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IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

Programa de Pesquisa para o Desenvolvimento Nacional - PNPD

A POLÍTICA INDUSTRIAL DE DEFESA BRASILEIRA ENTRE 2005 E 2017

Nome do Candidato: Alixandro Werneck Leite

Chamada Pública PNPD no 10 / 2019


1 Contextualização da proposta quanto à inserção
nas Ementas dos Objetivos Estratégicos do IPEA

A Política Industrial nacional no século XXI propiciou o desenvolvimento do país


e de modo especial, proporcionou resultados em certos setores como o de Defesa. Em um
mundo globalizado, onde os processos de melhoria na área de Defesa e Segurança neces-
sitam ser aprimorados a cada ano, o diálogo entre as pautas do Estado e aquelas somente
relacionadas a um setor, acabam por serem interessantes no sentido de se verificar qual o
interesse do país em ter uma defesa sólida frente aos perigos internos e externos. Nisso, o
Brasil apresentou dois momentos contrastantes: o fortalecimento com investimentos nas
Forças Armadas e projetos estratégicos entre 2008 e 2014, e a redução do seu orçamento
entre 2014 e 2018.

Igualmente, a indústria brasileira recebeu incentivos no inicio do século XXI, o


que fomentou a ação do Estado em buscar estar adequado ao padrão internacional da
época. Como um Estado com grandes espaços destinados ao setor agropecuário, a indús-
tria foi um ramo de redescoberta durante as décadas de 1960, 1970, 1980 e 1990. Nos
anos de 2000, busca-se uma nova roupagem no seu desenvolvimento industrial. Almeida
(2009) comenta que nesse período, um primeiro passo foi o entendimento de e se deveria
proporcionar um incentivo industrial ao desenvolvimento tecnológico e políticas de inova-
ção. Contudo, isso já teria sido feito durante o período militar (1964-1985), ou seja, essa
"nova roupagem"apresentava em suas características, as antigas políticas substituição de
importações. Dessa forma, um assunto caberia ao tema: um debate profundo entre duas
vértices: "a indústria que se quer ter (mais intensiva em tecnologia) versus a indústria que
se tem (mais competitiva em produtos de baixa e média-baixa intensidade tecnológica)".

No campo da Defesa, após períodos de grande reconhecimento internacional


como entre a década de 1970 e 1980 e a ociosidade entre 1990 e 2002, o tema Defesa
obteve o seu espaço novamente no centro das ações de políticas públicas de forma coin-
cidente, em 2005, através da aprovação da Portaria Normativa no 899/MD, o qual gerou
a Política Nacional da Industria de Defesa (PNID), um importante marco com propostas
não unicamente relacionadas com a obtenção de benefícios ou produtos para o setor e
as Forças Armadas, mas também na necessidade de gerar uma conscientização nacional
acerca do assunto e, de certa forma, um arranque para o desenvolvimento de uma Base
Industrial de Defesa (BID) com valores nacionais e incentivos tanto na competitividade
como na qualidade tecnológica, ou seja, na inovação. Desde então, esse assunto tem evo-
luído em diferentes campos como econômico e legislativo como na criação de leis ou na
aplicação de sistemas de isenção ou também na redução tributária.

Igualmente, dois grandes marcos para a Política Industrial no campo de Defesa


contribuem ainda que de forma tímida atualmente, desde o ano de 2005. Tais ações
foram a criação e o estabelecimento de parâmetros vitais para o Estado como a Estratégia
Nacional de Defesa (END), aprovada pelo Decreto 6.703 de 18 de dezembro de 2008 e a Lei
12.598, de 21 de março de 2012. O primeiro constitui todo o padrão de comportamento
do setor, seja dentro dos Ministérios como nas instalações militares e dentro dela, com a
estruturação de um sistema amparado em 3 eixos. Estes seriam:

1
1. O modo como as Forças Armadas devem se organizar e orientar para ter um melhor
desempenho em sua função para o Estado e suas atribuições de paz e guerra.

2. A reorganização do aparato industrial nacional do setor de Defesa, para conseguir


assegurar todos os materiais possíveis e o desenvolvimento da melhor tecnologia
para o campo militar.

3. A composição dos efetivos para as Forças Armadas e de forma subsequente, o tema


do serviço militar obrigatório.

