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DIREITO BRASILEIRO
RESUMO
O problema das fontes não-estatais do direito está sempre presente nas discussões
acerca do direito e principalmente das decisões judiciais. O presente trabalho tem por
objetivo expor a maneira como os costumes e a doutrina influenciam na produção e em
especial na aplicação do direito nos tribunais. Existem previsões legais em nosso
ordenamento para a aplicação dos costumes e isso, de certa forma, ajuda o juiz a fazer do
direito não apenas aquilo que está escrito nos dispositivos legais, por vezes injustos e
obsoletos, mas sim uma ferramenta em constante evolução e traduzindo melhor a
realidade social vigente. Acerca do trabalho que a doutrina exerce, é um pouco mais
difícil precisar até que ponto ela transforma o direito, pois nem todo Magistrado corrobora
com as ideias da doutrina, por mais unificado doutrinariamente que seja um entendimento
sobre certa norma no meio jurídico. No decorrer do trabalho tentaremos expor como os
costumes e a doutrina podem vir a influenciar o direito.
INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem por objetivo abordar o tema “o papel das fontes não-
estatais na produção e aplicação do direito brasileiro”.
O termo Fontes do direito é uma expressão metafórica usada no meio jurídico para
se referir aos componentes utilizados no seu processo de composição, de um conjunto
sistematizado de normas, disciplinadoras da conduta da sociedade.
As Fontes podem ser estatais e não-estatais. Dentre as estatais, tem-se as leis que
são normas criadas através de processos próprios, estabelecidas pelas autoridades
competentes e a Jurisprudência conjunto de decisões sobre interpretações de leis, feita
pelos tribunais de determinada jurisdição anteriormente. As não-estatais são o costume,
regra derivada de prática reiterada, generalizada e prolongada, que resulta numa
convicção de obrigatoriedade, de acordo com a sociedade e cultura em particular e a
doutrina que é a produção realizada por pensadores, juristas e filósofos do direito,
concentrados nos mais diversos temas relacionados às ciências jurídicas que influenciam
nesse meio para a tomada de decisões.
COSTUME
A grande maioria dos brasileiros toma café na primeira refeição do dia que,
justamente por isso, se chama café da manhã. Quem observa no restaurante de
um hotel uma pessoa que, as 7 da manhã tomam chá, não vai estranhar, já que
o hábito de tomar café não é considerado obrigatório pelos membros da
sociedade. A reação do observador será muito diferente se a mesma pessoa
tomasse cerveja. Não porque o costume de bebidas alcoólicas seja socialmente
rejeitado, mas porque se considera que quem inicia seu dia com bebida
alcoólica é uma pessoa alcoólatra ou desequilibrada. (DIMOULIS, 2011,
p.184)
Já o costume jurídico é, apesar de não ser escrito, uma norma jurídica obrigatória
e passível de imposição pela autoridade estatal, especialmente pelo Poder Judiciário. O
costume jurídico é formado por dois elementos essenciais: o uso e a convicção jurídica
de obrigatoriedade. É uma norma jurídica que surge depois de um tempo de prática de
determinado hábito. Um exemplo de costume jurídico é o do cheque pré-datado: o
costume fez o cheque deixar de ser um pagamento a vista, e o uso reiterado dessa prática
no comércio não pode fugir da aplicação pelo Poder Judiciário.
Se partimos do pensamento que o Legislador ao criar o direito está atendendo aos
preceitos morais de uma sociedade e transformando esses preceitos em norma positiva
estatal podemos observar a importância do costume. O direito positivado, em especial o
brasileiro que contém um número exorbitante de normas, não consegue sempre atender
aos anseios e a evolução da sociedade. Por isso é o costume de suma importância, tanto
na criação de novas normas que traduzam a atual realidade social, como na aplicação do
direito pelos tribunais, mesmo que de uma forma subsidiária à lei escrita. Um exemplo
claro de como o costume influenciou na criação legislativa é o caso da:
Importante nos é a lição trazida por Maria Helena Diniz acerca do costume
jurídico e de sua aplicação pelo magistrado:
De tudo que foi exposto acima, podemos notar a importância dos costumes na
aplicação do direito, o que, em nossa opinião, torna o direito um sistema muito mais
dinâmico, não sendo o juiz apenas uma “boca da lei”, mas também um transformador da
realidade jurídica e social vigentes, ao usar os costumes como norteador de suas decisões
nos tribunais.
