turismo e as


comunidades locais receptoras. Mitchell & Reid (2001) estudaram a interação da comunidade
de Ilha Tequile, no Peru, no processo de planejamento, desenvolvimento e gestão do TBC. Horn
& Simons (2002) tratam comparativamente da relação do turismo com comunidades
tradicionais na Nova Zelândia. Tosun (2006), estudando um caso na Turquia, aborda o sentido
da participação comunitária no planejamento e desenvolvimento do turismo. Rugendyke & Thi
Son (2005) estudara no Vietnam a substituição das atividades agrárias tradicionais pelo turismo
de natureza relacionado às unidades de conservação. Koster & Randal (2005) usam indicadores
para avaliação do desenvolvimento econômico de comunidades no Canadá que estão
envolvidas com turismo. Mansfeld & Jonas (2006) tratam da capacidade de carga cultural em
uma comunidade judaica que trabalham com turismo em um Kibutz de Israel (MITRAUD,
2003).
Segundo Mitraud (2003), o "turismo comunitário ou de base comunitária pode ser
definido como aquele onde as sociedades locais possuem controle efetivo sobre o seu
desenvolvimento e gestão", uma vez que se relaciona num complexo sistema (BRANDON,
1995 apud PERALTA, 2012).Apropriando-se dessas informações, pode-se reconhecer então, o
TBC como uma estratégia de construção social do desenvolvimento e que através dele, é
possível trazer melhorias nas condições de vida da comunidade que se articula para executá-lo,
haja vista o panorama do turismo de praia e sol existente nas regiões de litoral, impostos por
uma política governamental.Ao longo principalmente das leituras de Coriolano (2009),
Maldonado (2009), Bartholo et al (2009), Mielke (2009), além do entendimento de construção
social do desenvolvimento abordado, ainda, por Coriolano (2009), foi possível situar as bases
conceituais importantes e as devidas referências acerca do turismo comunitário. Assim, passado
este entendimento, Turismo de Base Comunitária, segundo Silva (et al, 2009):
É a busca da construção de um modelo alternativo de desenvolvimento
turístico baseado na autogestão, no associativismo/cooperativismo, na
valorização da cultura local e, principalmente, no protagonismo das
comunidades locais, visando à apropriação, por parte destas, dos benefícios
advindos do desenvolvimento do setor (SILVA et al, 2009, p.362).

Ainda reforçando esta ideia, Tucum (2008) apud SANSOLO (2009) afirmam que:
O turismo de base comunitária é aquele no qual as populações locais possuem
o controle efetivo sobre o seu desenvolvimento e gestão, e está baseado na
gestão comunitária ou familiar das infraestruturas e serviços turísticos, no
respeito ao meio ambiente, na valorização da cultura local e na economia
solidária (TUCUM, 2008 apud SANSOLO, 2009, p. 45).
298
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Por fim, discute-se a prática do turismo de base comunitária, mostrando que a atividade
turística pode contribuir para a melhoria da qualidade de vida das comunidades receptoras,
desde que o foco de seu planejamento esteja na geração de oportunidades e benefícios reais
para essas populações (BARTHOLO et al, 2009).
Pensar as atividades turísticas como promotoras do desenvolvimento na região onde
se estabelecem requer, então, conceber modelos que busquem a superação das privações de
liberdades que limitam as escolhas e as oportunidades das pessoas e comunidades que têm seus
modos de vida situacionalmente afetados pela implantação dessas novas práticas. Isto implica
pensar uma política de turismo integrada a uma política de desenvolvimento mais ampla, cujo
foco deve estar na inclusão social por meio da afirmação da identidade cultural e da cidadania
como suporte da ampliação do exercício efetivo de liberdades substantivas.
Assim, o turismo de base comunitária busca contrapor-se a uma perspectiva
apresentada pelo turismo de massa, em que o pensamento permeia as questões econômicas,
onde o volume de turistas justifica os investimentos e a criação de empresas para atender a essa
demanda, em sua grande maioria, de pessoas de fora, de “estrangeiros” como reforçam os
locais. O TBC que aqui se propõe estudar é voltado para a diferenciação dessa relação
massificada, voltada para as questões sociais, onde os sujeitos sociais interagem como maior
capacidade de ação, pois estão fazendo parte diretamente do processo e se empoderam das
ferramentas que este tipo de turismo agrega.
Esse turismo respeita as heranças culturais e tradições locais, podendo servir de
veículo para revigorá-las e mesmo resgatá-las. Tem centralidade em sua estruturação o
estabelecimento de uma relação dialogal e interativa entre visitantes e visitados. Nesse modo
relacional, nem os anfitriões são submissos aos turistas, nem os turistas fazem dos hospedeiros
meros objetos de instrumentalização consumista.

A SINERGIA ENTRE AS DIMENSÕES NO LITORAL SUL DE SERGIPE

Cabe ressaltar aqui, quatro campos de forças que incorporam uma complexa rede de
interações: a sociedade e sua escala de valores (subsistema sociocultural), a economia e sua
estrutura (subsistema econômico), o meio ambiente e seus recursos (subsistema ecológico),
assim como o Estado e sua política (subsistema político). A reunião desses sistemas parciais
constitui de certa forma, o ambiente no qual se desenrola a nossa vida (KRIPPENDORF, 2000).

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

O sistema não funciona tão harmoniosamente como o quadro que se apresenta nos
fazer crer. Na realidade, os elementos não tem o mesmo peso. As diversas áreas não são
equivalentes, as influências que exercem não são comparáveis, como podemos perceber na
Figura 5.

Figura 05: Modelo existencial na sociedade industrial

Fonte: Krippendorf, 2000.

É necessário perceber que a articulação entre os elementos Disponibilidade dos


Recursos - Meio Ambiente, perpassam pelo entendimento de limitado para ilimitado e são
retroalimentados pelas Estruturas Econômicas, Políticas de Estado e Sociedade, ou seja, as
instâncias de governanças, num primeiro campo de visão. Refletindo nisso, todos os aspectos
inerentes a um modelo onde é necessário se pensar no funcionamento sustentável desse sistema
de Krippendorf (2000).
Alguns polos e subsistemas predominam em detrimento de outros. Às vezes, são forças
que anulam reciprocamente, e que até mesmo se opõem em vez de se complementarem.
“O Sistur é um sistema aberto”, afirma Beni (2001) e como tal está o tempo todo
interagindo com os elementos externos, por mais que haja a falsa sensação de que isso não
ocorre por estarmos “no controle” dos processos fora dele. “Ele realiza trocas com o meio que
o circunda e por extensão, é interdependente, nunca autossuficiente”, continua afirmando Beni
(2001) (Figura 06).

300
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Figura 06: Modelo Sistur de Beni.


Fonte: Beni, 2001.

O Sistur não se caracteriza por estruturas e funções estáticas. Justamente por ser aberto,
mantem um processo contínuo de relações dialéticas de conflito e colaboração com o meio
circundante.
O turismo, enquanto atividade que ocorre em um determinado espaço, com
características socioculturais e econômicas singulares, determina um tipo de ocupação e de
impactos que necessitam ser administrados de forma eficiente, sob o risco de ser altamente
danoso ao ambiente em que se desenvolve. O desafio da sustentabilidade surge como fator
organizacional básico dos recursos e produtos do destino turístico e da sobrevivência deste no
longo prazo, enquanto sistema localizado de produção, enquanto sistema social complexo de
vivências e de usufruto de experiências e enquanto sistema vivo que exige formas de
governança e liderança próprias (SILVA e FLORES, 2006).
São quatro as dimensões de sustentabilidade na opinião de RITCHIE e CROUCH
(2003): a sustentabilidade ecológica – o respeito pelos processos ecológicos e pelos recursos e
diversidades biológicos; a Sustentabilidade Social e Cultural – o respeito pela identidade,
cultura e valores das comunidades onde se inserem os produtos turísticos; a Sustentabilidade
Econômica – que garanta a rentabilidade econômica dos produtos, a qualidade de vida e o bem-
estar para os residentes dessas comunidades e a Sustentabilidade Política – a capacidade para
aceitar e implementar de um modo partilhado pelos vários stakeholders do destino as outras
três dimensões (Figura 7) (SILVA e FLORES, 2006).
301
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Figura 7: Modelo de Dimensões de Sustentável.

Fonte: RITCHIE e CROUCH (2003).

Com efeito, a grande diversidade de impactos positivos e negativos, gerados pelo


turismo, há um tempo econômicos, mas também ambientais, sociais e culturais, amplamente
reconhecidos e identificados, a existência de um número elevado de stakeholders muitas vezes
com agendas e interesses contraditórios, e mesmo, o fato desses recursos e produtos turísticos
serem bens livres ou de caráter eminentemente público, com a evidente dificuldade de regulação
no seu usufruto e aproveitamento, tornaram a adoção da sustentabilidade no turismo não isenta
de desafios e contradições (SILVA e FLORES, 2006).
Em primeiro lugar não é possível essa abordagem sem que os outros setores da
atividade econômica ou as políticas públicas em geral, adotem paradigma idêntico (BUTLER,
1999). A transversalidade e complexidade do sistema de turismo obrigam a essa junção
integrada e coordenada. Uma segunda ideia importante é o do próprio entendimento do conceito
de sustentabilidade. Para além das três dimensões consensuais – ambiental, econômica e social,
RITCHIE e CROUCH (2003) ao introduzirem a dimensão política como dimensão crítica para
a adoção de qualquer uma das outras dimensões, colocam a necessidade de interiorização dos
desafios da sustentabilidade na esfera da agenda e decisão política (SILVA e FLORES, 2006).
Perpassa ainda pelo próprio conceito de sustentabilidade a ideia da sua relatividade.
Sendo o sistema de turismo ou os próprios destinos turísticos, sistemas complexos e territoriais
de produção e de pessoas e comunidades vivas, com processos sociais de interação e relação,
que assumem em cada localidade e em cada momento histórico, dinâmicas de evolução
próprias, não podendo deixar que as ideias e conceitos de sustentabilidade deixem de adquirir
essa marca histórica e serem transitórios e evolutivos.
Como diz Farrel e Twining-Hard (2005 apud Silva e Flores, 2006) “o desenvolvimento
sustentável deve ser visto como um sistema complexo evolutivo que se coadapta às
302
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

especificidades de cada lugar particular e especialmente às aspirações e valores da comunidade


residente”, e partindo disso, é possível perceber que o modelo de gestão a partir do Turismo de
Base comunitária passa a ser uma estratégia viável, uma vez que nessa complexidade em que
se baseia o turismo, é preciso a gestão sustentável das ações na localidade visando à dinâmica
dos sistemas naturais, culturais e sociais como uma dinâmica evolutiva das sociedades.
As aspirações e valores das comunidades residentes e dos seus stakeholders
representativos bem como a dinâmica da gestão partilhada dos desafios da sustentabilidade
corroboram para que as discussões em torno das dinâmicas sociais sejam repensadas na esfera
ambiental, não meramente econômica, pois, como afirma Silva e Flores (2006):

Cremos que a operacionalização da sustentabilidade no turismo necessita,


sobretudo, de não esquecer um equilíbrio fundamental entre natureza que
consubstancia os recursos indispensáveis à manutenção e viabilidade do
destino turístico com a necessidade imperiosa do turismo ser um fator de
desenvolvimento econômico para as comunidades residentes (SILVA E
FLORES, 2006, p. 231).

Assim, o desenvolvimento do turismo deve assentar nas características locais do


território que sejam susceptíveis de criar uma experiência de turismo única, mas que em geral
tem impactos importantes, e por vezes irreversíveis, sobre os ecossistemas e paisagens,
revelando a contradição entre o aumento significativo das ações do turismo a nível global (que
decorre de um conjunto de condições econômicas, sociais e tecnológicas) e os potenciais
impactos negativos destas atividades a nível local e regional (Quadro 01) (ROMÃO, 2013).

Quadro 01: Impactos do turismo

DIMENSÃO IMPACTOS POTENCIAIS IMPACTOS POTENCIAIS


POSITIVOS NEGATIVOS

Receitas, empregos, nível de vida da Inflação local, especulação


população local, atração de imobiliária, concentração dos
Economia investimentos. investimentos e perda de
investimentos alternativos, custos em
termos de infraestruturas necessárias.
Turismo e Reconhecimento da região, novas Preços elevados, desenvolvimento
comércio infraestruturas, mais acessibilidade. descontrolado do comércio local.
Maior empenho dos residentes na Comercialização razoável de
promoção dos eventos locais, reforço dos atividades privadas, alteração dos
Sociedade e valores e tradições locais. costumes em função do turismo,
cultura custos sociais (prostituição, abuso de
drogas e álcool).
Orgulho quanto aos costumes locais, Atitudes defensivas face a outras
Psicologia reconhecimento das riquezas da troca culturas, hostilidade por dificuldade
com o outro. de comunicação.
303
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Política e Desenvolvimento local integrado Mal planejamento, segregação sócio


administrativa espacial.
Novas infraestruturas, conservação de Degradação ambiental, poluição,
algumas áreas, estratégias de gestão alteração de hábitos alimentares,
Meio ambiente sustentável. produção excessiva e sazonal de
resíduos sólidos.
Organização: Lillian Alexandre, 2017, baseado em Doullers e Milane (2002).

“A sustentabilidade deixou de ser um ideal, passando a ser uma necessidade” (OMT,


2003). A industrialização e o modo de produção capitalista trouxeram vários problemas
ambientais, como a alta concentração populacional devido à urbanização acelerada e o contínuo
crescimento demográfico, uso excessivo dos recursos naturais – sendo alguns não renováveis
(petróleo e carvão mineral, por exemplo) ou com cada vez menor capacidade de absorção e de
reciclagem de resíduos, contaminação do ar, do solo, das águas, desmatamento, diminuição da
cama de ozônio, aquecimento global, crescimento exponencial da pobreza e problemas urbanos
(sobretudo nos países em desenvolvimento), entre outros. A evidente degradação da qualidade
de vida a colocou na agenda global das questões voltadas a infraestrutura, saneamento básico e
ao meio ambiente (OMT, 2003).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Entende-se que o turismo tem um importante papel no campo econômico, ambiental e


na troca sociocultural. Por este motivo, é de fundamental importância conhecer as percepções
e atitudes dos residentes em localidades turísticas acerca dos impactos gerados pelo turismo em
seus lugares de residência, pois são eles que ficam quando o turismo “vai embora”, com ganhos
e também perdas.
Sabe-se que, ao longo de toda história registrada, de certa forma o turismo teve um
impacto sobre tudo e todos os que estiveram em contato com ele. Num plano ideal, esses
impactos deveriam ter sido positivos, no tocante aos benefícios obtidos tanto pelas áreas de
destino quanto por seus residentes. Esses impactos positivos significariam para o local,
resultados tais como melhorias nas condições econômicas, uma promoção social e cultural e a
proteção dos recursos ambientais. Teoricamente, os benefícios do Turismo deveriam produzir
ganhos muito superiores aos seus custos (THEOBALD, 2002).
Porém, o que na teoria tende a funcionar perfeitamente, na prática tende a apresentar
limitações. Os impactos negativos muitas vezes superam os positivos. Segundo Ruschman
(2000, p. 87), os impactos “[...] são consequência de um processo complexo de interação entre
304
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

os turistas, as comunidades e os meios receptores. Muitas vezes, tipos similares de Turismo


provocam diferentes impactos, de acordo com a natureza das sociedades nas quais ocorrem”.
Esses podem ser positivos ou negativos, sendo considerados como positivos os que trazem
benefícios para a comunidade receptora e negativos os que causam estragos para a localidade e
sua população. No turismo os impactos “[...] referem-se a gama de modificações ou sequência
de eventos provocados pelo processo de desenvolvimento turístico nas localidades receptoras”,
segundo Ruschmann (2000, p. 90). Esses são provocados por variáveis que possuem “[...]
natureza, intensidade, direções e magnitude diversas; porém os resultados interagem e são
geralmente irreversíveis quando ocorrem no meio ambiente natural”, continua Ruschmann
afirmando (2000, p. 90).
Pode-se dizer que juntamente com o crescimento do turismo vem o aumento dos
impactos por ele gerados. Estes podem ser reversíveis quando detectados no seu início, ou antes,
e irreversíveis quando não lhes é dada a devida atenção e, no momento que se percebe isso
poderá ser tarde demais para a sua reversão. As comunidades receptoras tenderiam a ver o
turismo com desconfiança, porque em geral não têm a oportunidade de participar das tomadas
de decisões sobre a questão nessa área. Sentem-se, com isso, excluídas e acabam não desejando
a presença de turistas na sua localidade. Em muitos casos o turista chega antes do turismo, ou
seja, do planejamento e organização da localidade para recebê-lo.
Isso causa impactos tanto pelo viés do turista quanto na comunidade receptora, visto
que a hospitalidade e o bem receber não poderão ser dados ao turista em um âmbito sem
planejamento e organização. Por outro lado, como já evidenciado, o morador da comunidade
sofrerá com os impactos, geralmente negativos, que a atividade turística reverberará. Em suma,
o objetivo deste trabalho foi alcançado ao identificar os impactos, tanto positivos quanto
negativos, da introdução da atividade turística no litoral sul sergipano, ademais, analisou-se que
o turismo de base comunitária necessita de organização e planejamento no que tange à
precaução de possíveis impactos negativos ao turista e a comunidade receptora.

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TRANSFORMAÇÃO DO ESPAÇO: UM ESTUDO NA LAGOA DO PORTINHO


ENQUANTO PRODUTO OU RECURSO TURÍSTICO

Francisco Renan de Morais Ramos


Leonardo Farias da Silva
Edvania Gomes de Assis Silva
RESUMO
Este artigo aborda a transformação do espaço geográfico mostrando os impactos que podem ser
causados do uso do espaço turístico e as transformações ocorridas ao longo dos anos. Para uma
maior compreensão do assunto, foi abordada como objeto de estudo a Lagoa do Portinho,
atrativo turístico que já figurou como um dos mais visitados do litoral piauiense, com oferta
singular para o lazer e o turismo. Trata-se de uma pesquisa de revisão de natureza qualitativa e
de tipo descritiva. O objetivo da pesquisa foi analisar as transformações que ocorrem no espaço
geográfico sendo utilizado no uso das atividades, e as consequências foram oriundas das
atividades do uso do equipamento na aplicação do turismo. Já que essa transformação atinge a
população que frequenta cotidianamente, como também os turistas que utilizam o equipamento,
sendo o espaço geográfico o mais prejudicado, onde muitas vezes se utilizam dos meios naturais
existentes da localidade, sendo meio de sobrevivência, como consequência disso as suas águas
acabaram que desviadas, fazendo com que aos poucos fosse sendo esvaziada por total, assim
como as dunas foram se deslocando é cobrindo o que ainda se tem da lagoa. Os resultados
apontaram que muito desses fatores são derivados da falta de preservação da lagoa, tanto do
estado como da própria população ao usar o ambiente sem a devida preocupação da sua
durabilidade, prejudicando a população que usava da localidade para sua sobrevivência por
meio da pesca, como também do fluxo de turista que gerou uma economia forte para a
localidade.

Palavras-Chave: Transformação do Espaço. Turismo. Preservação ambiental. Lagoa do


Portinho.

ABSTRACT

This article discusses the transformation of geographic space showing the impacts that can be
caused by the use of tourist space and the transformations that have occurred over the years.
For a greater understanding of the subject, lagoa do Portinho was approached as an object of
study, a tourist attraction that has already figured as one of the most visited of the coast of Piauí,
with a unique offer for leisure and tourism. This is a qualitative and descriptive review research.
The aim of this research was to analyze the transformations that occur in the geographic space
being used in the use of activities, and the consequences were derived from the activities of the
use of equipment in the application of tourism. Since this transformation affects the population
that frequents daily, as well as tourists who use the equipment, being the geographical space
the most impaired, where they often use the existing natural means of the locality, being a means
of survival, as a consequence of this their waters ended up being diverted, causing it to be
gradually emptied by total, just as the dunes were moving is covering what is still left of the
lagoon. The results showed that many of these factors are derived from the lack of preservation
of the lagoon, both from the state and from the population itself when using the environment
without the proper concern of its durability, harming the population that used the locality for
its survival through fishing, as well as the tourist flow that generated a strong economy for the
locality.
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Keywords: Space Transformation. Tourism. Environmental preservation. Portinho Lagoon.

INTRODUÇÃO
O estudo aborda a forma como agentes públicos e privados tratam a Lagoa do Portinho
enquanto produto ou recurso turístico, levando-se em consideração que, enquanto atrativo
turístico, este já presenciou períodos de grande fluxo turístico (décadas de 1990 e 2000), e que,
com o passar dos anos e da existência de vários fatores e impactos, tais como: interrupções
climáticas, desvios de água e barragens ao longo dos riachos que a abastecem, além da gestão
pública ineficiente, a Lagoa do Portinho entrou na fase de declínio em seu ciclo de vida turístico.
A Lagoa da Portinho já foi por muito tempo utilizada pelo turismo de massa, mas sem o devido
planejamento turístico, foi perdendo sua atratividade pela ausência de investimentos e de
atenção do poder público, que não modernizou o lugar, causando, inclusive, retenção de suas
águas por agentes privados para criação de peixes, agravando o seu abastecimento, situação que
se complicou com o enfrentamento de graves crises hídricas, sobretudo nos últimos cinco anos.
Os espaços turísticos são utilizados, em grande medida, de forma inapropriada, sobretudo por
agentes privados. Como consequência, não se reflete muito sobre o uso e a durabilidade a longo
prazo dos recursos, destinos e atrativos turísticos. Nesse sentido, argumenta Lefebvre (2008, p.
49): “os espaços de lazeres são dissociados da produção, de tal maneira que parecem, em um
primeiro momento, como espaços independentes do trabalho e, portanto, livres”. Dessa
maneira, quando não são livres e independentes, os espaços geográficos pertencem a um local
específico, mesmo não sendo utilizados para gerar o fluxo de pessoas na cidade; esses espaços
pertencem à cidade e merecem o seu cuidado para que possa se manter vitalício.
Este artigo discute o ambiente socioespacial da Lagoa do Portinho e sua transformação
em torno das práticas do turismo. As transformações do espaço geográfico da referida lagoa
passaram por vários processos e decorrentes de ações ambientais e antrópicas, cujas entidades
do turismo não a levaram para uma prática sustentável. Neste contexto, o estudo da geografia
apresenta a Lagoa do Portinho como um produto para o turismo e para o desenvolvimento local.
Sobre o lugar e objeto de estudo, a lagoa do Portinho possui área de cerca de 5 km², se
estendendo por 9 km de comprimento no sentido Norte-Sul com a extremidade norte nas
coordenadas 02 55' 43, 24728’’ S e 41 40' 30, 71580’’ W. Gr. (MENDES JUNIOR, 2012, p.
44), tendo suas águas abastecidas pelos riachos Portinho e Brandão, sendo o Riacho Portinho
que denomina o canal de conexão que rompe o campo das dunas e chega até o rio Igaraçu, que
309
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

deságua no Oceano Atlântico, na região do Delta do Rio Parnaíba, no Norte do estado do Piauí,
conforme a Figura 01:

Figura 01: Mapa de localização da bacia hidrográfica do rio Portinho.


Fonte: ANA (2013); Batista (1974); DSG (1973); Lima (2010); TOPODATA (2011).

O acesso à Lagoa do Portinho é feito pela rodovia BR-343, no sentido Parnaíba-Luís


Correia. Atualmente, a Lagoa do Portinho tem sua gestão atribuída a Secretaria Estadual de
Turismo do Estado do Piauí (SETUR). Trata-se de uma lagoa de várzea formada naturalmente
no leito do Rio Portinho. Próximo à sua foz, a mata ciliar recobre atualmente cerca de 50% da
margem e a vegetação típica é a caatinga (ARAÚJO et al., 2014).
Na abordagem teórica, discutimos conceitos de Beni (2003), Torres, Becker, Silvério
(2010) Tadini (2010), Santos e Elicher, (2013) entre outros. Nisso, procuramos compreender
os conceitos em torno do turismo, impactos do turismo e sua operacionalização. Estes pontos
foram importantes para se analisar o impacto do turismo na transformação do espaço
geográfico.
Logo em seguida, para finalizar a ideia, os textos se aprofundam na situação em que se
encontra a Lagoa do Portinho, fazendo um levantamento do espaço temporal, além de retratar
a situação atual, de modo que se compreenda a participação (ou não) do poder público acerca
do recurso turístico. Este estudo trata-se de uma pesquisa de revisão de natureza qualitativa e
de tipo descritiva. A revisão do material bibliográfico ocorreu a partir do acesso e análise de
artigos disponíveis nas bases de dados das revistas Caminho da Geografia; Turismo, espaço,
paisagem e cultura; Geografia em debate; Caderno de Geografia; Turismo e sociedade, entre
outros ligados às áreas do turismo e da geografia. Como critérios de inclusão, utilizamos artigos
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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

disponibilizados em texto completo, em língua portuguesa e inglesa, publicados entre os anos


de 1999 até 2018 e que estão relacionados com o tema. Os critérios de exclusão, por sua vez,
versam sobre textos que não tiveram conteúdo com contribuição para o estudo.

CONCEITUANDO O TURISMO E SUAS APLICABILIDADES

Em sua operacionalização, a atividade do turismo “deve ser considerada em toda a sua


complexidade e contradição já que se trata, ao mesmo tempo, de uma atividade econômica
assentada em um sistema de mercado, o capitalismo, e aí sujeito aos seus efeitos; e uma prática
social” (SANTOS; ELICHER, 2013, p. 56). Por essa atividade, pode-se fazer uma viagem pela
história e cultura de um lugar, momento no qual os gastos produzidos por turistas geram a
movimentação na economia do destino, fazendo com que esses lugares proporcionem
atividades de lazer e de turismo, tanto para quem reside nos pontos explorados como para a
população residente.
A atividade turística deve ser entendida pelo deslocamento de pessoas, de uma
região à outra, por tempo limitado, com o objetivo de satisfazer uma ou mais
necessidades, retornando posteriormente ao seu local de origem. Este fenômeno
difere de outras manifestações de mobilidade espacial como migração ou
movimentos de rotina do cotidiano, como ir ao trabalho ou às compras do dia a
dia, O turismo está inserido no setor terciário da economia e seu efeito
multiplicador compreende um imenso número de empresas, atuando direta e
indiretamente no seu desenvolvimento. Quando bem planejado, é gerador de
empregos e riqueza, via de intercâmbio cultural, caminho para a conservação
das belezas naturais e culturais e gerador de positivas mudanças sociais
(BARROS; SILVA, 2008, p. 10).

Sendo pode se analisar que muitas vezes, a cidade possui lugares de excepcional beleza
cênica que podem ser utilizados como locais de cultura e de atratividade para o lazer e turismo,
apesar de muitos governos não se aterem a esse fato. a partir disso, empresas acabam por
investir na localidade, já que o turismo condiciona uma divulgação para que possa gerar fluxo
de pessoas. Diante disso, “o turismo se apropria de elementos contidos no espaço e lhe atribui
um valor que será transformando em produto turístico e será (re) organizado e inserido dentro
de uma tipologia do Turismo rural, cultural, entre outros, para finalmente tornar-se o produto
final para ser comercializado” (TORRES et al., 2016, p. 5). Nesse sentido, o lugar o turismo
pode contribuir na geração de empregos como também um giro de capital presente na
comercialização do destino escolhido.
Podendo ser “uma atividade indutora de profundas transformações no espaço
geográfico, pois esse constitui da localidade para o turismo, ao se apropriar dominar o espaço
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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

numa relação de poder imposta pelo capital” (TORRES; BECKER; SILVÉRIO, 2016, p. 4).
Nessa atividade, o espaço acaba sendo utilizado como meio de geração de renda para que possa
ser usufruído como meio de comercialização pelo turismo, em que muitas vezes não ficam
preocupados com a sua preservação, mas na divulgação.

O turismo pode ser um eficiente meio para promover uma região, seus valores
naturais, sociais e culturais, além de abrir novas perspectivas para o
desenvolvimento social, econômico e cultural de uma região, além de promover
a melhoria da infraestrutura local, podendo ser um instrumento norteador para
o crescimento da localidade, inserindo-a no contexto global (CARNEIRO;
GONÇALVES, 2012, p. 28).

Sendo assim, o turismo é o fenômeno em que o turista tem acesso a diversas atividades
decorrentes de uma localidade, permitindo que o visitante fique longe do seu cotidiano. O
turismo pode ser considerado “uma atividade transformadora do espaço, uma que necessita da
existência de uma organização interna do setor que promove as viagens e beneficia os locais
receptores, pelos meios de resultados que produz” (BARBOSA, 2005, p. 108). A prática do
turismo ocorre nos mais diferentes lugares, como em campos, praias, serras, montanhas, lagos,
rios, com objetivo de proporcionar um acontecimento no tempo livre. Sobre isso, Dias (2003)
adota o conceito de turismo da Organização Mundial do Turismo [OMT], (2001):

É o conjunto de atividades que as pessoas realizam durante suas viagens e


estadas em lugares diferentes ao de seu entorno habitual, por um período de
tempo consecutivo inferior a um ano, com o objetivo de lazer, negócios ou
outros motivos, não relacionados com uma atividade remunerada no lugar
visitado. Importante assinalar que o turismo compreende todas as atividades dos
visitantes, tanto de turistas como de excursionistas (DIAS, 2003, p. 45).

Sendo o turismo um fenômeno que proporciona o deslocamento de pessoas de forma


temporária e voluntária para vivenciarem experiências em determinada localidade em atividade
de lazer. Nesse âmbito, “o turismo está diretamente ligado ao progresso econômico, à
concentração urbana, na comunicação, desenvolvimento dos transportes, dando um
posicionamento de destaque à atividade, que passou a ser objeto de atenção pública e privado
devido na importância, cultural e política” (NBT, 2009, p. 08). Com isso, pode ocorrer um
desenvolvimento na economia do lugar, como é caso do fluxo de pessoas que passam a visitar
e usufruir dos produtos locais.

O turismo é um fenômeno crescente no Brasil e no mundo e coloca-se muitas


vezes como única oportunidade de desenvolvimento econômico de uma região
pela sua representatividade mercadológica. Esta atividade possui um vasto
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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

campo de atuação e abrangência integrando de maneira direta e indireta diversos


setores da sociedade, o que a torna atrativa para população, governo e agentes
capitalistas (BALLABIO, 2000, p. 01).

Sendo assim, a ideia mais comum sobre o turismo se refere à “visita temporária em
busca de entretenimento, lazer e descanso, ou a ideia de milhares de pessoas se deslocando de
um lugar para outro, motivados pela busca de atividades que fujam da rotina diária de suas
vidas” (TADINI; MELQUIADES, 2010, p. 106). O turismo pode se configurar como a
multiplicação de renda para a população local, tanto na ampliação de empregos entre as
empresas que conseguem levar seus negócios com o uso do turismo, fazendo com que a
arrecadação de impostos e sua captação de recursos sejam um investimento na infraestrutura e
equipamentos.
Para que o turismo possa acontecer, necessita-se que as localidades possam usufruir
dessa maior geração de fluxos de pessoas e ao mesmo tempo uma geração de renda; com isso,
a preocupação fica mais intensiva no uso do espaço para sua comercialização, esquecendo-se
da preservação, para que a sua durabilidade se torne um bem maior, podendo ser aproveitado
futuramente por outras pessoas.
Carneiro e Gonçalves (2012) relatam que o turismo, por ser uma atividade econômica,
requer vários serviços e atrativos para sua realização. Com isso, gera alguns impactos
socioambientais nas áreas que se instalam. Essa transformação nos espaços geográficos realiza
a reorganização de territórios, pois o consumidor se desloca para consumir o produto ou serviço
turístico, indo à procura de um lugar para que possa ficar por determinado período de tempo,
de forma que retorne à sua residência, pois o turismo uma atividade rotativa.

OS IMPACTOS DO TURISMO NA TRANSFORMAÇÃO DO ESPAÇO.

A atividade turística é complexa e compreende o consumo, como também a produção e


apropriação do espaço, das paisagens atraentes e exóticas, porque no turismo “o espaço é
marcado pela diversidade dos elementos naturais e culturais que o compõem, gerando paisagens
variadas, onde os recursos naturais possam ser ofertados e consumidos turisticamente é preciso
adequá-los para que se tornem um produto turístico” (NASCIMENTO et al., 2013, p. 392).
Com isso, os lugares são transformando para serem alvo de turistas, mas também devem ser
valorizados pelos que se beneficiam do referido espaço. No entanto, o consumo desses lugares
pelo turismo gera impactos, que variam conforme o seu consumo. Sobre isso, Souza et al.
(2013) retratam: 313
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Quanto aos impactos eles podem variar desde a alteração do processo produtivo
do artesanato para suprir a demanda, modificação na apresentação das
manifestações folclóricas ou religiosas para despertar o interesse de turistas, até
a descaracterização de bens patrimoniais imóveis, como por exemplo: em
função de adequações necessárias para atender aos requisitos de conforto,
segurança e acessibilidade para o turismo. Outros impactos menos visíveis do
que estes também podem acontecer como, por exemplo, a modificação de
hábitos de vida pela influência dos visitantes ocasionando problemas sociais e
psicológicos na população que recebem turistas e assim por diante (SOUZA et
al., 2013, p. 318).

Para proporcionar comodidade a turistas, os responsáveis acabam causando impactos


no aspecto físico sendo eles estão associados tanto à colocação de infraestrutura nos territórios
para que o turismo possa acontecer com a circulação de pessoas que a prática turística promove
nos lugares que podem ser observados em componentes variados e em diferentes escalas, como
argumenta Tulik (2013).

Entre estes efeitos, merecem ser mencionadas, pela frequência com que
aparecem, a destruição e a remoção da cobertura vegetal, em virtude da
proliferação de loteamentos, construção de alojamentos e equipamentos, tráfego
de pedestres ou de veículos, ação do fogo e coleta de espécies” (TULIK, 2013,
p. 65).

Algumas empresas de turismo produzem em seus ambientes que sejam especialmente


destinados a variados tipos de consumo, com isso não pensam nas consequências que podem
acontecer, pois os serviços de turismo envolvem uma gama de pessoas que articulam os
atrativos que o turismo se apropria. Para que isso ocorra, a inserção da cultura urbana do turismo
influencia sobremaneira elementos para o espaço e que passam a se refletir nos aspectos físicos,
levando a esse espaço um novo desenho urbano que pode acalentar a geração de novos
problemas e demandas, muito disso varia como o fluxo de turistas que passam a ser constantes,
como Cruz (2001, p. 12) relata:

A intensificação do uso turístico de dada porção do espaço geográfico leva a


introdução, multiplicação e, em geral, concentração espacial de objetos cuja
função é dada pelo desenvolvimento da atividade, assim, fluxos de capital,
informações e pessoas externos a localidade que passa a ser vista como foco dos
investimentos em turismo, se direcionam em um ritmo muito rápido para que
este local possa, na maior velocidade possível, entrar no rol das destinações
turísticas mais modernizadas (CRUZ, 2001, p. 12).

Esses impactos podem ser mais graves quando afetam as regiões litorâneas como
também, as ilhas e montanhas, onde o desenvolvimento turístico ocorre em áreas
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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

particularmente onde pode provocar impactos que repercutem no espaço geográfico. Nesse
âmbito, Silva (2008, p. 02) explica:

Na medida em que o turismo representa uma ligação do lugar com o mundo,


seu desenvolvimento irá certamente transformar o ambiente, sobretudo devido
às inúmeras interações que a atividade proporciona entre os visitantes e os
residentes de uma comunidade receptora (SILVA, 2008, p. 02).

Tais medidas causam, assim, mudanças no espaço, assim que a atividade turística
ocorre, o ambiente é inevitavelmente modificado, seja para facilitar o turismo, seja através do
processo de produção do turismo. A natureza é essencial para o desenvolvimento da atividade
turística, e sem dúvida desperta fascínio nas pessoas, que buscam no contato com a mesma,
recuperar suas energias e aliviar as tensões do dia a dia, Como Castrogiovanni (2000) assevera:
O espaço deve ser visto como um fator da evolução social, portanto, produzido
e reproduzido constantemente. O movimento histórico é que constrói o espaço,
que é uma instância da sociedade, portanto, como instância, contém e é contido
pelas demais instâncias. As cidades são partes representativas da complexidade
que é o espaço geográfico. As instâncias móveis das cidades, ou seja, os fluxos,
são importantes, pois são eles que dão vida aos fixos. Os turistas, papel que
assumimos quando estamos em movimento no espaço, fazem parte dos fluxos.
Eles não são meros observadores deste espetáculo de interações, mas parte dele.
Os fluxos também interagem, formam resistências, aceleram mudanças, criam
expectativas, desconstroem o aparentemente rígido cenário urbano.
(CASTROGIOVANNI, 2000, p. 24).

Gerando assim mudanças constantes, sendo feitas da forma que for necessária para a
comodidade do fluxo de turismo. Como Murta (2008, p. 12) “os espaços em turistificação
representam uma interferência na linha histórica descrita pelas áreas de intervenção, criando
ambientes que são comercialmente propícios para a prática do turismo, mas nem sempre
coerentes com o contexto em que se inserem”. Essas transformações do espaço podem ocorrer
em praias, sítios como também em lagoas, sendo que muitas das vezes essa transformação não
é realizada de modo que se preserve o ambiente.

As localidades turísticas têm dificuldades em solucionar os problemas de


saneamento básico, pois a demanda sobre estes serviços é multiplicada, às
vezes, por cem, em épocas de temporada e fins de semana prolongados. Nesses
períodos, os efluentes domésticos chegam a atingir níveis muito superiores à
capacidade de saturação: os despejos de fossas e esgotos acabam contaminando
as praias, comprometendo a balneabilidade de suas águas. É também difícil
organizar a coleta de lixo, e muitas vezes é impossível estabelecer um local
apropriado para o seu despejo que, ou fica disperso por várias áreas sem um
tratamento adequado, ou a municipalidade deve negociar a sua deposição em
algum município vizinho, são todas as soluções de curto prazo que prejudicam
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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

o potencial futuro para o desenvolvimento turístico. (MENDONÇA, 2001, p.


22).

Para Carneiro Gonçalves (2012), as transformações geradas pelo uso do turismo em


determinado local estão ligadas ao modo de vida da população, pois as alterações de ordem
econômica envolvem o crescimento da geração de emprego e renda, assim como o desemprego
e mudanças nos hábitos e costumes dos moradores. A partir disso, as consequências dessas
transformações do espaço estão ligadas diretamente à degradação dos ecossistemas presentes
no espaço, em virtude da poluição de rios, mares e lagoas. Através disso ocorre a diminuição
da biodiversidade vegetal e animal, onde acontece ocupação de áreas vulneráveis, como
construção de empreendimentos na faixa praial e sobre as dunas, além da poluição sonora.
A apropriação dos espaços naturais pelo turismo causa diversas transformações, muitas
das quais de forma direta, mesmo com o máximo de planejamento alocado sobre o lugar
(CRUZ, 2001). Apesar de se tratar de um tipo de turismo “alternativo” em meio à natureza,
grande parte dos turistas não está disposto a encarar estradas de difícil acesso ou mesmo dormir
em barracas e alojamentos precários, com isso se torna necessário que o espaço seja
transformado para que possa oferecer estrutura compatível com o mercado.
Com isso, para que o potencial turístico de uma região se torne produto turístico, é
importante que ofereça para o turista infraestrutura turística condizente, primando por serviços
de transporte regular e com qualidade, alojamentos, serviços de alimentação, entretenimento,
etc., sendo importante também parcerias com setores públicos, como a infraestrutura básica, a
partir do fortalecimento de políticas públicas de saneamento básico, acesso viário, energia
elétrica, comunicação, vias urbanas de circulação, coleta de resíduos e capacitação de recursos
humanos, sendo que não se torna presente em todas as cidades tem a preocupação da
conscientização ambiental do espaço utilizado pelo turismo.
Nesse sentido, Carlos et al. (1999) expressam a opinião sobre a artificialidade presente
na atividade turística, ao afirmarem que

A indústria do turismo transforma tudo o que toca em artificial, cria um mundo


fictício e mistificado de lazer, ilusório, onde o espaço se transforma em cenário
para o “espetáculo” para uma multidão amorfa mediante a criação de uma série
de atividades que conduzem a passividade, produzindo apenas a ilusão da
evasão e, desse modo, o real é metamorfoseado, transfigurado, para seduzir e
fascinar (CARLOS et al., 1999, p. 01).

Essa transformação no espaço geográfico pode ser causada pelo impacto do turismo em
uma região ou localidade, podendo afetar também o impacto social, onde se torna menos
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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

perceptível visualmente do que o impacto ambiental. Quando ocorre o encontro entre turistas e
visitantes, no primeiro caso, em lugares diferentes acontecem mudanças principalmente na
cultura, pois a população local começa a adotar hábitos e costumes dos visitantes, para melhor
se integrar socialmente e também para ser aceita por turistas (CARNEIRO GONÇALVES,
2012). Essa transformação é resultado da chegado do turismo convencional na localidade,
havendo assim uma adaptação da comunidade para o público turístico.
Outra transformação que se pode citar está relacionada com a economia, já que, com o
advento do turismo, as atividades produtivas tradicionais que eram baseadas na pesca, no
extrativismo e na agricultura, comercializadas para população da localidade, passam por
profundas transformações, denunciando, inclusive, o seu fim. No turismo ocorrem mudanças
significativas, sendo direcionadas à maior produtividade em razão do fluxo maior de pessoas,
fazendo movimentar a economia local (CARNEIRO GONÇALVES, 2012). Com essas
mudanças, o turismo pode acarretar às localidades ameaças quanto ao seu futuro, pois pode
prejudicar pessoas que se beneficiavam dessa atividade do turismo.

