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Medida e Integração - Segunda Prova

Prof. Pedro Levit Kaufmann


Est. Alberto Enrique Rodriguez Castilla
16 de Junho de 2019
1. Seja X um conjunto e M uma σ-álgebra sobre X com infinitos
elementos. Mostre que M não é enumerável. Siga o seguinte
roteiro: mostre que X é um conjunto infinito. Suponha que M é
enumerável e obtenha uma contradição seguindo os passos:
a. Mostre que o conjunto Sx := ∩{A ∈ M|x ∈ A} é um elemento
de M para cada x ∈ X;
Seja x ∈ X. Como M é enumerável, o conjunto {A ∈ M|x ∈ A} é
enumerável, logo Sx := ∩{A ∈ M|x ∈ A} é a interseção de uma famı́lia
enumerável de conjuntos de M e como M é uma σ-álgebra temos que
Sx ∈ M para cada x ∈ X.
b. Mostre que, embora a função x 7→ Sx não seja necessariamente
injetora, ela nos fornece uma partição P de X;
A função x 7→ Sx não é necessariamente injetora, pois podem existir
x, y ∈ X tal que Sx = Sy , mas ela nos fornece uma partição P de X.
Seja P = {Sx : x ∈ X}, então:
• Para cada x ∈ X, Sx ⊆ X e Sx 6= ∅. De fato, pelo ponto a. para
cada x ∈ X temos Sx ∈ M ⊆ ℘(X) logo Sx ⊆ X, e Sx 6= ∅, pois
x ∈ Sx .
• Para cada x, y ∈ X tal que Sx 6= Sy , temos que Sx ∩ Sy = ∅. De fato,
suponha x, y ∈ X com Sx 6= Sy e Sx ∩ Sy 6= ∅, então x ∈ Sx ∩ Sy ou
x ∈ Sx ∩ (Sx ∩ Sy )c .
Se x ∈ Sx ∩ Sy , como Sx ∩ Sy ∈ M e x ∈ (Sx ∩ Sy ) ⊆ Sx , temos que
Sx = Sx ∩ Sy . Agora y ∈ Sy ∩ Sx ou y ∈ Sy ∩ (Sx ∩ Sy )c .

Se y ∈ Sy ∩ Sx , como Sy ∩ Sx ∈ M e y ∈ (Sy ∩ Sx ) ⊆ Sy , temos que


Sy = Sy ∩ Sx = Sx , o qual é uma contradição. E se y ∈ Sy ∩ (Sx ∩ Sy )c
como Sy ∩ (Sx ∩ Sy )c ∈ M e Sy ∩ (Sx ∩ Sy )c ⊆ Sy , temos que Sy =
Sy ∩ (Sx ∩ Sy )c , de donde Sy ∩ Sx = ∅, o qual é uma contradição.
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Por outro lado se x ∈ Sx ∩ (Sx ∩ Sy )c como Sx ∩ (Sx ∩ Sy )c ∈ M e


x ∈ (Sx ∩ (Sx ∩ Sy )c ) ⊆ Sx , temos que Sx = Sx ∩ (Sx ∩ Sy )c . Agora
y ∈ Sy ∩ Sx ou y ∈ Sy ∩ (Sx ∩ Sy )c .

Se y ∈ Sy ∩ Sx , como Sy ∩ Sx ∈ M e y ∈ (Sy ∩ Sx ) ⊆ Sy , temos que


Sy = Sy ∩ Sx de donde Sy ∩ Sx = ∅, o qual é uma contradição. E se
y ∈ Sy ∩ (Sx ∩ Sy )c como Sy ∩ (Sx ∩ Sy )c ∈ M e Sy ∩ (Sx ∩ Sy )c ⊆ Sy ,
temos que Sy = Sy ∩ (Sx ∩ Sy )c , de donde Sy ∩ Sx = ∅, o qual é uma
contradição.
Por tanto Sx ∩ Sy = ∅.
[
• Sx = X. De fato, para cada x ∈ X temos x ∈ Sx ∈ M ⊆ ℘(X),
x∈X [
logo x ∈ Sx .
x∈X
Portanto, P = {Sx : x ∈ X} nos fornece uma partição de X.
c. Mostre que cada A ∈ M pode ser escrito como união dos Sx
tais que x ∈ A; [
Seja x ∈ A ⊆ X, então x ∈ Sx , de donde x ∈ Sx . Agora seja
[ x∈A
[
x∈ Sx , então x ∈ Sx com x ∈ A. Por tanto A = Sx .
x∈A x∈A
d. Mostre que P é infinito: se fosse finito, terı́amos M finito, uma
contradição;
Suponha que P = {Sx : x ∈ X} é uma partição finita de X, então como
cada A ∈ M pode ser escrito como união dos {Sx : x ∈ A}, temos que
M tem uma quantidade finita de elementos, o qual é uma contradição
pois M é uma σ-álgebra sobre X com infinitos elementos.
e. Use P para obter uma famı́lia não enumerável de conjuntos
mensuráveis.
Pelo ponto d. temos que P = {Sx : x ∈ X} é uma partição infinita de
X, portanto X é um conjunto infinito.
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2. Considere N com a topologia discreta.


