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A Origem das Notas Musicais – Parte 1

A História da Escala de Dó Maior

Se você é músico (estudante ou profissional) provavelmente já estudou ou ouvir falar


sobre Escala de Dó Maior. Se você já toca, é bem provável que esteja pensado: “pow! fala
sério! Escala de Dó é a coisa mais fácil do mundo”. Realmente a Escala que hoje
conhecemos como Dó Maior é bem simples, pois é formada somente por notas naturais
(as notas que já conhecemos: DÓ – RÉ – MI – FÁ – SOL – LÁ – SI e o DÓ novamente
uma oitava acima). Porém, pra que pudéssemos ter essa escala bonitinha e tão simples
assim como a conhecemos, houve todo um processo de estudos, cálculos matemáticos,
testes e muita discussão e adaptações para que enfim pudéssemos ter convencionadas
todas estas notas, dispostas com seus respectivos tons e semitons.

Há milhares de anos atrás existia um cara louco por números


chamado Pitágoras, ele acreditava que o universo todo era regido pelos números (e em
parte ele não estava errado). Então um belo dia, fazendo experimentos com um
monocórcio (instrumento de uma corda só) ele observou que ao tocar a corda do
instrumento e fazê-la vibrar ela produzia um som determinado e que se a corda fosse
dividida ao meio, esticada e novamente posta em vibração, o som emitido por ela soava
mais agudo e guardava uma relação muito interessante com o primeiro (exatamente uma
oitava acima).

Vamos fazer uma relação com uma corda de um instrumento, como por exemplo, de um
violão, supondo que a corda solta soasse a nota Dó. À medida que o instrumentista vai
apertando a corda em regiões diversas do braço do instrumento ocorre uma variação no
comprimento da corda e, consequentemente, também varia a freqüência (altura) do som
emitido. Pitágoras observou que ao dividir a corda na seguinte proporção: 1/2, 1/3, 1/4,
1/5 foram obtidas as seguintes notas: DÓ, SOL, FÁ e MI.
Como a frequência do som produzido por uma corda vibrante é inversamente proporcional
ao comprimento da corda, se atribuirmos o valor 1 à frequência fundamental da corda, as
frequências das outras notas que acabamos de obter resultam: mi = 5/4, fá=4/3, sol=3/2.
Assim, as notas musicais são geradas a partir de relações de números simples com a
frequência fundamental. Ao multiplicarmos a frequência de uma nota por 2, obtemos uma
outra nota que recebe o mesmo nome da anterior. Se multiplicamos a frequência por 3/2,
obtemos uma nota que guarda com a anterior uma relação harmônica tão interessante que
ela recebe um nome especial: a dominante(5º grau da escala).

É claro que uma escala musical com quatro notas só, como a que obtivemos
acima, é muito pobre, mas a verdade é que todas as notas musicais podem ser
geradas a partir da dominante. Por exemplo, se quisermos saber qual é a
dominante do mi, só precisamos multiplicar a frequência do mi por 3/2: 5/4 x
3/2 = 15/8; obtivemos outra nota, que chamaremos de si.

Se multiplicarmos a frequência do fá por 3/2 obteremos a própria nota dó, provando assim
que a dominante do fá é dó: 4/3 x 3/2 = 12/6 = 2.

Já sabemos que sol é a dominante de dó; para saber qual é a dominante do próprio sol,
fazemos 3/2 x 3/2 = 9/4. Obtemos então uma nota mais aguda que o segundo ré; dividindo
sua frequência por 2 (para que ela fique na primeira gama que estamos tentando
preencher), 9/4 x 1/2 = 9/8 obtemos assim uma outra nota, que vamos chamar de ré.

Assim, seguindo o método acima, procurado achar a dominante de cada nota


obtida (multiplicando sua frequência por 3/2), acabamos por obter a escala
diatônica completa:

dó ré mi fá sol lá si dó
1 9/8 5/4 4/3 3/2 5/3 15/8 2
V V V V V V V
9/8 10/9 16/15 9/8 10/9 9/8 16/15
Percebemos que a dominante é o quinto grau da escala. Uma quinta acima do
dó está o sol; uma quinta acima do sol está o ré; uma quinta acima do ré está o
lá; assim, seguindo o ciclo das quintas, obtemos todas as notas da
escala cromática e retornamos ao dó.

Para sabermos em que ponto da corda dó o instrumentista deve pôr o dedo


para obter as notas sucessivas da escala diatônica, basta olharmos a figura
abaixo:

Na verdade existem infinitas possibilidades de frequência entre estas notas que


conhecemos, porém, algumas delas nem são percebíveis pelo ouvido
humano. As possibilidades de frequências que Pitágoras encontrou gerou sons
que não estão na escala de Dó Maior mas estão entre as notas da escala e
não estou falando só dos sustenidos, pois, fisicamente, existem intervalos
menores que um semitom que também são perceptíveis pelo ouvido humano.
Antes da Escala Cromática (escala formada toda por semitons) ser
convencionada do jeito que conhecemos hoje com 12 notas, existiam outros
intervalos entre um som e outro: o semitom maior e o semitom menor (ou seja,
um intervalo um pouco menor de um semitom e outro maior). Porém, ao ter que
transpor uma música para uma tonalidade diferente estes intervalos menores
geravam muitas sonoridades desagradáveis, por isso decidiu-se juntar os
semitons menores e os maiores em um único semitom, mas este é um assunto
um pouco mais extenso que estarei abordando em um momento mais adiante.

Este pequeno tema que foi abordado sobre a origem e as convenções das
notas musicais é uma simples gota no oceano em meio a muitas outras coisas
que podemos abordar sobre a música, mas mesmo assim esse assunto ainda
vai dar muito que falar!

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