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Atualidades
Fascículo 06
Cinília Tadeu Gisondi Omaki
Maria Odette Simão Brancatelli
Índice

Bálcãs ainda são “barril de pólvora”.............................................................................................1


Exercícios............................................................................................................................................2
Gabarito.............................................................................................................................................2

Esquerdas viram o jogo..................................................................................................................3


Exercícios............................................................................................................................................4
Gabarito............................................................................................................................................ 4
Bálcãs ainda são “barril de pólvora”

Os Bálcãs, com suas montanhas e vales, foram ocupados por diferentes povos e
submetidos por vários impérios. Neste explosivo mosaico cultural alternaram-se dominadores e
dominados.
Há séculos, interesses diversos vêm justificando ódios, vinganças e genocídios.
Sobreviventes de extermínios passaram a agentes de nova “purificação racial”, alianças antigas
cederam espaço a novas lutas, frágeis períodos de paz interromperam guerras na península.
A Guerra de Kosovo, província sérvia de maioria albanesa, somente pode ser
compreendida se retornarmos ao ano de 1389, quando o coração do Império Sérvio, Kosovo, foi
conquistado pelos turcos otomanos.
Os sérvios de origem eslava mantiveram-se cristãos ortodoxos, já os bósnios (também
eslavos) e os kosovares de origem albanesa converteram-se ao islamismo. Tensões nacionalistas e
intolerância religiosa levaram os primeiros ao êxodo e à deportação: começou uma “limpeza étnica”.
Com o enfraquecimento do Império Turco, a Sérvia conquistou sua independência em
1878 e, com as Guerras Balcânicas (1912-13), ampliou seu território. Defendendo o pan-eslavismo e a
formação da “Grande Sérvia”, chocou-se com o Império Austro-Húngaro – uma das causas da
Primeira Guerra (1914-18).
Terminada a guerra, formou-se o Reino dos Sérvios, Croatas e Eslovenos (depois
Iugoslávia), sob hegemonia dos primeiros, que submeteram Kosovo, “berço de sua identidade
nacional”. Kosovares migraram para a Turquia e os sérvios tornaram-se maioria da população.
Josip Tito, líder carismático da resistência sérvia à ocupação nazista, transformou a
Iugoslávia numa federação: Eslovênia, Croácia, Bósnia-Herzegovina, Sérvia, Montenegro e Macedônia,
conciliada sob o lema “Irmandade e Unidade”.
No país “havia seis repúblicas, cinco povos, quatro línguas, três religiões, dois alfabetos e
um partido, o comunista” (Norman Stone), onde se desenvolveu um socialismo peculiar, aberto ao
exterior.
Em 74, Tito concedeu relativa autonomia às províncias sérvias de Kosovo (albanesa) e
Vojvodina (húngara). Minoria desde a ocupação nazista, os sérvios foram perseguidos por autoridades
kosovares, acirrando o revanchismo.
O fim da URSS, as mudanças no Leste Europeu, as diversidades e a afirmação nacionalista
desagregaram a federação iugoslava, já fragilizada desde a morte de Tito em 80. O país ficou limitado
à Sérvia e Montenegro.
Eslovênia, Croácia e Macedônia declararam sua independência em 91; a
Bósnia-Herzegovina, no ano seguinte, provocando uma violenta guerra. Os sérvios massacraram os
muçulmanos bósnios, promovendo uma “limpeza étnica”. Em 95, após uma ação internacional, o
conflito terminou com o Acordo de Dayton.
A suspensão da autonomia de Kosovo pelo líder sérvio Slobodan Milosevic, em 89, gerou
um movimento separatista, que passou à luta armada com a formação do Exército de Libertação de
Kosovo (ELK), apoiado pela Albânia.
Recusando-se a perder mais territórios, Milosevic intensificou a repressão à província em
98, com a justificativa de proteger os sérvios. Uma nova “purificação étnica” se seguiu.
Fracassadas as negociações de paz em fevereiro de 1999, a Otan realizou uma polêmica
ação militar, a primeira num país europeu soberano, alegando razões humanitárias.
Em maio, foi apresentado pelo G-8 (Rússia e o grupo dos sete países mais ricos) um plano
comum de paz. Após 78 dias de bombardeios, a província destruída foi ocupada por tropas da Otan e
uma missão de paz da ONU, que vêm organizando a administração, repatriando refugiados,
desarmando o ELK e protegendo a minoria sérvia.
A “guerra cirúrgica” – ataques aéreos bem planejados, de grande altitude e sem riscos
para os atacantes – foi mais interessante na teoria do que na prática. As informações sobre as ações

