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Coletânea de textos em estudos olímpicos, v.

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Turini, M. & DaCosta, L. Rio de Janeiro: Editora Gama Filho, 2002.

Uma perspectiva histórica


sobre os Jogos Olímpicos:
da pré-história dos Jogos a
Barão de Coubertin e o
ideal olímpico
Prof. André Luiz de Britto TTeles
eles Codea
Mestrando em Ciência da Motricidade Humana pela Universidade
Castelo Branco – RJ e Professor Auxiliar da Universidade Estácio de

Profa. Janaina de Souza Marinho TTeles
eles Codea
Mestranda em Ciëncia da Motricidade Humana pela Universidade
Castelo Branco – RJ, Professora Auxiliar da Universidade Estácio de
Sá e Psicóloga da Confederação Brasileira de Remo
Prof. Dr
Dr.. Heron Beresford
Doutor em Filosofia pela Universidade Gama Filho,
Professor Titular do Programa de Mestrado em Ciência da
Motricidade Humana pela Universidade Castelo Branco – RJ,
Professor Adjunto da Universidade do Estado do Rio de Janeiro

1 - Introdução

O objetivo deste artigo foi o de apresentar uma perspectiva


histórica sobre a origem dos Jogos Olímpicos, tanto na época anti-
ga quanto na moderna e da importância do Ideal Olímpico no con-
texto dos Jogos Olímpicos contemporâneos.
Toda a história dos Jogos Olímpicos pode ser esboçada em três
épocas históricas distintas: uma época pré-histórica, que remonta
às origens do povo grego e ao surgimento das cidades-estado; uma

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época na antiguidade grega, na qual foram instituídos os Jogos


Olímpicos; e a época moderna/contemporânea, na qual os Jogos
Olímpicos foram reeditados e ampliados. Far-se-á neste texto uma
breve exposição dessas épocas, buscando nos recursos históricos os
elementos que se julga sejam mais importantes para o contexto
desta exposição.

2 - A época pré-histórica

Para o perfeito entendimento dos fatos que culminaram nos


Jogos Olímpicos, faz-se necessária uma retrospectiva histórica à
época que antecedeu a oficialmente aceita data de 776 a.C. como
a data de criação dos Jogos Antigos. Assim, podem-se listar os
seguintes contextos, no que se pode chamar de “a época pré-histó-
rica” (HMCAOG, 2002):

• Desde o século VIII a.C. faziam-se atividades físicas competitivas


na Grécia Antiga. Vários achados arqueológicos sobre o antigo
Egito e a Mesopotâmia trazem indícios da existência de ativida-
des atléticas, por volta de 3000 a.C. até 1800 a.C.;
• Os minoanos cretenses, presentes no mar Aegeano (entre a Grécia
e a Turquia), relatam desde o século XVI a.C., em evidências
iconográficas, a existência de atividades atléticas, especialmen-
te ligadas às atividades religiosas, como espetáculos sagrados ou
ritos de iniciação;
• No período Grego Meceno (entre 1600 e 1100 a.C.), Jogos Atlé-
ticos fazem parte da cultura da região como componente funda-
mental das atividades religiosas e ritos de fertilidade, bem como
de atividades funerárias;
• O período Homérico, de 8 séculos a.C., relatados nos poemas de
Homero, a Ilíada e a Odisséia, revelam, pela primeira vez de
forma escrita, os Jogos Atléticos como forma de reverência fune-
rária, além de outros fins.

Pode-se inferir, a partir destes relatos históricos, que as ativida-


des físicas atléticas, seja com fins de atividade religiosa, ritos de

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iniciação ou fertilidade, ou mesmo com fins funerários, eram uma


constante no mundo Grego antigo. Em outras palavras, a Grécia
Antiga era culturalmente afeta às atividades atléticas.
O surgimento das cidades-estado gregas, as polis — povoamen-
tos gregos fortemente defendidos, com uma fortaleza ao centro de
seu território —, por volta do século VIII a.C. foi particularmente
importante para a consolidação do atletismo como a atividade por
excelência para a manutenção do bem-estar corporal e para o al-
cance da meta do ideal grego de excelência, chamado de arete arete.
Este ideal grego estava associado à força e à graça, à honra e à
disciplina que davam ao homem a fama e as benesses obtidas com
a vitória que decorria de seu esforço próprio e de sua força de
vontade.
Neste momento, se faz presente o caráter pan-helênico, que
conseguia “[...] unir periodicamente cidadãos afastados entre si
não só pela distância mas pelas mais profundas divergências de
ordem social, política e histórica” (GIORDANI, 2001, p. 259). Uma
das cidades que se destaca neste contexto é a cidade de Olímpia,
na Grécia Continental.

