Você está na página 1de 8

COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS.

Modelagem Numérica do Aterro Estaqueado Reforçado


Experimental do SESC/SENAC - RJ
Carolina de Albuquerque Cardoso
Eletronuclear, Rio de Janeiro, Brasil, carolac@eletronuclear.gov.br

Anna Laura Lopes da Silva Nunes


COPPE, Rio de Janeiro, Brasil, alaura@coc.ufrj.br

RESUMO: Este trabalho apresenta a validação de um modelo numérico, utilizando o programa de


elementos finitos bidimensional PLAXIS v8.2, a partir do aterro estaqueado reforçado experimental
construído na Sede Nacional do SESC/SENAC no Rio de Janeiro – RJ. A modelagem numérica,
realizada sob um estado plano de deformações, considera as diversas fases construtivas do aterro,
simulando a compactação das camadas e adotando um modelo constitutivo do solo capaz de
representar adequadamente o comportamento do aterro compactado. Foram comparados os valores
numéricos de deslocamento vertical na base do aterro, tração-deformação da geogrelha e a
distribuição das tensões no corpo do aterro durante a sua construção com os valores medidos no
campo. Os resultados mostraram que o programa PLAXIS é capaz de simular adequadamente o
comportamento do aterro estaqueado reforçado estudado. Adicionalmente, foi realizada a simulação
da obra do SESC/SENAC.

PALAVRAS-CHAVE: aterro estaqueado reforçado, argila mole, simulação numérica.

1 INTRODUÇÃO Diante deste cenário, a construção de aterros


estaqueados reforçados se apresenta como uma
Desde a década de 30, diversas obras de solução atrativa técnica, econômica e
engenharia foram realizadas na cidade do Rio ambientalmente dentre as alternativas
de Janeiro e arredores em sítios cujo subsolo convencionais existentes de construção de
apresentava camadas de material compressível aterros sobre camadas espessas de solo moles e
com espessura variando de 6 a 15m. vem sendo cada vez mais utilizada nos últimos
Atualmente, o Rio de Janeiro vem sendo 15 anos.
cenário de várias destas obras na região da A transferência de cargas em um aterro
Barra da Tijuca e Recreio, que apresenta um estaqueado reforçado ocorre através da
crescimento imobiliário acelerado e possui combinação do efeito do arqueamento no solo,
camadas de solos moles com até 18m de da membrana tracionada e da rigidez relativa
espessura (Almeida et al. 2008). entre estacas e solo de fundação (Han & Gabr,
A utilização da técnica de aterro estaqueado 2002). Entretanto, o mecanismo pelo qual as
reforçado apresenta diversas vantagens quando cargas atuantes são transferidas para o
comparada a outras técnicas de construção de geossintético ainda não é completamente
aterros sobre solos moles, tais como a conhecido e as maiores dificuldades consistem
minimização dos recalques pós-construtivos, a em avaliar o grau de arqueamento e a tensão
rapidez de execução e redução de danos mobilizada no reforço.
ambientais, pois não causa distúrbios no solo de Desta forma, a modelagem numérica permite
fundação e nem altera sua composição natural estudar o comportamento do complexo sistema
(Kempfert et al., 1997), além de aumentar a existente em aterros construídos sobre estacas.
garantia de estabilidade do aterro (Sandroni, Este trabalho valida um modelo numérico
2006). com o intuito de avaliar a distribuição de

