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O Espírito Santo, uma pessoa da divindade

3 de fevereiro de 2017

(Foto: Shutterstock)
Alguns leitores superficiais da Bíblia, e de hermenêutica refutável, tomam um texto fora do contexto, e dele
fazem um “credo”. Raciocinam que se a palavra espírito – ruach no Antigo Testamento, e pneuma no Novo
Testamento – significa vento, logo o Espírito Santo é apenas um vento, ou energia procedente do Pai e do
Filho. Ora, isto é uma falácia, uma manipulação sofística inaceitável, que não resiste a um amplo exame das
Escrituras. “Jesus nunca chamou o Espírito Santo de “isto” quando falava dEle. Em João 14, 15 e 16, por
exemplo, Jesus falou do Espírito Santo como “Ele”, porque Ele não é uma força ou uma coisa, mas uma
pessoa”.[1] Como o nome Jesus indica a função a Ele destinada (Mateus 1:21), o nome Espírito Santo indica
a sua própria função. Ele daria o fôlego de vida, tanto na criação (Salmo 104:30) como na redenção
(Ezequiel 37:9-14; João 3:5-8); e trabalharia no processo de inspiração das Escrituras (ver 2Timóteo 3:16;
2Pedro 1:20, 21).[2] E estas são funções de uma pessoa.
Observemos algumas evidências de que o Espírito Santo tem personalidade. Ele fala. “Quem tem ouvidos,
ouça o que o Espírito diz às igrejas: Ao vencedor dar-lhe-ei que se alimente da árvore da vida que se
encontra no paraíso de Deus” (Apocalipse 2:7). Pode-se mentir para Ele. “Então disse Pedro: Ananias, por
que encheu Satanás o teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo, reservando parte do valor do
campo? …” (Atos 5:3, 4). Pode-se insulta-Lo (Hebreus 10:29). Além disso, Ele intercede (Romanos 8:26).
Ele testemunha (João 15:26). Ele guia (João 16:13). Ele convence (João 16:7, 8). Ele ordena (Atos 16:6, 7).
Ele nomeia (Atos 20:28). O Espírito Santo tem mente (1Coríntios 2:11). Ele tem emoções (Efésios 4:30). Ele
tem vontade (1Coríntios 12:7-11).
Como percebemos, o Espírito Santo é uma pessoa, mas não qualquer pessoa. Ele é Deus. “Então disse Pedro:
Ananias, por que encheu Satanás o teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo… Não mentiste aos
homens, mas a Deus” (Atos 5:3, 4). Ele é eterno – sempre existiu. “Muito mais o sangue de Cristo que, pelo
Espírito eterno, a si mesmo se ofereceu sem mácula a Deus, purificará a nossa consciência de obras mortas
para servirmos ao Deus vivo!” (Hebreus 9:14). Ele é Todo-Poderoso (Lucas 1:35). Ele é Onipresente – está
em todo lugar (Salmo 139:7). Ele é onisciente – sabe tudo (1 Coríntios 2:10, 11). Ele é o Criador (Gênesis
1:2), e ressuscita mortos (Efésios 1:20).
Pessoas distintas
Amigo leitor, note que as Escrituras não fazem confusão entre os componentes da divindade. Eles são três
pessoas distintas. O Pai é uma Pessoa (Mateus 6:6, 9; João 17:1). O Filho é outra Pessoa (Mateus 16:16, 17;
João 3:16), e o Espírito Santo é outra Pessoa (João 16:7; Hebreus 3:7). Observe o seguinte texto. “E eu
rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro Consolador, a fim de que esteja para sempre convosco, o Espírito da
verdade que o mundo não pode conhecer, porque não o vê, nem o conhece; vós o conheceis, porque Ele
habita convosco e estará em vós” (João 14:16).
O que vemos neste texto? O Filho de Deus está falando aos seus discípulos. Ele disse que rogaria a quem?
Ao Pai. O que pediria ao Pai? Ele rogaria ao Pai que enviasse outro Consolador. Cristo apresenta o Espírito
Santo neste texto como ἄλλον Παράκλητον. As palavras allós Parakletos significam “outro Consolador” ou
“outro Ajudador”. O termo allós significa “outro da mesma espécie”, ou “outro da mesma classe”, ou “outro
igual”. “Visto que a palavra grega allós significa “outro da mesma classe”, se deduz que o Espírito Santo era
da mesma classe que Cristo, a saber, uma pessoa divina”.[3]
Jesus foi o Consolador dos discípulos e agora que retornaria para junto do Pai não os deixaria órfãos. O
Espírito Santo estava com eles, mas, até ali, eles não sentiram falta dEle, evidentemente, devido à presença
do Filho de Deus. Mas, ao ficarem sem sua presença pessoal e visível, eles sentiriam necessidade de um
Consolador. Conforme a promessa de Cristo, a Pessoa do Espírito da Verdade não só estaria com eles, mas
habitaria neles. Que maravilha e bênção extraordinária ter o Espírito Santo não simplesmente conosco, mas
habitando em nós!
Pluralidade na divindade
As Escrituras apresentam uma pluralidade na divindade (Gênesis 1:26; 3:22; 11:7; Isaías 6:1-4, 8; Mateus
28:19; 2 Coríntios 13:13).[4] São três pessoas divinas. O Pai é Deus (Gênesis 1:1, 2; João 20:17); o Filho é
Deus (João 1:1-3; 20:28; Hebreus 1:8; 1João 5:20); e o Espírito Santo também é Deus (Atos 5:4).
Mas, por outro lado, paradoxalmente, as mesmas Escrituras também declaram que Deus é uma ekad, ou
unidade (Deuteronômio 6:4); que há um só Deus (Efésios 4:4-6), e que “Deus é um só” (Tiago 2:19). A
posição bíblica da unicidade de Deus não admite mais que um só Deus.[5] Estamos diante do mistério da
Trindade divina, ou seja, um Deus em três pessoas. As três pessoas são distintas, mas são uma mesma
essência ou natureza. Isto fere sua lógica humana? É um teste de humildade. Um conselho: “tire as sandálias
dos seus pés, pois este lugar é terra santa”. Eles são os maiores poderes do Universo. O Pai no “trono do
Universo” (Daniel 7:9; Apocalipse 4:9-11), o Filho no “trono da graça” (Marcos 16:19; Hebreus 4:16), e o
Espírito Santo no “trono do coração” (1Coríntios 3:16; 6:19, 20). Eles atuaram juntos na obra da criação
(Gênesis 1:1, 2, 27; João 1:1-3, 14), e tem atuado na redenção (Mateus 26:39, 42; Lucas 3:22; João 3:3, 5,
14-16).
Uma das características da divindade é sua subordinação funcional. O Pai primeiro (Colossenses 1:3; João
3:16; 5:37). A seguir, o Filho (Filipenses 2:9; Hebreus 1:8). E o Espírito Santo por último (João 14:16, 26;
16:7, 14; 2 Coríntios 13:13). Porém, nenhuma Pessoa da divindade é inferior à outra. A subordinação não
prejudica a igualdade, pois: “É um só, e o mesmo Deus em natureza, propósito e ação. Ellen White declara:
“Há três pessoas vivas pertencentes à trindade celestial […] o Pai, o Filho e o Espírito Santo”.[6]
Amigo leitor, há uma terrível advertência quanto a resistir ao Espírito Santo. “Por isso vos declaro: Todo
pecado e blasfêmia serão perdoados aos homens; mas a blasfêmia contra a Espírito Santo não será perdoada.
Se alguém proferir alguma palavra contra o Filho do homem ser-lhe-á isto perdoado; mas se alguém falar
contra o Espírito Santo, não lhe será isto perdoado, nem neste mundo, nem no porvir” (Mateus 12:31, 32).
Há neste texto uma aparente sobreposição ou superioridade do Espírito Santo em relação ao Filho de Deus.
Novamente, não é questão de hierarquia, mas de função, pois é o Espírito Santo a Pessoa que nos convence
“do pecado, da justiça e do juízo” (João 16:8). Jesus advertiu seus ouvintes contra o desprezar e resistir a
atuação do Espírito Santo ao ponto de ter uma consciência cauterizada.[8] Uma maneira de chegar a esse
ponto é duvidar da personalidade e divindade do Espírito Santo. Jesus diz: “Quem tem ouvidos, ouça o que o
Espírito diz às igrejas” (Apocalipse 3:22). Amigo, agora, ainda é o tempo do Espírito Santo. Você deseja que
2017 seja o ano do Espírito Santo em sua vida? Deixe-o guia-lo através da Bíblia. E aceite a Jesus Cristo
como seu Senhor e Salvador.

Referências:
[1]Este artigo apresenta algumas contribuições de Billy Graham em: O Espírito Santo (São Paulo: Sociedade
Religiosa Edições Vida Nova), 12. Para um estudo mais detido sobre o Espírito Santo ver: Nisto Cremos
(Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira); Creencias de los adventistas del séptimo día (Buenos Aires:
Asociación Casa Editora Sudamericana, 2007); Fernando L. Canale, “Doutrina de Deus” em Tratado de
teologia adventista, editado por Raoul Dederen (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2011).
[2]A expressão “inspirada por Deus” em 2Timóteo 3:16 é tradução do grego θεόπνευστος (theopneustos) que
significa “soprada por Deus”. À luz de 2Pedro 1:21, é indicação da divindade do Espírito Santo.
[3]Fernando L. Canale, “La Doctrina de Dios”, en Teología: fundamentos bíblicos de nuestra fe, vol. 2
(Buenos Aires: Asociación Casa Editora Sudamericana, 2005), 95.
[4]Ibíd., 74.
[5]Ibíd. 72, 73.
[6]Ellen G. White, Evangelismo (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira), 615.
[8]Edwin Reynolds, “?Qué es el pecado imperdonable?”, en Interpretación de las Escrituras, ed. Gerhard
Pfandl (Buenos Aires: Asociación Casa Editora Sudamericana, 2012), 258-260.

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O Espírito Santo: Quem? Como? Por Quê?

