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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL

PÓS-GRADUAÇÃO EM CONSTRUÇÃO CIVIL


Introdução ao estudo das estruturas pré-moldadas: Cálices de Fundação - Jasson R. Figueiredo Filho / Roberto Chust Carvalho

INTRODUÇÃO AO ESTUDO DAS ESTRUTURAS EM CONCRETO PRÉ-MOLDADO

CÁLICES DE FUNDAÇÃO

ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................. 2
2. LIGAÇÃO PILAR-FUNDAÇÃO POR MEIO DE CÁLICE ................................ 4
2.1. Profundidade de penetração do pilar (comprimento de engastamento na base) ..... 5
2.2. Transferência de esforços entre o pilar e a fundação ............................................. 7
2.3. Verificação da punção na base do elemento de fundação ...................................... 10
2.4. Dimensionamento do cálice ................................................................................. 11
2.4.1. Armadura de flexão na parte superior da parede ................................................... 11
2.4.2. Cálculo da armadura longitudinal superior nas paredes longitudinais do cálice 12
......
2.4.3. Cálculo da armadura transversal nas paredes longitudinais do cálice 12
.....................
2.4.4 Cálculo das armaduras de suspensão e secundárias ............................................... 13
2.5. Verificação da biela comprimida .......................................................................... 14
2.6. Detalhes e disposições construtivas ...................................................................... 14

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CÁLICES DE FUNDAÇÃO

1. INTRODUÇÃO
Os elementos de fundação devem ser calculados para resistir à totalidade das forças
normais, horizontais e momentos fletores transmitidos pelos pilares, de acordo com o item 6.4.1
da NBR 9062. Para que isso seja possível, a ligação entre pilares e elementos de fundação deve
ser feita de maneira cuidadosa, pelos seguintes meios principais:
a) por meio de cálice (figura 1);
b) por meio de chapa de base (figura 2);
c) por emenda da armadura com graute e bainha (figura 3);
d) com emenda de armaduras salientes (figura 4).

A ligação por meio de cálice (figura 1) consiste em embutir a base do pilar em um


encaixe (colarinho do cálice) deixado no elemento de fundação. Ela pode ser classificada como
rígida, úmida (geralmente é necessário a adição de material de enchimento, como graute,
argamassa ou micro-concreto) e que possibilita a transmissão de esforços de compressão e
flexão.

FIGURA 1. Ligação pilar-fundação por meio de cálice (fig. 4.58, EL Debs, 2000)

Na ligação por meio de chapa (figura 2) ela é devidamente unida à armadura principal
do pilar com chumbadores, porcas e argamassa de enchimento. A chapa da base pode ter as
mesmas dimensões da seção transversal do pilar, possibilitando disfarçar a ligação. O nível e o
prumo do pilar são ajustados com o auxílio de porcas e contra-porcas, e o espaço entre a chapa e

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a fundação é preenchido, após a montagem, com argamassa ou graute. Nesse tipo de ligação é
mais fácil a montagem e o ajuste do prumo.

FIGURA 2. Ligação pilar-fundação com chapa de base (fig. 4.59, El Debs, 2000)

Na ligação por emenda da armadura com graute e bainha (figura 3a), uma das
armaduras, do pilar ou da fundação, deve projetar-se para fora, de modo que na montagem essa
armadura é introduzida em bainha previamente colocada no outro elemento. O espaço entre a
barra e a bainha, bem como entre o pilar e a fundação é preenchido com graute. Neste caso é
necessário manter um escoramento e é maior a dificuldade de efetuar os ajustes para manter o
prumo e outros desvios. Uma variante é mostrada na figura 3b, em que são deixados nichos na
fundação para alojamento da armadura do pilar e posteriormente preenchidos com concreto
moldado no local (CML).

FIGURA 3. Ligação pilar-fundação por emenda da armadura com graute e bainha ou


nichos (fig. 4.60, El Debs, 2000)

Na emenda com parte da armadura do pilar ficando saliente (figura 4), ela é
emendada mediante solda ou acopladores à armadura saliente da fundação, e posteriormente é
feita a concretagem da emenda. Seu emprego é limitado pelas dificuldades que apresenta na
montagem, principalmente quanto à solda em campo e concretagem da emenda.

