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vez que me tornei um banker de verdade, fiquei com medo de trocar os

1. MEDO pés pelas mãos – fazendo-os pensar no que havia acontecido com a pes-
soa confiante e até metida que haviam empregado como seu próximo
Pergunte-me o que está me impedindo e eu lhe direi imediata- “captador” do momento.
mente: o medo. O medo do fracasso, na verdade. Questões de relaciona- Meu papel era conseguir 100 milhões de dólares mais financia-
mento com pais, irmãos, professores e pares podem ser uma das causas, mentos para o banco organizar e distribuir entre os investidores. Como
assim como outros eventos traumatizantes da infância – especialmente jornalista, esses negócios pareciam fáceis. Imaginei que o banco arran-
aqueles nos quais nos sentimos diminuídos ou humilhados. Todavia, o jaria um financiador disposto, faria um seguro (nesse caso dívidas ati-
medo pode se formar a partir de pequenas coisas e transformar-se em vas como carregamentos de petróleo), entregaria o dinheiro e esperaria
uma fobia incontrolável que pode paralisar mentalmente quem sofre que ele voltasse com juros. Contudo, metade dos bancos de Londres
dele na vida adulta. Ele também pode nos atacar em diversos pontos estava fazendo a mesma coisa, o que me forçou a apelar para uma das
da nossa carreira – mesmo quando desenvolvemos muita confiança em fronteiras mais assustadoras do universo dos financiamentos da década
uma área em particular. de 1990: a Rússia.
Minha “carreira” desastrosa em um banco de investimentos é Em meados da década de 1990, os homens de negócios esta-
um exemplo em potencial da minha história. Jornalista financeiro apa- vam sendo abatidos a tiros diariamente nas ruas de Moscou, e meus
rentemente confiante, com um forte e detalhado conhecimento sobre clientes – as recém-privatizadas companhias de petróleo russas – certa-
bancos de investimentos, chamei a atenção de um grande banco; depois mente estavam ameaçando organizações para fazerem negócios. Essa,
de passar por uma longa entrevista e por todo um processo de avaliação, porém, não era a parte que me assustava. Na verdade, isso ajudou a
consegui convencê-los de que tinha o treinamento e a formação perfei- mascarar meu verdadeiro terror, que era o de que o banco descobrisse
tos para me juntar a sua crescente equipe de investimentos. quão pouco eu sabia sobre estruturar essas negociações. Não conseguia
Uma vez lá dentro, meu comportamento mudou. Temi que meu calcular o volume de petróleo necessário para pagar o empréstimo ou
conhecimento fosse muito fraco e que eu não tivesse nada além de um estabelecer que volume deveria estar onde, quando e como ele chegaria
talento para a pretensão. Claro que isso provavelmente era verdade, lá. Tudo parecia complicado demais para meu simples cérebro.
mas não era muito diferente da maioria dos investidores na sala – todos E o fato de ninguém no banco ter esse conhecimento – simples-
com pouca experiência se comparados com meu amplo conhecimento mente aceitávamos as informações confiando nas empresas de petróleo
do espectro bancos de investimentos (exatamente o conhecimento ne- – não parecia incomodar ninguém a não ser a mim, o que era parte do
cessário para vender uma variedade de produtos financeiros). No entan- meu problema com o sistema bancário. Assumir esses riscos é a essên-
to, por ter me vendido bem durante o processo de recrutamento, uma cia desse mercado. Entretanto, não podia deixar de visualizar um dos
cerca de vinte cenários desastrosos acontecendo em diversos ambientes

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hostis em algum lugar das estepes pós-soviéticas – e tudo isso poderia calcular em quem eu poderia ou não confiar e recrutar pessoas para a
fazer minha carreira nos bancos terminar em humilhação pública. minha causa –, logo achei um jeito de sair do banco. Voltei-me para a
minha habilidade inicial de jornalista e comecei a escrever sobre minha
Cego às políticas da empresa vida em Nova York, o que logo ocupou grande parte da minha imagi-
Ter medo de assumir riscos e ser tecnicamente incapaz não de- nação, e do meu tempo, muito mais do que a carreira financeira que
veria ter significado o fim da minha carreira nos bancos. O medo enchia eu estava rejeitando, aparentemente antes que ela pudesse me rejeitar.
