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DESENVOLVIMENTO
PESSOAL PARA
LÍDERES
Artigos:
s Usos (e abusos) da influência
s Você é bom como chefe ou excelente?
s Como um gerente vira líder
s Estreia no comando
Foco: entrevista com Robert Cialdini
Usos
(e abusos)
da influência
ROBERT CIALDINI, considerado o principal cientista social no campo da
influência, foi originalmente atraído para o tema ao constatar a facilidade
com que as pessoas ultrapassavam os limites da ética e descambavam para
a manipulação ou até o abuso. Seu livro de 2001, Influence, descreveu seis
princípios da persuasão e foi eloquente quanto aos perigos de técnicas de
persuasão nas mãos erradas. Um popular artigo publicado na HBR naquele
mesmo ano (“Harnessing the Science of Persuasion”) examinou o lado
positivo da persuasão: como o gestor poderia usar esses princípios
para tocar a organização de forma mais eficaz?
Cialdini é professor emérito de psicologia e marketing (Regents Professor
Emeritus of Psychology and Marketing) na Arizona State University, nos
Estados Unidos, além de presidente da consultoria Influence at Work.
Nesta entrevista à editora-executiva da HBR, Sarah Cliffe, Cialdini explora
o uso diário da persuasão nas empresas e fala de novos estudos sobre
a ética da influência.
USOS (E ABUSOS) DA INFLUÊNCIA
Isso é particularmente relevante para a mulher. rem fazendo algo, o ímpeto para que você faça o
Em estudos que fizemos, mostramos que a mulher mesmo é muito maior do que para um indivíduo em
que não é absolutamente modesta quanto a suas re- culturas mais individualistas, onde a pessoa se guia
alizações é prejudicada em relações interpessoais. O por sua bússola interna e não segue o grupo na hora
homem também pode se prejudicar por ficar se ga- de decidir.
bando, mas todos esperam que seja agressivo. O pre- Fizemos, por exemplo, um estudo nos Estados
juízo, em seu caso, é muito menor do que o da mulher. Unidos e na Polônia, que tem um estilo mais comu-
Por causa dessa diferença, a mulher se sairá me- nal do que os EUA. Perguntamos a uma série de in-
lhor em organizações nas quais os chefes estão acos- divíduos se estariam dispostos a participar de uma
tumados a defender seus subordinados, onde a nor- pesquisa de mercado. Também perguntamos se ti-
ma cultural é essa. nham feito algo parecido no passado e se achavam
Linda A. Hill é titular da cátedra Wallace Brett Donham Professor of Business Administration na Harvard Business School, nos EUA. Kent Lineback
trabalhou, por muitos anos, na iniciativa privada e na administração pública. Os dois são autores de Being the Boss: The 3 Imperatives for Becoming
a Great Leader (Harvard Business Review Press, 2011), do qual este artigo foi adaptado.
“Sou bom o “Estou phargoranntdoe?
bastante?” oportunidade, massaegora
Essa é min
ão tenho certeza n
estou preparado.”
Estas dúvidas atormentavam Jason. Era um gestor de falta de liderança”. Você acha que está in-
experiente, mas naquela noite revirava-se na cama do bem até que, como Jason, recebe uma mis-
pensando no posto que acabara de assumir. Por mais são nova, intimidante. Recebe uma avaliação de de-
de cinco anos chefiara uma pequena equipe de edi- sempenho mais ou menos. Ou, um dia, simplesmen-
tores em Boston. Tinham produzido duas séries de te percebe que já não está crescendo e avançando —
grande sucesso de livros de engenharia para o bra- está estagnado.
ço de publicações pedagógicas de um conglomera-
do de mídia. Graças à reputação de excelente gerente A maioria para de investir
de desenvolvimento de produtos, fora escolhido pe- no próprio crescimento
la empresa para dirigir, em Londres, uma start-up de Passamos anos estudando, pensando e convivendo
ensino técnico via internet. com a questão de como um gerente cresce e progri-
Jason chegara ao novo trabalho numa segunda- de. No trabalho acadêmico com indivíduos de alto
feira cedo animado e confiante. Mas, ao final da pri- potencial, alunos de MBA e executivos do mundo to-
meira semana, começava a se perguntar se estava do, Linda está em contato com gente interessada em
à altura do desafio. No posto anterior, dirigira gen- contribuir para a respectiva organização e ter uma
te que já trabalhara junto antes e exigia coordena- carreira gratificante. Como executivo, Kent já traba-
ção, mas pouca supervisão. Havia problemas, é claro, lhou com administradores de tudo quanto é nível em
mas nada como o que descobrira nesse novo proje- organizações privadas e públicas. Toda a nossa expe-
to. Membros importantes do grupo mal se falavam. riência nos leva a uma observação simples, mas in-
Outros editores na empresa, cujo material e cuja co- quietante: a maioria dos chefes atinge um certo grau
laboração eram imprescindíveis, encaravam o novo de proficiência e para ali — ficando aquém do que
grupo como concorrência. As metas que Jason defi- poderia e deveria ser.
nira pareciam impossíveis — a equipe já ameaçava Discutimos essa observação com vários colegas —
não atingir marcos iniciais importantes. Uma parce- que, quase sem exceção, tinham constatado o mes-
ria crucial com uma organização de fora sofrera da- mo: uma organização costuma ter um grupinho de
nos, talvez irreparáveis. Para completar, seu chefe, gestores excelentes, outro punhado de competentes,
radicado em Nova York, dava pouca ajuda. Sempre uma leva de medíocres, alguns incompetentes e ou-
que Jason descrevia um problema, a resposta típi- tros péssimos. A grande maioria dos indivíduos com
ca era: “É por isso que você está aí”. Na sexta-feira, quem trabalhamos é bem-intencionada, inteligente,
Jason já temia não fazer jus às expectativas implíci- com um currículo de realizações. Muitos progridem
tas nessa resposta. e chegam aonde querem. Mas muitos outros perdem
O que Jason está sentindo soa familiar? Mesmo o rumo e não atingem seu potencial. Por quê? Porque
com anos de experiência em gestão, é comum sur- deixam de investir no próprio crescimento.
girem esses momentos de dúvida — de medo, até. É muito raro um gestor se perguntar “Sou bom?”
Uma série de coisas pode deflagrá-los: uma iniciati- e “Preciso ser melhor?” — a menos que seja obriga-
va sob seu comando não está indo conforme o espe- do a tal. Quando foi a última vez em que você se per-
rado. Seu pessoal não está se saindo como deveria. guntou o mesmo? Onde você se situa no espectro de
Você ouve dizer que “o verdadeiro problema aqui é chefes excelentes a péssimos?
Ideia em resumo
Muitos gerentes subestimam os desafios de Três imperativos podem nortear um ges- (3) Administrar sua equipe. Um bom ges-
transformação de sua função — ou se aco- tor em sua jornada para virar um chefe tor cria um “nós” de alto desempenho a
modam no papel e param de crescer e me- excelente: (1) Administrar a si mesmo. A partir dos indivíduos que se reportam a ele.
lhorar. Na melhor das hipóteses, aprendem influência produtiva vem da confiança dos A autoavaliação constante e inquisitiva
a sobreviver; na pior, se tornam péssimos outros em sua competência e caráter. (2) nesses três imperativos é essencial, escre-
chefes. Às vezes, até o melhor deles, mes- Administrar sua rede. É preciso envolver a vem os autores. Artigo inclui uma útil fer-
mo com anos de experiência em gestão, é organização como um todo para criar as ramenta de avaliação para ajudar o leitor a
assolado por dúvidas e temores. condições para seu sucesso e o da equipe. iniciar o processo.