Alberto R. Timm
A obra fundamental do Espírito Santo no mundo é chamar os pecadores ao arrependimento e conduzi-los à
salvação em Cristo. Sua missão individual é bem descrita nas palavras: “Eis que estou à porta e bato; se
alguém ouvir a Minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa, e cearei com ele e ele comigo.” (Apoc. 3:20).
E o conselho divino é: “Hoje, se ouvirdes a Sua voz, não endureçais os vossos corações…” (Heb. 3:15).
Cristo afirmou que o Espírito Santo viria para O glorificar (João 16:14), e para convencer “o mundo do
pecado, da justiça e do juízo” (João 16:8). Estes são aspectos cruciais da salvação; pois a consciência da
pecaminosidade própria é indispensável para a aceitação da justiça de Cristo que, por sua vez, é o único meio
pelo qual podemos ser provados no juízo divino. E o Espírito Santo é também o agente regenerador (Tito
3:5) que torna eficaz o sacrifício de Cristo na vida do crente. Outro aspecto da Sua missão aparece na
declaração de Cristo: “Quando vier, porém, ‘o Espírito da verdade’, Ele vos guiará a toda a verdade” (João
16:13). “O Espírito é chamado ‘o Espírito da verdade’, pois sua obra é guiar os seguidores de Jesus ‘a toda a
verdade’. Enquanto os dias passam, o Espírito os guiará mais e mais profundamente no conhecimento da
verdade.”1 Esta é uma obra de santificação, pela qual o próprio Cristo orou em Sua oração sacerdotal:
“Santifica-os na verdade; a Tua Palavra é a verdade” (João 17:17). E o salmista acrescenta: “A Tua Lei é a
própria verdade” (Salmo 119:142). Foi o Espírito Santo quem inspirou as Sagradas Escrituras e é Sua missão
guiar a vida dos seguidores de Cristo em conformidade com a Palavra de Deus e com a Sua Lei, tornando-os
mais semelhantes a Cristo, que é a Verdade personificada (João 14:6). O Espírito Santo não iniciou Sua obra
por ocasião do Pentecostes. Desde Gênesis 1:2, Ele é inúmeras vezes mencionado no Antigo Testamento.
Deus já prometera aos israelitas após o êxodo: “O Meu Espírito habitará no meio de vós” (Ageu 2:5). E,
mesmo antes do Pentecostes, Cristo afirmou a Seus discípulos: “o Espírito da verdade… habita convosco e
está em vós” (João 14:17).
A obra especial do Espírito Santo
A Bíblia menciona também uma obra especial do espírito Santo entre os crentes, e é a esta obra que Cristo Se
referiu ao prometer a Seus discípulos: “Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis
Minhas testemunhas…” (Atos 1:8). Portanto a obra especial do Espírito Santo significa uma capacitação
especial dos crentes para a proclamação do evangelho. À semelhança da obra universal do Espírito Santo
quanto à salvação, também esta obra é de natureza cristológica – Cristo disse que eles receberiam poder para
serem Suas testemunhas! O apóstolo São Paulo denomina essa capacitação especial de “dons espirituais” (I
Cor. 12:1), e acrescenta que esses dons não são concedidos sem motivo, mas “visando um fim proveitoso (I
Cor. 12:7), e que este fim é o aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do Seu serviço, para a
edificação do corpo de Cristo” (Efé. 4:12).
O exemplo clássico desta capacitação especial para testemunhar de Cristo é o dom de línguas que os
discípulos receberam no Pentecostes. Nesta ocasião, estavam em Jerusalém pessoas das mais diversas
nacionalidades (Atos 2:5, 9-11), as quais, ao ouvirem o testemunho dos discípulos ser-lhes dado na sua
“própria língua materna” (Atos 2:8), maravilharam-se profundamente; e o resultado para a igreja cristã foi
um acréscimo naquele dia de quase três mil pessoas” (Atos 2:41). Portanto a manifestação do dom de línguas
no Pentecostes não tinha um fim em si mesmo, para a satisfação e orgulho pessoal dos apóstolos, mas sim
um objetivo evangelístico. E o próprio apóstolo São Paulo esclarece ainda mais este assunto ao dizer que “as
línguas constituem um sinal, não para os crentes, mas para os incrédulos” (I Cor. 14:22), e ele acrescenta:
“Contudo, prefiro falar na igreja cinco palavras com o meu entendimento, para instruir outros, a falar dez mil
palavras em outra língua” (I Cor. 14:19)
A Bíblia afirma ainda que “os dons são vários, mas o Espírito é o mesmo” (I Cor. 12:4), e que esses dons são
concedidos a cada um individualmente, segundo apraz ao Espírito Santo (I Cor. 12:11). Portanto não é o
indivíduo que escolhe os dons que deseja possuir, pois isso cabe ao Espírito Santo. A Parábola dos Talentos,
em São Mateus 25:14-30, ilustra bem esse princípio.
Condições para o recebimento do Espírito Santo
Uma vez que a iniciativa da nossa salvação é divina (Apoc. 3:20), a parte que nos corresponde para o
recebimento do Espírito Santo é simplesmente aceitarmos o Seu convite; pois é Ele quem efetua em nós
“tanto o querer como o realizar” (Filip. 2:13). Todos os impulsos de nossa parte para aceitarmos a salvação,
são por ele motivados; porém cabe a nós a decisão de os aceitar ou de os rejeitar. Mas “a todos os que
aceitam a Cristo como o Salvador pessoal, o Espírito Santo vem como Consolador, Santificador, Guia e
Testemunha”. 2
A Bíblia menciona, entretanto, algumas condições para o Espírito Santo permanecer em nós e capacitar-nos
com um poder especial para sermos testemunhas de Cristo. Em primeiro lugar, é necessário arrepender-nos
dos nossos pecados: “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão
dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo” (Atos 2:38). Em segundo lugar, é necessário
crermos: “a fim de que recebêssemos pela fé o espírito prometido” (Gál. 3:14). Em terceiro lugar, é
necessário que obedeçamos toda a vontade de Deus como expressa em Sua Palavra: “… o Espírito Santo,
que Deus outorgou aos que Lhe obedecem” (Atos 5:32). “Se Me amais, guardareis os Meus mandamentos. E
Eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará um outro Consolador, a fim de que esteja para sempre convosco” (João
14:16). “Dar-vos- ei coração novo, e porei dentro em vós espírito novo; tirarei de vós o coração de pedra e
vos darei coração de carne. Porei dentro em vós o Meu Espírito, e farei que andeis nos Meus estatutos,
guardeis os Meus juízos e os observeis” (Ezeq.36:26 e 27). Em quarto lugar, é necessário que perseveremos
em oração: “… o Pai celestial dará o espírito Santo àqueles que Lho pedirem” (Luc. 11:13). “Tendo eles
orado, tremeu o lugar onde estavam reunidos; todos ficaram cheios do Espírito Santo, e, com intrepidez,
anunciavam a palavra de Deus” (Atos 4:31). Mas mesmo a nossa oração deve ser sempre submetida à
vontade de Deus: “Faça-se a Tua vontade, assim na Terra como no Céu” (Mat. 6:10). Biblicamente o
batismo em nome de Cristo e do Espírito Santo são simultâneos. Assim como Cristo recebeu a unção do
Espírito Santo por ocasião do Seu batismo por João Batista (Mar. 1:10), todos aqueles que aceitarem as boas
novas da salvação devem ser batizados ao mesmo tempo “em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo”
(Mat. 28:19).
Cada cristão deve buscar com profundo ardor e insistência diariamente o poder regenerador e santificador do
Espírito Santo na vida; porém a escolha dos “dons espirituais” não lhe cabe decidir, pois isto pertence à
vontade do Espírito santo, de acordo com as necessidades e conveniências (I Cor. 12:11). É por este motivo
que Cristo condena a busca de milagres, ao declarar que “uma geração má e adúltera pede um sinal”
(Mat.16:4). E em Seu diálogo com Tomé, Cristo valoriza a fé sem milagres, ao afirmar: “Porque viste,
creste? Bem-aventurados os que não viram e creram” (João 20:29).
Evidências do recebimento do Espírito Santo
Muito embora um cristão que seja cheio do Espírito Santo possa receber poder para operar milagres, como
ocorreu com os apóstolos por ocasião do Pentecostes, não é esta a evidência decisiva de alguém possuir o
Espírito Santo na vida. Cristo, com o Seu olhar profético, declarou que nos últimos dias surgiria um grande
movimento de simulação da verdadeira obra do Espírito Santo: “Porque surgirão falsos cristos e falsos
profetas operando grandes sinais e prodígios para enganar, se possível os próprios eleitos” (Mat. 24:24). E
Ele acrescenta: “Nem todo o que Me diz: Senhor, Senhor! entrará no dos Céus, mas aquele que faz a vontade
de Meu Pai que está nos Céus. Muitos, naquele dia, hão de dizer-Me: Senhor, Senhor! porventura, não temos
nós profetizado em Teu nome, e em Teu nome não expelimos demônios, e em Teu nome não fizemos
milagres? Então lhes direi explicitamente: Nunca vos conheci. Apartai-vos de Mim, os que praticais a
iniquidade” (Mat. 7:21-23).
A experiência ocorrida no Egito, quando os sábios de Faraó simularam os milagres que o Senhor operara
através de Moisés e Arão (Êxo. 7:11), repetir-se-ia nos últimos dias (II Tes. 2:9-11). É por essa razão que o
próprio Espírito Santo inspirou o apóstolo João a alertar os crentes a esse respeito: “Amados, não deis crédito
a qualquer espírito: antes provai os espíritos se procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído
pelo mundo fora” (I João 4:1). E a Bíblia acrescenta: “ À lei e ao testemunho! Se eles não falarem desta
maneira, jamais verão a alva” (Isaías 8:20). E ela ainda adverte que os sensuais… não têm o Espírito” (Jud.
19).
Mas qual é a verdadeira evidência de que alguém possui o Espírito Santo? Na verdade, a evidência da
presença do Espírito Santo na vida de uma pessoa “é tão ampla quanto a Sua obra”. 3 Cristo disse que “pelos
seus frutos os conhecereis” (Mat. 7:20), e o apóstolo São Paulo acrescenta que “o fruto do Espírito é: amor,
alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio” (Gál. 5:22 e 23).
Portanto a evidência concreta é o fato de sua vida ter sido transformada de acordo com o padrão divino,
procurando conhecer e viver em conformidade com “toda a verdade”, pois esta é a obra do espírito Santo.
Jesus disse que os que entrarão no reino do Céus são aqueles que fazem a vontade de Deus (Mat. 7:21) A
Bíblia declara que João Batista era “cheio do Espírito Santo” (Luc. 1:15), mas “não fez nenhum sinal, porém
tudo quanto disse a respeito dEste era verdade” (João 10:41). E isto foi suficiente para Cristo afirmar que
“entre os nascidos de mulher, ninguém é maior do que João” (Luc. 7:28). Muito embora a obra universal do
Espírito Santo seja universalmente a mesma, não podemos generalizar a Sua obra especial no vida dos
crentes. Como “os dons são diversos, mas o Espírito é o mesmo” (I Cor. 12:4), e esses dons são distribuídos
pelo Espírito a cada um, “como Lhe apraz” (I Cor. 12:11); o fato de um genuíno cristão viver em plena
conformidade com a vontade de Deus, mas não possuir determinado dom, não é evidência de que ele não
seja cheio do Espírito Santo. Por outro lado, o próprio fato de alguém vangloriar-se de possuir determinado
dom que outra pessoa não possui, é evidência clara de que ele não está sendo guiado pelo Espírito Santo
(Gál. 5:25 e 26).
Na verdade “todos quanto anseiam ter semelhança de caráter com Deus, serão satisfeitos. O Espírito Santo
nunca deixa sem assistência a alma que está olhando a Cristo. …Se o olhar se mantiver fixo em Jesus, a obra
do Espírito não cessa, até que a alma esteja conforme a Sua imagem”. 4 E “não há limites à utilidade de uma
pessoa que, pondo de parte o próprio eu, oferece margem à operação do Espírito Santo na alma, e vive uma
vida de inteira consagração a Deus”. 5
PDF: O Espírito Santo – Quem? Como? Por Quê?

Referências:
1. Leon Morris, The Gospel According to John. (Grand Rapids: Michigan, Wm. B. Eerdmans Publ. Co.,
1979), p. 700.
2. Ellen G. White, Atos dos Apóstolos, p. 49.
3. Wilson H. Endruweit, Movimento Carismático. Um Estudo Exegético e Teológico de Suas Principais
Características. (São Paulo, Instituto Adventista de Ensino, 1977), p. 27.
4. Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações. p. 285.
5. Ibid., p. 227.

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Uma pessoa maravilhosa chamada Espírito Santo

José Carlos Ramos, D.Min.


