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LUSTOZA, M.D.; KOGIKA, M.M. Tratamento da insuficiência renal crônica em cães e gatos. Rev Bras Med Vet – Peq Anim Anim Estim, Curitiba,
v.1, n.1, p.62-69, jan./mar. 2003.
A insuficiência renal crônica (IRC) ocorre com relativa freqüência em cães e gatos. A insuficiência geralmente
surge quando há perda irreversível de 67 a 75% dos néfrons, estágio em que os rins perdem a capacidade
compensatória, podendo ocorrer a manifestação dos sinais clínicos. Considerando-se que os sinais clínicos
são inespecíficos, torna-se necessária a realização de exames complementares para o estabelecimento do
diagnóstico. Embora não exista cura definitiva para a IRC, existe uma série de terapias que visam melhorar
a qualidade de vida e prolongar a sobrevivência dos animais acometidos. O objetivo desse artigo é tecer
comentários sobre as principais terapias de manutenção recomendadas para os cães e gatos com IRC.
hiperfosfatemia, a acidose metabólica e a anemia não-re- quada com monitoramento, ainda consiste na melhor
generativa. No exame de urina, geralmente, observa-se opção terapêutica na manutenção do paciente crônico
densidade urinária semelhante à do soro (isostenúria) e em Medicina Veterinária de pequenos animais.
proteinúria em intensidade variada. Outras alterações
podem incluir, ainda, hipopotassemia (principalmente Distúrbios gastrintestinais
em felinos), hipercolesterolemia, hipercalcemia ou Os distúrbios gastrintestinais contribuem signifi-
hipocalcemia. O diagnóstico por imagem (RX) pode cantemente para a anorexia e a perda de peso associados
indicar diminuição do tamanho renal, mineralização à insuficiência renal nos cães e gatos (SENIOR, 1994;
renal e diminuição da densidade óssea. O exame ultra- SPARKES, 1998). Para aliviar as conseqüências dos dis-
sonográfico geralmente revela presença de aumento na túrbios gastrintestinais e da anorexia, algumas estratégias
ecogenicidade dos rins (Figura 3), pouca definição do são utilizadas para aumentar a ingestão de alimento pelos
limite córtico-medular, redução de tamanho e contor- animais. O fornecimento de refeições aquecidas e ofe-
nos renais irregulares (BROWN, 1998a; POLZIN et al., recidas em pequenas quantidades, várias vezes ao dia,
1992; RUBIN, 1997; SPARKES, 1998). costuma ter um efeito benéfico no aumento da ingestão
FIGURA 3: de alimentos pelos pacientes. Aliadas a essas estratégias,
Imagem ultra- recomenda-se a administração de alguns fármacos que
sonográfica do melhoram a condição do sistema digestivo, como os
parênquima antagonistas de receptores H2 do grupo da cimetidina
renal de um (2,5 – 5mg/kg a cada 12 horas, por via oral ou intra-
cão com venosa) e da ranitidina (cães – 2mg/kg a cada 8 horas,
insuficiência por via oral ou intravenosa; gatos 2,5mg/kg a cada 12
renal crônica. horas, por via intravenosa ou 3,5mg/kg a cada 12 horas
Foto: Janis R.
por via oral) que aliviam a gastrite urêmica devido à
M. Gonzalez.
hipergastrinemia, diminuindo a secreção de HCl, e o
sucralfato (cães – 0,5 a 1,0mg/por cão a cada 8 ou 12
Embora não exista um tratamento que possa horas, por via oral; gatos – 0,25mg/por gato a cada 8 ou
determinar a cura da IRC, devido à característica de 12 horas, por via oral) que é um protetor de mucosa,
irreversibilidade da lesão renal, há possibilidade de indicado principalmente nos casos de úlcera gástrica.