os corredores de todo o banco – assim como a falta de aptidão técnica. A
principal razão para fracassar como executivo de investimentos foi que As emoções e seu papel na sobrevivência
todos aqueles investidores incapazes tecnicamente e que tinham medo Detalho os medos e os comportamentos que destruíram mi-
de assumir riscos prosperaram, sendo bem-sucedidos com relação às nha carreira na área financeira porque eles parecem estranhos em razão
políticas da empresa. Eles tinham opiniões fortes a respeito de aonde do fato de que foi preciso ter coragem para conseguir o emprego. E
o banco estava indo e podiam tomar decisões confiantes a partir disso. certamente me julgaram como detentor do conhecimento necessário e
No entanto, eu não era nada bom com a cultura de empresa. E pelo menos da habilidade de aprender o negócio com os meus seniores
tinha um julgamento terrível – tentando esconder meus medos e minhas no banco. Contudo, como veremos, os que sofrem de medo do fracas-
inseguranças em vez de focar os interesses do banco (ou os meus) –, so muitas vezes são capazes de assumir riscos extremos em situações
o que me levou a confiar nas pessoas erradas e a apoiar negociações em que o fracasso é quase certo. Ao mesmo tempo em que se sentem
não muito boas. Meu comportamento mudou a ponto de eu passar por paralisados por situações cotidianas que envolvem riscos moderados,
bobo, e logo comecei a ser tratado como um. Qualquer negociação na mas muitas vezes públicos. E eles são mais do que capazes de mudar
minha mesa parecia duvidosa pelo simples fato de estar na minha mesa, seu com-portamento de maneira que tornam o fracasso mais provável.
e qualquer novo projeto que surgia no meu caminho logo assumia a E tudo isso torna o medo do fracasso uma condição debilitante e que
característica de uma batata quente. se autoalimenta aparentemente em conflito com as necessidades das
Mesmo a transferência para os Estados Unidos – vendida para carreiras de hoje.
mim como “a mudança que pode transformar a sua vida” – foi apenas Então, como chegamos ao ponto de tantas pessoas sabotarem
para apagar as luzes de um escritório que estava falindo. A única ma- o próprio de-senvolvimento por meio de comportamentos que preju-
neira de eu conseguir fazer aquilo funcionar era descobrir a organização dicam a si mesmas? Em seu livro Emotion: the science of sentiment
que certamente limparia nossas estruturas de empréstimos: a Enron. (Emoção: a ciência do sentimento, em tradução livre), de 2001, o filó-
Entretanto, em vez de focar as habilidades necessárias para me sofo britânico Dylan Evans aborda esse enigma formulando uma im-
tornar um investidor competente – em especial habilidades sutis como portante pergunta: a partir do fato de que os sentimentos de medo e
tristeza parecem fazer parte do ser humano, por que eles são tão ruins

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para as carreiras modernas? Ou, olhando pelo outro lado: como essas tecimentos traumáticos vividos na infância. Isso significa que também
emoções não parecem oferecer nenhuma vantagem econômica – na ver- estamos vulneráveis, e o medo é nossa reação a essa vulnerabilidade.
dade ocorre exatamente o contrário –, por que não desapareceram com Assim, as emoções continuam a ser importantes no mundo mo-
o processo de seleção natural? derno, o que significa que uma capacidade prejudicada de usar nossas
Ele se pergunta por que não evoluímos para um comporta- emoções para avaliar situações torna-se potencialmente desastrosa – ou
mento como o do Spock em Star Trek e julgamos os testes da vida em no mínimo paralisante.