a. Descreva Cc (N), e explique como são seus funcionais lineares.
Dentre estes, quais são os funcionais lineares positivos?
Seja N com a topologia discreta, então K ⊆ N é compacto, se e somente
se K é finito, se e somente se, existe n ∈ N tal que K ⊆ {1, · · · , n}.
Logo,
Cc (N) = {f : N → C : f é continua e supp(f ) é compacto}
Cc (N) = {f : N → C : f é continua e supp(f ) ⊆ {1, · · · , n} para algum
n ∈ N},
onde para cada f : N → C, supp(f ) = {n ∈ N : f (n) 6= 0}. Logo o
conjunto Cc (N) é o conjunto de sequências (xm )m∈N em C tais que
{m ∈ N : xm 6= 0} ⊆ {1, · · · , n},
para algum n ∈ N. Definamos gi : N → C para cada i ∈ N, dada por

 0 se j 6= i
gi (j) = δij =
1 se j = i

Então, como supp(gi ) = {i} para cada i ∈ N, temos que gi ∈ Cc (N)


para cada i ∈ N, e como para cada f ∈ Cc (N) existe n ∈ N tais que
supp(f ) ⊆ {1, · · · , n}, temos que f (m) = f (1)g1 (m) + · · · + f (n)gn (m)
para cada m ∈ N. Além disso,

X
f (m) = f (i)gi (m)
i=1
para cada m ∈ N, pois se supp(f ) ⊆ {1, · · · , n}, temos que f (n+k) = 0,
para cada k ∈ N. Tomando αi = f (i), para cada i ∈ N, temos que cada
f ∈ Cc (N) poder ser escrito da forma:

X
f= αi gi
i=1
Por definição, os funcionais lineares em Cc (N) são todos os Λ tais que
• Λ(f + g) = Λ(f ) + Λ(g) para cada f, g ∈ Cc (N),
• Λ(αf ) = αΛ(f ) para todo f ∈ Cc (N) e todo α escalar.
Por tanto se Λ é um funcional linear em Cc (N), para cada f ∈ Cc (N),
com supp(f ) ⊆ {1, · · · , n} para algum n ∈ N, temos que
X n
Λ(f ) = αi Λ(gi )
i=1
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Agora, note que gi só toma valores 0 ou 1 para cada i ∈ N, por tanto se
f ∈ Cc (N) é tal que f (N) ⊆ [0, ∞], se e somente se αi = f (i) ≥ 0 para
cada i ∈ N. Logo Λ é um funcional linear positivo em Cc (N) se
Xn
Λ(f ) = λi f (i) ∈ [0, ∞),
i=1
para toda função f ∈ Cc (N) com supp(f ) ⊆ {1, · · · , n} para algum
n ∈ N, tais que f (i) ∈ [0, ∞) para cada i ∈ N, onde λi = Λ(gi ). Em
particular, se λi ≥ 0 para cada i ∈ {1, · · · , n} então Λ é um funcional
linear positivo em Cc (N).
b. Dado um funcional linear positivo Λ em Cc (N), exiba uma σ-
álgebra M em N e uma medida positiva µ no espaço mensurável
(N, M) de forma que, para cada f ∈ Cc (N),
Z
Λf = f dµ.
N
Justifique suas afirmações.
Como N com a topologia discreta é um espaço localmente compacto
Hausdorff, então pelo Teorema da representação de Riez temos que se
Λ é um funcional linear positivo em Cc (N), então exite uma σ-álgebra
M em N que contem todos os conjuntos de Borel em N, e existe uma
medida positiva µ em M tais que
Z
Λ(f ) = f dµ
N
para cada f ∈ Cc (N). Agora, seja Λ um funcional linear positivo em
Cc (N), então para toda função f ∈ Cc (N) com supp(f ) ⊆ {1, · · · , n}
para algum n ∈ N, tais que αi = f (i) ∈ [0, ∞) para cada i ∈ N
Xn
Λ(f ) = λi f (i) ∈ [0, ∞),
i=1
n
X
onde λi = Λ(gi ). Tomando M = ℘(N) e µ = λi δi temos que:
n=1
Z Z "X
n
# n 
X Z  Xn
f dµ = αi gi dµ = αi gi dµ = [αi Λ(gi )]
N N i=1 i=1 N i=1
n
X
= λi f (i) = Λ(f )
i=1

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