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RECONHECIMENTO
PRODUÇÃO
APOIO
XI Encontro Mestres do Mundo
Saberes multiculturais em encontro de delicadezas
Catalogação na fonte
E56 Encontro Mestres do Mundo: saberes multiculturais em encontro de delicadezas/ Adriano Souza,
Lourdes Macena, Aterlane Martins [Organizadores]; Adson Pinheiro [Coordenador Editorial].
Fortaleza: Secretaria de Cultura do Estado do Ceará, 2018.
Inclui referências.
A obra é parte integrante do XI Encontro Mestre do Mundo, evento realizado em Limoeiro
do Norte-CE, em novembro/2017.
ISBN: 978-85-8120-009-5
1. Cultura Popular. 2. Tradições Populares. 3. Mestres do Mundo. I.Título. II. Souza, Adria-
no. III. Macena, Lourdes. IV. Martins, Aterlane. V. Pinheiro, Adson.
26 TESOUROS
VIVOS,
18 MESTRES
DO MUNDO
SABERES
LUGAR DE
DIVERSIDADE
E DE FAZERES
MULTICULTURAIS
EM ENCONTRO DE
CULTURAIS
36
DELICADEZAS
28 RODA DOS
SONS
20 MESTRES
DO MUNDO:
RODA DO
CORPO
PATRIMÔNIO
CULTURAL 38 MUITO ALÉM
DA MÚSICA
10 MESTRES E
MESTRAS
IMATERIAL,
SALVAGUARDA, 30 NOSSA
DANÇA É A
QUE ME ENSINAM
DA CULTURA
DO CEARÁ:
TRAMANDO VIDAS,
DIREITOS E
FOMENTO -
NOSSA FORÇA! UM
VIVA AOS MESTRES
DA CULTURA
40
REINVENTADO
REFLEXÕES
POPULAR!
RODA DO
NECESSÁRIAS
MUNDOS SAGRADO
14 34 SENSÍVEIS
NOTAS
DE EXPERIÊNCIA 42
UM ENCONTRO SOBRE O MESTRE O SAGRADO E OS
DE DELICADEZAS DO MUNDO – OU MESTRES, UMA
NO MUNDO DOS O MUNDO DOS CONEXÃO COM OS
MESTRES MESTRES MODOS DE VIDA
XIII EDITAL CEARÁ DA PAIXÃO
44
RODA DA
ORALIDADE 54
OS ENCONTROS
78
OS MESTRES, AS
50 57 O SABER DOS
ENCANTADOS:
PASSADO, PRESENTE 80
MATERIALIZANDO
UM ENCONTRO
DE DELICADEZAS
E FUTURO DE UMA
BRINCADEIRA 70
ALEGORIAS
O MEU MESTRE
CHEGOU E NESTE
SALÃO ENTROU
52 59 SÓ O AMOR
ENGENDRA
DO CORPO
82
AULAS
A MARAVILHA: UMA
EXPERIÊNCIA DE 74 ORAÇÃO DO
ESPETÁCULOS APRENDIZADO EXPERIENCIAS ENCANTADOS
HUMANISTA ENRIQUECEDORAS
E OFICINAS
60
DE SABERES,
ANCESTRALIDADES
E FLUIÇÃO
83
REFERÊNCIAS
SEMINÁRIO CULTURAL
INTERDISCIPLINAR
DE PATRIMÔNIO
IMATERIAL: 76 MEU
ENCONTRO
82
NOVOS RUMOS, COM OS MESTRES
GALERIA
NOVAS INSPIRAÇÕES DO MUNDO DE FOTOS
MESTRES E MESTRAS Os Mestres da Cultura
são seres ancestrais
seus conhecimentos
DA CULTURA DO CEARÁ: vêm de tempos atrás
recriados no agora
tramando vidas, reinventando mundos pro futuro e muito mais.
Fabiano dos Santos Piúba
Os Mestres da Cultura
Doutor em Educação – UFC
são seres de educação
Secretário da Cultura do Estado do Ceará
transmitem seus saberes
S
eres ancestrais. Seres de educação. Seres de imaginação. Seres com amor no coração
suas artes e ofícios
de criação. Os Mestres e as Mestras da Cultura são pessoas fei-
de geração em geração.
tas da natureza dos tempos eternos, são senhores e senhoras
de memórias que trazem consigo saberes e fazeres ancestrais Os Mestres da Cultura
que atravessam os tempos. Mas seus saberes não ficam abandonados são seres de imaginação
em baús mofados n’algum canto do esquecimento, pois são compartilha- cantam e bailam o sagrado
dos de mão em mão, de boca em boca, por entre gerações em ambientes com louvor e devoção
comunitários e solidários de transmissão de saberes. Cada Mestre e Mes- fazem da brincadeira a festa
tra é assim um ser de educação, que ensina seus conhecimentos como de alegria e animação.
uma missão de vida.
Os Mestres da Cultura
Seus saberes não estão estancados no tempo, inertes e desprovidos
são seres de criação
de movimento e vigor. Muito pelo contrário! Quando dizemos que são inventam novos mundos
seres de imaginação, é porque estão concebendo, pensando, elaborando com palavras, cores e mãos
sua própria temporalidade no aqui e no agora. Ao tempo que são guardi- tecendo e tramando a vida
ões de memória e ancestralidade, são seres de criação. Estão tramando com abraços de irmãos.*
e tecendo, inventando e reinventando, criando e produzindo suas artes e
ofícios como expressões contemporâneas. Sim, cultura popular é cultu-
ra contemporânea! Patrimônio cultural, pois vai além da mera noção de
preservação e de proteção. Patrimônio cultural é criação!
Assim sendo, o reconhecimento e a valorização dos Mestres e das
Mestras da Cultura do Ceará estão inseridos em uma política de salva-
guarda do patrimônio cultural, garantidas pela Lei nº 13.351/2003 e pela
Lei nº 13.842/2006 que instituem o registro dos Mestres e dos Tesouros * Abre este ensaio o poema-canção de
Vivos da Cultura tradicional popular. Porém, para além da salvaguarda, autoria de Fabiano, feito e apresenta-
os Mestres se inserem na política de fomento às artes em seus processos do no XXI Encontro Mestres do Mundo.
O
tadas ao encontro e à troca de saberes e experiências.