LAGOA DO PORTINHO: TRANSFORMANDO O ESPAÇO REAL EM TURÍSTICO


O turismo se vale da ocupação e transformação do espaço geográfico para a sua
operacionalização, nisso, são vários os tipos de espaço que envolvem o estudo do turismo.
Nesse interim, Beni (2003) discorre no subsistema ecológico a existência de oito espaços
distintos, cada um com suas características. O primeiro deles versa sobre o espaço real, que se
trata de um espaço original, sem presença ou vestígio algum de ações humanas, mas que possui
valor e capacidade de ser alterado, podendo passar ao status de espaço potencial, tendo em vista
a natureza cênica do lugar como passível de atração turística.
O espaço turístico configura-se pela presença e distribuição de atrativos, o que confere
relativa importância dentro do mercado de turismo, porque está consolidado na perspectiva de
uso do espaço para fins turísticos. Desse modo, este espaço produz eventuais ganhos ao turismo,
tendo em vista a sua transformação em produto, cujo interesse para a atividade é a do consumo,
consoante a um produto fabricado por uma indústria convencional e posto à venda no comércio.
Quanto à aplicabilidade do turismo na transformação do espaço, se tem como objeto da pesquisa
a Lagoa do Portinho, que é considerada como um dos principais atrativos do turismo no Piauí,
apesar de seu declínio nos últimos cinco anos, quando a referida lagoa apresentou redução de
suas águas em razão do represamento para fins privados de criação de peixes em cativeiro.

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Dentro do espectro da Lagoa do Portinho enquanto recurso turístico (BENI, 2003),


podemos analisar, ainda, aspectos relativos à teoria do ciclo de vida do turismo de Butler (1980),
que descreve as fases que determinado espaço turístico é utilizado pelo turismo, desde a
exploração até a estagnação, quando este pode rejuvenescer ou chegar ao seu declínio,
encerrando a sua exploração, conforme a Figura 02:

Figura 02: Ciclo de vida do turismo de Butler (1980).


Fonte: Alvares (2008).

De acordo com Butler (1980), todo destino turístico passa por um processo de vida, que
vai desde a etapa de exploração, quando as primeiras pessoas começam a viajar para
determinado espaço ou lugar com a finalidade de lazer, recreação ou até mesmo atividades
turísticas. Diante disso, o espaço ou lugar consegue maiores envolvimentos das pessoas, tanto
em razão do marketing boca a boca quanto de ações mercadológicas que dão publicidade ao
lugar. Após isso, o lugar ou espaço percebe dos poderes público e privado ações de
transformação com vistas a tornar o lugar ou espaço com certa infraestrutura, capaz de receber
uma maior demanda de pessoas, até chegar à etapa de consolidação, quando o número de
visitantes passa a ser regular e com fluxo contínuo, prevendo apenas as baixas comuns da
sazonalidade que praticamente assola a maior parte dos destinos turísticos.
Durante cerca de vinte anos (de 1990 a 2010), a Lagoa do Portinho figurou como um
dos principais atrativos do turismo no litoral piauiense, recebendo fluxo regular de pessoas de
vários lugares, em busca da beleza e das águas propícias ao banho, conforme a Figura 03:

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Figura 03: Época de Grande fluxo de turista.


Fonte: F. S. Santos-Filho, Jul. (1996);

Na Figura 3, observa-se turistas em meio à realização de atividades de lazer na Lagoa


do Portinho, quando esta recebia um fluxo regular de pessoas. Foi nessa época que este atrativo
passou a ser mais conhecido e divulgado por parte dos turistas como também dos poderes
públicos e privados. Dentre as características do lugar, se tem as belas dunas que tornam um
lugar com diversas possibilidades para o turismo junto à natureza, sendo um grande diferencial
também para o turismo, conforme as Figuras 04 e 05:

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Figura 04 e 05: Dunas no entorno da Lagoa do Portinho.


Fonte: Francisco Renan de Morais Ramos, novembro de 2018.

Segundo publicação do Ministério do Meio Ambiente (MMA) [2013] acerca das lagoas
do Piauí, considera a Lagoa do Portinho um espaço de lazer e entretenimento, apresenta uma
infraestrutura receptiva oferecendo bares e opções de hospedagem, alimentação, restaurantes,
espaços para shows, estacionamentos e atracadouros para pequenas embarcações. Para que
fosse possível a realização dessa movimentação turística, foi necessário que o espaço fosse
adequado e modificado, como é o caso das construções de bares às margens da lagoa, onde é
realizada a retirada de árvores e outros agravos ambientais.

As alterações das propriedades físicas, químicas e biológica do ambiente são


causadas por qualquer forma ou energia resultante das atividades humanas que
direta ou indiretamente, afetam a saúde, segurança, bem-estar da população e
os recursos naturais. Isto decorre em muitos casos pelo avanço da urbanização,
que intensifica mudanças ao ambiente, o que provoca diferentes impactos ao
solo, água, atmosfera, e à biodiversidade, com graves consequências para a
sociedade (MASULLO, 2014, p. 01).

Nessa perspectiva, as mudanças que ocorridas nas margens da lagoa foram proporcionas
tanto para as comunidades locais quanto por outros investimentos em pousadas e clubes público
e privado. Para Leite et al. (2015), “essas interferências podem acarretar consequências
benéficas ou maléficas do ponto de vista político, econômico, social e cultural e o estudo dessas
consequências deve ser analisado de forma que sejam considerados a maneira que essa
sociedade se apropria dos recursos naturais da região”, se utilizando de espaços que sejam de
moradores antigos da área como também de espaços nunca usados antes.

As influências sobre o espaço da cidade variam com o tempo e as


administrações públicas, representadas por seus órgãos competentes e, na
melhor das hipóteses, com o respaldo da população local, vêm atuando no
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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

sentido de adaptar fisicamente o meio urbano às novas demandas de seu uso e


funcionamento (MURTA, 2015, p. 06).

Com isso, áreas próximas à Lagoa do Portinho foram sendo modificadas para melhor
receptividade dos turistas, até mesmo com a derrubada de árvores próximas à lagoa para a
construção de bares e restaurantes, causando, assim, a transformação no espaço natural pela
necessidade de expansão do turismo. Nesse ensejo, Brasil (1998) afirma que “os recursos
turísticos são todos os bens e serviços que, por intermédio da atividade do homem e dos meios
com que ele conta, tornam possível a atividade turística e satisfazem as necessidades da
demanda”. À criação de espaços usufruídos pelos turistas, gera-se a demanda do grande fluxo
de visitantes, assim como a criação de parceiros que possam contribuir nesse processo,
conforme Cirino (2006) retrata.

No processo de produção do espaço geográfico voltado para atender as


demandas turísticas a paisagem natural é alterada criando paisagens artificiais
na tentativa de reproduzir signos que povoam o imaginário dos turistas, ou seja,
cria-se uma imagem turística que seja atrativa para o turista. Esta imagem
turística é criada pelos agentes produtores do espaço turístico, como o poder
público local e os agentes imobiliários (CIRINO, 2006, p. 17).

Nesse âmbito, tal movimento pode ser aplicado na Lagoa do Portinho, onde se encontra
impactos decorrentes da transformação do espaço, ocorridos de maneira avançada ao longo dos
anos pelo uso turístico. Muito dos impactos estão relacionados com a gestão deficitária do poder
público, que pouco se preocupou com o ambiente, assim como da população local que fez
usufruto do espaço, mas sem a preocupação das consequências dos impactos. Nesse sentido,
Cruz (2002, p. 108) assinala que “as paisagens são reflexo dos espaços, toda transformação no
espaço representa simultaneamente alguma transformação na paisagem”. Assim sendo,
inexistindo a devida preservação, pode acontecer consequências ao meio ambiente presente na
localidade.
Com esse aumento da produção para o turismo, a paisagem antes natural acaba sendo
transformada em atração turística agregada de valor para ser consumida por turistas. Em relação
à seca das águas da Lagoa do Portinho, tanto ocorreu pelos períodos de estiagem, como pelo
movimento das dunas e da retirada da vegetação, como também por desvios do curso d’água
para sítios próximos e, de forma mais grave, para represas e criações de peixes e derivados,
conforme a Figura 05:

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Figura 06: Lagoa do Portinho com o leito seco em virtude do desvio das águas e da estiagem.
Arquivo: Tarcys (2016).

Na Figura 06, percebemos consequências do desvio das águas, sem a devida


preservação, como também a ausência de preocupação do poder público, em razão da
inexistente fiscalização. Com isso, pessoas se beneficiaram da Lagoa do Portinho
providenciando o desvio das águas de modo acelerado. Por consequência, aos poucos as águas
foram evacuadas, acabando com o ecossistema da lagoa.
Assim, esta situação fez com que todos fossem prejudicados, tanto aqueles que utilizam
a pesca para sua sobrevivência, como também os que usam o espaço geográfico para o turismo.
Após os desvios das águas, houve também escassez pela falta de chuvas, o que também
contribuiu para a seca da lagoa. Estes foram fatores preponderantes para a seca quase que
completa da lagoa. Nisso, a Lagoa do Portinho perdeu a sua atratividade, tendo em vista que
sem água os atrativos turísticos foram desprezados.
Essa degradação acabou prejudicando tanto a população que residia na localidade,
quanto pessoas que de alguma forma se beneficiava economicamente com o fluxo de turistas.
Mesmo assim, a população da localidade foi mais prejudicada, pois muitos bares e restaurantes
construídos ao longo dos anos, acabaram sendo fechados devido à ausência de turistas.

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Figuras 07 e 08: Avanço das dunas sobre a rodovia que dá acesso à Lagoa do Portinho.
Fonte: Francisco Renan de Morais Ramos, novembro de 2018.

Nas Figuras 07 e 08, nota-se o avanço das dunas, fato que ocorreu de maneira gradativa
e que tem causado bastante transtorno com relação ao acesso à lagoa. Não se teve intervenção
dos setores responsáveis pela tomada de decisão acerca da liberação desta importante via de
acesso. Com o tempo, foi se tornando cada vez mais complicado o acesso tanto das pessoas que
visitam a localidade, como também a população por essa via que tem como acesso o município
de Luís Correia, ficando apenas disponível por um determinado tempo, a estrada de acesso à
Parnaíba. Sendo assim, sem a devida precação dos governantes, a população acabou buscando
meios de conseguir ter acesso, por meio de atalhos ao lado das dunas.

Figuras 09 e 10: Bares em estado de degradação e abandono na Lagoa do Portinho.


Fonte: Francisco Renan de Morais Ramos, novembro de 2018.

Nas Figuras 09 e 10, pode-se atestar o abandono de bares que ficavam à margem da
lagoa, e que têm suas estruturas destruídas pela ação do tempo e salitre da praia, além da ação
de vândalos. Essas estruturas foram abandonadas à medida que a lagoa perdia suas águas,
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derivados das consequências da degradação da lagoa. Assim, sem a exuberância de suas águas,
o fluxo regular de turistas deixou de existir, afetando a econômica turística do local.

Figuras 11 e 12: Atracadouro das embarcações na Lagoa do Portinho.


Fonte: Francisco Renan de Morais Ramos, novembro de 2018.

Nas figuras 11 e 12, pode ser observar os atracadouros das embarcações, mas que servia
como acesso para turistas, tanto para registros fotográficos, como dos pescadores em períodos
de cheias da lagoa. Com a falta de manutenção e cuidados, a ação do tempo destruiu toda a
estrutura, que hoje se encontra em ruínas. Sendo assim, aos poucos foram acontecendo à
diminuição na rotatividade de turistas, onde poucos bares e pousadas que conseguiram conviver
junto à problemática.

O turismo sem planejamento, gestão e controle da atividade provoca, em suas


localidades, o uso indiscriminado do espaço, principalmente litorâneo e arredor,
o adensamento dessas práticas de construções acarreta nos problemas de falta
de infraestrutura urbana para a própria comunidade local e, consequentemente,
sérios problemas sociais (CALDAS, 2014, p. 2).

Uma das consequências da transformação do espaço está relacionada com a falta de


conscientização ambiental dos turistas que usufruem do espaço para o seu lazer, fazendo uso
do lixo, que não eram postos nos devidos locais, e eram deixadas próximas as dunas ou até
mesmo às margens da lagoa, causando assim poluição e prejudicando a localidade, como
também a utilização de áreas próximas, conforme a Figuras 13 e 14:

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Figuras 13 e 14: Aterramento de resíduos sólidos próximos à Lagoa do Portinho.


Fonte: Francisco Renan de Morais Ramos, novembro de 2018.

Nas Figuras 13 e 14, observamos que as mudanças geográficas do espaço relacionadas


com o acúmulo de lixo nas margens da lagoa resultam na sua degradação, já que derivam da
falta de conscientização de quem se beneficia, sem ter consciência da preservação. O fluxo de
turista que frequenta a localidade gera uma grande massa de lixo que acabou sendo abandonada,
prejudicando os animais e a população.
Sobre isso, Lopes Júnior e Rangel (2017, p. 02) afirmam:

No caso do descarte de resíduos em áreas litorâneas, como praias turísticas, a


questão envolve os poderes público e privado, a população local e os visitantes
(turistas), os resíduos despejados nas praias provocam poluição ambiental ao
mar, à areia, além de influir negativamente na visitação turística (LOPES
JÚNIOR; RANGEL, 2017, p. 02).

Dessa forma, sem a devida vigilância, vândalos destroem as estruturas abandonadas pelos
poderes público e privado; nisso, percebe-se a negligência em torno da Lagoa do Portinho
acerca do uso do espaço como recurso turístico ou mesmo de sobrevivência da comunidade
local.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Sendo assim, averiguamos que o turismo se torna importante na Lagoa do Portinho,
assim como em outros destinos que seja operacionalizado, porque contribui na geração de renda
emprego em localidades que não tiveram muito acesso as oportunidades de conseguir ter seu
próprio negócio. Com o fluxo de pessoas oriundas do turismo, pequenos negócios
experimentam crescimento, se tornando em um meio de sobrevivência. Para isso, se torna
325
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

necessário a ocorrência da transformação do espaço, porque nele o turismo se adequa de acordo


com a demanda, sem pensar nas consequências que pode está trazendo ao espaço geográfico.
Por tudo isso, é importante que o turismo realize sua transformação objetivada na preservação,
para que assim possa conseguir ter uma maior durabilidade, já que o espaço da Lagoa do
Portinho e as populações que a utilizam enquanto recurso de vida experimentam dificuldades.
Com isso, ações de planejamento do turismo podem ser relevantes para tornar a lagoa o atrativo
que era, com fluxo regular de pessoas e com atenção às práticas ambientais, fazendo com que
as transformações do espaço pelo turismo possam se dar de forma efetiva, visando o bem do
lugar e das pessoas que participam desse processo.
Verificou-se que os impactos negativos do turismo sobre o meio ambiente natural
causado pelo mesmo, como poluição sonora, lixo e resíduos sólidos, na degradação de
ecossistemas frágeis, perda da biodiversidade, como também na perda da cobertura vegetal e
do solo, aceleramento de processos erosivos, fuga da fauna nativa, entre outros. A atividade
turística pode ocasionar impactos danosos ao meio ambiente, principalmente no que se refere
às zonas litorâneas cada vez mais procuradas por turistas.
Torna-se importante que ocorram reflexões e discussões do turismo sobre os impactos
oriundos nas localidades naturais, apontando propostas para que possa minimizar os impactos
negativos e mostrar os impactos positivos, já que o turismo não é oriundo apenas de impactos
negativos, pois se tem presente vantagens em se desenvolver a atividade, sendo por esse motivo
que a atividade deve ser bem conduzida e planejada, desta forma, são necessários que
aconteçam estudos que busquem minimizar ao máximo a degradação ambiental das áreas
receptoras.

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

TURISMO AFRO-RELIGIOSO: A ANÁLISE DO POTENCIAL TURÍSTICO DA


CASA DE IEMANJÁ ILLÊ ASÉ OMO NI EJÁ SABAÁ ODÊ KWE SINFA NA
CIDADE DE PARNAÍBA-PI
Ana Izabel de Almeida
Sofia Araujo de Oliveira
RESUMO
O turismo religioso é o segmento que mais cresce no cenário turístico de Parnaíba. Todavia, a
presente pesquisa tem como objetivo executar uma análise do potencial turístico da Casa de
Iemanjá Illê Asé Omo Ni Ejá Sabaá Odê Kwe Sinfa, voltado para o desenvolvimento do turismo
afro-religioso, subsegmento que consiste na visitação à atrativos culturais e religiosos de matriz
africana. Assim como também averiguar a infraestrutura da casa, identificar e sistematizar as
atividades realizadas pela casa e investigar o interesse dos membros sobre o desenvolvimento
do turismo religioso no terreiro. A pesquisa apresenta a abordagem qualitativa, tendo como
métodos de análise, o descritivo e explicativo. Para a construção da revisão de literatura
utilizou-se pesquisa bibliográfica com suporte a consulta a livros e artigos. O levantamento de
dados ocorreu através de pesquisa de campo, bem como a coleta de dados através de entrevistas
semiestruturadas direcionadas a liderança do terreiro e a alguns filhos de santo. Concluiu-se
que o terreiro possui potencial turístico para ser um atrativo religioso afro, sendo necessário
para isto, melhorias na infraestrutura e ordenamento das atividades a serem desenvolvidas pelos
turistas.

Palavras-Chave: turismo religioso, religiões afro-brasileiras, atrativos religiosos.

ABSTRACT

Religious tourism is the fastest growing segment in the tourist scene of Parnaíba. However, this
research aims to perform an analysis of the tourist potential of the Casa de Iemanjá Illê Asé
Omo Ni Ejá Sabaá Odê Kwe Sinfa, focused on the development of Afro-religious tourism, a
subsegment that consists of visiting cultural and religious attractions of African matrix. As well
as investigating the infrastructure of the house, identify and systematize the activities carried
out by the house and investigate the interest of members on the development of religious
tourism in the yard. The research presents the qualitative approach, having as methods of
analysis, the descriptive and explanatory. For the construction of the literature review, a
bibliographic research was used to consult books and articles. The data collection occurred
through field research, as well as data collection through semi-structured interviews directed to
the leadership of the yard and some children of saint. It was concluded that the terreiro has
tourist potential to be an Afro religious attraction, being necessary for this, improvements in
infrastructure and planning of activities to be developed by tourists.

Keywords: religious tourism, Afro-Brazilian religions, religious attractions.

INTRODUÇÃO
O turismo religioso movimenta pessoas pela fé e tem sido um dos segmentos que mais
cresce no século XXI e, apesar de crises econômicas enfrentadas em nível mudial, tem
movimentado mais de 300 milhões de pessoas em todo o mundo. (BARBOSA, 2015). No
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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Brasil, o turismo religioso movimentou cerca de R$ 15 bilhões no Brasil em 2017 (SANTOS,


2018).
O Nordeste é uma das regiões brasileiras que mais se destaca no que diz respeito ao
desenvolvimento do turismo religioso. No território nordestino, o turismo religioso corresponde
à segunda opção na preferência dos turistas, já que o turismo de sol e praia é predominante
nessa região (STEPHANOU, 2017). As religiões de matriz africana, por sua riqueza religiosa
e cultural, atraem turistas em busca da vivência de rituais ou voltados para o conhecimento da
cultura afro.
O Nordeste brasileiro possui uma forte herança dos negros africanos escravizados pelos
portugueses. Foram trazidas com eles suas crenças e tradições, onde através das mesmas
instauraram uma forma de se conectar com o sagrado. As crenças reverberaram em religiões,
destacando-se a umbanda e o candomblé.
A expansão significativa do turismo religioso associado ao interesse, por parte do
turista, em conhecer sobre a herança cultural e religiosa de origem africana, é possível construir
o recente segmento turístico: o turismo religioso afro. Em algumas cidades é clara a
potencialidade turística no que diz respeito ao desenvolvimento do turismo religioso afro. Um
dos municípios brasileiros que possui um rico patrimônio espiritual e cultural é Parnaíba.
Localizada no litoral do Piauí, a cerca de 340 km da capital Teresina, possui aproximadamente
de 145.705.00 de habitantes, sendo assim a segunda cidade mais populosa do estado (IBGE,
2010).
Parnaíba é explorada turisticamente principalmente pelo segmento de sol e praia, por
possuir praias de beleza exuberante e o maior e único Delta das Américas. Entretanto, possui
um rico patrimônio cultural tendo como exemplo o centro histórico tombado pelo o IPHAN
(Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). A cidade também possui como bens
imateriais a religiosidade, tendo a presença de religiões de matriz africana como o candomblé.
Em Parnaíba, existe a Casa de Iemanjá Illê Asé Omo Ni Ejá Sabaá Odê Kwe Sinfa, até
então único espaço de culto de candomblé aberto na cidade. Por ser a única desta religião no
municipio, este espaço torna-se importante devido a exclusividade da prática religiosa
específica desta crença, como também por sua representatividade religiosa e cultural, possuindo
influência no âmbito cultural da cidade.
Diante do fluxo turístico e patrimônio religioso afro-brasileiro existente em Parnaíba
questiona-se neste trabalho se existe potencial para o desenvolvimento do turismo religioso na
casa de Iemanjá Illê Asé Omo Ni Ejá Sabaá Odê Kwe Sinfa localizada em Parnaíba-PI. 329
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Para tanto, a pesquisa objetiva analisar a infraestrutura da casa, identificar e sistematizar


as atividades realizadas pela referida casa e analisar o interesse dos membros sobre o
desenvolvimento do turismo religioso no terreiro.
O presente trabalho pretende contribuir para o planejamento do turismo religioso e
análise da possibilidade de inclusão da Casa de Iemanjá como atrativo turístico na cidade de
Parnaíba-PI. O trabalho também servirá como um elemento de incentivo para promover a
valorização e a conscientização da importância da cultura afro que ainda é vista de forma
marginalizada, tendo como resultado a carência de estudos científicos sobre a temática,
principalmente no que se refere ao âmbito municipal.

CANDOMBLÉ – FÉ E TURISMO
A cultura é elemento essencial para o desenvolvimento humano, Tylor a entende como
“[...]todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer
outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo o homem como membro de uma sociedade”
(LARAIA, 1932, p. 25). Tylor aborda em seu conceito a cultura atrelada aos feitos humanos e
sua estreita ligação com sua vivência comunitária que, segundo Geertz (1989) propicia a criação
de símbolos e significados para os mais diversos aspectos da vida.
Um dos aspectos da cultura é a espiritualidade. Nela a fé é considerada a base de todas
as religiões e corresponde ao ato de um indivíduo ser firme, acreditar e ser fiel a algo ou alguém
(ARBOITH, 2008). A fidelidade pode se referir a algo transcendental ou não.
A fé remete a experiência com o sagrado que, de acordo com (BORAU, 2008, apud
COUTINHO, 2012), consiste na ponte entre divindade e homem. As crenças são resultados das
expressões religiosas existentes, que são exprimidas através da arte e da literatura, como
exemplo as escrituras sagradas, credos, doutrinas ou mitos (GAARDER et al, 2001).
A palavra religião, de acordo com a etimologia, é derivada do latim religare com o
significado de religar, reler ou reeleger, ou seja, liga o homem com algo transcedental
(COUTINHO, 2012).
De forma adicional, para Tiele (s.d.,s.p.), o conceito de religião:
significa a relação entre o homem e o poder sobre-humano no qual ele acredita
ou do qual se sente dependente. Essa relação se expressa em emoções
especiais (confiança, medo), conceitos (crença) e ações (culto e ética) (apud
GAARDER et al, 2001, s.p.).

A religião é uma das diretrizes que norteiam os caminhos do ser humano a religião surge
de uma necessidade inerente do ser humano de dar sentido a sua existência finita (GÓIS, 330
2013).
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

No que diz respeito ao campo religioso brasileiro, deve-se levar em consideração todo o seu
processo histórico. É importante ressalvar sobre a definição de religiões afro-brasileiras que
segundo Capellari (2001, p. 65, apud JÚNIOR, 2010, p.1) são: “[...] o conjunto das práticas
religiosas desenvolvidas a partir do contato entre civilizações de origem europeia, africana e
americana em solo brasileiro”, onde é válido salientar o hibrismo de características culturais do
branco, negro e do indígena, tendo como predominância nessas religiões, a representação do
negro.
Uma das religiões afro-brasileiras mais representativas é candomblé. O Candomblé foi
a religião pioneira no que condiz a representação da identidade religiosa do negro. Conforme
Júnior (2010), o candomblé é considerado a religião mais próxima das origens africanas, ou
seja, tendo mais fidelidade com as tradições da África. Lang (2008, p. 173, apud JÚNIOR,
2010, p. 9) salienta sobre o candomblé:
É uma religião originária da África, trazida ao Brasil por escravos. Oxalá é a
divindade da criação. Cultuam os Orixás, de origem totêmica, que
representam as forças que controlam a natureza e seus fenômenos, tais como
as águas, o vento, as florestas, os raios. Ritos e cerimônias realizam-se em
casa ou terreiros, de linhagem matriarcal uns e patriarcal outros quanto à
direção.

De forma complementar, Santos (2010, p. 30, apud GÓIS, 2013, p. 323) afirma que “o
candomblé é uma síntese de tradições religiosas da África Ocidental, especificamente da
Nigéria, Benin e Togo além das influências de outras tradições religiosas”. Perante isso, nota-
se que o candomblé é a religião que sofre influência de várias regiões da África.
Vale ressaltar que as práticas e identidade espiritual dos negros no Brasil tem direta
relação com a origem étnica dos negros na África. Ou seja, o local originário de etnias
específicas na África é fator determinante na construção de suas manifestações culturais,
sobretudo religiosa.
De acordo com a história do negro do Brasil, existiram duas etnias predominantes, no
processo de escravidão dos africanos trazidos para o Brasil colônia: os bantos e os sudaneses
(NASCIMENTO, 2010). Ainda segundo esse autor, os bantos que representam os angolas,
caçanjes e bengalas, foram distribuídos para as regiões que hoje se conhece pelo o ciclo do
Ouro, como Minas Gerais e Goiás. Já os sudaneses representando os povos iorubás ou nagôs,
jejes, fanti-achanti, haussás e mandigas-islamizados, foram disseminados mais na região do
Nordeste, onde na época a atividade econômica predominante era o açúcar, principalmente nos
estados da Bahia e Pernambuco.
331
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Oriundo da Bahia, o candomblé das nações Ketu (iorubá) e angola (banto) foram os que
mais se propagaram por todo o território brasileiro, sendo visto praticamente em todas as
regiões do país (JÚNIOR, 2010).
Os espaços de culto do candomblé são chamados terreiros ou casas, onde cada um
estabelece suas próprias normas e regras de boa conduta, sempre dependendo do sacerdote
responsável pelo o espaço (JÚNIOR, 2010). A fundação de um terreiro de candomblé é gerada
a partir de uma série de procedimentos ritualísticos e é necessário legalizar o espaço de culto
por meio do Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) (EVANGELISTA, 2015).
De acordo com Santos (apud EVANGELISTA, 2015), o terreiro divide-se em dois
recintos. O primeiro é composto pelas instalações de uso público e privado, como os quartos
consagrados aos orixás, o quarto para recolhimento de noviços, banheiros, cozinha e o salão
onde ocorrem as festas públicas ou internas do terreiro. O segundo refere-se a natureza,
reservado para o pequeno cultivo de árvores, plantas e ervas de uso ritual podendo até existir
pequenas fontes e córregos de água limpa.
Uma casa de candomblé é liderada por uma mãe ou pai de santo, que tem a
responsabilidade por seus filhos humanos como também pela as entidades (orixás, erês, exus,
caboclos, eguns) ali reunidas (RABELO, 2015). Ainda de acordo com a mesma autora, o
critério categórico para os adeptos exercer funções específicas nos terreiros é o ato de
possessão. A possessão também conhecida como transe, é uma prática ritual que traz seres
sobrenaturais em um indivíduo, onde a pessoa necessita ter qualidades suficientes para permitir
o estado alterado de consciência (JORGE, 2013). Portanto, aquelas pessoas que as entidades se
manifestam, isto é, que viram no santo, são chamados de rodantes (RABELO, 2015).
Aquelas pessoas que não vivenciam a possessão, são titulados como equedes (para as
mulheres) ou ogãs (para os homens), onde ambos assumem cargos específicos no terreiro, as
equedes são encarregadas de cuidar do Orixá e zelar pela a pessoa que está o incorporando,
como também vestir o Santo com suas roupas ritualísticas e guiá-lo na dança ao som do adijá
(atabaque). Já aos ogãs são distribuídas várias tarefas, dentre elas, tocar o “couro” ou atabaque,
cantar para o Orixá como invocação para o corpo do médium (GÓIS, 2013). No candomblé,
as equedes e os ogãs já “nascem” velhos, ou seja, já possuem maturidade espiritual e com isso
não tem a necessidade de passar por longos processos de iniciação, como os iâos necessitam.
Outro processo que faz parte da hierarquia de um terreiro de candomblé, é fazer o santo
ou feitura de um indivíduo. Esse processo consiste em um firmamento da relação entre o ser
humano e o orixá, entidade que é dono da sua cabeça (RABELO, 2015), todavia é importante
332
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

destacar que além dos orixás, a cabeça de um indivíduo é composta por outras divindades que
fazem parte da vida dos adeptos como eguns, exus, caboclos e erês (OPIRARI, 2009, apud
EVANGELISTA, 2015).
A feitura do santo é considerada por Goldman (1984, apud EVANGELISTA, 2015) o
nascimento e/ou construção da pessoa no candomblé. De forma específica, Rabelo (2015)
salienta que a iniciação ocorre quando o noviço se torna iaô de uma casa, e não só estabelece
uma aliança com as entidades que compõem sua cabeça, mas sim o conduz a uma jornada
gradual a ser seguida pelo novo iniciado.
Com o processo de fazer o santo além de cada vez mais estreitar as relações com as
entidades que compõem a cabeça do indivíduo, é possível avançar na hierarquia e assim ganhar
mais autonomia dentro da casa de candomblé.
Em relação à hierarquia da casa, o fator etário, definido por idade de iniciação dentro
do candomblé, refere-se aos grupos que incorporam que, porém, ainda não sejam iniciados, mas
que já participam das atividades do terreiro, chamados abiãs. Como também há aqueles que já
são iniciados, porém não cumpriram a obrigação de sete anos de iniciação, chamados iaôs.
Ainda tem aqueles que já cumpriram a obrigação de sete anos e já ingressam no grupo dos
“mais velhos”, denominados ebomis (RABELO, 2015).
Vale ressaltar que a idade de iniciação é fator determinante no que se refere em
obediência de cada filho. Quem for “mais velho”, ou seja, aquele que tem cumprido a feitura
de sete anos, deve ser mais respeitado. Entretanto os ebomis não podem estar acima do pai ou
mãe de santo, pois estes sacerdotes possuem a maior autoridade deferida pelas entidades.
De acordo com Góis (2013) são cerca de dezesseis orixás que são cultuados no Brasil:
Exu, Ogum, Oxossi, Obaluaê, Xangô, Oxumarê, Logum Edé, Ossaim, Oxalá, Iansã, Oxum,
Iemanjá, Nanã, Ewa, Obá e Iroco.
A primeira experiência de um individuo com o candomblé, é o jogo de búzios. É uma
espécie de oráculo que o pai ou mãe de santo consulta os orixás com o objetivo de identificar
as causas de possíveis enfermidades que afligem o indíviduo que solicita o jogo. Nesse jogo
também é possível descobrir quais são os orixás que regem a vida da pessoa que joga (SANSI,
2009). Quando o indivíduo recorre ao jogo de búzios, ele possui o intuito de resolver seus
problemas sejam eles afetivos, sexuais, financeiros, saúde, etc (PRANDI apud JÚNIOR, 2010).
Observa-se que as casas de candomblé no Brasil recebem filhos de santo, assim como
turistas interessados em conhecer os aspectos culturais. O turismo cultural consiste nas viagens
motivadas pelo interesse em conhecer culturas, ou seja, “as atividades turísticas relacionadas
333 à
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

vivência do conjunto de elementos significativos do patrimônio histórico e cultural e dos


eventos culturais, valorizando e promovendo os bens materiais e imateriais da cultura”
(BRASIL, 2010, p.15).
Segundo a OMT (2004, s.p., apud RICHARDS, 2009, p 1), turismo cultural são:

movimentos de pessoas em busca de motivações essencialmente culturais, tais


como excursões de estudo, teatralizações e excursões culturais, viagens para
festivais e outros eventos culturais, visitas a localidades e monumentos,
viagens para estudar a natureza, folclore ou arte e peregrinações.

Conforme Camargo e Cruz (2009), além dos turistas essencialmente culturais, existem
também turistas culturais ocasionais. Este corresponde aos turistas que possuem motivações
diversas para visitação ao destino, como por exemplo o turismo de sol e mar, porém incluem
em seus roteiros de forma fortuita, alguns atrativos culturais.
O turismo religioso surge como um subsegmento do turismo cultural e consiste no
deslocamento de pessoas com motivação turística religiosa. Segundo Oliveira (2004, p. 1) o
turismo religioso “trata-se de um fazer turístico capaz de manifestar algum dado de
religiosidade”.
De acordo com o Ministério do Turismo (BRASIL, 2010, p. 19) entende-se por turismo
religioso as “atividades turísticas decorrentes da busca espiritual e da prática religiosa em
espaços e eventos relacionados às religiões institucionalizadas, independentemente da origem
étnica ou do credo”. Há uma pluralidade religiosa que se enquadra na atividade turística
desenvolvida em tais espaços e/ou eventos de cunho religioso.
Ainda de acordo com Abreu e Coriolano (2003, apud ARAGÃO; MACEDO, 2011), o
lócus do turismo religioso tem se caracterizado pelas festas religiosas, no que diz respeito a
cultura brasileira por sua significativa quantidade e diversidade de celebrações religiosas, isto
é, as festas religiosas são manifestações culturais brasileiras que trazem um sentido de
identidade cultural sobretudo religiosa.
Silveira (2007) afirma que o deslocamento realizado para locais considerados sagrados
com a utilização de meios de hospedagem constitui o conceito de turismo religioso. Entretanto
esse conceito não abrange esse segmento turístico em sua totalidade, tornando-se uma definição
um tanto ultrapassada.
Já o turismo religioso afro tem ligação com o conceito de turismo étnico que, segundo
Avila e Coppieters (2009) afirmam que essa tipologia de turismo possui duas vertentes, onde a
motivação do turista pode ser no “nativo” ou no “ambiente diferenciado”. Diante disso, pode-
334
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

se afirmar que o turismo religioso afro consiste no deslocamento de pessoas com o intuito de
visitar atrativos culturais e religiosos de matriz africana.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O presente trabalho possui a abordagem qualitativa, que de acordo com Godoy (1995),
consiste na melhor compreensão do fenômeno a ser estudado através das perspectivas das
pessoas que nele estão envolvidas. Quanto aos objetivos, caracteriza-se por ser uma pesquisa
descritiva, pois busca descrever a realidade estudada da Casa de Iemanjá Illê Asé Omo Ni Ejá
Sabaá Odê Kwe Sinfa, como também é de caráter explicativo, pois procura entender se o
terreiro de candomblé possui potencial para o desenvolvimento da atividade turística (GIL,
1991).
Como procedimentos técnicos, utilizou-se a pesquisa bibliográfica, através da consulta
a artigos científicos e livros (GIL, 2008). O presente trabalho consiste em ser um estudo de
caso, pois é um estudo de uma realidade específica tendo como objeto de estudo a Casa de
Iemanjá Illê Asé Omo Ni Ejá Sabaá Odê Kwe Sinfa.
O levantamento de dados foi realizado por meio de pesquisa de campo, através de visitas
ao terreiro, seguindo um roteiro de observação. Foram realizadas, também, entrevistas semi-
estruturadas durante a segunda quinzena do mês de novembro de 2018, com a liderança do
terreiro de candomblé e com alguns filhos da casa. Com os filhos de santo, a entrevista foi feita
online, sendo eles, três residentes em Parnaíba e seis que residem em Teresina, totalizando nove
entrevistas realizadas.

RESULTADOS
A história da casa de Iemanjá Illê Asé Omo Ni Ejá Sabaá Odê Kwe Sinfa é vinculada
com a trajetória religiosa do sacerdote principal da casa: o pai de santo. De origem judaica, o
sacerdote também se tornou Frade Carmelita pela igreja católica. O começo de sua
familiaridade com a religião de origem africana ocorreu durante seu mestrado na área de
antropologia, no qual seu orientador determinou que seria estudada a liturgia afro-brasileira. A
aproximação com a religião despertou uma paixão, resultando em sua iniciação no Candomblé.
Na época, como abiã, residia em Teresina, capital do Piauí e em uma das suas obrigações
espirituais prometeu as suas entidades que lhe daria de presente uma casa na praia. Porém, de
forma imprevista, em uma de suas passagens pela cidade de Parnaíba, apaixonou-se por
residente do local, decidindo, então, mudar-se para esta cidade. 335
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Conforme o atual pai de santo da Casa de Iemanjá Illê Asé Omo Ni Ejá Sabaá Odê Kwe
Sinfa evoluía espiritualmente no candomblé, isso lhe permitia realizar atendimentos e, em um
desses atendimentos um cliente doou um terreno, no qual posteriormente viria a ser o seu
terreiro de candomblé. Ao longo de sua permanência na cidade, o pai de santo construiu sua
figura representativa envolvendo-se em questões sociais com enfoque na área cultural,
sobretudo religiosa. A construção do terreiro deu-se de forma conjunta e contínua com os filhos
e o pai de santo da casa, como também foi financiada pelos mesmos e através de doações
advindas dos atendimentos de cunho espiritual, que o sacerdote ofertava.
A Casa de Iemanjá Illê Asé Omo Ni Ejá Sabaá Odê Kwe Sinfa é localizada no bairro
João XXIII em Parnaíba-PI, com população de aproximadamente de 7.180 habitantes no bairro,
sendo um dos bairros mais populosos da cidade (IBGE, 2010).
Parnaíba possui uma rodoviária que possui linhas estaduais e interestaduais, como também um
aeroporto que possui um voo semanal interestadual, Localiza-se a cerca de 207 km do aeroporto
de Jericoacoara, importante ponto turístico integrante da Rotas das Emoções, assim como fica
em torno de 346 km do aeroporto de Teresina. Isso possibilita que haja um maior fluxo de
turistas nacionais como internacionais, podendo assim facilitar o acesso de turistas ao terreiro.
Um dos acessos ao terreiro de candomblé é a Avenida São Sebastião, uma das principais
da cidade, interligando-se à Avenida do Contorno, onde a pavimentação não é de boa qualidade.
Foi observado que adentrando ao bairro onde é localizado o terreiro, o acesso é difícil, poucas
ruas pavimentadas como também a inexistência de sinalização tanto básica como turística, o
que pode ser um empecilho na visitação ao terreiro.
Entretanto, próximo ao terreiro existe a circulação de quatro linhas de transporte
coletivo. Enquanto a estrutura da casa, foi observado que o terreiro não possui espaço para
estacionamento externo, entretanto é possível estacionar em um ambiente dentro da casa, alguns
meios de transporte de pequeno porte, como por exemplo motos e bicicletas.
Importante ressaltar que, em Parnaíba possui frotas de táxi, moto táxi e o uso de
aplicativos de carona e serviços de locomoção como o Ubiz Car, que facilitam o deslocamento
de pessoas para o terreiro de candomblé.
Os espaços edificados da casa estão distribuídos da seguinte maneira: o salão principal,
onde ocorre as festas religiosas, o roncó, espaço destinado para o recolhimento dos iaôs, áreas
de culto de Iemanjá, de Oxalá, de Oxossi, de Iansã, da família Gi e de Exú. Desses espaços
somente o salão principal é aberto ao público. Importante ressaltar que nem todos os membros
da casa são permitidos entrar em todos os espaços de culto. Além dos espaços edificados,336
existe
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

o ambiente de natureza, onde os locais em torno dos espaços de culto são arborizados, o que
deixa o terreiro arejado.
O terreiro possui dois banheiros, masculino e feminino, ambos com a estruturação
básica para utilização. O terreiro não comercializa alimentos e bebidas para visitantes, porém
nas festividades da casa são oferecidos banquetes para aqueles que participam da festa, sejam
eles membros ou visitantes.
Os visitantes do terreiro são recebidos, geralmente, por um ogã designado pelo o próprio
pai de santo, o que não impede que os demais membros também os recebam. Foi observado que
a casa preza pela hospitalidade, que se configura em um dos princípios da própria religião.
Enquanto a infraestrutura física da casa, observa-se a necessidade de uma melhoria, em
casos de uma demanda maior de visitantes ao local. No tocante à limpeza, foi observado que o
terreiro aprecia muito esse aspecto, pois nas visitas realizadas ao espaço estava sempre limpo.
Em espaços reservados do terreiro são realizadas atividades ritualísticas conforme o
ritual e orixá específico de cada espaço. Além dessas atividades ritualísticas, existem também
as festividades dos orixás, nas quais a festa mais conhecida é a de Iemanjá, realizada no próprio
terreiro, como também na praia no mês de agosto. Entretanto, outra festa bem conhecida é o
Acarajé de Iansã, que ocorre no mês de dezembro, na qual também atrai muitas pessoas de
outras localidades.
Para a divulgação das festividades ou atividades ritualísticas realizadas no terreiro, um
dos filhos de santo é responsável por fazer toda a parte gráfica e de marketing da casa, cabendo
aos demais membros divulgar.
Em relação à realização de atividades externas, segundo a entrevista feita com a
liderança do terreiro, a casa esporadicamente executa uma ação solidária por meio do
fornecimento de sopa para pessoas carentes, como também promove atividades de cultura afro
na cidade, como palestras. Na entrevista, o pai de santo afirma que a casa está organizando-se
estruturalmente para receber mais atividades que incentivem a cultura afro, como a capoeira,
que antes era realizada no espaço interno do terreiro, porém, foi interrompida por conta das
práticas ritualísticas da casa de candomblé.
Conforme as respostas obtidas pela a entrevista online, pode entender-se que das nove
pessoas que foram entrevistadas, 3 residem em Parnaíba e 6 residem em Teresina. Das 6 pessoas
entrevistadas que moram em Teresina, 4 são do sexo masculino e o restante do sexo feminino,
sendo 2 homens com faixa etária de 30 a 39 anos, 2 homens e 1 mulher com 19 a 30 anos e 1

337
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

mulher sendo menor de 19 anos. Todos os entrevistados afirmaram realizar algum ritual
referente à doutrina do terreiro.
No que tange a frequência de visitas ao terreiro, observou-se que os que moram em
Parnaíba, visitam a casa com mais frequência, mas dos 6 que residem na capital piauiense, 3
deles o visitam a cada 30 dias, 2 o visitam de 3 de 6 meses e 1 o visita de forma esporádica. O
pai de santo possui vários filhos que residem em Teresina. Diante disto, observa-se que há um
fluxo turístico destas pessoas, pois elas, ao se deslocar, gastam seja com transporte ou outras
atividades. O gasto médio dos 6 entrevistados que residem em Teresina, quando vêm a Parnaíba
é cerca de 212 reais.
Em relação ao meio de transporte utilizado para chegar em Parnaíba, dos 6
entrevistados, 4 utilizam o carro. O meio de hospedagem optado por unanimidade dos
entrevistados quando ficam em Parnaíba, é o próprio terreiro. Atualmente o local não possui
uma estrutura de hospedagem conforme os padrões requisitados nos meios de hospedagens
convencionais. Porém, este fato demonstra a potencialidade do local para o recebimento de
mais turistas religiosos, podendo configurar uma fonte de receita para o local.
Sobre o tempo médio de estadia na cidade, dois afirmaram ficarem de 1 a 3 dias, outros
dois de 4 a 7 dias, e o restante em tempos distintos.
Desses entrevistados, três deles viajam com amigos. Ainda assim, quatro deles
afirmaram não realizar outra atividade em Parnaíba além da visita a casa de candomblé,
enquanto aos demais já realizam. Com isso, observa-se a motivação religiosa da visita, porém
possuindo abertura para que estes turistas possam desfrutar de outros atrativos turísticos e
serviços e contribuir com os benefícios financeiros advindos do turismo através do consumo.
No tocante a infraestrutura do terreiro, a qualidade e facilidade nas vias de acesso a casa
foi avaliada por quatro entrevistados como regular; em relação a limpeza, quatro qualificaram
como ótima; a sinalização foi avaliada por três como regular; segurança, quatro avaliaram
como regular; os banheiros do terreiro, dois consideraram regular e outros dois como ótimo; os
meios de transporte que dão acesso a casa, onde três avaliaram como sendo regular e por fim a
estrutura física do terreiro, onde quatro classificaram como sendo ótimo.
Diante disso, no que tange a qualidade e facilidade de acesso a casa é detectável diante
das respostas dos entrevistados a necessidade de investir em infraestrutura de mobilidade
urbana, o que a torna deficitária, sendo um problema estrutural no tocante à cidade de Parnaíba
como um todo. Em relação a limpeza do terreiro, o local é considerado limpo, assim como os
banheiros do mesmo rotulados como ótimos. Sobre a estrutura física da casa de candomblé
338
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

conforme as respostas, é classificada como ótima, com isso possibilita a recepção de pessoas
com o objetivo de visitar o terreiro.
Em referência aos meios de transporte que dão acesso ao terreiro, observou-se um
descontentamento. A mobilidade urbana em Parnaíba é considerada defectiva, principalmente
em relação ao transporte público, com poucas linhas de ônibus em toda a cidade, especialmente
no bairro onde o terreiro se localiza. Sobre a segurança, verificou-se a precisão de maior
segurança na localidade, por conta do aumento do índice de criminalidade naquele território.
Um dos objetivos da presente pesquisa, no qual procura saber se as pessoas sondadas
achavam interessante o terreiro ser aberto para visitação turística. Foi observado que houve uma
dualidade nas respostas dos entrevistados que residem em Teresina, pois três responderam que
são a favor e outros três responderam que são contra a abertura do terreiro para visitação
turística.
Também foi perguntado de forma poderia ser feita a visitação turística para aqueles que
fossem a favor, e de acordo com as respostas, foi sugerido que as visitas fossem ocorridas em
dias de festa da casa, assim com o devido acompanhamento de alguém de dentro da casa, um
filho de santo, durante as visitas dos turistas. Para aqueles que não eram a favor da visitação,
foi questionado a razão pela qual não concordavam em abrir o terreiro para a atividade turística.
Foi expresso que o terreiro se trata de um local sagrado e que não convém transformá-lo em um
ponto turístico.
Foi notado também a aprovação do próprio pai de santo da casa, segundo dados
coletados através da entrevista realizada com o sacerdote. Quando perguntado se havia interesse
da parte dele em abrir sua casa de candomblé para visitação turística, foi possível constatar que
também era de sua vontade, transformar seu terreiro em local de visitação, sendo assim abrindo
portas para o turismo afro-religioso.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante dos dados expostos na presente pesquisa, com o próposito de obter respostas
diante do questionamento dado pela a problemática do estudo, analisar se existe potencial
turístico da Casa de Iemanjá Illê Asé Omo Ni Ejá Sabaá Odê Kwe Sinfa voltado para o
desenvolvimento do turismo religioso de Parnaíba-PI, desfecha-se com importantes
considerações.

