Marpa Lotsawa era como qualquer outro homem, tinha
filhos, esposa e um trabalho. Mas, assim como muitos nos dias de hoje, ele era alguém que levava a sério sua espiritualidade, mas, precisou aprender a conciliar o dharma de Buda, assuntos seculares e a família. A simplicidade com que procurava realizar tudo deixou um grande exemplo para todas as famílias e praticantes.
Ele era um ngakpa, um homem que se dedica a realmente
praticar o Dharma de forma séria, enquanto se desincumbia em sua vida normal. Não era um monge, mas, um Yogi dedicado, tornando- se, ao longo do tempo, o fundador da conhecida Linhagem Kagyu no Budismo Tibetano.
Uma de suas práticas do Dharma mais notáveis foi a
tradução de diversos sutras e textos indianos para a linguagem tibetana, proporcionando a muitos a possibilidade de serem instruídos e a desenvolverem uma visão clara de si e dos preceitos budistas, conforme indicado por Buda como a primeira prática do Nobre Caminho Óctuplo, a “visão correta”. E, por isso, Marpa se tornou conhecido como, O Tradutor. Suas traduções ainda hoje beneficiam a muitos e são usados em mosteiros e sanghas para estudar os caminhos de Buda.
Como em quase todos os casos, Marpa nem sempre foi esse
homem espiritual preocupado em beneficiar seus muitos alunos e família. Segundo sabemos, ele era de origem próspera, e na adolescência teve temperamento violento. Tanto foi assim que seus pais tentaram ajuda-lo com vários professores sem êxito algum. Até que, sendo enviado para realizar estudos também na Índia, conheceu aquele que seria seu grande Mestre, Naropa.
Naropa era um siddha, alguém que havia se desenvolvido
em seu caminho espiritual, o que nesse caso envolvia várias realizações, incluindo a prática das chamadas Seis Yogas, ou, posteriormente conhecidos como os Seis Yogas de Naropa que conduzem o praticante ao Supremo Conhecimento, a mais profunda realização. Além disso, era professor (pandit) na Universidade de Nalanda, um importante centro de estudos budistas.
Nesse mesmo período em que estudou com Naropa, Marpa
também recebeu transmissões sobre Mahamudra com Maitripa, aprendeu línguas locais, favorecendo-o como futuro tradutor.
Foi assim que Marpa, semelhante a muitos jovens em
nossos dias, conheceu a si mesmo e se desenvolveu através de um caminho espiritual. E, embora essa afirmação possa parecer simples, ele precisou dedicar tempo a prática séria e percebeu a necessidade de entender a maneira como enxergava o mundo. Aprendeu a “visão correta” que o conduziu a aplicação dos outros sete caminhos nobres ensinados por Buda.
Mesmo assim, a vida de Marpa foi cheia de altos e baixos,
incluindo situações que seriam consideradas tristes, como quando seu mestre Naropa sumiu na floresta, ou, dos sete filhos que teve e criou, apenas um ter se desenvolvido no mesmo caminho espiritual.