1
COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS.

tensões e deformações em aterros estaqueados capitéis moldados in loco de 0,8 x 0,8 x 0,35m
reforçados a partir de um aterro estaqueado e aterro com 1,3m de altura.
experimental construído no Rio de Janeiro. As estacas utilizadas eram pré-moldadas de
Após a validação do modelo numérico concreto de seção quadrada com 0,18 x 0,18m e
proposto, o mesmo foi utilizado para a capacidade estrutural de 35kN, atingindo
simulação da obra do SESC/SENAC, a qual profundidades entre 16 e 20m. Toda a área
possui configuração semelhante à seção do experimental foi reforçada por uma geogrelha
modelo numérico validado. bidimensional de resistências nominais
longitudinal e transversal iguais a 200kN/m e
rigidez variando entre 1.200 e 1.400kN/m
2 CASO DE ESTUDO (Spotti, 2006).
Foram realizadas escavações com 1m de
A área experimental do aterro estaqueado profundidade abaixo do trecho instrumentado
reforçado localiza-se na Sede Nacional do para acelerar a mobilização de cargas do
SESC/SENAC no Rio de Janeiro – RJ e foi sistema e, conseqüentemente, a obtenção rápida
monitorada por cerca de 190 dias por SPOTTI dos resultados do monitoramento. Um trecho da
(2006). seção experimental 1 não foi escavado para
O perfil típico da região da obra é efeito de comparação com os valores medidos
constituído por uma camada superficial de turfa na área escavada.
com 1 a 2m de espessura sobrejacente a uma O monitoramento da seção experimental 1,
camada de argila orgânica muito mole com consistiu em três placas de recalque, uma célula
espessura variando de 2 a 13m. Sob a camada de tensão total e onze medidores de
argilosa encontra-se uma camada de solo deformações, conforme apresentado na Figura
arenoso e de solo residual. Ensaios de 1.
caracterização indicaram um depósito de baixa
resistência e alta compressibilidade com
umidade elevada, variando de 100 a 500%.
A área experimental monitorada estava
localizada no fundo do terreno, região com uma
camada de argila orgânica muito mole com 10m Figura 1. Esquema da seção experimental 1 modelada.
de espessura. O aterro estaqueado reforçado na
área experimental atingiu alturas entre 1,1 e
1,3m e foi construído em um período de 3 MODELAGEM NUMÉRICA
aproximadamente 35 dias.
A construção do aterro sobre a área 3.1 Considerações Gerais
experimental foi realizada em algumas etapas
de carregamento. A primeira etapa consistiu em Os estudos numéricos realizados respeitaram a
uma camada de areia com 0,20m de espessura seqüência construtiva do aterro, simulando a
para proteção dos equipamentos de compactação das camadas, o tempo de
instrumentação e as camadas seguintes eram construção e a espessura de cada camada.
compostas por aterro de primeira categoria O cálculo das tensões in situ foi realizado
(silte arenoso, pouco argiloso) com 0,30m de pelo procedimento através do coeficiente de
espessura, compactado com rolo pé-de-carneiro empuxo no repouso K0 disponibilizado pelo
CA25 e selagem com rolo liso a 95% do PLAXIS v8.2. com introdução de valores de K0
Proctor Normal (Spotti, 2006). pelo usuário. Este coeficiente foi calculado em
A seção modelada numericamente foi a função do ângulo de atrito φ pelas equações 1 e
seção experimental 1. Esta seção apresentava 2 a seguir, para solos normalmente adensados e
uma configuração tridimensional com pré-adensados, respectivamente:
espaçamento de 2,5m entre os eixos das estacas,
K 0 = 1 − senφ (1)

2
COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS.

K 0 = (1 − senφ).OCR senφ (2) Tabela 1. Modelagem do processo executivo.


