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ISSN 2177-4463
INTRODUÇÃO
Este artigo é resultado do relatório final de iniciação científica apresentado ao Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), intitulado “Estrangeirização de
terras: conceitos, agronegócio e a atuação do Estado - relação Brasil e Moçambique”. Durante a
iniciação cientifica foram desenvolvidas pesquisas que abordaram o processo de estrangeirização
de terra no Brasil e em Moçambique, partindo do conceito de estrangeirização, como esta ocorre
em ambos os países e as estratégias governamentais para regulamentar a aquisição de terras por
estrangeiros, relacionando com a Geopolítica da Questão Agrária. Também abordamos a relação
entre Brasil e Moçambique, neste caso as relações comerciais e econômicas. Destacamos que
Moçambique apresenta características distintas e peculiaridades quando comparado à realidade
brasileira. Uma particularidade é o fato de que em Moçambique a terra é propriedade estatal, o
que significa que é propriedade do Estado, é pública. Deste modo, a terra que os estrangeiros
realizam os seus investimentos é concedida pelo próprio governo de Moçambique em forma de
Direito de Uso e Aproveitamento da Terra (DUAT).
Apesar de ser fruto do relatório de iniciação científica que aborda também Moçambique,
para este artigo, abordaremos apenas a questão da estrangeirização de terras no Brasil,
permeando as principais consequências deste processo, principalmente, para os camponeses,
indígenas e quilombolas brasileiros. Também tratamos da postura do governo brasileiro em
relação ao referido processo com elementos antigos e novos que se referem a estrangeirização,
ou seja, a estrangeirização ontem e hoje.
Ressaltamos a dificuldade quanto à obtenção de dados, pois a maioria se refere a
informações de empresas privadas e estrangeiras que adquirem terras no Brasil e maiores
detalhes não são acessíveis, assim, muitos dados apresentam lacunas. No entanto buscamos
informações e números referentes à estrangeirização de terras através de trabalhos acadêmicos
e, sobretudo, de matérias de jornais nacionais e internacionais.
Outros países veem a aquisição de terras, seja esta por forma de compra ou arrendamento ou
como uma medida de segurança contra uma futura e possível crise alimentar. Governos e
empresas de diversas nações estão buscando caminhos para aumentar a produção agrícola, pois
áreas cultiváveis em países desenvolvidos são pequenas ou já estão ocupadas, não havendo
mais áreas disponíveis para a agricultura, o que os leva a comprar terras em outros países, na
maioria das vezes subdesenvolvidos. Neste caso, os principais alvos são os países da América
Latina, em especial Brasil, Argentina e Uruguai; países da África Subsaariana, sobretudo
Moçambique; e alguns países asiáticos. De acordo com Deininger (2011), estes países são o
“alvo” deste processo porque a “disponibilidade de terras não cultivadas” no mundo está
concentrada nestes.
É relevante destacarmos também o papel do mercado internacional de commodities que,
de certa maneira, se sustenta na aliança entre capital e latifúndio, na precarização do trabalho e
na exclusão política de camponeses, povos indígenas, comunidades quilombolas entre outros
(SAUER, 2011). A demanda mundial por commodities, tanto agrícola e não-agrícola (minério),
somados a sua valorização no mercado internacional, impulsionado pela crise de 2008 e o maior
interesse e procura pelos agrocombustíveis, têm provocado o aumento do preço das terras. Este
aumento nos países asiáticos, africanos e latino-americanos acirraram as disputas territoriais e,
além de tudo, impactaram as políticas públicas voltadas para o campo e reforma agrária. No caso
do Brasil, segundo Sauer e Leite (2012), há estimativas que no período de 1994 a 2010, o preço
médio de apenas um hectare de terra aumentou de R$ 1.188,30 para R$ 7.490,40, cerca de
430%.
