Você está na página 1de 7

James Watson: A volta do Prêmio Nobel que não... https://brasil.elpais.com/brasil/2019/01/03/inter...

INTERNACIONAL

A volta do Prêmio Nobel que não


abandona suas teorias racistas
sem base científica
James Watson, codescobridor da estrutura do DNA de 90
anos, defende em um documentário que "negros são menos
inteligentes"
MANUEL ANSEDE

5 JAN 2019 - 17:27 CET

“Entre os brancos e os negros


MAIS INFORMAÇÕES
existem diferenças nos
Rosalind Franklin
resultados dos testes de ajudou a desvendar o
inteligência. Eu diria que a DNA, mas ficou sem o
diferença é genética”. O Nobel

biólogo James Watson, prêmio


A mulher que inclui uma cientista por dia

1 of 7 11/02/2019 10:49
James Watson: A volta do Prêmio Nobel que não... https://brasil.elpais.com/brasil/2019/01/03/inter...

Nobel de Medicina em 1962 por na Wikipédia

ser um dos descobridores da Quando os EUA excluíam da corrida


estrutura do DNA, voltou a espacial as mulheres ainda que fossem
lançar ao mundo suas teorias melhores que os homens

racistas, desta vez no


documentário Decoding Watson [Decodificando Watson], que estreou na
noite de quarta-feira na televisão pública norte-americana PBS.

Watson, nascido em Chicago há 90 anos, está muito sozinho com suas


elucubrações. Há apenas dois meses, a Sociedade de Genética Humana
dos EUA divulgou um comunicado “alarmada com o ressurgimento
social de grupos que rejeitam o valor da diversidade genética e utilizam
conceitos genéticos distorcidos ou já desacreditados para reforçar
afirmações falsas sobre a supremacia branca”. A genética, continua o
comunicado, “demonstra que os seres humanos não podem ser
divididos em subcategorias biologicamente distintas”. Nas palavras do
geneticista espanhol Carles Lalueza Fox, “as populações não ficaram
suficientemente isoladas para que surgissem diferenças genéticas em
características cognitivas”.

Há quatro décadas, Watson foi


um dos maiores promotores da
A Sociedade de Genética
Humana dos EUA alertou leitura do genoma humano e da
sobre o ressurgimento de investigação das bases
grupos que reivindicam a moleculares do câncer. Sua
supremacia genética defenestração ocorreu em
branca 2007, quando, em uma
entrevista ao jornal britânico
The Sunday Times, declarou
que estava “pessimista” sobre
o futuro da África. As políticas de cooperação para o desenvolvimento,
segundo ele, “se baseiam no fato de que sua inteligência é a mesma que
a nossa, enquanto todas as evidências dizem que não”. Existe o desejo

2 of 7 11/02/2019 10:49
James Watson: A volta do Prêmio Nobel que não... https://brasil.elpais.com/brasil/2019/01/03/inter...

de que todos os seres humanos sejam iguais, acrescentou Watson, mas


“as pessoas que têm de lidar com empregados negros sabem que isso
não é verdade”.

O racismo de Watson desencadeou a indignação mundial. O biólogo


pediu desculpas, mas foi levado a abandonar seu posto de reitor do
prestigioso laboratório Cold Spring Harbor, em Long Island (EUA), e foi
repudiado por grande parte da comunidade científica. Em 2014, decidiu
leiloar sua medalha de ouro do Nobel para compensar a queda de seus
rendimentos, vendendo-a por 4,8 milhões de dólares (cerca de 18
milhões de reais) para o magnata russo Alisher Usmanov, dono de um
império metalúrgico.

O documentário Decoding Watson é o retorno do cientista banido à luz


dos holofotes. O filme, dirigido por Mark Mannucci, acompanha Watson
e seu entorno durante um ano. Era a oportunidade perfeita para matizar
suas declarações racistas de 2007, mas o cientista nonagenário optou
por mantê-las. Perguntado se havia mudado de ideia, Watson responde:
“Em absoluto. Gostaria de ter mudado, de que houvesse novas
descobertas científicas que mostrassem que o adquirido é muito mais
importante do que o inato, mas não as vi”.

3 of 7 11/02/2019 10:49
James Watson: A volta do Prêmio Nobel que não... https://brasil.elpais.com/brasil/2019/01/03/inter...

Watson posa com suas colaboradoras em uma imagem de arquivo mostrada em ‘Decoding
Watson’. PBS

“É decepcionante que alguém que tenha feito contribuições tão


inovadoras à ciência esteja perpetuando crenças tão danosas e tão
infundadas cientificamente”, disse ao jornal The New York Times o
diretor dos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos, Francis
Collins. A maioria dos especialistas em inteligência considera que as
diferenças detectadas nos testes não surgem de fatores genéticos, mas
de fatores ambientais, enfatiza Collins. Pessoas com maior nível
socioeconômico, melhor alimentação e melhor educação terão, em
média, melhores resultados nos testes de inteligência. E é mais comum
que essas pessoas com recursos sejam brancas.

