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DICAS E RESPOSTAS DA LISTA DE EXERCÍCIOS 3 EDO II - MAP 0316

PROF: PEDRO T. P. LOPES WWW.IME.USP.BR/ ∼PPLOPES/EDO2

Os exercícios a seguir foram selecionados dos livros dos autores Claus Doering-Artur Lopes e Jorge Sotomayor.
(S.X.Y) indica exercício Y do capítulo X do livro do Sotomayor. (D.L.X.Y) indica exercício Y do capítulo X do
livro dos autores Claus Doering e Artur Lopes.

Exercício 1 (S.1.36)
(i) Seja f : R × Rn → Rn contínua e Lipschitziana na segunda variável com constante de Lipschitz K. Sejam ϕ1
e ϕ2 funções diferenciáveis num intervalo I =]a, b[ que contém o ponto t0 . Suponha que para todo t∈I
|ϕ0i (t) − f (t, ϕi (t))| ≤ i , i = 1, 2, (∗)
mostre a seguinte forma aperfeiçoada da Desigualdade de Gronwall:

(1 + 2 )  K|t−t0 | 
|ϕ1 (t) − ϕ2 (t)| ≤ |ϕ1 (t0 ) − ϕ2 (t0 )| eK|t−t0 | + e −1 .
K
(Sugestão: Seja t ≥ t0 . integrando (∗) entre t0 e t obtenha
ˆ t

ϕ1 (t) − ϕ2 (t) − (ϕ1 (t0 ) − ϕ2 (t0 )) − [f (s, ϕ1 (s)) − f (s, ϕ2 (s))] ds ≤ (1 + 2 ) (t − t0 )

t0

e daí conclua que


ˆ t
|ϕ1 (t) − ϕ2 (t)| ≤ |ϕ1 (t0 ) − ϕ2 (t0 )| + K |ϕ1 (s) − ϕ2 (s)| ds + (1 + 2 ) (t − t0 ) . (∗∗)
t0
´t
Dene agora R(t) = t0
|ϕ1 (s) − ϕ2 (s)| ds, t0 ≤ t ≤ b. Então,

0
R (t) − KR(t) ≤ |ϕ1 (t0 ) − ϕ2 (t0 )| + (1 + 2 ) (t − t0 )
e multiplicando ambos os lados desta expressão por e−K(t−t0 ) e integrando entre t0 e t resulta
|ϕ1 (t0 ) − ϕ2 (t0 )|  K(t−t0 )  ( +  )
1 2 (1 + 2 ) K(t−t0 )
R(t) ≤ e −1 − (1 + K(t − t0 )) + e .
K K2 K2
Combinando esta desigualdade com (∗∗) segue-se o resultado.)
n n n
(ii) Sejam fm : R × R → R tais que fm → f0 uniformemente em I × R e todas têm a mesma constante de
Lipschitz K . Se ϕm é a solução de

x0 = fm (t, x), x(t0 ) = xm ,


use (i) para provar que ϕm tende uniformemente em I para ϕ0 se xm → x0 ,
Resolução: De fato, seja dado um  > 0. Seja M tal que se m > M , então kfm (t, x) − f0 (t, x)k < ˜ e |xm − x0 | < ˜,
1
 
em que ˜ eK(b−a) + K eK(b−a) − 1 = .
Assim

|ϕ0m (t) − f0 (t, ϕm (t))| ≤ |ϕ0m (t) − fm (t, ϕm (t))| + |fm (t, ϕm (t)) − f0 (t, ϕm (t))| =
|fm (t, ϕm (t)) − f0 (t, ϕm (t))| < ˜.
0
Obviamente, |ϕ0 (t) − f0 (t, ϕ0 (t))| = 0. Logo

˜  K|t−t0 | 
|ϕm (t) − ϕ0 (t)| ≤ |ϕm (t0 ) − ϕ0 (t0 )| eK|t−t0 | + e −1 ≤
K
 
1  
˜ eK(b−a) + eK(b−a) − 1 .
K

Exercício 2 (D.L.4.4)
1
DICAS E RESPOSTAS DA LISTA DE EXERCÍCIOS 3 EDO II - MAP 0316 2

Use a mudança de variáveis h(r, θ) = (r cos(θ), rsen(θ)) para colocar a equação diferencial
 0
r = sen 1r


θ0 = −1
em coordenadas cartesianas (x1 , x2 ).
Resolução: Seja x = rcosθ e y = rsenθ. Logo
 
r0
x0 = r0 cosθ − rsenθθ0 = r rcosθ − rsenθθ0 = √ 1
sen √ 1
x+y
x2 +y 2 x2 +y 2
  .
r0
y 0 = r0 senθ + rcosθθ0 = r rsenθ + rcosθθ0 = √ 1
sen √ 1
y−x
x2 +y 2 x2 +y 2