indicação de terapias de suporte e sintomáticas que Para o controle do vômito, recomenda-se comumente
minimizam os sinais clínicos e proporcionam aos ani- medicação antiemética representada pela metoclopra-
mais uma sobrevida, que pode variar de meses a anos, mida (0,2 a 0,5mg/kg a cada 6 ou 8 horas por via oral,
com o intuito de se manter uma boa qualidade de vida subcutânea ou intravenosa) (PAPICH, 2000; RUBIN,
(POLZIN & OSBORNE, 1988). 1997; SENIOR, 1994; SPARKES, 1998). Estimulantes
diretos do apetite como o diazepam podem ser utili-
zados, no entanto, seu uso é limitado pela sedação que
TRATAMENTO causam nos pacientes. Além disso, apresentam efeitos
O tratamento atualmente preconizado para a IRC satisfatórios apenas nos felinos (0,2mg/kg por via intra-
é o conservativo e tem por objetivo corrigir ou mini- venosa), sendo seu uso questionável em cães (PAPICH,
mizar os distúrbios hídrico, eletrolítico, ácido-básico, 2000; SENIOR, 1994). Nos pequenos animais, relata-se
endócrino e nutricional (RUBIN, 1997). a possibilidade de desenvolvimento de necrose hepática
aguda com o uso do diazepam.
Desidratação Hipopotassemia
Em relação ao tratamento da poliúria, se o consu- A hipopotassemia ocorre ocasionalmente nos
mo de água for inadequado, o animal poderá apresentar cães com IRC (POLZIN et al., 1992), já nos felinos é um
desidratação, redução da perfusão renal e posterior achado relativamente comum, sendo responsável pelo
piora na função renal (POLZIN et al., 1992; SPARKES, quadro de polimiopatia com fraqueza muscular gene-
1998), sendo nesses casos indicada a fluidoterapia por ralizada e ventroflexão do pescoço (Figura 4) (RUBIN,
via parenteral (POLZIN et al., 1992; SPARKES, 1998). 1997; SPARKES, 1998). A suplementação com potássio
Em relação à composição do fluido, à quantidade, às é indicada para pacientes com níveis séricos de potássio
vias de administração, estes requerem detalhamento abaixo de 4mEq/L, mesmo na ausência de sinais clínicos
mais minucioso, considerando-se parte da terapia mui- de hipopotassemia (RUBIN, 1997; SPARKES, 1998).
to importante na manutenção do paciente, conforme Felinos com insuficiência renal podem apresentar
abordaremos separadamente em publicações futuras. significativa melhora no estado geral com a suplemen-
Ressaltamos que devido às características fisiológicas tação de potássio, na dosagem de 2-6mEq/animal/dia
dos cães e gatos, que diferem em alguns aspectos da (RUBIN, 1997; SPARKES, 1998). A suplementação
espécie humana, a fluidoterapia realizada de forma ade- oral, com gluconato de potássio, é mais recomendada
por ser mais segura e por poder ser fornecida pelo Os agentes alcalinizantes devem ser administra-
proprietário. Entretanto, a suplementação por via dos em doses pequenas e divididas durante o dia, com
parenteral pode ser necessária em casos graves de a finalidade de diminuir as variações no pH sangüíneo,
hipopotassemia ou quando a suplementação por via oral sendo que a concentração do bicarbonato sangüíneo
é inviável, recomendando-se avaliação periódica dos deve ser avaliada no período de 10 a 14 dias, após o
valores séricos de potássio (RUBIN, 1997; SPARKES, início do tratamento (POLZIN & OSBORNE, 1997;
1998). Atualmente, alguns estudos têm recomendado RUBIN, 1997).
suplementação com baixas doses (2mEq/animal/dia)
de potássio para todos os gatos com insuficiência renal Hipertensão Arterial
crônica (RUBIN, 1997; SPARKES, 1998). A hipertensão arterial é outra das complicações
que podem ser observadas durante a evolução da IRC.
Geralmente, a hipertensão é clinicamente assintomática
ou somente é detectada quando os pacientes exibem
manifestações oculares (Figuras 5 e 6) (POLZIN &
OSBORNE, 1997; RUBIN, 1997). Acredita-se que a
hipertensão arterial desempenhe um papel importante
na progressão da lesão renal, na hipertrofia cardíaca e
em manifestações neurológicas, porém ainda não exis-
tem provas conclusivas (POLZIN & OSBORNE, 1997).
O diagnóstico e o tratamento da hipertensão em cães
e gatos são problemáticos, pois ainda não foi possível
estabelecer os valores de pressão arterial fidedignos
que acarretem no início das lesões nos órgãos, princi-
FIGURA 4: Felino apresentando fraqueza muscular generalizada palmente nos rins (POLZIN & OSBORNE, 1997).
secundária, a hipopotassemia. Foto: Ricardo Duarte Silva.