Estado do Ceará possui nos Mestres e nas São momentos mágicos em que o público participante
Mestras da Cultura um dos mais belos re- estabelece relações com as memórias, as narrativas e
pertórios da cultura popular tradicional as expressões tradicionais populares.
brasileira, que por meio da ancestralidade Em 2017, como reconhecimento dos saberes, dos fa-
de seus saberes e fazeres, expressos nos corpos, nas zeres, das tradições e dos ofícios de Mestres e Mestras da
mãos, nos sons, nas falas e no sagrado, constroem nar- Cultura do Ceará, o Encontro Mestres do Mundo recebeu
rativas e vivências que dão sentido, forma e tradição o maior prêmio do Brasil na área de Patrimônio Cultural,
à sociedade contemporânea. São bandas cabaçais, cocedido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artís-
reisados, bois, dramas, dança de coco, pastoris, ma- tico Nacional (Iphan), o Prêmio Rodrigo Melo Franco de
neiro-pau, repentes, literatura de cordel, xilogravuras, Andrade, categoria de iniciativas de excelência na pro-
diversas tipologias de artesanato, aboios, sanfonas, moção do Patrimônio Cultural. A premiação se deu com
violas, rabecas, luthieria, medicina popular, culinária a entrega simbólica do Prêmio aos Mestres e Mestras da
tradicional, penitência, benditos, teatro de bonecos, Cultura, por meio de diplomas concedidos pela Secult, e
arte circense, tradições juninas, dança de São Gonçalo, após um cortejo pelas ruas do Centro da cidade de Limo-
maracatus, culturas indígenas e tantas outras. eiro do Norte, no dia 29 de novembro, iniciou-se o XI En-
O Encontro Mestres do Mundo, realizado desde contro Mestres do Mundo. Os Tesouros Vivos da Cultura
2005, é uma política da Secretaria da Cultura do Es- do Ceará foram recebidos no palco principal do encontro,
tado do Ceará (Secult) voltada ao reconhecimento e na Praça Odílio Silva, pelo Secretário da Cultura do Esta-
à valorização dos saberes e dos fazeres dos Mestres do do Ceará, Fabiano dos Santos, e pelo superintendente
e das Mestras da Cultura tradicional do Ceará. É uma do Iphan no Ceará, Otacílio Macedo.
mônio Imaterial, com o tema “Além da Carta de For- vés dos cortejos, das feiras, das rodas de saberes,
taleza – uma trajetória de desafios, avanços, reafirma- das oficinas, das aulas espetáculos, das terreiradas
ções e novas proposições para o patrimônio imaterial e das apresentações. Ao final do Encontro, em um
cearense”. Visando o fortalecimento das políticas de espetáculo repleto de emoção, delicadeza e cores,
patrimônio, o Seminário favoreceu o espaço no qual, tecido numa residência artística com os músicos e
de forma democrática, diversos agentes culturais trou- os artistas Orlângelo Leal e Fabiano de Cristo, cada
xeram reflexões e proposições para contribuir com as um dos Tesouros Vivos compartilhou generosamente
políticas públicas voltadas ao desenvolvimento, ao re- um pouco de seus saberes, seus afetos, suas artes,
gistro, à salvaguarda e à difusão das expressões do suas rezas e seus cantos, deixando-nos maravilhados
Patrimônio Imaterial Cearense. e marcados com a diversidade da qual é composta o
Sendo assim, o XI Encontro Mestres do Mundo mundo dos Mestres da Cultura e que, a cada ano, se
promoveu quatro dias de vivências nos quais os 56 renova a partir da reunião desses homens e mulhe-
Mestres e Mestras presentes envolveram a todos res que esbanjam coragem, força e sabedoria.
num território de fascínio, sensibilidade, partilha, Viva os Mestres da Cultura!
descobertas e transformações, que se deram atra- Viva o mundo dos Mestres da Cultura!
U
m encontro com Mestres do Mundo eviden- TERRITÓRIO DE
cia os aspectos culturais de saberes e faze- DELICADEZAS FALA
res de Mestres de vários territórios de for-
ma multi, promovendo a valorização destes DO LUGAR DE “SE
enquanto saberes que se projetam no mundo, gerando JOGAR CONVERSA
características identitárias que personalizam o povo FORA” AO POR DO
de cada lugar. Neste encontro multicultural se eviden- SOL, AO CAIR DA
cia a feição do cearense caboclo, mestiço e cafuzo que NOITE, ALI COM AS
somos e nos envolve em uma atmosfera de pertenci-
COMADRES, ENTRE
mento diante do multiculturalismo, feição que norteou
o Encontro Mestres do Mundo desde o seu nascedouro. UMA RIZADA E OUTRA
É um encontro de culturas diferentes em busca de si PORQUE A VIDA É
mesmas, de territórios de lógicas distintas, às vezes de PARA SER FELIZ!
idiomas diversificados, porém, construindo ainda as de-
licadezas necessárias nesse mundo urbano e louco no
qual vivemos. que a vida lhes dá para tornar seu mundo possível, seu
Quando falamos em território de delicadezas nos re- mundo mais doce e suave.
portamos à criação de homens e mulheres que teimam Vemos que nas ausências contínuas destes homens
em reinventar-se em meio ao turbilhão de negações e mulheres em seus diversos territórios, o cultural é in-
ventado/reinventado ali mesmo onde estão para pro-
2 Pesquisadora Líder do Grupo de Estudos em Cultura Folclorica mover a alegria e o sustento do corpo, da alma, dos
Aplicada; Diretora Grupo Miraira Coordenadora do Mestrado filhos e dos vizinhos. Assim, vão se encontrando coti-
Profissional em Artes do IFCE Campus de Fortaleza. dianamente com múltiplas necessidades, como as mu-
sicais (por exemplo), que surgem para que possam to- as comadres, entre uma risada e outra, porque a vida é
car e cantar como os pássaros, de modo a experimentar para que sejamos felizes!
a produção de sons que a natureza possibilita. Território de delicadezas enfatiza espaços de ho-
Em vista disso, corta-se bambu, fura-se, fecha-se, mens e mulheres tecendo a vida como em tramas de
experimenta-se sempre para deixar no ponto o som renda de bilros, em telas de labirinto, no círculo do
que se quer. Corta-se árvores e faz-se rabecas, vão bordado, na tela do filé, onde apesar da trama huma-
ouvindo, experimentando, e eis que surge um rugido, na que os instiga sem fim, o riso vem farto na roda da
sons e mais sons e ali mesmo, pelos sons que invadem ciranda, que gira em sentido lunar, buscando outra
suas almas, vão produzindo a música que gostam como lógica, outra forma para a roda cruel da exclusão a
podem. São caixas, trocanos, curimbós, alfaias, pandei- que muitos vivem impostos.
rões, matracas, caracaxás, tambores onça, pés de bode, No Território de delicadezas, apesar da dor, se can-
violas, rabecas, berimbaus, caxixis, violas de coxo, za- ta sempre para saudar a barra do dia, agradecendo a
põnias, flautas de pan, bumbos lengueros, quenas, ca- natureza pelo sol farto ou pela chuva que cai, pelo frio,
charainas, zabumbas, tantos e tantos outros espalha- pelo calor, porém, agradecendo sempre. Cuida-se da
dos em territórios diferenciados mundo afora. árvore que dá o fruto, a sombra, a lenha, a coberta da
Território de delicadezas fala do lugar de “se jogar casa. Cuida-se do rio que corre solto sem lixo, onde pei-
conversa fora” ao pôr do sol, ao cair da noite, ali com xes e seriemas se arriscam sem medo e onde também
Outra preocupação que tivemos foi com os Encan- participação dos grupos e das coletividades reconhe-
tados, aqueles Mestres e/ou Mestras já falecid@s. En- cidas, como bem destaca a Lei nº 13.842, de 27.11.06,
tendemos que apesar da morte d@ Mestr@ é preciso visto que estes grupos e coletividades são “dotados de
continuar dando ênfase a sua prática, ao seu fazer, conhecimentos e técnicas de atividades culturais cuja
como forma de salvaguardar o saber e continuar im- produção, preservação e transmissão representativas
pulsionando o grupo que fica, principalmente no que de elevado grau de maestria”, constituindo importante
se refere às práticas coletivas. O Mestre vai, mas o sa- referencial da cultura cearense.
