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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO


PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO
CENTRO MULTIDISCIPLINAR DE PAU DOS FERROS
CURSO BACHARELADO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA

SAMILLY BRITO NOBRE

A PERCEPÇÃO AMBIENTAL DOS PESCADORES DA LAGOA DO APODI-RN

PAU DOS FERROS


2018
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SAMILLY BRITO NOBRE

A PERCEPÇÃO AMBIENTAL DOS PESCADORES DA LAGOA DO APODI-RN

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado a


Universidade Federal Rural do Semi-Árido,
Centro Multidisciplinar de Pau dos Ferros,
como requisito para obtenção do título de
Bacharela em Ciência e Tecnologia.

Orientador: Profº. Dr. Jorge Luís de Oliveira Pinto


Filho.
Coorientador: Bel. Manoel Mariano Neto da
Silva.

PAU DOS FERROS


2018
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© Todos os direitos estão reservados a Universidade Federal Rural do Semi-Árido. O conteúdo


desta obra é de inteiraresponsabilidade do (a) autor (a), sendo o mesmo, passível de sanções
administrativas ou penais, caso sejam infringidas as leis que regulamentam a Propriedade
Intelectual, respectivamente, Patentes: Lei n° 9.279/1996 e Direitos Autorais: Lei n°
9.610/1998. O conteúdo desta obra tomar-se-á de domínio público após a data de defesa e
homologação da sua respectiva ata. A mesma poderá servir de base literária para novas
pesquisas, desde que a obra e seu (a) respectivo (a) autor (a) sejam devidamente citados e
mencionados os seus créditos bibliográficos.

N754p NOBRE, SAMILLY BRITO.


A PERCEPÇÃO AMBIENTAL DOS PESCADORES DA
LAGOA DO APODI - RN. / SAMILLY BRITO
NOBRE. – 2018.
71 f. : il.

Orientador: JORGE LUIS DE OLIVEIRA


PINTO FILHO.
Coorientador: MANOEL MARIANO NETO DA
SILVA.
MONOGRAFIA (GRADUAÇÃO) - UNIVERSIDADE
FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO, CURSO DE
CIÊNCIA E TECNOLOGIA, 2018.

1. RECURSOS HÍDRICO. 2. PESCA


ARTESANAL. 3. PRÁTICAS AMBIENTAIS. I. DE
OLIVEIRA PINTO FILHO,JORGE LUIS, orient.
II. MARIANO NETO DA SILVA, MANOEL , co-
orient. III. Título.

O serviço de Geração Automática de Ficha Catalográfica para Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC´s) foi desenvolvido pelo Instituto de
Ciências Matemáticas e de Computação da Universidade de São Paulo (USP) e gentilmente cedido para o Sistema de Bibliotecas da
Universidade Federal Rural do Semi-Árido (SISBI-UFERSA), sendo customizado pela Superintendência de Tecnologia da Informação e
Comunicação (SUTIC) sob orientação dos bibliotecários da instituição para ser adaptado às necessidades dos alunos dos Cursos de Graduação
e Programas de Pós-Graduação da Universidade.
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AGRADECIMENTOS

A Deus pai, criador do céu e da terra, que em sua infinita bondade me deu toda benção,
saúde, proteção e amor que eu precisava, mesmo sem ser merecedora. Eu nada seria sem seu
amor incondicional.
Não teria como deixar de expressar a gratidão que tenho aos meus pais, Vanderlei e
Inácia, que sempre fizeram o que podiam para me dar tudo, absolutamente tudo que sempre
precisei. Agradeço também a minha irmã Aline, que nunca mediu esforços para me ajudar no
necessário e que torce por mim em todos os momentos, sou imensamente grata por ter seu apoio
em minha vida.
Não menos importante, agradeço a minha tia Maria Lucelene, ou minha segunda mãe.
Obrigada por ser sempre tão presente em minha vida, por todos os conselhos, por sempre
entender o meu lado e por querer o meu melhor independente de qualquer coisa.
Ao meu orientador Prof. Jorge Luís de Oliveira Pinto Filho, que esteve à disposição de
me ajudar a crescer. É preciso de um grande coração para ajudar a lapidar pequenas mentes.
Ao meu coorientador, Mariano Neto, por toda dedicação, amizade, conselhos e ajuda no
desenvolver desse trabalho. Sua personalidade me mostra que devo sempre querer mais e
mais. Você é fonte de inspiração.
Aos amigos que tive o prazer de adquirir ao longo dos anos, que sempre torcem por
minhas conquistas, que sempre entendem minha ausência e que estão sempre por perto, mesmo
de longe. Obrigada Yara Chaves, Gesiel Soares, Enna Levi, Xavier Neto, Vinicius Almeida,
Leticia Cunha, Mateus Nobre, Caio Graco, Carlos Eduardo, eu amo vocês.
Aos amigos que vieram de brinde nessa graduação. Obrigada Talita Costa, Francisco
Roque, Ricassilly Rufino, Guilherme Fontes, Elson Santos, Adriano Aires, Lucas Menezes,
Raul Aquino, Ewerton Victor, Valquiria Queiroz, Celson Junior, Heloisa Andrade, Analine
Ferreira, Denise Kauanny, Italo Eduardo, Beatriz e Vicente Dantas, por fazerem de meus dias
mais leves e sempre estarem comigo. Em especial, agradeço a Bianca Duarte, a “minha pessoa”,
por ser minha confidente, aguentar meu choro diário, além de me presentear com os melhores
conselhos.
Agradeço a cada pescador que disponibilizou um tempo de seu dia para contribuir em
minha pesquisa. Sem eles, esse trabalho não se realizaria.
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O sucesso não vem de notas, diplomas ou de


título de honra. Vem de experiências que
expandem sua crença no que é possível.
Matea
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RESUMO

O presente trabalho teve como objetivo geral realizar diagnóstico das práticas pesqueiras
na Lagoa do Apodi – RN e, como objetivos específicos: identificar o perfil socioeconômico dos
pescadores da Lagoa do Apodi – RN; realizar a caracterização das práticas ambientais e apontar
a percepção ambiental dos demais casos; e de identificar os principais problemas ambientnais,
dificuldades e anseios em relação à pesca apontados pela comunidade. Como procedimento
metodológico foi utilizado um questionário semiestruturado, e o processo de amostragem se
deu de forma aleatória. Ao traçar o perfil socioeconômico dos pescadores que fazem uso da
lagoa, foi possível verificar perfis de baixa escolaridade e renda, mas que não influenciou na
consciência ambiental dos indivíduos. Foi analisado que os pescadores, em sua maioria, têm
plena consciência dos problemas socioambiental que vem se potencializando ao longo dos anos
com os efeitos da poluição. Após traçada a percepção ambiental, o relato dos pescadores
entrevistados permite observar que a maior fonte de poluição da lagoa é proveniente do despejo
de efluentes, alterando a qualidade hídrica e influenciando negativamente na qualidade dos
peixes capturados. A população pesquisada anseia por diversas melhorias na lagoa que
competem ao poder público local, tal como a realização de melhor planejamento do saneamento
básico e maior periodicidade nas limpezas feitas na lagoa.

Palavras-chave: Recursos hídricos; pesca artesanal; práticas ambientais.


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ABSTRACT

The main objective of this work is to diagnose the fishing activities in Apodi - RN
Lagoon and, as specific objectives: to identify the socioeconomic profile of the fishermen of
Apodi - RN Lagoon, to carry out the characterization of the environmental practices and to
point out the environmental perception of the others cases, and to identify the main
environmental problems, difficulties and desires related to fishing pointed out by the
community. As a methodological procedure, a semi-structured questionnaire was used, and the
sampling process was random. By tracing the socioeconomic profile of the fishermen who use
the lagoon, it was possible to verify profiles of low schooling and income, but that did not
influence the environmental awareness of the individuals. It was analyzed that fishermen, for
the most part, are fully aware of the socio-environmental problems that have been increasing
over the years with the effects of pollution. After the environmental perception was drawn, the
interviewed fishermen report shows that the greatest source of pollution of the lagoon comes
from the effluent discharge, altering the water quality and negatively influencing the quality of
the fish caught. The population surveyed yearns for several improvements in the lagoon that
compete with the local public power, such as better planning of basic sanitation and greater
periodicity in the cleanings made in the lagoon.

Keywords: Water resources, artisanal fishing, environmental practices.


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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 – MAPA DA LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA DE APODI - RN . ............................................ 33


FIGURA 2– MAPA DE EXPOSIÇÃO DA LAGOA DO APODI - RN. ....................................................... 34
FIGURA 3– IMAGEM DA LAGOA DO APODI - RN. .......................................................................... 34
FIGURA 4- DIAGRAMA DAS ETAPAS DESENVOLVIDAS DA PESQUISA. ........................................... 35
FIGURA 5 – IMAGEM DE PESCADORA NA LAGOA DO APODI – RN. ................................................ 38
FIGURA 6 – FAIXA ETÁRIA DOS PESCADORES DA LAGOA DO APODI – RN. .................................... 39
FIGURA 7 – ESCOLARIDADE DOS PESCADORES DA LAGOA DO APODI – RN. ................................. 39
FIGURA 8– RENDA MÉDIA DOS PESCADORES DA LAGOA DO APODI – RN. .................................... 40
FIGURA 9– TEMPO QUE MORA E FAZ USO DA LAGOA DO APODI – RN. .......................................... 40
FIGURA 10– PRINCIPAIS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS PELOS PESCADORES DA LAGOA DO APODI –
RN. ..................................................................................................................................... 41
FIGURA 11– PRINCIPAIS PRODUTOS GERADOS PELOS PESCADORES DA LAGOA DO APODI – RN. ... 41
FIGURA 12– LOCAIS DE COMERCIALIZAÇÃO DO PESCADO DA LAGOA DO APODI – RN. ................ 42
FIGURA 13 – PRODUÇÃO DE PESCADO DIÁRIA DOS PESCADORES DA LAGOA DO APODI – RN. ...... 42
FIGURA 14 – ESPÉCIES CAPTURADAS PELOS PESCADORES DA LAGOA DO APODI – RN. ................ 43
FIGURA 15 – COMO OS PESCADORES DA LAGOA DO APODI – RN APRENDERAM A PESCAR. .......... 43
FIGURA 16 – TEMPO QUE OS PESCADORES DA LAGOA DO APODI – RN EXERCEM A PROFISSÃO. ... 44
FIGURA 17 – IMPORTÂNCIA DA LAGOA DO APODI - RN NA FAMÍLIA. ........................................... 45
FIGURA 18 – IMPORTÂNCIA DA PRESERVAÇÃO DA LAGOA DO APODI - RN NA FAMÍLIA. .............. 45
FIGURA 19– PRINCIPAIS TIPOS DE POLUIÇÃO NA LAGOA. ............................................................ 50
FIGURA 20– PRINCIPAIS AGENTES DE POLUIÇÃO NA LAGOA. ...................................................... 50
FIGURA 21– QUEM MAIS REALIZA A CONSERVAÇÃO/PRESERVAÇÃO DA LAGOA.......................... 51
FIGURA 22 – FREQUÊNCIA DE DEBATES AMBIENTAIS NA COMUNIDADE. ..................................... 51
FIGURA 23– PROBLEMAS MAIS URGENTES NA COMUNIDADE. ..................................................... 51
FIGURA 24 – IMAGEM DE POLUIÇÃO NA LAGOA DO APODI – RN. ................................................. 52
FIGURA 25– PRINCIPAIS IMPACTOS POSITIVOS DA PESCA NA LAGOA........................................... 53
FIGURA 26 – PRINCIPAIS IMPACTOS NEGATIVOS DA PESCA NA REGIÃO. ...................................... 53
FIGURA 27– PRINCIPAIS CONFLITOS SOCIOECONÔMICOS E AMBIENTAIS NA LAGOA. ................... 54
FIGURA 28 – PRINCIPAIS TÉCNICAS DE PESCADO UTILIZADAS. .................................................... 55
FIGURA 29 – INSTRUMENTOS UTILIZADOS NA PESCA. ................................................................. 55
FIGURA 30 – FREQUÊNCIA DO USO DE EQUIPAMENTOS INDUSTRIAIS PARA PESCA. ..................... 55
FIGURA 31– RESPEITO AO PERÍODO DE DEFESA DOS PEIXES. ....................................................... 56
FIGURA 32 – PRÁTICAS AMBIENTAIS DA PESCA NA LAGOA DO APODI - RN. ................................. 56
FIGURA 33– IMAGEM DE PESCADOR UTILIZANDO CANOA NA LAGOA DO APODI - RN. .................. 58
FIGURA 34 – FREQUÊNCIA DA PESCA EM DIAS POR SEMANA. ...................................................... 58
FIGURA 35 – FREQUÊNCIA DE PRÁTICAS DE PROTEÇÃO E CONSERVAÇÃO NA LAGOA. ................. 59
FIGURA 36 – POSSÍVEIS PRÁTICAS AMBIENTAIS QUE PODERIAM SER DESENVOLVIDAS PARA
MELHORAR A LAGOA. ......................................................................................................... 60
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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1– SISTEMATIZAÇÃO DA DISCUSSÃO. ........................................................................... 22


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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CNPA – Confederação nacional de pescadores e aquicultores


IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IGARN - Instituto de Gestão das Águas do Estado do Rio Grande do Norte
IQA – Índice de Qualidade da Água
MPA – Ministério da Pesca e Aquicultura
ONU - Organização das Nações Unidas
PNRH – Plano Nacional de Recursos Hídricos
PPPG – Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-graduação
RGP – Registro Geral da Atividade Pesqueira
RN – Rio Grande do Norte
SEMARH - Secretaria de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos
UFERSA – Universidade Federal Rural do Semi-Árido
SUMÁRIO

RESUMO ................................................................................................................................. 10
ABSTRACT ............................................................................................................................. 11
LISTA DE FIGURAS .............................................................................................................. 12
LISTA DE QUADROS ............................................................................................................ 13
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS .............................................................................. 14
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 13
2. REVISÃO TEÓRICA .......................................................................................................... 16
2.1 RECURSOS HÍDRICOS............................................................................................... 16
2.2. PESCA ARTESANAL .................................................................................................. 18
2.3. CONFLITOS PELO USO/ACESSO DA ÁGUA ......................................................... 20
2.4. SISTEMATIZAÇÃO DOS RESULTADOS DA LITERATURA ................................ 22
3. METODOLOGIA DA PESQUISA ..................................................................................... 32
3.1 CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA ............................................................................. 32
3.2 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO ......................................................... 33
3.3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .................................................................. 35
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ......................................................................................... 38
4.1 PERFIL SOCIOECONOMICO DO ENTREVISTADO .............................................. 38
4.2 PERCEPÇÃO AMBIENTAL........................................................................................ 44
4.3 PRATICAS AMBIENTAIS .......................................................................................... 54
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 61
6. REFERÊNCIAS................................................................................................................... 63
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1. INTRODUÇÃO

A água é compreendida como elemento imprescindível para a vida humana desde as


mais remotas civilizações. Apesar de haver uma abundância de água nos oceanos, o ser humano
faz uso apenas da pequena parcela de água doce existente no mundo para suprir a maioria de
suas necessidades. Esta parcela exige uso racional e controle para preservação de sua qualidade
(DERÍSIO, 2015).
Estima-se que a terra usufrui de 40.000 Km³ anuais de água doce, onde está distribuída
nas precipitações e na evaporação que completa o ciclo biológico da água. Entretanto, esse
número é ainda mais comprimido, tendo em vista que dois terços dessa quantia retornam ao
curso da água e ao oceano após as chuvas. Dessa forma, a parcela restante é menor que 14.000
Km³ anuais, a qual é absorvida pelo solo, assim, podendo ser aproveitada para diversos usos.
Essa pequena parcela de água acessível é o chamado recurso hídrico (PEREIRA JUNIOR,
2004).
Os recursos hídricos têm diversos usos, sendo essencial para a sobrevivência e o
desenvolvimento da humanidade. Para melhor organizar tais usos, Derísio (2015) divide esses
usos em dois grupos: o grupo um, dito como consultivo, refere-se aos usos a qual é necessário
a retirada de água das coleções, onde geralmente é necessário de tratamento antes da utilização
da água, é possível citar o abastecimento público e industrial como exemplo de usos
consultivos, já no grupo dois, dito não consultivo, trata daquele que não é necessário à retirada
desse recurso hídrico de sua coleção para tal, como a diluição de despejos e o transporte.
Devido aos múltiplos usos da água, há uma tendência de que esta sofre perdas na
qualidade. Com isso, as fontes de poluição seguem a seguinte classificação: entre pontuais, que
são identificadas e controladas facilmente; localizadas, que pode ser caracterizada pelo despejo
de esgotos domésticos e industriais, além de efluentes gasosos industriais e aterros sanitários;
e, por último, as fontes difusas ou dispersas, que pode ser desde o agrotóxico utilizado e
carregado pela chuva para os mananciais até os gases expelidos por veículos, sendo esses um
desafio constante de seu controle (BRAGA, 2005).
Como resultado da poluição, os efeitos são os mais variados e extremamente danosos,
dentre eles estão: a poluição orgânica e bacteriológica causada pelo abastecimento urbano e
industrial, despejando substâncias tóxicas e elevando a temperatura da agua; a irrigação que,
além de retirar grandes volumes de água de seus mananciais, faz o uso de agrotóxicos, causando
uma degradação aos recursos hídricos pelo uso de defensivos; a navegação, por sua vez, despeja
óleos e combustíveis na água; o despejo de esgotos em corpos d’água provoca alterações
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orgânicas, físicas, químicas e bacteriológicas; a construção de represas e barragens compromete


a qualidade da água e repercute em todo meio ambiente de seu contorno; e, apesar de não poluir,
a geração de energia elétrica provoca alterações no regime e na qualidade da água (BORSOI e
TORRES, 1997).
Com o crescimento populacional desenfreado juntamente de atividades econômicas,
alguns países consomem quantidades exorbitantes de água e logo se deparam com a limitação
de desenvolvimento e até mesmo a escassez (MORAES e JORDÃO, 2002). A escassez de
recursos hídricos torna difícil o desenvolvimento de diversas regiões (BORSOI e TORRES,
1997).
Devido sua localização e suas dimensões, o Brasil é o país que dispõe a maior
quantidade de recursos hídricos de superfície e subterrâneos, com 14% da água planeta,
provenientes de precipitações em seu território, porém, a cômoda situação nacional disfarça as
desigualdades enfrentadas nas diferentes regiões do país: um habitante do Amazonas tem
disponibilidade de 700.000 m³ de água por ano, enquanto um habitante da Região Metropolitana
de São Paulo tem apenas 280 m³ por ano disponíveis (TUNDISI, 2008). Assim, tornando
notória a discrepância de acordo com cada região brasileira.
Segundo Ramos (2007), em grande parte do Nordeste encontra-se o clima semiárido, na
qual cresce a necessidade de água, há uma grande variação de precipitações por tempo e espaço,
porém, a má distribuição e escassez ainda afeta de forma direta a região.
Apodi é uma cidade interiorana do Rio Grande do Norte, no semiárido nordestino, e a
mesma faz parte da Bacia do Rio Apodi-Mossoró (LEMOS, FERREIRA NETO e DIAS, 2008).
A cidade teve seu processo de colonização às margens de sua lagoa. Desde então, essa lagoa
vem tendo diversos usos, tais como: abastecimento de cidades vizinhas, agricultura, pesca,
preservação de espécies aquáticas, recreação, navegação, diluição de efluentes, uso
paisagístico, recarga do lençol freático, entre outros (MOREIRA, 2017), a qual virou fonte de
renda para diversas famílias que vivem aos arredores. Entretanto, esses diversos usos acabaram
gerando conflitos ao longo dos anos, o que origina um cenário de vulnerabilidade social,
econômica e ambiental na região, tendo em vista que se tornou difícil os mesmos entrarem em
consenso devido aos diferentes ideais que cada uso solicita.
Diante dos fatos apresentados anteriormente, a Lagoa do Apodi-RN tornou-se alvo de
diversos estudos com múltiplas compreensões, bem como: Souza (1999); Pinto Filho e Oliveira
(2008); Oliveira, Souza e Castro (2009); Lemos, Ferreira Neto e Dias (2008); Santana Junior
(2010); Pinto Filho, Santos e Souza (2012); Tavares, Lima e Bertini (2015); Souza et al. (2016);
Soares et al. (2017); Torres (2017); Moreira (2017); Nascimento (2018); Chaves (2018);
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Magalhães (2018). Toda via, ainda há carência de estudos referente à percepção ambiental com
pescadores na mesma, tornando-se relevante esta pesquisa, tendo em vista que a pesca é uma
atividade de extrema importância para economia local a qual faz uso da referida lagoa como
espaço principal para desenvolver a atividade.
O estudo sobre a percepção se faz importante para analisar o modo a qual cada povo
“ver e representar o mundo” (MARIN; OLIVEIRA; COMAR, 2004, p. 109). Nesse âmbito, o
estudo da percepção ambiental é importante para a melhor compreensão das interações entre o
homem e o ambiente, além de ressaltar suas expectativas, satisfação e insatisfação, julgamentos
e condutas (ZAMPIERON et al., 2003). De acordo com Lopes e Guedes (2013), a percepção
ambiental dos indivíduos varia muito de acordo com a comunidade em questão, pois sofre
influência de diversos fatores, tais como conhecimento e condições socioeconômicas. Desta
forma, torna-se justificável a pesquisa acerca da percepção ambiental dos pescadores, uma vez
que será investigado os diversos perfis dos mesmos e analisar a forma como se interligam.
Com isso, o presente trabalho tem como objetivo geral realizar diagnóstico das práticas
pesqueiras na Lagoa do Apodi – RN e, como objetivos específicos: identificar o perfil
socioeconômico dos pescadores da Lagoa do Apodi – RN, realizar a caracterização das práticas
ambientais e apontar a percepção ambiental dos demais casos, e de identificar os principais
problemas ambientais, dificuldades e anseios em relação à pesca apontados pela comunidade.
Desta forma, este trabalho é estruturado com uma revisão teórica, explanando os tópicos
recursos hídricos, pesca artesanal e conflitos pelo uso e acesso a água, seguido de metodologia,
resultados e discussões e considerações finais.
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2. REVISÃO TEÓRICA

2.1 RECURSOS HÍDRICOS

A água doce é um recurso finito e, a mesma vem sofrendo alteração de sua qualidade
mediante o crescimento populacional e a ausência de políticas públicas eficazes para sua
preservação (MERTEN E MINELLA, 2002). Assim, trata-se a água como um bem essencial e
indispensável para a higiene e o bem-estar humano, além de ser decisivo para a evolução social
e econômica, graças a seus inúmeros usos e benefícios (YASSUDA, 1993).
O consumo já vem se estabilizando em países desenvolvidos, entretanto, nos países a
qual se encontra em desenvolvimento significativo, o consumo continua a se elevar (PEREIRA
JUNIOR, 2004).
Segundo Bhatia & Bhatia (2006), economias regionais e nacionais dependem de água
para movimentar diversos setores, tais como: geração de energia, abastecimento público,
irrigação e produção de alimentos (agricultura, aquicultura e pesca, por exemplo). De acordo
com Yassuda (1993), podemos acrescentar alguns usos, como: transporte hidroviário;
numerosos usos em processos industriais; recreação e lazer em praias, lagos, clubes ou esportes
aquáticos; riqueza paisagística e valorização da qualidade de vida urbana e do turismo em
cidades banhadas por cursos de água salubres e piscosos; todavia, há malefícios resultados do
contato homem-água, como as inundações periódicas e transmissão de doenças de viculação
hídrica.
Apesar de sua grande importância para vida e desenvolvimento socioeconômico, a
gestão dos recursos hídricos vem apresentando fragilidades, mediantes a desperdícios durante
sua distribuição e uso e, poluição dos reservatórios (NASCIMENTO, 2018). Essa fragilidade
acarreta o comprometimento da qualidade da água, decorrente de poluição causada por
diferentes fontes, como efluentes domésticos, industriais e deflúvio superficial urbano e
agrícola (MERTEN E MINELLA, 2002).
Derisio (2015) classifica os tipos de poluição como:
 Poluição Natural: Não associada à atividades humanas e, por isso, costuma fugir
ao alcance de medidas controladoras diretas;
 Poluição industrial: Constitui-se de resíduos gerados em processos industriais e,
quase sempre é o fator mais significativo no âmbito de poluição;
17

 Poluição urbana: Proveniente de habitantes de uma cidade. O mesmo dispõe de


tecnologia de controle;
 Poluição agropastoril: Decorrente de atividades ligadas à agricultura e à
pecuária. Este tipo de poluição é de difícil controle;
 Poluição acidental: Decorrente de derramamento de materiais prejudiciais à
qualidade das águas. Necessita de ações de controle de emergência, entretanto são necessárias
medidas de caráter preventivo;
Como consequência desses tipos de poluição, Derisio (2015) também classifica as
consequências causadas de acordo com cada uso da água.
 Águas destinadas ao abastecimento público: Contaminação ou poluição
bacteriana das águas, com consequente perigo à saúde pública;
 Águas para uso industrial: Danos provocados pelos agentes químicos e
obstruções e entupimento nas tomadas de água e outras instalações em função da presença de
excesso de materiais oleosos, compostos químicos e demais materiais em suspenção;
 Águas onde ocorre pesca comercial: Destruição dos peixes por asfixia,
degeneração e enfraquecimento dos peixes, obstrução dos locais destinados à deposição de ovos
e de áreas que servem de alimentos, substituição natural das espécies mais desejáveis por
espécies mais resistentes e redução do valor econômico de áreas, considerando a indústria da
pesca;
 Águas utilizadas na agricultura e pecuária: Poluição bacteriana que vem a
condenar o leite produzido e hortaliças, Poluição química resultando em morte dos animais,
elevação de despesas para não haver contato do gado com o corpo d’água poluído, depreciação
das terras devido à degradação das águas e destruição de plantações;
 Águas para navegação: Formação de banco de lodos, ação agressiva das águas
sobre a estrutura das embarcações e necessidade de drenagem dos locais navegáveis;
 Águas destinadas à recreação e lazer: Contaminação por bactérias, vírus e
infecção através de parasitas e consequentemente aparecimento de disenterias intestinais, febre
tifoide, cólera e doenças de pele além de ocorrências incomodas à população de maus odores,
aspectos estéticos indesejáveis, presença de espuma e etc.
Desta forma, é possível verificar os danos causados pela poluição às diversas atividades
que necessitam do uso de água, tornando-se extremamente prejudicial a saúde humana, de
animais e de plantas que entrarem em contato.
18

No Brasil, existe o Plano Nacional de Recursos Hídricos (PNRH), o qual se trata de um


conjunto de estratégias, ações e relações interinstitucionais, instrumentos da política,
informações e ferramentas de apoio à decisão, ações de comunidade social, fontes de
financiamento e intervenções físicas seletivas que, quando implementadas, possibilitam e
potencializam o equacionamento regional ou local de problemas relacionados aos recursos
hídricos. O objetivo geral do PNRH é estabelecer um pacto nacional para a definição de
diretrizes e políticas públicas voltadas para a melhoria da oferta da água, no quesito quantidade
e qualidade. Além disso, os objetivos estratégicos do PNRH são: (i) Melhoria da
disponibilidade hídrica; (ii) Redução dos conflitos reais de usos da água; (iii) Percepção da
conservação da água como valor socioambiental relevante.

