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MARCÍLIO DE CASTRO DUARTE

Considerações sobre o caso do Museu do Brooklyn a


partir do artigo de Robin Pogrebin

Paper apresentado ao Curso de


Especialização em Gestão e Políticas
Culturais da Universidade de Girona,
como exigência parcial para conclusão
do curso.

São Paulo
04 de junho de 2017
O artigo de Robin Pogrebin, assinado para o The New York Times, revela
uma realidade dilemática para o Museu do Brooklyn. A nova direção equilibra-se
entre se adaptar à predominância da Arte Contemporânea na preferência do
público visitante e se manter como um tradicional museu enciclopédico com um
acervo que preserva mais de 5 mil anos de história. Além disso, segundo
Pogrebin, o próprio bairro mudou tanto culturalmente que o museu já não parece
mais fazer sentido para quem mora ali. Os turistas também preferem os museus
de Manhattan, como o The Metropolitan Museum of Art, maior e há pouco mais
de 10 quilômetros de distância, entre tantos outros que tornam mais disputada a
“concorrência”. Surge, portanto, uma questão: por que manter um museu
enciclopédico no bairro do Brooklyn, quando o público dá sinais evidentes de
não se interessar mais por esse tipo de conteúdo?
Analisando o problema pela perspectiva estritamente econômica,
especialmente para um museu privado que vive de doações filantrópicas, não
existe mesmo sentido em sustentar um museu tão parecido como o The Met,
porém menor, tentando atrair um público ávido por novidades. Dentro dessa
lógica, seria preciso encará-lo como um “museu-mercadoria” para que as
receitas voltassem a gerar lucros. De certo modo, esse equilíbrio entre a
finalidade cultural e o mercado já tem sido feito pela nova diretora, Anne
Pasternak, que tem colhido resultados positivos, mas insuficientes para superar
o déficit no orçamento.
O problema, contudo, não é só econômico, é de existência. O Museu do
Brooklyn é visto historicamente como um “enteado” do The Met. Pasternak
acredita que isso deve ser celebrado e esse exercício tem lhe dado a liberdade
necessária para ousar e repensar o museu, mas também para reafirmar sua
condição histórica.
Pasternak está certa. O fato de o distrito do Brooklyn ter se tornado pouco
atrativo para o turista e sua população ter se desinteressado por seu caráter
“enciclopédico”, não significa que ele deve deixar de existir. O desafio está em
buscar um novo sentido para o museu sem abrir mão de sua tradição.
Quando se pensa o problema pela perspectiva dos direitos culturais, a
existência do Museu do Brooklyn torna-se uma necessidade, uma resistência às
transformações culturais muitas vezes acarretada pelo excesso de

1
modernização – como exemplificado no caso de usuários absortos em
smartphones – ou pela relação preço e serviço.
Aos olhos externos de uma sociedade modernizante, o Museu do
Brooklyn pode ter chegado ao seu limite, pode parecer anacrônico, antiquado,
desinteressante, desnecessário, mas a sua história é muito maior do que essas
percepções precipitadas.

Referências

POGREBIN, Robin. ‘Encyclopedic’ Brooklyn Museum Vies for


Contemporary Attention. New York Times – Art & Design. Disponível em <
https://www.nytimes.com/2017/04/30/arts/design/brooklyn-museum-
contemporary-art.html?_r=0> Acesso em 02 jun 2017.

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