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O conceito de “Saudosismo transfigurador” de

Antônio Cândido nas letras de músicas

Antônio Cândido: saudosismo transfigurador


Por Cristiano das Neves Bodart

Refletir sobre as transformações ocorridas na sociedade é um caminho frutífero para


compreendermos a atual realidade social. Contudo, analisar as mudanças não é uma tarefa
fácil, sobretudo quando em curso e quando estamos inseridos diretamente nelas. Outra
dificuldade está no fato de que há uma tendência de os sujeitos informantes narrarem um
“passado romantizado”, muitas vezes bem diverso do acontecimentos, das condições
materiais e sociais da época.

Se por um lado tais narrativas idealizadas podem se apresentar como um desafio para
quem deseja “reconstituir um passado real” [se é que isso de fato seja possível], por outro,
evidencia uma riqueza sociológica considerável que ficou imprimida no conceito de
“saudosismo transfigurador”.

Antonio Candido, em sua obra “Os parceiros do Rio Bonito”, chamou de “saudosismo
transfigurador” a idealização de um passado memorado como melhor que o tempo
presente, ainda que não o tenha sido.

“Em primeiro lugar, observamos o que se poderia qualificar de saudosismo transfigurador


– uma verdadeira utopia retrospectiva, se coubesse a expressão contraditória. […]
Consiste em comparar, a todo propósito, as atuais condições de vida com as antigas; as
modernas relações humanas com as do passado. As primeiras, que interessam diretamente
a este trabalho, referem-se principalmente a três tópicos: abundância, solidariedade,
sabedoria” (CANDIDO, 1977, p. 193-194).

Tal conceito pode ser observado em uma rápida conversas com pessoas mais velhas,
sobretudo àquelas que viveram em tempos passados em outros contextos econômicos e
culturais. Temos notado que o saudosismo transfigurador anda bastante presente nas
redes sociais. É recorrente posts que buscam despertar esse sentimento a partir de imagens
de objetos que não mais existem, assim como brincadeiras de criança.
O saudosismo transfigurador é facilmente observado no gênero musical “Moda de viola”.
Desta forma, uma estratégia que pode ser adotada pelo professor de Sociologia [também
de outras Ciências Humanas] é conduzir os alunos a analisarem recortes temporais
“impressos” em “músicas saudosistas” [para um aporte teórico de como usar letras de
músicas em aulas de Sociologia veja AQUI].

Dentre as possibilidades de músicas para serem trabalhado em sala de aula o conceito de


“saudosismo transfigurador” indicamos “Peão”, de Almir Sater, “Pousada de Boiadeiro”,
e “Saudosa Vida de Peão”, estas duas últimas de Tião Carreiro e Pardinho.

A Seguir destacamos o vídeo (com letra) da música Peão:

Referências

CANDIDO, Antonio (1977). Os Parceiros do Rio Bonito: estudo sobre o caipira


paulista e a transformação dos seus meios de vida. São Paulo. Livraria Duas Cidades
Ltda. 1977, 4ª edição.

Como citar este texto:

BODART, Cristiano das Neves. O conceito de “Saudosismo transfigurador” de Antonio


Candido nas letras de músicas. Blog Café com Sociologia. 2016. Disponível em:
<LINKAQUI>. Acessado em: dia, mês, ano.

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