Em segundo ponto, a Lei 12.598/12 estabeleceu normas especiais para as rela-


ções econômicas no setor de Defesa e o relacionamento público-privado, algo antes não
trabalhado no Estado brasileiro. Nesse documento, definem-se diversos conceitos como o
entendimento sobre uma Empresa Estratégica de Defesa, ou seja, firmas entendidas pelo
Ministério da Defesa e de sobremaneira, enquadrada em um conjunto de regras compreen-
didas como vitais para o desenvolvimento do Brasil, como, por exemplo, as suas atividades
produtivas, tecnológicas e principalmente, ser 2/3 nacional. Outro importante dispositivo
instituído foi o Regime Especial Tributário para a Indústria de Defesa – RETID. Trata-se
do acesso à um pacote de benefícios, sejam de ordem tributária assim como financiamento
para projetos e diversas ações às certas empresas que se enquadrem nos diversos parâ-
metros. Tais fatores legislativos agregam ao setor, uma orientação no sentido estratégico,
tático e operacional das Forças Armadas, além de gerar recursos técnicos para políticas
públicas a serem aplicadas para alcançar um pleno desenvolvimento.

As ações já fomentadas beneficiaram o setor em diversos campos, pois como há


uma cadeia de produção desde a matéria-prima até o produto final, a indústria de um
modo geral se aquece e os investimentos na criação de condições para o desenvolvimento
do setor também aumenta. Entretanto, faz-se necessário verificar se existiu um aumento
real e se isto foi reflexo das medidas adotadas, seja no âmbito legislativo, econômico,
dentre outros. Caso analise-se a média do grau dos gastos militares brasileiros de 2005
a 2014, as cifras aumentaram em 124%, o qual denotaria em um progresso no setor em
algum nível acompanhado aos valores aplicados SIPRI (2016).

De tal forma, reconhecem-se certas conquistas como a criação do Programa de


Desenvolvimento de Submarinos (PROSUB) e os seus desdobramentos já existentes (a
parceria internacional com instituições francesas para a transferência de tecnologia da
parte não nuclear), o início da construção, em julho de 2011, pela Itaguaí Construções
Navais (ICN) e pela Nuclebrás Equipamentos Pesados (Nuclep), dos cascos de quatro
submarinos convencionais e de um submarino nuclear, a produção de 50 helicópteros
EC-725 Cougar pela Helibras, em Itajubá (MG); a produção de 2.044 veículos blindados
para transporte de tropas – baseados no modelo italiano Puma –, a ser realizada pela
empresa Iveco (subsidiária do grupo Fiat), em Sete Lagoas (MG); e a assinatura de
decreto presidencial, em fevereiro de 2012, concedendo créditos para o Projeto Astros 2020,
destinado a desenvolver um sistema de lançadores de foguetes e mísseis com capacidade
de atingir alvos a até 300 quilômetros helicópteros.

Por outro lado, ainda escasseia-se de entendimento como tem se comportado


a indústria de Defesa nacional após este decênio de revitalização e se tais implantações
proporcionaram melhorias para o setor como um todo, além de provocar um possível

2
transbordamento tecnológico (spill-over) para outros setores, devido às soluções para
campos civis proporcionadas por meio da fabricação de equipamentos militares. O pro-
pósito deste trabalho é traçar duas linhas paralelas entre o desenvolvimento da Política
Industrial Brasileira como um todo e a de Defesa e entende se houveram reais mudanças
no setor ou somente um maior gasto militar e resultados agudos em determinadas empre-
sas, estas com histórico anterior à 2005 como o caso da Avibrás e Embraer, por exemplo.
Tais empresas já possuem um destaque no âmbito internacional (caso da Embraer) e tem
investimentos no mercado estrangeiro, sobretudo, nas Forças Armadas de outros locais
como o caso do Super Tucano na Colômbia, entre outros.

Todavia, a partir dos movimentos sociais iniciados em 2012 e o consequente


difícil estado econômico-político, houve um profundo corte no orçamento anual no sentido
de aplicar recursos aos projetos e uma mudança na visão de Estado acerca da segurança
e Defesa. Verifica-se que a partir de 2013, houve uma queda no interesse dos governos
em se aprimorar o setor, e os projetos antes vistos como inovadores, caso do submarino
nuclear, do espaço e do ramo cibernético, passaram a ter menor empenho financeiro.
A consequência disso foi a prorrogação dos seus prazos e a possibilidade de se perder a
evolução existente (tornar-se obsoleto ao chegar no seu estágio final). Um fator importante
a se constatar é que mesmo com o crescimento do orçamento (era de 69 bilhões de reais
em 2013 e passou a 92,2 bilhões em 2017), entende-se que esses valores seriam para cobrir
as despesas pessoais, no caso de 2017, com cerca de 70% ?, ?.

