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Resumo
Introdução:
Entre políticas que levam à sua extinção ou garantam a sua permanência e permeado
por tendências pedagógicas diversas, curso normal, resiste e se consolida como espaço
para a formação inicial de professores para a educação infantil e séries iniciais do ensino
fundamental. Em sua relação com as tendências pedagógicas disseminadas no Brasil,
nos diferentes momentos históricos, verificamos que o curso normal se adequou a elas.
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Segundo Schultz (1973, p.53) “É humano porquanto se acha configurado no homem, e é capital porque
é uma fonte de satisfações futuras, ou de futuros rendimentos, ou ambas as coisas. Onde os homens sejam
pessoas livres, o capital não é um ativo negociável, no sentido de que possa ser vendido.Pode, sem dúvida
ser adquirido, não como elemento de ativo, que se adquire no mercado, mas por intermédio de um
investimento no próprio indivíduo. Segue-se que nenhuma pessoa pode separar a si mesma do capital
humano que possui. Tem de acompanhar sempre,o seu capital humano, quer sirva na produção ou no
consumo” (apud MIGUEL, Maria Elisabeth Blanck. Tendências pedagógicas na educação brasileira:
permanências e mudanças, Curitiba, 2004).
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Cabe lembrar que esta modalidade de ensino exigiu professores específicos para o
ensino profissionalizante, assim como de condições especiais de laboratórios e salas
ambiente para a realização dos cursos. Pesquisas demonstram como tal modelo de
escola cumpriu um papel relevante para a consolidação da ditadura militar e dos ideais
tecnicistas. Frigotto (1989), por exemplo, desenvolveu sua tese afirmando que a escola,
embora improdutiva, foi extremamente produtiva, pois ao abandonar a formação geral
do aluno em nível médio, ou seja, a formação politécnica2 fragmentou os conteúdos,
trabalhou de forma estanque, contribuindo para a alienação do trabalhador. Foi a égide
do saber fazer, em detrimento do saber pensar, que certamente reforçou contradições na
educação brasileira.
Neste contexto, a formação de professores para as séries iniciais e educação infantil,
também passou a ser realizada em cursos técnicos, instituída pela Habilitação Específica
de 2º grau para o exercício do Magistério (HEM). Legalmente, sua organização se
respaldou em Parecer do Conselho Federal de Educação, que versava sobre a
Habilitação Específica para o Magistério (Parecer 349/72). Este Parecer definiu a
organização do currículo tendo como base um “Núcleo Comum, obrigatório em âmbito
nacional e uma parte de formação especial, que representava o mínimo necessário à
habilitação profissional”. Segundo Garrido (1988, p.106), este trecho da lei demonstrou
a dicotomia entre os dois elementos que deveriam ser indissociáveis, causando a
progressiva desvalorização do profissional docente formado durante o tempo em que
vigorou esta lei.
Nestas condições, após a aprovação da Lei 5.692/71 algumas características do
Curso de Magistério puderam ser verificadas. Garrido (1988, p.107) as identificou da
seguinte forma:
- é uma habilitação a mais no 2º grau, sem identidade própria;
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Segundo Kuenzer (1988), politécnica deve ser compreendida (...) como “ a aquisição histórico-crítica
dos princípios gerais e das habilidades instrumentais básicas que regem os processos produtivos em suas
distintas modalidades, em conformidade com as necessidades sociais de formação intelectual do novo
tipo”.
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Tanuri (2000) também expressou suas preocupações relativas ao curso normal deste
período histórico. Citando Mello 1985; Gatti, 1987; Lelis, 1989 e Santiago, 1994; a
autora “aponta o ‘esvaziamento’, a ‘desmontagem’, a ‘desestruturação’, a ‘perda de
identidade’ ou a ‘descaracterização’ sofrida pela escola normal do período, tendo-se
vislumbrado inclusive sua ‘desativação’ nos anos imediatamente posteriores à reforma”
(2000, p.81).
Concordando com os autores acima citados, constatamos um retrocesso na formação
do professor e do cidadão brasileiro, ao definir de modo universal e compulsório a
formação técnica em nível médio. Ao constatar esta situação, somos levados a indagar
qual era o lugar da formação das massas no Brasil, tendo em vista a submissão da
educação à ordem capitalista. A quem interessou esta formação?