ber fica nas relações sociais e culturais estabelecidas Neste encontro deixou-se claro que é necessá-
ao cotidiano da comunidade. Isto é possível quando o rio dar uma pausa para se repensar a vida, porque
repasse deste saber ocorrer na respeitabilidade e no re- outra lógica é possível. Desse modo, evidenciamos
conhecimento do território em que viviam. Assim, tanto que é preciso se motivar pelo afeto, pelas aproxi-
na edição anterior quanto nesta tivemos pessoalmente mações, pelas experimentações do simples, pelo
uma preocupação em dar destaque aos Mestres faleci- brincar, e, principalmente, se envolver com os artí-
dos, seus saberes e seus grupos, criando nestas últimas fices dessas delicadezas em prol sempre do coleti-
duas edições do evento o espaço dos Encantados. vo, da sobrevivência da humanidade pelo afeto e do
Buscamos também deixar evidente e possibilitar ato de compartilhar.
F
sobre políticas públicas e salvaguarda do Patrimônio
oi com o pensamento voltado para os Mestres Imaterial, destacando a necessidade de ações de apoio
– Tesouros Vivos do Ceará, seus saberes, ofícios após o registro dos bens imateriais de forma contínua.
e fazeres, e as questões diretamente ligadas ao
Por esta razão, consideramos toda a orientação da
patrimônio imaterial, à salvaguarda, aos dire-
Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Imate-
tos culturais e ao fomento – que se articulou a proposta
rial da UNESCO de 2003, por meio da qual se orienta
curatorial do evento Mestres do Mundo em 2017.
as ações e as medidas que possam viabilizar o Patri-
Conhecedores do universo de delicadezas e de afe- mônio cultural imaterial. Sendo que no caso especí-
tos que envolvem estes homens e mulheres e desejo- fico da proposta do evento dos Mestres, buscou-se a
sos disso compartilhar, o conceito dessa curadoria se promoção, a valorização e a transmissão, conforme
apoiou na visão de Natália Brayner3 sobre o Patrimônio orienta o documento mencionado.
3 In: Patrimônio Cultural Imaterial: para saber mais. 3ª. ed. Em consonância com essas orientações, a aborda-
Brasília, DF: Iphan, 2012. gem de Rylvia Alencar (2017) sobre direitos culturais de
RODA
DAS
MÃOS
A
Cultura Tradicional está enraizada na nossa
história por meio das diversas expressões
populares. Cada Mestre traz consigo sua
arte adquirida desde muito cedo, que, por
sua vez, são passadas de geração a geração e que de-
vem ser preservadas e perpetuadas para o conhecimen-
to das futuras gerações.
O Encontro Mestres do Mundo é um evento de gran-
de importância para o Estado do Ceará no que diz res-
peito às manifestações da cultura popular tradicional, é
um momento único que nos permite um contato mais
próximo com uma gama diversa de expressões que se
juntam neste evento e, desta forma, podemos perceber e
acompanhar o fazer e o saber dos Mestres que brincam, Dona Edite, mestra de Rede de Travessa de São Luiz do Curu - CE.
que se divertem, que trabalham, que falam de suas in-
quietações e de suas dificuldades em continuar com sua
arte. É neste evento também que suas vozes encontram
ressonância na voz de muitas outras pessoas preocupa-
das com estas questões, é um momento muito impor-
tante em que buscamos dar visibilidade e valorização aos
Mestres dos mais variados segmentos. São momentos
que possibilitam várias experimentações, descobertas, a
partir da fala dos Mestres que neste momento são dou-
tores de suas próprias experiências, vivenciadas ao longo
de sua vida e aqui relatadas e compartilhadas com todos. Mestra Dona Branca, Roda de Trocas das Mãos.
FOTO LILIANE
E
m cada canto, cada fala, cada som, compar-
tilhamos nossas histórias. Cantos dos nossos
antepassados, da nossa memória ancestral
esquecida por nossa vida corrida em meio ao
asfalto. Cada canto fala de nós, do nosso povo, da nossa
fé, da nossa festa. Canto dos esquecidos, dos não vistos, MAS EU SOU NOVO E O MEU MESTRE
dos não lembrados. O canto é a voz que não é ouvida e É MEU GUIA, TUDO QUE ELE CANTA
a dança é o grito de resistência que ecoa pela união dos VIRA PARA MIM UMA LIÇÃO4
nossos corpos.
Geralmente, é na roda de corpo que vão mais Mes-
Nas rodas de corpo, dançamos os nossos bois, reisa-
tres e mais pessoas buscando aprender. Por isso, esse
dos, maneiro paus, lapinhas, pastoris, e, nesse momen-
ano, a roda foi realizada na quadra de uma escola de
to, cada Mestre quer compartilhar suas andanças, suas
Limoeiro do Norte, mais afastada do local que abrigou
lutas para chegar onde está, suas dificuldades e ale-
toda a programação do evento. Por conta disso, no pri-
grias. Por isso, todos querem partilhar. Cada fala é uma
meiro dia, foram poucas pessoas, pois muitas ficaram
lição de vida que sentimo-nos honrados em receber.
perdidas no meio do caminho.
Minha experiência como mediadora da Roda de Cor-
Assim, com poucas pessoas, no primeiro dia de roda,
po não se resume em palavras. Penso que colocar em
os Mestres estavam tristonhos, pois não compareceram
palavras algo tão extraordinário é, de certa forma, re-
muitas pessoas para ouvirem suas histórias, seus can-
duzir a sua tamanha grandeza, pois estar com os Mes-
tos, e contemplarem suas danças. Foi então que percebi
tres é sempre algo grandioso para mim, artista, brin-
que sem o público a brincadeira não acontece, podem
cante, pesquisadora, docente. E mais ainda, com eles,
estamos aprendendo a todo momento: aprendo sobre
a vida; aprendo cada passo, cada giro e contra giro; 4trecho da Música ‘Meu Mestre, Meu Guia’, de Fabiano de
aprendo a aprender; e aprendo a ensinar. Cristo (Fulô da Aurora).