Olímpia

A cidade de Olímpia surgiu em um belo vale situado na região


de Élis, a oeste do Peloponeso, entre o monte Kronos e a confluên-
cia de dois rios da região: Alpheios e Kladios (HAO, 2002), aparen-
temente tendo sido colonizada por volta do 3° milênio a.C.. Inicial-
mente tido como um local sagrado dedicado a Geia (Terra), esposa
do Deus Ourano (Céu), foi, de acordo com uma série de mitos
locais, definitivamente associado a Zeus, o Rei dos Deuses Gregos
(HAO, 2002; TOGAHW, 2002; OLYMPIA, 2002).
Um desses mitos diz que Olímpia foi um Santuário associado a
Zeus, devido a este ter vencido Kronos, um dos filhos de Ourano e
Geia (assim como foi Zeus), depois que Kronos depôs seu pai para
reinar como o soberano máximo dos Deuses.
Em outra história mítica, Hércules (um dos cinco irmãos de Creta,
os Kouretes), ao chegar com seus irmãos a Olímpia, instituiu corri-
das entre estes e presenteou aos vencedores uma coroa de ramos

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de oliveira selvagem, árvore bastante presente na região. Hércules


então teria chamado estes jogos de Olímpicos, e que deveriam ser
disputados a cada cinco anos (por serem cinco irmãos, incluindo-o).
Outra história diz que Zeus lutou com Kronos em Olímpia, vencen-
do-o, e estabeleceu assim os Jogos Olímpicos em homenagem a
sua vitória.
Uma história interessante citada em alguns textos consulta-
dos diz respeito ao mito de Pélope, que deu o nome a Peloponeso
(“ilha de Pélope”). Pélope era um príncipe da Lydia, região na
Ásia menor, que pediu a mão de Hippodamia, filha do rei
Onomaos, de Pisa, cidade vizinha a Olímpia. Este rei havia insti-
tuído que aquele que quisesse a filha como mulher teria que
vencê-lo em uma corrida de charretes, tendo como conseqüên-
cia de sua derrota a morte (ele havia sido avisado pelo oráculo
de Delfos que quando sua filha casasse, ele perderia a vida). Ao
contrário dos doze pretendentes anteriores, que foram mortos
ao perder, Pélope fez uma armadilha na carroça de Onomaos,
fazendo esta quebrar e ocasionando a morte do Rei. Assim,
Pélope proclamou-se marido de Hippodamia, e instituiu os Jo-
gos Olímpicos para celebrar sua vitória. Em outra versão desta
história, os Jogos teriam sido instituídos como parte do funeral
de Onomaos.
Mais uma versão mítica faz constar que Hércules, ao realizar
seu quinto (ou sexto) trabalho, propôs limpar os estábulos do rei
Augeas, de Elis, que tinham péssimo cheiro por conta do esterco
que o cobria, produzido por seu rebanho. Augeas concordou, e
Hércules desviou o fluxo de água dos rios Alpheios e Kladios para
realizar seu trabalho. Augeas, no entanto, não cumpriu sua parte
no trato (o pagamento de Hércules com um décimo de seu reba-
nho), e este, ao retornar de seus trabalhos, iniciou uma guerra
contra Augeas, saqueando Elis e, ao proclamar sua vitória, dedi-
cou-a a Zeus, seu pai.
Não obstante as histórias míticas e sua importância na tradição
da cultura grega e de toda a cultura ocidental, uma linha de pensa-
mento busca atribuir aos achados arqueológicos a factual história
de Olímpia e dos Jogos Olímpicos. Sugere-se que Olímpia era um
local de cultos da elite de Poliponeso, por volta do século X a.C.,
em uma sociedade que primava pela vida agropastoril. No século
VIII a.C., o local foi expandido para abranger um número maior de

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cidades-estado gregas. O povo que originalmente colonizou Olímpia


parece ter sido o Mecena, mas Olímpia ficou inabitada várias vezes
no decurso histórico. De qualquer forma, parece evidente que du-
rante a ocupação mecena o lugar tinha conotação religiosa, parti-
cularmente (mas não unicamente) voltado para o culto de Zeus.