Assim   
 x0 = √ 1
sen √ 1
x+y


x2 +y 2 x2 +y 2
  .
 y0 = √ 1
sen √ 1
y−x


x2 +y 2 x2 +y 2

Exercício 3 (D.L.4.8)
Considere o sistema não linear em R2 dado por

x01 = x2 ξ (x1 , x2 )

,
x02 = −x1 ξ (x1 , x2 )
onde ξ : R2 → R é de classe C 1.
a) Prove que toda órbita deste sistema ou está contido em uma circunferência centrada na origem ou é a própria
origem (0, 0) do plano.
Resolução:
Sabemos que o campo de vetores é f (x1 , x2 ) = (x2 ξ (x1 , x2 ) , −x1 ξ (x1 , x2 )). Logo

hf (x1 , x2 ) , (x1 , x2 )i = h(x2 ξ (x1 , x2 ) , −x1 ξ (x1 , x2 )) , (x1 , x2 )i =

x1 x2 ξ (x1 , x2 ) − x2 x1 ξ (x1 , x2 ) = 0.
Assim se x = (x1 , x2 ) é uma solução da EDO acima, então t 7→ kx(t)k = k(x1 (t), x2 (t))k é constante, pois

d 2
k(x1 (t), x2 (t))k = 2 hf (x1 (t), x2 (t)) , (x1 (t), x2 (t))i = 0.
dt
b) Esboce as trajetórias deste sistema, realçando os pontos críticos e as órbitas periódicas, nos casos particulares
 
i. ξ(x1 , x2 ) = x21 + x22 − 1  x2 − x21 − 2 
2 2
ii. ξ(x1 , x2 ) = 1 − x1 − x2 x2 + x21 + 2
Resolução:
Em i, os pontos críticos são a origem, a circunferência de raio 1 e a parábola x2 = x21 + 2.
Em ii, os pontos críticos são a origem, a circunferência de raio 1 e a parábola x2 = −x21 − 2.

Exercício 4 (D.L.4.10)
Mostre que uma conjugação topológica leva singularidades em singularidades e órbitas periódicas em órbitas
periódicas, preservando o período.
Resolução:
Seja f1 : E1 → Rn e f2 : E2 → Rn . Seja φ1 o uxo de f1 e φ2 o uxo de f2 . Por m, seja g : E1 → E2 uma
conjugação topológica. Seja x0 uma singularidade de E1 . Logo

φ2 (t, g(x0 )) = g (φ1 (t, x0 )) = g(x0 ).




Logo f2 (g(x0 )) = ∂t φ2 (0, g(x0 )) = 0. Assim g(x0 ) é uma singularidade de f2 .
Seja t → φ1 (t, x0 ) uma solução periódica e T o período de φ1 . Logo

φ2 (t + T, g(x0 )) = g (φ1 (t + T, x0 )) = g (φ1 (t, x0 )) = φ2 (t, g(x0 )), ∀t


Suponha que exista τ <T tal que φ2 (t + τ, g(x0 )) = φ2 (t, g(x0 )), para todo t ∈ R. Logo

−1 −1
φ1 (t + τ, x0 ) = g (φ2 (t + τ, g(x0 ))) = g (φ2 (t, g(x0 ))) = φ1 (t, x0 ).
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Assim o min {c > 0; φ1 (t + c, x0 ) = φ1 (t, x0 )} < T . Concluímos, assim, que o período de φ1 não é T. Absurdo.
Logo este τ não existe. Assim, vemos que

min {c > 0; φ2 (t + c, x0 ) = φ2 (t, x0 )} = T,


ou seja, t 7→ φ2 (t, x0 ) é uma solução periódica e o seu período é igual a T.

Exercício 5 (D.L.4.11)
Lembre que os campos lineares A, B ∈ Mn (R) são linearmente conjugados se, e somente se, as matrizes A e B são
semelhantes (A = P −1 BP ). Mostre que A e B são linearmente conjugados se, e somente se, são diferencialmente
conjugados.
Resolução:
Suponha que A = P −1 BP , ou seja, que A e B sejam linearmente conjugados.
n n
Seja g : R → R dado por g(x) = P x. Como P é inversível, concluímos que g é um difeomorsmo C ∞. Além
disso, se f1 (x) = Ax e f2 (x) = Bx, então

Dg(x)f1 (x) = P Ax = BP x = Bg(x) = f2 (g(x)) .