Modelo de
Construção Características
O aterro pré-existente, a areia da camada Numérico
drenante e o aterro novo foram modelados Tempo de Modelagem das etapas de
utilizando o modelo constitutivo Hardening compactação nulo compactação com tempo igual a
Soil. (TC0) zero
Tempo de Modelagem das etapas de
As estacas e os capitéis foram simulados compactação compactação com tempo igual ao
pelo elemento viga (beam) fornecido pelo mínimo (TCM) mínimo permitido pelo PLAXIS
PLAXIS. Já a geogrelha foi simulada pelo Compactação Etapas de compactação
elemento geogrelha (geogrid). incluída na modeladas na mesma etapa de
As análises iniciais apresentaram uma construção da cálculo do lançamento da camada
camada (CIC)
ruptura na construção das camadas iniciais do
aterro na região sobre a cavidade. Assim,
A modelagem do caso histórico contemplou
adotou-se um artifício que consistiu em
uma avaliação de dois modelos constitutivos
preencher a mesma por um material de
disponíveis para a argila mole de fundação,
comportamento linear elástico e rigidez muito
Hardening Soil e Soft Soil. Esta avaliação visou
baixa. Este material foi denominado de
auxiliar na escolha do modelo que melhor
“gelatina”.
representasse o comportamento tensão-
As etapas construtivas foram calculadas
deformação do material de fundação sob as
considerando adensamento através da opção
tensões impostas pela construção do aterro.
Consolidation do programa baseada na Teoria
Os valores de recalques obtidos utilizando o
de Biot (1941), com atualização de malha e de
modelo Soft Soil apresentaram valores
poropressões em cada etapa.
ligeriamente superiores aos do Hardening Soil.
A tensão vertical induzida pela compactação
Desta forma, ambos os modelos constitutivos
foi simulada como uma carga uniformemente
estudados apresentam-se adequados para
distribuída, segundo o procedimento proposto
simular o carregamento da argila mole devido à
por Ehrlich & Mitchell (1994). Utilizando-se as
construção do aterro.
características do rolo compactador e os
A camada de argila mole é submetida a uma
parâmetros do solo, obteve-se uma tensão
faixa de tensões abaixo da tensão de pico
vertical induzida pela compactação de
determinada por ensaios triaxiais do tipo CIU
112,6kPa.
realizados neste material. Desta forma, na faixa
Na modelagem da compactação surgiu uma
de tensões atuantes, espera-se uma redução
questão importante, oriunda da decisão em se
volumétrica com conseqüente aumento da
considerar o adensamento da camada de argila
rigidez do solo compressível, ou seja, um
mole: como modelar o tempo de aplicação da
endurecimento volumétrico. Assim, foi adotado
carga imposta pelo rolo compactador no
o modelo constitutivo não linear Hardening Soil
campo? Para tal, consideraram-se três modelos
para a camada compressível.
de construção numéricos distintos para
Com o objetivo de otimizar o tempo de cada
simulação do processo executivo, os quais
modelagem foi realizado um estudo
diferiam em relação ao tempo de aplicação da
comparativo sobre a influência do tamanho da
sobrecarga imposta pelo rolo compactador,
malha (fina e média) nos valores de recalque
conforme descrito na Tabela 1.
calculados. Os valores obtidos com a malha fina
Adicionalmente, foram realizados estudos
não apresentaram variação significativa em
visando um melhor entendimento de alguns
relação aos valores da malha média. Desta
procedimentos e elementos do programa e a sua
forma, as modelagens consideraram uma malha
influência nos valores calculados, a saber: (i)
média.
estudo para avaliar o modelo constitutivo para a
camada de argila mole; (ii) estudo para verificar
3.2 Geometria e Condições de Contorno
a influência do tamanho das malhas fina e
média nos valores de recalques.
A geometria considerada foi determinada a

3
COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS.

partir dos perfis geológico-geotécnicos da área 3.3 Parâmetros Geotécnicos


do SESC/SENAC ao final da primeira etapa da
obra, que indicaram nível d’água a cerca de 1m Os parâmetros geotécnicos utilizados foram
de profundidade, e da configuração da seção estimados a partir dos resultados de ensaios de
experimental 1. A Figura 2 apresenta a seção campo e de laboratório realizados na argila e no
adotada. material silte arenoso proveniente da jazida. Os
6,25m
parâmetros da camada drenante e da “gelatina”
foram obtidos da literatura.
0,7m 1,3m

1m O parâmetro utilizado para a geogrelha é a


rigidez elástica axial do elemento, sendo
adotado o valor de 1.200kN/m.
Na modelagem das estacas e capitéis os
parâmetros mais relevantes são a rigidez à
flexão, a rigidez normal e a espessura da parede
equivalente. Esses parâmetros foram calculados
10m