3 - A época antiga

Como já mencionado anteriormente, a época que é referida


como a dos primeiros Jogos Olímpicos da era antiga é o ano de 776
a.C., e o local — Olímpia — era o principal centro de manifesta-
ções religiosas e atléticas da época. Tendo como centro o Templo
de Zeus, sobre o Monte Olimpo (mitologicamente o monte de
morada dos Deuses), numerosas construções e estádios faziam par-
te do centro religioso.
As Olimpíadas ou Jogos Olímpicos eram os mais importan-
tes, porém não os únicos jogos praticados pelos gregos, chama-
dos de festivais pan-helênicos. Os Jogos Píticos, realizados no
santuário de Apolo em Delfos, comemoravam a vitória de Apolo
sobre a serpente Pitão, sendo realizados de quatro em quatro
anos e, além da celebração atlética, tinham uma profunda
conotação artística, em que faziam parte dos jogos a música,
liras, flautas e performances dramáticas. Seus vencedores ga-
nhavam uma coroa de louros. Os Jogos Ístmicos tinham lugar
no santuário de Poseidon, em Isthmia, em homenagem ao herói
Melikertes, substituído por Posídon (GIORDANI, op. cit., p. 259).
Controlados pelos Corintos, estes jogos incluíam os jogos atléti-
cos e competições dramáticas e musicais. Seus vencedores ga-
nhavam uma coroa de pinheiro, e o último colocado, uma coroa
de aipo selvagem. Os Jogos Nemeus tinham lugar no santuário
de Zeus, em Neméia, e eram realizados em homenagem a
hércules. Controlada inicialmente pela cidade-estado de Kleonai,
posteriormente passou a ser controlada por Argos. Os vencedo-
res ganhavam uma coroa de aipo selvagem. Os Jogos Ístmicos
e Nemeus tinham periodicidade de 2 anos. A tabela 1, apresen-
tada a seguir, mostra a relação temporal entre os Jogos.

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Relação temporal entre os Jogos


Ano Festival
568 aC Jogos Olímpicos
567 aC Jogos Ístmicos e Nemeus*
566 aC Jogos Pítios
565 aC Jogos Ístmicos e Nemeus*
564 aC Jogos Olímpicos
Os Jogos Olímpicos

Os Jogos Olímpicos eram os que possuíam a maior popularida-


de e atraiam Gregos de todas as partes. Estes Jogos tinham perio-
dicidade de 4 anos, e eram controlados pela cidade-estado de Elis,
distante 5 quilômetros de Olímpia, atualmente chamada de
Amaliada. Seus vencedores recebiam uma coroa de oliveiras, uma
grande honra extensível a sua família e cidade, que simbolizava
para si vários ganhos materiais, como alimentação para toda sua
vida e de seus familiares, isenção de impostos, dinheiro, posições
de liderança em sua comunidade, ganhos estes que variavam de
uma cidade para outra. Além disso, o vencedor era imortalizado
em canções e estátuas eram feitas em sua homenagem.
Somente podiam participar dos Jogos Olímpicos gregos não-
escravos, do sexo masculino — às mulheres restava os Jogos
Heranos, em homenagem a Hera, mulher de Zeus, jogos estes
que tinham importância simbólica menor em relação aos pratica-
dos pelos homens — e em pleno gozo de seus direitos de cidadão,
ou seja, que não tivessem cometido assassinato ou heresia.
Apesar de os Jogos Olímpicos terem seu início oficial em 776
a.C., várias fontes arqueológicas relatam seu aparecimento por volta
do século 10 a 12 a.C.. De qualquer forma, neste momento, ou seja,
na 1ª Olimpíada da era antiga, somente havia uma prova disputada:
a corrida de 192,25 metros, vencida pelo primeiro atleta (do gr. anti-
go athlos, uma prova, disputa) (ASPAOG, 2002) registrado, o primei-
ro campeão olímpico, o cozinheiro Coroebus de Elis.
Os jogos aconteciam no verão grego, no mês “metagitnion”, o
equivalente ao período do calendário atual da segunda quinzena
de agosto à primeira quinzena de setembro (DEZOTTI e OLIVEI-
RA, 2000). Em outra versão, HMCAOC (2002), revela que o perío-
do correspondia à metade do atual mês de julho, aproximadamen-

