Você está na página 1de 7

- Campus Apucarana - Prof. Ricardo de A. Simon.

Cálculo 4B

Séries de Fourier

Para realizar o estudo das Séries de Fourier, é interessante rever o conceito de funções periódicas.

Funções Periódicas
Uma função periódica, de período p, é uma função tal que f (x) = f (x + p) para todo x. É importante
notar que se uma função tem período p, também tem-se a igualdade f (x) = f (x + np), para qualquer n
inteiro.

As funções cos(nx) e sen(nx), com n inteiro, formam um conjunto de funções periódica de período
2π .

Séries Trigonométricas
Uma série de funções na forma

a0
+ ∑ (an cos(nx) + bn sen(nx)) , (1)
2 n=1

é chamada de Série Trigonométrica. Pelos fatos discutidos anteriormente é perceptível que se os coefi-
cientes an e bn forem tais que a série convirja, então a função resultante terá período 2π . Como todas as
funções em questão são limitadas, ao contrário das potências xn , é intuitivo que seja mais “fácil"que as
séries trigonométricas convirjam em comparação com as séries de potências.

Esse conjunto de funções, satisfazem a interessante propriedade de ortogonalidade


Z π
a) sen(nx)cos(mx)dx = 0, todo n e m ≥ 0
−π

Z π  πδ
n,m n e m > 0
b) cos(nx)cos(mx)dx =
−π  2π n=m=0

Z π  πδ
n,m n e m > 0
c) sen(nx)sen(mx)dx =
−π  0 n=m=0

O item a) será mostrado usando as identidades

sen((n + m)x) = sen(nx)cos(mx) + sen(mx)cos(nx)


sen((n − m)x) = sen(nx)cos(mx) − sen(mx)cos(nx)
1 1
⇒ sen(nx)cos(mx) = sen((n + m)x) + sen((n − m)x).
2 2
Z π Z Z
1 π 1 π
⇒ sen(nx)cos(mx)dx = sen((n + m)x)dx + sen((n − m)x)dx
−π 2 −π 2 −π
π π
cos((n + m)x) cos((n − m)x)
=− − = 0, se n 6= m
2(n + m) −π 2(n − m) −π
Z π Z Z
1 π 1 π
⇒ sen(nx)cos(nx)dx = sen(2nx)dx + sen(0x)dx
−π 2 −π 2 −π
π
cos(2nx)
=− − 0 = 0.
4n −π

O item b) será mostrado usando as identidades

cos((n + m)x) = cos(nx)cos(mx) − sen(mx)sen(nx)


cos((n − m)x) = cos(nx)cos(mx) + sen(mx)sen(nx)
1 1
⇒ cos(nx)cos(mx) = cos((n + m)x) + cos((n − m)x).
Z π
2 Z
2 Z
1 π 1 π
⇒ cos(nx)cos(mx)dx = cos((n + m)x)dx + cos((n − m)x)dx
−π 2 −π 2 −π

sen((n + m)x) π sen((n − m)x) π
= + = 0, se n 6= m
2(n + m) −π 2(n − m) −π
Z π Z Z
1 π 1 π
⇒ cos(nx)cos(mx)dx = cos((n + m)x)dx + cos(0x)dx
−π 2 −π 2 −π

sen((n + m)x) π 1 π
= + = π , se n = m 6= 0.
2(n + m) −π 2 −π
Z π Z π
⇒ cos(0x)cos(0x)dx = 1dx = 2π , se n = m = 0.
−π −π

O item c) fica como exercício.

Séries de Fourier
Assumindo que uma função f (x) (de período 2π ) possa ser escrita como uma série trigonométrica con-
vergente

a0
f (x) = + ∑ (an cos(nx) + bn sen(nx)) , (2)
2 n=1
a série é chamada de Série de Fourier de f (x). Os coeficientes an e bn poderão ser calculados utilizando
convenientemente as relações de ortogonalidade, por exemplo, para calcular am , m 6= 0 multiplica-se os
dois lados de (2) por cos(mx) e integra-se de −π a π obtendo
Z π Z π ∞  Z π Z π 
a0
f (x)cos(mx)dx = cos(mx)dx + ∑ an cos(nx)cos(mx)dx + bn sen(nx)cos(mx)dx
−π −π 2 n=1 −π −π

= 0 + ∑ (an πδn,m + bn 0) = am π
n=1
Z π
1
⇒ an = f (x)cos(nx)dx. (3)
π −π
Para calcular a0 , simplesmente integra-se de −π a π
Z π Z π ∞  Z π Z π 
a0
f (x)dx = dx + ∑ an cos(nx)dx + bn sen(nx)dx
−π −π 2 n=1 −π −π

= a0 π + ∑ (an 0 + bn 0) = a0 π
n=1
Z π
1
⇒ a0 = f (x)dx. (4)
π −π

Para calcular os coeficientes bm , multiplica-se os dois lados de (2) por sen(mx) e integra-se de −π a π
obtendo
Z π Z π ∞  Z π Z π 
a0
f (x)sen(mx)dx = sen(mx)dx + ∑ an cos(nx)sen(mx)dx + bn sen(nx)sen(mx)dx
−π −π 2 n=1 −π −π