Logo f1 é diferenciavelmente conjugado a f2 .
Agora suponha que A seja diferenciavelmente conjugado a B. Logo existe um difeomorsmo g : R n → Rn tal
que

Dg(x)Ax = Bg(x).
Note que se x = 0, a relação acima mostra que Bg(0) = 0, ou seja, g(0) ∈ Ker(B). Seja g̃ : Rn → Rn dado por
g̃(x) = g(x) − g(0). Logo
Dg̃(x)Ax = Dg(x)Ax = Bg(x) = B (g(x) − g(0)) = Bg̃(x).
Assim g̃ é uma conjugação e g̃(0) = 0.
Vemos assim, que podemos supor que existe uma conjugação g tal que g(0) = 0.
Seja ej = (0, ..., 1, ..., 0), em que 1 aparece na j−ésima casa e t > 0. Se x = tej , então temos

Dg(tej )A (tej ) = Bg(tej ).


Logo
1 1
Dg(tej )A (tej ) = Bg(tej ).
t t
Assim  
1 1
Dg(0)A (ej ) = lim Dg(tej )A (ej ) = lim Bg(tej ) = B lim g(tej ) =
t→0 t→0 t t→0 t

1 ∂g
B lim (g(tej ) − g(0)) = B (0) = BDg(0)ej .
t→0 t ∂xj
Como isto vale para todo j, concluímos que

Dg(0)A = BDg(0).
Para P := Dg(0), temos

A = P −1 BP.
Logo concluímos que A e B são conjugados.

Exercício 6 (D.L.4.12)
Sejam f : E → Rn um campo, K ⊂ E um compacto e r > 0 dados. Mostre que existe α > 0 tal que, para cada
x0 ∈ K , a solução x de x0 = f (x) com x(0) = x0 leva pelo menos tempo α para se afastar uma distância r de x, ou
seja, vale |x(t) − x0 | < r para cada 0 ≤ t ≤ α.
Resolução:
Sabemos que o uxo φ : Ω = {(t, x), x ∈ E, t ∈ I(x)} → Rn C1
(vamos assumir que f seja
é contínuo e de classe
1
de classe C ) e que Ω é um aberto.
Logo {0} × K é um compacto de Ω. Pela continuidade de φ e por Ω ser aberto, concluímos que para todo x ∈ K ,
r
existe δx > 0 tal que se k(t, y) − (0, x)k < 2δx , então (t, y) ∈ Ω e kφ(t, y) − φ(0, x)k < . Como K ⊂ ∪x∈K Bδx (x) =
2
{(t, y), k(t, y) − (0, x)k < δx } e K é compacto, concluímos que existem x1 ,...,xm em K tais que
K ⊂ ∪m
j=1 Bδxj (xj ) .
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Seja α = min δxj , j = 1, ..., m . Consideremos x∈K e |t| < α. Logo x ∈ Bδxj (xj ) para algum j. Isto implica
que
k(t, x) − (0, xj )k ≤ |t| + kx − xj k < δ + δxj = 2δxj .
Assim (t, x) ∈ Ω e
r
kφ(t, x) − φ(0, x)k ≤ kφ(t, x) − φ(0, xj )k + kφ(0, xj ) − φ(0, x)k < 2 = r.
2

Exercício 7 (D.L.4.13)
Verique quais dos sistemas lineares x0 = Ax são campos gradientes (ou seja, Ax = −∇U (x), para alguma função
2
diferenciável U : R → R), no caso em que A ∈ M2 (R) está na forma de Jordan.
Resolução:
 
λ1 0
I) A = , em que λ1 e λ2 são números reais. Ax é um campo gradiente, pois se U (x1 , x2 ) =
0 λ2
1 2 2

− 2 λ1 x1 + λ2 x2 , então
−∇U (x1 , x2 ) = (λ1 x1 , λ2 x2 ) = Ax.
 
∂U ∂U
usar que se f (x1 , x2 ) = (f1 , f2 ) = − −
Para os dois casos abaixo, vamos
∂x1 , ∂x2 = −∇U (x1 , x2 ), então

∂f1 ∂f2
− = 0.
∂x2 ∂x1
 
λ 0
II) A=
1 λ
Neste caso, temos f (x1 , x2 ) = (λx1 , x1 + λx2 ). Logo

∂f1 ∂f2
− = −1 6= 0.
∂x2 ∂x1
Logo não é um campo gradiente.
 
a b
III) A= , b 6= 0
−b a
Neste caso, temos f (x1 , x2 ) = (ax1 + bx2 , −bx1 + ax2 ). Logo

∂f1 ∂f2
− = b + b = 2b 6= 0.
∂x2 ∂x1
Logo não é um campo gradiente.