Professor de Daniel e Apocalipse no Salt, Unasp, Campus Engenheiro Coelho, SP
Resumo: O Espírito Santo é revelado nas Escrituras como uma Pessoa divina semelhante ao Pai e ao Filho e,
ao mesmo tempo, distinta de ambos. Mas grupos dissidentes do adventismo insistem que o Espírito Santo
não passa de mera energia despersonalizada proveniente de Deus. Em resposta a essa teoria, o presente artigo
provê um estudo bíblico-exegético sobre a natureza da terceira Pessoa da Divindade. O autor também
procura restaurar o sentido original de algumas citações dos escritos de Ellen G. White distorcidas pelos
antitrinitarianos.
Abstract: The Holy Spirit is revealed in the Scriptures as a divine Person like the Father and the Son but, at
the same time, distinct to both. However, Adventist offshut groups insist that the Holy Spirit is only a mere
despersonalized energy from God. In response to this theory, the present article provides a biblical-exegetical
study on the third Person of the Godhead. The author also tries to restaure the original meaning of some
quotations from the writings of Ellen G. White that have being distorted by anti-Trinitarians.
Introdução
Dos membros da Trindade, o terceiro é Aquele de Quem há menos informações objetivas, precisas, que
definam o seu próprio Ser. O Filho Se tornou um de nós. Sua manifestação foi visível, material, em nosso
nível. O Pai foi por Ele revelado. Mas o Espírito permanece um tanto imperceptível, à parte, despretensioso,
operando sem autoprojeção, não Se impondo, não falando “de Si mesmo” (Jo 16:13). E no próprio ato do
desprendimento, Ele cumpre a divina obra que O faz conhecido. É parte de Sua glória exaltar e glorificar o
Filho e, através do Filho, o Pai, fazendo com que a revelação de ambos se efetive na consciência humana.
Que exemplo de abnegação!
No quarto Evangelho, o Espírito executa pelo menos sete atividades, todas em exaltação a Jesus:
(1) Ensinar, e
(2) Fazer lembrar tudo o que Jesus disse – João 14:26
(3) Dar testemunho de Jesus – João 15:26
(4) Convencer do pecado, porque o mundo não crê em Jesus; da justiça, porque Ele foi para o Pai; e do juízo,
porque Satanás foi julgado e derrotado – João 16:8
(5) Guiar a toda a verdade, e Jesus é a verdade (14:6) – João 16:13
(6) Declarar ou anunciar o que Jesus, da parte do Pai, Lhe entrega – João 16:13, 14, 15
(7) Glorificar a Jesus – João 16:14
O Apocalipse refere-se a Ele como os sete Espíritos de Deus (Ap 1:4, 5; 4:5). Sete é o número da plenitude.
O Espírito alcança a plenitude nesta atividade cristocêntrica sétupla.
Isso é tão fundamental para o plano da redenção, que, sem o operar do Espírito, seria como se Jesus nunca
tivesse encarnado e Deus nunca tivesse Se manifestado. Ele habilita o homem a entender a salvação e
responder positivamente a ela. Sem Ele, a Igreja não poderia cumprir Sua missão e estaríamos fadados a
permanecer neste mundo indefinidamente.
Objeto de especulação
Talvez o fato de existir pouca informação sobre o Espírito Santo faça com que uma conceituação sobre Ele
se torne mais susceptível de especulação. Nos dias de Ellen G. White havia aqueles que afirmavam que o
Espírito era uma “luz derramada” e “uma chuva caída”. Ela considerou essas ideias como de cunho
espiritualista, ou espiritista, e as condenou por rebaixarem a Deus.1
Igualmente afrontoso é tomá-Lo por criatura. Há os que acreditam que Ele e Gabriel se equivalem. A
inspiração nega isso fazendo clara distinção entre ambos no registro das palavras deste anjo a Maria:
“Descerá sobre ti o Espírito Santo…” (Lc 1:35). Gabriel não poderia estar falando de si mesmo. E Ellen G.
White assegura que o seguidor de Jesus pode sentir-se confiante e seguro no conflito “contra as hostes
espirituais da maldade”, porque “mais que anjos estão nas fileiras. O Espírito Santo, o representante do
Capitão do exército do Senhor, desce para dirigir a batalha.”2 Rebaixar o Espírito Santo à categoria de anjo
é, na realidade, minimizar a Deus, algo muito a gosto de Satanás.
Outra forma especulativa no tratamento de tão sublime tema é despojar o Espírito de Sua personalidade.
Entre os que negam a Trindade, é comum a afirmação de que Ele é apenas uma influência ou energia – o
poder de Deus. Esta idéia é tão antiga quanto o século terceiro, quando Paulo de Samosata,
monarquista/adocionista e bispo de Antioquia entre 260 e 272, a difundiu. No tempo da Reforma, Lélio
Socino e seu sobrinho Fausto, ambos antitrinitaristas, propagaram a teoria.
Não há como negar que este conceito rebaixa o valor do Espírito Santo para a Igreja. L. E. Froom a isto se
refere quando afirma que negar a personalidade do Espírito não é
mera questão técnica, acadêmica ou simplesmente teórica. É de suprema importância e do mais elevado valor
prático. Se Ele é uma Pessoa divina e O consideramos como influência impessoal, estamos roubando desta
Pessoa divina a deferência, honra e amor que Lhe são devidos. E mais: Se o Espírito é mera influência ou
poder, podemos então procurar apropriar-nos dEle e usá-Lo.3
Continua Froom:
Não, o Espírito Santo não é uma tênue, nebulosa influência imanente do Pai. Não é algo impessoal,
vagamente reconhecido, apenas um invisível princípio de vida… Jesus foi a personalidade mais influente e
marcante neste velho mundo, e o Espírito Santo foi designado para preencher Sua vaga. Nada a não ser uma
Pessoa poderia substituir Aquela maravilhosa Pessoa. Nenhuma simples influência seria suficiente.”4
Para substituir uma Pessoa maravilhosa só outra Pessoa maravilhosa.
Espírito de Deus, Espírito de Cristo, e o gênero neutro de Pneuma
Dissidentes se valem do fato de a Bíblia identificar o Espírito Santo como Espírito de Deus ou de Cristo (1Jo
4:2; 1Co 3:16; Gl 4:6; 1Pe 1:11, entre outros textos), para afirmar que o Espírito Santo é algo inerente a
Deus, tal como a Sua energia, virtude, fôlego, glória, etc., e que, portanto, ao ser enviado, “parte de dentro
(do interior) do Pai”.5
Ricardo Nicotra e Jairo de Carvalho, como exemplos, presumem que o verbo ekporeúomai, empregado em
João 15:26 (um dos textos que registram a promessa do envio do Espírito), e vertido como “proceder” na
Almeida Revista e Atualizada, significa originalmente sair, ou partir, ou vir de dentro de, do interior de.6
Não se sabe de onde eles copiaram esta idéia, mas o que temos aqui é uma dedução apressada e temerária.
Quando tão somente ekporeúomai é registrado, não é feita referência ao ponto de partida do movimento que
ele expressa; nesse aspecto, o verbo significa simplesmente sair, partir, encaminhar-se, conduzir-se,
proceder, etc. (no sentido de ida e de vinda), tal como aparece em algumas passagens, como Lucas 3:7, que
fala de multidões que “saíam para serem batizadas” (saíam de onde?), ou Atos 9:28, informando que, estando
Paulo em Jerusalám, entrava e saía com toda a liberdade (entrava e saía sem sair de Jerusalém, isto é, ele se
movimentava livremente na cidade).
Às vezes, o sentido de procedência de ekporeúomai está implícito, mas normalmente ele é dependente da
preposição que rege o ponto de origem explícito na frase. Por esta razão, é totalmente supérfluo se valer de
outros textos em que este verbo é empregado aparentemente com o significado aludido pelos dissidentes, se,
nesses textos, a preposição é distintamente outra. Três exemplos alegados por Nicotra, com as referidas
preposições aqui italizadas, são como seguem:
(1) “Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que procede da boca de Deus” (Mt 4:4);
(2) “O que sai do homem, isso é o que o contamina” (Mc 7:20); e
(3) “Então vi sair da boca do dragão, da boca da besta…” (Ap 16:13).7
O original de (3) não consigna verbo algum, e é levado em conta apenas na pretensão do dissidente, razão
porque desconsideramos esse exemplo. Observamos, então, que em (1), a preposição é diá cujo sentido
principal é através de; qualquer palavra, normalmente, é emitida através da boca, daí procedendo. Alegar que
antes que uma palavra seja dita ela se formulou na mente, o que pode até ser um fato,8 e que, portanto,
significa “sair de dentro”, é impor ao verbo um sentido que ele, por si só, não reúne. É a preposição que se
liga ao ponto de onde parte o movimento que poderá dar esse significado.9
Por exemplo, em (2), a preposição é ek, “de, desde”, e pode implicar o sentido “de dentro de”, como o
emprego de ésôten, “de dentro”, em Marcos 7:21 e 23 demonstra. Dizemos que pode, porque nem sempre é
isto o que ocorre, ainda que seja empregada a preposição ek. Exemplos: “Do trono [ek tou thrónou] saem
relâmpagos, vozes trovões…” (Ap 4:5), e “rio da água da vida… que sai do trono [ek tou thrónou] de Deus”
(22:1) não significam necessariamente que os relâmpagos, vozes, trovões e o rio saem de dentro do trono.
Ademais, se o sentido original de ekporeúomai fosse mesmo “vir de dentro”, como querem os dissidentes,
seria uma desnecessária redundância Marcos 7:21 e 23 registrar ésôthen ekporeúetai, “procedem de dentro”;
seria o mesmo que dizer em português: sair para fora, entrar para dentro, subir para cima e descer para baixo.
Assim, a preposição é importante para se estabelecer o ponto de origem do movimento expressado por
ekporeúomai. Em João 15:26, a preposição é pará, também “de, desde”, mas com a acepção de posição,
colocação, etc. (cf. à nossa palavra paralelo). Segundo Robertson, uma das maiores autoridades no estudo do
koiné, o grego popular do Novo Testamento, pará significa “ao lado de”, “junto com”.10 Em outras palavras,
o Espírito Santo procede de onde o Pai está, não do íntimo dEle.
Assim, o verbo ekporeúomai, para ter o significado requerido por Nicotra e Carvalho na aplicação que fazem
ao Espírito Santo, teria que, no mínimo, estar ligado à preposição ek, ou, então, apó, como na construção
“saía de Jericó” em Marcos 10:46. E este não é o caso em João 15:26.
Portanto, a fórmula “Espírito de Deus”, ou “de Cristo”, indica procedência e não inerência, e implica que a
obra do Espírito Santo é executada em subordinação ao Pai e ao Filho. Parte desta obra é a representação
vicária de Ambos neste mundo. De fato, Jesus prometeu aos discípulos que, juntamente com o Pai, retornaria
para eles na pessoa do Espírito Santo (Jo 14:16-18, 23).
Outro expediente utilizado pelos que rejeitam a personalidade do Espírito Santo é o gênero neutro do grego
pneuma, espírito. “A Bíblia não empregaria uma palavra neutra para identificar uma personalidade,” dizem.
Contra esta hipótese se verifica que o termo é usado em referência a entidades reconhecidamente pessoais.
“São todos eles espíritos ministradores…”, afirma o escritor sagrado acerca dos anjos (Hb 1:14).
Especulação na ordem do dia
Condenando as especulações, o Espírito de Profecia adverte: “A natureza do Espírito Santo é um mistério.
Os homens não a podem explicar, porque o Senhor não revelou. Com fantasiosos pontos de vista, pode-se
reunir passagens das Escrituras e dar-lhes um significado humano; mas a aceitação desses pontos de vista
não fortalecerá a Igreja. Com relação a tais mistérios – demasiado profundos para o entendimento humano –
o silêncio é ouro.”11
Quanto a esse assunto (natureza do Espírito Santo), está na ordem do dia o que Ellen White classifica de
“fantasiosos pontos de vista”. Dissidentes oportunistas e aventureiros, com “comichões nos ouvidos” (2Tm
4:3), imaginam ser crime de apostasia a aceitação da divindade do Espírito Santo, e, inescrupulosamente,
intentam arrancar das páginas sagradas alguma noção que lhes satisfaça as divagações; com isto, acabam
preterindo o criterioso ensino bíblico e do Espírito de Profecia sobre tão sublime tema, por arrazoados
fantasistas e inconsequentes que, no mínimo, denigrem o caráter sacratíssimo deste Ser. E isso, sim, é crime.
E o que é pior: julgam-se os portadores da verdade, enquanto o povo de Deus, em sua totalidade, está errado.
Não obstante, o que acontecia no tempo de Ellen G. White, e que mereceu sua veemente censura, está
literalmente ocorrendo hoje, pois tal como a serva do Senhor denunciou, os atuais dissidentes igualmente
reúnem um punhado de “passagens bíblicas”, arbitrariamente catadas aqui e ali e, sem o mínimo respeito às
mais elementares regras hermenêuticas, colocam-nas numa cadeia temática ilegítima que as obriga a afirmar
aquilo que eles pretendem. O resultado é uma interpretação barata, superficial, abusiva, tendenciosa, sem o
necessário respaldo de pesquisa séria e responsável, o que, inevitavelmente, conduz a conclusões confusas e
contraditórias; ora o Espírito é definido em termos de pessoalidade, ora em termos de abstração.
Para se confirmar esse fato, basta uma olhadela em publicações produzidas por separatistas. Algumas
colocações aí feitas quanto ao Espírito Santo são de estarrecer mesmo o leitor casual. “Entre outras, cada
qual mais descomunalmente absurdas,”12 são feitas as seguintes declarações:
O Espírito Santo…
(1) …é o sopro, o fôlego de Deus,13 no sentido de que da mesma forma que o homem tem fôlego (isto é,
espírito) Deus também tem fôlego (isto é, espírito).14 Em outras palavras, a teoria transforma uma simples
analogia empregada por Paulo (ver 1Co 2:11) numa realidade substancial que toma o homem por modelo.
Mas se isto é o que Espírito de Deus significa, é inevitável a ideia de que o antropomorfismo divino, longe
de ser um engano,15 é um conceito correto: o homem é a padronização de Deus – como é com ele, assim é
com Deus!!! Mas vejamos: não importando se o homem tem fôlego porque respira ou respira porque tem
fôlego, uma questão aqui pertinente é: Deus respira? (bem, esse seria o caso se Ele tivesse fôlego como o
homem). Tem Ele um sistema respiratório que inclui, por exemplo, pulmões? Há no céu uma camada
atmosférica para suprir a respiração dos que ali habitam?
(2) …é o próprio Senhor,16 no sentido de que o Espírito Santo equivale ou a Cristo, ou ao Pai, ou a ambos.
Este raciocínio descamba para uma variação de outra heresia; seria um sabelianismo17 dicotômico.
(3) …é isto.18 O dissidente Jairo Carvalho afirma que é “um total desprezo chamar mesmo um ser humano
de ‘isto’”, quanto mais Deus, o que para ele é “uma prova de que o Espírito Santo não pode ser um Deus”,19
já que, como ele supõe, Atos 2:33 O identifica como “isto”. Mas nesse caso, não importando o que ou quem
Ele seja, o Espírito Santo é, segundo esse raciocínio, inferior ao próprio homem, pois “isto”, que não é
cabível a este, é próprio para o Espírito Santo.
Pena que o Sr. Carvalho não tenha percebido que o demonstrativo neutro não se aplica à pessoa do Espírito
Santo propriamente, mas ao efeito poderoso da Sua operação, o milagre que todos testemunharam! O texto
diz: “Exaltado, pois, à destra de Deus, tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto
que vedes e ouvis.” Por um lado, “Espírito Santo”, o assunto da promessa, e “isto”, o que foi derramado, não
se correspondem necessariamente; por outro lado, segundo o discurso de Pedro à multidão atônita, o “isto”
foi referido como aquilo que “vedes e ouvis”. O que eles viam e ouviam? Era o Espírito Santo ou era a Sua
operação? Bem, ali estava um grupo de iletrados galileus falando, nos vários idiomas representados, as
grandezas de Deus (vs. 6-8, 11 e 12), e isto eles estavam muito bem vendo e ouvindo; em outras palavras,
eles testemunhavam o poder do Espírito em exercício, e era exatamente o poder do Espírito, e não Sua
pessoa, que fora derramado.
Com efeito, Atos não afirma que Deus derramou o Seu Espírito, mas do Seu Espírito (ver 2:17). Em 10:45, é
o “dom do Espírito” que “foi derramado.” À luz de 1 Coríntios 12, o Espírito Santo é tanto dom como
doador. Derramar significa conceder generosamente, e refere-se fundamentalmente aos recursos do Espírito.
Dias antes, Jesus havia prometido isso aos discípulos; receberiam poder ao descer sobre eles o Espírito (At
1:8). É a Pessoa quem desce; é o poder que é “derramado”. O que aconteceu com a igreja primitiva foi a
repetição do que já acontecera com Jesus (10:38). Neste texto, o Espírito é distinto de poder, e vice-versa. De
fato, ao ser batizado, o Espírito Santo desceu sobre Jesus em forma de pomba (Mt 3:16), e o resultado foi um
poderoso ministério. O senso de derramamento transparece no relato de Marcos, que afirma que “os céus
rasgaram-se” (1:10), enquanto o de pessoalidade é notado em Lucas, ao afirmar que o Espírito veio em
“forma corpórea” (3:22).
Houve, portanto, uma compreensão equivocada de Atos 2:33 por parte do Sr. Carvalho. O demonstrativo isto
se refere antes à consequência da manifestação do Espírito, que à Sua pessoa.
(4) …é a mente de Deus.20 Mas a Bíblia diz que o próprio Espírito tem mente (Rm 8:27); seria correto falar
em mente da mente?
(5) …é o dedo de Deus.21 Nesse caso, o Espírito Santo seria uma pequena parte d[o corpo d]e Deus. E aí
pergunta-se: “Deus tem corpo?”
(6) …é qualquer anjo fiel22 com especial menção primeiramente a Lúcifer,23 então a Gabriel, quando
aquele que se tornou Satanás foi expulso do céu.24 Na verdade, o autor confundiu a verdade afirmando que