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te entre os dias 11 e 16, sendo que GIORDANI (op. cit., p. 259)


ressalta o período entre o fim de julho e o início de setembro. A
partir de 776 a.C., ficou estipulado que os Jogos teriam periodicida-
de quadrienal, período este chamado a partir de então de Olimpí-
ada. Os Jogos duraram aproximadamente 12 séculos, até 393
d.C., quando foram abolidos pelo Imperador Bizantino Cristão
Teodoro I, por considerá-lo um jogo pagão.
Durante o período de sua duração, várias modalidades foram
incorporadas aos Jogos, conforme o que mostra a tabela 2, apre-
sentada a seguir.

Tabela 2 – modalidades olímpicas antigas, incorporadas


durante a existência dos Jogos
Olimpíada Data Modalidade
1ª 776 aC Stadion (corrida de percurso único, 192,25 m)
14ª 724 aC Diaulos (corrida de percurso duplo, 400 m)
15ª 720 aC Dolichos (corrida de percurso longo, 2000 m)
18ª 708 aC Pentathlo (disco, dardo, salto, corrida e Luta Livre)
23ª 688 aC Boxe
25ª 680 aC Tethrippon (corrida de charretes com quatro cavalos)
33ª 648 aC Corrida de cavalos e Pankration (Boxe e Luta Livre)
37ª 632 aC Corrida a pé e luta livre para jovens
38ª 628 aC Pentathlo para jovens
41ª 616 aC Boxe para jovens
65ª 520 aC Corrida com armadura
70ª 500 aC Apene (corrida em carroça de mulas)
93ª 408 aC Corrida de charretes com dois cavalos
96ª 396 aC Competições para anunciadores e trombeteiros
99ª 384 aC Corridas de charretes com quatro cavalos de um ano
128ª 268 aC Corridas de charretes com dois cavalos de um ano
131ª 256 aC Corridas de cavalos com um ano de idade
145ª 200 aC Pankration para jovens

Mais do que apenas uma festividade, os Jogos Olímpicos ti-


nham uma enorme importância política, por vários fatores. Primei-
ro, porque o período dos Jogos representava um momento de tré-
gua nas constantes guerras entre as cidades-estado gregas, trégua
esta que foi instituída pela cidade de Elis para evitar incursões ini-
migas durante o período dos Jogos, e cuja quebra significava puni-
ções várias para quem o fizesse. Era considerado um sacrilégio pe-
netrar com armas na Élida. Segundo, porque era uma ocasião impar

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para os comandos das cidades-estado se reunirem e formarem alian-


ças políticas e militares, comemorarem vitórias e discutissem ques-
tões políticas. Terceiro, porque existiam interesses em controlar os
Jogos Olímpicos, especialmente pelas cidades de Elis e Pisa, distante
apenas 5 quilômetros de Olímpia. Este controle dava vantagens eco-
nômicas, prestígio e enorme influência política à cidade que o con-
trolava. E quarto, porque as Olimpíadas auxiliaram enormemente à
formação de uma identidade nacional grega, especialmente após o
início do período de dominação romana.
Apesar do ideal grego de excelência e honra, o já menciona-
do arete
arete, existiam aqueles que tentavam burlar ou trapacear para
ganhar. Para estes, além de sua eliminação das competições, o
que constituía uma grande desonra, era reservada uma recorda-
ção amarga: estátuas de bronze com a efígie de Zeus eram cu-
nhadas, nelas eram postos os nomes dos Farsantes, e eram colo-
cadas na estrada que levava ao Estádio. Todos os atletas que por
ali passavam, viam os nomes, juntamente com mensagens lem-
brando sobre o espírito olímpico, e que suas vitórias deveriam
ocorrer por suas habilidades somente.
No século 2 d.C., os romanos passaram a participar dos Jogos,
por conta da expansão de seu império, dando assim o primeiro
caráter internacional aos Jogos Olímpicos, caráter este somente
resgatado por ocasião da reedição dos Jogos Olímpicos, na era
moderna.