1
da Otan na campanha de Kosovo apresentaram um saldo constrangedor: a comissão da Força Aérea
dos Estados Unidos encontrou provas de cerca de 10% dos ataques alegados, além da explosão, por
engano, da Embaixada da China, em Belgrado.
Nessa guerra constatou-se que, com alta tecnologia, é possível acertar alvos fixos das
alturas, mas os móveis são praticamente inatingíveis, gerando mais mortes entre a população
indefesa. O desastre causado na infra-estrutura da região foi tão grande que facilitou a aceitação da
derrota por Milosevic, com a retirada de Kosovo.
Mesmo com a presença de uma força de paz internacional e o retorno para casa da
maioria dos kosovares albaneses, as represálias continuam, demonstrando quão frágil é a paz na
região. Isso reforça a idéia de que os Bálcãs continuam sendo “um barril de pólvora”, nos quais foi
aceso o pavio que detonou a Primeira Guerra Mundial...

Maria Odette Simão Brancatelli e Cinília T. Gisondi Omaki são professoras de História do Colégio
Bandeirantes.
Texto publicado no Caderno Fovest, Folha de São Paulo, 05/11/1999, e atualizado no início de
setembro de 2000 para o Portal.

Exercícios

01. (Fuvest-SP) O fator histórico responsável pela existência de uma maioria muçulmana no território da
Bósnia-Herzegovina, encravado no coração da ex-Iugoslávia, foi:
a. a conquista e dominação da península balcânica pelos turcos otomanos durante a Época Moderna;
b. a fuga em massa, para aquele território, de eslavos muçulmanos para escapar da dominação russa
depois da Primeira Guerra Mundial;
c. a expansão árabe, durante a Idade Média, que resultou na ocupação parcial das três penínsulas da
Europa meridional: a ibérica, a itálica e a balcânica;
d. a criação da atual República da Turquia, depois da Primeira Guerra Mundial, que obrigou os
muçulmanos não-turcos a abandonarem o país;
e. a própria natureza da religião islâmica que, estimulando seus seguidores a intenso proselitismo,
levou-os a ocupar quase todos os lugares onde o catolicismo não se estabelecera anteriormente.

02. (UFJF-MG) Sobre os conflitos que atingem a antiga Iugoslávia, marque a alternativa errada:
a. trata-se de um dos mais antigos conflitos europeus, cujas raízes, dentre outras, encontram-se na
diversidade étnica dos povos que habitam as várias unidades políticas da região;
b. um dos momentos significativos dos conflitos na região ocorre às vésperas da Primeira Guerra
Mundial, com as chamadas Guerras Balcânicas;
c. a crise do Leste europeu favoreceu a fragmentação da região, levando à eclosão das rivalidades
nacionais;
d. após a Segunda Guerra Mundial, com a liderança de Tito, a Iugoslávia manteve-se unida sob
economia capitalista;
e. um traço marcante do conflito é a diversidade religiosa que opõe, genericamente,
cristãos-ortodoxos, católicos e muçulmanos.