A doutrina, de fato, não pode ser utilizada como uma fonte do direito a ser aplicada
nos tribunais, os juízes não são obrigados a levar em conta a opinião dos doutrinadores,
que não possuem força jurídica. No entanto, é inegável o relevante papel que a doutrina
exerce no meio jurídico. Ela contribui na determinação de conceitos jurídicos, auxiliando
no entendimento do texto legal, nas formas de interpretar, preencher lacunas deixadas
pelo ordenamento entre outras funções.
A doutrina mantem-se sempre atualizada, ela segue a dinâmica do tempo, não fica
estático como a letra das leis, com isso ela traz ideias novas, estando sempre em mudança,
dessa forma ela organiza melhor o direito, para proporcionar um melhor entendimento
dele, desenvolve um papel crítico perante as normas, de acordo com visões divergentes
ou não de doutrinadores que podem ensejar um debate que será essencial para se ter uma
visão mais clara da norma a ser aplicada.
Para a realidade brasileira, é notório que cada Estado dará́ um peso diverso à
“doutrina” de acordo com sua cultura jurídica. Não há como medir ou avaliar qual a
importância ou o peso específico que a doutrina tem para os Juízes e Ministros do
Supremo Tribunal Federal.
Vale ressaltar a existência de um sistema de indexação no Supremo Tribunal
Federal que, ao ser acionado, aponta quais livros doutrinários foram consultados pelos
Ministros para chegarem a aquelas conclusões. Todavia não se tem como medir e avaliar
ou comprovar com dados estatísticos quais tendências doutrinárias estão atualmente
influenciando o STF.
Amicus curiae, os “amigos da corte”, é uma expressão utilizada para designar uma
instituição que tem por finalidade fornecer subsídios às decisões dos tribunais,
oferecendo-lhes melhor base para questões relevantes e de grande impacto pluralizando
o debate, colocando em prática a adoção do princípio democrático, de maneira a permitir
que outros órgãos ou entidades possam exercer o seu papel de partícipes nas decisões que
apresentam relevância para a toda a sociedade.
Não são raras as decisões judiciais que se baseiam em costumes locais para o
julgamento do mérito de uma causa. Um exemplo disso pode ser encontrado no processo
n° 0108200-98.2009.5.18.0054, do Tribunal Regional do Trabalho da 18º Região, em
Goiás. No referido processo, o reclamante pedia que os feriados trabalhados entre os anos
de 2005 a 2009, nos meses de fevereiro a maio (Carnaval, Paixão de Cristo, Corpus
Christi, Tiradentes e 1º de maio) fossem remunerados com o adicional de 100%.
CONCLUSÃO
Neste trabalho elaboramos um estudo focado nas fontes não estatais do direito
brasileiro. A partir dele é possível concluir a influência, tanto dos costumes como da
doutrina na criação e nas decisões judiciais.
É possível através dos dados apresentados perceber a regulamentação do costume
de fato pela legislação, tanto na Lei de Introdução ao direito Brasileiro, como no código
civil. Já a doutrina, não é mencionada diretamente por eles, todavia não é muito difícil
perceber sua influência neste meio, tanto nos tribunais, como no legislativo e podemos
destacar também a sua participação no processo de formação de profissionais da área do
direito visto o seu caráter basilar e preparatório nesse curso nas faculdades do país.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil, Brasília, DF,
janeiro de 2002. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2002/l10406.htm>. Acesso em 9 jun. 2018.
DINIZ, Maria Helena. Compêndio de Introdução à Ciência do Direito. 20º ed. São
Paulo: Saraiva, 2009.