4 - A época moderna/contemporânea

Com o restabelecimento da Grécia como Estado no séc. XIX


d.C., procurou-se resgatar os Jogos Olímpicos, e sua principal ten-
tativa foi realizada pelos Jogos Olímpicos Zappianos, idealizada pelo
milionário grego Evangelos Zappas, que propôs os Jogos ao gover-
no Grego.
Aceita a idéia, foi organizado em Atenas os Jogos Olímpicos de
1859, muito na base do improviso, sem muitos atletas, mas com a
participação de muitos trabalhadores, todos cidadãos gregos, como
nos Jogos Antigos. Em 1870, foi reeditado com maior profissionalismo
e sucesso, fazendo muito sucesso. Em 1875, houve a terceira edição

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dos Jogos e, finalmente, em 1889, a quarta e última edição, dando


lugar ao que, posteriormente, viriam a ser os considerados Jogos
Olímpicos da era moderna, com participação internacional.

Coubertin e os Jogos Olímpicos Modernos

O pensador e educador Francês, Charles Freddye Pierre, posteri-


ormente chamado de Barão de Coubertin, juntamente com o Grego
Dimitrios Vikelas foram os responsáveis pelo ressurgimento dos Jogos
Olímpicos em nível internacional (HMCAOC, 2002). De Dimitrios surgiu
a proposta de reedição dos Jogos Olímpicos perante a Associação
Atlética presente na Conferência Internacional Atlética realizada em
Sorbonne, na França, tendo sido aceita unanimemente pelos dele-
gados (79, de 13 países). O precursor do atual Comitê Olímpico In-
ternacional foi então criado, em junho de 1894, por Coubertin, com
o apoio do norte-americano William Sloane e inglês Charles Herbert,
e na presença de representantes de 15 países. Vikelas foi nomeado
presidente do Comitê Olímpico Internacional, sendo Coubertin o se-
cretário geral. Após as Olimpíadas, Coubertin passou a ser seu presi-
dente até sua morte, 29 anos depois. Até hoje, este organismo con-
trola todo o mundo olímpico.
A famosa frase de Coubertin, “o importante não é vencer, mas
competir”, que era por ele repetida constantemente, teve sua ori-
gem em um bispo norte-americano, do qual Coubertin escutara a
frase. De qualquer forma, o lema olímpico tinha direta relação
com a missão de Coubertin, que havia sido incumbido pelo gover-
no Francês da época de comandar uma reforma no ensino. Neste
sentido, ele “[...] vislumbrou o globo como um grande pátio de
colégio, com as ‘classes-países’ se reunindo regularmente para medir
forças e habilidades. A idéia surgiu depois que ele conheceu o tra-
balho do educador inglês Thomas Arnold, que defendia a prática
sistemática de esportes como forma de melhorar o rendimento es-
colar e estimular o espírito de equipe entre crianças e adolescen-
tes” (NOVA ESCOLA, 2000).
Outros objetivos de Coubertin ao reativar os Jogos Olímpicos
em nível internacional eram o de fazer com que o esporte não se
degradasse e até “morresse” em função do forte rumo comercial

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que o mesmo estava tomando; e, além disso, ele estava fascinado


