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Referência:

FOUCAULT, M. Vigiar e Punir: o nascimento da prisão. 27. ed. Petrópolis: Vozes, 1987. 288p.

RESENHA
Primeira Parte - SUPLÍCIO
CAP. I — O CORPO DOS CONDENADOS
Para situar o nascimento da prisão, Foucault (1987) traz no primeiro capítulo formas
punitivas, uma delas apresentada é o suplício público, visto como uma técnica, atenderia a tais
critérios: gerar sofrimento para que este seja admirado pelo público; o dano físico ter relação
direta com a especificidade do crime. Na pratica do suplício observa-se uma clara manifestação
de poder sobre a vítima. No fim do século XVIII e início do XIV, sistema punitivo passa a
modificar-se com o desaparecimento dos suplícios públicos, dando lugar a punições como prisão,
reclusão, trabalhos forçados, servidão e deportação, demostrando um caráter mais “respeitável”
sobre o corpo do sujeito. A punição também passa a ser vista como necessária atrelada ao campo
da consciência abstrata que impõe a mesma como um modo de reeducação, correção de
comportamentos considerados inadequados para a sociedade, além disso, oferece ao juiz um papel
de destaque, possuidor da verdade. Foucault aponta que as práticas de pena de morte buscam o
aperfeiçoamento dessa punição, por meio de injeções e tranquilizantes que privaria estes do
sofrimento, bem como a anulação do espetáculo.
Vale ressaltar que tal processo se deu de forma lenta e gradual, apontando para questões
culturais e o conjunto de leis penais de cada país, que foi transformando o objeto da punição sobre
a alma e não mais sobre o corpo. Dentre os efeitos considerados evidentes para Foucault: A
substituição de objetos, as infrações passam a ser reorientadas em relação aos seus limites e
tolerâncias. Modificação do objeto “crime”, apresentando variação entre crime e delito;
Modificação das regras de elaboração do julgamento pelos juízes, passa a considerar um conjunto
de hipóteses, tais como: estabelecer diagnósticos, a utilização de punições, previsão da evolução
do sujeito, que vai além de julgar a verdade de um crime, e que por último, o veredicto
representaria a obtenção de cura da delinquência.
Para Foucault (1987) a prisão constitui-se como uma técnica de vigilância que tem como
objetivo controlar o cotidiano da vida dos indivíduos, tais como ocorre em outras instituições
como escola, exército, hospitais, etc. representaria o poder sobre os corpos. Atrelado ao
surgimento do encarceramento tem-se a definição do sujeito “delinquente”, marcado por massas
possuidoras de comportamentos ilegais, rejeitados que ofereceriam algum risco social. Como bem
se sabe, as pessoas enquadradas na delinquência pertencem a um status socioeconômico baixo,
resultando em vantagens econômicas e políticas, de modo que quanto maior for a produção da
delinquência, maior o número de pessoas que consentirão com o controle policial, a pratica da
prostituição e o tráfico de drogas também oferecerão subsídios econômicos para o Estado.
O encarceramento se molda conforme o contexto sociocultural, entretanto, sempre é
marcado por características da limitação do espaço físico e disciplina. Ao tratar sobre o exercício
do poder, Foucault (1987) define como o saber pelo qual tanto o delinquente quanto o juiz deverão
sujeitar-se, nesse sentido, o poder tem a ação de vigiar e disciplinar os dois envolvidos.
CAP. II — A OSTENTAÇÃO DOS SUPLÍCIOS
Para Foucault (1987) o suplício penal é marcado pela produção de um sofrimento
diferenciado, é ritualístico com vista a manifestação do poder sobre o sujeito, confere a perda de
controle da justiça processo qual ele estabelece como barbárie sem explicação palpável. Foucault
investiga a natureza do processo penal, levando em conta a mudança do campo privado para
público, voltando-se para o sujeito acusado do crime, conhecimento este que subsidia a acusação.
O inquérito é um modelo utilizado desde a Idade Média, para descobrir o autor do crime,