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Através das observações durante as visitas ao terreiro, observou-se que o espaço possui
potencial para ser aberto para visitação turística. Porém, para tanto, faz-se necessário o
ordenamento de uma infraestrutura básica e turística, onde não só a casa de candomblé deve se
ater, mas também o poder público.
No que tange a infraestrutura básica, a gestão pública poderia contribuir para o
desenvolvimento do turismo afro-religioso voltado para o terreiro, através da elaboração de
políticas públicas focadas nos elementos básicos para o progresso da atividade turística, como
fornecendo melhorias nas vias de acesso não só para o terreiro, bem como para toda a
comunidade que habita aquela localidade. Outro ponto é a questão da segurança, onde tanto no
período diurno e principalmente no noturno possui pouca movimentação de pessoas, além de
haver pouca iluminação pública, o que traz insegurança para aqueles que são visitantes ou até
mesmo membros da casa de candomblé.
Juntamente com a evolução de infraestrutura básica e turística, deve-se considerar que
para o desenvolvimento turístico da Casa de Iemanjá Illê Asé Omo Ni Ejá Sabaá Odê Kwe
Sinfa ocorrer, é recomendado que os princípios sustentáveis sejam adotados, como forma de
preservação da cultura de matriz africana e que possa trazer benefícios em todos os âmbitos,
social, econômico e ambiental.
Dado o interesse por parte do líder do terreiro, em abrir a casa de candomblé para
visitação turística, é notório o intuito do sacerdote em mostrar a importância da atividade
religiosa afro para o âmbito cultural bem como também para o cenário turístico municipal.
Contudo, é necessário averiguar com cautela se toda a comunidade receptora, os filhos de santo
da casa, estão de acordo com a realização desta atividade turística.
Tal atividade turística requer planejamento, assim como a definição de que tipos de
atividades religiosas tais turistas possam participar. Além disso, é necessário que haja pessoas
preparadas para lidar com as eventuais necessidades desses visitantes. Vale ressaltar que tal
atividade turística deve ser executada de maneira ordenada para que não interfira de modo
negativo no cotidiano da casa.
O terreiro já recebe filhos de outras cidades que se deslocam para Parnaíba, hospedando-
se no terreiro. Este dado já confere um fluxo turístico. Neste sentido, o terreiro pode estruturar
melhor a hospedaria para que possa receber os filhos e também turistas religiosos que não sejam
filiados à casa. A casa também pode se beneficiar de venda de alimentos e bebidas integrado à
realidade religiosa em festividaes. Devido à exclusividade do terreiro à religião candomblé na

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

cidade, sugere-se um estudo mais aprofundado para analisar a potencialidade da inserção do


mesmo em um roteiro religioso no município e também voltado para o turismo étnico.

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

TURISMO COMUNITÁRIO E TRABALHO: AS EXPERIÊNCIAS DOS


CONDUTORES LOCAIS DA BARRATUR, PIAUÍ

Hudson Lucas do Nascimento Gomes


Matheus Araujo de Oliveira
Amanda Maria dos Santos Silva
RESUMO
Visando mostrar os desafios dos condutores locais de turismo numa base comunitária em
desenvolvimento, seu trabalho de atuação para a preservação e crescimento da comunidade e
sua relação com os visitantes, elaborou-se a dada pesquisa. Metodologicamente a investigação
foi fundamentada em uma abordagem qualitativa (SEVERINO 2000) a partir de entrelaçamento
entre os referenciais bibliográficos e visita e campo embasada em os dados obtidos por meio de
uma entrevista feita com oito Condutores de Turismo no município de Cajueiro da Praia, na
comunidade Barra Grande que fazem parte da Associação de Condutores de Turismo de Barra
Grande (BARRATUR), responsáveis por guiar os turistas na trilha do cavalo marinho. Com o
resultado é possível compreender a dependência econômica que os sujeitos têm do turismo, dos
seus turistas e da maré, pois se tornou essencial para sua sobrevivência no local, também é
perceptível a necessidade de uma melhor formação para ajudar os condutores em seu trabalho
e no crescimento da comunidade que por sua vez têm uma visão em construção acerca do
turismo comunitário. A apresentação dessa coleta visa incentivar os leitores a conhecer melhor
as condições de trabalho e a relação com o Turismo Comunitário dos condutores de turismo em
Barra Grande, bem como os limites e possibilidades de sua atuação.
Palavras-chave: Condutor de Turismo; Turismo Comunitário; Trabalho; Barra Grande;
Experiências.
ABSTRACT
In order to show the challenges of local tourism drivers on a developing community basis, their
work in preserving and growing the community and their relationship with visitors, the research
was elaborated. Methodologically, the investigation was based on a qualitative approach
(SEVERINO 2000) based on the intertwining of bibliographic references and visit and field
based on the data obtained through an interview with eight Tourism Conductors in the
municipality of Cajueiro da Praia, in the community Barra Grande who are part of the Barra
Grande Tourism Conductors Association (BARRATUR), responsible for guiding tourists on
the seahorse trail. With the result it is possible to understand the economic dependence that the
subjects have on tourism, their tourists and the tide, as it has become essential for their survival
in the place, it is also noticeable the need for better training to help drivers in their work and in
the growth of the community that in turn have a vision under construction about community
tourism. The presentation of this collection aims to encourage readers to learn more about the
working conditions and the relationship with Community Tourism of tourism drivers in Barra
Grande, as well as the limits and possibilities of their performance.

Keywords: Tourism Driver; Community Tourism; Job; Barra Grande; Experiences.

INTRODUÇÃO

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Os condutores de turismo de base comunitária não recebem os recursos e a atenção


necessária para que possam desenvolver ao máximo o seu papel em meio ao espaço de trabalho.
O estudo desenvolvido por meio desse artigo propõe a análise acerca do ambiente de trabalho
por meio da visão dos condutores locais que fazem parte da Associação de Condutores de
Turismo de Barra Grande (BARRATUR) que fica no município de Cajueiro da Praia, localizado
a 402 km de Teresina, capital do estado do Piauí, possuindo uma população de 7.163 habitantes
e uma área territorial de 271 km2 (IBGE 2010). O município é dividido nas comunidades de
Barrinha, Morro Branco e Barra Grande, onde os condutores atuam.
A comunidade faz parte da Área de Proteção Ambiental (APA) Delta do Parnaíba,
definida pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (IMCBio), o que pode
ser apontado como diferencial no desenvolvimento do turismo comunitário. A associação em
estudo trabalha com a trilha do cavalo marinho, onde acompanham os visitantes pelo rio
Camurupim ou por trilha para conhecer e aprender a importância de conservar a vida desse
animal em seu habitat natural, eles se preocupam em ensinar os turistas a contemplar o ambiente
cooperando para o desenvolvimento sustentável.
A análise foi feita a partir de fontes teóricas e por meio de uma entrevista aplicada
para oito condutores tratando das especificações dessa profissão e de como ela está inserida nos
segmentos do turismo, isso cooperou também para se distinguir e retirar dúvidas a respeito das
duas áreas: guia de turismo e do condutor local, especificando cada uma delas. O enfoque da
pesquisa e da elaboração do artigo está em apresentar aos leitores os desafios diários vividos
por essas pessoas e saber seu ponto de vista por meio de depoimentos, busca compreender
também o seu papel e sua cooperação para o ecoturismo e sustentabilidade na APA do Delta.
As informações, respostas e dados recolhidos para a elaboração do conteúdo do
presente artigo, foram articuladas por meio de abordagem qualitativa, com caráter exploratório.
Em relação aos materiais e métodos utilizados na pesquisa, ambos foram pré-estabelecidos de
maneira a tornar o contato com os condutores, o mais simples e ao mesmo tempo bastante
produtivo para a aquisição ao máximo de informações.
O primeiro tipo de pesquisa a ser adotado foi a busca por conhecimentos gerais
acerca da temática da área em análise, através da realização de levantamentos bibliográficos
sobre temas referentes aos condutores, ecologia, sustentabilidade, turismo de base comunitária,
sol e praia e Ecoturismo que vem a ter relação com o propósito do artigo, acerca da metodologia
Severino (2000, p.162) entende como sendo “[...] os procedimentos mais amplos de raciocínio,

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

enquanto técnicas são os procedimentos mais restritos que operacionalizam os métodos,


mediante o emprego de instrumentos adequados.”
O segundo procedimento foi a prática de pesquisa exploratória consumada na
associação de condutores BARRATUR na comunidade de Barra Grande, Cajueiro da Praia, no
litoral piauiense. Dessa forma se deu a realização de entrevista estruturadas com o grupo de
foco que colaborou com a pesquisa, perfazendo o conjunto de oito condutores de turismo da
localidade, todos do sexo masculino e com idade entre 20 e 30 anos. Agindo juntamente com
as entrevistas, a aplicação de uma entrevista formal foi feita, este que conteve sete perguntas
básicas relacionadas a pautas sobre o ponto central da pesquisa, ou seja, os próprios condutores
e os seus trabalhos na associação.
Após toda a discussão e debate, e analisando as repostas tanto da entrevista quanto
do questionário, foram avaliados todos os resultados, relacionando-os com a fundamentação
conceitual já antes assimilada, gerando assim a grande base e respaldo teórico final empregados
no decorrer do artigo.

COMPREENDENDO O TURISMO COMUNITÁRIO E O CONTEXTO DE


TRABALHO DOS CONDUTORES DE TURISMO.

O Brasil possui grande potencial para diversas atividades relacionadas ao turismo,


tão tal que é um dos setores que mais cresce no país nos últimos anos. Para Lage e Milone
(2000, p.26):

O turismo é uma atividade socioeconômica, pois gera a produção de bens e


serviços para o homem visando à satisfação de diversas necessidades básicas
e secundárias. Em se tratando de uma manifestação voluntária decorrente da
mudança ou do deslocamento humano temporário, envolve a
indispensabilidade de componentes fundamentais como o transporte, o
alojamento, a alimentação e, dependendo da motivação o entretenimento
(lazer, atrações). [...] As riquezas geradas pelas múltiplas atividades não mais
existem, nem o tempo importa mais. O que se observa do turismo atual é a
existência de uma rica e grandiosa indústria que se relaciona com todos os
setores da economia mundial e que deverá continuar atendendo aos interesses
da humanidade nos próximos milênios.

Dentro desse setor há diversas segmentações turísticas usadas para organizar


melhor e para analisar quais tipos se encaixam melhor em determinados locais, dentre elas a
mais conhecida no exterior e apreciada por muitos brasileiros é chamada Turismo de Sol e praia,
345
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

que segundo o Ministério do Turismo (2008, p.16) é conceituada como: “uma das atividades
turísticas relacionadas à recreação, entretenimento ou descanso em praias, em função da
presença conjunta de água, sol e calor”.
Por ser um país com um extenso litoral de aproximadamente 7.367 km banhado a
leste pelo oceano atlântico, movimenta muitas pessoas principalmente nos feriados nacionais,
porém há uma preocupação relacionado ao impacto socioambiental, por conta do número de
indivíduos frequentando um mesmo local, pois nem sempre está apto para usufruir de forma
que não gere danos para o espaço de lazer onde se mantem em descanso. Pensando em mudar
essa situação e para diminuir os riscos foi desenvolvido o turismo sustentável que exige do
visitante a incorporação de princípios e valores éticos, uma nova forma de pensar a
democratização de oportunidades e benefícios, e um novo modelo de implementação de
projetos, centrado em parceria, corresponsabilidade e participação (IRVING, 2002).
Desenvolvendo essa ideia a Organização Mundial do Turismo – OMT (2005, p. 3)
conceitua como:

(...) aquele ecologicamente suportável em longo prazo, economicamente


viável, assim como ética e socialmente equitativo para as comunidades locais.
Exige integração ao meio ambiente natural, cultural e humano, respeitando a
frágil balança que caracteriza muitas destinações turísticas, em particular
pequenas ilhas e áreas ambientalmente sensíveis.

Com esse fator a pratica do turismo dentro desses ambientes muda completamente,
é apresentado então um outro setor o Ecoturismo, introduzido no Brasil no final dos anos de
1980 e que visa a apreciação sem a degradação de ambientes naturais e culturais. Ele acaba
compondo todos os setores do turismo relacionados a natureza, seu conceito conforme a
EMBRATUR e Ministério do Meio Ambiente citado por Barros II e La Penha (1994, p.19)

Ecoturismo é um segmento da atividade turística que utiliza, de forma


sustentável, o patrimônio natural e cultural, incentiva sua conservação e busca
a formação de uma consciência ambientalista através da interpretação do
ambiente, promovendo o bem-estar das populações.

Por ser um setor de contemplação e aprendizagem o ecoturismo é praticado na


maioria das vezes em locais de preservação se relacionando intimamente com a comunidade
local sendo chamado de ecoturismo de base comunitária e conforme o Ministério do Meio
Ambiente (MMA/BRASIL, 2011): experiências de ecoturismo de base comunitária estão dando
346
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

seus primeiros passos em território nacional. Para que se consolidem como atividade econômica
viável, dependem de políticas públicas que valorizem os conhecimentos, saberes e tradições
das comunidades, e estimulem o empreendedorismo social no processo de transformação da
rica sócio biodiversidade em produtos eco turísticos com a “cara” do Brasil.
Em geral o turismo de base comunitária abrange os meios: ecológico, social e
cultural e apesar de não ser especificado com um conceito único conforme o Laboratório de
Tecnologia e Desenvolvimento Social (LTDS), da COPPE/UFRJ (2011, p. 07):

A extensão geográfica e a diversidade de experiências encontradas no país


também colaboram para a amplitude conceitual do Turismo de base
comunitária uma vez que este é usado para tratar de contextos tão diversos e
diferentes quanto comunidades urbanas e rurais, podendo estar referido às
populações tradicionais ou a amálgamas sociais compostos pelos movimentos
migratórios e processos de exclusão socioeconômicos, entre outros.

O Turismo de Base Comunitário é definida pelo Ministério do Turismo (2008, p.01)


como:

A construção de um modelo alternativo de desenvolvimento turístico, baseado


na autogestão, no associativismo/cooperativismo, na valorização da cultura
local e, principalmente, no protagonismo das comunidades locais, visando à
apropriação por parte destas dos benefícios advindos do desenvolvimento da
atividade turística.

Nestes casos, a população é o sujeito de seu próprio avanço, participando desde a


concepção do turismo até seu desenvolvimento e gestão, considerando a complexidade, a
diversidade e as realidades locais (ZAUOAL, 2008) e ainda de acordo com Akama (1996, p. 573
apud SCHEYVENS, 1999, p. 246):

A comunidade local precisa ser empoderada para decidir quais os tipos de


oferta turística e de programas de conservação do meio-ambiente que querem
que sejam desenvolvidos em suas respectivas comunidades, e como os custos
e benefícios do turismo devem ser compartilhados entre os diferentes atores.

Dentro desse meio para o turista que está disposto a aprender mais a fundo sobre
tal assunto necessita do apoio e serviços do guia de turismo, um profissional que atua como
mediador entre o visitante e o destino escolhido. De acordo com a Embratur é considerado guia
de turismo o profissional que, é devidamente cadastrado na Embratur – Instituto Brasileiro de
turismo, [...]exerça as atividades de acompanhamento, orientação e transmissão de informações
347
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

a pessoas ou grupos, em visitas, excursões urbanas, municipais, estaduais, interestaduais,


internacionais ou especializadas. (Lei nº 8.623, de janeiro de 1993). Picazo (1996, p.9) afirma
que:
O guia, na realidade, é muito mais do que um mero acompanhante ou
orientador. Trata-se de um artista que sabe conferir cor e calor a uma
paisagem, de um magico capaz de dar vida a pedras milenares, de um
acompanhante que consegue que os maiores deslocamentos pareçam curtos,
de um profissional, em definitivo, que torna possível que nos sintamos como
em nossa própria casa no interior de um arranha-céu hoteleiro ou de uma
cabana africana.

Nessa formação há subdivisões acerca do setor de abrangência dos guias de turismo,


são elas: Guia de turismo Regional, Guia de turismo Nacional e ainda Guia de turismo
Internacional. Percebe-se que o condutor local do município de Barra Grande- Cajueiro da Praia
no qual é o objeto de estudo do presente artigo não possuem essa formação, mas é recomenda
aos Órgãos Oficiais de Turismo que estabeleçam normas próprias para cadastro e fiscalização
de prestadores do serviço. Em nível federal, os condutores ambientais locais são reconhecidos
pela Instrução Normativa 08/2008 do Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade- ICMBio (2008, p.92), a qual considera em seu art. 2º:

(...) condutor de visitantes a pessoa cadastrada pelo órgão gestor da unidade


de conservação, que recebeu capacitação específica e que é responsável pela
condução em segurança de grupos de visitantes aos locais permitidos,
desenvolvendo atividades interpretativas sobre o ambiente natural e cultural
visitado, além de poder contribuir para o monitoramento dos impactos
socioambientais nos sítios de visitação.

O guia de turismo mesmo estando autorizado para atuar do Regional ao


Internacional, ao chegar em uma comunidade que se apropria do turismo comunitário deve
deixar que o condutor local faça o trajeto e que explique acerca do espaço visitado podendo
apenas apoiar e sem interferências. Conforme Franco et al (2003, p.53) “que pela similaridade
entre a profissão dos guias e dos condutores ambientais pode haver conflitos entre as duas
categorias. No entanto, destaca que a diferença fundamental entre eles está no local de atuação,
o qual o condutor ambiental está apto a trabalhar apenas nas unidades de conservação, enquanto
as atribuições e locais de atuação do guia de turismo são mais amplas e técnicas”.
Ainda de acordo com Ferreira e Coutinho (2010), o condutor é um agente
autorizado por órgãos ambientais para atuar conduzindo visitantes em Unidades de
Conservação da Natureza e em outros ambientes naturais protegidos, ele deixa claro que o guia
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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

de turismo e o condutor ambiental não devem ser vistos como concorrentes, mas como
profissionais que se complementam e que diversificam roteiros turísticos. Uma pessoa local
autorizada para mostrar o meio faz toda diferença conforme MacCannell (1976 apud ARAÚJO,
2001) os turistas buscam penetrar mais profundamente do que é oferecido a eles nos lugares já
visitados, não ficam satisfeito com informações superficiais – querem adentrar nos bastidores
dos lugares por onde andam. Uma das formas de acessar os bastidores locais é ter acesso ao
etnoconhecimento local, especialmente aquele que reflete uma identidade cultural do território.
Dentro dessa visão, o turismo deve ser encarado como importante vetor de
desenvolvimento de base local, contemplando principalmente as potencialidades endógenas,
sendo pensado e estruturado para contribuir para a melhoria de vida da comunidade receptora,
assim como para a conservação dos recursos naturais locais – ou seja, para uma sustentabilidade
socioambiental local (MELLO, 2007). Na corrida em busca do conhecimento e dos saberes das
populações tradicionais, o espaço é fator de singularidade. Cada lugar é portador de uma
identidade própria, conhecida e interpretada à luz das experiências de seus habitantes
(SANTOS; PEREIRA; ANDRADE, 2007).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Analisando a coleta, percebe-se a não ocupação de mulheres na profissão, que


segundo os próprios condutores se dá porque este é um trabalho “braçal” que exige certa força
física no manuseio de várias funções além das de apenas passar informação e conduzir o
passeio. A maior parte deles são jovens solteiros e possuem idade entre 20 a 30 anos. Apenas
dois dos condutores entrevistados possuem ensino superior completo, os demais tem outros
cursos básicos relacionados a condução no currículo.
Em relação ao tempo em que os condutores estão trabalhando na associação, varia
bastante, onde atualmente dois deles são experientes, estando a mais de 10 anos no local, outra
parte, está acerca de 3 a 6 anos, enquanto a minoria restante adentrou por volta de 1 ano ou
mais. Geralmente os que estão há mais tempo vão passando seu conhecimento a respeito dos
ofícios do trabalho aos mais novos.
O salário é ganho por meio dos passeios, quanto mais pessoas são levadas, maior é
a renda do condutor que é responsável pelo grupo no momento. Questões como o período de
baixa ou alta temporada e a experiência do condutor influenciam bastante a variação dos valores

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

a serem recebidos. Assim o salário vai de 250 reais para os condutores novatos, ficando entre
600 a 800 reais em média geral aos mais experientes.
Para ampliar ainda mais a quantidade de turistas na procura dos passeios, os
condutores possuem algumas parcerias com as pousadas locais, dessa forma eles buscam os
turistas nesses ambientes, em horários apropriados para atrai-los. Muitos deles ainda se utilizam
de outros trabalhos fora da associação para complementar a renda, ocupando-se com artesanato,
criação de ostras, luminárias e até mesmo trabalhando com a revenda desses materiais.
Realizado esse levantamento prévio do perfil dos trabalhadores, elaborou-se sete
perguntas para os condutores de turismo da associação BARRATUR. A primeira pergunta quis-
se saber qual a maior dificuldade que você pode citar da profissão?

Condutor 1: Falar o idioma dos gringos, e também a falta de energia aqui no


estabelecimento até porque tá em processo sobre o lugar onde nós ficamos
então não queremos mexer e perder o investimento.
Condutor 2: É em relação ao horário da maré.
Condutor 3: Pouco material de trabalho, exemplo: remo, colete, óculos de
mergulho.
Condutor 4: A relação com alguns turistas.
Condutor 5: Falar sobre o assunto (Preservação do cavalo-marinho) com os
turistas.
Condutor 6: Falar no começo, o negócio de explicar sobre o cavalo-marinho.
Condutor 7: Rapaz, a maior dificuldade foi no começo, pra gente foi muito
difícil, não tinha turista né ficava um mês sem fazer passeio.
Condutor 8: Falta de capacitação, a falta de energia no estabelecimento.

A falta de capacitação é um grande empecilho, gerando assim dificuldade em falar


outros idiomas, dessa forma o conhecimento é adquirido mais por meio da internet. Problemas
em conseguir melhores materiais de trabalho como coletes e óculos de mergulho são frequentes.
Outra dificuldade é a de se adaptar aos fatores da natureza que influenciam diretamente o
trabalho, como por exemplo, o horário das marés para a liberação dos passeios, pois os
condutores ficam bastante dependentes disso.
Apesar de essa profissão ser reconhecida pelo ICMBio ainda há necessidade de uma
capacitação mais presente para os condutores, concordando com Chiavenato (1981, p.334)
“todo modelo de formação, capacitação, treinamento, educação e desenvolvimento deve
assegurar ao ser humano a oportunidade de ser o que pode ser, a partir das suas próprias
potencialidades, sejam elas adquiridas ou inatas”.
A seguir, buscou-se compreender de que modo é caracterizada a relação com os
turistas que buscam o serviço oferecido, obtivemos como respostas as seguintes afirmações.
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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Condutor 1: Boa, é porque tem pessoas que tu pega que são gente boa aí vai
aquele papo produtivo e tal, mas tem pessoas que tu pega que é, tem aquelas
pessoas chatas, tem aquelas pessoas legal mas aquela pessoa que tu viu assim
que oh ela ali parece chata mas quando tu vai no decorrer do passeio e tu vai
vendo aquela pessoa, vai conhecendo ai tu tem uma visão totalmente errada,
né. Eles tratam a gente bem e principalmente a gente é que tem que tratar eles.
Condutor 2: Relações boas e ruins.
Condutor 3: Boa, na maioria das vezes.
Condutor 4: Bem.
Condutor 5: Mais ou menos, tem vezes que é boa e tem vez que é ruim, na
maioria bom (não tem muito contato com ele porque ainda está na fase de
adaptação de condução).
Condutor 6: É de boa, tranquilo alguns são chatos, mas a maioria é de boa.
Condutor 7: Ah é tipo assim, a gente faz o máximo pra agradar mas tem que
ter experiência, você tem que falar sempre sorrindo, no início eles davam uma
crítica construtiva, hoje em dia eles dizem: cara, parabéns.
Condutor 8: Tratam bem e são bem recebidos.

Os turistas são sempre bem recebidos, os condutores fazem o máximo para entregar
a melhor experiência possível aos turistas, sendo integro, sincero e educado com todos eles, que
por sua vez se relacionam bem com os condutores, gerando assim um melhor dialogo e passeios
mais produtivos evitando dessa forma certos tipos de constrangimentos e situações
desnecessárias. É claro que existem aqueles turistas que são difíceis de se lidar, principalmente
aqueles que tendem a esbanjar superioridade a outras pessoas pelo motivo de possuir bastante
dinheiro.
É importante citar que a relação varia muito dependendo do perfil e da localidade
do turista, onde, por exemplo, os estrangeiros são mais cuidadosos e atenciosos do que os
turistas brasileiros. Existe também um grande cuidado e controle do condutor em relação aos
turistas com deficiências físicas, onde eles procuram atender da melhor maneira possível nessas
situações. Percebe-se que apesar das dificuldades, os associados conseguem demostrar
capacidade para entregar uma experiência no turismo comunitário de acordo com o seu
conceito.
Dessa forma fica clara a importância desses atores sociais no processo de
desenvolvimento da atividade, uma vez que “estudos recentes continuam a detectar que a relação
dos turistas com as comunidades locais é superficial quando não se trata do setor desta comunidade
que presta os serviços turísticos.” (BARRETO, 2004, p.5)
Buscou-se identificar se em relação ao turista, houve algum tipo de
constrangimento, preconceito ou passou por uma situação curiosa nesse sentido?

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Condutor 1: Não nunca passei nenhum constrangimento não, por enquanto


ao meu ver desse jeito aí não e se houver eu corto não tem papo não.
Condutor 2: Não.
Condutor 3: Não, da minha parte não.
Condutor 4: Não.
Condutor 5: Não.
Condutor 6: Não, que eu saiba não.
Condutor 7: Assim vamos supor, não, tranquilo.
Condutor 8: Não.

Com base na unanimidade das respostas e na relação dos condutores com os turistas
já antes mencionados, percebe-se que constrangimentos, preconceitos e demais situações
curiosas são predominantemente inexistentes ou quase nunca ocorridas no ambiente analisado
isso é algo bom pois algumas vezes os turistas vão acompanhados por guias de turismo e não
há indiferenças por conta da profissão de acordo com Ferreira e Coutinho (2010) e contrapondo
a Franco (2003) em relação aos conflitos. Dessa forma, o nexo entre condutores, turistas e guias
é mais uma vez vista como harmoniosa e acima de tudo respeitosa, prevalecendo o bem-estar
como destaque principal no contato entre ambos e gerando parcerias.
Outro ponto buscou entender como ocorre a organização comunitária da
BARRATUR identificando o perfil geral da associação em relação a estrutura, funcionamento
e membros?

Condutor 1: Não respondeu.


Condutor 2: Horário de chegada e saída. Respeita as escalas de passeios; se
por acaso chegarmos atrasado ficamos uma escala sem fazer passeio.
Condutor 3: A organização é por data, por escala. São dois condutores por
cada canoa, aí por exemplo se vai duas pessoas hoje, vai só um cara, ai amanhã
pode três canoas, ai já vai os outros condutores que não foram. A escala repete
dependendo do fluxo. Se for em alta temporada mesmo numa semana dar pra
ir umas duas vezes todos os condutores.
Condutor 4: Não respondeu.
Condutor 5: Por escala dos passeios, escala pra limpeza e também a limpeza
da canoa é escala.
Condutor 6: Tem a escala, todo dia muda a escala aí vai esperar passar todo
mundo pra ele ir de novo, chegar a vez dele. O dinheiro ganho é por passeio.
Condutor 7: Todo dia a gente vem pra cá 8:00 horas ai fecha as 11:00 pra
almoçar e retornamos as 14:00, aí tem os grupo, eu faço parte do que vai nas
pousadas, tem o grupo da escala pra limpeza geral que limpa banheiro limpa
tudo. No mês nós tem direito a duas folgas, mas tem que avisar.
Condutor 8: Duas vezes por mês existem reuniões; organização por escala;
duas viagens por semana.

Os primeiros meses da história da associação, fundada em 24 de abril de 2004 foram


os mais difíceis, pois não havia turistas suficientes, assim deixando os condutores muitos dias
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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

sem trabalhar. Por esse motivo muitos desistiram de seguir na profissão. Com certo tempo a
associação passou a ter parcerias com ONGs e com os cursos oferecidos pelo Serviço Brasileiro
de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), e isso foi responsável por impulsionar o
serviço turístico da mesma. Atualmente, a BARRATUR conta com 12 condutores e sua
organização interna é bem demarcada, e segundo os mesmos reuniões são realizadas até duas
vezes por mês para tratar sobre diversos assuntos, dentre eles a forma de administrar melhor o
trabalho e o dinheiro geral ganho por mês.
O cumprimento correto aos horários de chegada e de saída do trabalho é muito
importante, para assim respeitar as escalas de passeios que são pré-estabelecidas aos condutores
semanalmente, ou seja, regras de organização de passeio, limpeza e divisões de tarefas em geral.
Eles devem estar na associação todos os dias da semana, entretanto possuem direito a duas
folgas por mês, e quando isso acontecer o aviso prévio tem que ser feito. Penalizações são
aplicadas caso os horários não sejam respeitados, fazendo com que o condutor fique sem
trabalhar em uma escala de passeio determinada por exemplo.
Os condutores tem suas funções bem definidas, cada um tem sua habilidade e seu
forte dentro da associação e isso ajuda bastante no desenvolvimento da mesma, já que
infelizmente a ajuda de órgãos da prefeitura e do Estado aos mesmos na comunidade de Barra
Grande é praticamente inexistente. Eles sempre se ajudam em situações que coloquem em risco
o bem-estar da associação, principalmente relacionado a Trilha do Cavalo Marinho (Figura 01).
Figura 01: Trilha do Cavalo Marinho.

Foto: Acervo do site Delta Rio Parnaíba.

Existe uma variedade de tipos de passeios e preços que os condutores oferecem, a


Trilha Ecológica do Cavalo Marinho, por exemplo, é realizada por eles desde idas de canoa
com a maré alta, até trilha a pé com a maré baixa. Muitos acordos também são feitos com os
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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

clientes para atender essas variedades de viagens, como pacotes especiais para estudantes e
grupos com grande número de pessoas. Geralmente, o preço da excursão é normalmente de
cinquenta reais por pessoa.
A relação entre os moradores de Barra Grande e a associação foi outro ponto
levantado dentro de nossa investigação que buscava identificar se há apoio da comunidade.

Condutor 1: Apoiam, mas aí tem uns que falam que nós que mandar no rio,
por conta que a gente faz o passeio e aí dizem que queremos mandar, porque
a gente faz uma limpezinha e tal ai acham que a gente quer mandar.
Condutor 2: Muitos apoiam e alguns são contra.
Condutor 3: Apoiam, eles ficam de boa mesmo.
Condutor 4: Boa.
Condutor 5: Não, apoiam. tem uns que são contra, mas a maioria apoia.
Condutor 6: Rapaz, tem uns que apoiam, mas é dividido. A maioria apoia.
Condutor 7: Rapaz tem uns que apoiam sim, mas não vou mentir tem uns que
mete uns cortes, elas julgam muito principalmente no início.
Condutor 8: Alguns são de acordo e outros não são.

A maior parte dos moradores é a favor da associação e do trabalho realizado por


ela, reconhecendo a importância que eles possuem para o desenvolvimento de Barra Grande,
aumentando a economia e o trabalho local, segundo Praxedes (2004) uma hospitalidade que
faça com que o turista se sinta realmente bem-vindo a uma determinada localidade depende da
qualidade de vida dos moradores locais, os anfitriões, e esta por sua vez está intrinsecamente
relacionada às percepções que essas pessoas têm a respeito dos impactos da atividade, porém
existem aqueles que são contra, gerando assim uma divisão de opiniões acerca do assunto.
No começo muitos moradores não acreditavam que a associação iria ter o sucesso
que tem hoje, mas isso foi mudando conforme o tempo. Outro fator de indignação daqueles que
falam mal do trabalho dos condutores é que eles acham que esse tipo de trabalho se usufrui de
maneira indevida do ambiente natural pertencentes à comunidade.
A questão seguinte visava verificar se a associação possuia cadastro em algum
programa de desenvolvimento sustentável de turismo (PRODETUR, por exemplo)?

Condutor 1: Tem a gente tá tendo o TAC, que é o termo de ajustamento de


conduta, é um desenvolvimento que a gente vai ter, tá em processo.
Condutor 2: Projeto do TAC.
Condutor 3: No momento não, mas vai ter porque estamos no TAC termo de
ajustamento de conduta, e lá precisa ter no mínimo 20 condutores e de um
curso.
Condutor 4: Sim, o TAC.
Condutor 5: Não.
Condutor 6: Não, de jeito nenhum.
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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Condutor 7: Rapaz ela é registrada, mas por isso aí não é cadastrada.


Condutor 8: Não.

A princípio a associação não está cadastrada em programas como o PRODETUR,


mas existe o projeto firmado ao Termo de Ajuste de Conduta (TAC) que é um compromisso
firmado perante o Ministério Público do Trabalho, no qual o empregador se compromete a
cumprir alguma obrigação inadimplida ou a deixar de fazer alguma coisa ilícita ou considerada
prejudicial à coletividade dos trabalhadores em geral. Este é um ponto que deve ser melhor
aproveitado na comunidade.
Existe nesse contexto o que Theverin (2011, p.130) aponta como uma espera e, em
alguns aspectos, uma esperança depositada nas ações que são ligadas ao poder público. Muito
se espera desse núcleo enquanto catalizador do Turismo no Piauí. Essa é uma realidade de
muitas localidades que veem na atividade uma alternativa para a superação das péssimas
condições de vida, contudo, não são levadas em consideração pelos interesses do Estado.
Levantou-se também como que associação lida com a divulgação das belezas
naturais, pelo fato de que se atrair muita atenção pode haver consequências socioambientais?

Condutor 1: Olha quando é tipo agora final de ano vem muita gente aí como
eles vem não alugam casa aí eles voltam, a divulgação é presencial todo dia
os meninos vão nas pousadas pra saber que vai fazer o passeio, eles também
ligam pra gente e assim é divulgado, tem a página no Facebook mas tá
desatualizada.
Condutor 2: A associação tem uma quantidade de pessoas específicas; não
jogam lixo no braço do rio; a associação tem cuidado de fazer limpeza duas
vezes no dia da semana.
Condutor 3: A gente tem sempre um controle de turistas por dia, a gente faz
no máximo 30 a 70 se tiver maré de manhã e de tarde, mas se só tiver de manhã
35 no máximo que nós atendemos, se tiver turista mas que não vai isso tudo.
A gente fala pra eles que uma área de APA e que não pode fazer isso nem
aquilo, o lixo a gente recolhe e falamos que eles não podem jogar no meio.
Condutor 4: As placas para não circular veículos na praia.
Condutor 5: É controlado, nós tem cinco canoa, tem vez que nós leva até de
35 pessoas.
Condutor 6: É, só quem entra na trilha é nós. É a gente que limpa lá, que
preserva. Temos muito cuidado.
Condutor 7: Nós controlamos no passeio, e com o termo de conduta vai ter
mais regras.
Condutor 8: Quantidade certa de pessoas; não pode em algumas áreas;
cuidado para não jogarem lixo; avisamos os turistas que é proibido a passagem
de carro na área da praia.

Esse cuidado é levado como umas das prioridades da associação. Existe o controle
de pessoas limite por passeio, que dependendo de fatores climáticos, esse limite chega à média
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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

de 30 pessoas. Para que seja feito um turismo sustentável de acordo com as normas, e conforme
Vieira (2005, p.348).
No nível macroeconômico, as políticas de ecodesenvolvimento podem ser
abordadas como uma tentativa de restabelecer a harmonia perdida entre
desenvolvimento e meio ambiente, onde o Estado se torna responsável pela
implantação de um conjunto coerente de medidas capazes de orientar e
articular as iniciativas que emergem no nível local.