Abarcando as commodities, podemos elencar as oito principais nas quais se concentram
a estrangeirização, sendo elas: milho, soja, cana-de-açúcar, dendê (óleo), arroz, canola, girassol e
floresta plantada (SAUER; LEITE, 2011), dando destaque à “floresta” de eucalipto, que vem
apresentando um significativo processo de crescimento nos últimos anos. É relevante enfatizar
que a mineração também está tornando-se alvo de interesse de estrangeiros1. É interessante
destacarmos as três primeiras commodities citados na lista acima: milho, soja e cana-de-açúcar.
Estas estão relacionadas à produção de agroenergia e agrocombustíveis e sua produção é
incentivada pelos Estados, com políticas públicas voltadas para estes, como é o exemplo do
Programa Nacional do Álcool (PROÁLCOOL), implantado na década de 1970 incentivando a
produção de etanol no Brasil. No caso brasileiro, os grandes projetos sucroalcooleiros implantados
entre 2008 e 2010 participam destes incentivos. Essa discussão relaciona-se ao caráter
geopolítico que o processo de estrangeirização de terras impulsiona, reestruturando os espaços
mundiais, e o debate sobre os domínios e estratégias territoriais. Conforme aponta Fernandes
(2010):
1 Segundo o jornal Folha de São Paulo do dia 28 ago. 2010, o Brasil cresce aos olhos do mundo no setor mineral e até
o ano de 2019 serão investidos US$ 33 bilhões por estrangeiros no Brasil.
NERA – Núcleo de Estudos, Pesquisas e Projetos de Reforma Agrária. Disponível em www.fct.unesp.br/nera
Boletim DATALUTA – Artigo do mês: abril de 2014. ISSN 2177-4463
Esta novidade também está relacionada com as crises de falta de alimentos e com
o aumento do preço dos combustíveis. Um fator novo é que estamos vivendo um
momento de mudança estrutural na produção de energia. O campo produtor de
alimentos e fibras passa a produzir cada vez mais energia. Evidente que esta nova
realidade exige a expansão dos territórios. E os países ricos em capitais e pobres
em território estão adotando as estratégias imperialistas para se apropriar de
novos territórios pela lógica do mercado. (p. 78, grifo nosso)
por estrangeiros se dá a partir da relação de dois países ou mais, o que dificulta a questão
jurídica, gerando mais transtornos e lacunas que podem possibilitar fraudes. Todavia, temos que
destacar que o Estado é soberano e não pode perder o controle da ocupação do seu território
nacional, mesmo que haja uma legislação mais flexível diante do investimento externo
estrangeiro. A estrangeirização da terra coloca em risco a soberania territorial do próprio país alvo
de tal processo.
Segundo Oliveira (2010), na atualidade há alguns instrumentos legais que controlam a
aquisição de terras por estrangeiros no Brasil: Lei nº 5.709/71 (que possui maior relevância); Lei
nº 6.634/79; Decreto nº 85.064/80; Constituição Federal de 1988, o artigo nº 170, I, II e III, e os
artigos nº 172 e nº 190; Lei nº 10.267/01; Decreto nº 4.449/02 e Decreto nº 5.570/05. A principal
legislação atual vigente no Brasil que regulariza e barra a compra e venda de terras por
estrangeiros é a Lei nº 5.709, de 07 de outubro de 1971, ou seja, apesar de suas alterações, está
em vigor há mais de 40 anos. Esta lei foi aprovada durante o governo do General Médici (1969 -
1974), na ditadura militar, e regula a aquisição de imóvel rural por estrangeiros residentes no país
ou de pessoa jurídica estrangeira autorizada a funcionar no Brasil. Salientamos que, de fato, a Lei
nº 5.709/71 só foi regulamentada em 26 de setembro de 1974, pelo Decreto nº 74.965 no governo
do General Geisel (1974 - 1979). De acordo com as considerações de Oliveira (2010), esta lei
trouxe medidas como:
A aquisição de imóvel rural por pessoa física estrangeira não poderá exceder 50