termos puramente lógicos. A conclusão parece ser a de que o planeta Será que isso, portanto, nos escraviza à força das nossas emo-
natal de Spok, Vulcan, era um paraíso abundante completamente livre ções e obriga aquele que tem avaliações prejudicadas a manifestar com-
de doenças e predadores. Ao passo que, na Terra, Evans defende que as portamentos autodestrutivos? Nem sempre. Muitas pessoas se compor-
emoções evoluíram para uma reação de reflexo rápido que visa a sobre- tam de maneiras que não são ditadas pela emoção. O lábio superior
vivência – por isso muitas vezes elas aparecem na forma de um ataque rígido das classes altas britânicas não é um mito, mas uma resposta ex-
nervoso incontrolável pelo corpo. terna (em vez de um sentimento interno) – uma prática treinada desde a
Alegria, angústia, nojo, medo, raiva: todos esses sentimentos tenra infância para esconder emoções em vez de modificá-las – bastante
desempenharam um papel importante em nossa sobrevivência no “es- parecida com a poker face dos apostadores profissionais que por dentro
tado natural”, diz Evans. E em uma extensão que raramente reconhece- podem estar passando por uma tempestade emocional. Entretanto, essas
mos, essas emoções continuam a ter importante papel de avaliação hoje respostas raramente são apenas uma máscara. Na verdade, quiet deses-
em dia, porém mais sutil. Evans apresenta evidências disso observando peration is the English way (algo como “desespero em silêncio é o jeito
quem não é capaz de usar suas emoções para avaliar as coisas. inglês de ser”) – pelo menos segundo a banda Pink Floyd.
“Aqueles que perdem a capacidade emocional por meio de da- Essas máscaras exigem treinamento e são, no meu caso, uma
nos cerebrais tendem a ser vítimas fáceis de inescrupulosos”, observa. resposta insatisfatória do mundo moderno, no qual somos encorajados
“Forçados a confiar em seu raciocínio lógico, eles fazem escolhas de- a nos expressar, ou pelo menos a nos comportar de maneiras que geram
sastrosas quanto a em quem podem confiar.” confiança e compreensão, em vez de desconfiança e equívocos. E as
máscaras podem simplesmente postergar uma constatação terrível – um
Capacidade mental prejudicada ataque quando a máscara escorrega e se quebra por causa da pressão.
Evans destaca um ponto importante porque, como veremos, Muito melhor, certamente, é tentar entender nossas emoções, tais como
aqueles que temem o fracasso podem muito bem ter esse medo por cau- o medo que pode nos motivar ou desmotivar, e como essas emoções
sa de uma capacidade mental prejudicada quando se trata de raciocínio podem prejudicar nossas avaliações e mudar nossos comportamentos.
e avaliação – talvez em razão de um condicionamento ruim ou de acon- É certo que a autoconsciência sempre vence a autonegação?

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Experiências com a manipulação emocional Para mim, o foco de Brown no ato de evitar está começando a
Em seu livro Motivação, de 1975, Phil Evans detalha a história chegar ao cerne da questão do medo como motivador. No entanto, no
relativamente curta das experiências acadêmicas com nossas emoções estudo do potencial motivador do medo, a contribuição mais importante
– e particularmente com o medo – e o impacto que elas têm em nossa vem de John W. Atkinson, da Universidade de Stanford.
motivação. Na década de 1960, Atkinson realizou uma série de experiên-
Por exemplo, em 1948, o psicólogo norte-americano pioneiro cias com crianças a fim de tentar provar a existência do medo do fra-
Neal Miller fez experiências sobre o impacto do medo no comporta- casso como motivador de comportamento. Na verdade, ele resolveu
mento, colocando ratos em uma caixa com dois compartimentos – um descobrir o que motivava as pessoas a conquistar coisas, ou como a
preto e outro branco –, porém, os que estavam na área branca recebiam “motivação de conquista” ou a “necessidade de conquista” se desenvol-
constantes choques elétricos. Logo os ratos exibiam grande relutância via nas crianças. Hoje em dia, porém, suas experiências são celebradas
em se aventurar na zona branca, até mesmo superando barreiras físicas igualmente por terem descoberto a dinâmica oposta.