Exercício 8 (D.L.4.14)
Dizemos que a trajetória t 7→ x(t) por x(0) = x0 , ou então, o ponto x0 é positivamente recorrente ou estável
segundo Poisson se não é singular e, para alguma sequência tn → +∞, vale que x(tn ) → x0 . Prove que um campo
de vetores gradiente não possui trajetórias positivamente recorrentes.
Resolução:
Suponha que f = −∇U e x0 = f (x) seja uma solução não constante. Logo f (x(t)) 6= 0 para todo t. Assim

d 2 2
U (x(t)) = ∇U (x(t)).x0 (t) = ∇U (x(t)).f (x(t)) = − k∇U (x(t))k = − kf (x(t))k < 0.
dt
Logo t 7→ U (x(t)) é uma função estritamente decrescente. Por continuidade de U , se x(tn ) → x(0), então

U (x(0)) = lim U (x(tn )) .


n→∞

Mas se tn > 0, então U (x(tn )) < U (x(0)). Assim limn→∞ U (x(tn )) < U (x(0)). Absurdo. Logo não existem
trajetórias positivamente recorrentes para vetores gradientes.

Exercício 9 (D.L.4.15)
Considere o sistema mecânico que descreve um pêndulo sujeito a uma força de atrito, porém não à força gravi-
tacional. A equação do movimento angular é dada por

d2 θ dθ
m = −k .
dt2 dt
Transforme num sistema de equações ordinárias de ordem 1. Calcule as soluções deste problema e esboce o
retrato de fase deste sistema.
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Resolução:
Basta escrever
θ0 = ω θ0
     
0 1 θ
⇐⇒ = .
0
ω = −m k
ω ω0 0 −mk
ω
Para resolver, podemos calcular a exponencial da matriz. Porém é mais simples resolver em ω e depois em θ.
k k
0
Se ω = −m k
ω , então ω(t) = ω(0)e− m t . Como
0
θ = ω, concluímos que θ = 0 −m
ω(0)e t . Logo θ(t) =
k
m m −m
 t
θ(0) + k ω(0) − k ω(0)e . Assim

k
−m
θ(t) = θ(0) + m
 m t
k ω(0) − k ω(0)e .
k
−mt
ω(t) = ω(0)e

Exercício 10 (D.L.4.18)
Um exemplo mais simples que o do pêndulo é o da mola sem atrito, dada pelo sistema mecânico determinado
pela lei de Hooke F (x) = −kx, com x ∈ R e constante de mola k > 0. Obtenha
a) um potencial U (x) e a energia cinética V (x) do sistema.
Resolução:
´x ´x
U (x) = − 0 F (ξ)dξ = 0 kξdξ = 12 kx2 .
V (x) = 12 mx02 .
0
b) as curvas de nível da energia total E(x, x ) do sistema.
Resolução:
Para todo c, as curvas devem ser as elipses (ou o ponto 0) dadas por

1 1
E(x, x0 ) = mx02 + kx2 .
2 2
c) o retrato de fase do sistema.

Exercício 11 (D.L.1.19)
Calcule a energia total do sistema mecânico determinado pelo campo de forças F (x) = −x3 em R. Obtenha a
expressão do campo de vetores associado f (x, y) = (x0 , y 0 ). Esboce o retrato de fase da equação de primeira ordem
associada ao campo f usando a integral primeira dada pela energia total.
Resolução:
A energia será dada por E(x, v) = m 2 1 4
2 v + 4 x .
O campo de vetores é f (x, v) = v, −x3 . (para massa igual a 1)

Exercício 12 (D.L.4.20)
Sejam V1 , ..., Vn : E → R funções de classe C 1 no aberto E ⊂ Rn e dena G : E → Rn−1 por G(x) =
(V1 (x), ..., Vn−1 (x)). Utilizando a forma local das submersões, mostre que se os vetores gradiente ∇V1 (x), ...,
∇Vn−1 (x) são linearmente independentes, então
{x ∈ E|V1 (x) = c1 , ..., Vn−1 (x) = cn−1 } = G−1 (c1 , ..., cn−1 )
dene uma curva de classe C1 em Rn .
Resolução:
Faremos aqui apenas um esboço com as ideias principais.
 
∂Vj ∂Vj
Sabemos que ∇Vj (x) = ∂x1 , ..., ∂xn são L.I., para j = 1, ..., n − 1. Assim, para algum i, os vetores

 
∂Vj ∂Vj ∂Vj ∂Vj
, ..., , , ..., ,
∂x1 ∂xi−1 ∂xi+1 ∂xn
j = 1, ..., n − 1 são L.I. (Podemos aplicar o teorema de álgebra linear: Posto Linha é igual ao Posto Coluna para
concluir isto). Vamos supor que podemos escolher i = n, apenas para ajudar a notação. Assim, localmente existe
um difeomorsmo h entre abertos do Rn tal que

G (h(x0 , t)) = x0 .
Em G−1 (c1 , ..., cn−1 ), obtemos que G (h(c, t)) = c, em que c := (c1 , ..., cn−1 ). Assim localmente, a curva será
dada por t 7→ h(c, t).
DICAS E RESPOSTAS DA LISTA DE EXERCÍCIOS 3 EDO II - MAP 0316 6