módulos de exploração indefinida, em área contínua ou descontínua;
Quando se tratar de imóvel com área não superior a três módulos, a aquisição será
livre, independendo de qualquer autorização ou licença, ressalvadas as
exigências gerais determinadas em lei;
A área rural pertencente à pessoa física ou jurídica estrangeira não deve
ultrapassar ¼ da área do município onde o imóvel se situe;
As pessoas jurídicas estrangeiras só poderão adquirir imóveis rurais destinados à
implantação de projetos agrícolas, pecuários, industriais ou de colonização, porém
vinculados aos objetivos estatuários;
Estes projetos efetuados por estrangeiros deverão ser aprovados pelo Ministério da
Agricultura, ouvido o órgão federal competente de desenvolvimento regional na
respectiva área. Sobre os projetos industriais, estes deverão ser aprovados pelo
Ministério da Indústria e Comércio;
No caso de loteamentos rurais efetuados por empresas particulares de colonização,
a aquisição e ocupação de, no mínimo, 30% da área total serão feitas
obrigatoriamente por brasileiros;
2 Indivíduo aparece como responsável por determinada empresa ou negócio enquanto o verdadeiro proprietário
mantem-se no anonimato.
3 Laranja consiste em pessoas que se declaram proprietárias de determinado bem para não revelar o verdadeiro dono,
imóveis rurais por pessoas estrangeiras físicas e jurídicas. Além disso, é necessário que o
Cartório de Registros de Imóveis informe mensalmente ao INCRA as eventuais movimentações
ocorridas no período, tais como: mudança de titularidade, desmembramento, loteamento,
parcelamento, remembramento, retificação de área, reserva legal e particular do patrimônio
natural.
É evidente que nestes 40 anos de vigência da Lei nº 5.709/71, ela passou por alterações,
uma vez que realidade é mutável e a legislação deve ser alterada para melhor acompanhar. Foi o
que ocorreu em agosto de 2010 com a publicação de um parecer da Advocacia Geral da União
(AGU), que limitou a compra de terras por estrangeiros no Brasil a cinco mil hectares,
determinando ainda que a soma das terras rurais de propriedade de estrangeiros não deve
ultrapassar 25% da área total do município. Essa limitação visou conter a compra e venda de
terras por estrangeiros no país, uma vez que este número aumentou consideravelmente nos
últimos anos, por fatores que já foram explicitados anteriormente. Podemos colocar esta questão
como uma medida de “segurança”, que busca garantir a soberania do Brasil dentro do seu próprio
território. Obviamente, o parecer da AGU sobre a Lei nº 5.709/71 possibilitou uma série de críticas
ao governo, tanto de estrangeiros como de grandes empresários nacionais, uma vez que segundo
estes, “o governo deu um tiro, paralisando investimentos internacionais no Brasil” (Valor
Econômico, São Paulo, s/p, 09 mar. 2012). Essas críticas foram aceitas, pois para muitos o Brasil
ainda necessita de investimentos e capitais estrangeiros para o maior crescimento da economia,
se esquecendo do desenvolvimento social. Sobre esta questão, Sauer (2010) argumenta:
No entanto, esta própria legislação vigente no Brasil é falha e possui diversas lacunas.
Isso fica evidente no ponto em que afirma que as terras em posse de estrangeiros não pode ser
superior a ¼ da área total do município, porém, isso é relativo, pois cada município possui uma
extensão territorial distinta no Brasil, sobretudo na região Norte e Centro-Oeste, onde a extensão
dos municípios em ternos de área é enorme e estes são os principais alvos dos estrangeiros
ligados ao agronegócio de produção de commodities. A repercussão na mídia deste parecer foi
imensa. Grandes jornais de circulação nacional noticiaram, e ainda noticiam constantemente,
críticas a este parecer, principalmente em como pode afetar no crescimento econômico do Brasil.
