Você está na página 1de 308

06 a 08 de maio de 2013

ANAIS
PROGRAMA OFICIAL

Organizado por:
Eraldo Medeiros Costa Neto
Capa: Laíse Freire
Logotipo: Justino Neto
Layout: Laíse Freire

Divisão de Tratamento Técnico


Promoção

Programa de Pós-Graduação em Zoologia

Realização

Pró-Reitoria de Extensão da
Universidade Estadual de Feira de Santana

Comissão Organizadora

Eraldo Medeiros Costa Neto


Presidente
Miriam Gimenes
Secretaria
Eddy José Francisco de Oliveira
Apoio
Comissão Científica

Ana Laura Gaddi (Argentina)


Benigno Gómez y Gómez (México)
David Figueiredo de Almeida (Brasil)
Eddy José Francisco de Oliveira (Brasil)
Eraldo Medeiros Costa Neto (Brasil)
José Luis Navarrete Heredia (México)
José Manuel Pino Moreno (México)
Julieta Ramos Elorduy Blázquez (México)
Lilian Boccardo (Brasil)
Mauricio Vargas Clavijo (Colômbia)
Priscila Paixão Lopes (Brasil)

Monitores
Ana Teresa Galvagne Loss
Bruno Dias
Bruno Pires Alves dos Santos
Crismarie Mendes
Elaine Cristina dos Santos Costa
Felipe Carneiro Silva Passos
Iago de Jesus Santos
Ivan Muniz
Leonardo Queirós da Silva
Lucas Carneiro dos Santos
Ludmilla Freitas de Jesus Souza
Magda Soares Nogueira
Apoio

Patrocínio
Apresentação

Os insetos são o grupo animal numericamente dominante sobre a face da Terra,


constituindo 4/5 do reino animal, sendo encontrados em quase todos os ambi-
entes existente no planeta. Aproximadamente um milhão de espécies vivas de
insetos já foi descrito pela ciência. Essa grande diversidade de insetos é percebida,
classificada, conhecida e utilizada de diferentes maneiras por diferentes socie-
dades humanas.
Os insetos desempenham funções ecológicas importantes na estruturação e
manutenção dos ecossistemas, tais como: ciclagem de nutrientes – insetos necróf-
agos consomem plantas e animais mortos mantendo a Terra limpa, enriquecendo
o solo e liberando os nutrientes que contribuem para o crescimento das plantas;
polinização das plantas com flores – cerca de 30% do alimento que ingerimos de-
pende da polinização feita pelas abelhas; dispersão de sementes; manutenção da
estrutura e fertilidade do solo; controle das populações de organismos – as espé-
cies predadoras, parasitoides e parasitas são importantes para controlar o número
de outros insetos; fonte direta de alimento para inúmeras espécies animais; con-
trole biológico de plantas nocivas. Além disso, esses organismos exerceram e con-
tinuam a exercer uma influência significativa nos sistemas culturais de diferentes
sociedades humanas, tanto passadas quanto atuais.
Há várias explicações para a importância dos insetos na cultura humana. Seu
significado frequentemente repousa em seu valor simbólico. Esses significados
são, às vezes, contraditórios dependendo da sociedade em que aparecem (p. ex.,
grilos na casa podem significar tanto boa sorte quanto má sorte resultando em
morte). O próprio inseto ou seus produtos podem também fornecer um modelo
(arte decorativa), uma ferramenta (guerra biológica), uma invenção (brinquedo)
e diversão (filmes e documentários retratando esses animais).
A entomologia cultural como atividade lúdico-acadêmica é relativamente re-
cente. O termo foi cunhado pelo entomólogo Charles L. Hogue na década de
1980 para se referir à influência dos insetos (e demais artrópodes) na literatura,
linguagem, música, belas artes, história interpretativa, religião e recreação. Como
salientado por Hogue, a entomologia cultural investiga qualquer tema relacio-
nado com artrópodes e não apenas com insetos como o termo sugere.
O I Simpósio Brasileiro de Entomologia Cultural (I SBEC) consta de conferên-
cia magistral, mesas-redondas, palestras, oficinas e apresentação de resultados de
pesquisa, com a participação de renomados pesquisadores e estudantes de gradu-
ação e pós-graduação do país e do exterior.
Este simpósio e os trabalhos que nele serão apresentados são apenas uma
pequena mostra da riqueza cultural que se vislumbra no patrimônio cultural ma-
terial e imaterial das múltiplas interações que o ser humano estabelece com os
artrópodes, colocando de manifesto a necessidade de revalorizar a importância
dos artrópodes no contexto social e de suas manifestações culturais. Além disso,
estudos de entomologia cultural podem resultar em implicações e aplicações de
conservação e uso sustentável dos invertebrados, bem como a manutenção das
culturas a eles associadas.
Sumário
Conferência de Abertura

Nelson Papavero – Deuses, demônios, santos e insetos................................... 18

Mesa-redonda 1: A Entomologia Cultural na perspectiva da América Latina

Zamudio Fernando & Norma Inés Hilgert – Conocimiento etnoentomológico


local y patrones de transmisión cultural……………………............................ 19

Ana Laura Gaddi – Un panorama de los estudios sobre aspectos culturales


vinculados a los insectos y otros artrópodos en Argentina………………..... 27

Mariana Sanmartino – Concepciones sobre los insectos vectores del Chagas:


breve revisión, grandesafío……………………………………………........... 36

Mauricio Vargas-Clavijo – Los insectos en el Patrimonio Zoocultural de los


pueblos…................................................................................................................ 44

Mesa-redonda 2: Artrópodes no mundo das artes

Víctor José Monserrat Montoya – Los artrópodos en la obra de Salvador Dalí…


………..................................................................................................................... 53

Alcimar do Lago Carvalho – Rock and Roll dragonfly: as libélulas (Odonata) nas
letras de 100 canções do universo pop & Rock.................................................. 56

José Iván Zuluaga Cardona – Los insectos en la literatura, las artes plásticas,
el diseño, la publicidad y la recreación……………………………................. 64
Mesa-redonda 3: Artrópodes na visão dos cronistas

Benedito Cortês Lopes – Os insetos na vida de dois Fritz catarinenses............ 79

Argus Vasconcelos de Almeida – Conjuros e exorcismos contra as pragas de


gafanhotos no século XVII...................................................................................... 84

Palestras

Mauricio Vargas-Clavijo – Patrimonio entomológico cultural: protegiendo


culturas, conservando insectos…………………………………....................... 105

Alcimar do Lago Carvalho – Insetos entre o Céu e o Inferno: o simbolismo


ambíguo das libélulas (Odonata) e borboletas (Lepidoptera) na pintura europeia
entre os séculos XV e XVII.................................................................................... 115

Resumos

Arno Rieder – Percepção urbana, suburbana e rural de aranhas como pragas


domésticas: um estudo no Alto Pantanal............................................................. 124

María Celeste Medrano – Los “bichos” del chamán. Chamanismo y metamorfo-


sis de insectos en la zoo-sociocosmología qom………………………............ 150

José Ribamar de Sousa Júnior & Élison Fabrício Bezerra Lima – Representações
locais sobre insetos em hortas comunitárias e mercados públicos da cidade
de Teresina/PI.......................................................................................................... 160

Tiago Silva, Lilian Boccardo, Eraldo Medeiros Costa-Neto & Ricardo


Jucá-Chagas – Aspectos relacionados à importância cultural de alguns insetos

10
no povoado de Porto Alegre, Maracás, Bahia.................................................... 174

Kenta Takada – Arrival of the insect movie stars: Commentary on the animated
movie “A Bug’s Life” from the aspect of Cultural Entomology providing insight
for instruction of entomological knowledge, insect conservation and
management practice………………………………………............................ 181

Ibhny Vidal Fonseca & Priscila Paixão Lopes – O conceito de “Inseto”:


o que é “informado” e “formado” nas revistas brasileiras de divulgação cientí-
fica........................................................................................................................... 188

Alberto Sandia Mago, Jacklin Palomino, Wilmer Gelvez, Karina Fernández,


Héctor Coriano, David Chique, Roberto García-Alzate, Daisy Lozano, Matías
Reyes-Lugo, Antonio Morocoima, Mariana Sanmartino & Leidi Herrera – Re-
latos del Chagas: emergentes colectivos del juego, el dibujo y las historias de
la comunidad de San José de las Margaritas del Llano, Anzoátegui-Venezue-
la…………………………………………......................................................... 197

Soledad Ceccarelli, Agustín Balsalobre, María Soledad Scazzola, Vanina


Anadina Reche, Gerardo Anibal Marti, Cecilia Mordeglia & Mariana Sanmarti-
no – ¿De qué hablamos en la sala de entomología? Actividades del mes de Cha-
gas en el Museo de La Plata…………………………………….................... 204

Paula Medone, María Laura Susevich, Carolina Amieva, Ana Gaddi, Gerardo
Marti, Cecilia Mordeglia & Mariana Sanmartino – Los Jóvenes y el Chagas:
nuevas miradas posibles. Experiencias educativas en el Museo de La Plata… 210

Vivian Eliana Sandoval-Gómez & Andrés F. Sánchez – A evolução dos artrópo-


des de papel............................................................................................................... 219

Saulo da Silva Oliveira – O serra-pau e a chuva: relações subjetivas entre insetos


e previsão do tempo............................................................................................... 230

Raysa Martins Lima, Daniela Santos M. Silva, Daiane de Jesus Oliveira, Adriane
Vieira, Pamela Conceição, Eduardo Nogueira, João Paulo Morselli & Marcos
Gonçalves Lhano – Mitos e crendices sobre os Orthoptera (Insecta) no municí-
pio de Cruz das Almas, Bahia, Brasil.................................................................. 239

Adriane Vieira Souza, Pâmela de Jesus Conceição, Raysa Martins Lima, Daniela
Santos M. Silva, Daiane de Jesus Oliveira, Eduardo Nogueira & Marcos Gon-
çalves Lhano – Percepção dos estudantes do ensino médio e ensino superior de
Cruz das Almas-Ba sobre gafanhotos (Insecta, Orthoptera)............................ 245

Daniela Santos M. Silva, Daiane de Jesus Oliveira, Adriane Vieira, Raysa Martins
& Marcos Gonçalves Lhano – Gafanhotos (Orthoptera: Caelifera)
cortadores, devoradores e destruidores?.............................................................. 250

Petrônio Emanuel Timbó Braga – Os provérbios no cotidiano entomológico:


Ordem Hymenoptera............................................................................................. 258

Ilana Rocha Franco, Vanessa Perpétua Garcia Santana-Reis & Priscila Paixão
Lopes – A entomologia no cinema: análise do filme Vida de Inseto enquanto
recurso didático....................................................................................................... 263

Mariana Leodora da Silva, Gésica Regina Gomes da Silva, Lorena Pereira


Cerqueira Teixeira & Priscila Paixão Lopes – Os besouros (Coleoptera, Insecta)
segundo a comunidade da UEFS.......................................................................... 274

Maiara Alexandre Cruz, Lailla Rodrigues de Macedo, Antonio Souza do


Nascimento – Comportamento dos consumidores de goiaba infestada com lar-
vas do gênero Anastrepha...................................................................................... 281
Tayron Sousa Amaral & Thiago Alves França – Comunicação ou linguagem:
uma discussão acerca da seleção lexical realizada por manuais de entomologia
à luz da linguística................................................................................................. 288

Silvia L. López, Gladis Jerke, Leonardo H. Walantus, Cintia Zalazar & Carina
Cáceres – Identificación de bacterias entomopatógenas asociadas a larvas de
Bombyx mori L.(Lepidoptera: Bombycidae) en la provincia de Misiones… 296

Tayron Sousa Amaral


Aspectos Morfológicos, Biológicos e comportamentais de insetos: Entre a
Literatura Entomológica e a recriação Fílmica.................................................. 302
Programação
Segunda-feira – 6 de maio de 2013

Horário Atividade Local

7:30 - 9:00 Credenciamento (secretaria do evento) Auditório 1 Módulo I

9:00 - 9:30 Coffee break


9:30 - 10:00 Sessão de Abertura
Conferência de abertura Anfiteatro Módulo II
10:00 - 12:00
Dr. Nelson Papavero – USP
Título: Deuses, demônios, santos e insetos
12:00 - 14:00 Intervalo para almoço
Mesa-redonda 1: A Entomologia Cultural na perspectiva da
América Latina
Moderadora: Dra. Lilian Boccardo – UESB

Expositores:
Lic. Mauricio Vargas Clavijo – Universidad Nacional
Experimental de los Llanos Occidentales Ezequiel Zamora
(UNELLEZ)
Patrimonio Entomológico Cultural: protegiendo culturas,
conservando insectos

Lic. Ana Laura Gaddi – Museo de La Plata, Argentina


14:00 - 16:00 Anfiteatro Módulo II
Un panorama de los estudios sobre aspectos culturales vinculados
a los insectos y otros artrópodos en Argentina

Dra. Mariana Sanmartino – CONICET– UNLP, La Plata,


Argentina
Concepciones sobre los insectos vectores del Chagas: breve
revisión, gran desafío

Dr. Fernando Zamudio – Centro de Investigaciones del Bosque


Atlántico (CEiBA), Argentina
Conocimiento etnoentomológico local y patrones de transmisión
cultural
16:00 - 17:00 Lançamento de Livros
Anfiteatro Módulo II
17:00-17:30 Coquetel de Inauguração
Oficinas:
PAT 11
1. Metodologia da pesquisa em Entomologia Cultural Módulo I
17:30 - 19:30 Dr. Eraldo Medeiros Costa Neto - UEFS
2. Insetos no cinema
Dr. Benedito Cortês Lopes – UFSC Auditório 2 Módulo I

Terça-feira – 7 de maio de 2013

Horário Atividade Local


Apresentação de trabalhos – Sessão Pôster Hall do DCBIO
8:00 - 10:00
Módulo I
Coffee break
10:00 - 10:20

Mesa-redonda 2: Artrópodes no mundo das artes

Moderador: Dr. Eraldo Medeiros Costa Neto - UEFS

Expositores:
Dr. Víctor José Monserrat Montoya – Universidade Complutense
de Madri, Espanha
Los artrópodos en la obra de Salvador Dalí

Dr. Alcimar do Lago Carvalho – Museu Nacional, UFRJ Anfiteatro


10:20 - 12:00
Rock and roll dragonfly: as libélulas (Odonata) nas letras de 100 Módulo II
canções do universo pop rock

Dr. José Luis Navarrete Heredia – Univ. de Guadalajara, México


Video: Los artrópodos en el cine y en la televisión

Dr. José Iván Zuluaga Cardona – Univ. Nacional da Colômbia


Los insectos en la literatura, las artes plásticas, el diseño, la
recreación y la publicidad

12:00 - 14:00 Intervalo para almoço

15
Palestra 1: Patrimônio Zoocultural
14:00 - 15:00
Lic. Mauricio Vargas Clavijo
Palestra 2: Artrópodes no cinema: muita imaginação e pouca
15:00 - 16:00 biologia Anfiteatro Módulo II
Dr. Benedito Cortês Lopes – UFSC
16:00 - 16:30 Coffee break
Oficinas

3. Confecção de entomoartesanatos Lab 1


16:30 - 19:00 Dr. Eddy Oliveira – UEFS
4. Arte y Chagas: expresiones para pensar un problema complejo
Dra. Mariana Sanmartino e Lic. Ana Laura Gaddi Auditório 2 Módulo I
5. Artrópodos en papel PAT 11
Dra. Vivian Eliana Sandoval Gómez Módulo I

Quarta-Feira – 8 de maio de 2013

Horário Atividade Local


Apresentação de trabalhos – Sessão Oral Auditório 2 Módulo I
8:00-10:00

Coffee break
10:00-10:20

Mesa-redonda 3: Artrópodes na visão dos cronistas


Moderador: Dr. Eddy Oliveira – UEFS

Expositores:
Dr. Argus Vasconcelos de Almeida – UFRPE
Conjuros e exorcismos contra as pragas de gafanhotos no século
XVII Anfiteatro Módulo II
10:20-12:00
Dr. Benedito Cortês Lopes – UFSC
Os insetos na vida de dois Fritz catarinenses: Fritz Müller e Fritz
Plaumann

Dr. Nelson Papavero – USP


Os insetos mencionados pelos cronistas no século XVI

16
12:00-14:00 Intervalo para almoço

14:00-15:00 Palestra 3: Insetos entre Céu e o Inferno: o simbolismo ambíguo


das libélulas (Odonata) e borboletas (Lepidoptera) na pintura
europeia entre os séculos XV e XVII
Dr. Alcimar do Lago Carvalho – Museu Nacional – UFRJ

15:00-16:00 Palestra 4: Insetos “serial killers” do Brasil Anfiteatro Módulo II


Dr. Artur Gomes Dias Lima – UNEB

16:00-16:30 Coffee break

16:30-17:00 Sessão de Encerramento

17
Resumos

Conferência de Abertura

DEUSES, DEMÔNIOS, SANTOS E INSETOS

Nelson Papavero

Museu de Zoologia, Universidade de São Paulo. E-mail: pavotnel@gmail.com

A origem do mundo e dos homens no folclore chinês: Pan Ku. Reencarnações em


insetos. Santa Bárbara e a origem dos gafanhotos. Deuses e santos protetores da
lavoura contra gafanhotos: Ta Ba Cha, Ashur e S. Magno de Füssen. Gafanhotos
e Apocalipse. Deuses e santos protetores contra outras pragas da agricultura: S.
Saturnino; Chung Wang, deus dos insetos; uma reza para afastar pragas agrícolas
(Chapada dos Guimarães, MT); Agathodaemon; uma lista de santos portugueses
do século XVIII; Santa Marta; S. Pedro Gonçalves Telmo; S. Typhon, S. Grato de
Aosta; S. Huberto; S. Domingos de Silos; S. Isidoro e esposa. Santos e abelhas: S.
Ambrósio, S. Modomnoc, S. Bernardo de Clairvaux. Insetos e presépios no Brasil:
o presépio do Embu; Jules Martin e as formigas vestidas: aproveitamento do fol-
clore; a Iaiá-de-cintura.

18
Mesa-redonda 1: A Entomologia Cultural na perspectiva da América Latina

CONOCIMIENTO ETNOENTOMOLÓGICO LOCAL Y PATRONES DE


TRANSMISION CULTURAL

Zamudio Fernando & Norma Inés Hilgert

Instituto de Biología Subtropical, Puerto Iguazú, Misiones, Argentina


E-mail: zamufer@yahoo.com.ar, normahilgert@yahoo.com.ar

Resumen

De acuerdo a lo postulado por Boster (1986), el estudio de los patrones de dis-


tribución del conocimiento permite comprender cuáles son los mecanismos de
transmisión cultural y adquisición de conocimientos preponderantes en un grupo
y/o región. Los objetivos de éste trabajo son analizar los conocimientos locales so-
bre las abejas sin aguijón, sus formas de adquisición y transmisión, y determinar
qué factores y variables influyen en la distribución de los mismos entre pobladores
rurales del norte de la Provincia de Misiones, Argentina. Para ello, se analizan his-
torias de vida de informantes-clave y se evalúa la distribución y variabilidad de los
conocimientos locales sobre el dominio estudiado. Se ponen a prueba hipótesis
relacionadas a posibles agrupamientos espaciales del conocimiento según la cer-
canía e interacción entre pobladores a diferentes escalas. Para ello, evaluamos el
consenso entre 79 informantes de entre 16 y 79 años a través de un diseño espacial
y la consistencia en las nomenclaturas vernáculas asignadas, y la información so-
bre las historias de vida de ocho informantes-clave.

Palabras-clave: Patrones de distribución de conocimiento, abejas sin aguijón, Mi-


siones, mecanismos de adquisición de conocimiento, Etnozoología, Meliponini.

19
Introducción

La idea sobre la existencia de sociedades homogéneas fue modificándose a


medida que los investigadores dieron cuenta de la variabilidad interna, sobre
determinados dominios de conocimiento, costumbres y actitudes dentro de los
grupos culturales. A raíz de ello se generaron dos posturas: la que sugiere que la
variabilidad es inherente a los dominios culturales (GARDNER, 1976), y la que
considera que “el énfasis en el estudio de la variación no debería desmerecer la
posibilidad de una descripción cultural coherente” (BOSTER, 1986). La primera
fundamenta la variabilidad en la historia de vida de los informantes y propone la
ausencia de estándares o normas culturales al conocimiento de un dominio; en
tanto que la otra, considera que existen sistemas culturales a pesar de la gran di-
versidad cognitiva entre las personas que los conforman.
La variabilidad cultural como un problema de tipologías no constituye un tema
real de estudio, ya que las generalizaciones son propias de la labor del etnógrafo
(BOSTER, 1987). En cambio, la variabilidad cultural se vuelve un verdadero tema
de interés cuando se estudian los procesos y mecanismos de transmisión cultural
que la modelan. Para ello, se ha propuesto estudiar los patrones de acuerdo y
desacuerdo dentro de grupos definidos de alguna manera, como una forma de
acceder a la comprensión de los patrones de transmisión cultural de los cono-
cimientos (BOSTER, 1986; ROMNEY et al., 1986).
Los objetivos de éste trabajo son analizar los conocimientos locales sobre las
abejas sin aguijón, sus formas de adquisición y transmisión, y determinar qué
factores y variables influyen en la distribución de los mismos entre pobladores
rurales del norte de la Provincia de Misiones, Argentina. Para ello se analizan his-
torias de vida de informantes claves y se evalúa la distribución y variabilidad de
los conocimientos locales sobre el dominio estudiado.
Teniendo en cuenta el contexto sociocultural local y los mecanismos de trans-
misión propuestos por Cavalli-Sforza et al. (1982) se puso a prueba la siguiente
hipótesis. El grado de acuerdo sobre el dominio de las abejas sin aguijón difiere
según la distancia entre los asentamientos familiares y el nivel de interacción en-

20
tre los vecinos. Esto es así porque los espacios social y geográficamente delimita-
dos (p. ej. poblados) promueven un incremento en la interacción entre los vecinos
próximos, y por ende un intercambio de conocimientos, lo que conlleva a un
mayor acuerdo. Por lo tanto se espera encontrar que: 1) el consenso en las picadas
sea mayor al hallado en escalas de análisis más grandes; 2) El consenso entre po-
bladores de las picadas y de escalas de análisis más grandes es menor al consenso
interno de las picadas; 3) El consenso dentro de cada picada es mayor al hallado
en escalas de análisis más grandes; 4) el consenso entre pobladores de diferentes
picadas es menor al hallado dentro de cada picada.

Materiales y Métodos

El estudio se realizó entre julio de 2007 y diciembre de 2010 en poblados y


caseríos del Departamento General Manuel Belgrano, en el noroeste de la Pro-
vincia de Misiones, en el límite con el vecino país de Brasil (Estados Río Grande
do Sul y Santa Catarina). Se trabajo en las “picadas” denominadas Península de
Andresito, Ruta 24 y picadas anexas, y en los poblados de María Soledad y Piñal-
ito Norte.
Durante este período se utilizaron 4 métodos de indagación en diferentes
etapas: a) entrevistas libres y semi-estructuradas, b) enlistados libres, y c) test
proyectivo (BERNARD, 2000). La observación pasiva y participante, utilizada
como método de abordaje, se realizó durante todo el proceso de la investigación
conjuntamente con la documentación fotográfica y la colecta de ejemplares (ani-
males y vegetales) para su posterior identificación. Una vez definida la zona de
trabajo, la selección de informantes combinó el muestreo al azar, con la técnica de
bola de nieve (BERNARD, 2000). Dada la configuración pluricultural común de
los informantes estos fueron definidos como “criollos”. Los mismos incluyen po-
blaciones de argentinos y brasileños, descendientes de alemanes y otras culturas
europeas y de mestizos paraguayos y argentinos que conviven en la misma región
y comparten una serie de características comunes (ZAMUDIO et al., 2010).

21
Para analizar las formas de adquisición y transmisión de los conocimientos se
trabajó con ocho informantes-clave (de entre 50 y 69 años), para el resto de los
objetivos se trabajó con 79 informantes de entre 16 y 79 años. Fueron considera-
dos informantes-clave en base al conocimiento sobre la diversidad (aquellos que
citaron más de 9 etnoespecies) y ecología de las etnoespecies (e.g. interrelaciones)
y por el grado de detalle de sus descripciones. En tanto que para evaluar la con-
sistencia en las denominaciones locales de las abejas sin aguijón se identificaron
y clasificaron los nombres vernáculos recopilados según su estructura (prima-
ria y secundaria) y se distinguieron los diferentes tipos de nombres primarios
según fueran simples o complejos. Las convenciones y criterios para categorizar
los nombres según su estructura se basan en préstamos de la lingüística y se en-
cuentran detallados en bibliografía etnobiológica (MARTIN, 2001; MOURÃO;
MONTENEGRO, 2006).
Para poner a prueba la hipótesis y predicciones relacionada a la distribución
de los conocimientos se estimó la Proporción de Acuerdo (PA) entre inform-
antes1 y el Acuerdo General de un informante (AG). Este último, se obtiene al
promediar los valores de consenso (PA) entre el informante con cada uno de los
participantes de estudio (todas las combinaciones posibles) o según la agrupación
analizada (p. ej., personas de una misma picada). Los valores de acuerdo (PA o
AG) iguales o mayores a 0.7 son considerados en literatura como un alto nivel de
consenso (VANDEBROEK, 2010). Para poner a prueba la hipótesis planteada se
trabajó con un diseño espacial con tres escalas de análisis como se muestra en
la Fig. 1. Siendo la escalas de menor a mayor las Picadas (1 y 2), Zonas (1 y 2) y
Región considerado todos los habitantes por fuera de las escalas antes señaladas.

__________________
1 PA=# coincidencias/ # de etnoespecies conocidas por ambos. La PA alcanza valores entre 0 y 1, e
indican consenso nulo y máximo entre pares de informantes, respectivamente (BOSTER, 1985).

22
Picada 1

Zona 1

Picada 2

Zona 2

REGIÓN

(Norte de Misiones)
C. Andresito
San Antonio
Figura 1. Esquema de distribución y delimitación de zonas y picadas con respecto a la ubicación de las ca-
beceras municipales y principales centros de comercialización en la región.

Resultados y Discusión

El conocimiento sobre el dominio se encuentra distribuido en forma homo-


génea espacialmente pero desigualmente entre los individuos de la población. Es
decir el consenso es igual entre informantes de diferentes escalas de análisis pero
se identifican informantes que conocen por encima de la media. Esto podría rea-
firmar la idea de que los mismos son primordialmente individuales y se encuen-
tran fragmentados, como producto de la reciente conformación de las sociedades
locales y su pluriculturalidad, por un lado y la discontinuidad en el uso y acceso
al recurso, por el otro.
Según la estructura semántica de los nombre vernáculos, encontramos que los
nombres secundarios binomiales predominan con un total de 22 (44%), seguidos
de los primarios simples con 17 (34%) y finalmente por los primarios complejos
con 11 nombres (22%). Sin embargo si consideramos la frecuencia de uso, los
primarios complejos son los más relevantes con más de un 80% de las menciones
(Tabla 1). Estos resultados dan cuenta de lógicas individuales de denominación y
clasificación. Ello se refleja en el hecho de que taxones considerados monotípicos
23
por la mayoría fueron indicados por algunos informantes como politípicos (e.g.
carabozá). Este tipo de construcción lógica poco frecuente, es probable se deba
a un conocimiento fragmentado o parcial sobre el dominio. Esta inferencia se
sustenta en el hecho de que muchos informantes describieron a especies que no
conocían el nombre (clasificadas como Otras) y en el elevado número de sinóni-
mos y nombres vernáculos considerados creaciones propias para referirse a una
misma especie.
El conocimiento sobre las meliponinas se adquiere mediante un proceso inter-
mitente de enculturación (transmisión horizontal y vertical) y experimentación
moldeado por la disponibilidad del recurso y las oportunidades de aprendizaje
de los individuos. El contacto con otras personas no emparentadas y de la expe-
riencia con el recurso son factores que condicionan el nivel de aprendizaje. Este
es un proceso signado por las inferencias entre lo que se aprende de parientes u
otros y lo que se aprende viendo y experimentando, acciones que se dan en ámbi-
tos distintos a causa de la falta de continuidad y tradición en el uso de las abejas
sin aguijón y a los factores ecológicos anteriormente señalados. Ninguno de estos
mecanismos de transmisión y adquisición de conocimientos prevalece siendo el
ambiente donde los informantes vivieron mayor tiempo de sus vidas y las opor-
tunidades de aprendizaje factores que afectaron el conocimiento actual. Estas a su
vez se ven afectadas por el estado de conservación del recurso y a cambios en los
hábitos de vida y actividades cotidianas de los informantes.

Tabla 1. Estructura y semántica de las nomenclaturas vernáculas de las abejas sin


aguijón.

Estructura Nº nombres % Frecuencia de uso %


Primarios simples 17 34.0 303 80.8
Primarios complejos 11 22.0 30 8
Secundarios binomiales 22 44.0 42 11.2
TOTAL 50 100 375 100

24
Consideraciones Finales

La información analizada en las historias de vida de los informantes clave y los


resultados sobre consenso en las diferentes escalas nos permite proponer que; a)
sus conocimientos actuales son el resultado de la transmisión vertical sumada a la
horizontal ocurrida antes de la llegada a esta región; y b) que ambos mecanismos
han promovido los altos niveles de variación individual registrados, a diferencia
de lo esperable si hubiesen dominado otros modos de transmisión.
El conocimiento sobre las meliponinas se adquiere mediante un proceso inter-
mitente de enculturación y experimentación moldeado por la disponibilidad del
recurso y las oportunidades de aprendizaje de los individuos. Este es un proceso
signado por las inferencias entre lo que se aprende de parientes u otros y lo que
se ve, acciones que se dan en ámbitos distintos a causa de la falta de continuidad
y tradición en el uso de las abejas sin aguijón y a los factores ecológicos anterior-
mente señalados.
Finalmente consideramos que los datos expuestos invitan a profundizar sobre
el tema, mejorar las preguntas y los diseños de estudios, y a analizar dominios
con características diferentes de modo de poder comparar y entender las diversas
“rutas de aprendizaje” que siguen los recursos.

Referencias

BERNARD, R.H. Social research methods. Qualitative and quantitative approach-


es. United Kingdom: Sage Publications, INC., 2000. 659 p.

BOSTER, J.S. Exchange of varieties and information between Aguaruna manioc


cultivators. American Anthropologist, v. 88, p. 428-436, 1986.

BOSTER, J.S. Why study variation. American Behavioral Scientist, v. 31, n. 2, p.


150-162, 1987.

25
CAVALLI-SFORZA, L.L.; FELDMAN, M.W.; CHEN, K.H.; DORNBUSCH, S.M.
Theory and observation in cultural transmission. Science, n. 218, p. 19-27, 1982.

GARDNER, P.M. Birds, words, and a requiem for the omniscient informant.
American Ethnologist, v. 3, p. 446-468, 1976.

MARTIN, G. Etnobotánica. Pueblos y Plantas, Manual de Conservación. Fondo


Mundial para la Naturaleza, 2001. 240 p.

MOURÃO, J.S.; MONTENEGRO, S.C.S. Pescadores e peixes: o conhecimento lo-


cal e o uso da taxonomia folk baseado no modelo berlineano. Recife: NUPEEA,
2006. 70 p.

ROMNEY A.K.; WELLER, S.C.; BATCHELDER, W.H. Culture as consensus: A


theory of culture and informant accuracy. American Anthropologist, v. 88, p. 313-
338, 1986.

VANDEBROEK, I.; BALICK, M.J.; OSOSKI, A.; KRONENBERG, F.; YUKES, J.;
WADE, C.; JIMÉNEZ, F.; PEGUERO, B.; CASTILLO, D. The importance of botel-
las and other plant mixtures in Dominican traditional medicine. Journal of Eth-
nopharmacology, v. 128, p. 20-41, 2010.

ZAMUDIO, F.; KUJAWSKA, M.; HILGERT, N.I. Honey as medicinal and food
resource. Comparison between Polish and multiethnic settlements of the Atlantic
Forest, Misiones, Argentina. The Open Complementary Medicine Journal, v. 2, p.
58-73, 2010.

26
UN PANORAMA DE LOS ESTUDIOS SOBRE ASPECTOS CULTURALES
VINCULADOS A LOS INSECTOS Y OTROS ARTRÓPODOS EN ARGEN-
TINA

Ana Laura Gaddi

División Entomología & Equipo de Investigación en Etnografía Aplicada, Museo


de la Plata, Facultad de Ciencias Naturales y Museo, Universidad Nacional de
La Plata. Paseo del Bosque s/n, 1900 La Plata, Buenos Aires, Argentina. E-mails:
ana_gaddi@fcnym.unlp.edu.ar, ana_gaddi@yahoo.com.ar

Introducción

Las interacciones humano/ambiente natural, objeto de disciplinas como la


Etnobotánica, Etnozoología, Etnoecología, requieren de un abordaje a microes-
cala propio de los estudios etnográficos y un enfoque interdisciplinario (CRIVOS;
MARTÍNEZ, 1996). En Argentina, principalmente en los campos de la Etnobi-
ología, Etnoecología y Etnobotánica, existe una vasta trayectoria de investigación
y reconocida producción científica en instituciones de distintas provincias; y en
lo que respecta a la formación académica, materias y cursos de postgrado es-
pecíficos. En los últimos años se llevaron a cabo distintos encuentros científicos
relacionados a estas áreas. En el año 2011, el I Seminario Argentino-Brasilero
de Etnobiología en el laboratorio ECOTONO del Centro Regional Universitario
Bariloche (Río Negro); donde se presentaron proyectos de investigación, en su
mayoría etnobotánicos.
El estudio del vínculo humano/insecto es el propósito de la Etnoentomología,
definida por Berlin (1992) como el campo que estudia el complejo conjunto de
interacciones que las sociedades humanas, tanto en el pasado como el presente,
mantienen con los insectos. Su status como disciplina formalizada en el país di-
fiere respecto de las demás etnociencias mencionadas. En el ámbito de la Ento-
mología argentina, los estudios sobre la interacción insecto/humano que directa

27
o indirectamente pueden asociarse a dicha disciplina, están poco desarrollados en
comparación con otras áreas temáticas. Son contados los equipos de investigación
que se dedican a los mismos, y por el momento no se han consolidado grupos
de trabajo bajo los epígrafes “Etnoentomología” ni “Entomología Cultural”. Sin
embargo, merece especial mención la obra precursora del Dr. Luis de Santis, ref-
erente valioso de la Entomología, profesor de la Facultad de Ciencias Naturales
y Museo (FCNyM - UNLP) e investigador en la División Entomología del men-
cionado museo. Entre sus numerosos artículos de divulgación, merece destacarse
su conferencia sobre “Los insectos como alimento del hombre”, presentada en la
Academia Nacional de las Ciencias en el año 1962; una de las primeras contribu-
ciones etnoentomológicas en el contexto de la Entomología nacional.
En el año 2012 se desarrollaron eventos directamente relacionados al tema que
nos convoca. En abril se realizó en Bariloche el I Simposio de Etnoentomología,
en el marco del VIII Congreso Argentino de Entomología organizado por la So-
ciedad Entomológica Argentina (SEA), con la participación de investigadores de
Brasil, México y Argentina. Posteriormente en el X Congreso Internacional sobre
Manejo de Fauna Silvestre (Salta) se dictó por primera vez en el país el curso “In-
troducción a la Etnoentomología”, a cargo de especialistas procedentes de México.
Por último en septiembre, durante la XXV Reunión Argentina de Ecología llevada
a cabo en la Universidad de Luján (Buenos Aires), tuvo lugar un simposio rela-
tivo a la Percepción y conocimiento de la biodiversidad. Entre las presentaciones
hubo dos de índole etnoentomológica: una relacionada a concepciones sobre los
vectores del Chagas, y la otra, al estado de la Etnoentomología en Argentina.
Emprendí este estudio en el marco de un proyecto de investigación como be-
caria del Consejo Interuniversitario Nacional, con el interés de conocer el contex-
to en el que iniciaría la investigación sobre concepciones en torno a los insectos
en el ámbito doméstico en Molinos, población rural del valle calchaquí, Salta. De
este modo, el objetivo de esta comunicación es brindar un panorama de los estu-
dios que vinculan insectos y otros artrópodos con diversos aspectos de la cultura
en Argentina. A tal fin se emprendió un análisis de las producciones generadas en

28
el marco de la Sociedad Entomológica Argentina (SEA) y sus ámbitos de influen-
cia; asimismo en el ámbito de la Etnografía y de otros campos disciplinares.

Materiales y Métodos

Los datos presentados en esta contribución son el resultado de la revisión bib-


liográfica entomológica y etnográfica, y de la comunicación personal con diversos
especialistas a través de la lista de correo de la SEA. Las publicaciones periódicas
de la Sociedad fueron analizadas según su cronología de aparición: Boletín de
la SEA (1925-act.): 41 fascículos, Revista de la SEA (1926-act.): 129 fascículos
(71 volúmenes), Congresos Argentinos de Entomología (1987-act.): ocho libros
de resúmenes, página web de la SEA: www.sea.org.ar (1999-act.): listado de en-
tomólogos argentinos y sus líneas de investigación. En dichas fuentes se identifi-
caron y analizaron escritos cuyos objetivos y estrategias de investigación podrían
considerarse desde una perspectiva etnoentomológica de acuerdo a la definición
de Berlin (1992).

Resultados y Discusión

Al analizar las publicaciones periódicas generadas a lo largo de estos 88 años


de historia de la SEA, predominan los aportes sobre taxonomía y biogeografía,
manejo de plagas, artrópodos de importancia sanitaria, y en menor medida
aquellas sobre fisiología, comportamiento y genética. Son escasos los trabajos que
mencionan aspectos culturales relacionados a insectos y otros artrópodos, y la
mayoría no aluden a los epígrafes “Etnoentomología” ni “Entomología Cultural”.
Su relación con dichos campos es generalmente indirecta debido a que no refieren
explícitamente a los mismos, aunque por su contenido podrían enmarcarse en el-
los. En el Boletín de la SEA se encuentra una variedad de secciones (divulgación,
opinión, avisos diversos, obituarios, etc.) que le confieren un perfil de mayor es-
pectro entre las publicaciones de la SEA, y relevancia en la vinculación activa de
sus miembros. Esta cualidad se refleja también en el hecho de que el 27% de los

29
fascículos (15 contribuciones) contiene al menos una contribución relacionada a
la Etnoentomología. Las temáticas aluden a: los nombres vulgares de insectos y
otros artrópodos de Argentina (en castellano, quechua, lule y tonocotés); la en-
señanza institucionalizada sericicultura y la apicultura; la utilidad tintórea del
carmín de cochinillas y registros arqueológicos en América del Sur; al valor nu-
tricional que los insectos pueden aportar a la dieta humana; fragmentos de obras
clásicas de la literatura internacional que representan a ciertos insectos; concep-
ciones sobre las enfermedades del Dengue y del Chagas y sus insectos vectores; y
la representación de los insectos en las estampillas nacionales.
En la Revista de la SEA (de reconocida tradición en Sistemática y Morfología,
Entomología Aplicada, Biología y Ecología), el 7% de los fascículos (nueve tra-
bajos) posee al menos una alusión a temas etnoentomológicos. Entre ellos una
exhibición entomológica organizada por miembros de la SEA en la ciudad de
Buenos Aires (1928), que incluyó material arqueológico y etnográfico. También,
citas sobre bibliografía entomológica publicada en ámbitos externos a la SEA
referidas a: la alimentación humana con insectos, sericicultura, apicultura y una
leyenda. Otros trabajos contemplan cuestiones inherentes a: la protección de los
lepidópteros nativos y restricciones a su canje y comercialización; las propiedades
tintóreas de las cochinillas y registros arqueológicos en América del Sur; relatos
históricos de cronistas y concepciones en torno al Chagas y a la vinchuca.
En comparación con el boletín y la revista, el Congreso Argentino de Ento-
mología (CAE) se ha realizado en ocho oportunidades desde el año 1987. Dichos
eventos (87.5%) aportaron la mayoría de las contribuciones al tema (38 en total),
aunque muchas no fueron publicadas en la revista y el boletín; queda por el mo-
mento el interrogante acerca del ámbito donde se difundieron posteriormente. De
las temáticas tratadas, la mayoría refiere a aspectos culturales sobre artrópodos
de importancia sanitaria y las enfermedades que transmiten (Chagas, Pediculo-
sis, Dengue, Escabiosis y Leishmaniasis). Otras aluden a los productos derivados
de insectos aprovechables para el consumo humano (mieles, colorantes, sedas).
Menos frecuente es la referencia a cuestiones culturales implicadas en proyectos
de control de plagas agrícolas o de conservación. En el año 2012 se incluyó por

30
primera vez a la Etnoentomología como área temática y hubo una mayor diver-
sificación de temas ya que, como se mencionara en la introducción, en el VIII
CAE se realizó el I Simposio de Etnoentomología bajo el lema “Los insectos en la
cultura latinoamericana: aportes de la Etnoentomología y situación actual en la
Argentina”, con la participación de Dres. M. Loiácono (FCNyM), E. Costa-Neto
(Universidade Estadual de Feira de Santana, Brasil), J.L. Navarrete-Heredia (Uni-
versidad de Guadalajara, Méjico), y la autora.
Externamente al ámbito de la SEA, las contribuciones son diversas en cuanto
a las temáticas y sus abordajes, involucrando investigadores y becarios de varias
instituciones del país, con formación académica en distintas áreas de las ciencias
naturales y sociales. En las investigaciones analizadas hasta esta instancia, pre-
dominan dos grandes temáticas. Por un lado, el vínculo humano con artrópo-
dos de importancia sanitaria: concepciones y conocimientos sobre el Chagas en
contextos urbanos y rurales en provincias del centro y norte del país (SANMAR-
TINO; CROCCO, 2000); antropología médica de la Leishmaniasis en Misiones
(MASTRANGELO et al., 2013); y percepciones y comportamientos vinculados
a la Tungiasis en Corrientes (OSCHEROV et al., 2008). La otra temática pro-
fusamente estudiada se relaciona con el valor cultural de las abejas meliponas y
sus mieles: conocimientos locales, clasificación vernácula, manejo, valor ritual,
alimentario y medicinal. Son varios los autores que han abordado estas cues-
tiones para comunidades de la provincia de Salta, la región Chaqueña y Misiones
(KAMIENKOWSKI; ARENAS, 2012; MEDRANO; ROSSO, 2010; ZAMUDIO
et al. 2012). Asimismo para esta última provincia, Cebolla Badie (2009) realizó
estudios sobre consumo de himenópteros, coleópteros y lepidópteros entre los
Mbya-guaraní. Las demás investigaciones enfatizan en otras temáticas. En la pro-
vincia de Catamarca se realizaron estudios sobre Arqueoentomología (ACUÑA,
2008), y también concernientes a la sericicultura con lepidópteros nativos y la
elaboración de textiles artesanales (JURADO; ZAPATA, 2002). En Salta, se lleva
a cabo una investigación sobre las concepciones en torno a los insectos en el ám-
bito doméstico rural en Molinos (GADDI et al., en prep.), donde otros autores del
mismo equipo de investigación citaron el consumo de ciertos productos deriva-

31
dos de insectos en las prácticas médicas a nivel doméstico. En relación a trabajos
que estudian el léxico de las lenguas chaqueñas referido a artrópodos cabe men-
cionarse las publicaciones de Martínez Crovetto (1995) y Porta y di Orio (2010),
entre otros autores.
Otros aportes de relevancia provienen del ámbito de la divulgación científica.
A mediados de los años 80’ se publicó la revista “Fauna Argentina” (Centro Edi-
tor de América Latina, Buenos Aires), con 14 fascículos referidos a artrópodos,
a su biología, ecología y distribución en Argentina. Incluía también una “Ficha
antropológica” del antropólogo M. Á. Palermo, en la que presentaba creencias,
usos y conocimientos referidos a dichos artrópodos por parte de distintos grupos
étnicos del país o del exterior. Retornando al ámbito entomológico y posterior-
mente a la obra de divulgación pionera del Dr. L. De Santis, e inspirados en su
labor, sus discípulas y demás miembros de la Sección Hymenoptera “Parasitica”
del MLP, publicaron nuevas contribuciones destinadas al público general. Dos
de ellas referidas a la Entomofagia de la autoría de las Dras. M.S. Loiácono y
C. Margaría. Una obra posterior es el libro “Insectos y hombres: una diversidad
de interacciones” (LOIÁCONO; MARGARÍA, 2010), cuyos capítulos además de
abordar aspectos de la biología y ecología de los insectos tratan también diversos
temas relacionados a la Etnoentomología: productos comerciales derivados de
insectos, la utilidad de los insectos en la medicina, el consumo de los insectos
en la alimentación humana, su representación en la literatura, en la música y el
cine, y en mitos, leyendas y otras simbolizaciones para Argentina. En el año 2011
se publicaron nuevas contribuciones sobre la representación de los insectos en
la cuentística rioplatense (SILVA; LOIÁCONO, 2011), y a la personificación por
medio de la alusión a insectos (GADDI, 2011).

Consideraciones Finales

Los aportes relacionados a la Etnoentomología se han incrementado en los


últimos años en el marco de la SEA, y especialmente en ámbitos externos. En
éstos últimos se generó la mayoría de las investigaciones que poseen un enfoque

32
etnográfico. Resulta necesario profundizar esta investigación y a su vez extenderla
a nuevos ámbitos, a fin de alcanzar un conocimiento más preciso y representativo
respecto de las producciones y sus abordajes teórico-metodológicos.
Para alcanzar una mejor comprensión de las complejas manifestaciones cul-
turales que surgen de nuestro vínculo con los insectos, es indispensable procurar
un abordaje interdisciplinar de las mismas. Este enfoque posibilitará optimizar
las investigaciones y sus aplicaciones prácticas; adecuar los esfuerzos y recursos
destinados al manejo y/o la conservación de la biodiversidad, a las necesidades
de quienes sean sus destinatarios; y a su vez, obrar en resguardo de la diversidad
biológica y, dentro de la misma, de la diversidad cultural.

Referencias

ACUÑA, G.E. Arqueoentomología: propuesta de Estudio. Huayllu-Bios, Revista


Científica de Biología, Universidad Nacional de Catamarca, n. 2, p. 13-27, 2008.

BERLIN, B. Ethnobiological classification: principles of categorization of plants


and animals in traditional societies. New Jersey: Princeton University Press, 1992.
364 p.

CEBOLLA BADIE, M. El conocimiento y consumo de himenópteros, coleópter-


os, y lepidópteros en la cultura Mbya-Guaraní, Misiones, Argentina. En: COSTA
NETO, E.M.; SANTOS FITA, D.; VARGAS CLAVIJO, M. (coords.). Manual de
Etnozoología. Una guía teórico-práctica para investigar la interconexión del ser
humano con los animales. Valencia: Tundra Ediciones, 2009. p. 215-223.

CRIVOS, M.; MARTINEZ, M.R. Las estrategias frente a la enfermedad en Molin-


os (Salta, Argentina). Una propuesta para el relevamiento de información empíri-
ca en el dominio de la Etnobiología. En: MARTÍNEZ, A.; VARGAS, L.A.; SER-
RANO, C. (coords.). Memorias del IV Simposio de Antropología Física “Luis
Montané”. Instituto de Investigaciones antropológicas, Universidad Autónoma de

33
México / Museo Antropológico Montané, Universidad de La Habana Cuba, 1996.
p. 99-104.

GADDI, A. L. I’ve got you under my skyn, comentarios sobre los insectos bajo la
piel del hombre y el hombre bajo la cutícula de los insectos. En: NAVARRETE-
HEREDIA, J.L.; CASTAÑO-MENESES, G.; QUIROZ-ROCHA, G.A. (coords.).
Facetas de la Ciencia: Ensayos sobre Entomología Cultural. Jalisco: Universidad
de Guadalajara, 2011. p. 35-40.

JURADO, G.B.; ZAPATA, A.I. Textiles realizados con lágrimas de seda nativa de
América. Actas del Primer Congreso Internacional de Patrimonio Cultural, Fac-
ultad de Letras, Córdoba, Argentina. 2002. p. 115-122.

KAMIENKOWSKI, N.M.; ARENAS, P. La colecta de miel o “meleo” en el Gran


Chaco: su relevancia en etnobotánica. En: ARENAS, P. (ed.). Etnobotánica en
zonas áridas y semiáridas del Cono Sur de Sudamérica. Buenos Aires: CEFYBO-
CONICET, 2012. p. 71-116.

LOIÁCONO, M.; MARGARÍA, C. (eds.). Insectos y hombres: una diversidad de


interacciones. Buenos Aires: Editorial Al Margen, Colección Diagonios, 2010.
122 p.

MARTÍNEZ CROVETTO, R.N. Zoonimia y etnozoología de los Pilagá, Toba,


Mocoví, Mataco y Vilela. Editorial de la Universidad de Buenos Aires, 1995. 192
p.

MASTRANGELO, A.; FATTORE, G.; PEREIRA, S.G. Antropología médica de la


Leishmaniasis Tegumentaria Americana (LTA). Un estudio de caso en alto Paraná
misionero. Disponible en: http://www.fmv-uba.org.ar/antropologia/index2.htm.
Acceso: 17 de abril de 2013.

34
MEDRANO, M.C.; ROSSO, C.N. Otra civilización de la miel: utilización de miel
en grupos indígenas guaycurúes a partir de la evidencia de fuentes jesuitas (siglo
XVIII). Espaço Ameríndio, v. 4, n. 2, p. 147-171, 2010.

OSCHEROV, E.B.; MILANO, A.M.F.; BAR, A.R. Percepciones y comportamiento


de la población de un área endémica de Argentina en relación a la transmisión
de Tunga penetrans (Siphonaptera: Tungidae). Boletín de Malariología y Salud
Ambiental, v. 48, n. 1, p. 53-60, 2008.

PORTA, A.O.; DI IORIO, O.R. Los nombres para artrópodos en toba. En: CAS-
TEL, V.M.; CUBO, L. (eds.), La renovación de la palabra en el bicentenario de la
Argentina. Los colores de la mirada lingüística. Mendoza: Editorial FFyL, Univer-
sidad Nacional de Cuyo, 2010. p. 1057-1064.

SANMARTINO, M.; CROCCO, L. Conocimientos sobre la enfermedad de Cha-


gas y factores de riesgo en comunidades epidemiológicamente diferentes de Ar-
gentina. Revista Panamericana de Salud Pública, v. 7, p. 173-178, 2000.

SILVA, S.; LOIÁCONO, M. Los insectos en la cuentística Rioplatense. En: NA-


VARRETE-HEREDIA, J.L.; CASTAÑO-MENESES, G., QUIROZ-ROCHA, G.A.
(coords.), Facetas de la Ciencia: Ensayos sobre Entomología Cultural. Jalisco:
Universidad de Guadalajara, 2011. p. 73-75.

ZAMUDIO, F.; FLORES, F.F.; HILGERT, N.I.; LUPO, L.C.; ÁLVAREZ, L.J. Aprove-
chamiento y manejo de abejas sin aguijón (Apidae: Meliponini) en Argentina:
comparación entre Yungas y el Bosque Atlántico. En: resúmenes del X Congreso
Internacional de Manejo de Fauna Silvestre en la Amazonía y Latinoamérica,
Universidad Nacional de Salta. 2012. p. 187.

35
CONCEPCIONES SOBRE LOS INSECTOS VECTORES DEL CHAGAS:
BREVE REVISIÓN, GRAN DESAFÍO

Mariana Sanmartino

Grupo de Didáctica de las Ciencias, Instituto de Física de Líquidos y Sistemas


Biológicos (CONICET-UNLP). Calle 55 Nro.910, 1900 La Plata (Pcia de Buenos
Aires, Argentina). E-mail: mariana.sanmartino@conicet.gov.ar

Resumen

La línea de investigación que aquí se presenta propone aportar de manera con-


creta al desafío de incorporar una mayor cantidad de elementos al abordaje de la
problemática del Chagas, a partir de la investigación de las concepciones sobre el
tema y de la elaboración y puesta en práctica de estrategias y recursos didácticos
para diversos contextos. Este texto en particular se centra en las concepciones
sobre los insectos vectores del Chagas, las vinchucas, identificadas a lo largo del
trabajo con diferentes actores/as. A partir de ejemplos puntuales procuramos
mostrar que, en torno a los múltiples aspectos que conforman la problemática,
existe todo un bagaje de concepciones que es fundamental investigar con las par-
ticularidades de cada contexto. Consideramos que las concepciones sobre el tema
constituyen herramientas indispensables para hacer frente a este problema dado
que, por un lado su indagación resulta el paso previo necesario para pensar y lle-
var a la práctica cualquier proyecto educativo o de comunicación; y por otro lado,
brindan conocimientos fundamentales para comprender el tema Chagas en toda
su complejidad.

Palabras-clave: Chagas, vinchucas (triatominos), investigación cualitativa, con-


cepciones.

36
Introducción

Cuando hablamos de la problemática del Chagas resulta fundamental com-


prender que no nos referimos solamente a una enfermedad. Hablamos de un
problema verdaderamente complejo, definido y caracterizado por la conjugación
de elementos vinculados a cuatro grandes dimensiones: biomédica, epidemi-
ológica, sociocultural y político-económica (SANMARTINO et al., 2012). Re-
sulta clave también atender al hecho de que, debido a las nuevas configuraciones
del globalizado mundo en el que vivimos, hace tiempo ya que el Chagas dejó de
ser un problema únicamente rural y una realidad exclusivamente latinoameri-
cana (SANMARTINO, 2009a). A partir de estas consideraciones, la visión que
proponemos intenta trascender enfoques reduccionistas y estereotipados de “una
enfermedad de pobres”, restringida al ámbito rural latinoamericano y de incum-
bencia exclusivamente biomédica.
De esta manera, la búsqueda de soluciones y respuestas debe encararse de
manera integral y acorde a las particularidades de los escenarios actuales. No ten-
emos más remedio que ser imaginativos, flexibles y desprejuiciados, señaló Morel
(1999) al hablar de los desafíos que aún se plantean para hacer frente a esta prob-
lemática. Haciendo eco de este llamado consideramos que, entonces, no tenemos
más remedio que contemplar y sumar todos los elementos que sirvan para anal-
izar este tema desde la mayor cantidad posible de puntos de vista. En este marco,
esta presentación reúne algunos de los resultados obtenidos en el desarrollo de
una línea de investigación que se propone aportar de manera concreta a este de-
safío, a partir de la investigación de las concepciones sobre Chagas de diferentes
actores/as, y del análisis, elaboración y puesta en práctica de estrategias y recur-
sos didácticos para encarar esta temática en diversos contextos (SANMARTINO,
2006, 2009b, 2012).
En términos generales, las concepciones constituyen la grilla de lectura, de
interpretación y de previsión de la realidad con la que interactúa cada individuo
y son, al mismo tiempo, su prisión intelectual ya que sólo a través de ellas puede
comprender el mundo (GIORDAN, 2003). Son los saberes que cada uno tiene

37
para explicar y situarse en su medio; y son producto de la historia, el ambiente,
el contexto cultural, la realidad de cada persona y de las interacciones que se dan
entre todos estos elementos.

Vinchucas, chinches y demás: brevísima revisión de concepciones

Del bagaje de concepciones vinculadas a la problemática del Chagas e iden-


tificadas hasta el momento, a continuación presentamos un recorte de aquellos
aspectos relacionados de manera más directa con los insectos responsables de
la transmisión del Trypanosoma cruzi (los triatominos, conocidos en Argentina
como “vinchucas” o “chinches”).
En este sentido, los discursos más ricos sobre los aspectos en cuestión cor-
responden a quienes conviven con el problema de manera más cotidiana y natu-
ral (principalmente las personas que residen o residieron en zonas rurales), para
quienes las vinchucas son –en general– insectos conocidos en profundidad. Tanto
en el análisis de nuestras entrevistas, como en las referencias de otros autores,
en la mayoría de los casos es fácilmente visible cómo estos insectos pertene-
cen al universo cotidiano de los habitantes de las zonas rurales de los países en-
démicos (CABALLERO-ZAMORA; DE MUYNCK, 1999; VERDÚ; RUIZ, 2003;
SANMARTINO, 2006; COSTA NETO; GURGEL GONÇALVES, 2012). Con re-
specto a su rol de agentes transmisores de la enfermedad de Chagas, la mayor
parte de estas personas considera a la vía vectorial como la única posibilidad de
transmisión del T. cruzi. Sin embargo, para algunos, no cualquier vinchuca puede
transmitir la enfermedad: existen algunas que son “ponzoñosas” o “venenosas”
(en general, identificadas como chinches de color rojo, difíciles de encontrar) y
otras que no lo son (en general, identificadas como chinches de color negro, más
comunes). En una publicación anterior (SANMARTINO, 2010), dimos el nom-
bre de “mito de la colorada” a esta concepción bastante difundida e identificada
tanto en los trabajos de otros autores (VALDEZ, 1993; CABALLERO-ZAMORA;
DE MUYNCK, 1999) como en investigaciones propias (SANMARTINO, 2006);
y referido también durante charlas informales con colegas que abordan las cues-

38
tiones entomológicas o médicas del Chagas en sus trabajos de campo (SANMAR-
TINO, 2010). Probablemente, “la colorada” sea para algunos la vinchuca recién
mudada, también es posible que se esté hablando de algún otro insecto que no
está en contacto tan directo con ellos como lo está Triatoma infestans (la especie
de vinchuca más común en la región del Cono Sur). El fundamento de este mito
probablemente se encuentre en éstas y otras explicaciones según la región o la
comunidad que se trate, motivo por el cual sería interesante profundizar las inves-
tigaciones en este sentido.
Por otra parte, nos interesa en este texto hacer referencia a una serie muy par-
ticular de concepciones vinculadas a las vinchucas que plantean un campo de
estudio por demás necesario e interesante. Nos referimos al hecho de que algunas
de las personas más familiarizadas con estas chinches suelen relatar, por ejemplo,
que durante la infancia utilizaban estos insectos con fines lúdicos, refiriendo haber
jugado con ellas con frecuencia. Asimismo, otros autores encontraron que en al-
gunas comunidades se considera que las vinchucas tienen efectos positivos, como
por ejemplo sacar del cuerpo otras enfermedades al chupar la sangre (VALDEZ,
1993; CABALLERO-ZAMORA; DE MUYNCK, 1999) o ser útiles en el tratami-
ento de todo tipo de enfermedades del corazón al ser preparadas en infusiones
tipo té (COSTA NETO; REZENDE, 2004). Asimismo, según referencias presenta-
das por Briceño-León (1990), incluso ocurre en algunas áreas de Argentina que se
considera que las vinchucas traen suerte. En este mismo sentido, durante el desar-
rollo de un trabajo aún no publicado obtuvimos desde Bolivia el siguiente relato
por parte de un médico: en una comunidad no nos permitían hacer el control
vectorial con el rociado porque decían que las vinchucas le traían o eran sinónimo
de riqueza y se salían a dormir fuera de sus dormitorios, para que ellas estén tran-
quilas. Por otra parte, en algunos lugares de México existe la creencia de que estos
insectos producen efectos afrodisíacos al ser consumidos como alimento (AREL-
LANO GAJÓN, 2002). Finalmente, resta referirnos a un aporte obtenido desde
Colombia, el cual recoge el testimonio de un Mama (líder espiritual) de la etnia
Wiwa de la Sierra Nevada de Santa Marta:

39
Ese pito (nombre que reciben las vinchucas en Colombia) hay de mucha clase en
el monte, mucho tamaño, mucho color diferente, nosotros indígenas conocemos
muchos nombres de pito. En el tronco, en el hueco, en cueva de piedra. En prin-
cipio Kuigja (pito) comía mucha fruta pero hace años no hay cosecha y se comi-
eron entre ellos de hambre. […] Cuando hermanito menor destruye el Corazón,
tumba árbol, palma, palo, madera, se acaba la comida de todos, de los animales, de
la planta, de los bichos. Entonces viene la plaga a cobrarnos. Por eso ahora Kuigja
está cobrando con sangre de animal y de mismo indígena. […] Cuando Mama
hace pagamento a Kuigja él se queda ahí escondido en la selva contento. Cuando se
hace casa sin adivinación, sin reconocer, sin pagamento, pito cobra. A veces cobra
anunciando de varias clases. A veces viene a la casa, se queda criando en el techo o
en barro. Sólo está recordando la deuda, pero no es malo. El que viene de noche de
afuera sí está bravo, cobra mucha sangre, deja enfermedad y se va.
(Triana O, archivo interno grupo BCEI, Universidad de Antioquia).

Se nos revela como fundamental la necesidad de emprender una indagación


sistemática de las concepciones mencionadas –particularmente las delineadas en
el párrafo anterior– para poder tener mayor profundidad en el conocimiento de
los complejos aspectos que de ellas se desprenden.

Consideraciones Finales

A través de ejemplos como los compartidos a lo largo de estas páginas, podem-


os ver sintéticamente en qué medida existe un bagaje rico y diverso de concep-
ciones en torno a la problemática del Chagas, el cual es fundamental investigar
con las particularidades de cada contexto (SANMARTINO, 2006, 2012). Con-
sideramos además que las concepciones sobre el tema constituyen herramien-
tas indispensables para la democratización del conocimiento científico referido a
esta problemática tan compleja. Estamos convencidos/as de la necesidad de hacer
frente al Chagas a partir de las concepciones de los/as actores/as, rescatando los
saberes locales, para que las medidas de prevención y control a implementar ten-
gan destinatarios reales y sustento sólido (SANMARTINO, 2006). En este marco,
coincidimos con Costa Neto y Gurgel Gonçalves (2012) cuando plantean que las
acciones pensadas para la promoción de la salud de las personas deben orientarse
40
a sus hábitos, comportamientos y prácticas sociales. En este mismo sentido, acor-
damos con Uchôa et al. (2002) en la ineludible necesidad de reorientar las cam-
pañas educativas referidas a la enfermedad de Chagas, en función de las maneras
de pensar y de actuar que prevalecen las comunidades afectadas.
Finalmente, consideramos que estudios de este tipo cobran una importancia
más profunda aún de lo planteado dado que las concepciones que poseen los/as
diferentes actores/as con respecto a la problemática en particular (y a todas las
dimensiones que la atraviesan) brindan conocimientos fundamentales para com-
prender el tema Chagas en toda su complejidad. Por lo que deberían constituir en
sí mismas contenidos claves, tan esenciales como la biología del vector o las mani-
festaciones de la enfermedad, a la hora de abordar el tema de manera verdadera-
mente integral y contextualizada. Las ideas apenas bosquejadas aquí dejan abierta
una gran puerta, planteando un desafío que conlleva un enorme compromiso.

Referencias

ARELLANO GAJÓN, M. Enfermedad de Chagas. Revista Médica de la Universi-


dad Veracruzana, v. 2, n. 1, 2002. Disponible en:
http://www.uv.mx/rm/num_anteriores/revmedica_vol2_num1/articulos/en-
fermedad_del_chagas.html. Consultado el 31/12/12.

BRICEÑO-LEÓN, R. La casa enferma. Sociología de la enfermedad de Chagas.


Caracas: Fondo Editorial Acta Científica Venezolana, Consorcio de Ediciones
Capriles, 1990.

CABALLERO-ZAMORA, A.; DE MUYNCK, A. Actitudes y creencias de los


indios quechuas de la provincia Zudañez, departamento de Chuquisaca, Boliv-
ia, frente al vector de la enfermedad de Chagas. En: CASSAB, J.; NOIREAU, F.;
GUILLÉN, G. (eds). Chagas: La Enfermedad en Bolivia. Conocimientos científi-
cos al inicio del programa de control (1998-2002). La Paz: Editorial Gráfica “EG”,
1999. p. 171-197.

41
COSTA NETO, E.M.; GURGEL GONÇALVES, R. Ethnobiological studies about
triatomines (Hemiptera, Reduviidae), vectors of Chagas disease in Bahia State,
northeastern Brasil. ISE (International Society of Ethnobiology), Newsletter, v. 4,
n. 1, p. 5-7, 2012.

COSTA NETO, E.M.; RESENDE, J.J. A percepçâo de animais como “insetos” e


sua utilizaçâo como recursos medicinais na cidade de Feira de Santana, Estado da
Bahia, Brasil. Acta Scientiarum. Biological Sciences, v. 26, n. 2, p. 143-149, 2004.

GIORDAN, A. Las concepciones del educando como trampolín para el aprendi-


zaje. El modelo alostérico. Revista Novedades Educativas, v. 15, n. 154, p. 16-19,
2003.

MOREL, C. Chagas disease, from discovery to control- and beyond: History,


myths and lessons to take home. Mem Inst Oswaldo Cruz, v. 94, Suppl. 1, p. 3-16,
1999.

SANMARTINO, M. Metamorfosis de una concepción sobre el aprendizaje, la


ciencia y el valor social del conocimiento. Boletín Biológica, Año 6, n. 23, p. 12-
16, 2012.

SANMARTINO, M. El mito de la colorada. Bol Soc Entomol Argent, v. 21, n. 1,


p. 10, 2010.

SANMARTINO, M. 100 años de Chagas (1909-2009): revisión, balance y per-


spectiva. Rev Soc Entomol Argent, v. 68, n. 3-4, p. 243-252, 2009a.

SANMARTINO, M. ¿Qué es lo primero que piensa cuando escucha la palabra


“Chagas”? Revista Salud Pública. Escuela de Salud Pública, Facultad de Cs. Médi-
cas, UNC v. 1, n. 13, p. 74-78, 2009b.

42
SANMARTINO, M. Faire face à la maladie de Chagas en partant des conceptions
des populations concernées. 2006. Tesis (Doctorado en Ciencias de la Educación)
- Universidad de Ginebra, Suiza.

SANMARTINO, M.; MENEGAZ, A.; MORDEGLIA, C.; MENGASCINI, A.;


AMIEVA C.; CECCARELLI, S.; BRAVO ALMONACID, G. La problemática del
Chagas en 4D: representaciones de docentes de Nivel Inicial y Primario de La Pla-
ta. Actas de las III Jornadas de Enseñanza e Investigación Educativa en el campo
de las Ciencias Exactas y Naturales. Facultad de Humanidades y Ciencias de la
Educación, Universidad Nacional de La Plata, 2012.
UCHÔA, E.; FIRMO, J.O.A.; PEREIRA, M.S.N.; CONTIJO, E.D. Signos, signifi-
cados e açoes associados à doença de Chagas. Cad Saúde Pública, v. 18, n. 1, p.
71-79, 2002.

VALDEZ, E. Santé et médecine populaire en Bolivie. Paris: Éditions Karthala,


1993.

VERDÚ, J.; RUIZ, M.T. Control del Chagas en comunidades guaraníes: cono-
cimiento y hábitos higiénicos dentro del Proyecto de Mejoramiento de Viviendas
en Bolivia. Gaceta Sanitaria, v. 17, n. 2, p. 166-168, 2003.