A partir das falas é possível perceber que os condutores de turismo, no contexto de


Barra Grande, têm o papel de previamente informar aos turistas alguns pontos primordiais para
o bom funcionamento dos passeios, como o aviso de áreas de demarcação que podem ou não
serem utilizadas por eles, o controle do lixo pelos mesmos e a proibição do trafego de carros
nas áreas das praias, tudo isso para tentar minimizar ao máximo possíveis danos ambientais nas
trilhas e rotas. Outros fatores básicos como o cuidado em não jogar lixo na beira dos rios, a
sinalização de placas com proibição de passagens de carros na praia e a pratica de limpezas
duas vezes por semana são também mantidos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com os fatos apresentados na análise e mediante a interpretação dos


mesmos, foi possível compreender a contribuição da atuação e relevância do condutor para o
avanço do processo de desenvolvimento da região de Barra Grande. Percebe-se que entender a
função desse profissional dentro a comunidade vai muito além de ser um simples intermediador
entre o turista e o destino, pois um dos principais princípios do turismo de base comunitária é
a conservação do meio ambiente, e é papel do condutor adaptar os visitantes ao seu espaço de
trabalho e transmitir informações acerca da conservação para que haja uma conscientização e
passem a viver de modo sustentável, além de ser o transmissor ele também é receptor havendo
uma troca de experiência e saberes.
Sem dúvidas, o crescimento da imagem da região, entre outros fatores, está ligada
principalmente a qualidade do trabalho que o condutor exerce no local, pois a divulgação da
comunidade é cada vez mais impulsionada a partir do momento em que acontece uma entrega
satisfatória de serviço ao turista, gerando assim, a chegada de outros a região, uma melhor
organização é exigida para que possa comportar o fluxo de pessoas, uma parceria com a
secretaria de turismo do município faz falta na comunidade, pois facilitaria o impulso, expansão
e empenho da comunidade em geral para que o possa crescer.
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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Além disso, é nítido também que esses profissionais, apesar dos esforços e do
comprometimento com a sua profissão, não possuem condições técnicas de formação
adequadas ao seu dispor, impedindo assim o maior aperfeiçoamento do trabalho, e obrigando-
os a optar por outros métodos para solucionar esse problema. Percebe-se então a vontade dos
mesmos em conseguir maior assistência, cursos a disposição e o devido apoio da prefeitura
local a sua associação.
Espera-se que a realidade dos condutores tenha sido compartilhada, e a sua visão
em relação ao cenário turístico seja mais bem entendida, algo que é pouco explorado nos dias
de hoje. É importante promover essa ideia, para que tanto o condutor quanto o próprio turista
tenham esse entendimento acerca desse contexto. Por fim, almeja-se que este escrito seja usado
para estudos futuros por diferentes grupos, meios e instituições, e que a partir disso,
investigações complementares e o acréscimo de novos dados relevantes ao tema sejam
adicionados e explorados. Espera-se então que com essa abordagem os problemas mostrados
na vida de trabalho dos condutores tenham sido apresentados.

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

TURISMO NA COMUNIDADE BARRA GRANDE: UMA PERSPECTIVA ATRAVÉS


DO OLHAR DOS NATIVOS
Cláudio Ferreira da Silva Neto
Karolinda Albuquerque de Lima
José Maria Alves da Cunha
RESUMO
O presente trabalho discute a memória dos nativos da comunidade Barra Grande, localizada
no município de Cajueiro da Praia-PI. Sabendo dos impactos causados pela atividade turística,
buscou-se através da memória compreender a visão dos moradores nativos sobre o
desenvolvimento do turismo na comunidade, destacando os aspectos positivos e negativos da
atividade. A pesquisa foi operacionalizada através do recurso da história oral, identificando as
transformações em curso na comunidade Barra Grande antes, durante e depois do turismo.
Palavras-Chave: Turismo, Barra Grande, Memória, História Oral.
ABSTRACT
This paper discusses the memory of the natives of the Barra Grande community, located in the
municipality of Cajueiro da Praia-PI. Knowing the impacts caused by the tourist activity, it was
sought through memory to understand the vision of the native residents on the development of
tourism in the community, highlighting the positive and negative aspects of the activity. The
research was made operational through the use of oral history, identifying the transformations
underway in the Barra Grande community before, during and after tourism.

Keywords: Tourism, Barra Grande, Memory, Oral History.

INTRODUÇÃO

A praia de Barra Grande e a comunidade que leva o mesmo nome estão localizadas no
município de Cajueiro da Praia, situado na região Norte do estado do Piauí. A comunidade
“possui uma área urbana de 78 hectares e uma faixa de praia com 4 Km de extensão e possui
cerca de 1.500 habitantes” (MACÊDO, 2011, p. 98). O município tem 6.122 habitantes, sendo
que 4.464 destes habitam na zona rural. Cajueiro da praia faz parte do Território da Planície
Litorânea e fica a 402 km da capital do estado, Teresina. (IGBE, 2010).
A comunidade Barra Grande é um destino turístico do litoral piauiense contemplado
pela Região Turística Polo Costa do Delta, composto pelos municípios de Parnaíba, Ilha
Grande, Buriti dos Lopes e Cajueiro da Praia. Segundo Macêdo e Ramos (2012), a atividade
turística acontece na comunidade desde a década de 80 do século XX, onde a praia era
frequentada para fins de veraneio, por pessoas do estado do Piauí e do Ceará, mas foi partir do
ano de 2005, com a exploração do kitesurf, que a Praia de Barra Grande foi reconhecida como
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destino turístico, tanto nacional como internacional, sendo procurada por praticantes do esporte
do mundo inteiro, surgindo assim os primeiros empreendimentos hoteleiros na comunidade.
No ano de 2010 existia cerca de 13 empreendimentos hoteleiros na comunidade, mais
atualmente, no ano de 2017, segundo moradores nativos, existe cerca de 40 negócios, contando
com hotéis, pousadas, hosteis, etc.. Esse aumento aconteceu a partir do ano de 2013, quando o
potencial turístico da comunidade foi visto por empreendedores como uma oportunidade de
negócios, atraindo empresários de várias partes do Brasil e do mundo.
Ciente dos vários tipos de impactos que o turismo pode causar, buscou-se compreender
a visão que moradores nativos da comunidade têm acerca do crescimento do turismo na
comunidade, buscando a partir da história oral entender a realidade daqueles que vivenciaram
todo esse processo de turistificação dos anos 1980 até a atualidade.
Através de estudos bibliográficos sobre os impactos e benefícios ocasionados pelo
turismo, além de estudos sobre memória individual e coletiva, procurou-se, através do método
de pesquisa da história oral, compreender melhor os processos em curso no tempo e no espaço
da comunidade Barra Grand. Para compreender a versão dos moradores nativos, foram feitas
entrevistas não estruturadas em profundidade com moradores nativos, ouvindo suas histórias e
vivências. Segundo Alberti (1989, p. 01), a história oral pode ser entendida como “um método
de pesquisa (histórica, antropológica, sociológica, etc.) que privilegia a realização de entrevistas
com pessoas que participaram de, ou testemunharam, acontecimentos, conjunturas, visões,
como forma de se aproximar do objeto de estudo”.

TURISMO NA COMUNIDADE BARRA GRANDE

A comunidade de Barra Grande tem na pesca artesanal, na agricultura de subsistência e


atualmente a atividade turística como as principais fontes de renda. Este último tem modificado
sobremaneira a economia local, em virtude do variado número de empregos gerados, embora
as condições de trabalho e os salários não sejam os melhores, sobretudo porque os cargos de
maior expressão são ocupados por pessoas de fora da localidade (CUNHA, 2018).
A comunidade se insere na área de abrangência da Área de Proteção Ambiental (APA)
Delta do Parnaíba, no litoral do Piauí.
Área de Proteção Ambiental (APA) do Delta do Parnaíba é uma unidade
de conservação costeira com 313.809 hectares que se estende por 150
km no sentido paralelo à costa, englobando áreas continentais dos

360
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Estados do Ceará, Piauí e Maranhão, tendo como eixo central e objeto


de proteção, o Delta do rio Parnaíba. (ARARIPI, 2005, p. 06)

Figura 01 – Mapa ilustrativo da APA Delta do Parnaíba. Fonte: Google imagens, 2017.

A comunidade de Barra Grande vem se destacando nos últimos 20 anos devido ao forte
potencial turístico em segmentos ligados à natureza, como o ecoturismo, mas o destaque se dá
ao turismo de sol e praia, acarretando no crescimento da atividade do turismo da comunidade.
Nesse relevo, o turismo é definido por De La Torre (1997, p. 19) como:
Um fenômeno que consiste no deslocamento voluntário e temporário
de indivíduos ou grupo de pessoas que, fundamentalmente por motivos
de recreação, descanso, cultural ou saúde, saem do seu local de
residência habitual para outro, no qual não exercem nenhuma atividade
lucrativa nem remunerada, gerando múltiplas inter-relações de
importância social, econômica e cultural.

A atividade turística teve início, na comunidade, por volta da década de 1970, onde
veranistas vindos de cidades próximas e mais distantes, como Teresina, ou até mesmo de outros
estados, visitavam a comunidade durante as férias. Uma década depois começa a aparecer os
excursionistas, contribuindo para a consolidação do turismo na comunidade, que só veio a se
profissionalizar e atingir seu ápice no início dos anos 2000, muito embora tenha sido a partir de
2010 que a comunidade experimentou muitos investimentos estrangeiros nos setores de meios
de hospedagem e de alimentos e bebidas (CUNHA, 2018).
O turismo vem se desenvolvendo na comunidade pelo seu potencial para a pratica de
esportes como Kitesurf. Pereira, Silva e Dantas (2016) falam que o kitesurf é um dos esportes
que mais cresce atualmente em todo o mundo. Apesar de ser um esporte considera do novo,
tendo sua criação na França no ano de 1985, já é possível encontrar praticantes em diversas
partes do mundo, de todas as idades e classes sociais, os mesmos se deslocam para diversos
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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

locais do mundo em busca de ventos fortes e outras condições naturais que propiciam a prática.
Essas condições são facilmente encontradas no nordeste brasileiro, o que acontece no caso da
comunidade de Barra Grande, que vem chamando a atenção mundial exatamente por suas
condições favoráveis para a pratica do esporte, sendo o mesmo responsável pela movimentação
turística dentro da comunidade.
Além do Kitesurf a comunidade oferece também outros atrativos turísticos, voltados
para o ecoturismo, sendo atividades de caminhada e canoagem, passeios às Ilhas das Garças,
das Cabras, do Camaleão e a trilha do Cavalo Marinho, que são desenvolvidas pela Associação
de Condutores de Turismo de Barra Grande (BARRATUR). A BARRATUR foi criada no ano
de 2005 por moradores nativos da comunidade, que viram no turismo uma oportunidade para o
aumento da renda de suas famílias. A principal trilha desenvolvida atualmente é a Cavalo
Marinho. Nisso, Barborsa e Perinotto (2010, p. 01) explicam que a referida trilha “trata-se de
um passeio ecológico, no qual são trabalhados, simultaneamente, o turismo, a sustentabilidade
e a educação ambiental”, aliando sempre atividades preservacionistas visando a continuidade
da atividade turística ecológica no destino.

IMPACTOS DO TURISMO EM BARRA GRANDE

Como se sabe a atividade turística desenvolvida de forma desordenada pode vir a causar
diversos impactos sociais, econômicos e ambientais. Assim, na comunidade Barra grande não
é diferente. O turismo não foi uma atividade planejada para acontecer na comunidade, tendo
surgida de forma espontânea. Pela inexistência de planejamento, é notório alguns impactos, os
quais causam transformações na ordem social, econômica, ambiental e cultural na comunidade.
O turismo trouxe um aumento no fluxo pessoas, aumentando também a população da
comunidade. Muitas pessoas se direcionam à Barra Grande na busca de trabalho ou para
empreender um próprio negócio, como bares, restaurantes e atividades comerciais variadas. Os
empreendimentos de grande porte são em sua maioria, de pessoas de fora da comunidade, que
encontraram condições propícias e oportunidade de futuro promissor e rentável com o turismo
na região. Os comércios menores, por sua vez, são de moradores que nasceram na comunidade.
As razões pelas quais a população não aproveita as oportunidades que o turismo pode
proporcionar, em geral, são as baixas condições financeiras, o baixo nível de escolaridade, e a
pouca visão empreendedora.

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

As pousadas, bares e restaurantes se localizam próximos a praia. A grande maioria da


população se encontra em moradias distante do mar, pois muitos venderam suas casas para
pessoas de fora, com o objetivo de construção de empreendimentos turísticos.

Como fala Wellington Oliveira, 33 anos (2017)

No ano de 2013 só existia 3 pousadas aqui, Pontal da Barra, Canoas


Pousada e a Pousada do Mualem. Aí, de 2013 pra cá já tem mais de 40
pousadas, de médio, pequeno e grande porte, casas de aluguel, que
sempre teve, o pessoal da comunidade que alugava suas casas e alugam
ainda quando vem muito turista. Se for pra suprir o pessoal tem que
fazer pousada mesmo, só que teve um crescimento desordenado, de
morador mesmo que tem pousada, é o R.P, o E.V, e o se M.R que a
mulher dele é daqui, aí tem paulista, tem belga, tem italiano, tem
francês, mas mais é de brasileiro as pousada.

Como pode-se observar na fala de Wellington, os maiores benefícios causados pela


atividade turística não são para os moradores da comunidade, mas sim para os empreendedores
que em sua maioria vêm de outras regiões do país, e até mesmo de outros países. Percebe-se
também que a população fica à margem desse desenvolvimento, pois estes estão se afastando
da praia através da venda de terrenos para esses especuladores imobiliários.
O senhor Hodgi Mualem, proprietário da pousada do Mualem, citada na fala de
Wellington, foi um dos primeiros a introduzir a hotelaria na comunidade, como é possível
observar em seu relato:

Aqui eu cheguei em 1988, ai chegou uma pessoa querendo se hospedar,


comer bem, ai aquilo me despertou, né, como já trabalhava com
restaurante em Parnaíba-PI, já tinha essa área, ai resolvi investir, e tô
levando. Eu me sinto responsável por esse monte de pousada aqui hoje,
por que eu alavanquei, dei um passo a frente. Quando eu fiz começou
a bombar, só tinha eu mesmo, ai os outros vieram e puxaram também,
ai tem um monte de pousada sofisticada, bonita, né, de gringo e
paulista. Eu sou de Parnaíba-PI.

Apesar de não ter nascido na comunidade, seu Mualem frequenta há muito tempo o
lugar, tanto que reside há mais de 30 anos. Ele fala que a comunidade o aceitou como morador
local. A sua fala também é relevante pois fica explícito que os proprietários das pousadas são
de fora da comunidade.

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Na fala do morador José Hernando, 40 anos, é notória essa divisão entre a população
local e os visitantes, quando especulado sobre o turismo o mesmo fala: “Pra mim mesmo aqui
não depende do turismo não, só depende do turismo mais a região mais pra praia, a região de
bar e restaurante, aqui eu dependo mesmo é de Deus e da população mesmo, local”.

Nisso, Macêdo (2011, p. 137) traz a fala da moradora H.J, 42 anos, que relata sobre essa
divisão da comunidade:

A chegada do turismo fez surgir duas distintas localidades: a Barra


Grande dos ricos e a Barra Grande dos pobres. A Barra Grande dos ricos
não gera dinheiro para ninguém, só para os donos de pousadas, gerando
apenas subempregos à população local. Falta capacitação e motivação
aos moradores, que não dispõe de verbas para investir, porque fica
impossível de competir com os empresários de fora.

Através da fala dos dois moradores, é notória a divisão ocasionada pelo turismo na
comunidade. Apesar de oferecer benefícios para a comunidade, os principais contemplados não
são os moradores locais, mesmo com a geração de empregos, como fala o seu Hodgi Mualem,
66 anos, afirmando que são subempregos e em sua maioria apenas na alta temporada.
Aqui o fluxo de turistas é mais por temporada, né, fora de temporada é
o pinga, pinga que a gente chama, agora na temporada é casa cheia.
Hoje tem muita gente trabalhando em pousadas, não deixa de ser uma
coisa benéfica, né, mas a comunidade tem que aceitar, de qualquer
forma eles ganham dinheiro também, trabalho também. Tem serviço
pra todo mundo quando chega a temporada.

O senhor Wellington Oliveira, 33 anos, em uma de suas falas, ele ressalta que a renda
gerada pela atividade turística fica dentro da comunidade, sendo um aspecto positivo da
atividade turística, que, apesar de disponibilizar subempregos para os moradores, movimenta a
economia local, ajudando da renda familiar de muitos moradores locais e de regiões próximas.
No envolvimento com o turismo de 100% da população 40%, não só de Barra
Grande, do município todinho. Como Barra Grande é o principal ponto
turístico de Cajueiro da Praia, vem muita gente trabalhar aqui, do Cajueiro
da Praia, Barrinha, Morro Branco e daqui também, nas pousadas, então
gerou muita renda. O turismo tá gerando renda aqui, né, não só nas pousadas,
o dinheiro fica aqui na comunidade né. Nós trabalhamos com turismo
também, todo ano a gente faz o levantamento dos nossos passeios, a gente
gera mais de 100 mil por ano, e esse dinheiro fica todo aqui na comunidade.
Além da gente ter nossos condutores, a gente contrata as charretes, já
gerando renda para outras famílias.

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

O turismo impacta no meio ambiente, e à medida que cresce o fluxo de turistas, aumenta
a preocupação, pois inevitavelmente o crescimento do fluxo turístico reflete no meio ambiente.
Um impacto percebido foi a devastação e erosão do rio Camurupim. Atualmente a BARRATUR
trabalha no controle de visitantes, para evitar maior agravamento. Impacto ambiental
preocupante também é a migração dos peixes de Barra Grande, que estão se deslocando para
alto mar, impacto esse gerado pelos praticantes do esporte Kitesurf, pois os mesmo se utilizam
da beira mar para a prática do esporte, onde antes era lugar de pesca.
Outro grave problema encontrado no local é comentado por Soares (2006, p. 82 apud
MACÊDO, 2011, p. 156):
No que diz respeito a cobertura vegetal como fator básico para proteção do
solo, observa-se a redução da vegetação nativa na área da praia, em
decorrência da sua retirada para construções de segundas residências e o
desmatamento próximo aos cursos d’água, na forma de queimadas,
provocando a exposição do solo e seu carreamento pela precipitação pluvial.

Quando o fluxo de turistas aumenta, o acúmulo de resíduos sólidos se torna problema,


pois, sem tratamento adequado, se acumula pela orla e pelas ruas da cidade. As mudanças
operadas pelo turismo não trouxeram para a maior parte da população benefícios às condições
de vida. Assim, tem provocado muitos danos à comunidade.
A BARRATUR desenvolve na comunidade atividades de defesa dos direitos sociais, de
cultura e arte, de defesa do meio ambiente e da ecologia. É perceptível a preocupação com a
preservação do meio ambiente na fala de um dos condutores da associação, Gilmaci de 26 anos:
Tem a trilha do cavalo marinho, vê o cavalo marinho em seu habitat
natural, voltando de charrete 1,5km fazendo limpeza de praia, limpeza
dos rios ali, a gente não espera por ninguém, a gente mesmo pega e faz,
por que se não tava cheio de sacola, garrafas nas praias. Ai motor a
gente não usa também, é a remo pra não degradar o mangue, sabe, até
o cheiro de gasolina, de óleo, até pro próprio ambiente, né, pro local
aqui, ai o pessoal não usa muito barco, essas coisas não, é bem
interessante o trabalho do pessoal aqui da comunidade.

A comunidade Barra Grande faz parte da Área de Proteção Ambiental (APA) Delta do
Parnaíba, que é uma unidade de conservação ambiental. Os condutores da BARRATUR têm
noção da importância de pertencer e estar nesse espaço. Sendo assim, as ações são pensadas
para manter o ambiente conservado.
Manter um ambiente conservado significa preservar todos os seus
componentes em boas condições, ou seja, ecossistemas, comunidades e
espécies. Um meio ambiente equilibrado oferece uma grande variedade
de serviços ambientais que podem ser consumidos, direta ou
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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

indiretamente, pela população humana, como, por exemplo: a proteção


da água e dos recursos do solo, o controle climático, a ciclagem dos
resíduos humanos e a produtividade dos ecossistemas que fornecem
produtos animais ou vegetais (PRIMACK; RODRIGUES, 2001, apud
PINHEIRO; KURY, 2008, p. 15).

MEMÓRIA DOS MORADORES DA COMUNIDADE BARRA GRANDE

Para compreender a visão dos moradores sobre turismo, é necessário conhecer a história
do desenvolvimento da atividade na comunidade. Para isso, a melhor maneira de se conhecer a
história é através da memória dos moradores. Assim, foi desenvolvido o método de pesquisa de
história oral, que segundo Paulo Knauss (2016).
História oral é o fruto da renovação da pesquisa histórica
contemporânea. É resultado do compromisso com a renovação das
fontes históricas e da intenção de afirmar abordagem alternativas, assim
como revelar novos sujeitos sociais. Seu desenvolvimento tem como
base a realização de entrevistas e a coleta de depoimentos orais com o
objetivo de relevar outras dimensões da experiencia histórica que não
são registradas nas tradicionais fontes históricas.

Através dos relatos orais dos moradores nativos da comunidade, é possível conhecer a
memória acerca do desenvolvimento do turismo local. Sobre a memória, Pollack (1989, p. 09)
argumenta:
Operação coletiva dos acontecimentos e das interpretações do passado que se
quer salvaguardar, se integra [...] em tentativas mais ou menos conscientes de
definir e de reforçar sentimentos de pertencimento e fronteiras sociais entre
coletividades de tamanhos diferentes: partidos, sindicatos, igrejas, aldeias,
regiões, clãs, famílias, nações etc. A referência ao passado serve para manter
a coesão dos grupos e das instituições que compõem uma sociedade, para
definir seu lugar respectivo, sua complementariedade, mas também as
oposições irredutíveis.

A partir da memória individual, pode-se entender como ocorreu o desenvolvimento da


atividade turística na comunidade, além de compreender o desenvolvimento dessa atividade.
Além disso, busca informações sobre os impactos percebidos ao longo do tempo.
O senhor Hodgi Mualem, 66 anos, relata o processo de desenvolvimento do turismo na
comunidade:
Aqui eu cheguei em 1988, ai chegou um pessoal querendo se hospeda,
comer bem, aí aquilo me despertou, né? Como eu já trabalhava com
restaurante em Parnaíba, já tinha essa área, aí eu resolvi investir e tô
aqui levando [...] eu me sinto responsável me sinto responsável por ter
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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

esse monte de pousada aqui hoje, por que foi eu que alavanquei, dei um
passo pra frente, passo principal, que trouxe tudo nas costas foi eu, eles
mesmo dizem isso, por que eu acreditei no desenvolvimento do turismo.
Quando eu fiz começar a bombar, né? Tinha só eu mesmo, aí os outros
vieram e procuraram também, aí tem pousada sofisticada, bonita de
gringo e paulista.

Seu Mualem relata o início do turismo dentro da comunidade, mostrando seu lado como
o primeiro empreendedor a acreditar na atividade turística, considerando-se como nativo em
razão dos anos que reside e pela imersão na comunidade.
Mais ainda, Macêdo (2011, p. 1080 fala dos atrativos naturais existentes na comunidade
e traz também a fala de Marcos Cazuza, ex-presidente BARRATUR:
Até 1990 aqui não era feito nenhum passeio, só tinha a praia mesmo.
Os passeios só passaram mesmo com a criação da nossa associação.
Quando nós iniciamos o único roteiro era a Ilha do Camaleão, que hoje
não existe mais por que realmente não desperta mais interesse, já que
a ideia era levar o turista num barco que a gente mesmo remava e
quando chegava em frente da praia de Macapá a gente ficava
mostrando um monte de galho seco e pedindo para o turista imaginar
forma de figuras. Hoje isso perdeu o sentido. Após uma pesquisa sobre
o cavalo marinho que uma estudante veio fazer, foi criado o roteiro do
Cavalo Marinho, que até hoje faz mais sucesso. Além do cavalo
marinho, nós também oferecemos o passeio da Ilha das Garças, a trilha
das ostras e o Fraldão.

A BARRATUR ainda funciona, oferecendo diversos passeios. Atualmente, Wellington


Oliveira, 33 anos, convive com a atividade turística e conhece de perto os aspectos positivos e
negativos que a atividade pode causar ao meio ambiente e à comunidade local. Assim, mostra
a preocupação que os condutores, os moradores locais e até donos de empreendimento têm com
a questão ambiental da comunidade:
[...] fazendo limpeza de praia, limpeza dos rios ali, a gente não espera
por ninguém, a gente mesmo pega e faz, por que se não tava cheio de
sacola, garrafas nas praias o pessoal ajuda também, até o pessoal das
pousadas tem já tem também a consciência né, de pegar e preservar
junto com o pessoal local pra isso aqui durar muitos anos, muito tempo
até pro próprio turista que vem de fora ter um lugar que tenha um
contato mesmo com a natureza. A gente tenta preservar isso aqui até
pros nossos filhos, ter um lugar limpo.

É notória a preocupação dos condutores da BARRATUR com a questão ambiental, com


os impactos ocasionados pelo turismo. Por esse motivo, buscam desenvolver o ecoturismo,
usando de métodos que sensibilize os visitantes que estão na comunidade.
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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

CONSIDERAÇOES FINAIS

Por meio desse trabalho, foi possível perceber a visão dos moradores da comunidade
em relação crescimento do turismo e os impactos gerados, sendo impactos sociais, ambientais,
culturais e econômicos.
Os moradores vêm perdendo espaço na praia, sendo ocupado por empresários, donos de
bares, restaurantes e pousadas. É preciso intervenção no que diz respeito à interação da
comunidade com a atividade turística, por meio da educação, do diálogo, motivando, assim, a
participação da comunidade com o turismo em forte crescimento.
A BARRATUR, sobre o meio ambiente e a conservação ecológica, realiza passeios
usando barcos a remo, respeitando o tempo e os horários da natureza, como comentou Gilmaci.
As atividades desenvolvidas pela BARRATUR são pensadas em consideração à natureza, para
que permaneça preservada.
Ficou compreendido que a comunidade, apesar de vivenciar a prática do turismo, não
se tem uma interação direta e harmônica entre comunidade e as atividades turísticas, pois os
maiores beneficiados não são os moradores nativos, mas empresários de fora.
É de suma importância as informações aqui encontradas, servindo como pesquisa para
outras produções, tendo em vista que a memória da comunidade é uma maneira eficaz de
conhecer sua história, suas vivencias apontando os aspectos positivos e negativos do turismo
que vem se intensificando dentro da mesma.

REFERÊNCIAS

ALBERTI, V. História Oral: A Experiência do CPDOC. Rio de Janeiro: Centro de pesquisa e


documentação de história contemporânea do Brasil, 1989.

ARARIPI, Hamilton Gondim de Alencar. Análise da Gestão Ambiental da Carcinicultura:


Estudo de Caso da Área de Proteção Ambiental do Delta do Parnaíba. 2005. Teresina.
Disponível em: < http://livros01.livrosgratis.com.br/cp105294.pdf> Acesso em: 29 de junho de
2017.

BARBOSA, A.G.P; PERINOTO, A.R.C. TRILHA ECOLÓGICA DO CAVALO-MARINHO:


Ecoturismo em Barra Grande/PI. Revista do Programa de Pós-Graduação em Turismo
Universidade Federal de Caxias do Sul – Rosa dos Ventos, jan/jun. 2010/vol. 1/nº 1. Disponível
em: <http://www.spell.org.br/documentos/download/5983>. Acesso em: 01 de Julho de 2017.

IBGE. Cajueiro da Praia. Disponível em: <http://cidades.ibge.gov.br>. Acesso em: 28 de


junho de 2017.
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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

KNAUSS, Paulo. [orelha do livro]. In MATTO, Hebe (org.). História Oral e Comunidades:
Reparações e Culturas Negras. São Paulo: Letra e Voz, 2016.

MACÊDO, Ermínia Medeiros. O Turismo na Praia de Barra Grande: Impactos e


Contribuições ao desenvolvimento Local. 2011. Brasília. Disponível em:
<http://repositorio.unb.br/bitstream/10482/9239/1/2011_ErminiaMedeirosMacedo.pdf>.
Acesso em: 28 de junho de 2017.

MACÊDO, Ermínia Medeiros; RAMOS, Ricardo Gomes. O Desenvolvimento do Turismo em


Barra Grande, Piauí (Brasil) e seu Significado para a Comunidade Local. Revista
Iberoamericana de Turismo – RITUR, Penedo, vol. 2, n.2, p. 89-107, 2012. Disponível em:
<http://www.seer.ufal.br/index.php/ritur>. Acesso em 27 de Junho de 2017.

PEREIRA, C.L.G; SILVA, M.M.N; DANTAS, E.W.C. Ventos da Modernidade: Prática do


Kitesurf e suas Implicações o Espaço Litorâneo Nordestino. Encontros Universitários da UFC,
2016. Disponível em: <http://periodicos.ufc.br/eu/article/viewFile/18510/28467>. Acesso em:
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PINHEIRO, M.R.C, KURY, K.A. Conservação ambiental e conceitos básicos de ecologia.


Boletim do Observatório Ambiental Alberto Ribeiro Lamego, v. 2 n. 2, jul. / dez. 2008.
Disponível em:
<http://www.essentiaeditora.iff.edu.br/index.php/boletim/article/download/2177-
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POLLAK, Michael. Memória, esquecimento e Silêncio. In. Estudos Históricos. 1989/3. São
Paulo: Cpdoc/FGV.

369
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

TURISMO PEDAGÓGICO NA ESTAÇÃO DE AQUICULTURA DA


UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ
Isadora Sousa de Oliveira
Ana Cristina Campos Marinho
Solano de Souza Braga
Josenildo Souza e Silva
RESUMO
Este trabalho aborda o Turismo Pedagógico na qualidade de atividade educativa com o objetivo
de realização de visitas na Estação de Aquicultura para estudantes, sociedade civil e parceiros
em busca de promover o repasse de informações e troca de conhecimentos sobre aquicultura
sustentável. Foram analisadas visitas já coordenadas pela autora e alunos do curso de
engenharia de pesca na Estação de Aquicultura da Universidade Federal do Piauí, localizada no
município de Parnaíba, litoral piauiense. Os grupos analisados foram compostos por alunos de
ensino médio do município de Ilha Grande, alunos do curso de graduação da UESPI de
Biologia, Zootecnia e Agronomia oriundos do município de Bom Jesus e Teresina. Confirmou-
se, por meio da análise dos dados obtidos via pesquisa após a visitação, que o contato direto
com as tecnologias utilizadas na Estação e os temas o conjunto de temas abordados
proporcionou aos alunos visitantes experiências estimulantes e a prática de experimentos. Os
alunos puderam se questionar e buscar respostas para as várias situações vivenciadas fora dos
limites da escola. Sendo assim necessário a elaboração de um protocolo de visitação e uma nova
visão que valorize as atividades de Turismo Pedagógico na Estação.

Palavras-chave: Turismo; Educação; Turismo Pedagógico; Sustentabilidade; Aquicultura


Sustentável.

ABSTRACT
This work addresses Pedagogical Tourism as an educational activity with the aim of conducting
visits to the Aquaculture Station for students, civil society and partners in search of promoting
the transfer of information and exchange of knowledge on sustainable aquaculture. Visits
already coordinated by the author and students of the fishing engineering course at the
Aquaculture Station of the Federal University of Piauí, located in the municipality of Parnaíba,
on the coast of Piauí, were analyzed. The groups analyzed were composed of high school
students from the municipality of Ilha Grande, students of the undergraduate course at UESPI
of Biology, Zootechnics and Agronomy from the municipality of Bom Jesus and Teresina. It
was confirmed, through the analysis of the data obtained through research after the visitation,
that the direct contact with the technologies used in the Station and the themes, the set of themes
covered, provided the visiting students with stimulating experiences and the practice of
experiments. The students were able to question themselves and seek answers to the various
situations experienced outside the school's limits. Therefore, it is necessary to elaborate a
visitation protocol and a new vision that values the activities of Pedagogical Tourism at the
Station.

Keywords: Tourism; Education; Pedagogical Tourism; Sustainability; Sustainable


Aquaculture.

370
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

INTRODUÇÃO
O turismo pedagógico por envolver diversas áreas do conhecimento vem sendo
considerado como um instrumento importante na aprendizagem, uma vez que pode ser um
diferencial na vida escolar dos educandos, por ser um misto de profissionais engajados neste
trabalho. (SCREMIN; JUNQUEIRA, 2012. P.27). No intuito de fortalecer no corpo docente a
ideia de uma nova proposta de cunho interdisciplinar, e nos estudantes de turismo gerar
habilidades cognitivas, esse tipo de vivência prática oferece ao aluno a oportunidade de
perceber e analisar determinadas realidades externas à sala de aula que somente se constroem
no âmbito do convívio e interação com o seu entorno. (FALCÃO, E. C. 2010.). A ampliação
das experiências de alunos e professores por meio do acesso a outras formas de aprendizagem
e de relação com a cultura e o meio ambiente tornou-se parte de propostas curriculares oficiais.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) de 1996, elaborada pelo Ministério da
Educação (Brasil, 1996), reforça a importância do turismo através dos seus marcos
regulamentares e dispõe sobre as atividades extraclasse como complementares ao processo de
formação educacional, que permitem e estimulam a flexibilidade das grades curriculares e
respectivos conteúdos programáticos. Desta forma, a exploração de recursos externos à escola,
como diferentes equipamentos culturais, visitas dedicadas ao meio rural, entre outros, são
elementos eficientes e complementares à educação formal, dos quais o turismo se apropria e
pode, com legitimidade, respaldar os educadores quanto à elaboração de suas atividades
extraclasse (Scremin & Junqueira, 2012).
Por envolver diferentes áreas do conhecimento, esta proposta é inerentemente
interdisciplinar e, através de atividades práticas numa perspectiva de articulação interativa entre
as diversas disciplinas, pode enriquecê-las promovendo relações dialógicas entre os métodos e
conteúdo que as constituem (Araújo, 2000). Assim, esta modalidade, que associa o processo de
ensino aprendizagem ao turismo, possibilita a aplicação dos conceitos e conteúdos relativos que
integram formalmente o currículo escolar, uma vez que podem ser observados e experienciados
durante as atividades práticas propostas.
Esta forma de turismo pode ser entendida como elemento importante para a criação de
produtos, como instrumento de promoção da cidadania, de inserção social, de incentivo à
valorização da cultura, do meio ambiente e, fundamentalmente, como fator que privilegia uma
educação crítica (Bittencourt et al., 2010; Gomes et al., 2012). Segundo Beni (1998), a
mobilidade proporcionada pelo turismo põe em contato muitas pessoas, amplia e enriquece
371 as
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

maneiras de pensar e de atuar, expandindo o acervo cultural. Essa viagem através do turismo
educacional proporciona diversas formas de obter novos conhecimentos. O turismo
pedagógico, contribui para o desenvolvimento não só da escola, mas para que as atividades
extra escolares ocorram com qualidade, para que os alunos se sintam motivados a explorar o
espaço de maneira adequada enriquecendo o próprio conhecimento.
A Estação de Aquicultura do Campus Ministro Reis Velloso da Universidade Federal
do Piauí (UFPI), em Parnaíba, consiste em um espaço para a realização de aulas teóricas e
práticas do curso de Engenharia de Pesca. O espaço também é utilizado para a produção de
estudos, pesquisas e projetos de extensão ligados ao fortalecimento da aquicultura no estado.
A Unidade de Aquicultura foi construída por meio de convênio entre a Companhia de
Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (CODEVASF) e a Prefeitura
Municipal de Parnaíba (Convênio nº 7.93.05.000/00 de 15/06/2005 – Implantação; e Convênio
nº 7.93.05.0064/00 de 28/12/2005 - Conclusão). A Unidade foi instalada em uma área de 25
hectares, sendo composta por adutoras de água, fábrica de gelo, sistema de drenagem, sistema
de bombeamento, laboratório portátil, e uma série de outros equipamentos destinados à
aquicultura.
A unidade aquícola dispõe três prédios, distribuídos em escritório, laboratórios, salas
de aula e banheiros. Também constam 22 viveiros escavados, todos com sistema de
abastecimento e drenagem. O Centro de Saberes Delta Ecocais vinculado a Estação de
Aquicultura desenvolveu vários projetos, onde foram construídos um quintal agroecológico e
um galpão de reprodução de peixes.
Nesse sentido, a estação de aquicultura recebe solicitações para a realização de visitas
orientadas por parte de parceiros e instituições de ensino superior, escolas do ensino médio e
alunos de outras universidades que vem desenvolver suas teses de mestrado e doutorado. Uma
das alternativas moderna para atender essa demanda é o desenvolvimento do turismo
pedagógico, um dos segmentos do turismo que proporciona viagens educativas, colocando em
pratica e ampliando o que foi discutido em sala de aula. Além disso, o turismo pedagógico tem
como intuito promover relações com o ambiente, objetivando a geração de novos
conhecimentos, de forma dinâmica e participativa (Farias, et al 2012). O ensino por meio do
turismo pedagógico propõe atividades diferenciadas das convencionais, sugerindo aos alunos,
maior vontade de aprender, tornado assim o processo de ensino mais agradável, despertando o
interesse dos alunos e motivando os professores, além de demonstrar a realidade de uma região.
(Barreto, 2001) 372
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

A estação de Aquicultura da Universidade Federal do Piauí, possui grande capacidade


de conquistar alunos de ensino médio, técnico e superior para explorar suas tecnologias
implantadas e para atender à necessidade das demandas das visitas. Diante disso, por meio de
analises de algumas visitas, foi elaborado um projeto de Turismo Pedagógico e manual de
protocolo para a realização das visitas orientadas como uma forma de propagar o conhecimento,
divulgar as ações da estação de aquicultura, realizar troca de conhecimento entre os alunos,
professores e os visitantes.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
TURISMO PEDAGOGICO
Historicamente, o desenvolvimento do conceito de turismo está muito relacionado à
questão do deslocamento, uma vez que implica em um “movimento” para fora do lugar de
residência habitual. Pode-se notar isso numa das primeiras definições oficiais, apresentada por
Burkart e Medlik (1981 apud OMT - Organização Mundial do Turismo - 2001), quando
afirmaram representar o turismo “[...] deslocamentos curtos e temporais (sic) das pessoas para
destinos fora do lugar de residência e de trabalho e atividades empreendidas durante a estada
nesses destinos”.
Atualmente permanece muito aceita a definição que passou a ser adotada pela OMT em
1994, onde continua enfatizando a questão da necessidade do deslocamento; amplia, porém,
seu conceito, como segue: “o turismo compreende as atividades que realizam as pessoas durante
suas viagens e estadas em lugares diferentes ao seu entorno habitual, por um período
consecutivo inferior a um ano, com finalidade de lazer, negócios ou outras” (OMT, 2001, p.21).
Essa definição traz consigo um importante aspecto que diz respeito à contemplação dos
possíveis elementos motivadores da viagem: o lazer, os negócios, educação ou outros.
Apesar da existência de uma diversidade de definições e conceitos, o crescimento da
atividade turística tem feito surgir novas modalidades e nichos de mercado, dentro das mais
variadas áreas. De acordo com Spínola da Hora e Cavalcanti (2003, p.223), isso não poderia
ser diferente em relação à educação, pois como o turismo é um fenômeno social de caráter
bastante dinâmico, “não seria estranho conceber uma modalidade cuja principal característica
fosse não apenas a satisfação da curiosidade por novos lugares e culturas, mas também o ensino
formal propriamente dito”. Para os mesmos autores é a capacidade de promover o
desenvolvimento humano, social e educacional que baliza a utilização do turismo como
atividade que serve ao ensino. 373
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Dessa forma, pode-se considerá-lo como grande aliado na educação extraclasse,


contribuindo para que um grande objetivo seja realizado: a pedagógica e, como consequência,
a execução do que se denomina Turismo Pedagógico. Para melhor compreensão, a proposta
para uma efetiva instituição do Turismo Pedagógico, enquanto motivação turística, exige a
apresentação de algumas concepções de educação e aprendizagem.

EDUCAÇÃO E APRENDIZAGEM
Sobre esta temática são muitos os conceitos existentes e diversos os autores que
abordam, tais como Durkheim (1962), afirmando que a educação é o processo por meio do qual
os adultos preparam os jovens para a vida na sociedade, com o objetivo de suscitar e
desenvolver um conjunto de atitudes exigidas pelo meio social a que a criança se destina. Outra
definição referente ao assunto é a de Paro (1998), para o qual a educação é uma prática social
que se apropria do saber historicamente produzido e consiste na atualização cultural e histórica
do homem que, na produção de sua existência e na construção de sua história, é capaz de
produzir conhecimentos, técnicas, atitudes, valores e comportamentos.
As formas de educação são classificadas em três grandes grupos por Libedinsky (1997):
informal, não formal e formal. Segundo a autora, a educação informal é o processo pelo qual
todos os indivíduos, ao longo da vida, adquirem atitudes, valores, aptidões e conhecimentos a
partir da experiência cotidiana e das influências que procedem do meio social: a família, o
trabalho, os meios de comunicação, etc. A educação não formal inclui as atividades que se
organizam fora do sistema educacional, e é dirigida a um público determinado, com fins
específicos de aprendizagem, como, por exemplo, cursos de idiomas e informática. Por fim, a
educação formal é sinônimo de sistema escolar ou sistema educacional, e abrange desde o
maternal até a pós-graduação universitária.
As instituições possuem um papel de introduzir um novo olhar sobre as propostas
teórico-metodológicas em desenvolvimento. Desse modo, serão capazes de estimular a reflexão
sobre as práticas pedagógicas na escola como um todo, tornando-as mais compatíveis com as
exigências do contexto social em que vivemos e o turismo é uma maneira de inovação dessas
práticas.