Ao assumir uma nova missão, o gestor geralmen- capaz disso” ou “Já sou bom o bastante”.
te parte aberto à mudança. Os mais talentosos e am- Você sabe o que está tentando atingir? To-
biciosos escolhem missões desafiantes, cientes de dos sabemos o quão desordenado, fragmentado e até
que terão muito a aprender logo de cara. Mas, ao se caótico é o dia de qualquer gestor. Diante dessa rea-
aclimatarem e perderem o medo do fracasso iminen- lidade — que se intensifica à medida que o trabalho
te, é comum se acomodarem. Toda organização tem e as organizações se tornam mais complexos e flui-
um jeito próprio de fazer as coisas: políticas, práticas dos —, como você, no papel de chefe, pode fazer al-
comuns e diretrizes tácitas como “promover por an- go mais do que lidar com aquilo que cada dia traz?
tiguidade” e “evitar conflitos”. Uma vez assimiladas, Para enfrentar o caos, é preciso ter uma noção
é comum o gestor usá-las para sobreviver — para “ge- clara daquilo que é importante e de onde você e seu
renciar” no pior sentido da palavra. grupo querem estar no futuro. É preciso um modelo
De nada ajuda que a maioria das organizações que mental que se sobreponha ao caos e no qual seja pos-
vemos dá mínimo apoio a seus gerentes e raramen- sível encaixar toda peça desencontrada que vier pa-
te incentiva os mais experientes a melhorar. Poucas rar em suas mãos. Esse modo de pensar começa com
esperam mais de seus líderes do que resultados de uma definição clara: administrar é ter a responsabili-
curto prazo — que, por si só, não indicam necessaria- dade pelo desempenho de um grupo de pessoas.
mente uma verdadeira habilidade gestora. Embora a ideia seja simples, tirá-la do papel é di-
Em nossa experiência, no entanto, o verdadeiro fícil, pois a gestão é definida pela responsabilidade,
vilão não é nem a acomodação da gerência nem uma mas se dá pelo exercício de influência. E para influen-
falha da organização: é uma falta de compreensão. ciar uma outra pessoa é preciso fazer diferença não
Quando gestores são questionados, fica patente que só no que faz, mas também em ideias e sentimentos
muitos deles deixaram de progredir simplesmente que norteiam seus atos. Como conseguir isso?
por não saber como. Para responder a esta pergunta, é preciso pensar
Você sabe o que é preciso para se tornar ver- sobre seu trabalho como gestor de um modo abran-
dadeiramente eficaz? É muito comum um gestor gente e integrado. A abordagem que oferecemos re-
subestimar o tempo e o esforço exigidos para seguir pousa em estudos de práticas de gestão, em nossas
crescendo e se desenvolvendo. Tornar-se um grande próprias observações e naquilo que sabemos sobre
chefe é um processo lento e difícil de aprendizado e onde um gerente tende a errar. É o que chamamos
mudança, movido majoritariamente pela experiên- de três imperativos: administrar a si mesmo, admi-
cia pessoal. Aliás, tanto tempo e esforço são necessá- nistrar sua rede, administrar sua equipe.
rios que é justo pensar no processo como uma jorna- Essa é a única maneira de descrever a gestão? Não,
da — uma jornada de anos. obviamente não. Mas é clara, direta e, sobretudo, fo-
O que torna essa jornada particularmente difí- cada naquilo que um gestor realmente deve fazer. É
cil é que as lições envolvidas não podem ser ensina- normal pensarem na “gestão” como apenas um im-
das. Liderar é usar a si mesmo como um instrumento perativo — o terceiro —, mas hoje os três são críticos
para levar as coisas a cabo na organização — logo, é para o sucesso. Juntos, englobam tudo aquilo que
questão de autodesenvolvimento. Não há segredos um bom gestor deve fazer para influenciar os outros.
e poucos atalhos. Você e qualquer outro gerente de- Dominá-los é a meta de sua jornada.
vem aprender as lições sozinhos, com base em sua
própria experiência como chefe. Se não entender a Administre a si mesmo
natureza da jornada, é mais provável que a interrom- A gestão começa com você, pois o que você é como
pa ou perca esperança e diga a si mesmo: “Não sou pessoa, o que pensa e sente, as crenças e valores por
e de
A confiança é a bas
de medida, das qualida- com aquilo que você é como pessoa.
des que enxergam em
É preciso fomentá-la
fazer: sou alguém capaz com uma força-tarefa formada de
de influenciar os outros colegas do mesmo escalão. Seu no-
produtivamente? me era Kim. Tinha proposto uma no-
A mostra mais evidente va forma de computar vendas inter-
de quem você é está nas re- divisionais — forma que, a seu ver, elevaria o fa-
lações que forja com os outros, especialmente aque- turamento ao incentivar cada divisão a vender
les pelos quais é responsável. É fácil errar nessas rela- também os produtos das demais. Na reunião,
ções cruciais. Um gerente eficaz tem o autoconheci- fizera uma defesa extremamente bem pesquisada,
mento e a autogestão necessários para acertar a mão. cuidadosamente fundamentada e até contundente
Chefe do departamento de marketing de uma da proposta — que o grupo rejeitou com pouquíssi-
grande fabricante de bens duráveis, José nos con- ma discussão. “Com quantas dessas pessoas você fa-
tou o caso de dois gerentes que trabalhavam para lou sobre a proposta antes da reunião?”, pergunta-
ele. Ambos estavam tendo dificuldade para produ- mos. Nenhuma, foi a resposta. “Mas previ todas as
zir os resultados esperados de seus grupos. E ambos, dúvidas e objeções”, protestou Kim, acrescentando
descobriu-se, estavam criando relacionamentos dis- com certo rancor: “É pura política. Se não puderem
funcionais. Um deles era francamente ambivalente enxergar o que é bom para a empresa e para eles, não
sobre ser “o chefe” e odiava quando alguém se refe- tenho como ajudá-los”.
ria a ele daquela maneira. Queria ser querido e, por Muitos gerentes resistem à necessidade de atuar
isso, tentava forjar relações pessoais próximas. Na de forma eficaz no palco político da organização. A
prática, dizia o seguinte: “Faça o que peço porque seu ver, esse jogo político é disfuncional — sinal de
somos amigos”. Isso funcionou por um tempo — até problema na organização. Não percebem que é fruto
que, por bons motivos, teve de negar uma promoção inevitável de três características inerentes a toda or-
a um “amigo” e um bônus a outro. Naturalmente, es- ganização: divisão do trabalho, o que cria grupos dis-
ses indivíduos se sentiram traídos e sua insatisfação tintos com metas e prioridades distintas e até confli-
começou a contagiar o resto do grupo. tantes; interdependência, o que significa que nenhum
O outro gerente, uma mulher, foi no caminho grupo desses pode fazer seu trabalho sem os outros; e
oposto. Com ela, era tudo trabalho. Nada de jogar recursos escassos, pelos quais todos necessariamente
conversa fora ou tratar alguém como um indivíduo. competem. Naturalmente, certas organizações lidam
Para ela, os resultados importavam. Virara chefe por- com o jogo político melhor do que outras, mas o con-
que era a única que sabia o que precisava ser feito; flito e a disputa entre grupos são inevitáveis. E como
cabia a seu pessoal executar. Não surpreende que são resolvidos? Com a influência organizacional. Gru-
sua mensagem sempre fosse “Faça o que digo por- pos cujos gestores têm influência tendem a conseguir
que sou a chefe”. Era eficaz — até que o pessoal co- o que precisam; outros grupos, não.
meçou a partir. Infelizmente, em vez de lidar com o conflito mui-
Se a influência produtiva não resulta de ser que- tos gerentes tentam evitá-lo. “Odeio fazer política
rido (“Sou seu amigo!”) ou de ser temido (“Sou o na empresa!”, dizem. “Só quero fazer meu trabalho.”
Mas o bom gerente sabe que não pode fugir da raia. de verdade, a responsabilidade é assumida conjun-
Em vez disso, com integridade e para bons fins, en- tamente pelos integrantes, que partilham a genuí-
volve de maneira proativa a organização para criar na convicção de que irão triunfar ou fracassar jun-
as condições para seu sucesso. Constrói e consolida tos. Um propósito claro e convincente e metas e pla-
uma ampla rede de relações permanentes com aque- nos concretos fundados nesse propósito são cru-
les de que precisa e aqueles que dele precisam; é as- ciais. Sem isso, nenhum grupo virará uma equipe de
sim que influencia gente sobre quem não tem nenhu- verdade.
ma autoridade formal. Além disso, assume a respon- A cultura da equipe é igualmente importante.
sabilidade por fazer de seu chefe (membro importan- Seus integrantes precisam saber o que se exige deles,
te de sua rede) uma fonte de influência em seu favor. coletiva e individualmente; quais os valores, normas
e padrões da equipe; de que maneira seus membros
Administre sua equipe devem trabalhar juntos (que tipo de conflito é aceitá-
Como gerente, Wei trabalhava de perto com cada vel ou não, por exemplo); e como devem se comuni-
pessoa de sua equipe, gente espalhada pelos Esta- car. É sua função garantir que todos tenham essa in-
dos Unidos e pela Ásia. Mas raramente reunia virtu- formação crucial.
almente o grupo, e juntou todo mundo cara a cara Um gerente eficaz também sabe que, mesmo nu-
uma única vez. “Na minha experiência”, ela nos dis- ma equipe coesa, não dá para ignorar cada um de
se, “reuniões virtuais ou em pessoa geralmente são seus indivíduos. Toda pessoa quer ser um membro
perda de tempo. Certas pessoas não fecham a boca, valioso de um grupo e precisa de reconhecimento
outras ficam em silêncio e pouco se faz. Para mim, é individual. O chefe deve ser capaz de dar a atenção
muito mais eficiente trabalhar com cada um e garan- que cada membro exige, mas sempre no contexto da
tir que se coordenem quando necessário”. Acontece, equipe.