Gabriel é um Espírito Santo, mas não o Espírito Santo, o qual é a glória de Deus.25 Mas quantos Espíritos
Santos existem? A Bíblia diz que é apenas um (Ef 4:4). Para Carvalho, entretanto, qualquer anjo fiel pode ser
um Espírito Santo; Gabriel é a terceira pessoa da Divindade (que ele insiste em dizer que é “a partir da
Divindade”),26 e deve ser distinguida do Espírito Santo. Mas a inspiração afirma que ambos, a terceira
pessoa e o Espírito Santo, são o mesmo ser: “O príncipe da potestade do mal só pode ser mantido em
sujeição pelo poder de Deus na terceira pessoa da Divindade,27 o Espírito Santo.”28
(7) …é a glória de Deus.29 Aqui o dissidente se aproximou consideravelmente de uma das abstrações
espíritas condenadas por Ellen G. White; havia em seu tempo aqueles que diziam que o Espírito Santo era
uma “luz derramada”.30 Mas o mais deplorável é consignado ao final das colocações de Carvalho: como o
Espírito Santo é meramente a glória divina, então mesmo o “pior inimigo de Deus”, Satanás, tem o Espírito
Santo, pois ele “ainda possui um pouco da glória que recebeu de Deus.”31 Simplesmente estarrecedor!
É espantoso como determinados elementos, como fruto de seus devaneios, chegam ao extremo de nescidades
como esta; isto é sacrilégio de elevada ordem, diante da qual as palavras de Jesus soam oportunas: “…a
blasfêmia contra o Espírito não será perdoada. … Se alguém falar contra o Espírito Santo, não lhe será isso
perdoado, nem neste mundo nem no porvir… visto que é réu de pecado eterno”(Mt 12:31, 32; Mc
3:29). Dizer que o Espírito Santo é a glória de Deus, que o próprio diabo ainda retém e emprega em sua obra
de engano, como o Sr. Carvalho afirma, é, na realidade, dizer que o Espírito Santo é um instrumento nas
mãos do diabo para a operação do mal e serviço do pecado!!! Na esperança de, quem sabe, despertar um
pouco a consciência do dissidente, pergunto: “O Espírito Santo continua ainda glorificando a Cristo, como
João 16:14 afirma que é uma de Suas tarefas, quando Ele é usado pelo diabo em sua obra satânica?”
Um Ser pessoal e divino
Impugnadas as lucubrações meramente humanas quanto ao Espírito Santo, observemos agora o que a
revelação tem a dizer sobre tão excelso tema.
Quando Ellen G. White afirma que “a natureza do Espírito Santo é um mistério”,32 não significa que nada
podemos aprender sobre Ele. Aquilo que a revelação nos transmite não é especulação; é a realidade que
temos o dever de, pela fé, aceitar.
Dois pontos sobre o Espírito Santo estão devidamente assentados nas páginas sagradas: Ele é uma pessoa, e é
Deus. “O Espírito Santo tem personalidade, do contrário não poderia testificar ao nosso espírito e com nosso
espírito que somos filhos de Deus. Deve ser uma pessoa divina, do contrário não poderia perscrutar os
segredos que jazem ocultos na mente de Deus.”33
A Personalidade do Espírito Santo
A personalidade do Espírito Santo é claramente inferida do testemunho bíblico. As seguintes referências não
deixam dúvida a respeito:
(1) Ele é citado entre pessoas: “Pois pareceu bem ao Espírito Santo e a nós não vos impor maior encargo…”
(At 15:28). Além disso, Ele aparece na fórmula batismal junto ao Pai e ao Filho (Mt 28:19); seria
redundância Jesus mencionar o Espírito Santo, tendo já mencionado o Pai, fosse Ele a mera energia dEste, ou
Seu sopro, ou Sua glória; também não faria sentido Jesus ordenar o batismo em nome de uma Pessoa, o Pai,
de outra Pessoa, o Filho, e agora em nome de uma energia, ou sopro, ou glória, o Espírito.34
(2) Pode e deve ser mantida comunhão com Ele (Fp 2:1; 2Co 13:14). Não se mantém comunhão com uma
energia, nem com um sopro, ou glória.
(3) Não é mero poder, mas tem poder (Rm 15:19). Seria outra redundância a Bíblia falar do poder do Espírito
Santo, fosse Ele mero poder; seria “o poder do poder”, o que é um contra-senso, da mesma forma que
“mente da mente” visto acima.
(4) Pode-se mentir a Ele (At 5:3). Mente-se a uma pessoa e não a uma energia, a uma luz, ou à glória.
(5) Pode-se-Lhe resistir (At 7:51). É possível cumprir o papel de um resistor (componente que impede, ou
atenua, o fluxo da corrente elétrica) para com o Espírito Santo? Sim, e isto o pecador faz quando, diante do
apelo divino, prefere permanecer no erro. Mas tal não significa que o Espírito Santo não seja uma pessoa,
pois não é apenas a uma energia que se resiste. Pessoas também podem ser resistidas, incluindo Deus
(11:17). O texto fala de se resistir às claras evidências da verdade, apresentadas pelo Espírito Santo.
(6) Pode-se guerrear contra Ele (Gl 5:17). O que é uma intensificação de resistência ao Espírito Santo.
(7) Pode-se ultrajá-Lo (Hb 10:29). Como é possível ultrajar uma energia, o sopro, a glória? Ultrajar se liga
naturalmente ao sentido de afrontar, insultar, difamar, injuriar, ofender, deprimir, vilipendiar, desacatar,
vituperar, envergonhar. Como se pode fazer tudo isso a uma abstração?
(8) Pode-se blasfemar contra Ele como se blasfema contra o Filho (Mt 12:31). É possível blasfemar contra o
sopro, contra uma energia? Blasfema-se contra uma pessoa, como é caso de Jesus aqui.
(9) Ele executa específicas funções próprias, não de uma abstração, mas de uma pessoa:
• sonda, perscruta a Deus – 1Co 2:10
• concede dons para a edificação da Igreja – 1Co 12:8, 12
• manifesta-Se nesses dons –1Co 12:7 (em outras palavras, ao conceder dons à Igreja o Espírito Se dá a ela)
• contende com pecadores – Gn 6:3
• ordena sobre itens relevantes para a obra e o povo de Deus – At 8:39; 10:19, 20
• envia pessoas no processo do cumprimento de alguma missão – At 10:19, 20
• ensina o que uma vez ouviu – Jo 16:13 (ouvir não é próprio de uma energia), ver também 14:26; 1Co 2:13
• revela, especialmente pelo exercício profético – At 1:16; 2Pe 1:21; 1Tm 4:1
• testifica através da intuição na consciência, bem como com o testemunho da Igreja – Rm 8:16; At 5:32; Ap
22:17
• move o agente humano na captação da revelação divina – 1Pd 1:21
• incute novas realidades ainda não percebidas – Hb 9:8
• indica a correta compreensão do que é revelado – 1Pd 1:11
• guia os filhos de Deus – Rm 8:14, inclusive na busca de “toda a verdade” – Jo 16:13
• assiste nas fraquezas – Rm 8:26
• intercede corrigindo nossas orações – Rm 8:26
• produz frutos na vida dos que se submetem a Ele – Gl 5:22, 23
• lava e renova, o que resulta em salvação – Tt 3:5. Em João 3:5, 6 este ato é referido por Jesus em termos do
novo nascimento
• escreve a lei de Deus nas tábuas do coração – 2Co 3:3
• santifica – 2Ts 2:13; 1Pd 1:2
• sela os que são de Deus – Ef 1:13
(10) Ele possui mente (Rm 8:27). O termo grego, traduzido “mente” neste texto em algumas versões, é
phrónema (alguma coisa que se tem em mente, que passa pela mente, o pensamento), em contraste com nous
(a mente como sede da consciência, da reflexão, da percepção, do entendimento, do julgamento crítico e da
determinação). O importante é que phrónema pressupõe a existência de nous. Apenas um ser pessoal é
dotado de nous, e pode exercer phrónema. O Espírito Santo é um ser pensante, o que implica inteligência e
consciência. Ele não pode ser menos que uma pessoa.
Mas o que é uma entidade pessoal? É aquela que afeta outras entidades pessoais e é afetado por elas. Afeta-
nos Deus? Naturalmente. Podemos afetá-Lo? Bem, Sua tristeza e alegria, misericórdia e justiça, interesse por
nós e condescendência, amor e ira indicam que sim. Deus é afetado por Suas criaturas porque antes de mera
consciência das coisas, Ele tem autoconsciência; esta é o traço fundamental da personalidade porque é a
capacidade que uma pessoa tem de referir a si mesma a consciência de qualquer coisa ou experiência pela
qual passa. Isso não acontece com um animal, porque ele não pode distinguir entre o ego pessoal e a
momentânea sensação que experimenta. Por não ser um ente pessoal, ele não consegue formar uma noção
objetiva de seus sentimentos e das ações que estes geram, e aplicá-los a si mesmo. O ser humano, ao
contrário, torna-se, por exemplo, consciente de erros cometidos, reconhece-os como tais, e chega à
autoconsciência da culpa. Isso porque é um ser pessoal, dotado de mente e razão.
Aplicando isso a Deus, dizemos que Sua autoconsciência é prova irretorquível de Sua personalidade. Isaías
55:8 fala de Seus pensamentos. Ele pensa porque tem mente, e ter mente O faz pessoal. Então, quando nos é
afirmado que também o Espírito Santo tem mente, não podemos senão concordar que Ele é, de fato, um ser
pessoal. Se assim é, perguntamos: afeta Ele a cada um de nós? Por suposto que sim.35 Afetamos igualmente
a Ele? Claro, pois a Bíblia fala da tristeza (Ef 4:30), do anseio (Tg 4:5), da alegria (1Ts 1:6), da vontade (1Co
12:11), do amor (Rm 15:30), e até do ciúme (Tg 4:5) do Espírito Santo.
(11) Além disso, o Novo Testamento emprega fartamente pronomes pessoais gregos em referência ao
Espírito Santo. Apenas em João 14-16 isso ocorre 24 vezes, e Ele próprio faz referência a Si com o pronome
pessoal: “Disse o Espírito [a Pedro]: Estão aí dois homens que te procuram; levanta-te, pois, desce e vai com
eles nada duvidando; porque Eu os enviei” (At 10:19, 20).
(12) Finalmente, a palavra inconteste de Jesus não deixa qualquer margem para dúvida no que respeita à
personalidade do Espírito Santo. “Eu rogarei ao Pai,” prometeu Ele à Igreja, “e Ele vos dará outro
Consolador, o Espírito Santo” (Jo 14:16, 26). Chamando-O “Consolador”, Jesus evocou Sua personalidade.
O original parákletos (etimologicamente chamado para estar ao lado de), é masculino e aplica-se à pessoa
que apóia, conforta, orienta, defende, etc., o que uma abstração não faz.
A Divindade do Espírito Santo
Um estudo mais atento da Palavra de Deus, e, acima de tudo, desprovido de idéias pré-concebidas, atesta
naturalmente a divindade do Espírito Santo. Pode Ele ser menos que Deus, se possui os atributos
exclusivamente divinos de Eternidade (Hb 9:14), Onisciência (1Co 2:10 e 11) e Onipresença (Sl 139:7)?
Quem menos que Deus pode criar e comunicar vida (Jó 33:4), convencer do pecado, da justiça e do juízo (Jo
16:8), regenerar (Tt 3:5), santificar (2Ts 2:13; 1Pe 1:2), escrever Sua lei nas tábuas do coração (2Co 3:3),
ressuscitar (Rm 8:11), e selar o crente para o dia da redenção (Ef 4:30)?
Como um ser menor que Deus pode perscrutá-Lo? (1Co 2:10). Como pode a blasfêmia contra o Espírito
Santo não ser perdoada, enquanto que aquela contra Jesus pode (Mt 12:31)? Porventura, pecar contra uma
coisa, ou uma criatura, é algo mais sério que pecar contra Deus? E como é possível que, segundo a fórmula
batismal (28:19), alguém deva ser batizado em nome do Pai (que é Deus), do Filho (que também é Deus), e
do Espírito Santo (que seria uma coisa ou uma criatura, como supõem os antitrinitaristas)?
Além disso, é-nos afirmado que, no próprio ato de mentirem ao Espírito Santo, Ananias e Safira mentiram “a
Deus” (At 5:4). Nesse mesmo sentido de correspondência, Paulo primeiramente declara que somos santuário
“de Deus, e que o Espírito de Deus habita em” nós (1Co 3:16; ver também 6:19), para então afirmar que
“somos santuário do Deus vivente”, e que é o próprio Deus que habita em nós (2Co 6:16, 17). Percebemos
claramente aqui que o Espírito Santo habitando no coração é Deus se fazendo aí presente. Isso não seria
possível se Ele mesmo, o Espírito Santo, não fosse Deus.
E quanto a Jesus? Reconheceu Ele a divindade do Espírito Santo? Bem, deixemos mais uma vez que Ele
fale. Ele prometeu “outro Consolador” (Jo 14:16). “Outro” pressupõe um Consolador prévio, o próprio Jesus,
também identificado como Parákletos (1Jo 2:1). Dois termos gregos são vertidos “outro” em nossas Bíblias:
állos e héteros, o primeiro, empregado aqui, significando “outro da mesma espécie”, enquanto o segundo
“outro de natureza diferente”. O prometido Consolador é Alguém tão divino quanto Jesus. Fosse Ele Gabriel,
como querem os dissidentes, teria que ser classificado héteros, e não állos.
Mas, qual a qualidade da divindade de Jesus? A Bíblia e o Espírito de Profecia não deixam por menos: Ele é
tão divino quanto o Pai, e é um com Este desde toda a eternidade (Jo 1:1; 10:30). “Cristo era Deus em
essência e no mais alto sentido. Ele esteve com Deus desde toda a eternidade…”36 Se assim é com o
primeiro Consolador, não será diferente com o segundo. O mesmo Espírito de Profecia confirma esse fato:
“O Consolador que Cristo prometeu enviar depois de ascender ao Céu, é o Espírito em toda a plenitude da
Divindade, tornando manifesto o poder da graça divina a todos quantos recebem e crêem em Cristo como um
Salvador pessoal.”37 “Toda a plenitude da divindade” é precisamente o que Colossences 2:9 afirma residir
corporalmente em Cristo. De fato, o Espírito Santo é o segundo Consolador, da mesmíssima natureza do
primeiro.
É-nos afirmado ainda: “Precisamos reconhecer que o Espírito Santo, que é uma pessoa, como o próprio
Deus, está andando por estes terrenos.”38 Pode ainda haver dúvida que, à luz da inspiração, o Espírito Santo
seja uma pessoa, e seja Deus?
Um com o Pai e um com o Filho
Um último ponto referente à divindade do Espírito Santo se faz necessário. Pela doutrina da Trindade
entendemos que Jesus é um com o Pai porque possui a mesma natureza divina dEle. São distintos como
Pessoas, mas iguais em Divindade. Isto resulta em que onde Um está pessoalmente, ali o Outro estará
essencialmente. Enquanto o Filho estava pessoalmente na Terra, o Pai estava essencialmente aqui (embora
pessoalmente continuasse no Céu), pois Jesus afirmou: “Não estou só, porque o Pai está comigo” (Jo 16:32).
Da mesma forma, enquanto O Pai estava pessoalmente no Céu, Jesus estava essencialmente ali, pois disse a
Nicodemos muito antes da ascensão: “Ninguém subiu ao Céu, senão Aquele que de lá desceu, o Filho do
homem que está no Céu” (3:13).39
Devemos crer que é exatamente isso o que ocorre em relação ao Espírito Santo? A resposta é “sim!”, pois,
como vimos, Ele é állos, isto é, da mesma natureza divina de Jesus. É por isso que o Salvador,
imediatamente após prometer a vinda do “outro Consolador” que estaria não apenas “com”, mas “nos”
discípulos (Jo 14:16, 17), pôde também assegurar-lhes que, por este Consolador, Ele, Jesus, voltaria para eles
(v. 18) e, com o Pai, faria neles morada (v. 23). Isto porque o Espírito Santo é igual a Jesus e ao Pai em
divindade. Assim, onde Ele estiver, Pai e Filho também estarão. É por esta razão que Jesus declarou ser
vantajoso aos discípulos que voltasse ao Céu, pois assim lhes enviaria o Espírito (Jo 16:7), e, através dEle,
estaria em todo o tempo com toda a Sua comunidade de seguidores.
O Espírito Santo é o representante de Cristo, mas despojado da personalidade humana, e dela independente.
Limitado pela humanidade, Cristo não poderia estar em toda a parte em pessoa. Era, portanto, do interesse
deles [os discípulos] que fosse para o Pai, e enviasse o Espírito como Seu sucessor na Terra. Ninguém
poderia ter então vantagem devido a sua situação ou seu contato pessoal como Cristo. Pelo Espírito, o
Salvador seria acessível a todos. Nesse sentido, estaria mais perto deles do que se não subisse ao alto.40
Com isto em mente, não há qualquer dificuldade para se entender o que Ellen G. White quis dizer quando
declarou:
Impedido por Sua humanidade, Cristo não poderia estar em todos os lugares pessoalmente; então foi para
benefício deles que Ele deveria deixá-la, ir para o Pai, e enviar o Espírito Santo para ser Seu sucessor na
Terra. O Espírito é Ele mesmo, despojado da personalidade humana e independente dela. Ele Se
representaria como estando presente em todos os lugares por Seu Espírito, como onipresente.41
Como ela afirma, o Espírito Santo reunindo, a exemplo de Jesus, a plenitude da divindade, é o sucessor de
Cristo, e pode tão perfeitamente representá-Lo neste mundo, que se torna uma bendita realidade a presença
essencial dEle aqui, isto é, “Ele mesmo,” Cristo, “despojado da personalidade humana e independente dela…
como estando presente [com Seu povo] em todos os lugares por Seu Espírito, como onipresente.” “O Senhor
Jesus age através do Espírito Santo, pois é Seu representante.”42
Quão surpreendentemente fascinante é o plano de Deus e Seu trato com os pecadores! Enaltecido seja o Seu
nome.
Conclusão
Que pessoa maravilhosa é o Espírito Santo! Que humildade, que interesse, que desvelo! Ele nos ama a ponto
de instar conosco a que sejamos salvos. Ele está disposto a aplicar em nossa vida a obra redentora da cruz em
toda a Sua extensão. A exemplo do Pai e do Filho, Ele anseia por nossa presença no reino de Deus. Já Lhe
agradecemos por isso?
De fato, Ele é um precioso amigo. Se O resistirmos, magoá-Lo-emos, e Ele poderá se afastar triste e pesaroso
por nossa indelicadeza e apego a ideias que O desmerecem, e que resultarão finalmente em nossa ruína
eterna. Mas se O valorizarmos como Ele merece, e O acolhermos em nossa vida, Ele tomará posse do nosso
ser, far-nos-á crescer em semelhança com Jesus, até que coloquemos nossos pés na cidade celestial.
“Hoje, se ouvirdes a Sua voz, não endureçais os vossos corações” (Hb 4:7).

