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Capítulo 1

Marpa Lotsawa era como qualquer outro homem, tinha


filhos, esposa e um trabalho. Mas, assim como muitos nos dias de
hoje, ele era alguém que levava a sério sua espiritualidade, mas,
precisou aprender a conciliar o dharma de Buda, assuntos seculares
e a família. A simplicidade com que procurava realizar tudo deixou
um grande exemplo para todas as famílias e praticantes.

Ele era um ngakpa, um homem que se dedica a realmente


praticar o Dharma de forma séria, enquanto se desincumbia em sua
vida normal. Não era um monge, mas, um Yogi dedicado, tornando-
se, ao longo do tempo, o fundador da conhecida Linhagem Kagyu no
Budismo Tibetano.

Uma de suas práticas do Dharma mais notáveis foi a


tradução de diversos sutras e textos indianos para a linguagem
tibetana, proporcionando a muitos a possibilidade de serem
instruídos e a desenvolverem uma visão clara de si e dos preceitos
budistas, conforme indicado por Buda como a primeira prática do
Nobre Caminho Óctuplo, a “visão correta”. E, por isso, Marpa se
tornou conhecido como, O Tradutor. Suas traduções ainda hoje
beneficiam a muitos e são usados em mosteiros e sanghas para
estudar os caminhos de Buda.

Como em quase todos os casos, Marpa nem sempre foi esse


homem espiritual preocupado em beneficiar seus muitos alunos e
família. Segundo sabemos, ele era de origem próspera, e na
adolescência teve temperamento violento. Tanto foi assim que seus
pais tentaram ajuda-lo com vários professores sem êxito algum. Até
que, sendo enviado para realizar estudos também na Índia,
conheceu aquele que seria seu grande Mestre, Naropa.

Naropa era um siddha, alguém que havia se desenvolvido


em seu caminho espiritual, o que nesse caso envolvia várias
realizações, incluindo a prática das chamadas Seis Yogas, ou,
posteriormente conhecidos como os Seis Yogas de Naropa que
conduzem o praticante ao Supremo Conhecimento, a mais profunda
realização. Além disso, era professor (pandit) na Universidade de
Nalanda, um importante centro de estudos budistas.

Nesse mesmo período em que estudou com Naropa, Marpa


também recebeu transmissões sobre Mahamudra com Maitripa,
aprendeu línguas locais, favorecendo-o como futuro tradutor.

Foi assim que Marpa, semelhante a muitos jovens em


nossos dias, conheceu a si mesmo e se desenvolveu através de um
caminho espiritual. E, embora essa afirmação possa parecer simples,
ele precisou dedicar tempo a prática séria e percebeu a necessidade
de entender a maneira como enxergava o mundo. Aprendeu a
“visão correta” que o conduziu a aplicação dos outros sete caminhos
nobres ensinados por Buda.

Mesmo assim, a vida de Marpa foi cheia de altos e baixos,


incluindo situações que seriam consideradas tristes, como quando
seu mestre Naropa sumiu na floresta, ou, dos sete filhos que teve e
criou, apenas um ter se desenvolvido no mesmo caminho espiritual.

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