DIVERGÊNCIAS CONCEITUAIS
O turismo e a educação são duas áreas distintas, contudo apresentam semelhanças, como
a interdisciplinaridade (que permeia cada um desses campos), a correlação
374
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

espaço/cultura/educação, presente nas manifestações e nos fluxos turísticos e o fato de a prática


turística constituir processo essencialmente pedagógico, de aprendizagem constante,
englobando diversas áreas do conhecimento. (AZEVEDO, 1997). Cada vez mais abordados na
literatura, os enfoques sobre o tema “educação turística” estão sendo divididos em duas
tendências: a educação para o turismo e o turismo como atividade educativa.
Numa visão macro educacional, o turismo se impõe como atividade educativa por ser
uma força social emergente, objeto de teorias do conhecimento, ambiente para manifestação de
teorias de aprendizagem, tema real na vida de muitas comunidades escolares, portanto de
necessidade e de interesse local para estudo. (REBELO, 1998, p.93). Em decorrência disso, a
viagem passa a ser uma ferramenta cada vez mais utilizada pelas escolas como necessária à
concretização dos seus propósitos educacionais e pedagógicos. Nesse contexto, o Turismo
Pedagógico apresenta-se como uma das recentes modalidades do mercado turístico relacionado
às viagens de estudos. Entretanto, exibe em seu aspecto conceitual uma série de confusões de
ordem semântica e metodológica, sendo denominado como Turismo Educativo, Turismo
Educacional, Turismo Estudantil, Estudo do Meio, entre outros.
A Organização Mundial de Turismo (2003) pontua que todo Turismo pode ser
considerado Educativo, no sentido de que o visitante aprende sobre a cultura, a sociedade e
outros aspectos do destino; já o termo Turismo Educacional comumente se refere a viagens nas
quais a aprendizagem acontece por meio de um programa estruturado ou formal, como os
programas de intercâmbio ao exterior. E completa: Certos roteiros turísticos podem ser
considerados como turismo educacional, pois são voltados para locais históricos, culturais ou
científicos importantes, e muitas vezes são coordenados por um professor especializado. Ao
contrário da simples visita a locais turísticos, os roteiros educacionais podem incluir livros,
palestras e outros materiais complementares para criar uma experiência de aprendizagem mais
formal. (OMT, 2003, p. 90-91). Já o Turismo Estudantil é entendido por Fuster (1985) e
Montejano (2001) como deslocamentos de estudantes em busca de colégios e universidades no
exterior, com o objetivo de ampliar a formação cultural em línguas, artes, história, entre outros
aspectos, por meio da participação em cursos, seminários, simpósios, etc. Outro termo utilizado
é o Estudo do Meio, “método de ensino que estabelece uma relação entre teoria e prática,
utilizando um objeto de estudo para que o aluno possa continuar o processo de aprendizado
iniciado em sala de aula” (GIARETTA, 2003, p.45).
O Estudo do Meio teve como pioneira a técnica do educador francês Celéstin Freinet,
denominada de aula passeio ou aula das descobertas. Nas aulas, Freinet já sabia quais
375 os
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

objetivos a serem atingidos, os conteúdos a serem trabalhados e as atividades que poderiam ser
desenvolvidas posteriormente. Entretanto, no planejamento de suas aulas, sempre havia um
espaço em aberto para atividades inesperadas, que pudessem proporcionar aos alunos adquirir
conhecimentos em diversas áreas, surgindo então a interdisciplinaridade. De acordo com Borba
e Luz (2002, p.79), o Estudo do Meio cria condições para o contato do aluno com a realidade,
propicia a aquisição de conhecimentos de forma direta, por meio da experiência vivida, e
desenvolve habilidades de observação, pesquisa, coleta de dados, organização, análise e síntese
das informações, elaboração e comunicação de conclusões. O Estudo do Meio é, nesse caso, a
“mola propulsora” do Turismo Pedagógico. Dito de outra forma, é a atividade que leva o aluno
a assimilar melhor o conteúdo selecionado no currículo escolar por meio da realização de
passeios, excursões e viagens. Em decorrência disso, Spínola da Hora e Cavalcanti (2003,
p.224) sustentam que “os alunos passam a assumir a condição temporária de turistas,
deslocando-se de seu lugar de origem em busca de algo novo. Há, então, numa aula, o elemento
dinâmico (a viagem) e o sujeito do turismo (o turista)”.

A UTILIZAÇÃO DO TURISMO PEDAGÓGICO


O Turismo Pedagógico é uma maneira de oferecer aos estudantes a oportunidade de
conhecer melhor uma determinada região por meio de aulas práticas no próprio destino
receptor. Isso se realiza com a utilização dos mais diversos meios e com as mais diversas
finalidades, independentemente da localização geográfica em que seja praticado. Muitas
instituições de ensino estão proporcionando aos seus alunos, principalmente do Ensino
Fundamental e Médio, a oportunidade de integrar os conteúdos curriculares em projetos
multidisciplinares, interligando diversas disciplinas. Por meio do contato direto com os recursos
naturais, históricos, culturais e sociais, os alunos poderão se questionar e buscar respostas para
as várias situações vivenciadas fora dos limites da escola, assim, a educação através do turismo
possibilita ao educando a aprendizagem de conceitos e atitudes corretas por meio da
participação, observação ou imitação do cotidiano, e a união com o conhecimento escolar.
Enfim, o Turismo Pedagógico é uma forma de propor ao aluno uma participação ativa no
processo de construção do conhecimento, pois oferece meios para que ele possa tornar-se um
cidadão criativo, dinâmico e interessado em atuar, de forma efetiva, na comunidade,
contribuindo para o desenvolvimento de uma sociedade mais consciente em todos os níveis.

376
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

ESTAÇÃO DE AQUICULTURA – UFPI

A aquicultura moderna está embasada em cinco pilares: a produção rentável, a


conservação sustentável do meio ambiente, otimização de custos, a utilização de sistemas
fechados (circulação de água) e a inserção social. Os componentes são essenciais e
indissociáveis para que se possa ter uma atividade perene. A simples criação dos organismos
não é suficiente para o estabelecimento da atividade de forma lucrativa e perene. Todos os
elementos da cadeia têm seu papel, e qualquer elo fraco limitará o desenvolvimento da atividade
de forma geral. A aquicultura pode ser uma grande alcança de desenvolvimento social e
econômico, possibilitando o aproveitamento efetivo dos recursos naturais locais, com a geração
de renda, criação de postos de trabalho assalariado e/ou auto emprego.
A Universidade tem um importante papel na sociedade como produtora e difusora de
conhecimento. Esse conhecimento é gerado por meio de pesquisa científica e retorna a
sociedade pela formação de profissionais capacitados para atender as necessidades da
população. Além desse e de outros benefícios praticados pela Universidade encontra-se a
extensão universitária, que é uma atividade extremante importante para o desenvolvimento
regional e também para a formação dos alunos.
Ciente da realidade da aquicultura no Estado, o Curso de Engenharia de Pesca da
Universidade Federal do Piauí - UFPI - Campus Ministro Reis Velloso, reestruturou o
funcionamento a Estação de Aquicultura da UFPI, Campus Ministro Reis Velloso, para que a
mesma possa contribuir com o desenvolvimento da aquicultura no Estado. Entendendo que a
mesma é fundamental na promoção da aquicultura sustentável, soberania alimentar, na geração
de trabalho e renda para a população rural.
A Unidade de Aquicultura foi construída por meio de convênio entre a Companhia de
Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (CODEVASF) e a Prefeitura
Municipal de Parnaíba (Convênio nº 7.93.05.000/00 de 15/06/2005 – Implantação; e Convênio
nº 7.93.05.0064/00 de 28/12/2005 - Conclusão). A Unidade foi instalada em uma área de 25
hectares, sendo composta por adutoras de água, fábrica de gelo, sistema de drenagem, sistema
de bombeamento, laboratório portátil, e uma série de outros equipamentos destinados à
aquicultura. A unidade aquícola dispõe de 3 prédios (Figura 1), distribuídos em: escritório,
laboratórios, sala de processamento, salas de aula e banheiros. Também constam 22 viveiros
escavados (Figura 2), todos com sistema de abastecimento e drenagem.

377
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Figura 1: Instalações da Estação de Aquicultura da Universidade Federal do Piauí –


Campus Ministro Reis Velloso. Fonte: Projeto Geral Estação de Aquicultura, 2014.
Figure 1: Installations of the Aquaculture Station of the Federal University of Piauí -
Campus Ministro Reis Velloso. Source: General Aquaculture Station Project, 2014.

Figura 2: Imagem aérea da Estação de Aquicultura da Universidade Federal do Piauí –


Campus Ministro Reis Velloso. Observam-se 22 viveiros escavados. Fonte: Google Maps,
2014. Figure 2: Aerial image of the Aquaculture Station of the Federal University of Piauí -
Campus Ministro Reis Velloso. There are 22 excavated ponds. Source: Google Maps, 2014.

QUINTAL AGROECOLOGICO
O Quintal Agroecológico é um sistema que integra os saberes das pessoas, produz
alimentos de base ecológica em 10% de um hectare, aproveita resíduos e sobras de uma
atividade para outras, reduz custos de produção, interage a produção animal com vegetal.
Aproveita área e (re)circula água; promove a rotatividade de produção; aproveita a energia de
uma cultura para outra; diminui externalidades (uso do que é de fora); agrega valores aos
produtos; transforma resíduos em fertilizantes naturais; fortalece a subsistência, produz
excedentes para a comercialização em mercado de ciclo curto para promoção da transição
agroecológica. O Quintal é composto por tanques em sistema de circulação de água (Figura 3),
com uso de filtros mecânico e biológico para reduzir o consumo de água, melhorar a qualidade
378
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

imunológica do cultivo e permitir transformar os resíduos de peixes em fertilizantes ricos em


NPK (nitrogênio, fosforo e potássio) para adubar as hortas, pomares, roçado e ervas medicinais.
Atua ainda com a criação de aves num galinheiro móvel (Figura 4), um roçado com
irrigação tipo santeno para cultivo de feijão, milho, abóbora, macaxeira, maxixe, quiabo, dentre
outros; horta em canteiros econômicos e ecológicos munidos de irrigação de gotejamento para
a produção de tomate cereja, pimentão, coentro, cebolinho, alface; rúcula, cenoura e beterraba;
canteiros tipo bolo de noiva com essências para chás, anador; erva cidreira; capim santo,
hortelã, etc. Dentro do projeto de Turismo Pedagógico na Estação de Aquicultura pode-se
desenvolver as seguintes disciplinas com os respectivos conteúdos, relacionados ao Quintal
Agroecológico

Matérias e assuntos abordados no Quintal Agroecológico voltado para o ensino médio

Física Mecânica de Hidrodinâmica Física aplicada


fluidos ao dia-a-dia
Química Princípios Qualidade da Química
químicos água aplicada ao dia-
a-dia
Biologia Espécies Habito alimentar
Ciências Meteorologia Aproveitamento Ciclo dos Cadeia
de resíduos nutrientes e alimentar
hidrológico
Matemática Economia Administração Marketing
Fonte: Elaborada pela autora e alunos de engenharia de pesca, 2017.

Além do conteúdo básico do ensino médio, também é desenvolvido dentro do quintal a


agroecologia, a sustentabilidade e a piscicultura.

379
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Figura 3. Tanques em sistema de circulação de água no Quintal Agroecológico. Fonte:


Projeto de VIABILIDADE ECONÔMICO-FINANCEIRA DO POLICULTIVO DE TILÁPIA
Oreochromis niloticus (LINNAEUS, 1758) E TAMBAQUI Colossoma macropomum (CUVIER,
1818), EM SISTEMA DE RECIRCULAÇÃO DE ÁGUA, NA ESTAÇÃO DE AQUICULTURA
DA UFPI,2017. Figure 3: Tanks in water circulation system in the Agroecological Backyard.
Source: ECONOMIC-FINANCIAL VIABILITY PROJECT OF THE TILAPIA POLICULTURE
Oreochromis niloticus (LINNAEUS, 1758) AND TAMBAQUI Colossoma macropomum
(CUVIER, 1818), IN WATER RECYCLATION SYSTEM, IN THE AQUICULTURE STATION
OF UFPI, 2017.

380
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Figura 4: Instalações da Estação de Aquicultura da Universidade Federal do Piauí. Em destaque


no lado esquerdo o Setor Pedagógico, no lado direito o Galpão de Reprodução e o Galinheiro
Móvel no Quintal Agroecológico. Fonte: Projeto Geral Estação de Aquicultura 2014. Figure 4:
Installations of the Aquaculture Station of the Federal University of Piauí. The Pedagogical Sector
stands out on the left side, the Reproduction Shed and the Mobile Housing in the Agroecological
Backyard on the right side. Source: General Project Aquaculture Station 2014.

GALPÃO DE REPRODUÇÃO
Possui o objetivo de constituir estratégias de propagação artificial e induzida de peixes
com ênfase no tambaqui, tilápias, carpas, curimatã, piau, e contribuir com o processo de
melhoramento genético das matrizes e reprodutores da Estação de Aquicultura da UFPI.
O Galpão é dividido em: um depósito para guardar materiais/equipamentos; um
laboratório de cultivo de microalgas e produção de zooplâncton; um corredor para permitir
acesso aos laboratórios Circular Aquicultura e LABCAMDELTA, assim como ao depósito. O
espaço permite o fluxo de atividades de recepção, pesagem, biometria, anestesia, dosagem
hormonal, acompanhamento de hora grau, desova das matrizes e reprodutores. Também realizar
o processo de incubação e monitoramento do desenvolvimento de ovos e consequente eclosão
das larvas, para posterior transferência para o setor de berçário,
A (Figura 5) mostra uma visão geral do Setor de reprodução após a reforma.

381
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Figura 5:Layout do Setor de Reprodução. Fonte: Projeto do Laboratório de Propagação Artificial


de Peixes e Restruturação do setor de aquicultura da UFPI. Desenho Carlos Ribeiro, 2017. Figure
5: Reproduction Sector Layout. Source: Project of the Artificial Fish Propagation and Restructuring
Laboratory of the aquaculture sector of UFPI. Drawing Carlos Ribeiro, 2017.

LABORATÓRIOS
LABORATÓRIO CIRCULAR AQUICULTURA

O laboratório contém um sistema de recirculação em aquários (Figura 6) localizado em


uma sala no galpão de recirculação da estação tecnológica de aquicultura da UFPI. O intuito
dos aquários é a mantença de 20 matrizes de tilápias em sistema fechado para produção de
alevinos.

382
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Figura 6: Sistema de recirculação em aquários no laboratório Circular Aquicultura, 2017.


Figure 6: Recirculation system in aquariums in the Circular Aquaculture laboratory, 2017

LABCAMDELTA

Trabalha com o desenvolvimento de tecnologias para a larvicultura de camarão de água


doce nativo e também com a reprodução de cavalo marinho e alevinagem de peixes ornamentais
de água doce, como acará bandeira e peixe de água salgada em sistema de recirculação (Figura
7 e 8)

Figura 7: LABCAMDELTA. Fonte: Fotos tiradas pela autora, 2017. Figure 7:


LABCAMDELTA. Source: Photos taken by the author, 2017
383
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Figura 8: Reprodução de cavalo marinho no laboratório LABCAMDELTA. Fonte: Fotos


tiradas pela autora, 2017. Figure 8: Reproduction of seahorses in the LABCAMDELTA
laboratory. Source: Photos taken by the author, 2017.

OBJETIVOS ESPECIFICOS DO PROJETO DE VISITAÇÃO

• Promover a recepção de alunos, técnicos e parceiros nas instalações da sede da Estação


de Aquicultura de Parnaíba, para conhecer as ações desenvolvidas;
• Articular parcerias entre as instituições para a promoção de pesquisas, aulas práticas e
trocas de saberes;
• Promover a articulação de parcerias para o desenvolvimento de projetos de extensão e
fortalecimento da estação;
• Fomentar a realização de pesquisas ligadas a aquicultura sustentável e incentivar o
turismo pedagógico.

METODOLOGIA
Ao organizar as atividades da visitação foi importante ressaltar algumas etapas para a
sua execução de acordo com analises de grupos de estudantes que passaram na Estação.
384De
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

início as visitas eram combinadas diretamente com o coordenador da estação e assim uns
bolsistas eram preparados para receber e apresentar as tecnologias lá desenvolvidas. A partir
disso, foi percebido a necessidade da proposta de Turismo Pedagógico na Estação de
Aquicultura com finalidade de ser apresentado para análise nas escolas públicas e privadas de
ensino médio, assim, é fundamental ocorrer a aprovação da proposta pelos professores no início
do semestre letivo, em seguida, o agendamento, a definição dos responsáveis e dos participantes
da visita para conhecer as demandas e necessidades de cada e que venha contribuir com as ações
que estão sendo desenvolvidas na estação de aquicultura. Os cursos de graduação e os cursos
técnicos são diferentes, portanto, as visitas ocorrem de acordo com os objetivos de cada curso
específico.
Baseando-se nisso, as visitas foram coordenadas com o apoio de estudantes do curso de
engenharia de pesca e jovens envolvidos nos projetos que estão sendo executados na estação
para receber os grupos. Para a elaboração do projeto foi observado um dia de visita dos alunos
de ensino médio e ensino superior, onde primeiramente foram recebidos no auditório e ocorreu
a exibição de uma apresentação que narra as ações da estação de acordo com cada atividade,
seguidamente sendo realizado o momento para tirar dúvidas e esclarecimentos sobre as ações.
Com relação aos grupos de estudantes de ensino superior são desenvolvida a mesma
metodologia, mas também são realizadas aulas práticas para conhecer a utilização de alguns
equipamentos, práticas de manejo, analise de dados, elaboração de relatórios e apoio ao
desenvolvimento dos projetos desenvolvidos na estação, para que todos possam entender e
dinâmica de funcionamento da estação e dos projetos, perceber a importância das boas práticas
de manejo, manuseio de forma adequada dos equipamentos, desenvolver pesquisas e produção
de artigos.
As visitas com alunos do ensino médio terão uma abordagem diferenciada para que
possam entender o funcionamento da estação, utilizando uma linguagem que será adaptada para
um bom entendimento de todos e seguindo por todo o processo citado acima. Será solicitado
que as escolas do ensino médio possam depois repassar um relatório com as impressões dos
alunos sobre a visita realizada para a coordenação da estação de aquicultura, de maneira que
torne uma ferramenta de avaliação e fortalecimento de parcerias.
Os materiais que são utilizados para as visitas são de responsabilidade da Estação de
Aquicultura, como pinceis, tarjetas, data show, computadores, câmeras fotográficas, lista de
presenças e os equipamentos que compõem cada espaço. De acordo com público recebido a
metodologia se diferencia/adequa para que possa atender as necessidades de cada um. 385
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

RESULTADO E DISCUSSÃO
A Estação de Aquicultura do Campus Ministro Reis Veloso da Universidade Federal do
Piauí, localizada no município de Parnaíba é um espaço dedicado a realização de aulas práticas
e teóricas do curso de engenharia de pesca, desenvolvimento de pesquisa e extensão. Também
sendo estruturando para desenvolver o turismo pedagógico propondo atividades diferenciadas
das convencionais, sugerindo aos alunos, maior vontade de aprender, tornado assim o processo
de ensino mais agradável, despertando o interesse dos alunos e motivando os professores, além
de demonstrar a realidade de uma região. As visitas são direcionadas para alunos, parceiros,
produtores locais e pessoas interessadas em conhecer as experiências desenvolvidas na estação
de aquicultura, gerando com isso a divulgação dos projetos, fortalecimento das parcerias e a
disseminação de conhecimentos sobre agroecologia, implantação de tecnologias
socioambientais e outros temas ligados ao desenvolvimento sustentável.
Todas as visitas seguiram o mesmo roteiro, dando início na sala “A” com uma
apresentação (Figura 9) da estação de aquicultura e do quintal agroecológico realizadas pela
coordenação e estudantes do curso de engenharia de pesca, através de apresentação em slides,
em seguida os visitantes seguiram para conhecer as instalações da estação. No quintal
agroecológico as visitas tinham acesso as tecnologias socioambientais galinheiro móvel, o bolo
de noiva, os tanques de concreto e lona, o canteiro econômico e o pomar e todas as dúvidas
foram esclarecidas ao longo do passeio. Ao sair do quintal, os estudantes eram direcionados
para o berçário e o galpão de reprodução, em seguida para os laboratórios de microalgas e do
cavalo marinho, em seguida os viveiros, havendo a explicação do uso da ração e das espécies,
realizando a alimentação delas (Tabela 1 e 2).
Por fim, as visitas foram finalizadas dentro da sala “A” para uma avaliação, onde diziam
qual das tecnologias eles levariam para a casa e comunidade, encerrando com agradecimentos
e fotos. Com a turma de biologia, por exemplo, foi feita uma pratica no final da visita, onde foi
feita uma coleta da agua dos viveiros e utilizaram o laboratório para análise e descoberta de fito
plâncton (Figura 10). Com a turma de ensino médio de Ilha Grande, foi feita uma coleta da agua
para analisar o ph da agua.

386
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Figura 9: Apresentação em slide sobre as tecnologias da estação e temas abordados. Fonte:


Fotos tiradas pela equipe de acompanhamento da visita, 2017. Figure 9: Slide presentation on
station technologies and topics covered. Source: Photos taken by the visit follow-up team,
2017.

387
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Tabela 1. Visita da turma de Biologia de Picos no Quintal Agroecológico. Fonte: Fotos tiradas pela
autora, 2017. Table 1. Visit of the Biology class of Picos in the Agroecological Backyard. Source:
Photos taken by the author, 2017.

388
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Tabela 2. Atividades realizadas durante a visita de alunos na estação de Aquicultura da UFPI, 2017.
Table 2. Activities carried out during the visit of students at the UFPI Aquaculture Station, 2017.

Figura 10: Atividades realizadas em sala depois da visitação. Fonte: Foto tirada pela autora,
2017. Figure 10: Activities performed in the room after visitation. Source: Photo taken by the
author, 2017.

CONCLUSÃO
A partir da análise das visitas realizadas, foi possível idealizar novas e interessantes
perspectivas, as quais contribuem para ampliar a discussão sobre a temática em questão.
389Boa
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

parte dos alunos de ambos os grupos responderam às perguntas feitas na dinâmica pós passeio
e houve algumas respostas interessantes como a importância de desenvolver tecnologias
sustentáveis e fáceis de construção para serem expandidas em terreno próprio e no quintal de
casa, muitos buscaram saber detalhes da estruturação e orçamentos, elevaram a importância da
visita em si para adquirir conhecimento e promover as atividades exercidas na estação de
aquicultura para a população e comunidades rurais. Em vista disto, as visitas serão realizadas
de acordo com o protocolo que tem o objetivo de conduzir as visitas com segurança,
preservando a rotina e os bens imóveis da estação de aquicultura.
Deste modo, o turismo pedagógico oportuniza uma verdadeira construção do
conhecimento, interligando a teoria com a prática. É importante que os alunos permitam e
analisem diferentes lugares de vivências, o turismo pedagógico contribui para que a
aprendizagem se transforme em algo prazeroso e inovador. O pedagogo e o turismólogo são
profissionais importantes para que esse diferencial seja cada vez mais trabalhado e inserido nos
contextos escolares, para que a aprendizagem se transforme com um objeto de estudo,
oferecendo aos alunos novas informações em ambientes variados.

REFERENCIAL

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educativa de desenvolvimento. Turismo Visão e Ação, v. 10, n. 3, p. 357–377, 2008.
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Técnica. 2011.
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392
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

UM ESTUDO SOBRE LÍNGUA INGLESA NAS AGÊNCIAS DE TURISMO DA


CIDADE DE PARNAÍBA, PIAUÍ
Laiane da Silva
Zelaine Pereira de Souza
Anderson Fontenele Vieira

RESUMO
O presente artigo tem como objetivo geral identificar nas agências de turismo cadastradas no
Cadastro dos Prestadores de Serviços Turísticos - Cadastur da cidade de Parnaíba, Piauí, se
existem profissionais habilitados linguisticamente para atendimento no idioma inglês. Acredita-
se ser requisito básico para quem trabalha na área e também por ser importante ponto no
desenvolvimento do turismo local em relação aos turistas estrangeiros, possibilitando o
crescimento do chamado turismo internacional. No referente a metodologia esse trabalho é de
natureza aplicada, abordagem qualitativa e quantos aos objetivos é exploratório, sendo
utilizados os procedimentos de pesquisa de campo, bibliográfico, documental e a técnica de
análise de conteúdo. Diante dos resultados viu-se que as empresas e os agentes de viagens não
estão devidamente qualificados em comunicação no idioma inglês, observou-se ainda que não
se realizam capacitações para melhorar esse serviço.

Palavras-chave: Agências de turismo; Língua estrangeira; Parnaiba.

ABSTRACT
The general objective of this article is to identify in the tourist agencies registered in the Register
of Tourist Service Providers - Cadastur of the city of Parnaíba, Piauí, if there are professionals
qualified linguistically for assistance in the English language. It is believed to be a basic
requirement for those working in the area and also because it is an important point in the
development of local tourism in relation to foreign tourists, enabling the growth of so-called
international tourism. Regarding the methodology, this work is of an applied nature, qualitative
approach and how many of the objectives is exploratory, using the procedures of field research,
bibliographic, documentary and the content analysis technique. In view of the results, it was
seen that companies and travel agents are not properly qualified in communication in the
English language, it was also observed that there are no training courses to improve this service.

Keywords: Tourism agencies; Foreign language; Parnaiba.

INTRODUÇÃO

O Turismo é o ato de se deslocar do seu local de moradia por um período menor que um
ano para fins de lazer. Existem formas de turismo que são definidas de acordo com o destino
dos viajantes sendo elas: doméstico, receptivo, emissivo, interior, nacional e internacional, que
engloba tanto o turismo receptivo como o emissivo. Conforme as formas de turismo citadas, foi
enfoque nesse trabalho o turismo receptivo internacional no Brasil, denominado por aquele que
recebe turistas que residem em outros países.
393
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

O turismo é um segmento que vem crescendo devido a fatores como o aumento da


tecnologia e das formas de comunicação consequentes do constante processo de globalização
mundial. Em uma pesquisa da Organização Mundial do Turismo - OMT, entre os meses de
janeiro e agosto de 2017, existiu um aumento de 56 milhões de turistas estrangeiros com 901
milhões de chegadas nos destinos turísticos mundiais, totalizando 7% a mais que nos anos
anteriores, tendo aumento contínuo pelo oitavo ano consecutivo (OMT, 2017). Portanto, essa
atividade proporciona oportunidades de emprego e torna-se também um dos meios de
crescimento econômico para os países.
Segundo o Ministério do Turismo - MTUR, o crescimento de turistas estrangeiros no
Brasil em 2016 foi representado por 6.578,074 visitantes, sendo 272.236 pessoas a mais que no
ano de 2015. Isso se deve aos investimentos feitos, por exemplo, o MTUR investiu 725 milhões
nas 10 cidades mais visitadas do país sendo algumas delas: Rio de Janeiro - RJ, Gramado - RS,
Jijoca de Jericoacoara - CE, e apesar de não serem em todos os estados estão surtindo efeitos
positivos (BRASIL, 2017).
É em fator desse aumento de viajantes internacionais que se tem como necessidade o
conhecimento da língua estrangeira por parte dos prestadores de serviços turísticos,
principalmente, aqueles que lidam diretamente com o turista. Com relação a língua inglesa,
Scheyerl e Ramos (2008) dizem que “em apenas quatro séculos, o inglês saiu da condição de
língua sem importância em 1600, para se transformar na mais influente língua da comunicação
internacional do século XXI” (p. 18). A capacitação em outros idiomas é uma habilidade
relevante para os prestadores de serviços em turismo, de modo a otimizar a comunicação com
os turistas estrangeiros.
O desejo de viajar, conhecer outras culturas, ter novas experiências são necessidades
que ao longo dos anos vem se tornando possível por causa das facilidades encontradas para esse
fim. Um dos setores que simplificam a possibilidade de viajar são as agências de turismo, que
disponibilizam informações gerais sobre os destinos e fornecem o que o viajante precisa para
tomar sua decisão.
De acordo com a Lei Geral do Turismo, de 17 de setembro de 2008, as agências de
turismo são compreendidas pela “pessoa jurídica que exerce a atividade econômica de
intermediação remunerada entre fornecedores e consumidores de serviços turísticos ou os
fornece diretamente” (BRASIL, 2008). É necessário que se tenha uma boa comunicação por se
tratar de um serviço que ainda é bem procurado apesar das facilidades da internet, com isso está

394
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

sempre lidando com pessoas de várias nacionalidades. Sendo, portanto, importante que se tenha
profissionais capacitados na comunicação em outros idiomas.
A cidade de Parnaíba, lugar que foi realizado a pesquisa por meio das agências de
turismo que ali estão, está situada no norte do Piauí, onde se encontra o Delta do Parnaíba, o
único em mar aberto das Américas e o terceiro maior do mundo, com um conjunto de mais de
70 ilhas, sendo também, um dos principais pontos turísticos do município. Com área total de
434.229 KM² e população estimada de 150.547 habitantes, é a segunda maior cidade do estado,
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2017). Parnaíba possui uma variedade de
riquezas naturais, culturais e históricas e o turismo no local é movido por essas características.
Considerando o exposto, a presente pesquisa foi motivada para entender variáveis
como: a existência de turistas estrangeiros que vieram a Parnaíba e buscaram as agências locais
para aquisição de serviços e identificar como se dá essa relação de negociação entre os
profissionais do setor de agenciamento e os turistas, considerando o atendimento no idioma
inglês, e qual o grau de relevância que esses profissionais atribuem para o conhecimento em
idiomas. Além do mais, esse tema é pouco explorado na literatura científica e por essa razão
também decidiu-se estudar a referida temática, tendo em vista a dificuldade de encontrar
estudos.
Para tanto, o objetivo geral foi identificar nas agências de turismo cadastradas no
Cadastro dos Prestadores de Serviços Turísticos - Cadastur, da cidade de Parnaíba, Piauí, se
existem profissionais habilitados linguisticamente para atendimento no idioma inglês.
Quanto as bases teóricas para metodologia utilizou-se - Vergara (1998), Minayo (2001)
e Gil (2008), a abordagem do presente trabalho é qualitativo, no referente aos objetivos esse
estudo é de natureza exploratória, tendo sido realizada pesquisa bibliográfica. A investigação
documental foi efetivada por meio do site CADASTUR, através do levantamento dos cadastros
atualizados das agências de turismo emissivas e receptivas de Parnaíba, consistindo ao todo em
14 agências.
A coleta de dados secundários em campo foi realizada entre os dias 25 de abril a 16 de
maio de 2018, em datas intervaladas em decorrência da disponibilidade dos profissionais ou
das empresas participantes. Foram feitas entrevistas semiestruturas e aplicados os termos de
cessão oral com quatro gestores das agências, no caso dos agentes de turismo foram aplicados
questionários a um total de sete profissionais respondentes. Por fim, para análise de dados
realizamos a técnica de análise de conteúdo, em que foi feita a transcrição das entrevistas e
questionários aplicados. 395
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

A comunicação em língua inglesa

A língua inglesa é atualmente a mais falada no mundo. Isso se deve a alguns fatores que
Figueiredo e Marzari (2012) descrevem como a grande economia da Inglaterra no século XIX
devidos à alguns eventos ocorridos nesse período, à força político-militar dos Estados Unidos,
posteriormente a II Guerra Mundial e pelo peso cultural que esses países representavam. Em
virtude a todas essas influências e por ser capaz de atingir grande parte da humanidade foi
elegido de certa forma a língua inglesa como mundial.
Mesmo a China com cerca de 1,42 bilhões de habitantes sendo o idioma oficial o
mandarim, seja o país com maior quantidade de pessoas falando a mesma língua, o inglês é o
que está mais espalhado pelo mundo, como oficial ou segunda de algum país. Isso se deve ao
fato das grandes potências como Inglaterra, Estados Unidos, utilizarem a língua inglesa para
fins políticos, sociais, econômicos e culturais. É como destaca Cabral (2014):

A expansão da Língua Inglesa delineou-se a partir da Revolução Industrial e


do processo de colonização de muitos países nas Américas, Ásia, África e
Oceania. Embora as condições para estabelecer o inglês como língua
internacional tenham sido implementadas pela Grã-Bretanha, a emergência
dos Estados Unidos como superpotência, em meados do século XX, garantiu
a consolidação desse idioma como língua global. (p. s/p)

Desde o final da década de 1990, viu-se que para seguir o crescimento globalizado e se
manter atualizado, falar a língua inglesa é determinante, antes algo que era diferencial agora é
algo quase que obrigatório para diminuir os riscos e aumentar as oportunidades seja no ramo
político, econômico, social ou cultural. De acordo com Marques (2013), “A Língua Inglesa está
nos principais meios de comunicação, ela é o “idioma” da internet, da informática, do turismo,
do comércio internacional, ou seja, onde quer que você vá ela estará presente” (p. 8).
O turismo enquanto atividade econômica e social que permite a quebra de fronteiras
entre os países, engloba esses aspectos, fazendo o uso da língua inglesa extremamente
importante, já que o turista quando viaja para outros países sem ser o seu de origem quer chegar
e não encontrar dificuldades que possam atrapalhar o momento de lazer, locomoção e a
comunicação de maneira geral. O conhecimento da língua inglesa facilita muito na precaução
das possíveis dificuldades, além de melhorar e acrescentar na qualidade da prestação de serviço
turístico, por exemplo, no momento da venda de um produto ou serviço a um estrangeiro ou o
próprio guia de turismo.

396
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

No Brasil, observa-se que o número de pessoas que falam a língua inglesa de acordo
com o Índice de Proficiência em Inglês feita anualmente pela Education First, empresa de
educação internacional especializada em intercâmbio cultural, em 2017, o país ficou na 41º
posição entre 80 países, na pesquisa realizada para saber o domínio do inglês. Posição
considerada a baixo da média afirmando o quanto a língua inglesa deve ser estimulada e
trabalhada no país. No quadro 1, constam as posições de alguns dos 80 países utilizados na
pesquisa.

Quadro 1 - Proficiência em Inglês


Países com Países com Países com Países com Países com
proficiência proficiência proficiência proficiência proficiência
muito alta: alta: moderada: baixa: muito baixa:
• 1º) Holanda 9º) Alemanha • 22º) Bulgária 36º) China • 58º) Síria

• 2º) Suécia 10º) Áustria • 23º) Grécia 37º) Japão • 59º) Catar

• 3º) Dinamarca 11º) Polônia • 24º) Lituânia 38º) Rússia • 60º) Marrocos

• 4º) Noruega 12º) Bélgica • 25º) 39º) Indonésia • 61º) Sri Lanka
Argentina

• 5º) Cingapura 13º) Malásia • 26º) 40º) Taiwan • 62º) Turquia


República
Dominicana
• 6º) Finlândia 14º) Suíça • 27º) Índia 41º) Brasil • 63º) Jordânia

• 7º) Luxemburgo 15º) Filipinas • 28º) Espanha 42º) Macau • 64º) Azerbaijão

• 8º) África do Sul 21º) Eslováquia • 35º) Costa 57º) •


Emirados 80º) Laos
Rica
Árabes Unidos

Fonte: Adaptado de Education First, 2017.

A fragilidade do domínio do inglês reflete diretamente na prestação de serviços das


empresas e nos setores de turismo, principalmente, é significativo que se tenha pessoas
capacitadas com conhecimento no mínimo em língua inglesa por ser globalmente mais utilizada
facilita a comunicação e entendimento. Empresas de turismo dos meios de hospedagem,
parques, agências de viagens, entre outras, devem ter profissionais especializados em
397
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

comunicação na língua inglesa, por ser uma área que trabalha com pessoas de diversos países
a qualidade no atendimento é um dos pontos observados pelos turistas, dentre eles também é
notável a hospitalidade e agilidade no serviço.

Agências de turismo: conceitos e definições

Thomas Cook and Son foi a primeira agência de viagens registrada no mundo, aparecendo
logo após Tomas Cook fretar um trem e realizar uma viagem entre Leicester e Lougborough
(Candioto, 2012). Cook é considerado o primeiro agente de viagens, sendo pioneiro nas viagens
organizadas, que começou no período de 1841 (Coello, 2012).
A expansão de empresas do ramo turístico no Brasil veio logo após o término da Segunda
Guerra Mundial na década de 1950, pois viajar tornava-se mais fácil e acessível, entretanto não
se tem registros sobre o aparecimento das primeiras agências de viagens, mas segundo Candioto
(2012) “as agências de turismo surgiram com o aperfeiçoamento de empresas que, a princípio,
dedicavam-se a prestação de serviços relacionado ao transporte e a importação e exportação”
(p. 5).
Schlüter e Winter (como citado em Rejowski, 2001) apontam que as agências têm três
funções importantes, sendo elas: canal de distribuição que consiste em mediar serviços entre
fornecedores; elaboração de viagens sob medida onde os pacotes são personalizados de acordo
com as necessidades do cliente e consultoria ao cliente que se compreende na prestação de
informações. As agências de turismo podem ser classificadas em receptivas, que recebem
turistas de outros destinos; emissivas, que mandam turistas para outros destinos, e mistas que
tem as duas finalidades (Panosso Netto, 2008).
No Brasil, antes do aparecimento do Cadastur, as agências tinham uma variedade de
nomenclaturas caracterizadas pelos serviços prestados, como as Operadoras, Distribuidoras e
as Agências, que ainda eram subdivididas de acordo com o público ao qual eram direcionadas.
Após a instituição do Cadastur, todas estas prestadoras de agenciamento tiveram a classificação
única de Agências de turismo (Candioto, 2012). Segundo a Lei nº 12.974, de 15 de Maio de
2014, que dispõe de Agências de Turismo duas categorias (Figura 1):

398
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Figura 1– Atividades das Agências de Turismo.

venda comissionada ou
Agências intermediação remunerada na
de comercialização de passagens,
Viagens passeios, viagens e excursões, nas
modalidades aérea, aquaviária,
terrestre, ferroviária e conjugadas;
assessoramento, planejamento e
Agências de organização de atividades associadas
Turismo à execução de viagens turísticas ou
excursões
organização de programas, serviços,
Agências roteiros e itinerários de viagens,
de Viagens individuais ou em grupo, e
e Turismo intermediação remunerada na sua
execução e comercialização; e

e serviços relativos a viagens


educacionais ou culturais e
intermediação remunerada na sua
execução e comercialização.

Fonte: Adaptado de BRASIL, 2014.

Devido ao grande número de informações e facilidades que as tecnologias trazem, como


aplicativos e sites aplicados no setor turístico, fica cada vez mais difícil para as agências
competirem nesse mercado. O consumidor tem em mãos ferramentas necessárias que são
auxiliadoras no momento da reserva e pesquisas de valores dos meios de hospedagem como
Booking, Tripadvisor entre outros, para fazerem suas viagens sem precisar de uma agência.
Entretanto, a segurança e o ato de simplificação que estas dão ao cliente é um dos pontos a qual
as mesmas ainda são procuradas. Devido a esta evolução é perceptível uma mudança neste
mercado, o que afirma Candioto (2012):

Com a chegada da informatização, principalmente da internet, permitindo o


contato direto dos fornecedores com o consumidor final; com os avanços da
tecnologia da informação aliados a maior exigência do consumidor pela
qualidade dos produtos que consome, o cenário da comercialização do turismo
começou a se transformar. As Agências de turismo também. (p. 6)

Apesar das grandes mudanças geradas pela internet no setor, como a diminuição da
procura por estas, já que é possível pela internet fazer compras diretas de: passeios, transportes
e nos meios hoteleiros, entre outros serviços turísticos, as agências vem se capacitando ainda
mais para que a experiência por meio delas seja cada vez melhor. Como foi dito, a segurança
que as agências de viagens passam através dos serviços ofertados, que usuários da internet por
si só não tem acesso, facilita na procura de atrativos turísticos, transporte e informação, pois já
é incluso no pacote.
399
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

A internet deve ser usada como um elemento, para acrescentar e aperfeiçoar o serviço
turístico, Santos e Murad Junior (2008) constatam que “O agente de viagens deve utilizar essa
ferramenta ao seu favor, para que possa conhecer melhor os produtos que vende” (p. 112). É de
suma importância o uso da internet para todos os serviços que giram em torno do turismo, pois
a internet vem como aliado para a população em geral e para todos os tipos de serviços.

Percepções dos sujeitos da pesquisa

Para efeito de informação é válido esclarecermos que a pesquisa foi realizada com 14
agências de turismo cadastradas no Cadastur, porém durante a ida a campo encontrou-se
problemas, como: a indisponibilidade de algumas empresas em participar, endereços inválidos
e cadastros que não entravam nos serviços de agência de turismo, no qual se tinha empresas
que diziam ser do setor, mas não eram. Portanto, foi percebido nas agências a falta de
organização por parte de algumas delas e também de receptividade, apesar dessas variáveis, o
estudo não foi prejudicado quanto a sua proposição inicial.
Das 14 agências visitadas seis responderam aos questionários, das outras, duas não eram
agências, quando foi feita a pesquisa destes locais uma era restaurante e no outro a pessoa só
fazia traslado quando solicitado. Outras duas não se disponibilizaram a responder e as quatro
restantes nunca estavam presentes nas tentativas de contato.
Objetivando traçar um perfil dos agentes de viagens pesquisados encontramos o
seguinte resultado. Dos sete agentes, três são mulheres e quatro são homens, dos quais dois
estão numa faixa etária entre 18 a 24 anos de idade, três entre 25 a 34 anos e dois entre 35 a 44
anos. Dentre o nível de escolaridade, cinco agentes possuem ensino superior, sendo três
graduados em turismo, um com pós-graduação e um que possui apenas o ensino médio.
Baseado nas perguntas relacionadas aos cursos de inglês, dos sete questionários
aplicados com os agentes de viagens, cinco deles afirmaram ter feito o curso de inglês sendo
eles quatro em nível básico e um em nível intermediário, e dois deles não fizeram curso.
Segundo Borges, Moreira e Perinotto (2014) “[...] com a amplitude dos deslocamentos
humanos, observa-se a necessidade e importância pelo estudo e conhecimento prévios da
referida língua estrangeira” (p. s/p), no qual é para o profissional um diferencial competitivo,
porém, na pesquisa viu-se a falta de conhecimento tendo como maior nível o básico e tal fato
poderia ocasionar prejuízos à empresa devido a perca de possíveis clientes.

