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REPENSAR

E RE-PARIR
UMA INTERPRETAÇÃO DAS TRAJETÓRIAS
DE AGAR E REBECA PARA RECONHECER E
VALORIZAR A VIDA DAS MULHERES

"Quem não se movimenta, não sente as corretes que o prendem."

Rosa Luxemburgo

Repensando as relações entre nós


Quando pensamos e falamos de uma sociedade tão desigual,

especialmente, no que se relaciona às relações de gênero, um dos

primeiros passos é repensar como agimos e nos posicionamos. Repensar

significa, também, re-parir, ou seja gestar novos jeitos viver como

mulheres e homens. Assim, no segundo roteiro de encontros da PJ do RS,

fertilizando a Campanha Nacional de Enfrentamento aos Ciclos de

Violência Contra a Mulher, vamos seguir na caminhada e esbarrar com

Agar e Rebeca, no livro de Gênesis. Essas duas mulheres, entre outras

que são mencionadas no livro, nos provocam a pensar sobre o projeto de

vida baseado na igualdade.

Objetivo do encontro
Compreender o patriarcado, como uma cultura infértil, revisitando a

história de Agar e Rebeca. Pensar como o “ser mulher” está ligado ao

papel da reprodução, revendo os conceitos de romantização ou

culpabilização da maternidade. Repensar nossas relações pessoais com

a figura da mulher-mãe.
Vale lembrar, prepare um ambiente aconchegante e receptivo. Bíblia,

panos coloridos, velas, vasilha com água, pequenos cartões de papel e a

representação de correntes podem compor o ambiente.

Observação: Para os grupos que desejarem, este roteiro pode ser dividido em duas partes: um

encontro pode ser realizado até o item 5 e retomado em um outro momento a partir do número 6. Se o

grupo assim desejar fazer, aconselhamos que após o item 5 seja feita a oração da campanha nacional

de enfrentamento aos ciclos de violência contra a mulher (ao final do roteiro). Indica-se que a segunda

metade do encontro seja realizada na sequência, garantindo a continuidade da reflexão. O roteiro

também pode ser realizado inteiro, da maneira que está proposto neste subsídio.

1. Acolhida e preparação
Aquele/a que conduz o encontro saúda todos e todas, compondo um

círculo ao redor do ambiente. Pode-se estimular a entoar a canção

Utopia (Zé Vicente).

Coord. motiva: - Como podemos alcançar a utopia se muitos e muitas

seguem acorrentados? (Passa a corrente pela mão de cada um e cada

uma).

2. Olhar a partir da Palavra


Como será a vida de uma serva numa tribo há tanto tempo, como

Hagar é apresentada na Bíblia. Vamos ler: Gn 21, 1-21 (nesse

momento, cada um ou cada uma pode ler um versículo, estimular que

recontem o texto, o que acontece, quem são as personagens, como

se relacionam, por que acontecem determinadas situações, se

necessário reler alguns trechos


3. Gerar dúvidas
Caminhos para interpretação (pistas para provocar a leitura

coletiva ou em trios após a reflexão silenciosa):

#Repensar Agar no contexto da antiguidade e de Abraão - um


dos líderes da tribo a qual Deus dialoga -, repensar como escrevem

sobre Agar, por que será que falam dela assim? Imaginemos o
que faríamos no lugar de Agar, dentro do texto bíblico…

#Agar se posiciona de maneira subversiva frente ao poder,


fazendo memória da resistência das mulheres. No contexto

histórico, as relações de exclusão com mulheres e


estrangeiros/as era validada pelo poder religioso, de
característica patriarcal, assim Agar não podia se aproximar

do sagrado no templo. Ela se encontra com o


sagrado no deserto junto a fonte d’água.
#Agar busca justiça e encontra-se com
Deus, “O quão libertador é essa experiência,

considerando a situação de extrema exclusão

de sua vida (mulher, negra, escrava e estrangeira)?

O que esse encontro nos ensina sobre Deus?” (SANTOS, 2016, web).

#Na memória da escravidão, Deus promete a continuidade de


seu projeto para Agar. Deus encontra Agar, escrava que se liberta.

Ela conversa e enxerga Deus. Agar é a única mulher, na Bíblia,


que fala com Deus. Não é somente o patriarca, líder do clã, que

recebe a tarefa de ter descendentes, tampouco não é só ele que

se encontra com Deus.