Referências
1 Ellen G. White, Evangelismo (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1997), 614. ↑
2 Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2001), 352. Esta
afirmação do Espírito de Profecia denota claramente a personalidade e divindade do Espírito Santo. ↑
3 LeRoy E. Froom, A Vinda do Consolador (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1988), 40. À página 36
da edição castelhana, acrescenta-se ao final do parágrafo a seguinte colocação: “Mas se O reconhecemos
como Pessoa, estudaremos como nos submeter a Ele de modo que nos use segundo Sua vontade.” ↑
4 Ibid, 41, 42. ↑
5 Ricardo Nicotra, “Eu e o Pai Somos Um” (São Paulo: Ministério Bíblico Cristão, maio/2004), 9, 34 e 35;
Jairo Carvalho, A Divindade (Contenda, PR: Ministério 4 anjos, s.d.), 114. ↑
6 Ibid, 35. ↑
7 Ibid. ↑
8 Embora, de vez em quando, palavras sejam proferidas ou escritas por aí sem, ao menos, se pensar nelas. ↑
9 É bom lembrar neste momento que Jesus é chamado Logos, “Palavra” (a Almeida verte “Verbo”), nos
escritos joaninos (Jo 1:1, 14; 1Jo 1:1; Ap 19:13), e nem por isso iríamos afirmar que Ele, na encarnação,
procedeu de dentro do Pai. O emprego da preposição prós, “com”, no prólogo do quarto Evangelho indica
que Jesus veio da íntima companhia do Pai, de um relacionamento face a face, de um companheirismo como
iguais (ver A. T. Robertson, A Grammar of the Greek New Testament in the Light of Historical Reserarch
[Nashville, TN: Broadman, 1934], 613, e The Divinity of Christ in the Gospel of John [New York: Fleming
H. Revell, 1916], 39): “O Verbo estava com [prós] Deus… Ele estava no princípio com [prós] Deus” (Jo 1:1,
2). Vemos, então, que é sempre importante levar em conta a preposição usada e sua conotação. ↑
10 Robertson, A Grammar, 613; ver pp. 553-649 para uma abordagem geral das preposições gregas. ↑
11 Atos dos Apóstolos (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1986), 52. ↑
12 A fórmula é de Rui Barbosa em alusão às prerrogativas papais de infalibilidade (ver O Papa e o Concílio
[Rio de Janeiro: Elos, s/d], I:113). ↑
13 Nicotra, 8, 9. Carvalho, 44-46, 74, 110. ↑
14 Nicotra, 8, 9, 11. ↑
15 Por exemplo, muito da “teologia” grega do tempo dos apóstolos era antropomórfica, o que naturalmente
recebeu o repúdio da fé cristã. ↑
16 ↑Nicotra, 12, 32, 33, 36; Carvalho, 18, 19, 20, 21, 26, 31, 32, 50, 51,
17 Sabelianismo, de Sabélio, herege do terceiro século, que afirmava que uma única Pessoa na Divindade se
manifesta de três modos distintos: às vezes como Pai, outras como Filho, e ainda outras como Espírito Santo.
Assim, para Sabélio, o Espírito Santo era às vezes o Pai, outras vezes o Filho. ↑
18 Carvalho, 21. ↑
19 Ibid. ↑
20 Nicotra, 8. ↑
21 Ibid, 28. ↑
22 Carvalho, 24. ↑
23 Ibid, 132, 133. ↑
24 Ibid., 80, 134, 135, 136, 137. ↑
25 Ibid., 80, 137. ↑
26 Ver nota a seguir. ↑
27 “A partir da Divindade”, em vez de “da Divindade”, é como Jairo Carvalho verte o original inglês “of the
Godhead”, do texto em apreço de Ellen G. White. Ele recorre ao Webster’s Dictionary em apoio à sua
versão, afirmando que, segundo este, “of ” é sinônimo de “from”, que ele afirma significar “a partir de”
(107). Mas, na acepção que o dissidente requer, é duvidoso atribuir tal significado à preposição “from”. Em
sua edição mais completa, o aludido dicionário supre os diversos casos de equivalência entre “of” e “from”, e
nenhum deles coincide com o que o dissidente imagina (ver “of ” em Webster’s Dictionary of the English
Language – Unabridged – Encyclopedic Edition [Chicago, IL.: J. G. Ferguson Publishing Company, 1979],
II:1241, 1242). Igualmente não pode ser alegado que, “na época em que o texto [de Ellen G. White] foi
escrito, por volta de 1890”, um dos significados de “of ” era “a partir de” (Carvalho, 107, 128), pois o
mesmo Dicionário supre os significados obsoletos do termo e também nenhum deles é o que o dissidente
pretende. Quisesse a serva do Senhor declarar o que ele afirma, teria registrado algo como “starting from”
em lugar do simples “of ”. ↑
28 Evangelismo, 617. Se é apenas pelo poder do Espírito Santo que se vence o inimigo, o que será dos que O
negam e rejeitam? Senhores dissidentes, pensem nisso! ↑
29 Carvalho, 22, 52, 114, 116, 117, 118, 121, 122, 124, 125, 142, 143, 159. ↑
30 Evangelismo, 614. ↑
31 Carvalho, 165. ↑
32 Atos dos Apóstolos, 52. ↑
33 Evangelismo, 617. ↑
34 Afirmar, como o Sr. Nicotra faz (18-24), que a fórmula batismal no tríplice nome de Deus em Mateus
28:19 foi interpolada posteriormente ao texto original do Evangelho, sendo, portanto, apócrifa, não é
verdade, como ficou evidenciado em Jose C. Ramos, “Mateus 28:19 ¯ falso ou autêntico?”, Revista
Adventista, maio de 2005, 10, 11. ↑
35 Veja, por exemplo, Lucas 2:27; João 3:5, 6; 16:8; Romanos 8:4, 23; 14:17; Gálatas 5:17, 22, 23; 1 Pedro
1:2; 2 Pedro 1:21. ↑
36 Ellen G. White, “The Word Made Flesh,” Review and Herald, 5 de abril de 1906, 8. ↑
37 Evangelismo, 615 (itálicos supridos). ↑
38 Ibid., 616. ↑
39 Quanto à genuinidade da fórmula “que está no céu” em João 3:13, ver José C. Ramos, “La Revelación de
Dios em JesuCristo en el Cuarto Evangelio”, Theologika VII, 2 (1993) 93: 112-127, principalmente 117-121.