2.2. PESCA ARTESANAL

A pesca é uma atividade desenvolvida desde o primeiro milênio, explorando


ecossistemas aquáticos mediante características como migração, alimentação, época e lugares
de desova dos cardumes, desenvolvendo e aprimorando técnicas de captura de baixo impacto
sobre a ictiofauna, características essas dadas através da vida dos rios e hábitos dos peixes
analisados periodicamente (OLIVEIRA e NOGUEIRA, 2000; MUEHE e GARCEZ, 2005;
RAMIRES et al., 2012a), tornando possível o aprimoramento da atividade através do
conhecimento acumulado ao longo dos séculos em relação ao ciclo de vida das espécies
pescadas (DIEGUES, 2004).
A primeira organização de cunho social de pescadores, se deu em 1920, por meio das
colônias de pescas, que a inicio teve o intuito de povoar e ocupar o litoral do país. (LOURENÇO
et al., 2003). Hoje, essas colônias são vistas como associações sindicais dos pescadores (as)
artesanais municipais. (RUFFINO, 2004).
Como toda atividade voltada para o comercio alimentício, a pesca artesanal é uma
atividade bastante expandida em todo Brasil, gerando alimentos ricos em proteínas e minerais,
além de sua importância econômica, que é fonte de renda para muitas famílias (LOURENÇO
et al., 2003). Desta forma, segundo Santos et al. (2008), considera-se esta modalidade de pesca
como uma atividade de suma importância no ponto de vista econômico e social, a qual fortalece
a produção do pescado além de trazer trabalho e renda para a comunidade pesqueira.
Quanto a abrangência da pesca, em dimensões regionais, no Nordeste brasileiro, a pesca
artesanal colabora com aproximadamente 85% do pescado capturado para economia, tornando-
19

se um papel importante no sustento e segurança alimentar de muitas comunidades pesqueiras


(SILVA, 2013).
A pesca artesanal é considerada como uma das principais atividades econômicas do
estado do Rio Grande do Norte (IBAMA, 2008). Esta atividade é realizada atualmente métodos
de baixo custo, como embarcações comumente não motorizadas, aparelhagem de pesca diversa
e com pouca autonomia (NERY, 1995).
No Rio Grande do Norte, é possível encontrar a pesca artesanal tanto no mar como em
rios, lagos e reservatórios, porém, mais tradicionalmente no mar, onde se realiza
exclusivamente através do trabalho manual e em formas de organização social das pescarias,
sendo que este trabalho braçal está presente em todas as etapas da pesca (SILVA, 2010).
Em algumas comunidades, a pesca artesanal é a principal atividade fornecedora de renda
e alimento, porém, ainda há pouco conhecimento quanto as espécies exploradas, estratégias de
pesca, e realidade socioeconômica (SILVANO, 2004).
Mediante tal realidade, foi instituída a Lei de nº 11.959 do Brasil (2009), que dispõe
sobre a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável da Aquicultura e da Pesca, a qual
regula as atividades pesqueiras no Brasil. Esta lei define pesca como toda operação, ação ou ato
tendente a extrair, colher, apanhar, apreender ou capturar recursos pesqueiros.
Os pescadores são marcados por histórias de luta contra as dificuldades impostas pela
natureza, tempo e, em especial, o ser humano, a qual grande parte, consideram a ganância o
sentimento que mais afeta a vida do pescador artesanal. Mas estes, seja como for, persistem que
viver da pesca tenha sido, e ainda seja, o que desejam e fazem de melhor (MARCOMIN E
SATO, 2016).
Para Silva e Leitão (2012), a pesca artesanal é caracterizada como uma atividade de
pouca tecnologia e embarcações simples, como a canoa movida a remo, utilizando o trabalho
do corpo humano como tração para a embarcação.
De acordo com o Registro Geral da Atividade Pesqueira (RGP) do Ministério da Pesca
e Aquicultura (MPA), atualmente o Brasil possui mais de um milhão de pescadores artesanais,
o que ressalta ainda mais a importância das atividades pesqueiras (MPA, 2012).
Na pesca, existe um período do ano – variando de acordo com a região - a qual é proibido
realizar atividades pesqueiras, em decorrência ao período de reprodução dos peixes. Em áreas
estuarinas, esse período é chamado de defeso, variando de junho a setembro. Já em águas doce,
é chamado de piracema e seu período é de novembro a janeiro (TEIXEIRA, 2005).
Segundo Pasquotto e Miguel (2004), no Brasil, é possível encontrar em toda a costa e
em águas de interiores pessoas ou famílias que tem a pesca artesanal como exercício de uma
20

atividade na qual se juntam condições objetivas de sua realização, como a alimentação e renda,
condições subjetivas, como o conhecimento tradicional e o trabalho fortemente condicionado
por dinâmicas ambientais.
Assim, é possível analisar o valor econômico, social e simbólico da pesca artesanal em
comunidades pesqueiras, uma vez que esses indivíduos dependem diretamente da prática para
obter alimentos e o sustento de suas famílias, além de também ser vista como uma herança
familiar, uma vez que filhos aprendem a pescar com seus pais e assim sucessivamente.

2.3. CONFLITOS PELO USO/ACESSO DA ÁGUA

Desde os primórdios da humanidade, os recursos hídricos foram imprescindíveis para a


existência, instalação ou migração de populações em todo planeta, onde determinam o
surgimento ou o desaparecimento de civilizações, dando ênfase ao valor causado para vida
humana (FIRMINO, 2011).
Nesse contexto, sua disponibilidade é necessária para que haja vida no planeta, além de
ser fundamental para diversos meios de produção, tornando imprescindível que, além de sua
qualidade, sua quantidade também seja satisfatória para suprir tais necessidades, pois, as águas
em mananciais são a principal fonte para as suas grandes demandas (NETO et al., 2014).
Os crescimentos populacionais e socioeconômicos são frequentes e, consequentemente,
cresce a demanda por água, a qual quantidade e qualidade são características importantes para
bem-estar humano e desenvolvimento de toda comunidade (BUENO et al., 2005).
A Lei Federal nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997 que instituiu a Política Nacional de
Recursos Hídricos, traz à tona a importância da qualidade das águas, além de fundamentar a
gestão dos recursos hídricos, unindo o seu uso a objetivos racionais que preservem sua
disponibilidade para gerações futuras.
De acordo com a ONU (2002), o aumento populacional cresce a cada ano e, a tendência
é que cresça cada vez mais. Em 1990, a população mundial era de 5,3 bilhões e, acredita-se que
em 2030 a mesma chegue a 8,6 bilhões, em 2050 com 9,8 bilhões e em 2100 ultrapasse de 11,2
bilhões. Esse crescimento aconteceu de forma mais vigorosa a partir do século XIX e XX,
entretanto, a partir do final do século passado se observa uma redução na taxa de crescimento.
Essa redução pode estar relacionada ao envelhecimento dos países desenvolvidos, enquanto que
nas nações subdesenvolvidas se observa um constante aumento da população. Com tudo, ao
passo em que a população não reduz a velocidade de crescimento, ocorre a elevação dos padrões
21

de vida e dos níveis de consumo, que torna os conflitos por água uma temática emergente. Esse
aumento populacional sem um bom planejamento e gestão ambiental, próximo a rios, lagos,
açudes e barragens acabam ocasionando impactos enormes para o meio ambiente (MORAIS,
2016).
O mínimo necessário para sobrevivência de uma pessoa é de 1.000 m³ anuais de água,
entretanto, com base na população mundial de 1998, a abundância do recurso hídrico mundial
permite que em média cada indivíduo utilize cerca de 6.800 m³ anuais. Esse valor irá variar de
acordo com a localização do mesmo, decorrente a desigual variação de precipitações
atmosféricas e a aglomeração de pessoas em determinado continente (PEREIRA JUNIOR,
2004).
A poluição gerada em corpos aquáticos traz prejuízos econômicos, que vão desde a
redução da pesca até o aumento do preço de consumo de água tratada (BILICH; LACERDA,
2005). Quase todos os esgotos domésticos urbanos são lançados em corpos d’água, sejam lagos,
rios ou no mar. Isso acontece mediante aos projetos de saneamento se deterem apenas ao
sistema de abastecimento de água e deixarem passar o tratamento futuro do esgoto gerado
devido aos gastos elevados e pouca prioridade do poder público mediante ao problema
(PEREIRA JUNIOR, 2004).
Como decorrência do despejo liquido não tratado em águas onde ocorre a pesca
comercial, é possível citar inúmeros impactos negativos causados, como: a morte de peixes por
asfixia; degenerescência e enfraquecimento dos peixes; obstrução dos locais destinados à
deposição de ovos e de áreas que servem de alimento devido à deposição de lodo; a substituição
natural das espécies mais desejadas por espécies mais resistentes; redução do valor econômico
de áreas, levando em consideração a indústria da pesca (DERÍSIO, 2015).
As comunidades de pescadores são afetadas por diversos processos econômicos e
ecológicos, que estão fora de controle. A exemplo, vemos a perda da diversidade biológica do
meio marinho, destruição dos mangues para implementar carcinicultura e o grande crescimento
urbano, a qual afeta os estuários, ocupando os espaços de praia ou mangue que poderiam
desembarca o pescado (LOPES E GUEDES, 2013).
22

2.4. SISTEMATIZAÇÃO DOS RESULTADOS DA LITERATURA

A sistematização é um formato metodológico de elaboração do conhecimento.


(GALEANO, 2000). Com isso, foi elaborado uma sistematização dos resultados de pesquisas
sobre percepção ambiental de pescadores, que, em síntese, abordaram perfis socioeconômicos,
percepção ambiental e práticas ambientais de pescadores de várias comunidades. Esses
trabalhos foram selecionados para uma faixa temporal entre 2013 e 2017 (Quadro 1), a qual
esses trabalhos foram selecionados de acordo com condições parecidas as da Lagoa do Apodi
– RN.

Quadro 1– Sistematização da discussão.

Autores Objetivos Resultados


Lopes e Guedes Estudar a percepção  O presente estudo mostrou que a
(2013) ambiental dos pescadores comunidade de pescadores está
que são membros da colônia consciente dos problemas ambientais
de pescadores Z-45 no que a cercam e dos danos que estes
município de Macaíba no provocam no meio ambiente.
Estado do Rio Grande do  O estudo ainda revelou que, na
Norte, a fim de diagnosticar opinião da grande maioria dos
a relação cognitiva e participantes, os principais culpados
emocional desses membros pela degradação dos rios são as
com o ecossistema em que indústrias da região e que o governo,
vivem e identificar quais são por possuir meios legais, deveria
os principais problemas tomar a frente nas iniciativas de
ambientais na concepção da despoluir o rio, porém um pequeno
comunidade, quais são as percentual acha que estes problemas
dificuldades enfrentadas e são de responsabilidade dos órgãos
quais são as expectativas e ambientais como o IDEMA.
anseios em relação à pesca
no ambiente.
23