4. Ouvir a partir da realidade
Pensando no papel da Agar, vamos ouvir a música Triste, Louca ou

Má (francisco, el hombre), se possível acompanhar a letra da música

para posteriormente destacar trechos, repeti-los ou sublinha-los:

Triste louca ou má
Ela desatinou
Será qualificada
Desatou nós
Ela quem recusar
Vai viver só
Seguir receita tal
Eu não me vejo na palavra
A receita cultural
Fêmea: Alvo de caça
Do marido, da família
Conformada vítima
Cuida, cuida da rotina
Prefiro queimar o mapa
Só mesmo rejeita
Traçar de novo a estrada
Bem conhecida receita
Ver cores nas cinzas
Quem não sem dores
E a vida reinventar
Aceita que tudo deve mudar
E o homem não me define
Que o homem não te define
Minha casa não me define
Sua casa não te define
Minha carne não me define
Sua carne não te define
Eu sou meu próprio lar
Você é seu próprio lar
Ela desatinou
Que o homem não te define
Desatou nós
Sua casa não te define
Vai viver só
Sua carne não te define
5. Discutir para repensar
Alguns pontos para ajudar a destrinchar as realidades:

► Refletir sobre as vezes que julgamos as mulheres apenas por serem quem
elas são. Por exemplo: quantas vezes olhamos para a roupa de uma mulher

e falamos mal? Quantas vezes culpamos uma mulher por ela expressar sua

liberdade? Quantas vezes apontamos o dedo e nos sentimos

incomodadas/os por mulheres que são confiantes de si? Quantas vezes

somos intolerantes com mulheres separadas ou mães que não mantém um

relacionamento? Não será isso um tipo de violência, capaz de silenciar!?

Muitas vezes temos essas atitudes e violamos ou silenciamos as mulheres

que nos cuidam: nossas mães, avós, tias…

► Será que para as mulheres está reservado, somente o papel de cuidar da


rotina da casa, da família? Entre as mulheres jovens talvez seja difícil, mas

conseguimos fazer memória, de nossas vidas, sobre quem atua nas

atividades domésticas? Como e quais são os papéis

sociais de gênero atribuídos aos homens e mulheres?

► Já aprendemos que a Bíblia foi escrita há muitos


séculos atrás, foi traduzida e interpretadas de muitas

formas, mas por acaso o papel único das mulheres é

serem reprodutoras e mães?

► Como os homens agem em relação aos papéis que são designados para
ele em relação às mulheres? (pode-se exemplificar o fato de uma parcela

significativa de homens brasileiros que abandonam @s filh@s, sem realizar de

nascimento, sem tornarem-se cuidadores das crianças).

► Por que os papéis de gênero não estimulam a igualdade entre homens e


mulheres, afinal Deus pensou em seu projeto de vida em abundância para

as mulheres e homens…

► Como podem, os homens, gerar a equidade (justiça, dignidade e


isonomia nas relações).
6. Palavra que gera vida
Conversamos sobre como vemos o “ser mulher” no passado da bíblia e

no presente, e ainda como vivemos constantemente em relações na

sociedade. Sabemos que, as vezes sentimos medo de nos levantar para

combater a morte e gerar vida…

Nos voltemos novamente à Palavra, centrando nossos pés, mentes e

corações na vida das nossas comunidades.

Mantra: Deus é amor, arrisquemos viver por amor


Deus é amor, ele afasta o medo

Vamos ler Gn 24, 17-20 e Gn 24, 50-60

>>> Como agem em relação a Rebeca?

>>> Quais são as atitudes de Rebeca?

Pistas para reflexão:

Rebeca é personagem que apresenta continuidade com

Agar, mulher livre e ativa.

A casa da mãe é prestigiada pois lá as mulheres têm

espaço de poder e decisão.

Projeto de vida na utilização da terra e da água,

defendido por Rebeca.

7. Seguindo os passos das mulheres


até a fonte d'água
As palavras mais frequentes em Gênesis capítulo 24 são:

Javé, beber, mulher, Rebeca, água, terra, fonte, casa.

Escrever em cada um dos cartões de papel, uma das palavras

repetidas. Pedir aos/as jovens que escrevem em torno da palavra

frequente, em duplas ou trios, quais são os significados dessa palavra,

o que elas nos lembram, quando as ouvimos?


Rebeca está próxima de um símbolo importante, aliás, a Palavra se

revela por meio do mistério das pistas e marcas; nessa leitura o

símbolo é o poço-fonte. A fonte nos recorda vida, partilha, lugar de

encontro… (pedir que partilhem o que foi escrito em relação às

palavras frequentes no capítulo).

Além disso, a fonte d’água representa também a mulher que defende,

arrisca, doa e gera a vida. A mulher e a água representam ações que

comunicam a vida. Portanto “Quando o projeto [de Deus, projeto de

vida] é quebrado, a mulher é reduzida a objeto e desaparece.”

(VÁRIOS, 1991, p. 30).