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FIGURA 4. Ligação pilar-fundação com armadura saliente (fig. 4.61, El Debs, 2000)

2. LIGAÇÃO PILAR-FUNDAÇÃO POR MEIO DE CÁLICE


A ligação pilar-fundação feita por meio de cálice de fundação consiste no embutimento
de um trecho do pilar no elemento de fundação. Para posicionar o pilar e fixá-lo
temporariamente são utilizadas cunhas de madeira.
Esse tipo de ligação tem como características a facilidade de montagem, a facilidade de
ajuste dos desvios e a transmissão eficiente de momentos fletores. Como desvantagens, a ligação
apresenta-se bastante pronunciada, por suas características geométricas, ficando geralmente
escondida e não pode ser executada em divisas; é também uma ligação de elevado custo em
relação às demais.
Conforme citado em BALLARIN (1992), MOKK (1969) também destaca, como
vantagem da ligação com embutimento do pilar, a facilidade na colocação do pilar e a obtenção
do prumo, além do escoramento e travamento da ligação; essa ligação é ainda, segundo Mokk, a
menos sensível às imprecisões de projeto e montagem. Como desvantagem ele aponta o fato de
que o momento fletor deve ser resistido tanto pela base do pilar quanto pelo colarinho da
fundação, provocando um custo adicional significativo em elementos de fundação de maiores
dimensões; indica adicionalmente que em ligações nas quais a profundidade de penetração for
maior que 1,0 m, a solução em união soldada será mais econômica.
As paredes do cálice são chamadas de colarinho, e como alternativa ao cálice moldado no
local pode-se recorrer à pré-moldagem do colarinho ou do cálice inteiro, no caso de fundação
direta. Na figura 5 mostra-se o cálice em sapatas simples e em blocos (com e sem colarinho), e
na figura 6 estão indicados cálices em sapatas com nervuras e embutidos no fuste de tubulões.
Depois de posicionado o pilar é feito o preenchimento do vazio entre as faces do pilar e
as paredes do colarinho com graute ou argamassa, e até o endurecimento completo do material
de enchimento o pilar deve ficar adequadamente travado, geralmente com o uso de cunhas de
madeira (figura 1) que calçam o pilar na parede do cálice (colarinho).
As paredes internas dos encaixes devem ter pelo menos a mesma característica
superficial dos pilares (NBR 9062, item 6.4.2).

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a) Sapata b) Bloco sobre estacas


FIGURA 5. Cálice de fundação em sapatas e blocos sobre estacas (fig. 4.79, El Debs, 2000)

a) Sapata com nervuras b) Embutido no fuste do tubulão


FIGURA 6. Cálice de fundação em sapata com nervuras e tubulão (fig. 4.79, El Debs, 2000)

2.1. Profundidade de penetração do pilar (comprimento de engastamento na base)


A profundidade de penetração ou embutimento do pilar na fundação (chamada na
NBR 9062 de base do pilar, com comprimento Leng) deve garantir a estabilidade e transmissão
dos esforços, e os fatores mais importantes que determinam seu valor são a característica das
paredes (lisas ou rugosas) e a excentricidade da força normal.
Algumas indicações desses valores e de folgas entre as paredes podem ser encontradas
em BALLARIN (1992) para algumas possibilidades de ligação com cálice indicadas na figura 7.

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FIGURA 7. Ligações pilar-fundação e valores indicados (fig. 3.1, Ballarin, 1992)

No caso do elemento de fundação ser uma sapata pequena (figura 7a), a profundidade
recomendada do encaixe do pilar é de 1,1 vezes a maior dimensão da seção transversal do pilar,
valor este sugerido pelas normas soviéticas.
Para sapatas médias (figura 7b), a profundidade do cálice, recomendada pela norma
húngara é de 1,5 vezes a maior dimensão da seção do pilar. Existem regras práticas que sugerem
que a profundidade do encaixe seja de 12 % a 15 % do comprimento do pilar.
No caso de sapatas sujeitas a grandes forças de compressão, o encaixe do elemento deve
ter uma altura maior que 1,5 vezes a maior dimensão da seção do pilar e devem ser previstas
folgas laterais entre o colarinho e as faces do pilar com largura entre 5 cm e 10 cm para facilitar
o emprego de vibradores no adensamento do material de enchimento (figura 7c).
De acordo com os itens 6.2.2.1 e 6.2.2.2 da NBR 9062, o comprimento de engastamento
(profundidade) é função da rugosidade da superfície de contato entre o pilar e o colarinho,
devendo ser compatível com o comprimento de ancoragem da armadura do pilar e nunca
menor que 40 cm (6.2.2.4). Destacam-se duas situações de rugosidade entre as superfícies:
a) Superfícies de contato lisas (figura 8a): o comprimento de engastamento do pilar (Leng) na
fundação deve respeitar os seguintes valores mínimos, permitindo-se interpolação linear para
valores intermediários da relação NM⋅h :