43
LOS INSECTOS EN EL PATRIMONIO ZOOCULTURAL DE LOS PUEBLOS

Mauricio Vargas-Clavijo

Investigador independiente. Miembro de la Sociedad Colombiana de Etnobi-


ología.
Bogotá D.C., Colombia. E-mail: antroelitrus@yahoo.es

El concepto de patrimonio zoocultural nace como consecuencia del desarrollo


de programas en todo el mundo enfocados en la identificación y conservación del
patrimonio biocultural; un tipo de patrimonialidad que expresa la inseparable
conexión entre las culturas y la biodiversidad, entre las tradiciones de los pueblos
y sus relaciones con el mundo natural. El patrimonio biocultural y su diversidad
implican todas aquellas expresiones de las simbiosis cultura-vida manifestadas en
la materialidad, la intangibilidad, los valores, los conocimientos, las innovaciones
y las leyes que se recrean de la interacción entre los humanos y las expresiones del
mundo biológico en todos sus niveles (genes, especies y ecosistemas). Esta heren-
cia biocultural es producto de una retroalimentación que se hace en la actualidad
de las tradiciones ancestrales, consecuencia de esa cotidiana manera de incluir
las otras manifestaciones biológicas en la vida de las sociedades a lo largo de la
historia.
Desde hace ya casi cinco años, tiempo en el que se dio a conocer por prim-
era vez su abordaje en el XI Congreso Internacional de Etnobiología celebrado
en Cuzco, Perú (VARGAS-CLAVIJO, 2008), estudios sobre patrimonio zoocul-
tural se han adelantado en países latinoamericanos. En Costa Rica, Argentina,
México, Venezuela y Chile han empleado este enfoque en investigaciones sobre
conservación biológica y la etnozoología. Carbonell y Torrealba (2007), citando
el caso de Costa Rica-Panamá, destacaron la importancia de reconocer el patri-
monio zoocultural en especies de vertebrados terrestres con el fin de aportar a la
conservación de ecotonos interculturales y transfronterizos. Lameda y Del Moral
(2008) exaltaron los relatos literarios alusivos al Ucumar/Oso Andino (Tremarc-

44
tos ornatus) como parte del patrimonio zoocultural inmaterial de los pueblos
del noroeste argentino. Ruiz-Piña (2009), en su tesis de pregrado acerca de la
avifauna en la canción llanera, expresó la necesidad de identificar y documentar
expresiones culturales musicales asociadas al grupo de las aves dada su trascend-
encia en el patrimonio zoocultural intangible. Beauregard et al. (2010), tomaron
en cuenta las categorías de clasificación del patrimonio zoocultural para destacar
expresiones de la cultura Tabasco (México) en torno a las especies de tortugas de
agua dulce (Reptilia: Chelonia), e Ibarra et al. (2012) promovieron el concepto
de patrimonio zoocultural en las estrategias de conservación del cóndor andino
(Vultur gryphus).
Las manifestaciones zooculturales posibilitan percibir el mundo animal a par-
tir de su inserción dinámica en la vida de los pueblos, en la que se visualiza no la
comunidad por un lado, ni los animales por otro, sino que se asume la comple-
jidad de las expresiones de vida a modo de paisaje biocultural, inseparablemente
conectados el uno del otro. Esto es, con sus dimensiones espaciales y temporales
enriquecidas, y como un conjunto de elementos culturales y ambientales que se
autoconstruyen de manera integral en el transcurso del tiempo. Tradicional-
mente los paisajes culturales y el patrimonio biocultural se han estudiado desde
la etnoecología (sistemas de producción agropecuaria sostenible, ecología camp-
esina, cultivos tradicionales, agroecología, manejo tradicional del suelo, entre
otros), mostrándose una visión más amplia de la relación cultura-naturaleza. Sin
embargo, los campos generales que sustentan la teoría de la patrimonialidad zo-
ocultural se cimenta en los enfoques de la etnozoología, a parte de las corrientes
metodológicas de la antropología, la sicología ambiental y la emergente área de
patrimonialidad cultural. Como la etnozoología, la corriente de patrimonio zo-
ocultural deberá ser interdisciplinaria.
El patrimonio zoocultural lo conforman las expresiones culturales materiales
o tangibles e inmateriales o intangibles asociadas a los animales. Las manifes-
taciones zooculturales materiales están caracterizadas por ser perceptibles tridi-
mensionalmente, tienen un cuerpo físico el cual se pueden tocar, oler, observar,
degustar. Son aquellos bienes artísticos, visuales y gráficos, sitios de interés históri-

45
co y cultural, artefactos, alimentos, artesanías y medicinas, que son derivados o
inspirados en animales. Entre tanto, el patrimonio zoocultural inmaterial tiene la
propiedad de no ser palpable, es intangible, invisible y a veces abstracto. Es el efec-
to del pensamiento mismo de las culturas hecho lengua, tradición oral, forma de
organización social, arte de espectáculo, ritual, acto festivo, conocimiento y uso
relacionado con la naturaleza y el universo, y tradición artesanal. El uno depende
del otro por lo que una manifestación zoocultural siempre tendrá de ambos tipos
patrimoniales. Por ejemplo, una figura artesanal hecha a base de hojas de palma
que representa un insecto (expresión material), tiene una tradición artesanal car-
gada de conocimiento, emociones, intenciones y espiritualidad (expresión inma-
terial) que la hace única, irrepetible y diferente de las demás figuras de insectos
que se puedan crear con la misma materia prima. Una clasificación sobre el patri-
monio zoocultural se presentan en la Tabla 1.
Las categorías patrimoniales tangibles e intangibles relacionadas con los insec-
tos ya habían sido bosquejadas por Hogue (1987), quien refirió que “la influencia
de los insectos (y otros artrópodos terrestres, incluyendo arácnidos, miriápodos,
etc.) en la literatura, el idioma, la música, las artes, la historia, la religión, inter-
pretación y recreación […]” estaban bajo el estudio de la “entomología cultural”.
A pesar de que en ésta época no se pensó en estructurar las expresiones culturales
relacionadas con insectos en categorías patrimoniales, se abrió el camino para lo
que en la actualidad se conoce como etnoentomología; ciencia que bien podría
sustentar el estudio integral de la patrimonialidad entomológica cultural, ocupán-
dose de la relación cultura-entomofauna desde la perspectiva material e inmate-
rial.
Para nadie es un secreto que los animales, y ellos los insectos, se representan en
múltiples y ricas manifestaciones culturales. En la oralidad y la inmaterialidad se
expresan en sobrenombres a las personas. Se le dice piojo a una persona fastidiosa,
abeja, a quien se caracteriza por ser vivaz u hormiga al/la trabajador(a). Se com-
ponen canciones alusivas a los insectos; se inventan refranes a partir de vivencias
cotidianas (“Trabaja más un gorgojo en una lápida”; “el que asierre guarumo que
se aguante las hormigas), coplas (parece una cucaracha/mi suegra por el meneo/o

46
una gallina culeca/ pue’l pico y el cacareo; los mosquitos en la peña/aporriaron al
copetón/y al levantamiento llegará/la tortuga y el cucarrón); bailes (danza de los
zompopos, el baile de los insectos), mitos, fábulas, entre otros. En las expresiones
tangibles, son representados en la pintura rupestre, el arte, el cine, la publicidad,
en artesanías, como alimento, medicina, esculturas y sitios de interés histórico y
turístico, entre otros.
Algunas de las experiencias que colocan en evidencia la supervivencia del
patrimonio entomológico cultural en América son las prácticas de la meliponi-
cultura (o cría de abejas sin aguijón) y la colecta sostenible de insectos de con-
sumo o para la medicina humana. La meliponicultura data desde tiempos prehis-
pánicos (QUEZADA-EUÁN et al., 2001; ROSSO; NATES-PARRA, 2005) al igual
que la cosecha de insectos. La primera, aunque es una tradición ancestral de am-
plia distribución geográfica, los casos mejor conocidos y documentados son de
México, Guatemala, Costa Rica, otros países mesoamericanos y noreste de Brasil
(ROSSO; NATES-PARRA, 2005). Los Mayas y Nahuas de la península de Yucatán
aprovecharon La abeja xunan-kab o colele-kab (Melipona beechii) convirtién-
dose en la especie de mayor importancia económica antes y durante el virreinato
español en la Nuevas Indias (QUEZADA-EUÁN et al., 2001). Los insectos fueron
una fuente rica de proteína para los primeros nativos americanos, por lo que su
práctica en la alimentación y como entomoterapeuticos se sigue manteniendo por
pueblos indígenas y campesinos de varios países. Un testimonio que da fe de esta
tradición prehispánica la relata Rodríguez (1969) en la que cuenta que los indíge-
nas Guane de Norte de Santander, Colombia, según las crónicas de los conquis-
tadores y naturalistas, antes de la llegada de los españoles ya habían adquirido la
práctica de criar en semi-cautiverio la hormiga culona. Afirma que Gonzalo Jimé-
nez de Quesada, describía en sus escritos que las gentes que poblaban las riberas
de los ríos Suárez y Chicamocha “criaban hormigas en corrales hechos de atajos
de hojas anchas de palma, que eran base de su sustento diario”.

47
Tabla 1. Clasificación del patrimonio zoocultural. Tomado de Vargas-Clavijo
(2009).

Patrimonio Zoocultural (PZ)


Material Inmaterial

Espacios: (sitios de interés histórico, cultural, Tradiciones y expresiones orales: Clasifica-


científico y pedagógico): Monumentos naturales ciones folclóricas, zoonimias, refranes, dichos,
y artificiales, esculturas y su entorno, construc- máximas, voces, apodos, exageraciones, cop-
ciones civiles, referentes geográficos, parques las, adivinanzas, trabalenguas, zootoponimias,
temáticos, zoológicos, sitios de interés arqueo- canciones, poemas, fábulas, leyendas, mitos,
zoológico, colecciones animales, bancos zo- cuentos, oraciones, conjuros, recetas médicas y
ogenéticos y centros de investigación animal. gastronómicas etc.

Artes visuales y gráficas: pintura rupestre, arte Artes de espectáculo: Bailes de imitación
popular (dibujos, pinturas, murales, estampil- animal, música, poesía cantada, pantomima,
las, vallas publicitarias, cintas cinematográficas títeres, marionetas, obras teatrales, carreras de
populares). animales, presentaciones circenses de animales,
narradores de historias como culebrero, entre
otros.
Artefactos: Objetos zoomorfos representados Usos sociales, rituales y actos festivos: Zoot-
en la cerámica, la orfebrería, la cestería, la talla, erapia, festivales alusivos a especies animales,
el vidrio soplado, entre otras técnicas. Zooarte- jornadas de toros gastronomía, actos rituales
sanías (artesanías fabricadas a base de productos mágico-religiosos, simbología animal y el valor
o derivados animales). Disfraces animales. socio-afectivo (mascotas).
Alimento y medicinas: Animal completo, parte Conocimientos y usos relacionados con la
o derivado de este empleado en la gastronomía y naturaleza y el universo: Creencias zootera-
como zooterapéutico. péuticas, significado semiótico de los animales
(creencias supersticiosas, zooaugurios, premoni-
ciones, etc.), Conocimiento ecológico tradicion-
al. Actividades como la cacería, pesca y colecta
artesanales; elaboración de objetos zoomorfos y
zooartesanías, fabricación de zooterapéuticos y
preparación tradicional de alimentos a base de
alimentos +ambientes y artefactos que permiten
que se realicen estas tareas.

48
Tradiciones artesanales: Actividades como la
cacería, pesca y colecta artesanales; elaboración
de objetos zoomorfos y zooartesanías, fabri-
cación de zooterapéuticos y preparación tradi-
cional de alimentos a base de alimentos +ambi-
entes y artefactos que permiten que se realicen
estas tareas.

En la actualidad en todos los países del mundo se llevan acciones para la re-
cuperación y salvaguarda de los patrimonios cultural material e inmaterial y el
patrimonio natural. Incluso, se han declarado obras maestras del patrimonio
inmaterial por la UNESCO con el propósito de que cada nación establezca sus
propios criterios para la recreación y protección del patrimonio cultural. Existe
un número suficiente de documentos publicados por la misma UNESCO sobre
patrimonio cultural (Tabla 2), así como declaraciones y acuerdos internacion-
ales (Tabla 3) que respaldan conceptual, jurídica y metodológicamente su inves-
tigación y conservación. Estos mismos soportes pueden ser empleados, a parte
de las legislaciones nacionales que a bien pueda tener cada país en el tema de sal-
vaguarda cultural, en programas de reconocimiento, documentación y protección
del patrimonio zoocultural y biocultural.

Tabla 2. Algunos documentos publicados por la UNESCO sobre patrimonio


cultural.

Documentos UNESCO sobre patrimonio cultural Año de publicación


Programa Tesoros Humanos Vivos 1993
Directrices para la creación de sistemas nacionales de “Tesoros 1993
Humanos Vivos”
Nuestra diversidad creativa 1997
Proclamación de las obras maestras del patrimonio oral e inmate- 2006
rial de la humanidad
Enlace entre los conceptos de diversidad biológica y cultural, mé- 2008
todos y experiencias

49
Directrices operativas para la aplicación de la Convención para la 2008
salvaguardia del Patrimonio Cultural Inmaterial

Tabla 3. Acuerdos y declaraciones internacionales sobre patrimonio cultural.


Convenciones y Declaraciones UNESCO sobre Patrimonio Año de publicación
Cultural
Convención para la protección de los bienes culturales en caso de 1954
conflicto armado y reglamento para la aplicación de la Convención
1954
Convención contra la lucha del tráfico ilícito de bienes culturales 1970
Convención sobre la protección del patrimonio mundial cultural y 1972
natural
Declaración de Río de Janeiro 1992
Declaración de Belem 1998
Declaración universal de la UNESCO sobre la diversidad cultural 2001
Convención para la protección del patrimonio m,undial subacuáti- 2001
co
Convención para la salvaguardia del patrimonio cultural inmate- 2003
rial
Declaración de Yamato 2004 (Enfoques integrados para la protec- 2004
ción del patrimonio cultural material e inmaterial)
Convención sobre la protección y la promoción de la diversidad de 2005
las expresiones culturales 2005
Declaración de los derechos de los pueblos indígenas 2007
Declaración de Cusco 2008

Como cualquier otro aporte al conocimiento, es necesario que se continúe la


discusión sobre lo que puede y debe considerarse como patrimonio expresado en
un conocimiento o práctica que beneficie a la propia cultura como a los insectos,
así como lo que debe estar sujeto a la declaratoria de patrimonio zoocultural, pues
si bien existen expresiones tradicionales en las que se aprovechan los insectos o
sus derivados, algunas de ellas podrían colocar en riesgo la existencia de las espe-
cies. Prácticas insostenibles de cosecha de insectos, o expresiones que dañen física
50
o imaginariamente los insectos podrían colocar sus poblaciones en un “cuello de
botella”. New (2012) coloca como ejemplos sobre esta situación, la sobrerecolec-
ción de insectos silvestres (y otros invertebrados) empleados como alimento y
la colecta intensiva de orugas para la medicina tradicional que están asociadas a
plantas alimenticias en el sureste de Asia. Ambos casos representan un notorio
declive poblacional de las especies y sin embargo son prácticas que permanecen
vigentes. Si bien la normatividad sobre patrimonio biocultural todavía no ocupa
las líneas de las legislaciones nacionales, en algunos países como Colombia se
excluye de esta declaratoria, todas aquellas manifestaciones que fomenten la cru-
eldad contra los animales (Decreto 2941 de 2009 Art. 8, numeral 8).

Referencias

BEAUREGARD, G.; ZENTENO, C.E.; ARMIJO, R.; GUZMÁN, E. Las tortugas


de agua dulce: Patrimonio zoológico y cultural de Tabasco. Kuxulkab, v. 17, n.
31, p. 5-20, 2010.

CARBONELL, F.; TORREALBA, I. Conservación en ecotonos interculturales y


transfronterizos: una visión integral en la reserva de biosfera La Amistad, Costa
Rica-Panamá. Textual, v. 50, p. 217-242, 2007.

HOGUE, C.L. Cultural Entomology. Annual Review of Entomology, v. 32, p.


181-199, 1987.

IBARRA, T.; BARREAU, A.; MASSARDO, F.; ROZZI, R. El cóndor andino: una
especie biocultural clave del paisaje sudamericano. Boletín Chileno de Orni-
tología, v. 18, n. 1-2, p. 1-22, 2012.

LAMEDA, F.I.; DEL MORAL, F. Representaciones del oso andino (Tremarctos


ornatus) en el discurso literario del noroeste argentino y en un texto discursivo
cientifico. Etnobiología, v. 6, p. 68-80, 2008.

51
NEW, T. R. Introduction to insect conservation, an emerging discipline. In:
NEW, T.R. (ed.). Insect conservation: past, present and prospect. New York:
Springer Dordrecht Heidelberg, 2012. p. 1-20.

RODRÍGUEZ, P.H. Las hormigas “culonas” en la historia y el folklore. Rev. Col.


Folc., v. 4, n. 10, p. 47-59, 1969. Segunda Época.

ROSSO, J.M.; NATES-PARRA, G. Meliponicutura: una actividad generadora de


ingresos y servicios ambientales. LEISA, p. 14-16, 2005.

RUÍZ-PIÑA, A. La fauna en la canción llanera, 2009. Tesis de Pregrado. Inge-


niería en Recursos Naturales. Facultad de Ciencias del Agro y del Mar. Universi-
dad Nacional Experimental de Los Llanos Occidentales Ezequiel Zamora. Vicer-
rectorado de Producción Agrícola.

QUEZADA-EUÁN, J.J.; MAY-ITZA, W.; GONZÁLEZ-ACERETO, J. Meliponi-


culture in Mexico: problems and perspective for development. Bee World, v. 82,
n. 4, p. 160-167, 2001.

VARGAS-CLAVIJO, M. Patrimonio zoocultural: definición, abordaje e im-


portancia. Resúmenes XI Congreso Internacional de Etnobiología: Patrimonio
biocultural colectivo y sustento local. Cusco, Perú, 2008.

VARGAS-CLAVIJO, M. Patrimonio zoocultural: el mundo animal desde las ex-


presiones tradicionales de los pueblos. In: COSTA NETO, E.M.; SANTOS-FITA,
D.; VARGAS-CLAVIJO, M. (org.). Manual de etnozoología: una guía teórica
práctica para revelar la interconexión del humano con los animales. Valencia:
Ediciones Tundra, 2009. 285 p.

52
Mesa-redonda 2: Artrópodes no mundo das artes

LOS ARTRÓPODOS EN LA OBRA DE SALVADOR DALÍ

Víctor José Monserrat Montoya


Universidad Complutense de Madrid, España. E-mail: artmad@bio.ucm.es

El interés que los artrópodos han despertado en el hombre no se circunscribe


exclusivamente al campo de su alimentación, de su salud, de sus creencias o de su
ciencia, sino que otras muchas manifestaciones humanas están íntimamente rela-
cionadas con la observación y admiración de este apasionante grupo zoológico.
La multiplicidad de sus formas y colores, sus costumbres y su comportamiento, y
la familiaridad de muchos de ellos, difícilmente han escapado a la observación y
admiración del hombre, que desde sus inicios, los ha ido vinculando a sus necesi-
dades, sus creencias, sus temores y sus expresiones culturales.
A través de las numerosas manifestaciones que el hombre ha ido dejado con-
stancia a lo largo de su evolución social y cultural, y dentro de ellas en el campo del
Arte y en particular en la Pintura, son muy numerosas las representaciones, más o
menos fidedignas, de artrópodos, inicialmente asociadas en las primeras culturas
a manifestaciones de carácter simbólico o mágico. Desde las primeras represen-
taciones pictóricas conocidas de un artrópodo, como es el caso del Recolector de
miel representado en la Cueva de la araña de Bicorp, en el Levante Español, hasta
nuestros días, podremos observar que en todas civilizaciones y culturas, y dentro
de ellas en todas las corrientes y estilos por los que la Pintura ha ido evolucion-
ando, existen numerosos ejemplos en los que aparecen artrópodos o referencias
artropodianas, en ocasiones acompañando a sus creencias, sus miedos y sus rela-
tos mitológicos o religiosos, o bien han sido utilizados como temas simbólicos o
meramente ornamentales o decorativos, lo cual es reflejo del interés despertado
por este grupo de animales, que junto a las aves, son los animales no domésticos
53
que presentan una mayor profusión iconográfica en las manifestaciones artísticas
humanas.
Con carácter general, existen cientos de representaciones de artrópodos en las
manifestaciones artísticas o culturales de todas civilizaciones, sean las Mesopo-
támicas, las de Egipto Antiguo, las Orientales, o las Precolombinas, así como en el
Arte Nativo de multitud de pueblos de todo el orbe. En Occidente, son muy nu-
merosas las referencias artropodianas entre las leyendas, deidades y mitología del
Mundo Greco-Romano, que quedarán reflejadas en sus manifestaciones artísticas
o literarias, y que parcialmente heredará la Cristiandad, adaptando su herencia
clásica a la nueva intencionalidad de su credo, y durante el Medioevo Europeo los
artrópodos serán mayoritariamente relegados a lo demoníaco, asociados al mal,
al pecado o al diablo (herencia que ha generado en Occidente una artropodofobia
que aún permanece vigente en la actualidad). Es a partir del Renacimiento cu-
ando estos temas y elementos artropodianos se van alejando de aquella intencion-
alidad moralizadora, y es especialmente en el Barroco, cuando existe un mayor
número de ejemplos al respecto, utilizándose los artrópodos en la Pintura, bien
como elementos alegóricos, o meramente decorativos. También en el Neoclasi-
cismo y en el Romanticismo son frecuentes los ejemplos donde diversos insectos
son tratados por numerosos autores.
Dentro ya de la Pintura Contemporánea, menos cargada de academicismos, y
por ello con una mayor posibilidad de expresión personal por parte del autor, son
también muy frecuentes las referencias al grupo que tratamos.
En el caso de la Pintura Contemporánea Española, y haciendo la excepción de
Pablo Picasso y quizás de Joan Miró, uno de los pintores españoles más conocidos
y excepcionales es, sin duda, Salvador Dalí, cuya obra y personalidad tanto se ha
exaltado y tanto se ha criticado. Activo, provocador e imaginativo como pocos
artistas del siglo XX, utilizó su obra y estilo para sobrepasar toda lógica personal
y plástica. Fue un artista cosmopolita e investigador infatigable, esperpéntico y
genial, que ofrece en sus obras, casi de forma obsesiva, representaciones de ar-
trópodos por doquier.

54
En esta contribución se describen y se comentan los artrópodos (imaginarios
y más o menos reales) utilizados en la obra de Salvador Dalí. Se analizan sus an-
tecedentes, sus orígenes, su intencionalidad y su significación, en base a las nu-
merosas referencias entomológicas existentes en sus autobiografías / biografías,
y especialmente en base a sus experiencias personales durante su infancia, y se
analizan sus fobias entomológicas que, consecuentemente, aparecerán refleja-
das en su obra. En ella, arañas y cangrejos, pero especialmente insectos, y den-
tro de ellos, mariposas, abejas, mantis, insectos palo, saltamontes, neurópteros
o escarabajos, pero sobre todo moscas, y especialmente hormigas, aparecen con
frecuencia en muchas de sus obras, bien individualmente representados, o varios
de forma simultánea en una misma obra, formando parte consustancial de ella y
en la que aparecen con diferente grado de realismo, frecuencia e intencionalidad,
arrastrando no solamente sus aversiones, simpatías y experiencias personales so-
bre ellos, sino la herencia cultural recibida como representante de la Cultura Oc-
cidental a la que pertenece.

55
ROCK AND ROLL DRAGONFLY: AS LIBÉLULAS (ODONATA) NAS LETRAS
DE 100 CANÇÕES DO UNIVERSO POP & ROCK

Alcimar do Lago Carvalho

Departamento de Entomologia, Museu Nacional, Universidade Federal do


Rio de Janeiro.
E-mail: alagoc@acd.ufrj.br

Resumo

Com o objetivo de pesquisar o simbolismo das libélulas no Ocidente contem-


porâneo, foram reunidas 100 letras de canções populares do meio musical pop
e rock, compostas nos últimos 50 anos, em inglês, cujos títulos são ou contêm o
termo “dragonfly” (ou “dragonflies”). A partir de levantamentos sistematizados
dos conteúdos e de termos informativos recorrentes, atribuíram-se os papéis sim-
bólicos assumidos pelo inseto em cada uma das letras. O repertório metafórico
é bastante amplo, abrangendo aspectos positivos e negativos, dentre os quais a
liberdade e a morte.

Palavras-chave: Odonata, libélulas, “dragonfly”, música pop, rock, metaforismo.

Introdução

As libélulas são ícones recorrentes do mundo contemporâneo. Seus contornos


podem ser facilmente reconhecidos em jóias, roupas e objetos de decoração (LU-
CAS, 2002). O termo “dragonfly”, principal epíteto da língua inglesa referente a
esses insetos (MONTGOMERY, 1972), em especial aos da subordem Anisoptera,
aparece como nomes de empresas, associações, casas comerciais, sites da internet
e na música.
De maneira geral, pouco foi explorado a respeito do impacto dos insetos na
música popular, sendo a principal referência aquela de Coelho (2000), onde foi
56
promovido um levantamento bastante amplo da ocorrência de diversos nomes
populares de insetos no meio musical do rock para a nomeação de artistas ou gru-
pos musicais, álbuns e músicas. No que diz respeito às libélulas (ordem Odonata),
grupo de enfoque neste estudo, o artigo citado registrou o termo “dragonfly” em
apenas 23 títulos de um total de 912 canções com títulos referentes a insetos, cor-
respondendo a cerca de 3,5% do total. Além da descrição dos padrões de ocor-
rência dos nomes entomológicos, o artigo de Coelho (2000) chega a tratar, muito
superficialmente e de forma não sistematizada, da questão do papel metafórico
dos insetos nas letras, restringindo-se a comentar sobre alguns exemplos mais
flagrantes, nenhum deles referente a libélulas. Em um segundo artigo, Coelho
(2004) trata da representação de insetos nas capas dos álbuns de rock, onde as
libélulas aparecem em 8% do total de 392 registros.
Com a finalidade de se buscar indícios mais evidentes sobre o fascínio dos
compositores populares a respeito das libélulas e, consequentemente, sobre o sim-
bolismo desses insetos no Ocidente contemporâneo, 100 canções com letra em
inglês do meio musical pop e rock, gravadas durante as últimas cinco décadas,
cujos títulos são ou contêm o epíteto inglês “dragonfly” (ou “dragonflies”), foram
reunidas. Elas foram examinadas e os principais papéis metafóricos assumidos
por esses insetos e termos informativos recorrentes foram apontados.

Metodologia

Primariamente, em uma busca extensiva, foram registradas em torno de


150 títulos de canções, das quais foram selecionadas as 100 primeiras em que a
gravação original, letra e demais informações básicas julgadas necessárias para a
sua inclusão na base de dados foram conseguidas (fichamento). Tais informações
foram tomadas diretamente através do exame dos álbuns de vários artistas (CDs,
LPs etc.) ou indiretamente através de pesquisas em livros e diversas páginas da
internet. Cada letra, composta na grande maioria dos casos pelo próprio artista,
foi checada com a respectiva gravação original. Além das letras, o material con-
tido nas capas dos álbuns como imagens, notas introdutórias e dedicatórias, foi
considerado para a contextualização do conteúdo das letras examinadas.

57
O levantamento de informações nas letras foi realizado em duas pesquisas dis-
tintas: (1) um levantamento subjetivo, contextual, do conteúdo e do significado
das letras; e (2) um levantamento objetivo de termos informativos recorrentes.
Nesta primeira fase da pesquisa, descreveremos os principais padrões relativos
aos dados primários obtidos. Em um segundo momento todos dados serão anali-
sados e confrontados com o auxílio de métodos estatísticos multivariados.

Resultados e Discussão

Na Tabela 1 são listadas as 100 canções consideradas neste estudo. Em relação


ao universo primariamente registrado, julgamos essa amostra bastante represent-
ativa e configurada ao acaso. Como esperado, em função da sua língua e de sua
tradição cultural, os dois países que mais contribuíram com a amostra foram os
Estados Unidos da América (EUA) e Inglaterra, com 54 e 13 canções, respectiva-
mente. Nos anos de 1970 e 1980 pouco se citou sobre libélulas, com sete e quatro
registros, respectivamente. A canção mais antiga registrada é “Dragonfly”, do ál-
bum homônimo do conjunto folk inglês Strawbs (1970). A partir dos anos 1990
há um aumento súbito, com 14 registros, culminando na década de 2000, que
concentra 64 dos 100 registros. Dois dos 99 artistas listados igualmente se intitu-
lam “Dragonfly”. Há informações de que pelo menos 12 artistas diferentes tenham
se utilizado desse nome (<http://www.elyricsworld.com/dragonfly_lyrics.html>).
Há pouca informação biológica nas letras, sendo que apenas dez delas citam
outras características além do voo, algumas incorretas. A canção dançante “Do
the dragonfly” de Billy B é a que mais descreve corretamente diferentes aspectos
da vida das libélulas. Em raros casos, percebeu-se que o termo “dragonfly” encon-
trado nas letras pode não dizer respeito a esses insetos.
Dos 194 termos informativos recorrentes selecionados, basicamente substan-
tivos, adjetivos e verbos, 42 ocorrem em 10 ou mais letras. Além do termo “drag-
onfly” (92), 14 deles apareceram em mais de vinte canções, são eles: “eye” (42),
“wing” (34), “day” (33), “light” (29), “time” (28), “find” (27), “life” (27), “night”
(27), “sky” (26), “love” (25), “dream” (22), “never” (22), “sun” (22) e “fall” (21).

58
Mais da metade das letras apresenta algum nível de subjetividade e na grande
maioria as libélulas são claramente utilizadas como símbolos, existindo uma am-
pla diversidade de conteúdo metafórico. Talvez o simbolismo mais recorrente as-
sumido seja o de liberdade ou libertação, podendo assumir múltiplas conotações.
Quando positivo, as libélulas podem representar o dia, a primavera, o verão, o
amor, a mulher amada, as lembranças da juventude, a esperança. Quanto nega-
tivo, por sua vez, podem representar a noite, o outono, a tristeza, a despedida,
a tensão, algumas drogas e até a morte. Neste último caso estão cerca 25% das
letras, onde o efeito de finalização foi intensificado nos casos onde a música foi
escolhida como a última faixa do respectivo álbum, como em “Dragonfly Days”
de Catherine Howe e “Dragonfly” de Josh Clayton-Felt, ou como a faixa final do
primeiro lado de um disco de vinil, como em “Dragonfly Day” de Jade Warrior
e “Little lamb dragonfly” de Paul McCartney and Wings, trazendo uma sensação
no ouvinte de renovação ou renascimento com a virada do disco para o segundo
lado.
Considerações Finais

A próxima etapa deste estudo é promover análises estatísticas multivariadas


com os dois conjuntos de dados, separadamente, na busca de padrões de ocor-
rência de canções, e depois confrontar os resultados, na tentativa de testar se o
simbolismo atribuído de forma subjetiva para cada canção pode ser corroborado
pela presença nas respectivas letras por alguns dos termos julgados informativos
do levantamento objetivo. Tais resultados também poderão ser confrontados com
algumas das informações do fichamento, como país, ano e posição relativa da
faixa no respectivo álbum.

Referências

COELHO, J.R. Insects in rock & roll music. American Entomologist, Lanham, v.
46, n. 3, p. 186-200, 2000.

59
COELHO, J.R. Insects in rock and roll cover art. American Entomologist, Lan-
ham, v. 50, n. 3, p. 142-151, 2004.

LUCAS, J. Spinning Jenny and Devil’s Darning Needle. Huddersfield: Jill Lucas
Publ., 2002. viii + 88p.

MONTGOMERY, B.E. Why snakefeeder? Why dragonfly? Some random obser-


vations on etymological entomology. Proceedings of the Indiana Academy of
Science, Indianápolis, v. 82, p. 235-241, 1972.

Tabela 1. Registro das 100 canções do meio musical pop e rock tratadas neste estudo, cujos títulos são ou
contêm o termo “dragonfly” (ou “dragonflies”), listadas por ordem alfabética do nome do artista.

ARTISTA ÁLBUM CANÇÃO PAÍS ANO


A-Ha Lifelines Dragonfly Noruega 2002
A Toys Cuckoo Boohoo 1000 Flaming Dragonflies Itália 2004
Orchestra
Acretongue Nihil Dragonfly África do Sul 2007
Android Lust Devour, Rise, and Take Flight Dragonfly EUA 2006
Anthony Private parts & pieces: Dragonfly dreams Dragonfly Dreams part one (She’ll be waiting) Inglaterra 1996
Phillips
Arthur Lee Dragonfly Dragonfly EUA 2005
Land
Atomship The Crash of ‘47 Dragonfly EUA 2004
Azure Ray Hold on Love Dragonfly EUA 2003
Barbie’s Playing in the Fields Dragonflies Filipinas 2006
Cradle
Bardo Pond [Single] Dragonfly (Lying On The Floor) EUA 1994
Bert Jansch Poor Mouth Dragonfly Escócia 1976
Billy B Romp in the Swamp Do the dragonfly EUA 2012
Blondie Hunter Dragonfly EUA 1982
Carptree Nymf Dragonfly Suécia 2010
Catherine Dragonfly Days Dragonfly Days Inglaterra 1979
Howe
Christopher Race the Light Dragonfly EUA 2004
Dallman
Clutch The elephant riders The dragonfly EUA 1998
Coldfinger Supafacial Dragonfly Portugal 2007

60
Crüxshadows, Fortress in Flames [EP] Dragonfly EUA 2004
The
Cylab Cut & Coil Dragonfly Dream EUA 2010
Cynthia Comet’s tail Dragonfly Filipinas / EUA 2005
Alexander
Dead Meadow Dead Meadow Dragonfly EUA 2000
Devendra Cripple Crow Dragonflys EUA / Venezuela 2005
Banhart
Diesel Boy Venus Envy Dragonfly EUA 1998
DJ Sakin & Dragonfly Dragonfly (Airplay Mix) Turquia / 1999
Friends Alemanha
Domina Noctis Second Rose Electric Dragonfly Itália 2008
Dragonfly Dragonfly Dragonfly Suíça 1982
Dragonfly Falling Down Dragonfly Holanda 2005
Dust for Life Dust for Life Dragonfly EUA 2000
Eddi Reader Love is the Way Dragonflies Escócia 2009
Edguy Tinnitus Sanctus Dragonfly Alemanha 2008
Eidylion Amorka Dragonfly México 2004
Ellis Paul The Dragonfly Races The Dragonfly Races EUA 2008
Ellis Paul The Day After Everything Changed Dragonfly EUA 2010
Esthero Wikked Lil’ Grrrls Dragonfly’s Outro EUA / Canadá 2005
Everyones Dragonflies Dragonflies Canadá 2009
Talking
Fernando Fernando Ortega Dragonfly EUA 2004
Ortega
Fire by Night Time Out of Mind Dragonfly EUA 2006
Fleetwood [Single] Dragonfly Inglaterra 1971
Mac
Frank Marino Mahogany Rush IV Dragonfly Canadá 1976
& Mahogany
Rush
Glueleg Clodhopper Dragonfly Canadá 1997
Grouch, The My Baddest B*tches Dragonfly EUA 2005
Hayley Sales Sunseed Dragonfly eyes EUA 2007
Heartless All this time I swallowed a dragonfly EUA 2006
Bastards
Icicle Works Icicle Works As the dragonfly flies Inglaterra 1984
Jade Warrior Jade Warrior Dragonfly day Inglaterra 1971
Jeremy Lee Old Flames Dragonfly EUA 2010
Given
Josh Clayton- Spirit Touches Ground Dragonfly EUA 2002
Felt
Joshua Vanishing America Begging for grace (Dragonfly wings) EUA 2001
Kadison

61
Kerion The Last Sunset [Demo] Dragonfly França 2005
Kerli Kõiv [Single for free download] Dragonfly Estônia 2009
Kingdom Perpetual Watch the Dragonfly Alemanha / EUA 2004
Come
Lana Lane Garden of the Moon Dream of the Dragonfly EUA 1998
Lavender Incorruptible Heart Dragonfly EUA 2012
Diamond
Leaves We are shadows Dragonflies Islândia 2009
Lich Shattered Wings [EP] Dragonfly Equador 2008
Low Drums and guns Dragonfly EUA 2007
Luthea Salom Sunbeam surrounded by winter Dragonfly Espanha, EUA 2007
M. Craft Silver and Fire Dragonfly Austrália / 2006
Inglaterra

Maggie [Single] Dragonfly EUA 2009


Walters
Marc Dragonfly the messenger I’ll remember you (Dragonfly Theme) Suíça 2006
Racordon
& Rachel
Raubach
Matt Jenson Dragonfly Taxi Dragonfly Taxi EUA 2013
and the Liquid
Revolution
Matt Powell Dragonfly Dragonfly EUA 2002
Memoria The Timelessness Dragonflies’ tales República 2003
Tcheca
Michael Dragonfly Summer Dragonfly Summer EUA 1993
Franks
Miniatures, Coma Kid Dragonfly Canadá 2004
The
Miredys Alpha Dog (Original Soundtrack) Dragonfly Irlanda / EUA 2007
Peguero &
Paul Bushnell
Mr. Meeble Never Trust the Chinese Dragonfly EUA 2009
Mission, The Aura Dragonfly Inglaterra 2002
My Brightest Bring Me The Workhorse Dragonfly EUA 2006
Diamond
New York Year of the Rat Dragonfly EUA 1996
Loose, The
Parlor, The Our Day in the Sun The Time of the Dragonflies EUA 2012
Parlotones, Radiocontrolledrobot Dragonflies and Astronauts África do Sul 2005
The
Paul Red Rose Speedway Little lamb dragonfly Inglaterra 1973
McCartney &
Wings
Paul Weller Dragonfly [EP] Dragonfly Inglaterra 2012

62
Pentangle Open the Door Dragonfly Inglaterra 1985
Porcelain Raft Gone Blind Dragonfly Itália / EUA 2011
Povi Life in Volcanoes Dragonflies Austrália / EUA 1999
Red House Red House Painters (Rollercoaster) Dragonflies EUA 1993
Painters (Mark
Kozelek)
Reg Meuross Dragonfly Dragonfly Inglaterra 2008
Roger Joseph The Land Of Pure Imagination Dragonfly EUA 2006
Manning, Jr
Ron Sexsmith Cobblestone Runway Dragonfly on bay street Canadá 2002
Sanctum Lupus in Fabula Dragonfly Suécia 1996
Sasquatch Sasquatch (I) Dragonfly EUA 2004
Shack Waterpistol Dragonfly Inglaterra 1995
Shaman’s Shine Dragonfly EUA 2009
Harvest
Silenzio Silenzio [Demo] Dragonfly Itália 2007
Silvertide Show and Tell (extra B sides) Dragonfly EUA 2004
Smile.dk Future Girls Dragonfly Suécia 2000
Sponge Cola Palabas Dragonfly Filipinas 2004
Stephen Real Emotional Trash Dragonfly Pie EUA 2008
Malkmus &
Jicks
Strawbs Dragonfly Dragonfly Inglaterra 1970
Stringmansassy Dragonfly Dragonfly Austrália 2004
Thorns, The The Thorns Dragonfly EUA 2003
Trey Anastasio Bar 17 Dragonfly EUA 2006
Twelve Tribes Instruments [EP] Dragonflies EUA 2002
Universal Hall Mercury Dragonfly EUA 2008
Pass
Vices & Wreckage Dragonflies Only Live 24 Hours EUA 2013
Vessels
Yngwie Fire & Ice Dragonfly Suécia 1992
Malmsteen
Ziggy Marley Dragonfly Dragonfly Jamaica 2003

63
LOS INSECTOS EN LA LITERATURA, LAS ARTES PLÁSTICAS, EL DISEÑO, LA
PUBLICIDAD Y LA RECREACIÓN

José Iván Zuluaga Cardona

Profesor Emérito. Universidad Nacional de Colombia. E-mail: edilzulcar@hot-


mail.com

“El fomento a las Artes y la promoción de la Cultura y la Educación, abre el


camino para construir una comunidad sensible y comprometida y estimula el
propósito colectivo para superar la crisis y para construir un futuro mejor. Cu-
ando crece la cultura, florece la paz”.

“Hay cosas que debemos entender de otra manera, que debemos ver con otra
mirada, para poder comprenderlas y así valorarlas en su auténtica significación”.

“Medellín, cultura viva”.

Desde el punto de vista académico, científico y técnico, los temas que habit-
ualmente consultan, escuchan, debaten o producen los entomólogos, se refieren
a muy diversos aspectos (englobados como Entomología Básica y Entomología
Aplicada) relacionados, por ejemplo, con las áreas específicas de la morfología,
la biología, la ecología, la sistemática, la evolución, la etología y a la importancia
agrícola, médica, forestal, veterinaria, ornamental y urbana de los insectos y a
las distintas formas de su manejo y control. Esto se refleja en las publicaciones
(revistas, memorias, resúmenes…) y en las conferencias, seminarios, congresos,
simposios y foros que con frecuencia se programan. Esto es acertado, oportuno
y conveniente, pues se constituye en la esencia y atractivo de tales actividades,
para así mostrar y confrontar los avances permanentes de esta importante cien-
cia biológica: la Entomología.
Pero aquí me asaltan algunas inquietudes y por lo tanto formulo, en primer
lugar, esta pregunta: ¿Cuántas veces los temas relativos a la Etnoentomología y
con qué intensidad han ocupado ellos los espacios escritos, virtuales u orales,

64
y han servido para llamar seriamente la atención de los rigurosos miembros de
las sociedades entomológicas y no solo han servido de pretexto para entreten-
erse por un instante durante una charla o para recordar, a manera de anécdota,
un gracioso hecho insectil que tal vez le hará sonreír? O quizás ¿le ha permitido
esto, al distinguido entomólogo, pensar de otra manera sobre la relación cul-
tural que el ser humano, como especie Homo sapiens dominante, establece con
algunas de las miles o millones de especies de insectos (y otros artrópodos) es
decir, cuestionarse sobre las múltiples formas en que tales artrópodos se rela-
cionan o se incorporan a las diferentes manifestaciones de la cultura humana?
Lo anterior nos obliga a repensar las percepciones, usos, experiencias y acti-
tudes de nuestra bípeda especie respecto a ese diverso, numeroso y fascinante
mundo invertebrado, constituido predominantemente por artrópodos, hexápo-
dos u octópodos.
Aquí desembocamos en una apasionante discusión que confronta el método
y conocimiento científicos de la sociedad moderna y la epistemología y filosofía
de la ciencia con el saber tradicional, asociado muchas veces como producto
de culturas primitivas o saberes de pueblos poco avanzados o bien de cultura
inferior.
Cabe recordar aquí que la Etnoentomología –al igual que todas las ciencias–,
se nutre de tres vertientes bien reconocidas: la vertiente abstracta o teórica,
(centrada en el objeto de estudio), la vertiente aplicada (que enfatiza en la visión
utilitarista, la solución de problemas y el rendimiento económico) y la vertiente
relacional (que fusiona el objeto estudiado con el sujeto que lo estudia o inves-
tiga, con un enfoque cultural multidiverso).
La vertiente relacional se podría decir que favorece y acerca dicho ejercicio
de aprendizaje a la promiscuidad intelectual que le permite la Etnociencia, sin
marcar mayores límites disciplinarios a priori o fronteras del conocimiento, pues
no se queda en verdades universales reveladas por la ciencia especializada, sino
que favorece una mirada globalizadora que rompe con o homogéneo y abso-
lutista e integra las idiosincrasias locales y resalta las diversidades biológicas,
las experiencias, las distintas percepciones humanas y los diferentes enfoques
conceptuales.
65
Conviene recordar que la Cultura está constituida por todas las creaciones
de los seres humanos en un determinado momento histórico. Son manifesta-
ciones culturales, entonces: sus valores (ética, moral), su pensamiento reflexivo
(filosofía), su expresión oral (lenguaje) o escrita (escritura), sus ideas (ideología),
su comportamiento y actitudes (etología o conducta), su visión del mundo (cos-
mogonía), sus creencias religiosas (religión), sus mitos, rituales y leyendas (mi-
tología), sus fiestas, celebraciones y recreación (lúdica), sus invenciones, investi-
gaciones y usos (ciencia y tecnología) y sus creaciones artísticas.
Un rasgo sobresaliente del ser humano es lo que genéricamente llamamos
Arte o Creaciones Artísticas, las cuales son muy diversas e incluyen principal-
mente expresiones como: la Literatura, las Artes Plásticas, el Diseño, las Artes
Visuales y las Artes Dramáticas. Además, se deben mencionar la Danza, las Artes
Cinematográficas, el Folklore, la Gastronomía, la Moda, las Artesanías, la Publici-
dad y todas las formas de recreación o de actividades lúdicas. Sin duda, en todas
ellas los insectos han estado presentes como expresiones culturales, o motivos
de inspiración.
Para resaltarla importancia de la cultura en la sociedad conviene recordar
aquí lo expresado por algunos grupos y personajes notables de la cultura na-
cional, los que textualmente expresan:
“El poder del Arte y la Cultura es el de interpretar y pensar la sociedad para
transformarla. Los verdaderos rasgos de una sociedad o un pueblo, son los que
vemos y sentimos a través de su cultura. El Arte y la Cultura transforman lo co-
tidiano en sublime y nos dan un lugar para afirmarnos en el mundo. El Arte nos
dignifica, engrandece y libera”.
“Una sociedad que se empobrece en el terreno cultural, educativo y artístico,
es necesariamente una sociedad débil. La Educación y la Cultura son los únicos
caminos que pueden abrirnos nuevamente las puertas de la esperanza”.
A continuación se hará referencia particular a los insectos como fuente de
inspiración en cinco campos de la Cultura y el Arte: Literatura, Artes Plásticas,
Diseño, Publicidad y Recreación. Vale la pena aclarar que lo que se presenta es
solamente una muestra a manera de ejemplo, pues soy consciente de la abun-

66
dante y variada producción existente en estos campos, a nivel nacional y mun-
dial. Por lo tanto las referencias que se mencionan sólo servirán de guía temática
y orientarán al interesado en las consultas del caso. Un análisis exhaustivo sería
motivo de posteriores estudios de profundización, en asocio con especialistas
en tales áreas.

1. Los insectos en la Literatura

Al hacer referencia a los insectos como fuente de inspiración literaria, podem-


os aludir a sus dos formas fundamentales y en las que es evidente su presencia:
la Prosa y la Poesía.
Son frecuentes las alusiones a insectos y artrópodos afines en los diferentes
géneros literarios: La Novela, el Cuento, el Ensayo, la Crónica, la Fábula, el Re-
lato Periodístico, los Pasajes Bíblicos y los Refranes o Dichos Populares. A esto se
agrega la narración o tradición oral por pueblos como los indígenas o por negri-
tudes, acerca de los insectos de su entorno.
Igualmente en la Poesía o la Lírica, los insectos son protagonistas literarios y
aparecen en numerosos poemas, los que generalmente exaltan sus bondades o
sus rasgos y algunos de ellos han sido musicalizados.
En la famosa novela “Cien Años de Soledad”, Gabriel García Márquez hace
alusión a la Mariposas Amarillas y también a las Hormigas que consumen y ar-
rastran al cuerpo del último de la estirpe de los Buendía.
En la novela “La Metamorfosis” el escritor checo Franz Kafka, uno de los pre-
cursores del expresionismo y surrealismo literarios, nos impresiona desde su
primera página con su relato de Gregorio Samsa que al despertar una mañana,
tras un sueño intranquilo encontrase en su cama convertido en un monstruoso
insecto de dura caparazón, numerosas patas y convexo y oscuro vientre.
El escritor colombiano Germán Castro Caycedo en su obra “Perdido en el
Amazonas”, hace alusión a los insectos en la selva amazónica y destaca la pres-
encia de la Hormiga Conga, los Mosquitos, Zancudos y Comejenes.

67
La escritora bogotana Elena Araujo en su obra “La “M” de las Moscas, alude
a una ciudad invadida por moscas a través de narraciones urbanas llenas de can-
dor, ironía y humor.
El autor barranquillero Alberto Durán Coronado, publicó la obra “Las Mari-
posas están tristes”, hermosamente ilustrada, la que acompaña del siguiente
epígrafe de autoría de Campoamor:

“Mariposa: Tú y yo somos iguales


menguados son tus sueños y mis galas,
tú que puedes volar no tienes sueños
yo que puedo soñar no tengo alas”.

Durán Coronado escribió además la novela titulada “La Cucaracha”.


En la obra “El Tiempo de las Mariposas”, la escritora Margaret Fountaine de-
scribe, a manera de diario íntimo de una dama victoriana, su afición por dichos
insectos, la que la estimuló a visitar lugares de Oriente, África, India y América,
en compañía de un guía sirio, que se convirtió en su colaborador y amante hasta
su muerte que la sorprende en la Isla de Trinidad a los setenta y ocho años.
Edgar Allan Poe, padre de la novela policíaca en el siglo XIX, escribió su famo-
so cuento “El Escarabajo de Oro”, señalando a través de su personaje Legrand,
que se trataba de un extraño Scarabaeus“.
Por su parte Gustavo Roldán, escritor argentino de literatura infantil, nos en-
tretiene con su obra “Historias del Piojo”, en la cual nos habla de sentimientos
como el amor, la amistad, la libertad y la solidaridad.
El Premio Nobel Gabriel García Márquez, en su obra autobiográfica “Vivir para
contarla”, presenta continuas alusiones a diversos insectos, como piojos, cucara-
chas, hormigas, escarabajos y comejenes. Pero el relato que más simpático me
pareció, se encuentra en las páginas 126 y 128 de dicha obra, cuando menciona
cómo el famoso pintor Alejandro Obregón “agarró por las alas un grillo amaes-
trado y con la punta de los dedos y ante el asombro de todos se lo metió en la
boca y lo masticó vivo con un deleite sensual”.
El conocido escritor libanés khalil Gibran en “El Loco”, una de sus obras más
68
populares, incluye el relato titulado “Las Tres Hormigas”, en el cual tres hormigas
conversan amigablemente sobre la nariz de un hombre, quien al despertarse,
alza la mano, se rasca y en un triste epílogo aplasta a las tres las hormigas.
El escritor chileno Pablo Neruda también se inspira en los insectos y en sus
poemas incluye entre otros los titulados; • “Insecto”, “Vida y Muerte de una
Mariposa” y “Abeja” (el poema Nº8 de “20 Poemas de Amor”).
El poeta colombiano José Asunción Silva, alude a Insectos en sus poemas
“Crisálidas” y “Mariposas”.
El poeta español Antonio Machado nos ofrece los poemas “Mariposa de la
Sierra” dedicado es Juan Ramón Jiménez y “Las Moscas”, convertido en canción
en la voz de Joan Manuel Serrat.
Los insectos también se hacen presentes en la Lírica de tres poetas y en-
tomólogos brasileños. En sus obras: “Zoopoesía” (Haicais, Poemas & Animais) y
“Poesía Animal” , Sidnei Olivio, Reinaldo Feres y Paulo Robson de Souza, aluden
a “Formigas”, a “Besouros”, “Grilagem”, “Peri-Planeta o barata” y al “Luminseto
lamperidescente que vaga a noite quente vagalumiando”.
Muchos de nosotros recordamos aún el poema dialogado “El Niño y la Mari-
posa” … vagarosa rica en tinte y en donaire”, el cual declamábamos en los actos
escolares, de autoría del famoso poeta colombiano Rafael Pombo.
No podíamos olvidar hacer mención a la bella obra del profesor Francisco
Cristóbal Yepes , entomólogo de la Universidad de Colombia, Sede Medellín,
titulada “Versos para olvidar” y en la cual publica bajo el título “Versos Inverteb-
rados”, graciosos y creativos poemas a las Mariposas, los Cocuyos y Luciérnagas,
a los insectos necrófagos y parasitoides, a la libélula, al grillo, a la María Palito,
a la Chicharra, a la Pulga y hasta a los insectos domésticos (zancudo, mosca,
chinche y cucaracha).
En su obra “Faunética” el científico colombiano Víctor Manuel Patiño compila
una interesante antología Poética Zoológica, a nivel panamericano y europeo, en
donde aparecen poemas como “Balada de los Insectos” (Matilde Mármol), His-
toria de un Insecto (Miguel Fernández), “La Mosca” (Saverio Boyaro); “El Mos-
quito” (de varios autores: Pedro Tamen, Guillermo Díaz Plaja, Meleagro, Vinicios

69
de Moraes); “La Pulga” (J.W. von Goethe); “A una Nigua” (Patricia Gully); “Mari-
posas” (Manuel Gutiérrez Nájera) y “Fábula del Gusano” (Germán Pardo García).
La poeta Ana Mariela Zuluaga nacida en Villavicencio, nos deleita con la obra
poética “Las Cantas de Grillo”, bellamente ilustrada y adaptada para canciones
infantiles.
En el género de Cuentos son abundantes las contribuciones referidas a insec-
tos y a manera de ejemplo se mencionan los siguientes: “El Grillo Maestro” del
guatemalteco Augusto Monterroso. La “Cucarachita Martínez” de la colombiana
Rocío Vélez de Piedrahita.
“La Mariposa de mil colores” de (Adelmo González), “El Perro y la Mariposa”
(Henry Hurtado). El cuento “Un Curioso Sueño” del autor chino Mei YIngh, alu-
sivo a una libélula y a un escarabajo que se relacionan en un paseo con una niña.
En el género de Fábulas, son muy conocidas las de Pombo, Esopo, Iriarte y
Samaniego, al presentar a los insectos como fuente de inspiración, por ejemplo
las fábulas “El gusano de seda y la araña”, “La Abeja y los Zánganos”, “La Hor-
miga y la Pulga”, “La Oruga y la Zorra” (todas ellas de autoría de Iriarte).
Vale la pena hacer mención a los Cuentos Infantiles, varios de ellos adap-
tados para cine y televisión. Como ejemplos se pueden mencionar: “La Abeja
Maya” que hace más de 90 años escribió Waldemar Bonseis. Allí se narra la his-
toria de la vivaracha Abejita Maya, que en sus viajes ha compartido con moscas,
escarabajos, saltamontes y mariposas. Dicha obra se ha traducido a más de 28
idiomas. Más recientemente aparece la versión escrita y cinematográfica de la
obra: “Bichos”, una aventura en miniatura”, producida por Disney – Pixar. Allí los
insectos, especialmente las hormigas, son los protagonistas de múltiples aven-
turas.
En cuanto a Relatos Periodísticos Insectiles, se destacan a manera de ejemp-
lo, las contribuciones de Daniel Samper Pizano: “Los Bichos bogotanos ya tienen
libro”, publicada por la Revista Credencial en Abril de 2.001. También del mismo
periodista, han aparecido en la Revista Carrusel de “El Tiempo”, graciosos artícu-
los como: “Un Ajiaco en mi Polilla” (en Postre de Notas), “Gusanos con cebolla y
tomate” en Humor Carrusel.
Por su parte el escritor y periodista Julio César Londoño, escribe con ame-
70
nidad y erudición artículos titulados; “Por qué las Moscas no van a cine”, (en
el libro con el mismo título de Editorial Planeta) y “Pites Prodigiosos”, en una
reciente columna de El Espectador.
Y no podría faltar la incursión de los insectos en la llamada Paremiología, es
decir en las expresiones lingüísticas populares, generalmente de tradición oral
que condensan la cultura y las mediaciones simbólicas a través de Refranes,
Proverbios y Dichos. Al respecto vale la pena anotar que en el libro “Dichos y Re-
franes en el Valle del Cauca”, editado por la Biblioteca Departamental del Valle
y en el “Refranero Colombiano” de Luis Alberto Acuña, aparecen alusiones a
insectos y otros artrópodos. Como contribución personal en el año 2007 se re-
alizó una compilación de más de 40 dichos y refranes con referencia específica
a insectos y arácnidos.
El estilo picante, gracioso y repentista de la Trova, también mostró la incur-
sión de los insectos en este género predominantemente oral, a partir de un
evento sobre insectos alimenticios realizado en la sede de la Universidad Na-
cional – Palmira, en mayo de 1.995. En efecto, el funcionario Carlos Cortés, se
mostró muy creativo al aportar sus trovas a dicho evento, entre ellas la siguiente
estrofa:

“Me imagino en una fiesta prendido, a la madrugada


recibiendo de comida cucaracha en ensalada”

Se puede hacer énfasis en la tradición oral y escrita de la letra a través del


contenido, letra o mensaje de algunas canciones propias de nuestro folklore an-
dino. Para dar un solo ejemplo bien representativo en tal sentido, se menciona a
continuación un fragmento o estrofa de la canción titulada “La NIgüa”, ganadora
en el Festival del Mono Núñez. En Ginebra (Valle) en 1.983.

“La nigua es casi un microbio


chiquita chirriquitica,
pero qué cosa tan berraca
si pica la hijuputica”

71
Por último, la historia bíblica nos muestra pasajes alusivos a insectos. Por
ejemplo, como lo expresa en un reciente artículo sobre los insectos en la Cultura,
el entomólogo Alejandro Madrigal, en el éxodo 10, 24-15, Moisés se refiere a las
langostas de la siguiente manera:

“Cayeron sobre todo Egipto y


se abatieron allí formando enjambres…
cubrieron la superficie del país y devoraron todos los vegetales”

Y en el Apocalipsis San Juan dice que:

“Del pozo del abismo sale humo,


del cual a su vez salen langostas”

2. Los insectos en las artes plásticas

Durante las diferentes épocas de la humanidad y en los diversos estilos artís-


ticos, los insectos han aparecido representados con frecuencia en las obras de
los artistas, particularmente pintores, escultores, dibujantes, grabadores y diseña-
dores.
A través de esas sucesivas etapas históricas, se pueden encontrar en ellas ar-
trópodos en general e insectos en particular, como un motivo de inspiración fun-
damental o complementaria en cada obra. Es así como las abejas o la labor de
colecta de su miel, hacen parte de pinturas prehistóricas en el período paleolítico,
al igual que los saltamontes o los escarabajos. También en los imperios clásicos
como en Egipto (siglo XIV) el escarabajo sagrado era un protagonista y un sím-
bolo ineludible en las obras de dicha cultura e igualmente en Grecia aparecían las
figuras de abejas, avispas y mariposas.
Desde el renacimiento y hasta el siglo XIX es frecuente encontrar en cuadros
de famosos pintores, figuras de arañas, escorpiones y diversos insectos, tales como
mariposas, escarabajos, libélulas, hormigas y algunos estadíos de su metamorfo-
sis. Algo similar ocurre en las obras de arte contemporáneo y moderno, desde

72
principios del siglo XX hasta los años recientes del siglo XXI, primordialmente en
las obras de pintores de países europeos y americanos.
Son varias las publicaciones, especialmente libros, las que hacen referencia
o incluyen ilustraciones acerca de una gran diversidad de artrópodos (princi-
palmente insectos, arañas y escorpiones) como fuente de inspiración artística.
Aunque la lista puede ser extensa, al respecto se pueden citar, a manera de ejem-
plos, los siguientes textos: “La Historia del Arte”, de E.H. Gombrich (1997); “En-
tomología Cultural: Una visión Iberoamericana”, de J.L. Navarrete-Heredia, G.A.
Quiroz –Rocha y H.E, Fierros-López (2007) y el reconocido: “Manual de Etnoen-
tomología” de E.M. Costa-Neto (2002). Allí y en otras fuentes bibliográficas, el
lector interesado puede encontrar importante información sobre el tema.
Dado que la presentación oral de esta ponencia incluye en forma ilustrada y
secuencial los aspectos principales y complementarios sobre el tema, aquí nos
limitaremos a mencionar y comentar en forma resumida, algunos artistas y sus
obras que han incluido a los insectos en sus producciones (pinturas, esculturas,
dibujos, etc.). Aunque el criterio de selección es amplio pero no exhaustivo, se ha
hecho énfasis en reconocidos artistas colombianos, con el fin de resaltar sus obras
y permitir una mayor divulgación de las mismas:

. El maestro Hernando Rocha, quizás el pintor más especializado en Colom-


bia en la temática insectil, con su estilo hiperrealista, resalta en sus cuadros a
mariposas, escarabajos, abejorros, mantis y también a especies de avispas y coc-
cinellidos benéficos, conocidos agentes de control biológico de plagas. Además,
varias de sus obras han servido de motivo central para la elaboración de los afich-

.
es divulgativos de varios Congresos de la Sociedad Colombiana de Entomología,
La artista Lucy Tejada, con un estilo surrealista, muestra los insectos en pin-
turas y dibujos de su autoría. Es notable la presencia de una mariposa nocturna en

.
su cuadro “Vigilia” y también su serie pictórica titulada “Mosca del Sueño”.
El pintor Alberto Iriarte, más conocido como “Mefisto”, acompaña casi
siempre a las flores y frutos, motivo central de sus cuadros con la presencia de un
furtivo insecto, habitualmente un escarabajo, una larva o una mariposa.

73
. David Manzur, usualmente incorpora a las moscas en varios de sus cuad-
. El pintor Enrique Grau se inspiraba con frecuencia en el bello colorido de
ros, por ejemplo el titulado: “Retrato de una amiga con cara de monalisa” 1978.

los lepidópteros diurnos, los cuales realza en su obra “Coleccionista de Maripo-


sas”. Se recuerda igualmente, un precioso cuadro con gran diversidad de insectos
en posición de vuelo, el cual ilustró el afiche conmemorativo del X Congreso de

.
Socolén.
El artista Omar Rayo, con su particular técnica de intaglios, también incor-
poró a los insectos en su producción pictórica con las series “Crisálidas” y “Bes-

.
tiario”, haciendo alusión a dicha fase de las mariposas y a los dípteros (zancudos).
Mencionamos también a las pintoras Mariapaz Jaramillo, Cristina Posada
y María Teresa Negreiros, quienes también se han inspirado en la belleza de las
mariposas para la elaboración de sus obras de arte.
En cuanto a la producción de Escultores colombianos, es pertinente señalar entre

.
los más destacados y que se inspiraron en el mundo de los insectos, a:
Hernando Tejada. Obra: “Manglar del pelícano y del jaguar”, escultura en

.
madera que se complementa con 3 llamativas mariposas.
Clara Saldarriaga, escultora de Medellín (Antioquia), quien elaboró en
bronce una diversidad de insectos para una exposición en el marco de un Con-
greso de Socolen. Se destaca la obra “Libélula” – Aeshnidae”, utilizando la técnica

.
de vaciado a la cera perdida.
La obra de orfebrería: “Insecto humanizado”, expuesta en el Museo del Oro
del Banco de la República de Bogotá, nos muestra una pieza de la cultura Tolima
del año 1000 después de Cristo.

Entre los artistas extranjeros que también se han inspirado en los insectos para
crear algunas de sus obras, debemos mencionar, a manera de ejemplo, a los es-
pañoles Joan Miró (“Pájaro – Insecto y Constelación”), y Salvador Dalí (“El gran
Masturbador”) y a Steeven Kutcher, de los Estados Unidos, con su creativa obra:
“Insectos Pintores”.

74
3. Los insectos en la fotografía

En Colombia cabe destacar tres obras fotográficas bien representativas de la


importancia de los insectos en el arte de la imagen fija, cuyos autores son:

.
.
Luis Miguel Constantino (mariposas y otros insectos).

.
Patricia Chacón (Saltamontes de encaje).
León Darío Peláez (mariposas amarillas en ríos de la Amazonia).

4. Los insectos en el cine y la televisión

Constituyen buenos ejemplos de la presencia insectil en las artes cinematográ-


ficas, las siguientes películas:

.
.
“Microcosmos” (Claude Nurisday y Marie Perennou, producción francesa).

.
“A Bug’s Life”(Bichos)

.
“Antz” (Hormigas)
“La Abeja Maya”

Complementariamente conviene mencionar las series de documentales y de


dibujos animados sobre insectos, presentados a través de los canales de Televisión,
como “Animal Planet”, Discovery Channel y NatGeo, entre otros.

5. Los insectos en el diseño

Es bien conocido el uso de los insectos en las diferentes clases de diseño y los
ejemplos abundan y se aprecian a través de los diferentes medios masivos de Co-
municación (prensa, Radio y Televisión, Videos Publicitarios).
Los insectos son motivo de inspiración para los Diseñadores Industriales, Grá-
ficos, Publicitarios, Arquitectónicos y Diseñadores de Moda.

75
6. Los insectos en el entretenimiento

Numerosas actividades de entretención del ser humano, utilizan a los insectos


como un objetivo de mucho interés, ya sea por su carácter llamativo, su sim-
bología, su representación de valores humanos, o simplemente por su capacidad
de producir emociones relajantes a través de pequeñas historias gráficas o ilus-
tradas. No podemos olvidar la mportancia que los insectos poseen para algunos
coleccionistas (música, estampillas de correo, escudos, etc.
En síntesis, la entretención que los insectos brindan al hombre se puede ver rep-
resentada en actividades como:

.La filatelia
.La heráldica
.La Tiras Cómicas y la Caricatura
.La Música
.Los Juegos y la Lúdica
.La Gastronomía y Culinaria
.La Joyería
Referencias

CASTRO CAYCEDO, G. Perdido en el Amazonas.

COLCIENCIAS (Colombia). Proyecto Cuclí – Cuclí (Revista). Tema Artrópo-


dos 35 p.
COSTA-NETO, E.M. Manual de Etnoentomología. Manuales y Tesis SEA (Socie-
dad Entomológica Aragonesa. Zaragoza, España. Vol. 4, 2002. 104 p.

FONDO DE PUBLICACIONES BIBLIOTECA DEPARTAMENTAL – Universi-


dad del Valle. Cali. Dichos y Refranes del Valle del Cauca. 2007.

76
FOUNTAINE, M. El Tiempo de las Mariposas.

GARCÍA MÁRQUEZ, G. Cien Años de Soledad (Edición conmemorativa).

GARCÍA MÁRQUEZ, G. Vivir para contarla (autobiografía).

INSTITUTO DE INVESTIGACIÓN CIENTÍFICA MOENER. (Corporación


ecológica Nueva Era). Los Insectos en el Arte (CD, 138 imágenes).

IRIARTE, A. Mefisto (vida y obra pictórica).

KAFKA, M. La Metamorfosis.

LENKO, K.; PAPAVERO, N. Insetos no Folklore (Brasil). 1996.

LONDOÑO, J.C. Por qué las Moscas no van a Cine.

MACHADO, A. Las Moscas. (Poema).

MADRIGAL, A. Los Insectos en la Cultura. La Tekhné (Revista). Medellín, 2.008.

NERUDA, PABLO. El Insecto (Poema). La abeja (poema).

NURISDAY, C.; PERENNOU, M. Microcosmos (película). Ojos (2012).

OSPINA, W. Novelas: Ursúa (2005). El País de la Canela (2006). La Serpiente sin

SIDNEI, O. Zoopoesía. Poesía Animal.

SILVA, J.A. Crisálidas – Mariposas. (Poemas).

77
SOCOLEN (Sociedad Colombiana de Entomología). Revista y Memorias de Con-
gresos.

YEPES, R.F.C. Versos para Olvidar: Versos invertebrados (poemas). Medellín,


Colombia.