Marcomin e Sato Busca compreender a  Exceto 3 entrevistados (A, E e I),


(2016) percepção ambiental sobre todos os demais consideram a
os elementos da paisagem paisagem como natureza.
natural e antrópica  O entrevistado E não a define, e o I a
apresentada pelos considera a flora e a fauna. Na
pescadores tradicionais da percepção de D, é o que havia no
região litorânea do lugar antes da ocupação humana.
município de Laguna, Santa Todos os entrevistados da área do
Catarina, em suas Farol de Santa Marta apontam, como
dimensões de conflito e principal alteração, a questão da
estética, com vistas a ocupação humana, a maior densidade
identificar processos que de residências em decorrência do
contribuam com a turismo. Para os pescadores da área
sensibilização ambiental e da Ponta da Barra, a principal
com a formação de sujeitos alteração foi gerada na área das
em e para a Educação lagoas. Tanto o entrevistado D
Ambiental. quanto o E mencionam a falta de
fiscalização no processo de ocupação
das áreas de lagoas. A percepção que
F possui realça a beleza como
intimamente relacionada à estrutura
que a praia oferece ao turista e ao
modo de este gerenciar o espaço e o
lugar, controlando possíveis
processos agressores às condições
locais
 Os problemas decorrentes da
rizicultura e a supressão da
vegetação nas áreas de entorno das
lagoas também foram apontados pelo
entrevistado J. Enquanto o
entrevistado G preocupa-se mais
com a questão da natureza/paisagem,
o H sinaliza a importância dessa
paisagem para a infraestrutura
turística.
Morais (2016) Quantificação de coliformes  Observou-se que 84,5%
totais e termotolerantes, entrevistados eram do sexo
bactérias heterotróficas masculino, 24,7% possuíam um
aeróbias mesófilas, tempo de associação maior que 9
Staphylococcus aureus e anos, 75,3% dos pescadores
pesquisa de Salmonella sp. declararam uma renda instável sem
na água e no peixe afim de um valor fixo por mês e 96,9 %
caracterizar a situação sobrevivam da pesca de subsistência.
higiênico-sanitária do Rio  O peixe mais capturado pelos
Apodi-Mossoró, RN em pescadores é a tilápia (Oreochromus
2015. Apresentar os dados niloticus) com percentual de 83,5% e
socioeconômicos e avaliar a foram constatados valores baixos
percepção ambiental dos para a captura do cascudo
pescadores artesanais da (Hypostomus regani) chegando a 1%
24

colônia Z-55 do município das citações, já quanto à


de Mossoró-RN quanto à comercialização do peixe, essa é
poluição do Rio Apodi- feita diretamente ao consumidor
Mossoró. (venda de porta em porta)
apresentando o maior percentual
com 85,6%, quanto ao consumo do
peixe,96,9% dos pescadores
declararam que consumiam o peixe
capturado no rio.
 90,7% dos pescadores afirmaram que
o rio Apodi-Mossoró está poluído,
82,5% disseram que o rio é poluído a
mais de 3 anos, a principal
identificação da poluição feita pelos
pescadores é feita pela visualização
de lixo no rio com 30,9% e a cor
esverdeada da água (eutrofização)
com 30,9%.De acordo com os
pescadores, a poluição do rio vem
aumentando cada vez mais no
decorrer dos anos com 80,4% das
respostas e que a poluição do rio é o
principal fator quanto ao prejudicado
da pesca artesanal em Mossoró-RN.
 100 % dos pescadores exercem a
pesca artesanal de subsistência,
sendo que a pesca é realizada por
apenas uma pessoa da família,
representando 52,6%, os pescadores
foram indagados se existia um
período defeso e 96,9 %
responderam positivamente para a
pergunta e se eles já tinham
participado de algum curso de
capacitação sendo que 55,7%
responderam que não, mas que
tinham interesse de participar
futuramente.
Prosenewicz e Visa identificar as  Outro fator observado nesta pesquisa
Lippi (2012) percepções dos pescadores foi o desconhecimento que os
quanto às condições de pescadores têm quanto ao direito à
saúde e à exposição aos saúde, ou seja, se há muita demora ou
fatores de risco. não recebem o atendimento pelo
SUS, desistem ou buscam os
serviços no setor privado. Nenhum
dos entrevistados relatou que
procurou o Ministério Público para
validar seus direitos.
 A maioria (16 de 23) não concluiu o
ensino fundamental, outros (6) são
25

analfabetos e somente um (1) pesca-


dor relatou que completou o ensino
médio.
 Em relação às mulheres
entrevistadas, somente uma relatou
que usa o colete salva-vidas.
 A maioria (9) dos que enfrentaram
esse problema mudou-se
posteriormente para uma casa mais
alta ou fez aterro e ergueu a mesma
casa, os demais permaneceram na
mesma residência. Boa parte dos
entrevistados relatou alguma
situação de risco ou agravo à saúde
durante o período de enchente.
 Observou-se, neste estudo, que para
o pescador ser ribeirinho facilita
muito o seu trabalho, pois o barco
chega perto da casa, não
necessitando de transporte para pôr
na água,
Seixas et al. Verificar a percepção dos  A maior parte dos pescadores e
(2014) pescadores artesanais da maricultores nasceram e residem na
praia da região (80%), apresentam tempo
Cocanha/Caraguatatuba, médio de atividade de 19 anos e faixa
litoral norte paulista, Brasil etária de 34 a 54 anos.
 69% dos entrevistados possuem
renda complementar, seja na prática
da pesca aliada à maricultura ou em
trabalhos em outros segmentos,
como prestação de serviços gerais.
 Pesca é citada por 71% dos
entrevistados como atividade
complementar (considerando apenas
aqueles que desenvolvem uma
segunda fonte de renda), frente a
28,5% atribuídos à maricultura, que
começou a ser desenvolvida há duas
décadas no local.
Silva (2014) Avaliar a influência das  A faixa etária dos pescadores variou
condições ambientais e os entre 18 e 68 anos. 41% possuía
impactos na pesca artesanal idade superior a 50 anos.
no Rio Mumbaba.  57% tem ensino fundamental
incompleto, 22% tem fundamental
completo e 13% não frequentaram a
escola.
 39% é natural de João Pessoa.
 45% exercem outra atividade e tem a
pesca como lazer.
26

 42% vivem da pesca.


 40% exerce a pesca entre 11 e 20
anos; 35% entre 1 e 10 anos; 10%
entre 21 e 30 anos e 15 % a mais de
30 anos.
 65% pescam entre 1 e 2 dias na
semana; 23% pescam entre 3 e 4 dias
e 12% pescam todos os dias.
 13 entrevistados aprenderam a
pescar com familiares; 5 aprenderam
com amigos e 3 sozinhos.
 Os apetrechos utilizados foram:
Tarrafa e rede (23%); Malhadeira
(20%); Anzol (14%); covo e
pitimboia (5%); feiticeira (2%);
gaiola (2%); gererê (2%); piabeira
(2%); Puça (2%).
 Espécies citadas: tilápia; curimatã;
traíra; tucunaré; piau; piaba; muçum;
pintado.
 63% do pescado é para consumo
próprio; 23% para comercialização e
14% para partilha.
 65% se referiu como importante.
Silva, Oliveira e Identificar a etnotaxonomia  Em Barreiras, 27% dos pescadores
Schiavetti (2014) (nomenclatura e entrevistados estão na faixa etária
classificação segundo os entre 41-45 anos de idade. Em Diogo
pescadores) e analisar o Lopes, 26% estão na faixa etária de
conhecimento ictiológico 56-60 anos, enquanto em
dos pescadores artesanais da Sertãozinho, 26% dos entrevistados
Reserva de estão na faixa etária de 51-55 anos.
Desenvolvimento  Quanto ao tempo trabalhando na
Sustentável Estadual Ponta pesca, 35% dos entrevistados de
do Tubarão, através dos Barreiras está há mais de 40 anos na
aspectos cognitivos atividade. Em Diogo Lopes, 29%
comparados com os está também na atividade há mais de
científicos, a fim de 40 anos e em Sertãozinho, 46% está
subsidiar a gestão na atividade entre 36-40 anos.
sustentável dos recursos  Quanto ao grau de escolaridade, foi
locais. identificado que 47% dos pescadores
de Barreiras cursaram até o ensino
médio; 39% dos pescadores de
Diogo Lopes cursaram o ensino
fundamental II, e 33% dos
pescadores de Sertãozinho cursaram
o ensino médio. Os analfabetos
corresponderam a 11% em Barreiras,
13% em Diogo Lopes e 3% em
Sertãozinho. Constatou-se também
27

que 88% possui uma renda mensal de


até um salário mínimo.
 Quanto à profissão do pai, 65%
respondeu que era pescador, e que
iniciou na pesca com a influência de
gerações anteriores, por meio do pai
ou amigos muito próximos.
 No entanto, entre os 110 pescadores
entrevistados nas três comunidades,
77% não possuem filhos trabalhando
diretamente na atividade da pesca.
 Quanto ao ambiente de pesca, 40%
do total dos entrevistados pratica a
atividade no estuário, 11% na
plataforma continental, 10% na
região oceânica, 16% na zona do
talude continental, considerada
localmente como “águas do peixe-
voador”, destacando apenas os mais
citados dentre os 22 pesqueiros
descritos pelos pescadores.
Zacarkim, Avaliar o perfil dos  Prevalência de 65% dos
Oliveira e Dutra pescadores da foz do rio entrevistados formada por homens.
(2017) Araguaia, localizada entre  O nível de escolaridade avaliada foi
os estados do Tocantins e baixo, apresentando percentuais de
Pará. 90% dos pescadores com até ensino
fundamental completo, níveis
maiores que o ensino fundamental
completo corresponde apenas a 10%
dos entrevistados.
 Já no que tange a renda familiar
mensal, 86% dos pescadores vivem
com até 3 salários mínimos,
enquanto os outros 14% estão
distribuídos entre aqueles que
recebem acima de 3 salários.
 Quanto ao número de pessoas que
integram a família, observa-se que a
média é de 5±2,6 pessoas, sendo, que
os trabalhadores ativos
correspondem a 2,7±1,5 e apenas
2,2±1,6 atuam exclusivamente da
pesca, enquanto, a atividade é
exercida 4,6±1,3 dias por semana.
 66% dos pescadores permanecem
por mais de 10 horas diárias na
atividade, enquanto, apenas 20% e
14% dedicam-se atividade durante 6
e 10 horas respectivamente. Também
de acordo com a pesquisa a maioria
28

dos pescadores (90%) atua nos três


turnos (manhã, tarde e noite).
 Ao avaliar a área de preferência de
pesca, constatou-se que a maioria
prefere os municípios de Araguanã–
TO (51%) e Piçarras-PA (49%).
 Fato este comprovado quando
analisado a distância percorrida
pelos pescadores, onde 52% dos
entrevistados percorrem até 100 km.
 Cerca de 96% dos pescadores
possuem embarcação própria, sendo
95% do tipo rabeta (Canoa),
confeccionado em madeira (95%),
com comprimento acima de 6 metros
(70%) e motor de até 7 HP (91%).
 Os apetrechos de pesca mais
utilizados foram rede de emalhar
(91%), tarrafa (69%), caniço (67%),
linha de mão (66%) e espinhel
(52,5%). Outros apetrechos
correspondem com apenas com
2,5%. Ainda segundo os pescadores,
o tipo de panagem (emalhe) utilizado
nas redes de emalhe/espera são
preferencialmente de 8 a 14 cm.
 Parte dos pescadores, em torno de
50,2% preferem vender diretamente
ao consumidor ou ainda entregar nas
colônias de pescadores (38,6%) e a
peixeiros atravessador (29,5%).
 Cerca de 53% dos entrevistados
alegaram receber algum tipo de
auxílio. Destes 71% recebem o
Bolsa-Família do governo federal,
11% são aposentados e exercem a
atividade como complementação à
renda, 10% obtém auxilio para
combustível e 7% recebem auxílio
para embarcação (1%), aquisição de
sal (2%) e gelo (4%).
 Dos 562 pescadores, 94% afirmaram
ter a licença de pescador
profissional, bem como, estarem
afiliados a alguma colônia de pesca.
Destes, 83% recebem seguro defeso,
cedido pelo Ministério da
Previdência no período da piracema.
Além, de recebem o seguro defeso,
29

67% afirmaram desempenhar outra


atividade no período da piracema.
Zappes, Oliveira e Descrever e analisar a  Muitas esposas dos pescadores de
Di Beneditto percepção dos pescadores Atafona (60%, n= 18), Barra do Açu
(2016) artesanais que atuam no (73%, n= 22) e Farol de São Tomé
norte fluminense e de seus (87%, n= 26) trabalham com a pesca,
familiares em relação à atuando no beneficiamento do
viabilidade da atividade pescado (filetam peixes e descascam
pesqueira na região frente às camarões) e complementando a
atividades do CLIPA. renda familiar. A faixa etária dessa
classe de entrevistados foi de 17 a 62
anos em Atafona, 19 a 63 anos na
Barra do Açu, e 20 a 56 anos no Farol
de São Tomé.
 Considerando os filhos de
pescadores, em Atafona 67% (n=20)
são do sexo feminino com idade
entre 11 e 18 anos, e 33% (n=10) do
sexo masculino com idade entre 12 e
18 anos; na Barra do Açu 43% (n=
13) são do sexo feminino com idade
entre 9 e 16 anos, e 57% (n=17) do
sexo masculino com idade entre 8 e
18 anos; e no Farol de São Tomé
60% (n=18) são do sexo feminino
com idade entre 8 e 18 anos, e 40%
(n=12) do sexo masculino com idade
entre 7 e 19 anos.
 A maioria dos pescadores e suas
esposas não concluíram o Ensino
Fundamental. Todos os filhos de
pescadores entrevistados frequentam
a escola, e a maioria se distribui entre
o Ensino Fundamental e o Médio.
 Nas comunidades de Atafona e Farol
de São Tomé, cerca de 30% dos
filhos de pescadores sabem pescar, e
aprenderam a prática por diversão
com os pais, tios e avós. Já na Barra
do Açu esse percentual é mais
expressivo, e 60% dos entrevistados
(n= 18) relataram saber pescar,
aprendendo a prática com os pais e
avós. Em relação ao tempo que os
pescadores atuam na atividade
pesqueira, o período mais relatado
em Atafona foi entre 11 e 20 anos
(43%, n= 13), na Barra do Açu entre
41 e 50 anos (23%, n= 7), e no Farol
30

