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O ARRANJO Famitiar No Curpavo vo Inoso coM AMPUTAGAO DE Mempros INFERIORES Maria José D'Elboux Diogo * DIOGO, MJ.D'E. 0 arranjo familar no cuidado do idoso com amputagao de membros inferiores. Acta Paul. Enf., v0, n.2, p. 88-97, 1997 RESUMO: O presente estudo tem como objetivo verificar 0 artanjo familiar necessario para @ assisténcia ao idoso submetido 4 amputacdo de membros inferiores e a quem é atribuide © papel de cuidador. Os dados foram coletados com 40 idosos atendidos no ambulatério de amputacos do Hospital de Clinicas da UNICAMP, durante o periodo de janeiro de 1984 a Julno de 1996 por meio do instrumento utiizado para a consulta de enfermagem. Os resultados mostram que os idosos com amputagdo residem com familiares os quais assumem o papel de cuidador primario, desempenhado essencialmente por pessoas do sexo feminino, que acabam se sobrecarregando de trabaiho com as atribuigSes advindas das atividades domésticas e com a funcao assumica UNITERMOS: Idoso. Amputados. Assisténcia a idosos. ¥.10, 92, maiolago. 1997 INTRODUCAO Os problemas de saiide nos idosos, além de serem em sua maioria de longa duragao, requerem assisténcia qualificada seja em ambito institucional ou domiciliar. Entre as doengas mais freqiientes dessa populagio encontramos as vasculopatias periféricas que se apresentam como a principal causa para a amputagio de membros inferiores (MMII) nos idosos#?"* Uma vez amputado, 0 idoso se depara com uma série de alteragdes de natureza social, fisica, ‘emocional, entre elas o arranjo familiar necessério para o atendimento das suas necessidades . Em trabalho realizado anteriormente verificamos que pos a amputagao, a maioria dos idosos que morava sozinho passou a residir com alguém frente a necessidade de ajuda na sua vida diaria.’ No entanto, indagamos neste momento, quem fornece esta ajuda, ou seja, quem é o prestador de cuidados, 0 cwidador desse idoso? WALDOW,” ao abordar as diferentes teorias sobre o cuidar/cuidado refere que independente das razies que movem as pessoas para cuidar, a argumentagéo de Roach (1993) & de que basicamente individuos euidam porque sito seres Inmanos. A capacidade de cuidar esté enraizada na natureza humana...Cuidar/euidado &é responsivo, ou seja, 0 poder de cuidar/enidado é evocado em resposta a alguém ou a alguma coisa a quem ou a qual se atribui alguma importéincia e que representa um valor Talvez esta colocagdo seja uma das justificativas para o envolvimento principalmente + Enfermeira. Professor Assistenle Doutor do Departamento de Enfermagem da Faculdade de Cléncias Médicas da UN|CAMP. 88 DIOGO, MAD. dos familiares (cuidadores informais) no cuidado do idoso, ou seja, a relagao afetiva presente nos lagos familiares desencadeia a responsabilidade para o cuidado No entanto outros fatores também contribuem para esta situag3o, como a escassez de recursos financeiros da familia para a contratagao de pessoas do sistema formal de apoio, isto é, os cuidadores formais, DAVIDHIZAR‘, ao descrever sobre o cuidado prestado em casa ao idoso, refere que estudos 1ém demonstrado que menos de 15% de toda ajuda didria de cuidado fornecida para pessoas que necessitam de assisténcia nas atividades de vida diéria sdo realizadas por cuidadores pagos ou pessoas que néio stio membros da familia. NASCIMENTO e SILVA; NERI" apontam para pesquisas recentes as quais mostram que a mais importante fonte de suporte a idosos é constituida por cuidadores da rede informal de apoio Os idosos com amputagao de MMII requerem diferentes formas de assisténcia e na maioria das vezes dependem de outras pessoas para 0 atendimento das suas necessidades. Em decorréncia da nova situagao faz-se necessirio arranjos familiares que favorecam essa assisténcia Assim sendo temos como objetivos deste trabalho + verificar o arranjo familiar