considerando um módulo de elasticidade do


concreto de 3,00 x 107kPa e da geometria de
cada elemento.
Para a argila mole, os parâmetros de
resistência adotados foram estimados de ensaios
no material coletado do sítio do Sarapuí,
Figura 2. Geometria da seção modelada numericamente. localizado no município de Duque de Caxias,
RJ. Os ensaios realizados em amostras
Adotou-se o aterro da primeira etapa da obra coletadas da camada compressível da área do
com 0,70m de altura. O restante do mesmo SESC/SENAC apresentaram um valor bastante
(“submerso” devido aos recalques) foi elevado para o ângulo de atrito efetivo da argila
modelado como argila mole. mole, φ’ = 40°, possivelmente devido ao teor de
Devido à construção de um colchão drenante matéria orgânica presente. Os demais
na base do aterro e da existência da camada de parâmetros adotados foram estimados a partir
areia sob a argila mole foi adotada uma análise de ensaios realizados na argila mole da área de
drenada, com dupla drenagem e percolação da estudo.
água para o topo e base da camada de argila. A A variação da razão de pré- adensamento
modelagem desta dupla drenagem foi realizada OCR com a profundidade na área do aterro é
impedindo-se a saída de água pelas fronteiras crescente até 4,0m de profundidade, a partir daí
laterais do modelo, através do dispositivo apresenta um valor constante de 1,5. As
“Closed flow boundary” disponível no simulações consideraram um valor de OCR de
PLAXIS. 1,5 constante com a profundidade.
Na base da argila mole foram restritos os As Tabelas 2 e 3 apresentam os parâmetros
deslocamentos verticais e horizontais. Nas geotécnicos adotados para a camada
fronteiras laterais, os deslocamentos horizontais compressível e para os demais materiais,
foram restritos, sendo possível somente a respectivamente.
ocorrência de deslocamentos verticais.
A geometria possui dupla simetria, onde um Tabela 2. Parâmetros da argila mole.
eixo de simetria passa no centro de uma Parâmetro Valor
γ (kN/m³) 12,5
cavidade e o outro pelo centro de um sistema
c' (kPa) 3,3
capitel/estaca. Os valores calculados pelo φ' (°) 24
PLAXIS que serão utilizados encontram-se sob kx = ky (m/dia) 8,64.10-5
a cavidade do eixo de simetria e no capitel E50 (kPa) 500
adjacente a esta cavidade. Eoed (kPa) 500
Eur (kPa) 1.500
OCR 1,5

4
COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS.

Tabela 3. Parâmetros dos aterros novo, pré-existente e bastante inferiores aos resultados da
camada drenante. instrumentação na placa PR 03. A maior
Aterro Pré- Camada
Parâmetro Aterro Novo
Existente Drenante
diferença foi observada no modelo TC0, 23,8%
do valor lido no campo. Os modelos TCM e
γ (kN/m³) 18,0 18,0 17,5
CIC apresentaram recalques iguais a 52,8% e
c' (kPa) 1,0 1,0 0 72,2%, respectivamente, do valor medido no
φ' (°) 49 35 35 campo.
k x = ky
2,592.10-3 2,592.10-3 1,0  
(m/dia) 1,50
TC0

E50 (kPa) 8.000 8.000 6.500 1,25


TCM
CIC
PR 03

Altura do Aterro (m)


PR 07

Eoed (kPa) 5.000 5.000 6.500 1,00


PR 08
Altura do Aterro

Eur (kPa) 24.000 24.000 19.500 0,75

OCR - 1,2 - 0,50

K0 0,245 0,473 0,426 0,25

m 0,5 0,5 0,5


0,00

Recalque (m)
-0,25

A “gelatina” foi simulada segundo a lei de


Hooke. Os parâmetros adotados são -0,50
0 5 10 15 20
Tempo (dias)
25 30 35 40

apresentados na Tabela 4. Figura 3. Curvas recalques experimentais e numéricos vs.


tempo devido à construção do aterro.
Tabela 4. Parâmetros da “gelatina”.
Parâmetro Valor Comparando-se os resultados das simulações
γ (kN/m³) 17,9 numéricas com as placas PR 07 e PR 08,
k (m/dia) 1 verifica-se novamente que o modelo TC0
apresentou um recalque muito inferior ao do
E (kPa) 100
monitoramento (47,1%). No modelo TCM
ν 0,2 obteve-se resultados mais consistentes, com
recalque 11,8% superior ao destas placas. Já o
modelo CIC apresentou um deslocamento
vertical muito superior ao medido, 52,9%.
4 RESULTADOS
Em relação à distribuição das tensões no
Analisando os valores de recalque numéricos interior do aterro, no modelo TC0 observou-se
obtidos segundo os três modelos de construção que as tensões atuantes são praticamente
numéricos, apresentados na Figura 3, observa- uniformes e devidas somente ao peso geostático
se que o modelo de construção numérico TC0 destas camadas. Após a compactação da
apresentou os menores valores de primeira camada de aterro, a aplicação da carga
deslocamentos verticais em relação aos demais de compactação promoveu imediatamente uma
modelos e o modelo CIC apresentou os maiores redistribuição das tensões atuantes na massa de
valores de recalques. Este comportamento solo do aterro (Figura 4a).
ocorreu devido à modelagem da compactação.  
Os recalques numéricos foram comparados
com os valores medidos na placa de recalque
PR 03, localizada no meio do vão entre quatro
capitéis e com as placas PR 07 e PR 08,
localizadas no meio do vão entre dois capitéis (a) TC0 (b) TCM
Figura 4. Distribuição das tensões para: (a) o modelo de
(Figura 1). construção numérico TC0 ao final da construção do
Analisando as curvas recalque vs. tempo aterro e (b) o modelo TCM em uma etapa de
(Figura 3), verificou-se que os recalques compactação.
calculados pelo programa PLAXIS foram