de São Tomé entre 31 e 40 anos


(40%, n= 12).
 Os petrechos de pesca utilizados nas
comunidades estudadas incluem
modalidades de redes, linhas e
armadilhas, e em geral são utilizados
ao longo de todo o ano.
 A maioria dos filhos de pescadores
não tem interesse em atuar na pesca:
Atafona (93%, n=28), Barra do Açu
(53%, n=16), e Farol de São Tomé
(67%, n=20).
 A maior parte dos pescadores
demonstrou interesse em trabalhar
em outra atividade profissional
(63%, n=19), principalmente em
oportunidades oferecidas a partir do
próprio CLIPA.
 Em geral, os pescadores que atuam
na Barra do Açu (67%, n=20) e no
Farol de São Tomé (67%, n=20) não
pretendem parar de trabalhar na
pesca artesanal, justificando como
opção pela tradição familiar e por ser
a única profissão em que sabem
atuar.
 Segundo esposas de pescadores de
Atafona, os maridos têm interesse
em mudar de profissão (57%, n= 17).
 Já as esposas dos pescadores da
Barra do Açu (87%, n= 26) e do
Farol de São Tomé (97%, n= 29)
relataram que seus maridos não têm
interesse em mudar de atividade
profissional.
 Atafona (47%, n= 14), Barra do Açu
(53%, n= 16), e Farol de São Tomé
(67%, n= 20). Para as esposas dos
pescadores de Atafona (53%, n= 16)
e do Farol de São Tomé (33%, n=
10), as atividades do CLIPA também
estariam vinculadas ao declínio ou
fim da pesca artesanal.
 As esposas dos pescadores da Barra
do Açu indicaram que a poluição que
alcança os ambientes costeiros é
responsável pelo declínio desta
atividade (47%, n= 14).
 Para os filhos dos pescadores, o
declínio da pesca na região está
31

relacionado principalmente à
poluição que alcança os ambientes
costeiros: Atafona (33%, n= 10),
Barra do Açu (67%, n= 20), e Farol
de São Tomé (60%, n= 18).
 Os pescadores citaram as seguintes
providências para minimizar as
interferências do CLIPA sobre a
pesca artesanal: Atafona - permitir a
pesca em qualquer área (30%, n= 9)
e capacitar o pescador para outra
atividade profissional (30%, n= 9), e
Barra do Açu (47%, n= 14) e Farol
de São Tomé (30%, n= 9) - permitir
a pesca em qualquer área.
 As esposas entrevistadas citaram
como principal solução para
minimizar as interferências do
CLIPA sobre a pesca permitir que a
atividade seja realizada em qualquer
área: Atafona (47%, n= 14), Barra do
Açu (47%, n= 14), e Farol de São
Tomé (43%, n= 13). A mesma
solução foi mencionada pelos filhos
dos pescadores de Atafona (50%, n=
15) e do Farol de São Tomé (33%, n=
10).
 Os filhos dos pescadores da Barra do
Açu sustentam que a principal
solução é capacitar o pescador para
outra atividade profissional (37%, n=
11).
Fonte: Elaborado pelo autor (2018).
32

3. METODOLOGIA DA PESQUISA

3.1 CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA

Com a finalidade de compreender e obter maior aprofundamento na pesquisa empregou-


se necessário um estudo de caso, a qual se caracteriza pelo uma pesquisa profunda de um ou de
poucos objetos, adquirindo conhecimento amplo e detalhado (GIL,2008). Nesse parâmetro, o
estudo de caso investiga um fenômeno atual dentro de sua realidade (YIN, 2005).
Marconi e Lakatos (2003) trata a pesquisa como um procedimento formal de
pensamento reflexivo e se estabelece como um caminho para conhecer a realidade ou descobrir
verdades parciais. Neste aspecto, pode-se classificar esse trabalho como uma pesquisa mista,
que, de acordo com Creswell (2010), permite a coleta de dados qualitativos e quantitativos,
trazendo um resultado mais amplo para análise.
Em relação ao alcance dos objetivos, apresenta caráter descritivo, que tem como
objetivo descrever características de determinada população ou o estabelecimento de relação
entre variáveis, e exploratória, a qual tem como finalidade desenvolver, esclarecer e modificar
conceitos e ideias, tendo como finalidade a formulação de problemas mais precisos ou
proposições indagáveis para estudos futuros (GIL, 2008).
Para realização do estudo, adotou-se instrumentos que possibilitam a classificação,
como:
 Pesquisa bibliográfica: de acordo com Gil (2008), a grande vantagem da
pesquisa bibliográfica é que o mesmo oferece ao pesquisador uma gama de fenômenos muito
mais ampla em relação a aquela que poderia pesquisar diretamente.
 Check-list: ideal para identificação e enumerar os impactos ocorrentes na Lagoa
do Apodi – RN, realizando um diagnóstico ambiental acerca de termo físico, biótico e
socioeconômico (OLIVEIRA E MOURA, 2009).
 Questionários: foi utilizado como instrumento de pesquisa um questionário
semiestruturado, com o propósito de obter informações sobre conhecimentos, crenças,
sentimentos, valores, interesses, expectativas, aspirações, temores, comportamento presente ou
passado etc (GIL, 2008). Segundo Marconi e Lakatos (2003), grandes vantagens da utilização
de questionários em estudos como esse é a obtenção de respostas mais rápidas e mais precisas,
além de obter respostas que materialmente seriam inacessíveis.
33

3.2 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

O presente estudo foi realizado na Lagoa do Apodi, localizada no bairro Malvinas da


cidade de Apodi, interior do Rio Grande do Norte, no semiárido nordestino. Em termos
regionais, a cidade pertence à microrregião da Chapada do Apodi e mesorregião do Oeste
Potiguar. Segundo senso realizado pelo IBGE em 2016, a cidade contém 36.257 habitantes
distribuídos em uma área total de 1 602,477 km².
Em termos geográficos, Apodi fica entre as coordenadas de latitude 05°39’51” S e
longitude 37°47’56” W, estando a aproximadamente 342 km da capital potiguar Natal, tendo
como acesso principal a BR-405, a qual se hospeda no município, sendo um pivô para o
desenvolvimento local (IBGE 2016) (Figura 1).

Figura 1 – Mapa da localização geográfica de Apodi - RN .

Fonte: Nascimento (2018).

A lagoa objeto de estudo (Figura 2), faz parte da Bacia Hidrográfica do Rio Apodi-
Mossoró, sua superfície se estende por 15 km na margem esquerda do rio Apodi e dividindo-se
entre as fronteiras do Ceará e Rio Grande do Norte. Em período de cheia, a Lagoa do Apodi
possui capacidade hídrica de 20 milhões de metros cúbicos de água (EMPARN, 2017). Sua
superfície equivale cerca de 26,8% do território estadual (IGARN, 2009).
34

Figura 2– Mapa de exposição da Lagoa do Apodi - RN.

Fonte: Adaptado do Google Earth (2018)

Podemos destacar ainda sua importância para a região ao citar os diversos usos que essa
lagoa vem tendo ao longo dos anos, dando ênfase para: Agricultura, pesca, navegação,
harmonia paisagística, recreação, atividades domésticas e de higienização, abastecimento
humano e animal, diluição de efluentes, manutenção da fauna e flora, dentre outros, além de ter
grande importância na recarga dos lençóis freáticos, tornando-a um recurso vital para a região
(MOREIRA, 2017) (Figura 3).
Figura 3– Imagem da Lagoa do Apodi – RN, 2018.

Fonte: Elaborado pelo autor (2018).


35

3.3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Os procedimentos e etapas tomados para execução do estudo foram: i) Pesquisa do tema;


ii) Definição do tema; iii) Pesquisa bibliográfica; iv) Coleta de dados; v) Apresentação e
discussão dos dados; vi) Elaboração do projeto e, vii) Entrega do projeto (Figura 4).

Figura 4- Diagrama das etapas desenvolvidas da pesquisa.

Definição do Pesquisa
Pesquisa do tema
tema bibliográfica

Tabulação e
Discussão dos
Coleta de dados tratamento dos
resultados
dados

Entrega do
projeto

Fonte: Elaborado pelo autor (2018).

i) Pesquisa do tema
Esta pesquisa faz parte do projeto de pesquisa “Estudos ambientais da lagoa do Apodi -
RN: construindo a ciências ambientais” a qual encontra-se cadastrado na Pró-reitora de
Pesquisa e Pós-graduação – PPPG da UFERSA.
Este projeto de pesquisa tem como objetivo expandir os conhecimentos acerca da Lagoa
do Apodi – RN, realizando diversos estudos ainda inexistentes sobre a mesma.
ii) Definição do tema
Para melhor entender e reconhecer os fatos existentes no ambiente de estudo, foi
utilizado o método de Check-list (APENDICE B). Desta forma, foi possível relacionar os usos
atribuídos à lagoa com o diagnóstico prévios encontrado no Check-list e, assim, definir
problemas e temas essenciais para o estudo da lagoa que ainda não foram realizados. Nessa
vertente, o tema escolhido foi a percepção ambiental dos pescadores da Lagoa do Apodi – RN,
tendo em vista que a pesca é uma das principais atividades econômicas realizadas na lagoa e
36

que sofre diretamente com efeitos da poluição no meio, trazendo uma diminuição da qualidade
de trabalho dos indivíduos além de afetar diretamente a qualidade e saúde dos peixes da lagoa,
gerando uma alerta sobre a população consumista.
iii) Pesquisa bibliográfica
A pesquisa bibliográfica pode ser vista como uma das principais fases da elaboração de
um trabalho, pois, é a partir dela que se adquire maior conhecimento prévio a partir de trabalhos
já existentes em relação ao tema.
iv) Coleta de dados
Para melhor conhecer, abordar e organizar os perfis dos pescadores que fazem uso da
Lagoa do Apodi – RN, foram utilizado questionários como método de coleta de dados. Quanto
ao procedimento de amostragem ocorreu por método aleatório, com indivíduos que fazem uso
da Lagoa do Apodi para pesca artesanal. De acordo com a colônia de pescadores de Apodi,
colônia Z-48, existem 405 pescadores que pertencem a colônia cadastrados na Confederação
Nacional de Pescadores e Aquicultores (CNPA) onde, 240 desses atuam na Lagoa do Apodi.
Dessa forma, foi estabelecida uma amostragem, onde Bolfarine e Bussab (2005), o tamanho da
amostra para uma população de 240 (N=240), com margem de erro de 12%, confiança de 88%
e variabilidade máxima, foi:

𝑁 240
𝑛= = 0,12
= 52
4(𝑁 −
𝐸
1) (𝑍 ) +1 4(240 − 1) (1,96) + 1

2

Em que:
N = tamanho da população;
Z  2 = é o valor crítico da distribuição de probabilidade normal;

E = margem de erro.

A aplicação dos questionários com os pescadores foi realizada as margens da lagoa e


em algumas ruas do bairro Malvinas, na qual Moreira (2017) diz que com maior superioridade
28,57% de seus moradores são pescadores. A aplicação foi realizada em dias distintos dos
meses de dezembro de 2017, março e junho de 2018.
37

Contendo 36 questões que necessitavam de respostas escritas e de múltipla escolha, os


questionários abordaram o perfil socioeconômico, percepção ambiental e práticas ambientais
dos entrevistados (APENDICE A).
v) Tabulação e tratamento dos dados.
A tabulação dos dados foi realizada com auxílio do software Microsoft Software Excel
2013, que disponibiliza gráficos comparativos dos resultados, tornando viável a discussão e
análise dos dados, além de tornar possível a comparação com outros trabalhos.
vi) Discussão dos resultados
Após todos os estudos acerca do assunto, metodologias utilizadas para obtenção de
dados e pesquisa, faz-se necessário redigir tudo em forma de projeto. Utilizando conhecimentos
e experiências de outros trabalhos e referenciando-os, juntamente com a discussão apresentada
acerca dos resultados do estudo, comparando a realidade local junto do que foi observado em
pesquisas anteriores.
38

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 PERFIL SOCIOECONOMICO DO ENTREVISTADO

A partir do desenvolvimento das atividades pesqueiras realizadas na Lagoa do Apodi-


RN ao longo dos anos e para melhor compreender a dinâmica dos pescadores desse local, faz-
se necessário realizar uma investigação do perfil socioeconômico dos indivíduos com o intuito
de melhor conhecer suas condições de vida.
Para um primeiro conhecimento dos indivíduos que praticam a pesca na Lagoa do
Apodi-RN, verificou-se que 84,62% dos entrevistados são do sexo masculino e 15,38% são do
sexo feminino. Com uma pequena margem de diferença, resultados semelhantes são mostrados
por Morais (2016), onde observou em seu estudo que 84,5% entrevistados eram do sexo
masculino. Este panorama é ilustrado por Hirata e Kergoat (1998), a qual assegura que desde
os anos 70 as divisões sexuais do trabalho causam desigualdades quanto ao valor dos trabalhos
masculinos e dos femininos. Na Figura 5, é possível confirmar a presença de mulheres na pesca
local, apesar de representarem uma pequena parcela.

Figura 5 – Imagem de pescadora na Lagoa do Apodi – RN, 2018.

Fonte: Elaborado pelo autor (2018).