O documentário não evita outra das grandes polêmicas de Watson: a


marginalização histórica de sua colega Rosalind Franklin, a química
britânica cuja fotografia com raios X da molécula de DNA foi
fundamental para determinar que tinha forma de dupla hélice. Essa
estrutura – semelhante a duas escadas em espiral retorcidas nas quais
os degraus emparelhados seguem regras de correspondência – permite
que a molécula faça facilmente cópias herdáveis de si mesma. A dupla
hélice é, nas palavras de Watson, “o segredo da vida”.

“Rosalind Franklin teve aquela


famosa foto durante oito
meses e nunca concluiu que
era uma hélice”, diz Watson no
documentário. A pesquisadora
morreu de câncer de ovário em
1958, quatro anos antes da
concessão do Nobel a seus três
colegas homens: James

4 of 7 11/02/2019 10:49
James Watson: A volta do Prêmio Nobel que não... https://brasil.elpais.com/brasil/2019/01/03/inter...

Watson, Francis Crick e


Maurice Wilkins. Os três
haviam estudado as imagens
de Franklin sem sua
autorização. Em seu livro A
Dupla Hélice, publicado em
Rosalind Franklin. 1968, Watson perguntou “que
aspecto teria [Rosalind
Franklin] se ela tirasse os
óculos e fizesse algo diferente com seu cabelo”.

“Não me importo em dizer o que penso”, gaba-se o pesquisador no


filme. E é verdade. Suas entrevistas e livros estão cheios de frases
lapidares. “Dei as costas à esquerda porque ela não gosta de genética. A
genética implica que às vezes na vida fracassamos porque temos genes
ruins. [As pessoas de esquerda] querem que todo fracasso na vida seja
culpa do malvado sistema”, disse à revista Esquire em 2007.

Naquela entrevista, Watson defendeu a liberdade de fazer comentários


antissemitas e ao mesmo tempo perguntou “por que nem todo mundo é
tão inteligente quanto os judeus asquenazes”, um grupo de cerca de 10
milhões de pessoas cujas raízes, muito endogâmicas, remontam a cerca
de 300 indivíduos que viveram há 700 anos no que hoje é a Alemanha, a
Polônia e a Rússia. Durante o século XX, os asquenazes eram 3% da
população norte-americana, mas conquistaram 27% dos prêmios Nobel
de ciências concedidos aos EUA e mais de 50% dos campeonatos
mundiais de xadrez, segundo a contagem de três pesquisadores da
Universidade de Utah.

O documentário Decoding Watson começa com a comemoração dos 90


anos de Watson, em 6 de abril de 2018, no laboratório Cold Spring
Harbor, onde ainda mantém um escritório. Poucos dias depois, o
geneticista Eric Lander, presidente do Instituto Broad, do Instituto de

5 of 7 11/02/2019 10:49
James Watson: A volta do Prêmio Nobel que não... https://brasil.elpais.com/brasil/2019/01/03/inter...

Tecnologia de Massachusetts e de Harvard, pediu desculpas por brindar


a Watson: “Seus pontos de vista são abomináveis: racistas, sexistas e
antissemitas. Cometi um erro ao brindar. Peço desculpas”. De acordo
com fontes familiares citadas pelo The New York Times, Watson teve de
ser hospitalizado em outubro depois de um acidente de automóvel e
continua em tratamento médico.

Adere a Mais informação >

ARQUIVADO EM:

James Watson · DNA · Racismo · Genética · Biologia · Ciência

NEWSLETTER
Recebe o boletim diário do EL
PAÍS Brasil

CONTENIDO PATROCINADO

Atriz do SBT Planta estranha Segredo de avó Morra de rir com


descobre fórmula regula o açúcar no que foi presa por essas respostas
para emagrecer sangue e combate não ter rugas hilárias de
(PHYTOPOWER) (CIÊNCIA MAIS) (NOTICIA- (DESAFIOMUNDIAL)
AGORA.COM)

Y ADEMÁS...

6 of 7 11/02/2019 10:49
James Watson: A volta do Prêmio Nobel que não... https://brasil.elpais.com/brasil/2019/01/03/inter...

A conexão entre a Oposição Uma viagem às Galeria de fotos:


sua lata de atum e venezuelana lança duas Inglaterras As imagens do CT
a mão de obra ofensiva contra separadas pelo do Flamengo após
(EL PAÍS) (EL PAÍS) (EL PAÍS) (EL PAÍS)

Recommended by

© EDICIONES EL PAÍS, S.L.


Contato Venda de Conteúdos Publicidade Aviso legal Política cookies Mapa EL PAÍS no KIOSKOyMÁS
Índice RSS

7 of 7 11/02/2019 10:49

Você também pode gostar