5
COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS.

No modelo TCM, observou-se que a tensão apresentou valores do coeficiente de


geostática decorrente do lançamento da camada arqueamento variando de 0,52 a 0,79 ao longo
é suportada imediatamente pelo reforço sobre a da construção do aterro, onde o valor mínimo
cavidade, região menos rígida do sistema, e não foi verificado na etapa de cálculo numérica
há desenvolvimento do arco. Já a tensão correspondente ao lançamento da última
induzida pela compactação está localizada na camada do aterro e o valor máximo na
camada que está sendo compactada sobre o construção da camada drenante. Este resultado
reforço acima da cavidade, novamente na indica que, devido à reduzida altura do aterro,
região menos rígida (Figura 4b). Cabe ressaltar, não houve arqueamento suficiente para
que a tensão elevada verificada na camada que concentrar cargas nos capitéis e aliviar as
está sendo compactada não se propaga até a tensões no reforço ao final da construção da
base do aterro, assim a compactação induziu camada drenante. Entretanto, com o alteamento
arqueamento no interior do aterro. do aterro o efeito do arqueamento se manifestou
No modelo CIC, a partir da etapa de de forma mais eficiente.
lançamento e compactação da 1ª camada de
aterro, observou-se um comportamento Tabela 5. Coeficiente de arqueamento ao final da
semelhante ao da respectiva etapa no modelo construção do aterro.
Modelo de Construção Coeficiente de
TCM. A tensão geostática e a tensão induzida Numérico Arqueamento
pela compactação promovem a formação do
TC0 0,52
arco, além de ser verificada uma tensão elevada
na camada que está sendo compactada na região TCM 3,50
sobre a cavidade. CIC 0,74
Os valores de tensão obtidos no modelo TC0
são bastante próximos da tensão geostática O modelo CIC apresentou o coeficiente de
calculada através do peso específico e altura de arqueamento variando de 0,74 a 0,79. Os
cada camada construída (σv=γ.h). No modelo valores máximo e mínimo foram observados
TCM, verificou-se uma tensão elevada nas mesmas etapas de cálculo numéricas que o
(150kPa) nos capitéis durante a modelagem da modelo TC0.
compactação (etapas 3, 5, 7 e 9) e tensões Comparando-se os resultados do
reduzidas nas demais etapas (12kPa). arqueamento, percebe-se o desenvolvimento
Corroborando o comportamento descrito mais eficiente do arco no modelo TC0 do que
anteriormente. no modelo CIC. Este comportamento é
No modelo CIC verificou-se um decorrente do tipo de modelagem da
comportamento distinto, onde as tensões sobre compactação de cada um dos modelos.
o capitel foram bastante elevadas (150kPa) a O monitoramento das tensões da área
partir da construção da primeira etapa do aterro experimental foi realizado por meio da célula
(etapa 2). de tensão total CP 03, que apresentou uma
A eficiência do efeito do arqueamento pode tensão máxima de 32kPa. Spotti (2006) também
ser analisada a partir do Coeficiente de relata que para valores de altura do aterro de
Arqueamento. Este parâmetro indica a parcela cerca de 0,8m a célula de tensão apresentou
da carga imposta pelo aterro suportada pelo problema de funcionamento. Assim, a tensão
solo mole ou pelo reforço, quando existente. sobre o capitel ao final da construção do aterro
Analisando os valores calculados (Tabela 5), não pode ser determinada no campo.
observa-se que no modelo TCM, o coeficiente Em relação à instrumentação de campo, a
de arqueamento ao final do alteamento foi igual simulação numérica TC0 apresentou um valor
a 3,5, o que é fisicamente impossível, pois a bastante satisfatório. A tensão máxima neste
carga no solo mole seria maior que a carga modelo foi verificada ao final do alteamento do
aplicada. Neste caso, não há a formação do aterro e este valor corresponde à terceira fase de
arco, conforme comportamento já descrito. construção do aterro medida pela célula CP 03.
O modelo de construção numérico TC0 Os modelos de construção numéricos TCM e