necessirio para a assisténcia ao idoso com amputagdo de membros inferiores frente a sua dependéncia para as atividades da vida didria; e + verificar a quem ¢ atribuido o papel de cuidador desse idoso Acta P JLEnt, «10, 02, maioago, 1997 MATERIAL E METODO Esta pesquisa foi realizada com 40 idosos atendidos no ambulatorio de amputados da Unidede de Orteses e Proteses do Hospital de Clinicas da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), no periodo de janeiro de 1994 & junho de 1996 Os dados foram coletados por meio do instrumento utilizado para a consulta de enfermagem, realizada pela autora do trabalho, enfermeira da equipe interdisciplinar de assisténcia ao paciente com amputagao Para este estudo nos deteremos nas questdes do instrumento referentes a: + Dados pessoais ¢ da familia: idade, sexo, estado civil, com quem mora e quem cuida do(a) idoso(a): + Dados relativos & amputagao: nivel e causa da amputagio, uso da protese e tempo de amputacao, + Avaliagdo da dependéncia na realizagao das atividades da vida, Para a finalidade deste, foram consideradas as seguintes atividades: locomogao, alimentacdo e hidratagao, eliminagoes, higiene corporal, ato de vestir-se, lazer e recreagio e uso de transportes Os dacios foram analisados em nameros absolutos ¢relativos, sendo apresentados em tabelas. RESULTADOS E DISCUSSAO Com o objetivo de facilitar a identificagdo dos idosos integrantes do presente estudo, os resultados sero apresentados na seguinte seqiiéncia; idade, sexo, nivel e causa da amputacao, tempo da amputagiio, uso da protese, estado civil, com quem reside e quem cuida do idoso e finalmente o grau de dependéncia na realizagao das atividades da vida A Tabela 1 mostra a distribuigao dos idosos segundo 0 sexo ¢ a faixa etaria dos sujeitos entrevistados 89 DIOG, MIDE, Acta Paula Ent, 10, 02, miingo, 1997 Tabela 1. Idosos segundo sexo e faixa etdria, Campinas, 1996. SEXO. FAIXA ETARIA FEMININO MASCULINO TOTAL N %% N % N % 60-64 1 2.5 7 17.5 8 2 65-69 3 7 g 12,5 20 70-74 5 12.5 7 17.5 12 30 75-79 75 4 10 175 2 80 5 3 15 12.5 TOTAL, 14 35 26 65 40 100 Observamos que a maioria dos idosos sao do sexo masculino com predominancia da faixa etiria entre 60 a 64 anos ¢ 70 a 74 anos. Quanto ao sexo feminino as idosas que apresentam idade entre 70 a 74 anos, correspondem a faixa etaria predominante da amostra Em relagio ao nivel da amputagdo, dos 40 idosos, 22 foram submetidos a amputagio infrapatelar, 13 suprapatelar, dois ao nivel da desarticulagao do joelho, um metatarsiana e dois amputagao bilateral Entre as causas da amputagdo, 34 ocorreram em conseqiiéncia de vasculopatias, trés por tumor e trés por infecgao. No que se refere ao tempo de amputacio, verificamos que dos 40 idosos, um foi submetido a amputagao hé menos de um més, 22 de um a 6 meses, 10 entre sete a 12 meses, enquanto dois ha 13 e 18 meses; apenas um idoso estava amputado ha 10 anos. Cabe ressaltar que o tempo de amputagao relaciona-se ao intervalo entre a data em que foi realizada a cirurgia e a data do atendimento no ambulatério Quanto ao uso da protese, somente um idoso fazia uso da mesma, do tipo sucgao, durante aproximadamente oito anos, colocando-a apenas para sair de casa. Em relagao ao estado civil, dos 40 idosos, 27 sto casados (25 homens e 2 mulheres), 12 sao vitvos e um divorciado. Nas Tabelas 2 e 3 apresentamos a distribuigao dos idosos segundo o estado civil e sexo relacionando as pessoas com quem reside Tabela 2. Idosos casados segundo pessoas com quem residem, Campinas, 1996. ‘COM QUEM RESIDE IDOSOCASADO —_—‘IDOSA CASADA. TOTAL N N N conjuge 3 = 1 6 cSnjuge ¢ filliostas) 10 1 ul cSnjuge e netos (a8) 2 - 2 cBnjugeffilho(s) © neto(s) 3 - 3 cOnjugeffilho ¢ nora 2 - 2 cOnjugeffilho!nora ¢ neto(s) 2 - 10 Snjuge/filha/genso € neto 1 : 1 TOTAL 25 2 27 90)

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