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ACÓRDÃO
Documento: 1777337 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 06/12/2018 Página 2 de 5
Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 1.573.635 - RJ (2015/0167201-6)
RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI
RECORRENTE : SARBG
RECORRENTE : A L T B C DA C
ADVOGADO : LAURO MÁRIO PERDIGÃO SCHUCH - RJ037500
RECORRIDO : JCBG
ADVOGADOS : CRISTINA DA MOTTA CARVALHO - RJ074959
MARCOS VALÉRIO DA SILVA NOLASCO DE CARVALHO E OUTRO(S) -
RJ095453
CARLOS EDUARDO MOTA FERRAZ E OUTRO(S) - RJ175848
ESPEDITO JOSÉ MOREIRA - RJ163558
RELATÓRIO
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25315/RJ e que foi publicada no DJe de 18/12/2015.
2ª petição sobre fato novo: informam os recorrentes que
retornaram ao Brasil em definitivo e que o menor N T B G R vinha apresentando
melhorias em seu quadro de saúde, mas que estaria o recorrido buscando
sucessivas e insistentes aproximações, a despeito da liminar deferida na medida
cautelar (fls. 669/694, e-STJ).
Decisão de conversão em diligência: diante da gravidade e da
singularidade das questões envolvidas na hipótese em exame, determinou-se a
realização de novo exame psicossocial “sobre a conveniência, para o menor, da
estipulação de visitas avoengas” (fl. 700, e-STJ).
Exame psicossocial: Em atenção à determinação de fl. 700 (e-STJ),
foram realizados estudo social (fls. 860/870, e-STJ) e estudo psicológico (fls.
1.063/1.071, e-STJ), que concluíram que a animosidade existente entre o pai e o
avô poderia ser nociva ao menor; instados a se manifestar sobre os estudos,
somente os recorrentes o fizeram, juntando, inclusive, novo parecer técnico
psicológico (fls. 1.077/1.108, e-STJ).
Ministério Público Federal: inicialmente, opinou pelo não
conhecimento do recurso especial (fls. 649/657, e-STJ); após a vista do exame
psicossocial, aditou e retificou seu parecer anterior, opinando pelo provimento do
recurso especial (fls. 1.112/1.114, e-STJ).
É o relatório.
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RECURSO ESPECIAL Nº 1.573.635 - RJ (2015/0167201-6)
RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI
RECORRENTE : SARBG
RECORRENTE : A L T B C DA C
ADVOGADO : LAURO MÁRIO PERDIGÃO SCHUCH - RJ037500
RECORRIDO : JCBG
ADVOGADOS : CRISTINA DA MOTTA CARVALHO - RJ074959
MARCOS VALÉRIO DA SILVA NOLASCO DE CARVALHO E OUTRO(S) -
RJ095453
CARLOS EDUARDO MOTA FERRAZ E OUTRO(S) - RJ175848
ESPEDITO JOSÉ MOREIRA - RJ163558
EMENTA
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Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 1.573.635 - RJ (2015/0167201-6)
RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI
RECORRENTE : SARBG
RECORRENTE : A L T B C DA C
ADVOGADO : LAURO MÁRIO PERDIGÃO SCHUCH - RJ037500
RECORRIDO : JCBG
ADVOGADOS : CRISTINA DA MOTTA CARVALHO - RJ074959
MARCOS VALÉRIO DA SILVA NOLASCO DE CARVALHO E OUTRO(S) -
RJ095453
CARLOS EDUARDO MOTA FERRAZ E OUTRO(S) - RJ175848
ESPEDITO JOSÉ MOREIRA - RJ163558
VOTO
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Superior Tribunal de Justiça
A esse respeito, anote-se desde logo que a regra do art. 1.589,
parágrafo único, introduzido no CC/2002 por intermédio da Lei 12.398/2011, não
encontra correspondência normativa no CC/1916.
