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PREPARAÇÃO EXAME DE 11.º E 12.

º ANOS

Grupo I
A
Lê o poema com atenção e responde às questões apresentadas.

A Débil
Eu, que sou feio, sólido, leal, Atravessavas branca, esbelta e fina,
A ti, que és bela, frágil, assustada, Uma chusma de padres de batina,
Quero estimar-te sempre, recatada E de altos funcionários da nação.
Numa existência honesta, de cristal. (…)
E eu, que urdia3 estes fáceis esbocetos,
Sentado à mesa dum café devasso, Julguei ver, com a vista de poeta,
Ao avistar-te, há pouco, fraca e loura, Uma pombinha tímida e quieta
Nesta Babel1 tão velha e corruptora, Num bando ameaçador de corvos pretos.
Tive tenções de oferecer-te o braço.
E foi, então, que eu, homem varonil,
E, quando socorreste um miserável, Quis dedicar-te a minha pobre vida,
Eu, que bebia cálices de absinto,
Mandei ir a garrafa, porque sinto A ti, que és ténue, dócil, recolhida,
Que me tornas prestante2, bom, saudável. Eu, que sou hábil, prático, viril.

"Ela aí vem!" disse eu para os demais;


E pus-me a olhar, humilde e suspirando, Cesário Verde, in ‘O Livro de Cesário Verde’

O teu corpo que pulsa, alegre e brando,


Na frescura dos linhos matinais.

Via-te pela porta envidraçada;


E invejava, — talvez que não o suspeites! -
Esse vestido simples, sem enfeites,
Nessa cintura tenra, imaculada.
(…)
Com elegância e sem ostentação,

1
Babel: cidade
2 3
Prestante: que presta Urdir: tecer, fabricar
1. É notório um contraste entre o Eu (o poeta) e o Tu (a rapariga) neste poema.
1.1. Comenta esse contraste entre Eu e o Tu, apresentando a sua caracterização duma forma
comparativa.

1.2. Identifica a hipálage presente na segunda estrofe e explica o se valor.

1.3 Esclarece a influência que esta rapariga exerce no poeta.

2. O poeta, com a sua visão de artista, transfigura a realidade.


2.1 Localiza no poema e interpreta essa sua transfiguração do real.

3. Partindo do teu estudo da poesia de Cesário Verde, comenta, exemplificando, os diferentes


tipos de figuras femininas presentes nos seus poemas.

B
Num texto de cerca de 150 palavras, comenta a seguinte afirmação: “Afonso da Maia pode ser
visto como a representação dos velhos e nobres valores dos portugueses, cruzados com a
modernidade inglesa”.

C
Lê atentamente o texto.

