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UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS MISSÕES

PRÓ-REITORIA DE ENSINO, PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO


CÂMPUS DE ERECHIM
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
CURSO DE DIREITO

LUÍS ANTÔNIO TOMAZELLI

AS MISÉRIAS DO PROCESSO PENAL: Uma análise do clássico de Francesco


Carnelutti

ERECHIM
2019
LUÍS ANTÔNIO TOMAZELLI

AS MISÉRIAS DO PROCESSO PENAL: Uma análise do clássico de Francesco


Carnelutti

Trabalho da disciplina de Direito Penal,


Curso de Direito, Departamento de
Ciências Sociais Aplicadas da
Universidade Regional Integrada do Alto
Uruguai e das Missões – Campus de
Erechim.

Prof. Walter Kaminski

ERECHIM
2019
Na obra “As Misérias do Processo Penal”, Francesco Carnelutti, o autor, se
debruça sobre os problemas mais iminentes do sistema jurídico penal de sua época,
que ainda assolam os tribunais hoje em dia. A leitura desse livro evidencia a lucidez
com que o autor busca fazer esses apontamentos, tendo em vista o contexto
temporal em que ele está inserido (década de 1950).
Ele busca exibir, no primeiro capítulo, a simbologia por trás da vestimenta
usada pelos operadores do direito (juízes, advogados e procuradores) em certas
solenidades: trata-se de uma maneira de, ao mesmo tempo, separá-los das outras
pessoas e uni-los entre si, como classe. Assim, ele determina como, mesmo em
lados opostos do tribunal, tanto juiz como advogados e procuradores buscam um
mesmo fim: alcançar a justiça por meio do processo. Dessa forma se demonstra a
importância do devido processo legal como um meio de garantir uma pena tão justa
como a natureza humana imperfeita permita.
A partir desse ponto, ele mostra o contraste com a representação do réu no
tribunal. Ele se apresenta como um ser encolhido, enjaulado perante a corte. Essa
situação muitas vezes pode criar no júri uma propensão pela condenação. À figura
do preso, então, se sobrepões a do advogado, que deve socorrer-lo usando de suas
capacidades jurídicas. Aqui vê-se um engano comum: o papel do advogado no
processo penal é de garantir que, através do devido processo legal, seu cliente seja
julgado de maneira justa e tenha a oportunidade de manifestar a sua versão dos
fatos. Mais do que isso, é juntar-se ao seu cliente quando todos o repudiam:

Digamos com clareza: a experiência do advogado está sob o símbolo da


humilhação. É certo que vista a toga; colabora, desde já, na administração
da justiça; mas o seu lugar é embaixo, e não no alto. Ele divide com o
acusado a necessidade de pedir e de ser julgado. Ele está sujeito ao juiz,
como está o acusado.1

Da mesma forma, nos capítulos seguintes, Carnelutti debate o papel de cada


personagem presente no processo penal. Em sua análise, me chama muito a
atenção a forma como o autor descreve a figura do juiz como alguém acima das
partes, mesmo limitado pela mesma condição humana: “O fato de ser o juiz um

1
CARNELUTTI, 2013, p. 17
homem, e do dever ser mais que um homem, constitui seu drama.”2 Por isso, na
minha opinião, a maior miséria do processo penal é o limite da condição humana,
que torna inalcançável uma justiça perfeita. Esse problema torna-se muito perigoso
em um sistema jurídico que permita penas mais severas, como a morte.
Assim, a atuação dos personagens do processo penal devem ser limitadas
pela transparência e legalidade para que seja possível buscar uma atuação justa.
Para tanto, é necessário também que acusador e defensor sejam parciais, tentando
trazer à luz sua verdade para que o juiz, imparcial, possa decidir pela mais justa, não
só pelas evidências materiais como pela mentalidade do acusado, algo que pode
mudar completamente a gravidade de uma conduta e é extremamente difícil de
determinar.
Ao final do processo, é proclamada uma sentença. Muitas vezes, mesmo na
ausência de provas materiais, a própria imagem do acusado no tribunal, algemado e
diminuído, acaba levando a uma sentença condenatória, que muda a vida de uma
pessoa para sempre. Entretanto, mesmo após o cumprimento da pena, o acusado
ainda é perseguido pelo processo penal. Isso acontece porque perante a sociedade
ele sempre será visto pelo selo do ex-presidiário e, por isso, nunca mais conseguirá
superar a pena.
Quando reflete sobre o caráter funcional da pena, o autor adentra numa
discussão que poderia se estender para sempre e, portanto, merece uma análise
mais detalhada em vista de um contexto concreto. Na minha opinião, a função
preventiva da pena é alcançada apenas em um contexto social e econômico
favorável, dentro de núcleos sociais menores e em uma pena de caráter prolongado
no tempo. Quanto à retributiva, acredito essa ser impossível.
Para Francesco Carnelutti, o processo penal é muito mais que um fenômeno
jurídico, é um fenômeno social, composto por seres humanos que têm suas vidas
transformadas por ele. Assim, enquanto não se enxergar as pessoas por trás do
processo penal, haverá miséria nele.

2
CARNELUTTI, 2013, p. 19
BIBLIOGRAFIA

Carnelutti, Francesco. ​As Misérias Do Processo Penal.​ Campinas: Russel, 2013

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