Forma Local das Submersões: (Elon. Análise Real Volume 2) Seja f = (f1 , ..., fn ) uma aplicação de classe Ck
m+n n
(k ≥ 1) de um aberto U ⊂R em R . Se, num ponto p = (a, b) ∈ U , a matriz
 
∂fi
(p) (i, j = 1, ..., n)
∂yj
é invertível, então existem abertos Z 3 p em Rm+n , V 3 a em Rm , W 3 c = f (p) em Rn e um difeomorsmo
vertical (vertical quer dizer que h(x, y) = (x, h2 (x, y))) h : V × W → Z , de classe C k ,tal que f (h(x, w)) = w, para
todo x∈V e todo w ∈ W.

Exercício 13 (D.L.4.21)
Sejam V1 , ..., Vn : E → R integrais primeiras do campo f : E → Rn de classe C 1 no aberto E ⊂ Rn tais que os
vetores ∇V1 (x), ..., ∇Vn−1 (x) são linearmente independentes: pelo exercício acima,
γ = {x ∈ E|V1 (x) = c1 , ..., Vn−1 (x) = cn−1 }
dene uma curva de classe C1 em Rn . Parametrize γ por z :]a, b[→ Rn e considere o campo de vetores (unidimen-
sional) induzido de f por z, ou seja, a função g :]a, b[→ R,denida por
g(t)z 0 (t) = f (z(t))
como a razão das normas de f (z(t)) por z 0 (t) (vezes 1 ou −1 de tal forma que a equação acima seja satisfeita). A
equação diferencial y 0 (t) = g(t) tem variáveis separáveis e é de fácil resolução por integração. Portante podemos obter
0
(pelo menos em teoria) a solução da equação diferencial original x = f (x) contida em γ através de x(t) = z(g(t)).
Resolução:
Apenas detalhar o argumento.

Exercício 14 (S.2.28)
Seja S = {A ∈ Mn (R) : o uxo de x0 = Ax é hiperbólico}. Mostre que S é aberto e denso em Mn (R), isto é,
mostre:
1) Dado A ∈ S, existe >0 tal que se kB − Ak < , então B ∈ S.
Resolução:
Seja A ∈ S e pA o polinômio característico de A. Seja 
˜ > 0 tal que a distância entre as raízes de A e do eixo
{z ∈ C; Re(z) = 0} sejam maiores do que ˜. Sabemos que existe δ > 0 tais que se os coecientes de um polinômio
p distarem menos de δ dos coecientes de pA então a distância das raízes de p das raízes de pA será menor do que
˜. Como pA (λ) = det(λI − A), concluímos que os coecientes são função contínuas das entradas da matriz A (e
portanto, da matriz A). Assim existe um  > 0 tal que se kB − Ak < , então os coecientes de pB distam menos
do que δ dos coecientes de pA . Logo as raízes de pB distam das raízes de pA são menores que do  ˜. Logo não
podem pertencer a {z ∈ C; Re(z) = 0}. Ou seja, a parte real dos autovalores é diferente de zero e B ∈ S .
2) Dado A ∈ Mn (R) e  > 0, existe B ∈ S tal que kB − Ak < .
Resolução:
Seja  > 0. B = A + µI . Logo pB (λ) = det(λI − B) = det((λ − µ) I − A) = pA (λ − µ). Assim as raízes de
Seja
pB são iguais as raízes de pA mais µ. Se as raízes de A tiverem parte real diferente de zero, basta escolher B = A.
Senão, basta escolher µ <  tal que pB não tenha mais raízes com parte real 0. Neste caso kB − Ak = kµIk = µ < .
Pn j
(Dica: Use que se p(z) = j=0 aj z é um polinômio e z1 ,...,z são as raízes de p, então dado  > 0, existe δ > 0
Pn n j
tal que se |ãj − aj | < δ , então as raízes do polinômio p̃(z) = j=0 ãj z distam menos do que  das raízes de p. Isto
é um consequência do Teorema de Rouché de análise complexa).

Exercício 15 (S.1.30)
Ci = {A ∈ Mn (R) : o uxo de x0 = Ax é hiperbólico e tem índice de estabildade i}.
Seja Mostre que Ci é aberto
em Mn (R). Lembre que i denota o número de autovalores com parte real negativa.
Resolução:
Uso o mesmo argumento do exercício anterior. Dado A ∈ Ci , basta escolher  > 0 tal que as raízes de A
tenham uma distância superior do que  do conjunto {z ∈ C; Re(z) = 0}. Agora basta escolher δ > 0 tal que se
kB − Ak < δ , então as raízes de pA e de pB distam de uma distância de . Logo continuará havendo i raízes de B
com parte real negativa e n − i raízes com pare real positiva.
Concluímos que se kB − Ak < δ , então B ∈ Ci .

