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O PAPEL DA ARQUITETURA NAS ENTIDADES DE ACOLHIMENTO

INFANTOJUVENIS: UM ESTUDO SOBRE A EVOLUÇÃO HISTÓRICA E


ARQUITETÔNICA DAS ENTIDADES DE ACOLHIMENTO ÀS CRIANÇAS E
ADOLESCENTES NO BRASIL

1. INTRODUÇÃO

Existem no mundo, aproximadamente, 150 milhões de crianças em situação de rua,


quantitativo que aumenta se somado aos adolescentes, que vivem em tal situação.
No Brasil são mais de 23.9731 crianças e adolescentes, sendo que de acordo com o
Conselho Nacional de Justiça (2017) são acolhidas 47.000. Essas crianças,
enxergam a rua como a única opção para escapar de situações vulneráveis vividas,
tais como falta de recursos financeiros, violência, exploração, abusos sexuais, dentro
outros; sendo que para os meninos e meninas brasileiros que estão na rua os maiores
motivos são brigas familiares e violência doméstica. Mas, é nas ruas que, estão
sujeitos a uma maior probabilidade de serem explorados sexualmente (Gazeta do
Povo, 2011; ONUBR, 2015).

O perfil dos acolhidos está diretamente ligado à sua classe social, a pobreza está
presente como fator que fortifica os vetores dos motivos de acolhimento institucional.
Entre os principais motivos de colhimento, de crianças e adolescentes, “a carência de
recursos materiais da família” lidera o percentual, representando 24,1%, seguido por
18,8% – abandono, 11,6% – violência doméstica, 11,3% – dependência química dos
responsáveis, 7% – vivência de rua, 5,2% – órfãos, 3,5% – prisão dos responsáveis e
3,3% – abuso sexual (IPEA/CONANDA, 2004). Através de tais dados, é possível
perceber que o contexto socioeconômico das crianças acolhidas é no geral de baixa
renda, que, por conseguinte, a maioria das crianças e da família, possuem ausência
de instrução e/ou estudo, o que facilita na não garantia dos direitos fundamentais à
criança e ao adolescente.

Tais dados, relatados, justificam a importância do papel que as entidades de


acolhimento infantil – medida de proteção intitulada pelo Estatuto da Criança e do
adolescente (ECA) – exercem, pois são alternativas de programas contra a

1 Censo (2010) citado pela revista Gazeta do Povo (2011)


1
vulnerabilidade, sendo refúgio para esses, dando-lhes oportunidade, em muitos
casos, de possuírem uma família substituta. A arquitetura tem um papel valoroso
nessas entidades, pode promover o acolhimento através da humanização dos
espaços, possui um poder de aproximação do dueto lugar e pessoa, identificação do
usuário com o espaço em que habita, podendo ou não colaborar com a recuperação
física e mental dos acolhidos. Todavia, nem sempre existiu preocupações sobre a
estrutura física destes lugares, e mesmo hoje havendo orientações, e leis que de
alguma maneira, de forma direta ou indireta, garantem o direito que esses meninos e
meninas sejam recebidos em ambientes adequados, nem sempre a realidade condiz
com o descrito.

Há relatos sobre essa preocupação, de onde abrigar, crianças “desvalidas”2, a datar


do período Brasil Colônia, quando teve-se registro da Roda dos Expostos/Enjeitados
– cultura advinda de Portugal –, por iniciativa da igreja católica, a qual se tratava de
um artefato na forma da metade de um cilindro, em maioria de madeira, medindo
aproximadamente 50cm, que a pessoas às escondidas colocava a criança, girava-o
para dentro da entidade, e tocava o sino avisando que uma criança havia sido deixada.
A roda perpetuou por mais de dois séculos, e eram instaladas nas Santa Casa de
Misericódia (MARCILIO, 1997). A primeira roda foi instalada em 1726, na cidade de
Salvador3, na Santa Casa de Misericórdia – sendo que as posteriores também foram
instaladas nessas – a qual já existia desde 1549, nesse ambiente que havia sido
criado com o intuito de atender enfermos, muitas crianças viram sua infância passar,
sendo este o primeiro relato de ambiente dedicado a receber os “enjeitados” 1. Esta
pesquisa vem com o intuito de entender e aprofundar em como eram as características
físicas desse espaço, e de todos os outros que foram surgindo ao longo do tempo,
propondo analisá-los conjuntamente com as leis, pesquisando em quais condições
viviam e vivem esses meninos e meninas e de que forma a arquitetura contribui para
a formação psicológica, recuperação física e emocional.