M e
L eng ≥ 1,5 ⋅ h para = ≤ 0,15
N⋅h h
M e
L eng ≥ 2,0 ⋅ h para = ≥ 2,00
N⋅h h
onde:
h = dimensão do pilar paralela ao plano de ação do momento fletor M;
N = força normal atuante no pilar;
e = excentricidade da força normal na direção do plano de atuação do momento fletor M.
b) Superfícies de contato rugosas (figura 8b): se a rugosidade for no mínimo de 1,0 cm em
10,0 cm, os valores do item a) podem ser multiplicados por 0,8, resultando:
M e
L eng ≥ 1,2 ⋅ h para = ≤ 0,15
N⋅h h
M e
L eng ≥ 1,6 ⋅ h para = ≥ 2,00
N⋅h h

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a) Superfícies lisas b) Superfícies rugosas


FIGURA 8. Tipos de superfícies dos elementos, ações no pilar e comprimento de
engastamento (figs. 4.84 adap. e 4.82, El Debs, 2000)

É oportuno destacar que esses valores são inferiores aos recomendados por
LEONHARDT (1978), que são os seguintes (os valores para superfícies lisas correspondem aos
de superfícies rugosas multiplicados por 1,4):
a) Superfícies lisas:
M e
L eng ≥ 1,68 ⋅ h para = ≤ 0,15
N⋅h h
M e
L eng ≥ 2,8 ⋅ h para = ≥ 2,00
N⋅h h
b) Superfícies rugosas:
M e
L eng ≥ 1,2 ⋅ h para = ≤ 0,15
N⋅h h
M e
L eng ≥ 2,0 ⋅ h para = ≥ 2,00
N⋅h h

2.2. Transferência de esforços entre o pilar e a fundação


A transferência dos esforços solicitantes M. N e V atuantes no pilar é particularmente
influenciada pela característica das superfícies do pilar e do colarinho, devendo ser consideradas
duas situações limites: superfícies lisas e superfícies rugosas.
Conforme o item 6.4.3 da NBR 9062, quando as paredes externas da base do pilar e
internas do encaixe (colarinho ou pedestal) tiverem rugosidade mínima de 1,0 cm em 10 cm
(profundidade de 10 mm a cada 100 mm), é permitido considerar que a totalidade da carga Nd
seja transmitida pela interface, sendo o elemento de fundação calculado como monolítico para as
situações de serviço (figura 9b).
Quando as paredes externas da base do pilar e interna do encaixe forem lisas, é permitido
considerar que uma parcela de 0,7⋅Nd da carga normal atuante no pilar seja transmitida pela
interface (item 6.4.4, NBR 9062), desde que exista armadura de suspensão disposta em todo o
contorno do encaixe (figura 9a), com o seguinte valor:
0,7 ⋅ N d
A s,sus =
f yd

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Se houver predominância de carga vertical permanente e intensidade não maior que


300 kN, é permitido executar as superfícies da base do pilar e do encaixe simplesmente com a
rugosidade de madeira não aplainada.

FIGURA 9. Esforços atuantes, armadura de suspensão e outros detalhes (fig. 5, NBR 9062)

Ainda de acordo com a NBR9062, item 6.4.6, se houver atuação de momento Md e força
horizontal Hd, permite-se o cálculo do colarinho como consolo ligado (engastado) à parte
inferior do elemento de fundação, admitindo-se a atuação de uma força Hod a uma distância “a”
medida a partir do início do colarinho ou pedestal, com os seguintes valores, correspondentes às
situações a) e b) da figura 9, para superfícies lisas e rugosas, respectivamente, sendo h1 a altura
total do colarinho:
Md
a) H od = + 1,25 ⋅ H d com a = h 1 − 0,167 ⋅ L eng (superfícies lisas)
0,67 ⋅ L eng

Md
b) H od = + 1,20 ⋅ H d com a = h 1 − 0,150 ⋅ L eng (superfícies rugosas)
0,85 ⋅ L eng