Para uma melhor abordagem estatística, agrupou-se a idade dos pescadores da Lagoa do
Apodi-RN em cinco intervalos (Figura 6), com uma variabilidade de 18 anos até mais de 55
anos, onde, observou-se uma maioria (32,70%) com idade entre 46 e 55 anos e um menor
percentual (5,80%) dos entrevistados tem entre 18 e 25 anos de idade. Resultados similares
39

foram encontrados por Silva (2014) ao determinar que 41% dos pescadores do Rio Mumbaba
possuía idade superior a 50 anos. Este cenário pode ser atribuído as novas ocupações e trabalhos
que nasceram na região ao longo dos anos e que vem sendo ocupados por jovens.

Figura 6 – Faixa etária dos pescadores da Lagoa do Apodi – RN, 2018.


35 32,70
30
25 23,10 23
20 15,4
%

15
10 5,8
5
0
de 18 a 25 26 a 35 36 a 45 46 a 55 Mais de 55
anos anos anos anos anos
Faixa Etária

Fonte: Elaborado pelo autor (2018).

Quanto ao grau de escolaridade, a maioria (67,30%) possuem apenas o ensino


fundamental incompleto (Figura 7). Resultados parecidos são expostos por Zacarkim, Oliveira
e Dutra (2017), a qual mostra que 90% dos pescadores da foz do rio Araguaia possuem até
ensino fundamental completo. Este resultado é visto por Bourdieu (1998) como uma
desigualdade de desempenho escolar provenientes das diferentes classes sociais.

Figura 7 – Escolaridade dos pescadores da Lagoa do Apodi – RN, 2018.


80 67,30
70
60
50
%

40
30
20 7,69 9,62 11,54
10 3,85
0

Grau de Escolaridade

Fonte: Elaborado pelo autor (2018).

Em contrapartida, a renda dos pescadores da Lagoa do Apodi - RN em sua superioridade


(94,23%), não ultrapassa de um salário mínimo mensal, seguido de uma pequena parcela
(5,77%) que faturam entre um e dois salários mínimos (Figura 8). Resultados parecidos são
apresentados por Silva, Oliveira e Schiavetti (2014), onde constatou que 88% dos pescadores
40

artesanais da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão possui uma


renda mensal de até um salário mínimo. Essa baixa renda pode ser relacionada ao fato de
92,30% destes pescadores terem a pesca como único trabalho ou trabalho principal, onde,
mediante as dificuldades enfrentadas, este cenário passa a refletir diretamente na renda média.

Figura 8– Renda média dos pescadores da Lagoa do Apodi – RN, 2018.


100 94,23

80

60
%

40

20 5,77
0
Até 1 S.M. 1 a 2 S.M.
Renda

Fonte: Elaborado pelo autor (2018).

Conhecer o período de residência de uma população é essencial para conhecimento e


configuração de como os indivíduos se relacionam no ambiente que vivem (CARVALHO &
RODRIGUES, 2015). Apesar das dificuldades encontradas na pesca local, grande maioria
(75%) dos pescadores afirmaram que vivem e fazem uso da lagoa a mais de 30 anos (Figura 9).
Este resultado é diretamente relacionado ao fato de todos os pescadores entrevistados serem
naturais da cidade de Apodi – RN e terem fixado suas raízes neste local. Esta tese é comprovada
por Soares (2017), que mostra em seu estudo que grande parte da população ribeirinha da Lagoa
do Apodi – RN (53,90%) moram a mais de 20 anos nessa área.

Figura 9– Tempo que mora e faz uso da Lagoa do Apodi – RN, 2018.
80 75
70
60
50
%

40
30
20 7,69 7,69
3,85 5,77
10
0
2 a 5 anos 6 a 10 10 a 20 20 a 30 mais de
anos anos anos 30 anos
Tempo

Fonte: Elaborado pelo autor (2018).


41

Ao questionar as principais atividades desenvolvidas pelos entrevistados, a maioria


(98,10%) afirmou ter apenas a pesca como atividade econômica, enquanto uma pequena parcela
(1,90%) afirmaram que além da pesca, também desenvolviam atividades agrícolas (Figura 10).
Em seu estudo, Morais (2014) apresenta resultados similares, a qual detectou que 96,9 % dos
pescadores do Rio Apodi - Mossoró sobrevivem da pesca de subsistência. O baixo grau de
escolaridade reflete diretamente nas atividades informais desenvolvidas pelos entrevistados,
onde não é necessário de qualquer estudo para realiza-las.

Figura 10– Principais atividades desenvolvidas pelos pescadores da Lagoa do Apodi – RN, 2018.
120
98,10
100
80
%

60
40
20 1,90
0
Pesca Agricultura
Atividades

Fonte: Elaborado pelo autor (2018).

Esse cenário de atividades realizadas é facilmente relacionado aos produtos gerados


pelos pescadores da Lagoa do Apodi - RN, que, em grande parcela (92,86%) tem o pescado
como principal produto gerado (Figura 11). Tal cenário explica o fato da pesca ser a atividade
de subsistência da população local em sua maioria.

Figura 11– Principais produtos gerados pelos pescadores da Lagoa do Apodi – RN, 2018.
100 92,86
90
80
70
60
%

50
40
30
20
10 5,36 1,78
0
Pescado P. de Outros
alimentos(legumes/frutas)
Produtos

Fonte: Elaborado pelo autor (2018).


42

Em respeito à comercialização do pescado, a maioria dos pescadores (76,27%)


afirmaram fazer a comercialização no próprio município (Figura 12). Este resultado é
semelhante ao de Morais (2016), que em seu estudo no Rio Apodi - Mossoró encontra um
percentual de 85,6% de pescadores que fazem a comercialização diretamente ao consumidor
local (venda de porta em porta). Isso se deve a maior facilidade para a comercialização e a
diminuição de gastos caso mandassem para outras cidades.

Figura 12– Locais de comercialização do pescado da Lagoa do Apodi – RN, 2018.


90
76,27
80
70
60
50
%

40
30 18,64
20
10 3,39 1,70
0
Consumo próprio Comercialização Comercialização Outros
na região no município municípios do
RN
Locais

Fonte: Elaborado pelo autor (2018).

Tendo em vista que a produção diária é fundamental para qualquer atividade, foi
questionado aos pescadores da Lagoa do Apodi – RN quantos kg de pescado eles conseguiam
obter diariamente e, como resultado, grande parte dos pescadores (65,38%) dos pescadores
capturam diariamente de 1 kg a 5 kg de pescado (Figura 13). Contudo, este fato reflete na
subsistência da população local em sua maioria, onde a pesca é tida como uma das principais
atividades econômicas e tradicional (SOARES, 2017).

Figura 13 – Produção de pescado diária dos pescadores da Lagoa do Apodi – RN, 2018.
70 65,38
60
50
40 32,70
%

30
20
10 1,92
0
De 1 kg a 5kg De 5 kg a 10 kg De 15 kg a 20 kg
Quantidade

Fonte: Elaborado pelo autor (2018).


43

Em relação a espécie mais capturada na lagoa, com superioridade (35,17%) dos


pescadores citaram a tilápia (Figura 14). Resultado semelhante é encontrado por Morais (2016),
que em sua pesquisa no Rio Apodi – Mossoró analisou que o peixe mais capturado pelos
pescadores é a tilápia (Oreochromus niloticus) com percentual de 83,5%. Esta semelhança pode
ser justificada ao saber que a Lagoa do Apodi – RN está situada na Bacia Hidrográfica do Rio
Apodi – Mossoró.

Figura 14 – Espécies capturadas pelos pescadores da Lagoa do Apodi – RN, 2018.


40
35,17
35
30
25 21,38
19,31
%

20
15,17
15
10
4,83 4,14
5
0
Tilápia Piau três Traíra Tucunaré Camarão Outros
pintas
Espécies

Fonte: Elaborado pelo autor (2018).

A forma que estes pescadores adquiriram conhecimentos sobre a pesca pode ser visto
como um aspecto histórico. Quando questionado sobre quem ensinou a pesca, a maioria
(86,54%) afirma ter aprendido com familiares (Figura 15). Silva, Oliveira e Schiavetti (2014)
mostra resultado semelhante em sua pesquisa na Reserva de Desenvolvimento Sustentável
Estadual Ponta do Tubarão, onde observou que ao questionar a profissão do pai dos
entrevistados, 65% respondeu que também eram pescadores, e que os mesmos iniciaram na
pesca com a influência de gerações anteriores, por meio do pai ou amigos muito próximos.

Figura 15 – Como os pescadores da Lagoa do Apodi – RN aprenderam a pescar, 2018.


100 86,54
80
60
%

40
20 13,46

0
Por conta própria Com familiares
Resposta

Fonte: Elaborado pelo autor (2018).


44

Em relação ao tempo que os entrevistados exercem a profissão de pescador, grande parte


(69,23%) exercem a mais de 15 anos (Figura 16). Seixas et al. (2014) mostra em sua pesquisa
um resultado similar, a qual os pescadores artesanais da praia da Cocanha/Caraguatatuba
apresentam tempo médio de atividade de 19 anos. Esse resultado mostra que a pesca é uma
profissão já consolidada na região desde o século passado, onde atualmente, Moreira (2017)
mostra que a maioria dos moradores do Bairro Malvinas (bairro a qual localiza-se a Lagoa do
Apodi – RN) são pescadores.
Figura 16 – Tempo que os pescadores da Lagoa do Apodi – RN exercem a profissão, 2018.

80
69,23
70
60
50
%

40
30
20 15,39
7,69 7,69
10
0
De 1 a 5 anos De 5 a 10 anos De 10 a 15 anos Mais de 15 anos
Tempo

Fonte: Elaborado pelo autor (2018).

4.2 PERCEPÇÃO AMBIENTAL

Ao reconhecer a importância da Lagoa do Apodi – RN para o desenvolvimento local,


buscou-se compreender a percepção ambiental dos pescadores que fazem uso da referida lagoa
para sua sobrevivência, que de acordo com De Oliveira e Corona (2008), para as comunidades
que necessitam de recursos naturais para sua sobrevivência, a percepção ambiental é
fundamental para a implantação de políticas referentes ao meio ambiente.
Nesta perspectiva, verifica-se que para os pescadores entrevistados, a Lagoa do
Apodi – RN possui uma importância significativa, onde 94,23% consideram muito importante
e 5,77% consideram ser importante (Figura 17). Em conjunto, a importância da
preservação/conservação da lagoa na família também foi expressa com significância, onde
88,46% dos entrevistados afirmaram ser muito importante e 11,54% disseram ser importante
(Figura 18). Em conjunto, os pescadores entrevistados se referiam a Lagoa do Apodi – RN
45

como a “mãe” das pessoas que viviam ao redor. Acredita-se que esse resultado positivo se deve
ao fato da lagoa ser seu espaço de trabalho e fonte de renda, onde a sua qualidade e preservação
é fundamental para saúde do pescado capturado e comercializado, além do valor sentimental
adquirido pela população que cresceu as margens dela, cravando suas raízes ali.

Figura 17 – Importância da Lagoa do Apodi - RN na Figura 18 – Importância da preservação da Lagoa


família, 2018. do Apodi - RN na família, 2018.

100 94,23 100 88,46


80 80

60 60
%

%
40 40

20 20 11,54
5,77
0 0
Muito importante Importante Muito importante Importante
Importância Importância

Fonte: Elaborado pelo autor (2018). Fonte: Elaborado pelo autor (2018)

Lopes e Guedes (2013) mostraram em seu estudo mostrou que a comunidade de


pescadores de Macaíba - RN está consciente dos problemas ambientais que a cercam e dos
danos que estes provocam no meio ambiente. Para compreender os processos de alteração da
Lagoa do Apodi – RN de acordo com a visão dos pescadores entrevistados, questionou-se os
tipos de poluição nesse ecossistema, com superioridade das atividades humanas (98,10%)
(Figura 19), por meio de agentes químicos biodegradáveis (44,23%) (Figura 20). Assim, é
possível observar que os impactos gerados pelas atividades humanas e que afetam diretamente
nas atividades pesqueiras são reconhecidas pelos pescadores e que os mesmos tem consciência
da perca de qualidade do pescado, uma vez que acontece a alteração da qualidade hídrica.

Desta forma, percebe-se que este cenário não atende aos princípios do Direito Ambiental
Brasileiro, que são: Principio do ambiente ecologicamente equilibrado como direito/dever
fundamental da pessoa humana, princípio da solidariedade intergeracional, princípio da
natureza pública da proteção ambiental, princípios da preservação e da precaução, princípio da
consideração da variável ambiental no processo decisório de políticas de desenvolvimento,
princípio do controle do poluidor pelo poder público, princípio do poluidor-pagador, princípio
do usuário-pagador, princípio do protetor-recebedor, princípio da função socioambiental da
50

propriedade, princípio da participação comunitária, princípio da proibição do retrocesso


ambiental, princípio da cooperação entre os povos (MILARÉ, 2015).

Figura 19– Principais tipos de poluição na lagoa, Figura 20– Principais agentes de poluição na lagoa,
2018. 2018.

120 50 44,23
98,10 38,46
100 40
80 30

%
%

60
20 13,46
40
10 3,85
20 1,90
0 0
Agricola Atividades
humanas
Tipos de Poluição Agentes de poluição

Fonte: Elaborado pelo autor (2018). Fonte: Elaborado pelo autor (2018).