trocando suas experiências. Ver Mestre de Careta de aos cordões, como um Rei majestoso, e assistiu emo-
Potengi – CE dançar Siriri do Mato Grosso, aprendendo cionado a tudo de perto. Mestre Antônio puxou e todos
junto conosco e, como sempre, nos ensinando que em cantaram juntos em coro, agradecendo o ensinamento
todo tempo temos o que aprender e o que partilhar. e seus tantos anos dedicado à cultura: “Mestre Aldenir
No último dia de roda, pedi para que os Mestres de é um homem de valor, ele é meu professor, do Reisado
Reisado, ao final da manhã, se reunissem e fizessem uma Brasileiro!”. Todos nós fomos às lágrimas e, mais uma
despedia todos juntos. Esse foi outro momento emocio- vez, aprendemos com eles o valor da gratidão.
nante. Ainda fecho os olhos e me recordo de Mestre An- De manhã, estávamos compartilhando saberes nas
tônio, do Reisado dos Irmãos de Juazeiro cantando sua Rodas. À tarde, depois do descanso, ensaiamos jun-
devoção a Nossa Senhora com todos os seus Mestres tos uma surpresa para o Evento. Surpresa essa que
companheiros acompanhando e dançando. As cadeiras na verdade era uma grande homenagem, pensada
estavam quase vazias porque todos estavam no centro por nós, feita por eles, compartilhadas para todos
brincando conosco. de Limoeiro. Cada Mestre se aproxima do microfone
Outro momento emocionante foi quando Mestre An- de Orlângelo Leal e cantava, dançava e isso ia sendo
tônio puxou um agradecimento ao Mestre Aldenir (Cra- roteirizado por ele e Fabiano de Cristo para a grande
to – CE), que estava sentado em uma cadeira em frente noite de encerramento.
C
om muita alegria hoje teço comentários e
FOTO LILIANE
compartilho experiências que vivi no XI En-
contro dos Mestres do Mundo, no município
de Limoeiro do Norte – CE.
Ao chegar ao Vale do Jaguaribe, no meu imaginário,
já se dá uma brejeirice sertaneja a qual nunca vivi quan-
do pequena, hoje já grande, me sinto uma filha empres-
tada do interior do meu Ceará. Pois o que construí de
memória antiga e ancestral, ao longo de minha adoles-
cência e juventude, foi com o Encontro dos Mestres do
Mundo, do qual já participei de várias edições.
É no encontro tão pertinho e tão afetivo com es-
ses grandes guerreiros da cultura popular que hoje
continuo, de forma resistente e encantada, a minha
dança de cada dia. É nesse contato direto, coração
com coração, pé ante pé, entre triângulos e zabum-
bas, espelhos e espadas, nas rodas de corpo dos
Mestres do Mundo, que a sabedoria de um se torna a
identidade do ser cearense.
Durante o encontro de 2017, em especial, a roda de
Mestres do Copo me proporcionou uma visão ainda
mais aproximada, desses Tesouros Vivos, uma vez que o
coletivo se torna uma grande festa de afetos entre eles Brincante infantil do Reisado.
M
ediar a roda dos sons do XI Encontro nas rodas de som foi entrar em contato íntimo com a
Mestres do Mundo foi um dos momen- arte que é a música, na simplicidade do seu fazer e na
tos mais lindos que vivi, de estudo e de complexidade do seu sentir.
vida. Estar com os Mestres, conhecê-los, Estar conectado com os Mestres me transformou
conviver, aprender com suas histórias foi como fazer como estudante de música e me emocionou muitas
uma amizade daquelas que não nos damos conta de vezes nas rodas de sons, como no momento com o
quando começa e jamais esquecemos. Mestre Antônio Hortêncio, que me deu uma das maio-
Antes de iniciar a primeira roda dos sons, eu esta- res lições de música/vida que eu poderia ter tido, algo
va apreensivo e emocionado ao mesmo tempo, con- que trago dentro de mim desde então.
siderando que estaria ali com eles, de quem sou fã. A Ele, sem falar nada, foi entrando na sala e já me en-
energia, a simplicidade e a receptividade dos Mestres sinava muitas coisas. Aquele senhor, em sua cadeira de
uns com os outros, ao chegarem à sala, foi me dan- rodas, cujo peso da vida não o fez parar de tocar, me
do a impressão de que havia sido convidado para to- fez perceber que a dor nos ossos era esquecida quando
mar um café na casa deles, e estávamos conversando a rabeca estava em suas mãos. Aprendi ali muito além
sobre a vida, na varanda, independente de qualquer da música. Aprendi que o amor familiar é importante
coisa, estávamos ali trocando histórias entre um som quando vi o cuidado que sua filha tinha em conduzir
e outro. Nessa roda, não me vi como condutor, nem sua cadeira de rodas pelos obstáculos, abrir a bolsa e
mediador, eu era um menino que estava curioso para dar em suas mãos com delicadeza sua Rabeca. Aprendi
conhecer os Mestres e vê-los mostrando os trabalhos a ter um apreço lindo com meu instrumento quando vi
e conversando entre si. o cuidado que ele tinha, quase abraçando a sua Rabeca
Eu sou músico e tenho uma visão da música longe antes de tocar, mas, o que ficou, fortemente, marcado
do que me é ensinado formalmente na faculdade, uma além de tudo isso foi sua sensibilidade.
música eurocêntrica, formal, e que de certa forma des- Em certo momento, pedi para Mestre Hortêncio
trata e desconsidera as características e as qualidades mostrar um pouco do som da sua rabeca tocando uma
da música de tradição oral. Conviver com os Mestres música de sua autoria, e o que veio a seguir foi uma
É
claro que todos nós podemos sentir a energia dão, pois, mediar aquela conversa, foi entrar em contato
que vem do sagrado. Quando me sentei dian- com o mais íntimo do ser, que é a representabilidade de
te de tantos Mestres e Mestras em uma roda sua fé, e me aproximar das representações da religiosi-
de trocas, ao redor dos símbolos mais diversos, dade popular. A cruz, o terço, o espírito santo, os orixás,
das expressões religiosas mais diferentes, não foi difícil entre outros, todas essas imagens deixam de ser simples
sentir e experenciar a vivacidade, a paz, a vibração da objetos para serem instrumentos de elo entre a terra e
fraternidade e a sinceridade no diálogo e na apresenta- o contato com o ser superior, que dizemos onipresente
ção de cada saber. A oportunidade me encheu de grati- e onipotente. Os dias, em Limoeiro do Norte, durante o
N
o centro da roda, assim, o Cacique João
Venâncio, do Povo Tremembé de Almofala,
acompanhado do seu maracá, inicia o ritu-
al de (re)encontro de todos nós na Roda da
Oralidade, no XI Encontro Mestres do Mundo. Tudo nessa
roda tem força! E gira como o vento ou balança como as
sementes dentro do maracá sagrado de cada tribo indí-
gena que resiste e existe, buscando força no tronco da
jurema. Tudo gira em torno da força do oral, do orar, do
cantar, do se encantar, porque em tudo que se fala, ges-
ticula, canta e pensa transborda poesia oral como para
celebrar a existência de saberes que se constroem e nos
unem à experiência vivida de cada Mestra e Mestre.