78
Mesa-redonda 3: Artrópodes na visão dos cronistas

OS INSETOS NA VIDA DE DOIS FRITZ CATARINENSES


Benedito Cortês Lopes

Universidade Federal de Santa Catarina. E-mail: bclopes@ccb.ufsc.br

O seguinte texto trata da importância que os insetos tiveram na vida e obra


de dois cientistas estrangeiros, mas brasileiros por opção e trabalho, cujos nomes
estão ligados à história de Santa Catarina.
O primeiro deles, Johann Friedrich Theodor Müller, mais conhecido como
Fritz Müller, nasceu em Erfurt, na Alemanha, em 31 de março de 1822 e faleceu
em Blumenau, no Brasil, em 21 de maio de 1897.
Em 1844 forma-se em Filosofia e, em 1849, conclui o curso de Medicina (sem
colar grau, pois não queria jurar a Deus, uma vez que era ateu). No ano de 1852
vem para o Brasil e se estabelece, como colono, na nascente cidade de Blumenau.
Em 1856 vem como professor ao Liceu Provincial em Desterro (atual Flori-
anópolis), onde fica por onze anos, lecionando Matemática e Ciências Naturais
(Zoologia, Botânica e Química). Nesse período estuda os animais marinhos da
Ilha de Santa Catarina, crustáceos principalmente, que vai usar como argumento
a favor da teoria evolucionista de Charles Darwin.
Cinco anos após a publicação de “A origem das espécies” de Darwin, Fritz
Müller escreve, em 1864, o “Für Darwin” (“Para Darwin”). O próprio Darwin
providencia a tradução e impressão do livro em inglês, em 1869.
Em 1865 atua como pesquisador itinerante do Museu Nacional do Rio de Ja-
neiro.
Do total de 248 artigos científicos, 237 eram sobre a flora e fauna do leste ca-
tarinense.
Em relação aos insetos, podemos destacar cinco grupos que mereceram estu-
dos prolongados.

79
CUPINS
Várias das descobertas de Fritz Müller a respeito dos cupins hoje são ideias
comuns para quem estuda o grupo e isso nem sequer é mencionado nos textos
como ideias originais. Veja o que ele descobriu ou comprovou a respeito desses
insetos sociais:
a) as castas de operários e soldados podem ser do sexo masculino ou feminino
(confirmando dados anteriores de C. Lespès);
b) em companhia da rainha sempre vive um rei (formando um casal real) (confir-
mando dados anteriores de H. Smeathman);
c) rainhas existem em todos os cupins, inclusive nos ninhos arborícolas;
d) a cópula não ocorre durante a revoada dos siriris;
e) além do rei e da rainha, podem existir reprodutores de substituição.
Os cupins exerceram tamanho fascínio para Fritz Müller que seu sobrinho-primo,
o micólogo Alfred Möller, ao editar os trabalhos do tio, desenhou a região onde
Fritz Müller trabalhou no formato de uma cabeça de soldado de cupim!

BORBOLETAS
Fritz Müller, em dois artigos, propõe o mimetismo que seria posteriormente
denominado “Mimetismo Mülleriano”, no qual espécies impalatáveis, seja pelo
cheiro ou gosto, têm padrões similares e são igualmente evitadas por predadores.
Foi o primeiro “ecólogo” a propor um modelo matemático de dinâmica popu-
lacional, com base na seleção natural agindo nessas populações de borboletas.

TRICÓPTEROS
Assim como para os cupins, Fritz Müller foi o primeiro pesquisador a trabal-
har com os Trichoptera brasileiros, seja de riachos ou até de bromélias, como é o
caso de Phylloicus bromeliarum.

DIPTEROS
Fritz Müller estudou todo o processo de metamorfose de moscas da família
Blephariceridae, Paltostoma torrentium, cujas larvas se grudam em pedras de ria-
chos, na região de Blumenau.
80
Há dois tipos de fêmeas nessa espécie: uma com peças bucais sugadoras (e que
se alimenta de sangue) e a outra com peças bucais para se alimentar de néctar das
flores (como fazem os machos).

FORMIGAS
Fritz Müller demonstrou que os pequenos corpúsculos liberados pelos pecío-
los das folhas das Cecropia (embaúbas) servem de alimento para as formigas Az-
teca que vivem nos internós dessas plantas.
Em uma carta enviada a Charles Darwin e datada de 25 de dezembro de 1875,
veja como Fritz Müller se refere a estas estruturas:

“[...] Na base de cada pecíolo há uma grande e plana almofada, constituída de pe-
los densamente aglomerados, e no seio desta almofada há um grande número de
pequenos corpos em forma de peras ou bastões (anexo seguem alguns espécimens)
que são sucessivamente desenvolvidos, os quais, quando maduros, emergem da
superfície da almofada, semelhando aspargos sobre a cama e eles são avaramente
reunidos pelas formigas e carregados embora para o ninho [...]”.

Posteriormente, esses corpúsculos foram denominados de “corpúsculos Mül-


lerianos”.
Além desses grupos, Fritz Müller estudou outros insetos e plantas por mais de
40 anos, na Mata Atlântica do sul do Brasil.
Manteve troca de cartas com Charles Darwin de 1865 até 1882 (morte de Dar-
win) e este o cita 17 vezes a partir da quarta edição de “A origem das espécies”.
Algumas cartas de Fritz Müller eram tão ricas de informações biológicas que Dar-
win as mandava diretamente para serem publicadas junto a revistas de renome
como “Nature” ou “Biological Journal of the Linnean Society”, por exemplos.
Darwin o chama de “O príncipe dos observadores”, tendo um respeito quase
de aprendiz em relação a Fritz Müller.
A qualidade dos trabalhos de Fritz Müller contrasta com os “equipamentos”
usados por ele em campo (trabalhava descalço, com uma vara e uma bolsa) e em
sua casa (uma mesa, uma cadeira e um microscópio simples).
O outro entomólogo a ser destacado em Santa Catarina, já no século XX, é
81
Fritz Plaumann, que nasceu em Preussisch-Eylau, atual Lituânia, em 2 de maio de
1902 e morreu em Seara, Santa Catarina, em 22 de setembro de 1994.
Desde sua chegada ao Brasil, em 1924, até sua morte, foram 70 anos de coletas
de insetos na região oeste catarinense.
Agricultor, comerciante, fotógrafo, professor, escritor e entomólogo, Fritz
Plaumann reuniu 80 mil exemplares de 17 mil espécies diferentes de insetos. Des-
sas, mais de 1.500 novas espécies de insetos foram registradas.
Para conseguir alfinetes entomológicos, livros e equipamentos para sua coleção,
Fritz Plaumann enviava insetos a vários pesquisadores do mundo. No Brasil, dois
de seus principais contatos foram Ângelo Moreira da Costa Lima (autor do mon-
umental “Insetos do Brasil”, de 1938 a 1962) e Thomas Borgmeier (mirmecólogo).
Grande parte desse material está espalhada por diversos museus do mundo.
Outra parte está no “Museu Entomológico Fritz Plaumann”, construído na cidade
de Seara, com a ajuda da Prefeitura e da Universidade Federal de Santa Catarina.
O nome de Fritz Plaumann está presente em diversas famílias, subfamílias,
gêneros e espécies de insetos e até de ácaros aquáticos!
Antes de morrer, Fritz Plaumann foi homenageado pela California Academy
of Sciences como “o maior colecionador de insetos da América Latina no século
20”.

Referências

FONTES, L.R. Fritz Müller, o primeiro termitólogo do Brasil. Blumenau em Cad-


ernos, v. 48, n. 5/6, p. 24-41, 2007.

LOPES, B.C. A coleção de insetos de Fritz Plaumann. Ciência Hoje, v. 7, n. 38, p.


74, 1987.

FRITZ MÜLLER, o príncipe dos naturalistas. Disponível em: http://fritzmuller.


paginas.ufsc.br/. Acesso em 10 abr. 2013.

82
MÜLLER, F. Para Darwin (Für Darwin, 1864). Florianópolis: Editora da UFSC,
2009. 280 p.

MUSEU ENTOMOLÓGICO FRITZ PLAUMANN. Disponível em: http://www.


museufritzplaumann.ufsc.br/. Acesso em 10 abr. 2013.

PAPAVERO, N. Fritz Müller e a comprovação da teoria de Darwin. In:


DOMINGUES, H.M.B.; SÁ, M.R.; GLICK, T. (Orgs.). A recepção do darwinismo
no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2003. p. 29-44.

SAWAYA, P. (e outros). Simpósio Comemorativo – Fritz Müller e sua obra. Ciên-


cia e Cultura, v. 18, n. 4, p. 359-406, 1966.

ZILLIG, C. Dear Mr. Darwin – a intimidade da correspondência entre Fritz Mül-


ler e Charles Darwin. São Paulo: 43 AS, 1997. 241 p.

83
CONJUROS E EXORCISMOS CONTRA AS PRAGAS DE
GAFANHOTOS NO SÉCULO XVII

Argus Vasconcelos de Almeida

Universidade Federal Rural de Pernambuco. E-mail: argus@db.ufrpe.br

Resumo

A partir da Idade Média e durante toda a Idade Moderna, a Península Ibérica foi
uma região frequentemente assolada pelas pragas de gafanhotos. Estas se con-
stituem num fenômeno antropogênico, produto de mudanças desde o Neolítico
com o aparecimento da agricultura no ambiente. No contexto histórico do século
XVII, medidas práticas eram tomadas para o controle das pragas, tais como: arar
a terra para desenterrar as suas posturas, o uso de aves e morcegos insetívoros;
cozinhar os gafanhotos em azeite, vinagre e sal e roçar o campo com este pre-
parado; produzir fumaça com a queima de madeira para provocar a axfixia; intro-
duzir animais para que o pisoteio esmagasse as formas jovens; ou recolhê-las em
redes e escavar grandes buracos para enterrá-las. Paralelamente, medidas mági-
co-religiosas eram tomadas, como convocar “saludadores” para rezar os campos
ou para se constituir um julgamento no qual diante de um juiz compareciam os
procuradores do povo e da praga de gafanhotos. A jurisdição eclesiástica formava
processo para excomungar os gafanhotos. Os camponeses acreditavam que roçar
os campos com água da Cruz de Caravaca ou apresentar no local as relíquias de
São Gregório Ostiense tinha o poder de eliminar a praga dos campos. Os homens
impotentes contra as periódicas invasões de gafanhotos, não tendo outros meios
para combatê-los, usavam como único recurso invocar a proteção dos deuses. A
prática do exorcismo foi ao longo do século XVII uma fórmula repetidamente
requerida pela Igreja Católica para combater as pragas de insetos nos campos de
cultivo. Historicamente no Brasil, as práticas populares contra as pragas da ag-
ricultura, em geral, se constituiram num ofício de rezadores ou rezadeiras, sem

84
que houvesse a interferência da Igreja, como aconteceu nos países mediterrâneos.
Na religiosidade popular, destacam-se as orações aos santos protetores tais como
a Oração de Nossa Senhora do Desterro, que é utilizada para se livrar das pragas
das lavouras no Nordeste. Tais práticas se constituem em manifestação cultural.

Palavras-chave: praga de gafanhotos; exorcismos e conjuros; cultura.

E subiram os gafanhotos por toda a terra do Egito e pousaram por todo o seu
território; eram mui numerosos; antes destes nunca houve tais gafanhotos e nem
depois deles virão outros assim. Porque cobriram a superfície de toda a terra, de
modo que a terra se escureceu; devoraram toda a erva da terra e todo fruto das
árvores, que deixara a chuva de pedras; e não restou nada verde nas árvores, nem
na erva do campo, em toda terra do Egito (Êxodo 10, versículos 14 e 15).

Introdução

Tradicionalmente, os gafanhotos se constituíram numa praga que afetou de


forma periódica a economia agrária de todos os países da costa mediterrânea.
Sendo a agricultura a base econômica de subsistência da sociedade, qualquer ac-
ontecimento que atue sobre as colheitas, como as alterações climáticas ou pragas,
afeta de forma especial o homem, que etnologicamente plasmou o gafanhoto em
seus ritos e crenças. Gafanhoto no contexto histórico era considerado um ser ma-
ligno (CORDERO, 1997).
As pragas de gafanhotos constituem um fenômeno antropogênico, produto de
mudanças desde o Neolítico com o aparecimento da agricultura no ambiente. As
primeiras referências históricas das pragas de gafanhotos são iconográficas. Nas
tumbas egípcias de Saqqarah de 2500 anos a.C. aparece sua figura relacionada
com diversas plantas, como a videira, a figueira e o trigo; também na antiga As-
síria. Numerosas referências aparecem na Bíblia, em sua maioria como gastigo
divino (CORDERO, 1997).
A partir da Idade Média e durante toda a Idade Moderna, a Península Ibérica
foi uma região frequentemente assolada pelas pragas de gafanhotos. Historica-
mente, existem diversos testemunhos dos séculos XVI, XVII e XVIII sobre estes
85
ataques em diversas regiões da Espanha (MOLINA, 2002; VEGA, 2005; LAR-
ROCA, 2011).
Os gafanhotos são insetos que pertencem à ordem dos ortópteros, e nesta se
encontra a família Acrididae, que inclui em torno de 5.000 espécies conhecidas,
onde só algumas poucas são prejudiciais. Uma de suas características mais no-
táveis é a existência de espécies migratórias que podem deslocar-se a grandes dis-
tâncias, causadoras das temidas pragas. Em geral, são insetos de grande tamanho
que têm a capacidade de mudar de comportamento quando aparecem em grande
número, formando densos grupos que adotam uma conduta gregária, processo
que o acridologista russo Boris Uvarov chamou de teoria das fases. Os gafanho-
tos podem apresentar uma notável transformação reversível. Assim, quando a
densidade de seu número alcança certo nível, os indivíduos mudam de forma,
cor, fisiologia, comportamento, desenvolvimento e hábitos ecológicos, até o ponto
que, durante muito tempo, acreditava-se que cada uma das formas pertencia a
distintas espécies (BUJ, 2008).
O fenômeno do surgimento de uma praga, em primeiro lugar, produz-se uma
pululação ou reprodução massiva da forma sedentária do inseto sob a ação de
fatores ecológicos favoráveis, tais como chuvas suficientes em volume e ocasião.
Pressupõe-se a existência de áreas favoráveis à vida da espécie, para depois pro-
duzir-se uma acumulação e transformação consecutiva de gafanhotos solitários
em gregários sob a ação de fatores desfavoráveis, principalmente a escassez de
chuvas, que tem como resultado a redução das superfícies adequadas à vida da
espécie. Deste modo, um gafanhoto discreto e inofensivo, incapaz de migrar, se
transforma em uma ou duas gerações em terrível devastador. Então, os insetos se
apresentam agrupados, denominados de bandos quando são formas jovens sem
asas, que se deslocam no solo em massas compactas, ou enxames, formados por
adultos alados que formam verdadeiras nuvens (BUJ, 2008).
Os gafanhotos causam danos se alimentando de folhas, flores, frutos, se-
mentes, cascas e brotos das plantas. Entretanto, estes insetos discriminam o ali-
mento, selecionando-os, ainda que algumas espécies sejam polífagas, tais como
os acridídeos Schistocerca gregaria Forsskål, 1775 que devora mais de 400 espé-

86
cies vegetais, e Locusta migratoria Linnaeus, 1758 que se alimenta de um grande
número de espécies. Sabe-se que alguns gafanhotos chegam a comer substâncias
têxteis como linho, lã, seda artificial e até madeira ou papel molhado. Também
é conhecido que algumas espécies de Schistocerca e Nomadacris septemfasciata
Audinet-Serville, 1883 podem ser carnívoras e devorar individuos de sua própria
espécie (BUJ, 2008).
A espécie de gafanhoto mais frequente como praga nos países mediterrâneos
é o gafanhoto marroquino (Fig.1) Daciostaurus maroccanus (Thunberg, 1815).
Juan de Quiñones de Benavente (1600-1650), na sua obra sobre gafanhotos
(Fig. 2), faz a seguinte descrição dos mesmos e da postura de ovos pelas fêmeas:

O gafanhoto é um animal inseto, têm duas asas e seis pés, os dois posteriores são
maiores que os quatro anteriores, e um só intestino, de maneira que todo ele é
um ventre; a boca em quadrângulo com seus dentes; as fêmeas têm na cauda uma
ponta ou talo que os machos não possuem; e fincando-o na terra parem, e todas
no mesmo lugar deixam e põem o que há de nascer, da forma de uma colméia de
abelhas; donde nascem uns vermezinhos a maneira de ovos, que são cobertos de
uma terra muito tênue e delgada, que feita como uma tela os cerca e guarda dentro
de si, que é o que chamam cartucho, tão frágil que tocado se desfaz: em cada um
destes cartuchos que cada fêmea deixa, podem achar-se trinta, quarenta ou mais
daqueles vermezinhos ou ovos, que cada um vem a ser um gafanhoto: eu os tenho
visto e contado de propósito (QUIÑONES, 1620, p.3-4).

Figura 1: Daciostaurus maroccanus (Thunberg, 1815). Fonte: ispi-lit.cirad.fr

87
Figura 2: Gafanhotos (macho e fêmea e sua postura) na obra de Quiñones (1620), com a legenda
latina: “eles tomam o terreno elevado’.

Medidas práticas e mágico-religiosas

No contexto histórico dos séculos XVI, XVII e XVIII, entre as medidas práticas
tomadas para o controle das pragas de gafanhotos, destacavam-se: arar a terra
para desenterrar as suas posturas em forma de cartucho com ovos recolhendo-as
manualmente, amontoando-as e queimando-as (QUIÑONES, 1620). Na Idade
Média, todos os maiores de doze anos tinham a obrigação de catar os cartuchos de
gafanhotos e eram pagos para fazê-lo; para a tarefa era recomendada a convocação
dos ciganos e mouros, caso estes não obedecessem deveriam ser desterrados da
cidade (Vega, 2005). Outra medida era o uso de aves insetívoras para predar os
gafanhotos (ASSO Y DEL RIO, 1785) tais como as “seleuciades” referidas por
Plínio e hoje identificadas como o “estorninho rosado” (Pastor roseus Linnaeus,
1758); também se usava a introdução de galinhas e pavões nos campos de cultivo.
Adotava-se igualmente a introdução de morcegos insetívoros nas árvores mais
altas para consumir os gafanhotos. Para provocar sua morte coziam-se alguns
gafanhotos em azeite, vinagre e sal e roçavam o campo com este preparado em

88
sulcos escavados no solo, transcorridos alguns dias podiam ser encontrados
gafanhotos mortos no seu interior. Acreditava-se, assim que o odor produzido
pela queima deixava os gafanhotos sem sentido e que depois o calor do sol se
encarregava de consumi-los; produziam fumaça com a queima de madeira para
provocar a axfixia dos gafanhotos; também se adotava a introdução do gado,
mulas, ovelhas, cabras e cavalos para que com seu pisoteio esmagassam as formas
jovens que ainda não voavam; ou recolhê-las em redes e escavar grandes buracos
para enterrarrá-las (VEGA, 2005; FELIPO, 2008).
Desde a Idade Média, utilizavam-se medidas práticas para controlar gafanhotos
de acordo com Frei Juan Gil de Zamora (autor medieval franciscano, na sua obra
Liber contra venena et animalia venenosa, escrita entre 1289 a 1295), as medidas
eram:

O remédio é podar as árvores no momento e rodeá-las de lagartas venenosas.


Igualmente como diz Alclides, em seu “Livro sobre os venenos”: se um horto é
roçado com restos de lagartas, então as lagartas que comem seus frutos morrem.
Também Paladio*: alguns opinam que o remédio contra lagartas e gafanhotos é
espalhar sementes umedecidas com suco de sempre-vivas [Sempervivum tectorum
L. Crassulaceae] ou com sangue de lagarta. Outros roçam sobre as lagartas e
gafanhotos cinzas de figueira. Outros cultivam nos hortos a cebola albarrana
[Urginea maritima (L.) Stearn, Hyacinthaceae]. Outros fazem que uma mulher
menstruada com os pés descalços, rodeie o horto a fim de eliminar as lagartas,
gafanhotos e outros animais nocivos. Segundo este mesmo autor alguns colocam
no horto, em muitos lugares, caranguejos do rio. Outros fumigam as árvores com
azougue e outros perfuram seus troncos e metem azougue e colocam areia na
rachadura; outros na festa de São João cortam uma árvore e colocam no meio um
maço (ZAMORA apud HERNÁNDEZ, 2002).

Escreve Paladio no seu Tratado de agricultura (I, 35, 3): Contra as lagartas
molhem-se as sementes que vão ser semeadas num suco de sempre-vivas ou no
sangue de lagartas. Alguns jogam cinza de figueira sobre as lagartas ou plantam
cebola albarrã no cultivo. Há que fazer uma mulher menstruada, sem cinta, de
cabelos soltos e pés descalços, dar a volta ao horto, contra lagartas e similares.

89
Outros crucificam caranguejos do rio em diversos pontos da horta (PALADIO
apud HERNÁNDEZ, 2002).
Outras medidas mágico-religiosas eram tomadas como convocar os
“saludadores”, uma espécie de curandeiro ou sacerdote, para rezar os campos
ou para se constituir um julgamento no qual diante de um juiz compareciam os
procuradores do povo e da praga de gafanhotos. O procurador do povo demandava
contra os gafanhotos, que depois de expor as acusações era respondido pelo
procurador dos gafanhotos. O processo era levado a cabo e por fim o juiz dava sua
sentença invariavelmente contra os gafanhotos e se combinava para terminar a
infestação no prazo de tantos dias na localidade, caso não fosse o prazo obedecido,
os gafanhotos eram excomungados (ZAMORA, 2004). Isto foi o que exatamente
ocorreu na Abadia de Párraces (na atual Segovia) no pleito de excomunhão dos
gafanhotos que assolavam a região em 1650. Estes, porém, não se deram por
achados, e voltaram a assolar a região em 1651 e em 1709. Em ambos os casos
a jurisdição eclesiástica voltou a formar processo e a excomungar os gafanhotos
(CUEVAS, 1997).
Um dos remédios deste tipo muito antigos e mais utilizados e no qual os
camponeses tinham muita fé era roçar os campos com água da Cruz de Caravaca,
a qual se atribuía o poder de eliminar os gafanhotos ou apresentar no local as
relíquias de São Gregório Ostiense (ZAMORA, 2004).
Dois eram os santos a quem os camponeses recorriam pelas pragas de
gafanhotos na Espanha: Santo Agostinho e São Gregório Ostiense, que foi monge
beneditino e abade do mosteiro dos santos Cosme e Damião (MOLINA, 2002).
Existia uma concepção generalizada de que os prejuízos causados pelos
gafanhotos não se limitavam à devastação dos campos, mas continuavam após a
sua morte quando a sua putrefação originava as sementes da peste. As pragas de
gafanhostos eram consideradas como presságios de acontecimentos mais terríveis,
como as guerras, por exemplo. Tudo concorria para a crença de que as pragas de
gafanhotos eram um castigo divino.
Na época, o gafanhoto era considerado como um “animalejo infecto e por
mal nosso conhecido, segundo o dano que faz nos frutos da terra e apesar de ter

90
asinhas muito débeis pode levantar no ar uma multidão de gafanhotos que cobrem
o sol e onde pousam deixam tudo roído e abrasado; enfim praga e açoite de Deus
pelos pecados humanos” (COVARRUBIAS, 1611 apud MOLINA, 2002) ou como
nesta incrível imagem de uma descrição bíblica das pragas de gafanhotos:

O aspecto dos gafanhotos era semelhante a cavalos preparados para peleja; nas
suas cabeças havia como que coroas parecendo de ouro; e os seus rostos eram
como rostos de homem; tinham também cabelos como cabelos de mulheres; os
seus dentes como dente de leões; tinham couraças como couraças de ferro; o
barulho que as suas asas faziam era como o barulho de carros de muitos cavalos,
quando correm à peleja. Tinham ainda caudas como escorpiões, e ferrões; nas suas
caudas tinham poder de causar dano aos homens por cinco meses; e tinham sobre
eles, como seu rei, o anjo do abismo, cujo nome em hebraico é Abadon, e em grego,
Apoliom (Apocalipse de João 9, versíclulos 7, 8, 9, 10).

O “Bestiário de D. Juan de Austria”, o único escrito em espanhol, data de 1570,


é atribuído a Martin Villaverde, cujo original se encontra no Mosteiro de Santa
Maria de La Vid (Burgos), nele se descreve o gafanhoto como uma figura terrível:
“Este animal tem cara de vaca, chifres de cervo, pescoço de touro, peito de cavalo,
asas de águia, cauda de víbora, pernas de cegonha, olhos de Marcel que é uma fera
grande e feroz [...]”.
Os homens impotentes contra as periódicas invasões de gafanhotos, que
provocam a destruição de suas colheitas causando muita fome e padecimentos e
não tendo outros meios para combatê-los, era natural que as sociedades humanas
tivessem como único recurso invocar a proteção dos deuses, propiciando-os
muitas vezes com a construção de templos e oratórios e dirigindo-lhes preces e
orações (PAPAVERO; PUJOL-LUZ, 2010).
O exorcismo foi ao longo do século XVII, uma fórmula repetidamente
requerida pela Igreja Católica, teólogos e moralistas nos trabalhos que apareceram
como consequência da chegada das pragas de insetos nos campos de cultivo
(LARROCA, 2011).
No caso dos exorcimos e também dos benzimentos, se intentou suprimir
todas aquelas fórmas ligadas exclusivamente à cultura camponesa, que foram

91
substituídas por outras mais ligadas à ortodoxia católica (LARROCA, 2011).
O fenômeno pode ser considerado como um consolo que a mente humana
inventa diante da sua impotência e necessidade mais absoluta, sublimando em um
ou vários seres superiores os poderes e virtudes que o próprio homem desejaria
ter para fazer frente aos múltiplos problemas que surgem.
Neste contexto, quando alguns seres simbólicos inventados pela ideologia
religiosa, concientes do seu poder, eram arrastados pelo seu orgulho pretendiam
negar a obediência e acatamento ao Criador com o qual tentavam competir, eram
convertidos fulminantemente nos piores seres da criação, eram os anjos caídos,
os demônios malvados e depravados, condutores e guias de todos os males que
afetariam a terra e os homens, tais como Apoliom (Fig. 3) no texto examinado.

Figura 3: gravura de Apoliom.

O esquema do fenômeno era simples, os pecados humanos provocam a ira de


Deus, que castiga os homens ao permitir que sejam danificadas suas colheitas e que
os demônios conduzam as pragas contra as colheitas dos pecadores. Para destruir
a praga, portanto, é necessário restaurar a obediência a Deus, arrependendo-se
dos pecados, fazendo penitência e suplicando a Deus para que elimine a praga dos
92
campos (MOLINA, 2002; LARROCA, 2011).
Para tanto, a Igreja Católica, através da Inquisição, detinha um rígido
controle do processo do exorcismo contra as pragas quando procurou eliminar
as manifestações das práticas populares camponesas, através da condenação
ou expulsão dos “saludadores” ou “curadores” das áreas assoladas pelas pragas
(LARROCA, 2011).

Conjuros e exorcismos

Exorcismo segundo o licenciado D. Matheo Guerrero y Morcillo, publicado


originalmente em Madri em 1661 sob o título “Libro de conjuros contra
tempestades, langostas, pulgón, cuquillo, y otros animales nocivos, que dañan,
y infestan los frutos de la tierra” e reimpresso em Granada em 1757, sob o novo
título “Principios para aplacar la ira de Dios, medios para solicitar su misericordia,
por la intercesion de Maria SSma., San Gregorio Ostiense, y otros santos, con el
fin de lograr con exorcismos la extincion de las plagas de langosta, otros animales
nocivos, que dañan, e infestan los frutos de la tierra, y contra tempestades”.

Onipotente Verbo do Pai, Cristo Jesus, Deus e homem, e Senhor de toda a criação,
que deste o poder aos teus santos apóstolos de pisar sobre as serpentes e escorpiões
e sobre toda a força do inimigo, imploro suplicante, com pavor e temor, teu Santo
Nome, para que a mim, indigno sacerdote teu, dada a possibilidade do perdão dos
meus pecados, te dignes dotar-me de virtude, para que envolvido por teus braços e
tua proteção, possa afugentar deste lugar estes gafanhotos (ou outros animais). Que
com o Pai e o Espírito Santo vives etc. Amen.
Oh Deus, que criaste o homem a tua imagem e semelhança, te rogamos suplicantes,
que todos os frutos deste termo, que fizeste nascer para uso do gênero humano, que
bendigas com perpétua benção, para que germinem sobre a terra, floreçam, e sejam
frondosos, e cheguem a sua maturação, que por eles, teus servos se disponham a
oferecer-te o aceito sacrifício e uma grata oblação, e aos restantes, nutre sua vida
para louvor e glória do teu Santíssimo Nome; que não sejam semeadas sobre eles
as péssimas sementes do inimigo antigo, não os perturbem nenhum mal, não os
sufoquem o calor, nem os destruam o granizo, não os revolvam os ventos, não os
comam as lagartas nem os mordam os gafanhotos, nem os infestem nenhum outro
93
animal; e assim com a tua proteção os saciem e refrigerem uma chuva saudável e
adequada e os conduzam a pelnitude de seu ciclo e incrementados os ponhas na mão
dos lavradores. Por Cristo Nosso Senhor. Amen.
Agora benzer a água e dizer:
Oh Deus, que para a salvação do gênero humano constituíste os maiores sacramentos
na substância da água, torna-te propício a nossas invocações e a este elemento
preparado para multiformes purificações, infunde a força de tua benção, para que
esta criatura servidora dos teus mistérios, leve a plenitude o efeito da tua divina
graça, para afugentar os demônios, rebater as epidemias, e os gafanhotos e pulgões
(ou qualquer outro animal) que de agora em diante, em todo este termo, para
qualquer coisa que esta praga possa afetar nos campos, vinhedos, messes, hortas,
olivais, árvores ou quaisquer outros frutos de teus fiéis, careça de toda enfermidade,
seja livre de animais nocivos, de qualquer gênero que sejam, e não permaneça neles o
espírito da pestilência, Amen. Não os corrompam as lagartas, Amen. Não os devorem
os ventos, Amen. Não os arrazem o granizo, Amen. Não os sequem o calor, Amen.
Não os afoguem o capim nem outra erva, Amen. E se afastem destes frutos de todos
os deste termo todas as insidias do inimigo oculto, e se há algo que possa redundar
na integridade destes frutos, ou da sua tranquilidade e prosperidade, fuja e se afaste
por meio da aspersão desta água para que a saúde concedida pela invocação do teu
Santíssimo Nome sejam protegidos de todos os ataques. Por Cristo Nosso Senhor.
Amen.
Colocar a Cruz na terra.
Aspergir com água benta as quatro partes da terra, dizendo:
Pela virtude desta água benta fujam de nós os nossos adversários, e esta praga de
gafanhotos e quaisquer outros animais nocivos. Amen.
Elevar a Cruz ao alto, dizendo:
Eis aqui a Cruz do Senhor, fugi adversários, venceu o leão da tribo de Judá, a raiz
de David, boa cruz, digna cruz, madeira sobre todas as medeiras. Mediante esta
madeira da Cruz expulse Deus todo animal maligno. Amen.
Colocar a Cruz na terra, de joelhos, dizendo:
Oremos

94
Rogamos-te, Senhor que escutes clemente nossas orações, para que os que justamente
padecemos por nossos pecados este castigo de gafanhotos (ou de outros) sejamos
libertos do mesmo pela tua misericórdia, de maneira que expulsos pela tua potência,
em nada danifiquem, e deixem intactos estes campos, frutos, colheitas, olivais e
vinhedos e assim esteja à serviço da tua Majestade e de nossa utilidade. Por Cristo
nosso Senho. Amen. [...]
Que se ponha fim, Oh Senhor Jesus Cristo, pelos méritos de tua Santíssima Paixão,
a prostação de nossa humildade, e reine a felicidade eterna, a prosperidade divina,
a alegria serena, a caridade frutífera e a saúde perfeita. Que se afaste de nossa terra
e de todos os seus frutos a presença dos demônios, gafanhotos, e quaisquer outros
animais que corroem os frutos da terra. [...]
Aspergir com água benta as quatro partes da terra, dizendo:
Pela virtude desta água benta fujam de nós os diferentes inimigos, e esta praga de
gafanhotos ou de quaisquer outros animais nocivos. Amen.
Primeiro conjuro:
Pela santa e indivisa Trindade e pelo sacrossanto sangue de Nosso Senhor Jesus
Cristo, e pelo seu admirável nome, ante o qual todo ser fica de joelhos, tanto celestes,
terrestres e dos infernos, eu, na qualidade de ministro e sacerdote da Igreja Católica
(ainda que indigno) os conjuro, expulso e estreito Apoliom1 Behemot, Belzebú, chefes
e guias de todos os gafanhotos (ou de outros animais) com todos vossos companheiros
e satélites, para que neste momento e sem mais dilação alguma saias deste termo e
de todos os termos desta cidade e expulseis totalmente todos os gafanhotos e todos
os outros animais que desbastam e comem os frutos da terra e os sufoquem nas
profundezas do mar ou os aprisionem em seus próprios lugares, pisoteiem, aniquilem
e exterminem totalmente, de maneira que não fique nenhum vestígio deles e das
suas sementes e não faças nenhum meio para a regeneração ou conservação de tais
animais, e sim pelo contrário, que sejam extintos absolutamente e assim mando
pelo inefável mistério da Encarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo, que se ainda
permaneceis rebeldes, segundo vosso bestial costume, sejam malditos na condenação
eterna, onde não desfrutareis de nenhum descanso, e sejais cozidos no fogo sulfúreo
do inferno e submersos no tanque de fogo eterno e aumente Deus sobre vós todo o
gênero

Anjo do abismo, considerado como rei e condutor das pragas de gafanhotos (Apocalipse de João 9,
1

versículo 11).
95
Segundo conjuro:
Oh malditos gafanhotos que estais nos termos deste lugar, eu, pela virtude e autoridade
de Nosso Senhor Jesus Cristo, os conjuro e os constrinjo de maneira mais contundente
por Deus Pai onipotente criador do céu e da terra, de todo o visível e invisível [...] os
conjuro e ordeno que não comerás daqui em diante as messes, colheitas, árvores, vinhas
ou ervas, que há neste termo e em todos os limites desta cidade, saias imediatamente
do sobredito termo, e se o contrário fizeres, Nosso Senhor Jesus Cristo, que rompeu as
portas do templo e reduziu os diabos, ele mesmo os reduza, maldiga e golpeie por seu
santo anjo e rompa vossos lábios, queixadas e dentes, e os triture e desmorone.
Agora pisar com o pé alguns gafanhotos.
A todos vós e a todos os malditos demônios, vossos chefes, o mesmo que golpeou
Sodoma e Gomorra, ele mesmo os acosse, para que façais minha vontade e obedeçam
meus preceitos, de maneira que redunde na glória Dele, e maldição eterna para vós,
cuja maldição confirmo sobre vós com todo m, eu coração, assim e totalmente, da
maneira que vos encntreis, sejais malditos. De tal modo que não poderás roer e nem
estragar fruto algum de qualquer gênero que seja, sendo que consumas entre vós
mesmos e extinguirás completamente e aniquilarás, de maneira que não fiquem de
vós o mínimo vestígio ou semente para a posteridade, e se por casualidade, algum
ficar, eu amaldiço-o em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo e da Santa Igreja Romana,
e o privo de toda sua virtude, de maneira que seja absolutamente impossível que dele
possa nascer algum animal nocivo e nem gafanhoto algum, seja de forma natural,
seja por ajuda ou virtude dos demônios, a que os entrego com toda minha vontade e
a todos vós, com todas as minhas forças, dou a comer todas as vossas sementes. Em
nome do Pai (etc).
Oremos
Senhor Jesus Cristo, bom pastor, que por nossos pecadores, derramaste teu precioso
sangue no altar da Cruz, para prender com teu poder aos antigos inimigos, te rogamos
suplicantes, que te dignes prender, reduzir e confundir a este maligno espírito Apolión
e a todos os seus sócios, para que não prevaleçam contra nós nem contra este lugar.
Que vives e reinas (etc).
Voltado ao Oriente, dizer:
Ouve maldito espírito Apoliom, condutor destes gafanhotos ou destes animais, com
todos os teus satélites e sócios; ouve, insisto, pela inefável Encarnação de Nosso Senhor

96
Jesus Cristo, que é a causa total da reparação humana, e te mando que não te atrevas
a danificar este termo por meio de gafanhotos ou quaisquer outros animais. Amém.
Voltado ao Meio-Dia, dizer:
De novo amarro-te, maligno espírito Apoliom com todos os teus sócios, por meio da
virtude e do poder de Nosso Senhor Jesus Cristo, quem quis ser envolto pela gloriosa
Virgem Maria com panos e faixas, e pendente da Cruz, ligou vossa potência, para
que não possas por ti ou por estes animais danificar este termo nem a nenhum fruto
do mesmo. Amen.
Voltado ao Ocidente, dizer:
De novo amarro-te e aperto-te, maligno espírito sobredito, por aquela admirável
Ressurreição que acontecerá no último dia do juízo, mediante a indissolúvel união
de almas e corpos, que não danes estes termos mediante os sobreditos animais
nocivos, não os faça dananificar, nem fazer mal, mas tudo assediar e destruí-los
completamente. Amen.
Voltado ao Norte, dizer:
De novo com mais força aperto, ato-te, péssimo espírito sobredito, com as cadeias
incandescentes infernais, com as que por virtude divina, com teus péssimos sócios,
encontras-te amarrado, e ordeno-te virilmente, que não podes danificar nem fazer
danificar este termo, por meio dos sobreditos animais, nem agora nem nunca. Amen.
Aspergir com água benta as quatro partes, dizendo:
Pela virtude da água benta, fujam de nós os nossos inimigos e esta praga de gafanhotos
ou de quaisquer outros animais nocivos. Amen.
Para implorar auxílio da Bem aventurada Maria, de joelhos, dizer:
Santa Maria, Virgem gloriosa [...] pela mão da tua misericórdia, cumpra-se tudo o
que em teu nome lhes temos ordenado, e que esta praga seja afugentada de nós, de
maneira que este povoado e todos os seus termos e todas as coisas contidas nele, sejam
misericordiosamente libertadas dela. Por Cristo teu Filho Nosso Senhor. Amen. [...]

Pelos evangelhos lidos ordeno a vós Behemot e Apoliom, condutores dos gafanhotos,

97
brucos2, ou destes animais nocivos, que fujais com todo o maldito exército de todo o
termo desta cidade, de tal maneira que as colheitas, frutos, vinhas e todas as árvores
e todas as ervas permaneçam incólumes e intactas. No nome do Pai (etc).
Conjuro terceiro
Ouvidas e entendidas as palavras de meus lábios, Apolión, Satanás e Belzebú. Os
conjuro, exorciso e os constranjo fortemente, por São Miguel Arcanjo, Principe da
milícia celeste [...] a mim ministro, secardote de Cristo presta-me obediência e fugi
e saí com todos os gafanhotos e todos os outros animais nocivos, de todos os limites
e possessões desta cidade, de tal maneira que nenhum dos sobreditos animais coma,
roa ou danifique nenhum fruto, que sejam árvores de qualquer gênero que existam
neles, e se do contrário fizeres, ordeno com a autoridade que desempenho, e mando a
Satanás e a todas as fúrias infernais, que imediatamente e sem demora os precipitem
no fogo refulgente e incessantemente os flagelem e castiguem. Oh misérrimo Apolión,
Behemot, as mais miseráveis e improdentes das criaturas [...] marchai vencidos e
prostrados com toda vossa coluna de animais nocivos aos lugares desertos e inabitados,
onde não se planta e nem se colhe e daqui em diante nunca mais voltarás a esta
cidade, nem vós e nem estes malditos animais, nem comerás jamais quaisquer outros
frutos da terra, o que eu os ordeno, em nome e virtude daquele, que haverá de vir a
julgar os vivos e os mortos e ao mundo pelo fogo. Amen.
Conjuro quarto
Conjuro, exorciso e os constrinjo virilmente e com toda força e poder, como posso e
minha autoridade se extende sobre vós, Apolión, Behemot e Belzébú, que conduzis
esta tempestade de gafanhotos ou de quaisquer outros animais [...] os conjuro de
novo e os ordeno rigorosamente, que em seguida e sem demora alguma, fujas e
saias, e fazeis fugir e sair esta malévola praga de gafanhotos ou de quaisquer outros
animais, que vão para o mar, para os rios, para as selvas inabitáveis, onde não se ara,
não se planta, de tal modo que não comam e nem roam as culturas, frutos, vinhas,
colheitas, árvores e ervas que há nos termos desta cidade, e se os deixá-los que a
maldição de toda a Santíssima Trindade e da bem aventurada Virgem Maria caia
sobre vós e os golpeie com a ira de seu furor, como golpeou ao Faraó e seu exército.
Ele mesmo com seu poder os obrigue a sair dos sobreditos termos e os acosse e
submerja nas profundezas do mar.

Segundo Quiñones (1620, p.8) de “brucos” eram chamadas as formas jovens dos gafanhotos (nin-
2

fas); de “attelabo” eram chamados os alados e de “langostas” as formas migratórias.


98
Lançar um punhado de gafanhotos na água.
Lançar no ar um punhado de gafanhotos.
Até a eternidade. Amen.
[seguem-se outros cinco conjuros repetidos]
Oremos
Rogamos-te, Senhor, que infundas tua graça em nossas mentes [...] e sejamos
libertados misericordiosamente destes péssimos gafanhotos, bruços, pulgões, vermes
ou quaisquer animais nocivos [...] Amen.
A São Gregorio Bispo Ostiense
Oh Deus que ao bemaventurado São Gregório bispo e confessor outorgastes
especial graça contra a lagarta dos vinhedos, o verme daninho do trigo, o insetos
das sementes da terra e contra a praga dos gafanhotos, dotaste de especial carisma,
concede propício, que os que devotamente gozamos teus benefícios, por seus méritos e
preces sejamos libertados misericordiosamente da corrosão e fome devoradora destas
e outras quaisquer pragas que atacam nossos frutos. Por Cristo Nosso Senhor. Amen.
[...]
Aspergir água benta às quatro partes e dizer:
Pela virtude desta água benta fujam de nós os inimigos e esta tempestade de
gafanhotos, brucos, pulgões, lagartas, vermes e de quaisquer outros animais nocivos.
Amen. [...].

Os livros de conjuros publicados contra as pragas de gafanhotos tinham a água


presente nos atos. Recomendava-se levar um caldeirão com água e um braseiro
com fogo. No ato do conjuro se submergiam um punhado de gafanhotos na água,
enquanto as palavras eram pronunciadas “et sumergat in profundum maris”,
intentando buscar um efeito de magia por simpatia. Outras vezes se buscava
o mesmo efeito lançando um punhado de gafanhotos no fogo, pisando-os ou
espalhando-os no ar, sempre em um determinado momento e acompanhando o
ato com determinadas palavras (CORDERO, 1997).
99
Sustenta Cordero (1997) que a religião e a magia estiveram tão intimamente
unidas que a magia se pode considerar como parte integrante da religião, e como
tal foi tradicionalmente empregada frente às pragas de gafanhotos por uma
sociedade que tinha um conceito mágico e religioso da natureza.
Os rituais de exorcismo eram feitos em latim e certamente pouco entendido
pelos camponeses. Entretanto, o cerimonial litúrgico deveria causar efeito pela
sua teatralização: para fazer jus ao pagamento pela sua participação (pois, muito
poucos o faziam gratuitamente), um bom exorcista deveria fazer uma verdadeira
pantomima. Enquanto vociferava os seus conjuros amaldiçoando os diabos
condutores dos gafanhotos e os pecados do povo local, ora se ajoelhava, ora ficava
de pé, brandindo uma cruz; ora se virava aos quatro pontos cardiais; ora lançava
gafanhotos no ar, na água ou no fogo, pisoteava-os e finalmente excomungava-os.
É claro que, só depois de destruir completamente as culturas agrícolas da região
os gafanhotos iam embora, tais práticas não resultavam em nenhum efeito. Então
a Igreja culpava os próprios pecados dos camponeses e assim Deus continuava a
castigá-los.
Na tentativa de superar esta visão supersticiosa sobre pragas de gafanhotos,
duas figuras se destacaram no século XVIII como precurssoras do estudo
científico das pragas de gafanhotos na Espanha: o naturalista irlandês Guillermo
Bowles (1720-1780) que descreveu o comportamento reprodutivo da praga e o
naturalista aragonês Ignacio Jordan de Asso y Del Rio (1742-1814), que estudou
o ciclo biológico do gafanhoto praga (BLASCO-ZUMETA, 1997).

Pragas de gafanhotos no Brasil


No Brasil, o problema acridiano é menos agudo em comparação com outras
regiões do mundo. As pululações são menos frequentes e de menor amplitude.
As espécies mais prejudiciais são Schistocerca pallens (Thunberg, 1815) no
Nordeste e DF, Stiphra robusta Mello-Leitão 1939 (Proscopiidae) no Nordeste
e Rhammatocerus schistocercoides (Rehn, 1906), no Mato Grosso, Rondônia e
100
Goiás. No sul do Brasil nos anos de 1917 (Fig. 4), 1938, 1942 e 1946 infestações
de Schistocerca cancellata (Serville, 1839) causaram sérios prejuízos à produção
agrícola, quando esta espécie, vinda da Argentina, migrou para o sul e centro-sul
do Brasil (LECOQ, 1991).

Figura 4: Ataque de gafanhotos em Ijuí (RS) em 1917.


Fonte: ijuisuahistoriaesuagente.blogspot.com/2010/10.

Historicamente no Brasil, as práticas populares contra as pragas da agricultura


em geral se constituiram num ofício de rezadores ou rezadeiras, sem que houvesse
a interferência da Igreja, como aconteceu nos países mediterrâneos.
Na religiosidade popular, destacam-se as orações aos santos protetores tais
como a Oração de Nossa Senhora do Desterro, que é utilizada para livrar das
pragas das lavouras no Nordeste (ARAÚJO, 1979), que tem o seguinte conteúdo:

Ó Bem-aventurada Virgem Maria, mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo Salvador


do Mundo, Rainha do Céu e da Terra, advogada dos pecadores, auxiliadora dos
cristãos, protetora dos pobres, consoladora dos tristes, amparo dos órfãos e viúvas,
alívio das almas penantes, socorro dos aflitos, desterradora das indigências, das
calamidades, dos inimigos corporais e espirituais, da morte cruel dos tormentos
eternos, de todo bicho e animal peçonhentos, dos maus pensamentos, dos sonhos
101
pavorosos, das cenas terríveis e visões espantosas, do rigor do dia do juízo, das
pragas, dos incêndios, desastres, bruxarias e maldições, dos malfeitores, ladrões,
assaltantes e assassinos. Minha amada mãe, eu prostrado agora aos vossos pés,
com piedosíssimas lágrimas, cheio de arrependimento das minhas pesadas culpas,
por vosso intermédio imploro perdão a Deus infinitamente bom. Rogai ao vosso
Divino Filho Jesus, por nossas famílias, para que ele desterre de nossas vidas todos
estes males, nos dê perdão de nossos pecados e nos enriqueça com sua divina
graça e misericórdia. Cobri-nos com o vosso manto maternal, ó divina estrela dos
montes. Desterrai de nós todos os males e maldições. Afugentai de nós a peste e
os desassossegos. Possamos, por vosso intermédio, obter de Deus a cura de todas
as doenças, encontrar as portas do Céu abertas e convosco ser felizes por toda a
eternidade. Amém.

Pode-se concluir que as práticas mágico-religiosas contra as pragas de


gafanhotos no século XVII se constituem numa verdadeira manifestação cultural.

Referências

ARAÚJO, A.M. Medicina rústica. 3ª ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional,
1979 (Brasiliana, 300), p. 241-243.

ASSO Y DEL RIO, I.J. Discurso sobre la langosta y medios de exterminarlas.


Amsterdam, 1785. 332p.

BLASCO-ZUMETA, J. Breve nota sobre langosta y superstición hasta la íonstración


del siglo XVIII. Bol. S.E.A., n. 20, p. 363-365, 1997.

BUJ, A. La plaga de la langosta. Permanencia de un riesgo biológico milenario.


Diez años de cambios en el Mundo, en la Geografía y en las Ciencias Sociales,
1999-2008. Actas del X Coloquio Internacional de Geocrítica, Universidad de
Barcelona, 26-30 de mayo de 2008.

CORDERO, J.A.L. Magia, superstición y religión en el agro jiennense. Las plagas

102
de langosta. In: Magia y Religión en la Historia. U.N.E.D. Centro Asociado Andrés
de Vandelvira. Jaén, 1997, p. 101-122.

CUEVAS, J.Z. Pleito que se puso em la Abadia de Párraces para el extermínio de


la langosta. Año de 1650. Bol. S.E.A., n. 20, p. 351-361, 1997.

FELIPO, F.J.P. Apuntes sobre la lucha contra la plaga de langostas. Tiempos


Modernos, v. 6, n. 17, p. 1-13, 2008.

GUERRERO Y MORCILLO, M. Principios para aplacar la ira de Dios, medios


para solicitar su misericordia, por la intercesion de Maria SSma., San Gregorio
Ostiense, y otros santos, con el fin de lograr con exorcismos la extincion de las
plagas de langosta, otros animales nocivos, que dañan, e infestan los frutos de
la tierra, y contra tempestades. Reimpresa en Granada: por Joseph de la Puerta,
1757. 276 p.

HERNÁNDEZ, C.F. Iohannis Aegidii Zamorensis, “Liber contra venena et animalia


venenosa”, estúdio preliminar, edición crítica y traducción. Tesis doctoral, U.A.B.,
2002, p. 309-310.

LARROCA, J.S. Exorcismos contra plagas agrícolas en la España del siglo XVIII.
Tiempos Modernos, n. 23, p. 1-43, 2011.

LECOQ, M. Gafanhotos do Brasil. Natureza do problema e bibliografia.


Montpellier, France: EMBRAPA/NMA / CIRAD/PRIFAS, 1991. 654 p.

QUIÑONES, J. Tratado de las langostas muy util y necessario, em que se tratan


cosas de provecho y curiosidad para todos los que professan letras divinas y
humanas, y las mayores ciencias. Madrid: Luis Sanchez impressor del Rey, 1620.
337 p.

103
MOLINA, J.R. Los “insecticidas” en la etapa precientífica. Gazeta de Antropologia,
n.18, 2002.

PAPAVERO, N.; PUJOL-LUZ, J.R. Deuses e gafanhotos nas antigas civilizações da


Eurásia notas etnoentomológicas. Arquivos de Zoologia, v. 41, n. 3, p. 133-151,
2010.

VEGAS, M.L. Una simiente devastadora del agro antequerano: la plaga de langosta
de 1620. Revista de Historia Moderna, n. 23, p. 285-306, 2005.

ZAMORA, M.C. El tratamiento de las plagas em el campo de Cartagena. Revista


Murciana de Antropologia, n. 10, p. 129-133, 2004.

104
Palestra

PATRIMONIO ENTOMOLÓGICO CULTURAL: PROTEGIENDO


CULTURAS, CONSERVANDO INSECTOS

Mauricio Vargas-Clavijo

Investigador independiente. Miembro de la Sociedad Colombiana de


Etnobiología.
Bogotá D.C., Colombia. E-mail: antroelitrus@yahoo.es

Introducción

Se concibió la necesidad de articular la teoría sobre reconocimiento y


conservación del patrimonio biocultural al campo específico de la etnozoología
(desde la perspectiva de patrimonio zoocultural) y la conservación biológica,
al convertirse en un argumento científico y metodológico coherente con
la visión sociocultural de la animalidad, las relaciones que se reconstruyen
permanentemente entre las sociedades y los animales, y el manejo sostenible
que le dan a las especies de fauna los distintos pueblos alrededor del mundo. La
primera presentación del concepto de patrimonio zoocultural se realizó durante
el XI Congreso Internacional de Etnobiología: Patrimonio biocultural colectivo y
sustento local, celebrado en Cusco, Perú en 2008 (Patrimonio Zoocultural (Pzc):
definición, abordaje e Importancia;Vargas-Clavijo, 2008), posteriormente
publicándose un ensayo sobre el mismo tema en el “Manual de Etnozoología: una
guía teórica práctica para revelar la interconexión del humano con los animales”
(Patrimonio zoocultural: el mundo animal en las expresiones tradicionales de los
pueblos; Vargas-Clavijo, 2009) que son entre otros, los aportes fundacionales
que le han dado el sustento aesta iniciativa aplicada al área de la conservación
entomológica cultural.

105
Las actuaciones en beneficio del reconocimiento y conservación de la diversidad
de culturas e insectos (de manera independiente), como de las expresiones del
patrimonio entomológico cultural (simbiosis inseparable en la relación cultura-
entomofauna), juegan un papel preponderante en las actuales políticas, acciones y
estrategias que se deberán adelantar desde tres sectores comúnmente divorciados:
salvaguarda del patrimonio cultural, conservación biológica y conservación
biocultural.
Sólo en términos de diversidad cultural, entendida desde la perspectiva
de número de comunidades locales que residen en un espacio geográfico
determinado y que mantienen unas características particulares en su forma de
pensar, sus costumbres, sus hábitos, religiosidad, entre otras (Ministerio de
Cultura, 2005), América Latina se cataloga como una de las regiones de mayor
importancia biocultural a nivel mundial. Sólo en este espacio geográfico, residen
522 pueblos organizados en 10 áreas geoculturales1 que hablan 422 lenguas
indígenas (Sichra, 2009). México, Brasil y Colombia se ubican en los primeros
lugares de esta diversidad cultural y lingüística en el continente americano.
Por otro lado, es bien conocido que la entomodiversidad supera las tres cuartas
partes del total de diversidad faunística. De las especies animales descritas por la
ciencia unas 850.000 son insectos de las cuales no se conoce muy bien sobre su
distribución y hábitos alimentarios (Stork, 2007). Se cree que la Tierra puede
albergar entre tres y 10 millones de especies, y expectativas más ambiciosas,
mencionan cifras de hasta 30 y 50 millones de especies (Piera, 1997; Stork,
2007).

______________________
1
Las áreas geoculturales son grandes espacios geográficos en los cuales se han desarrollado culturas y lenguas
relacionadas entre sí por los condicionamientos físicos e históricos a los que se han debido someter y
adaptar. Los límites de éstas grandes áreas son difusos y porosos, pues existe solapamiento entre unas y
otras, existiendo pueblos cuyas lenguas o culturas no siempre se ajustan de manera estricta al prototipo del
área geográfica en la que aparecen (Sichra, 2009).

106
Esto quiere decir que, en el orden del 80 al 95% de las especies de insectos aún se
desconocen para la ciencia. Tres grupos son considerados megadiversos dentro
de los insectos: Hymenoptera, Coleoptera y Lepidoptera.
Sobre expresiones del patrimonio entomológico cultural en América Latina se
han documentado especialmente casos de Brasil y México. Las investigaciones en
etnoentomología han contribuido sustancialmente a enriquecer su conocimiento.
Por lo regular, se presentan como estudios que registran la existencia de esa
relación cultura-insecto, pero no propiamente como expresiones que forman
parte del patrimonio zoocultural de los pueblos. La relación agropecuaria y el
valor utilitario de los insectos colocan de manifiesto la resistencia del patrimonio
entomológico cultural en América. Se citan fundamentalmente las prácticas de la
meliponicultura (o cría de abejas sin aguijón) y la colecta sostenible de insectos para
la alimentación y la medicina. La meliponicultura data de tiempos prehispánicos
y aún continúa recreándose en todos los países a lo largo del continente, sin
embargo, las experiencias mejor documentadas son las de México, Guatemala,
Costa Rica, otros países mesoamericanos y noroeste de Brasil (Rosso; Nates-
Parra, 2005).
Brasil y México también lideran los estudios sobre el consumo de insectos
por los humanos (antropoentomofagia) y su uso como entomoterapeutico. Por lo
menos 2000 especies de insectos son empleadas como alimento por cerca de 3000
mil grupos étnicos en más de 120 países. Los más consumidos son los Coleoptera
(468 especies), Hymenoptera (351 especies), Orthoptera (267 especies), y
Lepidoptera (253 especies) (Ramos-Elorduy, 2004). Sólo en Brasil, 83
tipos de insectos son utilizados como entomoterapeuticos (Costa Neto et
al., 2005) y 135 tipos como comestibles (Costa Neto; Ramos-Elorduy,
2006). En ambos casos el orden Hymenoptera es el que aporta la mayor fuente
de medicina y alimentación. En México se consumen casi unas 500 especies
insectiles distribuidas en 13 órdenes: Coleoptera (119 especies), Hymenoptera
(101 especies), Hemiptera (90 especies), Orthoptera (78 especies), Lepidoptera
(45 especies) y Homoptera (38 especies).

107
Los términos de patrimonio zoocultural, y a su vez de patrimonio entomoló-
gico cultural, son nuevos por lo que se puede decir que son pocas las experiencias
que se han documentado de manera sistemática sobre estos tipos patrimonia-
les bioculturales. Pero de todos modos, ciertas investigaciones reflejan, aunque
no tácitamente, la existencia de un verdadero patrimonio entomológico cultural
en varias sociedades y en tiempos históricos distintos. Sobresalen los trabajos de
Costa Neto (2002), quien investigó la presencia de insectos en 80 estampillas de
12 países, encontrando una alta representación de los Lepidoptera y Coleoptera.
El mismo autor analizó el uso de insectos en cartones telefónicos en Brasil, re-
saltando los diseños de ocho órdenes, de los cuales los Lepidoptera, Coleoptera
e Hymenoptera, eran los más representados (Costa Neto, 2005). Mendoza et
al. (2006) revisaron la entomofilatelia mexicana hallando insectos de cinco órde-
nes, siendo Lepidoptera (88%) el más destacado. Coronado-Blanco et al. (2011)
registraron la presencia de diez órdenes de insectos en 170 canciones, siendo los
Lepidoptera el grupo con mayor número de apariciones musicales. Ramos-Elor-
duy y Pino-Moreno (2011) identificaron 132 nombre lingüísticos y comunes de
insectos comestibles de México.
Algunos trabajos compilatorios sobre entomología cultural fueron adelanta-
dos en años recientes. Navarrete-Heredia et al. (2011) organizaron un interesante
libro sobre ensayos de este fructífero tema, resultado de las investigaciones pre-
sentadas durante el Simposio de Entomología Cultural celebrado en 2011 dentro
del XIII Simposio de Zoología en México. En este encuentro los autores expusie-
ron trabajos de la aparición de los insectos en la pintura, filatelia, música, rondas,
canciones populares, cuentos, deporte, en la biblia y el Corán, nombres populares,
entre otras manifestaciones artísticas y culturales. Un trabajo similar fue llevado
a cabo por el primer autor junto con otros colaboradores en 2007, como corolario
del Simposio Internacional de Entomología Cultural, llevado a cabo paralelamen-
te al XLII Congreso Nacional de Entomología y XX Congreso Latinoamericano
de Entomología en Acapulco, Guerrero, México (Navarrete-Heredia et al.,
2007).

108
El área de la patrimonialidad entomológica cultural y su aplicación al campo
de la conservación del patrimonio biocultural, está fuertemente ligada con las
actitudes que manifiestan los humanos hacia los insectos. Cabe recordar que las
especies animales son valoradas culturalmente también por las reacciones que
logran despertar en los individuos y el colectivo social. Y es por este motivo,
que cualquier acción de conservación del patrimonio zoocultural aplicado a los
insectos necesita contemplar previamente las actitudes que expresa la cultura
local hacia la entomofauna.
Por lo general, las personas demuestran actitudes y sentimientos de desdén,
miedo y aversión hacia los invertebrados y animales parecidos a los insectos,
bien sea por su aspecto, comportamiento, peligrosidad, amenaza para el humano
o por el hecho de causar enfermedad o considerarse plaga de cultivos (Piera,
1997; Costa Neto; Pacheco, 2004; Kubiatko, 2012; New, 2012). Para
Kellert (1993), el miedo, antipatía y aversión hacia los insectos e invertebrados
se sustentan en algunas razones como: la posibilidad de un aprendizaje innato
a rechazarlos, tendencia a relacionarlos con plagas y enfermedades, la distancia
filogenética y ecológica al humano, la capacidad de escapar del control humano y
el desconocimiento que se tiene de la mayoría de las especies. Su pequeño tamaño,
su esqueleto quitinoso y la gran variabilidad de sus poblaciones también los hace
poco atractivos (Piera, 1997). Por el contrario, los humanos expresan agrado
por aquellas especies que consideran que tienen un alto valor estético, utilitario
(alimentario, medicinal, mágico-religioso, etc.), ecológico (admiración por su
biología) y recreativo (Kellert, 1993; Costa Neto; Pacheco, 2004).
Siguiendo estos argumentos de cómo estarían influyendo las actitudes en la
forma como se relacionan los humanos con los insectos, la conservación de la
entomofauna podría encauzarse en un camino exitoso y sustentable a partir de su
reconocimiento no como un área de la ecología sino como un campo interdisciplinar
en el que interviene la sicología ambiental y la etnoentomología abordada desde
el concepto de patrimonialidad zoocultural. No solo por las funciones ecológicas
irremplazables que realiza la fauna insectil en la polinización, eliminación de

109
residuos, reciclaje de nutrientes y ser eslabones importantes dentro de las cadenas
alimentarias de los ecosistemas (Huntly et al., 2005), y que los hace especies
clave o especies sombrilla, sino por los diversos intereses humanos que ofrece este
grupo animal, los insectos podrían ser considerados como especies culturalmente
clave en los programas de conservación.
Como se pudo leer en líneas anteriores algunos órdenes suelen ser más
carismáticos que otros. Principalmente las mariposas (Lepidoptera), abejas y
hormigas (Hymenoptera), escarabajos (Coleoptera) y libélulas (Odonata), dada
su belleza estética, noble comportamiento, inofensividad, simbolismo, uso, y al
atribuírseles algunos valores humanos (antropomorfización) los coloca entre los
animales invertebrados con más alta escala de valoración cultural entre la mayoría
de las personas, y por ende, grupos con mayor repercusión en la conservación
biocultural. Con aquellas especies a las que se les expresa mayor evitación pero
que indudablemente deberán ser conservadas por su importancia ecológica y su
valor de existencia, se podrán llevar a cabo programas en sicología social que
comprendan terapias basadas en estímulos sensoriales para generar aprendizaje y
desaprendizaje de las actitudes, que permitan conseguir reacciones más tolerantes
hacia estos animales (Costa Neto; Pacheco, 2004).
Educar a la sociedad sobre los valores tangibles e intangibles de los insectos
es una tarea apremiante que deberá emprenderse con prontitud. Las exposiciones
permanentes de vivarios, mariposarios interactivos en áreas urbanas, visitas
ecoturísticas a meliponarios, vallas publicitarias en lugares urbanos estratégicos,
avisos comerciales en la radio y la televisión que promuevan la importancia de los
insectos, imágenes inséctiles favorables en libros, periódicos y revistas, juguetes con
figuras de insectos y álbumes coleccionables con entomofauna local, son algunas
de las otras alternativas educativas que impulsarían esa didáctica ciudadana, y
que podrían tenerse en cuenta no solo para las especies de insectos sino para toda
gestión que implica la conservación de la diversidad de fauna invertebrada.
Desde una perspectiva más amplia, al tiempo que se conservarían los insectos
se estarían protegiendo las culturas y sus manifestaciones. Recíprocamente, si se
110
direccionan actividades de protección étnica-cultural se estarían salvaguardando
expresiones zooculturales asociadas a estos artrópodos. Al diseñarse y aplicarse
políticas de protección de las florestas amazónicas, y especialmente aquellas áreas
que aprovechan las abejas sin aguijón, se estaría conservando paralelamente
la tradición de la cría de meliponinos en muchas comunidades indígenas,
afrodescendientes y campesinas de Brasil. Por citar otro ejemplo, si se sigue
manteniendo la cosecha sostenible de insectos como práctica tradicional en
comunidades campesinas y pueblos indígenas de México directamente se estarían
beneficiando y conservando esas poblaciones de insectos comestibles para los
humanos. Por el contrario, si una especie tiene un valor negativo para una cultura
como por ejemplo, la creencia de que sean dañinas como los mosquitos porque
pican y chupan sangre (Kubiatko, 2012), seguramente las políticas y acciones
para su conservación, serían reducidas o nulas, y esta especie podría colocarse en
riesgo de extinción.
Una vez se consiga medianamente ampliar los conocimientos sobre la fauna
insectil entre la sociedad, ya no se hablaría solamente de especies amenazadas
sino de paisajes amenazados (Samways, 1994 en Piera, 1997), dándose lugar
a conservar tanto las especies como sus ambientes, incluyéndose los pueblos que
mantengan alguna relación con esos organismos. De allí la idea de que conservar
tienen diversas implicaciones no solo desde el punto de vista del ambiente físico
de las especies que se protegen sino también de contenidos sociales y culturales
que usualmente se subvaloran en los programas de conservación biológica. En la
salvaguarda del patrimonio zoocultural se habla de proteger una serie de elementos
que están inextricablemente articulados (animales, ecosistemas, culturas, entre
otros), que conforman un paisaje cultural, cuyo desprendimiento del sistema
de uno de esos elementos desencajaría todo el engranaje que se tiene de dicha
manifestación cultural.

111
Referencias

CORONADO-BLANCO, J.M.; Ruíz-Cancino, E.; Navarrete-Heredia,


J.L.; Corona López, A.; Toledo-Hernández, V.H. Insectos en la música.
En: Navarrete-Heredia, J.L.; Castaño-Meneses, G.; Quiroz-
Rocha, G.A. (coord.). Facetas de la ciencia: ensayos sobre entomología cultural.
Jalisco: Universidad de Guadalajara, 2011. p. 43-46.
COSTA NETO, E.M. O uso da imagem de insetos em cartões telefônicos:
considerações sobre uma pequena coleção. Boletín Sociedad Entomológica
Aragonesa, n. 36, p. 317-325, 2005.
COSTA NETO, E.M.; PACHECO, J.G.M. A construção do domínio etnozoológico
“inseto” pelos moradores do povoado de Pedra Branca, Santa Terezinha, estado
da Bahia, Maringá, v. 26, n. 1, p. 81-90, 2004.
COSTA NETO, E.M.; RAMOS-ELORDUY, J. Los insectos comestibles de Brasil:
etnicidad, diversidad e importancia en la alimentación. Boletín de la Sociedad
Entomológica Aragonesa, n. 38, p. 423-442, 2006.
COSTA NETO, E.M.; RAMOS-ELORDUY, J.; PINO, J.M. Los insectos medicinales
de Brasil: primeros resultados. Boletín de la Sociedad Entomológica Aragonesa,
n. 38, p. 395-414, 2005.
HUNTLY, P.M.; VAN NOORT, S.; HAMER, M. Giving increased value to
invertebrates through ecotourism. South African Journal of Wildlife Research, v.
35, n. 1, p. 53-62, 2005.
KELLERT, S.R. Values and perceptions of invertebrates. Conservation Biology, v.
7, n. 4, p. 845-853, 1993.
KUBIATKO, M. Lower secondary school pupils’ knowledge and attitudes toward
butterflies and mosquitoes. International Journal of Biology Education, v. 2, n. 2,
p. 1-11, 2012.
112
MINISTERIO DE CULTURA. Manual para inventarios de bienes culturales
muebles. República de Colombia. Ministerio de Cultura. Dirección de Patrimonio,
2005.
MENDOZA, M.; PACHECO, I.; SARMIENTO, M.A.; ZURITA, M.L.
Entomofilatelia en México: un tributo a la amistad de los insectos. Boletín Sociedad
Entomológica Aragonesa, n 38, p. 443-449, 2006.
NAVARRETE-HEREDIA, J.L.; QUIROZ-ROCHA, G.A.; Fierros-López, H.E.
(coord.). Entomología cultural: una visión iberoamericana. Jalisco: Universidad
de Guadalajara, 2007. 335 p.
NEW, T.R. Introduction to insect conservation, an emerging discipline. In: NEW,
T.R. (ed.). Insect conservation: past, present and prospect. New York: Springer
Dordrecht Heidelberg, 2012. p. 1-20. New York.
PIERA, F.M. Apuntes sobre diversidad y conservación de insectos: dilemas,
ficciones y ¿soluciones? Boletín Sociedad Entomológica Aragonesa, n. 20, p. 25-
55, 1997.
RAMOS-ELORUY, J. La etnoentomología en la alimentación, la medicina y el
reciclaje. In: Llorente, J.B.; Morrone, J.; Yañez, O.O.; Vargas, I.F. (ed).
Biodiversidad, taxonomía y biogeografía de artrópodos de México: hacia una
síntesis de su conocimiento. Vol. 4. México: UNAM, 2004. p. 329-413.
RAMOS-ELORDUY, J.; PINO-MORENO, J.M. Nombres comunes y linguisticos
de algunos insectos comestibles de México. In: Navarrete-Heredia, J.L.;
Castaño-Meneses, G.; Quiroz-Rocha, G.A. (coord.). Facetas de la
ciencia: ensayos sobre entomología cultural. Jalisco: Universidad de Guadalajara,
2011. p. 29-34.
ROSSO, J.M.; NATES-PARRA, G. Meliponicutura: una actividad generadora de
ingresos y servicios ambientales. LEISA, 2005, p. 14-16.