Exercício 16 (S.1.31)
DICAS E RESPOSTAS DA LISTA DE EXERCÍCIOS 3 EDO II - MAP 0316 7

Um sistema linear x0 = Ax chama-se estruturalmente estável se existe uma vizinhança V (A) de A em Mn (R)
0 0
tal que para toda matriz B ∈ V (A) o sistema linear x = Bx é topologicamente conjugado a x = Ax. Prove que
0 0
x = Ax é estruturalmente estável se, e somente se, x = Ax é hiperbólico.
(Sugestão: para a prova de que a matriz deve ser hiperbólica observe que se λ é autovalor de A e v é um autovetor
λt 0 αt
correspondente a λ, então ϕ(t) = e v é solução de Ax = x . Além disso, |ϕ(t)| = e |v| se α = Re(λ)).
Resolução:
Podemos demonstrar da seguinte maneira.
Se A é hiperbólico e B for próximo a A, então B tem o mesmo índice de estabilidade de A. Logo A e B são
topologicamente conjugados, pelos resultados visto em sala de aula.
Se A não for hiperbólico, então numa vizinhança de A podemos achar (denindo B = λI+A) matrizes hiperbólicas
com índices de estabilidade distintos. Logo que não são topologicamente conjugadas. Assim não podemos ter ambos
topologicamente conjugadas a A (já que a conjugação é uma relação de equivalência).
Usamos o seguinte resultado em sala de aula:
Duas matrizes hiperbólicas denem uxos topologicamente conjugados se, e somente se, têm o mesmo índice de
estabilidade.

Exercício 17 (S.3.7)
Sistemas conservativos unidimensionais: Considere a equação

x00 = F (x)
num intervalo da reta. Claramente ela é equivalente ao sistema

x0 = v
0 (∗)
v = F (x)
v2
(i) Mostre que a energia total
´x E = T +U é uma integral primeira de (∗) onde T (v) = 2 é a energia cinética e
U (x) = − F (ξ)dξ é a energia potencial.
x0
´x v2
Resolução: Vemos que E(x, v) = − x0
F (ξ)dξ + 2 é tal que se (x, v) é solução da EDO acima, então

d
E (x(t), v(t)) = ∇E(x, v). (x0 , v 0 ) = ∇E(x, v). (v, F (x)) =
dt
(−F (x), v) . (v, F (x)) = −F (x)v + F (x)v = 0.
Logo t 7→ E(x(t), v(t)) é constante. Além disso, ∇E(x, v) = 0 só pode ocorrer se v = 0. No entanto, se houvesse
algum aberto em que E fosse constante, então ∇E seria igual a zero neste aberto. Porém todo aberto deve conter
(x, v) para algum v 6= 0. Como isto não é o caso, concluímos que E não é constante em nenhum aberto. Logo E é
uma integral primeira.
(ii) Mostre que todos os pontos de equilíbrio de (∗) estão no eixo dos x. Mostre também que todas as órbitas
periódicas de (∗) interceptam o eixo dos x e são simétricas em relação a ele.
Resolução:
Vemos que (v, F (x)) = (0, 0) se v=0 e se F (x) = 0. Assim as singularidades estão no eixo x (v ≡ 0)
Se uma órbita não intercepta o eixo dos x, então x0 (t) = v(t) é sempre crescente ou sempre decrescente. Logo
t 7→ (x(t), v(t)) é injetora e a órbita não é periódica.
Seja t 7→ (x, v) uma órbita periódica. Se t0 tal que v(t0 ) = 0. Deno

(y(t), w(t)) = (x(t), v(t)), se t < t0


.
(y(t), w(t)) = (x(t0 − t), −v(t0 − t)), se t ≥ t0
Vemos que (y(t), v(t)) satisfaz a equação também para t ≥ t0 . Além disso, (y(t0 ), w(t0 )) = (x(t0 ), 0) está bem
denido. Logo (y, w) e por unicidade é igual a (x, v). Concluímos daí a simetria.
(iii) Mostre que se U (x1 ) = U (x2 ) = c e U (x) < c para x1 < x < x2 , com F (x1 ) e F (x2 ) não nulos, então (∗)
tem uma órbita periódica passando pelos pontos (x1 , 0) e (x2 , 0).
Resolução:
Uma solução (x, v) tal que (x(0), v(0)) = (x1 , 0) não pode ser singular, pois (0, F (x1 )) 6= (0, 0). Além disso, está
connada num conjunto limitado pelas conservação da energia e pelas hipóteses do exercício. Logo a solução está
denida para todo t real. A periodicidade pode ser demonstrada usando argumentos de conservação de energia.
(iv) Suponha que F (x) 6= 0 para 0 < |x − a| < , para algum  > 0. Mostre que (∗) tem um centro ou uma sela
em (a, 0) conforme U (a) seja um mínimo ou um máximo relativo.
DICAS E RESPOSTAS DA LISTA DE EXERCÍCIOS 3 EDO II - MAP 0316 8