2 Objetivos gerais e específicos

A Política Industrial no setor de Defesa desde 2005, apresentou um reinício no


processo de constituição de empresas com resultados a serem investigados além daqueles
expostos publicamente. Desta forma, os objetivos gerais e específicos deste trabalho seriam
estes:

∙ Analisar os períodos de crescimento e diminuição de investimentos no setor de De-


fesa.

∙ Descobrir se há semelhanças e diferenças nas ações do Estado para a evolução do


setor.

∙ Observar o processo legislativo no processo de revitalização da Indústria de Defesa.

∙ Especificar os benefícios obtidos através das concessões inseridas nos dispositivos da


Lei 12.598/12.

∙ Compreender a aplicação de leis específicas para o setor de Defesa em comparação


ao nacional.

∙ Verificar qual a participação das leis de inovação, dos órgãos de fomento para a
Pesquisa e Desenvolvimento no processo de revitalização da indústria de Defesa.

∙ Compreender as possíveis distinções no modelo brasileiro de desenvolvimento da


Indústria de Defesa com a de outros Estados.

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3 Justificativa

O setor dentro da Indústria de Defesa apresentou passos importantes desde o


inicio do século XXI, em especial, a partir de 2003, com a lei da inovação. Com base nessas
transformações e nas posteriores, cabe investigar acerca tanto os valores empregados como
os resultados em termos de políticas públicas. Tal aspecto deve ser comparado com as
políticas industriais nacionais, principalmente no sentido de se produzir uma reflexão da
eficiência e eficácia no investimento na ordem econômica, política e social. Ademais, é
importante verificar no sentido de compreender o desenvolvimento tecnológico brasileiro,
não só por aspectos militares como pelo incremento tecnológico em outros setores. Tais
fatores favorecerão para o Estado na aquisição de conhecimento e na qualificação da mão-
de-obra, seja ela de ordem civil ou militar, e no possível transbordamento do conhecimento
(spill-over) para geração de novas tecnologias para o Estado brasileiro.

4 Referencial teórico

O Estado constrói o seu desenvolvimento a partir das suas interações internas e


externas. Segundo Katzenstein (1996), os seus interesses não somente surgem pela ação de
um ator racional, mas sim do relacionamento social. Nesse caso, uma vez implicada a ideia
de desenvolvimento da indústria de Defesa através do debate do tema junto a população,
concebe-se a premissa básica para se fazer políticas públicas destinadas ao setor. Além
disso, o diálogo e os passos dados para a formação da indústria assim como das relações
com outros países são oriundas do comportamento estatal frente aos desafios futuros,
principalmente em regiões com alta possibilidade de conflitos. Com base nisso, dois pontos
teóricos serão trabalhados como forma de explicar a temática: a teoria construtivista e os
modelos de políticas públicas. Nos próximos subtópicos, será trabalhado primeiramente,
a teoria construtivista de relações internacionais através dos seus expoentes Alexander
Wendt, Ole Holsti, Emanuel Adler, entre outros. Em seguida, também se fará uma
análise breve sobre os estudos e ferramentas teóricas das políticas públicas a partir de
autores como H. Laswell, H. Simon, C. Lindblom e D. Easton.

4.1 A teoria construtivista e os modelos de política pública na


ação do Estado quanto à Defesa.

A compreensão das ações do Estado em relação à Defesa pode ser estudada por
diversas vias teóricas. Uma delas é a Construtivista de Relações Internacionais, com
destaque na teoria agente-estrutura. Essa escola teórica apresenta um viés diferente ao
não apresentar características tão imutáveis como o realismo, principalmente por abran-
ger diversos atores e variáveis. Dessa forma, ela se cria por meio de ações (pequenas ou
grandes) e possibilita uma compreensão da guerra, da paz ou da forma como uma comuni-
dade internacional atua. Segundo Holsti (2006), o construtivismo é uma teoria social com
o poder de englobar novos valores e não se ater somente a um pensamento monolítico,
básico, com dois lados(aliados e inimigos).

