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“O alienista”
Por Mayana Louise Coelho - ANO 2003
Personagens
Bacamarte médico; Evarista esposa; Tia de Bacamarte; Padre (pode intercalar com o m o
personagem “homem”); Garota 1; Garota 2; Prefeita; Crispim; Homem
BACAMARTE: Minha senhora case-se comigo e assim seremos felizes para sempre...
EVARISTA: Você encantou-me com essas palavras doces. Mas como posso aceitar? O que as
pessoas vão dizer?
BACAMARTE: Se é medo o que sentes, serás feliz ao meu lado... (E a roda com alegria)
BACAMARTE:
Amores derretidos,
Pessoas tão amadas,
Esquecem suas vidas
Para então viver casadas.
O amor ilumina
A terra gira,
O corpo treme,
E tudo rima.
BACAMARTE: Daqui a dois dias nós nos casamos. O que você acha?
BACAMARTE: (Ele abre a porta e diz): Adeus minha futura esposa... (Sua tia está na porta bem
na hora em que Evarista e Bacamarte se despedem).
TIA: Simão Bacamarte, Dona Evarista reúne condições fisiológicas e anatômicas de primeira
ordem. Dorme regularmente, tem bom pulso e excelente vista. Está apta para dar-lhe filhos
robustos, sãos e inteligentes, mas...
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BACAMARTE: (interrompe) Não diga nada minha tia. Estou certo que ela será a melhor
esposa...
BACAMARTE: Também estou certo de que os homens não olharão para ela.
TIA: Não diga mais nada, estou indo embora! (Ela sai muito irritada, porém mantém a
compostura).
PADRE: Estamos aqui para celebrar a união entre duas pessoas que se amam, a fim de curtir a
vida, juntar os trapos, botar algema (apontando para o dedo). Sacou?
Dona Evarista Soares Filho, aceita a mão de Simão Bacamarte Poldina em casamento?
Prometendo amá-lo, respeitá-lo, na riqueza e na pobreza, na saúde e na doença, na traição e
no perdão... Até que a morte vos separe?
PADRE: Doutor Simão Bacamarte Poldina, aceita a mão de Evarista Soares filho em
casamento? Prometendo tudo aquilo que já disse?
Depois desta celebração eles vão para casa. Mas logo que chega e olha pela janela, vê duas
garotas no banco da praça. Uma delas está interpretando o texto em voz alta...
BACAMARTE: (Chama as garotas e pedem para entrar na sua casa) Entrem! (pausa) O que faz
você ler uma poesia em voz alta?
GAROTA 1: Ah, é a alegria de viver, é a vida, é o cantar, é a felicidade, é tudo! Amor talvez.
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BACAMARTE: Amor?
GAROTA 1: Sim, amor. Àquilo que faz você ser feliz, que faz você cantar, amar...
BACAMARTE: Você não sabe explicar o que está causando sua felicidade, isso é loucura. Você
sofre de demência.
GAROTA 1: Como?
BACAMARTE: Você verá! (Tranca-as num lugar onde a platéia não pode ver e vai à prefeitura.
Bate na porta da prefeitura e fala do lado de fora): Gostaria de falar com o prefeito!
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BACAMARTE: Quero dizer que sou Simão Bacamarte, um alienista que estuda as
anormalidades alheias. Ando fazendo estudos muito críticos das pessoas.
BACAMARTE: Criar uma casa de Orates para estudar essa anormalidade com objetivo de
ajudá-los. Estou fazendo tudo isso, mas peço autorização da senhora prefeita e então
desenvolverei meus estudos.
PREFEITA: Se são esses seus objetivos, então autorizo, pois pode ajudar muita gente. Farei um
documento autorizando... (escreve num papel e entrega para ele que sai meio enlouquecido)
BACAMARTE: Você acha normal ler um poema em voz alta no meio da rua?
BACAMARTE: Direito eu tenho, leia este documento. (Elas lêem, devolvem e saem. Logo vê
sua esposa triste e pergunta): O que está acontecendo com você?
EVARISTA: Comigo nada! (Ela vai em direção do telefone e liga falando): Eu quero aquele
vestido bonito, diferente, prendado...
A porta bate
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CRISPIM: Trabalhava na câmara, era vereador.
CRISPIM: Porque fui acusado de furto, mas eu juro que não fui eu, foi a prefeita. Agora luto
para tomar o lugar dela.
CRISPIM: Ora, ninguém sabe... Mas não vamos falar sobre isso.
Bacamarte olha meio estranho devido ao rumo da conversa e sua mulher vai na direção da
prosa. Quando chega ao recinto, Crispim levanta e fica cheio de sorrisos para ela. Bacamarte
fica furioso.
BACAMARTE: Você não pode, aliás, não deve beijar a mão da mulher alheia.
BACAMARTE: Minha tia, você acha correto este homem beijar a mão de minha mulher?
BACAMARTE: (diz revoltado) Vou dar uma volta. (tranca todos em casa e vai para a praça).
HOMEM: (Aparece para questioná-lo) Eis que prendeste aquelas pessoas inocentes. Por quê?
BACAMARTE: Como inocentes? Eles não sabem o que causa a felicidade, isso é normal?
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HOMEM: Demência? O senhor diz isso, pois nunca foi feliz e nunca será. Você acha que as
pessoas são loucas, mas elas são felizes, e o senhor não pode ver a felicidade alheia. Isso lhe
incomoda.
Bacamarte sai furioso, mas antes de chegar em sua casa, encontra a prefeita
PREFEITA: Estou aqui para dizer que quero acabar com esta história, não quero mais uma casa
de Orates na cidade, aliás, de loucos.
BACAMARTE: E eu sou a justiça! (sacudindo o documento que está em uma de suas mãos)
Nesse momento Evarista que por sua vez se encontra bem vestida vê a prefeita entrando.
BACAMARTE: Desfrutável!
EVARISTA: Não vou te obedecer, estou cansada de suas loucuras. Você prendeu meio mundo
aqui em nossa casa e agora passou dos limites.
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BACAMARTE: Você ficará presa aqui porque está sofrendo de demência, igual a todos eles.
Esse é um momento em que ele se encontra sozinho, atolado nos livros e desorientado. Houve
gritos com o seguinte dizer: “Morra Doutor Bacamarte”.
É população indignada.
BACAMARTE: (Vai até a janela e diz): Direi pouco ou não falarei nada. O que pedem?
BACAMARTE: Esses rebeldes precisam ser tratados. (entra em casa e liberta todos). Saiam
daqui, vão embora, sumam! (ele repete isso várias vezes de forma descontrolada).
Momento de pura tensão, ele fica sozinho. Evarista, com ele se derrama em lágrimas, e ele fica
lamentando uma ação mal sucedida.
EVARISTA: (Levanta e enxuga as lágrimas) Vou embora com o Crispim, porque eu sei que a
morte vai nos separar. Você que buscou tudo isso, não passa de um louco.