400
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Em referência a pergunta sobre o conhecimento em língua estrangeira ser requisito para


a contratação, seis responderam que não e somente um respondeu sim. De acordo com Branco
et al. (2017) “acredita-se ser de grande relevância que esse profissional do turismo tenha
conhecimento da língua dos visitantes (e outras) para que ele possa se comunicar sem maiores
dificuldades” (p. 25). Portanto, nota-se que em relação a contratação, as agências de viagens
não tratam como uma das prioridades ter um conhecimento em outra língua, o que deveria ser
o contrário, pois esse é um atributo que qualquer agência deveria ter mesmo que não tivessem
muitos turistas de outros países na localidade, pois a compreensão e entendimento em língua
estrangeira é algo básico que um profissional de turismo tem que dispor.
Na questão sobre o conhecimento em língua estrangeira influenciar na efetividade do
atendimento ao turista estrangeiro, cinco dos questionados confirmam que sim, pois facilita a
comunicação principalmente em relação à venda dos pacotes, informações sobre a cidade e
também na proximidade com os clientes. E dois dizem que não influencia no atendimento,
porém não justificaram a resposta. Conforme Onofre e Maciel apontam (2015) “a qualidade no
atendimento é o diferencial entre as agências ou operadoras. Neste sentido, aprender um idioma
com fluência é fundamental” (p. 96).
Quando perguntados sobre o nível de dificuldade enfrentado no atendimento ao cliente
estrangeiro, três deles disseram ter uma dificuldade leve, três ter moderada e um afirmou não
apresentar dificuldade. Posteriormente, com a pergunta referente a paciência do estrangeiro
durante o atendimento, 100% afirmaram que os turistas são pacientes. Isso ocorre devido o
conhecimento básico em inglês da maioria dos agentes e pelo conhecimento básico em
português dos estrangeiros, de acordo com o que foi analisado a partir das respostas dos
profissionais. Foi percebido diante das palavras dos questionados que os sujeitos se mantem em
uma “zona de conforto”, na qual acabou se transformando em acomodação pelo costume de
haver essa improvisação utilizando o pouco que sabem do idioma por parte de ambos os lados,
mas sobretudo, pelos agentes que tem a obrigação de se comunicar com seu cliente, e por conta
disso não se interessam em buscar qualificações para melhorar seus serviços.
No tocante à importância em saber língua estrangeira, no caso o inglês no segmento de
agenciamento, cinco agentes consideram importante saber outras línguas, e dois consideram
muito importante. A justificativa dá-se pela compreensão na comunicação e facilidade no
atendimento.
Os dados citados e analisados representam as percepções dos agentes de viagens sobre
o objeto de estudo. Continuando a pesquisa sobre o conhecimento dos profissionais
401das
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

agências de turismo em língua estrangeira, analisamos as respostas dos gestores e obtivemos os


seguintes resultados.
Na primeira questão, foi perguntado se o conhecimento em língua estrangeira foi um
dos requisitos para a contratação dos agentes de viagens. As respostas obtidas foram que não
foi requisito para a contratação, sendo resposta unânime dos quatro gestores entrevistados,
porém dois deles atuam como agentes e sabem o básico e os outros dois são home office, no
qual os próprios são os agentes. Santos e Santos (2018) dizem que a empresa “deve contar com
o apoio de colaboradores capacitados e bem preparados, auxiliando e assessorando os clientes.
São estas ações que podem facilitar o processo de compra” (p. 31). Tal atitude demonstra a falta
de interesse da parte dos gestores em obter de início um quadro de funcionários qualificados
em idiomas.
Na segunda questão foi perguntado se houve necessidade de uma qualificação em
idiomas depois da contratação, 100% dos gestores responderam somente que não, em virtude
do fato demonstrado na questão anterior, ou seja, não há comprometimento com o cliente
estrangeiro. Se houvesse esse empenho de qualificação na pós contratação dos colaboradores,
o público estrangeiro poderia crescer na agências.
A terceira questão procurava saber se a empresa realiza qualificação em idiomas e como.
As respostas recebidas foram novamente que não. Analisando as três primeiras perguntas foi
possível observar que os profissionais contratados para assumirem o cargo de agentes que lidam
diretamente com os turistas não estão devidamente qualificados em comunicação internacional
e que apesar de partir também do interesse do colaborador, essa qualificação de certo modo não
foi cobrada pelos gestores.
No que diz respeito às agências que atuam em home office, viu-se que há qualificação
básica e intermediária dos gestores/agentes. Seguindo a linha de raciocínio anterior, nessa
situação os profissionais deveriam cobrar mais de si mesmos para ter crescimento profissional
e pessoal.
Na quarta questão foi perguntada qual a importância do conhecimento do idioma inglês
no segmento que atuam. Abaixo a resposta de cada gestor:

Gestor 1: “Olha é uma importância bastante acentuada, porque seria um


agente mais completo, mas infelizmente o nosso porte não permite, nem o
mercado tem tantas pessoas qualificadas em inglês e os poucos que tem atuam
como professor [...] meu foco é o turismo emissivo, eu quase não recebo
estrangeiros aqui na minha empresa, então quando eu recebo um estrangeiro
aqui na minha empresa ele vai falar português [...].” 402
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Gestor 2: “É de extrema importância, principalmente aqui em Parnaíba que


nos meses de agosto a gente recebe muito turista estrangeiro, são as férias
europeias então, e outra coisa se você que mexe com turismo você mexe com
o público, não tem escolha vou mexer só com o brasileiro não tem como, então
você mexe com todos, você tem que saber um pouco de tudo, turismo ele é
interdisciplinar então ou você se aperfeiçoa ou você fica para trás.”

Gestor 3: “Eu acho importante sim porque é uma porta pra sua vida. O inglês
é essencial quer você queira quer não, qualquer lugar você abre as portas pra
qualquer coisa. Eu acho motivacional uma empresa chegar e ajudar também a
pessoa que trabalha a ter curso e eu acho importante sim, pra mim abriu as
portas pra várias coisas.”

Gestor 4: “Olha é de fundamental importância o conhecimento de outras


línguas e o agente que trabalha com turismo principalmente nesse segmento,
tenha conhecimento pelo menos do básico do idioma, porque uma hora ou
outra você acaba precisando ou com cliente ou diretamente com fornecedor.
Às vezes você atende o cliente que vem de fora precisando de uma passagem,
se você não tiver conhecimento básico nesse idioma você pode se complicar
um pouco, não que você não vá atender o cliente você acaba conseguindo, mas
acaba que limitando, pode gerar algum erro, alguma falha na comunicação no
momento do atendimento e acaba complicando. Eu não diria nem tanto
espanhol, porque no turismo a língua mesmo que se fala bastante é o inglês,
então vocês como estudantes e eu também a gente utiliza muitos termos
técnicos em inglês, tanto na parte da aviação como na hotelaria enfim.”

Observando a resposta dada por todos os gestores, o conhecimento em outros idiomas


é de fundamental importância para o setor de turismo, pois requer o uso adequado de línguas
para comunicação com os turistas e fornecedores. De acordo com os dados, mesmo que os
gestores e agentes não tenham se qualificado o suficiente em idiomas, o atendimento é feito por
saberem o básico, tanto os agentes como os turistas, e pela experiência que já tem nos cargos.
Porém, sabemos que essa não é a melhor opção, sendo o melhor a ser feito por prezar o sucesso
da empresa, procurar qualificações em todos os serviços, principalmente, no quesito
atendimento, pois é o intermédio entre profissional da área e cliente e/ou fornecedor, ou seja, é
o instrumento que está entre a realização ou não de um simples diálogo ou da venda de um
pacote, por exemplo.
Parnaíba por ser uma cidade ainda em desenvolvimento e com potencial para crescer
como localidade turística, precisa dispor de profissionais aptos e capacitados para atender as
necessidades dos clientes/turistas, e quanto mais pessoas qualificadas que trabalham no ramo,
melhor será o turismo no local, pois nesse setor a qualidade de serviço é uma das coisas mais
exigidas e avaliadas, tendo como consequência o retorno ou não do turista ou mesmo o
crescimento ou declínio da demanda em fator das recomendações dos que visitaram a cidade.
403
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Considerações finais

Tendo em vista todos os pontos evidenciados ao longo deste artigo, fica nítido que o
domínio de outros idiomas é de suma importância para o desenvolvimento profissional e o bom
funcionamento das atividades dentro das agências de turismo.
O objetivo principal do trabalho foi investigar se os profissionais das agências de
turismo são qualificados em línguas estrangeiras tendo além desta, outras informações
importantes que foram percebidas ao longo da pesquisa. A partir das análises realizadas foi
possível perceber, de acordo com os resultados obtidos, que o fluxo de turistas estrangeiros na
cidade ainda não é grande, onde percebemos uma certa displicência dos profissionais para com
a capacitação em línguas e que implica diretamente na qualidade do atendimento ao cliente.
Observou-se ainda que, nas agências de turismo utilizadas na pesquisa, a qualificação
em línguas não é priorizada. Devido a isso, muitos dos agentes de viagens conhecem apenas o
básico da língua inglesa. Para que essa realidade seja mudada e mais aprimorada é necessário
que os funcionários das áreas que atuam diretamente com o turista estrangeiro tenham uma
melhor qualificação.
Os próprios empresários podem investir na capacitação de seus funcionários para a
melhoria do atendimento, instituições como o Serviço Social do Comércio – SESC, Serviço
Nacional de Aprendizagem Comercial - SENAC oferecem cursos gratuitos para a área
linguística, sendo essa uma boa forma de diminuir gastos e ao mesmo tempo contribuir na
capacitação. Além disso, as instituições superiores contêm em suas grades curriculares as
disciplinas de inglês para os bacharéis em Turismo, fator importante para a formação, pois é
utilizado com frequência.
Outro ponto percebido foi que a maioria dos agentes não são bacharéis em Turismo, isso
mostra a desvalorização do profissional com formação em turismo e com isso tem-se
dificuldades de conseguir oportunidades em sua área de atuação. No sentido geral da área de
turismo isso pode ser um problema, não dispor desses profissionais acarreta na perda de saberes
técnicos e científicos aprendidos ao longo da graduação que podem agregar no andamento da
empresa.
A cidade de Parnaíba tem um grande potencial turístico ao se tratar de riquezas naturais,
podendo ser citados o litoral e o Delta do Parnaíba, este que é um dos pontos turísticos mais
conhecido da cidade, o qual atrai turistas de diversos lugares do país e de fora dele. Portanto,
404 é
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

uma cidade que ao longo do seu crescimento poderá receber uma demanda maior de turistas
estrangeiros, devendo estar preparado no quesito estrutural bem como nos serviços turísticos,
para que se possa atender à esse tipo de turista com total habilidade e preparo.
Por fim, espera-se que esse estudo pioneiro na cidade de Parnaíba, possa servir como
um estímulo para que outros acadêmicos pesquisem sobre a temática e promovam novas
problematizações relacionadas a relevância dos profissionais em turismo saberem idiomas para
melhor atender os estrangeiros. Acreditamos também, que a pesquisa reforça que a fiscalização
do cadastro dos prestadores é fator necessário por parte dos órgãos competentes, como o
Ministério (MTUR), pois viu-se muitas empresas que não se enquadravam no segmento ou que
estão com seus cadastros desatualizados.

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

VIVÊNCIAS COM A NATUREZA: UMA PROPOSTA DE EDUCAÇÃO


AMBIENTAL PARA AS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO
Iuri Araújo Barros
João Vítor Dutra de Lima Pereira
Patrícia Maria Martins Nápolis
RESUMO
O atual discurso de desenvolvimento e sustentabilidade ainda encontra respaldo no modo
antropocêntrico de se ver o ser humano e assim uma exorbitância de fatores negativos afetam
diretamente as condições de vida do planeta, estando este chegando às raiais do absoluto
descontrole. Nesse sentido, é importante uma mudança não só de comportamentos e atitudes, mas
também de valores, e é nesse contexto que surge a Educação Ambiental, devendo ela estar presente
nos mais diversos ambientes, incluindo as Unidades de Conservação, e ser adotada como um
processo que oferece aos indivíduos uma visão mais abrangente, buscando uma transformação no
modo se ver o ser humano, considerando este como parte integrante da natureza e não como
proprietário dela. Para que haja essa mudança de comportamento e a modificação dessa visão, é
importante o resgate do elo de pertencimento e identificação frente a tudo aquilo que está vivo. À
vista disso, o contato dirigido com a natureza leva os indivíduos a possuírem experiências positivas
frente os ambientes naturais, despertando neles os sentimentos de pertencimento e afetividade que
os levam à sensibilização ambiental. Dessarte, o presente trabalho tem por objetivo apresentar a
metodologia do aprendizado sequencial como proposta para o desenvolvimento de atividades de
vivências em Unidades de Conservação fornecendo assim subsídios de Educação Ambiental para
essas áreas. Realizado na Floresta Nacional de Palmares, em Altos – PI, e tratando-se de um estudo
exploratório-descritivo baseado nos pressupostos da pesquisa qualitativa, adotando como
instrumentos de coleta de informações os registros fotográficos e observações registradas em
relatórios de campo, o presente trabalho avaliou a relevância de atividades de Educação Ambiental
pautadas na metodologia do aprendizado sequencial, realizadas na presente Unidade de
Conservação. É percebível que essas atividades podem servir de aporte para essas áreas legalmente
protegidas já que esses espaços são detentores de um grande potencial para envolver os indivíduos
com a natureza, imergindo-os no ambiente que elas preservam e servindo como atividades turístico-
recreativas para esses espaços naturais.

Palavras- chave: Antropocêntrico; Ambientes naturais; Aprendizado Sequencial.


ABSTRACT
The current discourse of development and sustainability still finds support in the
anthropocentric way of seeing the human being and thus an exorbitance of negative factors
directly affect the conditions of life on the planet, which is reaching the verge of absolute
uncontrolled. In this sense, it is important to change not only behaviors and attitudes, but also
values, and it is in this context that Environmental Education arises, and it must be present in
the most diverse environments, including Conservation Units, and be adopted as a process
which offers individuals a more comprehensive view, seeking a transformation in the way they
see the human being, considering it as an integral part of nature and not as its owner. For this
change in behavior and the modification of this view, it is important to rescue the link of
belonging and identification with all that is alive. In view of this, the direct contact with nature
leads individuals to have positive experiences in the face of natural environments, awakening
in them the feelings of belonging and affection that lead them to environmental awareness.
Thus, the present work aims to present the methodology of sequential learning as a proposal for
408
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

the development of living activities in Conservation Units, thus providing subsidies for
Environmental Education for these areas. Carried out in the Palmares National Forest, in Altos
- PI, and as an exploratory-descriptive study based on the assumptions of qualitative research,
adopting as instruments of information collection the photographic records and observations
recorded in field reports, the present work evaluated the relevance of Environmental Education
activities based on the sequential learning methodology, carried out in this Conservation Unit.
It is noticeable that these activities can serve as a contribution to these legally protected areas
since these spaces have a great potential to involve individuals with nature, immersing them in
the environment that they preserve and serving as tourist-recreational activities for these spaces
natural.

Keywords: Anthropocentric; Natural environments; Sequential Learning.

INTRODUÇÃO

Atualmente tem-se em mãos uma crise socioambiental decorrente das ações humanas
sobre o meio ambiente, crise essa facilmente identificada e pontuada nas agendas das diversas
nações do século XXI, além de ser considerada abrangente, complexa e nunca vista
anteriormente na história. Diversas são as linhas de pensamento que estudam, geram hipóteses
e perfilham respostas para o atual contexto de alterações ambientais. Um desses pontos encontra
respaldo no modo antropocêntrico de se ver o ser humano.
Ganhando intensidade no período da Revolução Industrial, no século XVIII, o atual
modelo desenvolvimentista, baseado no acumulo de capital, assume um caráter de desrespeito
não só para a humanidade em si, mas também para a natureza pois origina uma exorbitância de
fatores negativos que afetam diretamente as condições de vida do planeta, estando este
chegando às raiais do absoluto descontrole. Nesse sentido, é importante uma mudança não só
de comportamentos e atitudes, mas também de valores.
É nesse contexto difamatório perante o meio ambiente que surge a Educação
Ambiental, considerada um instrumento indispensável na busca e construção de novos
conhecimentos e paradigmas, objetivando minimizar e tentando reverter o atual quadro
degradante que o meio ambiente e a sociedade como um todo se encontram. Sob essa ótica, a
Educação Ambiental almeja novas relações entre o ser humano e o meio em que ele vive.
A mera transmissão de informações sobre processos ecológicos e conceitos
relacionados aos recursos naturais torna-se um processo parco na busca de uma Educação
Ambiental crítica e transformadora já que para uma Educação eficiente perante o meio ambiente
as ações devem buscar uma mudança de atitudes, percepções e ações frente a valores
ambientais, sociais e culturais. Dentro desse ideário, as atividades de Educação Ambiental em
áreas naturais surgem como uma importante forma de se educar tendo em vista o caráter
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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

reflexivo que elas possuem. No mais, as Unidades de Conservação (UCs) são tidas como
detentoras de um grande potencial para o desenvolvimento de ações relacionadas à Educação
Ambiental tendo em vista a capacidade ecopedagógica que essas áreas possuem.

EDUCAÇÃO AMBIENTAL E UNIDADES DE CONSERVAÇÃO: UM DIÁLOGO


NECESSÁRIO

Parafraseando o ideário anterior, o meio ambiente vem ganhando destaque dentro da


sociedade contemporânea por conta dos impactos que vem sofrendo ao longo das últimas
décadas (POTT; ESTRELA, 2017). Esses impactos são provenientes de diversos fatores como
desmatamento, poluição do ar e da água, o atual modelo produtivo agrícola, uso de agrotóxicos,
dentre outras ações humanas que demonstram que a natureza e seus recursos possuem limites
que não atendem ao atual modelo desenvolvimentista. Decerto, a mudança no atual padrão de
crescimento – amplamente confundido com desenvolvimento – requer a atuação ativa dos
cidadãos na composição de novos estios de vida (PELICIONE, 1998).

Sob essa ótica, a Educação Ambiental deve possuir um enfoque transformador e


emancipatório tendo em vista a busca por novas relações entre o ser humano e o meio em que
ele se encontra. Essa nova forma de enxergar a educação, que adota os propósitos e diretrizes
da educação popular regada por Paulo Freire, ainda gera confusões nos mais diversos contextos
pois tratar da educação frente o meio ambiente hodiernamente limita-se à explanação de
conceitos ecológicos e concepções sobre as atuais modificações ambientais. No entanto, para
sua efetividade é importante adotar metodologias que conduzam os indivíduos a serem
reconhecidos como agentes ativos nos processos ambientais (SATO, 2002).
Cervantes et al. (1992), afirma que em seu sentido mais amplo, a Educação Ambiental
tem o papel de permear pela educação de modo geral (caráter interdisciplinar), além de estar
presente nos mais diversos ambientes e ser entendida como um processo que favorece ao
indivíduo uma visão mais abrangente, que propõe continuidade e que busca desenvolver
atitudes e habilidades para que haja uma participação crítica da sociedade nas questões
ambientais.
À vista disso, a Educação frente o meio ambiente deve se encontrar nos mais
diversificados contextos, o que não seria diferente no âmbito das Unidades de Conservação
(UCs), já que a Educação Ambiental é tida como uma das diretrizes a serem seguidas pelo

410
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Sistema Nacional de Unidade de Conservação - SNUC (BRASIL, 2000) e um dos objetivos a


serem alcançados no que se refere a essas áreas de preservação:
De um modo geral, as ações de Educação Ambiental nesses espaços têm por
objetivo a mudança de atitude dos indivíduos em relação ao espaço protegido,
contribuindo para a construção de novos conhecimentos e valores necessários
à conservação da biodiversidade e ao desenvolvimento socioambiental
(BRASIL, 2016, p. 10).

As Unidades de Conservação foram criadas para minimizar a perda do cada vez menor
meio ambiente, sendo consideradas uma das principais estratégias para a conservação da
biodiversidade (RYLANDS; BRANDON, 2005). Entretanto, somente a criação das Unidades
não atinge a conservação dos ecossistemas se não houver uma boa relação ser humano-natureza
(LUCENA, 2010). Ademais, essas áreas, além de serem tidas como ‘’ilhas’’ isoladas da
sociedade, também são carentes de condições e infraestrutura para a realização de atividades
que complementem os motivos de sua implantação (BANZATO, 2014).
É importante que se adote um olhar sobre as Unidade de Conservação que as considere
como espaços com um grande potencial para a ações e práticas de Educação Ambiental
(SAMMARCO, 2005). Nesses locais é possível a realização de diversas ações educacionais,
como trilhas interpretativas (VASCONCELLOS, 1997), aulas de campo (VIVEIRO; DINIZ,
2009), atividades de vivências com a natureza (CORNELL, 2005) e atividades contemplativas
(MARIN; OLIVEIRA; COMAR, 2003), além de práticas de eco-pedagogia (GUTIÉRREZ;
PRADO, 2002) e ecoturismo (KLEIN, 2011).
Portanto, é de suma importância que a Educação Ambiental permeie pelas UCs de
modo a criar um diálogo que favoreça a manutenção de ambientes naturais. Esse diálogo deve
ser construído adotando como principal e primeiro objetivo o de sensibilizar os indivíduos
frente o pensamento ambiental. Mendonça (2017), defende que um contato mais direto com o
ambiente natural afeta o domínio afetivo, desde que o trabalho seja direcionado ao aprendizado
e à sensibilização. Sobre a sensibilização, Sato (2002) argumenta que um dos objetivos da
Educação Ambiental é o de Sensibilização ambiental sendo este o ‘’processo de alerta,
considerado como primeiro objetivo para alcançar o pensamento sistêmico da Educação
ambiental’’ (SATO, 2002, p. 24).
Sendo assim, e no âmbito das UCs, as ações desenvolvidas nessas áreas não devem se
limitar a apresentações de conceitos e temas ecológicos (JACOBI; FLEURY; ROCHA, 2004),
bem como não devem ser restringidas a passeios sem objetivos definidos. Essas áreas têm forte
potencial para se trabalhar a Educação Ambiental e é necessário que os indivíduos adentrem
411
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

nesses ambientes e encontrem práticas que os façam refletir sobre a necessidade de se adotar
uma visão reflexiva perante o meio ambiente, além de fazê-los perceber que este é um conjunto
integrado que inter-relaciona as mais diversas formas de vida.
O CONTATO DIRIGIDO COM A NATUREZA: PROPOSTA PARA UMA
EDUCAÇÃO AMBIENTAL EFETIVA E AFETIVA

O contato direto com o ambiente natural facilita no processo de mudança de


comportamento, além de ser parte significativa do processo educativo em Educação Ambiental
(NEIMAN, 2007). A inserção dos indivíduos em ambientes naturais desperta mais que o
domínio cognitivo, mas também o sensitivo. Nesse sentido, Mendonça (2017) defende que as
atividades em áreas naturais suscitam muitas reflexões que exploram campos cada vez mais
sutis e delicados. Ao mesmo tempo, Mendonça e Neiman (2013) consideram que as atividades
em áreas naturais abrem espaço aos participantes para novas formas de pensar levando estes a
uma participação ativa na formulação de seus valores e na reestruturação de relações entre os
indivíduos e entre estes e o meio ambiente.
Frente a essa linha de pensamento, Ferreira e Bomfim (2010) preceituam que para uma
mudança de comportamentos e uma modificação na visão – que deve passar de um paradigma
antropocêntrico para o biocêntrico -, é importante resgatar nos indivíduos o elo de
pertencimento e a identificação frente a tudo aquilo que está vivo. Para isso, ‘’a vivência
corporal poderia ser um caminho de resgate do espaço ambiental e de resgate da sensibilidade
para com a vida’’ (FERREIRA; BOMFIM, 2010, p. 50). No mais, ‘’As práticas corporais em
ambientes naturais possibilitaram explorar os sentidos corporais de forma lúdica, sensitiva e
reflexiva, emergindo sentimentos de alegria, felicidade e diversão’’ (NEUENFELDT; LIMA,
2016, p. 64).
A proposta de uma Educação Ambiental por meio do contato dirigido com a natureza
leva os indivíduos a possuírem experiências positivas frente os ambientes naturais, despertando
nos participantes os sentimentos de pertencimento e afetividade que os levam à sensibilização
ambiental, tendo assim uma base para a mudança de visão frente a natureza. Para Mendonça
(2017), a educação para o ambiente é mais bem fundamentada quando realizada ao ar livre, em
meio a outros seres vivos. A prioridade aqui vai além das informações e teorizações, alcançando
as experiências e influenciando na formação de valores.
Desse modo, ações voltadas para a educação ambiental baseadas no contato direto com
ambiente naturais proporciona aos indivíduos mais que o aprendizado, mas também o
412
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

florescimento de sentimentos e valores que assumem suma importância no processo de


sensibilização e na transformação socioambiental dos indivíduos. Assim sendo, tais atividades
podem ser trabalhadas no âmbito das Unidades de Conservação (MENDONÇA, 2007) de modo
a oferecer aos visitantes dessas áreas mais que jargões técnicos, mas também uma reflexão
sobre a relevância das Unidades de Conservação, a Importância de se preservar o meio ambiente
e a dimensão atingida ao serem adotadas práticas sustentáveis no cotidiano.
Dessarte, o presente trabalho tem por objetivo apresentar a metodologia do
aprendizado sequencial como proposta para o desenvolvimento de atividades de vivências em
Unidades de Conservação fornecendo assim subsídios de Educação Ambiental para essas áreas.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

As atividades aqui descritas foram realizadas na Floresta Nacional de Palmares, uma


Unidade de Conservação Federal de Uso Sustentável situada no município de Altos, no Estado
do Piauí, considerada a primeira e única FLONA em território Piauiense. Gerenciada pelo
Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade - ICMBio, a FLONA Palmares é
legalmente instituída pelo decreto presidencial de 21 de fevereiro de 2005, publicado no Diário
Oficial da União (DOU) em 22 de fevereiro de 2005. Em seu decreto de criação, a FLONA foi
instituída visando ‘’promover o manejo de uso múltiplo dos recursos florestais, a manutenção
de banco de germoplasma in situ de espécies florestais nativas, e das características de
vegetação de cerrado e caatinga, a manutenção e a proteção dos recursos florestais e da
biodiversidade, a recuperação de áreas degradadas e a educação ambiental’’ (BRASIL, 2005).
Considerada uma das menores Florestas Nacionais, contendo aproximadamente 170
hectares, dentre os principais atrativos para visitantes da FLONA Palmares estão as trilhas. De
acordo com Feitosa et al. (2012), a floresta possui um total de 11 trilhas. No entanto, de acordo
com informações prestadas pela atual gestão da UC, a Unidade conta presentemente com 10
trilhas.
O presente trabalho trata-se de um estudo exploratório-descritivo baseado nos
pressupostos da pesquisa qualitativa. De acordo com Godoy (1995), essa pesquisa não procura
enumerar e/ou medir os eventos estudados, nem emprega instrumental estatístico na análise dos
dados. Parte de questões ou focos de interesses amplos, que vão se definindo à medida que o
estudo se desenvolve. Envolve a obtenção de dados descritivos sobre pessoas, lugares e
processos interativos pelo contato direto do pesquisador com a situação estudada, procurando
compreender os fenômenos segundo a perspectiva dos sujeitos, ou seja, dos participantes da
413
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

situação em estudo. Quanto aos fins, adotou-se os pressupostos da pesquisa descritiva (GIL,
1999) e aplicada (FLEURY; WERLANG, 2017). Em relação aos instrumentos de coleta de
informações, utilizaram-se registros fotográficos (GODOY, 1995) e observações registradas
em relatórios de campo.
Como aporte metodológico para a promoção da Educação Ambiental, o presente
trabalho adotou o aprendizado sequencial (CORNELL, 2005) que propõe a valorização do meio
natural como instrumento educativo. Cornell (2005) considera que:

o aprendizado sequencial como uma simples, porém, poderosa estratégia de


ensino, consiste na escolha de atividades lúdicas adequadas, como dinâmicas
e jogos, baseadas em princípios universais de consciência e de educação
vivencial, organizadas e direcionadas perante uma sequência de 04 estágios –
despertar do entusiasmo; concentrar a atenção; experiência direta; e
compartilhar a inspiração – desenvolvidos de forma sutil, gradativa e
divertida, com a intenção de criar um fluxo de energia, que vá de um estado
de maior agitação para um estado de maior concentração da atenção e
envolvimento, sendo que esses estágios fluem de um para o outro de maneira
suave e natural, e o indivíduo ao passar pelos diferentes estágios, alcança as
estruturas mentais proporcionadas pelas experiências diretas e profundas com
a natureza (CORNELL, 2005, p. 45).

As Ações de Educação Ambiental por meio do contato dirigido com a natureza foram
realizadas com crianças e adolescentes dentro da FLONA Palmares, por intermédio do projeto
socioeducativo intitulado ‘’Pelotão Mirim’’. Nesse projeto participam adolescentes e crianças
que residem no entorno da Unidade de Conservação e que vão para a UC aos finais de semana
para praticar atividades educacionais pautadas nos princípios da conservação.
No âmbito do presente trabalho, foram inseridas algumas outras atividades baseadas
na metodologia do aprendizado sequencial. Essas atividades deram-se por meio de vivências
ao ar livre, com a comunhão e o contato direto com a natureza para estimular nos participantes
os sentidos, as percepções, as assimilações e os saberes que eles possuíam. As atividades e suas
respectivas datas são detalhadas a seguir, bem como a quantidade de participantes em cada uma,
o modo como foram feitas, divisões de grupos e os locais de realização:

Quadro 1: Data, quantidade, Atividade desenvolvida e local de realização


Data de Atividade
Quantidade de participantes Local
realização desenvolvidas
29 Grupo 1 - 15 • Encontre a Entorno da sede
participantes crianças com árvore; Administrativa da
16/03/2019
divididos idades entre 8 e 13 • Predador e presa; FLONA
anos Palmares
414
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

em dois Grupo 2 - 14 • Trilha cega; Trilhas


grupos crianças com
idades entre 14 e 17
anos
Grupo 3 - 9 participantes com • Duplicação. Trilhas
27/04/2019 idades entre 4 e 12 anos
Fonte: própria, 2019.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Durante a realização das atividades de vivência procurou-se trabalhar com os
participantes os sentidos corporais, além da ludicidade presente em cada atividade, dando assim
abertura à experiência do contato dirigido e vivenciado, desenvolvendo um processo vivencial
em contato com o ambiente natural no intuito de contribuir com a sensibilização ambiental.
Apesar de as atividades terem sido realizadas com crianças, elas são factíveis de adaptação
podendo ser tratadas também com adultos (BRASIL, 2006; MARAGNI, 2014).
Na primeira atividade realizada com o grupo 1 – encontre a árvore – alguns
participantes eram vendados e levados por um outro participante até alguma árvore. O
participante de olhos vendados deveria vivenciar a árvore escolhida pelo colega utilizando o
tato, percebendo características da árvore selecionada e sentindo sua singularidade. Em seguida,
todos eram levados a um local mais afastado, as vendas eram retiradas e os participantes
tentavam descobrir qual árvore estava sendo tocada anteriormente.

FIGURA 1: Imagem dos participantes do Pelotão Mirim da FLONA Palmares Realizando a Atividade ‘encontre
a árvore’

Fonte: Própria, 2019.

Ao realizarem essa atividade ficou perceptível que o contato mais direto e intenso
instiga nos participantes o sentimento de afeto (compaixão) frente à natureza, por intermédio
do vivenciar, e não apenas pelo observar. Assim, o reconhecimento desta não se limita a
aspectos físicos, mas se dá pela sinergia que pode haver entre o indivíduo e a natureza no
momento do encontro, da descoberta (BUENO; SILVA, J.; SILVA, C.; PAULA, 2015).
415
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Na segunda atividade realizada também com o grupo 1 - predador e presa – os


participantes formavam um círculo e, no centro dele colocavam-se dois voluntários vendados:
um representando um predador e outro representando uma presa. Os outros participantes
deveriam citar exemplos de animais representando predadores e presas que eles conheciam do
seu cotidiano e a um dos participantes vendados era atribuído o papel de predador e ao outro, o
papel de presa. Por estarem vendados, os voluntários da brincadeira tentavam utilizar ao
máximo os outros sentidos, ouvindo os passos e sentindo as pistas – fossem elas para fugir
(presa) ou para capturar (predador).

FIGURA 2: Imagem dos participantes do Pelotão Mirim da FLONA Palmares Realizando a Atividade ‘predador
e presa’

Fonte: Própria, 2019.


Por exigir concentração e atenção, essa atividade adota como ponto positivo o fato de
desviar os pensamentos para se ter uma melhor percepção do ambiente. Para Cornell (2005), o
fato de ter a visão impedida de ser utilizada dá aos participantes a possibilidade de recorrer à
audição, tato e olfato, sentidos menos utilizados. Nisso, ficou perceptível que a atenção dos
participantes focou nesses outros sentidos e assim as percepções ganharam intensidade por meio
deles. ‘’Os burburinhos de nossas mentes são reduzidos e as informações trazidas pelo estímulo
dos outros sentidos passam a predominar’’ (CORNELL, 2005, p. 43).
Na atividade ‘’trilha cega’’, realizada pelo grupo dois, alguns participantes do grupo
eram vendados e seguiam guiados pelos outros por uma das trilhas da FLONA Palmares. Em
determinados pontos a trilha era interrompida e os participantes deveriam vivenciar ao máximo
os pontos de parada – sentir odores, texturas, ouvir sons, explorar árvores ou habitats, comparar
climas locais, vivenciar o ambiente.

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

FIGURA 2: Imagem dos participantes do Pelotão Mirim da FLONA Palmares Realizando a Atividade trilha
cega’

Fonte: Própria, 2019.

Nessa atividade ficou evidente que alguns participantes demonstraram medo e


insegurança em realizá-la, sentimentos esperados – resumidamente, o sentimento de ‘’Tensão’’
(CORNELL, 2005). Em contrapartida, esses sentimentos permitiram aos participantes se auto
estimularem a partir do tato e da audição, no intuito de reconhecerem o espaço percorrido e o
arranjo do ambiente havendo assim a promoção de parte da experiência em contato direto com
a natureza (CORNELL, 2005; MENDONÇA, 2017).
Na atividade denominada ‘’duplicação’’, realizada pelo grupo 3, os pesquisadores
apanharam na Floresta algumas frutas, sementes, fungos e folhas de árvores espalhadas no chão.
Momentos antes da trilha iniciar, os objetos coletados foram mostrados aos participantes que
saíram para a trilha com o olhar atento no intuito de encontrar um outro exemplar similar para
fazer a duplicação.

FIGURA 2: Imagem dos participantes do Pelotão Mirim da FLONA Palmares Realizando a Atividade
‘duplicação’

Fonte: Própria, 2019

Nessa atividade o fato de se atentarem aos detalhes da floresta na busca pelos objetos
naturais levou os participantes a observarem com mais atenção os detalhes que se encontram
nas entrelinhas da natureza, detalhes esses que muitas vezes passam despercebidos
417em
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

atividades realizadas nesses ambiente já que estas, em muitos caso, não possuem objetivos pré-
definidos. No mais, tal momento permitiu aos participantes conhecerem um pouco mais da
FLONA e adotarem um olhar mais minucioso frente o ambiente natural já que, segundo
Mendonça (2017), ‘’não priorizamos o desenvolvimento do olhar sobre os outros seres vivos e
nos relacionamos com senso prático como se eles não fossem vivos. Não damos importância à
vida que flui neles’’ (MENDONÇA, 2017, p. 9).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao serem realizadas em ambiente naturais, acredita-se que as atividades baseadas na


metodologia do aprendizado sequencial possam atender aos objetivos da Educação Ambiental
voltados para o ambiente não-formal. No mais, essas atividades podem servir de aporte para as
Unidades de Conservação já que essas áreas são detentoras de um grande potencial para
envolver os indivíduos com a natureza, imergindo-os no ambiente a que elas resguardam e
servindo como atividades turístico-recreativas para esses espaços naturais. Ademais, o contato
dirigido com a natureza, se bem gerido, pode obter como resposta a sensibilização dos
indivíduos frente o meio ambiente, além de servir um paralelo por promover experiências
significativas já que considera ao máximo os sentidos e os sentimentos dos envolvidos.

À vista disso, o presente trabalho objetivou mostrar as atividades de vivências com


ambientes naturais no intuito de ofertar aos visitantes das Unidades de Conservação ações
direcionadas para a aprendizagem e voltadas para resgate de aspectos intrínsecos dos indivíduos
que podem servir de aporte para uma educação efetiva e afetiva frente o meio ambiente.

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TERRITÓRIO E IDENTIDADE CULTURAL: A RENDA DE BILROS DE MORROS


DA MARIANA, ILHA GRANDE – PIAUÍ.

Rita de Cassia Pereira de Carvalho


Simone Cristina Putrick

RESUMO
O turismo é atividade econômica que concentra riqueza para determinados lugares e pessoas,
sem benefício para núcleos turísticos inoperantes. No Nordeste e, em especial, no Piauí, a
atividade se dá de forma convencional e alternativa. A primeira voltada ao mercado e geração
de lucros. Enquanto a alternativa desenvolvida pela comunidade ao oferecer produtos culturais
em pequenos negócios para superação da pobreza. O artigo tem como objetivo apresentar
suscintamente a relação entre o território e a identidade cultural na prática da renda de bilros,
na comunidade de Morros da Mariana, localizada no município de Ilha Grande – Piauí. A
temática apresenta é relevante pelo significativo crescimento adquirido pelo turismo na
sociedade contemporânea e pela produção, consumo e organização de territórios pelo turismo.
Entre os problemas apresentados, destacamos que: O trabalho das rendeiras de bilro em Morros
da Mariana tem se apresentado como fator de identidade cultural para comunidade? No texto
apresentamos os eixos basilares dos objetivos percorridos, para isso, buscam-se, na literatura,
estudos que argumentem e destaquem os conceitos de Turismo, Região, Território, abrangendo
a perspectiva cultural e de comunidades e identidade territorial, que norteiam a teorização do
objeto de estudo. Metodologicamente pauta-se no caminho etnográfico para compreensão do
comportamento do grupo e entendimento dos saberes e fazeres de mulheres nordestinas.
Buscou-se entender os procedimentos técnicos da elaboração da renda. Avaliou-se processos e
modos de fazer a renda de bilro em Ilha Grande - Piauí. A área de estudo e Ilha Grande no
estado do Piaui, município que faz parte do Roteiro Turístico Rota das Emoções, juntamente
com mais 14 municípios que representam conjuntamente o Parque Nacional dos Lençóis
Maranhenses, Delta do Parnaíba e Parque Nacional de Jericoacoara. Conclui-se que a
identidade cultural e a valorização da renda de bilro produzida em Morros da Mariana têm
contribuído para valorizar o lugar e os moradores, além de se constituir como um produto
turístico. O trabalho das rendeiras de bilro em Morros da Mariana tem se apresentado como um
fator de identidade cultural para comunidade, ao se afirmar como pertencente ao território.

Palavras-chave: Turismo; Território; Identidade Cultural; Renda de bilros, Piaui

ABSTRACT
Tourism is an economic activity that concentrates wealth for certain places and people, with no
benefit for inoperative tourist centers. In the Northeast and, especially, in Piauí, the activity
takes place in a conventional and alternative way. The first focused on the market and
generating profits. As the alternative developed by the community when offering cultural
products in small businesses to overcome poverty. The article aims to briefly present the
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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

relationship between the territory and cultural identity in the practice of bobbin lace, in the
community of Morros da Mariana, located in the municipality of Ilha Grande - Piauí. The theme
presented is relevant for the significant growth acquired by tourism in contemporary society
and for the production, consumption and organization of territories by tourism. Among the
problems presented, we highlight that: Has the work of bobbin lace makers in Morros da
Mariana been presented as a factor of cultural identity for the community? In the text, we
present the basic axes of the objectives pursued, for that, studies are sought in the literature that
argue and highlight the concepts of Tourism, Region, Territory, covering the cultural and
community perspective and territorial identity, which guide the theorization of the study object.
Methodologically, it is guided by the ethnographic path for understanding the group's behavior
and understanding of the knowledge and practices of Northeastern women. We sought to
understand the technical procedures for preparing income. Processes and ways of making
bobbin lace in Ilha Grande - Piauí were evaluated. The study area and Ilha Grande in the state
of Piaui, a municipality that is part of the Rota das Emotions Touristic Route, together with 14
other municipalities that jointly represent the Lençóis Maranhenses National Park, the Parnaíba
Delta and the Jericoacoara National Park. It is concluded that the cultural identity and the
valorization of the bobbin lace produced in Morros da Mariana have contributed to enhance the
place and the residents, in addition to being a tourist product. The work of the bobbin
lacemakers in Morros da Mariana has been presented as a factor of cultural identity for the
community, by asserting itself as belonging to the territory.

Keywords: Tourism; Territory; Cultural Identity; Bobbin lace, Piaui

INTRODUÇÃO
O tema do texto refere-se à identidade cultural e a valorização da renda de bilros
produzida em Morros da Mariana, localizada no município de Ilha Grande, o estado do Piauí.
Com o objetivo de apresentar os aspectos relacionados à produção da renda de bilros desta
comunidade e como pode ser relacionada à valorização cultural, e consequentemente uma
potencialidade para o turismo.
A afirmação de um grupo e seu é relevante para compreender os processos culturais de
uma comunidade. A renda de bilro produzida pelas rendeiras de Morros da Mariana em Ilha
Grande – Piauí é uma arte repassada de geração em geração que é reconhecida nacional e
internacionalmente, com participação em vários desfiles de moda. O reconhecimento para o
modo de fazer da renda é um patrimônio para a comunidade e para o território.
O texto foi organizado metodologicamente, de acordo com o problema ao utilizar o
método qualitativo para entender a dinâmica social. Para atingir o objetivo proposto foi utilizada
a descrição, ao abordar as características do grupo pesquisado. Em conformidade aos
procedimentos técnicos foi realizado o levantamento bibliográfico a cerca dos temas abordados
sobre os processos e modos de fazer a renda de bilro em Ilha Grande - Piauí.

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

O texto está estruturado em um tópico que aborda conceitualmente sobre território


cultural e como os indivíduos ou as comunidades afirmam sua identidade territorial.
Posteriormente, é descrito o processo de elaboração e como o trabalho sobre a renda de bilro
em Ilha Grande é realizada uma explanação sobre a renda, como chegou ao Brasil e a
importância da valorização cultural. O artigo finaliza com algumas considerações sobre o tema
e apresentação de proposição de desenvolvimento.