Acidose metabólica
A correção da acidose metabólica é muito
importante na terapia da IRC nos cães e gatos, uma
vez que a acidose parece estar envolvida na gênese
de algumas manifestações observadas, tais como a
perda de massa muscular, a desmineralização óssea e
o aumento na amoniagênese renal (BROWN, 1998a;
POLZIN & OSBORNE, 1997; RUBIN, 1997; SENIOR,
1994; SPARKES, 1998). Existem claros benefícios clíni-
cos no controle da acidose metabólica, entre os quais a
melhor adaptação do animal à dietas hipoprotéicas pela FIGURA 5: Retinopatia hipertensiva em felino com insuficiência
prevenção dos efeitos catabólicos da acidose (POLZIN renal crônica. Foto: Paola Lazaretti.
& OSBORNE, 1997; RUBIN, 1997).
O objetivo da terapia é manter as concentrações
sangüíneas de bicarbonato entre 17 e 22mEq/L (POL-
ZIN & OSBORNE, 1997). Como os efeitos negativos
da acidose ocorrem já com a redução moderada nas
concentrações de bicarbonato, a acidose é comumente
corrigida pela suplementação com bicarbonato de sódio
por via parenteral ou oral (84g de bicarbonato de sódio
em 1 litro de água, sendo esta solução conservada em
geladeira e administrada na quantidade de 1 a 1,5ml
para cada 10kg de peso, por via oral ou junto com o
alimento) (POLZIN & OSBORNE, 1995), quando a con-
centração deste declina para valores iguais ou menores
que 17mEq/ L (POLZIN & OSBORNE, 1997; RUBIN,
1997). Caso seja necessária a restrição de sódio,
recomenda-se substituir o bicarbonato de sódio por
citrato de potássio ou carbonato de cálcio, sendo este
último contra-indicado em pacientes com hipercalcemia FIGURA 6: Retinopatia hipertensiva em um cão com insuficiência
(SENIOR, 1994). renal crônica. Foto: Paola Lazaretti.
65 MedveP - Revista Brasileira de Medicina Veterinária - Pequenos Animais
e Animais de Estimação, Curitiba, v.1, n.1, p.62-69, 2003
Tratamento da Insuficiência Renal Crônica em Cães e Gatos
Estudos preliminares relatam que a hipertensão monal com eritropoetina recombinante humana. O uso
existe quando a pressão sistólica sangüínea ultrapassa da eritropoetina é indicado quando os valores de he-
184mm de Hg em cães e 161mm de Hg em gatos, matócrito declinam para menos de 30% nos cães e 20
ou quando a pressão diastólica sangüínea ultrapassa – 25% nos gatos, quando os sinais clínicos observados
130mm de Hg em cães e 125mm de Hg em gatos, no animal podem ser atribuídos, em parte, à gravidade
ou ainda quando a pressão arterial média ultrapassa da anemia (COWGILL, 1995; POLZIN & OSBORNE,
152mm de Hg em cães e 138mm de Hg em gatos 1997; RUBIN, 1997; SENIOR, 1994; SPARKES, 1998).
(POLZIN & OSBORNE, 1997; RUBIN, 1997), em três Com o uso da eritropoetina, espera-se um aumento no
mensurações com um intervalo mínimo de uma semana hematócrito que é dose-dependente, havendo restau-
para cada mensuração (POLZIN & OSBORNE, 1997; ração dos valores normais de hematócrito e a melhora
RUBIN, 1997). A intervenção terapêutica imediata é do estado geral do animal num período de 2 a 8 sema-
indicada nos pacientes com lesões oculares consisten- nas (POLZIN & OSBORNE, 1997; RUBIN, 1997). As
tes devido à retinopatia hipertensiva, aliada a valores doses recomendadas variam de 50 a 150 UI por quilo
de pressão sangüínea, excedendo os estabelecidos, de peso, porém recomenda-se uma dose inicial de 100
e para pacientes que, na ausência de condição de UI por quilo de peso, administrada por via subcutânea
estresse, apresentem valores de pressão sistólica que três vezes por semana, até que se atinjam os valores
ultrapassem 200mm de Hg (BROWN, 1998a; POLZIN de hematócrito de 30–40% para gatos e 37–45% para
& OSBORNE, 1997; RUBIN, 1997; SPARKES, 1998). cães, recomendando-se, posteriormente, a diminuição
A terapia da hipertensão arterial associada com da dose (POLZIN & OSBORNE, 1997; RUBIN, 1997;
a IRC deve ser iniciada cautelosamente, sendo neces- SPARKES, 1998). Cabe lembrar que o uso da eritropo-
sária a avaliação freqüente dos níveis séricos de uréia etina recombinante humana não é aprovado para os
e creatinina (POLZIN & OSBORNE, 1997). Até o cães e gatos, recomendando-se, portanto, o termo de
momento, o único benefício comprovado da terapia ciência do proprietário sobre a sua utilização.
