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Foi assim que Ivan entrou para o mundo dos investimentos, formou-
se em mercado de capitais pela Universidade de Nova York e fez parte
do grupo de pessoas que criou a Bolsa brasileira.
Ivan juntou dinheiro e foi atrás do que queria. Tirou sua licença para
pilotar e tornou-se especialista em aviação.
Histórias é o que não faltam para esse torcedor tricolor. E, por isso,
selecionamos algumas de suas crônicas publicadas pela Inversa
Publicações para você aprender com quem já viu e fez de tudo no
mercado financeiro.
Boa leitura.
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1. Compre na alta, venda na baixa
2. Lição para sempre
3. O jogo dos sete erros
4. O touro é forte; o urso, rápido
5. Amarguras de um velho trader
6. Nem madrepérola nem feijão mulatinho
7. Não existem ursos no Brasil
8. Stops e objetivos
9. O mercado é forte
10. Pode ser o trade da sua vida
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Crônica 1
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Crônica 1 Compre na alta, venda na baixa
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Crônica 1 Compre na alta, venda na baixa
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Crônica 1 Compre na alta, venda na baixa
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Crônica 2
Disse o professor da NYU que tudo, mas tudo mesmo, inclusive dejetos
animais e até humanos, tem preço. E que esse preço, desde que
resultante das forças de mercado, e não de imposições de governos
totalitários e intervencionistas, é sempre justo. E mesmo nessas
ditaduras e tiranias há um preço real que flui pelos subterrâneos do
mercado negro.
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Crônica 2 Lição para sempre
“Imagina, meu Porsche zerinho, nunca deu defeito, não tem um arranhão,
o motor está tinindo, pouco saiu da garagem. Mas ninguém quer pagar
o preço de mercado. Por isso ainda não vendi.” O proprietário do carro
esportivo não percebe que, se não consegue vender, seu preço
definitivamente não é “o preço”.
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Crônica 2 Lição para sempre
“Acho que o petróleo vai estar a 57,36 dólares”, poderia ter dito um
deles, confirmando a verdade nelsonrodrigueana de que só os profetas
enxergam o óbvio.
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Crônica 2 Lição para sempre
Que tal conferir? Dê uma espiada em seu terminal. Veja por quanto
touros e ursos negociam o barril. Este número que você está vendo
aí, e nenhum outro, é o preço perfeito.
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Crônica 3
1. “Cut your losses, let your profits run” – Numa tradução livre, isso
significa: “zere seus prejuízos, deixe seus lucros crescerem”.
Isso é uma das maiores bobagens que um trader pode fazer. Fique
com as ações boas (tanto é assim que se valorizaram), livre-se das
perdedoras, através de stops curtos. Não deixe o marlim levar a isca,
o anzol, a linha, a carretilha e até você.
2. “Bulls make money, bears make money, pigs get killed”. “Touros ganham
dinheiro, ursos ganham dinheiro, porcos são mortos”.
Esse ditado de Wall Street quer dizer que aqueles que apostam na
alta ganham dinheiro; na baixa, também. Mas aqueles que compram,
vendem em dobro quando os preços começam a cair, compram
em dobro quando voltam a subir, estão sempre correndo atrás do
mercado. Se deixam influenciar pelo último movimento.
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Crônica 3 o jogo dos sete erros
A solução é simples: está convicto de que vai subir, compre sempre com
um stop prefixado. Se acha que vai despencar, venda a descoberto,
também com stop.
“Não venda”, digo eu. Se o mercado está a 25, seu preço de custo é
25. Só venda se achar que nesse nível há pouco espaço para subir. E
se perceber que a ação ficou cara demais, dê uma de espada. Venda
em dobro. Fique short ou compre puts.
Por mais que a lógica determine que preço de custo não tem a menor
importância, boa parte dos traders sempre o leva em conta. Ou faz
até pior:
“Eu sou mão firme. Não vou dar uma de otário. Só vou liquidar quando
voltar lá no meu custo, nem que tenha de morrer sentado nos papéis.”
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Crônica 3 o jogo dos sete erros
“Subiu, vende!”
Pode ser que, por alguma razão, elas até subam para R$ 2,50. Mas
não é para isso que as pessoas devem estar no mercado.
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Crônica 3 o jogo dos sete erros
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Crônica 4
Para mim, sempre foi indiferente operar nas altas ou nas quedas,
desde que eu estivesse posicionado do lado certo.
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Crônica 4 O touro é forte; o urso, rápido
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Crônica 4 O touro é forte; o urso, rápido
Uma delas era vender ações e não entregar. Apostando numa queda
forte, o vendedor pagava uma multa diária pelo atraso na liquidação.
Se o ritmo do tombo do papel era maior do que o percentual da
multa, embolsava a diferença.
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Crônica 4 O touro é forte; o urso, rápido
Previdência.
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Crônica 5
Amarguras de um velho
trader
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Crônica 5 Amarguras de um velho trader
Para a Bolsa, o período João Goulart foi ótimo por causa da reavaliação
dos ativos das empresas, que ensejou polpudas bonificações.