A força horizontal Hod é transmitida às paredes longitudinais (paralelas ao plano de


atuação do momento fletor) pelas paredes transversais, perpendiculares ao plano de atuação do
momento.
Existe também uma força horizontal Hd,inf aplicada pelo pilar na parte inferior da parede
2 (ver figura 10), com valores diferentes em função da característica das superfícies das paredes:
Md
a) H d ,inf = + 0,25 ⋅ H d (superfícies lisas)
0,67 ⋅ L eng

Md
b) H d ,inf = + 0,20 ⋅ H d (superfícies rugosas)
0,85 ⋅ L eng

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LEONHARDT (1978) acrescenta ainda que pode-se admitir comportamento conjunto do


pilar com a fundação, no caso de paredes rugosas, após o preenchimento do espaço entre esses
elementos, desde que:

a) a rugosidade seja no mínimo de 1 cm em 10 cm;

b) o concreto de preenchimento seja de qualidade igual ou superior ao do concreto do pilar e do


cálice, com adensamento adequado;

c) a espessura do colarinho seja maior ou igual a um terço da menor distância interna entre as
paredes do colarinho, respeitado o valor mínimo de 10 cm;

d) seja respeitado o valor já indicado no item anterior quanto à profundidade do cálice


(comprimento de engastamento) Leng.

Apresenta-se a seguir, resumidamente, as principais considerações feitas por EL DEBS


(2000), sobre a transferência dos esforços atuantes no pilar para a fundação por meio de cálice
com colarinho (figura 10a):

a) as solicitações M e H são transmitidas do pilar para as paredes 1 e 2 do cálice através do


material de enchimento;

b) as pressões nas paredes mobilizam também forças de atrito entre a base do pilar e a face
interna do cálice;

c) uma parcela da força normal do pilar, pois ela é reduzida ao longo da altura da parede interna
do cálice pelo atrito, é transmitida para o fundo do cálice;

d) as pressões na parede 1 (Hsup, chamada de Hod na NBR 9062) são transmitidas por flexão,
quase em sua totalidade, nos casos usuais, para as paredes 3 e 4, por estas serem mais rígidas
para a transferência dos esforços para a base (figura 10b);

e) as forças nas paredes 3 e 4 são transmitidas para a base do cálice comportando-se como um
consolo (figura 10c);

f) as pressões na parede 2 são quase totalmente transmitidas de forma direta para a base;

g) a força normal que chega ao fundo do cálice tende a puncionar a base, principalmente
quando esta for de pequena espessura, como no caso de sapatas;

h) no caso de rugosidade na parte externa do pilar (base) e na parte interna do cálice, além das
forças de atrito, existe também a transmissão das forças por dentes de cisalhamento;

i) com rugosidade, a força normal do pilar chega à base do cálice distribuída na área
correspondente ao pilar mais o colarinho.
No caso de paredes lisas ocorre flexão nas paredes 1 e 2 devido às pressões do pilar, e é
significativa apenas na parte superior da parede 1, devendo ser prevista nessa região uma
armadura Asl, calculada conforme o item 2.4.1.

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b) Transmissão entre as paredes

a) Transferência de esforços: cálice de paredes lisas c) Comportamento como consolo


FIGURA 10. Transmissão de esforços em cálices (figs. 4.80 e 4.81, El Debs, 2000)

2.3. Verificação da punção na base do elemento de fundação


Principalmente no caso de sapatas, em que a espessura da base é pequena, quando
comparada com a dos blocos, há a possibilidade de haver punção, provocada pela parcela da
força normal do pilar que chega ao fundo do cálice (base da sapata).
No caso de superfícies rugosas, como já visto, conforme o item 6.4.3 da NBR 9062
(rugosidade mínima de profundidade 1,0 cm a cada 10,0 cm), admite-se que toda a força no pilar
seja transmitida à fundação pela interface (paredes) dos elementos, e nesse caso a punção deverá
ser verificada admitindo-se que o pilar tenha as dimensões externas do colarinho (figura 14).
No caso de superfícies lisas, de acordo com a NBR 9062, item 6.4.5, a parte do elemento
de fundação abaixo do plano da superfície inferior do pilar deve ser verificada à punção
admitindo como área de aplicação da força as dimensões internas do encaixe (figura 14),
considerando os seguintes valores para a força de punção:
a) Ngld correspondente à carga aplicada pelo pilar por ocasião da montagem e antes de se
efetivar a ligação entre o pilar e o elemento de fundação;
b) Nd se as paredes do pilar e cálice forem consideradas lisas (item 6.4.3) e não houver
armadura de suspensão (item 6.4.4);
c) 0,3⋅Nd se as paredes forem consideradas lisas mas houver armadura de suspensão;
Em nenhuma dessas três situações, a altura da base poderá ser inferior a 20 cm, conforme
indicado na figura 9.