anti-hipertensiva, em cães e gatos, é a reversão e pre- Os problemas mais comuns associados à terapia
venção das manifestações oculares que podem ocorrer com eritropoetina nos cães e gatos são o desenvolvimento
na hipertensão (BROWN et al., 1997; (POLZIN & de anticorpos anti-eritropoetina, convulsões, hipertensão
OSBORNE, 1997). sistêmica, hiperpotassemia e trombocitose (POLZIN &
Os inibidores da enzima conversora de angioten- OSBORNE, 1997; RUBIN, 1997; SPARKES, 1998).
sina, como o enalapril (0,5mg/kg a cada 12 ou 24 horas A suplementação oral ou parenteral de ferro é
por via oral) e o benazepril (0,25 a 0,5mg/kg a cada 24 utilizada para prevenir a deficiência desse mineral de
horas por via oral), são os medicamentos de primeira forma a facilitar a atividade da eritropoetina (POLZIN
escolha no tratamento da hipertensão sistêmica em & OSBORNE, 1997; RUBIN, 1997; SPARKES, 1998). A
cães. Nos gatos, os bloqueadores de canais de cálcio, suplementação oral com sulfato ferroso é preferida e
como a amlodipina (0,625 – 1,25mg/dia), são os fár- as doses recomendadas são 50 a 100mg/dia para gatos
macos de primeira escolha (BROWN, 1998a, 1998b; e 100 a 300mg/dia para cães (PAPICH, 2000). Reco-
POLZIN & OSBORNE, 1997; RUBIN, 1997; SPARKES, menda-se também a administração inicial de sulfato
1998). Um estudo recente, com o uso do benazepril ferroso, antes da administração da eritropoetina, pois
em felinos com IRC induzida, demonstrou significante alguns animais podem apresentar melhora do quadro
diminuição na hipertensão arterial sistêmica e manu- anêmico somente com a suplementação.
tenção de valores mais altos de filtração glomerular As transfusões sangüíneas são indicadas para pacien-
nos indivíduos tratados em relação ao grupo controle tes que apresentam uma anemia intensa, com valores de
(BROWN et al., 2001). A restrição dietética de sódio é hematócrito que variam de 10 a 15%, ou menos, depen-
recomendada para melhorar a efetividade dos agentes dendo da gravidade dos sinais clínicos (WEISER, 1992).
farmacológicos (BROWN, 1998a; 1998b; POLZIN &
OSBORNE, 1997; RUBIN, 1997). Hiperparatireoidismo secundário renal
Para a redução dos efeitos do hiperparatireoi
Anemia dismo secundário renal e de suas alterações ósseas,
Na IRC, também é relativamente comum o desen- recomenda-se a suplementação com baixas doses de
volvimento de anemia normocítica, normocrômica e não- vitamina D3 ativada (calcitriol), associada a uma restri-
regenerativa, que muitas vezes favorece a manifestação ção dietética de fósforo (BROWN et al., 1997; POLZIN
de letargia, fraqueza muscular, anorexia e perda de peso. & OSBORNE, 1997; RUBIN, 1997; SENIOR, 1994;
Vários fatores favorecem o aparecimento da anemia, SPARKES, 1998). O uso do calcitriol é justificado devi-
sendo o principal a diminuição da síntese de eritropoetina do aos seus efeitos na absorção intestinal de cálcio, na
pelos rins (CHEW & DIBARTOLA, 1992; POLZIN & liberação de cálcio e fósforo nos ossos, na reabsorção
OSBORNE, 1997; RUBIN, 1997; SENIOR, 1994). renal de cálcio e fósforo e na supressão da secreção
Para corrigir a anemia arregenerativa, a terapia do paratôrmonio (BROWN et al., 1997; POLZIN &
mais efetiva disponível atualmente é a reposição hor- OSBORNE, 1997; RUBIN, 1997).