É importante entender que a oralidade “[...] não se
reduz à ação da voz. Expansão do corpo, embora não o
esgote. A oralidade implica tudo o que, em nós, se en-
dereça ao outro: seja um gesto mudo, um olhar” (ZUM-
THOR, 2010, p.217) . E é por meio de olhares e gestos
acolhedores que cada corpo presente na Roda da Orali-
dade se irmana para (re)conhecer inúmeras tradições e
formas de expressão que inscritas em um corpo/memó- Mestre Stênio Diniz, Xilogravura e Literatura de Cordel, Juazeiro
ria ancestral vão se renovando a cada geração. do Norte - CE.
Difícil, portanto, é a escrita da experiência vivida rem-se desse reencontro, e meu, sobretudo, que
em performance, na oralidade de falas, de olhares, de sigo aprendendo com os dramas e as canções de
gestos, de cantos, de danças e de corpos que estive- Dona Zilda, de Guaramiranga, que no alto de seus
ram presentes e trocaram energias de maneiras diver- noventa anos, mantém uma memória criativa im-
sas. Sendo assim, tento aqui minimamente transmitir pressionante. E ao ser convidada a nos brindar
o inefável celebrado nesse Encontro. com sua arte, canta uma paródia, como denomi-
Privilégio dos presentes que, enquanto vive- nou, feita na noite anterior para expressar sua ale-
rem, sentirão a presença um do outro ao lembra- gria em estar no Encontro:
C
riar, reelaborar, transmitir, emocionar, seduzir Preto constituiu uma equipe de profissionais qualificados e
são elementos primordiais da curadoria na ela- de reconhecida vivência e atuação no campo dos saberes e
boração de um conceito, um tema, uma progra- dos fazeres populares para dar cabo de tornar “sensível”,
mação e uma mensagem, que compartilhados com toda a delicadeza, a imaterialidade que se performatiza
com uma equipe de produção se processam, por outros e “cria corpo” na arena dos Mestres, nos palcos, no espaço
mecanismos, para traduzir-se em materialidade. dos encantados, nas rodas de saberes, nas oficinas e nos en-
Para acolher os Mestres e as Mestras da Cultura Tradicio- contros com os nossos Tesouros Vivos.
nal Popular do Ceará e suas manifestações, o Instituto Assum O território imaginado – e realizado – com suas par-
FOTO LILI
M
ais um ano o Vale do Jaguaribe abre
os braços para receber os Mestres e as
Mestras da Cultura Popular Tradicional
do Ceará, junto com convidados de ou-
tras partes do Brasil e do Mundo. Nessa roda entram
crianças, gente grande, gente que pesquisa, gente
que só quer brincar experimentando a arte de nos- Fabiano e neta da D. Gerta, Mestra encantada da Caninha Verde.
sos Mestres, e gente que só quer olhar... Nada que se
refira a este momento pode ser tratado no singular,
porque ele é plural.
A rabeca ressoa nas mãos ainda firmes de seu
Antônio Hortêncio, enquanto se preparam danças,
poesias, benditos, e o terreiro vibra em uma multi-
plicidade sonora. As mãos moldam o barro, agulhas
transpassam tecidos e couros, linhas que se entrela-
çam em desenhos coloridos e folhetos que contam
os amores e as tragédias de nosso sertão em ver-
sos bem rimados. A luz das velas ilumina as cabeças
abençoas, ao toque do repique dos sinos e enquanto
as orações invocam a ancestralidade de nossos po-
vos mestiços em profunda devoção.
Assim nos encontramos no Limoeiro do Norte. De
cá, sabedorias e fazeres se espalharam: indo de Alto
Santo à Morada Nova, de Quixeré à Russas, corre no Apresentação do cantor Mário Lúcio, Cabo Verde, África.
Mestre Cirilo, Maneiro Pau do Crato- CE. Aula espetáculo da Banda Cabaçal Padre Cícero, Limoeiro do Norte.
vizinho Tabuleiro do Norte. As terras do Vale do Ja- nais de energia nos corpos brincantes – que sorriem
guaribe ganham danças, cantos e músicas junto às alegres, que choram emoções, que bailam encanta-
novas gentes nas terras vizinhas. As tardes caem en- dos –, entre as gentes unidas em noites de lua cheia
volvidas pelo vento Aracati, amenizando o calor do iluminando o sertão das delicadezas.
sol dos dias, abrindo as noites frescas para festas, E a chuva cai pruma despedida e Mestre Aldenir
cantorias e brincadeiras. conduz: “Recosta, recosta joelho em terra”. Assim a
O povo de Limoeiro se faz público na praça que gratidão se espalha em homenagens e temos mais
vira terreiro e se agrega com os novos e os velhos uma vez que partir de volta para casa. “Adeus mi-
visitantes nesse encontro. Os amores que não tem nhas rosas, adeus meus amores. Até paro ano, se
forma e que se entremeiam nas mentes, enviando si- nóis vivo for!”
O
XI Encontro Mestres do Mundo vem tra- olhar, do sentir e do fazer das diversas manifestações,
zendo vivências e experiências na sua É muito gratificante poder participar desse even-
abrangência no compartilhar das for- to na mediação das oficinas e das aulas espetáculos.
mas de saberes dos Mestres, sendo toda Compartilhar vidas e emoções de maneiras diver-
a sua dedicação e aprendizado gerida por sua gene- sas, aprendendo e se desenvolvendo junto desses
rosidade e simplicidade. seres encantados.
As aulas espetáculos, assim designadas, tiveram Poder se permitir estar junto, numa conversa ao
em suas dinâmicas momentos importantes que contri- pé do ouvido, ou com um grupo de pessoas interagin-
buem para a educação do patrimônio, sendo essas au- do, é o momento em que eles(as) podem se expressar,
las vivenciadas por alunos e comunidade local com o cada um com sua forma simples de ser, ou até mesmo
objetivo de promover diálogos, trocas, reconhecimen- com sua timidez, mas quando é dado a vez e a voz, se
tos e singelezas dos Mestres participantes. Ali possi- prepare para a melhor viagem da sua vida, e se permita
bilitou também o aprendizado entre nós por meio do aprender sempre com esses TESOUROS VIVOS!