para escapar para a segurança da zona negra. E não demorou muito Novamente, detalhado por Evans, e partindo de experiências
para que os roedores atormentados de Miller só precisassem ver um anteriores realizadas por David McClelland, Atkinson (junto com G. H.
pedacinho da zona branca para exibir sinais de estresse extremo. Miller Litwin) envolvia grupos de crianças em jogos e atividades com recom-
concluiu que o medo como motivador pode ser rapidamente adquirido, pensas e registrou que as crianças abordavam as tarefas de duas manei-
pode mudar comportamentos de maneira profunda e condicionar inter- ras bastante distintas: antecipando o sucesso ou antecipando o fracasso.
namente o rato a demonstrar uma reação de medo quando atiçado (isto Ele percebeu que essa divisão tinha enorme impacto na abordagem, no
é, quando lembrado do trauma). desempenho e no comportamento individual durante a tarefa.
Não surpreende que esse condicionamento emocional também Uma atitude individual (e seu resultado) era ditada pelo fato
seja aplicável aos seres humanos, mesmo que em um nível sutil. Evan de elas terem níveis altos ou baixos de “motivação para a conquista”,
cita Judson S. Brown, um psicólogo norte-americano do pós-guerra concluiu Atkinson. Quem tinha muita motivação para a conquista era
que pensou que, por causa do medo, os seres humanos passavam muito estimulado tanto pela sua necessidade quanto pela sua expectativa de
do seu tempo em busca de “reforços” como dinheiro e de “respostas sucesso. Essas pessoas focavam na recompensa da realização da tarefa
operantes” de desempenho como realizar um trabalho. Na opinião de e comportavam-se de maneiras que provavelmente gerariam sucesso.
Brown, o que a pessoa estava buscando era menos importante do que o Ao mesmo tempo, quem tinha pouca motivação para a con-
que a pessoa estava evitando. Ele considerou que uma pessoa podia di- quista era estimulado pelo medo do fracasso e tentava evitar tarefas
zer que estava fazendo dinheiro, mas podia estar igualmente motivada mesmo que moderadamente difíceis, em razão de sua expectativa de
pelo medo de não fazer dinheiro. fracasso. O que mais os preocupava era a humilhação do fracasso – o
que resultava no emprego de uma série de táticas tanto para evitar a

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tarefa quanto para disfarçar o fato de a estarem evitando (o que incluía Persistir ou evitar a tarefa
interromper a tarefa como um todo). O psicólogo australiano Norman Feather fez experiências se-
A descoberta de Atkinson forma uma divisão-chave neste livro, melhantes e chegou a conclusões parecidas. Ele encontrou uma ten-
que merece ser repetida: dência na disposição dos participantes a persistirem em uma tarefa na
Quem tem muita motivação para a conquista apresenta qual já tinham fracassado pela primeira vez, a partir de seus níveis de
uma expectativa de sucesso e está focado nas recompensas advindas motivação para a conquista. Os que tinham maiores níveis de moti-
do sucesso. Podemos chamá-los de MMCs (apesar de Atkinson os ter vação para a conquista (nossos MMCs) tendiam a perseverar em uma
chamado de maneira mais complexa nAch, que significa “necessidade tarefa fácil na qual tinham fracassado – talvez reavaliando a dificuldade
de conquista”, ou achievement, em inglês). da tarefa ou aumentando a concentração e a determinação. Enquanto
Quem tem muito medo do fracasso demonstra uma expec- isso, quem tinha mais medo do fracasso (nossos MMFs) estava menos
tativa de fracasso e está focado em evitar a humilhação advinda dele. inclinado a continuar, desejando evitar a vergonha do fracasso.
Podemos chamá-los de MMFs. Feather também descobriu que podia manipular a resposta
A maioria das pessoas que está lendo este livro será MMF apresentando a tarefa como fácil ou difícil. Os MMFs tendiam a conti-
(com muito medo do fracasso), apesar de ser importante ter em mente nuar se lhes era dito que a tarefa era difícil porque, concluíam, a vergo-
que aqueles que estudam a motivação da conquista, e seu oposto, en- nha de fracassar havia sido amenizada. Na verdade, a tarefa que ele pro-
contraram diversas respostas. pôs aos participantes – desenhar em torno de uma figura sem levantar o
Atkinson ainda faria mais uma – extraordinária – descoberta. lápis do papel – era impossível, apesar de parecer fácil à primeira vista.