Incessantemente, com o tempo, a necessidade de espaços destinados a abrigar


esses menores que por algum motivo possuem seus pais ausentes em suas vidas,
fora ganhando força em leis, que determinavam mudanças físicas, e psicológicas,

2
Termo utilizado antigamente para denominar crianças/adolescentes, que estavam desamparados, desprotegidos,
que não possuíam responsáveis, que passavam por necessidades, órfãs, abandonadas ou que por algum motivo
tinham sido afastadas de seus pais. Bem como é sinônimo, desse, os termos: expostos e enjeitados.
3 Como se pode ver em Marcilio, 1997.

2
todavia a aplicação destas na prática não é simples. Esta pesquisa tem o intuito de
averiguar se os espaços físicos de cada período condiziam com a lei, e de que forma
esse espaço, inadequado ou satisfatório, afeta a formação dos acolhidos como ser
humano.

Orfanato, abrigo e acolhimento institucional4, essas foram as nomenclaturas utilizadas


ao decorrer do tempo para as entidades de amparo ao menor abandonado, com
guarda destituída dos pais ou em caso de risco e vulnerabilidade. Os orfanatos eram
marcados pelas “práticas asilares”, que trata-se da institucionalizações autoritárias,
onde o abrigo não é tratado em um contexto sociofamiliar – incluindo o ambiente físico
e o tratamento recebido –, existindo a falta de preocupação e diálogo com o usuário,
não sendo estes tratados com o atendimento individual ao qual, atualmente, possuem
o direito, além de referir-se num todo a práticas e ambientes considerados
desatualizados, injustos ou desumanos, nos dias atuais. Gomes (2006), procurou
explicar conceitos do “modo asilar”, o qual, teoricamente, foi imposto fim com a
promulgação do ECA:
O indivíduo não é convocado a participar, ele não é sujeito da situação [...]Não
há, por exemplo, interprofissionalidade integradora, o que existe é a
fragmentação das tarefas e, o mais grave, do próprio sujeito. No modo asilar
as relações institucionais são verticais, nas quais o poder emana de cima
para baixo [...]A premissa de que poucos mandam e muitos obedecem mostra
as raízes autoritárias [...]O poder da interdição, a falta de espaço para o
diálogo lembram exatamente o que foi mais combatido pelos fundadores da
sociedade contemporânea [...]é espaço de clausura dos usuários e da
população, não se permite o livre trânsito de todos (GOMES, 2006).

A trajetória de leis que de alguma forma afetam a proteção da criança e do


adolescente é extensa, chegando a mais de um século, principalmente no período que
antecede a constituição de 1988, como podemos ver – no “Quadro I” – em Perez e
Passone (2010), todavia a pesquisa usará como referência somente as leis/decretos
que interferem de forma direta nas instituições de acolhimento infantil. Sendo assim,
apenas em 1927 tem-se veridicamente uma lei voltada a esses menores, o Primeiro
Código de Menores5, nesse são impostas, segundo o mesmo, “medidas de assistência
e proteção” aos menores de 18 anos de idade e coloca a criança como objeto do
estado. Com esse, é criado os orfanatos, assim intitulados a partir da promulgação do
código, as rodas deixariam de existir6 e caso a mãe não desejasse o filho teria de

4 Como se pode ver no capitulo 2, artigo 90, da lei 8069 de 1990.


5 Decreto nº 17.943-A, de 12 de outubro de 1927.
6 Todavia a Roda dos Expostos continuou a existir por mais 23 anos.

3
registrar o recém-nascido7, e em seguida entregar a um orfanato. Tal código é de
grande importância para a presente pesquisa, pois é o primeiro que possui um capítulo
destinado a estipular como deveria ser o ambiente das instituições destinadas a
receber as crianças e adolescentes abandonadas/órfãs. A estrutura física dos
orfanatos fora rotulada como grandes pavilhões, com corredores compridos, que
poderiam abrigar até 200 internos ou 300 internas. A forma organizacional dessas
instituições impossibilitava que o usuário se sentisse acolhido, que se assimilasse à
instituição ou a identificasse como seu lar.

