Ri - 0048020-19.2014.8.05.0001

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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA

2ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS


Processo Nº. : 0048020-19.2014.8.05.0001

Classe : RECURSO INOMINADO


Recorrente(s) : BANCO FIAT S A

Recorrido(s) : ALVARO RAIMUNDO BRITO DE ARAUJO

Origem : 1ª VSJE DO CONSUMIDOR (MATUTINO


Relatora Juíza : MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE

VOTO- E M E N T A

RECURSO INOMINADO. CONSUMIDOR. EXECUÇÃO. DESCUMPRIMENTO DE


LIMINAR. CONDENAÇÃO DO BANCO DEMANDADO NA OBRIGAÇÃO DE
FAZER, CONSISTENTE NA BAIXA DO GRAVAME JUNTO AO DETRAN. RÉ
QUE ALEGA IMPOSSIBILIDADE EM VIRTUDE DE DESAPARECIMENTO DOS
AUTOS FÍSICOS.EVENTO QUE NÃO DESCONSTITUI O DEVER DE BAIXA..
FALHA NA PRESTAÇÃO DOS SERVIÇOS. CONVERSÃO DA MULTA DIÁRIA EM
PERDAS E DANOS EX OFFICIO. FIXAÇÃO DO VALOR DE ACORDO COM
CRITÉRIOS QUE ATENDAM AOS PARÂMETROS DA RAZOABILIDADE E
PROPORCIONALIDADE ANTE AS CIRCUNSTÂNCIAS DO CASO.
POSSIBILIDADE. ART. 537 DO CPC. CAPÍTULO DA DECISÃO QUE FIXA
ASTREINTES NÃO TRANSITA EM JULGADO, CABÍVEL O CONTROLE
JUDICIAL PARA REDUÇÃO DA MULTA OU CONVERSÃO EM PERDAS E
DANOS. SENTENÇA PARCIALMENTE REFORMADA.
1. Trata-se de recurso inominado interposto contra decisão que julgou
improcedente embargos á execução, nestes termos: “No que tange ao mérito, sem
razão a embargante.Isto porque, considerando o desaparecimento dos autos
nº001.1998.024027-2, em trâmite na 5ª Vara Cível da Comarca de Recife/PE, frise-
se, ação ajuizada pela embargante, ela deveria ter diligenciado no sentido de
ajuizar ação de restauração dos autos com o fim de poder requerer naqueles autos
a baixa do gravame judicial, o que não fez até a presente data.”
2. A parte autora ajuizou ação buscando indenização por danos morais em virtude da
negligência do réu em providenciar a baixa do gravame do veículo, cujo
financiamento fora quitado desde 2003.

A sentença proferida não merece reforma, exceto no tocante ao quantum


arbitrado a título de astreintes. Com efeito, a alegação da ré, de que quedou-se
impossibilitada de providenciar a baixa em virtude do desaparecimento dos autos do
processo nº001.1998.024027-2, que tramitou na 5ª Vara Cível da Comarca de Recife/PE,
não é suficiente para eximi-lo do dever de providenciar a baixa junto ao departamento de
trânsito, como fora determinado em decisão liminar proferida nestes autos. O fato do
desaparecimento dos autos não desconstitui o dever imposto da regularização da
situação do veículo, máxime levando em consideração os potenciais e presumidos danos
causados ao consumidor, em virtude da existência da mencionada restrição, incumbindo à
demandada a adoção de medidas tendentes a solucionar o impasse, incluindo-se o
ajuizamento de ação de restauração de autos, para que fosse expedido o ofício pelo juízo
no qual houve a tramitação do feito.

A jurisprudência é uníssona no concernente à obrigação da instituição financeira


credora de dar baixa no gravame quando da quitação do contrato, consoante os seguinte
julgado:

1. PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. CONTRATO


DE FINANCIAMENTO QUITADO. BAIXA DE GRAVAME DO
VEÍCULO NÃO REALIZADA. OBRIGAÇÃO DA INSTITUIÇÃO
FINANCEIRA. MANUTENÇÃO DO ÔNUS NO SISTEMA DO
DETRAN/DF. PEDIDO LIMINAR DEFERIDO. AGRAVO PROVIDO.
1. Cuida-se de agravo de instrumento interposto contra decisão
que indeferiu pedido de antecipação de tutela para que fosse
determinada ao banco agravado a baixa de gravame de alienação
fiduciária, junto ao DETRAN, de veículo cujo financiamento foi
quitado. 2. Na hipótese, já foi declarada, em outro feito transitado
em julgado, a quitação do contrato de financiamento firmado
pelas partes. 2.1. Apesar disto, o banco não procedeu à baixa do
gravame junto ao DETRAN, o que impede a alienação do veículo a
terceiros. 3. Cumpre à instituição financeira promover a
regularização do gravame, junto ao DETRAN, após a quitação do
contrato de financiamento, nos termos do art. 9º da Resolução
320/2009 do CONTRAN. 4. No caso dos autos, patente a
irregularidade da incidência de gravame sobre o referido veículo,
devendo ser assegurado ao agravante o direito de ver baixada a
restrição de reserva de domínio. 5. Liminar deferida. 5.1. Agravo
provido.