4
O construtivismo, assim como é entendido pela definição anterior, move-se de
acordo com entendimentos coletivos. Segundo Adler (1999), o pensamento dessa teoria
evoca na capacidade humana de dar sentido ao mundo material por meio do seu pro-
cesso de reflexão ou aprendizado, o qual geraria um interessante debate entre a concep-
ção interna (idealista/interpretativista) e a externa (positivista/materialista)1 . Ademais,
provocaria a formação de certas regras e condutas e dá noção ao mundo sobre o seu fun-
cionamento. Um exemplo poderia ser a criação das instituições ou o contrato social, já
que todas elas foram feitas de acordo com o pensamento de um grupo. Entretanto, com
o passar do tempo e o seu protelamento, passa a ser compreendido como um movimento
natural, desenvolvida a partir do “ex nihilo”2 .

Um dos objetivos do construtivismo está na concepção de um sistema de explica-


ções tanto para o pensamento teórico como a prática das instituições sociais, com base nos
agentes e nas estruturas sociais (Adler, 1999). Caso se use isso na aplicação do orçamento
da Defesa para explicar a melhoria das capacidades estatais e o desenvolvimento de novas
tecnologias a partir da inovação, as decisões entre o aumento ou redução de investimento
no setor acabam por ser empreendidas não somente por uma pessoa ou órgão, mas sim de
um conjunto de atores compreendidas em pessoas, contexto nacional (base de indústria)
e internacional (como se comportam as empresas no exterior.

O Construtivismo apresenta como conclusões, a necessidade de interpretar e


conhecer o meio como fator indispensável para a sua construção social. Além disso, Adler
(1999) considera ser relevante compreender a ação racional como parte das decisões entre
os atores (situações coletivas). O emprego da teoria torna-se uma forma de “meio termo”
e também interessante no sentido de trazer as características consideradas mais hard ou
soft dentro da política pública assim como na internacional.

Um segundo ponto teórico estão nas políticas públicas e os seus efeitos sobre um
Estado, tanto no campo econômico como na sociedade. Os seus modelos de análise suge-
rem segundo Souza (2006), uma pergunta inicial seria: “aquilo que o governo faz ou deixa
de fazer é passível de ser?”, ou seja, se ele tem colocado todos os esforços sobre um as-
sunto determinado. Em democracias estáveis como a brasileira, tal questionamento serviu
como um pressuposto inicial para os estudos do tema, mas dois pontos eram relevantes
e necessários na academia. A primeira seria se as dúvidas poderiam ser empreendidas
no âmbito acadêmico e se pesquisadores independentes (sem ter vínculos com o Estado)
também teriam como estudá-la e explicá-la.

Caso analise-se pelo viés histórico, as políticas públicas são derivadas do período
da Guerra Fria e em especial, nas ações do ex-secretário de Defesa norte-americano Robert
Mcnamara 3 , a partir dos estudos na RAND Corporation em 1948 (Souza, 2006). Con-
tudo, sob o ponto de vista acadêmico, quatro autores são reconhecidos como os primeiros
autores e desenvolvedores de teorias e cronologicamente seriam: Harold Laswell, Herbert
Simon, Charles Lindblom e David Easton. O primeiro teórico foi responsável, desde os
anos de 1930, pela definição sobre a conciliação entre os estudos científicos e o comporta-
1
Segundo Adler (1999), a teoria construtivista tenta fazer uma união, “mesmo tímida”, entre a con-
cepção materialista e a idealista.
2
Expressão latina que significa “desde o nada”.
3
Robert Mcnamara trabalhou como secretário de Defesa durante as gestões Kennedy (1961-1962) e
Johnson (1962-1968), além de ser presidente do Banco Mundial entre 1969-1981.

5
mento político do Estado. Laswell mira em duas metas para entender como as políticas
públicas podem ser compreendidas e transformadas em ciência Korean Association for
Public Administration (1980):

1. A primeira meta para compreensão do processo político está em questionar por


métodos psicológicos e sociais, a formação, o desenvolvimento e a execução da ciência
política.

2. A segunda meta é resultado da capacidade acadêmica do estudioso em compreender


a política como um conteúdo concreto, com informações e interpretações possíveis.
Entretanto isto estaria fora das metodologias psicológicas e sociais.