A máquina estremeceu, oscilou como se procurasse um equilíbrio subitamente


perdido, ouviu-se um rangido geral, eram as lamelas de ferro, os vimes entrançados, e de
repente, como se a aspirasse um vórtice luminoso, girou duas vezes sobre si própria enquanto
subia, mal ultrapassara ainda a altura das paredes, até que, firme, novamente equilibrada,
erguendo a sua cabeça de gaivota, lançou-se em flecha, céu acima. Sacudidos pelos bruscos
volteios, Baltasar e Blimunda tinham caído no chão de tábuas da máquina, mas o padre
Bartolomeu Lourenço agarrara-se a um dos prumos que sustentavam as velas e assim pôde ver
afastar-se a terra a uma velocidade incrível, já mal se distinguia a quinta, logo perdida entre
colinas, e aquilo além, que é, Lisboa, claro está, e o rio, oh, o mar, aquele mar por onde eu,
Bartolomeu Lourenço de Gusmão, vim por duas vezes do Brasil, o mar por onde viajei à
Holanda, a que mais continentes da terra e do ar me levarás tu, máquina, o vento ruge-me aos
ouvidos, nunca ave alguma subiu tão alto, se me visse el-rei, se me visse aquele Tomás Pinto
Brandão que se riu de mim em verso, se o Santo Ofício me visse, saberiam todos que sou filho
predileto de Deus, eu sim, eu que estou subindo ao céu por obra do meu génio, por obra
também dos olhos de Blimunda, se haverá no céu olhos como eles, por obra da mão direita de
Baltasar, aqui te levo, Deus, um que também não tem a mão esquerda, Blimunda, Baltasar,
venham ver, levantem-se daí, não tenham medo.
Não tinham medo, estavam apenas assustados com a sua própria coragem. O padre
ria, dava gritos, deixara já a segurança do prumo e percorria o convés da máquina de um lado
a outro para poder olhar a terra em todos os seus pontos cardeais, tão grande agora que
estavam longe dela, enfim levantaram-se Baltasar e Blimunda, agarrando-se nervosamente aos
prumos, depois à amurada, deslumbrados de luz e de vento, logo sem nenhum susto, Ah, e
Baltasar gritou, Conseguimos, abraçou-se a Blimunda e desatou a chorar, parecia uma criança
perdida, um soldado que andou na guerra, que nos Pegões matou um homem com o seu
espigão, e agora soluça de felicidade abraçado a Blimunda, que lhe beija a cara suja, então,
então. O padre veio para eles e abraçou-se também, subitamente perturbado por uma
analogia, assim dissera o italiano, Deus ele próprio, Baltasar seu filho, Blimunda o Espírito
Santo, e estavam os três no céu, Só há um Deus, gritou, mas o vento levou-lhe as palavras da
boca. Então Blimunda disse, Se não abrirmos a vela, continuaremos a subir, aonde iremos
parar, talvez ao sol.
José Saramago, Memorial do Convento

Apresenta, de forma bem estruturada, as suas respostas ao questionário sobre o texto lido.
1. Distingue, no texto, dados e personagens históricos e ficcionados.

2. Identifica os fatores a que se atribui, no texto, a subida da passarola.

3. Interpreta a comparação subentendida entre a subida de Bartolomeu de Gusmão e a subida


de Cristo ressuscitado ao céu.

4. Explica a perturbação do padre bem patente nas suas últimas palavras.

Grupo II
Leia, atentamente, o seguinte texto.

Este livro reúne alguns dos textos que mensalmente e ao longo dos últimos anos fui
publicando […]. A estranheza do título justifica uma explicação, para que ele não passe como
um mero exercício de estilo.
Quando era pequeno – muito pequeno, talvez oito ou nove anos – lembro-me de estar
deitado na banheira, em casa dos meus pais, a ler um livro de quadradinhos. Era uma aventura
do David Crockett, o desbravador do Kentucky e do Tenessee, que haveria de morrer na mítica
batalha do Forte Álamo. Nessa história, o David Crockett era emboscado por um grupo de
índios, levava com um machado na cabeça, ficava inconsciente e era levado prisioneiro para o
acampamento índio. Aí, dentro de uma tenda, havia uma índia muito bonita – uma «squaw»,
na literatura do Far-West – que cuidava dele, dia e noite, molhando-lhe a testa com água,
tratando das suas feridas e vigiando o seu coma. E, a certa altura, ela murmurava para o seu
prostrado e inconsciente guerreiro: «não te deixarei morrer, David Crockett!»
Não sei porquê, esta frase e esta cena viajaram comigo para sempre, quase
obsessivamente. Durante muito tempo, preservei-as à luz do seu significado mais óbvio: eu era
o David Crockett, que queria correr mundo e riscos, viver aventuras e desvendar Tenessees.
Iria, fatalmente, sofrer, levar pancada e ficar, por vezes, inconsciente. Mas ao meu lado
haveria sempre uma índia, que vigiaria o meu sono e cuidaria das minhas feridas, que me
passaria a mão pela testa quando eu estivesse adormecido e me diria: «não te deixarei morrer,
David Crockett!» E, só por isso, eu sobreviveria a todos os combates. Banal, elementar.
Porém, mais tarde, comecei a compreender mais coisas sobre as emboscadas, os
combates e o comportamento das índias perante os guerreiros inconscientes. Foi aí que
percebi que toda a minha interpretação daquela cena estava errada: o David Crockett
representava sim a minha infância, a minha crença de criança numa vida de aventuras, de
descobertas, de riscos e de encontros. Mas mais, muito mais do que isso: uma espécie de
pureza inicial, um excesso de sentimentos e de sensibilidade, a ingenuidade e a fé, a hipótese
fantástica da felicidade para sempre. [...]
Miguel Sousa Tavares, Não Te Deixarei Morrer, David Crockett,
«Nota Prévia», 26.ª ed., Lisboa, Oficina do Livro, 2007