40 O Desejado de Todas as Nações, 669. Ênfase suprida. ↑
41 Manuscrito 14, 23 e 24. Ênfase suprida. ↑
42 Ellen G. White, “Our Battle with Evil”, Review and Herald, 10 de fevereiro de 1903, 8. ↑

Fonte: Revista Parousia, 2° Semestre de 2005, UNASPRESS


PDF: Uma pessoa maravilhosa chamada Espírito Santo.

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Uma pessoa maravilhosa chamada


Espírito Santo
José Carlos Ramos, D.Min.
Professor de Daniel e Apocalipse no Salt, Unasp, Campus Engenheiro Coelho, SP
Resumo: O Espírito Santo é revelado nas Escrituras como uma Pessoa divina
semelhante ao Pai e ao Filho e, ao mesmo tempo, distinta de ambos. Mas grupos
dissidentes do adventismo insistem que o Espírito Santo não passa de mera energia
despersonalizada proveniente de Deus. Em resposta a essa teoria, o presente artigo
provê um estudo bíblico-exegético sobre a natureza da terceira Pessoa da
Divindade. O autor também procura restaurar o sentido original de algumas citações
dos escritos de Ellen G. White distorcidas pelos antitrinitarianos.
Abstract: The Holy Spirit is revealed in the Scriptures as a divine Person like
the Father and the Son but, at the same time, distinct to both. However, Adventist
offshut groups insist that the Holy Spirit is only a mere despersonalized energy from
God. In response to this theory, the present article provides a biblical-exegetical
study on the third Person of the Godhead. The author also tries to restaure the
original meaning of some quotations from the writings of Ellen G. White that have
being distorted by anti-Trinitarians.
Introdução
Dos membros da Trindade, o terceiro é Aquele de Quem há menos informações
objetivas, precisas, que definam o seu próprio Ser. O Filho Se tornou um de nós.
Sua manifestação foi visível, material, em nosso nível. O Pai foi por Ele revelado.
Mas o Espírito permanece um tanto imperceptível, à parte, despretensioso,
operando sem autoprojeção, não Se impondo, não falando “de Si mesmo” (Jo
16:13). E no próprio ato do desprendimento, Ele cumpre a divina obra que O faz
conhecido. É parte de Sua glória exaltar e glorificar o Filho e, através do Filho, o
Pai, fazendo com que a revelação de ambos se efetive na consciência humana.
Que exemplo de abnegação!
No quarto Evangelho, o Espírito executa pelo menos sete atividades, todas em
exaltação a Jesus:
(1) Ensinar, e
(2) Fazer lembrar tudo o que Jesus disse – João 14:26
(3) Dar testemunho de Jesus – João 15:26
(4) Convencer do pecado, porque o mundo não crê em Jesus; da justiça, porque
Ele foi para o Pai; e do juízo, porque Satanás foi julgado e derrotado – João 16:8
(5) Guiar a toda a verdade, e Jesus é a verdade (14:6) – João 16:13
(6) Declarar ou anunciar o que Jesus, da parte do Pai, Lhe entrega – João 16:13,
14, 15
(7) Glorificar a Jesus – João 16:14
O Apocalipse refere-se a Ele como os sete Espíritos de Deus (Ap 1:4, 5; 4:5). Sete
é o número da plenitude. O Espírito alcança a plenitude nesta atividade
cristocêntrica sétupla.
Isso é tão fundamental para o plano da redenção, que, sem o operar do Espírito,
seria como se Jesus nunca tivesse encarnado e Deus nunca tivesse Se
manifestado. Ele habilita o homem a entender a salvação e responder
positivamente a ela. Sem Ele, a Igreja não poderia cumprir Sua missão e
estaríamos fadados a permanecer neste mundo indefinidamente.
Objeto de especulação
Talvez o fato de existir pouca informação sobre o Espírito Santo faça com que uma
conceituação sobre Ele se torne mais susceptível de especulação. Nos dias de
Ellen G. White havia aqueles que afirmavam que o Espírito era uma “luz
derramada” e “uma chuva caída”. Ela considerou essas ideias como de cunho
espiritualista, ou espiritista, e as condenou por rebaixarem a Deus.1
Igualmente afrontoso é tomá-Lo por criatura. Há os que acreditam que Ele e
Gabriel se equivalem. A inspiração nega isso fazendo clara distinção entre ambos
no registro das palavras deste anjo a Maria: “Descerá sobre ti o Espírito Santo…”
(Lc 1:35). Gabriel não poderia estar falando de si mesmo. E Ellen G. White
assegura que o seguidor de Jesus pode sentir-se confiante e seguro no conflito
“contra as hostes espirituais da maldade”, porque “mais que anjos estão nas
fileiras. O Espírito Santo, o representante do Capitão do exército do Senhor, desce
para dirigir a batalha.”2 Rebaixar o Espírito Santo à categoria de anjo é, na
realidade, minimizar a Deus, algo muito a gosto de Satanás.
Outra forma especulativa no tratamento de tão sublime tema é despojar o Espírito
de Sua personalidade. Entre os que negam a Trindade, é comum a afirmação de
que Ele é apenas uma influência ou energia – o poder de Deus. Esta idéia é tão
antiga quanto o século terceiro, quando Paulo de Samosata,
monarquista/adocionista e bispo de Antioquia entre 260 e 272, a difundiu. No
tempo da Reforma, Lélio Socino e seu sobrinho Fausto, ambos antitrinitaristas,
propagaram a teoria.
Não há como negar que este conceito rebaixa o valor do Espírito Santo para a
Igreja. L. E. Froom a isto se refere quando afirma que negar a personalidade do
Espírito não é
mera questão técnica, acadêmica ou simplesmente teórica. É de suprema
importância e do mais elevado valor prático. Se Ele é uma Pessoa divina e O
consideramos como influência impessoal, estamos roubando desta Pessoa divina
a deferência, honra e amor que Lhe são devidos. E mais: Se o Espírito é mera
influência ou poder, podemos então procurar apropriar-nos dEle e usá-Lo.3
Continua Froom:
Não, o Espírito Santo não é uma tênue, nebulosa influência imanente do Pai. Não
é algo impessoal, vagamente reconhecido, apenas um invisível princípio de vida…
Jesus foi a personalidade mais influente e marcante neste velho mundo, e o
Espírito Santo foi designado para preencher Sua vaga. Nada a não ser uma
Pessoa poderia substituir Aquela maravilhosa Pessoa. Nenhuma simples influência
seria suficiente.”4
Para substituir uma Pessoa maravilhosa só outra Pessoa maravilhosa.
Espírito de Deus, Espírito de Cristo, e o gênero
neutro de Pneuma
Dissidentes se valem do fato de a Bíblia identificar o Espírito Santo como Espírito
de Deus ou de Cristo (1Jo 4:2; 1Co 3:16; Gl 4:6; 1Pe 1:11, entre outros textos),
para afirmar que o Espírito Santo é algo inerente a Deus, tal como a Sua energia,
virtude, fôlego, glória, etc., e que, portanto, ao ser enviado, “parte de dentro (do
interior) do Pai”.5
Ricardo Nicotra e Jairo de Carvalho, como exemplos, presumem que o verbo
ekporeúomai, empregado em João 15:26 (um dos textos que registram a promessa
do envio do Espírito), e vertido como “proceder” na Almeida Revista e Atualizada,
significa originalmente sair, ou partir, ou vir de dentro de, do interior de.6 Não se
sabe de onde eles copiaram esta idéia, mas o que temos aqui é uma dedução
apressada e temerária. Quando tão somente ekporeúomai é registrado, não é feita
referência ao ponto de partida do movimento que ele expressa; nesse aspecto, o
verbo significa simplesmente sair, partir, encaminhar-se, conduzir-se, proceder,
etc. (no sentido de ida e de vinda), tal como aparece em algumas passagens,
como Lucas 3:7, que fala de multidões que “saíam para serem batizadas” (saíam
de onde?), ou Atos 9:28, informando que, estando Paulo em Jerusalám, entrava e
saía com toda a liberdade (entrava e saía sem sair de Jerusalém, isto é, ele se
movimentava livremente na cidade).
Às vezes, o sentido de procedência de ekporeúomai está implícito, mas
normalmente ele é dependente da preposição que rege o ponto de origem explícito
na frase. Por esta razão, é totalmente supérfluo se valer de outros textos em que
este verbo é empregado aparentemente com o significado aludido pelos
dissidentes, se, nesses textos, a preposição é distintamente outra. Três exemplos
alegados por Nicotra, com as referidas preposições aqui italizadas, são como
seguem:
(1) “Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que procede da boca
de Deus” (Mt 4:4);
(2) “O que sai do homem, isso é o que o contamina” (Mc 7:20); e
(3) “Então vi sair da boca do dragão, da boca da besta…” (Ap 16:13).7
O original de (3) não consigna verbo algum, e é levado em conta apenas na
pretensão do dissidente, razão porque desconsideramos esse exemplo.
Observamos, então, que em (1), a preposição é diá cujo sentido principal é através
de; qualquer palavra, normalmente, é emitida através da boca, daí procedendo.
Alegar que antes que uma palavra seja dita ela se formulou na mente, o que pode
até ser um fato,8 e que, portanto, significa “sair de dentro”, é impor ao verbo um
sentido que ele, por si só, não reúne. É a preposição que se liga ao ponto de onde
parte o movimento que poderá dar esse significado.9
Por exemplo, em (2), a preposição é ek, “de, desde”, e pode implicar o sentido “de
dentro de”, como o emprego de ésôten, “de dentro”, em Marcos 7:21 e 23
demonstra. Dizemos que pode, porque nem sempre é isto o que ocorre, ainda que
seja empregada a preposição ek. Exemplos: “Do trono [ek tou thrónou] saem
relâmpagos, vozes trovões…” (Ap 4:5), e “rio da água da vida… que sai do trono
[ek tou thrónou] de Deus” (22:1) não significam necessariamente que os
relâmpagos, vozes, trovões e o rio saem de dentro do trono.
Ademais, se o sentido original de ekporeúomai fosse mesmo “vir de dentro”, como
querem os dissidentes, seria uma desnecessária redundância Marcos 7:21 e 23
registrar ésôthen ekporeúetai, “procedem de dentro”; seria o mesmo que dizer em
português: sair para fora, entrar para dentro, subir para cima e descer para baixo.
Assim, a preposição é importante para se estabelecer o ponto de origem do
movimento expressado por ekporeúomai. Em João 15:26, a preposição é pará,
também “de, desde”, mas com a acepção de posição, colocação, etc. (cf. à nossa
palavra paralelo). Segundo Robertson, uma das maiores autoridades no estudo do
koiné, o grego popular do Novo Testamento, pará significa “ao lado de”, “junto
com”.10 Em outras palavras, o Espírito Santo procede de onde o Pai está, não do
íntimo dEle.
Assim, o verbo ekporeúomai, para ter o significado requerido por Nicotra e
Carvalho na aplicação que fazem ao Espírito Santo, teria que, no mínimo, estar
ligado à preposição ek, ou, então, apó, como na construção “saía de Jericó” em
Marcos 10:46. E este não é o caso em João 15:26.
Portanto, a fórmula “Espírito de Deus”, ou “de Cristo”, indica procedência e não
inerência, e implica que a obra do Espírito Santo é executada em subordinação ao
Pai e ao Filho. Parte desta obra é a representação vicária de Ambos neste mundo.
De fato, Jesus prometeu aos discípulos que, juntamente com o Pai, retornaria para
eles na pessoa do Espírito Santo (Jo 14:16-18, 23).
Outro expediente utilizado pelos que rejeitam a personalidade do Espírito Santo é
o gênero neutro do grego pneuma, espírito. “A Bíblia não empregaria uma palavra
neutra para identificar uma personalidade,” dizem. Contra esta hipótese se verifica
que o termo é usado em referência a entidades reconhecidamente pessoais. “São
todos eles espíritos ministradores…”, afirma o escritor sagrado acerca dos anjos
(Hb 1:14).
Especulação na ordem do dia
Condenando as especulações, o Espírito de Profecia adverte: “A natureza do
Espírito Santo é um mistério. Os homens não a podem explicar, porque o Senhor
não revelou. Com fantasiosos pontos de vista, pode-se reunir passagens das
Escrituras e dar-lhes um significado humano; mas a aceitação desses pontos de
vista não fortalecerá a Igreja. Com relação a tais mistérios – demasiado profundos
para o entendimento humano – o silêncio é ouro.”11
Quanto a esse assunto (natureza do Espírito Santo), está na ordem do dia o que
Ellen White classifica de “fantasiosos pontos de vista”. Dissidentes oportunistas e
aventureiros, com “comichões nos ouvidos” (2Tm 4:3), imaginam ser crime de
apostasia a aceitação da divindade do Espírito Santo, e, inescrupulosamente,
intentam arrancar das páginas sagradas alguma noção que lhes satisfaça as
divagações; com isto, acabam preterindo o criterioso ensino bíblico e do Espírito
de Profecia sobre tão sublime tema, por arrazoados fantasistas e inconsequentes
que, no mínimo, denigrem o caráter sacratíssimo deste Ser. E isso, sim, é crime. E
o que é pior: julgam-se os portadores da verdade, enquanto o povo de Deus, em
sua totalidade, está errado.
Não obstante, o que acontecia no tempo de Ellen G. White, e que mereceu sua
veemente censura, está literalmente ocorrendo hoje, pois tal como a serva do
Senhor denunciou, os atuais dissidentes igualmente reúnem um punhado de
“passagens bíblicas”, arbitrariamente catadas aqui e ali e, sem o mínimo respeito
às mais elementares regras hermenêuticas, colocam-nas numa cadeia temática
ilegítima que as obriga a afirmar aquilo que eles pretendem. O resultado é uma
interpretação barata, superficial, abusiva, tendenciosa, sem o necessário respaldo
de pesquisa séria e responsável, o que, inevitavelmente, conduz a conclusões
confusas e contraditórias; ora o Espírito é definido em termos de pessoalidade, ora
em termos de abstração.
Para se confirmar esse fato, basta uma olhadela em publicações produzidas por
separatistas. Algumas colocações aí feitas quanto ao Espírito Santo são de
estarrecer mesmo o leitor casual. “Entre outras, cada qual mais descomunalmente
absurdas,”12 são feitas as seguintes declarações:
O Espírito Santo…
(1) …é o sopro, o fôlego de Deus,13 no sentido de que da mesma forma que o
homem tem fôlego (isto é, espírito) Deus também tem fôlego (isto é, espírito).14
Em outras palavras, a teoria transforma uma simples analogia empregada por
Paulo (ver 1Co 2:11) numa realidade substancial que toma o homem por modelo.
Mas se isto é o que Espírito de Deus significa, é inevitável a ideia de que o
antropomorfismo divino, longe de ser um engano,15 é um conceito correto: o
homem é a padronização de Deus – como é com ele, assim é com Deus!!! Mas
vejamos: não importando se o homem tem fôlego porque respira ou respira porque
tem fôlego, uma questão aqui pertinente é: Deus respira? (bem, esse seria o caso
se Ele tivesse fôlego como o homem). Tem Ele um sistema respiratório que inclui,
por exemplo, pulmões? Há no céu uma camada atmosférica para suprir a
respiração dos que ali habitam?
(2) …é o próprio Senhor,16 no sentido de que o Espírito Santo equivale ou a
Cristo, ou ao Pai, ou a ambos. Este raciocínio descamba para uma variação de
outra heresia; seria um sabelianismo17 dicotômico.
(3) …é isto.18 O dissidente Jairo Carvalho afirma que é “um total desprezo chamar
mesmo um ser humano de ‘isto’”, quanto mais Deus, o que para ele é “uma prova
de que o Espírito Santo não pode ser um Deus”,19 já que, como ele supõe, Atos
2:33 O identifica como “isto”. Mas nesse caso, não importando o que ou quem Ele
seja, o Espírito Santo é, segundo esse raciocínio, inferior ao próprio homem, pois
“isto”, que não é cabível a este, é próprio para o Espírito Santo.
Pena que o Sr. Carvalho não tenha percebido que o demonstrativo neutro não se
aplica à pessoa do Espírito Santo propriamente, mas ao efeito poderoso da Sua
operação, o milagre que todos testemunharam! O texto diz: “Exaltado, pois, à
destra de Deus, tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou
isto que vedes e ouvis.” Por um lado, “Espírito Santo”, o assunto da promessa, e
“isto”, o que foi derramado, não se correspondem necessariamente; por outro lado,
segundo o discurso de Pedro à multidão atônita, o “isto” foi referido como aquilo
que “vedes e ouvis”. O que eles viam e ouviam? Era o Espírito Santo ou era a Sua
operação? Bem, ali estava um grupo de iletrados galileus falando, nos vários
idiomas representados, as grandezas de Deus (vs. 6-8, 11 e 12), e isto eles
estavam muito bem vendo e ouvindo; em outras palavras, eles testemunhavam o
poder do Espírito em exercício, e era exatamente o poder do Espírito, e não Sua
pessoa, que fora derramado.
Com efeito, Atos não afirma que Deus derramou o Seu Espírito, mas do Seu
Espírito (ver 2:17). Em 10:45, é o “dom do Espírito” que “foi derramado.” À luz de 1
Coríntios 12, o Espírito Santo é tanto dom como doador. Derramar significa
conceder generosamente, e refere-se fundamentalmente aos recursos do Espírito.
Dias antes, Jesus havia prometido isso aos discípulos; receberiam poder ao descer
sobre eles o Espírito (At 1:8). É a Pessoa quem desce; é o poder que é
“derramado”. O que aconteceu com a igreja primitiva foi a repetição do que já
acontecera com Jesus (10:38). Neste texto, o Espírito é distinto de poder, e vice-
versa. De fato, ao ser batizado, o Espírito Santo desceu sobre Jesus em forma de
pomba (Mt 3:16), e o resultado foi um poderoso ministério. O senso de
derramamento transparece no relato de Marcos, que afirma que “os céus
rasgaram-se” (1:10), enquanto o de pessoalidade é notado em Lucas, ao afirmar
que o Espírito veio em “forma corpórea” (3:22).
Houve, portanto, uma compreensão equivocada de Atos 2:33 por parte do Sr.
Carvalho. O demonstrativo isto se refere antes à consequência da manifestação do
Espírito, que à Sua pessoa.
(4) …é a mente de Deus.20 Mas a Bíblia diz que o próprio Espírito tem mente (Rm
8:27); seria correto falar em mente da mente?
(5) …é o dedo de Deus.21 Nesse caso, o Espírito Santo seria uma pequena parte
d[o corpo d]e Deus. E aí pergunta-se: “Deus tem corpo?”