A partir deste cenário, é possível confirmar essa consciência ambiental, quando ao


questionar os sujeitos envolvidos sobre a conservação da lagoa. Como resultado, os pescadores
entrevistados afirmaram que a realização da conservação da lagoa, em grande maioria (73,10%)
era realizada pela própria população (Figura 21), com relato de mutirões realizados pelos
pescadores aos arredores da lagoa. Em conjunto, também foi questionado a frequência de
debates ambientais na comunidade, onde grande parte (44,23%) afirmou participar com
frequência de reuniões acerca do assunto (Figura 22). Os entrevistados mencionaram ainda que
tais eventos (mutirões e reuniões) eram sempre realizados e encorajados pela colônia de
pescadores da cidade, a colônia Z-48. É possível verificar positivamente a consciência
ambiental da comunidade envolvida além do incentivo da organização responsável pela classe.
Com isso, a legalidade dessas ações é apontada por lei, conforme art. 225, da Constituição
Federal, a qual diz que a defesa e preservação do meio ambiente é dever de todos os brasileiros,
e não apenas do Estado, a fim de preservação para presente e futuras gerações.
51

Figura 21– Quem mais realiza a Figura 22 – Frequência de debates ambientais na


conservação/preservação da lagoa, 2018. comunidade, 2018.

80 73,10 50 44,23
70 40
60 26,92
30

%
50 17,31
20
7,69
%

40 3,85
10
30 19,23 0
20
1,92 5,77
10
0
População Empresas Poder Outros
publico
Resposta Frequências

Fonte: Elaborado pelo autor (2018). Fonte: Elaborado pelo autor (2018).

De acordo com Porto-Gonçalves (2013) as discussões ambientais influenciam nos


âmbitos econômico, ético, filosófico, político, sociais, dentre outros. Neste aspecto, é possível
averiguar que além de problemas relacionados a poluição da lagoa (20,47%), a população
entrevistada sofre também com problemas de planejamento urbano e sociais, tais como: Falta
de esgoto sanitário (18,90%), desemprego (13,38%), saúde (12,60%), violência (9,45%)
(Figura 23). Este resultado é assemelhado ao de Morais (2016) que averiguou com 80,4% das
respostas, que a poluição do rio Apodi – Mossoró é o principal fator prejudicial da pesca
artesanal em Mossoró-RN. Este resultado gera uma alerta ao déficit encontrado proveniente a
falta de atenção do poder público local. Esta tese é comprovada em estudo na Lagoa do Apodi
– RN, a qual Chaves (2018) verifica a visualização in loco dos esgotos da cidade que são
despejados diretamente na lagoa, ocasionando graves problemas na qualidade hídrica.

Figura 23– Problemas mais urgentes na comunidade, 2018.

25 20,47 18,90
20
12,60 13,38
15 9,45
%

10 5,12 6,30
3,15 4,30 2,76 1,57
5 0,79 0,79 0,39
0

Problemas

Fonte: Elaborado pelo autor (2018).


52

Outro fator preocupante, é a consciência ambiental do restante da população que faz


outros usos da lagoa. Além da pesca, atividades de comércio, lazer e turismo são desenvolvidos
nas margens da lagoa. A partir disso, o descarte inadequado de resíduos sólidos na lagoa vem
se tornando frequente, contribuindo na poluição e agravando a situação. Na Figura 24 é
perceptível o grau de poluição da lagoa, onde a população local e comerciantes que ficam no
calçadão não mantém um controle do despejo de resíduos, tornando notória a falta de
consciência ambiental, além de se tornar um ponto negativo para o lazer local, onde prejudica
a qualidade hídrica e gera uma poluição visual.

Figura 24 – Imagem de poluição na Lagoa do Apodi – RN, 2018.

Fonte: Elaborado pelo autor (2018).

A Lagoa de Apodi-RN é conhecida regionalmente pela atividade pesqueira


desenvolvida. Quando questionado especificamente sobre os impactos causados pela pesca na
comunidade, os principais impactos positivos citados pelos pescadores são a geração de renda
(39,35%) e a geração de empregos (17%) (Figura 25). Apesar das diversas melhorias tragas
pela pesca para comunidade, é possível citar impactos negativos, tais como: Pesca predatória
(41,56%), escassez de peixes (14,29%) e a alteração da qualidade hídrica (14,29%) (Figura 26).
Neste sentido, é possível analisar que apesar das vantagens socioeconômicas oferecidas pela
pesca local, as desvantagens apresentadas pela atividade pesqueira ainda são grandes,
necessitando de medidas que venham a mudar esse cenário. Derísio (2015) apresenta técnicas
de controle ao recurso água, a qual essas medidas são divididas em internas e externas: As
medidas internas referem-se ao controle dos efluentes líquidos, tomadas no processo industrial
(modificação de produtos, modificação de processos e tipos de matéria-prima e eliminação de
53

produtos desnecessários); as medidas externas compreendem a implantação de tratamento a


qual os efluentes líquidos são removidos os poluentes (separação física, química e biológica).

Figura 25– Principais impactos positivos da pesca Figura 26 – Principais impactos negativos da pesca
na lagoa, 2018. na região, 2018.

45 39,35 45 41,56
40 40
35 35
30 30
25 25
%

%
20 17,00 20 14,29 14,29
15 11,7011,70 9,57 15 10,3911,69
10 3,19 4,26 2,13 1,10 10
5 2,60 1,301,30 2,60
5
0 0

Impactos Impactos

Fonte: Elaborado pelo autor (2018). Fonte: Elaborado pelo autor (2018)

Após averificar os impactos da pesca na região, foi possível analisar os conflitos


existentes no espaço de estudo. Para tal, foi questionado e observado que a maioria dos
pescadores (22,65%) mencionaram a pesca predatória como principal conflito, seguido
conflitos de terra entre pescadores e agricultores (20,75%) (Figura 27). Com tudo, alguns relatos
foram feitos a cerca desses conflitos, como a utilização da rede de arrasto que classifica a pesca
predatória e conflitos de uso de água e espaço com agricultores, uma vez que os mesmos usam
as margens da lagoa para criar e plantar. Desta forma, percebe-se os usos múltiplos dos recursos
hídricos geram conflitos, necessitando assim um plano de gestão dos recursos hídricos da Bacia
Hidrográfica do Rio Apodi-Mossoró/RN para conciliar estes interesses. A concessão ao uso e
exploração de um manancial provém do Código de Águas de 1934, onde, no âmbito
institucional estadual, o órgão responsável pelo gerenciamento das águas é o Instituto de Gestão
das Águas do Estado do Rio Grande do Norte (IGARN), proveniente da Lei complementar nº
483, de 03 de janeiro de 2013, porém, anteriormente, a gestão das águas se fazia na Secretaria
de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (SEMARH), com o apoio operacional
do IGARN. (DE OLIVEIRA; PEREIRA; DE CASTRO, 2015).
54

Figura 27– Principais conflitos socioeconômicos e ambientais na lagoa, 2018.

60 52,83
50

40

%
30
22,65 20,75
20

10 3,77
0
Não sabe/Não Pesca Conflito de Despejo de
existe predatória terra esgoto
(Pesc/agric)
Conflitos

Fonte: Elaborado pelo autor (2018).

4.3 PRATICAS AMBIENTAIS

O panorama socioeconômico e ambiental apresentado, mostra a importância que tem o


setor ambiental, tornado necessário divulgar as práticas ambientais que são realizadas em busca
de desenvolvimento sustentável (BORGES; ROSA; ENSSLIN, 2010). Assim, faz com que as
práticas ambientais dos pescadores da Lagoa do Apodi – RN sejam investigadas com o
propósito de conhecer o quadro atual.
Para início da busca a cerca de conhecer as práticas ambientais dos pescadores da Lagoa
do Apodi - RN, foi averiguado as técnicas de pescado utilizadas. Apesar dos avanços
tecnológicos desde o início da pesca, poucas são as mudanças nos métodos de pesca e ainda
hoje é utilizado equipamentos tradicionais e rudimentares (DOS SANTOS, 2005). Na Lagoa
do Apodi – RN, observou-se que metade dos pescadores (50%) utilizam a linha, seguido de
menores parcelas que utilizam rede (26,39%) e anzóis (23,61%) (Figura 28). Em conjunto, foi
investigado os instrumentos utilizados, onde foi possível analisar que os itens mais utilizados
são a tarrafa (36%) e a rede de pesca (24%) (Figura 29). Resultados semelhantes foram
averiguados por Silva (2014) que em seu estudo verificou que os instrumentos mais utilizados
eram tarrafa e rede (23%). Assim, é possível analisar que os pescadores da lagoa do Apodi –
RN fazem uso de utensílios adequados e que não ameaçam a quantidade e as espécies pescadas,
essa tese é reforçada com a utilização de equipamentos industriais, a qual 78,85% dos
entrevistados afirmaram nunca ter utilizado e outros 19,23% dizem quase nunca utilizar (Figura
30). Desta forma, é perceptível que se trata de uma atividade tradicional, a qual as práticas vêm
55

sendo desenvolvidas por diversas gerações e deixada como uma herança familiar e cultural pela
comunidade local.

Figura 28 – Principais técnicas de pescado Figura 29 – Instrumentos utilizados na pesca,


utilizadas, 2018. 2018.
60
50 40 36
50 35
30 24
40
25
26,39 17

%
%

30 23,61 20
15 12
20 10 7
4
5
10
0
0 Rede Anzol Linha Varas Isca Tarrafa
Linha Anzóis Rede de
pesca
Técnicas
Instrumentos

Fonte: Elaborado pelo autor (2018).


Fonte: Elaborado pelo autor (2018).

Figura 30 – Frequência do uso de equipamentos industriais para pesca, 2018.

90 78,85
80
70
60
50
%

40
30 19,23
20
10 1,92
0
Nunca Quase nunca Com frequencia
Frequência

Fonte: Elaborado pelo autor (2018).

De acordo com Teixeira (2005), durante um período do ano a pesca fica proibida para
que as espécies realizem sua reprodução. Ao questionar se os pescadores da Lagoa do Apodi –
RN respeitavam ao período de defesa dos peixes, grande parte (94,231%) afirmou respeitar com
muita frequência (Figura 31). Em estudo, Morais (2016) mostra resultados similares, a qual os
pescadores foram indagados se existia um período defeso e 96,9 % responderam positivamente
para a pergunta. Esse resultado positivo também é apresentado quando questionado as práticas
ambientais realizadas pelos pescadores, onde em sua maioria (78,45%), mostram o respeito ao
período de reprodução como a principal realizada (Figura 32). Esta medida faz-se importante
56

para garantir que não ocorra escassez do pescado ao longo do ano e preservando as espécies
presentes no meio aquático mencionado.
Figura 31– Respeito ao período de defesa dos Figura 32 – Práticas ambientais da pesca na Lagoa
peixes, 2018. do Apodi – RN, 2018.

100 94,231
100
80 78,45
80
60
%

60

%
40
40
20 1,923 1,923 1,923 15,35
20 3,1 3,1
0
0

Frequência
Práticas

Fonte: Elaborado pelo autor (2018).


Fonte: Elaborado pelo autor (2018).

A pesca artesanal é caracterizada por fazer uso pouca tecnologia e embarcações simples
(SILVA; LEITÃO, 2012). Foi verificado na Lagoa do Apodi – RN que 100% dos pescadores
entrevistados praticam a pesca artesanal. Essa tese é confirmada ao indagar os tipos de
embarcações utilizadas pelos pescadores, onde grande parte (96,15%) afirmou fazer uso de
canoa, enquanto a pequena parcela restante (3,85%) não usa nenhum tipo de embarcação.
SANTOS (2005) mostra que em seu estudo no Nordeste do estado do Pará, 51% dos pescadores
entrevistados utilizam barcos e 49% empregam canoas a remo ou a vela para a execução de
suas pescarias, onde a diferenciação se dá através da capacidade. Neste aspecto, o uso
predominante da canoa para a realização da pesca na lagoa pode estar atribuído a baixa
produção diária, fazendo da canoa suficiente. Na Figura 33 é possível verificar a presença de
embarcações simples para navegação. O nascimento de novas tecnologias na pesca se faz
necessário na atividade, tais que permitam maior praticidade e conforto neste arranjo produtivo.
58

Figura 33– Imagem de pescador utilizando canoa na Lagoa do Apodi – RN, 2018.

Fonte: Elaborado pelo autor (2018).


A frequência da pesca pode ser analisada como um dos pontos que influenciam na renda
dos pescadores. Para analisar esse ponto, foi investigado a frequência semanal da pesca pelos
pescadores da Lagoa do Apodi – RN, onde a maior parcela dos entrevistados (44,20%) pesca
entre de 3 a 4 dias por semana, seguido de parcelas menores como de 1 a 2 dias (23,10%), e
todos os dias (23,10%) (Figura 34). Valores parecidos são apresentados por Silva (2014), onde
mostra que 65% pescadores do Rio Mumbaba pescam entre 1 e 2 dias na semana; 23% pescam
entre 3 e 4 dias e 12% pescam todos os dias. É possível analisar que este fato pode inferir na
perda da força de uma atividade tradicional, que antes era desenvolvida com maior frequência
na comunidade.

Figura 34 – Frequência da pesca em dias por semana, 2018.

50 44,20
40
30 23,10 23,10
%

20
9,60
10
0
1 a 2 dias 3 a 4 dias 5 a 6 dias Todos os
dias
Frequência

Fonte: Elaborado pelo autor (2018).