O
tempo pode ser considerado um dos saberes e nos fazeres produzidos por Mestres e
elementos norteadores para compre- Mestras da Cultura Tradicional Popular do Esta-
ender a ação humana. É no âmbito das do do Ceará, o caráter temporal de suas práticas
experiências e das expectativas que ganha outro patamar: o sagrado e o profano mis-
construímos representações ou significamos para turam-se. E, desse modo, é constituída uma tem-
cada momento de nossas vidas. Ao pensarmos nos poralidade específica que dimensiona esses sujei-
M
ário Lúcio é desses artistas que detém a maes-
tria de encantar as pessoas, o seu público. Na
tarde calorosa – e calorenta – do dia 2 de de-
zembro de 2017, em Limoeiro do Norte, durante
a programação do XI Encontro Mestres do Mundo, esse en- Apresentação do cantor Mário Lúcio, Cabo Verde, África.
cantamento se deu em forma da aula espetáculo “Só o amor
engendra a maravilha”; cujo título e o seu desenvolvimento O amor, sentimento magno da existência humana, é para
nos guiam à reflexão. De fato, uma tarde de reflexões compar- além da sua imaterialidade uma experiência a ser vivida dia a
tilhadas, foi o que propôs e fez Mário Lúcio. dia num continuum que suspende as certezas, mesmo aquelas
Entre canções, poemas, lembranças narradas, ensinamen- mais precisas. É nesse ritmo constante e mutante que o amor
tos da filosofia budista e uma voz da experiência cabo-verdia- vivido pode encontrar ao longo do percurso os seus avessos.
na, o encontro se deu com um público atento e encantado. Do aprendizado constante que o trilhar da vida permite, a
Distintas pessoas, de gêneros, gerações e proveniências diver- luta, as vitórias e as batalhas perdidas são o lastro para que se
sas, ali se assentaram durante algumas horas compondo com cumpra a experiência do amar, do sofrer, do compreender, do
o Mestre um círculo de harmonia vital. superar – e, do mais amar.
Mário, entre os sons e os silêncios, falou de um sentido Findadas suas reflexões, Mário ouve atentamente aqueles
para a vida por meio da busca pela maravilha; maravilha que que, reconhecendo a graça do momento, agradecem e expres-
é “o extraordinário de si” – que tantas vezes, equivocadamen- sam outros interesses em mais conhecer e aprender do seu
te, se busca nas coisas exteriores a si, quando estão e são tão pensamento. Assim, segue o encontro, seguem as trocas e as
somente o que somos, ou pode(ría)mos ser. partilhas recíprocas.
Ensinou-nos o artista que nessa busca, contínua e conti- Como escrevera Mário Lúcio referindo-se à dupla missão
nuada, ao longo da vida, na qual se persegue o compreender de quem faz arte, “a de ser feliz e de fazer os outros felizes”,
“o propósito” de si, o amor, em suas mais distintas manifes- neste momento ímpar de convívio com o artista, assim o diá-
tações, deve ser o guia. Deve ser a matéria que engendra, ou logo se fez, o propósito se cumpriu e o amor se realizou em
seja, que “dá origem” e compõe o nosso propósito. maravilha a todas e todos os presentes.
A
valiar, refletir, compartilhar, aplicar co- formulação da II Carta de Fortaleza (2017), mirando
nhecimentos, renovar ideias para a va- suas proposições ao futuro do patrimônio cultural e
lorização dos bens imateriais do Ceará. registrando reflexões necessárias.
Assim caminhou o debate promovido Durante toda a tarde, os pensamentos volteavam
durante o Seminário Interdisciplinar de Patrimônio e seguiam uma discussão que tateava refletir e com-
Imaterial, realizado pela Secretaria de Cultura do preender para além dos limites das políticas gover-
Estado do Ceará (Secult-CE) na programação do XI namentais que restringem o patrimônio imaterial
Encontro Mestres do Mundo, com o tema ALÉM DA em um título de patrimônio imaterial. O maior de-
CARTA DE FORTALEZA – UMA TRAJETÓRIA DE DESA- safio proposto nesse encontro foi o de refletir sobre
FIOS AVANÇOS, REAFIRMAÇÕES E NOVAS PROPOSI- questões que tocam a promoção, a salvaguarda e
ÇÕES PARA O PATRIMÔNIO IMATERIAL CEARENSE, a sustentabilidade das expressões na contempora-
que, sistemática e sincreticamente, expôs o contex- neidade. Sendo assim, a discussão gerou o seguinte
to da Carta de Fortaleza (1997). questionamento: Como reconhecer os grupos e os
Era dia 30 de novembro de 2017, quando a Secul- seus territórios, respeitando os conhecimentos tra-
t-CE, a Secretaria da Cultura de Fortaleza (Secultfor) dicionais no cenário dinâmico dos processos cultu-
e o Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Na- rais e dos valores que se reconstroem diariamente?
cional (Iphan) se reuniram no auditório da Fafidam, Considerando o questionamento, fazem parte da
em Limoeiro do Norte, para trocar experiências e an- carta a que se refere o evento os seguintes anseios: in-
seios sobre políticas públicas para a salvaguarda dos vestir em pesquisas fortalecer a difusão de atividades
bens culturais de diversas naturezas e origens que de circulação, realizar ações de difusão dos diferentes
compõem o mosaico cultural do nosso Estado. Esta grupos e disseminação de seus saberes através de ati-
ação sistemática e sincrética expôs o contexto da vidades educativas em seus territórios e nos ambientes
Carta de Fortaleza (1997) e o que dela decorreu até a formais de educação, estabelecer novas ferramentas
(CEPPIR), de modo a garantir a regulamentação de existentes nos 184 (cento e oitenta e quatro) municí-
atuações no âmbito da proteção dos territórios e dos pios que compõem o Ceará, nos quais se inserem as
conhecimentos tradicionais; expressões populares tradicionais e seus detentores,
7. A inexistência, no âmbito estadual, de um institu- e da relevância de assegurar os direitos previstos nos
to ou fundação, com recursos próprios, com o obje- artigos 215 e 216 da Constituição Federal, quanto ao
tivo de desenvolver ações relativas à identificação, respeito e à promoção da diversidade cultural bra-
à documentação, à proteção, à restauração, à ma- sileira, o plenário do Seminário Interdisciplinar de
nutenção, à promoção, à valorização, à transmissão Patrimônio Imaterial considera como fundamentais
e à revitalização do conjunto de bens materiais, para a ação institucional e a observância da socieda-
imateriais e naturais; de dos seguintes princípios:
8. A inexistência, no âmbito estadual, de um instru-
mento metodológico com critérios técnico-científicos 1. Os direitos humanos devem orientar todas as
adequados ao Registro dos Bens Culturais de Natureza ações nesta área, especialmente no que concerne à
Imaterial do Ceará. diversidade cultural, étnica, racial, religiosa, sexual
e de gênero;
PRINCÍPIOS 2. O patrimônio cultural é composto pelas suas di-
Diante da multiplicidade de contextos socioculturais mensões imateriais e materiais, devendo-se fomen-
H
á tempos fui convidado por uma professora mentas, sem cor, representavam o corpo de pesso-
do colégio Juvenal de Carvalho para dese- as em movimentos distintos, em que cada posição,
nhar um painel nas paredes do auditório dos braços, das pernas, da cabeça, do pescoço, das
e do salão de dança daquela instituição de mãos, dos tornozelos, dos pés, indicava uma ação
ensino. Eu ainda não sabia quais eram os desenhos ou do balé clássico, mas também representa um con-
imagens a serem ilustrados, até que a professora me tágio energético, uma poética, uma emoção que a
apresentou um livro que continha uma série de fotogra- própria arte da dança é capaz de transmitir.