Os MMFs não têm problemas para tentar realizar tarefas que foram Resumindo as experiências, Phil Evans defendeu que os níveis
dadas como difíceis ou quase impossíveis. Isso porque a humilhação de motivação para a conquista tinham um papel significativo quando se
potencial pelo fracasso continuou baixa. Ao mesmo tempo em que os tratava da “sabedoria na escolha da carreira pelos estudantes”. Aqueles
MMCs escolhem uma variedade de tarefas desafiadoras, porém realizá- que apresentavam altos níveis de motivação para a conquista escolhiam
veis na expectativa do sucesso e da recompensa, os MMFs só escolhe- carreiras realistas, porém desafiadoras – advogados ou cientistas. Eles
ram tarefas que tinham a certeza de que realizariam ou certamente fra- sonhavam alto – evitando carreiras com poucos incentivos –, mas es-
cassariam, junto com todos os outros que estavam tentando realizá-las. tavam com os pés no chão. Claramente evitavam seguir carreiras am-
Por exemplo, Atkinson envolveu crianças em um jogo de atirar argolas biciosas ou “sonhos loucos” não realistas, como ser astro do rock ou
em alvos. Aqueles com muita motivação para a conquista (MMCs) fi- da televisão.
caram a uma distância corajosa, porém realista dos alvos enquanto os Por outro lado, quem tinha muito medo do fracasso mantinha
que tinham muito medo do fracasso (MMFs) ficaram muito próximos suas opções de carreira em um nível pouco inspirador ou sonhava com
do alvo ou tão longe que era quase impossível acertá-lo.

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algo que lhe trouxesse tanto recompensas fabulosas (como fama) ou, Dessa maneira, parece que temos um fenômeno psicológico
muito mais provavelmente, fracasso – apesar de as consequências do bastante conhecido diante de nós. Os MMCs não se preocupam com
fracasso, nesse caso, serem julgadas de maneira suave, pois o suces- a possibilidade do fracasso e tendem a ser estimulados por situações
so era muito improvável. Na verdade, nessas circunstâncias, ser visto que envolvem algum grau de risco. Eles têm maior tendência a aceitar
como alguém que tentou seria algo positivo. desafios em que a possibilidade de sucesso não é mais do que uma
possibilidade e veem tarefas fáceis como chatas ou como se não esti-
Orientados pelo aperfeiçoamento ou pelo ego vessem ao nível deles. Enquanto isso, os MMFs temem a humilhação
O excelente relato feito por Phil Evans sobre a história dos ex- pública e portanto buscam evitar o fracasso potencial. É mais provável
perimentos que estudaram os motivadores emocionais de nosso compor- que tentem apenas tarefas simples ou aquelas que são impossíveis, pois
tamento foi publicado na metade da década de 1970. Contudo, a pesqui- ganhariam o crédito por terem tentado, e isso pode mascarar o fato de
sa detalhada por ele foi validada na década de 1980 por Carol Dweck e evitarem objetivos mais possíveis.
Ellen Leggett, também da Universidade de Stanford. Seus experimen-
tos com a determinação de objetivos concluíram que as crianças eram Livros de autoajuda para MMFs
“orientadas pelo aperfeiçoamento” ou “orientadas pelo ego”, notando-se O livro de Evans era voltado para o público acadêmico, apesar
que as “orientadas pelo aperfeiçoamento” (MMCs, em outras palavras) de ter produzido forte reação pessoal em mim. Secretamente, negando
acreditavam não apenas que podiam ultrapassar obstáculos e encontrar a mim mesmo – mas sem dúvida –, eu era um MMF. Temia o fracasso
soluções, mas ficavam entusiasmadas com a oportunidade de fazê-lo. e agia de acordo, seja com tarefas imediatas, seja com escolhas de vida.