Em 1941, no governo de Getúlio Vargas, através do decreto nº 3.799 de 1941, é


instaurado o Serviço de Assistência ao Menor – SAM – todavia longe do padrão físico
e com o tratamento idealizado por aqueles que lutavam a favor da infância. O almejado
nível de alcance nacional do serviço foi um fracasso, como podemos ver em Galheigo
(1996) citado por Galheigo (2003): “O SAM, criado depois de 20 ano de debate,
tornou-se a primeira intervenção do Estado dirigida à criança pobre. [...] funcionou
mais a nível local do que nacional, não podendo verdadeiramente ser reconhecido
como foro de política nacional.”. Em 1954 o SAM possuía 300 instituições, porém
irregulares, não possuíam vínculo com o serviço, além disso esse deveria ter a
finalidade de acolher os menores que não possuíam responsáveis, seja pela ausência
ou pela guarda destituída, todavia muitos pais que possuíam uma situação financeira
satisfatória pagavam, ou faziam ameaças, à autoridades para que internassem seus
filhos nos educandários, e não apenas desvalidos e “falsos desvalidos”, também eram
abrigados menores infratores, todos em um mesmo ambiente (Rizzini e Rizzini, 2004).
O SAM ficou conhecido como um formador de “marginais” devido a falta de distinção
em abrigamento, muitos meninos entravam por motivos como o abandono e saiam
bandidos, sendo assim, é na criação do SAM que se inicia um período de mistifório
no abrigamento de crianças que se tornaria pior com a concepção da Fundação
Estadual para o Bem estar do Menor (FEBEM).

Os anos seguintes é configurado pela derrubada de Jânio Goulart da presidência do


Brasil através do golpe de estado, iniciando-se o período conhecido como ditadura
militar (1964 – 1985), o qual segundo Silva (2012) foi um cárcere com caráter de

7 Em 1890 foi criado o Código Penal da República, que torna crime não fazer o registro de crianças dentro do
primeiro mês de vida.
4
correções e repreensão. Em dezembro de 1964 surgi a FUNABEM8, a qual adveio do
Conselho Nacional do Bem-Estar do Menor criado antes do golpe de 64, com incentivo
da igreja católica, em busca de alternativas para a extinção do SAM, pois eram muitas
as denúncias de maus tratos e da precariedade em que estes meninos e meninas
viviam. A fundação tinha como princípio a implantação da PNMB 9, a qual visava pôr
fim aos métodos coercivos, todavia, na prática a repressão continuou presente no
cotidiano das instituições. As FEBEM’s herdaram os antigos prédios do SAM, o que
se percebe é que mais uma vez a preocupação com a arquitetura dessas instituições
fora esquecida.

No livro A Queda Para o Alto (Herzer, 1982), Sandra Herzer, a qual viveu três anos
dentro de uma sob o poder de “proteção do estado”, passando pela FEBEM, relatou
como eram essas fundações e o que se passavam nessas, no livro podemos concluir
que a entidade ao invés de promover acolhimento transmitia a mesma sensação de
que estivessem nas ruas, sem ter alguém para dar apoio ou um lugar em que
vivessem com segurança e acolhimento. Herzer descreve o lugar em que
permaneciam como um pequeno quarto – o qual se identificava fisicamente mais com
uma cela – em cimento queimado, contendo apenas quatro bancos, mau ventilado,
com superlotação, sem distinção de idade para o abrigamento, eram colocados no
mesmo quarto recém nascidos, meninas órfãs, menores infratores, ou que por algum
motivo os pais haviam perdido a guarda, Herzer descreve a FEBEM como “um
encontro direto com a marginalização”. Das FEBEM’s os menores eram
encaminhados à alguma “unidade educacional”10, onde suas esperanças de encontrar
um ambiente receptivo morreriam, nos quartos haviam cerca de vinte beliches, e para
que coubessem todos ainda havia espalhados colchões no chão dos quartos e do
refeitório. Além das péssimas condições de infraestrutura, essas crianças e
adolescentes sofriam maus tratos, – mesmos os que não eram menores infratores –
viviam como em uma prisão, sem sua liberdade, nessas instituições só havia um tipo
de tratamento: repreensivo, abusivo e autoritário.