113
SICHRA, I. (Coord.). Introducción. In: Atlas sociolingüístico de pueblos indígenas
en América Latina. Tomo 1. Andes: UNICEF-FUNPROEIB, 2009. p. 3-16.
STORK, N.E. World of insects. Nature, v. 448, p. 657-658, 2007. Available in: http://
www.stri.si.edu/sites/basset/PdFs/Copy%20of%20Stork%202007%20insect%20
diversity.pdf. Access march of 2013.
VARGAS-CLAVIJO M. 2008. Patrimonio zoocultural: definición, abordaje e
importancia. Resúmenes XI Congreso Internacional de Etnobiología: Patrimonio
biocultural colectivo y sustento local. Junio 25-30.Cusco, Perú.
VARGAS-CLAVIJO, M. 2009. Patrimonio zoocultural: el mundo animal desde
las expresiones tradicionales de los pueblos. En: COSTA NETO, E.M.; SANTOS-
FITA, D.; VARGAS-CLAVIJO, M. (org.). Manual de etnozoología: una guía teórica
práctica para revelar la interconexión del humano con los animales. Ediciones
Tundra. España. 285 pp.

114
INSETOS ENTRE O CÉU E O INFERNO: O SIMBOLISMO AMBÍGUO
DAS LIBÉLULAS (ODONATA) E BORBOLETAS (LEPIDOPTERA) NA
PINTURA EUROPEIA ENTRE OS SÉCULOS XV E XVII
Alcimar do Lago Carvalho

Departamento de Entomologia, Museu Nacional,


Universidade Federal do Rio de Janeiro
E-mail: alagoc@acd.ufrj.br
Resumo
Com a finalidade de explorar o simbolismo de borboletas e libélulas na pintura
europeia dos séculos XV a XVII, informações sobre 54 quadros de diferentes
países, fases e estilos, incluindo temas religiosos e seculares, os quais incluem
representações desses insetos, foram reunidas. Quando isolados em pinturas
de santos, os Pieridae são interpretados como símbolos da pureza. Quando
representados em par com algum Nymphalidae, em quadros com temáticas
envolvendo antagonismo, os Pieridae e os Odonata simbolizariam o bem, o lado
positivo. Nessas situações, os Nymphalidae, por sua vez, simbolizariam o mal, o
lado negativo.

Palavras-chave: Europa, pintura, libélulas, Vanessa, Pieris, simbolismo

Introdução
Durante os séculos XV e XVII a representação de insetos no segundo plano de
quadros, de temas religiosos e seculares, foi uma constante na Europa Ocidental, em
especial nas naturezas-mortas, forma predominante a partir do final do século XVI
115
(DICKE, 2000, 2004). Embora de consenso geral que sejam elementos importantes
para a compreensão das obras, uma espécie de microcosmo que reflete o conjunto
(EISLER, 1991), os iconógrafos e historiadores da arte pouco se dedicaram ao tema,
ao contrário, por exemplo, das flores (e.g. TAPIÉ, 2000). Quando considerados,
são estabelecidos conceitos simbológicos muito gerais, aplicados geralmente em
nível de ordem, que ignoram as grandes diferenças morfológicas entre as espécies
escolhidas para serem representadas e o nível de proximidade do homem com a
natureza nesse período e o conhecimento biológico empírico que possuíam. Nesse
contexto, os livros e manuais de arte correntes são praticamente unânimes em
considerar que as borboletas (Lepidoptera), de uma maneira geral, carregariam
na sua representação a noção de ressurreição e salvação, de alma liberta, advinda
da pupa e casulo, que simbolizariam a morte e o sepulcro, respectivamente (e.g.
IMPELLUSO, 2004; SCHNEIDER, 1994). Suas lagartas fariam menção à vida
terrena. As libélulas (Odonata), por sua vez, simbolizariam o mal nos quadros,
por serem consideradas como uma subcategoria das moscas (Diptera) em termos
classificatórios durante esse período (e.g. SCHNEIDER, 1994). Dessa forma, em
quadros quando há oposição entre borboleta e libélula, a borboleta se referiria ao
bem, aos aspectos positivos do quadro, e a libélula aos negativos, uma espécie de
materialização do mal.
Alguns estudos de caso, com borboletas e libélulas isoladas, nos levam a
discordar dessas afirmativas. Carvalho (2007) identificou em uma obra anônima
do século XV, com um casal representado como cadáveres em decomposição,
com moscas pousadas sobre suas feridas e sobre cada um deles uma libélula,
como provável alusão à alma liberta e vida eterna. Em uma cena de juízo
final, Carvalho (2010) identificou indubitáveis asas de borboletas da família
Nymphalidae, perfeitamente identificáveis, como partes integrantes de demônios.
Tais observações isoladas nos direcionam a pensar exatamente o contrário do que
é geralmente aceito.
Este trabalho teve como objetivo geral registrar e confrontar pinturas
produzidas na Europa ocidental, em especial da região que engloba a Bélgica,

116
Holanda, Alemanha, norte da França e norte da Itália, durante os séculos XV e
XVII, em que borboletas e libélulas tenham sido representadas em segundo plano,
isoladas ou em conjuntos, em especial, em situações de conflito ou antagonismo
no primeiro plano, na tentativa de se atribuir um provável papel simbólico aos
insetos incluídos em cada quadro.
Material e Métodos
A seleção de pinturas consideradas para este trabalho está apresentada na
Tabela 1, que está composta por 54 quadros cujos registros advêm de diferentes
tipos de busca: visitas diretas a museus, procuras em inúmeros livros de arte e
catálogos de coleções, buscas em páginas da internet, em especial de homepages
de museus europeus e norte-americanos.
A partir da observação do conjunto dos elementos das pinturas, e da literatura
relativa, foram estabelecidos os seus conteúdos temáticos. Com a observação em
detalhe de cada um, na medida do possível, identificaram-se os prováveis modelos
das pinturas de borboletas e libélulas. Em função de suas cores, hábitos explícitos,
posição no quadro, posição relativa entre os demais elementos e ocorrência
conjunta, estabeleceram-se hipóteses para a sua inclusão.

Resultados e Discussão
As pinturas reunidas para este estudo formam uma amostra bastante
heterogênea, de diferentes países, fases e estilos, incluindo temas religiosos e
seculares, o que em princípio comprometeria a sua comparação. Por outro lado,
é importante ressaltar que embora a arte, de uma maneira geral, tenha evoluído
muito entre os séculos XV e XVII, tendo atravessado diferentes movimentos
artísticos e estilos, do Renascimento, passando pelo Maneirismo, chegando ao
Barroco, é de consenso geral que a prática da representação simbólica, ligada
primariamente ao Catolicismo, atingiu o auge da complexidade do final da Idade
Média para o século XV e se manteve durante séculos, mesmo com o advento da

117
Reforma em vários países. Essa tradição só começaria a ser renegada a partir do
século XVIII (e.g. LICHTENSTEIN, 2004; TAPIÉ, 2000). Sob esse ponto de vista,
a comparação entre elementos cuja simbologia provavelmente se manteve fixa ao
longo do tempo se justifica.
Do total de 54 pinturas examinadas, 46 representam borboletas. Espécies de
Nymphalidade estão presentes em 31, Pieridae em 23 e Papilionidae em 8. As
espécies mais comumente representadas são do gênero Vanessa, com 21 registros,
sendo a maioria de V. atalanta. As espécies de Pieris aparecem em 12. As libélulas
estão presentes em 21 pinturas. No geral, a sua representação não é tão acurada
quanto àquelas das borboletas, sendo possível a identificação de gêneros e espécies
em poucos casos. Quando isolados, os Pieridae brancos aparecem em quadros com
temas católicos dos séculos XV e XVI, geralmente de santos em cenas estáticas,
sendo uma espécie de indicativo de sua pureza. Esses não apareceram isolados nas
naturezas-mortas do século XVII. Os Nymphalidae, por sua vez, quando isolados
de outras borboletas ou libélulas, raramente aparecem em cenas de tensão ou em
naturezas-mortas. Dicke (2000, 2004), ao examinar a representação de insetos
na pintura do Ocidente ao longo do tempo, demonstrou que a sua representação
sofreu um aumento vertiginoso do século XV ao XVII, com o desenvolvimento das
naturezas-mortas. As borboletas foram os modelos mais utilizados. As libélulas
estão em quinto lugar. Em relação aos dois tipos mais comuns que encontrou de
borboletas, aponta o Pieridae branco Pieris sp. e o Nymphalidae Vanessa atalanta,
de cores fortes e fundo escuro, mostrando que o primeiro era mais comumente
representado no século XV, havendo uma equiparação numérica no século XVI,
e que o segundo foi bem mais representado no século XVII.
A ocorrência conjunta de um Pieridae e de um Nymphalidae ocorreu em 16
dos quadros, assim como de Nymphalidae e de Odonata em 11. A conjunção
de Pieridae e Odonata em uma mesma pintura é bastante rara, com apenas dois
registros. Observando as pinturas onde ocorrem tais associações, percebe-se
que geralmente refletem situações de tensão ou antagonismo expressas na cena
principal. Na maior parte, os Pieridae e as libélulas estão dispostos acima ou à

118
esquerda na pintura, mesmo lado onde geralmente se representa a entrada de
luz que incide sobre a cena. Por sua vez, os Nymphalidae estão representados,
quase que de forma unânime, na parte de baixo ou do lado direito da pintura, área
geralmente sombreada. Esse padrão é congruente com aquele encontrado nas
pinturas de temas católicos, como o juízo final, tentações e a queda do homem,
onde o paraíso e os anjos estão posicionados à esquerda, na área mais iluminada,
o lado do bem. Nessas, o inferno e os demônios estão à direita, na área mais
sombreada, o lado do mau (CARVALHO, 2010). Assim, nos pares Nymphalidae
e Pieridae, os primeiros simbolizariam o mal enquanto que os outros, o bem. Nos
pares Nymphalidae e Odonata, a última substituiria o Pieridae, representando
então o lado positivo. Essas escolhas podem ter se originado com o conhecimento
empírico da biologia e do comportamento desses insetos (CARVALHO, 2010). As
naturezas-mortas, embora em um contexto secular, estabelecem uma atmosfera
moralizante, onde o bem e o mal estão em torno de materiais perecíveis como
frutos maduros e flores colhidas, que são tenras, doces e belas, mas têm duração
muito curta, a lembrança da vida humana terrena.

Referências

CARVALHO, A.L. On some paintings of Odonata from the late Middle Ages (14th
and 15th centuries). Odonatologica, Bergen, v. 36, n. 3, p. 243-253, 2007.
CARVALHO, A.L. Butterflies at the Mouth of Hell: traces of biology of two species
of Nymphalidae (Lepidoptera) in European paintings of the fifteenth century.
Filosofia e História da Biologia, São Paulo, v. 5, n. 2, p. 177-193, 2010.
DICKE, M. Insects in Western Art. American Entomologist, Lanham, v. 46, n. 4,
p. 228-236, 2000.
DICKE, M. From Venice to Fabre: insects in western art. Proceedings of the
Netherlands Entomological Society, [?], v. 15, p. 9-14, 2004.
119
EISLER, C. Dürer’s Animals. Washington: Smithsonian Institution Press, 1991.
xv + 369.
LICHTENSTEIN, J. A pintura - vol. 2: A teologia da imagem e o estatuto da
pintura (trad. Magnólia Costa). São Paulo: Editora 34, 2004. 91 p.
IMPELLUSO, L. Nature and its symbols. Los Angeles: The Paul Getty Museum,
2004. 283 p.
TAPIÉ, A. Les sens caché des fleurs. Symbolique & botanique dans la peinture du
XVIIe siècle. Paris: Adam Biro, 2000. 190 p.
SCHNEIDER, N. Still Life. Köln: Taschen, 1994. 215 p.
Tabela 1. Registro das 54 pinturas consideradas neste estudo, listadas por ordem
alfabética do nome principal do artista. O material de Lepidoptera e Odonata está
identificado no menor nível taxonômico possível e os conteúdos de cada ordem
estão separados por barras oblíquas (/).

ARTISTA TÍTULO DA OBRA MUSEU INSETOS


Aest, Willem van Buquê de flores (1651) Musée des Beaux-Arts, Gomphidae / outro
Caen
(1627-1683)
Anônimo, Os amantes mortos (ca. Musée de l’Oeuvre Gomphidae (Gomphus vulgatissimus), Calopterygidae
1470) Notre-Dame, Estrasburgo (Calopteryx sp.) / outros
Suábia, Sul da Alemanha
Ast, Balthasar van der Natureza-morta com Coleção Particular Nymphalidae (Vanessa sp.) / Anisoptera
flores, conchas e insetos
(1593/94-1657) (ca. 1635)
Baldung Grien, Hans Descanso da Sagrada Kunsthistorisches Pieridae (Pieris sp.) / outros
Família na fuga para o Museum, Viena
(1484/85-1545) Egito
Balen, Hendrik van Pan perseguindo Syrinx The National Gallery, Coenagrionidae (Pyrrhosoma nymphula) / outro
(1615) London
(1575-1632)
Beert, Osias Natureza-morta com Gemäldegalerie, Berlin Nymphalidae (Inachis io) / Aeshnidae
cerejas e morangos (1608)
(ca. 1580-1624)
Bermejo, Bartolomé Pietá do Canon Luis Despla Catedral de Barcelona, Pieridae (Pieris sp.), Papilionidae
(1490) Barcelona
(ca. 1440-1501)

120
Bloemaert, Abraham Cristo e a samaritana Museum of Fine Arts, St. Pieridae (Pieris sp.), Nymphalidae (Vanessa cardui)
(1624-1626) Petersburg
(1564-1651)
Bloemaert, Abraham Vênus e Adônis (1632) Statens Museum for Pieridae (Pieris sp.), Nymphalidae (Vanessa cardui)
Kunst, Copenhagen
(1564-1651)
Bosch, Hieronymus O Jardin das delícias Museo Del Prado, Madri Borboleta Nymphalidae (Aglais urticae) / outros

(ca. 1450-1516)
Bosch, Hieronymus Jesus entre os doutores Narodni Galerie, Praga Nymphalidae (Aglais urticae) / outros
(ca. 1480)
(ca. 1450-1516) (relacionada
a)
Bosschaert, Ambrosius, o Grande vaso de flores Nationalmuseum, Nymphalidae (Inachis io) / Anisoptera / outros
Velho (1573-1621) Estocolmo
Bosschaert, Ambrosius, o Corbelha de flores com The J. Paul Getty Nymphalidae (Vanessa atalanta) / Anisoptera / outros
Velho (1573-1621) insetos Museum, Malibu
Bosschaert, Johannes Corbelha de flores com The J. Paul Getty Nymphalidae (Vanessa atalanta) / Anisoptera / outros
insetos Museum, Malibu
(ca. 1610-1650)
Bosschaert, Johannes Corbelha de flores com Musée du Louvre, Paris Nymphalidae (Vanessa atalanta), Lycaenidae (?) /
insetos Zygoptera
(ca. 1610-1650)
Bruegel, o Velho, Pieter A queda dos anjos Musées Royaux des Papilionidae (Papilio machaon)
rebeldes (1562) Beaux-Arts, Bruxelas
(1525-1569)
Brueghel de Velours, Jan Buquê de flores Kunsthistorisches Pieridae (Pieris sp.), Nymphalidae (Vanessa cardui) /
Museum, Viena outros
(1568-1625)
Cleve, o Velho, Joos van Adoração dos Magos (ca. Gemäldegalerie Alte Nymphalidae (Inachis io)
1526/28) Meister, Dresden
(ca. 1485-1540)
Cosimo, Piero di Vulcano e Éolo (ca. 1490) National Gallery of Papilionidae (Iphiclides podalirius) / outro
Canada, Ottawa
(ca. 1462-1522)
Cranach, o Velho, Lucas, Descanso na fuga para o Staatliche Museen, Berlin Pieridae
Egito (1504)
(1472-1553)
Dürer, Albrecht Adoração dos magos Galleria degli Uffizi, Pieridae (Pieris sp.), Nymphalidae (Vanessa cardui) /
(1504) Florença outros
(1471-1528)
Dürer, Albrecht São Jerônimo penitente The National Gallery, Pieridae
London
(1471-1528)
Dürer, Albrecht (1471-1528) Madona com o íris The National Gallery, Pieridae / outro
(relacionada a) London
Floris I, Frans A queda dos anjos Köninklijk Museum Nymphalidae / outro
rebeldes (1554) voor Schone Kunsten
(1519-1570) Antwerpen, Antuérpia

121
Gentile, Francesco da A Virgem com menino ou Musei Vaticani, Vaticano Papilionidae (Iphiclides podalirius)
A Virgem da borboleta
(segunda metade do século
XV ao início do XVI)
Haarlem, Cornelis Cornelisz. A queda de Lúcifer / A Statens Museum for Nymphalidae (Nymphalis sp.) / Anisoptera
van (1562-1638) queda dos Titans (1588) Kunst, Copenhagen
Haarlem, Cornelis Cornelisz. A queda (1592) Rijksmuseum, Amsterdã Pieridae (Pieris sp.), Nymphalidae (Aglais urticae)
van (1562-1638)
Heem, Jan Davidsz. de Guirlanda com flores e Koninklijk Museum Pieridae (Pieris sp.), Nymphalidae (Vanessa Atalanta)
insetos voor Schone Kunsten, / outros
(ca. 1606-1683) Antuérpia
Heem, Jan Davidsz. de Retrato alegórico de Musée des Beaux-Arts, Pieridae (Anthocharis cardamines), Nymphalidae
Guilherme III de Orange Lyon (Vanessa atalanta) / outros
(ca. 1606-1683)
Heem, Jan Davidsz. de Natureza-morta com Museo Thyssen- Pieridae (Anthocharis cardamines), Nymphalidae
flores em um vaso de Bornemisza, Madri (Vanessa atalanta) / outros
(ca. 1606-1683) vidro e frutas (ca. 1665)
Heemskerck, Maerten van Descanso na fuga para o National Gallery of Art, Pieridae
Egito (ca. 1530) Washington
(1498-1574)
Heer, Margareta de Natureza-morta com um Christie’s / Coleção Nymphalidae (Vanessa atalanta) /Anisoptera / outros
repolho vermelho Particular
(1600-1665)
Hemessen, Jan Sanders van Vanitas (entre 1535 e Palais des Beaux Arts, Papilionidae (Papilio machaon)
1540) Lille
(ca. 1500-1560)

Kessel, Jan van Os quatro elementos Musée des Beaux-Arts, Pieridae (Pieris sp.), Nymphalidae (Vanessa atalanta)
Estrasburgo / outros
(1626-1679)
Kessel, Jan van Natureza-morta Vanitas National Gallery of Art, Pieridae (Pieris sp.), Nymphalidae / outros
Washington
(1626-1679)
Leyden, Aertgen Claesz. van A tentação de Santo Antão Musées royaux des Pieridae (Pieris sp.), Nymphalidae (Vanessa atalanta)
(ca. 1498-1564) (ca. 1530) Beaux-Arts de Belgique,
Bruxelas
Leyden, Aertgen Claesz. van O Sermão (1530) Rijksmuseum, Amsterdã Anisoptera / outro
(ca. 1498-1564)
Luini, Bernardino Madona com o menino, The John and Mable Anisoptera
São Sebastião e São Roque Ringling Museum of Art,
(1480-1532) (Madona da libélula, ca. Sarasota
1520/22)
Mantegna, Andrea Afresco com anjos da Palácio Ducal, Mantua Nymphalidae, Papilionidae, Pieridae
Camera Picta
(ca. 1431-1506)
Memling, Hans O Juízo Final (entre 1467 Muzeum Narodowe, Nymphalidae (Aglais urticae, Vanessa atalanta) /
e 1471) Gdansk Aeshnidae / outro
(ca. 1430-1494)

122
Mestre de Frankfurt O pequeno Jardim do Städelsches Kunstinstitut, Pieridae (Pieris sp.) / Anisoptera
Paraíso (c. 1410) Frankfurt

Mestre de Nuremberg do A dispersão dos apóstolos Alte Pinakothek, Nymphalidae (Aglais urticae) / outro
círculo de Pleydenwurff (ca. 1465/70) Munique
Mestre de Saint Giles Virgem com o menino The Metropolitan Aeshnidae
com uma libélula (ca. Museum of Art, Nova
(ativo ca. 1490-1510) 1500) York
Mestre do Altar Augustiniano A visão de São Bernardo Germaniches Calopterygidae (Calopteryx splendens)
(1487) Nationalmuseum,
Nuremberg
Mignon, Abraham Gato derrubando um vaso Musée des Beaux-Arts, Nymphalidae (Inachis io) / Aeshnidae, outros
de flores Lion
(1640-1679)
Montagna, Bartolomeo Pietá (ca. 1500) Santuario di Monte Papilionidae (Iphiclides podalirius)
Berico, Vicenza
(1449/50-1523)
Oosterwijk, Maria van Vaso de tulipas, rosas e Cincinnati Art Museum, Nymphalidae (Vanessa atalanta, outra) / Anisoptera /
outras flores com insetos Cincinnati outro
(1630-1693) (1669)
Oostsanen, Jacob Cornelisz Saul e a feiticeira de Endor Rijksmuseum, Amsterdã Anisoptera / outros
van (1472-1533) (1526)
Pisanello, Antonio Retrato de princesa d’Este Musée du Louvre, Paris Pieridae (Colias croceus), Nymphalidae (Vanessa
(entre 1435 e 1449) atalanta), Papilionidae (Iphiclides podalirius)
(ca. 1395-1455)
Schrieck, Otto Marseus van Borboletas, lagarto, Musée Rolin, Autun Pieridae (Pieris sp., casal em cópula), Nymphalidae
pássaro e libélula em um (Inachis io, Vanessa sp., Nymphalis sp.) / Aeshnidae
(1619-1678) cardo
Seghers, Daniel A Virgem e o menino Musée Fabre, Pieridae (Anthocharis cardamines), Nymphalidae
Jesus com São Leopoldo, Montpellier (Vanessa atalanta) / outros
(1590-1661) imperador da Áustria, em
uma guirlanda de flores
Seghers, Daniel (ca. 1590- Vaso de vidro com flores e Coleção Particular Pieridae (Pieris sp.), Nymphalidae (Vanessa Atalanta)
1661) borboletas

Spranger, Bartholomeus Vênus e Adônis (1592) Rijksmuseum, Amsterdã Pieridae [?], Nymphalidae (Vanessa sp.)

(1546-1611)
Weiden, Rogier van der Madona (1470/75) Saint Louis Art Museum, Pieridae
St. Louis
(1400-1464) (relacionada a)

123
RESUMOS

PERCEPÇÃO URBANA, SUBURBANA E RURAL DE ARANHAS COMO


PRAGAS DOMÉSTICAS: UM ESTUDO NO ALTO PANTANAL
Arno Rieder
Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT); Empresa mato-grossense
de Pesquisa Assistência e Extensão Rural. Rua Rui Barbosa, 370, Caixa Postal
152, Bairro Monte Verde, CEP 78200-000, Cáceres, Mato Grosso, Brasil. E-mail:
riederarno@gmail.com

Resumo

Revelar percepções sobre as “aranhas como pragas domésticas importantes” (APDI)


em face do risco à saúde e ao bem-estar em geral das pessoas. As percepções de
moradores sobre APDI foram verificadas em três zonas habitacionais (urbana-Z1,
suburbana-Z2 e rural-Z3,) de Cáceres (Mato Grosso, Brasil), sendo a parte de campo
executada entre julho e dezembro de 2001. A zona Z1 foi representada pelo bairro
central, Z2 por cinco bairros sorteados e Z3 por três comunidades rurais sorteadas
entre as do município. Os dados foram colhidos “in situ”, através de entrevistas e
observações efetuadas nas ocasiões de visitas-de-estudo aos moradores (339), com
base num questionário-guia semiestruturado. As APDI foram incluídas menos
(11%) por moradores urbanos (Z1) e igualmente mais (31%) por suburbanos
(Z2) e rurais (Z3). A maioria (95,6%) inclui APDI entre outras importantes e não
isoladamente. Os que incluíram APDI residiam 68% do tempo dos que não as
incluíam. Moradores com escolaridade de 1º grau (ensino fundamental) incluíam

124
APDI mais que os de 2º grau (ensino médio), enquanto analfabetos e de 3º grau
(ensino superior) em proporções intermediárias. A inclusão ou não de APDI
entre as demais esteve associada com alguns aspectos do peridomicílio, mas não
com outros. As aranhas são consideradas importantes pragas domésticas nas áreas
estudadas, independente de serem ou não peçonhentas, por perturbarem o bem
estar das pessoas. Mas nem sempre percebidas e associadas de forma semelhante
entre zonas habitacionais, provavelmente por razões ambientais e culturais.

Palavras-chave: Percepção, animais venenosos, controle de pragas, aranhas,


saúde da família.
Introdução
A saúde é um fenômeno social, coletivo e de interesse público, sendo afetada
pelas concepções e práticas populares, resultantes das interações entre outras, das
condições ambientais, socioeconômicas e culturais da coletividade envolvida.
Os múltiplos fatores e agentes, assim como as muitas combinações destes,
instituem certo estado de saúde individual ou coletivo em algum lugar, em
determinado tempo, embora mutável. Entre os múltiplos agentes estão animais
que afetam negativamente o bem-estar e, consequentemente, a saúde. Estes,
genericamente, são denominados de pragas. O homem ao se expor e interagir
inadequadamente com estes animais pode ser contaminado por agentes patogênicos,
azucrinado, amedrontado, horrorizado, parasitado, ferido, intoxicado, afetado em
sua saúde também outros impactos.
Havendo dano efetivo, sustentado por estudos adequados, segundo Tajano
e Silveira (2008), o controle se justifica. Mas devem visar restauração de níveis
aceitáveis anteriores de diversidade; controle de enfermidades; eliminação ou
diminuição de riscos e de incômodos, de perdas econômicas, arquitetônicas,
artísticas e de outros campos dos interesses humanos. Também devem evitar
eminentes e futuros.

125
No ambiente em que o homem se abriga, usa, age e se movimenta, animais
em interação eventual ou cotidiana podem evoluir para se transformar em
pragas, e passarem a afetar substancialmente a sua saúde e a qualidade de vida.
Portanto, pragas – tipos, as condições de sua ocorrência e seu controle, devem ser
considerados também pela área da Saúde Coletiva. Podem afetar a coletividade
assim como estar relacionadas ao contexto ambiental, socioeconômico e cultural,
inclusive a concepções e práticas populares. Entre as pragas importantes, tem-se
as aranhas, cujo principal pânico está relacionado a crença de serem peçonhentas
indistintamente e pelo risco de ofensa por estas, cujas seqüelas possam ser
profundas ou levar até à óbito.
Aranhas, do reino Animália, filo Arthropoda, classe Arachnida, ordem Araneae,
possuem várias famílias (GOODARZI et al., 1998). Algumas são importantes à
saúde coletiva. Há rica diversidade de espécies no Brasil (TRENTINI, 2005; MUSEU
PARAENSE EMILIO GOELDI, 2003; CALLIL; PENHA, 2004). Continuam se
descobrindo novas espécies, inclusive no Alto Pantanal (RAIZER et al., 2005).
Em um estudo recente foram descobertas novas espécies e novas ocorrências de
espécies para Mato Grosso. Suspeita-se haver influência amazônica ao sul do Alto
Pantanal, como Cáceres (47% fauna-amazônica), e aumento em direção ao norte
(Indiavaí-75%; Reserva do Cabaçal-82%; Jauru-86%) (RAIZER et al., 2005).

Conceitos de pragas, e de aranhas-pragas

Resumindo a abordagem de vários trabalhos (TRENTINI, 2005; RIEDER,


1987; RIEDER et al., 2003; COSTA NETO, 2004; PAZ SILVA; COSTA NETO,
2004), popularmente praga significa ente (animal, vegetal, fungos) que atrapalha,
compete, assusta, amedronta, incomoda, causa dano, dissemina e provoca
doenças, invade, faz mal, envenena, ojeriza, dá prejuízo, azar, causa desconfiança,
entre outros enfoques perniciosos. Um ou mais indivíduos podem ser pragas ao
causar desde um dano simples, único ou coletivo e até fatal (RIEDER et al., 2003).
126
Pragas domésticas são indesejáveis em nosso lar e pragas urbanas, no meio
urbano (RIEDER, 1987). Na cultura popular, praga e inseto podem ser sinônimos
(COSTA NETO, 2004; PAZ SILVA; COSTA NETO, 2004) e as aranhas, às vezes, são
identificados como tal (PAZ SILVA; COSTA NETO, 2004; NORONHA; CENTA,
2005), inclusive citados assim em trabalhos de mestrado (MORAIS, 2006). Outro
trabalho considera aranhas como pragas por proliferarem em local insalubre em
escolas (SCHUMACHER; ZOTTI, 2007).
Em manejo integrado (EMBRAPA, 2007), uma espécie é praga enquanto sua
ocorrência e ação causam danos expressivos. Esta espécie é afetada por fatores
naturais de mortalidade o que também determina sua densidade populacional
(dp) e, consequentemente, os estragos causados por sua ação, o que estabelece
níveis de danos: NDE- econômicos ou efetivos; NC- de controle. A população
da espécie também pode estar em nível de equilíbrio (NE) no ecossistema que
habita. Em geral, a densidade da espécie-alvo (dpa) é dinâmica variando entre
os três níveis (NE, NDE e NC). O conceito de espécie como praga é dinâmico.
Tem-se pragas-chave (dpa>NDE), pragas esporádicas (dpa≤NDE) e não-pragas
(dp<NDE). O nível de não-controle (NNC), é a situação quando a dp de inimigos
naturais é capaz de reduzir a dpa abaixo de NDE, dispensando o uso de outros
controles. Porém, o conceito de praga baseado na densidade populacional não é
o mais apropriado quando se trata de animais peçonhentos. Nestes casos (cobras,
aranhas, escorpiões e outros), poucos (abelhas Apis melifera) ou até um único
indivíduo pode ocasionar dano grave ou até mortal.

Determinantes da percepção de pragas

As pessoas se relacionam com os arredores das residências conforme o tipo


de construção do conhecimento destas (OLIVEIRA, 2006). Estudos sugerem
que a educação ambiental faz crianças constatarem que a qualidade de vida e a
presença de pragas urbanas associam-se a lixo doméstico (COLLI et al., 2005).
127
Isto determina as percepções e posturas futuras. Popularmente aranhas são
consideradas pragas na crença de serem peçonhentas. Programas da mídia geram
aversão das pessoas às aranhas, mesmo não sendo peçonhentas.
Perigos vivenciados aguçam a percepção de risco e desencadeia estratégias
subjetivas frente a situações de potencial danoso à saúde (PERES et al., 2004).
A aversão às aranhas pode derivar de lendas, levando-se a matá-las
desenfreadamente (CHECHIM et al., 2006). Por exemplo, associavam-se aranhas
e suas teias, na II Guerra Mundial, a traições e armadilhas (SÁ MOTTA, 1998).
Um estudo em Açores (COSTA, 2007) procurou saber se fatores sócio-culturais
de residentes urbanos e rurais condicionavam percepções sobre riscos com
pragas. Fatores sócio-culturais como idade, escolaridade, profissão ou residência
não afetaram as percepções.

Estudos regionais sobre aranhas-pragas

Um estudo sobre pragas de fundo de quintal na região de Cáceres (MT-BR),


em 1986, mostrou que aranhas estavam entre as cinco mais citadas e entre as de
primeira ordem de importância (RIEDER, 1987b).
Outros estudos em Cáceres mostraram que aranhas estavam entre as pragas
domésticas mais mencionadas por moradores de três zonas habitacionais (11,3-
31,7%) e, entre as quatro mais importantes relatadas por residentes de zonas
suburbana (31,7%) e rural (30,9%) (SILVA et al., 2004a, 2004b).
Em bairros de Cáceres, aranhas foram encontrados tanto peri quanto
intradomiciliarmente e em quantidades similares, seja no início como no final do
período de estiagens (ROCHA et al., 2004a).

128
Fatores influentes à ocorrência de pragas, inclusive aranhas

Pragas estão associadas a maus tratos ambientais e ao modo de vida humano.


Isto favorece o sinantropismo (TRENTINI, 2005). Havendo condições favoráveis
passam a conviver com o homem nos campos, nas cidades e em suas residências.
O acúmulo de lixos e entulho atraem predadores, inclusive aranhas (COLLI et al.,
2005).
Na natureza, os animais, em geral, ocorrem em baixa densidade, sendo
biocontrolados (predadores, parasitas), mas ao acontecer desequilíbrio ecológico
surgem pragas (RIEDER et al., 2003).
Aracnídeos são predadores generalistas, incluindo insetos e pequenos
vertebrados em suas dietas e aproveitam microhabitats das moradias humanas;
com alimento e sem ameaça se instalam com êxito, passando a ser sinantrópicos
(BRAZIL et al., 2005). Ambientes agrícolas, áreas vegetadas e cidades oferecem
nichos para abrigarem animais capazes de causar injúrias ao homem (SALOMÃO
et al., 2005).

Pragas nas zonas habitacionais

A concepção e o tipo de pragas mais importantes nas clássicas três zonas


habitacionais (Z1-urbana; Z2-Suburbana; Z3-Rural) podem divergir devido às
próprias diferenças das zonas. No Brasil, divide-se o espaço de municípios em
três zonas: urbana, suburbana e rural.
Há divergências conceituais na definição de perímetros urbano e rural
brasileiro (TAVARES, 2003). O perímetro urbano indica o limite oficial entre as
áreas urbanas e rurais. O espaço urbano é mais caracterizado por representar o

129
centro de maior concentração predial (edifícios públicos, comerciais, financeiros
e sociais da sede). O espaço suburbano circunda o urbano, no qual ocorrerá a
expansão da zona urbana.
O espaço periurbano também surge do crescimento urbano de forma difusa,
ocupando áreas periféricas da cidade (VALE, 2005), em que se misturam
agricultura, residências e atividades urbanas. A urbanização e modernização
transformam as relações campo-cidade e pressionam o meio rural.
Em um estudo (LIMA-CAMARA et al., 2006) sobre ocorrência de mosquitos
Aedes, os principais critérios para agrupar os bairros em três categorias (urbanos,
suburbanos e rurais) se basearam no(a): nível de urbanização e saneamento,
densidade populacional humana e cobertura vegetal. Áreas urbanas têm alta
densidade populacional, baixa cobertura vegetal, ruas asfaltadas, fornecimento
contínuo de água e coleta de lixo periódica; áreas suburbanas têm densidade
populacional menor que as urbanas, cobertura vegetal maior, quintais com
árvores frutíferas e ruas quase sempre desprovidas de calçamento; áreas rurais
possuem densidade demográfica baixa em relação às demais, casas esparsas,
menos edificações e habitantes por área de referência, e vegetação abundante.
Estas diferenças podem afetar o perfil de pragas ocorrentes.
Um estudo de animais-pragas em três zonas habitacionais de Cáceres (da SILVA
et al., 2004) constatou que entre os cuatro mais freqüentes nas residências, alguns
eram de ocorrência comum (mosquitos, formigas) embora não necessariamente
com freqüência similar. Mas outros não eram os mesmos em determinadas zonas
(baratas: Z1 e Z2; ratos: Z1 e Z3; aranhas: Z2 e Z3). Nas três zonas, a proporção
de ocorrência de pragas vetoras e das não-vetoras de patógenos foi concordante
(SILVA et al., 2004b). Já os animais peçonhentos foram mais citados em Z3
(52,8%) que em Z1 (28,2%) (SILVA et al., 2004a). Os principais foram: escorpiões
(4,9-22,5%), serpentes (2,8-26,8%), marimbondos (1,8%), aranhas (11,3-31,7%),
lacraias (4,1%); a proporção de citação pode estar relacionada a fatores que
as afetam nos domicílios (SILVA et al., 2004a). No meio rural nem sempre os
agricultores conseguem fazer combate eficaz de pragas domésticas e por isto
130
continuam causando danos (CECONI, 2007).

Principais aranhas peçonhentas

Algumas aranhas são peçonhentas, outras não. As peçonhentas podem


produzir vítimas fatais. Três são os principais gêneros que provocam acidentes
no Brasil: Phoneutria, Loxosceles e Latrodectus (CHEMELO, 2004). Os acidentes
por aracnídeos, entre os artrópodes, causam maior morbidez e mortalidade
(RIBEIRO, 2007).
Em síntese: as do gênero Phoneutria (aranha-armadeira) causam acidentes
no manuseio de material de construção e ao calçar sapatos; deixam na picada
dois pontos de inoculação e dor local; podem desenvolver, em vítimas, alterações
sistêmicas (taquicardia, hipertensão arterial, sudorese, visão turva, vômitos
ocasionais); fazem o veneno atuar nos canais de sódio afetando o sistema nervoso
(CHEMELO, 2004).
As do gênero Loxosceles (aranha-marrom) causam os acidentes mais graves
no Brasil, pois o veneno inflama o local da picada, obstrui pequenos vasos, produz
edema, hemorragia e necrose; em acidentes graves, necrosam os tecidos entorno
da picada; em algumas espécies (L. laeta) possuem veneno mais ativo na hemólise
que as L. gaucho ou L. intermedia (CHEMELO, 2004). Habitam locais escuros
quentes e secos (armários, atrás de quadros, entulhos) (PARANÁ, 2006).
As do gênero Latrodectus (viúvas-negras) tem várias espécies (L. curacaviensis,
L. gemetricus, L. mactans) cujas fêmeas picam ao serem apertadas, enquanto os
machos não causam acidentes (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001). A “síndrome
latrodectísmica” se traduz em dor, edema e hiperemia local, sudorese, agitação,
ansiedade, parestesia, mialgia, dificuldade de ambulação e hiperemia ocular,
podendo ocorrer lesões nos rins, fígado, baço, linfonodos, timo e nas suprarrenais
(SOUZA et al., 1998). Em relação à L. mactans, o veneno da espécie L. curacaviensis
131
é de baixo risco (CHEMELO, 2004).
As aranhas caranguegeiras (Theraphosidae) causam medo, mas não possuem
importância médica (CHEMELO, 2004); no máximo irritam a pele e mucosas
devido aos pelos urticantes; seu veneno é pouco ativo no homem.

Papel ecológico das aranhas

Aranhas, peçonhentas ou não, são importantes no equilíbrio ambiental. São


predadoras potenciais de pragas, estabilizando populações de outros artrópodes
(RINALDI, 2005).
Em Cáceres alguns moradores reconhecem as aranhas como predadores de
pragas, mantendo-as em ambientes praguejados por moscas, mosquitos e baratas
(MENDES et al., 2004).

Acidentes e relação sócio-ambientais

Acidente de latrodectismo (viúva-negra) pode ser consequente da expansão


urbana (SOUZA et al., 1998). Em Garulhos (SP), entre 1993-2003, de 1.920
acidentes por peçonhentos, 464 (24,16%) foram por aranhas, perdendo apenas
para escorpiões (60,20%); a época de maior ocorrência se deu na estação chuvosa
(outubro-maio); enquanto os bairros da periferia, os homens e a faixa etária de 15
e 40 anos foram os mais atingidos (SALOMÃO et al., 2005 ).
Em Botucatu (SP), entre 1999-2004, o número de acidentes por aranhas foi
menor apenas que por escorpiões (GARCIA et al., 2006).
Outra pesquisa (SOBREIRO-GONÇALVES et al., 2007) revela que as aranhas
132
causaram 41% de acidentes entre peçonhentos em meio urbano, podendo estar
associado a ausência de cinturão verde, induzindo migração de áreas abertas
para bairros pequenos e pouco vegetados, acentuando o risco de acidentes. A
ocupação desordenada do território pode aumentar a incidência de picadas por
peçonhentos.
Áreas urbanas podem ter mais acidentes por aranhas, quando sofrem alterações
significativas em curto prazo na fisionomia, e não as mais populosas (SALOMÃO
et al., 2002). A prevenção eficaz de acidentes associa-se à Educação Ambiental.
Outro estudo (TRENTINI, 2005) cita que acidentes loxoscélicos ocorrem
por carência de conhecimentos sobre as aranhas (aparência-hábitos-prevenção),
desconhecimento das conseqüências da picada (sintomas-gravidade-providências)
e falta de informação sobre os locais de tratamento médico.
No Paraná, o aumento de acidentes Loxocélicos ocorre mais nos meses de
calor; temperaturas acima da média aumentam o metabolismo intensificando a
caça (PARANÁ, 2006).

Cuidados e controle de aranhas

É necessário distinguir aranhas peçonhentas de outras. Recomenda-se revistar


e sacudir roupas e calçados antes de vesti-los; vistoriar locais antes de botar as
mãos e pés. Devem ser eliminados os fatores favoráveis. Acidentes peçonhentos
são problemas de Saúde Pública (SALOMÃO et al., 2005), devendo ser tratado
porpolíticas públicas (TRENTINI, 2005).
Manter residências arejadas, evitar entulhos nos quintais, vistoriar roupas,
toalhas, lençóis e cobertas antes de dormir e ao levantar da cama, são ações
preventivas recomendadas (PARANÁ, 2006). Picadas são mais frequentes na
noite, quando buscam alimentos.
133
Identificar fatores determinantes do aumento populacional da espécie-praga
e agir eliminando as causas que os favorece, são medidas de controle eficazes
(RIEDER et al., 2003).
O combate à aranhas-marrom baseia-se em manter limpo o domicílio e
inspecionar os objetos preferidos por estas; vedar frestas e buracos na casa, não
pendurar roupas em paredes e manter os armários limpos (PARANÁ, 2006).
Lagartixas, no intradomicílio, são importantes predadores de aranhas. A
lagartixa Gymnodactylus darwiini é um predador de artrópodes, inclusive de
aranhas (TEIXEIRA, 2002). Hemidactylus mabouia (Gekkonidae) pode controlar
aranhas Loxosceles em residências (RAMIRES; FRAGUAS, 2004).
Formigas tocandiras (Dinoponera quadriceps) (ANDRADE et al., 2003), cupins
(DUARTE et al., 2008) e aves, como a curicaca (Theristicus caudatus) e sabiá-
laranjeira (Turdus rufiventris) (OLIVEIRA JUNIOR, 2005), também se alimentam
de aranhas. Popularmente, o cavalo-do-cão (Hymenoptera, Pompilidae) é um
agente controlador de aranhas, em especial caranguejeiras (Theraphosidae) (PAZ
SILVA; COSTA NETO, 2004).
Moradores de cinco bairros de Cáceres, entre 2003-2005, usaram métodos
de controle Não-químico (68,9%); Químico (13,3%) e Associado Não-químico
+ Químico (17,8%) com proporção similar de adotantes entre os trimestres
avaliados (1º, 2º e 3º trimestres de 2004), preferindo capturar aranhas e remover
seus abrigos (47).

Tratamento de acidentes aracnidicos

Os sintomas das picadas de escorpião são semelhantes aos das aranhas com
veneno neurotóxico, sendo importante saber distingui-las, para providenciar
tratamento adequado (ANDRADE; PASQUALETTO, 2002).
134
O tratamento de latrodectismo é com neostigmina bloqueando efeitos
neurotóxicos, e com gluconato de cálcio para reduzir a dor e os espasmos
musculares; além do uso de analgésicos, ansiolíticos e miorrelaxantes (SOUZA et
al., 1998).
Em caso de acidentes com aranhas (Phoneutria, Loxosceles e Latrodectus) os
tratamentos podem ser encontrados em manuais próprios (MINISTÉRIO DA
SAÚDE, 2001) e palicadas sob o rientação de profissionais habilitados.
O saber popular revela coisas interessantes, como a cultura Caiçara: “banha
de lagarto serve prá mordida de cobra, de aranha” (NUNES, 2003).

Objetivos deste trabalho

Revelar percepções de moradores de três zonas habitacionais (rural, suburbana


e urbana) do município de Cáceres, Mato Grosso, sobre “aranhas como pragas
domésticas importantes” (APDI) entre outras ocorrentes. Estudar possíveis
relações destas percepções com fatores sociais, econômicos e ambientais. Para
tal, na introdução, efetuam-se também considerações gerais sobre aranhas
peçonhentas.

Material e Métodos

Este trabalho sobre APDI é parte dos estudos sobre pragas domésticas em
Cáceres (Projeto PDC), tendo sido realizadas visitas “in situ” para coletar dados
de campo entre jul-dez de 2001 com 339 famílias de sete comunidades (casuais),
pertencentes a três zonas habitacionais de Cáceres, Pantanal Norte, Mato Grosso,
Brasil As zonas são: Z1: urbana; Z2: Zona suburbana; Z3: Zona rural. A coleta
135
baseou-se num questionário semiestruturado (parte I - de caracterização sócio-
econômica e ambiental; parte II – caracterização das pragas e fatores associados;
parte III – de medidas de prevenção e controle das pragas). Na parte II - a questão
básica foi: Em sua casa aparecem pragas? (Se sim, cite as mais importantes; seguido
de questões caracterizadoras, de revelação de associações e de conseqüência -
como danos a saúde e ao bem estar). As pragas foram citadas pelo nome popular,
sem limitação de quantas. As caracterizações técnicas das pragas basearam-se na
bibliografia especializada. Constituiu-se um banco eletrônico de dados.
Foram efetuadas análises e testes paramétricos (Anova, F, Duncan) e não-
paramétricos (Qui-quadrado). As comparações efetuadas, através de testes, levam
a aceitar (a>0,05) ou rejeitar a hipótese de nulidade - H0 (a<0,05) permitindo
concluir, respectivamente, se há ou nãodiferença [significante (0,01≤a<0,05) ou
altamente significante (a<0,01), assinalados no texto por um* ou dois** asteriscos,
respectivamente]. Quando há rejeição da Ho, pelo teste de Duncan as diferenças
ou similaridades são indicadas, respectivamente, por letras distintas ou iguais em
sobrescrito aos valores comparados. Para este estudo foram selecionados os dados
referentes à APDI e respectivas associações com outras variáveis de interesse
analítico.
A participação dos informantes foi consentida livremente após os devidos
esclarecimentos e aos entrevistados foi assegurado sigilo de identidade a suas
informações.

Resultados e Discussão

Reinos e classes das pragas domésticas em três zonas habitacionais


Com poucas exceções (3/339), os moradores das zonas (Z1,2,3) indicaram
ser afligidos por pragas domésticas importantes. A presença de uma até dez
pragas foi indicada por 336 moradores. Listaram pragas de três Reinos (Fungi:
136
Z1@Z2@Z3@29,3%; Plantae: Z1: 56,7%; Z2: 80,7%; Z3: 85,0% e Animalia: Z1@
Z2@ Z3@99,1%). Só o reino Plantae apresentou proporção distinta (c2; a=0,000)
nas zonas. Esta diferenciação é coerente com outros estudos (27), pois em Z1 há
menos vegetação em relação às demais. Representantes dos reinos Fungi foram
menos incluídos (29,3%) e de Animalia incluídos por quase todos os informantes
(99,1%). O reino Animalia teve a classe Insecta (96,8%) como mais citada,
seguido da Arachnida (37,5%), com proporção similar (c2; a>0,05) nas três zonas.
As terceira e quarta classes mais referidas distintamente nas três zonas foram a
Mammalia (Z1=23,9%; Z2=15,9%; Z3=30,9%) e a Reptilia (Z1=4,2%; Z2=2,8%;
Z3=25,2%). Outras quatro classes de pragas estiveram referidas similarmente
(a>0,05) entre as zonas e em baixo percentual (Chilopoda: 2,9%; Amphibia: 0,9%;
Diplopoda: 0,3%; Aves: 0,3%).

Aranhas como pragas domésticas importantes (APDI)

Dos que mencionaram pragas, 245 (72,9%) e 91 (27,1%) moradores,


respectivamente, incluíram e não incluíram APDI. A maioria das aranhas
ocorrentes no Brasil é inofensiva ao homem, com exceção de quatro gêneros que
possuem importância médica (TRENTINI, 2005).
A diferenciação (c2; a=0,003) entre zonas forma dois grupos mais homogêneos
[(F; a<0,01), (Duncan; a= 0,05)]: G1) Z1 (11,3%) com menor proporção de
indicação; G2) Z2 (31,7%) e Z3 (30,9%) similares entre si, mas compondo a zona
de maior proporção de indicações de APDI. Moradores urbanos ao indicarem
menos APDI que os suburbanos e rurais, revelam que as mesmas ocorrem de
forma diferenciada entre as zonas, e ou as concepções culturais sobre as aranhas
dos moradores urbanos, proporcionalmente se distingue entre zonas.

137
Diversidade de pragas

(a) APDI citadas exclusivamente ou não – apenas 4,4% das citações de pragas
foram exclusivamente de APDI, cujas frequências não diferiram (c2; a>0,05)
nas zonas (Z1, 2, 3) revelando que a maioria (95,6%) as incluem entre outras
importantes e não isoladamente.

(b) Rol de pragas importantes, inclusive APDI – no rol das pragas mais
importantes que incluem APDI, identificam-se três categorias de rol (C1: 1 a 3;
C2: 4 a 6; C 3: > 6 tipos de pragas). As proporções de indicação diferiram (c2;
a<0,05) nas zonas Z1 (C1: 12,5%; C2: 50,0%; C3: 37,5%), Z2 (C1: 64,4%; C2:
28,9%; C3: 6,7%) e Z3 (C1: 50,0%; C2: 28,9%; C3: 21,1%). Z1 se distinguiu de Z2
apresentando menos citações em C1 (12,5%) e mais em C2 (50,0%), enquanto Z2
e Z3, similares entre si, menos em C3 (6,7% e 21,1%) e mais em C1 (64,4 e 50%),
constituindo dois grupos mais homogêneos [(F; a = 0,007), (Duncan; a = 0,05)].
Z2 e Z3 em relação a Z1 podem estar se diferenciando mais devido ao nível de
urbanização. A quantidade de pragas importantes pode variar devido a diferenças
culturais nos bairros e zonas, critérios próprios do informante ou ser efetivamente
de amplitude distinta entre bairros e zonas.

(c) Rol de pragas sem, só e com APDI – as pragas citadas em categorias C11-sem
aranhas, C12–só aranhas e C13–aranhas junto com outras pragas, apresentavam
proporções distintas (c2; a < 0,05) nas zonas Z1 (C11: 88,7%; C12: 0,0%; C13:
11,3%), Z2 (C11: 68,3%; C12: 2,1%; C13: 29,6%) e Z3 (C11: 69,1%; C12: 0,8%;
C13: 30,1%). Z1, com maior proporção em C11 e menores em C12 e C13, se
distinguiu de Z2 e Z3 que, por sua vez foram similares, constituindo dois grupos
homogêneos [(F; a < 0,01), (Duncan; a=0,05)]. Em Z1 poucos incluem APDI.
Enquanto o outro grupo, já menos excludente de APDI, apresenta proporções

138
similares nas três categorias para as zonas de Z2 e Z3. Nestes, de cada três
moradores aproximadamente um relata a ocorrência de várias pragas incluindo
APDI, se preocupando mais com estas que os de Z1.

Características dos moradores – escolaridade, tempo de residência e pessoas


na casa

As zonas habitacionais (Zi=1,2,3) se diferenciaram [(F; a < 0,05), (Duncan;


a=0,05)] quanto à escolaridade (Z1>Z2>Z3), idade (Z1=Z3>Z2) e tempo de
residência dos moradores informantes (Z1>Z2>Z3), mas o número médio de
moradores nas residências (1,96) não se diferenciou (F; a > 0,05).
Os tempos médios de residência nas zonas rural e suburbana foram distintos,
respectivamente de 21,5% e 37,1% em relação ao da zona urbana (216,5 meses)
(F=57,109; a=0,000).

Influência do tempo e da escolaridade à inclusão ou não de APDI

Os que incluíram APDI residiam apenas 68% do tempo dos que não as
incluíam, distinguindo-se (F=4,86; a=0,028). Os moradores mais antigos podem
estar mais habituados, menos receosos ou mais cautelosos num meio com
aranhas, que os residentes mais recentes. A média de escolaridade dos que não
incluíam e incluíam APDI entre as demais, foi semelhante (F=1,069; a=0,302), e
os com escolaridadede 1º grau (0,30) incluíam APDI numa proporção bem maior
[(F=2,640; a=0,049), (Duncan; a=0,05)] que os de 2º grau (0,13), na lista de pragas,
enquanto analfabetos (0,22) e de 3º grau (0,25) expressaram-se em proporções
intermediárias. Esta distinção entre 1º e 2º graus fica realçada (c2= 7,827; a=0,050)

139
quando se comparam as frequências das escolaridades dos que incluíam APDI
(Analfabetos: 13,1%; 1º grau: 70,2%; 2º grau: 10,7%; 3º grau: 6,0%) com as dos
que não incluíam (Analfabetos: 16,1%; 1º grau: 54,5%; 2º grau: 23,1%; 3º grau:
6,2%). Os informantes analfabetos (mais em Z3; média > 4 pragas) e também do
3º grau (mais em Z1; média > 4 pragas) apresentavam lista mais ampla de pragas
(incluído APDI) que os de 1º e 2º graus (média < 4 pragas) [(F= 4,828; a=0,004),
(Duncan; a=0,05)]. É possível que a diminuição da escolaridade concorra para
aumentar o risco de acidentes.
A inclusão ou não de APDI, entre as principais pragas, pode estar associada
a determinantes culturais. Estes ou derivações como a sensibilidade ao nojo e
as zoofobias podem ser razões explicativas (COSTA NETO; PACHECO, 2004).
Outros estudos (COSTA, 2007) revelam que a percepção e conceito de pragas
entre moradores de mesmos locais podem não se diferenciar e estar ligado a fatores
sócio-culturais próprio destes, tal como à idade, grau de escolaridade, profissão
ou residência dos inquiridos.
Comunidades dinâmicas podem ter principais diferenças culturais distribuídas
mais dentro dos bairros e serem mais similares entre bairro e zonas. Isto pode
explicar às respostas bastante diversas numa mesma comunidade.

Relação entre vegetação, muro e mosquiteiro com a menção ou não de APDI

A inclusão (S) ou não-inclusão (N) de APDI entre as pragas se mostrou


associada com as variáveis: a) presença de vegetação incômoda (Sim=s; Não=n)
nos arredores (c2; a<0,05), sendo as combinações Ss (85,4%) > Ns (73,6%) e a
Sn (14,6%) < Nn (26,4%); b) presença de muro (Sim=s; Parcial=p; Não=n) nos
arredores (c2;a<0,01), sendo as combinações Ss (17,6%) < Ns (36,2%), Sp (5,4%)@
Np (6,9%) e Sn (77,0%) > Nn (56,9%); c) hábito de uso de mosquiteiro (Sim=s;
Não=n) para se proteger ao dormir (c2;a=0,05), sendo as combinações Ss (16,7%)

140
> Ns (6,9%) e Sn (83,3%) < Nn (93,1%). A menção mais freqüente de APDI na
presença de vegetação que na ausência desta é coerente, pois com o afastamento
dos centros urbanos há mais exposição ao ambiente vegetado. Assim, na zona
rural pessoas ficam mais expostas a animais peçonhentos, incluído aranhas.
A ocorrência de aranhas pode ser favorecida pela escassez luminosidade e
ventilação, tornando o ambiente úmido e insalubre, e pelo lixo nas proximidades
(NORONHA; CENTA, 2005).

Variáveis não-associadas com a menção ou não de APDI entre as demais

A inclusão ou não de APDI entre as demais demonstrou não estar associado


(c2; a>0,05) com as variáveis: a) moradia: material de construção, ambiente, teto,
residentes (nº), alérgicos (nº), uso-de-ventilador, janelas teladas; b) arredores
residenciais: vegetação arbórea/herbácea, entulho, elementos-do-ambiente,
causadores-de-doenças; manutenção-de-limpeza; c) Adoções: simpatia; medidas-
de-controle-de-pragas, inclusive com plantas, dedetização. A vegetação urbana
pode atrair predadores de pragas, mas o manejo inadequado da flora pode afastá-
los.
Aranhas podem ser como não-ser pragas. São importantes no equilíbrio
ecológico, controlando populações de insetos. Possuem inimigos naturais como
aves, anfíbios, répteis, aracnídeos e mesmo insetos, além do homem. Um estudo
(TRENTINI, 2005) em Curitiba leva a sugerir que os acidentes e gravidade destes
podem ser devido ao desconhecimento sobre aranhas, requerendo-se políticas
públicas adequadas, inclusive educativas.

141
Considerações Finais

Mais de 99% dos moradores, nas três zonas habitacionais, citam entre 1 e
10 distintas pragas ocorrentes em seu lar, pertencendo aos reinos Fungi (29%),
Plantae (56-85%) e/ou Animália (99%). A Classe mais citada, similarmente nas
três zonas, foi a Insecta (96,8%), seguida de Arachnida (37,5%). As APDI foram
indicadas menos (11%) por moradores urbanos (Z1) e igualmente mais (31%)
por suburbanos (Z2) e rurais (Z3). A maioria (95,6%) inclui APDI entre outras
importantes e não isoladamente, mas são mais citadas em Z1 na lista de 4-6 pragas
(50%), enquanto em Z2 e Z3 na lista de 1-3 pragas (≥ 50%), diferenciação que
pode estar relacionado ao nível de urbanização. Os que incluíram APDI residiam
apenas 68% do tempo dos que não as incluíam. Moradores com escolaridade
de 1º grau incluíam APDI numa proporção maior que os de 2º grau, enquanto
analfabetos e de 3º grau em proporções intermediárias. Os analfabetos e de 3º grau
apresentavam lista mais ampla de pragas que os de 1º e 2º graus. A inclusão ou
não APDI entre as demais mostrou estar: (a) associada à presença de vegetação-
incômoda nos arredores, presença de muro e hábito de uso de mosquiteiro ao
dormir; (b) não-associada ao tipo de moradia, nº pessoas residentes e de alérgicos,
hábitos de uso de ventilador; manter janelas abertas ou não; também não com
aspectos peridomiciliares como presença de vegetação, entulhos, hábitos de
limpeza; e ainda não com o uso de “simpatia”; medidas-de-controle-de-pragas.
As aranhas estão entre as pragas domésticas mais importantes nas três zonas
estudadas, embora em proporção e associações diferenciadas, significando que
afetam a qualidade de vida destas pessoas, seja pelo risco de acidentes ou pela
aversão que provocam.

142
Agradecimentos

Aos dirigentes da FAPEMAT pelo financiamento do projeto “guarda chuva”


[UPD-Indicadores de risco à saúde humana e ao meio ambiente decorrentes
do uso de pesticidas domissanitários]; Aos demais da equipe do projeto UPD e
apoiadores: Titulares (Drª. Eliana FGdeC Dores, UFMT; Ext. Elicinéia A Fortes,
EMPAER-MT), consultoria (Drª Sandra S Hacon, FIOCRUZ), revisão (Drª Fabiola
ASDP Almeida, UNEMAT) e bolsistas de iniciação científica envolvidos no
período (2001-2003) na execução de campo (acad. Biologia-UNEMAT: Adriele
da Silva, Gustavo L Rodrigues, Maurício F Mendes, Paulo L da Silva, Renata G
Lacerda, acad. de Biologia-UNEMAT).

Referências

ANDRADE, H.P.; PASQUALETTO, A. Epidemia urbana de Tityus serrulatus no


municipio de Trindade-GO. Goiânia, UCG, 2002? Disponível em: http://agata.
ucg.br/formularios/ucg/docentes/eng/pasqualeto/artigos/pdf/artigo_24.pdf [08
Set.2007].
ANDRADE, R.E.S.; SANTOS, H.C.; ARAÚJO, A. Forrageamento e alimentação
em operárias de Dinponera quadriceps (Hymenoptera, Formicidade, Ponerinae)
em ambiente natural. In: Anais do VI Congresso de Ecologia do Brasil,
Fortaleza, 2003. p. 582-4.
BRAZIL, T.K.; ALMEIDA-SILVA, L.M.; PINTO-LEITE, C.M.; LIRA-DA-SILVA,
R.M.; PERES, M.C.L.; BRESCOVIT, A. Aranhas sinantrópicas em três bairros da
cidade de Salvador, Bahia, Brasil (Arachnida, Araneae). Biota Neotropica, v. 5,
n. n. 1, 2005. Disponível em: http://www.biotaneotropica.org.br/v5n1a/pt/abstra
ct?inventory+BN012051a2005 [20 Maio 2007].
143
CALLIL, C.T.; PENHA, J.M.F. Curso de Ecologia de Campo. Cuiabá:
Universidade Federal do Mato Grosso; 2004. 14 7p.
CECONI, D.E. Dossiê de ambiência e transição agroecológica no manejo da
microbacia hidrográfica do Lajeado Biguá, Alecrim-RS. 2007. Dissertação.
Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria.
CHECHIM, S.Z.; ARRUDA, D.A.; FREITAS, T.K. Prevenção de acidentes por
animais peçonhentos. Santa Maria: Universidade Federal de Santa Maria, 2006.
CHEMELLO, E. Aranhas, acrobatas e perigosas. In: Textos Interativos. Caxias
do Sul: Universidade de Caxias do Sul-UCS-NAEQ, 2004.
COLLI, A.; RODRIGUES, D.F.; CORDEIRO, F.F.; BATISTA. I.; CARVALHO,
A.G. Educação ambiental no contexto lixo doméstico e conseqüentes pragas
urbanas. In: Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC–Fortaleza; 2005, Resumo
1077.
COSTA, E.M.C.S.C. Percepções de risco dos cidadãos sobre o impacto das
pragas na Ilha Terceira. 2007. Dissertação. Açores: Campus de Angra do
Heroísmo da Universidade dos Açores.
COSTA NETO, E.M.; PACHECO, J.M. A construção do domínio etnozoológico
“inseto” pelos moradores do povoado de Pedra Branca, Santa Terezinha, Estado
da Bahia. Acta Scientiarum. Biological Sciences, v. 26, p. 81-90, 2004.
COSTA NETO, E.M. Estudos etnoentomológicos no estado da Bahia, Brasil:
uma homenagem aos 50 anos do campo de pesquisa. Biotemas, v. 17, n. 1, p.
117-149, 2004.
DA SILVA A. et al. Os quatro animais mais freqüentemente considerados como
pragas em três zonas residenciais do Município de Cáceres, Mato Grosso, Brasil.
In: Anais do IV Simpósio sobre Recursos Naturais e Sócio-econômicos do
Pantanal. Corumbá, 2004.

144
DUARTE, F.G.; SANTOS, G.A.; ROSADO, F.R.; DELARIVA, R.L.; SAMPAIO,
A.C.F. Cupins (Insecta: Isoptera) na Arborização Urbana da Zona 1 de Maringá
– PR. Revista em Agronegócios e Meio Ambiente, v. 1, n. 1, p. 87-99, jan./abr.
2008.
EMBRAPA–Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária-CNPMS. Sistemas de
Produção, 2. Sete Lagoas: EMBRAPA Milho e Sorgo, 2007.
GARCIA, F.H.T. et al. Avaliação das informações telefônicas atendidas pelo
CEATOX-Botucatu-SP sobre condutas de tratamento em casos de acidentes
humanos causados por animais peçonhentos ou não, no período de 1999 a 2004.
Rev Ciênc Ext, v. 2, Suppl., p. 30, 2006.
GOODARZI, H.; TIRGARI, S.; KAMALI, K.; AKBARI, A. Identification and
classification of seventeen families of Iranian spiders (Arachnida: Araneae).
Journal of Entomological Society of Iran, 16/17, 1998. Disponível em: http://
www.cababstractsplus.org. [08 Jun 2008].
LIMA-CAMARA, T.N.; HONÓRIO, N.A.; LOURENÇO-DE-OLIVEIRA, R.
Freqüência e distribuição espacial de Aedes aegypti e Aedes albopictus (Diptera,
Culicidae) no Rio de Janeiro, Brasil. Cad. Saúde Pública, v. 22, n. 10, p. 5, 2006.
MENDES, M.F. et al. Métodos de controle de pragas domésticas usados em
Cáceres-MT, Brasil. In: Anais IV Simpósio sobre Recursos Naturais e Sócio-
econômicos do Pantanal. Corumbá, 2004.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Manual de diagnóstico e tratamento de acidentes
por animais peçonhentos. Brasília: Fundação Nacional de Saúde, 2001.
MORAIS, G.M.D. Diagnóstico da deposição clandestina de resíduos de
construção e demolição em bairros periféricos de Uberlândia: subsídios para
uma gestão sustentável. 2006. Dissertação. Uberlândia: UFU-FECIV, 2006.
MUSEU PARAENSE EMÍLIO GOELDI. Relatório de Gestão 2003. Belém-
MPEG, 2003.
145
NORONHA, M.G.R.C.S.; CENTA, M.L. Compreensão das famílias de área de
ocupação irregular sobre o meio ambiente e a saúde ambiental. Fam. Saúde
Desenv., v. 7, n. 3, p. 238-249, 2005.
NUNES, M. Do passado ao futuro dos moradores tradicionais da Estação
Ecológica Juréia-Itatins-SP. 2003. Dissertação. Universidade de São Paulo, São
Paulo.
OLIVEIRA JÚNIOR, S.B. Educação ambiental mediatizando os conhecimentos
locais e universais. 2005. Dissertação. Universidade Federal do Mato Grosso-
UFMT/IE, Cuiabá.
OLIVEIRA, R.C. Uso e manejo de recursos nos arredores das residências
de camponeses: estudo de caso na região de Morraria, Cáceres, MT. 2006.
Dissertação. Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá.
PARANÁ. Onda de calor pode aumentar acidentes com aranha-marrom.
Agência Estadual de Notícias-AEN 08 Ago 2006. Disponível em: http://www.
agenciadenoticias.pr.gov.br/modules/news/ [20 Nov.2007].
PAZ SILVA, T.F.; COSTA NETO, E.M. Percepção de insetos por moradores da
comunidade Olhos D’água, Município Cabaceiras do Paraguaçu, Bahia, Brasil
Boln. S.E.A., v. 35, n. 1, p. 261-268, 2004.
PERES, F.; DE LUCCA, S.R.; DA PONTE, L.M.D.; RODRIGUES, K.M.;
ROZEMBERG, B. Percepção das condições de trabalho em uma tradicional
comunidade agrícola em Boa Esperança, Nova Friburgo, Rio de Janeiro, Brasil.
Cad. Saúde Pública, v. 20, n. 4, p. 1059-1068, 2004.
RAIZER, J.; JAPYASSÚ, H.F.; INDICATTI, R.P.; BRESCOVIT, A.D.
Comunidade de aranhas (Arachnida, Araneae) do pantanal norte (Mato Grosso,
Brasil) e sua similaridade com a araneofauna amazônica. Biota Neotrop., v. 5, n.
1a), p. 125-140, 2005.