Para as crianças orientadas pelo aperfeiçoamento, aprender ou Isso era verdadeiro para a minha carreira, mas tinha alguma ressonância
melhorar suas habilidades era o foco, o que significava que elas per- em cada aspecto da minha vida e certamente nos meus fracassos acadê-
sistiriam diante de reveses, enquanto as crianças orientadas pelo ego micos quando criança.
(MMFs) tendiam mais a não querer manchar sua reputação, evitan- O livro de Phil Evans foi publicado em 1975 (encontrei meu
do situações em que houvesse essa possibilidade. Sua necessidade de exemplar em um pequeno sebo de uma cidadezinha), note-se que as ex-
conquista, parece, era menor do que a necessidade que tinham de não periências com motivação tinham começado na década de 1940. Outros
passarem por bobas. Certamente, em ambos os grupos, houve grandes levaram as pesquisas adiante nas décadas de 1980 e 1990. Então, por
implicações para o futuro nível de conquistas acadêmicas e profissionais que todos esses livros de autoajuda sobre “como ser bem-sucedido” que
assim como para o desenvolvimento de hábitos de aprendizado para a devorei ao longo dos anos não lidavam com as questões fundamentais
vida toda. expostas pelas experiências, sem falar na escolha equivocada de metas
pelos MMFs?

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Na verdade, esses livros sobre “como ser bem-sucedido” são os livros parecem encorajar? Como uma pessoa com muito medo do
um grande gênero editorial que ocupa quilômetros de estantes (em fracasso, o que eu precisava de um livro de autoajuda era orientação
especial nos Estados Unidos). Alain de Botton, em Desejo de status para desenvolver as habilidades de avaliação de quem tem muita mo-
(2005), afirma que eles começaram com a autobiografia de Benjamin tivação para a conquista. Um livro que dissesse: “Olha, talvez todo o
Franklin publicada em 1790, que encorajou leitores a agir por meio de seu conceito de determinação de objetivos e conquista esteja errado e
sermões como “não há ganho sem dor” ou “quem vai para a cama cedo, precise ser repensado”.
acorda cedo...” Talvez a resposta não esteja em “atingir seu objetivo mais
O livro de William Matthew, Getting on in the world (em tra- elevado”, mas sim em estabelecer objetivos que sejam apropriados e
dução livre, Dando-se bem com o mundo), publicado em 1874, foi o levem à realização. Em vez de “sentir o medo e fazer mesmo assim”,
primeiro a atacar o assunto de frente, seguido por William Maher com que tal reconhecer que o medo pode estar nos levando para a direção
On the road to riches (A caminho da riqueza, em tradução livre), de errada?
1876, e Edwin T. Freedley, com The secret of success in life (em tra-
dução livre, O segredo do sucesso na vida), de 1881. O livro de Dale
Carnegie, Como fazer amigos e influenciar pessoas (1936), talvez seja
o mais famoso, seguido de perto pelo livro de Anthony Robbins inti-
tulado Desperte seu gigante interior (1992). E mesmo personagens de
histórias infantis entraram em ação: Winnie the Pooh on success (em
tradução livre, O Ursinho Pooh fala sobre sucesso), de Roger E. Allen e
Stephen D. Allen, foi publicado em 1997.
Contudo, todos esses e outros livros de autoajuda estão envian-
do uma mensagem potencialmente prejudicial para os que têm muito
medo do fracasso – que não tem problema em querer chegar às estrelas.
“Vai, você pode ser um pop star”, eles parecem dizer antes de oferecer
metodologias que confesso serem úteis para a conquista de objetivos.
Susan Jeffers, em Tenha medo... e siga em frente, de 1987, pelo
menos aborda uma preocupação central. E se “fazer” não era a coi-
sa certa? E se as pessoas estavam estabelecendo os objetivos errados
baseadas em seu medo do fracasso – evitando carreiras sustentáveis
e possíveis em favor dos “sonhos mais loucos” baseados na fuga que

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