6
COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS.

CIC apresentaram uma tensão máxima ao final capitéis. Este trecho possui configuração
da construção do aterro correspondente à 33% e semelhante à da obra do aterro estaqueado do
500% da tensão medida pelo transdutor, SESC/SENAC.
respectivamente. Como o objetivo de comparar os resultados
A seção 1 do aterro experimental foi da simulação numérica foram realizadas
instrumentada com medidores de deformação análises da seção 1 da área experimental não
instalados diretamente na geogrelha. Calculou- escavada. Analisando os recalques experimental
se analiticamente a deformação a partir da e numéricos (Tabela 6), observa-se que os
tração numérica mobilizada no reforço e da deslocamentos verticais foram bastante
rigidez do reforço. satisfatórios para os modelos TCM e CIC. Para
Os resultados (Figura 5) são compatíveis o modelo TC0, o valor obtido corresponde a
com os valores de recalque e de tensões 20% do valor medido no campo.
observados nos três modelos de construção
numéricos. O modelo de construção numérico Tabela 6. Recalques numéricos e experimental.
TC0 apresentou valores de deformação da Campo Simulação Numérica
geogrelha aumentando linearmente com o Placa de Recalque
Modelo de Construção
alteamento do aterro até o máximo de 0,9%. No Numérico
modelo TCM foi verificado o mesmo PR 04 TC0 TCM CIC
comportamento com deformação máxima de 0,10m 0,02m 0,08m 0,10m
3,7% ao final da construção do aterro. No
modelo CIC as deformações foram bastante Adicionalmente, foram realizadas análises
elevadas atingindo até 6,3%, em decorrência do numéricas considerando 2 e 3 anos após o final
efeito da compactação na simulação numérica. da construção do aterro estaqueado reforçado.
Os resultados indicam que o recalque observado
7
(0,10m) praticamente se estabilizou dois anos
MD 01
6
MD 02 após o término da construção do aterro
MD 03
estaqueado reforçado, não sendo registrado um
Deformação da Geogrelha (%)

5 MD 05
MD 09
MD 06
acréscimo no deslocamento vertical.
4
MD 10
MD 07
3
MD 08
MD 11
2 MD 12 6 CONCLUSÕES
TC0
1 TCM
CIC
Este trabalho apresentou a validação de um
0
Medidor de Deformação1e Simulação Numérica modelo numérico a partir de um aterro
experimental monitorado. As análises foram
Figura 5. Comparação entre as deformações analíticas e
experimentais.
realizadas utilizando o programa PLAXIS v8.2,
o qual modelou de forma consistente o
Comparando os valores de deformação comportamento do aterro estudado.
calculados analiticamente com os valores do Analisando todos os resultados registrados
monitoramento (Figura 5), verifica-se que nos da modelagem, sugere-se como modelo de
modelos TCM e CIC a deformação analítica foi construção numérico mais adequado para
superior à deformação de campo. Já no modelo simular o processo construtivo de um aterro
TC0, a deformação calculada foi inferior a estaqueado reforçado o modelo TCM, apesar
praticamente todos os valores do campo. deste modelo mascarar o efeito de conjunto em
relação à tensão.
A partir das simulações numéricas, algumas
5 MODELAGEM DO CASO REAL conclusões podem ser apresentadas:
(i) A modelagem da argila mole segundo o
A seção experimental 1 possuía um trecho modelo constitutivo Hardening Soil simulou de
onde não foi realizada a escavação entre os forma adequada o comportamento tensão-