porém, que Wei vinha gastando todo o tempo “co- E, por último, um gerente eficaz sabe como con-
ordenando”, o que incluía uma bela dose de media- duzir uma equipe pelo trabalho que faz dia após dia
ção de conflitos. O pessoal sob seu comando parecia — incluindo problemas e oportunidades inesperados
constantemente em conflito, brigando pelos escas- que volta e meia surgem — para avançar rumo à con-
sos recursos de que precisava para atingir metas de- secução de metas próprias e da equipe.
sencontradas e se queixando do que os outros esta-
vam ou não fazendo. Seja claro sobre seu progresso
Muitos gerentes ignoram a possibilidade de criar Esses três imperativos irão ajudá-lo a influenciar tan-
uma equipe de verdade e de to aqueles que trabalham para você quanto aqueles
administrar o pessoal como um que não. Acima de tudo, dão um
todo. Não percebem que geren-
Um bom gesto mapa claro e prático para sua
Você está fazendo tudo o que é necessário para ser um chefe eficaz? Para ter uma
PRECISO FAZER ESSE É UM
noção do ponto em que se encontra, use as seguintes perguntas para se avaliar: PROGRESSO PONTO FORTE
1. Você usa sua autoridade ESSE É UM PONTO FORTE SE você o considera um instrumento útil, mas 1 2 3 4 5
formal de forma eficaz? não o principal meio de influenciar os outros. Você deixa claro por que faz
o que faz — e até divide sua autoridade com os outros quando possível e
ADMINISTRAR A SI MESMO
2. Você estabelece relações ESSE É UM PONTO FORTE SE seus relacionamentos são ricos em contato hu- 1 2 3 4 5
de consideração, mas não mano, mas sempre focados no propósito e nas metas da equipe e da orga-
excessivamente pessoais? nização. Você evita fazer amizade com as pessoas para tentar influenciá-las.
4. Vocês exerce sua ESSE É UM PONTO FORTE SE você sempre identifica as partes interessadas, 1 2 3 4 5
influência com ética? pesa seus interesses e tenta mitigar qualquer dano que seus atos possam
causar no processo de buscar o bem maior.
5. Você identifica sistematica- ESSE É UM PONTO FORTE SE você está sempre ciente de que indivíduos e 1 2 3 4 5
mente quem deveria estar grupos sua equipe depende, e vice-versa, à medida que as circunstâncias
em sua rede? vão mudando.
ADMINISTRAR SUA REDE
6. Você cultiva e mantém ESSE É UM PONTO FORTE SE você estabelece e mantém relacionamentos 1 2 3 4 5
proativamente sua rede? com indivíduos de sua rede, trava contato frequente com eles e dá apoio
a suas necessidades.
7. Você usa sua rede para ob- ESSE É UM PONTO FORTE SE você protege sua equipe de distrações e mal- 1 2 3 4 5
ter a proteção e os recursos entendidos, usa a rede para resolver problemas dentro e fora da equipe e
de que sua equipe precisa? consegue fundos, pessoas e outros recursos de que o time necessita.
8. Você usa sua rede para ESSE É UM PONTO FORTE SE você forma coalizões de membros da rede para 1 2 3 4 5
atingir as metas da equipe? respaldar as metas da equipe e ajudar outros em sua rede a atingir as deles.
Seus colegas de rede confiam em sua competência e em seu caráter.
9. Você define e aprimora ESSE É UM PONTO FORTE SE você tiver definido o propósito da equipe e as 1 2 3 4 5
constantemente a visão da metas, estratégias e ações que a levarão até lá. Você está sempre colhendo
ADMINISTRAR SUA EQUIPE
equipe para o futuro? informações, discutindo seus planos com os outros e burilando suas ideias.
10. Você deixa claros papéis, re- ESSE É UM PONTO FORTE SE sua gente tem uma forte noção do “nós” — 1 2 3 4 5
gras de trabalho, cultura da de que estão todos trabalhando juntos rumo às mesmas metas. Sabem
equipe e feedback sobre o qual sua contribuição individual e o que o trabalho da equipe envolve.
desempenho para a equipe? Recebem feedback regular de você.
11. Você conhece e trata cada ESSE É UM PONTO FORTE SE você interage de forma equitativa com todo 1 2 3 4 5
pessoa como indivíduo, não membro da equipe individualmente. Você delega, se esforça para ajudar
só como membro da equipe? os outros a crescer e está sempre avaliando seu desempenho. Você con-
trata gente que combina com a equipe e agrega diversidade, e lida com
problemas de desempenho prontamente.
12. Você utiliza atividades diá- ESSE É UM PONTO FORTE SE você regularmente considera como cada pro- 1 2 3 4 5
rias e problemas para tra- blema, obrigação ou fato pode ajudar a fortalecer a equipe, a promover
balhar os três imperativos? suas metas, a desenvolver as pessoas e a reforçar sua rede.
COMO VOCÊ SE SAIU? Suas respostas cobriram toda a escala de 1 a 5? Se sua nota em cada quesito foi reiteradamente de 3 ou
mais, é bom duvidar. Nossa experiência nos diz que poucos líderes merecem uma nota alta em toda área. A maioria de suas notas
foi 3? Cuidado para não se esconder no meio, dizendo a si mesmo: “Estou bem — não sou excelente, mas tampouco sou um fiasco”.
E não fique satisfeito em permanecer ali. “Não sou um fiasco” pode indicar que a pessoa está acomodada — e estagnada.
a todo e qualquer momento, em que ponto da jorna- Preparar. Comece cada manhã com uma rápida
da você se encontra e o que precisa fazer para progre- panorâmica dos eventos daquele dia. Em cada caso,
dir. Estamos todos cientes de que, quanto mais ele- pergunte a si mesmo como usá-lo para melhorar co-
vado seu posto na organização, menos feedback se mo gerente e, em particular, como trabalhar em suas
recebe sobre seu desempenho. É preciso estar prepa- metas específicas de aprendizagem. Considere dele-
rado para avaliar regularmente a si mesmo. gar uma tarefa da qual normalmente cuidaria e pen-
Um número excessivo de gerentes parece supor se em como faria isso — a quem a repassaria, que per-
que o desenvolvimento se dá automaticamente. Têm guntas deveria fazer, que limites deveria definir, que
apenas uma vaga noção da meta e de onde se situam orientação preliminar poderia dar. Aplique o mesmo
em relação a ela. Dizem a si mesmos: “Estou no cami- raciocínio durante o dia quando surgir um problema
nho certo” ou “À medida que assumir mais desafios, inesperado. Antes de tomar qualquer medida, pare e
vou melhorar”. Por conseguinte, acabam deixando a considere como isso o ajudaria a melhorar. Ponha-se à
desejar. Nada substitui um exame regular de si mes- prova. Se não deixar de lado padrões familiares e pra-
mo e de seu progresso (o quadro “Como você se sai ticar novas abordagens, dificilmente aprenderá algo.
nos três imperativos?” vai ajudá-lo nessa tarefa). Fazer. Tome toda medida exigida por seu tra-
Não desanime se achar várias áreas nas quais po- balho diário e, ao fazê-lo, use as abordagens novas
deria melhorar. Nenhum gestor vai cumprir todos os e distintas que planejou. Não perca a determinação.
requisitos implícitos nos três imperativos. A meta não Por exemplo, se sua tendência é abafar o conflito em
é perfeição. É desenvolver os dotes de que precisa pa- reuniões (mesmo o conflito construtivo), faça de tu-
ra triunfar e compensar eventuais deficiências fatais. do para se conter de modo que divergências possam
Examine seus pontos fortes e deficiências no contex- ser expressas e trabalhadas. Só interfira se a discus-
to da organização. Que conhecimento e habilidades são se tornar pessoal ou se certos pontos de vista es-
ela precisa — ou precisará — para atingir seus objeti- tiverem sendo reprimidos. As ideias que surgem po-
vos? Como seus pontos fortes podem ajudá-la a avan- dem levá-lo a um resultado melhor.