146
RAMIRES, E.M.; FRAGUAS, G.M. Tropical house gecko (Hemidactylus
mabouia) predation on brown spiders (Loxosceles intermedia). J. Venom. Anim.
Toxins incl. Trop. Dis., v. 10, n. 2, 2004.
RIBEIRO, R.O.S. Análise comparativa estrutural e das propriedades biológicas
das toxinas dermonecróticas recombinantes LiRecDT1, LiRecDT2 e LiRecDT3
dO veneno da aranha-marrom (Loxosceles intermedia). 207. Dissertação.
Universidade Federal do Paraná, Curitiba.
RIEDER, A. et al. Pragas do lar e os pesticidas domésticos. Cáceres: UNEMAT,
2003. 27 p. (Cartilha).
RIEDER, A. Pragas de fundo de quintal no meio urbano. Cáceres: EMATER–
MT, 1987.
RINALDI, I.M.P. Aranhas de uma plantação jovem de eucalipto: diversidade e
predador potencial das espécies arborícolas mais freqüentes. Acta Biol Par v. 34,
n. 1,2,3,4, p. 1-13, 2005.
ROCHA, N.M. et al. Ocorrência e distribuição de aranhas designadas “pragas”
em compartimentos do ambiente doméstico em Cáceres, Mato Grosso, Alto
Pantanal, Brasil. In: Anais do IV Simpósio sobre Recursos Naturais e Sócio-
econômicos do Pantanal. Corumbá, 2004a.
ROCHA, N.M. et al. O controle de aranhas consideradas pragas no ambiente
doméstico em Cáceres, Mato Grosso, Alto Pantanal, Brasil In: Anais do IV
Simpósio sobre Recursos Naturais e Sócio-econômicos do Pantanal. Corumbá,
2004b.
SÁ MOTTA, R.P. O mito da conspiração judaico-comunista. Revista de História,
n. 138, p. 93-105, 1998.
SALOMÃO, M.G.; ALBOLEA, A.B.P.; SOBREIRO-GONÇALVES, E.;
ALMEIDA-SANTOS, S.M. Animais peçonhentos no município de Guarulhos,
São Paulo, Brasil: incidência de acidentes e circunstâncias com vistas a sua
147
prevenção Publs. Avulsas do Instituto Pau Brasil, n. 8-9, dez. 2005.
SALOMÃO, M.G.; MORAIS, V.C.; AURICCHIO, P. Ofidismo e araneismo
da região do Alto Tietê, Estado de São Paulo, Brasil. Publicações Avulsas do
Instituto Pau Brasil de História Natural, n. 5, p. 1-9, 2002.
SCHUMACHER, M.G.S.B.; ZOTTI, A.S. Levantamento e catalogação de fontes
primárias e secundárias da história da educação no município de Concórdia.
Revista HISTEDBR On-line n. 2, p. 243-255, 2007.
SILVA, P.L. et al. Pragas vetores de agentes causadores de doenças em três zonas
habitacionais no município de Cáceres, Mato Grosso, Brasil. In: Resumos do
XXV Congresso Brasileiro de Zoologia. Brasília: UnB, 2004b.
SILVA, P.L. et al. Animais peçonhentos considerados pragas em três zonas
habitacionais no município de Cáceres, Mato Grosso, Brasil. In: Resumos do
XXV Congresso Brasileiro de Zoologia. Brasília: UnB; 2004a.
SOBREIRO-GONÇALVES, E.; SALOMÃO, M.G.; ALMEIDA-SANTOS, S.M.
O uso do monitoramento espaço-temporal da expansão urbana no diagnóstico
de áreas passíveis de risco epidemiológico peçonhento em Guarulhos-Estado
de São Paulo, Brasil. In: Anais do 13º Simpósio Brasileiro de Sensoriamento
Remoto. Florianópolis: São José dos Campos-INPE, 2007. p. 3171-3178.
SOUZA, A.R.B.; BUHRNHEIM, P.F.; LIMA, C.S.C. Report of a case of
latrodectism occurred in Manaus, Amazonas, Brazil. Rev. Soc Bras Méd Trop, v.
31, n. 1, 1998. Disponível em: http://www.scielo.br/ [17 Nov.2007].
TAVARES, L.A. As fronteiras físicas do espaço rural: uma concepção normativo-
demográfica. R. RA´E GA, v. 7, p. 33-46, 2003.
TEIXEIRA, R.L. Aspectos ecológicos de Gymnodactylus darwiini (Sauria:
Gekkonidae) em Portal do Ipiranga, Linhares, Espírito Santo, Sudeste do Brasil.
Bol. Mus. Biol. Mello Leitão (N.Ser.), n. 14, p. 21-31, 2002.

148
TRAJANO, E.; SILVEIRA, L.F. Conservação, ética e legislação brasileira: uma
proposta integrada em defesa dos animais não-humanos. Cienc. Cult., v. 60, n. 2,
p. 27-33, 2008.
TRENTINI, R.P. Fatores antrópico-ambientais determinantes para o aumento
de acidentes loxoscélicos no município de Curitiba – Paraná. 2005. Dissertação.
Universidade Federal do Paraná, Curitiba.
VALE, A.R. Expansão urbana e plurifuncionalidade no espaço periurbano do
município de Araraquara (SP). 2005. Tese. Universidade Estadual Paulista, Rio
Claro.

149
Los “bichos” del chamán. Chamanismo y metamorfosis de
insectos en la zoo-sociocosmología qom

María Celeste Medrano

Universidad de Buenos Aires, Instituto de Ciencias Antropológicas.


Dirección: Rincón 1109, 3ro H. Capital Federal. E-mail: celestezo@hotmail.com

Introducción

En un estudio más amplio en el que intentamos definir la etnozoología qom1,


nuestra conclusión fue que la misma debe ser entendida como una zoo-sociocosmología
(Medrano et al., 2011; Medrano, 2012b). Esta última categoría fue pergeñada
por nosotros para dar cuenta de una zoología que no puede ser concebida al margen
de reglas sociales que se dinamizan en el mismo escenario cosmológico en el que
se piensan los hombres. En el marco de una ontología animista2, donde hombre
y animales poseen una continuidad respecto a su interioridad nos preguntamos
cómo serían pensados o que cuál sería el rol que juegan los artrópodos en general
y los insectos en particular. Si bien en un primer momento estos invertebrados no
parecían tener importancia en la zoo-sociocosmología de estos cazadores, quiénes
se concentraban en las historias de encuentro con grandes mamíferos o los relatos
sobre pesca, advertimos pronto que existen profundas relaciones uniendo a los
hombres con los insectos.
El primer escenario de relacionamiento es el que se produce durante el meleo.
El mismo, ya identificad como de gran preponderancia para los grupos guaycurúes en
general de acuerdo a fuentes jesuíticas y otros documentos históricos (Medrano;
150
Rosso, 2010a y b), continúa representando para los qom (toba) una actividad
significativa para la subsistencia. No obstante, identificamos otro tipo de relación de
estos indígenas con los insectos que se desarrolla en los escenarios chamánicos. Por
último percibimos que es en este grupo animal donde se puede observar con gran
nitidez un rasgo singular de la zoo-sociocosmología qom, el de las transformaciones.
Respecto a lo expresado, resulta indispensable introducir que la
sociocosmología qom está signada por las mutaciones. Los hombres son en
devenir; desde pequeños, e inclusive antes del nacimiento sus progenitores van
construyendo sus cuerpos pero también se van transformando a través del contacto
con otros existentes. En esta serie de cambios, el vínculo con los animales se torna
imprescindible ya que muchas de las características que los humanos desean
incorporar provienen de éstos. Así, la animalidad participa en la construcción
de la humanidad y es vista como un reservorio de buenas aptitudes. Ahora
bien, quienes integran la fauna pueden infundir en las personas determinadas
propiedades sin que éstas lo deseen. En este entorno, metamorfosearse parece
ser la regla que se enmarca en un escenario donde humanos y animales pueden
intercambiar propiedades físicas y metafísicas para devenir.
____________________
Los qom constituyen un grupo indígena de cazadores, pescadores y recolectores que desar-
1

rollan su vida en el Gran Chaco. La región se presenta como una de las grandes unidades
biogeográficas de Sudamérica, la segunda por su extensión luego de la Amazónica. Ocupa
alrededor de 1.000.000 km2 en el sector centro-norte de Argentina, oeste de Paraguay y
sureste de Bolivia. En la actualidad, la región cuenta con diecisiete etnias pertenecientes
a seis familias lingüísticas (zamuco, mataco-maká, guaycurú, tupí-guaraní, maskoy y ara-
wak). Los guaycurúes comprenden etnias cazadoras-recolectoras y pescadoras, entre los se
encuentran los toba.
“Entre otras cosas, el animismo es la creencia de que los seres ‘naturales’ están dotados de
2

un principio espiritual propio y que, por tanto, es posible que los hombres establezcan
con estas entidades unas relaciones especiales” (Descola, 2004: 31), quedando de esta
manera definida una sociabilidad.

151
En este trabajo, analizaremos aspectos de este sistema transformacional
partiendo de un examen de cómo se produce la enfermedad mediada por
“bichos” y como participa el chamán para delinear finalmente metamorfosis de
insectos. El objetivo es demostrar cómo se insertan estos invertebrados en la zoo-
sociocosmología qom.

Materiales y Métodos

Hemos realizado trabajo de campo etnográfico en comunidades qom en la


provincia de Formosa (Argentina) entre 2008 y 2012. En este texto presentaremos
observaciones y relatos obtenidos en Riacho de Oro, San Carlos y Kilómetro 503 del
departamento Patiño y El Desaguadero, El Naranjito, el barrio toba Nlaxayec (La
Paz) y 12 de octubre (ubicados dentro del ejido urbano de la ciudad de El Colorado)
del departamento Pirané, así como en el barrio periurbano Namqom ubicado a 11
kilómetros de la ciudad de Formosa. Si bien la investigación desarrollada en estos
sitios consistió principalmente en métodos etnográficos, también se emplearon
técnicas propias de los enfoques etnobiológicos (sobre el cuestionario cf. Medrano,
2012a) tales como la determinación científica de especies y la identificación de las
mismas junto a los qom en museos y colecciones científicas.

Resultados

Los animales y los “bichos” del chamán

Los qom distinguen entre las prácticas chamánicas (mediadas por un pi’oxonaq –
varón–, o una pi’oxonaxa –mujer–) y las prácticas brujeriles (mediadas por las brujas,
152
conaxanaxae). Las primeras pueden producir la enfermedad y actúan mediante el
envío de objetos cargados de poder o agentes patógenos que deben ser extraídos por
otro chamán quien, por medio de la oración, el canto y la succión, puede curar. El
objetivo no es describir el sistema chamánico/ brujeril qom, ya que el mismo ha sido
extensamente examinado en otras obras referidas a los grupos indígenas chaqueños,
sino analizar la naturaleza de los objetos patógenos que, llamados comúnmente
“bichos”, se vinculan con la enfermedad y la defunción. Finalmente, nos abocaremos
a entender cómo se relacionan estos datos con la existencia de transformaciones
potenciales que transversalizan la cosmología toba.
Tola expresa que “el cuerpo del chamán es la sede de entidades poderosas” (2012:
202). Estas últimas, en palabras de la autora, son partes constitutivas del cuerpo y la
personalidad del chamán y se materializan como objetos de poder. Dichos objetos
de poder son llamados piguishic y exhiben un comportamiento ambiguo: por un
lado, conforman las entidades de los chamanes y, por otro, provocan la enfermedad
cuando son enviados por un pi’oxonaq al cuerpo de una persona. Chaumeil, al
referirse a las “flechas mágicas”, enuncia que se tratarían tanto de un principio
de conocimiento, un saber, como un poder patógeno o terapéutico (1995: 28). El
chamán toba que cura a la persona extrayendo un piguishic adquiere más poder a
través de un proceso de domesticación3.
En base a nuestra información, los pighishic adoptarían principalmente la forma
de insectos o gusanos. Por ejemplo, Isabel (LP) narró que en una oportunidad
fue necesaria la intervención de un pi’oxonaq para atender a un pariente suyo ya
desahuciado por la enfermedad. Este chamán sacó “un bicho negro de la panza
[del enfermo], era como una catanga4 de cinco o seis centímetros de largo” que
3 Miller aclara que “los chamanes coleccionan estos objetos extraños como ‘trebejos de po-
der’” (1979: 33); Tola amplia enunciando que “el chamán que se apodera de las entidades
ajenas debe primero domesticarlas. Esta domesticación se produce cuando el chamán ex-
trae los pighishic del paciente e intenta ingerirlos para apoderarse de ellos” (2012: 203).
4 Se usa el zoónimo vernáculo “catanga” para nombrar a diversos insectos del orden Coleop-
tera, familia Carabidae que poseen glándulas odoríferas como Galerita collaris o Calosoma
sp. (Juanita). También se llama así a hemípteros de la familia Pentatomidae, como Nezara
viridula (chinche verde), que pulverizan sustancias de olor desagradable cuando se las mo-
lesta.
153
puso en la mano de Isabel para demostrarle cuál era la causa del mal. Como
puede apreciarse, los bichos del chamán al tiempo que producen la enfermedad
conforman porciones de poder que él emplea para enfermar a otros o para curar.
Estos bichos, si bien presentan generalmente la forma de insectos poseen una alta
capacidad de transformación.

Transformaciones de insectos

Como parte de la exploración en campo sobre las transformaciones que incluían


a distintos animales, comenzamos a recopilar información que se vinculaba con
cómo ciertas especies se metamorfoseaban en otras. Este aspecto de la zoología
qom, que nunca había sido tratado para los grupos indígenas chaqueños, nos
llamó la atención primero por su novedad y segundo, porque nos percatamos,
profundizando en nuestras indagaciones, sobre lo extendido del fenómeno. Al
mismo tiempo, en busca de referentes teóricos con quienes discutir nuestros datos,
advertimos la existencia de una serie de trabajos que analizaban la concepción de
las metamorfosis animales entre grupos indígenas de Nueva Guinea (Bulmer,
1968; Bulmer; Menzies, 1972; 1973; Dwyer; 1976), Indonesia (Ellen,
1985; Forth, 1998) y México (Hunn, 1977). Finalmente, hallamos que Eraldo
Medeiros Costa Neto (2004) había descripto y analizado explicaciones campesinas
sobre la transformación de insectos en el Estado de Bahía, en Brasil.
De esta manera, sistematizamos nuestra información (Cuadro 1) para realizar
un análisis que nos ayude a dar cuenta del fenómeno y compararlo con lo
encontrado por otros autores. No obstante, nuestra decisión fue no circunscribirnos
a aquellas metamorfosis de insectos porque entendemos que en la práctica existe
un potencial transformacional que engloba a todos los animales (inclusive a
humanos) y porque buscamos el concepto qom que nos permita formular una
explicación anclada en nociones ontológicas más generales.

154
Cuadro 1: Transformaciones (las flechas indican la dirección de la transformación.
ZV: refiere a transformaciones zoológicamente válidas; zi: a transformaciones
zoológicamente inválidas).
Transformación Caso Primer estado Segundo estado Dirección y

validez
Animales en 1 Qochel Toxotoq (mariposa) → ZV
animales
Larva de Alabama argillacea Alabama argillacea
2 Qochel Qoloichiqui’ → zi

Larva de Lepidoptera Hymenoptera


3 Llepaxai Qoloichiqui’ → zi

Orthoptera Hymenoptera: Sphex sp.


4 Qochel Losoq → zi

Larva de Lepidoptera Hymenoptera


5 Nvio’ Nvio’ lo’o → zi

CICADIDAE Hymenoptera
6 Lashe Aiat (mosquito) → ZV

Varias larvas acuáticas Culicidae


7 Poxollaxa Miỹo → ZV

Varias formas inmaduras Leptodactylus sp.


8 Pac (bagre sapo) Coloxoloxo (sapo) → zi

Trachelyopterus sp. Bufo sp. y Chaunus sp.

9 Iguana Masalaxa (yarará) → zi

Tupinambis sp. Bothrops sp.


10 Lagartija Viyic late’e (víbora coral) → zi

SCINCIDAE entre otras Micrurus pyrrhocryptus


11 Chigoxonaxa (rata) Micai (murciélago) ↔ zi

Rodentia Chiroptera

155
Vegetales en 12 Agallas en Curupí Ncoga (tábanos) → zi
animales
Formas inmaduras de Tabanidae
Homoptera y CYNIPIDAE
13 Excremento de herbívoros Ỹamoc lalaxat → zi

Scarabaeidae

Costa Neto (2004) fue el primero en registrar los conocimientos sobre


transformaciones que tienen los campesinos bahianos. El autor, que se refiere a estos
procesos como “biotransformaciones”, documentó diversos casos de metamorfosis
de insectos5. Nuestro interés es interpretar las transformaciones de animales en
animales o de vegetales en animales en el marco más general de una ontología
que posibilita la mutación de la forma. A lo largo del texto demostraremos que las
metamorfosis corporales pueden ser temporarias o permanentes, intencionales o
no, mediadas por factores climáticos o independientes de ellos. Las metamorfosis
responden a una concepción del ser que deviene en un entorno en el que las
fronteras ontológicas que separan a los existentes son tenues. Esta propiedad
permite que la forma –el régimen corporal– pueda intercambiarse, combinarse
o modificarse anclado en una interioridad que no expresa la adscripción a un
determinado colectivo sino la pertenencia a la sociedad qom.

Consideraciones Finales

Tola afirma que la “noción de metamorfosis corporal está en consonancia con


una concepción no esencialista en la que los seres, sus cuerpos y el mundo en general
pueden cambiar su apariencia constantemente” (2010: 140, traducción nuestra).
En este trabajo nos dedicamos a detallar aquellas metamorfosis contemporáneas
Costa Neto divide las transformaciones estudiadas por él en tres categorías que agrupan:
5

a: insectos que se originan de vegetales; b: insectos que se originan de otros insectos y c:


insectos que se transforman en otros animales (2004: 281).
156
que conforman parte de la vida de los qom. Las mismas responden a una
concepción del ser que deviene debido a que las fronteras ontológicas que separan
a los existentes son tenues. Esta propiedad permite que la forma –el régimen
corporal–, pueda intercambiarse, combinarse, modificarse y que sea necesario
respetar estrictas normas sociales y preceptos éticos para que no sobrevenga el
caos, la enfermedad o la muerte.
Mediante la acumulación de afirmaciones empíricamente adquiridas, el
conocimiento científico occidental construye una teoría para luego explicar con la
misma, hechos similares. El corpus de saberes tobas se edifica de la misma manera:
se reúnen casos que derivan en supuestos con los que se pueden explicarse nuevos
casos. No debemos perder de vista que en ambas culturas existe un paradigma
que gobierna el universo de la praxis y la theoria que, vinculado con nociones
ontológicas y cosmológicas, organiza los mundos. En palabras de Viveiros de
Castro: “Si hay algo que corresponde de derecho a la antropología no es la tarea de
explicar el mundo de los otros, sino la de multiplicar nuestro mundo” (2010: 211).

Referencias

BULMER, R. Worms that croak and other mysteries of Karam Natural History.
Mankind, v. 6, n. 12, p. 621-639. 1968.
BULMER, R.; MENZIES, J. Karam classification of Marsupials and Rodents.
Journal of the Polynesian Society, v. 81, p. 472-499, 1972.
BULMER, R.; MENZIES, J. Karam classification of Marsupials and Rodents.
Journal of the Polynesian Society, v. 82, p. 86-107, 1973.
CHAUMEIL, J.-P. Del proyectil al virus. El complejo de las flechas mágicas en el
chamanismo del Oeste Amazónico. En: Lagarriga, I.; Galinier, J.; Perrin,
M. (eds.). Chamanismo en Latino América. México: Plaza y Valdés, Universidad
157
Iberoamericana y Centro de Estudios Mexicanos y Centroamericanos, 1995. p.
21-43.
COSTA NETO, E.M. Biotransformações de insetos no povoado de Pedra Branca,
estado da Bahia, Brasil. Interciencia, v. 29, n. 5, p. 280-283, 2004.
DESCOLA, P. Las cosmologías indígenas de la Amazonía. En: Surrallés, A.;
García Hierro, P. (eds.). Tierra Adentro. Territorio indígena y percepción
del entorno. Copenhague: IWGIA, 2004. p. 25-35.
DWYER, P. Beetles, butterflies and bats: species transformation in a New Guinea
Folk Classification. Oceania, v. 46, n. 3, p. 188-205, 1976.
ELLEN, R. Species transformation and the expression of resemblance in Nuaulu
ethnobiology. Ethnos, v. 1-2, p. 5-14, 1985.
FORTH, G. On deer and dolphins: Nage ideas regarding animal transformation.
Oceania, v. 68, p. 271-293, 1998.
HUNN, E.S. Tzeltal Folk Zoology: The classification of discontinuities in nature.
New York: Academic Press, 1977.
MEDRANO, C.; ROSSO, C. La miel hecha cenizas. Aprovechamiento de miel en
grupos indígenas guaycurúes durante el período colonial a partir de la evidencia
de fuentes jesuíticas en el Chaco Argentino. Suplemento Antropológico, v. XLV,
n. 1-2, p. 393-422, 2010a.
MEDRANO, C.; ROSSO, C. Otra civilización de la miel: utilización de miel en
grupos indígenas guaycurúes a partir de la evidencia de fuentes jesuíticas (Siglo
XVIII). Porto Alegre, Espaço Ameríndio, v. 4, n. 2, p. 147-171, 2010b.
MEDRANO, C. Los cuestionarios como herramientas en los trabajos
etnozoológicos: su uso y abuso. Papeles de trabajo, v. 23, p. 59-81, 2012a.
MEDRANO, C. Zoo-sociología qom: de cómo los tobas y los animales trazan sus
relaciones en el Gran Chaco. 2012b. 309 f. Tesis (Doctorado en Antropología) ˗
158
Facultad de Filosofía y Letras. Universidad de Buenos Aires.
MEDRANO, C.; MAIDANA, M.; GÓMEZ, C. Zoología Qom. Conocimientos
tobas sobre el mundo animal. Santa Fe: Ediciones Biológica, Serie Naturaleza,
Conservación y Sociedad, 2011.108 p.
MILLER, E. S. Los tobas argentinos. Armonía y disonancia de una sociedad. México:
Siglo Veintiuno, 1979. 175 p.
TOLA, F. Corps et métamorphose dans une société amérindienne: les Toba du
Gran Chaco. École des hautes études en sciences sociales: Communications, v. 86,
p. 129-143, 2010.
TOLA, F. Yo no estoy solo en mi cuerpo. Argentina: Biblos, 2012. 245 p.
VIVEIROS DE CASTRO, E. Metafisicas canibales. Buenos Aires: Katz, 2010. 258
p.

159
REPRESENTAÇÕES LOCAIS SOBRE INSETOS EM HORTAS
COMUNITÁRIAS E MERCADOS PÚBLICOS DA CIDADE DE TERESINA/
PI

José Ribamar de Sousa Júnior1 & Élison Fabrício Bezerra Lima2

1
Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife/PE. E-mail: riba_
jrsjunior@hotmail.com
2
Universidade de São Paulo, Escola Superior de Agricultura “Luiz de
Queiroz”, Piracicaba/SP.
E-mail: elisonfabricio@hotmail.com

Resumo

Insetos são animais muito comuns e exercem influência bastante significativa na


vida humana. O estudo de como esses organismos são percebidos, conhecidos,
classificados e utilizados por diferentes povos é chamado etnoentomologia. No
Piauí, nenhum estudo etnoentomológico havia sido realizado. Este trabalho tem
o objetivo de reconhecer o pensamento de trabalhadores de mercados públicos
e hortas comunitárias de Teresina/PI sobre os insetos. Os dados foram coletados
entre os meses de junho e dezembro de 2009 em hortas comunitárias e mercados
públicos da cidade por meio de entrevistas semiestruturadas. Foram entrevistadas
100 pessoas (50 homens e 50 mulheres) com idades entre 18 e 86 anos. Segundo a
maioria delas, os insetos são animais que trazem malefícios aos humanos. Como
exemplos de insetos, foram citados vários animais, 34 dos quais pertencentes
taxonomicamente à classe Insecta e 40 pertencentes a outros grupos. Grande
parte dos entrevistados disse matar esses animais quando os encontram.

Palavras-chaves: Etnoentomologia, Insecta, conhecimento tradicional.

160
Introdução

Estudos etnoentomológicos têm se desenvolvido mais intensamente nos últimos


anos, salientando a importância do entendimento da relação seres humanos/
entomofauna. Ainda assim, a pesquisa em Etnoentomologia é relativamente nova
(Costa Neto, 2004), apesar de o conhecimento tradicional sobre os insetos ser
muito antigo (Ruiz; Castro, 2000). De acordo com Posey (1987), os estudos
etnoentomológicos remontam o século XIX com registro da interação entre
populações humanas e os insetos, tendo a tradição oral como significativo veículo
de transmissão de conhecimentos passados de geração a geração (Costa Neto,
2004).
Embora no Nordeste brasileiro haja uma quantidade emergente de trabalhos
voltados à Etnoentomologia (Marques; Costa Neto, 1997; Veiga, 2000;
Dias; Costa Neto, 1999; Lima et al., 1999), no Estado do Piauí nenhum
estudo foi realizado. Dessa forma, a percepção da população piauiense acerca
dos insetos ainda não está documentada. Nesse sentido, faz-se necessário a
realização de um estudo com a temática. Hortas comunitárias e mercados públicos
constituem locais propícios para sua realização, uma vez que os insetos exercem
influência direta nas atividades diárias nesses locais, seja atacando cultivos ou
produtos armazenados para comercialização.
Este estudo foi desenvolvido para responder a seguinte pergunta: como
populações humanas percebem os insetos em horta e mercados públicos de
Teresina? Diante da convivência diária e de aspectos culturais que possam estar
envolvidos, hipotetiza-se que as pessoas apresentam uma diversa percepção e
repugnância pelos insetos presentes em hortas e mercados. Esse trabalho contribui
ainda inventariando os insetos percebidos na vida cotidiana e resgatando valores
e saberes locais da relação homem/entomofauna.

161
Materiais e Método

O estudo foi realizado em Teresina (5º5’21”S- 42º48’58”O), capital do Estado


do Piauí. Para o estudo, visitamos mercados públicos e hortas comunitárias de
Teresina, espaços populares em que os insetos exercem influência direta na lida
diária. Nesses locais, foi entrevistado um total de 100 pessoas, sendo 50 homens
e 50 mulheres, com idade entre 18 e 86 anos, entre junho e dezembro de 2010.
As entrevistas seguiram um modelo pré-estruturado, modificado a partir de Dias
e Costa Neto (2005). Apenas foram entrevistadas as pessoas que consentiram
participar da pesquisa, depois que se sentiram esclarecidas sobre a finalidade e
objetivos do trabalho.
Os locais de entrevista foram as Hortas Comunitárias dos bairros São Joaquim,
Vila Apolônia, Tabuleta, Dirceu Arcoverde, Geovane Prado, além dos Mercados
Públicos dos bairros Centro, Mafuá, Dirceu Arcoverde, Parque Piauí e a CEAPI
(Central de Abastecimento do Piauí) (Fig. 1). Em cada espaço, foram realizadas
10 entrevistas, com cinco homens e cinco mulheres.
Os dados foram analisados e triados segundo interpretação eticista e emicista,
de acordo com Posey (1986).

162
Figura 1. Mapa parcial de Teresina com os respectivos locais de aplicação das
entrevistas.

Resultados

Segundo a maioria dos entrevistados, os insetos são animais que prejudicam


os humanos. Foram atribuídos muitos adjetivos aos insetos (Tabela 1), a maioria
com tom de repugnância, como demonstram as frases abaixo:

“Inseto é um bicho perseguidor” (Dona M., 45 anos).


“Inseto é cobra, lagartixa, carambolo, tudo é inseto” (Seu J.M, 78 anos).
“Mermão, o inseto aqui é o bicho que tá acabando com as folhas do chão. Tem a
minhoca, a lagarta, o búzio da cebola. Vocês já viram o búzio da cebola? Pois é. Ai

163
quando eles chupam ai amarelam as folha tudinha. Ai perde. Tem o imbuá que come
a raiz de folha tudinha por dentro do chão, né? Pois é, é o bicho que prejudica mais
a gente né? Senão prejudica a gente, prejudica as verdura, né?” (Dona A., 64 anos).
“Inseto pra mim é um bicho ruim. Pra mim todo inseto devia ser morto. É como um
estuprador de criança. Deve ser morto, não deve viver não” (Seu H., 52 anos).

Tabela 1. Termos utilizados pelos entrevistados para definir os insetos nas hortas
comunitárias e mercados públicos de Teresina/PI.

Interpretação Eticista Atributos Locais Citações


Perseguidor 4
Prejudicial 12
Destruidor 6
Ruim 6
Nada 1
Amaldiçoado 1
Sem futuro 1
Assombrador 1
Agourento 3
Contaminoso 1
Mordedor 4
Picador 1
NEGATIVO Nocivo Maléfico 4
Lascador 1
Fedorento 5
Devorador 1
Nocivo 1
Venenoso 3
Nojento 6
Praga 2
Ofensivo 1

164
Esteticamente Feio 2
desagradável
Zuadento 1

Acusticamente Atentado 1
Desagradável
Perturbador 3
Inocente ‘
Inofensivo Bom 1
Inofensivo ‘
POSITIVO Esteticamente agradável Bonito 2
Útil Ajuda o solo 2
De futuro 1
Para os entrevistados, todos os animais considerados asquerosos foram
apontados como insetos, corroborando estudos etnotaxonômicos que indicam que
o termo “inseto” é usado como categoria de classificação para vários organismos
não relacionados (Costa Neto, 2004). No cotidiano popular, atribui-se muito
ao termo inseto um sentido pejorativo, como se esses animais somente trouxessem
males ao ser humano. Melo e Costa Neto (1999) demonstraram que as pessoas
percebem os animais como “bichos” que, com raras exceções, apresentam muito
mais aspectos ruins que bons. No nosso trabalho, isso pôde ser observado pelo
maior número de atribuições negativas relacionadas aos insetos (Tabela 1).
Vale ressaltar que os insetos relatados nas hortas diferiram daqules citados nos
mercados públicos. Nos primeiros, foram mencionados mais os que prejudicavam
plantações, enquanto que nos mercados públicos foram citados aqueles que se
alimentam dos produtos à venda.
Uma grande quantidade de animais pertencentes a diversos grupos taxonômicos
foi mencionada como insetos (Tabela 2), evidenciando a ideia de que as pessoas
fazem uma forte associação entre esses animais com valores relacionados ao
perigo. São exemplos: cobra, escorpião, aranha etc. (Tabela 3). Isso corrobora os
dados Dias e Costa Neto (1999).

165
Tabela 2. Identificação taxonômica dos insetos citados pelos entrevistados das
Hortas Comunitárias e Mercados Públicos de Teresina/PI.

Ordem Nome vulgar Pista taxonômica Citações (n)


Blattodea Barata Periplaneta americana 17
Orthoptera Gafanhoto Acrididae 21
Grilo Gryllidae 21
Paquinha (Jonrrói) Gryllotalpidae 13
Esperança Tettigoniidae 13
Isoptera Cupim Isoptera 6
Hemiptera Cascudo (Maria- Pentatomidae 4
Fedida)
Cochonilha Coccoidea 3
Cigarra Cicadidae 18
Barbeiro Triatominae 10
Pulgão Aphidoidea 7
Mosca-Branca Aleyrodidae 4
Soldadinho Membracidae 1
Coleoptera Potó Staphylinidae 6
Gorgulho Polyphaga 3
Gongo Pachymerus nucleorum 4
(larva)
Besouro Coleoptera 2
Lepidoptera Borboletas Hesperiidae, 22
Papilionoidea
Lagarta Lepidoptera (Larvas) 22
Mariposa Noctuidae 20

166
Hymenoptera Formiga Formicidae 20
Formigão saúva Atta spp. 4
(Formiga Mordedeira,
Formiga de roça)
Abelha Apoidea 15
Italiana Apis mellifera 2
Marimbondo Pompilidae 11
Cavalo-do-cão Pompilidae 5
Barata-d’água Belostomatidae 1
Diptera Muriçoca (Ou
borrachudo) Culicidae 5
Mutuca Tabanidae 4
Maruim (Muruim ou Culicidae 4
murucuim)
Mosquito da Dengue Aedes aegipty 10
Mosquito Culicidae 6
Mosca Muscoidea 16
Odonata Libélula (Ou Catiringa) Odonata 7
Thysanura Traça Lepsima spp. 2

Na Tabela 3 podem-se observar alguns animais que foram percebidos como


insetos perigosos, tais como beija-flor, sabiá, urubu, etc. Esta percepção se deve
a algumas crenças associadas a estes animais, como, por exemplo, a de algumas
pessoas acreditarem que se um beija-flor entrar em sua casa e emitir som (“piar”)
é por que alguém da família morrerá. Há também a crença de que os urubus
podem atrair má sorte.

167
Tabela 3. Identificação taxonômica de animais não insetos citados pelos
entrevistados das Hortas Comunitárias e Mercados Públicos de Teresina/PI.

Nome vulgar Pista taxonômica Citações (n)


Fungo Fungi 4
Mofo Zigomycota 1
Minhoca Haplotaxida 2
Sanguessuga Hirudinea 1
Lesma Stylommatophora 8
Caracol Stylommatomorpha 2
Tatuzinho Oniscidea 1
Caramujo (caramujo africano, búzio) Achatina fulica 10
Aranha Aranae 3
Caranguejeira Theraphosidae 1
Escorpião Scorpiones 1
Lacraia Scolopendra sp. 2
Imbuá (Ganguji) Diplopoda 11
Sapo Bufonidae 4
Rã Ranidae 2
Gia Leptodactylus labyrinthicus 1
Carambolo ... 1
Lagartixa (Labigó) Gekkonidae 3
Camaleão Chamaleonidae 4
Iguana Iguana sp. 1
Tijubina Ameiva ameiva 4
Teiu (Tejo) Tupinambis sp. 3
Cobra Serpentes 6
Cascavel Crotalus sp. 1
Sucuri Eunectes murinus 1
Jararaca Bothrops sp. 1
Coral Elapidae 1
Jabiraca (Rabo-Seco) Brothrops neuwiedi 1
Cobra-papagaio Corallus caninus 1
Jacaré Alligatoridae 3

168
Urubu Coragyps atratus 2
Beija-flor Trochilidae 1
Juriti Leptotilia sp. 1
Sabiá Turdinae 1
Gavião Ciconiiformes 1
Cohan (acauã) ... 1
Rato Muridae 7
Gabiru Rattus rattus 1
Onça Panthera onca 1
Cachorro Canis lupus familiaris 1
Ser Humano Homo sapiens sapiens 1
Morcego Chiroptera 2
Capelão Alouatta guariba 1

A correspondência entre a “etnofenologia” dos insetos e a relação entre


fenômenos biológicos e ecológicos, segundo marcos cronológicos e climatológicos
percebidos pelos entrevistados, está apresentada na Tabela 4.

Tabela 4. Correspondência entre a etnofenologia dos insetos e a relação entre


fenômenos biológicos e ecológicos, segundo marcos cronológicos e climatológicos
observados pelos entrevistados das Hortas Comunitárias e Mercados Públicos de
Teresina/PI.

Marco Fenômenos biológicos e Hipóteses citadas


Cronológico e ecológicos
Climatológico
Inverno* Reprodução “É porque é a época que eu acho que tá
mais frio, elas saem pra se reproduzir, né
não?” (Dona M.S., 45 anos).
Esconderijo “É porque chove muito e eu acho que eles
procuram onde se esconder, até passar a
chuva” (Seu F., 48 anos).

169
Condições ambientais “Acho que é por causa da molhadeira, né
não?” (Dona A.M, 59 anos).
“Acho que é porque tá molhado e eles
acham bom” (Dona F.C., 67 anos).
Condições climáticas “Porque ele se dá bem mais é no frio” (R.,
42 anos).
“Acho que é por causa da umidade e da
frieza” (ent. 29).
Preferência de Hábitat “Acho que é por que a terra fica mais
úmida e eles gostam mais” (F.T., 32 anos).
Recurso disponível “Acho que é por causa da água” (Dona
M.J., 58 anos).
Entre final do Recurso disponível “Eu acho que é porque eles gostam muito
inverno e início do de água” (Dona M.S., 61 anos).
verão
Período chuvoso Reprodução “Porque eles se reproduzem mais na época
da chuva” (Seu E., 62 anos).
Todo tempo Recurso disponível “Aqui é todo tempo, porque tem muito
mato” (Dona M.D., 57 anos).
“Aqui é todo tempo, porque tem muita
comida pra eles” (entrevista 36).
Abril a Junho Condição climática “Porque o tempo tá frio, quando esquenta
vão se escondendo” (Dona A.A., 64 anos).
Maio a Junho Condição climática “É que depois é só o solzão” (entr. 22).
Verão* Condição climática “É a quentura. Eles gostam mais do calor
que do frio” (Dona C., 38 anos).
“É porque tá tudo enxuto” (Seu M., 54
anos).
Fim das chuvas Condição climática “É o período que eles mais gostam” (R.R.
28 anos).
De Julho a Condição climática “Gostam do período mais quente porque
Dezembro no inverno a chuva bate, o vento tira e
vai limpando o que tem” (Dona F.T., 39
anos).
*Inverno, para os entrevistados, se referia ao verão chuvoso piauiense, que dura de Dezembro
a Junho. O Inverno seco, por conseguinte, é referido como verão, e dura de Junho a Dezembro.

170
A forte aversão humana aos insetos já foi observada por Costa Neto (2004).
A maioria dos entrevistados, quando perguntados sobre o que fazem quando
encontram insetos, disse que os matam (23%). Alguns, no entanto, são indiferentes
(3%) ou não os matam pelo grande número em que os animais aparecem, só
eliminando-os se lhes provocam algum mal (2%). Alguns entrevistados mostram
indiferença (3%), enquanto outros não os matam por acharem repugnantes (1%)
ou rápidos para escapar (2%). Alguns reagem simplesmente afugentando-os (2%).

“Quando eu pego um bocado deles eu machuco um bocado eles. Passo no


chão, fico xingando, que é uma coisa que nem adianta é xingar, mas eu
fico xingando ‘você que tá me acabando, eu acabo com você’, desse jeito.
Eu não tenho pena, se eu pegar ele” (Seu J.C., 64 anos).
“Dependendo do inseto, se eu posso matar eu mato, se não, vai embora”
(Seu J.A, 65 anos).

Considerações Finais

A percepção dos entrevistados sobre os insetos é principalmente de aversão, e


muitos animais citados não pertencem à classe taxonômica Insecta, evidenciando
uma prática etnotaxonômica ou taxonomia popular. Portanto, estudar o
conhecimento tradicional e as representações que as populações desenvolvem
sobre os organismos, neste caso os insetos, mostra-se como uma maneira de
se tentar entender a interação dos seres humanos com outros seres vivos e os
aspectos simbólicos e culturais dessa interação. Oficinas realizadas com as pessoas
locais acerca de aspectos dos insetos seriam de fundamental importância para um
melhor entendimento sobre esses animais.

Agradecimentos

A todos os entrevistados, que disponibilizaram seu tempo, muitas vezes


durante o trabalho, para responderem a entrevista sobre os seus conhecimentos
etnoentomológicos na cidade de Teresina.

171
Referências

COSTA NETO, E.M. Estudos etnoentomológicos no estado da Bahia, Brasil: uma


homenagem aos 50 anos do campo de pesquisa. Biotemas, v. 17, n. 1, p. 117-149,
2004.

DIAS, C.V.; COSTA-NETO, E.M. Uma primeira abordagem etnoentomológica


de hymenóperos (vespas e abelhas) no povoado de Mombaça, Serrinha, Bahia. In:
Resumos do I Encontro Baiano de Etnobiologia e Etnoecologia, Feira de Santana,
1999. p. 37-38.

DIAS, M.A.; COSTA NETO, E.M. “Grilos” (Orthoptera) na percepção dos


moradores de Feira de Santana, Bahia. Sitientibus Série Ciências Biológicas, v. 5,
n. 2, p. 99-114, 2005.

LIMA, K.L.G.; COSTA-NETO, E.M.; MOURA, F P. Etnoentomologia de um


grupo afro-brasileiro da Chapada Diamantina, Brasil. In: Resumos do I Encontro
Baiano de Etnobiologia e Etnoecologia, Feira de Santana, 1999. p. 39-40.

MARQUES, J.G.W.; COSTA NETO, E.M. Insects as folk medicines in the State of
Alagoas. The Food Insects Newsletter, v. 10, n. 1, p. 7-10. 1997.

Melo, M.N.; Costa-Neto, E.M. Ocorrência da etnocategoria ‘inseto’ e


utilização de animais como recursos medicinais no povoado Fazenda Matinha dos
Pretos, Bahia. In: Resumos do I Encontro Baiano de Etnobiologia e Etnoecologia,
Feira de Santana, 1999. p. 55-56.

POSEY, D.A. Topics and issues in Ethnoentomology with some suggestions for the
development of hypothesis-generation and testing in ethnobiology. Ethnobiology,
v. 6, n. 1, p. 99-120, 1986.

172
POSEY, D.A. Temas e inquirições em etnoentomologia: algumas sugestões quanto
à geração de hipóteses. Boletim do Museu Paraense Emili Göeldi, v. 3, n. 2, p. 99-
134, 1987. Série Antropologia.

Ruiz, D.C.A.; Castro, A.E.R. Maya ethnoentomology of X-Hazil Sur y


anexos, Quintana Roo, Mexico. In: Resumos do VII Congresso Internacional de
Etnobiologia, Athens, USA, 2000.

Veiga, D.C.M. Etnoentomologia no semi-árido baiano: um estudo de caso


entre moradores do povoado Fazenda Matinha dos Pretos, município de Feira de
Santana. 2000. Monografia, Universidade Estadual de Feira de Santana, Feira de
Santana.

173
ASPECTOS RELACIONADOS À IMPORTÂNCIA CULTURAL DE ALGUNS
INSETOS NO POVOADO DE PORTO ALEGRE, MARACÁS, BAHIA

Tiago Silva¹, Lilian Boccardo¹, Eraldo Medeiros Costa-Neto2 & Ricardo Jucá-
Chagas3

Laboratório de Zoologia de Invertebrados, Universidade Estadual do Sudoeste


da Bahia.
E-mail: apingorasilva@hotmail.com; lboccardo@hotmail.com
2
Laboratório de Etnobiologia e Etnoecologia, Departamento de Ciências
Biológicas, Universidade Estadual de Feira de Santana, Bahia, Brasil. E-mail:
eraldont@hotmail.com
3
Laboratório de Ecologia, Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Brasil.
E-mail: rjchagas@hotmail.com

Resumo

O presente estudo objetivou investigar os insetos culturalmente importantes


no povoado de Porto Alegre, Maracás, Bahia, à luz da etnoentomologia. Os 35
participantes da pesquisa conhecem, nomeiam e classificam diferentes insetos,
entre eles cigarra, grilo, libélula, louva-a-deus, besouro rola-bosta e besouro serra-
pau. A importância cultural de cada um deles se deve, principalmente, a seus
comportamentos peculiares, tais como sonorização, ecdise, defesa, alimentação,
reprodução e herbivoria.

Palavras-chave: Insecta, etnobiologia, etnozoologia, saberes locais, conservação.

Introdução

Além do conhecimento acadêmico sobre o mundo natural, existem outros


desenvolvidos por diferentes comunidades que nomeiam e classificam a

174
biodiversidade de acordo com critérios próprios (Diegues, 2000). Estes saberes,
segundo Albuquerque (2007), são frutos da prática cotidiana, dos afazeres e da
pluralidade cultural das populações humanas que vivem e se adaptam aos mais
diversificados ambientes. Assim, os estudos da tênue interface dos conhecimentos
acadêmicos e tradicionais com relação aos insetos, p. ex., têm sido realizados à luz
da etnoentomologia, um ramo da etnozoologia que visa registrar a percepção, os
conhecimentos, as classificações, a importância cultural, o papel em contos, mitos
e crenças, a origem, os usos e o valor econômico destes animais (Pasinato,
2003).
Este tipo de abordagem está intrinsecamente relacionado à conservação da
biodiversidade, pois o conhecimento de como os seres humanos interagem com a
fauna pode somar esforços para a contenção do ritmo acelerado de degradação da
natureza. Deste modo, este estudo objetivou registrar os nomes e os motivos
pelos quais alguns insetos são considerados importantes no povoado de Porto
Alegre, Maracás, BA com exceção daqueles reportados por Silva et al. (2009, 2010)
como relevantes em termos econômicos e medicinais na referida localidade.

Métodos

O estudo foi realizado no povoado de Porto Alegre, Marácas, Bahia (13°51’S;


40°37’O), uma comunidade pesqueira localizada às margens da Barragem da Pedra,
cuja vegetação predominante é a caatinga. Os dados foram obtidos no período de
agosto de 2007 a julho de 2008, por meio de entrevistas abertas e semiestruturadas,
além de observações comportamentais (ad libitum). As entrevistas seguiram a
abordagem etnocientífica com enfoque emicista-eticista, que duravam cerca
de uma hora e ocorriam em diferentes espaços sócio-culturais. Com base na
Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, um Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido foi lido e distribuído entre os indivíduos. O grupo amostral foi
constituído de 17 indivíduos do gênero masculino e 18 do gênero feminino, cujas
idades variaram de 7 a 84 anos.

175
Resultados e Discussão

No povoado de Porto Alegre os insetos, de maneira geral, são muito conhecidos


e observados pelos moradores. Porém, alguns deles, tais como himenópteros,
isópteros e ortópteros apresentam maior relevância. Os méis e as ceras das abelhas,
assim como ninhos de cupins, corpos e pernas de grilos, p. ex. têm importância
terapêutica (Boccardo et al., 2010). Outros insetos, entretanto, causam
aversão e nojo, e outros por sua vez, causam admiração por sua morfologia ou
comportamento.
Neste sentido, a cigarra (Homoptera) foi muito comentada durante as
entrevistas. Os aspectos mais citados referem-se ao canto e ao processo de ecdise
que foi explicado, por uma informante, com uma estória:

“É que a mãe tava chamando ela e, ela tava bem cantando. Depois a mãe falou:
tomara que ela era de cantá, até pocá pela costas” (Dona C., 68 anos).

De fato, a sonorização constitui um dos fatores marcantes do comportamento


das cigarras. A região ventral do metatórax do macho apresenta duas placas
que cobrem um sistema de membranas vibratórias e câmara de ressonância.
Uma membrana, o timbale, é colocada em vibração por músculos, e outras
membranas, das câmaras de ressonância, amplificam suas vibrações. O som deixa
o corpo das cigarras pelos espiráculos metatorácicos. O som, produzido durante
o verão, é utilizado para atração de fêmeas e o “pocá pelas costas” refere-se à troca
do exoesqueleto, característica dos artrópodes (Brusca; Brusca, 2007). De
acordo com Costa Neto (2005), em muitas regiões do mundo a cigarra é tida
como um entomoindicador metereológico, pois diferentes culturas associam o
seu canto co­m o inverno e/ou verão.
O grilo (Orthoptera) além de ser utilizado como recurso medicinal, foi
também citado como praga da plantação de milho e pelo seu canto, embora não
tenham fornecido impressões sobre este comportamento: “O grilo canta e come o
milho todo, come o olhozinho do milho, o milho não nasce” (Seu A., 68 anos).

176
O som emitido pelos grilos é conhecido como estridulação e é utilizado para
atrair as fêmeas (Gullan; Kranston, 2008). Costa Neto (2003) relata que,
para os moradores do povoado de Pedra Branca, se o grilo cantar direto, sem
parar, sinaliza gravidez; se cantar e parar anuncia dinheiro. Cantando dentro de
casa denuncia a morte; dentro do quarto é sinal de doença. Grilo cinza é sinal de
dinheiro e verde, de esperança.
­Os grilos são insetos mastigadores e atacam diversas plantas, dentre elas o
milho. Tem maior importância na fase inicial das culturas, pois as ninfas e os adultos
podem cortar várias plântulas e carregá-las para as suas galerias (Moreira;
Damasceno, 2009).
As libélulas (Odonata) foram referidas pelos moradores com certo humor:

“Nóis conhece pelo um nome tão engraçado de falar [...] lava-bunda [...] anda
baixando nas águas [...] eu não tenho cisma dele não” (Dona M., 70 anos).

O comportamento comentado pelos entrevistados refere-se ao processo de


oviposição. As fêmeas de Odonata depositam seus ovos, encostando o ovipositor
na água, lama, areia ou em tecido vegetal (Gullan; Kranston, 2008),
causando a impressão de que estão “lavando” esta região do corpo.
O louva-a-deus (Mantodea) foi citado com respeito. Segundo os entrevistados,
quando expostos a alguma situação de estresse, eles erguem as duas pernas
anteriores “mãos postas para o céu” como forma de defesa. Essa ação é interpretada
pelos moradores do povoado como um apelo a Deus para não serem maltratados:
“É, eu não gosto de matar quando tá com as mãozinha orando e rezando” (Dona
M., 67 anos). Os Mantodea (do grego “mantis” = profeta e “eidos” = aparência),
conhecidos como louva-a-deus, têm o nome alusivo ao seu comportamento de
defesa que é muito semelhante a de um profeta em oração (Gallo et al., 2002).
O besouro “rola-bosta” ou “enrola-bosta” (Coleoptera, Scarabaeidae), segundo
os informantes, é mais encontrado em pastos e currais. Alguns entrevistados
apresentaram constrangimentos em mencionar o nome popular do inseto:

177
“Ele chega no cocô de animal de gado, ele vai pegando e vindo de costa e faz aquela
bolotinha, aquela bolinha então dá o nome de [...] “(Seu G., 70 anos).

Os besouros rola-bosta recebem esta denominação devido ao comportamento


de formar bolas com o recurso alimentar e de cavar túneis no solo para onde
rodam as esferas de alimento e onde também depositam seus ovos (Silva et al.,
2010).
O besouro serra-pau ou “serrador” (Coleoptera, Cerambycidae) é muito
admirado pelos entrevistados pelo seu comportamento de serrar galhos de árvores:

“O serrador serra quarqué galha de pau [...] o vício dele é esse. Ele é bom carpinteiro”
(Seu T., 69 anos).
“O serra-pau serra com esse negocinho deles aqui na frente (apontando para as
antenas) [...] deve ser um serrotinho dento da boca” (Dona M., 67 anos).

Na fala de vários entrevistados, o “serrotinho” citado refere-se às antenas, mas


eles não sabem ao certo com qual estrutura o besouro “serra” os galhos e troncos
de árvores já que ora se referem às antenas, ora se referem à boca. Segundo Maia et
al. (2003), os coleópteros cerambicídeos cortam troncos ou galhos de plantas para
a oviposição utilizando mandíbulas especializadas como aparatos cortadores.

Considerações Finais

Os insetos culturalmente importantes para os moradores do povoado de


Porto Alegre são animais que apresentam comportamentos peculiares, tais como:
sonorização, ecdise, defesa, alimentação, reprodução e herbivoria. Os nomes
populares atribuídos às espécies citadas são também utilizados e reconhecidos
pelas Ciências Naturais.
Os insetos são componentes importantes das pirâmides tróficas em virtude
da massa absoluta de indivíduos nas populações. Eles se alimentam e incorporam
muito mais energia que os animais vertebrados nas mesmas comunidades de
maneira que a supressão destes animais influenciaria significativamente na

178
dinâmica dos escossistemas (Triplehorn; Jonnson, 2011).

Referências

ALBUQUERQUE, P.U. Povos e paisagens: etnobiologia, etnoecologia e


biodiversidade no Brasil. In: ALBUQUERQUE, U.P.; ALVES, Â.G.C.; ARAÚJO,
T.A.S. (Org). Recife: NUPEEA/UFRPE, 2007.

BOCCARDO, L. et al. Insetos na medicina popular do povoado de Porto Alegre,


Maracás, Bahia. In: COSTA NETO, E.M.; ALVES, R.R. (Org.). Zooterapia: os
animais na medicina popular brasileira. 1ª ed. Recife: NUPEEA, 2010, v. 2, p.
209-215.

BRUSCA, R.C.; BRUSCA, G. J. Invertebrados. 2ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara


Koogan, 2007.

COSTA NETO, E.M. Etnoentomologia no povoado de Pedra Branca, município de


Santa Terezinha, Bahia. Um estudo de caso das interações seres humanos/insetos.
2003. 251 f. Tese (Doutorado em Ecologia e Recursos Naturais) – Universidade
Federal de São Carlos.

COSTA NETO, E.M. O uso da imagem de insetos em cartões telefônicos:


considerações sobre uma pequena coleção. Boletín de la SEA, Zaragoza, v. 36, p.
317-325, 2005.

DIEGUES, A. C. Etnoconservação da Natureza: enfoques alternativos. In:


Etnoconservação: novos rumos para a proteção da natureza nos trópicos. 2ª ed.
São Paulo: Nupaub-USP, 2000.

GALLO, D. et al. Entomologia agrícola. Piracicaba: Fealq, 2002. 920 p.

179
GULLAN, P.J.; Cranston, R.S. The insects: an outline of entomology. Oxford:
Blackwell Science, 2008. 470 p.

MAIA, A.C.D et al. Padrões locais de diversidade de Cerambycidae (Insecta,


Coleoptera) em vegetação da Caatinga. In: Ecologia e conservação da caatinga.
Recife: Ed. Universitária da UFPE, 2003.
MOREIRA, H.J.C.; ARAGÃO, F.D. Manual de Pragas do Milho. Campinas: FMC
Agricultural Products, 2009. 132 p.

PASINATO, R. Aspectos Etnoentomológicos, socioecconômicos e ecológicos


relacionados à cultura da erva-mate (Ilex paraguariensis) no município de Salto
do Lontra, Praná. 2003. Dissertação (Mestrado) Escola Superior de agricultura
Luiz de Queiroz.

SILVA, P.G et al. Importância dos besouros rola-bosta (Coleoptera: Scarabaeidae:


Scarabaeinae) para o município de Bagé, Rio Grande do Sul. Revista Congrega
Urcamp (CD-Rom), v. 4, p. 1-11, 2010.

SILVA, T.R et al. Formigas e Vespas na concepção dos moradores do povoado


de Porto Alegra, Maracás, BA. In: Resumos do XVII Encontro de Zoologia do
Nordeste. Piauí, 2010.

SILVA, T.R et al. Os insetos culturalmente importantes na concepção dos


moradores do povoado de Porto Alegre, Maracás, BA. In: Resumos do V Encontro
Nordestino de Etnoecologia e Etnobiologia. Recife, 2009. 

Triplehorn, C.A.; Johnson, N.F. Estudos dos Insetos. 7ª ed. São Paulo:
Cengage Learning, 2011.

180
Arrival of The Insect Movie Stars - Commentary on
The Animated Movie “A Bug’s Life” from The Aspect
of Cultural Entomology Providing Insight for
Instruction of Entomological Knowledge, Insect
Conservation and Management Practice

Kenta Takada

3-13-29, Takejima, Nishiyodogawa-ku, Osaka City, 555-0011, Japan.


E-mail: athemus99@yahoo.co.jp

Abstract

This is a review of an animated movie A Bug’s Life, which breaks out of the
past general findings that insects can scarcely achieve popularity or star status
in the movies, from the aspects of cultural entomology, which contributes to
provide much insight into our current attitudes towards insects, and thus enable
to apply for instruction of entomological knowledge, insect conservation and
management practice. This movie succeeds in making attractive insects starring
characters, resulting from CG-animated technology, proper use of entomological
backgrounds and the assignment of a part for each insect associated with the
ecology and symbolism of the insect. As a whole, in this movie, many ideas seem
to be used to facilitate a sympathetic response from many people toward insects,
which are generally ignored and disliked, and thus we can probably find many
hints for instruction of entomological knowledge concerning insect conservation
and management practice in the movies.

Keyword: A Bug’s Life, Insect movie, Cultural entomology, CG-animated


technology, sympathetic response, personification.

Introduction

181
For the insect conservation and management practice, we need to understand
not only ecology and biology of insects but also current attitude of general public
towards insects (Kellert, 1993). The field of cultural entomology examines
the influence of insects on human culture (Hogue, 1987; Mitsuhashi,
2000; Meyer-Rochow et al., 2008; Takada, 2010) and explores which and
how insects are used and perceived in human societies, resulting that cultural
entomology contributes to provide much insight into our current attitudes towards
insects, and thus enable to apply for instruction of entomological knowledge, insect
conservation activity and management practice. Indeed, insects are ubiquitous on
our planet and often used in various ways and meanings in human society, with
the result that insects are represented in various kinds of cultural media, such
as literature (Dunn, 2000, Rutledge, 2003), cartoons (De Jong, 1994), art
(Klein, 2002; Dicke, 2004) and music (Coelho, 2000; 2004).

Insects are also frequently represented in the movies (Mertins, 1986;


Miyanoshita, 2005, 2011), which are one of the most popular type of cultural
media that are enjoyed cheaply, but insects have scarcely gained any popularity or
star status in the movies for the reasons following (Leskosky; Berenbaum,
1988; Berenbaum, 1995; Miyanoshita, 2005, 2011). Firstly, the majority
of the non-scientist public is not familiar with insects due to their size and speed
and also shows a widespread unsympathetic response to insects due to the great
difference between human and insects in terms of morphology and behavior.
Secondly, the uncontrollability of insects by film directors makes it difficult for
insects to play a starring role in the movies. Thirdly, their multiplicity of moving
appendages is unsuitable for depicting insects, and thus insects have rarely become
starring characters even though in animated films. However, the arrival of the
computer animated movie A Bug’s Life breaks out of past findings that insects are
not able to achieve any popularity or star status in the movies (Miyanoshita,
2005, 2011).
A Bug’s Life, which was produced by Pixar and released by Walt Disney Pictures
in the United States on November 25, 1998, is the tale of an oddball inventor ant

182
named Flik who recruits seven circus performers and fights off grasshoppers, who
have made the ant colony their servants. In passing, this movie is inspired by
Aesop’s fable The Ant and the Grasshopper. In addition, it seems that A Bug’s Life is
a straight retelling of The Seven Samurai produced by Akira Kurosawa. In A Bug’s
Life, we find that insects can be attractive movie stars.
The success of A Bug’s Life would not have been possible without the
development of CG-animated technology, which enables insects to become
movie stars at low cost (Miyanoshita, 2005, 2011). Firstly, CG-animated
technology resolves some problems associated with insect morphology to enable
insects to play starring roles. CG-animated technology enables the depiction of
the multiplicity of moving appendages and curved surfaces by tracing reflections
of insects from point light sources. In addition, simultaneously CG-animated
technology also allows insects to be personified properly by deformation of insect
morphology as anthropomorphic reduction, simplification of body parts, and
personification of some body parts, especially eye and mouth parts, which enable
insect characters to make full expressions. Personifying insects seems to be a useful
technique to make people feel sympathy for insect characters, although excessive
personification, in which the attributes of insects disappear, stop the character
from appearing to be an insect. In A Bug’s Life, the degrees of personification are
different among characters. In particular, hero and heroine characters (ants) are
more strongly personified than villain characters (grasshoppers) and the other
supporting characters (such as flies), as pointed out by Miyanoshita (2005). As a
result, these representations facilitate the sympathetic response of audiences to
insect characters, especially the hero and heroine parts. Secondly, CG-animated
technology enables the control of insect “performers” completely by film directors.
Film directors do not need to have any entomological knowledge or techniques to
control insect activity, as in the use of trail pheromones to control ant behavior in
Rhapsody in August, produced by Akira Kurosawa (Miyanoshita, 2005).
A Bug’s Life reflects entomological backgrounds at many turns
(Miyanoshita, 2005), bringing out the attraction of the characters as insects.
For example, the queen ant rears aphids as a pet, drawing on the symbiotic

183
relationship between ants and aphids, and insect characters are attacked or eaten
by a bird, drawing on the prey-predator relationship between insects and birds. A
flying bug is killed by a light trap, reflecting the positive phototaxis of insects to
ultraviolet light. On the other hand, in A Bug’s Life, the entomological background
is ignored for convenience. For example, the existence of male worker ants clearly
contradicts the entomological facts that all worker ants are female in nature, but
facilitates the image of physical labor for the audience. Such ignorance of the
entomological background will facilitate the sympathetic response of audiences
to insect characters, although such ignorance has a risk of causing the audience to
misinterpret the entomological evidence.
A Bug’s Life seems to succeed in assigning a part to each insect to attract the
audience. In A Bug’s Life, hero and heroine characters are ants, which are often
perceived as a symbol of industriousness and organization (Berenbaum,
1995; Kritsky; Cherry, 2000). The colony of ants can be considered both a
microcosm of humans and their world and a lesson in the power of communal
cooperation (Kritsky; Cherry, 2000), facilitating the sympathetic response of
audiences to hero and heroine insects. Miyanoshita (2005) also pointed out that
the social characteristics of ants make it easy for the audience to feel sympathy
toward them. On the other hands, the villains are grasshoppers, especially locusts,
which are considerable agricultural pests in some regions, and the grasshopper
is a symbol of cosmic disorder, notably in the Bible where a plague of locusts
symbolizes the wrath of God by destruction in ancient symbolism (Kritsky;
Cherry, 2000), maybe facilitating the unsympathetic response of audiences
(especially westerners) to villain insects. In passing, it seems that casting a flea as
the leader of the circus troupe is associated with a flea circus, a circus sideshow
attraction.
A Bug’s Life seems to have expedited the arrival of computer animated insect
movies, such as The Ant Bully (2006) and Bee Movie (2007). Also, these movies,
in which insects have achieved popularity or star status, (1) use CG-animated
technology to depict the multiplicity of moving appendages and curved surfaces
by tracing reflections of insects from point light sources, and to control insect

184
“performers” completely, and (2) reflect proper entomological backgrounds,
perhaps following the success of A Bug’s Life.
As mentioned above, in A Bug’s Life and many subsequent computer animated
insect movies, many ideas seem to be used to facilitate the sympathetic response of
many people toward insects, although many people generally demonstrate attitudes
and feelings of fear and aversion or ignorance towards insects (Kellert, 1993),
and thus it is possible that we can find many hints to apply for the instruction of
entomological knowledge, insect conservation and management practice toward
general publics from these movies. For example, we will be able to use illustrations
of properly personified insects with expressions to instruct the biology, ecology,
availability, harmfulness and conservation of insects for the general public, or
the presenting entomological evidence, which is ignored for convenience in the
films, such as sex of ant workers, may be able to stimulate and surprise the general
public because of the gap between the biased image and the facts of insect biology.
Such way of entomological instructions will make easy to learn the entomological
knowledge, insect conservation and management practice for general publics.

Acknowledgments

Finally, I thank Dr. Akihiro Miyanoshita (National Agriculture and Food


Research Organization) for his valuable comments.

Declaration

I declare that I comply with the current laws of the country to study this
survey.

185
References

Berenbaum, M.R. Bugs in the systems. USA: Addison-Wesley Publishing


Company, 1995. 400 p.

Coelho, J.R. Insects in Rock and Roll music. American Entomologist, v. 46, p.
186-200, 2000.

COELHO, J.R. Insects in Rock and Roll cover art. American Entomologist, v. 50,
p. 142-151, 2004.

DE JONG, G.D. Insect cartoons: when do they appear in newspapers and


magazines? American Entomologist, v. 40, p. 149-151, 1994.

Dicke, M. From Venice to Fabre: Insects in western art. Proceedings of


Netherlands Entomological Society, v. 15, p. 9-14, 2004.
DUNN, R.R. Poetic entomology: insects in Japanese haiku. American Entomologist,
v. 46, p. 70-72, 2000.

HOGUE, C.L. Cultural entomology. Annual Review of Entomology, v. 2, p. 181-


199, 1987.

KELLERT, S.R. Values and perceptions of invertebrates. Conservation Biology, v.


7, p. 845-853, 1993.

Klein, B.A. “Par for the palette: Insects and arachnids as art media”. In: Motte-
Florac, E.; Thomas, J.M.C. (eds). Les Insectes dans la tradition orale – Insects
in oral literature and traditions. France: Peeters Bvba , 2002. p. 175-196.

Kritsky, G.; Cherry, R. Insect mythology. USA: Writer Club Press, 2000. 156
p.

186
Leskosky, R.J.; Berenbaum, M.R. Insects in animated films. Not all “Bugs”
are bunnies. Bulletin of Entomolical Society of America, v. 34, p. 55-63, 1988.

Mertins, J. W. Arthropods on the screen. Bulletin of Entomolical Society of


America, v. 32, p. 85-90, 1986.
Meyer-Rochow, V.B.; Nonaka, K.; Boulidam, S. More feared than
revered: insects and their impact on human societies (with some specific data on
the importance of entomophagy in a Laotian setting). Entomologie heute, v. 20,
p. 3-25, 2008.

Mitsuhashi, J. Cultural entomology. The Heredity, v. 54, p. 14-15, 2000. (in


Japanese).

Miyanoshita, A. Roles of Insects in the Movies. House and Household Insect


Pests, v. 28, p. 161-166, 2005. (in Japanese).

Miyanoshita, A. Roles of Insects in the Movies II. Urban Pest Management,


v. 1, p. 147-161, 2011. (in Japanese).

Rutledge, L.C. Emily Dickinson’s arthropods. American Entomologist, v. 49,


p. 70-74, 2003.

Takada, K. Cultural coleopterology: An outline of cultural entomology of


coleopteran insects. Coleopterist’s News, n. 170, p. 13-18, 2010 (in Japanese).