Acreditamos que na organização da escolaridade técnica, a escola se comprometeu
com o processo capitalista de produção, adestrando os alunos para serem os
trabalhadores produtivos. A formação de professores, com esta tendência, reforçou tais
condições.
Este modelo pedagógico durou até 1982. As inúmeras pressões contrárias ao ensino
tecnicista apressaram a aprovação da Lei 7.044, que desobrigou a compulsoriedade do
ensino profissionalizante em nível médio. Assim, as escolas regulares da rede pública e
privada passaram a trabalhar em nível médio, com cursos de Educação Geral. Para a
formação de professores em nível médio, verificamos a descaracterização do curso, seu
declínio ou extinção no sistema público de ensino.
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Resolução CNE, nº 01 de 15 de maio de 2006.
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Esta definição apóia-se também no art 10 da Deliberação CEE nº010/99, que regulamenta o curso
normal em âmbito estadual desde o ano de 1999.
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Para que este objetivo seja alcançado, o curso normal foi organizado com duração
de 4800 horas, distribuídos em 4 anos. De acordo com matriz curricular em vigor
(SEED 2006), o curso ficou assim organizado:
a) Base Nacional Comum: Língua Portuguesa e Literatura; Arte;
Educação Física; Matemática; Física; Química; Biologia; História,
Geografia;
b) Parte Diversificada Língua Estrangeira Moderna e a
c) Formação Específica Fundamentos Históricos da Educação;
Fundamentos Filosóficos da Educação; Fundamentos Sociológicos da
Educação; Fundamentos Psicológicos da Educação; Fundamentos
Históricos e Políticos da Educação Infantil; Concepções Norteadoras
da Educação Especial; Trabalho Pedagógico na Educação Infantil e
Organização do Trabalho Pedagógico; Literatura Infantil;
Metodologia do Ensino de Português / Alfabetização; Metodologia
do Ensino de Matemática; Metodologia do Ensino de História;
Metodologia do Ensino de Geografia; Metodologia do Ensino de
Ciências; Metodologia do Ensino de Arte e Metodologia do Ensino
de Educação Física; Prática de formação (SEED-PR, 2006a).
sociedades, a partir da existência material dos homens, nas relações sociais de produção,
essencialmente econômicas e técnicas. Enriquece a proposta a definição de princípios
pedagógicos que devem direcionar o processo de formação inicial dos professores na
atualidade, no Estado do Paraná definidos como: o trabalho como princípio educativo, a
práxis como princípio curricular e o direito da criança ao atendimento escolar.
Para a SEED (2006a),
Considerações finais:
As tendências pedagógicas explicitadas neste texto sintetizam diferentes
configurações econômicas, políticas e sociais que se incorporam à formação de
professores, no curso normal. De um modo geral, explicitam a ideologia dominante do
momento histórico abarcado e, no geral, contribuem para consolidar a hegemonia
estrutural na sociedade brasileira. Se com a escola nova a formação de professores
disseminou uma função idealista e salvífica, a escola tecnicista restringiu sua formação
ao saber fazer pedagógico, trazendo sérios prejuízos à formação dos professores e à
educação brasileira. Por outro lado, a escola generalista proporcionou um conjunto de
conhecimentos flexíveis e inculcou nos alunos princípios liberais, atrelados à
competição, à meritocracia e ao individualismo, condizentes com o contexto neoliberal.
Opondo-se a estas concepções, a tendência integrada apóia-se no método
dialético, visto tratar o conhecimento como processo. Originada a partir da negação das
tendências que a precederam esta proposta constitui-se como uma síntese dialética,
respaldada numa concepção de ser humano como sujeito histórico, que constrói e
transforma a realidade dialeticamente. No que tange à educação, concebe-a como
espaço social que articula cultura, conhecimento, tecnologia e trabalho como direito de
todos.
Embora, em curto prazo, o curso normal se configure como uma medida
compensatória, para atender as necessidades imediatas de formação de professores, em
longo prazo, respaldo nos princípios expostos acima, poderá construir um espaço anti-
hegemônico de lutas e resistências para superar as condições históricas do capitalismo e
das políticas neoliberalizantes, consolidar a formação de professores e a educação
emancipadora como uma política pública no Estado do Paraná.
Para tanto, sugerimos a disseminação dos princípios fundantes da tendência
integrada como bandeira para a organização de um sistema unitário de formação
profissional técnica como direito social. Ao mesmo tempo, alertamos os formandos do
curso normal para a necessidade de darem prosseguimento à sua formação.