fias de um corpo feminino executando várias posições Ao observar as danças, a musicalidade e os diver-
correspondentes à dança do balé clássico. Até aí tudo sos movimentos representados no evento do Encontro
bem, eu tinha apenas de reproduzir as fotos, desenhan- Mestres do Mundo, eu senti a mesma energia e espon-
do-as diretamente na parede. Porém, a freira queria taneidade das figuras dançantes da sala de dança do
que eu desenhasse apenas as siluetas das figuras, ou colégio. Isso estava presente nas cenas de danças re-
seja, elaborasse todo o contorno com bastante cuida- presentadas, através da voz, dos sons dos instrumentos
do para mostrar os diversos movimentos da persona- e dos movimentos dos seres brincantes. Alguns grupos
gem e pintasse toda a figura de preto, como se fossem brincavam o festejo, a comemoração, outros brincavam
sombras. Passei a desenhar as figuras, quando concluí a luta, o protesto, enquanto outros “brincavam” o cho-
o trabalho tínhamos um painel gigantesco ocupando ro, a saudade e a exaltação da fé.
quase toda a lateral do auditório e o salão de dança. Algumas rodas de dança tipo maneiro pau, dança
Apresentando um desenho sequenciado com várias fi- do coco, reisado, bandas cabaçais, candombe, moçam-
guras negras representando os passos e os movimentos bique dos Arturos, apresentavam-se com os membros
da bailarina. Quando observei aquelas sombras aparen- do grupo exercendo cada um uma função de dança e
temente estáticas, mas em movimento, percebi que as cantoria, mas dentre eles se destacava um personagem
figuras falavam por si só. E as alunas automaticamente que era responsável pelo canto inicial, pela apresenta-
tentavam imitar os movimentos daquelas figuras. Con- ção do grupo e pelo pedido de licença e permissão para
clui que embora fossem apenas figuras, mas como re- adentrar no terreiro.
presentavam o corpo humano, o corpo de uma mulher,
Ao longo da execução da cantoria por parte
transmitia uma energia singular para quem observava.
do grupo, esta pessoa saia no meio da roda para
Aquelas figuras, embora sem rosto, sem vesti- mostrar suas habilidades de dança, de sapateado,
Candombe, Comparsa Cenceribó – Montevidéu, Uruguai. Boi Mirim Pai do Campo, Limoeiro - CE.
Esquema gráfico desenhado pela mestra Raimundinha do Mestre Bibí Escultor. Canindé Ce. Mestra Dona Maria Quei-
Trairí; Louças de cascavel mestra Dona Maria. roz. Cascavel Secretário de Governo Fabiano Piuba.
E
ste é um relato das experiências vividas no XI
Encontro Mestres do Mundo (Saberes Multicul- PARTICIPAR DESSE ENCONTRO FOI
turais em Encontro de Delicadezas), como aluna ENTRAR EM UM MUNDO MÁGICO DE
do Curso de Mestrado Profissional em Artes do FORÇA IMATERIAL PRESENTE NA
IFCE, com os Tesouros Vivos do Ceará, Mestres que com-
SABEDORIA POPULAR E CULTURAL
partilharam conosco suas experiências, brincadeiras, re-
zas, danças e artesanatos herdados de seus ancestrais. DE VÁRIAS ETNIAS, COM PESSOAS
Participar desse encontro foi entrar em um mundo QUE EMANAVAM SABEDORIAS DE
mágico de força imaterial presente na sabedoria popular VIDA, DE CULTURA DE SIMPLICIDADE
e na cultural de várias etnias, com pessoas que emana- E AMOR COM O OUTRO.
vam sabedorias de vida, de cultura, de simplicidade e de
amor com o outro. Viajei por três dias nesse universo es- desses “encantados” em aulas espetáculos, oficinas iti-
plendido de saberes multiculturais, permitindo-me fluir nerantes com público, brincantes e/ou grupos que pu-
em cada encontro vivido com os Mestres, embarcando dessem compartilhar o saber. Também tivemos na roda
na espontaneidade, nas singelezas e no espírito de cola- de trocas os Tesouros Vivos (Mestres), que partilharam
boração que estava presente em todos os lugares. saberes entre si e com a comunidade.
O encontro, em vários cantos e recantos do grande Tive o privilégio de participar de algumas oficinas nes-
espaço compreendido como “Território de delicade- sas rodas de trocas, que foram divididas em sagrado, corpo,
zas”, promoveu apresentações artísticas noturnas com mãos, oralidade e sons, tudo acontecendo simultaneamen-
os grupos e ao Mestres do Ceará, do Maranhão, de Ala- te. Participando destes espaços, fui vendo e me encontran-
goas, de Minas Gerais, de Pernambuco e de Cabo Ver- do com diversas matrizes que promoveram uma ampla
de e Uruguai, e também o “Espaço dos Encantados”, possibilidade criativa no meu universo como artista visual.
uma homenagem aos Mestres que já partiram. Duran- Visitei o espaço do sagrado com um lindo altar para oferen-
te o dia, aconteceram oficinas compartilhando o saber das aos Santos e o canto do Bendito com a Mestra Maria do
F
oi um poço de singeleza. Mais uma vez as pesqui- O Encontro Mestres do Mundo é território de resistên-
sas, os meus trabalhos, amores e atividades me cia nos dias de hoje por meio da vivência da ancestralida-
levam ao sertão. Começo este depoimento com de, da memória afetiva e da luta pela vida que expõe em
um recorte dos momentos finais das minhas ex- suas tão variadas mãos, sacralidades, oralidades, sons e
periências, o momento “aula-espetáculo” com Mário Lú- corpos. Ou seria melhor falar em re(existência)? Reescri-
cio: ele nos falou sobre como o simples é a depuração do ta do viver pelos meandros da arte? Uma potencialização
perfeito. Ele afirmou o tempo inteiro que ali estava para de singularidade e diversidade de expressões, saberes e
falar sobre isso: amor. Amor este que não tem forma, que fazeres que reparamos sutilmente no corpo preparado
não tem imposição, ele simplesmente é, e quando assim naturalmente pela lida diárias de todos os Mestres ali
o é, ou quando assim nós o encontrarmos, ele será o mais reunidos: todos juntos e misturados, em comunhão.
saboroso do mundo (justamente porque ele é o meu). Sem dúvidas, a aura era de celebração, igualdade,
Amor que primeiro mora e é cuidado em mim e que, humildade e respeito. O tempo sendo tecido com es-
desse jardim, brota para o jardim a quem meus sentidos pontaneidade, singeleza e expressão genuína da pró-
quer saborear. Amor este que fala da complexidade de pria vontade, que teimava tantas vezes em não obede-
uma relação, dentro da sua forma natural de ser. Estou cer imposições pelo gozo de mostrar para o público a
profundamente afetada por este amor, é ele que me mo- sua arte, a sua criação, a sua lenda viva.
tiva a criar, os efeitos que ele gera no corpo, as teias que Nas rodas de sons e nos espetáculos na praça, du-
tece pelo desejo que o tenta governar. rante a noite, observei o quanto a música chama o cor-
Voltando à fala de Mário Lúcio, poeta cabo-verdia- po cansado. O que dizer da emoção em ver os Arturos
no, vem-me à mente o escrito de processo às vésperas de Minas Gerais carregarem o mundo em suas tornoze-
de pegar a estrada: “Saber administrar o peso das suas leiras (paiás) dançantes? Ou da força presente nas Can-
práticas envolve tempo, maturidade e caridade para tigas de Guarda com os cânticos de luz?