187
O CONCEITO DE “INSETO”: O QUE É “INFORMADO” E “FORMADO”
NAS REVISTAS BRASILEIRAS DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA

Ibhny Vidal Fonseca & Priscila Paixão Lopes

DCBio, Universidade Estadual de Feira de Santana, Feira de Santana


E-mail: ibhny@hotmail.com, pplc29@gmail.com

Resumo

O conceito de inseto vai bem além do conceito científico encontrado nos livros
científicos, que trazem uma descrição formal, abarcando noções que apresentam
influências de sentimentos voltados aos insetos, mais do que o reconhecimento
de uma identidade de grupo taxonômico. A formação do conceito de “inseto”
sofre interferência, portanto, de fontes heterogêneas, formação esta que se dá ao
longo da vida de cada indivíduo como influenciada por relações com familiares,
amigos, grupos sociais, afastando-o significativamente do conceito científico. As
revistas de divulgação científicas foram concebidas para trazer ao público leigo
informações isentas sobre aspectos da ciência e contribuiriam para a formação de
conceitos mais próximos a conceitos científicos. Buscando entender a influência
que revistas de divulgação cientifica têm na formação do conceito de inseto, o
quanto elas podem ser boas fontes para a formação do conceito de inseto próximo
do cientifico, analisamos três das revistas de divulgação científica de maior
circulação nacional. As revistas Ciência hoje, Galileu e Superinteressante, foram
analisadas quanto aos conteúdos de textos e imagens associadas que apresentassem
menções aos insetos, buscando indícios de linguagem e ilustração tendenciosas.
As revistas Galileu e Superinteressante apresentaram o maior distanciamento da
linguagem e ilustração consideradas adequadas à construção de conceito não
tendencioso de insetos, com poucas matérias enfocando insetos e nesses poucos
tendo tendências de menções negativas. A revista Ciência hoje foi considerada
a fonte mais confiável para obtenção de informações sobre insetos, com muitas

188
matérias, maior proporção de menções positivas ou neutras em relação aos insetos
e com ilustração também proporcionalmente mais adequada.

Palavras-chave: Formação de conceitos; integração texto x imagem; análise de


conteúdo.

Introdução

Apesar da Classe Insecta ser a maior do Reino Animal, tanto em diversidade


de espécies quanto abundância, ela é largamente desconhecida do grande público.
Os insetos participam da vida humana em todos os seus ambientes, em interações
agonísticas ou antagonísticas (Borror; Delong, 1988), compondo tanto
o cenário quanto os elementos de admiração e medos humanos. O conceito
de inseto é formado desde a infância a partir de experiências e narrativas dos
indivíduos, sob a influência de família, amigos, tradições e folclore, sendo mais
fortemente influenciado por experiências negativas do que positivas, influenciando
na linguagem, onde inseto passa a ser sinônimo de coisa ruim, insignificante,
miserável. O conceito científico de inseto se baseia em características morfológicas
e evolutivas das espécies do grupo, mas o processo de estabelecimento desse
conceito é influenciado pelos conceitos espontâneos de insetos (sensu Vygotski,
2001), sendo o conceito científico retrabalhado nas escolas formais para que os
estudantes transformem o conceito espontâneo a partir de novos elementos de
conhecimento.
Atualmente, existe consenso que o ensino dos conceitos científicos no âmbito
escolar parte dos conhecimentos prévios que os alunos possuem (Gasparin,
2007; Schroeder, 2008). A composição de novos conceitos não acontece
somente no espaço escolar, mas sim, é uma mescla de elementos formais (escola)
e informais (fora de sala de aula). As revistas de divulgação Científica se propõem
a ampliar a informação da população leiga sobre vários aspectos da ciência,
auxiliando o processo de aprendizado sem, no entanto, se restringir à leitura
orientada por professores. Indivíduos de qualquer faixa etária ou escolaridade

189
podem ter acesso a estas. Como são de fácil acesso, muitos educadores as
vislumbram como fontes alternativas de conhecimento científico, indicando a
realização de pesquisas escolares a partir dessas fontes.
Os meios de comunicação de massa (rádio, a TV, a internet e as revistas) são
essenciais ao papel disseminador da ciência às pessoas leigas, que por atingirem
audiência heterogênea devem prezar por uma produção que consiga conciliar
diferentes interesses para atrair cada vez mais o público. Esses meios possibilitam
ainda a difusão de mensagens para um grande público num espaço de tempo
pequeno. Às vezes os textos trazem informações isentas e corretas ou, pelo
menos, não equivocadas, mas mesmo assim as imagens vinculadas aos textos
são tendenciosas, mostrando insetos em posições, escalas ou representações que
desfazem o efeito positivo dos textos. A combinação de texto e imagem é essencial
ao aprendizado (Pechula, 2007; Silva, 2006a, b).
No caso do ensino sobre os insetos, em que livros didáticos apresentam
conteúdo excessivamente reduzido e viés negativo, acentuando os fatores de
impacto negativo dos insetos sobre o ser humano (manuscr. em prep.), o uso de
uma fonte alternativa para pesquisa escolar passa a ser desejável para melhorar a
formação de conceitos de forma mais próxima ao conceito científico vigente. Em
função disso, buscamos analisar os meios de comunicação que melhor fariam esse
papel, as revistas de divulgação científica, de forma a determinar se estão à altura
dessa expectativa.

Materiais e Métodos

O presente estudo quali-quantitativo correspondeu a uma análise de todos os


artigos e notas publicados em três das mais importantes revistas de divulgação
científica em circulação no país (Ciência hoje [-CH], Superinteressante [=Super]
e Galileu) publicados no intervalo de 2002 a 2010, que mencionassem, de forma
direta ou indireta, os insetos. As matérias foram classificadas de acordo com duas
categorias principais, sendo a primeira referente a tamanho (2 níveis: artigo e nota)
e a segunda referente ao papel do inseto na matéria (3 níveis: tema principal, tema

190
secundário e exemplo do tema tratado na matéria). Cada matéria foi avaliada
quanto ao texto e imagens, quando estas se tratassem de insetos, e como esses
elementos se combinaram. Foram analisados qualidade, cores, dimensão em
relação ao texto e contexto do inseto na imagem. A seguir, foi avaliada a natureza
da menção aos insetos. As matérias foram classificadas em positivas, neutras
ou negativas. Matérias positivas buscavam desmentir equívocos associados
à provocação de medo ou nojo, ou selecionavam fatos, comportamentos ou
associações benéficas. Matérias neutras apresentavam informações científicas sem
apresentar texto tendencioso. Matérias negativas apresentaram texto ou imagem
com viés de preconceito contra os insetos.

Resultados e Discussão

A revista de divulgação que apresentou o maior número de menções a insetos


em artigos e notas no período analisado foi CH (86), seguido de Super (29) e de
Galileu (26).
Num total de 53 notas das três revistas, 17 (32%) foram classificadas como
negativas, e dos 76 artigos, 24 (32%) foram considerados negativos, ou seja, foi
mantida a proporção. Por outro lado, o percentual de menções positivas em artigos
foi maior (45%) do que nas notas (42%). A redução de proporção a menções
neutras em notas e artigos (26% e 24%, respectivamente) mostra que os autores
têm a tendência de tomar partido, dificultando a imparcialidade da informação
para formação de conceitos isentos. A discrepância é maior quando comparadas
as revistas. Na CH o percentual de artigos positivos é de 54% (28 artigos), 27%
neutros (14 artigos) e 19% negativos (10 artigos), demonstrando um viés positivo,
permitindo tanto a formação de conceitos isentos (neutros), quanto buscando a
correção de conceitos negativos a partir de pontos de vista favoráveis aos insetos
(positivos). Padrão semelhante foi registrado nas notas.
Nos artigos de CH foram abordados diversos conteúdos relativos aos insetos,
desde borboletas, com boa aceitação junto ao público, até mosquitos, moscas e
baratas, entre outros, que em geral não têm grande apreço popular. O tratamento

191
dado aos artigos em CH enfocou elementos de biologia e ecologia sem exageros
ou concepções maniqueístas, primando pelo rigor científico e ao mesmo tempo
fazendo a adequação de linguagem para o nível de conhecimento do público
leigo (Ferreira; Queiroz, 2010). Esse rigor faz com que a informação tenha
um caráter neutro ou positivo, com poucos casos de abordagens negativas. O
reforço a ideias positivas facilita o esclarecimento de dúvidas quanto ao caráter
negativo a eles direcionado, auxiliando na desconstrução de conceitos fortemente
depreciativos que se afastam dos conceitos científicos.
Já a Super e na Galileu apresentaram muitos textos superficiais, com
informações descontextualizadas, sem clareza, e com termos preconceituosos,
não distinguindo o imaginário do científico (Tucherman et al., 2010). Essas
revistas reforçaram equívocos, contribuindo para manter um sentimento de
repulsa aos insetos. Procurando tornar a informação mais atraente e fascinante
para o leitor, essas revistas usaram títulos sensacionalistas e imagens chamativas
que descaracterizam a morfologia real do inseto, com representações distorcidas
de insetos, fisionomias e adereços humanos e ampliação exagerada do inseto ou
de partes dele, transmitindo agressividade.
As notas se constituíram uma importante categoria de análise. Elas são
formadas por pequenos textos associadas a imagens ou esquemas na forma de
imagens e por isso são muito convidativas à leitura, principalmente pela tradicional
ausência do hábito de leitura dos brasileiros. De acordo com Marucci (2007), o
Programa Internacional da Avaliação do Estudante (PISA-2003) avaliou o nível
de leitura das crianças brasileiras através de testes aplicados pelo MEC e concluiu
que o problema da falta de leitura é estrutural. Além do atrativo para o leitor que
foge dos artigos com textos longos (que podem variar de duas até cinco páginas),
as imagens nas notas são também muito convidativas. Elas descontraem o leitor,
reforçam o assunto abordado no texto e também dão informações complementares.
As notas foram encontradas em seções destinadas a curiosidades e temas
atuais: na Super a seção “Supernovas” e na CH e na Galileu, a seção “Em dia”. A
CH trouxe notas com maior conteúdo na forma de texto, enquanto que nas outras
duas revistas notas ganharam mais destaque pelos esquemas, ilustrações e outros

192
elementos gráficos.
Nos artigos da Galileu e da Super as ilustrações foram frequentes, com uso
de recursos gráficos e textuais para atrair os leitores com texto objetivo, claro e
de fácil entendimento, fazendo com que não desistam da leitura (Carvalho,
2010). Uma das possíveis razões para essas diferenças entre as duas revistas
supracitadas e a CH, poderia estar no fato que ambas têm preocupação em atrair
um público leigo muito heterogêneo como forma de aumentar suas vendagens e
serem mais atrativas para anunciantes. Assim, perdem em rigor científico devido
ao uso excessivo de elementos gráficos e textuais, ocasionando em perda na
fidedignidade das informações científicas veiculadas. A CH por sua vez, se fecha
a anúncios publicitários de empresas privadas e tem boa parte de seus custos
arcados pelos subsídios governamentais, tendo mais liberdade e rigor científico.
Rigolin (2002) mostrou que a importância e o papel das imagens aumentaram
desde 1998. A partir da consulta com leitores da revista, observou uma melhora na
diagramação e com redução da qualidade do conteúdo, sinalizado na diminuição
dos artigos escritos por cientistas e a indicação de livros para aprofundamento
nos assuntos, fazendo com que a maioria dos leitores ouvidos nesse estudo se
colocassem a favor das mudanças mesmo reconhecendo a qualidade inferior do
conteúdo.
Os textos analisados apresentaram variadas concepções sobre os insetos. A
predominância de textos com terminologia com raízes negativas e a combinação
com imagens de forte impacto, resultaram na interpretação de que as informações
formam conceitos que se distanciam do conceito científico de “inseto”.

Considerações Finais

O material analisado confirmou que revistas de divulgação científicas podem


ser relevantes para formar conceitos dos insetos, tanto direcionando o leitor na
compreensão do conceito correto, como também distorcendo as informações,
confundindo o leitor. As imagens se mostraram importantes meios para mediação
do conhecimento nas três revistas, em muitas matérias carregadas de concepções

193
negativas, mas também em algumas matérias reforçando concepções positivas.
A análise das imagens corroborou o consenso sobre as potencialidades do uso
de imagens na formação de conceitos científicos, que, além do uso meramente
ilustrativo, dialogam com o texto, negando-o, reforçando ideias ou mantendo
independência em relação ao texto.

Nos textos das revistas Galileu e Super foram encontradas analogias


interessantes que potencializavam o entendimento, uso de linguagem científica
com ligação com fatos cotidianos, mas também termos carregados de posturas
preconceituosas e maniqueístas, predominando o viés negativo. Como
apresentaram vícios consideráveis em textos e imagens, não foram considerados
adequados para a construção de conceitos científicos. Podem ser utilizados como
material de referência apenas de maneira cautelosa
A Revista CH apresentou, pelo maior percentual de menções positivas e maior
número absoluto de menções, a condição de melhor referencia para a obtenção de
conceitos científicos referentes aos insetos.

Referências

BORROR, D.J.; DELONG, D.M. Introdução ao estudo dos insetos. São Paulo:
Edgard Blucher, 1988.

CARVALHO, C.P. Divulgação científica nas revistas Scientific American Brasil e


Superinteressante. Inf. Inf. Londrina, v. 15, n.esp., p. 43-55, 2010.

FERREIRA, L.N.A; QUEIROZ, S.L. Contribuições de artigos da revista CH para o


ensino de química. In: XV Encontro Nacional de Ensino de Química (XV ENEQ),
7., 2010, Brasília. Anais eletrônicos... Brasília: Divisão de Ensino de Química da
Sociedade Brasileira de Química (ED/SBQ)/ (IQ/UnB), 2010.

GASPARIN, J.L. A construção dos conceitos científicos em sala de aula (no prelo).

194
In: NARDI, N.L (Org.). Educação: Visão Crítica e Perspectivas de Mudança. 1 ed.
Concórdia - Sc: Edunc - Editora da Universidade do Contestado -SC, 2007, v. 1,
p. 1-25.

Marucci, F.S. Os sentidos da falta de leitura no Brasil. In: Seminário do 16º


Cole Vinculado: Vii Seminário “Midía, Educação e Leitura”, 7, 2007, Campinas.
Anais... Campinas: UNICAMP, 2007, p. 1-10.
PECHULA, M.R. A ciência nos meios de comunicação de massa: divulgação de
conhecimento ou reforço do imaginário social? Ciência & Educação. Rio Claro, v.
13, n. 2, p. 211-222, 2007.

RIGOLIN, D.C. A linguagem visual nos artigos da revista Superinteressante: o


que mudou e como os leitores reagem a essas mudanças. 2002. 53f. Trabalho de
Conclusão de Curso (Licenciatura em Letras) – Curso de Letras. Universidade
Estadual de Campinas, SP.

SCHROEDER, E. Conceitos espontâneos e conceitos científicos o processo da


construção conceitual em Vygotsky. Atos de pesquisa em educação, Blumenau, v.
2, n. 2, p. 293-318, 2007.

SILVA, H.C. et al. Cautela ao usar imagens em Aulas de ciências. Ciência &
Educação, Campinas, v. 12, n. 2, p. 219-233, 2006a.

SILVA, H.C. et al. Lendo imagens na educação científica: construção e realidade.


Pro-Posições. Campinas. v. 17, n. 1(49), p. 71-83, 2006b.

TUCHERMAN, I.; Cavalcanti, C.C.B.; Oiticica, L.T. Revistas de


divulgação científica e ciências da vida: encontros e desencontros. Intercom –
Revista Brasileira de Ciências da Comunicação, São Paulo, v.33, n.1, p. 277-295,
jan./jun. 2010.

195
VYGOTSKY, L.S. A construção do pensamento e da linguagem. São Paulo:
Editora Martins Fontes, 2001.

196
RELATOS DEL CHAGAS: EMERGENTES COLECTIVOS DEL JUEGO, EL
DIBUJO Y LAS HISTORIAS DE LA COMUNIDAD DE SAN JOSÉ DE LAS
MARGARITAS DEL LLANO, ANZOÁTEGUI-VENEZUELA

Alberto Sandia Mago, Jacklin Palomino, Wilmer Gelvez, Karina Fernández,


Héctor Coriano, David Chique, Roberto García-Alzate, Daisy Lozano, Matías
Reyes-Lugo, Antonio Morocoima, Mariana Sanmartino & Leidi Herrera

Proyecto: Evaluación y mejoramiento de viviendas rurales y suburbanas com


participación de la comunidad para el control de la enfermedad de Chagas en
Venezuela. Universidad Central de Venezuela. jose.sandia@ciens.ucv.ve / leidi.
herrera@ciens.ucv.ve / mariana.sanmartino@conicet.gov.ar

Resumen

En esta comunicación compartimos el proceso de elaboración de un recurso di-


dáctico innovador que contiene imágenes y relatos obtenidos a partir de una ex-
periencia realizada en 2012 con la comunidad de San José de las Margaritas del
Llano (Anzoátegui, Venezuela). Saberes locales y académicos se entrelazan para
dar forma a un material concebido tanto para reconocer el valor del trabajo co-
lectivo como para actuar de disparador en espacios educativos de diferentes con-
textos.

Palabras-clave: Participación comunitaria, enfermedad de Chagas, díalogo de sa-


beres, relatos.

Introducción

197
La presencia del parasito Trypanosoma cruzi, sus vectores y reservorios, está
condicionada en gran parte por el uso y condición de la vivienda y sus alrededores
y por la incorporación de elementos de la naturaleza al interior domiciliar.
El nivel de conocimiento de la enfermedad por parte de las poblaciones,
en conjunto con el estudio de hábittas y hábitos de riesgo resulta fundamental
para las actividades de prevención y control (Herrera et al., 2007). Todos
los actores involucrados en la problemática poseen toda una carga ideológica y
representacional, que de olvidarse dejaría de lado la verdadera intensión educativa
y/o informativa que persiguen algunas iniciativas o incluso pondría en riesgo la
efectividad de las medidas tradicionales de control (Sanmartino, 2006). Sin
embargo, los profesionales de salud hemos aplicado tradicionalmente estrategias
clásicas para que los sujetos y las comunidades adopten comportamientos deseados
por nosotros y/o las instituciones que presentamos, sin considerar la necesidad
de compartir saberes que lleva valor intrínseco sobre el problema, en este caso el
Chagas para poder avanzar de manera colectiva en la búsqueda de soluciones que
permitan hacer frente a este problema tan complejo.

Materiales y Metodología

En mayo de 2012, en el marco del proyecto “Evaluación y mejoramiento


de viviendas rurales y suburbanas com participación de la comunidad para el
control de la enfermedad de Chagas en Venezuela” (FONACIT), se realizó un
encuentro de dos jornadas en el caserío las Margaritas del Llano ubicado en el
municipio Aragua de Barcelona. Esta escogencia fue dada por tratarse de un
poblado sensibilizado frente a la problemática de la enfermedad de Chagas, por las
diferentes actividades realizadas en ella a través del Centro de Medicina Tropical
de la Universidad de Oriente. El caserío está constituido por una comunidad de
descendientes de ameríndios Cumanagotos y por criollos. Existe en el lugar uma
gran cantidad de registros y testimonios de gran infestación triatomínica a nivel
domiciliar.

198
Para su realización se propuso, con previo consentimiento con la comunidad,
una reunión con actividades lúdicas convocadas por el consejo comunal, habiendo
logrado una asistencia activa y entusiasta de aproximadamente 50 personas (de
todas las edades). La propuesta, desarrollada a lo largo de dos jornadas intensas,
consisitió en: actividad de iniciación para conocernos mejor, exponer las
expectativas e incentivar la participación; construcción grupal de mapas mentales
basada en el método desarrollado por Cantillo-Barraza et al. (2012); juegos
grupales y elaboración de relatos a partir de figuras representativas de personajes
clave (triatominos, animales silvestres y domésticos, personas). También se
contempló el espacio para compartir refrigerios y realizar sorteos. Cabe destacar
el buen humor y la activa participación que acompañaron el desarrollo de todas
las actividades.
Paralelamente se registraron observaciones por parte del grupo que coordinó
la propuesta (investigadores/as, educadores/as y recreadores/as), para tomar
impresiones de lo sucedido y recoger elementos que ayudarían luego a realizar
el análisis de los materiales producidos, los saberes intercambiados y de la
experiencia en general.
En otra instancia de trabajo con algunos adultos presentes, se trabajó sobre
la reflexión y el análisis crítico de los habitantes del lugar con respecto a: ¿Qué
creen ellos que se puede hacer para que los “chipos” (nombre que reciben los
triatominos en Venezuela) se mantengan alejados de los seres humanos? ¿Qué
medidas se deben tomar para tener una vivienda sana? ¿Qué hacer si encuentran
un chipo en la casa? ¿Qué medidas toman si creen que han sido picados por un
chipo?, entre otros interrogantes que surgían del diálogo.

Resultados y Conclusiones

Actualmente nos encontramos trabajando en el análisis de toda la información


recabada durante la experiencia. Nuestra intención era compartir aquí,
particularmente, los resultados que dieron lugar a la elaboración de un recurso
didáctico particular. Con los relatos y dibujos elaborados durante la propuesta,

199
elaboramos un instrumento tipo desplegable de 12 x 12, el cual contiene en su cara
anterior (Figura 1) dibujos de las casa de la comunidad hechos por la población
infanto-juvenil que al desplegarse, revela un prólogo explicativo del origen que
generó este instrumento y una introducción teórica –breve y sencilla– de lo que es
la enfermedad de Chagas, cómo se transmite y cómo se previene. Como parte de la
dinámica grafica, ya cuando se despliega totalmente el documento, se recogen en
su interior (Figura 2) y como corazón del mismo, cinco relatos generados durante
la actividad lúdico participativa que propusimos a la comunidad.

Relato 1: Érase una vez un señor que salió a cazar con su mascota (el perro) que
era muy cazador. Él se lo llevó y le dijo que iban a salir a cazar, que cuando viera al
cachicamo hiciera todo lo que él pudiera para cazar al cachicamo. Entonces cuando
iban en el camino se consiguieron un rabipelado. Y el rabipelado tenía en su boca
un chipo.

Relato 2: Érase una vez un cazador que salió a cazar por el monte. Cuando iba
vio un rabipelado pero no le paró. Después siguió y se encontró con un cachicamo.
Cuando agarró el cachicamo llegó a su casa y se lo comió. Cuando se lo comió, a los
días se sentía mal y era que lo había picado un chipo (al cachicamo) y después a los
días se murió.

Relato 3: Había una vez un ratón que lo había dejado la mamá y buscó ayuda
a casa de una prima porque lo había picado un chipo y por eso la mamá lo dejó
porque estaba asustada. Y la prima le buscó ayuda al cachicamo que era enfermero.
Pero el cachicamo no tuvo la cura y buscó al perro que era un curandero y le dio
unas ramas y que tenía era una sombra y se curó y estuvo contento y feliz con todos.

Relato 4: El hombre de la selva. Una vez José salió a cazar cachicamos con su perro
Roqui. Andando por el camino escucharon un ruido de un rabipelado, en una mata
de roble. Regresó a su casa y cuando abrió el cachicamo se encontró un chipo. Agarró
el chipo, lo metió en un frasquito y se lo entregó a los doctores.

200
Relato 5: El chipo picó al cachicamo (y al rabipelado), el ser humano se comió al
cachicamo, el perro se comió al rabipelado y por eso ellos se infectaron. Porque el
chipo estaba infectado e infectó al rabipelado (y al cachicamo) y por eso se infectó el
perrito y la persona.

Figura 1: Cara externa del desplegable (información general).

Figura 2: Cara interna del desplegable (relatos).

201
El recorrido transitado da cuenta de un proceso alineado con la necesidad
de repensar el vínculo comunicación/educación –Chagas dentro de un marco
abocado a rescatar los saberes y experiencias locales para poder pensar y
desarrollar herramientas contextualizadas. En este sentido, consideramos que el
material presentado es un ejemplo más para ser contemplado dentro de la línea que
busca analizar y desarrollar estrategias y recursos didácticos no convencionales1
para abordar la problemática del Chagas en diferentes situaciones educativas,
tanto formales como no formales (Sanmartino, 2011), dado que–entre
otras características que la constituyen en una experiencia innovadora– incluye
a las personas que se ven afectadas por esta problemática como verdaderos
protagonistas y no como simples “destinatarios” de acciones educativas dieñadas
a kilómetros de distancia.
Esperamos que, tanto el material presentado como la experiencia de la
cual emerge, sean de real utilidad tanto para la comunidad que participó de la
propuesta, como para otras comunidades y contextos donde el Chagas existe, o
incluso otros grupos de investigación dedicados al tema.

Referencias

Cantillo-Barraza, O.; Sanmartino, M.; Chica, J.; Triana O. Hacia


el desarrollo de una cultura científica local para hacer frente a la problemática
del Chagas. Resultados preliminares de una experiencia con jóvenes de la región
Caribe Colombiana. Revista Iberoamericana de Educación, Organización
de Estados Iberoamericanos para la Educación, la Ciencia y la Cultura (OEI),
Número monográfico 58, p. 119-133, 2012.

Herrera, L.; Aguilar, C.M.; Brito, A.; Morocoima, A. Conocimiento


y riesgo de infección para la Tripanosomosis Americana o Enfermedad de Chagas
en áreas rurales de Venezuela. Salus, Revista de la Facultad de Ciencias de la Salud,
Universidad de Carabobo, v. 11, n. 1, p. 27-31, 2007.

202
Sanmartino, M. Recursos no convencionales para hablar de Chagas en
contextos educativos formales y no formales. Capítulo 12. En: Crocco, L.
(ed.). Chagas, educación y promoción de la salud. Estrategias para abordar la
problemática en diferentes contextos. Facultad de Cs. Exactas, Físicas y Naturales,
UNC. Ministerio de Ciencia y Tecnología, Gobierno de la Pcia. de Córdoba. 2011.

Sanmartino, M. Faire face à la maladie de Chagas en partant des conceptions


des populations concernées. 2006. Tesis (Doctorado en Ciencias de la Educación)
- Universidad de Ginebra, Suiza.

___________________
1
Entendemos que una experiencia educativa o modalidad de abordaje no convencional
referida al tema Chagas, es aquella que incorpora elementos innovadores (nuevas tecnologías
de comunicación, expresiones artísticas, elementos lúdicos, etc.) o que involucra actores/
escenarios distintos a los tradicionalmente biomédicos o institucionales (organizaciones
sociales, grupos de pacientes, artistas de diversas disciplinas, etc.) (Sanmartino, 2011).

203
¿DE QUÉ HABLAMOS EN LA SALA DE ENTOMOLOGÍA?
ACTIVIDADES DEL MES DE CHAGAS EN EL MUSEO DE LA PLATA

Soledad Ceccarelli1, Agustín Balsalobre1, María Soledad Scazzola2, Vanina


Anadina Reche2 3, Gerardo Anibal Marti1, Cecilia Mordeglia4 & Mariana
Sanmartino4

1
Centro de Estudios Parasitológicos y de Vectores (CEPAVE, CCT La Plata-
CONICET -UNLP), 2 #584, 1900, La Plata, Buenos Aires, Argentina. E-mail:
soledad.ceccarelli@gmail.com
2
Servicio de Guías, Museo de La Plata (FCNyM, UNLP), Paseo del Bosque s/n,
1900, La Plata, Buenos Aires, Argentina.
3
División Entomología, Museo de La Plata (FCNyM, UNLP) Paseo del Bosque
s/n, 1900, La Plata, Buenos Aires, Argetina. E-mail: vaninaareche@yahoo.com.ar
4
Grupo de Didáctica de las Ciencias, Instituto de Física de Líquidos y Sistemas
Biológicos (CONICET-UNLP). Calle 55 Nro.910, 1900 La Plata (Pcia. de Buenos
Aires, Argentina). contacto@hablamosdechagas.com.ar

Resumen

Compartimos aquí una de las actividades que formaron parte del “Mes del
Chagas 2012” en el Museo de La Plata (Buenos Aires, Argentina), durante los
fines de semana del mes de agosto de 2012. Nuestro objetivo es mostrar resultados
cualitativos y cuantitativos que obtuvimos a partir de la propuesta desarrollada
en la sala de entomología y algunas de las reflexiones que surgieron a partir
de la experiencia. Se estima que unas 6.420 personas (de diferentes edades y
procedencia) asistieron al Museo los cuatro domingos en los que se desarrollaron
las actividades de nuestro proyecto. De esas personas, aproximadamente unas 700
visitaron la sala de entomología donde se desarrolló la observación de vinchucas.
Observamos que de toda la oferta de los fines de semana durante el Mes del
Chagas 2012, éste fue el espacio que presentó un mayor interés entre los visitantes
del Museo.
204
Palabras-clave: Entomología, vinchuca, enfermedad de Chagas, extensión
universitaria, Museo.

Introducción

Con el objetivo de favorecer una discusión crítica e innovadora sobre la


problemática del Chagas, desde el proyecto de extensión universitaria “¿De qué
hablamos cuando hablamos de Chagas? Estrategias y recursos didácticos para
abordar el tema en diferentes contextos educativos” (Universidad Nacional de
La Plata) propiciamos espacios de comunicación y divulgación que buscan dar
cuenta de su carácter de problema complejo. Uno de los principales ámbitos de
desarrollo del mismo es el Museo de La Plata (Facultad de Ciencias Naturales y
Museo, UNLP), desde el cual se han generado espacios y actividades aludiendo al

rol político y social que poseen los museos, de los que se espera que desarrollen
acciones para alentar al diálogo y la comprensión individual y colectiva, fortalecer
los vínculos entre diferentes grupos (escolares, docentes, familiares, comunitarios),
contribuir al bienestar público proponiendo ofertas educativas y culturales de
calidad que promuevan un uso del tiempo libre no consumista y pasivo, fomentar la
participación ciudadana sobre todo, alrededor de temas que resulten controversiales
para la sociedad y pongan a nuestros visitantes en el centro del debate (Pedersoli,
2011).

A través de una variedad de propuestas (muestra itinerante de arte y diseño,


proyección de materiales audiovisuales, curso de formación docente, talleres
con estudiantes de escuelas de la zona, ciclo de disertaciones y charlas abiertas,
actividades de fines de semana y un cierre musical con artistas locales que
interpretaron canciones vinculadas a la problemática del Chagas), realizadas
durante el mes de agosto de 2012, buscamos complejizar la mirada sobre esta
temática, aportando dimensiones usualmente no consideradas y generando
instancias de debate y aprendizaje donde todos los participantes sean considerados
sujetos activos. El equipo de trabajo está conformado por personas provenientes
de distintas disciplinas como biología, sociología, ciencias de la educación, artes
205
plásticas, comunicación visual y audiovisual, veterinaria y medicina, entre otras.
En el presente trabajo compartimos tanto resultados (cualitativos y
cuantitativos) como algunas reflexiones de las actividades de fines de semana,
en particular las realizadas en la sala de entomología del Museo de La Plata.
Las mismas estuvieron destinadas al público en general que ingresó al Museo y
consistieron en: una muestra itinerante de arte y diseño (con pinturas del artista
plástico argentino Néstor Favre-Mossier, trabajos de alumnos de jardín de infantes
y piezas de diseño producidas durante las “Jornadas Interaños 2011” organizadas
por la Cátedra B de la Facultad de Bellas Artes de la UNLP); la proyección de
materiales audiovisuales; la presentación de una obra de títeres; y la observación
de triatominos (conocidos en Argentina como “vinchucas”) fomentando el
intercambio entre los/as visitantes y los/as integrantes del proyecto.

Materiales y Métodos

La actividad con observación de vinchucas se desarrolló en la sala de entomología


del Museo de La Plata. En esta sala se exponen colecciones entomológicas de
diferentes grupos de insectos, incluyendo algunas de las especies de vinchucas
más importantes a nivel sanitario que se encuentran en la República Argentina.
Las vinchucas que sirvieron como material para el desarrollo de la actividad
fueron provistas por el Laboratorio de Triatominos del CEPAVE (CONICET-
UNLP). Para la observación de las mismas se utilizó una mesa sobre la cual se
colocaron dos microscópios binoculares estereoscópicos, algunas lupas de mano,
varias pinzas para manipular los insectos, cajas de Petri con ejemplares muertos,
muestras incluídas en resina y recipientes plásticos con ejemplares vivos de todos
los estadios del ciclo de vida de vinchucas libres de Trypanosoma cruzi para la
práctica manipulación de los mismos.
Durante esta actividad, se ofreció una encuesta a las personas que estuviesen
dispuestas a contestar. La misma incluía preguntas que apuntaban a describir
la población encuestada (edad, sexo, lugar de nacimiento y de residencia,
ocupación) y preguntas que permitirían identificar algunas representaciones
sobre la problemática del Chagas:
206
¿Qué es lo primero que se le viene a la cabeza al escuchar la palabra CHAGAS?
¿Escuchó hablar de Chagas? ¿Dónde? ¿Conoce alguien que tenga CHAGAS?
¿Cuál es su vínculo con esa/s persona/s?
Además, se ofreció un espacio final abierto para que plasmaran sus
observaciones y comentarios.
Una vez finalizada la observación de las vinchucas se entregaron trípticos
elaborados por el Programa Federal de Chagas del Ministerio de Salud de la Nación
que contenían información sobre la transmisión y prevención de la enfermedad
de Chagas, como también información de centros de referencia nacional para la
asistencia a la comunidad en general. Además se repartieron calcomanías con un
mensaje de sensibilización e información de contacto del grupo de extensión.

Resultados

Durante los cuatro domingos de agosto en los que se realizaron las actividades
mencionadas en el Museo de La Plata, ingresaron al mismo aproximadamente
unos 6.420 visitantes. De éstos se calcula que se acercaron a la mesa de observación
de las vinchucas alrededor de 700 personas.
El número de encuestas recabadas en los cuatro domingos del mes alcanzó un
total de 235. La edad de la población encuestada osciló entre los 7 y 73 años.
Con respecto a la procedencia de las personas encuestadas, el 80% nacieron
en la Ciudad de Buenos Aires (Capital Federal) y el gran Buenos Aires, incluyendo
aquí a La Plata y el gran La Plata. Un 10% manifestó ser oriundo de otras provincias
y un 6% de otros países, principalmente de Latinoamérica (Perú, Colombia,
Venezuela, Brasil, Uruguay). Observamos mínimos cambios en los porcentajes de
la residencia en relación con el lugar de nacimiento, ya que de los 235 encuestados
el 90% se encontraría en la Ciudad de Buenos Aires y el gran Buenos Aires, sólo
un 3% en otras provincias y alrededor de un 1% en otros países. Actualmente nos
encontramos trabajando en el análisis de las respuestas obtenidas en las demás
preguntas de la encuesta.

207
Discusión y Conclusión

La evaluación que pudimos obtener hasta el momento de la actividad en


general fue positiva y obtuvimos una buena recepción por parte del público ya
que la misma fue considerada como una propuesta diferente en el marco de
las actividades usuales del Museo de La Plata. Notamos que, de las actividades
planificadas por el proyecto y ofrecidas los fines de semana, la mesa en la sala
de entomología fue la que más llamó la atención del público en general (desde
niños/as hasta adultos) y fue por ello que nos centramos en esta actividad para
compartir en el presente trabajo.
Creemos que lo que favoreció el mayor impacto y actuó como una suerte
de “atracción” del público para acercarse a la mesa de observación fue en gran
medida la presencia de las vinchucas y la posibilidad de observarlas con diferentes
instrumentos y en sus distintos estadíos, entre otras posibles explicaciones. Los
insectos “nos ayudaron” a acercar el público, no sólo por lo que “los bichos”
implican para niños/as y adultos, sino también por haber brindado la opción de
poder observarlos de cerca y manipularlos.
La mesa con lupas y vinchucas fue la actividad referente a Chagas que más
público atrajo los fines de semana y, por lo tanto, fue el espacio que resultó más
propicio para abrir un diálogo dinámico entre los/as visitantes y los/as integrantes
del proyecto, permitiendo a través del intercambio profundizar en las demás
dimensiones involucradas en la problemática de Chagas (sociocultural, político-
económica, epidemiológica y biomédica) (Sanmartino et al., 2012).
Podemos afirmar que, en el caso de la actividad realizada en la sala de
entomología, las vinchucas resultaron una excelente excusa gracias a la cual
pudimos propiciar un rico intercambio de saberes entre el público y los/as
integrantes del grupo de extensión. Esta reflexión resulta crucial para nosotros/
as, dado que consideramos fundamental hablar de Chagas en la mayor cantidad
posible de escenarios y pensar en el Chagas como un problema complejo y es por
eso que, a partir de la investigación y la acción, apostamos a fomentar una mirada
crítica entre todos los actores involucrados.

208
Referencias

PEDERSOLI, C. Miradas, Imágenes y vínculos. Apuntes sobre los museos de


ciencias y su aporte a la comunidad. Impacto en las actividades educativas de los
Museos de Ciencias y Tecnología en las escuelas. 7ma Escuela Latinoamericana de
Museología de las Ciencias, 2da Escuela Argentina de Museología de las Ciencias.
Asociación Argentina de Centros y Museos de Ciencia y Tecnología- Universidad
de La Punta, San Luis, 2011.

SANMARTINO, M.; MENEGAZ, A.; MORDEGLIA, C.; MENGASCINI, A.;


AMIEVA C.; CECCARELLI, S.; BRAVO ALMONACID, G. La problemática
del Chagas en 4D: representaciones de docentes de Nivel Inicial y Primario de
La Plata. Actas de las III Jornadas de Enseñanza e Investigación Educativa en el
campo de las Ciencias Exactas y Naturales. Facultad de Humanidades y Ciencias
de la Educación, Universidad Nacional de La Plata, 2012.

209
Los Jóvenes y el Chagas: nuevas miradas posibles.
Experiencias educativas en el Museo de La Plata

Paula Medone1, María Laura Susevich1, Carolina Amieva2, Ana Gaddi3, Gerardo
Marti1,
Cecilia Mordeglia4 & Mariana Sanmartino4

1
Centro de Estudios Parasitológicos y de Vectores (CEPAVE-CCT-La Plata-
CONICET-UNLP), 2 #584, 1900 La Plata, Argentina. E-mail: paulamedone@
hotmail.com
2
Instituto de Patología Experimental (IPE-UNSA Salta CONICET)
Av. Bolivia 5150, 4400, (Salta Capital, Argentina). E-mail: carolina.amieva@
conicet.gov.ar
3
División Entomología & Equipo de Investigación en Etnografía Aplicada,
Museo de la Plata (FCNyM, UNLP). Paseo del Bosque s/n, 1900 La Plata,
Buenos Aires, Argentina. E-mail: ana_gaddi@fcnym.unlp.edu.ar
4
Grupo de Didáctica de las Ciencias, Inst. de Física de Líquidos y Sistemas Biol.
(CONICET-UNLP). Calle 55 Nro.910, 1900 La Plata (Pcia de Buenos Aires,
Argentina). E-mail: contacto@hablamosdechagas.com.ar

Resumen

Se presenta el análisis de las representaciones de estudiantes de nivel secundario


de la región de La Plata, que asistieron a los talleres dictados en el contexto de
la “Semana del Chagas 2011” y del “Mes del Chagas 2012” en el Museo de La
Plata. La propuesta implementada, destinada a difundir y visibilizar al tema como
problemática compleja, incluyó un abordaje integral e interdisciplinario a partir
de múltiples miradas, involucrando diferentes recursos y actores, planteando la
problemática desde cuatro grandes dimensiones (biomédica, epidemiológica,
sociocultural y político-económica). Las representaciones, identificadas a partir
de expresiones plásticas y textos producidos frente a la pregunta “¿Qué es lo

210
primero que se te viene a la cabeza cuando escuchás la palabra Chagas?”, reflejan
fuertemente el discurso biomédico hegemónico, pero dan también lugar a la
posibilidad de ver al tema de una manera más compleja que incorpora elementos
de los aspectos sociales y políticos, necesarios para abordar la problemática.

Palabras-clave: entomología, vinchucas, enfermedad de Chagas, dimensiones,


talleres educativos, extensión universitaria.

Introducción

El Chagas es una problemática compleja que involucra múltiples factores, desde


entomológicos y ambientales, hasta políticos y económicos, que se relacionan
entre sí mediante un complejo entramado. En el marco del proyecto de extensión
“¿De qué hablamos cuando hablamos de Chagas? (Universidad Nacional de La
Plata), nos proponemos incorporar nuevas miradas sobre esta problemática desde
una perspectiva integral, multidisciplinaria e innovadora en diferentes contextos
educativos (Sanmartino et al., 2012a).
En este marco, durante la “Semana del Chagas” realizada en Mayo de 2011
y el “Mes del Chagas” llevada a cabo en Agosto de 2012, desarrollamos talleres
con estudiantes de escuelas secundarias en el Museo de La Plata (Buenos Aires,
Argentina). Estas actividades -al igual que las demás propuestas realizadas en el
marco del proyecto– tuvieron como hilo conductor el abordaje de la problemática
del Chagas desde 4 dimensiones principales (biomédica, epidemiológica,
sociocultural y político-económica).
El objetivo del presente trabajo es identificar cuáles de estas dimensiones
surgen más comúnmente en la reflexión escrita y en las manifestaciones plásticas
de los/as jóvenes que participan de nuestras propuestas, y evaluar en qué medida
se ven modificadas luego de transitar la experiencia de los talleres.

211
Materiales y Métodos

Talleres con las escuelas

En los ocho talleres que aquí analizamos participaron cerca de 200 jóvenes de
escuelas secundarias de la Región de La Plata. Estas actividades se desarrollaron
en el Museo de La Plata (Facultad de Ciencias Naturales y Museo, UNLP), en
el contexto de la “Semana del Chagas 2011” (Sanmartino et al., 2012b;
Balsalobre et al., 2011) y del “Mes del Chagas 2012”.
Cada taller tuvo un promedio de 25 asistentes, y estuvo a cargo de un equipo
interdisciplinario de docentes e investigadores/as del Grupo de Didáctica de
las Ciencias (IFLYSIB, CONICET-UNLP) y del Laboratorio de Triatominos
(CEPAVE, CONICET-UNLP), con la colaboración de guías del Museo de La
Plata. La duración de cada taller fue de 2 horas aproximadamente y consistió en
cinco momentos:

1. Se realizó una actividad diagnóstica en la que se le solicitó a cada


participante que de manera individual respondiera, con palabras sueltas y/o
frases breves, la pregunta “¿Qué es lo primero que se te viene a la cabeza
cuando escuchás la palabra Chagas?”.
2. Se proyectó el corto de animación “Cada quien para su casa”5
(Instituto Nacional de Salud Pública, México, 2008) que relata una visión
de la problemática del Chagas desde la perspectiva de los insectos vectores.
3. Se dialogó sobre aspectos teóricos del tema simultáneamente a la
observación de pinturas de la serie “Chagas”, del artista argentino Néstor
Fafvre-Mossier. Estas obras evidencian múltiples y diversos elementos
implicados en la problemática. Asimismo, se hizo circular entre los/as jóvenes
material entomológico (frascos con vinchucas vivas y moldes de resina con
vinchucas incluidas) para que pudieran observar los diferentes estadios en
el ciclo de vida de estos insectos y tuvieran un acercamiento directo con
los triatominos. De esta manera se fue recorriendo y (re)construyendo

212
conjuntamente el tema Chagas a lo largo de su complejidad, los elementos
de las cuatro dimensiones que lo atraviesan y destacando la importancia
de instalar el tema en la mayor cantidad de contextos posibles. Finalmente,
se proyectó un spot publicitario sobre esta problemática protagonizado
por Lionel Messi6, figura deportiva reconocida por la mayoría de los/as
participantes.
4. Los/as estudiantes se organizaron en grupos de 4-5 personas para
plasmar sus representaciones acerca de la/s idea/s principal/es abordadas
en el taller, y el mensaje que quisieran transmitir a sus pares luego de la
experiencia. Para esto, se les proveyó una variedad de materiales que les
permitió desplegar su creatividad en la realización de afiches, esculturas,
dibujos, etc.
5. Por último, se le solicitó a los/ as participantes que respondieran de
manera individual -en el mismo papel que lo habían hecho al iniciar la
actividad– “¿Qué es lo primero que viene ahora a tu cabeza al escuchar la
palabra Chagas?”. Se les solicitó además una reflexión sobre su apreciación
personal respecto del taller.

Análisis de los materiales producidos en los talleres

Se digitalizaron los escritos de todos/as los/as jóvenes, se identificaron


las expresiones más frecuentes y se clasificaron según la dimensión a la que
pertenecían (biomédica, epidemiológica, sociocultural, político-económica).
Luego, se cuantificó el total de menciones para cada expresión, tanto previas como
posteriores al taller. En base a esto se calcularon los porcentajes de representación
de cada una de las cuatro dimensiones. Por otro lado, se procedió de manera
análoga con el análisis de las producciones plásticas (afiches, esculturas, etc.).

_________________
5
http://youtu.be/xK_xDYsDy-c
6
http:// vimeo.com/64129945

213
Resultados

En cuanto a las producciones escritas, se analizaron 155 respuestas7,


identificando 53 expresiones, algunas más frecuentes que otras. En la
contabilización de cada una de las expresiones, se observó que antes del taller los/
as jóvenes asociaron con el Chagas concepciones mayoritariamente biomédicas
(89%) y, en menor medida, mencionaron aspectos relacionados con la dimensión
epidemiológica (4%) y la sociocultural (7%) (Fig. 1a). Luego del taller, aunque
la dimensión biomédica continuó siendo la predominante (87%), se observó
la aparición de una nueva dimensión: la político-económica (4%). En tanto, la
dimensión sociocultural (6%) y la epidemiológica (3%) mantuvieron porcentajes
de representación similares (Fig. 1b) a los registrados antes de los talleres.

a) Dimensiones del Chagas abordadas antes del


taller Político
Sociocultural
7% económica
0%
Epidemiológica
4%

Biomédica
89%

Fig. 1. Representación porcentual de las dimensiones del Chagas abordadas de manera escrita
antes (1a) y después (1b) de los talleres.

Realizando un análisis más detallado hacia el interior de las dimensiones,


aquellas que presentaron mayores cambios antes y luego de los talleres fueron: la
biomédica, la sociocultural y la político-económica.
214
Dentro de la dimensión biomédica, se establecieron dos nuevas categorías:
una en la que aparecen aspectos relacionados con la enfermedad (formas de
contagio, prevención, etc.), definida como “biomédica no entomológica”, y otra
que abarca aspectos relacionados con el insecto vector, definida como “biomédica
entomológica”. En cuanto a la dimensión “biomédica no entomológica”, luego del
taller se observó una mayor precisión en relación a la transmisión, prevención y
síntomas de la enfermedad de Chagas. Por otra parte, el análisis de la dimensión
“biomédica entomológica” reflejó que previamente a los talleres los elementos
vinculados a los aspectos entomológicos conformaban el 42% (Fig. 2a), dentro
de las cuales el 19% correspondían a la vinchuca. En tanto, luego de los talleres
se observó una disminución significativa del porcentaje de representación de la
dimensión entomológica (21%) (Fig. 2b), con la desaparición de los términos más
imprecisos que habían sido mencionados antes del taller.

b) Dimensiones del Chagas abordadas después


del taller Político
Sociocultural
6% económica
4%
Epidemiológica
3%

Biomédica
87%

Fig. 2. Representación porcentual y elementos presentes en la dimensión


entomológica antes (2a) y después (2b) de los talleres.

________________
El número de respuestas analizadas es menor que el total de jóvenes que participaron de los
7

talleres dado que algunos no respondieron a la consigna o bien no entregaron sus respuestas.
215
En la dimensión sociocultural se observó que, antes de los talleres (Fig. 3a) las
representaciones estuvieron sesgadas hacia conceptos que asocian al Chagas con
aspectos socioculturales tradicionalmente vinculados con estereotipos referidos
a ciertas áreas rurales endémicas. Sin embargo, luego de los talleres (Fig. 3b),
no sólo desaparecieron casi por completo dichos conceptos, sino que además
surgieron aspectos que ponen de manifiesto el reconocimiento del Chagas como
un fenómeno más complejo y cotidiano.

Fig. 3. Representación porcentual y elementos presentes en la dimensión


sociocultural antes (3a) y después (3b) de los talleres.

En cuanto a las producciones plásticas (dibujos, pinturas, collages, esculturas),


observamos que las mismas reflejaron principalmente aspectos biomédicos de
la problemática (88%). Asimismo, comparando con los textos elaborados antes
de los talleres, se obtuvo no sólo un mayor grado de representación de las
dimensiones sociocultural (10%) y político-económica (10%), sino que además
éstas alcanzaron un grado de complejización significativamente mayor respecto
de lo observado en las respuestas escritas. Alrededor del 20% de los conceptos
identificados pertenecieron a la dimensión sociocultural y un 16% correpondieron
a la dimensión política-económica.

Consideraciones Finales

216
De los resultados del presente trabajo se desprende, por una lado, que los
elementos predominantes en la reflexión de los/as jóvenes respecto al Chagas son
aquellos vinculados a la visión más tradicional de la problemática. Esta visión
se restringe, en general, a considerar a la enfermedad propiamente dicha y los
insectos vectores como eje principal del análisis. Por otro lado, y a pesar del
predominio de este paradigma, observamos que al proponer una mirada integral
sobre el tema, los/as jóvenes desarrollaron nuevas y enriquecidas perspectivas
sobre el Chagas. Construyeron miradas más complejas y multidimensionales, tal
como se observó en un trabajo previo desarrollado con docentes participantes de
las actividades propuestas en el marco de nuestro proyecto “¿De qué hablamos
cuando hablamos de Chagas?” en los años 2011 (Sanmartino et al., 2012b) y
2012. En este sentido, consideramos que comprender las temáticas en su complejidad
posibilita modificar actitudes, aumentar las motivaciones, transformando aquello
que nos rodea (Sanmartino et al., 2012a); y es por ello que apostamos a seguir
avanzando en este sentido, reconociendo la necesidad de repensar el vínculo
educación-Chagas.
Tradicionalmente se ha hablado de la educación como uno de los pilares
de “la lucha” contra el Chagas (además del combate a los insectos vectores, el
mejoramiento de las viviendas y la detección/atención de las personas infectadas).
Sin embargo, las consideraciones referidas al rol de la educación suelen restringirse
al plano discursivo o limitarse al ámbito de las escuelas rurales. Desde nuestro
proyecto, creemos necesario acortar las distancias existentes entre los saberes
biomédicos y científicos, y aquellos saberes promovidos desde los espacios
educativos. Para ello es esencial la labor conjunta entre investigadores, docentes y
jóvenes, en todos los niveles educativos (tanto escolar como de formación técnica
y profesional) y en todos los contextos posibles (rural/urbano, formal/no formal,
donde hay vinchucas/donde no las hay, etc.), con el firme propósito de que cada
vez sean más las voces que, desde sus diversas miradas, hablen de Chagas.

217
Referencias

Balsalobre, A.; Sanmartino, M.; Mordeglia, C.; Mengascini,


A.; Menegaz, A.; Ceccarelli, S.; Marti, G.; Susevich, M.L.; Luna,
J.; Simanauskas, T. “¿Qué es eso? ¿Una vinchuca? Talleres para escolares en
la Semana del Chagas en el Museo”. Libro de Resúmenes de las IV Jornadas de
jóvenes investigadores y I jornadas de jóvenes extensionistas. FCNyM-UNLP. p.
32, 2011.

Sanmartino, M.; Menegaz, A.; Mordeglia, C.; Mengascini, A.;


Amieva C.; Ceccarelli, S.; Bravo Almonacid, G. La problemática
del Chagas en 4D: representaciones de docentes de Nivel Inicial y Primario de
La Plata. Actas de las III Jornadas de Enseñanza e Investigación Educativa en el
campo de las Ciencias Exactas y Naturales. Facultad de Humanidades y Ciencias
de la Educación, Universidad Nacional de La Plata, 2012a.

Sanmartino, M.; Mengascini, A.; Menegaz, A.; Mordeglia, C.;


Ceccarelli, S. Miradas caleidoscópicas sobre el Chagas: Una experiencia
educativa en el Museo de La Plata. Revista Eureka sobre Enseñanza y Divulgación
de las Ciencias, v. 9, n. 2, p. 265-273, 2012b.

218
A EVOLUÇÃO DOS ARTRÓPODES DE PAPEL

Vivian Eliana Sandoval-Gómez1 & Andrés F. Sánchez2

1
Pós-doutoranda, Laboratório de Sistemática e Biologia de Coleoptera,
Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Minas Gerais, Brasil. E-mail: vivian.
sandoval@gmail.com
2
Biólogo, Jovem Pesquisador, Departamento de Biologia, Pontificia Universidad
Javeriana, Bogotá D.C., Colômbia. E-mail: andres.sanchez@javeriana.edu.co

Resumo

A arte milenária japonesa de fazer dobraduras de papel, conhecida como origami,


permite elaborar uma infinidade de modelos que representam seres e objetos
reais, fantásticos, abstratos, simples ou complexos, baseados principalmente em
conceitos geométricos e matemáticos. Uma linha muito forte surgiu como resultado
do desenvolvimento de novas técnicas de dobraduras: a criação de artrópodes e
insetos de papel cada vez mais similares aos espécimes reais. Muitos autores têm
se dedicado à criação de novos modelos que representam os grupos mais comuns
ou mais raros dentre os artrópodes. O objetivo deste trabalho foi compilar e
analisar a informação sobre os modelos existentes de artrópodes em origami, para
poder assim conhecer os grupos taxonômicos mais comunmente representados
na arte dos origamistas ao longo da história. Como resultado encontrou-se que as
ordens de insetos com maior quantidade de modelos em origami foram as mais
diversas, abundantes e chamativas da natureza: Lepidoptera, Coleoptera, Odonata,
Hemiptera e Orthoptera. O grupo melhor representado de artrópodes não insetos
foram os aracnídeos, incluindo aranhas, opilões e escorpiões. Adicionalmente, é
discutida a inclusão e aplicação do origami no campo do ensino da entomologia.

Palavras-chave: aracnídeo, artrópode, dobradura, entomologia, inseto, origami.

219
Introdução

Origami (do japonês, ori: dobrar, kami: papel) é a arte de dobrar o papel para
criar representações de modelos da natureza, de formas abstratas ou desenhos
reconhecíveis por algum espectador. Caracteriza-se pela transformação de um
ou vários papeis, fazendo diferentes tipos de dobraduras geométricas, para obter
o desenho esperado (Kasahara; Takahama, 1999). Nos últimos anos o
origami está tendo uma importância cada vez maior nos processos educativos
e recreativos (recrear no sentido profundo da expressão) com todo tipo de
público, uma vez que permite o potencial desenvolvimento da motricidade fina,
da memória, da geometria espacial, de conceitos matemáticos e de pensamentos
artísticos, entre outros (Lang, 2012).
Existem diversas escolas e correntes de origami. A escola conhecida como
ortodoxa, considera uma criação de origami aquela que tem sido dobrada a
partir de uma única folha (preferencialmente quadrada) sem fazer cortes, sem
desenhar no papel ou dobrar alguma folha adicional (Robinson, 2004). Outros
origamistas, mais “modernos”, permitem mais liberdade nas suas criações. Por
exemplo, o origami modular, uma técnica mais recente, versa realizar modelos de
dobraduras a partir de várias peças independentes de papel, as quais são unidas
com dobras e sem o uso de colas (Fuse, 1990). Porém, o tipo de origami mais
difundido e desenvolvido no mundo é o ortodoxo.
Esta arte milenária é considerada por algumas pessoas como um hobby e por
outras como uma ferramenta versátil, com grandes aplicações na ciência, ensino e
formação artística. A mecânica das dobraduras foi aplicada pelos engenheiros para
o desenvolvimento de novas estruturas dobráveis, como por exemplo, painéis e
espelhos retráteis para satélites (Heller, 2003). Múltiplos teoremas e soluções a
problemas matemáticos foram desenvolvidos com base em dobraduras, ao ponto
de se constituir em um novo campo teórico, permitindo uma maior compreensão
das relações matemáticas que existem em estruturas como a molécula de DNA e
de algumas proteínas (Cipra, 2004). Alguns professores, como o prof. Miri Golan
do Israel, explica aos seus estudantes os teoremas clássicos, como o Teorema de

220
Pitágoras, com simples dobraduras ou estruturas geométricas mais complexas,
como os poliedros, utilizando estruturas modulares em origami (Golan;
Jackson, 2009; Gould, 2009). Deste modo, a relação entre o origami e a
ciência, cada vez mais próximos, aumentou e se popularizou nas últimas décadas.
Fazendo uma analogia com a música, onde existe um compositor e um
intérprete, no origami se tem um designer (também chamado de criador) e uma
pessoa que dobra a peça. Ao invés de interpretar a obra por meio de partituras,
ela é feita por meio de diagramas, os quais mostram a sequência das dobraduras
que são precisas para realizar o modelo desejado ou por um mapa de linhas que
representam as dobraduras que ficam no papel depois de ser dobrado (conhecidos
como CP por suas siglas em inglês “Crease Patterns”) (Engel, 1994). As
possibilidades são infinitas e com muito engenho um bom origamista pode
conseguir dobrar quase qualquer coisa, mas para isso precisa de muita habilidade
e anos de prática.
Uma das matérias mais recorrentes e notórias no origami são os insetos e
outros artrópodes, tanto por serem chamativos quanto por constituírem um
desafio para serem criados e um alto grau de dificuldade para serem dobrados
(Lang, 1995; Park; Bradshaw, 2003). Os origamistas têm criado uma
infinidade de modelos indo dos mais simples (Jackson, 1990), com poucas
dobraduras e representando só algumas características importantes do espécime
modelo (Fig. 1), até insetos quase perfeitos com a mesma segmentação do corpo,
tipo de pernas, antenas, aparelho bucal, asas e segmentos abdominais do espécime
modelo (Fig. 2), os quais poderiam passar sob a lupa do taxonomista do grupo
(Kawahata; Nishikawa, 2000; Lang, 2003).
Atualmente, os criadores se esforçam cada vez mais para conseguir modelar
os diferentes grupos de insetos e artrópodes, de forma mais detalhada e complexa,
precisando de bons conhecimentos sobre a sua morfologia e anatomia externa
(Sirgo, 2004). Por esta razão, muitos entomólogos têm-se interessado no origami,
com excelentes resultados e criações impecáveis. Vale a pena citar os trabalhos do
Dr. Young-Lak Park, Ph.D. da Universidade do Estado de Iowa, criador de um sem
número de insetos em origami (Park, 2003). Este trabalho teve como objetivo

221
compilar e analisar a informação sobre os modelos de artrópodes criados em
origami e poder assim conhecer quais os grupos taxonômicos que tem chamado
mais a atenção dos origamistas ao longo da história.

Materiais e Métodos

A aproximação ao conhecimento das dobraduras de artrópodes foi baseada


na compilação da informação publicada até ao momento. São inúmeros os
origamistas no mundo, por tanto é muito grande a literatura que existe sobre
origami. Contudo, a grande maioria dos novos desenhos são primeiro publicados
como uma foto do modelo na internet, em blogs ou nos sites dos próprios artistas,
e só depois de ter uma boa quantidade de modelos passam a ser diagramados e
editados nas revistas ou como livros. Esses livros podem ser coleções de diagramas
(com instruções passo a passo) que geralmente são publicados como as “Memórias
dos Encontros de Origamistas” (regionais, nacionais ou internacionais) ou como
coleções de modelos do próprio autor. Também são numerosas as revistas, boletins,
magazines e jornais especializados em publicar material de origami (tanto virtuais
quanto impressos). Por tanto, a procura da informação sobre um tema particular
como os artrópodes em origami, torna-se uma tarefa muito difícil.
Felizmente, uma nova iniciativa na web chamada “Origami Database”, tem
começado a compilar bases de dados sobre os modelos de origami, relacionando
o autor, a publicação e o grau de dificuldade do modelo (Walker et al., 2010). A
informação é baseada em publicações impressas, revistas virtuais, vídeos e blogs.
Esta plataforma está ainda sendo desenvolvida e falta muita informação por incluir
e por depurar. Mas, foi a melhor e mais confiável ferramenta que achamos para
procurar a informação sobre os modelos de artrópodes em origami publicados
até o momento. Tal informação foi incluída em uma base de dados de Excel e
posteriormente representada em histogramas mostrando o número de modelos
criados para cada grupo de artrópodes e o número de modelos de artrópodes por
autor.

222
Figura 1. Borboleta. Desenhada e dobrada por Andrés Sánchez (2005).

Figura 2. Mantis. Desenhada e dobrada por Andrés Sánchez (2006).

223
Resultados e Discussão

Historicamente, sabemos que até à primeira metade do século passado


as técnicas de dobradura e desenho em origami eram escassas (Lang, 2003).
Os modelos existentes eram em grande parte tradicionais ou atribuídos a uns
poucos autores, que baseavam suas criações em padrões básicos já existentes.
Mas nas décadas de 1970, 80 e 90, deu-se uma revolução técnica no origami,
iniciada por alguns origamistas japoneses como o mestre Akira Yoshisawa, tendo
como resultado o desenvolvimento de técnicas e ferramentas de dobraduras mais
sistemáticas e novos princípios matemáticos inerentes ao origami (Lang, 1995,
2003; Cipra, 2004).
Eventualmente, surgiram múltiplas técnicas de criação, como as de Kawahata
(2006), Lang (2012), Maekawa (2008), Meguro (1994) e Lang (1995), as quais
abriram um caminho cheio de possibilidades para os designers modernos. Criar
um artrópode em origami representa vários problemas, como dobrar pontas finas
e compridas para as extremidades, e em quantidade suficiente para representar
a cabeça, pernas, abdome, asas e demais segmentos corporais. Com as novas
técnicas do origami, começaram a se publicar muitos mais diagramas de insetos
com modelos mais próximos à realidade. Em palavras do Lang (1995):

“O efeito das novas técnicas de criação e desenho do origami


moderno permitiu uma explosão pós-cambriana de besouros,
borboletas e percevejos de papel. Libertos da necessidade de
concentrar esforços para produzir certa quantidade de pontas,
os origamistas podem se focar na estética da dobradura, mais
do que no número suficiente de camadas para seu modelo;
preocupados assim em desenvolver modelos da vida real, mais
do que cumprir com uma contagem básica de segmentos”.

Diversas compilações de artrópodes e insetos de origami foram publicadas.


Por exemplo, o livro do Lang (1995) foi o resultado inicial das técnicas de criação

224
desenvolvidas na década de 1990 e uma boa amostra do tipo de origami presente
nesse período. Outro livro, muito mais recente, é do Kawahata e Nishikawa (2000),
com uma coleção de modelos de alta complexidade e uma técnica de criação mais
madura, que reflete o estilo clássico da escola moderna da JOAS (Japan Origami
Academic Society).
A busca detalhada na base de dados “Origami Database” permitiu encontrar
1156 registros de diferentes modelos de artrópodes em origami, dos quais 1126
correspondem a modelos de insetos. O grupo melhor representado de artrópodes
não insetos foi o grupo dos aracnídeos incluindo aranhas, opiliões e escorpiões.
Esta informação foi extraída de 418 publicações de diferentes tipos, como são
livros, revistas, memórias de encontros e diagramas publicados na internet. As
ordens de insetos que apresentaram maior quantidade de modelos em origami
foram Lepidoptera, seguido por Coleoptera, Odonata, Hemiptera e Orthoptera,
cada um com uma quantidade considerável de modelos diferentes (Fig. 3). Não é de
se surpreender que esses grupos sejam os mais comumente representados, devido
a que correspondem às ordens mais diversas e abundantes dos insetos, muitas das
suas espécies são “carismáticas” ou têm alguma importância econômica, o que as
torna em uma referência comum quando se quer representar um inseto.
Ao analisar a produção de modelos de artrópodes por autor, encontramos que
aqueles que publicaram livros com compilações são os que têm maior quantidade
de modelos. Dos 237 autores conhecidos de modelos de artrópodes em origami,
somente vinte apresentaram uma quantidade significativa de criações (~10
modelos) (Fig. 4). É importante destacar o grande número de modelos realizados
pelo mestre Akira Yoshisawa, com um 8,3% do total, cifra muito relevante porque
ele foi antecessor da maioria dos autores, e não contava com as ferramentas e
técnicas de criação que permitiram melhorar as formas básicas usadas pelos
origamistas modernos.

225
Figura 3. Histograma representando o número de modelos em origami por

grupo de artrópodes.

Figura 4. Histograma representando os vinte autores com o maior número de


modelos de artrópodes em origami.

226
Considerações Finais

A evolução dos artrópodes e insetos de papel se deu como resultado do
desenvolvimento das novas técnicas de dobraduras em origami, com modelos
mais complexos e mais reais. Dado o amplo interesse que desperta em crianças,
jovens e adultos, o origami tem um grande potencial no ensino da entomologia.
Segundo Park e Bradshaw (2003), é uma forma chamativa de apresentar a
morfologia, embriologia e sistemática de insetos de uma forma geométrica; os
estudantes podem entender a estrutura e função dos segmentos e apêndices mais
facilmente; e aprender sobre evolução e especiação, criando novos modelos de
insetos a partir de uma forma básica.

Referências

CIPRA, B.A. In the Fold: Origami meets mathematics. SIAM news, Philadelphia,
v. 34, n. 8, p. 1-4, 2001.

ENGEL, P. Origami: from angelfish to zen. Nova York: Dover Publications, 1994.
248 p.

FUSE, T. Unit Origami: multidimensional transformations. Tokio: Japan


Publications Trading Co, 1990. 240 p.

GOLAN, M.; JACKSON, P. Origametria: a program to teach geometry and to


develop learning skills using the art of origami. In: LANG, R. (ed.) Origami 4.
Massachusetts: A. K. Peters, 2009. p. 459-469.

GOULD, V. Video: Between the folds. Nova York: Green Fuse Films, 2009.

HELLER, A. A giant leap for spaces telescopes. Science & Technology, Lawrence

227
Livermore National Laboratory, Março 2003, p. 12-18, 2003.

JACKSON, P. Classic Origami. Londres: Apple Press, 1990. 80 p.

KASAHARA, K.; TAKAHAMA, T. Origami for the Connoisseur. Tokio: Japan


Publications Trading Co, 1999. 167 p.

KAWAHATA, F. Origami fantasy. Tokio: Japan Publications Trading Co, 2006.

KAWAHATA, F.; NISHIKAWA, S. Origami insects Volumen I. Tokio: Origami


House, 2000. 195 p.

LANG, R. Origami insects and their kin. Nova York: Dover Publications Inc.,
1995. 115 p.

LANG, R. Origami Volumen II. Tokio: Origami House, 2003. 196 p.

LANG, R. Origami design secrets: Mathematical methods for an ancient art.


Florida: CRC Press, 2012. 758 p.

MAEKAWA, J. Genuine Origami: 43 mathematically-based models, from simple


to complex. Tokio: Japan Publications Trading Co, 2008. 160 p.

MEGURO, T. 145 point sea urchin. In: Origami Tanteidan 1st convention. Tokio:
Origami House, 1995, p. 20.

PARK, Y.-L. A paper bug’s life. Disponível em: http://paper-insect.uu.st. Acesso


em: 2003.

PARK, Y.-L.; BRADSHAW, J. Insect Origami: into the fold. American Entomologist,
v. 49, n. 4, p. 210-214, 2003.

228
ROBINSON, N. Origami Bible. Londres: Collins & Brown, 2004. 144 p.

SIRGO, M. Papiroinsectos y otros origamis exóticos. Barcelona: Salvatella, 2004.


175 p.