= 0 + ∑ (an 0 + bn πδn,m ) = bm π
n=1
Z π
1
⇒ bn = f (x)sen(nx)dx. (5)
π −π

Em resumo, se f (x) for representada por uma série trigonométrica no intervalo [−π , π ], então
Z
1 π
an = f (x)cos(nx)dx, n ≥ 0
π −π
Z
1 π
bn = f (x)sen(nx)dx, n > 0
π −π
esses são os chamados coeficientes de Fourier de f (x), e a série é a chamada Série de Fourier de f (x).

Exemplo: Encontre os coeficientes de Fourier das funções


 −k, x < 0
a) f (x) =
 k, x ≥ 0

Z Z Z
1 π 1 0 1 π k
a0 = f (x)dx = −kdx + kdx = (−0 + (−π ) + π − 0) = 0.
π −π π −π π 0 π
Z Z Z
1 π −k 0 k π
an = f (x)cos(nx)dx = cos(nx)dx + cos(nx)dx
π −π π −π π 0
" #
k sen(nx) 0 sen(nx) π
= − + =0
π n −π n 0
Z π Z Z
1 −k 0 k π
bn = f (x)sen(nx)dx = sen(nx)dx + sen(nx)dx
π π −π π 0
"−π #
k cos(nx) 0 cos(nx) π k
= − + = [−cos(0) + cos(−nπ ) + cos(nπ ) − cos(0)]
π n −π n 0 nπ

2k  4k n ímpar

= [cos(nπ ) − 1] =
nπ  0 n par
4k ∞ sen((2n + 1)x)
⇒ f (x) = ∑ 2n + 1
π n=0
(6)
b) f (x) = x2

Z π Z π π
1 1 2 1 x3 2π 2
a0 = f (x)dx = x dx = =
π −π π −π π 3 −π 3
Z Z  Z 
1 π 1 π 2 1 2 sen(nx) π 2 π
an = f (x)cos(nx)dx = x cos(nx)dx = x − xsen(nx)dx
π −π π −π π n −π n −π
   Z π     
−2 cos(nx) π cos(nx) −2 π cos(nπ ) −π cos(n(−π ))
= x − − − dx = − +
nπ n −π −π n nπ n n
4 4
= 2
cos(nπ ) = (−1)n 2
nZ n Z
1 π 1 π 2
bn = f (x)sen(nx)dx = x sen(nx)dx = 0
π −π π −π

π2 4
⇒ f (x) = + ∑ (−1)n 2 cos(nx) (7)
3 n=1 n

O Teorema de Fourier
Será enunciado a seguir o teorema que diz em quais condições as funções podem ser representadas
por uma série de Fourier, condições surpreendentemente simples. Para uma análise mais cuidadosa, o
teorema será enunciado em dois casos.
Caso 1: (Função contínua) Seja f (x) uma função periódica, de período 2π contínua no intervalo −π ≤
x ≤ π , então a série de Fourier de f (x) converge para f (x) em todos os valores de x.
Caso 2: (Função contínua por partes) Seja f (x) uma função periódica, de período 2π contínua por partes
no intervalo −π ≤ x ≤ π com derivadas laterais existindo em todos os valores de x. Então a série de
Fourier de f (x) converge para f (x) em todos os valores de x, exceto nos pontos de descontinuidade x̄,
onde tem-se a série convergindo para
 
1
lim− f (x) + lim+ f (x) .
2 x→x̄ x→x̄

Funções de Período p = 2L: No caso de funções periódicas, mas com período diferente de 2π , deve
ser fazer uma mudança de escala para utilizar-se a Série de Fourier. Então, seja f (x) de período p = 2L,
define-se uma função g(ν ) = f (x) de período 2π , de tal modo que

a0
g(ν ) = + ∑ (an cos(nν ) + bn sen(nν ))
2 n=1
Z
1 π
an = g(ν )cos(nx)d ν
π −π
Z π
1
bn = g(ν )sen(nx)d ν .
π −π

Usando proporcionalidade, temos que ν = L ,⇒ d ν = πL dx pode-se escrever
∞   πx   π x 
a0
f (x) = + ∑ an cos n + bn sen n
2 n=1 L L
Z L  
1 πx
an = f (x)cos n dx
L −L L
Z  πx 
1 L
bn = f (x)sen n dx.
L −L L
Exemplo: Encontre a Série de Fourier de f (x) = x, −L ≤ x ≤ L, f (x + 2L) = f (x).
Z Z L
1 L 1 L 1 x2
a0 = f (x)dx = xdx = =0
L −L L −L L 2 −L
Z  πx  Z  πx 
1 L 1 L
an = f (x)cos n dx = xcos n dx = 0
L −L L L −L L
Z L  πx  Z  πx    π x  L Z L  πx  
1 1 L 1
bn = f (x)sen n dx = xsen n dx = −xcos n + cos n dx
L −L L L −L L nπ L −L −L L
  π x  L 
1 L 1 2L
= −Lcos (nπ ) − Lcos (−nπ ) + sen n = [2L(−1)n+1 + 0] = (−1)n+1
nπ nπ L −L nπ nπ
∞  π x  2L   π x  1  πx  1  πx  
n+1 2L
⇒ f (x) = ∑ (−1) sen n = sen − sen 2 + sen 3 −... (8)
n=1 nπ L π L 2 L 3 L