çar? Dadas suas necessidades e prioridades, que defi- Avaliar. Depois de agir, examine o que fez e qual
ciências você precisa abordar de imediato? As respos- foi o resultado. É aqui que o aprendizado realmente
tas se tornam suas metas pessoais de aprendizado. ocorre. Refletir é algo fundamental — e funciona me-
lhor se for uma prática regular. Reserve um tempo ao
O que é possível fazer já fim de cada dia, por exemplo (talvez no caminho de
O progresso virá apenas de sua experiência de tra- volta para casa). Que ações deram certo? O que pode-
balho: de provar e aprender, de observar e interagir ria ter sido feito de forma diferente? Pense nas con-
com os outros, de experimentar e, às vezes, ir além versas que teve. Compare o que fez com o que pode-
de sua zona de conforto — para, então, avaliar a si ria ter feito se fosse o gestor que aspira ser. Em que
mesmo nos três imperativos reiteradamente. Acima decepcionou a si mesmo, e como isso ocorreu? Pra-
de tudo, assuma a responsabilidade pelo próprio de- ticou algum comportamento novo ou fez algum pro-
senvolvimento; ao fim e ao cabo, todo desenvolvi- gresso em sua jornada?
mento é autodesenvolvimento. Certos gestores tomam nota de como empregam
A menos que aja conscientemente, você não irá o tempo. Anotam, ainda, reflexões sobre o que apren-
avançar. Antes de abrir uma empresa, qualquer um deram. Um presidente que trabalhava numa estratégia
montaria um plano de negócios dividido em etapas ad- de globalização nos contou que começou a registrar, às
ministráveis com metas; faça o mesmo ao pensar sobre sextas, suas reflexões sobre a semana anterior. Passa-
sua jornada. Adote metas pessoais. Peça o feedback dos das seis semanas, disse, tinha adquirido maior discipli-
outros. Tire proveito de programas de treinamento na na para dizer não a qualquer coisa que não estivesse na
empresa. Crie uma rede de conselheiros de confiança, “rota crítica”, o que lhe deu tempo para falar com regu-
incluindo indivíduos que sirvam de exemplo e mento- ladores importantes e impulsionar a estratégia.
res. Use seus pontos fortes para buscar experiências de Se o leitor ainda precisa avançar em sua jornada,
desenvolvimento. Sabemos que você já ouviu tudo isso isso deve impeli-lo à ação, não desanimá-lo. Você po-
antes; são bons conselhos. Mas o mais eficaz, a nosso de se tornar o que quer e precisa ser. Mas é preciso
ver, é inserir a aprendizagem em seu trabalho diário. se responsabilizar pessoalmente por dominar os três
Para tanto, sugerimos um esquema simples que imperativos e determinar onde se encontra agora.
chamamos de preparar, fazer, avaliar. HBR Reprint R1102C–P
H
arald (o nome foi mudado) é equipe mais experiente e de alçar sua capacidade de
um líder de alto potencial com liderança ao nível seguinte em um cenário livre de
15 anos de experiência em uma complicações ou crises. A situação parecia perfeita.
grande fabricante de produtos Mas, com meses no novo posto, Harald estava viven-
químicos europeia. Começou co- do sérias dificuldades.
mo gerente assistente de produtos na unidade de Assim como ele, muita gente promissora se dá
plásticos. Logo foi transferido para Hong Kong, para mal ao passar do comando de um departamento ao
ajudar a montar o novo centro de negócios da uni- de uma divisão — ao assumir, pela primeira vez, a
dade na Ásia. Quando as vendas ali dispararam, não responsabilidade por um balanço e pela supervisão
tardou a ser promovido a gerente de vendas. Três de executivos de áreas distintas da empresa. É, de fa-
anos depois, voltou à Europa para ser diretor de to, diferente lá no alto. Para saber como, fiz um exa-
marketing e vendas no bloco Europa, Oriente Mé- me em profundidade desse ponto de inflexão, reali-
dio e África, supervisionando uma turma de 80 pro- zando uma longa série de entrevistas com mais de 40
fissionais. O passo seguinte nessa sequência de êxi- executivos, incluindo gerentes que tinham cultivado
tos foi a promoção a vice-presidente de marketing talentos de alto potencial, altos executivos de RH e
e vendas da divisão de polietileno, responsável por indivíduos que há pouco tinham feito, pela primeira
várias linhas de produtos, serviços correlatos e uma vez, a transição para a liderança de um negócio.
equipe de quase 200 pessoas. O que descobri é que, para ter sucesso nessa tran-
A dedicação de Harald culminou com a nomea- sição, o executivo precisa lidar com uma complicada
ção para o comando da unidade de resinas plásticas série de mudanças no foco de sua liderança e em suas
da empresa, uma operação com mais de 3 mil fun- competências — o que chamo de sete transformações
cionários em todo o mundo. De caso bem pensado, a sísmicas. Precisa saber como ir de especialista a gene-
empresa o destacara para tocar um braço que, embo- ralista, de analista a integrador, de tático a estrategis-
ra pequeno, estava crescendo e já tinha uma equipe ta, de pedreiro a arquiteto, de solucionador de proble-
forte. A ideia era dar ao executivo a oportunidade de mas a definidor da agenda, de guerreiro a diploma-
ir além da gestão de vendas e marketing, de assumir ta e de coadjuvante a protagonista. Como tantos de
o controle de um negócio inteiro, de descobrir o que seus pares, Harald sentiu dificuldade para lidar com a
significava chefiar uma unidade com a ajuda de uma maioria dessas mudanças. Para entender por que são
tão difíceis, sigamos sua trajetória em cada uma delas.
Vejamos como enfrenta surpresas desnorteantes, faz
suposições injustificadas, é obrigado a usar o tempo
Sete e a imaginação de forma totalmente inédita, toma de-
transformações
cisões na ignorância e aprende com os erros.
Ideia em resumo
Poucas transições na liderança são tão difíceis o executivo precisa se trans- o negócio inteiro enfrenta? Co-
quanto passar pela primeira vez do comando formar num generalista que mo posso garantir o sucesso de
de uma área específica ou departamento da entende todas as atividades toda a organização?
empresa para a chefia de um negócio inteiro. do negócio. Precisa aprender a Nesse crucial ponto de infle-
contratar, julgar e mediar com xão, o executivo precisa passar
O escopo e a complexidade do burilou em papéis anteriores — uma variedade muito maior de por sete transformações sísmi-
trabalho crescem radicalmente domínio de uma área específi- pessoas. Precisa enfrentar toda cas — uma série complicada
— e de um jeito que pode dei- ca, know-how organizacional, uma nova série de perguntas de mudanças no foco de sua li-
xar o novo líder de uma unida- capacidade de montar e moti- difíceis: quais as grandes ques- derança que exige o cultivo de
de se sentindo assoberbado e var uma equipe — já não são tões na agenda do negócio? novas competências e novos
inseguro. As competências que suficientes. Pela primeira vez, Que oportunidades e ameaças modelos conceituais.
o conjunto de operações de um negócio. Nos dois O que é “suficiente”? O líder de uma empre-
primeiros meses, a mudança o deixou desorientado sa ou negócio deve ser capaz de (1) tomar decisões
e com menos confiança na própria capacidade de to- boas para o negócio como um todo e (2) avaliar os
mar boas decisões. Isso o levou ao clássico erro de talentos em suas equipes. Nos dois casos, precisa
superadministrar a área que conhecia bem e subad- entender que cada departamento ou setor do negó-
ministrar as demais. Para sorte de Harald, isso ficou cio é uma subcultura gerencial distinta, cada qual
ultraclaro quando sua diretora de RH opinou, com com modelos mentais e linguagem próprios. Um
toda franqueza, sobre a relação dele com a diretora líder eficaz entende que profissionais de finanças,
de vendas e marketing: “Você está enlouquecendo a marketing, operações, RH e P&D abordam proble-
Claire. Precisa dar espaço para ela”. mas de negócios de modo distinto, e que cada dis-
A tendência de Harald a permanecer nessa zo- ciplina dessas aplica ferramentas distintas (fluxo de
na de conforto funcional é uma reação compreensí- caixa descontado, segmentação de clientes, fluxo de
vel à tensão de assumir um papel muito mais amplo. processo, planejamento da sucessão, stage-gates e
Seria maravilhoso se todo líder empossado no co- por aí vai). O líder precisa falar a língua de cada área
mando de uma divisão fosse um especialista tarim- dessas e traduzi-la para as demais, se necessário. E
bado em todas as operações do negócio, mas obvia- muito importante: o líder precisa saber o que per-
mente nunca é. Em certos casos, o indivíduo adqui- guntar e que critérios adotar para avaliar e recrutar
riu experiência por ter passado por vários departa- gente para administrar áreas nas quais ele próprio
mentos ou trabalhado em projetos multidisciplina- não é especialista.