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Observa-se que o governo brasileiro necessita adequar não apenas a Legislação que
regula a estrangeirização de terras no país, mas deve qualificar os modos de fiscalização e
controle deste processo. É fácil encontrar lacunas na própria legislação brasileira que, aliada a
fraudes e “ajuda” de órgãos fiscalizadores, facilitam a compra ilegal de terras por estrangeiros no
Brasil.
menos no Brasil: as terras anteriormente eram concedidas a exploração para os estrangeiros, hoje
não é assim, pelo menos é mais difícil de ocorrer. Atualmente as terras são compradas, de formas
legais ou ilegais (em nome de laranjas), além do que foram criadas barreiras legislativas, como a
Lei nº 5.709/71, que busca restringir e regulariazar a compra de terras por estrangeiros no Brasil.
Também não podemos perder de vista que ao longo da história do Brasil, principalmente
entre 1920 e 1980, havia o pensamento de que o Brasil precisava se integrar com os demais
países, para não acabar não se entregando a estes. A partir deste pensamento o Brasil acabou
entregando grande parte de seus recursos naturais e minerais aos ditos países desenvolvidos,
sobretudo ao capital americano que, segundo Oliveira (1989, p. 10) “os brasilieros fizeram a leitura
Geopolítica da ideologia norte-americana: o que não entregar aos Estados Unidos entregrar-se-á
à União Soviética”. Ao final disso tudo o Brasil entregou os seus recursos e ainda, como afirma
Oliveira (1989, p. 10), “os governos militares, sobretudo, mas não apenas eles, foram
transformando em planos de desenvolvimento nacional brasileiro a estratégia da exploração para
a exportação dos recursos minerais do país”.
Com a legislação que regulamenta e restringe a aquisição de terras por estrangeiros no
país, aprovada em 1971, o Brasil deu um passo positivo para a manutenção da sua soberania no
seu próprio território, mesmo que tal lei se apresente falha e com uma série de lacunas que acaba
por facilitar fraudes e o seu não-cumprimento. Com a aprovação da Lei nº 5.709/71, o Estado
brasileiro mostrou preocupação com o seu território e seus recursos, mesmo que grande parte
deste último tenha sido explorado pelos capitais estrangeiros. Esta Lei nos mostra mais um
elemento que vem se alterando ao longo do tempo, que é a crescente preocupação do governo
brasileiro em barrar a entrada de estrangeiros no seu território.
O segundo elemento que destacamos é que, anteriormente, neste mesmo processo, o
Brasil era apenas o palco da concessão para a exploração de recursos e compra de terras por
estrangeiros, mas hoje ele é um ator ativo deste processo, assim, o Brasil também compra terras
ou tem terras concedidas em outros países para a exploração de recursos, como é o caso da
presença brasileira em Moçambique, em que o governo e diversas empresas privadas brasileiras 4
possuem a DUAT para a exploração dos recursos naturais de Moçambique, com o discurso de
promover o desenvolvimento do país, alegando que isto proporcionará a melhoria da qualidade de
vida da população moçambicana. Assim, o que os Estados Unidos da América realizava no Brasil
na década de 1950 e, de certo modo, até hoje continua realizando, o Brasil também faz em
Moçambique e em outros países africanos e latino-americanos. Deste modo o Brasil é alvo de
práticas imperialistas mas também é o agente que promove práticas subimperialistas em outros
países. Tais práticas foram modificadas devido a necessidade do Brasil explorar recursos em
outros territórios, de buscar e aprofundar novas relações exteriores e garantir a sua soberania
4 Alguns exemplos das empresas brasileiras mais atuantes em Moçambique são: Camargo Corrêa, Odebrecht, Vale,
Queiroz Galvão e Andrade Gutierrez. O Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) realizam
investimentos em Moçambique e também financiam projetos de empresas privadas brasileiras que desejam investir no
país.