8. Celebrando e assumindo
o compromisso com a vida
Mantra: De noite iremos, de noite
Iremos buscar a fonte,
Só nossa sede nos guia,
Só nossa sede nos guia.
(disponível em: https://youtu.be/yekJwdxx7PQ)

Provocar que as/os jovens escrevam, no verso do cartão:

Quem são as mulheres-protagonistas em minha vida, quem são as

mulheres que atuam no papel de mulher-mãe para mim? Como é a

minha relação com a minha mãe (ou mulher que tem essa função em

minha vida)? Minha relação é de defesa da vida? Eu olho para minha

mãe como uma mulher que tem sonhos, desejos ou só consigo vê-la no

papel de mãe? Pense em como a relação que eu tenho com essa mulher

pode contribuir para ampliar ou para diminuir a violência contra mulher.

Pensando nessas mulheres e nas reflexões do encontro, como podemos

nos comprometer com o cuidado a vida enquanto sujeitos, grupo de

jovens e comunidade? Como que nossa sede pelo reino de libertação

nos aproxima do cuidado para com a vida das mulheres? Como, a

exemplo de Agar e Rebeca, seremos mulheres e homens fonte do

projeto de vida?
*(Pode-se comunicar, em voz alta, ao grupo alguns dos compromissos).

Pedimos Ó Deus da vida, que olhou para as mulheres testemunhas do teu

reino, fonte de vida, volte os seus olhos para nós e nos faça caminhar na

esperança da libertação, por isso, rezemos:

Oração da Campanha Nacional de Enfrentamento


aos Ciclos de Violência Contra a Mulher
Ó Deus-amor que, por meio de seu filho Jesus Cristo, viveu a radicalidade

da opção por vida em abundância para todas e todos, sopre em nós, pela

divina Ruah, o desejo de viver forma de superação aos ciclos de violência

contra as mulheres. Pai e mãe de bondade, que ousa sonhar conosco a

utopia da Civilização do Amor, desafie-nos a ter atitudes concretas que

levem à reflexão aqueles que ainda são agentes das opressões que nos

afastam do Reino. Ensina-nos a ouvir com amor, dando-nos coragem e

empatia para acolher as vítimas das violências. Faça que, através de Ti,

aprendamos a soprar com cuidado a força criadora e criativa necessária

para o processo de cura. Que nós, juventudes do Brasil, tendo como

inspiração seu Evangelho e tendo como instrumento a Campanha

Nacional de Enfrentamento aos Ciclos de Violência Contra

a Mulher, atuemos como entusiastas incentivadoras/es de

relações não competitivas entre as mulheres, auxiliando

a promover em abundância a sensibilidade e ternura que

Sua palavra anuncia. Que Ruah sopre nos cantos do país

para que, em Jesus Cristo, possamos celebrar a felicidade

anunciando a libertação plena a todas as realidades do “ser” mulher.

Assim como nos inspira a força do sim de Maria, a lealdade de Rute e

Noemi, e na determinação de Ester não descansemos até encontrar essa

felicidade.

Amém. Axé. Awere. Aleluia. Txai.


9. Saideira
Música: Nova Civilização

Ciranda pela vida das companheiras.

10. Material de apoio


VÁRIOS. A mulher na sociedade tribal. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 1991.
Era uma vez uma preta que falou com Deus. Por Paloma Nascimento dos Santos. 2016.

<http://projetoredomas.com/era-uma-vez-uma-preta-que-falou-com-deus/>.

Reflexão: Deus escuta o clamor de Agar. Por Bimbo, 2017.<https://cebi.org.br/noticias/deus-


escuta-o-clamor-de-agar-bimbo/>.

Julguem homens que abandonam seus filhos, isso diz muito sobre nós. Por Stephanie
Ribeiro, 2017. Disponível em: <https://www.geledes.org.br/julguem-homens-que-abandonam-

seus-filhos-isso-diz-muito-sobre-nos/>.

11. Dicas para aprofundamento da temática


Divulgação: Mulheres na Bíblia - Profetismo
Identifica sinais proféticos e participativos de mulheres do primeiro testamento

Link: https://cebi.org.br/reflexoes/mulheres-e-profetismo-cebi-planalto/

Vídeo: O sonho impossível?


Apresenta o papel da mulher-multitarefa e provoca novos jeitos de ser mulher e ser homem.

Link: https://www.youtube.com/watch?v=dKSdDQqkmlM&feature=youtu.be

Vídeo: História de Márcio


Para repensar a paternidade e relação com a mulher e o cuidado d@s filhos

Link: https://www.youtube.com/watch?v=AyI45C6GZ2Q

Reportagem: Paternidade Participativa


Para repensar a o ser homem e cuidador-pai

Link: http://www.ebc.com.br/infantil/para-pais/2015/04/paternidade-participativa-o-

papel-dos-pais-contemporaneos

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