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Pré Projeto de Pesquisa Final
Pré Projeto de Pesquisa Final
1. INTRODUÇÃO
O perfil dos acolhidos está diretamente ligado à sua classe social, a pobreza está
presente como fator que fortifica os vetores dos motivos de acolhimento institucional.
Entre os principais motivos de colhimento, de crianças e adolescentes, “a carência de
recursos materiais da família” lidera o percentual, representando 24,1%, seguido por
18,8% – abandono, 11,6% – violência doméstica, 11,3% – dependência química dos
responsáveis, 7% – vivência de rua, 5,2% – órfãos, 3,5% – prisão dos responsáveis e
3,3% – abuso sexual (IPEA/CONANDA, 2004). Através de tais dados, é possível
perceber que o contexto socioeconômico das crianças acolhidas é no geral de baixa
renda, que, por conseguinte, a maioria das crianças e da família, possuem ausência
de instrução e/ou estudo, o que facilita na não garantia dos direitos fundamentais à
criança e ao adolescente.
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Termo utilizado antigamente para denominar crianças/adolescentes, que estavam desamparados, desprotegidos,
que não possuíam responsáveis, que passavam por necessidades, órfãs, abandonadas ou que por algum motivo
tinham sido afastadas de seus pais. Bem como é sinônimo, desse, os termos: expostos e enjeitados.
3 Como se pode ver em Marcilio, 1997.
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todavia a aplicação destas na prática não é simples. Esta pesquisa tem o intuito de
averiguar se os espaços físicos de cada período condiziam com a lei, e de que forma
esse espaço, inadequado ou satisfatório, afeta a formação dos acolhidos como ser
humano.
3
registrar o recém-nascido7, e em seguida entregar a um orfanato. Tal código é de
grande importância para a presente pesquisa, pois é o primeiro que possui um capítulo
destinado a estipular como deveria ser o ambiente das instituições destinadas a
receber as crianças e adolescentes abandonadas/órfãs. A estrutura física dos
orfanatos fora rotulada como grandes pavilhões, com corredores compridos, que
poderiam abrigar até 200 internos ou 300 internas. A forma organizacional dessas
instituições impossibilitava que o usuário se sentisse acolhido, que se assimilasse à
instituição ou a identificasse como seu lar.
7 Em 1890 foi criado o Código Penal da República, que torna crime não fazer o registro de crianças dentro do
primeiro mês de vida.
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correções e repreensão. Em dezembro de 1964 surgi a FUNABEM8, a qual adveio do
Conselho Nacional do Bem-Estar do Menor criado antes do golpe de 64, com incentivo
da igreja católica, em busca de alternativas para a extinção do SAM, pois eram muitas
as denúncias de maus tratos e da precariedade em que estes meninos e meninas
viviam. A fundação tinha como princípio a implantação da PNMB 9, a qual visava pôr
fim aos métodos coercivos, todavia, na prática a repressão continuou presente no
cotidiano das instituições. As FEBEM’s herdaram os antigos prédios do SAM, o que
se percebe é que mais uma vez a preocupação com a arquitetura dessas instituições
fora esquecida.
No livro A Queda Para o Alto (Herzer, 1982), Sandra Herzer, a qual viveu três anos
dentro de uma sob o poder de “proteção do estado”, passando pela FEBEM, relatou
como eram essas fundações e o que se passavam nessas, no livro podemos concluir
que a entidade ao invés de promover acolhimento transmitia a mesma sensação de
que estivessem nas ruas, sem ter alguém para dar apoio ou um lugar em que
vivessem com segurança e acolhimento. Herzer descreve o lugar em que
permaneciam como um pequeno quarto – o qual se identificava fisicamente mais com
uma cela – em cimento queimado, contendo apenas quatro bancos, mau ventilado,
com superlotação, sem distinção de idade para o abrigamento, eram colocados no
mesmo quarto recém nascidos, meninas órfãs, menores infratores, ou que por algum
motivo os pais haviam perdido a guarda, Herzer descreve a FEBEM como “um
encontro direto com a marginalização”. Das FEBEM’s os menores eram
encaminhados à alguma “unidade educacional”10, onde suas esperanças de encontrar
um ambiente receptivo morreriam, nos quartos haviam cerca de vinte beliches, e para
que coubessem todos ainda havia espalhados colchões no chão dos quartos e do
refeitório. Além das péssimas condições de infraestrutura, essas crianças e
adolescentes sofriam maus tratos, – mesmos os que não eram menores infratores –
viviam como em uma prisão, sem sua liberdade, nessas instituições só havia um tipo
de tratamento: repreensivo, abusivo e autoritário.
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Surge, em 1979, o Segundo Código de Menores11 que reforça ainda mais a ideia do
menor como controle e sob poder do estado12, e que agora estavam também sob o
poder das instituições voltadas aos meninos e meninas pobres, as crianças e
adolescentes em “situação irregular”13. Com o novo código, o estado pode julgar se
os responsáveis são ou não capazes de educar seus filhos, a má conduta se enquadra
em “situação irregular” autorizando os juízes a internar essas crianças e adolescentes,
o que contribuiu para o aumento de internações e para o mistifório de abrigamento
nestas instituições.