8 Fundação do Bem-Estar do Menor.


9 Política Nacional do Bem-Estar do Menor.
10 Herzer, 1982.

5
Surge, em 1979, o Segundo Código de Menores11 que reforça ainda mais a ideia do
menor como controle e sob poder do estado12, e que agora estavam também sob o
poder das instituições voltadas aos meninos e meninas pobres, as crianças e
adolescentes em “situação irregular”13. Com o novo código, o estado pode julgar se
os responsáveis são ou não capazes de educar seus filhos, a má conduta se enquadra
em “situação irregular” autorizando os juízes a internar essas crianças e adolescentes,
o que contribuiu para o aumento de internações e para o mistifório de abrigamento
nestas instituições.

Os anos que antecedem a queda da ditadura militar, a década de 70, foram anos de
questionamento sobre a situação infanto-juvenil no Brasil. Resultado de tais
indagações, nasceram ONG’s e movimentos como a Pastoral do Menor – movimento
católico contrário aos ideais do código de 79, defendendo a ideia de acolher o menor
–, e o Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua (MNMMR). Em consonância
com Souza (2013), o MNMMR se manifestou por iniciativa privada e ganhou forças ao
ponto de participar da elaboração da Constituição de 1988, onde se tem um artigo
destinado a proteção de crianças e adolescentes14, o qual garantia direitos ligados a
arquitetura como lazer, edificação adequada aos deficientes, garantia que foi
reforçada pela Emenda Constitucional nº 65 de 2010:
Criação de programas de prevenção e atendimento especializado para as
pessoas portadoras de deficiência física, sensorial ou mental, bem como de
integração social do adolescente e do jovem portador de deficiência,
mediante o treinamento para o trabalho e a convivência, e a facilitação do
acesso aos bens e serviços coletivos, com a eliminação de obstáculos
arquitetônicos e de todas as formas de discriminação (BRASIL, 2010).

Em seguida, no ano de 1990, o Estatuto da Criança e do Adolescente aparece como


grande conquista à população infanto-juvenil brasileira, as crianças e o adolescentes
passam pela primeira vez a serem sujeitos de direito. O estatuto tem como finalidade
a exclusão das antigas práticas, consideradas desrespeitosas, os quais são
garantidos através da forma com que devem serem tratados, e das diversos
concessões aos quais são garantidos como: o de liberdade, de opinião própria, de
participar da vida comunitária – o que antes não ocorria pois ficavam cercados por

11
Lei 6.697.
12 Ideia que já era defendida pelo Código de Menores de 1927.
13 Segundo Código de Menores (1979).
14 Artigo 227, da constituição de 1988.

6
altos muros –, ter sua própria crença, dentre muitos outros. Os direitos também são
garantidos, indiretamente, através da arquitetura, por exemplo quando se adota o
princípio que os abrigos devem ter “atendimento personalizado e em pequenos
grupos”15, o que interfere no tamanho dos ambientes e na forma organizacional, para
que cada abrigado se identifique com o espaço e sinta a entidade como seu lar.
Cabem aqui as seguintes indagações: Será mesmo de fato que as práticas asilares
tiveram fim com a promulgação do ECA? Ou nos dias atuais encontramos resquícios
de práticas asilares nos ambientes das instituições? As entidades de acolhimento em
atual funcionamento seguem as orientações técnicas, ou possuem ambientes que não
proporcionam um acolhimento adequado? O que mudou, na prática, em relação a
situação em que esses menores viviam?

As Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes


(2009) e a Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais (2009), foram
resultados obtidos a partir de respostas para as formas de se acabar com a
institucionalização, a começar pela arquitetura. A tipificação divide os serviços
socioassistenciais em três grupos de acordo com sua complexidade, onde o “serviço
de acolhimento” é classificado como “Serviço de Proteção Social Especial – Alta
Complexidade”, além de estabelecer pequenas diretrizes, como a que o ambiente
deve ser acolhedor, dentre outras relativas a sua inserção ao entorno e a participação
do usuária na comunidade, também determina que as entidades do tipo “Casa Lar
Pública” podem receber até 10 meninos e/ou meninas e as do tipo “Abrigo Institucional
Público” até 20. As Orientações Técnicas não impões regras, mas aconselha medidas
em relação ao espaço, independente da classificação jurídica das entidades, para que
possa assemelhar-se cada vez mais com um lar. Nas orientações podemos encontrar
uma lista de ambientes mínimos para a entidade, como a quantidade máxima de
pessoas por quarto e por instituição, a localização em zona residencial e a de sua
fachada ser semelhante com as demais residências do entorno. Outro ponto
importante recomendado é o de inclusão das crianças com deficiência, fazendo com
que as entidades tenham estrutura para receber os meninos e meninas especiais.

Com o intuito de aprimorar a questão da criança em lares substitutos e reforçar a


desconstrução do atendimento não individualizado e das práticas consideradas

15 Artigo 92, do Estatuto da Criança e do Adolescente (1990).


7
asilares e institucionalizadas, nos abrigos, surge a Lei da Adoção16. A lei também
estipula um tempo máximo de permanência nas entidades, que seria de dois anos,
mas o fato é que na realidade essas crianças e adolescentes costumam
permanecerem por muitos mais anos.

O direito das crianças e adolescentes em situação de abrigo estão diretamente ligados


a arquiteturas destes, implicando em mudanças, não apenas comportamentais, mas
também, físicas dos edifícios. A partir dessa consideração, a pesquisa propõe estudar,
e demonstrar como eram, os espaços dessas instituições ao longo do tempo, em
paralelo aos documentos políticos e jurídicos, visando responder a problemática de
como a arquitetura destes espaços pode influenciar na formação e na recuperação
física e mental desses meninos e meninas, que vivem ou viveram em medida de
proteção de abrigo.

Desta forma, a proposta desse projeto de mestrado se vincula à linha de pesquisa


História e Teoria da Arquitetura por objetivar estudar uma cronologia histórica das leis
que se referem às crianças e adolescentes em medida de acolhimento, em interface
com uma revisão arquitetônica, comprovando se de fato as entidades acompanharam
as leis ou se a arquitetura fora sendo deixada em segundo plano, muitas vezes por
falta de verbas. A pesquisa propõe avaliar como eram os espaços em cada período
de mudança, correlacionando-os com as leis e avaliando a influência da arquitetura
dos abrigos sob os acolhidos.

2. JUSTIFICATIVA

Diante dos parcos estudos sobre a arquitetura nas entidades de acolhimento


infantil, em “regime de abrigo”17, a pesquisa tem a intenção de promover o
conhecimento do processo histórico das instituições enquanto ambiente, de como
eram/são esses espaços, como essas crianças e adolescentes viviam em cada época
e vivem nos dias atuais, se as entidades acompanharam na prática as evoluções
descritas nos documentos, propondo solucionar a questão de que forma a arquitetura
nestes lugares pode interferir e colaborar na formação pessoal e no restabelecimento
dos acolhidos. Com isso, a pesquisa irá colaborar com o avanço do estudo sobre os

16 Lei 12.010, de 3 de agosto de 2009.


17 Estatuto da Criança e do adolescente (1990).
8
direitos das crianças e adolescentes em medida de abrigo, acerca da interface da
evolução histórica com a arquitetura dessas entidades.

3. REFERENCIAL TEÓRICO

Devido à falta de material relativo à arquitetura das entidades de acolhimento infantil,


a pesquisa utilizará muitos referenciais teóricos de áreas ligadas a história, estudos
sociais e psicologia. Um desses é a historiadora Maria Luiza Marcilio, professora
aposentada da USP, a qual possui dezenas de livros e centenas de artigos publicados,
com a maioria ligados aos direitos das crianças e, especificamente, possui um livro
dedicado à criança abandonada. Suas publicações podem colaborar para o
entendimento histórico das instituições, principalmente no período do abrigamento nas
Santa Casa.