TERRITÓRIO E IDENTIDADE CULTURAL


Território é uma das categorias de análise da ciência geográfica, abordado nas ciências
naturais com uma visão naturalista e física. Além de ser um termo incorporado às discussões
em diversas disciplinas, entre elas a antropologia, sociologia, ciência política e a economia.
Numa perspectiva mais tradicional, Raffestin (1993) destaca que o território é
relacionado à apropriação do espaço pela ação de diversos atores, relacionada aos jogos de
poder, que definem uma identidade especifica ao território. Raffestin (1993, p. 143) afirma que
“ao se apropriar de um espaço, concreta ou abstratamente (por exemplo, pela representação), o
ator “territorializa” o espaço”. Assim, o território é caracterizado pelas relações de poder que
são resultantes das ações sociais que se transformam num processo de construção social.
Numa abordagem antropológica, Tizon (1995, p. 56) destaca que o território é o
“ambiente de vida, de ação, e de pensamento de uma comunidade, associado a processos de
construção de identidade”. O território é um espaço de relações sociais, que se referem ao
pertencimento de uma dada comunidade local que tem sua identidade construída, e que passa a
ser associada a uma ação coletiva de apropriação e de poder. O modo de fazer uma comunidade
ou de uma determinada atividade é uma forma de expressão da cultura local que define a
identidade e que por intermédio desta se estabelecem as relações dos indivíduos e dos grupos.
O território que é construído a partir das relações sociais passa a ser um espaço de
desenvolvimento multidimensional, onde as diferenças sociais interagem e resultam no
rompimento de impedimentos político-institucionais locais. Assim, o local é construído
permanentemente a partir da memória coletiva, das relações sociais e das interações locais e
externas (FLORES, 2006).
A cultura de um povo é constituída dos acontecimentos, costumes, modo de vida e
edificações, fortalecidas pela ação dos atores territoriais, consequentemente estas agregam
valor a comunidade. A cultura é um conjunto de características espirituais, materiais,

424
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

intelectuais e afetivas que se referem a um grupo social, e que engloba os modos de vida,
valores, tradições e crença de um grupo (CLAXTON, 1994).
Bauman (2005, p. 21-22), mostra que:

[...], a “identidade” só nos é revelada como algo a ser inventado, e não


descoberto; como alvo de um esforço, “um objetivo”; como uma coisa que
ainda se precisa construir a partir do zero ou escolher entre alternativas e então
lutar por ela e protege-la lutando ainda mais [...].

A identidade é vista como a representatividade, como um esforço coletivo de um grupo


como forma de fixação e luta para sua proteção, assim as características expressivas de uma
comunidade referem-se ao seu pertencimento ao território, ou seja, “o anseio por identidade
vem do desejo de segurança” (BAUMAN, 2005, p. 35) Logo, a identidade se apresenta pela
forma como determinados indivíduos, grupos ou comunidades se inter-relacionam (DA
MATTA, 1991), e dessas ações resultam produtos que os caracterizam coletivamente como os
bens materiais ou imateriais, onde os imateriais se referem ao modo de fazer determinados
objetos.
Bauman explica ainda que a “a construção da identidade, por outro lado, é guiada pela
lógica da racionalidade do objetivo (selecionar o quão atraentes são os objetivos que podem ser
atingidos com os meios que se possui)” (BAUMAN, 2005, p. 55). A identidade é construída
com base naquilo que se tem acesso, que edificado pela comunidade seja material ou
imaterialmente.
Kashimoto et al (2002, p. 40) discorre que:

Ao processo de conhecimento da identidade cultural do local agrega-se, de


forma indissolúvel, a necessidade do acesso da população à educação, à qual
compete contemplar o conhecimento científico e a reflexão acerca das
experiências e conhecimentos, tanto globais quanto locais.

A educação é entendida como uma forma de valorização da memória e dos costumes de


uma comunidade, pois vai incentivar a afirmação e fortalecimento da identidade, por meio do
respeito e interpretação da diversidade cultural, das tradições, crenças e diferenças. Além de
possuir um forte compromisso com a preservação do patrimônio cultural e natural de um
território, por meio de escolas de educação e interpretação ambiental e também pelas práticas
de turismo pedagógico.

425
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

A identidade cultural e sua afirmação são de importância para o fortalecimento da


comunidade e do seu território, a partir desse entendimento e medidas de valorização é possível
que o desenvolvimento local seja priorizado e alcançado.

A RENDA DE BILROS DE ILHA GRANDE – PI

Acredita-se que a renda de bilros tem sua origem na Itália e foi difundida em diversos
países europeus, entretanto “foi em Flandres, porém que a renda de bilros foi inventada,
segundo o historiador belga Pierre Verhaegen” (GONÇALVES; CORIOLANO, 2007, p. 264).
Calado (2003) amplia esse entendimento ao discorrer sobre o surgimento da renda na Itália, a
Flandres e a França que disputam entre si o status de berço tanto das rendas de agulha quanto
de bilros, entretanto a renda de agulhas é considerada criação da Itália (Veneza) e das rendas
de bilros a Flandres (CALADO, 2003).
Inicialmente a renda era um símbolo de distinção e nobreza. Kanitz e Vasconcelos
afirmam que:

Com o passar do tempo, fazer renda tornou-se parte da instrução formal


apropriada às moças ‘de família’, sendo ensinadas em escolas e conventos de
Portugal, Espanha, Alemanha, entre outros. No Brasil, a renda desembarcou
do Reino juntamente com prendadas senhoras portuguesas que vinham
acompanhando seus maridos, mas se difundiu de maneira específica
(KANITZ; VASCONCELOS, 2017, p. 320).

No Brasil, as rendas vieram junto com os colonizadores, com influência açoriana e no


Nordeste foi introduzida pelos holandeses, devido ao processo de colonização no século XVII.
Nessa região é, ainda hoje, conhecida como um dos maiores produtores de rendas de bilros e o
estado do Ceará é o mais representativo nessa técnica. Na região Sul é um dos primeiros centros
receptores devido a imigração açoriana.
Brussi (2015, p. 17) ressalta que:

Entre as rendas produzidas no sul do país guardam distinções em relações a


peças feitas na faixa do Equador, fato que poderia refletir as especificidades
das rendas dos Açores, que tanto influenciaram a colonização naquela região.

Os primeiros núcleos colonizadores foram localizados na região Sul do Brasil, onde a


arte era ensinada pelas portuguesas a algumas mestiças e depois a arte foi sendo repassada de
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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

família em família, consequentemente foi espalhada por todo o país (MENDONÇA, 1959).
Inicialmente a renda de bilros se concentrava entre as mulheres de todas as classes sociais,
entretanto, a produção, atualmente é concentrada em comunidades de artesãs, onde é necessário
que projetos sejam desenvolvidos para a valorização, visibilidade e perpetuação da atividade
(SILVA; PERRY, 2018).
A renda de bilros é uma importante fonte de renda e valor simbólico, como afirma
Wendhausen (2011, p. 9):

A renda de bilro é um desses legados de importante valor simbólico. Trazida


por imigrantes que aqui chegaram em 1748, vindo de açores, a arte de tramar
representou uma viral fonte de renda. [...] Nas almofadas de bilros esposas e
filhas de pescadores teciam os fios para ocupar o tempo e deles também tirar
o sustento do lar.

Os maiores centros produtores de renda de bilro estão localizados no Nordeste, em


específico nos Estados do Ceará, Pernambuco, Sergipe, Rio Grande do Norte, Paraíba e Piauí,
e também em Santa Catarina, porém também possuem ocorrências no Maranhão, Amazonas,
Pará e Rio de Janeiro (BRUSSI, 2015).
A produção em larga escala é feita no Nordeste, em específico no Ceará, e Sudeste
brasileiro, em especial nos estados do Rio de Janeiro e Espirito Santo, e na região sul,
exclusivamente, no estado de Santa Catarina (LODY E GEISEL, 1986). Para a produção da
renda é necessário, basicamente, fios de algodão branco, mas houve a inserção de novos tons e
outros tipos de fios, como viscose e seda.
No Piauí, os relatos afirmam que os trabalhos de renda tiveram seu início nas fazendas
de gado no sul do estado, que vinham do Vale do São Francisco. Lody e Geisel discorrem que:

[...] os primeiros núcleos de rendeiras surgiram e se desenvolveram nas


cidades piauienses de Oeiras, Paranaguá e Valença. Na parte norte do estado,
os núcleos formaram-se, inicialmente, nas cidades de Campo Maior,
Piracuruca e Parnaíba e, de modo geral, as rendeiras vinham do Ceará, que foi
um centro de difusão da arte da renda no interior nordestino (LODY, GEISEL,
1986, p. 13).

Segundo Sasaoka et al. (2014, p. 3):

A renda de bilro foi trazida para o Brasil pelos colonizadores de várias regiões
litorâneas de Portugal. Em Morros da Mariana, no município de Ilha Grande
- delta do rio Parnaíba, a 340 quilômetros de Teresina -, a renda bilro chegou
427
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

com os primeiros moradores, em meados do século XVII. No início dos anos


1990, foi constituída, com subsídio do governo do Estado do Piauí, a Casa das
Rendeiras e, mais tarde, constituída a Associação das Rendeiras de Morros da
Mariana.

Com relação aos materiais necessários para a produção da renda, Lody e Geisel (1986,
p. 24) descrevem que:

É uma renda tecida com bilros, tendo como base um papelão picado, também
chamado de “pique”, afixado numa almofada cilíndrica por meio de alfinetes
ou espinhos. A própria forma ou imagem da renda se distingue das demais
elaboradas com agulha. Há uma ligeira diferença, sobretudo nos motivos
usado, entre as rendas de bilro produzidas no nordeste e as elaboradas em
Santa Catarina e na região sudeste.

Os materiais necessários para a produção das peças de renda são uma base de almofada,
linha, bilros, alfinetes, pique e um suporte para a almofada.
A almofada é utilizada como suporte aos bilros e ao pique, formato arredondado e são
preenchidas com palha de carnaúba. No entanto, as almofadas são produzidas de acordo com a
preferência da rendeira.
Os bilros são os instrumentos onde a linha é enrolada a linha, o material utilizado para
sua produção é de acordo com a disponibilidade encontrada na região, no caso de Ilha Grande
é usada semente do coco babaçu.
As linhas de algodão utilizadas são na produção das peças, em sua maioria, são nas cores
branca e bege, entretanto novas são usadas conforme a demanda do cliente. Os alfinetes de
cabeça colorida são usados para fixar os pontos de acordo com o desenho fixado no pique.
O pique é o molde da renda. São feitos de papelão ou outro material fácil de furar com
os alfinetes.

RENDA DE BILRO E VALORIZAÇÃO CULTURAL

Ilha Grande é um município localizado no norte do estado do Piauí, a 340 quilômetros


da capital Teresina, possui população estimada de 9.394 habitantes (IBGE, 2018). É banhado
pelo Oceano Atlântico e pelos rios Parnaíba e Igaraçu e faz limites com Parnaíba, além de fazer
parte da Área de Proteção Ambiental e Reserva Extrativista Marinha Delta do Parnaíba, é a
mais importante porta de entrada para o Delta do Parnaíba.

428
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Antes de ser emancipada politicamente, em 1994, Ilha Grande fazia parte do município
de Parnaíba e era conhecido como Morros da Mariana, esse nome é devido à senhora Mariana
Alexandre Viana, que se instalou as margens de um igarapé próximo ao rio Tatus no século
XVIII.
Ilha Grande faz parte do Roteiro Turístico Rota das Emoções, juntamente com mais 14
municípios que representam conjuntamente o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, Delta
do Parnaíba e Parque Nacional de Jericoacoara.
Em Ilha Grande há dois espaços onde são produzidas as rendas, a Associação das
Rendeiras de Ilha Grande – Casa das Rendeiras, esta é criada em 1993, e a Cooperativa de
Rendeiras do Delta. A arte de fazer renda é passada de mãe para filha, entretanto esse saber
fazer tem se perdido devido à falta de interesse dos jovens. Alguns cursos foram financiados e
realizados pelo Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena Empresa (SEBRAE), os cursos
foram relacionados ao acabamento das peças, precificação, entre outros.
Em virtude da moda sempre buscar inovação através de trabalhos artesanais, a renda de
Morros da Mariana foi descoberta do estilista Walter Rodrigues, que utilizou as peças para
agregar valor a sua coleção, que foram apresentados no São Paulo Fashion Week de 2001. O
trabalho das rendeiras ganhou valorização na mídia nacional e internacional, logo esse
reconhecimento e visibilidade proporcionou a valorização do trabalho das rendeiras e assim
houve convites para exportação de peças, bem como cursos para o aperfeiçoamento do trabalho.
De acordo com Kanitz e Vasconcelos (2017, p. 325):

A renda de bilros é um importante fator de representatividade da comunidade,


bem como tem se transformado, ainda que de forma amadora, em um produto
turístico do município, atraindo turistas que passam pela localidade ao longo
das visitações ao Delta do Parnaíba.

A valorização dos bens e modos de fazer uma determinada arte mantem a relação do
homem com o patrimônio, a partir disso há a valorização e o reconhecimento no tempo e do
território, bem como a construção de uma memória valorativa a comunidade.
A valorização cultural pode estar atrelada a atividade turística, pois a medida que é feita
a produção artesanal da renda e a comercialização para os turistas, a comunidade percebe que
seu trabalho e modo de fazer tem sido reconhecido e valorizado, provocando o sentimento de
pertencimento ao território e a cultura.

429
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

O artesanato da renda no Brasil, por ser transmitido pela tradição oral,


passando de geração em geração, tem suas origens ainda um tanto obscuras,
apesar das inúmeras tentativas históricas de se estabelecer uma data que
evidencie sua prática no país (FLEURY, 2002, p. 25).

A confecção da renda de bilro para o município de Ilha Grande gera sentidos e


significações aos grupos sociais, aqui descritos a associação e cooperativa, no âmbito social,
cultural e econômico que denotam a identidade cultural local. À medida que se reconhecem
inseridos numa atividade participativa e coletiva, entendem o processo de criação da memória
coletiva e individual, a partir da manifestação cultural da comunidade.
A renda de bilros de Morros da Mariana pode ser de metro, bico ou entremeios, e sua
aplicação é viável em peças de vestuário, assessórios e produtos para o lar, que são
desenvolvidos com técnicas e desenhos tradicionais ou recentes (POETA, 2014).
Zanella discorre sobre a renda de bilros ao afirmar que:

[...] trata-se de uma manifestação cultural e, como tal, deve ser entendida
como atividade social realizada por uma determinada coletividade. Desse
modo, ao aprendê-lo o sujeito apropria-se não somente de um fazer, mas de
toda a história e valores que o caracterizam, sendo que, ao mesmo tempo,
imprime a estes sua marca singular (ZANELLA, 2000, p. 236).

No caso das rendeiras de Ilha Grande, ao repassar o modo de fazer de geração para
geração, de mãe para filha, essa atividade passa a ser apropriada pelas jovens, estas se sentem
pertencentes à cultura e passam a fazer parte da memória coletiva da comunidade.
Dias (2006, p. 70) afirma que “o patrimônio, em termos políticos, assumiu um novo
papel simbólico, o de representar a comunidade identificada com a nação”, logo a renda de bilro
tem a função social de representar a comunidade de Morros da Mariana e de reafirmar a sua
identidade perante as várias possibilidades de viver e agir como membros ativos da sociedade.
A atividade turística na comunidade possibilitou as rendeiras uma nova forma de renda
através da comercialização das peças produzidas, seja pelas peças para o lar ou de vestuário,
além do interesse dos turistas pela arte de rendar, entretanto, “acredita-se que sem apoio,
valorização e reconhecimento por parte da comunidade acerca da importância das rendas de
bilro como um componente da identidade cultural, não se pode desenvolver de maneira
adequada a atividade turística” (KANITZ, VASCONCELOS, 2017, p. 325).

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

A compreensão da cultura local e a participação no cotidiano é fundamental para as


experiências que a atividade turística pode proporcionar aos visitantes, a partir da iniciativa para
o entendimento da importância da valorização de bens materiais e do seu modo de fazer.
O turismo cultural tem sido um segmento em destaque e tem uma motivação
privilegiada, pois seus praticantes buscam conhecer uma realidade cultural diferente do seu
habitat, busca conhecer as características e manifestações culturais do lugar, ou seja, tem como
objetivo buscar experiências diferenciadas da sua realidade. É um segmento que promove a
troca, tanto do turista em conhecer a realidade da comunidade visitada, o modo de vida, a
realidade e suas manifestações culturais, ao mesmo tempo a comunidade tem o sentimento de
valorização de suas atividades culturais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O tema deste artigo refere-se à identidade cultural e a valorização da renda de bilro
produzida em Morros da Mariana, localizada no município de Ilha Grande, no estado do Piauí.
Com o objetivo de apresentar suscintamente os aspectos relacionados a produção da renda de
bilros desta comunidade e como pode ser relacionada a valorização cultural.
O trabalho das rendeiras de bilro em Morros da Mariana tem se apresentado como um
fator de identidade cultural para essa comunidade, ao se afirmar como pertencente ao território,
além da valorização da produção e como uma forma de desenvolvimento do território
Entretanto, por ser uma atividade que é passada de mães para filhas, e é importante que
seja realizado um trabalho mais efetivo de pertencimento, para que esse modo de fazer não seja
perdido com o tempo. O turismo pode ser uma ferramenta que contribua para o
desenvolvimento e afirmação dessa arte, à medida que os turistas visitam, entendem o processo
de construção de peças de renda e adquirem, as rendeiras percebem que sua arte é valorizada e
passam a afirmar a sua identidade cultural.
Apesar de Morros da Mariana contar com a Associação e Cooperativas das rendeiras
onde são produzidas peças de renda, é necessário que seja melhorado a sua estrutura interna
para a visitação. Sugere-se que sejam organizados os espaços para apresentar os tipos de peças
e um pequeno museu para que os visitantes possam ver onde as peças foram fabricadas e
comercializadas. A mídia é importante como uma forma de divulgação importante para as
rendeiras, através da mídia é possível que o seu trabalho tenha maior alcance para os turistas.

REFERÊNCIAS 431
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

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de Pós-Graduação em Antropologia Social: Universidade de Brasília, 2015
CALADO, M. História da renda de bilros de Peniche. Peniche: [s.n], 2003.
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DA MATTA, R. O que faz o brasil, Brasil? Rio de Janeiro: Rocco, 1991.
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FLEURY, C. A. E. Renda de bilros, renda da terra, renda do Ceará: a expressão artística
de um povo. São Paulo: Annablume; Fortaleza: Secult, 2002.
FLORES, M. A identidade cultural do território como base de estratégias de desenvolvimento:
uma visão do estado da arte. InterCambios. N. 64, 2006.
GONÇALVES, A. de M.; CORIOLANO, L. N. M. T. Renda gerando “renda”: o potencial
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sociedade-natureza: realidades, conflitos e resistências. Fortaleza: EdUECE, 2007.

KANITZ, H., VASCONCELOS, G. O uso das rendas de bilros como elemento de identidade
cultural para fomentar o turismo em Ilha Grande, Piauí, Brasil. International Journal of
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KASHIMOTO, E., MARINHO, M., RUSSEF, I. Cultura, identidade e desenvolvimento local:
conceitos e perspectivas para regiões em desenvolvimento. Interações – Revista
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LODY, R. GEISEL, A. L. (org.) Artesanato Brasileiro: rendas. Rio de Janeiro: FUNARTE/
Instituto Nacional do Folclore, 1986.
MENDONÇA, M. L. P de. Algumas considerações sobre rendas e rendeiras do Nordeste.
Fortaleza: Instituto de Antropologia – Universidade Federal do Ceará, 1959.
POETA, J. A. M. L. As rendeiras de Morros da Mariana: projetos de design. Dissertação
(Mestrado). Universidade Anhembi Morumbi, são Paulo, 2014.
RAFFESTIN, C. Por uma geografia do poder. São Paulo: Editora Ática, 1993.
SASAOKA, S., MENEZES, M. dos S., MOURA, M. A renda artesanal e suas aplicações na
moda. 10º Colóquio de Moda – 7º Edição Internacional. Caxias do sul, 2014.
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ZANELLA, A., V. BALBINOT, G., PEREIRA, R. S. a renda que enreda: analisando o processo
de constituir-se rendeira. Educação & Sociedade. Campinas, a XXI, n. 71, p. 235- 252, jul.
2000.

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

ATIVIDADE TURÍSTICA DESPERTANDO SENTIMENTO E EMOÇÃO NOS


MORADORES DE BARRA GRANDE: UM ESTUDO DE CASO.

José Ricardo Fortes Sampaio.


Simone Cristina Putrick
RESUMO
Este trabalho é um estudo inicial e de campo na comunidade de Barra Grande, em Cajueiro da
Praia, no Piauí. A pesquisa analisou dinâmicas sociais em Barra Grande, especialmente em
decorrência do turismo local, atividade capaz de provocar mudanças significativas em qualquer
lugar onde se desenvolva. O trabalho tem natureza qualitativa e tomou como base o método
dos mapas afetivos, analisando os sentimentos e emoções que a comunidade nutre em relação
ao local onde mora frente ao desenvolvimento da atividade turística, o trabalho permitiu
compreender melhor a realidade dos moradores e consequentemente sua participação e atitudes
perante a atividade turística. Observam-se uma influência muito grande do turismo na região,
apontando na analise como um divisor de águas no desenvolvimento da comunidade. Os
estudos apontaram que os moradores se sentem orgulhosos do local onde moram e com
sentimentos de pertencimento e apego forte a região. Já em relação a atividade turística a
pesquisa apontou que os indivíduos pesquisados aprovam o desenvolvimento e se organizam
cada vez mais para participar do planejamento e da inserção na atividade turística com
empreendimentos próprios e defesa dos seus propósitos para a comunidade local.

Palavras-chave: Turismo, Afetivos, Mapas afetivos

ABSTRACT
This work is an initial and field study in the community of Barra Grande, in Cajueiro da Praia,
Piauí. The research analyzed social dynamics in Barra Grande, especially as a result of local
tourism, an activity capable of causing significant changes wherever it develops. The work has
a qualitative nature and was based on the affective maps method, analyzing the feelings and
emotions that the community has in relation to the place where they live in view of the
development of the tourist activity, the work allowed to better understand the reality of the
residents and consequently their participation and attitudes towards tourist activity. There is a
great influence of tourism in the region, pointing in the analysis as a watershed in the
development of the community. Studies have shown that residents are proud of where they live
and with feelings of belonging and strong attachment to the region. In relation to tourism, the
research showed that the individuals surveyed approve of the development and are increasingly
organized to participate in the planning and insertion in the tourist activity with their own
undertakings and defense of their purposes for the local community.

Keyword: Tourism, Affective, Affective maps.

INTRODUÇÃO

O turismo é uma atividade econômica que traz possibilidades e alternativas de


crescimento nacional, regional e local. No âmbito local especificamente, a realidade brasileira
começa a identificar o potencial das comunidades ainda pouco exploradas, mas, que
433 na
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

atualidade, crescem como atrativos para grupos turísticos. Comenta-se que os litorais são os
mais vislumbrados, em virtude de historicamente serem pontos turísticos.
Inserido na perspectiva mencionada, o litoral piauiense ocupa 66 km de extensão de
faixa litorânea do país. No extremo norte, está localizado o município de Cajueiro da Praia,
criado através do desmembramento do município de Luís Correia, em 1995, e que vem nos
últimos anos se destacando com o desenvolvimento do turismo.
Tomando como base a forma subjetiva de entender o desenvolvimento das comunidades
e dos indivíduos dentro do desenvolvimento turístico, buscamos a compreensão de aspectos
relevantes da afetividade dos indivíduos moradores da comunidade de Barra Grande.
Relacionando a afetividade (sentimentos e emoções) dos moradores locais com relação ao lugar
onde mora e com a maneira que se colocam frente ao desenvolvimento do turismo no local.
Não há nesse momento do estudo necessidade de detalhar minunciosamente todos os
sentimentos motivadores que nutrem os moradores locais. No entanto, nessa pesquisa
procuramos registrar e entender os sentimentos gerado nos moradores da comunidade de Barra
Grande – PI, em relação ao desenvolvimento do turismo procurando entender com a expressão
dos seus sentimentos e a maneira com que ele se coloca frente a atividade e sua aprovação em
relação a atividade turística, visto que a participação e integração desses moradores é essencial
para o sucesso da implantação da mesma.
No estudo também busca-se entender junto aos moradores o quanto eles se sentem parte
da comunidade e procurando saber o quanto se sente valorizado como ser social, formador de
opiniões e como parte da tomada de decisões sobre o futuro da sua comunidade.
É sábio que para o avanço e consolidação do turismo é essencial a participação da
comunidade, pois uma vez que integrada, esta passa a usufruir benefícios do turismo. Pode-se
aqui citar que atualmente há lugares em todo o mundo, no qual a comunidade está tão ligada ao
turismo que ela procura extrair o máximo de benefícios surgindo assim o turismo com base
comunitária, cujos turistas que procuram esse tipo de turismo detém o maior conhecimento dos
impactos que causam nas comunidades e procuram se inserir de forma saudável na vida dessa
comunidade valorizando a sua cultura e o seu cotidiano procurando o mínimo de impactos
sejam estes ambientais, culturais ou sociais.
A pesquisa foi realizada com um grupo de dez indivíduos, moradores da Barra Grande.
Os respondentes foram escolhidos de forma aleatória para a não induzir os resultados e
composto tanto do centro turístico como na parte periférica da comunidade. O município de
Cajueiro da Praia tem uma área de 271,707 km² e população de 7.375 habitantes. (IBGE 434
2013).
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Podemos dizer que a atividade do turismo por si própria já é de certa forma modificadora
do local onde ela se estabelece, principalmente em comunidades tradicionais cuja sociedade
tem que se moldar à atividade turística, pois o turismo está ligado a uma gama de serviços e
pessoas que afetam diretamente na vida dos moradores, e tudo isso afeta na vida dos mesmos,
por isso, o projeto de pesquisa iniciou-se com o seguinte questionamento : Qual a percepção da
afetividade (sentimentos e emoções) que a comunidade nutre em relação à região onde mora e
sobre o desenvolvimento da atividade turística na mesma?
O assunto é mérito de análise científica, pois busca a compreensão da afetividade que a
comunidade alimenta, quando tratamos de uma comunidade que está atualmente em
desenvolvimento e implantação do turismo. Os estudos desses sentimentos existentes se torna
importantes para satisfação da comunidade e consequentemente para a contribuição de um
planejamento turístico futuro, no qual se tenha a preocupação da qualidade de vida da
comunidade e um desenvolvimento saudável da região, contribuindo para que a mesma não se
volte contra a atividade e essa possa se desenvolver de forma positiva e aumentando a satisfação
de vida da comunidade.
Este projeto se justifica pela necessidade de um estudo mais aprofundado para alavancar
o conhecimento científico dos profissionais ligados ao turismo que trabalham com comunidades
e ressaltar a importância da conservação e respeito a seu modo de vida, salientando os possíveis
sentimentos que a comunidade nutre em relação ao desenvolvimento da atividade turística, pois
atualmente encontram-se poucos trabalhos voltados para esses tipos de estudos dentro do
turismo. Portando esse estudo buscou fundamentar um trabalho multidisciplinar que estudasse
os conceitos da psicologia social, psicologia ambiental e da geografia aplicando-os ao turismo.
A pesquisa também serve para o próprio conhecimento da comunidade em si e realçar
a importância da integração comunidade/atividade turística e principalmente para um
planejamento que vise a valorização cultural e social com ênfase na qualidade de vida nesses
destinos turísticos.
Destinos turísticos mal planejados e que não incorporem a comunidade podem ocasionar
em rejeição e ocorrer danos sócios culturais irreversíveis, além de atrapalhar o crescimento
saudável da atividade turística.

OBJETIVOS

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Nos fundamentos da investigação de afetividade (sentimento e emoções), evidenciando o


caráter social das emoções. Para tanto, tivemos como objetivos:

Geral
Levantar a relação existente entre a percepção dos moradores na comunidade de Barra
Grande, situado no município de Cajueiro da Praia - PI, a partir da afetividade (sentimentos e
emoções) em relação ao sentimento de pertencimento no local onde moram e ao
desenvolvimento da atividade turística.

Específicos

• Registrar os sentimentos de pertencimento e a relação da comunidade com o local


onde mora.
• Identificar o sentimento que a comunidade conserva em relação à atividade
turística.

UM ESTUDO SOBRE TURISMO E COMUNIDADES.

Ao estudar sobre o turismo e sua relação com a comunidade e toda sua complexidade
procuramos nesse capítulo esclarecer alguns conceitos pertinentes a pesquisa, procurando
elucidar a base fundamental para o explicação do tema proposto, visto a dificuldade de
entendimento e a sua interdisciplinaridade.
Ao estudar turismo em comunidades temos que refletir sobre a essência do conceito de
turismo e de comunidades. O turismo por sua vez se resume no ato do deslocamento e no
consumo de bens e serviços no destino escolhido, para Grünewald turismo significa:
Turismo indica movimento de pessoas que não estão a trabalho em
contextos diferentes do de origem, seja este o lar, a cidade ou o país.
Trata-se, geralmente, de visitação a lugares onde poderão ser
desempenhadas as mais variadas formas de atividades práticas e/ou
subjetivas desde que não o trabalho. A amplitude do termo parece caber
desde ao olhar visitante a um monumento na própria cidade de origem
até ao passeio em lugares totalmente desconhecidos de outros países.
Se algumas definições de turismo destacam a prática ou a estrutura do
fenômeno, acho que ambas as esferas – considerando suas dimensões
simbólicas, subjetivas e até fenomenológicas – devem caracterizar o
fenômeno na medida em que as pessoas muitas vezes se sentem, ou
não, em turismo (Grünewald, 2003, p. 02)

436
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Nesse contexto, o turismo compreende uma gama de conceitos e discursões, ao certo


que o turismo provoca contato entre indivíduos ocasionando uma série de reações e
consequências, sejam elas positivas ou negativas, essa atividade se estabelece em um espaço
geográfico e traz consigo uma série de alterações, nos estudos discute-se sobre esses estudos
centralizados em comunidades, por sua vez, podemos citar como conceito de comunidade:
Comunidade vem da palavra comum e significa que a terra e os recursos
podiam ser usufruídos por todos, de acordo com as necessidades de
cada um. No conviver comunitário primitivo tudo era comum a todos,
não existia a propriedade privada, a apropriação era para suprir as
necessidades e todos assumiam responsabilidades. Na organização em
forma societária, mesmo perseguindo o objetivo de eu todos as pessoas
sejam iguais e livres, ocorrem diferentes formas de entender e praticar
essa ideia. Produziu-se um modelo de sociedade que se volta à
acumulação e não atende às necessidades de todos, onde se vive
aglomerado de pessoas sendo, portanto, este modelo de sociedade
questionada por muito. No contraponto, pequenas localidades de baixa
densidade populacional, resistindo as mudanças, fizeram voltar a ideia
de comunidade. (CORIOLANO,2009, P.40)

Visto assim que, as comunidades de certa forma se voltam a um desenvolvimento no


qual fujam dos seus ideais, buscando e procurando modificar as mudanças contrárias aos seus
anseios, podemos citar como discursão sobre transformação de comunidade o conceito de
Coriolano (2009):
A transformação de comunidade para sociedade provocou mudanças no
próprio homem que foi desaprendendo a ser solidário e fraterno. Passou
se a ter apenas conhecidos (desconhecido melhor ainda) quando muito,
parceiros, concorrentes e competidores. A vida em sociedade elegeu
novos valores pois é guiada por princípios capitalistas e burgueses.
(CORIOLANO,2009, P.41,42)

Assim, podemos ver que as comunidades estão se modificando ao longo do tempo e os


valores sociais também vão se alterando, ficando visível a essência da comunidade, sociedade
formadora de valores e de identidades, ainda para com a autora comunidade é um grupo social
residente em pequeno espaço geográfico, na qual há integração de pessoas entre si e dessas com
o lugar, e assim criam identidade muito forte que tantos os habitantes como o lugar são
identificados como comunidade (CORIOLANO,2009, P.45). Sendo assim, quando o sujeito
assume o papel de morador de uma comunidade, o indivíduo também adota que faz parte de
um grupo, com diversos outros indivíduos formando uma identidade própria e assumindo
reponsabilidades sociais, a autora destaca ainda em seu estudo um detalhamento sobre a
formação da comunidade. Coriolano (2009) avalia que: 437
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Pequenos grupos de pessoas com seu modo de ser e sentir, com suas
tradições religiosas artísticas, seu passado histórico, costumes típicos,
seu “estilo” de vida familiar e social, suas atividades produtivas,
problemas e necessidades, suas aspirações, vivendo em um mesmo
lugar e tendo, sobretudo, consciência desta vida comum, tudo isso junto
forma a comunidade. (CORIOLANO,2009, P.45)

De acordo com Corionalo (2009), o indivíduo tem que participar das ações
desenvolvidas na comunidade tomando conta de sua importância dentro dela e fazendo com
que seus desejos e almejos sejam ouvidos e se tornem de certa forma valorizado, ainda de
acordo com a autora:
As pessoas tornam-se membros da comunidade não apenas por que nela
vivem, mas por que participam da vida comum do lugar, integrando
conjunto de elementos que podem ser materiais, históricos,
institucionais, psicológico, afetivos e eu fazem a vida comunitária.
Contudo, a solidariedade é o elemento principal da comunidade e nisso
está a grande diferença da sociedade moderna, que prima pelo não
reconhecimento e envolvimento com os problemas dos outros.
(CORIOLANO,2009, P.45)

Deste modo, a comunidade, além de tudo, tem que se sentir parte do lugar, colocando
suas posições em relação aos seus desejos para com o local e para seus habitantes. Segundo
Zygmunt Bauman:
A palavra “comunidade” é uma dessas. Ela sugere uma coisa boa: o que
quer que “comunidade” signifique, é bom “ter uma comunidade,” “estar
numa comunidade”. Se alguém se afasta do caminho certo,
frequentemente explicamos sua conduta reprovável dizendo que “anda
em má companhia”. Se alguém se sente miserável, sofre muito e se vê
persistentemente privado de uma vida digna, logo acusamos a
sociedade — o modo como está organizada e como funciona. As
companhias ou a sociedade podem ser más; mas não a comunidade.
Comunidade, sentimos, é sempre uma coisa boa. (BAUMAN, 2001,
P.7).

A partir destes conceitos podemos dizer que o turismo proporciona contatos entre
turistas e moradores locais de comunidades, e essa interação leva ao contato com novas formas
de agir, de ser, pensar e de comunicar, visão essa comum em diversos estudiosos como
Figueiredo e McBritton (2006) que afirmam que:
A princípio, todas as relações estabelecidas nos contatos entre turistas
e moradores de comunidade local são duais, ou seja, são trocas
comunicacionais ou imateriais entre dois grupos. No entanto, cabe
salientar que essa dualidade não é absolutamente igualitária, 438pois o
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

desnível socioeconômico das populações residentes que recebem o


turismo se configura em desvantagem, uma vez que esta, muitas vezes,
“precisa” da geração de recurso e rendas da atividade turística, visa
como “oportunidade” de melhoria e ascensão socioeconômica.
(FIGUEIREDO e MCBRITTON, 2006, p. 01)

Com esse contato desvantajoso para os moradores da comunidade e essa atividade


turística não planejada, acaba de certa forma que a atividade pode prejudicar os moradores que
muitas vezes se veem obrigados a mudar seu cotidiano, levando assim a modificação do seu
espaço, de acordo com as autoras (Figueiredo e McBritton):
Ao mesmo tempo, muitas vezes, por inabilidade na valorização de suas
riquezas naturais, inclusive da terra, várias dessas comunidades
anfitriãs foram invadidas por especuladores que admiram terras e
preços irrisórios e passaram a explorar a região e seus moradores
nativos, “empurrando-os” para as periferias de suas localidades.
(FIGUEIREDO e MCBRITTON, 2006, p. 01)

O Turismo tem um fator importante nas comunidades, mas em contraste a isso a mesma
atividade que gera recursos e melhorias para a comunidade pode trazer danos irreversíveis.
Entende-se que o turismo tem um importante papel no campo
econômico, cultural e na troca social. Por esse motivo é de fundamental
importância conhecer as percepções e atitudes em localidades turísticas
acerca dos impactos gerados pelo turismo em seus lugares de
residência. (Agnol, 2012, p.2)

Desse modo o autor Agnol (2012) afirma que por esse motivo a opinião dos autóctones
sobre o turismo se faz tão importante e a satisfação da comunidade irá refletir na hospitalidade
e também na experiência do turista. Para Figueiredo e McBritton (2006), o turista é cliente e
coparticipante dessa situação de troca desigual, que “explora” os potenciais locais para seu
próprio prazer. Assim, se torna claro que o turista é modificador tanto do espaço geográfico
desses destinos turísticos como também modificador da sua cultura, pois os turistas se sentem
mais abertos e permissivos para ter comportamentos de exageros, como maior tempo de lazer,
uso de bebidas, drogas e até maior procura por sexo.
Em relação as desigualdades formadas no local com desenvolvimento do turismo,
podemos destacar também de acordo com Andrade (2013) que a terra, nos locais apreciados
pelo turismo, ganhou mais valor devido as suas potencialidades paisagísticas e a alta procura
por pessoas vindas de outros municípios e regiões, desse modo a comunidade local deve
participar efetivamente no desenvolvimento do turismo em seu espaço vivido para que haja um
crescimento saudável.
439
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Para Andrade (2013), conhecer a opinião da comunidade local, sobre as mudanças que
ocorrem em sua localidade, permite realizar uma forma de planejamento turístico que prioriza
a qualidade de vida da comunidade e a organização adequada de seu espaço, o que contribui
para a sua conservação.
A troca de experiência é formadora de sentimentos e emoções que se formam tanto nos
moradores como na mente do turista. Para Andrade (2013):
A imagem do turista a respeito do centro receptor é formada a partir de
suas vivencias no lugar visitado. Por isso, a conservação paisagem e da
boa qualidade da vida da população são importantes para o
desenvolvimento harmonioso do turismo, pois estão inter-relacionados.
(ANDRADE,2013, p.120)

É um trabalho difícil para os profissionais que estão inseridos nesse tipo de atividade,
pois de acordo com Elvas e Moniz (2010) frequentemente é possível observar comunidades
cada vez mais coesas e organizadas para a resolução dos seus problemas pois as comunidades
estão em busca de melhorias para si e da preservação da sua identidade. Portanto torna-se visível
a importância de se inserir e oferecer oportunidades para que a comunidade esteja inserida na
atividade turística, para que não haja conflito entre ambas, prejudicando a atividade e trazendo
consequências para os seus moradores.

DESENVOLVIMENTO DO TURISMO EM COMUNIDADES

Para a ampliação da compreensão do presente estudo, nos fundamentamos também


sobre o desenvolvimento local e do turismo, pois acredita-se que um desenvolvimento saudável
consiga a confiança dos moradores para a melhoria da qualidade de vida. Buscou-se então
analisar a aprovação da atividade turística relacionado ao sentimento produzido. Para Coriolano
(2009):
No turismo interagem pessoas, lugares, mercados, empregos, trabalho,
políticas e os artefatos humanos que passam a ser considerados atrativos
culturais e tudo isso articulado pode ser força motriz do
desenvolvimento de uma região, uma comunidade. As regiões
litorâneas típicas do turismo de massa na atualidade fazem esforço para
vincular o turismo de sol e praia ao turismo cultural. (Coriolano, 2009,
p.157)

O turismo de fato é uma atividade que se planejada e executada de forma correta


impulsiona a economia e gera renda, além de trazer desenvolvimento para a comunidade, no
entanto o turismo cria laços entre comunidade e o turista, laços esses que por sua vez criam
440
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

vínculos e desencadeiam uma série de consequências sociais, sejam positivas ou negativas.


Coriolano (2009) explica que:
O turismo cria territorialidades, pois define destinos, propõe roteiro,
dando visibilidade a espaços até então “invisíveis”. Articula atividades,
além de construir espaços simbólicos, a atividade turística tece rede
extensa de pequenos negócios que, por sua vez, cria sociabilidade mais
diversas. (Coriolano, 2009, p.157)

A atividade turística é transformadora dos locais receptores turísticos, modificam o


espaço, os modos de produção e a forma de relacionar, pode-se falar que em comunidades onde
o fluxo de informações e pessoas é menos intenso, o impacto da implantação do turismo se
torna mais veemente. Coriolano (2009) afirma que:
Os serviços turísticos são cada vez mais sustentados pela produção dos
espaços, organizados por meio da técnica, pela ciência e informação. O
turismo constitui uma das práticas responsáveis pela produção do
espaço, reinvenção e refuncionalização de lugares, pelos arranjos
produtivos voltados para a geração, circulação e bens e serviços de
transformando em mercadorias. (Coriolano. 2009, p.170)

O turismo é uma atividade que se apropria de recursos para o seu desenvolvimento, e


ao mesmo tempo em que oferece formas de estimular o aproveitamento do tempo livre de forma
prazerosa, ele oferece trabalho e desenvolvimento para o local, no entanto não podemos
restringir essa atividade como impulsionadora apenas da economia e de forma igualitária. A
autora define que:
O turismo, é uma atividade produtiva moderna, reproduz a organização
desigual e combinada dos territórios capitalistas, sendo absorvido com
maneiras diferenciadas pelas culturas e modos de produção locais.
Dentro da nova dinâmica da acumulação capitalista, responde às crises
globais e ampliadas do capital mundial, submetendo diretamente o
estado em favor do mercado, embora e aos poucos, a sociedade civil de
vários lugares descubra estratégias de beneficiar-se economicamente
com ele, ou a partir dele. (CORIOLANO,2006, P.368)

Deste modo, torna-se uma discussão sobre o modo como o turismo vem sendo
desenvolvido dentro das comunidades. É preocupante que o turismo se desenvolva apenas
economicamente e não lance olhares para o local onde ele está explorando, diga-se que o
turismo para trazer benefícios para o local ele tenha que ter a preocupação de investir não
somente no desfrutável aos turistas que possuem um poder aquisitivo para usufruir, deve-se
preocupar também com os locais comuns e públicos, assim como o bem estar da população
local. Para Coriolano (2001) em sua maior parte as teorias do desenvolvimento pouco explicam
441
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

as contradições e as bases do processo produtivo e, sobretudo, não fazem relações com as


implicações sociais.
Nesse contexto, considera-se a relação dos sentimentos a partir dos motivos afetivos,
entendidos como sendo base das palavras e dos pensamentos expressos pela comunidade em
relações sociais e com o meio em que estão inseridos, os sentimentos e sensações produzidas,
e que de certa forma fazem com que os moradores se identifiquem ou não com esse ambiente,
ligando sempre essas ideias para o campo do turismo, pois a partir da relação com o
desenvolvimento turístico e a relação da comunidade com o meio que está inserida, irá se
discutir esses sentimentos produzidos através dos mapas afetivos.