O direito à visitação existente entre avós e netos, contudo, não é uma
verdadeira inovação no direito brasileiro, na medida em que a jurisprudência e a
doutrina há muito já reconheciam a existência dessa figura, conforme se colhe de
julgados relatados por Flamínio de Resende e por Serpa Lopes, ainda ao final
da década de 4 0, e de parecer lavrado em 1950 pelo então 1º Subprocurador da
República, João Coelho Branco, que opinava pelo reconhecimento do direito à
visitação com base no art. 394 do CC/1916, mediante arguta construção assentada
no abuso do pátrio poder. Extrai-se de seu emblemático parecer:
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É induvidoso que se constata ter havido uma profunda modificação
social desde as lições anteriormente reproduzidas foram concebidas, o que exige
do intérprete a necessária contextualização e adequação das premissas para a
realidade social vivida neste momento histórico, o que se faz mediante uma
indispensável releitura de conceitos como o de pátrio poder e o de hierarquia
familiar.
Esse fato, contudo, não retira do texto a sua própria essência e
atualidade, no sentido de que há um direito natural (como reiterado, em 1980,
em lapidar acórdão de relatoria de Galeno Lacerda), claramente dissociado e
superior ao direito positivo, de que efetivamente se promova a saudável
convivência entre os avós e os netos, quer seja como uma espécie de
mecanismo de retribuição de todos os deveres que aos primeiros são
impostos, quer seja para que haja o fortalecimento da instituição familiar e a
transmissão das experiências vividas pelos ancestrais e que eventualmente
sejam benéficas aos netos.
Diante disso, é possível extrair uma primeira conclusão: ao positivar
esse instituto, o legislador fixou a possibilidade de exercício do direito de visitação
entre avós e netos como uma regra geral, o que, consequentemente, resulta no
fato de que eventuais restrições ou supressões desse direito devem ser
interpretadas como excepcionais, sempre condicionadas, nos termos da lei, à
constatação judicial de que essa medida atenderá aos interesses da criança ou do
adolescente.
De outro lado, é correto afirmar que o direito à visitação insculpido no
art. 1.589, parágrafo único, do CC/2002, não é uma prerrogativa exclusiva dos avós,
nem tampouco é um direito exercitável potestativamente pelos netos, de modo
que o seu regular exercício, especialmente em situações de conflito, depende de
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uma compatibilização de interesses que terá, sempre, como base e como
ápice, a proteção ao menor.
A esse respeito, leciona Rosa Maria Barreto Borrielo de Andrade
Nery:
Documento: 1777337 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 06/12/2018 Página 12 de 5
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romperam em um dado momento histórico, embora se possa afirmar que o
caminho para tanto, se assim quiserem as partes oportunamente, estará sempre
em algum lugar entre o perdão, a compaixão, a tolerância e o reconhecimento
de que o ser humano é, essencialmente, um ser errante, e de que os pais de
hoje possivelmente serão os avós de amanhã.
Desse modo, a questão deve ser examinada, exclusivamente, sob a
ótica do eventual benefício ou prejuízo que as visitas do avô paterno
poderão causar ao menor que recentemente completou 08 (oito) anos de
idade.
Nesse sentido, anote-se que, após a interposição do recurso especial,
comunicou-se nos autos que o menor foi diagnosticado com TEA – Transtorno do
Espectro do Autismo e, por se tratar de afirmação contida em laudo unilateral
produzido nos Estados Unidos da América por ocasião da temporária residência do
menor naquele país, determinei fossem atualizados os estudos psicossociais
que haviam sido realizados em 1º grau, providência indispensável para a tomada da
decisão diante do referido fato novo associado ao distanciamento temporal
daqueles primeiros estudos em relação ao momento atual.
A esse respeito, consta do estudo e parecer social, mais
precisamente às fls. 866/867 (e-STJ):
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com o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), o
Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) e o Transtorno do
Desenvolvimento da Coordenação (TDC).
A riqueza das análises feitas pelos profissionais que o assistem
contraindica a adoção de medidas judiciais que possam comprometer a imagem
de N, sujeito de direitos, e colocá-lo vulnerável a possíveis prejuízos físicos,
sociais, morais e emocionais.
No caso vertente, o pressuposto de receio de dano irreparável ou
de difícil reparação faz-se explícito, haja vista os elementos irrefutáveis
sobre o tratamento diferenciado que a criança requisita para crescer
em condições seguras e dignas de existência.
A Sra. A L e o Sr. S A, detentores do poder familiar, vêm
cumprindo com esmero os deveres e responsabilidades parentais. A
parceria, o empenho, a reciprocidade e o companheirismo do casal
constituem os pilares para que N possa superar os limites impostos
pelos seus transtornos e alcançar uma melhora em seu
desenvolvimento global.