Irma Rizzini é formada em psicologia social, pela Universidade Federal do Rio de


Janeiro e professora nesta instituição, é autora de um importante livro juntamente com
Irene Rizzini, para a dissertação – A institucionalização de crianças no Brasil:
percursos históricos e desafios no presente – o qual retrata de forma critica o
abrigamento desses meninos e meninas desde a roda dos expostos até os primeiros
anos pós ECA. Irene Rizzini é formada em psicologia, pela Universidade Santa Úrsula,
sendo atualmente professora da Pontifica Universidade Católica do Rio de Janeiro e
diretora do Centro Internacional de Estudos e Pesquisas sobre a Infância, sendo uma
pesquisadora de relevância internacional na área da infância. Irene Rizzini será o
principal referencial para o contexto histórico, pesquisadora possui um grandioso
acervo crítico com artigos, livros e pesquisas sobre direitos infantojuvenis, menores
em situação de risco/vulnerabilidade, e sobre as entidades de acolhimento.

O livro Crianças, Espaços, Relações: Como Projetar Ambientes para a Educação


Infantil será utilizado como referencia de analise dos espaços. O livro é de autoria de
Giulio Ceppi, arquiteto e designer, funcionário da Domus Academy, e de Michele Zini,
arquiteto e designer, professor do Instituto Politecnico de Milão. O livro possui como
foco os espaços destinados a educação de crianças de 0 a 3 anos, na forma com que
a composição do ambiente como um todo pode influenciar na aprendizagem da

9
criança. O que pode ser relacionado a vivencia das crianças nos espaços das
entidades.

Os autores citados acima são algumas bibliografias importantes que irão constar na
pesquisa enquanto referencial teórico. Serão utilizados também outros autores
através de uma busca aprofundada de teses, dissertações e artigos da atualidade
visando a complementação e estruturação do trabalho

4. OBJETIVOS

4.1 GERAL

Analisar o processo de transformação dos espaços das entidades de


acolhimento infantil, no Brasil, estabelecendo um vínculo entre a história e a
arquitetura desses abrigos, relativizando as leis com a realidade.

3.2 ESPECÍFICOS

a) Levantar bibliografia que busque compreender os espaços das entidades de


acolhimento às crianças e adolescentes, nos diversos períodos.

b) Reunir os documentos jurídicos e políticos que influenciam as entidades de


acolhimento infantil, ou os direitos do público alvo.

c) Juntar um acervo teórico de bibliografias, fotografias, depoimentos, e qualquer outro


material encontrado ou produzido, por própria autoria, que possam demonstrar como
eram/é os espaços e a vivência nessas instituições.

d) Relacionar os a trajetória histórica – reunida através do acervo teórico e das leis –


dessas entidades com a arquitetura.

e) Introduzir o estudo da trajetória da arquitetura dessas instituições brasileiras em


panorama nacional.

f) Colaborar com a construção de um banco de dados, que ajude a compreender como


era/é a arquitetura dos abrigos, correlacionado às leis, através da elaboração de
desenhos, gráficos, entrevistas e fotografias.

10
g) Estabelecer as problemáticas geradas pelo “modo asilar”, presente na arquitetura
e no tratamento, no âmbito de “medida de proteção” do acolhimento infanto-juvenil.

h) Entender como a arquitetura pode influenciar na melhora psicológica e corpórea,


na inserção dos acolhidos na comunidade e na inclusão desses meninos e meninas
na sociedade.

5. METODOLOGIA

A hipótese que guiará essa pesquisa, é a de estabelecer uma relação direta


entre a arquitetura e a manutenção do bem-estar e dos direitos, dessas crianças e
adolescentes, associando com o passado para compreender de que forma a
arquitetura colaborou para o “modo asilar” das institucionalizações do acolhimento
infantil brasileiro. Tendo, portanto, como objeto de estudo as instituições do tipo “Casa
Lar” e “Abrigos Institucionais”, o público alvo dessas e os documentos judiciais e
governamentais.

Em um primeiro momento a pesquisa será dedicada a questão histórica, por


meio de levantamento de fotografia, estudo das leis, revisão bibliográfica de livros,
revistas, artigos, jornais e revistas, que possam conter dados sobre as mudanças nas
entidades, de como eram a estrutura física, garantia de direitos destes menores ou de
como viviam.

Após essa investigação, do passado histórico, será realizado um estudo de


revisão arquitetônica através das fotografias já levantadas, pesquisa em meios
eletrônicos, levantamento de informações através de questionários realizado com
pessoas que passaram pelas instituições do passado, produção de croquis e visita às
entidades de relevância e de representatividade para o resgate histórico e
arquitetônico, podendo nessas visitas serem produzidos desenhos, fotos e entrevistas
de relevância à pesquisa.