(6) …é qualquer anjo fiel22 com especial menção primeiramente a Lúcifer,23 então
a Gabriel, quando aquele que se tornou Satanás foi expulso do céu.24 Na verdade,
o autor confundiu a verdade afirmando que Gabriel é um Espírito Santo, mas não o
Espírito Santo, o qual é a glória de Deus.25 Mas quantos Espíritos Santos
existem? A Bíblia diz que é apenas um (Ef 4:4). Para Carvalho, entretanto,
qualquer anjo fiel pode ser um Espírito Santo; Gabriel é a terceira pessoa da
Divindade (que ele insiste em dizer que é “a partir da Divindade”),26 e deve ser
distinguida do Espírito Santo. Mas a inspiração afirma que ambos, a terceira
pessoa e o Espírito Santo, são o mesmo ser: “O príncipe da potestade do mal só
pode ser mantido em sujeição pelo poder de Deus na terceira pessoa da
Divindade,27 o Espírito Santo.”28
(7) …é a glória de Deus.29 Aqui o dissidente se aproximou consideravelmente de
uma das abstrações espíritas condenadas por Ellen G. White; havia em seu tempo
aqueles que diziam que o Espírito Santo era uma “luz derramada”.30 Mas o mais
deplorável é consignado ao final das colocações de Carvalho: como o Espírito
Santo é meramente a glória divina, então mesmo o “pior inimigo de Deus”,
Satanás, tem o Espírito Santo, pois ele “ainda possui um pouco da glória que
recebeu de Deus.”31 Simplesmente estarrecedor!
É espantoso como determinados elementos, como fruto de seus devaneios,
chegam ao extremo de nescidades como esta; isto é sacrilégio de elevada ordem,
diante da qual as palavras de Jesus soam oportunas: “…a blasfêmia contra o
Espírito não será perdoada. … Se alguém falar contra o Espírito Santo, não lhe
será isso perdoado, nem neste mundo nem no porvir… visto que é réu de pecado
eterno”(Mt 12:31, 32; Mc 3:29). Dizer que o Espírito Santo é a glória de Deus, que
o próprio diabo ainda retém e emprega em sua obra de engano, como o Sr.
Carvalho afirma, é, na realidade, dizer que o Espírito Santo é um instrumento nas
mãos do diabo para a operação do mal e serviço do pecado!!! Na esperança de,
quem sabe, despertar um pouco a consciência do dissidente, pergunto: “O Espírito
Santo continua ainda glorificando a Cristo, como João 16:14 afirma que é uma de
Suas tarefas, quando Ele é usado pelo diabo em sua obra satânica?”
Um Ser pessoal e divino
Impugnadas as lucubrações meramente humanas quanto ao Espírito Santo,
observemos agora o que a revelação tem a dizer sobre tão excelso tema.
Quando Ellen G. White afirma que “a natureza do Espírito Santo é um mistério”,32
não significa que nada podemos aprender sobre Ele. Aquilo que a revelação nos
transmite não é especulação; é a realidade que temos o dever de, pela fé, aceitar.
Dois pontos sobre o Espírito Santo estão devidamente assentados nas páginas
sagradas: Ele é uma pessoa, e é Deus. “O Espírito Santo tem personalidade, do
contrário não poderia testificar ao nosso espírito e com nosso espírito que somos
filhos de Deus. Deve ser uma pessoa divina, do contrário não poderia perscrutar os
segredos que jazem ocultos na mente de Deus.”33
A Personalidade do Espírito Santo
A personalidade do Espírito Santo é claramente inferida do testemunho bíblico. As
seguintes referências não deixam dúvida a respeito:
(1) Ele é citado entre pessoas: “Pois pareceu bem ao Espírito Santo e a nós não
vos impor maior encargo…” (At 15:28). Além disso, Ele aparece na fórmula
batismal junto ao Pai e ao Filho (Mt 28:19); seria redundância Jesus mencionar o
Espírito Santo, tendo já mencionado o Pai, fosse Ele a mera energia dEste, ou Seu
sopro, ou Sua glória; também não faria sentido Jesus ordenar o batismo em nome
de uma Pessoa, o Pai, de outra Pessoa, o Filho, e agora em nome de uma
energia, ou sopro, ou glória, o Espírito.34
(2) Pode e deve ser mantida comunhão com Ele (Fp 2:1; 2Co 13:14). Não se
mantém comunhão com uma energia, nem com um sopro, ou glória.
(3) Não é mero poder, mas tem poder (Rm 15:19). Seria outra redundância a Bíblia
falar do poder do Espírito Santo, fosse Ele mero poder; seria “o poder do poder”, o
que é um contra-senso, da mesma forma que “mente da mente” visto acima.
(4) Pode-se mentir a Ele (At 5:3). Mente-se a uma pessoa e não a uma energia, a
uma luz, ou à glória.
(5) Pode-se-Lhe resistir (At 7:51). É possível cumprir o papel de um resistor
(componente que impede, ou atenua, o fluxo da corrente elétrica) para com o
Espírito Santo? Sim, e isto o pecador faz quando, diante do apelo divino, prefere
permanecer no erro. Mas tal não significa que o Espírito Santo não seja uma
pessoa, pois não é apenas a uma energia que se resiste. Pessoas também podem
ser resistidas, incluindo Deus (11:17). O texto fala de se resistir às claras
evidências da verdade, apresentadas pelo Espírito Santo.
(6) Pode-se guerrear contra Ele (Gl 5:17). O que é uma intensificação de
resistência ao Espírito Santo.
(7) Pode-se ultrajá-Lo (Hb 10:29). Como é possível ultrajar uma energia, o sopro, a
glória? Ultrajar se liga naturalmente ao sentido de afrontar, insultar, difamar,
injuriar, ofender, deprimir, vilipendiar, desacatar, vituperar, envergonhar. Como se
pode fazer tudo isso a uma abstração?
(8) Pode-se blasfemar contra Ele como se blasfema contra o Filho (Mt 12:31). É
possível blasfemar contra o sopro, contra uma energia? Blasfema-se contra uma
pessoa, como é caso de Jesus aqui.
(9) Ele executa específicas funções próprias, não de uma abstração, mas de uma
pessoa:
• sonda, perscruta a Deus – 1Co 2:10
• concede dons para a edificação da Igreja – 1Co 12:8, 12
• manifesta-Se nesses dons –1Co 12:7 (em outras palavras, ao conceder dons à
Igreja o Espírito Se dá a ela)
• contende com pecadores – Gn 6:3
• ordena sobre itens relevantes para a obra e o povo de Deus – At 8:39; 10:19, 20
• envia pessoas no processo do cumprimento de alguma missão – At 10:19, 20
• ensina o que uma vez ouviu – Jo 16:13 (ouvir não é próprio de uma energia), ver
também 14:26; 1Co 2:13
• revela, especialmente pelo exercício profético – At 1:16; 2Pe 1:21; 1Tm 4:1
• testifica através da intuição na consciência, bem como com o testemunho da
Igreja – Rm 8:16; At 5:32; Ap 22:17
• move o agente humano na captação da revelação divina – 1Pd 1:21
• incute novas realidades ainda não percebidas – Hb 9:8
• indica a correta compreensão do que é revelado – 1Pd 1:11
• guia os filhos de Deus – Rm 8:14, inclusive na busca de “toda a verdade” – Jo
16:13
• assiste nas fraquezas – Rm 8:26
• intercede corrigindo nossas orações – Rm 8:26
• produz frutos na vida dos que se submetem a Ele – Gl 5:22, 23
• lava e renova, o que resulta em salvação – Tt 3:5. Em João 3:5, 6 este ato é
referido por Jesus em termos do novo nascimento
• escreve a lei de Deus nas tábuas do coração – 2Co 3:3
• santifica – 2Ts 2:13; 1Pd 1:2
• sela os que são de Deus – Ef 1:13
(10) Ele possui mente (Rm 8:27). O termo grego, traduzido “mente” neste texto em
algumas versões, é phrónema (alguma coisa que se tem em mente, que passa
pela mente, o pensamento), em contraste com nous (a mente como sede da
consciência, da reflexão, da percepção, do entendimento, do julgamento crítico e
da determinação). O importante é que phrónema pressupõe a existência de nous.
Apenas um ser pessoal é dotado de nous, e pode exercer phrónema. O Espírito
Santo é um ser pensante, o que implica inteligência e consciência. Ele não pode
ser menos que uma pessoa.
Mas o que é uma entidade pessoal? É aquela que afeta outras entidades pessoais
e é afetado por elas. Afeta-nos Deus? Naturalmente. Podemos afetá-Lo? Bem,
Sua tristeza e alegria, misericórdia e justiça, interesse por nós e condescendência,
amor e ira indicam que sim. Deus é afetado por Suas criaturas porque antes de
mera consciência das coisas, Ele tem autoconsciência; esta é o traço fundamental
da personalidade porque é a capacidade que uma pessoa tem de referir a si
mesma a consciência de qualquer coisa ou experiência pela qual passa. Isso não
acontece com um animal, porque ele não pode distinguir entre o ego pessoal e a
momentânea sensação que experimenta. Por não ser um ente pessoal, ele não
consegue formar uma noção objetiva de seus sentimentos e das ações que estes
geram, e aplicá-los a si mesmo. O ser humano, ao contrário, torna-se, por
exemplo, consciente de erros cometidos, reconhece-os como tais, e chega à
autoconsciência da culpa. Isso porque é um ser pessoal, dotado de mente e razão.
Aplicando isso a Deus, dizemos que Sua autoconsciência é prova irretorquível de
Sua personalidade. Isaías 55:8 fala de Seus pensamentos. Ele pensa porque tem
mente, e ter mente O faz pessoal. Então, quando nos é afirmado que também o
Espírito Santo tem mente, não podemos senão concordar que Ele é, de fato, um
ser pessoal. Se assim é, perguntamos: afeta Ele a cada um de nós? Por suposto
que sim.35 Afetamos igualmente a Ele? Claro, pois a Bíblia fala da tristeza (Ef
4:30), do anseio (Tg 4:5), da alegria (1Ts 1:6), da vontade (1Co 12:11), do amor
(Rm 15:30), e até do ciúme (Tg 4:5) do Espírito Santo.
(11) Além disso, o Novo Testamento emprega fartamente pronomes pessoais
gregos em referência ao Espírito Santo. Apenas em João 14-16 isso ocorre 24
vezes, e Ele próprio faz referência a Si com o pronome pessoal: “Disse o Espírito
[a Pedro]: Estão aí dois homens que te procuram; levanta-te, pois, desce e vai com
eles nada duvidando; porque Eu os enviei” (At 10:19, 20).
(12) Finalmente, a palavra inconteste de Jesus não deixa qualquer margem para
dúvida no que respeita à personalidade do Espírito Santo. “Eu rogarei ao Pai,”
prometeu Ele à Igreja, “e Ele vos dará outro Consolador, o Espírito Santo” (Jo
14:16, 26). Chamando-O “Consolador”, Jesus evocou Sua personalidade. O
original parákletos (etimologicamente chamado para estar ao lado de), é masculino
e aplica-se à pessoa que apóia, conforta, orienta, defende, etc., o que uma
abstração não faz.
A Divindade do Espírito Santo
Um estudo mais atento da Palavra de Deus, e, acima de tudo, desprovido de idéias
pré-concebidas, atesta naturalmente a divindade do Espírito Santo. Pode Ele ser
menos que Deus, se possui os atributos exclusivamente divinos de Eternidade (Hb
9:14), Onisciência (1Co 2:10 e 11) e Onipresença (Sl 139:7)? Quem menos que
Deus pode criar e comunicar vida (Jó 33:4), convencer do pecado, da justiça e do
juízo (Jo 16:8), regenerar (Tt 3:5), santificar (2Ts 2:13; 1Pe 1:2), escrever Sua lei
nas tábuas do coração (2Co 3:3), ressuscitar (Rm 8:11), e selar o crente para o dia
da redenção (Ef 4:30)?
Como um ser menor que Deus pode perscrutá-Lo? (1Co 2:10). Como pode a
blasfêmia contra o Espírito Santo não ser perdoada, enquanto que aquela contra
Jesus pode (Mt 12:31)? Porventura, pecar contra uma coisa, ou uma criatura, é
algo mais sério que pecar contra Deus? E como é possível que, segundo a fórmula
batismal (28:19), alguém deva ser batizado em nome do Pai (que é Deus), do Filho
(que também é Deus), e do Espírito Santo (que seria uma coisa ou uma criatura,
como supõem os antitrinitaristas)?
Além disso, é-nos afirmado que, no próprio ato de mentirem ao Espírito Santo,
Ananias e Safira mentiram “a Deus” (At 5:4). Nesse mesmo sentido de
correspondência, Paulo primeiramente declara que somos santuário “de Deus, e
que o Espírito de Deus habita em” nós (1Co 3:16; ver também 6:19), para então
afirmar que “somos santuário do Deus vivente”, e que é o próprio Deus que habita
em nós (2Co 6:16, 17). Percebemos claramente aqui que o Espírito Santo
habitando no coração é Deus se fazendo aí presente. Isso não seria possível se
Ele mesmo, o Espírito Santo, não fosse Deus.
E quanto a Jesus? Reconheceu Ele a divindade do Espírito Santo? Bem, deixemos
mais uma vez que Ele fale. Ele prometeu “outro Consolador” (Jo 14:16). “Outro”
pressupõe um Consolador prévio, o próprio Jesus, também identificado como
Parákletos (1Jo 2:1). Dois termos gregos são vertidos “outro” em nossas Bíblias:
állos e héteros, o primeiro, empregado aqui, significando “outro da mesma
espécie”, enquanto o segundo “outro de natureza diferente”. O prometido
Consolador é Alguém tão divino quanto Jesus. Fosse Ele Gabriel, como querem os
dissidentes, teria que ser classificado héteros, e não állos.
Mas, qual a qualidade da divindade de Jesus? A Bíblia e o Espírito de Profecia não
deixam por menos: Ele é tão divino quanto o Pai, e é um com Este desde toda a
eternidade (Jo 1:1; 10:30). “Cristo era Deus em essência e no mais alto sentido.
Ele esteve com Deus desde toda a eternidade…”36 Se assim é com o primeiro
Consolador, não será diferente com o segundo. O mesmo Espírito de Profecia
confirma esse fato: “O Consolador que Cristo prometeu enviar depois de ascender
ao Céu, é o Espírito em toda a plenitude da Divindade, tornando manifesto o poder
da graça divina a todos quantos recebem e crêem em Cristo como um Salvador
pessoal.”37 “Toda a plenitude da divindade” é precisamente o que Colossences
2:9 afirma residir corporalmente em Cristo. De fato, o Espírito Santo é o segundo
Consolador, da mesmíssima natureza do primeiro.
É-nos afirmado ainda: “Precisamos reconhecer que o Espírito Santo, que é uma
pessoa, como o próprio Deus, está andando por estes terrenos.”38 Pode ainda
haver dúvida que, à luz da inspiração, o Espírito Santo seja uma pessoa, e seja
Deus?
Um com o Pai e um com o Filho
Um último ponto referente à divindade do Espírito Santo se faz necessário. Pela
doutrina da Trindade entendemos que Jesus é um com o Pai porque possui a
mesma natureza divina dEle. São distintos como Pessoas, mas iguais em
Divindade. Isto resulta em que onde Um está pessoalmente, ali o Outro estará
essencialmente. Enquanto o Filho estava pessoalmente na Terra, o Pai estava
essencialmente aqui (embora pessoalmente continuasse no Céu), pois Jesus
afirmou: “Não estou só, porque o Pai está comigo” (Jo 16:32). Da mesma forma,
enquanto O Pai estava pessoalmente no Céu, Jesus estava essencialmente ali,
pois disse a Nicodemos muito antes da ascensão: “Ninguém subiu ao Céu, senão
Aquele que de lá desceu, o Filho do homem que está no Céu” (3:13).39
Devemos crer que é exatamente isso o que ocorre em relação ao Espírito Santo?
A resposta é “sim!”, pois, como vimos, Ele é állos, isto é, da mesma natureza
divina de Jesus. É por isso que o Salvador, imediatamente após prometer a vinda
do “outro Consolador” que estaria não apenas “com”, mas “nos” discípulos (Jo
14:16, 17), pôde também assegurar-lhes que, por este Consolador, Ele, Jesus,
voltaria para eles (v. 18) e, com o Pai, faria neles morada (v. 23). Isto porque o
Espírito Santo é igual a Jesus e ao Pai em divindade. Assim, onde Ele estiver, Pai
e Filho também estarão. É por esta razão que Jesus declarou ser vantajoso aos
discípulos que voltasse ao Céu, pois assim lhes enviaria o Espírito (Jo 16:7), e,
através dEle, estaria em todo o tempo com toda a Sua comunidade de seguidores.
O Espírito Santo é o representante de Cristo, mas despojado da personalidade
humana, e dela independente. Limitado pela humanidade, Cristo não poderia estar
em toda a parte em pessoa. Era, portanto, do interesse deles [os discípulos] que
fosse para o Pai, e enviasse o Espírito como Seu sucessor na Terra. Ninguém
poderia ter então vantagem devido a sua situação ou seu contato pessoal como
Cristo. Pelo Espírito, o Salvador seria acessível a todos. Nesse sentido, estaria
mais perto deles do que se não subisse ao alto.40
Com isto em mente, não há qualquer dificuldade para se entender o que Ellen G.
White quis dizer quando declarou:
Impedido por Sua humanidade, Cristo não poderia estar em todos os lugares
pessoalmente; então foi para benefício deles que Ele deveria deixá-la, ir para o
Pai, e enviar o Espírito Santo para ser Seu sucessor na Terra. O Espírito é Ele
mesmo, despojado da personalidade humana e independente dela. Ele Se
representaria como estando presente em todos os lugares por Seu Espírito, como
onipresente.41
Como ela afirma, o Espírito Santo reunindo, a exemplo de Jesus, a plenitude da
divindade, é o sucessor de Cristo, e pode tão perfeitamente representá-Lo neste
mundo, que se torna uma bendita realidade a presença essencial dEle aqui, isto é,
“Ele mesmo,” Cristo, “despojado da personalidade humana e independente dela…
como estando presente [com Seu povo] em todos os lugares por Seu Espírito,
como onipresente.” “O Senhor Jesus age através do Espírito Santo, pois é Seu
representante.”42
Quão surpreendentemente fascinante é o plano de Deus e Seu trato com os
pecadores! Enaltecido seja o Seu nome.
Conclusão
Que pessoa maravilhosa é o Espírito Santo! Que humildade, que interesse, que
desvelo! Ele nos ama a ponto de instar conosco a que sejamos salvos. Ele está
disposto a aplicar em nossa vida a obra redentora da cruz em toda a Sua
extensão. A exemplo do Pai e do Filho, Ele anseia por nossa presença no reino de
Deus. Já Lhe agradecemos por isso?
De fato, Ele é um precioso amigo. Se O resistirmos, magoá-Lo-emos, e Ele poderá
se afastar triste e pesaroso por nossa indelicadeza e apego a ideias que O
desmerecem, e que resultarão finalmente em nossa ruína eterna. Mas se O
valorizarmos como Ele merece, e O acolhermos em nossa vida, Ele tomará posse
do nosso ser, far-nos-á crescer em semelhança com Jesus, até que coloquemos
nossos pés na cidade celestial.
“Hoje, se ouvirdes a Sua voz, não endureçais os vossos corações” (Hb 4:7).