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2.4. Dimensionamento do cálice


As recomendações aqui apresentadas são as de EL DEBS (2000), baseadas naquelas
dadas por LEONHARDT (1978), em que são consideradas duas situações limites já comentadas:
paredes do pilar e do cálice lisas e paredes rugosas. No caso de paredes lisas não são
consideradas as forças de atrito que podem ocorrer.
Antes de se efetuar o dimensionamento propriamente dito, ou seja, cálculo das áreas das
armaduras, é conveniente apresentar um esquema geral das diversas armaduras do cálice de
fundação (figura 11), válidas tanto para situações de paredes lisas quanto para os casos de
paredes rugosas.

Ashp − armadura para transmitir Hsup (Hod);


Asvp − armadura do tirante (consolo);

Asl − armadura de flexão da parede 1


(para paredes lisas);
Asv e Ash − armaduras secundárias de
distribuição e costura.

FIGURA 11. Esquema geral das armaduras do cálice (fig. 4.83, El Debs, 2000)

2.4.1. Armadura de flexão na parte superior da parede


Como já adiantado, a parte superior da parede 1 sofre flexão devido às pressões causadas
pelo pilar, e as solicitações podem ser calculadas conforme indicado na figura 12.

FIGURA 12. Esforços e armadura na parte superior da parede 1 (fig. 4.85, El Debs, 2000)

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Com os momentos fletores calculados com o esquema estático do quadro da figura 12, a
armadura Asl é dimensionada para uma seção com altura igual a largura da parede 1 (dimensão
na direção do plano de atuação do momento fletor, Lpar1 ) e largura (dimensão perpendicular ao
plano de atuação do momento) igual a Leng/3. A armadura deve ser disposta nessa região. A
tensão de contato deve ser limitada a 0,6⋅fcd.

2.4.2. Cálculo da armadura longitudinal superior nas paredes longitudinais do cálice


A armadura superior nas paredes 3 e 4 Ashp, responsável pela transmissão da força Hd,sup
proveniente da parede 1 e que deve ser disposta na região superior dessas paredes pode ser
calculada, para cada parede, (figura 10a) com a expressão:

H d,sup 1,4 ⋅ H sup


A shp = =
2 ⋅ f yd 2 ⋅ f yd

2.4.3. Cálculo da armadura transversal nas paredes longitudinais do cálice


As paredes longitudinais 3 e 4 têm comportamento semelhante ao dos consolos (no caso,
um consolo engastado na base, figura 10c e figura 13), e a armadura vertical Asvp pode ser
dimensionada com a teoria válida para os consolos curtos e muito curtos, sendo a distância y do
ponto de aplicação da força Hd,sup/2 a partir da face superior da parede igual a 0,167⋅Leng para
paredes lisas e 0,150⋅Leng para paredes rugosas.

(l c − y)
β = ar c tg
(0,85 ⋅ h ext − h c / 2)

h bie
= 0,15 ⋅ h ext ⋅ sen β
2

H d,sup
Rc =
2 ⋅ cos β
H d ,sup
Fvd = ⋅ tg β
2

FIGURA 13. Comportamento da parede como consolo (fig. 4.86, El Debs, 2000)

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a) Consolo curto (tg β > 0,5)

Fvd
A svp =
f yd

b) Consolo muito curto (tg β ≤ 0,5)


Na NBR 9062, item 7.3.5.4, a armadura para consolos muito curtos é calculada com a
teoria de atrito cisalhamento, adaptada para a parede:

1  0,8 ⋅ H d ,sup  1  0,8 ⋅ Fvd 


A svp = ⋅  
 ou A svp = ⋅  
f yd  2⋅µ  f yd  µ ⋅ tg β 

devendo-se empregar para µ os seguintes valores:


• µ = 1,4 para concreto lançado monoliticamente;
• µ = 1,0 para concreto lançado sobre concreto endurecido intencionalmente rugoso com
profundidade de 5 mm a cada 30 mm;
• µ = 0,6 para concreto lançado sobre concreto endurecido com interface lisa.