res, o que certamente ajuda (veja o quadro “Como A boa notícia para Harald foi que, além de colocá-
cultivar fortes líderes de negócios”). Mas o fato é lo no comando de uma unidade de alto desempenho,
que a transição para o comando de um negócio exi- sua empresa contava com fortes sistemas para ava-
ge que um executivo até então especializado rapi- liar e desenvolver talentos em áreas cruciais. Isso in-
damente se transforme num generalista com do- cluía sistemas bem formulados para avaliação de de-
mínio suficiente de todas as atividades para tocar o sempenho e feedback de 360 graus, e para coleta de
negócio. subsídios de departamentos da empresa. Embora se
reportassem diretamente a ele, por exemplo, seus di- mento geral dessas distintas áreas para resolver con-
retores de finanças e RH também eram subordinados flitos como esses. Só que isso não basta. As compe-
aos respectivos departamentos na matriz, que ajuda- tências necessárias não envolvem tanto a análise —
va Harald com sua avaliação e desenvolvimento. Lo- mas sim entender como fazer trade-offs e explicar
go, o executivo tinha recursos de sobra para poder en- a lógica dessas decisões. Aqui, também, a experi-
tender o que a “excelência” significava em cada área. ência anterior com equipes multidisciplinares ou
Ao investir diretamente na criação de esquemas de desenvolvimento de novos produtos deixaria o
de avaliação padronizados para cada atividade, a líder recém-alçado ao comando de um negócio em
empresa garante que novos líderes de negócios ad- boa posição, bem como um estágio anterior como
quiram mais depressa o domínio da nova situação. chefe de gabinete de um alto executivo. Mas, no fi-
Mas, ainda que a empresa não possua um sistema nal, como descobriu Harald, não há nada que subs-
desses, o aspirante a líder de negócios pode se prepa- titua a experiência de tomar as decisões na prática e
rar. Como? Forjando relações com colegas de outros aprender com os resultados.
departamentos, buscando aprender com eles (talvez
em troca de informações sobre sua própria área) para De tático a estrategista
poder desenvolver seus próprios mecanismos. Nos primeiros meses, Harald mergulhou fundo na
miríade de detalhes do negócio. Ser tático era uma
De analista a integrador tentação: as atividades eram concretas, os resulta-
A responsabilidade primordial do líder de um depar- dos, imediatos. Daí ter se perdido no movimento
tamento é recrutar, formar e gerenciar gente que se diário de participar de reuniões, de tomar decisões,
concentre com profundidade analítica em ativida- de fazer projetos avançar.
des empresariais específicas. Já o papel do líder de O problema com isso, obviamente, é que um as-
um negócio inteiro é administrar e integrar o conhe- pecto central do novo papel de Harald era ser o es-
cimento coletivo dessas equipes setoriais para resol- trategista-chefe da unidade que agora liderava. Para
ver importantes problemas organizacionais. tanto, teria de esquecer muitos dos detalhes e abrir
Harald teve dificuldade com essa mudança logo espaço na cabeça e na agenda para se concentrar em
no início, quando precisou lidar com as várias neces- assuntos mais elevados. De modo geral, precisava
sidades conflitantes das operações. Seu diretor de adotar uma mentalidade estratégica.
vendas e marketing, por exemplo, queria ser agres- E o que um líder taticamente forte faz para desen-
sivo no lançamento de um novo produto no merca- volver essa mentalidade? Cultiva três competências:
do; já o chefe de operações temia que fosse impossí- mudança de nível, reconhecimento de padrões e si-
vel aumentar a produção com rapidez suficiente pa- mulação mental. A mudança de nível é a capacida-
ra dar conta da demanda projetada pelo pessoal de de de se deslocar com fluidez de um nível de análi-
vendas. A equipe de Harald esperava que ele equili- se para outro — de saber quando se concentrar em
brasse as necessidades do lado da oferta (operações) detalhes, quando olhar para o quadro geral e qual a
do negócio com as do lado da demanda (vendas e relação entre os dois. O reconhecimento de padrões
marketing), que soubesse quando se concentrar nos é a capacidade de discernir importantes relações
resultados trimestrais do negócio (finanças) e quan- causais e outros padrões importantes num negócio
do investir no futuro (R&D), que decidisse quanta complexo e em seu entorno — ou seja, de separar o
atenção dar à execução e quanta à inovação — e que sinal do ruído. A simulação mental é a capacidade
tomasse um sem-fim de outras decisões parecidas. de prever como terceiros (concorrentes, regulado-
Repetindo, o executivo precisa ter um conheci- res, imprensa, figuras importantes do público) irão
responder ao que você faz, de prever seus atos e re- explícitas para identificar e, até certo ponto, prote-
ações para poder definir o melhor rumo a tomar. No ger esse indivíduo no início da carreira.
primeiro ano de Harald, por exemplo, uma concor-
rente na Ásia lançou uma alternativa mais barata a De pedreiro a arquiteto
uma resina crucial fabricada por sua unidade. Harald É muito comum um alto executivo dar uma de pro-
teria não só de considerar a ameaça imediata, mas fissional do desenho organizacional sem credencial
também pensar com mais amplitude sobre a inten- para tal — e acabar errando feio. Essa pessoa che-
ção futura da concorrente. Será que iria usar o produ- ga ao primeiro papel de gestão geral com comichão
to barato para estabelecer relações fortes com clien- para deixar sua marca e vai logo mirando elemen-
tes e, aos poucos, lançar uma gama maior de produ- tos da organização que parecem relativamente fá-
tos? Se assim fosse, que saídas a unidade de Harald ceis de mudar, como a estratégia ou a estrutura —
deveria buscar? Qual seria a resposta da concorrente sem entender plenamente o efeito que as mudan-
às medidas tomadas por Harald? Não eram pergun- ças terão na organização como um todo.
tas que o executivo tivera de responder quando dire- Com uns quatro meses no cargo, por exemplo,
tor de marketing e vendas. No final, tendo analisado Harald concluiu que precisaria reestruturar o negó-
vários cursos de ação com a alta equipe, o executivo cio para se concentrar mais em clientes e menos em
resolveu derrubar os preços, abrindo mão de certo linhas de produtos. Ex-diretor de vendas e marke-
lucro no presente na tentativa de conter a perda de ting que era, era natural que pensasse assim. A seu
mercado — decisão da qual não se arrependeu. ver, era óbvio que o negócio estava enraizado demais
Um estrategista nasce pronto ou é cultivado? As no desenvolvimento de produtos e nas operações e
duas coisas. Não há dúvida de que o raciocínio es- que sua estrutura era um legado ultrapassado do
tratégico, como qualquer outra habilidade, pode modo como a unidade surgira e crescera. Logo, ficou
melhorar com a prática. Mas a capacidade de transi- surpreso quando a proposta de reestruturação foi re-
tar por distintos níveis de análise, de reconhecer pa- cebida primeiro com o pasmo silêncio da equipe e,
drões e de construir modelos mentais requer certa em seguida, com feroz oposição. Rapidamente ficou
propensão nata. Um dos paradoxos do desenvolvi- claro que a atual estrutura naquela bem-sucedida di-
mento de lideranças é que, embora o indivíduo seja visão da empresa estava ligada de forma intrincada e
promovido a cargos de chefia funcional basicamen- nada óbvia a seus principais processos e bases de ta-
te por ser bom para carregar pedras, profissionais lentos. Para vender os produtos químicos da empre-
com talento estratégico podem penar em escalões sa, por exemplo, o pessoal de vendas precisava ter
inferiores justamente por focar menos em detalhes. conhecimento profundo do produto e a capacidade
Forças darwinianas podem expulsar quem tem ra- de consultar clientes sobre aplicações. A mudança
ciocínio estratégico do pipeline de desenvolvimen- para uma abordagem centrada no cliente teria exi-
to cedo demais caso a empresa não adote políticas gido que vendessem uma gama maior de produtos
complexos e adquirissem um imenso volume de no- com mudanças organizacionais de grande escala pa-
vos conhecimentos. Logo, ainda que a adoção de ra chegar a esses insights pela mera observação.
uma estrutura com foco no cliente tivesse benefícios Nisso, Harald não fugia à regra: o líder de uma
potenciais, certos trade-offs deviam ser avaliados. A empresa ou de um negócio precisa conhecer os prin-
implementação exigiria, por exemplo, ajustes consi- cípios da mudança organizacional e da gestão de
deráveis em processos e investimentos substanciais mudanças, incluindo a mecânica do desenho organi-
na reciclagem do pessoal. Eram mudanças que pe- zacional, da melhoria de processos de negócios e da
diam uma grande dose de reflexão e análise. gestão de transições. Só que poucos executivos em
Quando ascende a esse nível geral na empresa, o ascensão recebem qualquer orientação formal nes-
líder se torna responsável por projetar e alterar a ar- sas áreas, o que torna a maioria mal aparelhada pa-
quitetura da organização — sua estrutura, sua estra- ra agir como arquiteto das respectivas organizações
tégia, seus processos e bases de competências. Para — ou até para ser um consumidor esclarecido do tra-
ser um bom arquiteto organizacional, precisa pensar balho de profissionais do desenvolvimento organiza-
em termos de sistemas. Precisa entender como ele- cional. Aqui, de novo, Harald teve a sorte de contar
mentos cruciais da organização se encaixam, em vez com uma equipe experiente — e o bom-senso de usá-
de ingenuamente pensar, como fez Harald lá atrás, la. Essa equipe lhe deu conselhos pertinentes sobre
que é possível mexer num elemento sem pensar an- muitas interdependências que o executivo não con-
tes nas implicações para todos os demais. Harald siderara originalmente. Nem todo líder como ele tem
aprendeu isso na marra, pois nada em sua experiên- essa sorte, é claro. Mas, se a empresa tiver investido
cia como líder de um departamento lhe dera a opor- em programas de educação para ensinar executivos
tunidade de pensar sobre uma organização como a promover mudanças na organização, o líder vai es-
um sistema. Tampouco tinha experiência suficiente tar mais bem preparado para essa novidade.