WALKER, D.; KHAN, S.; AHARONI, G. Origami Database. Disponível em:


http://origamidatabase.com. Acesso em: 2013.

229
O SERRA-PAU E A CHUVA: rELAÇÕES SUBJETIVAS ENTRE INSETOS
E PREVISÃO DO TEMPO

Saulo da Silva Oliveira

Universidade do Estado da Bahia – UNEB/DEDC XI, Serrinha, BA


E-mail: ssilvaoliveira@gmail.com

Resumo

Desenvolvido no intuito de compreender as bases estruturantes do conhecimento


do senso comum e identificar os métodos e processos que, advindos desse
conhecimento, instituem procedimentos de previsão do tempo, o presente trabalho
tem como propósito a contribuição para o diálogo entre a academia e as camadas
excluídas deste ambiente, sobretudo às comunidades rurais de agricultores
do semiárido baiano. Levando em consideração a dimensão que um trabalho
deste nível atingiria, para obter melhores resultados, o estudo se deu a partir de
um recorte espacial pequeno, a comunidade rural de Curralinho, pertencente
ao município de Barrocas, Bahia. Na pesquisa, optou-se pela metodologia de
base qualitativa, pois se considera nesta um melhor potencial para auxiliar o
pesquisador na captura da realidade a partir dos processos e da dinâmica que a
compõe, os quais escapolem a outros métodos de abordagem, utilizando para a
coleta de dados entrevistas semiestruturadas que pudessem dar voz aos sujeitos
em estudo, observações in loco e questionários com questões abertas. Sob a luz
do conceito de lugar, percepção, cotidiano e cultura, o trabalho sugere as relações
sócio-econômicas instaladas atualmente no campo e a baixa efetividade das
políticas públicas para os pequenos agricultores como principais ameaças para
manutenção da previsão popular do tempo.

Palavras-chave: Previsão do tempo; senso comum; agricultura.

230
Introdução

Estamos sujeitos ao tempo, aos eventos atmosféricos e as suas mudanças. Por


esse motivo, o homem buscou a proeza de tentar prevê-lo, amenizando dessa
forma os impactos dessas mudanças ou pelo menos tentar criar mecanismos
de sobrevivência. A previsão do tempo é extremamente necessária para toda a
humanidade, especialmente para a agricultura e para comunidades rurais que
vivem dessa atividade, pois como afirma Ayoade:

Apesar dos recentes avanços tecnológicos e científicos, o clima


é ainda a variável mais importante na produção agrícola [...]
Os parâmetros climáticos exercem influencia sobre todos os
estágios da cadeia de produção agrícola, incluindo a preparação
da terra, semeadura, crescimento dos cultivos, colheita,
armazenagem, transporte e comercialização (AYOADE, 2003,
p. 261).

Tendo em vista o exposto, pode-se perceber que se fez necessário o avanço


da ciência na área da previsão do tempo. Porém, nem só a academia conseguiu
elaborar modelos e métodos de previsão do tempo, mas também o senso comum,
através das experiências adquiridas ao longo de gerações. Entretanto, esse
conhecimento formado vem se perdendo devido a essa tendência totalizadora
da racionalidade cientifica que enobrece o cientista em detrimento do ser
humano. Nessa perspectiva, é interessante a realização de um estudo verificando
os elementos que têm contribuído para o esvaziamento da previsão do tempo
pelo conhecimento do senso comum e, favorecido o enaltecimento da previsão do
tempo a partir dos conhecimentos científicos.
Assim sendo, esse trabalho se propôs a compreender os fatores que motivam o
abandono dessa modalidade de previsão do tempo, bem como identificar o nível
de credibilidade do mesmo frente à comunidade de Curralinho, no município de
Barrocas, Bahia, tendo por consequência a análise da metodologia utilizada pelos
agricultores para realizar tal previsão.
231
Metodologia

Partiu-se da abordagem qualitativa de pesquisa para fazer a análise da prática


da previsão do tempo, situada tempo-espacialmente, tendo como referências
o cotidiano e o lugar. A escolha dessa delimitação deu-se a partir da própria
dinâmica em que esta prática utiliza-se para acontecer. Para a obtenção dos dados
e posterior análise, partimos para a pesquisa de campo e coleta de informações
verbais. Considerando que a pesquisa está voltada para a previsão do tempo a
partir do senso comum, entende-se que a proposta que melhor contempla uma
coleta de dados é a das entrevistas, acompanhada do registro fiel das escutas acerca
do que os sujeitos pensam sobre o tempo meteorológico, sua previsão, aplicações
e influências na organização da vida econômica (agrícola) da comunidade.
A validade desse trabalho advém de procedimentos metodológicos que
contemplem a escuta, aliada à observação e experiência com o objeto em estudo.
Aqui, evidenciamos a importância de dar voz a esses sujeitos, os agricultores das
comunidades envolvidas. Indo além das entrevistas fechadas, buscando o diálogo,
o ouvir atentamente as suas falas, pois contar,

significa retomar fatos, acontecimentos, relembrar detalhes,


comportamentos, e também oferecer a oportunidade de
pensarmos quem somos e como somos. Nas entrevistas,
a memória é retomada, nossas lembranças, imagens,
representações de mundo são compartilhadas com o outro
e, por vezes, pontos obscuros de nossa trajetória de vida são
aclarados. Ao falarmos de nossas vidas, estamos muitas vezes
falando da história do Brasil (Pontuschka et al, 2009, p.
183).

Para isso, foi necessário ir além, contextualizar a fala dos sujeitos e a


subjetividade envolvida em seu discurso. Pois como afirma Milton Santos
(2004, p. 315), “Uma dada situação não pode ser plenamente apreendida se, a

232
pretexto de contemplarmos sua objetividade, deixamos de considerar as relações
intersubjetivas que a caracterizam.” Assim sendo, consideramos a escolha dessa
metodologia como arriscada, uma vez que não tratamos com dados estáticos,
com números ou padrões matemáticos. Mas do que adentrar no campo das
humanidades, adentramos no campo da percepção e da memória.

Resultados parciais

A partir do campo podemos chegar à seguinte afirmativa: o conhecimento


produzido pelos agricultores a respeito da previsão do tempo é um conhecimento
oriundo de duas fontes principais, a tradição, seja ela familiar ou comunitária,
transmitida de forma oral e espontânea (sem o intermédio de nenhuma instituição
formal de ensino), e a percepção, gerada em consonância com a observação
participativa da natureza.
Questionados sobre como se sabe quando vai chover, a unanimidade
das respostas mostra que prioritariamente o saber ocorre tendo como base a
observação da natureza, sobretudo de animais, especialmente insetos, e plantas.
Quando falamos de observação, não falamos de um processo puro e simples
de visualização do que salta aos olhos, antes, porém, falamos de um processo
cognitivo complexo de percepção ambiental, pois “a observação sugere, mas não
dá a resposta, é necessário imaginação” (ALVES, 2005, p. 31). É o que se pode
inferir a partir da fala de um dos agricultores:

[...] a gente aqui tem uma certa experiência, uma certa


maneira de [...] de [...] de achar que o tempo seja [...] e que a
[...] que sempre dá resultado. Eu mesmo, eu tenho um jeito ói
tem um [...] quando você chega nos tempos de de que promete
chuva uma das coisas que eu observo bem é [...] não sei se tu
conhece aquele [...] um bichinho que chama serrador. Quando
aquilo começa a derrubar galho de árvore pode ter certeza que
a chuva é, é próxima. É uma das coisas (Informação verbal,
Senhor Raimundo, setembro 2012. Grifo nosso).
233
Desse modo, a previsão popular do tempo se desenvolve na interação entre
homem e natureza, localizados em certa porção do espaço, que devido às relações
estabelecidas entre eles, podemos denominar de lugar. É o seu trabalho na lavoura
que lhe torna meteorologista sem nunca ter tido acesso à academia. O seu livro
didático é a natureza, a sua observação e experiência, o seu método de pesquisa.
Apesar de que geralmente inconsciente, o agricultor vai fazendo geografia. Ele,
na prática, consegue a partir da leitura da paisagem prever o tempo. É o seu
cotidiano que lhe dá as bases para essa prática. Sobre isso, Cavalcanti assevera: “Ao
manipular as coisas do cotidiano, os indivíduos vão construindo uma geografia
e um conhecimento geográfico” (CAVALCANTI, 1998, apud CALLAI 2010, p.
123).
Assim sendo, o processo de construção desta forma de saber tendo como
base a observação, acontece a partir do pressuposto que existe uma ordem na
natureza. Seguindo essa ordem, para que ocorra a precipitação pluviométrica é
necessária uma série de fatores ambientais e atmosféricos propícios, a exemplo
de temperatura e umidade do ar, dentre outros elementos, os quais não nos cabe
aqui um aprofundamento.
Essas variações temporais, que são pré-requisitos para a ocorrência da chuva
propriamente dita, podem e são sentidas por algumas plantas, alguns animais
e insetos chamados de bioindicadores (ABRANTES et al, 2011). Desta forma,
os mesmos apresentam comportamentos correlatos aos efeitos destas variações
nos seus organismos. Estes comportamentos, observados e relacionados com a
ocorrência da chuva de forma repetitiva permitem aos agricultores saber quando
é tempo de chuva, pois “a ordem permite que se façam previsões” (ALVES, 2005,
p. 28).
Quanto à confiabilidade desta forma de previsão do tempo, os agricultores
revelaram confiar nas previsões: “Eu vivi 57 anos em cima disso. Não tenho
tecnologia nenhuma, e as experiências da gente são essas aqui na caatinga [...]
quem não estudou a tecnologia [...] quem não estudou, aprendeu da natureza,
né?” (Sr. Hamilton, 2012). O crédito é dado pela experiência, pela observação
e pelo tempo de uso dessas técnicas. Questionados sobre a importância dessa

234
modalidade de previsão, também foi unânime a resposta positiva. Para Raimundo,
esse conhecimento é importante, conforme explicitação que segue:

Porque você no caso, você quando você vê essas coisa [...]


você prevê chuva no caso [...] você além de ficar mais, mais
alegre, você [...] como é que diz? Você pode prevê [...] sei lá [...]
organizar um plantio [...] por isso aí já dá pra você perceber que
já dá pro cara contin [...] como é que diz? Prevê um plantio de
[...] da roça mesmo como a gente usa aqui (Informação verbal,
senhor Raimundo, setembro 2012).

Desse modo, a previsão regula a organização da produção agrícola da


comunidade. Entretanto, para a agricultura, ela só tem efeitos práticos na
influência do tipo da plantação a ser feita no período no qual a previsão pode ser
aplicada. O que motiva a realização do plantio, antes da garantia da chuva ou não,
é a necessidade real de subsistência.
Quanto ao questionamento sobre a possível perda deste conhecimento, os
agricultores revelam a existência da prática da previsão popular do tempo. Porém,
nota-se um conflito geracional, onde segundo eles os moradores mais jovens da
comunidade não dão continuidade ou não participam da manutenção natural
deste conhecimento, e mais do que isso, não acreditam nesta forma de prever o
tempo. É o que afirma o senhor Hamilton.

Tá acabando a fé da juventude porque não acredita na gente


que viveu uns tempo passado. Quem ta se perdendo todo aí é
[...] a juventude que não acredita, de fato estuda, num acredita
na ciência da gente que é a natureza. Não tenha dúvida que
vai ficar pior (Informação verbal, senhor Hamilton, setembro
2012).
Percebe-se na fala um indicativo de conflito implícito, no caso em questão
a escolarização em confronto com o conhecimento dos agricultores. Desse

235
modo, entre um dos motivos desenraizadores mais fortes está “a separação entre
a formação pessoal, biográfica mesmo, e a natureza da tarefa, entre a vida no
trabalho e a vida familiar, de vizinhança e cidadania” (BOSI, 1987, p. 21).
Outro aspecto importante, que é fator preponderante para a descontinuidade
da previsão popular do tempo, talvez o mais significante deles, é o mencionado
pelo senhor Raimundo, quando afirma que

a juventude hoje ela não trabalha muito ni roça, não se liga


muito ni roça. Hoje pra você vê isso você pode perguntar a
vamos supor [...] esse, essa mudernagem hoje de [...] de [...]
num sei você, que você é muito ligado no estudo, mas a maioria
desses jovens daqui, hoje, você pergunta o que é um serrador
de pau, um bichozinho [...] que ninguém conhece (Informação
verbal, Senhor Raimundo, setembro 2012).
Desta forma, revela-se que o saber é produzido e reafirmado também, e
principalmente a partir das relações de trabalho. A previsão do tempo é vinculada
e oriunda de profissões específicas, do trabalho na roça uma vez que “você
labutando na roça, você observando principalmente os animal, você percebe que
é uma das coisas que dá pra você entender” (idem, setembro 2012).
Para além do fato do trabalho na roça ser condicionante para a formação
deste tipo de conhecimento, identificamos outro fator base, as relações afetivas e
efetivas para com o espaço habitado, tendo como referência temporal, o cotidiano.
Considerando que a construção do conhecimento se dá em uma relação entre o
objeto e sujeito mediados por um espaço, compreendemos ser este último o lugar.
Podemos trazer essas afirmativas à luz do que foi evidente no campo, entretanto
não obstante a validade deste fato, trazemos as falas do senhor Hamilton que diz
que

A gente é [...] é [...] daqui, conhece isso aqui de perto [...] E


o que a gente, o que a gente aprendeu vem do das raízes [...]
vem do avô, vem [...] essas, essas, esses provérbios que a gente

236
usa são o que a gente aprendeu do dos avó, dos tios, os mais
velhos, porque eles passaram, acompanharam tudo isso aí
(informação verbal, Senhor Hamilton, setembro 2012).

Destrinchando o que é dito, sem, no entanto, perder a riqueza da fala na


íntegra, podemos analisar alguns fatores reveladores. O fato de ser do lugar, do
conhecer de perto, a noção forte do pertencimento, a relação afetiva com a terra,
torna o agricultor parte do campo, parte fundamental da paisagem rural. Assim
sendo, deve-se avançar no sentido não só de analisar o lugar, mas antes, porém,
como os agricultores,

É preciso conhecer este lugar e, para isso, há que se considerar


que cada sujeito vai trabalhar com seu cotidiano; ali ele
“conhece tudo”, sabe o que existe e o que falta, como são as
pessoas, como estão organizadas as atividades, como é o lugar,
enfim. Este é um saber do senso comum, aquele que faz parte
da rotina diária de vivência (sabe-se de ver, de ouvir, de contar
etc.) (CALLAI, 2010, p. 33).

Esse pertencimento junto com o conhecimento do lugar é o que permite ao


homem a criação de raízes, como citado na entrevista, vínculos afetivos não só com
o lugar, mas também com a comunidade, com a cultura local. E esse enraizamento
é demasiadamente importante para a manutenção da previsão popular do tempo.

Referências

ALVES, R. Filosofia da ciência: introdução ao jogo e suas regras. 9ª ed. São Paulo:
Loyola, 2005.

AYOADE, J. Introdução à Climatologia para os Trópicos. Rio de Janeiro: Bertrand


Brasil, 2003.

237
BOSI, A. (Org.). Cultura brasileira: temas e situações. São Paulo: Ática, 1987.

CALLAI, H. Escola, cotidiano e lugar. In: BUITONI, M (Coord.). Geografia:


ensino fundamental. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação
Básica, 2010.

FORDYSKE, A.G. Previsão do tempo e clima. 2. ed São Paulo: Melhoramentos,


1978.

FOUCAULT, M. A arqueologia do saber. 3ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1987.

PONTUSCHKA, N.N.; Paganelli, T.L.; Cacete, N.H. Para ensinar e aprender


Geografia. 3ª ed. São Paulo: Cortez, 2009 (Coleção Docência em Formação – Série
Ensino Fundamental).

RIQUE, L.. Do Senso Comum à Geografia Científica. São Paulo: Contexto, 2004.

SANTOS, B.S. Um Discurso Sobre as Ciências. 7ª ed. São Paulo: Cortez, 2010.

SANTOS, M. A Natureza do Espaço: Técnica e Tempo, Razão e Emoção. 4ª ed.


São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2004.

SILVA, S. A liberdade no “fazer ciência” em Geografia. Terra Livre, São Paulo, n.


19, p. 213-228, jul./dez. 2002. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br> Acesso
em: 02 agosto 2012.

238
Mitos e crendices sobre os Orthoptera (Insecta) no
município de Cruz das Almas, Bahia, Brasil

Raysa Martins Lima, Daniela Santos M. Silva, Daiane de Jesus Oliveira, Adriane
Vieira, Pamela Conceição, Eduardo Nogueira, João Paulo Morselli & Marcos
Gonçalves Lhano

Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), Centro de Ciências


Agrárias, Ambientais e Biológicas (CCAAB). Laboratório de Ecologia e
Taxonomia de Insetos (LETI). Rua Rui Barbosa, 710, CEP 44380-000, Cruz das
Almas - BA. E-mail: raysa_martins@yahoo.com.br.

Introdução

Os insetos, apesar de serem muitas vezes generalizados como pragas, vetores


de doenças ou inúteis, apresentam importância ecológica, utilitária, científica e
cultural. Segundo Costa Neto (1998), há várias explicações para a importância
dos insetos na cultura humana, mas seu significado frequentemente repousa em
valores culturalmente simbólicos. O estudo de como os insetos são percebidos,
classificados, conhecidos e utilizados pelas populações humanas é de domínio
da Etnoentomologia, sendo um campo de pesquisa relativamente novo (COSTA
NETO, 2003).
A entomologia tem se interessado desde há muito com a sobrevivência
(entomologia econômica ou aplicada) e estudo científico, mas o ramo de
investigação que aborda a influência de insetos (e outros artrópodes) na literatura,
línguas, música, artes, história interpretativa, religião e recreação só recentemente
foi reconhecido como um campo distinto, sendo conhecido como “entomologia
cultural” (HOGUE, 1987).
Historicamente, os insetos têm então assumido uma importante posição
para determinados grupos étnicos ou nações. Para os antigos egípcios e culturas
vizinhas, vários insetos eram reverenciados. Os japoneses têm uma tradição

239
bem desenvolvida de apreciação estética aos insetos, refletido em sua literatura,
arte e atividades recreativas (HOGUE, 1987). Dentre os insetos com valor
etnoentomológico, destacam-se os ortópteros (COSTA NETO, 1998).
A ordem Orthoptera é dividida em duas subordens: Caelifera, representada
pelos gafanhotos e manés-magros, e Ensifera, que compreende os grilos,
esperanças e paquinhas. No folclore brasileiro, o grilo e a esperança representam
sorte e dinheiro. O cricrilar do grilo é interpretado como anúncio de dinheiro e
sorte.
Este trabalho tem por objetivo identificar os conhecimentos, crenças e
sentimentos que intermediam as relações homem/Orthoptera, no município de
Cruz das Almas, Bahia, procurando aumentar o conhecimento sobre este grupo,
possibilitando assim sua maior valorização.

Metodologia

Os dados foram obtidos durante o mês de março de 2013, por meio de trabalho
de campo (entrevistas), além de revisão bibliográfica em livros, manuscritos e
artigos referentes ao conhecimento popular sobre os ortópteros em diferentes
Estados do Brasil.
As entrevistas foram realizadas com moradores do município de Cruz das
Almas, localizado na região do Recôncavo Baiano. Consistiram de entrevistas
individuais e coletivas em que 166 moradores em diferentes faixas etárias (17
a 72 anos) participaram. Os objetivos da pesquisa eram repassados de maneira
clara e objetiva no início de cada entrevista. Foram mostradas fotografias de
representantes de cada grupo (Gryllidae, Acrididae, Gryllotalpidae, Proscopiidae)
para que os participantes da pesquisa fizessem o reconhecimento e descrição dos
conhecimentos associados a esses insetos.
Os dados foram analisados qualitativamente e comparados com pesquisas
realizadas em diferentes partes do Brasil.

240
Resultados e Discussão

Os relatos obtidos evidenciam as diferentes percepções que a população de


Cruz das Almas mantém com os Orthoptera (Tabela 1), que incluem mesmo a
crença de que esses animais são venenosos (“Pode matar as pessoas”, Dona F., 66
anos; “À noite se transformam em cobra”, Dona A., 68 anos). Há também aqueles
que têm simpatia por alguns de seus representantes (“A esperança é tão bonita
[...] Os outros eu acho feio”, Dona M., 59 anos).

Tabela 1: Relatos obtidos por moradores de Cruz das Almas a respeito das
superstições que conhecem sobre ortópteros, obtidos em março de 2013.
Orthoptera Relatos
Traz coisas boas (sorte, paz, boas notícias, esperança, dinheiro,
harmonia, prosperidade)
Esperança Anuncia visita
Se for verde traz boas notícias. Se não for, traz más notícias
Não pode matá-la/traz azar, coisas ruins
Seu canto indica mudança no tempo (chuva, sol)
Trazem coisas boas (sorte, dinheiro)
Grilo Pragas (em uma época)  
Não pode matá-lo/traz azar, coisas ruins
Canto causa incômodo  
Pragas/ em uma época ele vira praga
Associado a mudança de tempo (início de período chuvoso)
Gafanhoto
Associado a coisas boas
Associados a coisas ruins (azar, más notícias)
Venenoso    
Mané-magro Traz azar      
Vira cobra    
Associados a coisas ruins (traz azar, medo)
Paquinha “Mãe expulsou filha de casa, que virou o bicho”
Venenoso    

241
A maioria dos relatos obtidos com os moradores de Cruz das Almas refere-se
ao valor simbólico que as esperanças (Tettigoniidae) representam. Foi observada
que sua aparição estava relacionada com pontos positivos, tais como a chegada
de sorte, paz, boas notícias, prosperidade, dinheiro, harmonia e esperança. O que
também foi observado por Lima (2000) com alguns moradores do povoado de
Capueiruçu, Bahia. Também foi relatado que o canto dos grilos causa incômodo e
indica a chegada de dinheiro e sorte. Em Capueiruçu, Lima (2000) observou que
presságios com grilos ocorrem de acordo com a constância de seu canto: se o grilo
cantar direto sem parar anuncia gravidez, se cantar e parar anuncia dinheiro.
Gafanhotos e grilos foram considerados por alguns entrevistados como
“entomoindicadores”, o que de acordo com Costa Neto (2004) são insetos que
indicam, anunciam, trazem ou preveem fenômenos naturais e fatos corriqueiros
culturalmente enviesados. Segundo os entrevistados, o canto dos grilos indica
uma mudança no tempo (indicaria início de chuva ou sol), enquanto a presença
ou canto dos gafanhotos estaria relacionada ao início do período chuvoso. Nos
relatos colhidos por Ulysséa e colaboradores (2010), os informantes relatam que a
aparição de um grupo de gafanhotos está relacionada a uma mudança no tempo,
para chuva ou vento sul.
Os grilos, assim como gafanhotos, foram considerados pragas, sendo que
alguns entrevistados acreditam que em algum período do ano, “em uma época ele
vira praga” (Dona L., 78 anos). Costa Neto (1998) registra atitudes de desprezo,
medo e aversão relacionadas a insetos, sendo caracterizada a entomofobia.
A presença de uma paquinha segundo Costa Neto (2004), tem um duplo
significado para alguns moradores do povoado de Pedra Branca (Bahia): estes
insetos podem trazer sorte e chuva. O que não foi observado nos relatos coletados
no município estudado, onde esees animais representariam “coisas ruins”, tais
como azar, além de serem considerados venenosos. Segundo Costa Neto (2004), é
provável que haja mesmo uma ligação entre o ato das paquinhas abrirem galerias
e a precipitação, visto que a literatura registra que os Gryllotalpidae só aparecem
na superfície do solo depois de chuvas fortes ou durante seus voos de dispersão
para colonizar novas áreas.

242
Observou-se que a presença de gafanhotos, paquinhas e manés-magros é
considerada por alguns entrevistados como indicadores de algo ruim, como azar,
más notícias, além de sentirem medo destes animais. Dona M., 68 anos, relata
que o mané-magro é “azarento e tem gente que diz que ele vira cobra”. Quanto
aos grilos, seu canto pode causar incômodo, e assim como as esperanças, alguns
entrevistados acreditam que se matá-los pode trazer azar (“[...] grilo eu não gosto
do barulho não, incomoda, eu mato logo”, Dona J., 66 anos).

Segundo os relatos colhidos por Costa Neto (1998) no povoado Marituba


do Peixe, baixo São Francisco alagoano, a presença da esperança-da-boca-preta
sinaliza um acontecimento ruim. Em Caraguatatuba, São Paulo, um grilo preto
dentro do quarto é sinal de doença, um grilo cinza é sinal de dinheiro e um verde,
de esperança (LENKO; PAPAVERO, 1996 apud COSTA NETO, 2004).

Conclusão

A esperança (Tettigoniidae) foi a representante do grupo mais comum e popular


para os entrevistados. A mesma também apresentou uma maior frequência de
ocorrência de percepções positivas, ou seja, os voluntários apresentaram mais
sentimentos de simpatia, relacionando-a a acontecimentos bons. Enquanto que
gafanhoto, mané-magro e paquinha são os mais “mal-vistos” pela população
cruz almense, apresentando uma porcentagem maior de percepções negativas
relacionados a sua presença.

Referências

COSTA NETO, E.M. Estudos etnoentomológicos no estado da Bahia, Brasil: uma


homenagem aos 50 anos do campo de pesquisa. Biotemas, v. 17, n. 1, p. 117 - 149,
2004.

COSTA NETO, E.M. O significado dos Orthoptera (Arthropoda, Insecta) no


estado de Alagoas. Sitientibus, n. 18, p. 9-17, 1998.
243
COSTA NETO, E.M. Etnoentomologia no povoado de Pedra Branca, município de
Santa Terezinha, Bahia: um estudo de caso das interações seres humanos/insetos.
2003. 241 f. Tese (Doutorado em Ecologia e Recursos Naturais) – Universidade
Federal de São Carlos.

LIMA, K.L.G. Etnoentomologia no recôncavo baiano: um estudo de caso no


povoado de Capueiruçu, Cachoeira. 2000. 52 f. Monografia (Especialização em
Entomologia) –, Universidade Estadual de Feira de Santana.

HOGUE, C.L. Cultural Entomology. Annual Review of Entomology, v. 32, p. 181-


199, 1987.

MORSELLI, J.P. Sistemática das espécies brasileiras de Lutosa Walker, 1869


(Orthoptera, Stenopelmatoidea, Anostostomatidae. 2010. Tese (Doutorado em
Zoologia) – Instituto de Biociências de Botucatu, Universidade Estadual Paulista.

ULYSSÉA, M.A.; Hanazaki, N.; Lopes, B.C. Percepção e uso dos insetos pelos
moradores da comunidade do Ribeirão da Ilha, Santa Catarina, Brasil. Biotemas,
v. 23, n. 3, p. 191-202, 2010.

244
Percepção dos estudantes do ensino médio e ensino
superior de Cruz das Almas-Ba sobre gafanhotos
(Insecta, Orthoptera)

Adriane Vieira Souza, Pâmela de Jesus Conceição Raysa Martins Lima, Daniela
Santos M. Silva, Daiane de Jesus Oliveira, Eduardo Nogueira & Marcos
Gonçalves Lhano

Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), Centro de Ciências


Agrárias, Ambientais e Biológicas (CCAAB). Laboratório de Ecologia e
Taxonomia de Insetos (LETI). Rua Rui Barbosa, 710, CEP, 44380-000, Cruz das
Almas - Bahia. E-mails: drica_67@hotmail.com, pamelajc02@hotmail.com,
raysa_martins@yahoo.com.br, danielasantos.biology@gmail.com, daibio21@
gmail.com, dudu_nss@hotmail.com, marcos@ufrb.edu.br

Introdução

A percepção que os seres humanos têm sobre determinado ser vivo tem impacto
direto sobre os seus usos dentro dos rituais e atividades produtivas e culturais do
grupo étnico em questão (MODRO et al, 2009). Em relação aos insetos, devido
a sua grande abundância e distribuição e por estarem sempre presentes na vida
das pessoas nas mais variadas situações, logo as experiências que cada individuo
apresenta possivelmente irá afetar seu julgamento e sua percepção sobre esses
animais (ULYSSÉA et al, 2010).
Algumas espécies da classe Insecta podem receber uma classificação
etnoentomológica diferente por apresentarem uma percepção positiva dentro
da sociedade em questão (MODRO et al, 2009). Dentro do grupo de insetos
bastante conhecidos entre as populações estão os insetos pertencentes à ordem
Orthoptera. Os ortópteros estão presentes no mundo inteiro, com cerca de 24.000
espécies descritas cientificamente (MORSELLI et al., 2011). São representados
pelos popularmente conhecidos grilos, esperanças, paquinhas e gafanhotos.

245
Os gafanhotos apresentam cores, formas, tamanhos, modos de vida e sons
que causam certo impacto sociológico nas diferentes culturas humanas (COSTA
NETO, 2003). Eles estão presentes na vida do homem há muito tempo, seja em
relação ao ponto de vista negativo, relacionado à destruição das culturas (pragas),
ou até mesmo positivamente, sendo útil ao homem na alimentação e ciclagem de
nutrientes, ou seja, apresentando uma ampla variedade de significados.
Em virtude de conhecer o grau de informações que os estudantes apresentam
dentro do seu amadurecimento científico a respeito dos gafanhotos, o objetivo
deste estudo foi de fazer um diagnóstico da percepção sobre gafanhotos entre
estudantes do ensino médio e superior.

Metodologia

O estudo foi realizado no município de Cruz das Almas, Estado da Bahia


(12°40’39”S, 39°40’23”O, altitude de 220m), situado no Recôncavo Sul. Os dados
foram obtidos mediante o preenchimento de um questionário simples contendo
três itens. O primeiro item referia-se à pergunta “Qual desses animais é um
gafanhoto?”. Foram mostradas imagens de outros ortópteros, como esperanças,
grilos e paquinhas e do gafanhoto, para que os estudantes inferissem qual eles
identificavam como sendo o gafanhoto. O segundo item trazia a pergunta “De
acordo com as figuras apresentadas, marque um X na alternativa em que retrata
a importância dos gafanhotos”. Para essa questão eram apresentadas imagens
de gafanhotos como pragas em culturas, gafanhotos na alimentação humana,
gafanhotos participando da cadeia alimentar/ ciclagem de nutrientes e uma
imagem em que afirmava que eles não serviam para nada. No ultimo item,
perguntou-se “Qual sua reação quando vê um gafanhoto?”.
O questionário foi aplicado durante o mês de março/2013 junto a estudantes
de graduação da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia e estudantes do
Ensino médio de escolas do município de Cruz das Almas, onde eram entregues
as fichas para os estudantes e lhes era explicado o objetivo da pesquisa. Foram
distribuídas 80 fichas para os estudantes do ensino médio e 80 para o ensino

246
superior. Do total das 160 fichas, foram devidamente preenchidas 79 dos alunos
do ensino médio e 68 do ensino superior.
Os questionários (fichas) encontram-se guardados no Laboratório de Ecologia
e Taxonomia de Insetos da UFRB para fins de comprovação. Os dados coletados
foram analisados de forma qualitativa e quantitativa.

Resultados e Discussão

De acordo com as respostas dos questionários aplicados, foi observado que


tanto os alunos do ensino médio quanto os do ensino superior mostraram-se
interessados em responder o questionário. Entre os alunos do ensino médio, mais
de 50% souberam identificar o gafanhoto, embora 12% e 8% marcaram esperança
e grilo como sendo gafanhoto, respectivamente. Já em relação ao nível superior
todos se mostraram seguros nas suas respostas, pois todos os entrevistados
responderam corretamente (Tabela1).
Uma pequena percentagem dos entrevistados respondeu que sente medo na
presença de gafanhotos (Tabela 1). Costa Neto (1998) observou sentimentos de
desprezo, medo e aversão em atitudes humanas relacionadas a insetos, sendo
caracterizada a entomofobia. O conhecimento sobre a biologia e ecologia dos
insetos pode auxiliar na compreensão do papel deste grupo no ambiente, assim
como mudar as relações humanas com ele (Costa Neto, 2004). Essa afirmação
condiz com algumas respostas que alguns estudantes tanto do ensino médio quanto
superior deram ao dizerem que gafanhotos não serviriam para nada (Tabela 1).

Tabela 1: Dados dos questionários dos estudantes do Ensino Médio e


Superior.
Questão 1- Qual desses animais é um gafanhoto?
esperança grilo gafanhoto paquinha mané-magro
Ensino médio 12% 8% 77% 0% 2%
Ensino Superior 0% 0% 100% 0% 0%

247
Questão 2- Representa a importância dos gafanhotos?
praga alimentação cadeia alimentar para nada
Ensino médio 54% 4% 35% 6%
Ensino Superior 52% 7% 41% 7%
Questão 3- Qual sua reação ao ver um gafanhoto?
Acha bonito Faz nada Mata Medo Acha feio Sente
nojo
Ensino médio 6% 74% 8% 6% 1% 2%
Ensino Superior 27% 60% 1% 7% 0% 3%
Foi observado na análise que, com o avanço nos níveis de escolaridade, os
estudantes apresentam uma tendência a obter uma percepção mais fundamentada
em relação aos gafanhotos. Desta forma, pode-se dizer que as atividades escolares
contribuem para a construção de um conhecimento mais coerente com o saber
científico estudado em sala de aula.

Conclusão

É imprescindível notar que existe uma diferença de percepção entre os alunos


do ensino médio e superior, embora em algumas situações as opiniões fossem
semelhantes, pois no ensino superior existe uma sensibilização em relação à
importância da conservação destes insetos, sendo necessárias mais discussões a
respeito da importância dos insetos entre os alunos do nível médio.

Referências

COSTA NETO, E.M. Estudos etnoentomológicos no estado da Bahia, Brasil: uma


homenagem aos 50 anos do campo de pesquisa. Biotemas, v. 17, n. 1, p. 117 - 149,
2004.

COSTA NETO, E.M. Etnoentomologia no povoado de Pedra Branca, município de


Santa Terezinha, Bahia: um estudo de caso das interações seres humanos/insetos.

248
2003. 241 f. Tese (Doutorado em Ecologia e Recursos Naturais) – Universidade
Federal de São Carlos.

COSTA NETO, E.M. O significado dos Orthoptera (Arthropoda, Insecta) no


estado de Alagoas. Sitientibus, Feira de Santana, n. 18, p. 9-17, 1998.

MODRO, H.F.A.; COSTA, S.M.; MAIA, E.; ABURAYA, H.F. Percepção


entomológica por docentes e discentes do município de Santa Cruz do Xingu,
Mato Grosso, Biotemas, v. 22, n. 2, p. 153-159, 2009.

MORSELLI, J.P. Sistemática das espécies brasileiras de Lutosa Walker, 1869


(Orthoptera, Stenopelmatoidea, Anostostomatidae. 2010. Tese (Doutorado em
Zoologia) – Instituto de Biociências de Botucatu, Universidade Estadual Paulista.

ULYSSÉA, M.A.; Hanazaki, N.; Lopes, B.C. Percepção e uso dos insetos pelos
moradores da comunidade do Ribeirão da Ilha, Santa Catarina, Brasil. Biotemas,
v. 23, n. 3, p. 191-202, 2010.

249
GAFANHOTOS (ORTHOPTERA: CAELIFERA) CORTADORES,
DEVORADORES E DESTRUIDORES?

Daniela Santos M. Silva, Daiane de Jesus Oliveira, Adriane Vieira, Raysa Martins
& Marcos Gonçalves Lhano

Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), Centro de Ciências


Agrárias, Ambientais e Biológicas (CCAAB), Laboratório de Ecologia e
Taxonomia de Insetos (LETI). Rua Rui Barbosa, 710, CEP 44380-000, Cruz das
Almas – BA. E-mail: danielasantos.biology@gmail.com/ daibio21@gmail.com/
drica_67@hotmail.com/ raysa.ml@hotmail.com/ marcos@ufrb.edu.br

Resumo

Os gafanhotos são insetos historicamente relacionados com a nossa espécie. Esta


interação foi marcada por diversos registros, como a realizada pelos textos bíblicos
do Antigo Testamento, que perduram no consciente popular e que atualmente
estão demonstrados em diferentes mídias. Em grande parte destes registros,
os gafanhotos são figuras importantes na divulgação de diferentes mensagens,
porém, a maioria enfatiza negativamente o papel dos gafanhotos no ambiente.

Palavras-chaves: etnoentomologia, registros, insetos.

Introdução
“[...] Quando o homem surgiu sobre a face da terra – hirsuto e
falto de discernimento, ainda mal diferenciado dos antropoides
seus primos mais próximos – os insetos apresentavam-se
altamente especializados e evoluídos, mercê de uma enorme
anterioridade de vida sobre o planeta. Isso explica a razão da

250
prática invencibilidade dos insetos face aos esforços fabulosos
que a humanidade tem empregado – desde as mais remotas eras
– a fim de livrar-se do ataque de gafanhotos, formigas, baratas,
traças, carunchos, cupins, percevejos, taturanas, pulgas,
pulgões, cochonilhas, brocas, mosquitos [...] devastando
colheitas, danificando alimentos, habitações, vestuários,
sugando o nosso sangue, transmitindo-nos doenças. São os
insetos os mais temíveis e implacáveis concorrentes do homem
no usufruto e domínio da Terra.”

J.S.Inglez de Souza São Paulo, setembro de 1956 (CARRERA,


1973).

Há muito a Entomologia é a ciência que lida com questões relacionadas à


produção de alimentos, economia e, mais recentemente, a aspectos ligados à
cultura: literatura, línguas, música, artes, história, religião e lazer (HOGUE,
1987). Neste contexto, a etnoentomologia surge como estudo interdisciplinar
que aborda os conhecimentos, crenças, sentimentos e os comportamentos que
intermediam as relações entre as populações humanas e os insetos (PACHECO,
2001). Dentre os insetos com valor etnoentomológico, destacam-se os ortópteros
(COSTA NETO, 1998).
Os gafanhotos pertencem à ordem Orthoptera na subordem Caelifera,
constituindo um grupo monofilético com sinapormorfias características, como
a estrutura do ovopositor que possui quatro valvas funcionais com musculatura
transversal, antenas com menos de trinta segmentos e tímpano abdominal
(ROWELL; FLOOK, 1997). Diante de sua função ecológica como consumidores
primários, são estudados principalmente por entomologistas e ecólogos por
exercerem competição direta por alimento com os demais seres vivos (RODEL,
1977), e devido a sua biologia e morfologia basal os gafanhotos auxiliam no
desenvolvimento de diversos trabalhos científicos (CHAPMAN; JOERN, 1990).
O primeiro registro histórico da presença dos gafanhotos e de sua interação

251
com o homem surgiu a partir das informações presentes na Bíblia. No Antigo
Testamento, o Livro de Êxodo traz as dez pragas que assolaram o Antigo Egito
causadas pela recusa do Faraó em libertar o povo de Israel. Os gafanhotos foram
a oitava praga lançada em que

“subiram os gafanhotos por toda terra do Egito e pousaram


sobre todo o território; eram muitos numerosos; antes destes,
nunca houve tais gafanhotos, nem depois deles virão outros
assim. Porque cobriram as superfícies de toda a terra, de modo
que a terra se escureceu, devoraram toda a erva da terra e todo
o fruto das árvores que deixara a chuva de pedras; e não restou
nada verde nas árvores, nem na erva do campo, em toda a terra
do Egito” (Êxodo 10. 14-15).

Eles são considerados um sério problema em regiões da África e Ásia


(LUBILOSA, 2012), uma vez que nestas localidades historicamente apresentam
comportamento migratório e causam impactos negativos na economia. No Brasil,
a partir de 1984, em consequência do recuo das vegetações naturais, do aumento
dos perímetros irrigados e da introdução de novas culturas agrícolas, os problemas
relacionados ao ‘flagelo acridiano’ surgiram primeiramente no Sul e Sudeste do
país com populações de gafanhotos oriundas do Paraguai e Argentina. Até o ano
de 1987, surgiram grandes populações no Mato Grosso e no Nordeste, sendo a
situação no Mato Grosso mais preocupante. Em 1986, cerca de vinte milhões de
hectares estavam infestados e com o auxílio da FAO (Organização das Nações
Unidas para Alimentação e Agricultura), três milhões de dólares foram utilizados
no combate a estes insetos (DURANTON et al., 1987).
Uma vez que os principais registros que exploram a relação homem/
gafanhotos remetem à produção de alimento, o objetivo deste trabalho foi
sintetizar diferentes interações entre estes dois organismos, expondo os principais
dados coletados referentes ao histórico da relação do homem com estes insetos.

252
Metodologia

Buscou-se levantar registros referentes à interação homem/gafanhotos além


das abordadas na produção de alimentos a partir de dados obtidos por revisão
bibliográfica do assunto em livros, manuscritos, artigos, web sites e diferentes
mídias.

Resultados

Dentre os principais registros consultados, os seguintes apontamentos foram


encontrados: em 1950 no norte do Estado de Minnesota (Estados Unidos), surgiu
uma lenda que cresceu entre os norte-americanos de ascendência finlandesa.
Segundo a lenda, São Urho perseguiu os gafanhotos na Finlândia antiga,
poupando assim a colheita de uva e os empregos dos trabalhadores finlandeses.
Ele fez isso proferindo a frase: “Heinäsirkka, heinäsirkka, mene täältä hiiteen”
(traduzido aproximadamente: “Gafanhoto, gafanhoto, vá para o inferno!”). Em
comemoração, as cores roxas e verdes são destaque na festa que comemora o dia
de São Urho, conhecido e celebrado nos Estados Unidos e Canadá, e até mesmo
na Finlândia, sendo comemorado em 16 de março (SAINT URHO, 2013).
Quanto aos personagens dedicados a atos em prol do interesse público (super-
heróis), no México surgiu “El chapulín Colorado” (gafanhoto vermelho), um
personagem popular criado e interpretado pelo autor Roberto Gómez Bolamos na
década de setenta do século XX. Tratava-se de um super-herói cômico, distraído,
baixinho, magro, fraco, ingênuo e medroso. Apesar de todas suas deficiências e
desvantagens, ele afronta os perigos por causas nobres. Tal personagem surgiu
como uma completa oposição aos tradicionais super-heróis americanos para fins
de transmissão de uma mensagem importante: a verdadeira coragem não consiste
em não ter medo de nada, mas em vencer seus medos (CHESPIRITO, 2013).
O representante brasileiro neste contexto foi criado na cidade de Osasco. Os
autores Cadu Simões e Ricardo Marcelino criaram um personagem conhecido

253
como Homem-Grilo (teoricamente um gafanhoto) que representa a união de
todos os super-heróis conhecidos. Nesta história, o personagem principal, Carlos
Parducci, é um jovem que é mordido por um grilo radioativo e recebe deste as
habilidades que ele não sabe para que servem.

“Carlos então resolveu fazer bom uso de seus novos poderes


e, assumindo o nome de Homem-Grilo, começou a combater
o crime e a proteger os fracos e indefesos em Osasco City.
Outra peculiaridade de nosso herói é que ele é o tempo todo
confundido pelas pessoas com o Chapolin Colorado. O que
Carlos não consegue entender porque, já que o uniforme
do Homem-Grilo é completamente diferente ao do herói
mexicano. Excetuando-se, claro, as asinhas nas costas e as
anteninhas” (HOMEM GRILO, 2013).

Ainda neste mesmo contexo, no Japão uma série de ficção científica em


que um estudante de bioquímica muito inteligente adquire superpoderes e cuja
vestimenta e moto se assemelham a gafanhotos foi criado pelo mangaká Shotaro
Ishinomori em 1971. O super-herói nipônico Kamen Rider tornou-use um dos
tokusatsu de maior sucesso do Japão.
Nos cinemas em 1934, os estúdios Walt Disney produziram uma animação
curta intitulada “The grasshopper and the ants” (O gafanhoto e as formigas)
em que as trabalhadoras e cautelosas formigas se preparam para o inverno que
ainda estava por chegar, enquanto o gafanhoto acredita que “a natureza tudo
proverá e por isso ninguém precisa trabalhar”, passando todo o tempo cantando
(THE GRASSHOPPER AND THE ANTS, 1934). No filme “A Bug’s Life” (1998)
(Vida de Inseto), os gafanhotos foram retratados como insetos gananciosos que
exigiam das formigas parte de seus alimentos. Neste filme, a colheita é perdida
e os gafanhotos começam a atacar as formigas que são forçadas a pedir ajuda a
outros insetos para enfrentá-los numa batalha. Tais cenas endossaram a ideia de
que os gafanhotos são seres devastadores, que tiram vantagens dos outros e cuja

254
existência compromete os seres a sua volta.
Em 2005, outro filme “Locust” (Locust: O dia da destruição) traz os gafanhotos
aos cinemas cujo enredo se inicia com a criação de gafanhotos geneticamente
modificados oriundos do cruzamento de uma espécie australiana com o gafanhoto
do deserto por um cientista do Departamento de Agricultura na Virgínia. Eles
são resistentes aos pesticidas e se reproduzem rapidamente e logo dão origem a
duas enormes nuvens que destroem tudo e todos no caminho, fazendo o exército
pensar em tomar medidas extremas para contê-los.
Além do cinema, encontramos citações referentes aos gafanhotos em outros
meios de publicação. Em 1993, a banda norueguesa A-ha lançou o quinto álbum
“Memorial Beach” e neste a quinta faixa tinha como título a música “Locust”.
Outro grupo musical que também cita estes insetos no título de sua obra é a
banda brasileira Cidade Negra, em seu primeiro álbum “Lute para Viver”, com
músicas abordando temas sociais e políticos, trouxe em seu repertório a música
“Gafanhoto”. Esta música segue o padrão do álbum, explorando a relação entre
os políticos (representados pelos gafanhotos) que usufruem dos recursos em
detrimento do povo.
Outro registro referente à interação homem/gafanhotos foi realizada pelo
pintor surrealista Salvador Dalí, um dos grandes artistas do século passado
que demonstrava em suas obras a presença dos gafanhotos como símbolos
do desperdício, destruição e do medo. Decorrente do temor oriundo de sua
infância, em suas pinturas os gafanhotos são representados como grandes insetos
intimidadores que se alimentam inclusive do tema principal dos seus trabalhos
(MODERN MASTERS GALLERY, 2013). Ainda foram utilizados em propagandas
publicitárias da agência FedEx, a maior transportadora aérea expressa do mundo
(FEDEX, 2013) para realçar o rápido serviço de entrega desenvolvido por esta
empresa.
Assim, concluímos que diferentes meios de divulgação utilizam a figura dos
gafanhotos para transmitir mensagens desejadas, porém os principais registros
ainda destacam negativamente o papel dos gafanhotos como consumidores
primários no ambiente.

255
Referências

BIBLIA. Antigo e Novo Testamento. 2ª ed. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil,
1988.

CARRERA, M. Entomologia para você. 4ª ed. São Paulo: Edart, Livraria e Editora
LTDA, 1973. 185p.

CHAPMAN, R.F.; JOERN, A. Biology of grasshoppers. Nova York: John Wiley &
Sons 1990. 563 p.

CHESPIRITO. Disponível em: http://www.chespirito.com. Acesso em: 22 de


fevereiro de 2013.

COSTA NETO, E.M. O significado dos Orthoptera (Arthropoda, Insecta) no


estado do Alagoas. Sitientibus, n. 18, p. 9-17p, 1998.

DURANTON, J.F.; LAUNOIS, M.; LAUNOIS-LUONG, H.; LECOQ, M.


Guia prático de luta contra os gafanhotos devastadores no Brasil. FAO: Rome;
Montpellier: CIRAD/PRIFAS, 1987. 161 p.

FEDEX. Disponível em: http://www.fedex.com/br/. Acesso em: 15 de fevereiro de


2013.

HOGUE, C.L. Cultural Entomology. Annual Review of Entomology, v. 32, p. 181-


199, 1987.

HOMEM GRILO. Disponível em: http://homemgrilo.com. Acesso em: 10 de


março de 2013.

LUBILOSA. Lutte Biologique contre les Locustes et les Sauteriaux. Disponível em:

256
http://www.lubilosa.org/. Acesso em: 20 de fevereiro de 2013.

MODERN MASTERS GALLERY. Disponível em: http://www.


modernmastersgallery.com/. Acesso em: 05 de março de 2013.

PACHECO, J.M.P. Etnoentomologia: O que é um inseto? Informativo da Sociedade


Entomológica do Brasil, v. 26, n. 2, p. 1, 2001.

RODELL, C.F. A grasshopper model for a grassland ecosystem. Ecology, v. 58, n.


2, p. 228-245, 1977.

ROWELL, C.H.F.; FLOOK, P.K. The phylogeny of the Caelifera (Insecta,


Orthoptera) as deduced from mtrRNA gene sequences. Molecular Phylogenetics
and Evolution, v. 8, n. 1, p. 89-103, 1997.
SAINT URHO. Disponível em: http://www.sainturho.com. Acesso em: 05 de
fevereiro de 2013.

THE GRASSHOPPER AND THE ANTS. Direção: Wilfred Jackson: Walt Disney
Productions, 1934. DVD (8:26 min).

257
OS PROVÉRBIOS NO COTIDIANO ENTOMOLÓGICO:
ORDEM HYMENOPTERA

Petrônio Emanuel Timbó Braga

Universidade Estadual Vale do Acaraú- UVA, Sobral, Ceará

Resumo

Os provérbios contêm informações culturalmente importantes sobre os


mais variados temas. Este estudo faz parte de um inventário paremiológico, a
partir da reunião dos provérbios relacionados ou associados aos insetos mais
expressivos encontradas na literatura cultural. Este envolveu a seleção de
provérbios relacionados aos indivíduos pertencentes à Ordem Hymenoptera, em
fontes documentais, impressa e eletrônica e distribuição em diferentes categorias.
Os resultados revelaram um universo cultural construído a partir do uso de
provérbios envolvendo os himenópteros, com destaque as citações com formigas
e abelhas.

Palavras-chave: inseto, folclore, cultura.

Introdução

Há muitas particularidades interessantes sobre os insetos, desde sua biologia


até seu uso na medicina popular e sua aparição nas crenças, lendas e superstições
dos povos (NOMURA, 2006). Na literatura encontramos muitos provérbios
relacionados aos insetos e inúmeros são os exemplos de como a sabedoria popular,
através da paremiologia, alia a entomologia numa mesma expressão.
Para Xatara e Succi (2008), conceituar, descrever, analisar e inventariar
provérbios é tema relevante na fraseologia popular ou, em termos ainda mais
específicos, nos estudos paremiológicos. O estudo da descrição, da classificação, da

258
etimologia e da pragmática dos provérbios dá-se o nome de paremiologia, palavra
derivada de parêmia, sinônima de provérbio, tal como se admite que o são: adágio,
aforismo, apotegma, ditado, dito, exemplo, máxima, rifão, sentença. Embora haja
algumas diferenças, mais ou menos acentuadas, entre todos estes conceitos, elas
não têm sido enfatizadas pelos autores que os antologiaram nem pelos escritores
que nas suas obras a eles recorreram, pelo que se torna particularmente difícil
distingui-los entre si, tanto mais que, na maioria dos casos, não há também da
parte dos autores qualquer identificação das fontes utilizadas ou das formas
importadas (MIMOSO, 2008).
A sabedoria encontrada nos provérbios não é apenas inerente ao povo humilde,
é uma verdade que se estende a todo ser humano. É uma verdade pré-existente
na mente humana (ANDRADE, 2001). Embora geralmente de origem erudita,
os provérbios acabaram por ser consagrados pelo povo que os preservou do
esquecimento e os divulgou. Sob a forma de sentença, encerram conhecimentos
milenares feitos de experiência e seduzem-nos, ainda hoje, pela agudeza do
raciocínio, pela beleza das suas metáforas (MIMOSO, 2008).
Pretendeu-se com este estudo fazer um inventário paremiológico, a partir da
compilação dos provérbios mais expressivos encontradas na literatura, de domínio
público do folclore e da cultura popular brasileira e portuguesa, relacionados ou
associados aos insetos pertencentes à Ordem Hymenoptera.

Materiais e Métodos

A seleção deu-se a partir de compilações de provérbios através de sites de


busca na internet (como, por exemplo, www.google.com.br e www.yahoo.com.
br), no que proporcionou acesso a provérbios correntes em várias culturas, além
da literatura na forma impressa.
Para este estudo, fez-se uso da leitura sucessiva e elaboração de categorias
onde os provérbios retratados foram distribuídos em grupos de acordo com

259
seus conteúdos que a categoria permite considerar, onde foram apresentados
dois ou mais exemplos para cada uma destas categorias. Muitos dos provérbios
de conteúdos idênticos e/ou que apresentavam formas muito similares foram
descartados, não sendo, portanto, considerados.
Ressalta-se que os provérbios não foram acompanhados de uma interpretação,
pois, não se pretendiam estudar os provérbios, mas tão somente transcrever os
mesmos, categorizando-os.

Resultados e Discussão

Neste estudo os provérbios encontrados foram selecionados e distribuídos em


diferentes categorias, relacionadas à Ordem Hymenoptera, ou seja, relacionados
aos temas: advertência e/ou previsão, conselho e/ou sabedoria, caráter metafórico
e características de irracionalidades, divergentes do conhecimento científico.
Segundo afirma Lee (2008), os provérbios são usados nas mais diferentes culturas
e situações (pessoal, formal, religiosa, literária, prática, cultural etc.).
Com relação aos que se enquadraram na categoria de advertência, perigo ou
previsão, exemplificam-se com os provérbios: “Tanta chuva pelas candeias, tantas
abelhas pelas colméias” e “Quem bulir em casa de marimbondo, sairá picado”.
Para Lee (2008), os provérbios são escolhas naturais para instrução, consolo,
advertência etc., também argumenta que tais efeitos são intencionais e podem
causar efeito em curto ou longo tempo. Andrade (2001) afirma que provérbio
é uma expressão linguística que retrata o fazer e o viver da humanidade. Está
inserido na tradição de um povo e pertence-lhe como algo universal, aceito como
verdade e como evidência incontestável.
São os provérbios ditos que se tornam parte das tradições da cultura, com
conteúdos que soam como conselhos sábios (MENANDRO; ROLKE; BERTOLLO,
2005). Alguns dos provérbios encontrados foram categorizados como conselho e/
ou sabedoria, tais como: “Segue a formiga, se queres viver sem fadiga”; “Se desejas
mel não temas as abelhas”.
Outros provérbios encontrados apresentaram sentido diferente do próprio por

260
analogia ou semelhança e foram distribuídos na categoria de caráter metafórico,
como, por exemplo: “A palavra é como a abelha, tem mel e ferrão”; vários foram
outros que tiveram variações de mesmo conteúdo, mas com imagens diferentes
(ex.: “Macho que é macho não chupa mel... masca abelha”; “O valente não bebe
mel, mastiga a abelha”). Segundo afirma Lee (2008), provérbios foram cunhados
de forma metafórica, muitas vezes de forma indireta. Esta é uma forma de
linguagem indireta entre o que é dito e o que se pretende dizer. O entendimento
indireto requer a habilidade de gerar, construir e integrar diferentes camadas de
informações.
Ressalta-se que muitos dos provérbios apresentaram características de
irracionalidade e divergentes do conhecimento científico (exemplos: “Peitada de
formiga não alui coqueiro”; “Abelha só dá mordidela em quem trata com ela”).
Para Lauand (s.d.), muitos provérbios nomeiam, expressam e aconselham o voltar-
se para a realidade, e que como era de esperar, os provérbios fustigam defeitos e
atitudes viciosas.
Percebeu-se, ainda, a presença de provérbios similares de mesmo conteúdo,
mas com imagens diferentes para as culturas brasileira e portuguesa, o que vai
ao encontro do pensamento de Andrade (2001) ao afirmar que os provérbios,
pelos usuários, são transportados de uma região para outra, adaptando-se às
variações linguísticas de cada região. Há, ainda, a ressaltar conforme Cavalcanti
(2008) que alguns provérbios populares têm forte influência dos locais de onde
vêm. Faz sentido, sobretudo, para aqueles que têm os códigos para compreender
seu significado. Ocorre que, a outros, muitas vezes simplesmente parecerão
incompreensíveis. À força de repetições, continuam a ser ditos fora de seu contexto.

Considerações Finais

Conclui-se que através da expressão linguística proverbial muitos são os


valores que a sociedade atribui aos animais, em particular aos insetos pertencentes
à Ordem Hymenoptera, atestando-se, assim, sua frequência na área entomológica,
sendo esta, muitas vezes, divergentes do conhecimento científico.

261
Referências

ANDRADE, T.L.S. Provérbios falados no nordeste um olhar lingüístico e histórico.


Cadernos do CNLF (CiFEFil), v. 5, n. 3, p. 123-140, 2001.

CAVALCANTI, L. Astúcia e sabedoria dos provérbios populares 2. Disponível


em: http://media.terra.com.br/mundialdeclubes2008/interna/0,,OI2227317-
EI6614,00.html. Acesso em: 12 mar. 2013.

LAUAND, L.J. 250 Provérbios árabes. Disponível em: http://www.hottopos.com.


br/collat5/250prov.htm. Acesso em: 24 mar. 2013.

LEE, T.H. Princípios da Sintaxe do Chinês clássico e os Provérbios. 2008. Dispo-


nível em: http://www.hottopos.com/mirand19/lee.pdf. Acesso em: 24 mar. 2013.

MIMOSO, A.B. de F. Provérbios: uma fonte para a História da Educação. Revista


Lusófona de Educação, n. 12, p. 155-163. 2008.

MENANDRO, P.R.M.; ROLKE, R.K.; BERTOLLO, M. Concepções sobre relações


amorosas/ conjugais e sobre seus protagonistas: um estudo com provérbios.
Psicologia clínica, v. 17, n. 2, 2005.

NOMURA, H. Entomologia pitoresca I – os insetos nas crenças, superstições e


medicina popular. Análise bibliográfica. Sitientibus Série Ciências Biológicas, v.
6, n. 2, p. 145-158, 2006.

XATARA, C.M.; SUCCI, T.M. Revisitando o conceito de provérbio. Veredas on


Line - Temática, n. 1, p. 33-48. 2008.

262
A ENTOMOLOGIA NO CINEMA: ANÁLISE DO FILME VIDA DE INSETO
ENQUANTO RECURSO DIDÁTICO

Ilana Rocha Franco, Vanessa Perpétua Garcia Santana-Reis & Priscila Paixão
Lopes

Universidade Estadual de Feira de Santana, Departamento de Ciências


Biológicas.
E-mail: pplc29@gmail.com

Resumo

O filme de animação “Vida de Inseto” apresenta conteúdos em entomologia,


abordando aspectos desta ciência como a morfologia de insetos, hábito de vida,
curiosidades, dentre outros. Para que possa ser indicado como ferramenta
didática analisou-se os conteúdos em entomologia e suas possíveis utilizações
em aulas de Ciências. A fim de alcançar os objetivos deste trabalho buscou-se
aplicar as técnicas de Análise de Conteúdo, listando em cada capítulo do filme
os temas abordados e a possível utilização em sala de aula. Estes temas foram
agrupados em sete categorias de análise: “Diversidade e morfologia dos insetos”,
“As formigas no filme Vida de Inseto”, “Aspectos ecológicos”, “Ciclo de vida e tipos
de desenvolvimento em insetos”, “Hábito alimentar dos insetos”, “Dimorfismo
sexual em insetos” e “Outros animais do filme Vida de Inseto”. Com base nesta
análise pode-se concluir que o filme “Vida de Inseto” filme é uma importante
ferramenta didática que pode ser utilizada nas aulas de entomologia, tanto para o
Ensino Médio quanto para o Ensino Fundamental. A maneira divertida como as
informações são passadas ao espectador permite que a compreensão e assimilação
dos conteúdos se deem de uma forma interessante, divertida e dinâmica. Neste
contexto é de fundamental importância o papel do educador que, ao reconhecer
o caráter pedagógico dos filmes, podem criar estratégias de uso e sistematizar as
ideias a serem trabalhadas em sala de aula.

263
Palavras-chave: Filme de animação, ferramentas didáticas, Entomologia.

Introdução

As novas tecnologias adentram o espaço da escola de forma cada vez mais


marcante, e neste contexto de mudanças profundas e rápidas, o currículo escolar
tem como desafio analisar possíveis adaptações relativas à utilização ou não
destas tecnologias no dia a dia das salas de aula. As tecnologias apresentam um
potencial educacional muito vasto e por isto as escolas e os meios tecnológicos
de comunicação e informação caminham lado a lado. Contudo, este potencial
educativo pressupõe uma preparação e orientação aos professores (Porto, 2006)
que podem direcionar o uso destas tecnologias enquanto ferramentas didáticas.
Um dos meios tecnológicos de comunicação a serem utilizados nas aulas
como mediadores didáticos é o filme. Com sua linguagem audiovisual, os filmes
têm cada vez mais conquistado espaço no cotidiano dos alunos. Associado a isso,
percebe-se um consumo cada vez mais crescente deste tipo de produção – os
filmes – o que pode estar relacionado à ampliação do acesso por meio de sua
locação em lojas especializadas e também pela popularização e menor preço de
venda em supermercados e lojas (Kindel, 2003).
Uma vez que os filmes, de um modo geral, apresentam uma linguagem de fácil
entendimento, além de elementos visuais atraentes ao público, é possível utilizar
este recurso como uma ferramenta didática de grande potencial a ser aplicada
durante as aulas, de modo que ideias trabalhadas com linguagem científica tornem-
se mais acessíveis aos alunos. O desafio maior está em fazer a educação científica
usando uma linguagem que os alunos dominem, de modo que vejam a ciência
como uma forma de retratar e interpretar o mundo em que vivem (Santos;
Santos, 2005).
Das produções cinematográficas, destacam-se os filmes de animação que nos
últimos anos têm apresentado uma crescente qualidade de imagens e diversidade
de temas. Por se tratar da manipulação de desenhos, estes filmes podem abordar
conteúdos que nem sempre são encontrados nos demais tipos de filmes. A

264
linguagem do cinema de animação cada vez mais se utiliza de novos recursos
digitais e efeitos especiais. Tais recursos influenciam de diferentes maneiras
audiovisuais, sobretudo o cinema, um dos meios de comunicação que mais sofrem
transformações diante de tantas invenções tecnológicas (Silva, 2008).
Os filmes de animação apresentam técnicas e enredos cada vez mais elaborados.
Seu caráter lúdico/humorístico atrai um público de diferentes faixas etárias e, por
não serem restritos apenas ao público infantil, são de grande circulação (Kindel,
2003). A linguagem rica em elementos da fantasia, ilustrações de ótima qualidade
visual e histórias interessantes tornam estes filmes muito atraentes ao público.
Alguns filmes de animação apresentam em suas temáticas conteúdos
relacionados à Biologia como, por exemplo, a Entomologia (ciência que estuda os
insetos), e oferecem ao público que os assiste uma série de informações relacionada
a estes conteúdos. Apesar de seu caráter informativo, são produções cujo principal
interesse é comercial e não são construídos com finalidade didático-pedagógica.
O objetivo central destes tipos de filmes é mostrar um determinado ponto de
vista, um olhar intencional sobre algo da realidade (Medeiros, 2007).
Para utilizar o filme na sala de aula como ferramenta pedagógica se faz
necessário observar sua estrutura e significado, partindo do pressuposto que nem
todo filme serve para todas as finalidades. Descobrir tais significados e estrutura
depende de uma investigação não só mental, mas vivenciada (Dantas, 2007).
Uma vez que sejam analisados e se determine os possíveis usos do filme, muitas
são as possibilidades de aprendizado com esta importante ferramenta. Além de
apresentarem conteúdos a ser trabalhado pelos alunos durante os processos de
construção do conhecimento, o filme também representa um fator facilitador para
o aprendizado, envolvendo espontaneidade em aprender e prazer em participar
da aula (Dantas, 2007).
O filme de animação “Vida de Inseto”, produzido pelo estúdio de animação
Pixar no ano de 1998, apresenta desde o seu lançamento um grande público e de
variada faixa etária. Sua temática, apesar não ter como único propósito retratar
aspectos da Entomologia, traz informações desta ciência, como a morfologia de
insetos, hábito de vida, curiosidades, dentre outras. O tema ‘insetos’, presente nos

265
currículos das escolas, é abordado em sala de aula com uma linguagem científica.
Já no filme, outros elementos são acrescentados, tais como a fantasia, as imagens
coloridas, a história contada, que são características que tornam o filme uma
ferramenta didática bastante atrativa aos alunos.
Os insetos compõem a Classe Insecta, grupo zoológico que apresenta a maior
diversidade biológica da natureza. Eles ultrapassam em número todos os outros
animais, com a descrição de mais de um milhão de espécies e ocupam a maioria dos
hábitats, participando de muitos processos de interação ecológica e, portanto, são
de suma importância na dinâmica e funcionamento dos ecossistemas. Este grupo
reúne uma variedade de peculiaridades estruturais, fisiológicas e de adaptação
que permitiram o seu sucesso evolutivo (Borror; Delong, 1988).
A relação do inseto com o homem é muito antiga, entretanto na maioria das
vezes estes são vistos como maléficos, despertando nas pessoas reações negativas
(Buzzi; Miyazaki, 1999). Por ser um grupo tão importante, os currículos
escolares devem explorar os conteúdos acerca da Classe Insecta para que as ideias
equivocadas sobre estes animais sejam cada vez mais abandonadas.
No filme “Vida de Inseto” a maioria dos personagens são insetos que,
representados com fantasia e muito humor, vivem uma aventura para salvar o
formigueiro dos ataques dos gafanhotos. É possível observar no desenrolar da sua
história alguns conteúdos científicos (entomológicos) que são abordados às vezes
de forma coerente e às vezes contendo erros conceituais. Por ser disponibilizado a
todo o público, este filme, de maneira indireta, atua nos processos de construção
do conhecimento influenciando os saberes de quem os assiste.
Surgiu então o questionamento: O filme “Vida de Inseto” pode ser utilizado
como ferramenta didática no ensino de ciências, uma vez que aborda conteúdos
de entomologia presentes no currículo escolar?
Esta questão motivou e justificou o presente trabalho que tem como objetivo
principal analisar o filme “Vida de Inseto” quanto à abordagem de conteúdos
relacionados à Entomologia por meio da identificação de falas, imagens e outras
representações. A partir desta análise foi possível observar quais conteúdos em
entomologia estão representados neste filme, de que maneiras são abordados, se

266
são ou não recomendados como ferramentas didáticas e, se sim, quais as possíveis
utilizações nas aulas sobre Entomologia.

Materiais e Métodos

O método de análise se baseia em análise de conteúdo do filme “Vida de


Inseto”, com abordagem qualitativa de acordo com as ideias de Bardin (2000).
Para a análise, foi escolhido o filme “Vida de Inseto” segundo os seguintes
critérios: I) filme de grande circulação e que apresenta sucesso de audiência; II)
filme que aborda em seus conteúdos informações acerca da entomologia, com
representações e outras características dos insetos. Ao analisar o filme, foram
extraídas as cenas que apresentam informações relevantes acerca do conteúdo
em entomologia. A partir da determinação dos conteúdos e sua abordagem,
foram estabelecidas categorias de análise para agrupamento dos conteúdos, ou
seja, reconhecidas a posteriori. As categorias criadas para a análise do filme são
Diversidade e morfologia dos insetos, As formigas no filme “Vida de Inseto”,
Aspectos ecológicos, Ciclo de vida e tipos de desenvolvimento em insetos, Hábito
alimentar dos insetos, Dimorfismo sexual em insetos e Outros animais do filme
“Vida de Inseto”. A seguir foi realizada a análise da abordagem dos conteúdos por
categorias, traçando um paralelo entre as informações presentes no filme “Vida
de Inseto” e as informações contidas na literatura científica.