Gabarito

01. Alternativa a.
02. Alternativa d.

2
Esquerdas viram o jogo

1999 foi um ano de eleições presidenciais históricas em três países do Cone Sul. Alguns
analistas afirmam que houve “uma guinada à esquerda”, sinalizando uma “terceira via latina”.
Coalizões de esquerda chegam democraticamente ao poder com um programa
moderado. Defendem a privatização e a integração em blocos, mas inovam com outras prioridades:
emprego, distribuição de renda e política social.
Em outubro de 1999, as urnas argentinas proclamaram a vitória de Fernando de la Rúa,
candidato da Aliança – União Cívica Radical (UCR) e Frente País Solidário. Foi a primeira vez que o
Partido Justicialista, estando no governo, não fez o sucessor.
A vitória da Aliança encerrou a “era Menem” (1989-99). O modelo neoliberal, a
dolarização e a neutralização dos sindicatos afastaram Carlos Menem das bases do peronismo. Este
seduziu as massas urbanas com propostas nacionalistas e modernizadoras após a Segunda Guerra.
Principal agente do desenvolvimento industrial, o Estado paternalista alicerçava-se no
carisma de Juan Domingo Perón. Medidas concretas de justiça e bem-estar social beneficiaram os
“descamisados”. Definiu-se o justicialismo, que sobreviveu à queda de Perón (1955), garantiu sua
reeleição (1973) e se perpetuou após sua morte (1974), apesar da “guerra suja” da violenta ditadura
militar (1976-83).
A derrota argentina na Guerra das Malvinas (1982) desencadeou a redemocratização.
Eleições livres em 1983 deram vitória à UCR; em 1989, ao peronismo, com Menem; em 1999, a De la
Rúa.
No início de 2000, o presidente recém-empossado fez ajustes na economia e reformas na
legislação trabalhista. Além de duras críticas da oposição e de amplos setores da sociedade, denúncias
de suborno de senadores ligados à aprovação das medidas provocaram crise política no país.
No Uruguai, a vitória de Tabaré Vázquez no primeiro turno, pela Frente Ampla-Encontro
Progressista, quebrou o monopólio de antigos rivais. O Partido Colorado e o Nacional (“Blanco”),
criados em 1836, só não governaram o país durante a ditadura militar (73-85). Para derrotar Vázquez,
os velhos partidos fizeram uma inédita aliança. Venceu, por fim, o candidato Jorge Battle.
Esse panorama político influenciou a eleição de dezembro de 1999 no Chile. Foi eleito o
socialista Ricardo Lagos, que integrava a coalizão governista Concertación, no poder desde 1990, com
o fim da ditadura do general Augusto Pinochet.
Em 1973, um sangrento golpe militar sepultou um presidente e uma experiência única na
América: o marxista Salvador Allende, eleito em 1970, que pretendia implantar o socialismo de forma
gradual. O reformismo gerou reação interna e dos EUA, derrubando o governo. Sob o autoritarismo
de Pinochet, o Chile se modernizou economicamente, mas às custas das liberdades, restabelecidas a
partir do final dos anos 80.
Preso em Londres a pedido de um juiz espanhol, Pinochet era acusado de violação dos
direitos humanos durante sua presidência (1973-90).
Após um longo e polêmico processo, o general pôde deixar a prisão domiciliar em
Londres em março de 2000. No entanto, em agosto último, a Corte Suprema do Chile anunciou
oficialmente a retirada da imunidade parlamentar do ex-ditador. Tal decisão permitirá que Pinochet
seja processado, em seu país, por crimes contra os direitos humanos.
Num passado recente, ditaduras militares e repressão sufocaram as forças de esquerda na
Argentina, Uruguai e Chile. No fim da década de 90, essas forças voltam à cena política renovadas e
afinadas com a “terceira via” do 1.o ministro britânico Tony Blair, meio-termo entre o capitalismo e o
socialismo.
O resultado dessas eleições mostra que a sociedade quer neutralizar os custos sociais da
globalização.

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Maria Odette Simão Brancatelli e Cinília T. Gisondi Omaki são professoras de História do Colégio
Bandeirantes.
Texto publicado no Caderno Fovest, Folha de São Paulo, 12/11/1999, e atualizado no início de
setembro de 2000 para o Portal.

Exercícios

01. (Fuvest-SP) Os governos de Getúlio Vargas (1930-45/1951-54), no Brasil, de Juan Domingo Perón
(1946-55), na Argentina, de Victor Paz Estensoro (1952-56/1960-64), na Bolívia, e de Lázaro Cárdenas
(1934-40), no México, foram alguns dos mais significativos exemplos do populismo latino-americano
que se caracterizou notadamente:
a. pela aliança com as oligarquias rurais na luta contra os movimentos de caráter socialista;
b. pelo predomínio político do setor agrário-exportador em detrimento do setor industrial;
c. pelo nacionalismo e intervenção do Estado na economia, priorizando o setor industrial;
d. por propostas radicais de mudanças nas estruturas socioeconômicas, em oposição ao capitalismo
internacional;
e. por ter concedido às multinacionais papel estratégico nos setores agrário e industrial.

02. (Vunesp-SP) “Um conjunto de normas mais ou menos semelhantes se impôs na Argentina após 1976,
no Uruguai e no Chile, depois de 1973, na Bolívia quase ininterruptamente, no Peru, de 1968 até
1979, no Equador, de 1971 a 1978.”
Clóvis Rossi
Assinale a alternativa que melhor expressa o conjunto de normas de exceção que marcaram a
trajetória político-institucional dos países latino-americanos, indicados no texto:
a. Dissolução de partidos e sindicatos, com objetivo de estabelecer uma nova ordem democrática e
popular;
b. Domínio político das organizações guerrilheiras;
c. Extinção dos partidos políticos, intervenção nos sindicatos e suspensão das eleições diretas;
d. Política externa alinhada automaticamente à União das Repúblicas Socialistas Soviéticas e ao bloco
do Leste;
e. Formação de uma frente parlamentar, para revisão constitucional.

03. (Fatec-SP) O que gerou o fim do governo da Unidade Popular no Chile, eleito em 1970, sob a
presidência de Salvador Allende:
a. foi a instalação de uma ditadura do proletariado, cerceando as liberdades fundamentais;
b. foi o golpe militar colocando no poder o general Augusto Pinochet, que iniciou um processo de
desnacionalização, liberdade de importação e violenta repressão;
c. foram as eleições livres que levaram ao poder o democrata-cristão Eduardo Frei;
d. foram as eleições livres que colocaram no poder o general Augusto Pinochet;
e. foi a guerra entre o Chile e a Argentina.

Gabarito

01. Alternativa c.
02. Alternativa c.
03. Alternativa b.

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