Principais Indicadores
indicadores de gestão Indicadores
de desempenho de pessoas de clientes Sinais de alerta
Vendas dos principais Taxa de vagas abertas Taxas de satisfação e Perdas lamentáveis de pessoal de vendas
produtos compara- por região ou distrito retenção de clientes Estagnação ou queda nas vendas
das com vendas dos Taxa de promoções Evidências de com-
principais produtos da Falta de desenvolvimento interno para futuros
internas e força do preensão de padrões líderes de vendas
concorrência pipeline interno de de compra
Crescimento da partici- sucessão Promoções internas com resultados fracos
Volume médio de inte-
pação no mercado de Número de perdas ração de vendedores Incapacidade de comunicar vantagens e desvan-
principais produtos lamentáveis de profis- com clientes tagens de produtos
Execução à luz de com- sionais e motivos Avaliação insatisfatória de pontos fortes e defi-
promissos assumidos Sucesso em recruta- ciências da organização
em planos de negócios mento e seleção Falta de tempo em campo ou de interação com
clientes
Falta de competências para parceria com marke-
ting e outras áreas essenciais
É
bom que o líder de um negócio
destaque outra pessoa para cuidar
da execução. Com isso, abre espaço
na agenda para sua nova função.
necessidade quase constante de manter a guarda pe- simplesmente sair e vender ele mesmo a ideia; te-
gou Harald de surpresa. O executivo sentiu certo es- ria de agir mais por meio dos subordinados diretos
panto ao descobrir o peso que as pessoas atribuíam a e achar outros canais, como o vídeo, para difundir a
tudo o que dizia e fazia. Numa conversa com o diretor palavra. Depois de visitar a maioria das instalações
de P&D pouco depois de assumir o posto, por exem- da unidade, Harald igualmente temia não ter se in-
plo, falou por alto de uma nova forma de embalar um teirado de verdade do que estava acontecendo na
produto já existente. Duas semanas depois, um rela- linha de frente. Logo, em vez de se reunir apenas
tório preliminar de viabilidade aparecia em sua mesa. com a chefia durante uma visita dessas, instituiu a
Em parte, essa mudança está ligada ao impacto prática de almoços informais com pequenos grupos
muito maior do líder como exemplo a seguir. Gesto- de funcionários da linha de frente. Passou, ainda, a
res em todos os níveis servem de exemplo, em certa acompanhar grupos de discussão online nos quais o
medida. Mas, no comando de um negócio, sua influ- pessoal fazia comentários sobre a empresa.
ência é ampliada, pois todos se voltam ao líder em
busca de inspiração, visão e pistas sobre condutas DE MODO GERAL, as sete transformações envolvem a
e atitudes “certas”. Para o bem ou para o mal, o es- migração do raciocínio analítico do lado esquerdo
tilo pessoal e os hábitos de um alto líder contagiam do cérebro para o lado direito, mais conceitual. Mas
os demais, seja pela observação direta por funcioná- isso não significa que o líder de uma operação nun-
rios ou pela transmissão indireta dos subordinados ca se dedique à tática ou a questões funcionais. É
do líder para gente no escalão inferior e, dali, para só que dedica muitíssimo menos tempo a essas res-
toda a organização. Embora não haja como evitar es- ponsabilidades do que dedicava no cargo anterior.
se efeito, o líder pode torná-lo menos involuntário. Aliás, em geral é bom que o líder de um negócio des-
Como? Tendo mais autoconsciência e cultivando taque outra pessoa — um chefe de gabinete, um di-
mais empatia com o ponto de vista dos subordina- retor de operações, um gerente de projetos — para
dos. Afinal, não faz tanto tempo assim que ele mes- se concentrar na execução, abrindo com isso espaço
mo foi um subordinado e fez inferências como essas na agenda para sua nova função.
a partir do comportamento dos chefes. No caso de Harald, a história acabou bem. O exe-
Há, ainda, a questão do que significa, em termos cutivo teve sorte de trabalhar para uma empresa que
práticos, liderar grandes grupos de gente — como acreditava no desenvolvimento de lideranças e de
conceber uma visão contundente e difundi-la de contar com uma equipe experiente que foi capaz de
modo inspirador. Até Harald, que já era um comuni- (e estava disposta a) lhe dar bons conselhos. Logo,
cador forte e habituado a vender ideias (não só pro- apesar dos muitos solavancos no caminho, o negócio
dutos), precisou ajustar seu raciocínio a esse respei- continuou a prosperar e Harald no final achou seu rit-
to (embora talvez menos do que alguns de seus pa- mo como líder do negócio. Três anos depois, munido
res). No posto anterior, tinha mantido um grau ra- de toda essa experiência, foi convidado a assumir
zoável de contato pessoal — embora por vezes es- uma unidade muito maior de empresa, à época em
porádico — com a maioria dos funcionários. Agora dificuldades. Lá, promoveu uma triunfal recupera-
que chefiava mais de 3 mil pessoas espalhadas pelo ção. Olhando hoje, Harald diz: “As competências que
globo, era algo simplesmente impossível. o levaram ao posto atual podem não ser as compe-
O que isso implicava ficou claro quando traba- tências necessárias para que chegue aonde precisa
lhou com a equipe para formular a estratégia anu- chegar. Isso não diminui as conquistas do passado,
al. Chegada a hora de anunciar a estratégia à orga- mas significa que não serão suficientes para a próxi-
nização, o executivo percebeu que não poderia ma etapa da jornada”. HBR Reprint R1206C–P
Até para o mais brilhante dos indivíduos, o processo de conversão em líder é uma
jornada árdua, embora gratificante, de constante aprendizado e autodesenvolvimento. O
primeiro teste nessa rota é tão fundamental que chega a ser ignorado: assumir o primeiro
posto de chefia. É pena, porque as provações que esse rito de passagem traz têm sérias
consequências tanto para o indivíduo como para a organização.
Quem estreia na chefia, por exemplo, costuma achar que o posto lhe trará mais
autoridade e liberdade para fazer o que julga ser o melhor. Em vez disso, o gerente
acaba enredado em uma teia de relacionamentos com subordinados, chefes, colegas e
outros indivíduos – todos fonte de demandas incessantes, muitas vezes conflitantes. “A
verdade é que não temos o controle de nada”, diz um novo gerente.
Outro mito reza que o gerente é responsável apenas por assegurar que suas operações
corram sem problemas. Contudo, o novo gerente precisa entender que cabe a ele, ainda,
sugerir e deslanchar mudanças – até fora de sua esfera de comando – que melhorem o
desempenho do grupo.
É grande o número de novos gerentes que relutam em pedir a ajuda do superior. Mas
quando o faz – em geral devido a uma crise que se avizinha -, é com alívio que
percebem que o chefe é mais tolerante com suas dúvidas e erros do que o esperado.
Até para o mais brilhante dos indivíduos, o processo de conversão em líder é uma
jornada árdua, embora gratificante, de constante aprendizado e autodesenvolvimento. O
primeiro teste nessa rota é tão fundamental que chega a ser ignorado: assumir o primeiro
posto de chefia. É pena, porque as provações que esse rito de passagem traz têm sérias
consequências tanto para o indivíduo como para a organização.
O primeiro cargo de gerência molda irrevogavelmente o executivo. Décadas depois,
segue viva a memória daqueles primeiros meses como uma experiência transformadora
que marcou a filosofia e o estilo de liderança do gestor – marca que pode assombrá-lo
durante toda a carreira. Uma organização arca com custos humanos e financeiros
consideráveis quando uma pessoa promovida devido ao desempenho e a qualificações
excelentes é incapaz de se ajustar às responsabilidades do comando.
É como disse um novo gerente de uma corretora de valores: “Você tem ideia de como é
difícil ser chefe quando se está totalmente fora de controle? É difícil verbalizar. É a
mesma sensação de quando se tem o primeiro filho. Na véspera do dia X, a pessoa ainda
não tem filhos. No dia X ela vira, de repente, mãe ou pai, e todos esperam que saiba
tudo o que é preciso saber sobre como cuidar de uma criança”.