Em uma segunda perspectiva, Herbert Simon trouxe a análise racional e a com-


preensão de que os policy makers 4 atuam com a existência de possíveis limitações racio-
nais, estas passiveis de mudanças caso eles obtivessem o conhecimento sobre o determinado
assunto. A sua teoria foi trabalhada em outros ramos da ciência como a teoria organizaci-
onal (administração) e a ciência cognitiva (neurociência). Ademais, Simon fez uma crítica
à concepção científica da época e os autores acadêmicos entenderem que o ator racional
sempre era o detentor de todo o conhecimento em cada ação ocorrente. Tal pensamento
era chamado por Simon como o a “teoria do comportamento de escolha”, principalmente
por não priorizar os aspectos humanos (escolha humana) e as deduções e implicações ca-
racterísticos de um enfoque teórico. Ao contrário, a concepção dos acadêmicos da época
era baseada em aplicações e suposições científicas formuladas pela observação e experi-
mentações (Jones, 2003). Com base nisso, ele propôs quatro princípios para compor as
decisões ao compor uma agenda de política pública. Esses seriam:

1. Princípio da racionalidade pretendida: tal pensamento tem origem nos estudos de


Vilfredo Pareto. Entende-se que o ator racional possui metas iniciais bem postas,
mas ele falha na consecução do seu objetivo devido à interação com outros membros
e a sua mudança de entendimento, o que chama de arquitetura cognitiva.

2. Princípio da adaptação: entende-se que o comportamento humano é explicado pela


natureza do ambiente da tarefa, ou seja, com o passar do tempo, o homem molda o
seu pensamento e passa a estar adaptado ao meio e a agir racionalmente.

3. Princípio da incerteza: refere-se ao emprego de diversos cálculos de probabilidade


sob a realidade humana de inferir e comprovar por meios matemáticos a respeito de
um determinado assunto. A incerteza gera esta possibilidade para os pesquisadores.

4. Princípio das trocas: o comportamento do ator racional pode ser alterado a partir
do momento em que ele não acredita ter todas as informações possíveis para efetuar
a sua troca (permuta). Isto é derivado do novo custo na decision making 5 gerado
pela racionalidade limitada imposta.
4
Tomadores de decisão na política.
5
Significa tomada de decisão em inglês.

6
A contribuição de Lindblom para a tomada de decisões e as políticas públicas
foi por outra via diferente dos dois autores anteriores. Para ele, também podem se enqua-
drar como variáveis pertinentes na construção da política pública, as relações de poder
existentes entre os atores, e também a não predeterminação de um início, meio e fim para
a ocorrência do processo de tomada de decisão, tal fato proporcionado pela integração
entre as etapas (Souza, 2006).

Um importante aporte teórico de Lindblom foi na comparação de dois métodos


de análise política e escolha: o modelo racional-abrangente e a comparação com limita-
das sucessivas. O primeiro é entendido como um processo com valores-chaves e metas
especificas baseadas em análises de diversos níveis de profundidade (interno e externo),
uma vez gerador de informações diversas e ricas. Caso avalie-se fora do espectro dessa
análise, surgiria a “melhor” decisão política para elementos decisórios, tais como valores
e objetivos, análise real, o qual deriva em uma avaliação. Tal apropriação é vista por
Lindblom de forma crítica (Wandling, 2011).

O segundo modelo proposto por Lindblom também é chamado de incrementa-


lismo no campo acadêmico e entendido por ele como o mais correto a ser aplicado. Consiste
em um processo mais simplório, com uma redução no número de decisões possíveis e pe-
quenas diferenças entre eles. Ao se fazer isso, geraria metas e valores não distintos. Outro
aspecto a se considerar seriam as análises de relações entre os fins e os meios como limi-
tados, o que tornar-se-ia os processos de tomadas de decisões mais eficientes por agirem
de forma orientada.

O último autor considerado como fundador das teorias de políticas públicas é


David Easton. Segundo Souza (2006), a maior contribuição dada por ele para o tema
foi entender a política pública como um sistema, o qual denominou a sua teoria como "a
análise de sistemas". Assim, abriu-se uma nova vertente para a compreensão do assunto,
dado que novos atores podem participar através dos seus inputs 6 como partidos, os grupos
de interesse e a mídia. Para Easton, a política seria como uma teia de decisões formuladas
como na figura abaixo, também entendido como o “sistema político”.