Recomenda-se que a suplementação com calcitriol os resultados observados têm diferido em muitos as-
seja iniciada precocemente no decurso da insuficiência pectos daqueles observados em roedores (BROWN,
renal crônica (RUBIN, 1997). As dosagens recomendadas 1992; BROWN et al., 1997; CHURCHILL et al., 1992;
variam de 1,5–6,6mg por quilo de peso/dia, por via oral, KRONFELD, 1993).
fornecidas separadamente das refeições, sendo que a A restrição dietética de proteína é indicada para
terapia só deve ser instituída quando os valores séricos cães e gatos com IRC, com o objetivo de reduzir a pro-
de fósforo estiverem abaixo de 6mg/dl, por isso o animal dução de toxinas urêmicas nos animais em estágio grave
deve ter a hiperfosfatemia controlada anteriormente da doença, bem como na fase inicial do processo, com
com restrição do fósforo dietético e, se necessário, com o objetivo de diminuir a progressão das lesões renais e,
quelantes intestinais de fósforo (BROWN et al., 1997; conseqüentemente, da doença (BROWN et al., 1997).
POLZIN & OSBORNE, 1997; RUBIN, 1997). A terapia Para animais urêmicos, a restrição protéica é aceita como
com calcitriol deve ser baseada em sucessivas avaliações apropriada e muito recomendada, porém para animais
dos valores séricos de paratormônio e na mensuração em estágio inicial da IRC o seu uso é controverso e não
rotineira dos valores séricos de fósforo e de cálcio comprovado cientificamente (BROWN et al., 1997;
ionizado durante o tratamento (BROWN et al., 1997; POLZIN & OSBORNE, 1997; RUBIN, 1997).
POLZIN & OSBORNE, 1997; RUBIN, 1997). Como os roedores, os cães e gatos também desen-
A despeito dos potenciais efeitos benéficos nos volvem hipertensão glomerular quando ocorre redução
pacientes com IRC, a terapia com calcitriol deve ser significativa na massa renal, justificando, a princípio, o uso
instituída com grande cuidado, devido à hipercalcemia, de dietas hipoprotéicas no controle da progressão da
que é uma complicação potencialmente séria (BROWN insuficiência renal nesses animais (BROWN et al., 1997).
et al., 1997; POLZIN & OSBORNE, 1997; RUBIN, No entanto, a restrição protéica não se tem mostrado
1997). No entanto, CHEW et al. (1992) relataram que eficaz em controlar a hipertensão e a hiperfiltração
a hipercalcemia é um efeito colateral pouco comum, glomerular que se desenvolvem nos cães e gatos com
quando o calcitriol é administrado em baixas doses como redução na massa renal funcionante, como ocorre nos
as recomedadas (POLZIN & OSBORNE, 1997). roedores (BROWN, 1992; BROWN et al., 1997).
Assim, até o momento, não existe base científica
para o uso de dietas hipoprotéicas em animais com
O PAPEL DA TERAPIA DIETÉTICA IRC em estágio inicial, com o objetivo de controlar a
progressão das lesões renais e prevenir o agravamento
NO CONTROLE DA INSUFICIÊNCIA da doença (COWGILL, 1998; FINCO et al., 1998b;
POLZIN & OSBORNE, 1997).
RENAL CRÔNICA Para os cães e gatos com insuficiência renal, a
A terapia dietética é uma das bases do tratamento restrição protéica na dieta é indicada para os animais
de animais com IRC e, embora alguns aspectos do seu com hiperazotemia moderada, ou seja, com valores de
uso sejam ainda controversos, é amplamente utilizada creatinina sérica acima de 2,5mg/dl e de uréia sérica
e recomendada (RUBIN, 1997; SENIOR, 1994). Os ob- acima de 170mg/dl, sendo o objetivo manter os níveis
jetivos da terapia dietética são: reduzir ou melhorar os séricos de uréia abaixo de 128mg/dl (CASE et al.,
sinais clínicos da uremia pela diminuição da produção de 1995; COWGILL, 1995; FINCO et al., 1998b; POZIN
compostos tóxicos derivados do catabolismo protéico; & OSBORNE, 1997).