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Crônica 5 Amarguras de um velho trader
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Crônica 5 Amarguras de um velho trader
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Crônica 5 Amarguras de um velho trader
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Crônica 6
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Crônica 6 Nem madrepérola nem feijão mulatinho
quando sua mão é boa. Sabe carregar nas fichas quando está de posse
de um bom jogo. Ah, já ia me esquecendo, de vez em quando passa
um blefezinho, que ninguém é de ferro.
Imaginemos agora que, nas férias, você vá, com a mulher e as crianças,
para um hotel fazenda. À noite, outros hóspedes o convidam para
uma roda de pôquer. Você se faz de rogado, reluta um pouco, diz que
está com sono, que tem de acordar cedo para andar a cavalo. Mas
a verdade é que estava louco para “chorar” uma trinca de valetes e
manusear uma pilha de fichas, cada valor uma cor, ouvindo-lhes o
tilintar ao toque dos dedos.
É lógico que, na situação acima, você vai jogar mal. Não prestará a
menor atenção nas pedidas dos outros, na sua vez pedirá até quatro
cartas, quase sempre pagará para ver o jogo do adversário, mesmo
quando as evidências estejam todas a favor dele.
Você vai perder, com certeza, dois ou três cacifes, nada que venha a
desfalcar sua carteira, muito menos arruinar as férias.
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Crônica 6 Nem madrepérola nem feijão mulatinho
“Claro, só pra distrair.”, não foi sua razão que respondeu. Foi seu ego
desafiado.
Minutos mais tarde, você está sentado numa mesa forrada de feltro,
tendo a frente uma pilha de fichas de madrepérola no valor de dez mil
dólares, cacife inicial do tal “joguinho”, do qual só está participando
para não dar aos parceiros a impressão de que é frouxo, mão fraca,
chinfrim, raia miúda, segunda divisão.
Como de burro você não tem nada, passa a jogar fugindo da maioria
das mãos, tibieza da qual logo a mesa toda se dá contra. E, sem a
menor comiseração, os graúdos passam a blefar em cima de você,
mão após mão.
Tal como seria de se supor, em Saint Barth você perde também, como
acontecera no prosaico hotel fazenda. Só que, desta vez, o cacife
e meio que entregou aos espadas foi de quinze mil dólares. Tudo
porque entrou na turma errada.
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Crônica 6 Nem madrepérola nem feijão mulatinho
querer arriscar o ganho, o trader, só pra não ficar de fora, faz uma
posição pequena, sem muito, ou nenhum, planejamento, quando era
melhor ter ido para Saint Barth (ficando longe dos joguinhos perigosos,
é claro) ou para o hotel fazenda e sentar-se ao inocente e burguês
poquerzinho convescote. O tal das vinte pratas e do feijão mulatinho.
Já a número 2 (entrar muito pesado) pode ser mortal. Não raro surge
após uma perda séria, que tira do trader o equilíbro de raciocínio.
Movido por um misto de ganância e pânico, ele pensa: “Vou pro
baralhão, pro tudo ou nada, vou buscar o que perdi, pois a história
não fala dos covardes”, e outras bobagens.
Prezado leitor, a história fala sim. E fala mal. Um trader ferido torna-se
presa fácil e fica na iminência de comprar passagem para a tragédia.
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Crônica 7
Nos três últimos dias úteis da semana passada, quando a Bolsa reverteu
sua tendência e despencou ladeira abaixo, pouca gente ganhou
dinheiro. E, por ganhar, não estou me referindo apenas a vender no
topo, na faixa de 100.000 pontos do Ibovespa, e aplicar os recursos
em renda fixa enquanto o preço da maioria das ações se esfarinhava.
Decepção dos outros pode ser festa para você, caro amigo assinante
da Inversa.
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Crônica 7 Não existem ursos no Brasil
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Crônica 7 Não existem ursos no Brasil
(The Big Short) uma história real na qual Michael Burry (interpretado
por Christian Bale) inventou uma maneira de “shortear” hipotecas.
Não me lembro exatamente o preço, mas foi por volta de US$ 30,00.
Com a derrota fragorosa e fulminante dos exércitos de Saddam
Hussein, deu para ganhar dez dólares por barril. Isso num espaço de
dois ou três dias.
“Eu não tenho escrúpulos; o que é bom a gente fatura, o que é ruim a
gente esconde.”
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Crônica 7 Não existem ursos no Brasil
Não deu nem para sofrer. O mercado ficou lá em cima por menos de
meia hora e depois caiu.
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Crônica 8
Stops e objetivos
Até então, eu “stopava” minhas operações, sem usar esse nome, nas
seguintes circunstâncias:
“Liquida essa porra”, dizia para meu corretor, após ter comprado Banco
do Brasil (que aqui entra apenas como exemplo) a 10 cruzeiros e ver
o papel cair para 9,50, 9,00, 8,50, 8,00, 7,50...