AFETIVIDADE E SENTIMENTO DE COMUNIDADE

Aqui discute-se sobre o conceito de afetividade e sentimento de comunidades, para isso


torna-se importante a discussão de conceitos pertinentes que serviram para esclarecer e
intensificar o entendimento acerca desses levantamentos. Inicialmente necessita-se conhecer o
significado de pessoa, ou seja, ser social, e estudá-lo dentro de um meio, para Spink (2004) em
nossa perspectiva dar sentido ao mundo é uma força poderosa e inevitável na vida em sociedade.
E para Cuggenberger (1987) apud Spink (2004), só é possível pensar em pessoas, a partir da
noção da relação. O homem – ou, mais precisamente, a pessoa – está em um mundo e não
apenas em um ambiente, como os animais. O autor afirma:
Daqui provém o eu no seu caráter fundamental da pessoa, a
relacionalidade com o universo (capacidade de comunicar-se), a sua
limitação e o seu caráter de não ser o objeto (...) A relação humana
apresenta uma mostra do seu caráter misterioso da pessoa, visto que
esta não pode ser aprendida por meio de noções objetivas e objetiváveis.
Semelhante, a “intersubjetividade” para qual se costumava apelar como
o dado mais originário sobre a qual devia se fundar a pessoa não oferece
uma solução melhor do problema (...) É verdade que a outra pessoa,
quando quer fazer-se conhecer, deve voltar-se ao outro (Cuggenber,
1987: 29 apud Spink ,2004, p.55)

Portanto o conceito exposto nos coloca diante da produção de sentidos, ou seja, do


indivíduo inserido dentro de um ambiente, onde nas relações sociais é exposto às experiências
vividas, nas quais o homem nessa perspectiva é produtor de sentidos. A autora defende que:
O sentido é uma construção social, um empreendimento coletivo, mais
precisadamente interativo, por meio do qual as pessoas - na dinâmica
das relações sociais historicamente datadas e culturalmente localizadas
442
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

- constroem os termos a partir dos quais compreendem e lidam com as


situações e fenômenos a sua volta. (Spink ,2004)

Essa produção de sentidos está diretamente ligada ao ser social, no qual se estabelece e
carrega consigo as possibilidades de diferenças. Trabalhando esses conceitos ligados a
atividades turísticas em comunidades podemos perceber que o morador da comunidade se dar
como um agente inserido no meio, no qual, convive e interaciona com o diferente e assim
produz um sentimento em relação a situação, pode-se discutir essa ideia dentro dos estudos o
conceito de Velho (2003):
A multiplicação e a fragmentação de domínios, associados a variáveis
econômicas, políticas, sociológicas e simbólicas, constituem um mundo
de indivíduos cuja identidade é colocada permanentemente em cheque
e sujeita a alterações drástica.
O transito intenso e frequente entre domínios diferenciados implica em
adaptações constates dos autores, produtores de e produzidos por
escalas e valores e ideologias individualistas construtivistas da vida
moderna (VELHO,2003, p.44)

Dessa forma, as comunidades que estão inseridas em destinos turísticos são sujeitas a
vivenciar com pessoas com estilos de vidas diferentes, para Giddens (2002) apud Furlani
(2007), “esses estilos de vida coloca que estes são influenciados pelos ambientes ou locais pelos
quais os indivíduos se move”, ou seja, o morador tende a trafegar e conviver com estilos de
vida diferentes do seu e o sujeito tende a agir de acordo com o ambiente em que ocupa.
Essa discussão nos abre caminho para analisar a relação entre fenômenos sociais e
psicológicos. Portanto o estudo sobre afetividade irá contribuir para refletir sobre as relações
possíveis entre as emoções e os aspectos sociais referentes ao turismo e a comunidade local,
nesse sentido podemos entender a afetividade de acordo sobre o conceito de Sawaiva (2002):
(...) as afecções do corpo pelas quais a potência de agir e para preservar
na própria substancia humana é aumentada ou diminuída, favorecida ou
entravada, assim como as ideias dessas afecções são resultados dos
afetos e paixões que se configuram no corpo e na mente, no encontro
entre homens (SAWAIVA, 2002, p.14)

Os afetos vão sendo modificados ou moldados ao longo do tempo, esses afetos se


efetivam nos contatos humanos, os estudos de BOMFIM (2010), explanam o processo de
participação dentro da produção de sentidos, de acordo com a autora:
O processo de participação dos cidadãos no planejamento e
visualização dos possíveis impactos de desenvolvimento e planos de
ação na cidade permite a apropriação e o desejo de fazer algo, de
transformar em um sentido de melhoria de vida de uma coletividade
443
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

diferente de intervenções urbanísticas sem qualquer relação com o


cotidiano e com a subjetividade da coletividade. Para tal, é preciso
investir na reeducação cidadã, com vistas à participação do cotidiano
nas metas de planejamento dos ambientes construídos. (BOMFIM,
2010, P 49.)

Esse processo de participação dos cidadãos no estudos dos sentidos nos permite o estudo
da coletividade e da subjetividade, as cidades e comunidades são meios em que essa produção
de sentido se efetiva, para Bomfim (2010) a cidade é o lugar dos encontros, da
intersubjetividade, da formação de relações. Pois o indivíduo nunca se afeta sozinho. Os
pensamentos, as ações e os afetos não se originam na essência de cada um, mas na relação.
A cidade é essencial para a relação das pessoas, assim esses contatos e sentimentos
produzidos interferem nas decisões dos indivíduos e na produção da configuração do espaço,
Na sua pesquisa Bomfim (2010) apud Pol, dentro dos estudos destaca-se que:
A forma como a cidade configura-se, reflexo de uma estrutura social,
não facilita um processo de apropriação do espaço, que pode ser
promovido pela sensação de um lugar agradável (prazer, posse e
realidade) e dificultado pela sensação do desagrado, levando ao
alheamento. (POL, 1999 apud BOMFIM, 2010, P.79)

É importante que fique claro a importância da produção de sentidos para o


desenvolvimento tanto das comunidades como da atividade turística, para a autora,
compreender o ambiente como um território emocional é priorizar a incidência de processos
culturais, sociais e políticos na construção do significado espacial. (BOMFIM, 2010)
Assim, o contato entre morador e turista provoca uma série de sentimentos e sensações
que refletem em suas atitudes. O estudo sobre esse sentimento é uma forma de conhecer a
comunidade e a forma que o turismo está se desenvolvendo e procurando entender as atitudes
dos moradores frente ao desenvolvimento da atividade turística. McMillan e Chaves (1986)
discutem quatros elementos essenciais para definir o conceito em comunidade, são eles:
O sentimento de comunidade baseia-se em quatro elementos essenciais
que definem as qualidades especificas do conceito. Estes elementos são:
fazer parte de; influencia; integração e satisfação das necessidades e
partilha de ligações emocionais, que são definidos como sendo “o
sentimento que os membros tem de pertença, o sentimento que os
membros importam para um outro membro e para o grupo, e a
convicção de que as necessidades dos membros serão alcançadas
através de um compromisso de união” (MCMILLAN & CHAVIS
(1986) apud ELVA E MONIZ (2010), p. 2).

444
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Portanto, uma série de fatores interfere nesse sentimento de comunidade, para Elvas e
Moniz (2010), locais onde existe um elevado sentimento de comunidade é mais provável que
as pessoas se mobilizem no sentido de participarem nas soluções dos seus próprios problemas.
Entendendo assim que os sentimentos interferem nessa relação do morador com as atitudes dos
mesmo em relação ao desenvolvimento do turismo, para Prezza e Constatini (1998) apud Elvaz
e Moniz (2010) quando se fortalece esse sentimento de comunidade é mais provável que as
pessoas se mobilizem para um maior sentimento de identificação e uma maior autoconfiança,
facilitando as relações sociais e combatendo a solidão e o anonimato.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

As pesquisas são fundamentais para que o pesquisador familiarize-se com o seu objeto
de estudo e que busque informações e dados que permita chegar a conclusões, conforme
conceitua Fachin:

Pesquisa é um procedimento intelectual. E que o pesquisador adquire


conhecimentos por meio da investigação de uma realidade e da busca
de novas verdades sobre um fato objeto ou problema. (FACHIN 2006,
p.139)

Em termos de profundidade, o estudo será do tipo bibliográfico e exploratório, e terá


como perspectiva a investigação qualitativa.

Para isso, a pesquisa foi delimitada ao campo na comunidade de Barra Grande, situada
no litoral do Estado do Piauí, pertencente ao município de Cajueiro da Praia com uma população
de 7.375 habitantes (IBGE, 2013).

EXPLICAÇÃO DOS ITENS DO INSTRUMENTO GERADOR DE MAPAS


AFETIVOS.

Para Fulani (2009) o instrumento gerador dos mapas afetivos é composto pelos
seguintes itens: desenho, significado do desenho, sentimentos, palavras e sínteses. A autora em
sua tese destaca alguns itens para a explicação desses mapas afetivos.

445
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Inicialmente, solicita-se um desenho que represente a forma do sujeito ver e sentir o


lugar onde mora com o desenvolvimento da atividade turística. Em seguida, solicitamos o
significado do desenho, que é o momento em que o indivíduo explicará o que quis representar
com o desenho. Logo depois é solicitado do sujeito que expresse e descreva os sentimentos
suscitados a partir do desenho, esses sentimentos dizem muitos sobre suas atitudes e
pensamentos sobre o local e sua realidade atual.
Posteriormente, sugerimos que sejam escritas palavras sínteses, e o sujeito tem a
oportunidade de resumir ainda mais os sentimentos evocados a partir do desenho, explicitando
seus sentimentos em relação inclusive ao desenvolvimento da atividade turística no local, aqui
poderemos conhecer e estudar esses sentimentos e identificar como a comunidade se põem
frente dessa atividade. O respondente elenca seis palavras sínteses que podem variar entre
sentimentos, substantivos ou qualidades que o indivíduo atribui ao seu desenho.
Depois, indagamos ao respondente: “caso alguém lhe perguntasse o que pensa sobre o
lugar em que mora, o que diria?”, como também: “se tivesse que fazer uma comparação do
lugar, com o que compararia?”. Seguimos com algumas perguntas de identificação do
respondente, como idade, sexo, ambiente em que mora (rural e urbano) etc.
Portanto abordaremos esses itens aplicados aos objetivos desse trabalho, discutindo a
afetividade (sentimentos e emoções) entre comunidade e turista e debatendo quais os
sentimentos que a comunidade mantem sobre o local onde mora.

ANÁLISE DOS DADOS OBTIDOS

Participaram da pesquisa 10 indivíduos com idade entre 18 a 90 anos, moradores da


comunidade de Barra Grande, localizada no município de Cajueiro da Praia, no Piauí. A tabela
abaixo representa a caracterização dos sujeitos da pesquisa.

Quadro 1- Caracterização dos sujeitos da pesquisa.

Quantidade de
Variáveis Categorias
respondentes

446
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Masculino 4
Sexo
Feminino 6

Entre 18 a 30 anos 5
Idade
Entre 31 a 50 anos 5
Centro da comunidade 7
Local onde mora
Periferia da comunidade 3
Sim 8
Trabalha
Não 2
Tabela ¡Error! solo el documento principal. Caracterização dos sujeitos da pesquisa.

LEVANTAMENTOS DE MAPAS AFETIVOS

O presente trabalho estuda a afetividade dentro da atividade turística, para isso optou
por usar o método dos mapas afetivo, método comum em estudos da psicologia ambiental, para
isso buscou-se um estudo multidisciplinar, o qual aplicasse os conceitos e métodos da
psicologia e geografia nesse estudo sobre comunidades e desenvolvimento turístico, temos
como base os estudos de BOMFIM (2010), no seu livro Cidade e Afetividade, no qual trabalha
com o método dos mapas afetivos, para a autora no seu livro:

Embora o aspecto afetivo seja considerado como importante fator


agregado do significado, poucos estudos têm se desenvolvido em
relação às imagens elaboradas dos habitantes sobre o entorno da cidade,
no que diz a respeito à sua afetividade, emoções e sentimentos, ou
talvez a possibilidade de considerarmos os afetos como orientadores na
compreensão do conhecimento do espaço da cidade, assim como a
percepção e a cognição. OS fatores emocionais são ignorados na
maioria dos trabalhos sobre conhecimento ambiental. Há uma maior
prevalência dos fatores cognitivos do que dos afetos emocionais.
(BOMFIM 2010, p. 88)

Os mapas afetivos busca o conhecimento da comunidade, assim como o entendimento


do coletivo, os mapas demonstram o que as pesquisas quantitativas não conseguem captar, ou
seja, os mapas afetivos buscam através do ambiente sociocultural o estado atual da comunidade.
Para Ferreira (2006):
Os mapas revelam a afetividade e indicam a estima com relação ao
entorno, apontando assim o nível de comprometimento dos sujeitos
447
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

com o mesmo, proporcionando-nos também um conhecimento da


comunidade e das suas especificidades através dos sentimentos de seus
moradores, havendo, assim, uma superação da dicotomia entre
cognição e emoção. (Ferreira. K. P. M, 2006, p 56,57)

Entendemos então que, os mapas afetivos buscam através do subjetivo as repostas para
os questionamentos procurados para responder questões sociais e culturais, através desse
método conseguimos obter respostas para questões socioculturais evolutivas, no âmbito do
turismo torna-se essencial, pois através desse método conseguimos identificar junto aos
moradores as mudanças ocorridas ao longo dos anos com o desenvolvimento da atividade
turística. Bomfim discute a estratégia, ação e avaliação do método. Para a autora:
Elas são orientadas das estratégias de ação e avaliação dos níveis de
apropriação (pertencer ou não pertencer a um lugar), apego (vinculação
incondicional a um lugar) e de identidade social urbana (conjuntos de
valores, representações, atitudes que tomam como parte da identidade
do indivíduo no lugar). Como síntese dos afetos, eles também apontam
o nível de implicação no lugar. Dado seu caractere representacional e
criativo, são recursos de acesso a dialética subjetividade/objetividade
na cidade. (BOMFIM, 2010, P.222)

Através da análise dos mapas afetivos, encontramos as imagens de Agradabilidade,


Pertinência, Segurança e Contraste.
O quadro 02 sintetiza as qualidades e sentimentos relacionados às imagens de contrastes,
agradabilidade, segurança e pertinência encontradas no ambiente pesquisado.

IMAGENS Qualidades da Sentimentos da comunidade de Barra


comunidade de Barra Grande – PI
Grande – PI
Agradabilidade Beleza, calma, sossego, Alegria, calma, respeito, cordialidade,
iniciativa, capacidade, afeição, confiança, alegria, amor, afeto,
suja, valorização, orgulho, apego, simpatia, união,
evolução cordialidade, hospitalidade, carinho,
admiração, confiança, segurança,
tranquilidade, animo, receptividade,
felicidade, felicidade, atração, prazer,
confiança, encantamento, harmonia,
encantação,
Contrastes Atenção, duvida, insegurança, adaptação,
Insegurança Medo
Pertinência
Tabela ¡Error! solo el documento principal. Síntese das qualidades e sentimentos.

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

AS IMAGENS DOS MORADORES DA COMUNIDADE DE BARRA GRANDE – PI.

O mapa afetivo não é somente um instrumento que emerge de um outro instrumento, do


de pesquisa, mas, antes de tudo, um processo de (re)produção da cidade que vivemos, que
avança em sentimentos que não estavam, acessíveis (BOMFIM, 2010, P.221). Ainda para a
autora os mapas afetivos são instrumentos que:
Os mapas afetivos são representações do espaço e relacionam-se com
qualquer ambiente como território emocional. Os mapas afetivos são
instrumentos reveladores da afetividade e indicadores de estima.
(BOMFIM, 2010, P.222)
Estas assertivas nos conduzem à definição dos mapas afetivos como
imagens ou representações assentadas em sinais emotivos ou
expressivos, elaborados a partir de recursos imagéticos (desenhos,
fotos, objeto de arte). Afirmamos que eles são reveladores da
implicação do indivíduo a um determinado ambiente: casa, bairro,
comunidade, cidade. Podem ser gerados a partir de mapas cognitivos,
porem seu maior objetivo não é a orientação espacial ou a localização
geográfica. (BOMFIM, 2010, P.222)

Na análise dos sentimentos e emoções encontramos palavras e imagens de contrastes.


Ao mesmo tempo que o morador demostra atração, afetos positivos e bem estar com o
desenvolvimento da comunidade e do turismo, ele revela sentimentos ruins, de medo em relação
ao futuro do lugar.
Para Furlani (2007), um lugar relacionado a imagens de contrastes provoca no jovem
uma ambivalência de sentimentos que podem ser exemplificados pelas metáforas por eles
associadas. Como exemplo pertinente é do respondente n° 04 que quando questionado sobre o
que pensava do desenvolvimento do turismo, ele responde que o turismo traz aumento da renda
e desenvolvimento para a comunidade, mas que esse desenvolvimento gera medo, pois a
tranquilidade do local atualmente pode ser modificada, pois é crescente o número de turistas e
junto com eles podem ocorrer o aumento da violência, pois com a presença deste já se
desenvolveu na comunidade a exploração sexual e o consumo de drogas. Essa ambivalência de
sentimentos também é revelada pelo respondente quando lhe é perguntado com o que ele
compara o lugar onde mora, o morador responde: ao mergulho no mar, pois esse me traz
tranquilidade e descanso, mas também traz a insegurança do que podemos encontrar dentro
dele.

449
VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo sobre a afetividade (sentimentos e emoções) dos moradores da Barra Grande


- PI permitiram identificar que a comunidade está engajada a se organizar para a melhoria e
tomada de decisões no que envolve a sua comunidade e o futuro da mesma. Os moradores tem
buscado novos caminhos para tornar o lugar onde mora um lugar agradável e que se sintam
confortáveis em relação à qualidade de vida, e buscando junto a atividade turística muito além
do que a inserção no mercado de trabalho. Os moradores visam a experiência dos contatos com
os turistas e confiam no turismo como um gerador de qualidade de vida e de desenvolvimento
para o local.
Facilmente pode-se visualizar o sentimento de pertencimento dos moradores em relação
à comunidade, assim como também a preocupação de estar envolvido na tomada de decisões
pertinentes a comunidade em geral.
Os sentimento de amor, apego e paz no local tornam-se evidentes e frequentes através
dos dados obtidos, é notório que a comunidade mesmo quando não beneficiada pelo turismo
aprova o desenvolvimento da mesma na região, entretanto foram notados sentimentos de
contrastes e insegurança como medo e insegurança, pois a entrada de turistas, tornam a entrada
de pessoas desconhecidas na região, acrescentado que os moradores relatam que o turismo leva
ao crescimentos e acumulo do lixo nas ruas e o aumento da prostituição e uso de drogas na
comunidade.
Ainda em relação ao turismo a comunidade visualiza muito além do que somente a
geração de renda, os moradores procuram e se sentem felizes quando há a oportunidade de troca
de experiências. Notou-se uma grande importância dada pelos indivíduos pesquisados à
convivência com o turista, não encontrando sentimentos contrários ao desenvolvimento da
atividade turística, no entanto, apesar dos moradores enxergarem o turismo com bons olhos, os
mesmos possuem sentimento de insegurança quando se retratam sobre os impactos do turismo
no futuro, o medo e a insegurança fazem com que a comunidade fique alerta para as mudanças
que a atividade pode gerar na região.
Percebeu-se uma queixa dos pesquisados sobre a dificuldade de arrumarem emprego no
lugar em que vivem. Esse fato se relaciona com a qualidade de vida dos moradores que sofrem
durante o período de baixo fluxo turístico, mas mesmo com as dificuldades os indivíduos

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

pesquisados se sentem apegados à comunidade e não demonstraram interesse em sair da região


para a procura da melhor qualidade de vida em outros lugares.
Esta pesquisa faz refletir sobre como as características da implementação do turismo
nas comunidades atuais estão contribuindo para o desenvolvimento da região e para melhor
qualidade de vida dos moradores. A consequência de um mal amadurecimento do turismo na
comunidade de Barra Grande - PI pode acarretar no aumento da violência, consumo e tráfico
de drogas, abuso e exploração sexual e etc, necessitando atualmente de políticas públicas que
visem a minimização da intensificação de impactos futuros.
Depois de uma reflexão sobre os resultados encontrados a partir das pesquisas de campo
e sobre as ideias discutidas, concluiu-se que a comunidade tem alto poder de pertencimento,
mostrando sentimentos positivos quando falam da sua relação com a comunidade e também em
relação ao turismo, colocando suas expectativas na atividade turística como responsável pelo
desenvolvimento e aumento da qualidade de vida.

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

TERRITÓRIO E TERRITORIALIDADES DE ATRATIVOS TURISCOS NA


TRANSAMAZÔNIA: O Caso de Altamira no Estado do Pará

Orlando Bispo dos Santos


Simone Cristina Putrick
RESUMO

O artigo tem como objetivo fazer uma abordagem sobre o território da Transamazônica e
desenvolver um levantamento de dados das possíveis territorialidades de atrativos turísticos na
cidade de Altamira estado do Pará, bem como nas cidades que estão no seu entorno. A riqueza
natural do território amazônico proporciona ao visitante experiências distintas das encontradas
em ambientes urbanos, por isso a procura por este destino tem se encorpado no decorrer do
tempo. Desta forma, torna-se importante a investigação dos arranjos territoriais do ponto de
vista estrutural a partir de políticas públicas, buscando entender como funciona o
desenvolvimento da atividade turística no contexto da Transamazônica. A metodologia aqui
utilizada partiu de levantamento bibliográfico e documental. A pesquisa tem um viés
interdisciplinar uma vez que está estruturada nos conceitos de geografia e turismo, o que
permitiu fortalecer o aporte teórico do estudo.

Palavras-chave: Território, Territorialidade, Transamazônica, Geografia e Turismo.

Abstract

The article aims to make na approach on Transamazon territory and to develop a data survey of
the possible territorialities of tourist attractions in Altamira city- Pará state, as well as in the
cities that are in its surroundings. The natural richness of Amazon territory provides to the
visitor diferente experiences from those found in urban environments, so the search for this
destination has grown in the course of time. Therefore, it becames importante to investigate the
territorial arrangements from a structural point of view based on public policies, in order to
unsderstand how the development tourism activity Works in Transamazon context. The
methodology used here was based on a bibliographical and documentar survey. The research
has na interdisciplinary perspective since it is structured in the concepts of geography and
tourism, witch allowed us to strengthen the theoretical contribution of the study.

Keywords: Territory, Territoriality, Transamazon, Geography and Tourism.

INTRODUÇÃO
A expansão do território amazônico brasileiro, formado por diferentes culturas a partir
de encontros territoriais estruturados por meio de fronteiras entre países, apresenta uma
diversidade natural que possibilita a existência de atrativos turísticos, que ao serem utilizados
dinamizam o fluxo de pessoas e promove o desenvolvimento econômico e social em regiões
consideradas afastadas do centro do poder.

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O turismo como fator de desenvolvimento de núcleos receptores, promove crescimento


econômico, político, social e cultural de proporções micro e macro, isto é, tanto na escala local
quanto em âmbito regional.
Desta forma, a Amazônia brasileira mesmo com baixa porcentagem de desenvolvimento
do ponto de vista estrutural voltada à ampliação das atividades turísticas, apresenta-se como um
dos destinos procurados por pessoas que buscam envolver-se ao meio natural, que não está
relacionado exclusivamente ao que se refere às riquezas minerais e as diversas formas de vidas
existentes no território, tais como as incontáveis espécies de plantas e vida animal, mas incluem-
se nesse contexto os aspectos antropológicos que envolvem a vida humana em sentido amplo,
sua historicidade e a formação dos aspectos socioculturais local.
A vida humana a partir das sociedades indígenas e ribeirinhas, atrelado a historicidade
e a diversidade cultural regional, seus costumes e modo de vida, tornam-se fatores que
enriquecem o cenário. Isso permite ampliar o fluxo de pessoas com olhares múltiplos, e com
distintos objetivos sobre o território, como o fator econômico com a exploração das riquezas
naturais, e a produção do conhecimento por meio de pesquisas acadêmicas.
O conceito de território nos permite entender que as territorialidades surgem das inter-
relações humanas do ponto de vista político, social e econômico. O aspecto político neste
contexto parte das relações de poder do homem e do Estado sobre o território, uma vez que este
é o palco de desenvolvimento e de produção da vida humana. O social diz respeito à criação de
organismos que funcionam como instrumentos de gestão socioespacial do território por meio
de suas conexões sociais, e as atividades da vida humana sobre ele. O aspecto econômico por
sua vez, está relacionado à produtividade emanada do território por meio da produção
desenvolvida a partir das relações entre os atores sociais, o que determina desta forma uma
sociedade organizada.
Esta pesquisa é qualitativa e tem um viés interdisciplinar, pois gira em torno de temas
importantes da geografia e da história, tais como, o conceito de território, territorialidade e
geografia do turismo, e a historicidade das relações sociais no contexto do território de Altamira
e as cidades do seu entorno. Para tanto, envolve perspectivas teóricas de diferentes autores. Tem
como objetivo principal fazer uma abordagem das atividades turísticas na transamazônica, a
destacar as cidades de Altamira, Vitória do Xingu, Brasil Novo e o município de Senador José
Porfírio, no qual está contida a cidade de Souzel.

2. Território e Territorialidade
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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

O conceito de território na atualidade é um dos temas centrais da geografia, pois abarca


uma série de fatores inerentes a vida humana e suas relações sociais, territoriais, culturais e
econômicas.
Marcos Aurélio Saquet se destaca como um dos importantes geógrafos brasileiros, com
vasta bibliografia a respeito da temática. O autor afirma que o território significa.

Natureza e sociedade; economia, política e cultura; idéia e matéria;


identidades e representações; apropriação, dominação e controle;
descontinuidades; conexão e redes; domínio e subordinação; degradação e
proteção ambiental; terra, formas espaciais e relações de poder; diversidade e
unidade. (SAQUET 2015, p. 24)

Todas estas relações do homem, portanto, se desenvolvem como mecanismos que


contribuem para que se estabeleça o domínio do território e as relações de poder de acordo com
o modo de vida das representações sociais a partir do contexto familiar, até as diferentes
instancias do Estado, possibilitando o desenvolvimento regional que consiste em ampliar
aspectos econômicos, sociais e culturais. Para Claude Raffestin (1993, p. 40) “o Estado é um
ator sintagmático por excelência quando empreende uma reforma agrária, organiza o território,
constrói uma rede rodoviária”.
A partir desta afirmação, portanto, entende-se que a presença do Estado por meio de
políticas publica, se faz importante no tocante ao desenvolvimento da atividade turística no
território da Amazônia brasileira do ponto de vista estrutural com a criação de rodovias,
ferrovias, construção de portos e aeroportos contribuindo assim para a facilitação do acesso as
diferentes localidades.
A complexidade e a amplitude da Amazônia reforçam a reflexão sobre o conceito de
território e o crescimento da atividade turística permitindo entender que existe importante
ligação entre a geografia e o turismo. Conforme Becker (2014, p. 3) “o estudo do turismo exige
ação interdisciplinar que busca pelo fenômeno turístico em diferentes áreas do conhecimento
como a Geografia, a Filosofia e a História”. Além da Geografia pode-se afirmar que áreas do
conhecimento como a Antropologia, a Ciência Política, a Economia, são indissociáveis na
construção de um pensamento investigativo do território para a consolidação da atividade
turística, a partir dos aspectos socioculturais, sociohistóricos, socioeconômico, sociopolítico e
socioambiental.
No que diz respeito ao conceito de territorialidade que é um tema intimamente ligado a
geografia, pelo seu caráter interdisciplinar, abarca outros saberes que consistem em delinear o
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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

território como um palco das relações de poder, com intuito de organizar o espaço. Milton
Mariani e Flavia Moura (2012) afirmam que.

A territorialidade é um fenômeno de comportamento associado a organização


do espaço em esferas de influência ou em territórios nitidamente
diferenciados, considerados distintos e exclusivos por seus ocupantes.
Também pode ser entendido como base de poder de determinado grupo sobre
determinada área, uma estratégia para afetar, influenciar ou controlar recursos
e pessoas por controle da área. (MARIANI e MOURA, 2012, p. 124)

Os autores entendem ainda que “sendo assim, a territorialidade atua como uma
estratégia geográfica para influenciar pessoas e coisas pelo controle de área, e estaria ligada as
relações de poder para com quem e o que é afetado e influenciado no espaço geográfico”.
A organização do espaço é um fator importante para o desenvolvimento do turismo, e a
geografia como um saber estratégico contribui para nortear tal organização pois preocupa-se
com a interconexão dos fatores históricos, econômicos e sociais. A territorialidade do turismo
na transamazônica portanto, aponta para esta conectividade pois tem como objetivo o acesso a
história local, a cultura e as relações sociais e econômicas, por meio dos fenômenos intrínsecos
do território em questão.
A territorialidade humana no contexto amazônico construída de uma relação
tridimensional, sociedade-espaço-tempo, reforça a produção do turismo a partir dos fatores
socioculturais, até mesmo em meio as intempéries do território amazônico brasileiro, no que se
refere a acessibilidade pelo meio terrestre, e a construção de infraestrutura a partir do estado.
Além destes fatores, a reinvenção do cotidiano e a tomada de novas posturas pelo
contexto social no interior do território, tendem a contribuir para viabilizar estratégias voltadas
para o desenvolvimento local por meio das atividades do turismo.
Neste contexto, Robert David Sack (1986) menciona que “a territorialidade é utilizada
em relacionamentos cotidianos e em organização complexas. É uma expressão geográfica
primária de poder social. É o meio pelo qual espaço e sociedade estão inter-relacionados”. O
autor enfatiza também que “as funções de mudanças da territorialidade nos ajudam a entender
as relações históricas entre sociedade, espaço e tempo”.
Observa-se a partir deste pensamento a importâncias das inter-relações sociais, uma vez
que o território por ser o cenário de construção da vida humana em sentido amplo, torna-se
dinâmico, e esse dinamismo apresenta vantagens a medida que há consistente ordenamento
territorial, e desvantagens à medida que o território é desfragmentado surgindo uma
desterritorialização do ponto de vista sociocultural a partir das imposições do próprio homem
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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

sobre o território. O turismo é um consumidor compulsivo de território, por isso entende-se o


ordenamento territorial como um pano de fundo para o desenvolvimento das atividades
turísticas na Amazônia é de total importância.

3. Aspectos Físicos de Altamira e o Contexto da Transamazônica


A criação do município de Altamira está relacionada com a presença dos missionários
da companhia de Jesus na região do Xingu em meados dos anos 1750. O município de Altamira
como a maioria dos municípios da Amazônia, é composto etnicamente por caboclos,
nordestinos, mamelucos, cafuzos e principalmente por indígenas. Tal diversidade étnica em sua
grande parte foi formada a partir do surgimento da rodovia transamazônica. Altamira localiza-
se a 829 Km da capital, Belém, e faz parte da mesorregião do sudoeste paraense. Na parte norte
limita-se com os municípios de Brasil Novo, Medicilândia, Uruará, Placas e Rurópolis. A leste
limita-se com os municípios de Senador José Porfírio, São Felix do Xingu, Vitória do Xingu.
Faz limite a oeste com os municípios de Trairão, Itaituba e Novo Progresso.
O município possui a maior área territorial do país com o total de 159.533,328 km²,
permitindo a ligação do Pará ao Estado do Mato Grosso pelo município de Guarantã do Norte-
MT.
Altamira está localizada na margem esquerda do rio Xingu, um dos principais do Pará
que além de funcionar como corredor de escoação da produção agrícola da região, caracteriza-
se como fonte de subsistência a partir da atividade pesqueira desenvolvida pelas comunidades
ribeirinhas e indígenas, que buscam a captura de espécies de peixes para o consumo e o
abastecimentos dos mercados de pescados das cidades que estão em seu entorno, bem como a
captura de peixes ornamentais visando atender o mercado internacional.
Conforme a pesquisa de Janayna Galvão de Araújo (2016, p. 13) “rio Xingu se
apresentou como um excelente ambiente para o desenvolvimento da pesca ornamental, por
agregar uma vasta diversidade de espécies e apresentar peculiaridades geográficas e
hidrológicas da bacia”
Isto é sem dúvida um fator importante para o desenvolvimento regional do ponto de
vista econômico. Neste contexto vale destacar que Altamira no contexto da Transamazônica
destaca-se como polo econômico entre as cidades que estão no seu entorno. A figura a seguir
destaca as cidades da Transamazônica que estão no entorno de Altamira e dependem de suas
relações econômicas.

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Mapa 1- Localização das cidades da transamazônica.

Fonte: PDRS Xingu 2010 - Elaboração: SEIR/GEOPARÁ.


Conforme o inventário da oferta turística do município de Altamira (2012, p. 504) “o
comércio da cidade atende toda a região da transamazônica, sendo polo mais desenvolvido
economicamente.
A rodovia Transamazônica apesar de não possuir as condições necessárias para
condicionar o desenvolvimento regional, é a principal via terrestre do estado do Pará. Criada
no governo militar a partir da década de 1970, teve como objetivo integrar a Amazônia ao resto
do país e permitir a ocupação territorial promovendo a colonização com a chegada de
agricultores de várias partes do país. Conforme Thiago Ferreira Neto (2013).

O objetivo era tornar a fronteira segura a coletividade do estado, e estabelecer


atividades como a construção de estradas e a canalização de recursos para o
enriquecimento de regiões pouco desenvolvidas. A construção de uma malha
rodoviária não só iria assentar moradores ao longo das estradas, ou
desenvolver a região, mas também provocaria uma maior vigilância nas
fronteiras entre o Brasil e os países da América do Sul. (NETO, 2013, p. 17).
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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Conforme o IBGE (1979) a Transamazônica é a terceira maior rodovia brasileira, com


a extensão de 4.223 Km cortando sete estados brasileiros: Paraíba, Ceará, Piauí, Maranhão,
Tocantins, Pará e Amazonas. A figura a seguir apresenta o traçado da rodovia Transamazônica.
Mapa 2-Traçado da rodovia transamazônica

Fonte: Neto 2013.

Embora muitas coisas ocorreram no que diz respeito a melhoria nas condições
estruturais e de integração da região ao centro do país, sabe-se que a construção desta rodovia
não possibilitou a resolução de todos os problemas da Amazônia. Sua extensão territorial
atrelada as intempéries climáticas e talvez a falta de “recursos” do governo brasileiro, tornou o
processo de desenvolvimento lento em relação aquilo que era esperado pela sociedade. Neste
contexto espera-se que ao longo dos anos, o estado brasileiro desenvolva estratégias voltadas
para o ordenamento territorial em sentido amplo e favoreça entre outras aspectos as atividades
turísticas na região da Transamazônica.

4. A Transamazônica e o potencial de atrativos turístico em altamira

É intrínseco do território amazônico brasileiro a potencialidade de atrativos turísticos a


partir de suas riquezas naturais. Sua biodiversidade é um dos fatores principais que atraem
pessoas de várias partes do mundo com finalidades diversificadas. Em Altamira, além da
paisagem como consumo turístico, destaca-se o potencial do rio Xingu. Conforme o Plano de
Desenvolvimento Regional Sustentável do Xingu-PDRS (2010).
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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

O rio Xingu possui uma extensão de aproximadamente 1815Km. Seus


principais afluentes são os rios Iriri, Fresco e Bacajá que possuem variada
gama de ecossistema aquáticos, além de grandes belezas cênicas, cachoeiras
e ilhas. Dentre as várias potencialidades do arranjo hidrológico, vale destacar
o potencial hidroenergetico, biodiversidade, a pesca, a aquicultura e a
navegação que entre outros, ensejam forte oportunização a gestão sustentável
e integrada do uso múltiplo das bacias. (PDRS, 2010, p. 13)

Os rios Iriri, Fresco e Bacajá possuem grande variedade de peixes, e por estarem
contidos dentro do território de Altamira proporcionam a pesca comercial e esportiva.
A pesca esportiva na Amazônia pela riqueza do ecossistema se destaca em relação a
outros países do mundo. O PDRS do Xingu informa que, “a região do Xingu é roteiro prioritário
no circuito de pesca esportiva do Pará, e conta com relativa estrutura privada em algumas bases
legais para o estabelecimento da atividade”.
Em Altamira destaca-se a Volta Grande do Xingu no entorno da Hidrelétrica de Belo
Monte e abrange uma área de aproximadamente 278,64 km2 definidas por duas sub-áreas para
fins de manejo.
No que diz respeito ao uso dos recursos hídricos, vale destacar a presença de cachoeiras
e cavernas situadas em Altamira e Brasil -PA que permitem a recreação tanto dos autóctones,
como dos visitantes. As imagens a seguir apresentam o potencial da cidade de Brasil Novo-PA
situada na Transamazônica com atrativos que podem ser legalmente explorados visando o
desenvolvimento econômico regional.
Imagem 1-Atrativo turístico em Brasil Novo-PA

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Fonte: G1 notícias, 2013.

Existem quatro cavernas na cidade de Brasil Novo-PA, no entanto, destaca-se a caverna


platina, considerada a maior do Pará, ilustrada na imagem a seguir.
Imagem 2- Atrativo turístico em Brasil Novo-PA

Fonte: G1 notícias, 2013.


No que se refere as Unidades de Conservação, deve-se ressaltar a Floresta Nacional de
Altamira (FLONA). As Florestas Nacionais pertencem ao grupo das Unidades de Conservação
de uso sustentável. Conforme o ICMBIO (2012), “trata-se de uma área de cobertura florestal
de espécies predominantemente nativas e tem como objetivo básico o uso múltiplo sustentável
dos recursos florestais e a pesquisa científica”.
A FLONA de Altamira situa-se no oeste do estado do Pará possuindo uma área de
689.012 hectares e abarca os municípios de Altamira, Trairão e Itaituba. A figura a seguir
destaca os limites entre as sedes dos municípios e seus principais acessos.
Mapa 3- Área de abrangência da Flona de Altamira

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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

Fonte: ICMBIO 2012.


Uma Unidade de Conservação de uso sustentável permite a manutenção da
biodiversidade de determinado território. Embora no estado do Pará, e, principalmente na
cidade de Altamira o índice de desmatamento e uso descontrolado dos recursos naturais sejam
uma realidade, esta área aqui representada continua a manter a conservação dos seus recursos
por meio dos órgãos de fiscalização.
Entende-se que além dos aspectos naturais do território, vale destacar os aspectos
humanos como ponto de partida para o desenvolvimento do turismo, uma vez que é o homem
quem detém o controle para acesso e exploração do meio natural, podendo desta forma
estabelecer regras para o manejo do espaço geográfico. Com isso, vale ressaltar a forte presença
indígena que ocupa grande parte do médio Xingu e constrói o território do ponto de vista
sociohistóricos e sociocultural.
A política de proteção ao povo indígena, no entanto, restringe a incorporação de suas
unidades em roteiros turísticos tendo em vista que a maioria das tribos foram recentemente
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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

contatadas pelo homem “branco” por meio da Funai. As territorialidades humanas são fatores
importante para a produção do território, e nesta linha de pensamento entende-se que a inter-
relação entre pessoas de diferentes contextos sociais contribuem para o turismo por meio das
trocas culturais, econômicas e históricas.
Para Saquet (2015, p. 163), “o território vem-a-ser, acontece em sua unidade interna e
externa, numa relação entre sujeitos historicamente condicionados. O território só se efetiva
quando os indivíduos são e estão em relação com outros indivíduos”. Por tanto, esta
territorialidade se aplica inteiramente a atividade do turismo como processo de
desenvolvimento regional.
No decorrer da pesquisa observou-se que a cidade de Altamira como polo das atividades
econômicas da região, mantém os arranjos que permitem o acontecer turístico, tais como
secretaria de turismo e meio ambiente, hospitais, sistema de segurança pública, hotéis, além de
bares e restaurantes. No que diz respeito aos meios de transporte, a cidade possui agências de
turismo, serviço de taxi e moto taxi, estação rodoviárias com ônibus diariamente com destino
as cidades do entorno e outras cidades do Brasil, porto com embarcações que proporcionam
visitas as comunidades ribeirinhas do rio Xingu. Além disto, conta com aeroporto com voos
diários para outros estados.
Todavia, a falta de infraestrutura ainda é um fator ainda presente e que tende a
desacelerar o processo de desenvolvimento regional. Cabe, portanto, aos governos das esferas
municipal, estadual e federal, desenvolver estratégias que condicionem o ordenamento
territorial com vistas a implementar o turismo no contexto da Transamazônica.

5. Considerações Finais

O turismo é uma prática que permite o desenvolvimento econômico dos locais visitados.
O território amazônico brasileiro por ostentar exuberante biodiversidade atrai turistas de vários
lugares do mundo com finalidades diversas. O contexto da Transamazônica que foi o objeto de
estudo nesta pesquisa, proporciona ao visitante a oportunidade de conhecer as potencialidades
do ponto de vista social, econômico, sociocultural e as riquezas naturais.
As territorialidades humanas construídas a partir das inter-relações interpessoais
consistem no enriquecimento do território a partir das trocas culturais, econômicas e históricas,
o que impulsionam a mobilidade humana na região.
A presença de atrativos turísticos no território é de suma importância, no entanto, a falta
de infraestrutura é um fator que desacelera o desenvolvimento da região. Com isso, a
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VI Congresso Nacional de Unidades de Conservação do Delta do Parnaiba/PI - 2019

estruturação de projetos e a criação de políticas públicas tendem a alavancar as atividades em


sentido amplo, atingindo de forma positiva os moradores locais com a geração de emprego e
renda. No contexto da Amazônia brasileira, as atividades do turismo andam em passos lentos
devido a precariedade do ponto de vista estrutural. Portanto, é de inteira importância a presença
do estado a partir de políticas voltadas ao desenvolvimento regional por meio do turismo.

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