ouvir testemunhas, fazer levantamento de provas que facilitaria a sentença, as informações
colhidas respaldaria a verdade, ou ainda a confissão do delito, nesse ultimo caso, o acusado
assume o papel da verdade penal. Mesmo após dada a sentença, o suplício continua no andamento
da execução da pena, com o objetivo de: responsabilizar o sujeito como mensageiro da sua própria
condenação; persistir na confissão espontânea e pública; fixar o suplício ao crime, como medida
punitiva simbólica; executar o suplício publicamente de forma lenta e sofrida para que se
aproxime do julgamento divino e dos homens. O suplício judiciário é a manifestação do poder
enquanto ritual político, visto que o crime infligiria a vontade do próprio Deus, além da vítima
em questão.
Outra característica das cerimônias do suplício era o destaque dado ao público,
considerando que tinha a função de gerar certo terror coletivo, ou seja, ocorrendo em sigilo isso
não seria possível, pautando-se como mecanismo de controle inclusive contra possíveis revoltas.
Nos casos de condenações injustas, circunscritas por classes socialmente distintas, mesmo com o
terror do espetáculo, não era capaz de conter sua revolta, criando uma espécie de pacto entre o
povo e o condenado, essa solidariedade consistia na força de resistência contra a repressão penal
e policial.
Terceira Parte -DISCIPLINA
CAP. I — OS CORPOS DÓCEIS
Ao longo do tempo, os modelos disciplinares de diversas instituições transformaram-se
em o que Foucault denomina de “fórmulas gerais de dominação”, estas seriam responsáveis por
produzir corpos dóceis e exercitados, economicamente rentáveis, e obedientes a ordem política.
Para Foucault ocorre uma dissociação do poder do corpo, enaltecendo a capacidade de um lado,
e modificando essa potência em uma relação limitada do sujeito. Foucault propõe como
resistência uma nova microfísica do poder, que seriam estratégias com aparência ingênua sem
tanto impacto coercitivo, mas capaz de levar a transformações no regime punitivo.
A disciplina visa o controle sobre os corpos dos homens pelos homens, requerendo ainda
um modo de distribuição das pessoas, para isso estabelece: A cerca a fronteira que separa o lugar
diferente; A clausura, definindo um local especifico para cada sujeito, privando-os do coletivo;
Localizações funcionais, com função de vigiar e proibir possíveis comunicações; Fila, facilitar a
identificação de cada sujeito por meio do lugar que ele ocupa. Além disso, o controle das
atividades, como: restrição de horário para cada atividade; estabelecimento de prazos para os atos;
ligação de corpo e gestos, evitando-se o desgaste; cuidado sobre os objetos; utilização exagerada
do tempo para que resulte na exaustão. Outra característica é a do bom adestramento, fortalecendo
a ideia de controle e impotência reduzida dos corpos, que devem ser observados de forma
constante e inflexível, necessitando de um espaço organizado para tal. A vigilância exige a
normatização do castigo disciplinar, com o objetivo de corrigir as falhas reduzindo os desvios das
regras disciplinares, produzindo ainda uma distinção entre os sujeitos bons e maus dentro do
sistema.
O Panoptismo, representaria o ideal de instituição disciplinar na modernidade, capaz de
assumir êxito sobre qualquer outra modalidade de punição, em que os sujeitos aprisionados seriam
continuamente vigiados e suas ações controladas. A distribuição espacial de divisão em celas
individuais, por exemplo, reforçaria a vigia e identificação imediata dos sujeitos, ainda se conclui
que a prisão tornou-se desde seus primórdios um depósito de indivíduos que eram considerados
uma ameaça ao sistema normativo, para Foucault, sua transformação deveria equipara-se a outras
instituições como escolas e hospitais, sendo aperfeiçoados, porém o que se constatou é que a
prisão não gera o melhoramento dos sujeitos mas sim auxilia na produção de criminalidade.

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