2.4.4. Cálculo das armaduras de suspensão e secundárias


Pode ser colocada uma armadura de suspensão em todo o contorno do encaixe
(figura 14) quando as paredes externas da base do pilar e interna do encaixe forem lisas e se
desejar reduzir a força normal proveniente do pilar na base da fundação, de modo a diminuir a
possibilidade de punção, como já visto no item 2.2, com o seguinte valor:

0,7 ⋅ N d
A s,sus =
f yd

FIGURA 14. Punção na base e armadura de suspensão (fig. 4.92, El Debs, 2000)

As armaduras construtivas Asv e Ash (figura 11) podem ser determinadas conforme as
indicações para consolos curtos ou muito curtos.

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2.5. Verificação da biela comprimida


A verificação da compressão da biela das paredes longitudinais (paredes 3 e 4) é feita
como nos consolos (figura 13), para as duas situações:

a) Consolo curto
Rc
σc = ≤ 0,85 ⋅ f cd
h bie ⋅ L par

onde Lpar é a largura da parede (dimensão perpendicular ao plano de atuação do momento fletor).

b) Consolo muito curto


No caso de consolos muito curtos, a verificação apresentada pela NBR 9062 é baseada no
conceito de atrito-cisalhamento, supondo ruptura ao longo do plano de ligação do consolo com
seu suporte (no caso, da parede com a base da fundação). A verificação, neste caso, é feita a
partir da tensão tangencial de referência τwd atuante, limitada ao valor da tensão última τwu:

3,0 + 0,9 ⋅ ρ ⋅ f yd (MPa )


H d,sup 
τ wd = ≤ τ wu ≤  0,30 ⋅ f cd
2 ⋅ L par ⋅ (h ext − h c / 2 )  6 MPa

onde:
A svp
ρ= é a taxa geométrica de armadura do tirante;
L par ⋅ (h ext − h c / 2 )

Asvp é a área total de aço concentrada no tirante;


Lpar é a largura da parede (dimensão perpendicular ao plano de atuação do momento fletor);
hext é o comprimento total da parede (figura 13);
fyd ≤ 435 MPa.

2.6. Detalhes e disposições construtivas


Na figura 15 apresenta-se o arranjo das armaduras para consolos com grande
excentricidade da força normal [(M/N⋅h) ≥ 0,15], que é a situação mais geral, sendo h a
dimensão do pilar paralela ao plano de ação do momento fletor M, e na figura 16 está o arranjo
para situações de consolos com pequena excentricidade [(M/N⋅h) < 0,15].

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FIGURA 15. Armaduras em consolos de grande excentricidade (fig. 4.90, El Debs, 2000)

FIGURA 16. Armaduras em consolos de pequena excentricidade (fig. 4.90, El Debs, 2000)

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No projeto dos cálices de fundação devem ser observadas as seguintes disposições


construtivas, algumas já citadas ao longo do texto:
a) o concreto de preenchimento deve ter resistência no mínimo igual a do pilar ou do colarinho,
e deve ser adensado com vibrador de agulha;
b) o espaço mínimo entre as paredes do colarinho e o pilar deve ser suficiente para permitir a
entrada de vibrador; não deve ser inferior a 50 mm, a não ser que seja empregado graute
auto-adensável;
c) a espessura mínima da parede do colarinho não deve ser inferior a um terço da menor
dimensão interna do colarinho, nem menor que 10 cm (figura 9);
d) o comprimento do embutimento deve ser maior que 40 cm;
e) o cobrimento da armadura posicionada na face interna do cálice pode ter cobrimento menor
que o das demais armaduras;
f) a espessura da base do cálice não deve ser inferior a 20 cm;
g) no caso de paredes lisas, é conveniente a colocação de uma armadura transversal (estribos)
na base do pilar para resistir a uma força cortante no valor de Hd,inf, o que resulta em uma
armadura mais densa na região (ver item 2.2);
h) ainda para paredes lisas, deve-se colocar uma armadura em forma de U na base do pilar para
resistir ao esforço Hd,inf (Ash = Hd,inf/fyd), conforme a figura 17;
i) deve-se verificar a ancoragem da armadura na extremidade do pilar (figura 17), para paredes
lisas, considerando seu inicio na posição y a partir da face superior da parede (ver item
2.4.3);
j) em situações de paredes rugosas deve ser verificada a emenda por traspasse entre a armadura
do pilar e a armadura vertical do colarinho.

FIGURA 17. Armadura na base do pilar com paredes lisas (fig. 4.91, El Debs, 2000)

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