Resolução: Basta estudar


 
0 1
dF
dx (a) 0
q q
dF 2
e ver que as raízes do polinômio característico são
dx (a) = ± λ± = ± − ddxU2 (a). Temos assim, ou duas raízes
d2 U
complexas, ou uma raiz positiva e outra negativa. Supondo
dx2 (a) 6= 0.

Exercício 18 (S.3.8)
Com base no exercício anterior, faça uma representação do espaço de fase das seguintes equações:
(i) x00 = −x (mola).
00
(ii) x = −sen(x) (pêndulo).
00 1
(iii) x = − 2 (gravitação).
x

Exercício 19 (S.3.1)
Seja f : E → Rn um campo vetorial de classe C 1 . Uma função contínua V :E→R chama-se integral primeira
de f em E se:
(a) V é constante ao longo de toda órbita de f .
(b) V não é constante em nenhum aberto de E .
Resolva as seguintes questões:
(i) Seja f :E→R de classe C1 tal que ∇V (x)f (x) = 0 e ∇V (x) 6= 0 para todo x ∈ E. Então V é uma integral
primeira de f .
Resolução:
Seja x : I → Rn uma solução de x0 = f (x). Logo

d
V (x(t)) = ∇V (x(t))x0 (t) = ∇V (x(t))f (x(t)) = 0.
dt
Logo t 7→ V (x(t)) é uma função constante. Assim (a) é satisfeito.
Suponha que V seja constante em algum aberto de E . Logo, neste aberto temos ∇V (x) = 0. Como isto não é
verdadeiro para nenhum x, concluímos que (b) é satisfeito.
(ii) Se x ∈ E não é ponto singular de f então existe uma vizinhança U de x tal que f |U tem n − 1 integrais
1
primeiras V1 ,...,Vn−1 de classe C funcionalmente independentes (isto é, tais que ∇V1 ,..., ∇Vn−1 são linearmente
independentes para todo x ∈ U ).
(Sugestão: Use o Teorema do Fluxo Tubular.)
(iii) Encontre uma integral primeira do centro dado por

x01 = −βx2
x02 = βx1
para β 6= 0 e da sela

x01 = λ1 x1
x02 = λ2 x2
onde λ1 < 0 < λ2 .
Resolução:
Para o primeiro, vemos que V (x1 , x2 ) = x21 + x22 é uma integral primeira, pois

∇V (x1 , x2 )(−βx2 , −βx1 ) = (2x1 , 2x2 )(−βx2 , βx1 ) = −2βx1 x2 + 2βx1 x2 = 0.


Além disso, ∇V (x1 , x2 ) = 0 só na origem, ou seja, V não é constante em nenhum aberto.
λ
− 2
Para a sela podemos denir V (x1 , x2 ) = x 1 λ1
x2 . Logo
λ2 − λλ21 −1 λ
 
− λ2
∇V (x1 , x2 )(λ1 x1 , λ2 x2 ) = − x1 x2 , x1 1
. (λ1 x1 , λ2 x2 ) =
λ1
λ λ
− λ2 − λ2
−λ2 x1 1
x2 + λ2 x1 1
x2 = 0.
Novamente, ∇V só se anula se x1 = 0 ou se x2 = 0. Assim V não é constante em nenhum aberto.
(iv) Para sistemas lineares, não existe nenhuma integral primeira em R2 , se ambos autovalores tiverem parte real
>0 ou ambos tiverem parte real < 0.
DICAS E RESPOSTAS DA LISTA DE EXERCÍCIOS 3 EDO II - MAP 0316 9

Resolução: Basta observar que todas as soluções neste caso vão a 0 quando o tempo tende a +∞ ou −∞,
dependendo do sinal dos autovalores. Logo se existisse integral primeira, teríamos (usando que t 7→ φ(t, x) é
constante) que
 
V (x) = lim V (φ(t, x)) = V lim φ(t, x) = V (0) .
t→±∞ t→±∞
2
Logo a integral primeira seria uma função constante em R . Absurdo.
(v) Generalize (iii) e (iv) para sistemas lineares em Rn .
(vi) Seja H : R2n → R uma função de classe C r , r ≥ 2. Suponha que os pontos onde ∇H é igual a zero sejam
isolados e encontre uma integral primeira para o campo
 
