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Embora o carisma seja pensado como algo que foge das teorias
behavioristas e corresponde mais a uma forma de energia inerente ao indivíduo, o
fato de termos a ascensão de líderes carismáticos como algo característico de
momentos de crise e declínio dos sistemas racionais nos diz algo sobre a
efetividade de assimilação do carisma pelas populações; os líderes carismáticos
não surgem com a crise, mas é nela que normalmente são reconhecidos e elevados
- há, portanto, um ingrediente de circunstancialidade a ser levado em conta.
Ao longo do início de sua trajetória no Acre, Marina foi muito bem sucedida
em engajar a população ao contar sua história e se apresentar como uma
provocadora de mudanças no sistema coronelista instaurado no estado. Era vista
como uma representante dos trabalhadores, sendo co-fundadora da CUT no Acre e
combatendo privilégios de vereadores durante sua vereança, e como uma ativa
militante dos povos da mata, apoiadora dos camponeses que lutavam contra o
desmatamento da Amazônia por parte de latifundiários. Seu carisma era
provavelmente assimilado pela população junto a um fator de representatividade,
por um sentimento de identificação que informava que Marina seria a voz do povo
nas cúpulas de grandes decisões. Seu afastamento do Acre, entretanto, prejudicou
esse sentimento; em uma reportagem do El País nas eleições de 2014, a professora
Maria da Costa Silva, que lecionou na mesma escola que Marina (quando a
candidata lecionava história), afirmou: “Eu gosto muito da Marina, mas não vou
votar nela. A Marina mudou muito, quando ela era senadora ela era ótima, mas
agora ela fala difícil”.
Marina também é vista como uma candidata “em cima do muro”, alguém com
opiniões pouco consistentes e que, por isso, fica presa entre polarizações sem
conseguir agradar nenhum dos lados, sendo um exemplo desse tipo de
posicionamento a questão religiosa: é adepta da igreja pentecostal e, embora tenha
tido grande apoio do eleitorado evangélico em 2014, tentou adotar uma postura
mais neutra nas eleições de 2018 - propondo um plebiscito à legalização do aborto,
celebrando o Estado Laico e defendendo o direito ao casamento homoafetivo. Isso
gerou enorme repúdio da comunidade evangélica - sendo ela chamada de “traidora”
por Marco Feliciano - e, ainda sim, suas declarações não foram consistentes o
suficiente para atrair o voto do eleitorado de esquerda. Marina tentou demonstrar
firmeza e assertividade e fortes opiniões ao confrontar Jair Bolsonaro no debate
eleitoral da RedeTV quanto à diferença salarial entre homens e mulheres, buscando
atrair o voto feminino.
LEVANTAMENTO BIBLIOGRÁFICO
HOLANDA, Marianna; BRAMATTI, Daniel. Marina Silva perde o apoio que teve de
evangélicos em 2014. Estadão. Disponível em:
https://politica.estadao.com.br/noticias/eleicoes,marina-perde-o-apoio-que-teve-de-
evangelicos-em-2014,70002474614. Acesso em 24/10/2018.
ROSSI, Marina. Porque Marina Silva é rejeitada no Acre, seu berço político?.
Pragmatismo Político. Disponível em:
https://www.pragmatismopolitico.com.br/2014/09/por-que-marina-e-rejeitada-acre-
seu-berco-politico.html . Acesso em 24/10/2018