Resultados e Discussão

Na categoria “Diversidade e Morfologia dos Insetos”, além das formigas


cortadeiras, personagens principais (Hymenoptera), são representados também
outros grupos de insetos, como Hemiptera (pulgões), Orthoptera (gafanhotos),
Coleoptera (joaninha, besouro hércules e vaga-lume), Diptera (moscas e
pernilongos), Siphonaptera (pulga), Lepidoptera (mariposa e larva de borboleta),
Phasmatodea (bicho-pau) e Mantodea (louva-deus).

267
A morfologia destes insetos apresenta aspectos bem próximos à realidade
bem como algumas ilustrações incorretas. Todos os insetos são facilmente
reconhecíveis dadas as características gerais de cada grupo terem sido bem
representadas, mas um dos elementos que distinguem os insetos (corpo dividido
em três segmentos articulados com um par de pernas em cada segmento torácico)
(Gullan; Cranston, 2007) é sistematicamente alterado. A representação
correta é observada apenas nos afídeos, gafanhotos, um dos besouros (hércules) e
bicho-pau. Os demais têm apenas dois pares de patas, alguns deles com inserção
do último par no abdome. De forma geral, os insetos do filme não têm olhos
compostos, com exceção das moscas (Diptera).
Alguns elementos da biologia das “Formigas” são representados no aspecto
geral (linhas de correição, divisão de tarefas e sistema de castas, polimorfismo,
estrutura na colônia com liderança feminina, estrutura de câmaras no formigueiro,
associação com afídeos) (Mariconi, 1970; Della Lucia, 1993; Ricklefs,
2003), mas não se explica que essas características não são gerais para todas as
espécies. Há representação de indivíduos machos no formigueiro fora da época
do acasalamento, machos exercendo atividade de forrageamento, os soldados não
são representados, e o poliformismo não foi associado com castas ou funções.
Em relação aos “Aspectos Ecológicos”, a representação dos ambientes abiótico
e biótico (vegetação) em escala é bem caracterizada. Dentre as associações
específicas, a protocooperação entre formigas e afídeos é explorada, bem como
o ectoparasitismo de pulgas e a predação de insetos por aves. Destes, apenas
a predação foi corretamente apresentada. O mimetismo dos louva-deus e
aposematismo de borboletas foram bem explorados.
Quanto a questões relativas ao “Ciclo de Vida e Tipos de Desenvolvimento
em Insetos”, são representadas asas em formigas jovens, representadas
equivocadamente como “mini-adultos” e não como larvas, apesar de uma menção
verbal sobre a existência do estágio larval. As larvas de dípteros são desenhadas
corretamente como vermiformes, bem como as lagartas de borboleta Chucrute,
que se transforma em pupa e depois adulto no final do filme.
O “Hábito Alimentar dos Insetos” é representado para vários personagens,

268
mostrando folhívoros (lagartas e besouros), hematófagos (mosquitos), detritívoros
(moscas) e micófagos (formigas cortadeiras, mas o hábito não é explicado), mas
alguns hábitos não estão corretos, como a alimentação de joaninhas a partir de
seiva ou néctar (representado no “tratamento” dado a Francis pelas formiguinhas),
uma vez se trata de predadores de afídeos. Entre os insetos representados, apenas
formigas e alguns besouros apresentariam “Dimorfismo sexual”, mas como apenas
um indivíduo de besouro hércules é mostrado, não há esse registro e as formigas
não são representadas com o dimorfismo sexual. A ausência de dimorfismo em
joaninhas (Coccinelidae) é destacada pelo personagem de Francis, um macho
sempre confundido com o caráter feminino atribuído às joaninhas (em inglês,
ladybug ou ladybird).
Os “Outros Animais no Filme Vida de Inseto” são aracnídeos e crustáceos que,
apesar de pertencerem ao filo Arthropoda, são distinguíveis com a observação de
algumas diferenças morfológicas (Ruppert; Barnes, 1996). São representadas
uma aranha e um opilião (Arachnida), piolhos-de-cobra (Myriapoda) e um par
de tatuzinhos de jardim (Crustacea, Classe Malacostraca, Subordem Oniscidea).
A representação morfológica desses organismos está adequada (número de patas
e formato geral) e vemos um padrão comum ao que acontece no Brasil. Enquanto
são todos chamados de forma ampla “insetos”, em inglês são considerados bugs,
um termo genérico e equivalente, que designa “um inseto ou animal similar”.
O tema insetos é trabalhado na Educação básica tanto no Ensino Fundamental
em Ciências, geralmente na 6ª série, quanto no Ensino Médio na 2ª série, quando
é abordada a biodiversidade dentro do Reino Animal. Assim, com a análise filme
“Vida de Inseto”, foi possível perceber a possibilidade de uso desta ferramenta
didática para ilustrar os diversos aspectos deste tema, que normalmente é
trabalhado utilizando apenas o livro didático como único recurso.
No entanto, é preciso reconhecer que a função primordial do filme é entreter,
de forma que os autores e desenhistas do filme buscaram elementos capazes de
gerar identificação com a audiência (predominantemente infantil). Isso pressupõe
antropomorfizações através das quais os insetos e demais artrópodes fossem
capazes de expressar sentimentos e intenções. Incluem-se olhos arredondados

269
(com a única exceção das moscas), sobrancelhas, bocas, mãos e posturas físicas.
Ao utilizar esse filme como recurso didático, o professor precisa chamar atenção
para o fato de que essas características não são observáveis nos insetos reais.
Na primeira categoria analisada, “Diversidade e morfologia”, foi possível
observar representações de diferentes Ordens de insetos, o que permite ao
professor exemplificar a diversidade dos insetos, conteúdo sempre explorado
nas aulas de Ensino Fundamental Médio. Vários dos animais representados tem
uma aproximação grande dos modelos verdadeiros, devendo ser feita a seleção
anteriormente à exemplificação em aula.
A categoria de análise “As formigas”, reúne várias informações sobre as formigas
cortadeiras ilustradas no filme, um exemplo de formiga muito conhecido. A
representação no filme do hábito alimentar e utilização do feromônio nas trilhas
pode ser usada em sala de aula. A estrutura de castas desse grupo considerado
eussocial não está claramente delineada, devendo ser usada com reservas, mas
a característica de sobreposição de gerações, características deste grupo, nem
sempre está descrita nos livros. Os elementos erroneamente representados têm,
no entanto, que ser apontados, para não incluir erros como elementos verídicos.
Outro aspecto interessante com relação às formigas são os momentos que
demonstram o forrageamento, com cenas que abordam a divisão de tarefas. O fato
de no filme serem machos os responsáveis por essa atividade deve ser corrigido.
Dos aspectos ecológicos observados, todas as cenas pontuadas podem
ser trabalhadas no Ensino Médio, apesar do menor apelo para faixas etárias
mais elevadas. A informação sobre protocooperação (relação entre formiga e
pulgão), apesar de não ser muito bem explorada no filme, cria a possibilidade
de discussão em sala de aula. Um dos conteúdos mais bem ilustrados no filme
diz respeito à defesa por mimetismo ou camuflagem que ocorre nos insetos. A
relação comportamento/morfologia/coloração camuflada como estratégia de
defesa versus risco de predação também cria elemento de reflexão sobre evolução
e ecologia.
Elementos secundários e isolados que aparecem no filme (desenvolvimento
holometábolo de formigas, moscas e borboleta; ocorrência ou não de dimorfismo

270
sexual em insetos; diferenciação entre animais que são insetos e animais que não
são insetos) podem ser destacados em discussões orientadas pelo professor.

Considerações Finais

Os filmes são recursos que possibilitam aos professores e alunos experimentaram


um novo modo de construir o conhecimento. Os educadores têm um papel muito
importante neste processo, pois, uma vez que reconhecem o caráter pedagógico
dos filmes, podem criar estratégias de uso, selecionando os filmes e sistematizar
as ideias a serem trabalhadas em sala de aula.
O filme de animação “Vida de Inseto” apresenta grande potencial pedagógico
enquanto ferramenta didática, que pode ser utilizada nas aulas de entomologia,
tanto para o Ensino Fundamental quanto para o Ensino Médio. A maneira divertida
como as informações são passadas ao espectador permite que a compreensão e
assimilação dos conteúdos presentes no filme aconteçam de uma forma mais
interessante, divertida e dinâmica. Entretanto, alguns dos conteúdos presentes no
filme estão abordados da maneira incorreta e por isso é indispensável a discussão
de alguns temas durante o processo de construção do conhecimento envolvendo
o uso deste filme.
Utilizar filmes enquanto mediadores didáticos possibilita o contato da escola
com novas tecnologias e quando elementos do cotidiano unem-se aos processos
educacionais os alunos experimentam o conhecimento de uma maneira mais
prazerosa.

Referências

BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa/Portugal: edições 70, 2000.

BORROR, D.J.; DELONG, D.M. Introdução ao estudo dos insetos. São Paulo:
Edgard Blücher, 1988, 653p.

271
BUZZI, Z.J.; MIYAZAKI, R.D. Entomologia didática. 3ª ed. Curitiba: UFPR, 1999.

DELLA LUCIA, T.M.C. As formigas cortadeiras. Viçosa: Editora da UFV, 1993.

GULLAN, P.J.; CRANSTON, P.S. Os insetos: um resumo de entomologia. 3ª ed.


São Paulo: Editora Roca, 2007.
COSTA LIMA, Â.M. Insetos do Brasil. Editora escola Nacional de Agronomia,
Rio de Janeiro: 1956.

DANTAS, A.L. O cinema como ferramenta pedagógica no ensino médio.


Graduação em Comunicação Social-habilitação em jornalismo, Faculdade
Pitágoras, Londrina Artigo, 2007. Disponível em: <www.ump.edu.br/.../o%20
cinema%20como%20ferramenta% 2020Angelita.pdf>, acesso em 16.dez.2009.

KINDEL, E.A.I. A natureza no desenho animado ensinando sobre homem,


mulher, raça, etnia e outras coisas mais... Tese de Doutorado, Programa de Pós
Graduação em Educação, UFRGS, 2003.

MARICONI, F.A.M. As saúvas. São Paulo: Editora Agronômica Ceres, 1970.

MEDEIROS, R.B. Cinema na escola: possibilidades e caminhos para a leitura do


texto fílmico na educação de jovens e adultos. In: XVIII Encontro de pesquisa
Educacional do Norte e Nordeste, 2007, Maceió. Anais do XVIII Encontro de
pesquisa Educacional do Norte e Nordeste, 2007.

PORTO, T.M.E. As tecnologias de comunicação e informação na escola; relações


possíveis... relações construídas. Revista Brasileira de Educação, Universidade
Federal de pelotas, v. 11, n. 31, p. 43-57, jan./abr, 2006.

RICKLEFS, R.E. A Economia da Natureza. 5ª ed. Rio de Janeiro: Editora Guanabara


Koogan, 2003.

272
RUPPERT, E.E.; BARNES, R.D. Zoologia dos Invertebrados. 6ª ed. São Paulo:
Editora Rocca, 1996.

SANTOS N. N.; SANTOS, J.M. O ensino de Ciências através do cinema. In: Atas
do V ENPEC - Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências, Bauru,
2005.

SILVA, F.C.R.C. Animação por stop-motion: um estudo comparativo dos filmes A


Noiva Cadáver (Tim Burton, 2005) e Dossiê Rê Bordosa (César Cabal, 2008). 2008.
Dissertação de Mestrado, programa de Mestrado em Comunicação, Universidade
Anhembi Morumbi.

273
Os besouros (Coleoptera, Insecta) segundo
a comunidade da UEFS

Mariana Leodora da Silva, Gésica Regina Gomes da Silva, Lorena Pereira


Cerqueira Teixeira & Priscila Paixão Lopes

DCBio, Universidade Estadual de Feira de Santana, Feira de Santana. E-mails:
maryy.lst@hotmail.com, gesicaregina@hotmail.com, lolycerqueira@gmail.com,
pplc29@gmail.com

Resumo

Os insetos têm uma importância significativa em termos de biodiversidade e


abundância, tendo grande importância também em relação a suas interações
com o ser humano. As várias interações são frequentemente associadas com
elementos negativos (danos econômicos, doenças, pragas), interferindo na
própria construção do conceito de inseto construído, sendo o conceito gerado
espontaneamente destoante do conceito científico. Os besouros compõem o
maior grupo dentro dos insetos (40% de todas as espécies), apresentando também
relações intensas com o homem. No presente trabalho buscamos determinar se
a população leiga consegue identificar as diferenças dos besouros em relação aos
insetos e, ao mesmo tempo, os elementos que os aproximam. A característica
mais marcante dos besouros (presença de élitros) foi reconhecida pela maioria
dos entrevistados como “casca dura” ou termo afim, mas o formato arredondado,
comum, mas não um critério taxonômico, foi considerado mais importante, o que
é reflexo de experiências passadas de contato direto ou indireto, que por indução
é considerado geral. Os besouros são considerados um táxon à parte dos insetos e,
de forma geral, compartilham com esses a capacidade de causar reações negativas
(nojo, medo, aflição), mas também atiçam a curiosidade do público. Esse último
elemento, perceptível por reações e frases afirmativas, indicam a necessidade

274
de ampliar o contato humano com os insetos através de atividades dirigidas/
orientadas de forma a ampliar o conhecimento, despertar o reconhecimento da
importância do grupo e reduzir os preconceitos desenvolvidos anteriormente por
relações negativas com poucas espécies, mas que são transpostos para o grupo
como um todo.

Palavras-chave: Etnoconceito de inseto, Coleoptera.

Introdução

Os insetos, pertencentes ao filo Arthropoda, são animais que possuem o corpo


dividido em três tagmas: cabeça, tórax e abdome, e apresentam três pares de pernas.
Ao longo de milhares de anos de evolução, esses organismos desenvolveram uma
extraordinária capacidade adaptativa em quase todos os tipos de ecossistemas
terrestres, exceto os mares (Borror; DeLong, 1988). Formam a maior classe de
organismos do reino animal, com aproximadamente 750 mil espécies já descritas,
o que é equivalente a cerca de 50% de todas as espécies descritas, e dessas, 40% são
besouros (Coleoptera). As estimativas chegam a supor um número de 30 milhões
de espécies (Erwin, 1997).
Os insetos exercem uma influência significativa nos sistemas culturais
de diferentes sociedades humanas. O estudo de como esses organismos são
percebidos, conhecidos, classificados e utilizados por diferentes povos é de
domínio da Etnoentomologia (Costa Neto, 2002), que é tido como o estudo dos
conhecimentos e crenças, dos comportamentos e sentimentos que intermediam a
relação dos insetos com os humanos.
O modo como os indivíduos percebem, identificam, categorizam e classificam
o mundo natural influencia o modo como eles pensam, agem e expressam emoções
com relação aos animais. Essas atitudes direcionadas aos animais são formadas
tanto por nossos valores, conhecimentos e percepções, quanto pela natureza das
relações que os seres humanos mantêm com os animais (Drews, 2002 apud
Costa Neto, 2002).

275
Como os besouros são os mais diversos do mundo, a chance de ocorrer um
encontro com algum deles é bastante grande, mas nem sempre há a perfeita
interpretação do mesmo enquanto pertencente à Classe Insecta, o que significa
que o critério que os une aos insetos (três pares de patas) não é reconhecido,
havendo algum elemento mais impactante em sua identificação. Neste trabalho,
buscamos inicialmente detectar se os insetos são reconhecidos como grupo e que
critérios informais são utilizados para esse reconhecimento.
Muitos insetos são vistos e representados pelos humanos como animais sem
serventia, e fazem aflorar diferentes sentimentos, tais como: nojo, medo, raiva,
agonia, entre outros. Desta forma, buscamos detectar se o sentimento é aplicável
aos besouros.

Materiais e Métodos

Foi montada uma caixa com 15 insetos de diversas ordens (Fig. 1A):
Diptera (mutuca), Lepidoptera (borboleta), Hymenoptera (abelha mamangava,
formiga Dinoponera e vespa cavalo-do-cão), Blatodea (barata-do-mato),
Coleoptera (besouro rola-bosta, besouro hércules, joaninha e um Cerambycidae
Hybocephalus), Heteroptera (barata-d’água, percevejo maria-fedida, cigarra),
Orthoptera (grilo) e Odonata (lavadeira). Os insetos foram ordenados de modo a
que não houvesse agrupamento por táxon, e cada inseto foi identificado por uma
letra (de A a O). Foi elaborada uma entrevista semiestruturada composta por
cinco perguntas: 1) Quais animais da caixa você acha que são besouros?; 2) O que
te fez afirmar que eles são besouros?; 3) Você acha que há algo em comum entre os
animais na caixa?; 4) Que sentimento aflora em você quando você viu os bichos?;
5) Algum desses bichos se destacou pra você e por quê?
A pesquisa de campo foi realizada no campus da UEFS, de forma aleatória,
apenas com o cuidado de evitar a comunidade do Departamento de Biologia,
que poderia apresentar respostas não espontâneas devido à formação científica.
Cada entrevista semiestruturada durou em média cinco minutos. Antes do início
das perguntas os entrevistadores se apresentavam, informavam a justificativa da

276
pesquisa e era buscada a informação acerca dos informantes (curso ou função
realizada no campus da universidade). Foram entrevistados 26 estudantes e quatro
funcionários, de ambos os sexos. As entrevistas foram registradas por escrito.
Após a entrevista, os dados quantitativos (identificação dos besouros entre
os insetos) foram tabulados em planilha eletrônica e as respostas a questões não
estruturadas foram analisadas em busca de padrões, com construção de categorias
a posteriori e registro das tendências.

Resultados e Discussão

Dos 30 entrevistados, a maioria conseguiu identificar pelo menos dois dos


besouros da caixa: o besouro hércules (28 menções) e o rola-bosta (26 menções). O
besouro menos relacionado ao grupo foi o coccinelídeo (família da joaninha), com
19 indicações. Com reconhecimento intermediário (19), o besouro Hybocephalus,
um cerambicídeo fossorial endêmico da Bahia, foi o que mais impressionou, sendo
destacado dos demais como sendo “estranho”, “parecido com um alien” (Fig. 1B).
As características mais usadas para o reconhecimento do grupo foram Forma Geral
(22) e Casca (12), em alusão ao formato dorso-ventral arredondado e à estrutura
rígida dos élitros, que lhes dá uma aparência de armadura, respectivamente. O
último critério é, efetivamente, caráter taxonômico, mas foi menos indicado que
o formato geral.

(A) (B)

277
Figura 1. Representação da caixa de insetos utilizada para identificação de
besouros: (A) A=Hymenoptera, Vespa cavalo-do-cão; B=Hymenoptera, formiga;
C=Heteroptera, cigarra; D= Odonata; E=Coleoptera, Hércules; F=Hymenoptera,
mamangava; G=Coleoptera, joaninha; H=Heteroptera, Maria-fedida; I=Diptera,
mutuca; J=Orthoptera, grilo; K=Heteroptera, barata-d’água; L=Coleoptera,
Hybocephalus; M=Blattodea, barata-do-mato; N=Coleoptera, rola-bosta;
O=Lepidoptera, borboleta. (B) Besouro Hybocephalus (Cerambycidae), endêmico
do estado da Bahia. Exemplares da Coleção Entomológica Didática (Entomoteca).
As experiências anteriores balizaram o desenvolvimento do gabarito dos
besouros, sendo que apesar de não ter havido muitas menções explicitas à
experiência anterior (5), esse é o elemento que é mais relevante no desenvolvimento
dos conceitos. De forma curiosa, dois entrevistados citam como experiência
anterior terem assistido ao filme “Vida de Inseto”, uma produção da Pixar
Animation Studios de 1998, onde aprenderam sobre os besouros.
Apesar dessa boa identificação, o critério de asas duras e formato arredondado
não excluíram grupos bastante confundidos com besouros. Apenas 12 entrevistados
incluíram apenas besouros nessa classificação e destes, apenas seis incluíram três
ou quatro besouros, reconhecendo, portanto, a aplicabilidade de seu critério
pessoal apesar das diferenças específicas de cada Família de Coleoptera. As ordens
mais confundidas com Coleoptera foram Heteroptera (percevejo e barata-d’água)
e Hymenoptera (mamangava).
A solicitação de identificação dos besouros dentre os animais presentes
na caixa revelou um padrão interessante, observável por duas afirmativas: um
entrevistado afirmou, indicando a formiga: “Isso aqui é uma formiga, é um inseto,
então não é besouro”. Outro disse que usou como critério “[...] a forma física; ele
não tem asa e não parece formiga”. Isso demonstra o não conhecimento científico
da estrutura dos insetos, já que estes incluem ambos os grupos (formigas e
besouros). Os besouros são destacados dos insetos talvez pela ausência aparente
das asas funcionais (2º par). A não observação de estruturas (antenas e patas, que
ficam na superfície ventral – menos visível, e asas membranosas, escondidas sob
os élitros) influencia na classificação. Isso demonstra que os conceitos científicos
278
não estão firmados, mas sim foram apresentados os conceitos espontâneos (sensu
Vigotski, 2001). No entanto, alguns buscaram observar cautelosamente os
espécimes da caixa, sendo que um entrevistado disse que o que agrupava os
animais era o fato de “[todos os espécimes da caixa] terem seis patas, ou seja,
serem insetos”, apesar de nem todos os espécimes as terem todas visíveis. Ou seja,
ele já detinha o critério científico, contrastou com um conhecimento prévio e, por
indução, apontou as semelhanças mesmo estas não sendo reais para os espécimes
apresentados.
Do ponto de vista do sentimento despertado pelos besouros e pelos animais
da caixa como um todo, houve uma incidência maior de reações negativas
(“Tenho nojo”; “Não sou fã de bicho com asa”). Essa reação pode ter sido
influenciada pela estranheza dos espécimes (ex. Hybocephalus) ou pelo tamanho
grande dos espécimes escolhidos para a demonstração. Um entrevistado disse
estar “com coceira” ao ver os animais, “medo [...] dele me picar”; outro disse
estar com “curiosidade”, um outro com uma “sensação de tristeza; por não saber,
me senti incapaz”, mas de forma geral, houve uma grande curiosidade sobre os
insetos mostrados, havendo, inclusive, uma manifestação de agradecimento pela
oportunidade dada de conhecer melhor o grupo. Esses elementos demonstram
que intervenções que promovam a aproximação da população em relação aos
insetos de forma geral e besouros em especial pode ter efeito positivo quanto
ao esclarecimento, destruição de mitos sobre periculosidade e risco, inclusão do
grupo de besouros na Classe Insecta e demonstração da importância do mesmo.

Considerações Finais

Apesar de uma significativa percepção dos entrevistados quanto à


identificação dos besouros, é notória a necessidade de ampliação da popularização
do conhecimento dessa ordem (Coleoptera), tendo em vista que os besouros

279
representam um número significativo dentre os insetos. Visto que muitos
entrevistados não reconhecem morfologicamente os besouros a partir de
características válidas (taxonomicamente relevantes), e alguns os caracterizam
como não pertencentes à classe dos insetos, percebe-se que o conceito científico
não está formado, sendo reconhecidos aspectos genéricos baseados em
experiências anteriores pessoais ou familiares. O processo de popularização desse
conhecimento através de ampliação do contato entre os insetos e humanos, de
maneira orientada e esclarecida, permitirá que haja um maior conhecimento e
reconhecimento da importância desse grupo, reduzindo percepções negativas a
seu respeito.

Referências

BORROR, D.J.; DELONG, D.M. Introdução ao estudo dos insetos. São Paulo:
Edgard Blucher, 1988.

COSTA NETO, E.M. Manual de etnoentomología. Zaragoza: Manuales & Tesis


SEA, 2002.

ERWIN, T.L. A copa da floresta tropical: o coração da diversidade biológica. In:


WILSON, E.O. (ed). Biodiversidade. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997. p. 158-
165.

VIGOTSKI, L.S. A construção do pensamento e da linguagem. São Paulo. Editora


Martins Fontes, 2001.

280
COMPORTAMENTO DOS CONSUMIDORES DE GOIABA INFESTADA
COM LARVAS DO GÊNERO Anastrepha

Maiara Alexandre Cruz¹, Lailla Rodrigues de Macedo¹, Antonio Souza do


Nascimento²

Universidade Federal do Recôncavo da Bahia- Cruz das Almas. E-mail: maiara_


1

agronomia@hotmail.com; lailla_rodrigues@hotmail.com
2
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária-Mandioca e Fruticultura-Cruz
das Almas- BA.
E-mail: antonio-souza.nascimento@embrapa.br

Resumo

A goiaba (Psidium guajava L.) representa uma das frutas mais atacadas por moscas-
das-frutas no Brasil. No entanto, pouco se sabe sobre como realmente reage o
consumidor ao se deparar com um fruto infestado por larvas, independente de
seu grau de conhecimento e área de habitação. Por meio de questionários nos três
ambientes (escola, faculdade e feira livre) este trabalho teve como objetivo mostrar
o comportamento dos entrevistados no que diz respeito ao “bicho” encontrado na
goiaba, relacionando as respostas dos entrevistados com o ambiente no qual eles
vivem (zona rural e zona urbana) e ao grau de escolaridade (do analfabeto ao
ensino superior) e saber se esses dois fatores têm influência direta ou indireta com
a resposta dada.

Palavras-chave: Insecta, moscas-das-frutas, praga.

Introdução

Comumente ouvimos falar do bicho da goiaba, o morotó, bigato, são tantos


nomes dados a esta larva que se desenvolve dentro dos frutos que se torna
complexo de região para região saber de que “bicho” se trata.
281
Quem nunca se perguntou de onde vem o tal bicho?! Alguns empiricamente
apontam que o morotó nasce do próprio fruto e que mau nenhum tem em ingeri-
lo, pois se alimenta da goiaba; outros falam que uma doença faz “surgir” o bigato
dentro dos frutos; outros, ainda, ingerem normalmente o fruto sabendo estar
infestado por larvas, onde estas nada mais são que a fase juvenil de um futuro
inseto popularmente conhecido na agricultura como mosca-da-fruta.
Segundo Hoffmeister et al. (2009), as mosca-das-frutas (Diptera, Tephritidae)
apresentam ampla distribuição geográfica, sendo encontradas praticamente no
mundo todo, ocupando uma posição em destaque entre as pragas da fruticultura.
O Brasil é o terceiro maior produtor mundial de frutas, depois de China e Índia,
com uma produção de cerca de 43 milhões de toneladas (INCT, 2009; ZUCCHI,
2000b).

No Brasil, são encontradas em todas as regiões, infestando uma grande


diversidade de plantas nativas e cultivadas, causando perdas expressivas ou totais
na produção e acarretando aumento nos custos de manutenção dos pomares.
As espécies de moscas-das-frutas mais importantes economicamente para o
mercado de frutos pertencem a quatro gêneros: Anastrepha, Bactrocera, Ceratitis
e Rhagoletis (ZUCCHI, 2000). Destacam-se para o Brasil os gêneros Anastrepha e
Ceratitis (UCHÔA et al., 2002, 2003; ZUCCHI, 2007).
Segundo Zucchi (2000b), até o ano de 2000 tinham sido registradas 90 espécies
de Anastrepha no Brasil, mas apenas sete têm importância econômica: A. grandis
(Macquart), A. fraterculus (Wied.), A. obliqua (Macquart), A. sororcula Zucchi, A.
striata Schiner, A. pseudoparallela (Loew) e A. zenildae Zucchi.
O gênero Ceratitis é representado por uma única espécie exótica, C. capitata,
que está presente em praticamente todas as áreas quentes do mundo (ZUCCHI,
2000).
O ciclo de vida dos Tephritidae é dividido em três ambientes: vegetação, fruto
e solo. Após copula, a fêmea deposita seus ovos dentro dos frutos ainda verdes,
onde as larvas se desenvolvem, encontrando proteção e alimento até chegar ao

282
estágio larval maduro (L3), quando saem dos frutos e encontram o solo para se
tornarem pupas e emergirem adultos, que se tornarão maduros sexualmente para
dar continuidade ao ciclo.
Dentre as diversas plantas frutícolas que esses Tephritidae atacam, encontra-
se em destaque a goiaba (Psidium guajava L.), que faz parte da família Myrtaceae.
No Brasil, a goiaba é atacada principalmente por A. fraterculus, sendo um dos
hospedeiros mais infestados por esta espécie (Malavasi; Morgante, 1980).
Onde quer que ocorra o cultivo comercial de goiaba, as moscas-das-frutas
são consideradas as pragas-chave, pois é praticamente o hospedeiro universal
para tefritídeos que infestam o fruto (GOULD; RAGA, 2002). A goiaba foi o
hospedeiro que mais abrigou a população A. fraterculus no Recôncavo Baiano
(Nascimento et al., 1982).
Quando atacado pela mosca, o fruto apresenta características comuns, como
manchas marrons nas regiões da casca onde a fêmea fez a oviposição. O controle
biológico natural das moscas-das-frutas é feito por parasitoides (Hymenoptera:
Braconidae) nativos e exóticos.
No Recôncavo Baiano, Doryctobracon areolatus é responsável, em média,
por 14,08% do parasitismo de espécies Anastrepha, variando de 1,38% a 30,38%
dependendo da espécie do fruto hospedeiro (Nascimento et al., 1984).
O parasitoide exótico Diachasmimorpha longicaudata é um endoparasitóide
originário da região indo-australiana e está entre as cinco espécies de braconídeos
da subfamília Opiinae de importância na regulação das populações de moscas-
das-frutas, parasitando preferencialmente larvas de 2º e 3º estágios (PURCELL et
al., 1994).
A base do conhecimento humano se dá através do seu cotidiano e do seu
aprendizado dentro da sala de aula, ou seja, da interação entre estes. Justifica-se
meio, através dessa problemática, a abordagem sobre o tema em escolas, feiras
livres e na universidade com relação ao consumo de goiaba, estando infestada ou
não com larvas de moscas-das-frutas.
Este trabalho tem como objetivo mostrar o comportamento dos entrevistados
no que diz respeito ao “bicho” encontrado na goiaba, relacionando as respostas

283
dos entrevistados com o ambiente em que vivem (zona rural e zona urbana) e
ao grau de escolaridade (do analfabeto ao ensino superior) e saber se esses dois
fatores têm influência direta com a resposta dada.

Material e Métodos

As atividades foram conduzidas em três locais: Feira livre, Centro Educacional


Cruzalmense e Universidade Federal do Recôncavo da Bahia nos dias 13,16 e 19
de abril de 2013, de forma a se fazer um levantamento preliminar sobre o tema.
Através do método de amostragem aleatório simples com confiança de 90% e
erro de 10%, obteve-se o conjunto de 90 indivíduos. Aplicou-se um questionário
contendo sete itens de múltipla escolha com questões que abordaram o perfil
sociodemográfico e o grau de esclarecimento sobre frutos de goiaba infestados e
seu consumo.
A análise estatística aplicada foi a de frequência e teste de proporção, utilizando-
se do sistema para análises estatísticas - SAEG, versão 9.1, desenvolvido pela
Fundação Arthur Bernardes-UFV-Viçosa, 2007.

Resultados e Discussão

Dos entrevistados, 33 indivíduos foram do sexo masculino e 57 do feminino,


representando 36,66% e 63,33% respectivamente, do total de 90 questionários. A
faixa etária mais abordada foi a entre 18 e 45 anos. Com relação ao grau escolar,
prevaleceu o ensino médio seguido do nível superior.
Na abordagem sobre a infestação do fruto, as mulheres apresentaram-se
menos receosas ao comer frutos de goiaba diante a constatação de larvas, quando
comparado aos homens. A opinião de ambos os sexos com relação ao “mau”
presente no fruto prevaleceu em entender que realmente as larvas são originadas
de moscas. Tomando como base a zona de moradia, os residentes na área urbana

284
(56,52%) assinalaram que a infestação é causada por larvas de moscas (Fig. 1).
Na zona rural, 61,9% dos entrevistados não comem o fruto infestado, pois
isso pode causar doenças. Na zona urbana, 37,7% afirmaram comer normalmente
o fruto infestado, mesmo sabendo que larvas de moscas atacaram os frutos,
representado pela Figura 2. Este comportamento pode ser explicado pela facilidade
de acesso à informação que moradores das áreas urbanas têm com a relação aos
de áreas mais afastadas dos grandes centros urbanos.

Fig. 1. Porcentagem da zona de moradia dos entrevistados em relação à opinião


sobre
a infestação dos frutos.

285
Fig. 2. Porcentagem da zona de moradia dos entrevistados em relação à
infestação dos frutos.

Independentemente do local onde os indivíduos foram entrevistados, os


frutos consumidos por eles são obtidos na feira livre. Na Universidade Federal
do Recôncavo Baiano 80% entendem que os frutos estão infestados por larvas
de moscas que atacam frutos; 21% de todos que responderam ao questionário
nos três locais abordados comem normalmente os frutos, mesmo sabendo que há
infestação de larvas de moscas-das-frutas.
Este trabalho trata-se de um levantamento preliminar sobre o tema abordado.
Um próximo levantamento será realizado com um maior número de entrevistados.

Referências

ARAUJO, E.L. Moscas-das-frutas (Diptera: Tephritidae) em goiaba (Psidium


guajava L.) em Mossoró, 2003.

AZEVEDO, F.R. Analise faunística e flutuação populacional de moscas-das-frutas


286
(Diptera: Tephritidae) em pomares comerciais de goiaba na região do Cariri
cearence, 2010.

CARVALHO, R.S. Metodologia para monitoramento populacional de moscas-


das-frutas em pomares comerciais, 2005.

CORSATO, C.D.A. Moscas das frutas (Diptera: Tephritidae) em pomares de


goiaba no norte de Minas Gerais: biodiversidade, parasitoide e controle biológico,
v. 4 p. 6, 2004/ v. 5 p. 6

FILHO, M.S.F. Infestação de moscas-das-frutas (Diptera: Tephritidae e


Lonchaeidae) relacionada à fenologia da goiaba (Psidium guajava L.), nespereira
(Eriobotrya japonica Lindl.) e do pessegueiro (Prunus persica Batsch), 2006.

TAIRA, T.L. Moscas-das-frutas (Diptera: Tephritidae) e seus parasitoides em


hospedeiros cultivados e silvestres no ecótono Cerrado-Pantanal sul Mato-
grossense, Brasil, v. 4, p. 1, / v. 14 p. 2, 2012.

287
COMUNICAÇÃO OU LINGUAGEM: UMA DISCUSSÃO ACERCA DA
SELEÇÃO LEXICAL REALIZADA POR MANUAIS DE ENTOMOLOGIA À
LUZ DA LINGUÍSTICA

Tayron Sousa Amaral1 & Thiago Alves França2

Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz / USP, Piracicaba – SP. tayron@


1

usp.br
2
Universidade Estadual do Estado da Bahia, Campus IX, Barreiras – BA.
thiagufsa@gmail.com

Resumo

Este trabalho se realiza a partir do ponto de encontro de duas áreas distintas: a


Entomologia e a Linguística. O que relaciona as duas é a questão da “linguagem”,
isto é, a discussão entre os códigos utilizados por abelhas e o sistema de signos
linguísticos humanos. O objetivo do trabalho é verificar qual o termo utilizado
em manuais de Entomologia quando se refere a tais códigos, se “linguagem” ou
“comunicação”, além de refletir sobre razões para a opção lexical por um dos dois
termos. Para tanto, refletiremos por meio da comparação de obras relevantes dos
dois campos de saber supracitados.

Palavras-chave: Linguagem. Comunicação. Manuais de Entomologia. Linguística.


Abelhas.

Introdução

Definir linguagem, no interior dos estudos Linguísticos, não é uma tarefa das
mais fáceis. Há mais de uma perspectiva e cada perspectiva, por sua vez, implica
uma compreensão diversa acerca do tema, o que implica uma definição diferente
do objeto. Uma possibilidade, dentre outras, que se apresenta como possível para

288
a Linguística é compreender a linguagem como algo que caracteriza a espécie
humana; nesta perspectiva, apenas os seres humanos possuem linguagem. Pode-
se dizer, porém, que algumas espécies animais, desprovidas, até onde se sabe, de
racionalidade, dentre elas os insetos, possuem uma forma de comunicação.
No interior da Linguística, diz-se que, embora seja comunicação, a comunicação
animal não corresponde àquilo que se entende por linguagem humana. Em
Comunicação animal e Linguagem Humana, o linguista francês Benveniste (1966)
havia feito a relação entre trabalhos produzidos à luz da Entomologia, no caso,
o trabalho do zoólogo austríaco Karl von Frisch em relação à comunicação de
abelhas, comparando o que se notava nas abelhas com a linguagem humana.
Passados alguns anos da publicação de Benveniste (1966), o objeto deste
trabalho é verificar se a relação apontada por ele funciona em manuais de
Entomologia, e mesmo em trabalhos de estudiosos da linguagem. Dito isso, a
pergunta formulada para esta pesquisa é a seguinte: embora os saberes produzidos
na Linguística deem ao homem o lugar de exclusividade, isto é, de único possuidor
de linguagem, os manuais em Entomologia, quando tratam da comunicação de
insetos, é mesmo sobre comunicação que falam, ou o termo “linguagem” aparece,
à revelia do que é possível para a Linguística?
Além de responder a questão formulada, refletiu-se também sobre as
consequências do uso dos termos “comunicação” e “linguagem”, discutindo o que
é dito na justificativa lexical e mesmo a significação que produz o silenciamento
da justificativa.

Material e Métodos

O corpus empírico da pesquisa, que é de natureza bibliográfica, corresponde


a três textos que pertencem a duas áreas distintas: Linguística e Entomologia. O
material da linguística que serviu de base é o texto de Benveniste (1966), intitulado
Comunicação animal e linguagem humana. O material da Entomologia foi retirado
do capítulo intitulado Comportamento e Ecologia de Triplehorn e Johnson (2011)
e do capítulo Insetos Úteis de Gallo et al. (2002).

289
A seleção do corpus se justifica, porque, no interior da Linguística, um texto
que deve ser obrigatoriamente visitado quando se discute acerca da comunicação
animal em relação à linguagem humana é o de Benveniste (1966). Ele instaura
uma discussão que é retomada sempre que se reflete sobre o sistema de signos
linguísticos do homem falante de uma determinada língua, e do sistema de
códigos utilizado por animais.
No que diz respeito aos textos selecionados da literatura entomológica, têm
também representatividade o manual de Entomologia Agrícola (GALLO et al.,
2002), sem dúvida um dos mais expressivos, e o Estudo dos insetos (TRIPLEHORN;
JOHNSON, 2011), que é um dos mais tradicionais, em sua sétima edição.
A partir do corpus empírico, foi montado o corpus analítico, que é composto
por formulações linguísticas extraídas dos três materiais. Uma vez montadas as
redes de formulações, realizamos comparações entre o que formula Benveniste
(1966), com o que aparece em Triplehorn e Johnson (2011) e em Gallo et al.
(2002).
Diagnosticou-se a escolha lexical utilizada – se linguagem ou comunicação a
depender do caso –, e foram analisados a escolha lexical, os motivos que conduzem
à escolha, bem como os silenciamentos dos motivos.

Resultado e Discussão

Benveniste (1966) inicia o seu texto afirmando que, quando utilizada para
referir-se aos animais, o termo linguagem só pode ser utilizado por um abuso do
termo, uma vez que pré-requisitos faltam ao mundo dos animais no que se refere
a este aspecto. Segundo o autor, os gritos variados emitidos pelos animais estão
longe de serem algo semelhante à linguagem dos homens, estão longe, portanto,
de serem uma mensagem falada.
Embora seja firme na afirmação a partir da qual dá ao homem o status de
único possuidor de linguagem, Benveniste (1966) observa com curiosidade o
caso das abelhas, relacionando, assim, a questão da linguagem a uma reflexão, em
alguma medida, entomológica.

290
Em Entomologia, de maneira geral, quando se trata de interação entre
indivíduos de mesma espécie, normalmente fala-se de comunicação através de
substâncias químicas, os feromônios. No entanto, os manuais de Entomologia,
ao abordarem a comunicação entre insetos, citam o exemplo clássico das abelhas
produtoras de mel que interagem sem a utilização de tais substâncias para exercer
algumas atividades (GALLO et al, 2002; TRIPLEHORN; JOHNSON, 2011). O
caso das abelhas, como dissemos, é também discutido por Benveniste (1966), que
as diferencia dos outros animais no que diz respeito à comunicação.
Segundo os manuais de Entomologia e também de acordo com o que nos narra
Benveniste, a partir do trabalho do então professor de Zoologia na Universidade
de Munique, Karl von Frisch, entre as abelhas um tipo comunicação se dá
através de uma dança, por meio da qual uma abelha, após encontrar uma fonte
de alimento, retorna para a colmeia e orienta as outras sobre a localização deste
lugar. As demais, sem a companhia da abelha que encontrou a fonte de alimento,
chegam, sem hesitação, ao lugar encontrado pela primeira.
A pergunta que formula Benveniste (1966) se dá a partir de uma observação,
a saber: aparentemente, a abelha forrageira avisou às demais abelhas acerca da
localização; mas de que modo isso pôde ser feito?
A partir de experiências, como as de Frisch, por meio da observação de
uma colmeia transparente, pôde-se acompanhar o comportamento da abelha
“forrageira-informante”. Logo que volta à colmeia, a informante é rodeada pelas
demais, e depois de contato com o pólen ou com o néctar encontrado pela
informante, se inicia uma dança. “Este é o momento essencial do processo e o
próprio ato da comunicação” (BENVENISTE, 1966, p. 61).
Segundo Triplehorn e Johnson (2011), a dança pode ser realizada através de
dois tipos de movimento: circulares e em oito (Fig. 1). O bater das asas, assim como
o alinhamento do corpo com relação à posição do sol, informam as operárias a
distância e a direção que terão que viajar para encontrar o local de alimentação
(Fig. 2).

291
Figura 1. Movimento em oito3. Figura 2. Orientação de acordo à posição do sol4.

Embora a dança possa ser pensada como uma mensagem que transmite
informações sobre a descoberta, segundo Benveniste (1966), não se pode dizer
que seja ela uma verdadeira linguagem.
Argumenta, o linguista, que existe, entre as abelhas, uma capacidade de
simbolizar, isto é, de produzir um símbolo que é compreendido pelas demais
abelhas. Até aqui, o que é necessário para qualquer linguagem se encontra: a
possibilidade de formular, mas também de interpretar um signo – no caso, os
elementos das danças –, que remete a alguma realidade e uma memória. Ainda
segundo Benveniste (1966), a situação e a função são de linguagem.
Apesar de haver o que não pode faltar em qualquer linguagem, o linguista
argumenta que as mensagens transmitidas pelas abelhas geram condutas e não
respostas, o que quer dizer que não há diálogo, que é a “condição da linguagem
humana” (BENVENISTE, 1966, p. 65). Ao contrário do que é possível ao homem,
a abelha não constrói uma mensagem a partir de outra mensagem, o que quer
dizer, por exemplo, que uma abelha informada acerca do tipo de alimento, da
distância e da direção não pode, com base na informação, informar a uma outra
abelha tais dados; apenas poderá se experienciar tal fato in locu. Isso faz toda a
diferença, uma vez que a linguagem humana é um substituto da experiência. Além
292
disso, o conteúdo das mensagens transmitidas pelas abelhas é fixo, ao contrário
do que se vê a partir do aspecto criativo da linguagem humana.

________________
3
GRÜTER; FARINA (2009).
2
Disponível em: http://formatematica.blogspot.com.br/2011/02/danca-da-
abelha.html

293
Esses e outros argumentos, apontados por Benveniste (1966), nos conduzem a
dizer que linguagem não é o melhor termo para se referir ao que se verifica entre
as abelhas, sendo recomendável, segundo o autor, que se diga sobre um “código
de sinais”. Mas é ainda preciso destacar, como fizera o linguista, que não é à toa
que é entre insetos sociais que tal código se estabelece, uma vez que a sociedade é
a condição da linguagem.
Em contato com a literatura entomológica selecionada para os fins deste
trabalho, e mais especificamente a partir da rede de formulações montada,
percebeu-se que o termo utilizado corriqueiramente em tais manuais, quando se
referem ao código de sinais das abelhas, é “comunicação” e não “linguagem”, o que
está em conformidade com o que foi formulado por Benveniste (1966).
Defende-se, neste texto, que, de algum modo, alguns saberes linguísticos são
considerados quando da escrita de manuais de Entomologia, mesmo que de forma
não declarada. Foi percebido, então, um silenciamento na justificativa, isto é, se
diz “comunicação”, mas por que se diz? A partir do que foi exposto da discussão
de Benveniste (1966), parece possível compreender por que motivo “linguagem”
parece não ser um termo muito adequado para o código de sinais utilizado pelas
abelhas. Dá-se, portanto, argumentos que podem ser refutados, mas de todo modo
argumentos plausíveis para a seleção lexical operada pela literatura entomológica.

Considerações Finais

Embora se saiba que Entomologia e Linguística são áreas distintas, há um ponto


de encontro, que é a questão da “linguagem”. O trabalho apresentado retomou
esta relação possível e discutiu, a partir de saberes da Linguística, motivos para a
escolha lexical feita em manuais de Entomologia pelo termo “comunicação”. Uma
vez que há uma lacuna que consiste no silenciamento de motivos explícitos que
justificam a opção por “comunicação” dos manuais de Entomologia, a discussão
apresentada tenta suprir o que se compreende como lacunar. O que foi apresentado
aqui é apenas resultado de uma discussão incipiente, que deve ser levada adiante
sob a ótica da interdisciplinaridade.

294
Referências

BENVENISTE, E. Problemas de linguística geral I. São Paulo: Pontes, 2005. Edição


original: 1966.
GALLO, D.; NAKANO, O.; SILVEIRA NETO, S.; CARVALHO, R.P.L.;
BAPTISTA, G.C.; BERTI FILHO, E.; PARRA, J.R.P.; ZUCCHI, R.A.; ALVES, S.B.;
VENDRAMIN, J.D.; MARCHINI, L.C.; LOPES, J.R.S.; OMOTO, C. Entomologia
agrícola. Piracicaba: FEALQ, 2002. 920 p.

GRÜTER, C.; FARINA, W. The honeybee waggle dance: can we follow the steps?
Trends in Ecology & Evolution, v. 24, n. 5, p. 242 -247, 2009. Disponível em: http://
www.eebweb.arizona.edu/faculty/dornhaus/courses/read_ECOL567/Gruter%20
Farina%20waggle%20dance%20review.pdf. Acesso em: 18 abr. 2013.

TRIPLEHORN, C.A.; JOHNSON, N.F. Estudo dos Insetos. Tradução da 7ª. edição
de Borror and Delong’s introduction to the study of insects. São Paulo: Cengage
Learning, 2001. 809 p.

295
IDENTIFICACIÓ DE BACTERIAS ENTOMOPATÓGENAS ASOCIADAS A
LARVAS DE BOMBYX MORI L. (LEPIDOPTERA: BOMBYCIDAE) EN LA
PROVINCIA DE MISIONES

Silvia L. López1,2, Gladis Jerke2, Leonardo H. Walantus1, Cintia Zalazar1,2 &


Carina Cáceres1,2

1
Planta Piloto de Sericicultura - CIE Centro de Investigaciones Entomológicas,
Parque Tecnológico Misiones. Ruta 12 Km 7, Posadas, Misiones.
2
Cátedra de Microbiología, Facultad de Ciencias Exactas, Químicas y Naturales,
Universidad Nacional de Misiones. Email: sedamisionera@gmail.com

Resumen

La sericicultura es una actividad recientemente difundida en Misiones y que suma


a la diversificación de los productos trabajados por los colonos en las chacras.
Esta es una propuesta productiva complementaria rentable de otras que tanto el
colono como el ciudadano urbanizado puede realizar por la baja exigencia en
cuanto a la escasa inversión que demanda y ser una actividad carente de riesgos,
hasta puede considerarse una actividad familiar. A través del Proyecto Seda
Misionera, promovemos la implementación y el desarrollo de la Sericicultura
como una alternativa económica para los productores agropecuarios de la
Provincia de Misiones. Esto requiere el desarrollo de líneas de investigación
relacionadas con Bombyx mori. Durante su desarrollo, la larva es susceptible a
enfermedades causadas por virus, hongos y bacterias que pueden concluir en una
pérdida considerable en la producción de capullos y por ende, causar pérdidas
económicas al productor. Con el fin de identificar las bacterias entomopatógenas
asociados a las larvas de gusanos de seda (B. mori) que afectan la producción en
nuestra provincia, se realizaron distintas tomas de muestras directas de larvas
con síntomas de infección bacteriana durante el periodo de octubre de 2012
a marzo de 2013. Las colonias bacterianas aisladas en medio de cultivo agar-

296
nutritivo fueron identificadas teniendo en cuenta la morfología de la colonia, la
morfología celular y técnicas de tinción y se realizaron las pruebas bioquímicas
para caracterizar los agentes patógenos bacterianos, como la prueba de coagulasa,
catalasa y fermentación de azúcar. Se identificaron y caracterizaron las bacterias
Staphylococcus albus, S. aureus y Klebsiella cloacae. El resurgimiento continuo de
flacherie en las crías de B. mori de los productores de la región fue debido a la
mala calidad de las hojas de morera y las malas condiciones de crianza. En un
trabajo posterior es necesario proseguir con el análisis de muestras de larvas con
síntomas incipientes de infección bacteriana.

Palabras-clave: Sericicultura, gusano de seda, Entomopatógenos, Staphylococcus


spp., Klebsiella Cloacae.

Introducción

La sericicultura en la Argentina, se encuentra en una situación similar a la


de otras producciones alternativas, estas actividades económicas se desarrollan
en un medio humano, social y cultural propio de las características del país.
Representa uno de los casos que pueden llegar a involucrar tanto el desarrollo
socio – económico interno como interesantes perspectivas de exportación de los
productos intermedios o finales, posibles de lograr en esta industria (Vieites,
2003).
La sericicultura es una actividad agropecuaria actualmente desarrollada en
Misiones y que suma a la diversificación de los productos trabajados en las chacras.
Se trata de una alternativa rentable que no requiere de grandes extensiones de
tierras para desarrollarlas.  Esta es una propuesta productiva complementaria de
otras que tanto el colono como el ciudadano urbanizado puede realizar por la baja
exigencia en cuanto a la escasa inversión que demanda y ser una actividad carente
de riesgos, hasta puede considerarse una actividad familiar.
La provincia de Misiones, presenta todas las condiciones favorables para la
práctica de la Sericicultura, como sus características climáticas, ecológicas, hídricas,

297
edafológicas, sociales y culturales. La producción se concentra principalmente en
pequeños productores, a los cuales se les brinda capacitación, asesoramiento y
asistencia técnica para lograr un alto rendimiento de la producción. La calidad de
los hilados de seda está directamente relacionada con la calidad de los capullos,
porque estos son la materia prima para la obtención posterior del hilo.
El gusano de seda responde rápidamente a los cambios del ambiente, en
particular a la temperatura y humedad relativa, que junto a ciertas condiciones
de ventilación y alimentación pueden afectar, negativamente a las funciones
fisiológicas generando susceptibilidad a las enfermedades.
Entre los problemas asociados a la Sericultura y que afectan directamente a
la producción de capullos como a la calidad de los hilados, se encuentran los
organismos entomopatógenos que afectan la producción debido a las variaciones
biológicas, químicas, físicas, nutricionales y ambientales relacionadas a la cría.
Estos, se propagan por varios tejidos del gusano, son de fácil difusión a través de la
hemolinfa, las heces, esporas o el regurgitar de la oruga cuando se está infectando,
lo cual concluye con la muerte de las larvas y la pérdida productiva.
Las enfermedades del gusano de seda más comunes a nivel general son: grasserie
(viral), flacherie (bacteriana), muscardina (hongos) y pebrina (protozoo). De estas
enfermedades, flacherie bacteriana es una de las enfermedades más graves ya que
causa gran pérdida en la producción de capullos (Priyadharshini, 2008).
Las bacterias que inducen flacherie incluyen Bacillus spp., Streptococcus spp.,
Staphylococcus spp., Bacillus thuringiensis, Serratia marcescens, Micrococcus spp.,
Proteus spp., Pseudomonas spp., Aerobacter cloacae, entre otras. Los síntomas de
flacherie incluyen pérdida de apetito, debilidad de gusanos con un crecimiento
lento, contracción, hinchazón de tórax, aparición de manchas marrones en la piel,
secreción oral y anal, la licuefacción de los órganos internos, rotura de piel y salida
de líquido corporal marrón (Samson, 1995).
En este país, existen pocos informes en la literatura sobre el registro de
bacterias entomopatógenas que afectan la producción sericícola. En la provincia
de Misiones esta actividad se encuentra en desarrollo, respecto a la cantidad de
productores rurales que se interesan por la sericicultura y por la producción de

298
capullos de seda de buena calidad. En la Planta Piloto de Sericicultura, Centro de
Investigaciones Entomológicas-Parque Tecnológico Misiones (CIE-PTMi), desde
el año 2010 nos encontramos trabajando en la identificación de patógenos que
infectan a los gusanos de seda, comenzando con los hongos entomopatógenos y
seguidamente con las bacterias que causan pérdidas enormes a los productores.
El presente trabajo se llevo a cabo con el fin de seguir esta línea de investigación
para mejorar el manejo, la calidad y el rendimiento productivo, identificando
bacterias entomopatógenas que infectan a las larvas del gusano de seda durante
el período de cría de gusanos de octubre 2012 – marzo 2013.

Metodología

En el presente trabajo se procedió a aislar larvas con síntomas de infección


bacteriana, estando éstas en el cuarto o quinto estadio de desarrollo, para
observarlas desde la presunción de infección hasta la muerte de los gusanos de
distintos galpones de cría de la zona sur de la provincia de Misiones, durante el
período octubre-2012, marzo 2013. Las mismas fueron conservadas en la Planta
Piloto de Sericicultura (CIE-PTMi).
Para la identificación del agente patógeno se tomó un pequeño porcentaje de
las mismas. Estas larvas fueron diseccionadas y retirado de sus cuerpos pequeños
fragmentos para procesarlos.
Las colonias bacterianas obtenidas y aisladas en medio de cultivo agar-
nutritivo fueron identificadas teniendo en cuenta la morfología de la colonia, la
morfología celular y técnicas de tinción (Aneja, 1996).
Las pruebas bioquímicas se realizaron para caracterizar los agentes patógenos
bacterianos, como la prueba de coagulasa, catalasa, la fermentación de azúcar
(Robert et al., 2002).

Resultados y Discusión

El período de recolección de muestras en este trabajo correspondió a la

299
estación con más altas temperaturas y lluvias continuas. Los productores utilizaron
morera de diferentes variedades y de baja calidad.
Se considera que el resurgimiento continuo de flacherie en las crías de
gusanos de seda se debió a la mala calidad de las hojas de morera y las malas
condiciones de crianza producto de la falta de experiencia de muchos productores.
Se han identificado mediante la morfología de la colonia, morfología de la
célula y técnica de tinción las bacterias Staphylococcus aureus, S. albus y Klebsiella
cloacae que se ha reportado por primera vez en gusanos de seda en la India por
Priyadharshini et al. (2008). En base a las pruebas bioquímicas se han caracterizado
las colonias de las tres especies de bacterias.
En un trabajo posterior es necesario proseguir con el procesamiento de
muestras de larvas con síntomas incipientes de infección bacteriana, ya que los
mismos han sido correspondidos con la ocurrencia de flacherie.
En correspondencia con la finalidad de mejorar el manejo, la calidad y el
rendimiento productivo, se considera que la asistencia técnica y capacitación de
los productores es de igual importancia, en esta etapa incipiente de la actividad
en la región, con la identificación de los agentes patógenos que disminuyen la
producción sericícola.
Bibliografía

ANEJA, K.R. Methods of obtaining pure culture of microorganisms. In:


Experiments in microbiology, plant pathology tissue culture and mushroom
cultivation. 2a ed. New Delhi: New Age International (P) Ltd., 1996. p. 139-153.

PRIYADHARSHINI, P. et al. Identification and characterization of bacterial


pathogens in silkworm, Bombyx mori L. Tamil Nadu: Agricultural University,
2008.

ROBERT, A.P.; FINDLAY, L.; Mondschein, W.; Modesto, R. Laboratory


exercises in Microbiology. New York: John Wiley and Sons, INC., 2002. 120 p.

300
SAMSON, M.V. Flacherie in Bombyx mori L. Indian Silk, v. 33, n. 11, p. 31-32.
1995.

VIEITES, C. Contribución al desarrollo sustentable de la sericicultura en la


Republica Argentina. III Jornadas Nacionales de Facultad de Ciencias Exactas,
Químicas y Naturales. Misiones, 2003.

301
ASPECTOS MORFOLÓGICOS, BIOLÓGICOS E COMPORTAMENTAIS
DE INSETOS: ENTRE A LITERATURA ENTOMOLÓGICA E A
RECRIAÇÃO FÍLMICA

Tayron Sousa Amaral

Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz / USP, Piracicaba, São Paulo.


E-mail: tayron@usp.br

Resumo

O presente trabalho realiza-se a partir da correlação entre duas áreas: Cinema


e Entomologia. Procurou-se, inicialmente, buscar um longa-metragem que
estivesse diretamente ligado ao que se é estudado pela Entomologia. Embora
haja uma carência na quantidade de filmes relacionados, o longa-metragem
selecionado traz diversos itens interessantes a serem ponderados. O objetivo
do trabalho foi analisar, ao longo do filme FormiguinhaZ, como os aspectos
morfológicos, biológicos e comportamentais de insetos são representados,
verificando como a recriação fílmica se aproxima ou se distancia do que é dito na
literatura entomológica. Reflete-se, portanto, se é possível a partir dos aspectos
analisados em FormiguinhaZ obter conhecimento acerca do que é estudado pela
Entomologia.

Palavras-chave: FormiguinaZ; Formicidae; Biologia; Morfologia; Comportamento.

Introdução

Filmes com a temática relacionada a assuntos ligados à Entomologia são,


de certa forma, escassos. A produção deste tipo de filme seria algo de enorme
benefício para desmistificar várias crenças existentes na sociedade relacionadas a

302
uma grande quantidade de insetos que lhes conotam características negativas, as
quais não são verdadeiras. Esses filmes ajudariam a divulgar cada vez mais o que
se é estudado pela Entomologia.
Geralmente, imagina-se que filmes de censura livre possuem apenas o objetivo
de lazer, que tais filmes não terão temas polêmicos, porém na maioria dos filmes
do gênero animação, assim como FormiguinhaZ que trata da dinâmica da vida
social das formigas, eles mencionam assuntos que influenciam na formação
de novos cidadãos, além de temas importantes do dia a dia, como dominação,
individualismo, liberdade e emancipação (PINTO, 2009). Entretanto, não é
discutida a correlação entre obra e literatura entomológica, o que permite uma
outra visão sobre o filme, justificando o interesse pela presente análise da obra.
O objetivo do presente trabalho foi analisar, ao longo do longa-metragem
FormiguinhaZ, a forma com que aspectos morfológicos, biológicos e
comportamentais de insetos são abordados, a fim de verificar em que medida a
recriação fílmica se aproxima ou se distancia da literatura entomológica.

Material e Métodos

O corpus empírico desta análise é um longa-metragem do gênero Animação,


intitulado AntZ, traduzido para o português como FormiguinhaZ. Dirigido por
Eric Darnell e Tim Johnson, foi lançado em 1998, tornando-se um sucesso de
bilheteria.
A partir do filme, foram feitas seleções de imagens cristalizadas e de trechos
de imagem em movimento, observando aspectos morfológicos, biológicos e
comportamentais da Família Formicidae, uma vez que são mais regulares no filme
e dão título à obra, bem como de outros personagens que aparecem durante a
narrativa fílmica. O corpus analítico, composto pelas seleções realizadas (imagem
cristalizada e imagem em movimento), foi comparado com o que é encontrado
na literatura pertinente em relação aos mesmos aspectos. O embasamento teórico
desta pesquisa se constrói a partir de três publicações, a saber: Entomologia
Agrícola (GALLO et al, 2002); Estudo dos Insetos (TRIPLEHORN; JOHNSON,
2011) e Insetos do Brasil - Diversidade e Taxonomia (RAFAEL et al, 2012).
303
Resultados e Discussão

Observando o filme, foram considerados alguns aspectos. No que diz


respeito à morfologia, pelo processo de humanização pelo qual passam os insetos
em FormiguinhaZ, ocorre uma reconfiguração do corpo, o que acaba produzindo
criaturas que são reconhecidas pelo expectadores como insetos, mas que destoam
bastante do que é visto na natureza.
A literatura aponta que, quanto à morfologia, os insetos podem ser
diferenciados de outros artrópodes, de maneira geral, por apresentarem três
pares de pernas, um par de antenas, dois pares de asas e o corpo dividido em
três estruturas: cabeça, tórax e abdome (GALLO et al, 2002). No filme, percebe-
se que, no corpo das formigas, não há divisão das partes do corpo; nelas, as seis
pernas estão divididas entre tórax (um par) e abdome (dois pares), quando, na
realidade, essas apêndices se inserem no tórax. A maneira como se configuram e
se distribuem as pernas é também resultado da necessidade de antropomorfização
demonstrada no filme, uma vez que se assemelha ao modo como a espécie humana
tem seus membros distribuídos.
As vespas mostradas no filme apresentam corpo bastante fiel, com
destaque para os apêndices inseridos corretamente no tórax e o abdome do tipo
pedunculado (Fig. 1). Deve-se destacar que, na narrativa do filme, pelo papel que
a vespa desempenha, isto é, de coadjuvante, a função de humanização é menos
exigida.
De maneira geral, tipo de antena é abordado de forma excelente, o
que demonstra um cuidado morfológico. Há ainda em FormiguinhaZ uma
preocupação morfológica que se manifesta no tamanho da rainha do formigueiro,
que apresenta um grande abdome, como pode ser observado na Figura 2.

304
Figura 1. Vespa. Figura 2. Rainha.

No tocante à biologia e ao comportamento, alguns aspectos importantes são


abordados em FormiguinhaZ. Dentre os representantes da ordem Hymenoptera,
Formicidae é a única em que todas as espécies são basicamente insetos eussociais,
ou seja, verdadeiramente sociais. Segundo a literatura, as sociedades, em sua
maioria, são formadas por fêmeas estéreis, existindo a separação dos indivíduos
por castas.
Em geral, existe apenas uma fêmea com capacidade reprodutiva, conhecida
como rainha (RAFAEL et al, 2012). Ela é a fundadora da colônia e também a
responsável pela perpetuação da espécie, tendo a função exclusivamente de
reprodução. Antes de fundarem seus ninhos, realizam a cópula durante o voo
e, após atingirem o solo, perdem suas asas. Os machos, originários de ovos não
fecundados, também possuem apenas a função reprodutiva, aparecendo nas
colônias antes das revoadas, onde irão realizar a cópula, morrendo logo após
cumprirem sua função.
O filme reconstrói a colônia bem dividida em castas, com as funções divididas
entre soldados (Fig. 3), operárias (Fig. 4) e a rainha. No entanto, alguns aspectos
não condizem com o que se percebe na natureza. Como foi relatado, na colônia de
formigas a grande maioria dos indivíduos é composta por fêmeas. Na recriação

305
fílmica, vê-se uma colônia com inúmeros machos e fêmeas, exercendo ambos
a função de operários e soldados, convivendo pacificamente. O convívio entre
macho e fêmea em funções laborais é mais uma característica do processo de
humanização pelo qual passam os insetos recriados no filme. Há homens e
mulheres desempenhando funções semelhantes no mesmo ambiente, mas, no
caso das formigas, essa convivência pacífica não encontra correspondente na
natureza.

Figura 3. Operárias. Figura 4. Soldados.

Outro aspecto interessante é a comunicação entre os personagens, visto que


naturalmente não existe linguagem entre os insetos, mas sim comunicação, e
ela se dá principalmente por meio de feromônios (TRIPLEHORN; JOHNSON,
2011). Na recriação fílmica, em seu funcionamento de fábula, é dada linguagem
aos insetos, o que é perfeitamente verossímil na narrativa ficcional do filme, mas
é mais uma diferença em relação ao que se dá na natureza, porque, até onde se
sabe, embora haja comunicação, o que se produz em um formigueiro é algo bem
diferente de um diálogo, que se mostra amplamente no filme.
Quanto à alimentação, algumas espécies de formigas possuem relação
de simbiose com outros indivíduos como pulgões, por exemplo, onde elas se
alimentam de secreções expelidas por esses insetos, o “honeydew”, em troca
os pulgões são protegidos de predadores pelas formigas (RAFAEL et al, 2012).

306
Este tipo de alimentação é abordado no longa-metragem, onde os personagens
alimentam-se do “honeydew”, sendo chamado de “cerveja de pulgão” (Fig. 5), mas
não abordam a relação simbiótica entre os organismos.

Figura 5. Alimentação com “cerveja de pulgão”.

Considerações Finais

O trabalho apresentado relacionou aspectos morfológicos, biológicos e


comportamentais de insetos representados no longa-metragem FormiguinhaZ,
com o que se discute na literatura acerca dos mesmos. A recriação fílmica, embora
tenha a necessidade de humanizar os personagens, destoando, muitas vezes, do
que ocorre na natureza, preserva características relacionadas às estruturas, forma
de vida e comportamento dos insetos, dando aos expectadores reais noções de
tais aspectos. Embora seja uma obra ficcional, e embora se afaste da literatura
em alguma medida, é também um trabalho cuidadoso que reatualiza saberes
entomológicos.

307
Referências

GALLO, D.; NAKANO, O.; SILVEIRA NETO, S.; CARVALHO, R.P.L.;


BAPTISTA, G.C.; BERTI FILHO, E.; PARRA, J.R.P.; ZUCCHI, R.A.; ALVES, S.B.;
VENDRAMIN, J.D.; MARCHINI, L.C.; LOPES, J.R.S.; OMOTO, C. Entomologia
agrícola. Piracicaba: FEALQ, 2002. 920p.

PINTO, C.V. Cinema de animação - Um breve olhar entre o lazer e a diversão:


formação para que? Unisepe Ed. Agosto/2009. Disponível em: http://www.
unifia.edu.br/projetorevista/edicoesanteriores/agosto09/artigos/educacao/
cinemadeanimacao.pdf. Acesso em: 18 abr. 2013.

RAFAEL, J.A.; MELO, G.A.R.; DE CARVALHO, C.J.B.; CASARI, R.A.;


CONSTANTINO, R. (Eds.). Insetos do Brasil: diversidade e taxonomia. Ribeirão
Preto. Holos Editora, 2012. 810p.

TRIPLEHORN, C.A.; JOHNSON, N.F. Estudo dos Insetos. Tradução da 7ª. Edição
de Borror and Delong’s introduction to the study of insects. São Paulo: Cengage
Learning, 2011. 809p.

308

Você também pode gostar