Desde esse primeiro estudo, descrito na primeira edição de Novos Gerentes (publicada
em inglês em 1992), segui examinando a transformação pessoal ocorrida quando a
pessoa vira chefe. Redigi estudos de caso sobre novos gerentes em uma série de funções
e setores. Concebi e dirigi programas de liderança para novos gerentes em empresas e
entidades sem fins lucrativos. Segundo novos gerentes, essa transição fica cada vez mais
difícil à medida que a empresa se torna mais enxuta e mais dinâmica – com diversas
divisões atuando juntas para oferecer produtos e serviços integrados e com a empresa
trabalhando ao lado de fornecedores, clientes e concorrentes em uma série de alianças
estratégicas.
Gostaria de frisar que as dificuldades enfrentadas por novos gerentes são a regra, não a
exceção. Não trato, aqui, de gerentes deficientes operando em organizações
disfuncionais. Falo, isso sim, de gente comum diante de problemas de adaptação
comuns. A grande maioria sobrevive à transição e aprende a atuar no novo papel.
Imagine, porém, o quão mais eficaz essa turma seria se a transição fosse menos
traumática.
Para que o novo gerente saia triunfante desse primeiro teste de liderança é preciso
ajudá-lo a entender a natureza essencial do papel – o que significa, realmente, estar no
comando. A maioria se vê como gerente e como líder, emprega a retórica da liderança,
sente o ônus da liderança. Ainda assim, não entende.
Até então, o sucesso profissional dependera sobretudo da tarimba e dos atos dele, do
indivíduo. Já como gerente sua responsabilidade é definir e implementar a agenda de
todo um grupo, algo para o qual sua carreira como colaborador individual não o
preparou.
Peguemos o caso de Michael Jones, o novo gerente da corretora de valores que citei
anteriormente (a identidade dos indivíduos mencionados neste artigo foi trocada).
Durante 13 anos Michael foi um corretor de desempenho estelar, um dos profissionais
mais destemidos e inovadores da região. Em sua empresa, era comum a pessoa chegar à
gerência de uma filial depois de galgar degraus na firma devido à competência e a
conquistas pessoais. Ninguém ficou surpreso, portanto, quando o diretor regional pediu
que o rapaz considerasse um posto de gerência.
Michael achava que sabia o que era preciso para ser um bom gerente. Em diversas
ocasiões tinha comentado que, se estivesse no comando, teria dado um jeito nessa ou
naquela situação e tornado a vida mais fácil na agência. Com um mês no novo posto,
contudo, estava vivendo momentos de intenso pânico; era mais duro do que imaginara
ver suas ideias executadas. Percebeu que deixara o conforto do posto anterior – e que
não havia volta.
A reação de Michael, embora um choque para ele, não é atípica. A pessoa aprende a
liderar na prática, e não em sala de aula. Liderar é uma habilidade adquirida com a
experiência – sobretudo com experiências adversas nas quais o novo gerente, ao dar
mais do que sua capacitação atual permite, avança por tentativa e erro. Como a maioria
dos profissionais de alto desempenho nunca cometeu muitos erros, isso é novidade para
eles. Além disso, poucos gerentes estão cientes, no momento estressante em que
cometem erros, que estão aprendendo algo. O aprendizado é incremental e gradual.
Com o lento avanço desse processo – e com o novo gerente abandonando a mentalidade
e os hábitos que tanto contribuíram para seu sucesso até ali – surge uma nova identidade
profissional. O indivíduo internaliza um novo jeito de pensar e agir e descobre um novo
jeito de medir o sucesso e obter satisfação no trabalho. Naturalmente, um ajuste
psicológico desses é extenuante. É como disse um novo gerente: “Nunca imaginei que
uma promoção pudesse ser tão dolorosa”.
.
Ilusões de um novo gerente
Virar chefe é difícil, mas não quero pintar, aqui, um retrato totalmente desanimador.
Minha pesquisa sugere que a transição muitas vezes é mais difícil do que deveria ser
devido à noção equivocada que o novo gerente tem do papel. A ideia que faz do que
significa ser gerente tem algo de verdade, mas, como é simplista e incompleta, gera
falsas expectativas – expectativas difíceis de serem conciliadas com a realidade da vida
do gerente. Um gestor ciente das ilusões que enumero a seguir – algumas próximas da
condição de mito, dada sua aceitação quase universal – tem muito mais chances de
sucesso (para uma comparação de ilusões e realidade, veja o quadro “Ilusões de
um novo gerente“).
.
Gerente tem considerável autoridade. Quando instado a descrever seu papel, um novo
gerente costuma se ater aos direitos e privilégios que ser chefe garante. Sua crença é que
o posto lhe trará mais autoridade e, com isso, mais liberdade e autonomia para fazer o
que, a seu ver, é melhor para a organização. Como disse um novo gerente, a pessoa
deixará de “carregar o fardo de exigências descabidas dos outros”. Quem acredita nisso
terá um bruto despertar. Em vez de ganhar autoridade, os gerentes novos que
acompanhei se sentiam tolhidos por relações de interdependência. Não se sentiam livres
– sobretudo quem estava habituado à relativa independência de que gozava devido ao
desempenho estelar. Ficavam enredados em uma teia de relacionamentos – não só com
subordinados, mas também com chefes, colegas e outros indivíduos dentro e fora da
organização, todos fonte de demandas incessantes, muitas vezes conflitantes. Disso
resulta uma rotina diária estressante, caótica, fragmentada.
“A verdade é que não temos o controle de nada”, diz um novo gerente. “Só estou no
comando quando fecho a porta da sala – e aí sinto como se não estivesse cumprindo
meu papel, que é estar em contato com as pessoas.” Outro novo gerente observa: “Saber
que alguém que trabalha para mim pode me levar a ser demitido é um golpe na
vaidade.”
Os indivíduos mais inclinados a fazer da vida do novo gerente um calvário são aqueles
fora de seu campo formal de autoridade: fornecedores externos, por exemplo, ou
gerentes de outras divisões. Sally McDonald, estrela em ascensão em uma indústria
química, chegou a um cargo de desenvolvimento de produtos com altas expectativas,
credenciais impecáveis na atuação individual e uma profunda noção da cultura da
empresa – e até com a suposta sabedoria adquirida em um curso de formação de líderes.
Três semanas depois dizia, sardônica: “Virar gerente não é virar chefe. É virar refém.
Essa empresa está cheia de terroristas querendo me sequestrar”.
Muitos gerentes ficam surpresos com o difícil que é conquistar o respeito e a confiança
dos outros. Ficam pasmos, até ofendidos, com o fato de que sua tarimba e seu currículo
não falam por si só. A pesquisa mostra que muitos, além disso, não sabem que atributos
contribuem para a credibilidade.
É preciso dar mostras de seu caráter – da intenção de agir do modo certo. É algo
particularmente importante para os subordinados, que tendem a analisar toda palavra e
todo gesto em busca de pistas sobre a motivação do novo chefe. Esse escrutínio pode
ser desconcertante. “Eu sabia que era um sujeito decente e esperava que as pessoas me
aceitassem imediatamente como aquilo que era”, disse um novo gerente. “Mas o pessoal
se mostrou arisco e tive de fazer por merecer.”
É preciso dar mostras de sua competência – de saber como agir do modo certo. Pode ser
um problema, pois o novo gerente sente, a princípio, a necessidade de provar seu
conhecimento e sua tarimba técnica – pilares de seu sucesso na atuação individual. Mas,
embora indícios de competência técnica sejam importantes para ganhar o respeito dos
subordinados, não é nisso, em última instância, que os subordinados diretos estão
interessados.
No afã de exibir sua competência técnica, o novo gerente tinha minado a própria
credibilidade como gestor e líder. Sua inclinação a interferir para tentar resolver todo
problema suscitou questões implícitas sobre sua capacidade gerencial. Aos olhos dos
corretores, estava se tornando um micro gestor, um sujeito controlador que não merecia
o respeito deles.
O novo gerente precisa, por último, dar mostras de sua influência – da capacidade de
agir e de executar do modo certo. Não há “nada pior do que trabalhar para um chefe sem
poder”, disse um subordinado direto de um novo gerente que acompanhei. Como
observei, conquistar e exercer influência dentro da organização é particularmente difícil,
pois o novo gerente é o “chefinho” na empresa. “Fiquei empolgadíssimo quando soube
que finalmente seria promovido”, contou um novo gerente. “Achei que tinha chegado ao
topo da escada que vinha escalando havia anos. Mas, de repente, senti que estava lá
embaixo de novo – só que, agora, nem sabia ao certo quais eram os degraus e para onde
estaria subindo.”