A partir do cenário observado, torna-se relevante questionar aos pescadores a frequência


a qual os mesmos realizam práticas de proteção e conservação. Como resultado, foi possível
59

analisar que a maior parte dos pescadores (75%) afirmaram praticar com muita frequência
(Figura 35). Esse resultado positivo é refletido ao questionar se o entrevistado já havia sido
multado alguma vez, onde em sua totalidade, os pescadores alegaram nunca terem sido
multados. Os pescadores apontam o respeito a reprodução e limpeza da lagoa como as práticas
de proteção mais desenvolvidas pelos mesmos.

Figura 35 – Frequência de práticas de proteção e conservação na lagoa, 2018.

80 75
70
60
50
%

40
30
20 9,61
7,69
10 3,85 3,85
0
Nunca Quase Regular Com Com muita
nunca frequencia frequencia
Frequência

Fonte: Elaborado pelo autor (2018).

Por fim, com o intuito de conhecer as necessidades e dificuldades enfrentadas pela


população, foi questionado quais as ações necessárias para melhorar e desenvolver a Lagoa do
Apodi – RN a partir do ponto de vista dos pescadores entrevistados. O saneamento básico foi
apontado pela maioria dos entrevistados (46,30%), seguido de limpeza (29,63%), fiscalização
da pesca predatória (11,11%), retirar plantações (5,55%), trazer água para a lagoa (3,70%) e
outros afirmaram não saber (3,70%) (Figura 36). A maioria das ações propostas pela
comunidade competem ao poder público para sua realização, onde são essenciais para saúde,
bem-estar e melhoria econômica de seus usuários. Para tal, é possível fazer aplicação de
instrumentos de medidas de ações da Política Nacional de Meio Ambiente, tais como: ação
governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, planejamento e fiscalização do uso dos
recursos ambientais, controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente
poluidoras, recuperação de áreas degradadas, proteção de áreas ameaçadas de degradação,
educação ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade,
objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio ambiente.
60

Figura 36 – Possíveis práticas ambientais que poderiam ser desenvolvidas para melhorar a lagoa, 2018.

50 46,30
45
40
35 29,63
30

%
25
20
15 11,11
10 5,55 3,70 3,70
5
0

Possíveis práticas

Fonte: Elaborado pelo autor (2018).


61

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A lagoa do Apodi vem sendo instrumento primordial para o desenvolvimento do


município através dos diversos usos atribuídos a mesma, gerando empregos para a população
local ao longo dos anos e tornando-se fonte de renda e sobrevivência para diversas famílias que
vivem ao redor da mesma.
Embora sua importância seja reconhecida por toda comunidade envolvida, a mesma
vem sofrendo graves alterações na qualidade hídrica devido ações antrópicas caracterizadas
pela falta de consciência ambiental das autoridades públicas e da população.
A pesca na Lagoa do Apodi é uma atividade já consolidada, a qual vem sendo
desenvolvidas a várias décadas como principal fonte de renda para diversas famílias que moram
nas proximidades, assim, tornando-se imprescindível para o crescimento e desenvolvimento
econômico local.
Após traçar o perfil socioeconômico dos pescadores que fazem uso da lagoa, foi possível
analisar perfis de baixa escolaridade e renda, mas que não influenciou na consciência ambiental
dos indivíduos. Desta forma, é possível analisar que os pescadores, em sua maioria, têm plena
consciência dos problemas socioambiental que vem se potencializando ao longo dos anos com
os efeitos da poluição.
Após traçada a percepção ambiental, o relato dos pescadores entrevistados permite
observar que a maior fonte de poluição da lagoa é proveniente do despejo de efluentes, alterando
a qualidade hídrica e influenciando negativamente na qualidade dos peixes capturados. Com
tudo, vale enfatizar que a conservação e preservação da lagoa é de grande importância para os
pescadores.
Apesar das diversas vantagens encontrados na pesca, os pescadores têm plena
consciência dos impactos negativos que a mesma gera, como a pesca predatória, que gera
escassez de peixes ou até mesmo a alteração da qualidade hídrica no momento da pesca. Esses
problemas podem ser atribuídos a falta de fiscalização por meio de órgão competentes.
A população pesquisada anseia por diversas melhorias na lagoa que competem ao poder
público local, tal como a realização de melhor planejamento do saneamento básico e maior
periodicidade nas limpezas feitas na lagoa.
Deste modo, essa monografia torna-se instrumento de pesquisa para futuros estudos
realizados na área de recursos hídricos, em ênfase a percepção ambiental de pescadores como
também em estudos realizados sobre a lagoa do Apodi, tornando-se importante para influenciar
62

um crescimento intelectual para futuro planejamento que vise a educação ambiental,


recuperação do ecossistema, adequação do saneamento básico local e a gestão dos usos deste
recurso hídrico afim de causar melhorias neste ambiente que tem não apenas importância
econômica, mas também sentimental para todas as famílias que construíram suas vidas por
benefício da lagoa. Além disso, é possível sugerir futuros estudos relacionados a propostas de
melhorias das atividades desenvolvidas no entorno da lagoa, relacionado a medidas
mitigadoras, como projetos de educação ambiental, adequação do sistema de esgotamento
sanitário.
63

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DO APODI-RN. Monografia (Graduação) - Curso de Ciência e Tecnologia, Universidade
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70

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APÊNDICE A
QUESTIONÁRIO
71

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÀRIDO


CAMPUS PAU DOS FERROS
BACHARELADO EM CIENCIA E TECNOLOGIA

PERFIL SOCIOECONOMICO

1) Nome: _____________________________________________________________
2) Idade: _________
3) Sexo? (1) Masculino (2) Feminino
4) Trabalha? (1) Sim (2) Não
5) Município/Comunidade de origem: ____________________________________
6) Escolaridade:
(1) Fundamental (2) Fundamental incompleto
(3) Médio (4) Médio incompleto
(5) Nunca
7) Renda média
(1) Até 1 salário mínimo (2) 1 a 2 s.m. (3) 2 a 4 s.m.
(4) + de 4 s.m. (5) Não tem renda
8) Há quantos anos mora nessa comunidade e faz uso da lagoa?
(1) Até 1 ano (2) 2 a 5 anos (3) 6 a 10 anos
(4) 10 a 20 anos (5) 20 a 30 anos (6) + de 30 anos
9) Principais atividades desenvolvidas:
(1) Pesca (2) Apicultura (3) Pecuária
(4) Caça (5) Agricultura (6) Outros
10) Principais produtos gerados:
(1) Pescado (2) Mel e derivados (3) P. de Pecuária
(4) Mel e derivados (5) P. de alimentos(legumes/frutas) (6) Outros
11) Locais de comercialização:
(1) Consumo próprio (2) Comercialização na região(3) Comercialização no município
(4) Outros municípios do RN (5) Outros estados (6) Outros
12) Qual a quantidade da produção de pesca diária?
(1) De 1 kg a 5 kg (2) De 5kg a 10 kg (3) De 10 kg a 15 kg
(4) De 15 kg a 20 kg (5) Mais de 20 Kg
13) Quais as espécies pescadas?
72

(1) Tilápia (2) Sardinha (3) Saguirú


(4) Piau três pintas (5) Traíra (6) Cangati
(7) Cascudo (8) Pescada/Corvina (9) Tucunaré
(10) Camarão (11) Outros: __________________________
14) Como aprendeu a pescar?
(1) Por conta própria (2) Com familiares (3) Com amigos
(4) Através de cursos profissionalizantes (5) Outros: ____________________
15) A quantos anos exerce a profissão de pescador?
(1) Menos de um ano (2) De 1 a 5 anos (3) De 5 a 10 anos
(4) De 10 a 15 anos (5) Mais de 15 anos

PERCEPÇÃO AMBIENTAL

16) Qual a importância da Lagoa na sua família?


(1) Muito importante (2) Importante (3) Razoável
(4) Pouco importante (5) Muito pouco importante
17) Quais os principais tipos de poluição na Lagoa?
(1) Natural (2) Agrícola (3) Industrial
(4) Atividades humanas (5) outros:________________________________
18) Quais os principais agentes de poluição na Lagoa?
(1) Ag. Químicos: biodegradáveis (2) Ag. Químicos: tóxicos
(3) Ag. Físicos: radiação (4) Ag. Físicos: calor
(5) Ag. Biológicos: animais (6) Ag. Biológicos: animais
(7) Outros:_______________________
19) Qual a importância da preservação/conservação da Lagoa para sua família?
(1) Muito importante (2) Importante (3) Razoável
(4) Pouco importante (5) Muito pouco importante
20) Quem mais realiza a conservação/preservação da Lagoa?
(1) População rural (2) Empresas (3) Poder público local
(4) Ninguém (5) Outros:__________________________
21) Qual a frequência de debates ambientais na sua comunidade?
(1) Nunca (2) Quase nunca (3) Regular
(4) Com frequência (5) Com muita frequência
22) Em sua opinião quais os problemas mais urgentes na sua comunidade?
73

(1) Abastecimento de água (2) Estradas


(3) Energia elétrica (4) Falta escola
(5) Poluição da lagoa (6) Saúde
(7) Falta de coleta de lixo (8) Desemprego
(9) Falta de esgoto sanitário (10) Desmatamento
(11) Iluminação pública (12) Poluição sonora
(13) Violência (14) Outros: _________________________
23) Quais os principais impactos positivos da pesca na Lagoa?
(1) Geração de empregos (2) Geração de renda
(3) Melhoria na alimentação (4) Melhoria na cultura local – atividades tradic.
(5) Melhoria na saúde humana (6) Valorização do ambiente
(7) Projeção da região (8) Preservação local
(9) Melhoria na qualidade de vida (10) Outros:_________________________
24) Quais os principais impactos negativos da pesca na região?
(1) Escassez de peixes (2) Comprometimento da reprodução de peixes
(3) Conflitos de usos da água (4) Alteração da quantidade hídrica
(5) Pesca industrial (6) Alteração da qualidade hídrica
(7) Pesca predatória (8) Uso de produtos químicos conservantes
(9) geração de resíduos e efluentes de animais
(10) Geração de resíduos e efluentes domésticos
25) Quais os principais conflitos socioeconômicos e ambientais na
Lagoa?_____________________________________________________________________
_________________________________________________________________

PRÁTICAS AMBIENTAIS
26) Quais as principais técnicas de pescado utilizadas?
(1) Linha (2) Anzóis (3) Redes
(4) Arrasto (5) Sucção (6) Redes de deriva
(7) Outras:_____________________________________
27) Quais os tipos de instrumentos utilizados na pesca?
(1) Rede de pesca (2) Anzol (3) Linha
(4) Varas (5) Molinetes ou carretilhas (6) Isca
(7) Tarrafa (8) Landuá (9) Outros: ____________________
28) Qual a frequência do uso de equipamentos industrial para pesca?
74

(1) Nunca (2) Quase nunca (3) Regular


(4) Com frequência (5) Com muita frequência
29) Você respeita o período de defesa (reprodução dos peixes)?
(1) Nunca (2) Quase nunca (3) Regular
(4) Com frequência (5) Com muita frequência
30) Cite tipo de pesca na Lagoa.
(1) Pesca industrial (2) Pesca artesanal (3) Pesca predatória
(4) Outros:______________________
31) Cite as embarcações utilizadas na pesca.
(1) Jangada (2) Canoa (3) Rebocador
(4) Nenhum tipo (5) Outros:________________________________
32) Qual a frequência da pesca em dias por semana?
(1) 1 a 2 dias (2) 3 a 4 dias (3) 5 a 6 dias
(4) Todos os dias
33) Cite práticas ambientais da pesca.
(1) Respeito ao período de reprodução (2) Uso de utensílios adequados
(3) Respeito as espécies (4) Respeito a quantidade pescada
34) Qual a frequência de práticas de proteção e conservação na Lagoa do Apodi?
(1) Nunca (2) Quase nunca (3) Regular
(4) Com frequência (5) Com muita frequência
35) Você já foi multado?
(1) Nunca (2) Quase nunca (3) Regular
(4) Com frequência (5) Com muita frequência
36) Aponte que possíveis práticas ambientais poderiam ser desenvolvidas para melhorar
a Lagoa do Apodi?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________

APENDICE B

CHECKLIST DO LOCAL DE ESTUDO


Local: Data:15/12/2017
75

Nº Requisito SIM NÃO OBSERVAÇÃO


USO DOS RECURSOS HÍDRICOS
01 Abastecimento Doméstico

02 Abastecimento Industrial

03 Irrigação

04 Dessedentarão de Animais

05 Preservação da Fauna e Flora

06 Recreação e Lazer

07 Geração de Energia Elétrica

08 Navegação

09 Diluição de Despejo

TIPOS DE POLUIÇÃO
10 Poluição Natural

11 Poluição Industrial

12 Poluição Urbana

13 Poluição Agropastoril

EFEITOS DA POLUIÇÃO (Danos)


14 Sociais

15 Econômicos

16 Ambientais

17 Políticos

18 Sanitários

19 Saúde

20 Territoriais

TECNICAS DE CONTROLE
21 Estruturais

22 Não estruturais

ASPECTOS LEGAIS DOS RECURSOS HÍDRICOS


23 Esfera Federal

24 Esfera Estadual
76

25 Esfera Municipal

AGENTES DE POLUIÇÃO
26 Esgotos

27 Resíduos sólidos

28 Agrotóxicos

29 Óleos e graxas

Observações Gerais

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