Referências
1 Ellen G. White, Evangelismo (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1997), 614. ↑
2 Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações (Tatuí, SP: Casa Publicadora
Brasileira, 2001), 352. Esta afirmação do Espírito de Profecia denota claramente a
personalidade e divindade do Espírito Santo. ↑
3 LeRoy E. Froom, A Vinda do Consolador (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira,
1988), 40. À página 36 da edição castelhana, acrescenta-se ao final do parágrafo a
seguinte colocação: “Mas se O reconhecemos como Pessoa, estudaremos como nos
submeter a Ele de modo que nos use segundo Sua vontade.” ↑
4 Ibid, 41, 42. ↑
5 Ricardo Nicotra, “Eu e o Pai Somos Um” (São Paulo: Ministério Bíblico Cristão,
maio/2004), 9, 34 e 35; Jairo Carvalho, A Divindade (Contenda, PR: Ministério 4 anjos,
s.d.), 114. ↑
6 Ibid, 35. ↑
7 Ibid. ↑
8 Embora, de vez em quando, palavras sejam proferidas ou escritas por aí sem, ao
menos, se pensar nelas. ↑
9 É bom lembrar neste momento que Jesus é chamado Logos, “Palavra” (a Almeida
verte “Verbo”), nos escritos joaninos (Jo 1:1, 14; 1Jo 1:1; Ap 19:13), e nem por isso
iríamos afirmar que Ele, na encarnação, procedeu de dentro do Pai. O emprego da
preposição prós, “com”, no prólogo do quarto Evangelho indica que Jesus veio da íntima
companhia do Pai, de um relacionamento face a face, de um companheirismo como
iguais (ver A. T. Robertson, A Grammar of the Greek New Testament in the Light of
Historical Reserarch [Nashville, TN: Broadman, 1934], 613, e The Divinity of Christ in
the Gospel of John [New York: Fleming H. Revell, 1916], 39): “O Verbo estava com
[prós] Deus… Ele estava no princípio com [prós] Deus” (Jo 1:1, 2). Vemos, então, que
é sempre importante levar em conta a preposição usada e sua conotação. ↑
10 Robertson, A Grammar, 613; ver pp. 553-649 para uma abordagem geral das
preposições gregas. ↑
11 Atos dos Apóstolos (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1986), 52. ↑
12 A fórmula é de Rui Barbosa em alusão às prerrogativas papais de infalibilidade (ver
O Papa e o Concílio [Rio de Janeiro: Elos, s/d], I:113). ↑
13 Nicotra, 8, 9. Carvalho, 44-46, 74, 110. ↑
14 Nicotra, 8, 9, 11. ↑
15 Por exemplo, muito da “teologia” grega do tempo dos apóstolos era antropomórfica,
o que naturalmente recebeu o repúdio da fé cristã. ↑
16 ↑Nicotra, 12, 32, 33, 36; Carvalho, 18, 19, 20, 21, 26, 31, 32, 50, 51,
17 Sabelianismo, de Sabélio, herege do terceiro século, que afirmava que uma única
Pessoa na Divindade se manifesta de três modos distintos: às vezes como Pai, outras
como Filho, e ainda outras como Espírito Santo. Assim, para Sabélio, o Espírito Santo
era às vezes o Pai, outras vezes o Filho. ↑
18 Carvalho, 21. ↑
19 Ibid. ↑
20 Nicotra, 8. ↑
21 Ibid, 28. ↑
22 Carvalho, 24. ↑
23 Ibid, 132, 133. ↑
24 Ibid., 80, 134, 135, 136, 137. ↑
25 Ibid., 80, 137. ↑
26 Ver nota a seguir. ↑
27 “A partir da Divindade”, em vez de “da Divindade”, é como Jairo Carvalho verte o
original inglês “of the Godhead”, do texto em apreço de Ellen G. White. Ele recorre ao
Webster’s Dictionary em apoio à sua versão, afirmando que, segundo este, “of ” é
sinônimo de “from”, que ele afirma significar “a partir de” (107). Mas, na acepção que o
dissidente requer, é duvidoso atribuir tal significado à preposição “from”. Em sua edição
mais completa, o aludido dicionário supre os diversos casos de equivalência entre “of”
e “from”, e nenhum deles coincide com o que o dissidente imagina (ver “of ” em
Webster’s Dictionary of the English Language – Unabridged – Encyclopedic Edition
[Chicago, IL.: J. G. Ferguson Publishing Company, 1979], II:1241, 1242). Igualmente
não pode ser alegado que, “na época em que o texto [de Ellen G. White] foi escrito, por
volta de 1890”, um dos significados de “of ” era “a partir de” (Carvalho, 107, 128), pois
o mesmo Dicionário supre os significados obsoletos do termo e também nenhum deles
é o que o dissidente pretende. Quisesse a serva do Senhor declarar o que ele afirma,
teria registrado algo como “starting from” em lugar do simples “of ”. ↑
28 Evangelismo, 617. Se é apenas pelo poder do Espírito Santo que se vence o inimigo,
o que será dos que O negam e rejeitam? Senhores dissidentes, pensem nisso! ↑
29 Carvalho, 22, 52, 114, 116, 117, 118, 121, 122, 124, 125, 142, 143, 159. ↑
30 Evangelismo, 614. ↑
31 Carvalho, 165. ↑
32 Atos dos Apóstolos, 52. ↑
33 Evangelismo, 617. ↑
34 Afirmar, como o Sr. Nicotra faz (18-24), que a fórmula batismal no tríplice nome de
Deus em Mateus 28:19 foi interpolada posteriormente ao texto original do Evangelho,
sendo, portanto, apócrifa, não é verdade, como ficou evidenciado em Jose C. Ramos,
“Mateus 28:19 ¯ falso ou autêntico?”, Revista Adventista, maio de 2005, 10, 11. ↑
35 Veja, por exemplo, Lucas 2:27; João 3:5, 6; 16:8; Romanos 8:4, 23; 14:17; Gálatas
5:17, 22, 23; 1 Pedro 1:2; 2 Pedro 1:21. ↑
36 Ellen G. White, “The Word Made Flesh,” Review and Herald, 5 de abril de 1906, 8. ↑
37 Evangelismo, 615 (itálicos supridos). ↑
38 Ibid., 616. ↑
39 Quanto à genuinidade da fórmula “que está no céu” em João 3:13, ver José C.
Ramos, “La Revelación de Dios em JesuCristo en el Cuarto Evangelio”, Theologika VII,
2 (1993) 93: 112-127, principalmente 117-121. ↑
40 O Desejado de Todas as Nações, 669. Ênfase suprida. ↑
41 Manuscrito 14, 23 e 24. Ênfase suprida. ↑
42 Ellen G. White, “Our Battle with Evil”, Review and Herald, 10 de fevereiro de 1903,
8. ↑

Fonte: Revista Parousia, 2° Semestre de 2005, UNASPRESS

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