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Crônica 8 Stops e objetivos
“Ah, a três centavos é impossível o açúcar cair mais”. E não é que caía.
Até, é claro, eu liquidar minha posição.
“Compre Ibovespa a 91.900 com stop a 91.790.” Nesse caso, você vai
perder 110 pontos. Talvez um pouco mais por causa do slippage.
Trata-se da diferença entre o preço de sua ordem e aquele no qual
ela será executada. A gente sempre leva uma enrabadinha.
Esse tipo de ordem não é muito usado no Brasil, mas é arroz de festa
no mercado internacional.
“Buy two hundred S&P at two thousand and six hundred even with a stop
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Crônica 8 Stops e objetivos
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Crônica 8 Stops e objetivos
Você vai chorar feito uma criança que deixou o picolé cair no chão.
Mas o mercado é assim.
Pois bem, com o lucro garantido, seu dilema agora é saber quando vai
pular fora. Tenho certeza de que no seu inventário não vai estar lá:
“100 Ibovespa futuro.”
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Crônica 9
O mercado é forte
Caro leitor,
Era, ainda segundo o axioma Ted Arnold, o momento ideal para compra
de ações. E quem comprou se deu muito bem, rachou de ganhar
dinheiro. Pois, entre a vitória de Lula sobre Serra no segundo turno e
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Crônica 9 O mercado é forte
E foi isso que fez o mercado de ações subir (e o dólar cair) nos
prolegômenos da administração de um partido que, desde a sua
fundação, defendia as moratórias interna e externa, a estatização dos
bancos, a reforma agrária e outros programas de cunho socialista.
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Crônica 9 O mercado é forte
Por incrível que possa parecer, à geada seguiu-se uma seca que
destruiu cafezais de outras regiões do Brasil. O mercado, já alto, foi
para a estratosfera. Certo?
Errado!
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Crônica 9 O mercado é forte
de Nova York (onde era fim de tarde) acabara de fechar. E eu, short.
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Crônica 10
Certa ocasião, nos anos 1990, fui convidado pelos diretores de uma
cooperativa de produtores agrícolas do município de Rio Verde,
em Goiás, para fazer uma palestra sobre o mercado futuro de soja,
negociado na Chicago Board of Trade, Bolsa onde eu atuava como
broker e trader. Eles queriam saber como fazer hedge de suas safras.
Acertada minha paga e recebida a passagem, viajei para lá. Fui recebido
no aeroporto de Goiânia por um japonês (ou nissei), dirigente da
cooperativa, que me levou em seu carro pelos 232 quilômetros que
separam as duas cidades.
Era milho! E a diferença entre uma fileira de pés de milho, com quase
dois metros de altura, e uma plantação de soja, que parece um
amontoado de ervas daninhas, é mais ou menos como a diferença
entre um rebanho de bois e um de ovelhas.
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Crônica 10 Pode ser o trade da sua vida
“Eu sou uma anta, mão fraca”, o cara comenta. “Não podia ter saído a
17”, choraminga o profeta do passado.
Mas digamos que nosso trader, num rasgo genial, comprou sua
posição na mínima, a 13, e vendeu na máxima, a 22. Ele sai dando
cambalhotas? Nada disso.
Vamos agora imaginar que o cara seja uma fera e tenha aplicado todas
as suas reservas naquele ativo abençoado. Fica feliz?
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Crônica 10 Pode ser o trade da sua vida
Negativo.
Outro erro colossal, que atinge a maior parte dos traders, é dar
importância ao preço no qual entrou no mercado. Não percebe que
aquele número só tem relevância para ele, é apenas seu ponto de
partida, não tem influência nas análises dos demais profissionais.
Mas eis que o petróleo virou, por causa de uma crise do Oriente
Médio, e tomou rumo norte, só que agora com grande velocidade:
33, 34, 35... e – bingo! – 40.
Claro que, ao longo dos quase 40 anos nos quais operei nos mercados,
aprendi a dominar a ganância e o medo e deixei de dar importância
ao “meu” preço. Só que isso exigiu muita disciplina. Porque é preciso
ser muito macho, ou “macha”, e não menos perspicaz, para aplicar 20
mil dólares, ver esses 20 mil dólares se transformarem em um milhão
e não vender. Não vender porque aquele ativo de 20 mil dólares tem
um potencial gigantesco.
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Crônica 10 Pode ser o trade da sua vida
Pode ser o trade de sua vida. Isso aconteceu com diversas ações de
empresas de tecnologia lançadas por IPOs (Oferta Pública Inicial, em
inglês) e depois negociadas na Nasdaq. Empresas de fundo de quintal
que valiam uma merreca e estão hoje entre as maiores do mundo. E
aí rebato com outro anexim:
Pena que, na época, eu achei que poderia ter comprado lotes bem
maiores.
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As crônicas deste e-book são divulgadas semanalmente pela Inversa
Publicações na newsletter “Os Mercadores da Noite”, do Ivan Sant’Anna.
Para saber mais, veja aqui.
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