Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Teologia Da Potência
Teologia Da Potência
1
AGAMBEN, Giorgio. On potentiality. In: HAMACHER, Werner; WELBERY, David (ed.).
Potentialities. Tradução de Daniel Heller-Roazen. Stanford: Stanford University Press, 1999, p. 179.
2
ARISTOTELES. Metafísica. v. II, 2 ed. Tradução de Giovanni Reale. Säo Paulo: Ediçoes Loyola, 2005,
p. 397.
3
HELLER-ROAZEN. Daniel. Editor’introduction: To read what was never written. In: HAMACHER,
Werner; WELBERY, David (ed.). Potentialities. Tradução de Daniel Heller-Roazen. Stanford: Stanford
University Press, 1999, p. 14.
4
Bruno GULLI. Op. cit., p. 222. O próprio Agamben dirá que o primeiro caso acima exemplificado não
interessa a Aristóteles. In: On Potentiality. In: HAMACHER, Werner; WELBERY, David (ed.).
Potentialities. Tradução de Daniel Heller-Roazen. Stanford: Stanford University Press, 1999, p. 179.
5
AGAMBEN, Giorgio. On Potentiality. In: HAMACHER, Werner; WELBERY, David (ed.).
Potentialities. Tradução de Daniel Heller-Roazen. Stanford: Stanford University Press, 1999, p. 180
Aristóteles leciona que “Impotência ou impotente é privação contrária a
essa potência. Portanto, para a mesma coisa e segundo a mesma relação toda
potência se contrapõe a uma impotência.” 6Com efeito, Agamben compartilha do
mesmo entendimento e salienta que a compreensão da potencialidade demanda a
conceituação de impotencialidade, ou melhor, a potencialidade de não (adynamia) -, o
que, à primeira vista, poderia parecer a contraparte negativa da potencialidade, mas
que, em sua doutrina, é algo completamente distinto.
Assim, a potencialidade de não em Agamben não é a ausência de
potencialidade, mas aquilo sem a qual a essência da própria potencialidade, na sua
origem, não poderia ser pensada. Poder-se-ia dizer que ela é a outra metade da
história:
“Por isso, para que, digamos, a potência não se esvaneça a cada vez
imediatamente no ato, mas tenha uma consistência própria, é preciso que
ela possa até mesmo não passar ao ato, que seja constitutivamente
potência de não (fazer ou ser)... Ela se mantém em relação com o ato na
forma de suspensão, pode o ato podendo não realizá-lo, pode
soberanamente a própria impotência.” 7
6
ARISTÓTELES. Metafísica. v. II, 2 ed. Tradução de Giovanni Reale. São Paulo: Edições Loyola, 2005,
p.397.
7
AGAMBEN, Giorgio. Homo sacer: o poder soberano e a vida nua I. Tradução de Henrique Burigo. Belo
Horizonte: Editora UFMG, 2002, p. 52.
8
ARISTÓTELES. Metafísica. Op. cit., p. 403.
sentido de que se a visão não fosse uma potencialidade na atualidade da luz, nós nunca
poderíamos experimentar a escuridão, visto que nós temos a potencialidade de não
ver, e, portanto, a possibilidade da privação da potencialidade da visão. E mais
adiante, ele aponta que:
“Other living beings are capable only of their specific potentiality; they
can only do this or that. But human beings are the animals who are
capable of their own impotentiality. The greatness of human potentiality is
measured by the abyss of human impotentiality.” 9
9
AGAMBEN. Giorgio. On potentiality. In: HAMACHER, Werner; WELBERY, David (ed.).
Potentialities. Tradução de Daniel Heller-Roazen. Stanford: Stanford University Press. 1999, p.182.
10
Segundo Eduardo C. B. BITTAR, essa passagem (movimento) em Aristóteles não é meramente
quantitativa (deslocamento), mas qualitativa (alteração), como aumento ou diminuição. In: Curso de
filosofia aristotélica: leitura e interpretação do pensamento aristotélico. Barueri: Manole, 2003, p. 551.
11
ARISTÓTELES. Metafisica. Op. cit., p. 403; ou ".. uma coisa é capaz de produzir determinado efeito
quando a sua passa gem da potencia ao ato nao envolve nenhuma impossibilidade". In: ARISTO'TELES.