Séries de Fourier em Senos/Cossenos

Nos casos onde queira-se expressar como uma série trigonométrica uma função f (x) definida em um
intervalo finito [0, L], pode-se usar o artifício de considerar a extensão par, ou a extensão ímpar da função
para o cálculo dos coeficientes de Fourier. A extensão par de f (x) descrita acima é dada por

 f (−x), −L ≤ x < 0
f p (x) = , (9)
 f (x), 0≤x≤L

e a extensão ímpar é 
 − f (−x), −L ≤ x < 0
fi (x) = . (10)
 f (x), 0≤x≤L
A utilização destas extensões dão origem, respectivamente, às séries

a0 ∞  nπ x 
f (x) = + ∑ an cos ,
2 n=1 L
Z  nπ x 
2 L
an = f (x)cos dx.
L 0 L
∞  nπ x 
f (x) = ∑ bn sen ,
n=1 L
Z  nπ x 
2 L
bn = f (x)sen dx.
L 0 L
Exemplo: Expanda a função abaixo em suas séries de Fourier em Senos e Cossenos

 2k x, 0 ≤ x < L2
L
f (x) = . (11)
 2k (L − x), L ≤ x ≤ L
L 2

Forma Complexa da Série de Fourier

eix = cos(x) + isen(x), e−ix = cos(x) − isen(x).


eix + e−ix eix − e−ix
⇒ cos(x) = , sen(x) =
2 2i
 nπ  ei nLπ x + e−i nLπ x  nπ  ei nLπ x − e−i nLπ x
⇒ cos x = , sen x =
L 2 L ! 2i
∞ nπ nπ nπ nπ
a0 ei L x + e−i L x ei L x − e−i L x
f (x) = + ∑ an + bn
2 n=1 2 2i
∞   ∞  
a0 an − ibn i nπ x an + ibn −i nπ x nπ nπ
= +∑ e L + e L = c0 + ∑ cn ei L x + c−n e−i L x
2 n=1 2 2 n=1


= ∑ cn ei L x
n=−∞
Z L Z
a0 1 1 L 0π
c0 = = f (x)dx = f (x)ei L x dx
2 2L −L 2L −L
1 RL nπ
 1 RL nπ

an − ibn −L f (x)cos x dx − i −L f (x)sen x dx
cn = = L L L L
2 2
Z   nπ   nπ  Z
1 L 1 L nπ
= f (x) cos x − isen x dx = f (x)e−i L x dx
2L −L L L 2L −L
Z
an + ibn 1 L nπ
c−n = = f (x)ei L x dx
2 2L −L
Z
1 L nπ
⇒ cn = f (x)e−i L x dx, n ∈ Z.
2L −L
Exemplo: Expanda a função f (x) = ex , −π ≤ x ≤ π , f (x + 2π ) = f (x), em sua série de Fourier Com-
plexa.
Exercícios
1. Prove que 
Z π  0, se n = m = 0
sen(nx)sen(mx)dx =
−π  πδn,m , caso contrário.

2. Considerando as funções periódicas definidas abaixo, expanda-as como Séries de Fourier (Trigono-
métrica). 
 −π
 0 −π ≤ x < 2

a. f (x) = 1 −2π ≤ x ≤ π2



0 −2π < x ≤ π
b. f (x) = |x| −π ≤ x ≤ π
c. f (x) = cos(mx) −π ≤ x ≤ π m ∈ N
d. f (x) = sen(mx) −π ≤ x ≤ π m ∈ N
π x3
e. f (x) = −1 ≤ x ≤ 1 (p = 2)
 2
 1 + x −1 ≤ x < 0
f. f (x) = (p = 2)
 1−x 0 ≤ x ≤ 1

3. Considerando as funções definidas em intervalos [0, L] abaixo, expanda-as como Séries de Fourier
(Trigonométrica).
a. f (x) = k 0 ≤ x ≤ L
b. f (x) = L − x 0 ≤ x ≤ L

 0 0≤x≤2
c. f (x) =
 1 2≤x≤4

4. Considerando as funções periódicas definidas abaixo, expanda-as como Séries de Fourier na forma
Complexa.
 −1 se − π ≤ x < 0
a. f (x) =
 1 se 0 ≤ x ≤ π
b. f (x) = x2 −π ≤ x ≤ π

Você também pode gostar