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explorando outros países, uma vez que no contexto atual todas as nações tem o objetivo de
garantir a sua parcela de exploração no globo. Para muitos, isso é uma contradição, mas se
partimos do ponto de vista dos latifundiários e grandes investidores brasileiros, isso torna-se
apenas um elemento a mais, uma vez que estão interessados no capital que os investimentos
estrangeiros trarão.
Um terceiro elemento que elencamos são os motivos e interesses da exploração e da
aquisição de terras por estrangeiros. Hoje o mundo vive um momento de busca desenfreada por
novas matrizes energéticas, que está intimamente relacionada com a questão dos
agrocombustíveis. Também, com a crise agroalimentar que ocorreu em 2008, as nações procuram
terras para a produção de alimentos para outras futuras crises alimentares, sobretudo, países que
possuem poucas terras cultiváveis, buscam terras em países que, na maioria das vezes, são
subdesenvolvidos ou estão em desenvolvimento e possuem grande parcela de terras com alto
potencial para a agricultura e produção de commodities, o que influenciou no aumento do preço
da terra em diversas nações. Destacamos que ainda permanece a intenção dos países em
garantir a sua soberania territorial e, por isso, ainda há as práticas imperialistas e subimperialistas.
É importamente termos a ciência de que os elementos e práticas antigas que permeiam a
questão da estrangeirização de terras ainda estão presentes em tal processo, mesmo que menos
constantes, assim podemos dizer que novos elementos, práticas e discursos se sobrepõem a
antigos, pois a realidade está em constante movimento, o que sugere que as práticas, elementos
e discursos da estrangeirização de terras caminhem no sentido de acompanhar a realidade e
garantir a exploração e a concessão de terras, de acordo com as necessidades de cada nação,
pois, como afirma Santos (1978, p. 1) “tudo está sujeito à lei do movimento e da renovação”, e a
questão da estrangeirização de terras não fica fora deste moviemnto de renovação, ela sempre
está relacionada com as novas formas de atuar de acordo com as demandas e necessidades que
a realidade impõem.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com a crise de 2007/2008, observou-se uma demanda por novas áreas cultiváveis, uma
corrida mundial por terras, oriundas de diversos fatores. Entre eles, destacamos o receio de uma
crise alimentar, devido ao crescimento da população e até mesmo para manter a soberania de
alguns países em detrimento de outros. Podemos observar um processo que denominamos de
neoimperialismo, uma vez que há presença de práticas imperialistas entre países, no entanto,
estes são soberanos e independentes5. Como expressado, há uma demanda e necessidade de se
pensar a Geopolítica, não se baseando, apenas, em clássicos sobre o referido tema, mas
trazendo para a análise novas visões, autores, elementos e contextos.
5De acordo com Sassen (2013), o imperialismo que ocorre no século XXI apresenta um fato diferenciado: os países
que fazem parte deste são todos soberanos e independentes, são reconhecidos como tais.
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Em relação à compra e venda de terras por estrangeiros no Brasil, observamos que esta
prática é bem mais antiga do que é colocado atualmente, vindo desde a Guerra do Contestado
(1912 - 1916). Há uma preocupação Geopolítica maior, mas que é recente, tornando-se
preocupação do governo brasileiro a partir do século XXI, período em que o número de
transações entre países aumentou demasiadamente, colocando em risco a própria soberania
brasileira em seu território. A partir desta preocupação, em agosto de 2010, a Advocacia Geral da
União (AGU), decretou um parecer que implementou a Lei nº 5.709/71, que restringe a compra de
terras por estrangeiros no Brasil. Essa prática gerou grande repercussão na mídia e a revolta de
latifundiários, empreendedores brasileiros e estrangeiros. No entanto, essas práticas ainda
ocorrem, mesmo com maior fiscalização do governo federal e estadual, uma vez que a Lei nº
5.709/71 deixa lacunas que permitem a compra de terras por estrangeiros no Brasil.
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