2. Inobstante., entendo que o montante das astreintes em tela não atende


aos parâmetros da razoabilidade e proporcionalidade. Inicialmente, ressalvo que é
sabido que as astreintes constituem instrumento de direito processual para
prevenir ou reprimir qualquer ato contrário à dignidade da justiça, funcionando
como medida coercitiva ao cumprimento dos comandos sentenciais, sem caráter
indenizatório. É, como tal, reprimenda para o ato da parte litigante que resiste ao
cumprimento de uma decisão judicial.

3. Enquanto viável o cumprimento da obrigação, a incidência da multa


continuará, em tese, inteiramente cabível. No entanto, não se pode perder de vista
que o objetivo da astreinte é compelir o cumprimento da obrigação, não sendo fim
em si mesma, razão pela qual em se verificando que o arbitramento não atingiu a
finalidade colimada, por qualquer razão, inclusive pela própria demora no
cumprimento da obrigação, inteiramente prejudicial ao credor, a multa não tem
razão de persistir, sendo indevida a perpetuação, cabendo ao juiz adotar as
providências capazes de dar efetividade ao provimento judicial, com adoção de
outras medidas coercitivas, especialmente as enumeradas no art..537,§ ,1o do
CPC ou através da obtenção do resultado equivalente ao adimplemento, o que põe
fim ao acúmulo das astreintes, mas não ao dever do pagamento do valor apurado.

4. Insta ressaltar que, em que pese a redação definida no art.537 do CPC em


vigor, que dispõe que “ o juiz poderá, de ofício ou a requerimento , modificar
o valor ou a periodicidade da multa vincenda ou excluí-la”, e atentando para
as discussões que já surgem no âmbito jurisprudencial acerca da
possibilidade ou não de redução da multa já transcorrida, entendo pela
possibilidade de sua redução, quando manifestamente excessiva, a qualquer
tempo, quando presentes no caso concreto os requisitos ensejadores da
diminuição, a saber, o valor arbitrado em dissonância com os parâmetros da
razoabilidade e proporcionalidade, bem como a vedação do enriquecimento
sem causa. É dizer, não há que se falar em trânsito em julgado da decisão
que fixa as astreintes , sendo possível ao magistrado, como dito alhures, a
redução ex officio para adequação aos parâmetros da razoabilidade quando
as circunstâncias do caso indicarem ser esta a melhor medida.

5. Ademais, o STJ, em sede de recurso repetitivo, na vigência do Código


de Processo anterior, já assentara a possibilidade da redução de ofício, a
qualquer tempo, da multa diária arbitrada. Assim sendo, os parâmetros
arbitrado pelo magistrado sentenciante, no caso presente, não estão em
conformidade com os princípios da razoabilidade e proporcionalidade, sendo
no caso presente patente que a punição imposta à empresa demandada,
ainda que se reconheça o descumprimento de obrigação de fazer, ultrapassa
o caráter pedagógico e punitivo, gerando distorção e excessiva vantagem
para uma das partes, o que deve ser rechaçado pelo poder judiciário, sendo
mister a sua redução.

6.
ISTO POSTO, voto no sentido de CONHECER DO RECURSO INTERPOSTO E
DOU-LHE PARCIAL PROVIMENTO, tão somente para reduzir o quantum da
multa imposta, que arbitro em R$ 10.000,00 ( dez mil reais), corrigidos
conforme definido em sentença. Sem custas processuais e honorários
advocatícios, pelo êxito da parte no recurso.

Salvador, Sala das Sessões, 13 de Julho de 2017.


BELA. MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE
Juíza Relatora
BELA CÉLIA MARIA CARDOZO DOS REIS QUEIROZ
Juíza Presidente
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA

2ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS

Processo Nº. : 0048020-19.2014.8.05.0001

Classe : RECURSO INOMINADO


Recorrente(s) : BANCO FIAT S A

Recorrido(s) : ALVARO RAIMUNDO BRITO DE ARAUJO

Origem : 1ª VSJE DO CONSUMIDOR (MATUTINO


Relatora Juíza : MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE

ACÓRDÃO
Acordam as Senhoras Juízas da 2ª Turma Recursal dos Juizados Especiais
Cíveis e Criminais do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia, CÉLIA MARIA
CARDOZO DOS REIS QUEIROZ –Presidente, MARIA AUXILIADORA SOBRAL
LEITE – Relatora e ALBÊNIO LIMA DA SILVA HONÓRIO, em proferir a seguinte
decisão: RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO . UNÂNIME, de
acordo com a ata do julgamento. Sem custas processuais e honorários advocatícios
pelo êxito da parte no recurso.

Salvador, Sala das Sessões, 13 de Julho de 2017.


BELA. MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE
Juíza Relatora
BELA CÉLIA MARIA CARDOZO DOS REIS QUEIROZ
Juíza Presidente

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