7
COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS.

deformação do material na faixa de tensões numéricos;


atuantes no aterro; (xiv) A deformação obtida na simulação
(ii) O programa PLAXIS não simulou de forma numérica mais compatível com o
consistente a cavidade entre os capitéis, monitoramento foi o modelo TC0. No modelo
exigindo a utilização do artifício da “gelatina”; CIC, a deformação ao final do alteamento do
(iii) A modelagem da obra do SESC/SENAC, aterro foi muito superior ao valor de campo.
sem a cavidade, apresentou valor de recalque
bastante compatível com o monitoramento do
trecho não escavado da área experimental; AGRADECIMENTOS
(iv) Indisponibilidade pelo programa de carga
móvel, desta forma a modelagem da À HUESKER pelas sugestões e disponibilidade
compactação é realizada através de uma carga em colaborar com esta pesquisa.
estática;
(v) O programa PLAXIS v8.2 tende a simular
com mais consistência os recalques em uma REFERÊNCIAS
geometria com configuração de campo 2D e
tende a subestimar o deslocamento vertical Almeida, M.S.S., Marques, M.E.S., Miranda, T.C. &
quando comparado a um arranjo 3D; Nascimento, C.M.C. (2008). Lowland reclamation in
urban areas. XIV Congresso Brasileiro de Mecânica
(vi) O modelo de construção numérico TC0 dos Solos e Engenharia Geotécnica (COBRAMSEG),
apresentou o menor valor de recalque e o III Simpósio Brasileiro de Jovens Geotécnico, III
modelo CIC, o maior deslocamento vertical. Simpósio Brasileiro de Investigações de Campo,
(vii) Para pequenas alturas do aterro uma carga TC41 Workshop Internacional de Infra-estrutura
maior é transferida ao reforço, com o Urbana. Búzios, v.1, pp. 275-295.
Brinkgreve, R. B. J. (2004). Finite Element Code for Soil
alteamento evidencia-se a ocorrência do efeito and Rock Analyses-PLAXIS-2D Manual de
do arqueamento; Referencia. Rotterdam, Netherlands.
(viii) As tensões efetivas verticais atuantes em Cardoso, C.A. (2009). Estudos numéricos de aterros
cada uma das etapas de cálculo do modelo TC0 estaqueados reforçados com geogrelha, Dissertação
foram próximas à tensão geostática; de Mestrado, COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, 240p.
Ehrlich, M. & Mitchell, J. K. (1994). Working stress
(ix) O comportamento do modelo TCM design method for reinforced soil walls. Journal of
encobriu o efeito de conjunto nas etapas de Geotechnical Engineering, v. 120, n.4, p. 1-21.
compactação, ignorando o efeito do Han, J. & Gabr, M. A. (2002). Numerical analysis of
arqueamento. Em conseqüência, os resultados geosynthetic-reinforced and pile-supported earth
de tensão no aterro e tração-deformação da platforms over soft soil, Journal of Geotechnical and
Geoenvironmental Engineering, p.44-53.
geogrelha não foram considerados;
Kempfert, H.G., Stadel, M. & Zaeske, D. (1997). Design
(x) O modelo CIC induziu cargas bastante of geosynthetic reinforced bearing layers over piles,
elevadas no sistema em todas as etapas de Bautechnik, v. 74, n. 12, p. 818-825.
cálculo, indicando pouca adequabilidade para Sandroni, S.S. (2006). Sobre a prática brasileira de
representar o caso de obra; projeto geotécnico de aterros rodoviários em terrenos
com solos muito moles. III Congresso Luso-Brasileiro
(xi) A tensão sobre o capitel ao final da
de Geotecnia, Curitiba, volume único, p. 1-20.
construção do aterro segundo o modelo TC0 foi Spotti, A.P. (2006). Aterro estaqueado reforçado
compatível com o medido no campo. Os instrumentado sobre solo mole, Tese de Doutorado,
modelos TCM e CIC apresentaram valores de COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, p.394.
tensão superiores ao valor de campo isento de
erros;
(xii) As diferenças entre as tensões modeladas
numericamente são devidas fundamentalmente
ao tipo de modelagem da compactação;
(xiii) As deformações calculadas foram
compatíveis com os recalques e tensões
registradas nos três modelos de construção

Você também pode gostar