∂H ∂H ∂H ∂H
f= , ..., ,− , ..., − .
∂xn+1 ∂x2n ∂x1 ∂xn
(tal campo é conhecido como Hamiltoniano).
Resolução:
Uma integral primeira para o campo acima é o próprio Hamiltoniano. De fato, H não é constante em nenhum
aberto e    
∂H ∂H ∂H ∂H ∂H ∂H ∂H ∂H
∇H(x)f (x) = , ..., , , ..., . , ..., ,− , ..., − =
∂x1 ∂xn ∂xn+1 ∂x2n ∂xn+1 ∂x2n ∂x1 ∂xn
∂H ∂H ∂H ∂H ∂H ∂H ∂H ∂H
+ ... + − − = 0.
∂x1 ∂xn+1 ∂xn ∂x2n ∂x1 ∂xn+1 ∂xn ∂x2n
2
(vii) Dada uma função V : E → R de classe C , tal que ∇V não se anula em nenhum aberto, encontre um campo
f : E → R cuja integral primeira seja V . Suponha E ⊂ R2 .
n

Resolução:
Basta denir f : E → R2 por
 
∂V ∂V
f (x1 , x2 ) = ,− .
∂x2 ∂x1
Agora basta usar o mesmo argumento do item anterior.
(viii) Se f1 : E1 → Rn e f2 : E2 → Rn são topologicamente equivalentes e f1 tem uma integral primeira, então o
mesmo é válido para f2 .
Resolução:
Suponha que g : E1 → E2 seja um homeomorsmo e que para todo x ∈ E1 e t ∈ I(x), temos

g (φ1 (t, x)) = φ2 (t, g (x)) .


Logo se V : E1 → R é uma integral primeira de f1 , então V ◦ g −1 : E2 → R é uma integral primeira de f2 . De
−1
fato, V ◦g é constante em abertos. Se fosse constante no aberto U ⊂ E2 , então V seria constante no aberto
g −1 (U ). Isto é um absurdo.
Por m
V ◦ g −1 (φ2 (t, y)) = V ◦ g −1 ◦ g φ1 t, g −1 (y) = V φ1 t, g −1 (y) .
 
−1
Logo t → V ◦ g (φ2 (t, y)) é uma função constante em t.
−1
(ix) Se V é uma integral primeira de f , então Mc = V (c) é invariante por f . Em particular, como Mc não
contém abertos, podemos considerar as órbitas contidas em Mc como um subsistema, com dimensão inferior em
uma unidade com respeito ao sistema denido por f .
Resolução:
−1
Este item é mais um observação. O fato deV (c) ser invariante por f x0 = f (x)
signica que uma solução de
−1
com x(0) = x0 pertence a V (c) se V (x0 ) = c, já que V é constante sobre órbitas da EDO. Por m, como Mc
0
não é aberto, podemos pensar em Mc como um subsistema. Ou seja, podemos estudar a órbita de x = f (x) com
x(0) ∈ V −1 (c) restrita a Mc .
(x) Se f tem uma integral primeira V com ∇V (x0 ) 6= 0, então existe uma vizinhança U de x0 tal que f |U é
diferenciavelmente conjugado a um sistema da forma

f˜ = (f˜1 , f˜2 , ..., f˜n−1 , 0).


(xi) Generalize este último resultado para o caso em que f possui k integrais primeiras funcionalmente indepen-
dentes (ver (ii)) em um ponto x0 ∈ E . (Sugestão: Compare com o Teorema do uxo tubular e imite a prova, usando
o Teorema da Aplicação Inversa).
Resolução:
(x) e (xi) A ideia é a mesma.
Vamos dar apenas as ideias principais.
DICAS E RESPOSTAS DA LISTA DE EXERCÍCIOS 3 EDO II - MAP 0316 10

Sabemos que pelo teorema das submersões, se V1 , ..., Vm são integrais primeiras com gradientes linearmente
independentes, então existe um difeomorsmo h entre abertos do Rn tal que

(V1 ◦ h(x1 , ..., xn ), ..., Vm ◦ h(x1 , ..., xn )) = (x1 , ..., xm ) .


Localmente φ(t, x) = h(y). Como

Vj (h(y)) = yj
=⇒ yj = Vj (x),
Vj (φ(t, x)) = Vj (φ(0, x)) = Vj (x)
concluímos que y = h−1 (φ(t, x)) = (V1 (x), ..., Vm (x), ym+1 (t, x), ..., yn (t, x)). Ou seja, t 7→ h−1 (φ(t, x)) é constante
nas m primeiras entradas. Logo h−1 (φ(t, x)) satisfaz uma equação da forma x0 = f˜(x), em que
f˜ = (0, ..., 0, f˜m+1 , ..., f˜n ).
e h é a conjugação entre os campos f e f˜.

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