As políticas públicas podem ser compreendidas por diversos modos a partir dos
modelos propostos acima. Entretanto, ela parte da real destinação dos recursos do Estado
(seja financeiro ou não) ao analisar uma condição existente na sociedade. Outro enten-
dimento sobre a função dos policy makers seria a respeito dos diversos níveis de decisão,
o qual pode atingir os participantes formais assim como informais ocasionalmente pre-
sentes. É importante mensurar também as opções que o Estado possui, principalmente
mediante a uma situação de crise, pois as políticas públicas detêm uma grande abrangên-
cia e não possui limites e regras (Souza, 2006). Além disso, os efeitos das ações sugerem
em uma primeira análise, serem de curto prazo nos seus resultados, mas acabam por gerar
resultados a longo prazo.
6
Entradas em inglês. A definição dentro das ciências políticas implica em colocar valor a um assunto
seja por diversos meios.

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Figura 1: Composição do processo de tomada de decisão segundo Easton

5 Metodologia proposta

Com o propósito de se alcançar as respostas satisfatórias ao problema/ apre-


sentado na Introdução, propõe-se que a pesquisa seja estabelecida em cinco fases: (1)
estabelecimento de um quadro de análise; (2) averiguação dos documentos oficias, desen-
volvimento histórico das Forças Armadas e da Base Industrial de Defesa brasileira; (3)
análise dos dados obtidos a partir da concepção teórica e; (4) concepção da forma de
defesa de cada Estado em sua história a partir dos dados obtidos.

A primeira etapa (estabelecimento de um quadro de análise) envolve o espaço


delimitado onde a pesquisa será tratada e assim serão apresentados os principais conceitos
e outros recursos importantes para desenvolvimento da pesquisa. Nesse ponto, conceber-
se-á em dois passos importantes: a primeira seria a delimitação dos pontos envolventes à
concepção políticas industriais de defesa e segurança com base na literatura previamente
examinada. O segundo seria a apresentação de todos os aspectos envolventes às teorias
principais do trabalho: Construtivista e Políticas Públicas.

O segundo passo (averiguação dos documentos oficias, desenvolvimento histórico


das Forças Armadas e da Base Industrial brasileira) consiste na busca por meio de docu-
mentos oficiais como o orçamento (Plano Plurianual, Lei de Diretrizes Orçamentárias e Lei
Orçamentária Anual), análises de instituições da indústria brasileira como a Federação da
Indústria do Estado de São Paulo e Rio de Janeiro, entre outros. Por outro lado, para en-
tender as questões militares envolventes, deve-se ater aos planos emitidos pela Estratégia
Nacional de Defesa, Livro Branco de Defesa Nacional, portarias e ofícios. A construção
social (seja dentro das elites, seja por meio da opinião pública ou a sociedade) envolvida
dentro da formação da defesa desses Estados são fatores primordiais para compreensão

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de como houve a interação entre a política nacional de indústria e a específica na área
de Defesa. Nessa fase, também se prestará uma análise dentro do orçamento disponível
em planejamentos e ações tomadas, de forma a se verificar qual é o comportamento em
momentos positivos e negativos econômicos.

Com a investigação em diferentes fontes acerca de cada país finalizada, o terceiro


passo será a análise dos dados obtidos precisa ser trabalhada a partir das teorias elencadas
nesse projeto. Isso corroborará no entendimento de como os valores foram empregados
no país dentro de ações práticas positivas ou negativas, assim, desenhar dentro de um
arcabouço empírico os primeiros entendimentos sobre a concepção de política industrial
nacional e de defesa no Brasil, e além de prover, com os resultados obtidos, um método
para fazer análise de outros casos.

A quarta e última etapa consiste numa avaliação de todos os pontos anteriores,


com o teste dos dois tipos de investimento e uma conclusão acerca dos problemas pro-
postos. Tal ponto consiste em reunir todas as evidencias levantadas nas demais etapas,
organizá-las de forma a compreender o fenômeno da defesa para cada Estado e satisfazer
os planos da pesquisa, além de cumprir com os objetivos propostas e responder às pergun-
tas iniciais da pesquisa. Dessa forma, o objetivo dessa fase é compreender a concepção de
indústria de defesa brasileira a partir da sua relevância dentro dos assuntos do Estado.

6 Atividades e cronogramas

A forma ser trabalhada neste Projeto e nos trabalhos derivados deste projeto
está empregado sob certos parâmetros. Eles estão descritos logo abaixo:

1. Revisão histórico e metodológico (mês 1 a 2)

(a) O marco teórico do Construtivismo e Políticas Públicas.


(b) Análise histórica do período 2005-2012 dos assuntos relacionados à Indústria
de Defesa brasileira.