Para responder aos itens de 1 a 6, escreva, na folha de respostas, o número do item


seguido da letra identificativa da alternativa correta.
1. Com a afirmação «esta frase e esta cena viajaram comigo para sempre» (linha 13), o autor
quer dizer que:
A. se sentia marcado para toda a vida por aquela frase e por aquela cena.
B. transportava consigo, sempre que viajava, um livro sobre David Crockett.
C. se lembrava daquela frase e daquela cena sempre que viajava.
D. tinha aquela frase gravada na pasta que usava em viagem.
2. Na frase iniciada por «Foi aí que» (linha 21), o autor assinala o momento em que
A. leu a história aventurosa e acidentada do desbravador David Crockett.
B. tomou consciência de que David Crockett era o símbolo da sua infância.
C. sentiu a necessidade de preservar na memória o herói David Crockett.
D. julgou que era David Crockett, o mítico combatente de Forte Álamo.

3. A perífrase verbal em «e ao longo dos últimos anos fui publicando» (linhas 1 e 2) traduz uma
ação:
A. momentânea, no passado.
B. repetida, do passado ao presente.
C. apenas começada, no passado.
D. posta em prática, no momento.

4. A locução «para que» (linha 2) permite estabelecer na frase uma relação de


A. causalidade.
B. completamento.
C. finalidade.
D. retoma.

5. O uso de travessão duplo (linha 4) justifica-se pela necessidade de


A. destacar uma explicitação.
B. registar falas em discurso direto.
C. marcar alteração de interlocutor.
D. sinalizar uma conclusão.

6. O uso repetido do nome «David Crockett» (linhas 6, 7, 12, 15, 19, 22)
A. constitui um mecanismo de coesão lexical.
B. assegura a progressão temática.
C. constitui um processo retórico.
D. assegura a coesão interfrásica do texto.
7- Para responder, escreve o número do item, a letra identificativa de cada afirmação e, a
seguir, uma das letras, «V» para as afirmações verdadeiras ou «F» para as afirmações falsas.
A. O segmento textual «Este livro reúne alguns dos textos que mensalmente e ao longo dos
últimos anos fui publicando» (linhas 1 e 2) constitui um ato ilocutório diretivo.
B. O constituinte «inconsciente» em «Nessa história, o David Crockett (...) ficava inconsciente»
(linhas 7 e 8) desempenha, na frase, a função de predicativo do sujeito.
C. Os vocábulos «batalha» (linha 7) e «combates» (linhas 19 e 21) mantêm entre si uma
relação de antonímia.
D. O antecedente do pronome relativo «que» (linha 10) é «uma índia muito bonita» (linha 9).
E. Em «molhando-lhe a testa com água, tratando das suas feridas e vigiando o seu coma»
(linhas 10 e 11), as formas verbais «molhando», «tratando» e «vigiando» traduzem o modo
continuado como a índia cuidava de David Crockett.
F. Na frase «ela murmurava para o seu prostrado e inconsciente guerreiro» (linhas 11 e 12), os
adjetivos têm um valor restritivo.
G. Em «não te deixarei morrer, David Crockett!» (linha 12), «te» e «David Crockett» são
referências deíticas pessoais.
H. Na frase «preservei-as à luz do seu significado mais óbvio» (linha 14), o referente de «as» é
«esta frase e esta cena» (linha 13).
I. A frase «que vigiaria o meu sono» (linha 17) é subordinada relativa restritiva.
J. O conetor «Porém» (linha 20) introduz uma relação de oposição entre o que anteriormente
foi dito e a ideia exposta posteriormente.