com a trégua grega das guerras feitas durante os Jogos Antigos, e
queria aplicar este princípio com o objetivo de tentar impedir novas
guerras, especialmente na Europa. Sua inspiração tinham sido as
recém-descobertas ruínas de Olímpia, cuja escavação foi iniciada
pelo alemão J. J. Wincklemann, em 1870, e concluída por
arqueologistas britânicos em 1875 (ISTOÉ OLIMPÍADAS, 2002).
De acordo com Coubertin, para fugir desta tendência que colo-
cava os interesses de lucro financeiro acima da bravura e da honra
pela vitória, se tornava necessário “[…] criar competições em inter-
valos periódicos regulares que representasse todos os países e to-
dos os esportes que pudessem ser convidados sob a égide da mes-
ma autoridade, o qual fosse transmitir a todos a auréola do esplen-
dor e glória, que é o patrocínio da antiguidade clássica. Fazer isto
seria reviver os Jogos Olímpicos: o nome se impõe a si mesmo:
Não seria possível mesmo achar outro” (EDGATE, 2002). Por outro
lado, Coubertin estava interessado em utilizar os esportes como
meio de promoção de saúde e valores para a juventude, e celebrar
a competição de talentos individuais.
Tanto assim é, que a mais famosa citação olímpica, “a crença
olímpica”, de autoria de Coubertin, é sempre relembrada a cada
Olimpíada: “A coisa mais importante nos Jogos Olímpicos não é
vencer mas fazer parte, assim como a coisa mais importante na
vida não é o triunfo, mas o esforço. A coisa essencial não é ter
conquistado, mas ter disputado bem” (EDGATE, 2002).
A idéia de Coubertin, em 1894, era realizar os I Jogos Olímpicos
da Era Moderna em Paris, em 1900. Porém, devido ao entusiasmo
demonstrado pelo príncipe Constantino da Grécia, com a anuência
do rei George I da Grécia, e com o “patrocínio” do milionário gre-
go Georgius Averoff, indicado por Vikelas (já que o recém-criado
estado grego estava em crise financeira), as Olimpíadas foram rea-
lizadas em 1896, na Grécia.
Assim, foi realizado em no estádio Panatenaico, em Athenas,
Grécia (figura 4), a 1ª Olimpíada da Era Moderna, em 6 de abril de
1896, que teve a participação de 311 (algumas fontes citam 285
ou 293) atletas de 13 países competindo em 43 eventos, em nove
diferentes modalidades: atletismo, ciclismo, luta, esgrima (única
que admitia profissionais na época), ginástica, halterofilismo (le-
vantamento de peso), natação, tiro e tênis — o remo não foi dispu-

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tado por falta de condições climáticas (DEUTSCHE WELLE BRASIL,


2000; JORNAL DO BRASIL ON-LINE, 2002).

5 – Conclusão

A história dos Jogos Olímpicos, que se confunde com a história


do povo grego — cuja linguagem e ideologia estão profundamente
entranhados na linguagem e ideologia dos povos ocidentais, inclu-
indo por conseqüência o Brasil —, inobstante estar marcada pela
mitologia, e também por isto mesmo, trouxe importantes contribui-
ções para o esporte de uma forma geral, especialmente pela con-
tribuição de Coubertin e todos aqueles que o auxiliaram.
É público e notório que o ideal olímpico de Coubertin nunca
chegou a ser aplicado na prática (o que traduz uma certa obviedade,
já que é um ideal e, portanto, nunca pode ser alcançado). A não-
realização das Olimpíadas durante a primeira e segunda guerras
mundiais, a recusa do ditador alemão Adolf Hitler em reconhecer
as vitórias do corredor negro norte-americano Jesse Owens, a não-
participação de União Soviética e Estados Unidos nas Olimpíadas
realizadas no país adversário durante a guerra fria, a intensa
comercialização do evento com a conseqüente mercantilização de
tudo o que o envolve, a intensa utilização de doping por atletas,
entre outros fatores, corroboram esse pensamento.
No entanto, todo esse ideal olímpico, essencialmente traduzido
pela crença olímpica, anteriormente citada, pode e deve ser passa-
do como princípio educativo no âmbito esportivo escolar, auxilian-
do a formação de uma cultura para a paz, bem como de uma
ideologia menos voltada para o “vencer a qualquer custo e a qual-
quer preço”, que induz à formação de um caráter nas crianças e
jovens de que somente pela competição agressiva — e não pela
composição de forças, ou seja, pela cooperação mútua — se pode
obter conquistas, seja no campo do esporte, seja na vida. É imperi-
oso que o ideal grego de excelência e força — o arete — seja
relativizado às necessidades contemporâneas, e aplicado na vida
do homem, de modo a conduzir sua moral e sua conduta para o
bem comum da humanidade.

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