Metaffsica. Tradução de Leonel Vallandro. Porto Alegre: Editora Globo, 1969, P. 194 ou “A thing is said
to be potential if, when the act of which it is said to be potential is realized, there will be nothing
impotential”. In: AGAMBEN, Giorgio. On potentiality. In: HAMACHER, Werner: WELBERY, David
(ed.). Potentialities. Tradução de Daniel Heller-Roazen. Stanford: Stanford University Press, 1999, p.183.
sendo ou fazendo, mas como um não não-sendo e um não não-fazendo. Nesta esteira,
“... o potente pode passar ao ato somente no ponto em que depõe a sua potência de
não ser (a sua adynamía)” 12, e a atualidade aparece como uma negação da
impotencialidade ou a negação da negação. 13
A partir desse ponto que Agamben exemplifica a relação entre ato e
potência no processo de criação de uma obra:
“O ato de criação não é, na realidade, segundo a instigante concepção
corrente, um processo que caminha da potência para o ato para nele se
esgotar, mas contém no seu centro um ato de descriação, no qual o que foi
e o que não foi acabam restituídos à sua unidade originária na mente de
Deus, e o que podia não ser e foi se dissipa no que podia ser e não foi”.14
12
AGAMBEN, Giorgio. Homo sacer: o poder soberano e a vida nua I. Tradução de Henrique Burigo.
Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002, p. 53.
13
Catherine MILLS. The philosopby of Agamben. McGill-Queen's University Press, 2008, p. 3.
14
AGAMBEN, Giorgio. Estâncias: a palavra e o fantasma na cultura ocidental. Tradução de Sevino Jose
Assmann. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2007, p. 252.
15
“Since, in addition, the passage from potentiality to actuality can be said to involve not the destruction
of potentiality (as impotentiality) but rather its conservation, the distinction between potentiality and
actuality disappears... Rather than potentiality and actuality being distinct modes of being, then, they
enter a zone of indistinction”. AGAMBEN, Giorgio. Whatever Politics. In: CALARCO, Matthew:
DECAROLI, Steven (ed.). Giorgio Agamben: sovereignty and life. Stanford, California: Stanford
University Press, 2007, p. 76.
could have, which neutralizes itself in determination, is what show forth in
Agamben's interesting interpretation of Aristotle's definition: this could
have is the impotentiality that 'does not lag behind actuality but passes
fully into it as such'... The essential relation between potentiality and the
potentiality not to is not a relation between two elements of an absolute
constitution - it is not an either/or - but rather, it is the open indeterminacy
that precedes the act, that can even neutralize the act.” 16
16
GULLI, Bruno. Op. cit., p. 223.
17
GULLI, Bruno. Op. cit., p. 224.
18
GULLI, Bruno. Op cit., p. 220.
sua própria potencialidade, ou seja, à sua própria não-passagem à atualidade. Isso
significa que o problema da soberania retoma a filosofia jurídico-política à
ontologia19, porquanto “The passage from potentialily to sovereignty is accomplished
through the structure of exception” 20. E essa conceituação de potencialidade que
possibilitará a compreensão da dupla figura da exceção: o potere sovrano e la nuda
vita.21
19
“To understand sovereignty and the sovereign ban, then, it is necessary to think potentiallity without
any relation to actuality. The long-standing distinction between potentiality and actuality must be
abandoned, and instead a potentiality must be conceived as a form of actuality and vice versa”.
EDKTNS, Jenny. Whatever Politics. In: CALARCO, Matthew; DECAROLI, Sieven (ed.). Giorgio
Agamben: sovereignty and life. Stanford, California: Stanford University Press, 2007, p 77.
20
GULLI, Bruno. Op. cit.. p. 225.
21
Segundo JENNY EDK1NS, o banimento soberano e a estrutura da potencialidade são intimamente
relacionadas uma vez que, assim como o banimento soberano se aplica a exceção ao não mais se aplicar,
a potencialidade mantém-se em relação com a atualidade por meio de sua habilidade de não ser. Op. cit.,
p. 76.