De maneira crítica-analítica será desenvolvido um diagnóstico, relacionando as etapas


histórica e arquitetônica, correlacionando-as ao bem-estar dos acolhidos,
respondendo de que forma a arquitetura afetou e afeta no desenvolvimento e na
recuperação dessas crianças e adolescentes, propondo sugestões para a melhoria
desses espaços.
11
Com essa metodologia será possível a apresentação da pesquisa em seminários
regionais e nacionais, assim como, a elaboração de um banco de dados para subsidiar
pesquisas posteriores no assunto.

6. CRONOGRAMA
2019 2020

ETAPAS mar abr mai jun ago set out nov mar abr mai jun jul ago set out nov

Preparação preliminar da
dissertação
Levantamento
bibliográfico
histórico
Levantamento e estudo
dos
documentos jurídicos e
políticos
Revisão bibliográfica
Elaboração de roteiro para
questionário com "ex
acolhidos"
Realização de
questionários
com "ex acolhidos"
Comparação de
documentos jurídicos com
a realidade dessa
arquitetura no passado
Revisão arquitetônica -
pesquisa em meio
eletrônico
Elaboração de roteiros
para entrevistas e
questionários
Pesquisa de campo -
visita a entidades
Entrevistas com acolhidos
Produção de croquis
Revisão crítica da atual
arquitetura das entidades
com correlacionada às leis
Revisão arquitetônica -
como os espaços
influenciavam e
influenciam no
desenvolvimento e
recuperação dos
acolhidos

12
Elaboração de sugestões
para melhoria dessas
entidades
Redação da dissertação
Revisão da dissertação
Preparação final da
dissertação
Defesa

7. REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição (1988). Constituição de República Federativa do Brasil. Brasília,
DF: Planalto, 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>.
Acessado em: 28 de agosto de 2018.

BRASIL. Constituição 1988. Emenda Constitucional nº 65, de 13 de julho de 2010.


Altera a denominação do Capítulo VII do Título VIII da Constituição Federal e modifica
o seu art. 227, para cuidar dos interesses da juventude. In: Constituição da República
Federativa do Brasil. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc65.htm#art2>.
Acessado em: 28 de agosto de 2018.

BRASIL. Decreto n. 17.943-A, de 12 de outubro de 1927. Consolida as leis de


assistência e proteção a menores. Rio de Janeiro: Planalto, 1927. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1910-1929/D17943Aimpressao.htm >.
Acessado em: 13 de março de 2017.

BRASIL. Decreto n. 847, de 11 de outubro de 1890. Promulga o Código Penal.


Brasil: Sala da Sessões do Governo Provisório, 1890. Disponível em:
<http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1824-1899/decreto-847-11-outubro-
1890-503086-publicacaooriginal-1-pe.html>.

BRASIL. Decreto n. 3.799, de 5 de novembro de 1941. Transforma o Instituto Sete


de Setembro, em Serviço de Assistência a Menores e dá outras providências. Rio de
Janeiro: 20º da Independência e 53º da República, 1941. Disponível em:
<http://www2.camara.leg.br/legin/fed/declei/1940-1949/decreto-lei-3799-5-novembro-
1941-413971-publicacaooriginal-1-pe.html>.

BRASIL. Lei n. 6.697, de 10 de outubro de 1979. Institui o Código de Menores.


Brasília: Planalto, 1979. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1970-1979/L6697impressao.htm>. Acessado
em: 06 de abril de 2017.

BRASIL. Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o estatuto da Criança e


do Adolescente e dá outras providencias. Brasília: Planalto, 1990. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069.htm>. Acessado em: 05 de abril de
2017.

13
BRASIL. Lei n. 12.010, de 13 de julho de 2009. Dispõe sobre adoção; altera as Leis
nos 8.069, de 13 de julho de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente, 8.560, de
29 de dezembro de 1992; revoga dispositivos da Lei n o 10.406, de 10 de janeiro de
2002 - Código Civil, e da Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, aprovada pelo
Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943; e dá outras providências. Brasília:
Planalto, 2009. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
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