Mas, ainda que cheguem a obter algum controle, seja pela autoridade formal, seja pela
autoridade conquistada ao longo do tempo, a vitória é falsa. Obediência não significa
comprometimento. Quem não é comprometido não toma iniciativas. E se os
subordinados não tomarem a iniciativa, não há como o gerente delegar de modo eficaz.
Seus subordinados diretos não assumirão os riscos calculados que levam à mudança e
ao avanço contínuos exigidos no turbulento mundo empresarial de hoje.
Quanto mais poder o gerente estiver disposto a partilhar com os subordinados, mais
influência ele tende a ter. Quando lidera de um jeito que permita aos subordinados
tomar a iniciativa, ele cultiva a própria credibilidade como gerente.
Gerente deve tratar de cultivar relações com cada pessoa. Para administrar
interdependências e exercer a autoridade informal derivada de sua credibilidade pessoal
o novo gerente precisa ter a confiança de uma série de pessoas, possuir influência sobre
elas, contar com expectativas mútuas. Para tanto, precisa estabelecer relações produtivas
com cada uma. Mas, em última instância, esse gerente precisa descobrir como explorar
a força da equipe. Cultivar apenas a relação individual com cada integrante do grupo
pode solapar tal processo.
Durante o primeiro ano no posto, muitos gerentes de primeira viagem não entendem,
muito menos enfrentam, a responsabilidade pelo cultivo da equipe. Em vez disso,
julgam que a gestão do pessoal significa, em seu caso, forjar a relação mais eficaz
possível com cada subordinado. Assim, caem no erro de equiparar a gestão da equipe
com a gestão de cada integrante do grupo.
Gerente deve garantir que tudo corra sem atropelos. Assim como muitos mitos da
gestão, este tem algo de verdade – mas é enganoso, pois conta apenas parte da história.
Assegurar que as atividades transcorram sem problemas é de uma dificuldade incrível e
exige do gerente um verdadeiro – e constante – malabarismo. Aliás, a complexidade de
manter o status quo pode sugar todo tempo e energia do jovem gerente.
Contudo, o novo gerente precisa entender que cabe a ele, ainda, sugerir e deslanchar
mudanças que melhorem o desempenho do grupo. Em geral – o que é surpresa para
muitos – isso significa desafiar processos ou estruturas organizacionais situados além de
sua esfera formal de autoridade. É só quando entende esse aspecto da função que o novo
gerente começará a encarar de forma séria suas responsabilidades de liderança (veja o
quadro “Um último lembrete: crie as condições para seu sucesso”).
.
Na verdade, a maioria dos novos gerentes se vê como alvo de iniciativas de mudança da
empresa, implementando com sua equipe mudanças impostas de cima. Não encara sua
figura como a de um agente de mudanças. A mentalidade hierárquica e a fixação na
autoridade que acompanha a promoção a chefe fazem com que defina suas
responsabilidades de modo limitado demais. Logo, o novo gerente tende a culpar
sistemas falhos, e os superiores diretamente responsáveis pelos sistemas, pelos reveses
da equipe – e tende a esperar que outros solucionem o problema. Há nisso um equívoco
fundamental em relação a seu papel na organização. Um novo gerente deve gerar
mudanças, dentro e fora de sua área de responsabilidade, para garantir que sua equipe
possa triunfar. Deve trabalhar para alterar o contexto no qual o grupo opera, ignorando a
falta de autoridade formal. Essa visão mais ampla é boa para a organização e para o
novo gerente. Toda empresa deve passar por um processo contínuo de revitalização e
transformação – desafio que só pode ser superado se tiver líderes eficientes, capazes de
administrar a complexidade do status quo e de fazer mudanças.
Novo gerente não está sozinho
À medida que avança no difícil processo que é virar chefe, um novo gerente vai adquirir
uma enorme vantagem se aprender a reconhecer as ilusões que acabo de delinear. Mas,
diante da natureza multifacetada de suas novas atribuições, seguirá cometendo erros ao
tentar montar o quebra-cabeça gerencial – e cometer erros, por mais importante que seja
para o processo de aprendizado, não é agradável. Esse gerente sofrerá ao ter sua
identidade profissional distendida e transformada. Na luta para incorporar o novo papel,
muitas vezes se sentirá isolado.
Infelizmente, minha pesquisa mostra que poucos nessa situação buscam ajuda. Em
parte, é fruto de outra noção equivocada: a de que o chefe deve ter todas as respostas – e
que, portanto, um novo gerente atrás de ajuda é sinal inequívoco de que a promoção foi
um “erro”. Um gerente experiente naturalmente sabe que ninguém tem todas as
respostas – e as que o gerente tem foram adquiridas ao longo do tempo, com a
experiência. Vários estudos comprovam que aprender é mais fácil quando é possível
recorrer ao apoio e à ajuda de pares e superiores.
Outro empecilho à busca de ajuda por novos gerentes é o perigo (às vezes mais
imaginário do que real) de relações voltadas ao desenvolvimento. Quando alguém
divide suas ansiedades, seus erros e suas fraquezas com colegas da organização, há o
risco de que essa informação venha a ser usada contra a própria pessoa. O mesmo vale
quando divide os problemas com o chefe. O conflito inerente entre o papel de avaliador
e o de formador é um velho dilema. Logo, o novo gerente deve ser criativo na hora de
buscar apoio. Pode, por exemplo, recorrer a colegas de outra região ou departamento –
ou até de outra organização. O problema com o chefe, embora difícil de ser totalmente
resolvido, pode ser aliviado – lição que vale não só para novos gerentes, mas também
para dirigentes tarimbados.
O novo gerente evita recorrer ao superior imediato para conselhos por encarar aquele
indivíduo como uma ameaça a seu desenvolvimento, e não como aliado. Por temer ser
punido por equívocos e falhas, não busca a ajuda capaz até de prevenir esses erros –
ainda que a queira desesperadamente. É como relatou um novo gerente:
“Sei que, de certo modo, deveria interagir mais com meu chefe, pois é para isso que ele
está ali. Ele tem experiência e talvez seja minha obrigação mantê-lo informado sobre as
coisas. Ele provavelmente me daria bons conselhos. Mas não é seguro dividir as coisas
com ele. O resultado seria imprevisível. Se fizesse muitas perguntas,
ele poderia perder a confiança em mim e pensar que as coisas não andam lá muito bem.
Talvez achasse que estão fora de controle – o que só pioraria a situação. É que ele
passaria a se intrometer, a fazer todo tipo de pergunta sobre o que estou fazendo. A certa
altura, estaria totalmente envolvido com a questão. É uma situação muito incômoda. Ele
é a última pessoa a quem eu recorreria. ”
Esse temor pode ser justificado. Muitos gerentes de primeira viagem se arrependem de
ter atribuído ao chefe o papel de mentor. “Não ouso fazer uma pergunta que possa ser
considerada inocente ou tola”, diz um deles. “Certa vez perguntei algo e ele fez com que
me sentisse no jardim da infância (.). Foi como se tivesse dito: ‘Essa foi a coisa mais
imbecil que já ouvi. Que raios você tem na cabeça?’.”
É uma trágica perda de oportunidade para o novo gerente, seu chefe e a organização.
Significa que o superior desse novo gerente perdeu uma chance de influenciar a noção –
correta e incorreta – que o novo gerente faz do novo cargo e de como deveria abordá-lo.
Já o novo gerente perde a chance de explorar ativos organizacionais – de recursos
financeiros a informações sobre as prioridades da alta gerência – que seu superior
estaria em ótima posição para oferecer.
Se o novo gerente é capaz de forjar uma boa relação com o superior, a diferença pode
ser enorme – embora não necessariamente aquela que o novo gerente espera. Minha
pesquisa sugere que, a certa altura, metade dos novos gerentes busca a ajuda do superior
– em geral devido a uma crise que se avizinha. Muitos sentem alívio ao ver que o
superior é mais tolerante com suas dúvidas e erros do que o esperado. “Ele entendeu que
eu ainda estava aprendendo e se mostrou mais do que disposto a ajudar, da maneira que
pudesse”, recorda um novo gerente.
Às vezes um mentor tarimbado transmite a falsa impressão de que não interfere. Uma
gerente relata como aprendeu com uma superiora imediata: “Ela é exigente, mas tem a
reputação de formar e ajudar os outros, e não de jogá-los aos lobos. Já eu, depois de 60
dias, estava em dúvida. Era tudo tão difícil, estava tão desanimada – mas ela não
ofereceu ajuda. Estava ficando louca. Quando perguntava algo, ela fazia outra pergunta.
Nunca dava respostas. Foi então que percebi o que ela pretendia. Tinha de chegar e dar
ideias sobre como enfrentaria a situação – e aí ela discutia essas ideias comigo, passava
o tempo que fosse necessário ao meu lado”.