minimizar os distúrbios eletrolíticos, vitamínicos e mi- Para cães com insuficiência renal moderada, re-
nerais associados ao excessivo consumo de proteína e comenda-se uma dieta que forneça de 1,6–2 gramas
de alguns minerais; fornecer as quantidades adequadas de proteína por quilo de peso a cada dia (CASE et al.,
de proteína, calorias e minerais diariamente; diminuir 1995), esses valores podem ser atingidos com dietas que
a progressão da insuficiência renal (RUBIN, 1997). apresentam níveis de proteína que variam de 12% a 28%
na matéria seca. Para animais com doença renal grave, os
níveis devem variar de 5% a 15% na matéria seca (CASE
A proteína et al., 1995). Para felinos, recomenda-se que aproxima-
Dietas hipoprotéicas têm sido recomendadas damente 21% da energia bruta que o animal recebe na
para animais com IRC desde 1948 (RUBIN, 1997). Essa dieta seja composta por proteínas (RUBIN, 1997).
recomendação foi baseada inicialmente em estudos As fontes de proteínas da dieta devem ser de alto
com roedores, havendo naquela época poucos dados valor biológico para fornecer os aminoácidos essenciais
disponíveis derivados de estudos realizados em cães e nas proporções e quantidades adequadas (COWGILL,
gatos (BROWN et al., 1997; CHURCHILL et al., 1992; 1998). É importante ressaltar que as dietas terapêuti-
GONIN-JMAA & SENIOR, 1995; KRONFELD, 1993). cas devem ser fornecidas em quantidades adequadas,
A partir de 1979, uma série de experimentos analisando para evitar a desnutrição e maior comprometimento
o papel da restrição protéica no desenvolvimento da da composição corporal (COWGILL, 1998; RUBIN,
IRC em cães e gatos tem sido realizada, sendo que 1997).
67 MedveP - Revista Brasileira de Medicina Veterinária - Pequenos Animais
e Animais de Estimação, Curitiba, v.1, n.1, p.62-69, 2003
Tratamento da Insuficiência Renal Crônica em Cães e Gatos
Várias condutas terapêuticas, dietética e medi- única conduta terapêutica que abranja todos os itens
camentosa são apresentadas e discutidas na literatura comentados nessa revisão. Em relação ao tratamento
mundial. Assim, torna-se de extrema importância o dietético, vários estudos encontram-se em andamento,
conhecimento adequado no atinente aos efeitos bené- pois muitos conceitos até então propostos foram ex-
ficos, bem como daqueles possíveis efeitos colaterais. trapolados de pesquisas realizadas em outras espécies
Portanto, apesar das terapias serem amplamente animais, principalmente nos roedores, e isso tem gera-
preconizadas, ainda suscitam-se muitas dúvidas, con- do muitas controvérsias entre os pesquisadores.
trovérsias e discussões. Assim, urge a necessidade do desenvolvimento de
Face à possibilidade do diagnóstico da IRC ocor- estudos mais complexos que possam dirimir as dúvidas
rer em vários estágios da doença, a indicação da terapia a respeito da IRC e do seu tratamento, favorecendo-se,
deve ser analisada de acordo com cada caso clínico, não assim, uma maior sobrevida dos cães e gatos e assegu-
sendo recomendada a preconização de apenas uma rando, acima de tudo, uma boa qualidade de vida.
LUSTOZA, M.D.; KOGIKA, M.M. Treatment of chronic renal failure in dogs and cats. Rev Bras Med Vet – Peq Anim Anim Estim, Curitiba, v.1, n.1,
p.62-69, jan./mar. 2003.
Chronic Renal Failure (CRF) has been observed in dogs and cats with relative frequency. Kidney failure occurs
when at least 2/3 to ¾ of nephrons are lost, condition in which the kidneys are not able to maintain their
compensatory capacity, and clinical signs may occur. As the clinical signs are not specific for the disease, the
assessment of complementary exams is required to establish the diagnosis. Although the definitive recover
of the CRF does not occur, many medical treatments are considered in order to improve the quality of life,
as well as to prolong lifetime. The goal of this review is concerning about some important maintenance the-
rapies that have been recommended for dogs and cats with CRF.
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