2. Elaboração de um banco de dados com os processos legislativos e as concessões


tributárias envolventes no tema de Defesa, como as regras e os benefícios concedi-
dos por ser empresa escolhidas, além dos valores envolvidos nas compras e vendas,
orçamento brasileiro. (mês 3 e 4)

(a) Verificação será feita a partir das leis, decretos, portarias, normativas, entre
outros.
(b) Elaboração do banco de dados econômico com base na LOA brasileira, no
Stockholm International Peace Research Institute(SIPRI), entre outros.

3. Fazer um levantamento das empresas a serem estudadas. Existe uma prévia concep-
ção de que as firmas selecionadas como Empresas Estratégicas de Defesa poderiam
ser a amostra a ser estudada, mas ainda haverá uma apreciação delas, devido ao
aumento ou à redução na sua quantidade conforme as visitas técnicas realizadas
pelo Ministério da Defesa. (mês 5 e 6)

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(a) Existem fontes criadas por programas de financiamento a pesquisa e projetos.
i. Estas empresas foram listadas pela Finep, BNDES, Ministério da Defesa
e Agência Espacial Brasileira, com o propósito de apoiar Aeroespacial,
Defesa e Segurança.
i. Avaliar as empresas escolhidas a partir de possíveis atividades como: a.
Tabulação i. Na área econômica e, sobretudo, tributária, acredita-se ser o
ideal para o desenvolvimento do trabalho, a tabulação destas empresas em
fontes como: RAIS (Ministério do Trabalho e Emprego), PINTEC, FINEP,
SECEX, entre outras. Após o recebimento dos dados, pode-se traçar um
perfil destas firmas sob esta perspectiva. b. Entrevistas i. Por telefone c.
Questionários

4. Redigir artigos, notas técnicas e o relatório relacionados ao Projeto. (Mês 7 a 12)

(a) Elaboração de um texto para discussão comparativo entre a política industrial


brasileira e a do setor de defesa dentro do período do projeto.
(b) Elaboração de um texto para discussão com a revisão dos estudos feitos nos
segmentos de defesa após o lançamento do Livro Branco de Defesa Brasileiro.
(c) Elaboração de um texto para discussão comparativo dos períodos de alta e
baixa nos investimentos e desenvolvimento do setor de defesa brasileiro.

7 Resultados esperados

Os resultados esperados após o estudo feito com todas as variáveis é principal-


mente, entender se houve um avanço real na política industrial de Defesa em comparação
com a sua versão nacional, ou somente houveram alterações nos valores destinados às
firmas, às Forças Armadas, ao Ministério da Defesa, nas leis criadas, nas empresas ca-
dastradas. Além disso, verifica-se uma profunda necessidade em compreender se ações do
Estado beneficiaram a criação de nova tecnologia, ou seja, inovação.

Com base nisso, far-se-á primeiramente um relatório dentro das políticas indus-
triais brasileiras em geral, e qual o espaço destinado ao setor de Defesa. Esse ponto é um
bom embasador do quão a inovação faz parte do contexto nacional e em especial, se a De-
fesa é um espaço onde o desenvolvimento nacional ocorre e provoca spill-over. Além disso,
um enfoque especial será dado às instituições brasileiras responsáveis por impulsionar o
Estado no setor como a FIESP, FIERJ, entre outros.

Em um segundo momento, haverá uma revisão dos estudos de defesa por setor
feitos no livro Mapeamento da Base Industrial de Defesa brasileira, em especial, nos
setores de propulsão nuclear (investimentos franceses resultantes no lançamento de novos
produtos), a plataforma terrestre militar (a produção de um setor tão relevante na história
do país) e aeroespacial devido à grande relevância do segmento seja na região de São José
dos Campos (São Paulo), fora os desdobramentos da venda da Embraer para a Boeing.

Por fim, a elaboração de um artigo com o propósito do projeto, ou seja, uma


comparação do desenvolvimento do setor de Defesa entre 2005 e 2012, com uma análise dos

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momentos de alta (lançamentos de leis, documentos oficiais, reuniões entre autoridades,
etc.) e aquelas consideradas de baixa como a queda no tamanho do orçamento brasileiro,
e se caso isso possa ter sido acompanhado pelo uma diminuição do investimento na indús-
tria brasileira em geral. Além diso, far-se-á avaliação do crescimento e redução a partir
também daquelas firmas consideradas estratégicas de defesa.

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Referências
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