Grupo III
“Acho que damos pouca atenção àquilo que efetivamente decide tudo na nossa vida,
ao órgão que levamos dentro da cabeça: o cérebro. Tudo quanto estamos por aqui a dizer é
um produto dos poderes ou das capacidades do cérebro: a linguagem, o vocabulário mais ou
menos extenso, mais ou menos rico, mais ou menos expressivo, as crenças, os amores, os
ódios, Deus e o diabo, tudo está dentro da nossa cabeça. Fora da nossa cabeça não há nada.
Ou melhor, há o que os nossos órgãos podem ter criado como imagem.”
José Saramago, in Tabu, 19 de abril de 2008

Num texto bem estruturado, com um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas


palavras, apresenta a tua opinião sobre a importância e a supremacia do cérebro nas vivências
do ser humano. Fundamenta o teu ponto de vista recorrendo, no mínimo, a dois argumentos e
ilustra cada um deles com, pelo menos, um exemplo significativo.
Correção
Grupo I
A
1.1
O contraste é notório e surge sob a forma de várias antíteses (feio/ bela…) ela generosa, ele
um devasso….

1.2 café devasso – não é o café que é devasso, mas sim o poeta…

1.3 Explorar a ideia presente em: Que me tornas prestante4, bom, saudável.

2.1 Explicar: Julguei ver, com a vista de poeta, / Uma pombinha tímida e quieta / Num bando
ameaçador de corvos pretos.

3. A mulher do campo e da cidade…

B
Afonso da Maia, o avô…Sempre defendeu os ideais liberais e esteve no exílio em Inglaterra
durante os períodos absolutistas… Conseguiu, por fim, aplicá-los com o neto, Carlos, quando
ficou responsável pela sua educação…

C
1. No texto é possível distinguir dados e personagens históricos e ficcionados. Assim temos os
históricos:
_ O padre Bartolomeu de Gusmão que estudou com os Jesuítas da Baía;
_ as suas experiências aerostáticas, a que não ficou alheia a mistificada “passarola voadora”,
um
rudimentar aeróstato que conseguiu elevar-se do solo apenas alguns metros.
… e os ficcionados:
_ Baltasar e Blimunda;
_ O voo da passarola descrito neste excerto.

2. Os fatores da subida da passarola atribuem-se, sobretudo, ao sonho do padre Bartolomeu


de Gusmão, aos olhos de Blimunda e à obra da mão direita de Baltasar.

3. O Padre Baltasar, por comparação, naquela passarola sentia-se Deus ele próprio, Baltasar,
seu filho e Blimunda, o Espírito Santo, ou seja, a Santíssima Trindade: os tais três B, agora, num
só. O sonho de voar (vontade de ser superior) elevava o Homem a Deus e foi através da
passarola que eles se imortalizaram, que ultrapassaram os limites humanos.

4. A perturbação do padre devia-se às suas ideias de voar que eram arrojadas demais para
aquela época, pois faziam-no questionar a religião e a conceção do mundo e, por isso,
antagónicas às da Igreja, da Inquisição. Ele sabia que poderia ser perseguido e castigado por
ter voado, pois o Santo Ofício considerava os seus interesses e estudos, uma “arte do
demónio”.
Grupo II
1. A
2. B
3. B
4. C
5. A
6. A

7.
Chave
A. F
B. V
C. F
D. V
E. V
F. F
G. V
H. V
I. F
J. V

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