consigo mesmo. Entender que tudo se conflui, se mesti- Já nas rodas das mãos (local mágico que me fisgou),
ça e ao mesmo tempo se segrega, não é tarefa das mais Seu Pedro Balaieiro (de Vila Pernambuquinho – Guara-
N
as questões relativas à salvaguarda do saber Foi pensando nisso que nós do Grupo MIRAIRA do
oral, as ações que possam envolver crianças IFCE, Campus Fortaleza, realizamos em parceria com
e jovens com práticas, saberes e fazeres, sen- a produção dos XI Mestres do Mundo a ação “Brin-
sibilizando para seus sentidos no universo de cando no Boi: crianças e Mestres em roda de afetos”.
quem o faz, são para nós algo de extrema importância. Levamos vários personagens animais da brincadeira
No LPCT – Laboratório de Práticas Culturais Tradicio- boi do Ceará como burrinhas, jaraguás, emas, bois e
nais do IFCE campus Fortaleza, estamos, desde 1982, brincantes nossos para estimular as crianças a expe-
desenvolvendo ações que possam envolver crianças e rimentarem entrar na brincadeira. Íamos cantando,
jovens por meio de ludicidade, da festa e do encanto. explicando, brincando e convidando papais e ma-
Aprendemos com comunidades tradicionais, Mestres mães a entrarem na roda com eles também.
e brincantes que a festa, a felicidade e a alegria são Não era uma apresentação. Era uma brincadeira
motores de resistência para tudo o que o homem sim- estimulada, em que aqueles que pensavam ser plateia
ples vem sofrendo. Assim, o boneco, o tambor, o boi, a eram os protagonistas. Este tipo de ação necessita estar
dança, não trazem apenas a gargalhada, mas também mais presente em eventos e ações de salvaguarda con-
o afeto natural para as verdades e as demandas que tínua. É necessário compreender que a melhor forma
envolvem as comunidades. de salvaguarda do Patrimônio Imaterial é pelo corpo,
Assim aprendemos, assim compartilhamos e vamos pelo sentir, pelo experimentar, pelo aprender o fazer
como aprendentes/ensinantes repassando por meio, para dar continuidade pelo uso no canto, na dança, na
muitas vezes, do espetáculo, das oficinas, das rodas reza, na comida, na ação.
etc., buscando aproximação por meio do corpo, da reza, O registro somente pela ação descritiva do fa-
do rito, das máscaras, de tudo o que pode fazer ponte zer, no caso do patrimônio imaterial, não gera sal-
entre as crianças, os jovens e os Mestres e seus saberes. vaguarda, pois o patrimônio imaterial depende de
O
ratório preparado, terreiro incensado e ma- A angústia de saber a impossibilidade de contemplar toda
racás chiando nas mãos de pajés, caciques, a grandeza de conhecimentos e poesia desses senhores e
índios e índias, que entoavam os cânticos de senhoras em uma única apresentação só era superada pela
abertura dos trabalhos, soam como um pedi- vontade de trazê-los ao público, que, na sua grande maioria,
do de licença aos ancestrais nativos dessa terra para que não tem a oportunidade de vivenciar os terreiros onde esses
possamos louvar o Mestre. Não só na figura de pessoas mestres exercem suas funções dentro do calendário natural
em plena atividade de doação e compartilha de seus sa- de suas obrigações, à parte do tempo institucionalizado dos
beres aos discípulos, mas também à lembrança dos tantos palcos, festivais. Nessa perspectiva, os mestres são o retrato,
que agora irradiam seus saberes do astral, presentes na possivelmente mais belo e panorâmico, da riqueza de Corpos,
energia vibrante de seus brinquedos, folguedos e práti- Sons, Mãos, Oralidades e Sacralidades, vividos e compartilha-
cas; e, sobretudo, ao lugar do Mestre, esse lugar de ge- dos durante os dias de encontro nas alegres Rodas de Mestres.
Certamente, essa foi uma daquelas missões na qual o fazendo ponte entre matéria e espírito, o toré e o torém
processo de construção é indubitavelmente mais incrível de nossos antepassados tremembés, pitaguarys, jenipa-
que o resultado final. Encontros, reencontros, histórias, po-canindés, o sino de igreja, o altar de chapéus, fitas,
memórias, causos engraçados e muita, muita música acom- flores, instrumentos musicais e ofícios seculares, anun-
panhada de palmas, pandeiros, zabumbas, pifes, violas, ciando um rosário de aboios, relaxos, canções e cores,
rabecas e danças, que compunham sempre uma ciranda sorrisos, giros de saia e êxtase do público que teve o me-
múltipla de formas e cores em um caleidoscópio humano recimento de estar na hora e no lugar certos para uma
surpreendente a cada segundo. celebração à vida que nunca houve e nunca mais haverá,
A culminância foi parcialmente ensaiada, deixan- não igual a essa que fica nas memórias, nos corações
do espaço para os inevitáveis improvisos que tornam de todos nós que estávamos lá.Assim sonhamos com os
o espetáculo sempre único. Não tínhamos outra forma próximos encontros, dispondo-nos a viver, com um pou-
de fazer senão como um cortejo onde o profano fazia co alegria que seja, esse lugar de doação de amor, de
homenagem ao sagrado da vida. No roteiro, os tiros mo- luz, de poesia, chamado Mestre (Orlângelo Leal e Fabia-
vedores dos bacamartes, o incenso de cheiro, a fumaça no de Cristo, Itapipoca e Crato, 2 de Abril de 2018).
Oh grande força do amor espalhada sobre a face dos nossos ancestrais que protegem a vida.
da terra e que reúne os homens e as mulheres do Vem, curai-nos todos os santos, todos os credos e
bem, pelo bem para todo o sempre amém! todas as entidades que estão nos rios, nas cacho-
Estamos aqui, eiras, nas profundezas do mar, no vento, na flo-
Nós devotos cantantes, resta e na força que brota da terra mãe!
Devotos dançantes, Curai-nos ó lua que brilha no céu, protegei-nos!
Devotos dos fazeres do barro, do couro, da palha, A vós anjos, santos e entidades do bem entrega-
dos cipós, da renda, da xilogravura, mos estas ofertas como prova do nosso amor e
Das falas, das lendas, das rimas, dos cantos das bondade, e agradecemos por tudo que vivemos,
incelênças, da rabeca, do sino e da sanfona, da aprendemos e vamos levando daqui.
zabumba e do triângulo.
Nós invocamos todos os seres cósmicos e a força Amém, axé!
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FOTO LILIANE
TIAGO NOZI
86
XI ENCONTRO MESTRES DO MUNDO
TIAGO NOZI LILIANE
SABERES MULTICULTURAIS EM ENCONTRO DE DELICADEZAS
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