Os anos que antecedem a queda da ditadura militar, a década de 70, foram anos de
questionamento sobre a situação infanto-juvenil no Brasil. Resultado de tais
indagações, nasceram ONG’s e movimentos como a Pastoral do Menor – movimento
católico contrário aos ideais do código de 79, defendendo a ideia de acolher o menor
–, e o Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua (MNMMR). Em consonância
com Souza (2013), o MNMMR se manifestou por iniciativa privada e ganhou forças ao
ponto de participar da elaboração da Constituição de 1988, onde se tem um artigo
destinado a proteção de crianças e adolescentes14, o qual garantia direitos ligados a
arquitetura como lazer, edificação adequada aos deficientes, garantia que foi
reforçada pela Emenda Constitucional nº 65 de 2010:
Criação de programas de prevenção e atendimento especializado para as
pessoas portadoras de deficiência física, sensorial ou mental, bem como de
integração social do adolescente e do jovem portador de deficiência,
mediante o treinamento para o trabalho e a convivência, e a facilitação do
acesso aos bens e serviços coletivos, com a eliminação de obstáculos
arquitetônicos e de todas as formas de discriminação (BRASIL, 2010).
11
Lei 6.697.
12 Ideia que já era defendida pelo Código de Menores de 1927.
13 Segundo Código de Menores (1979).
14 Artigo 227, da constituição de 1988.
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altos muros –, ter sua própria crença, dentre muitos outros. Os direitos também são
garantidos, indiretamente, através da arquitetura, por exemplo quando se adota o
princípio que os abrigos devem ter “atendimento personalizado e em pequenos
grupos”15, o que interfere no tamanho dos ambientes e na forma organizacional, para
que cada abrigado se identifique com o espaço e sinta a entidade como seu lar.
Cabem aqui as seguintes indagações: Será mesmo de fato que as práticas asilares
tiveram fim com a promulgação do ECA? Ou nos dias atuais encontramos resquícios
de práticas asilares nos ambientes das instituições? As entidades de acolhimento em
atual funcionamento seguem as orientações técnicas, ou possuem ambientes que não
proporcionam um acolhimento adequado? O que mudou, na prática, em relação a
situação em que esses menores viviam?
2. JUSTIFICATIVA
3. REFERENCIAL TEÓRICO
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criança. O que pode ser relacionado a vivencia das crianças nos espaços das
entidades.
Os autores citados acima são algumas bibliografias importantes que irão constar na
pesquisa enquanto referencial teórico. Serão utilizados também outros autores
através de uma busca aprofundada de teses, dissertações e artigos da atualidade
visando a complementação e estruturação do trabalho
4. OBJETIVOS
4.1 GERAL
3.2 ESPECÍFICOS
10
g) Estabelecer as problemáticas geradas pelo “modo asilar”, presente na arquitetura
e no tratamento, no âmbito de “medida de proteção” do acolhimento infanto-juvenil.
5. METODOLOGIA
6. CRONOGRAMA
2019 2020
ETAPAS mar abr mai jun ago set out nov mar abr mai jun jul ago set out nov
Preparação preliminar da
dissertação
Levantamento
bibliográfico
histórico
Levantamento e estudo
dos
documentos jurídicos e
políticos
Revisão bibliográfica
Elaboração de roteiro para
questionário com "ex
acolhidos"
Realização de
questionários
com "ex acolhidos"
Comparação de
documentos jurídicos com
a realidade dessa
arquitetura no passado
Revisão arquitetônica -
pesquisa em meio
eletrônico
Elaboração de roteiros
para entrevistas e
questionários
Pesquisa de campo -
visita a entidades
Entrevistas com acolhidos
Produção de croquis
Revisão crítica da atual
arquitetura das entidades
com correlacionada às leis
Revisão arquitetônica -
como os espaços
influenciavam e
influenciam no
desenvolvimento e
recuperação dos
acolhidos
12
Elaboração de sugestões
para melhoria dessas
entidades
Redação da dissertação
Revisão da dissertação
Preparação final da
dissertação
Defesa
7. REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição (1988). Constituição de República Federativa do Brasil. Brasília,
DF: Planalto, 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>.
Acessado em: 28 de agosto de 2018.
13
BRASIL. Lei n. 12.010, de 13 de julho de 2009. Dispõe sobre adoção; altera as Leis
nos 8.069, de 13 de julho de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente, 8.560, de
29 de dezembro de 1992; revoga dispositivos da Lei n o 10.406, de 10 de janeiro de
2002 - Código Civil, e da Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, aprovada pelo
Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943; e dá outras providências. Brasília:
Planalto, 2009. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
2010/2009/lei/l12010.htm>. Acessado em: 05 de abril de 2017.
CARRIEL, Paola. 23 mil crianças ainda vivem nas ruas do Brasil. Gazeta do Povo,
Brasil, Paraná, 21 de março de 2011. Disponível em:
<http://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/23-mil-criancas-ainda-vivem-
nas-ruas-no-brasil-epp6r1bvny1r1impam9dv7426>. Acessado em: 25 de maio de
2017.
FARIELLO, Luiza. Campanha paulista atrai famílias para crianças que vivem em
abrigos. Conselho Nacional de Justiça, Brasil, 15 de novembro de 2017. Disponível
em: < http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/85774-campanha-paulista-atrai-familias-para-
criancas-que-vivem-em-abrigos>. Acessado em: 11 de julho de 2018.
GOMES, Roger Marcelo Martins. O modo asilar como paradigma autoritário das
práticas e saberes dominantes em saúde mental coletiva. Transversal – rev. anual
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m/kq/groups/19620342/537333255/name/Livro%2BA%2BQueda%2Bpara%2Bo%2B
Alto%2B%2BSandra%2BMara%2BHerzer.doc+&cd=1&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br>.
Acessado em: 06 de abril de 2017.
14
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Acessado em: 11 de julho de 2018.
15