Decerto, os genitores travam um aprendizado cotidiano para
lidar com as reações da criança, em diferentes contextos sociais.
Precisaram pesquisar, estudar e aprofundar conhecimentos acerca do
autismo, bem como sobre as especificidades que perpassam o
quadro de N.
Decerto, é difícil, doloroso e extenuante criar e educar um
filho com distúrbio raro, crônico e incurável.
Para além do preconceito e do estigma social, os pais
exercitam a resiliência para suportar o sofrimento do filho com as
crises depressivas e de ansiedade generalizada; que, conforme
observado anteriormente, culminam em atos de autoflagelação e de ideias
suicidas.
A incapacidade de N para se adaptar a situações
inusitadas e ao mundo circundante o eleva a alçada de um ser
humano especial. De tal sorte, em que pesem os argumentos lançados pelo
avô paterno para postular a regulamentação das visitas, opinamos pela primazia
da proteção integral à criança e pelo consequente indeferimento do pleito
judicial.
Documento: 1777337 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 06/12/2018 Página 15 de 5
Superior Tribunal de Justiça
Não se olvida, evidentemente, a angústia vivida pelo avô que
pretendia acompanhar de perto o crescimento de seu neto, compartilhar com ele
a sua experiência e sua história e, com isso, talvez até mesmo ter a chance de, a
partir dessa relação, reparar os eventuais erros cometidos no passado. Se a
hipótese não fosse de tal maneira singular, possivelmente esse seria o caminho,
até porque, como bem acentuou Edgard de Moura Bittencourt, “a afeição dos
avós pelos netos é a última etapa das paixões puras do homem; é a maior delícia
de viver a velhice” (BITTENCOURT, Edgar de Moura apud MADALENO, Rolf. Direito
de família. 8ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2018, p. 473).
Entretanto, a insistente negativa dos recorrentes em viabilizar esse
convívio se revela justificável na hipótese, pois o menor, diante do complicado
quadro psíquico que enfrenta, deve ser preservado ao máximo, impedindo-se, o
quanto possível, que seja ele exposto a experiências traumáticas e,
consequentemente, nocivas ao seu contínuo tratamento.
Em síntese, independentemente de culpados, é preciso que a dor
maior seja dada àquele que aparenta ter melhor condição de suportá-la, não
sem antes rogar a todos os envolvidos que procurem o caminho da paz, pelo bem
deste menor.
2. CONCLUSÃO.
Forte nessas razões, CONHEÇO e DOU PROVIMENTO ao recurso
especial, a fim de julgar improcedente o pedido de regulamentação de visitas do
avô paterno, invertendo-se a sucumbência.
Provido o recurso especial, fica prejudicada a tutela cautelar deferida
por meio de decisão publicada no DJe de 18/12/2015, proferida na MC 25315/RJ.
Documento: 1777337 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 06/12/2018 Página 16 de 5
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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
TERCEIRA TURMA
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : SA RBG
RECORRENTE : A L T B C DA C
ADVOGADOS : LAURO MÁRIO PERDIGÃO SCHUCH - RJ037500
VITOR HUGO DEBOSSAM PEREIRA - RJ177256
RECORRIDO : JCBG
ADVOGADOS : CRISTINA DA MOTTA CARVALHO - RJ074959
JOSÉ NOLASCO DE CARVALHO - RJ035915
MARCOS VALÉRIO DA SILVA NOLASCO DE CARVALHO E OUTRO(S) -
RJ095453
CARLOS EDUARDO MOTA FERRAZ E OUTRO(S) - RJ175848
SUSTENTAÇÃO ORAL
Dr(a). DARIO MARTINS DE LIMA, pela parte RECORRENTE: S A R B G e A L T B C DA C
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na
sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Terceira Turma, por unanimidade, conheceu e deu provimento ao recurso especial,
ficando prejudicado o efeito suspensivo anteriormente deferido na MC 25315/RJ, nos termos do
voto da Sra. Ministra Relatora.
Os Srs. Ministros Paulo de Tarso Sanseverino, Ricardo Villas Bôas Cueva, Marco
Aurélio Bellizze e Moura Ribeiro (Presidente) votaram com a Sra. Ministra Relatora.
Documento: 1777337 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 06/12/2018 Página 17 de 5