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Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

Instituto de Ciências Humanas e Sociais


Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais

Profa.: Dra. Isabel Missagia


Discente: João Leonardo

No presente trabalho apresentado para obtenção da nota parcial da disciplina


de Teorias Sociais Clássicas, módulo de antropologia, serão discutidas as ideias que
colaboram para pensarmos a antropologia social clássica a partir dos autores Radcliffe
Brown, Ruth Benedict e Franz Boas. A disciplina se desenvolveu ao longo da história
apoiada em diferentes visões e formas de se compreender o estudo das culturais, passando
pelo método comparativo, funcionalista e etnográfico.

O estudo desenvolvido por Brown (1973) assinala que não devemos supor
que costumes sejam peculiares a uma determinada tribo, pois o mesmo costume pode ser
observado em outras tribos ao redor do mundo. No seu estudo, ele foca nas tribos
baThonga, os Nama e os Toga, destacando suas semelhanças e as comparando. O autor
faz generalizações afirmando que

“na maioria das sociedades primitivas as relações sociais dos indivíduos


são amplamente reguladas com base no parentesco. Isso é ocasionado
pela formação de padrões de conduta fixos e mais ou menos definidos
para cada tipo reconhecido de relacionamento” (Idem, p. 30)

Nesse trecho pode-se observa uma espécie de conduta geral cristalizada no tange a
maioria das sociedades primitivas.

Ele se dedica a tratar da importância social da irmã do pai para os sobrinhos,


tratando das relações de herança familiar relacionadas a estruturas patriarcais das tribos
que estudou. Uma questão que é levantada são os rituais de casamentos que possuem uma
determinada função dentro dessas tribos, envolvendo pagamento de dotes e até a que
família pertenceria um filho caso o dote fosse pago ou não.

A visão adotada por Brown parte da influência do trabalho de Emile


Durkheim, pensador francês fundador da sociologia e teórico funcionalista. Brown
compreenderá o conceito de função, no que diz respeito às sociedades humanas, baseado
em uma “analogia entre vida social e vida orgânica” (Idem, p. 220), ideia que já estava
sendo desenvolvida desde o século XIX, tendo sua primeira menção conhecida na obra
Regras Método Sociológico, de Durkheim, em 1895. No sentido que está sendo exposto
pelo autor, a palavra função “é concebida como funcionamento de sua estrutura” (Idem,
p. 221). Aí ele traz o exemplo de tribos africanas ou australianas que vivem uma série de
relações sociais estando seus indivíduos integrados. Pelo processo de convívio socias e
de interações, a vida social de um grupo é definida como funcionamento, engrenagem, da
estrutura social. Na visão do autor, o conteúdo que se pretende observar na antropologia
social é a “vida social de um povo considerada sob todos os aspectos” (Idem, p. 228).

Partindo para uma outra discussão entro da antropologia, Ruth Benedict


(2000), antropóloga americana, descreverá área como a “ciência do costume”, título de
um capítulo de seu livro Padrões de Cultura. Para ela, a disciplina se ocupa de estudar os
seres humanos enquanto produtos da sociedade, dessa maneira, um antropologista está
interessado na diversidade de costumes e como a cultura se transforma, por que culturas
se expressam de maneira distintas umas as outras. O seu foco nesse trabalho é
compreender o “papel predominante que o costume desempenha no que se experimenta
na vida diária e no que se crê” (Idem p. 14). Para ela os costumes do ambiente que os
indivíduos nascem moldam sua vivência e sua conduta. Antes de se pretender
compreender qualquer outro problema social, a antropologia deveria antes conhecer o
papel que o costume exerce na formação de cada indivíduo.

A explicação que a autora oferece para a vasta expansão da civilização


ocidental é aqui ela teve circunstâncias que a favoreceu ao longo da história. Para ela a
nossa civilização se desenvolveu através de organizações de comércio que se dispersaram
ao redor do globo rapidamente, realizando o comércio entre si ao longo da história. Assim,
seriamos diretamente dependentes uns dos outros por conta da convivência de troca que
possuímos. Para Ruth, nesse sentido de coletivismo, ela diz que “fora do grupo fechado
não há seres humanos”.

O costume não teria chamado a atenção de teorizadores sociais até então, pois
para ela ele constituía a própria lente utilizadas por eles sem as quais eles não poderiam
ver. Isso porque a vida moderna colocou diversas civilizações em contato, sendo que no
período que ela escrevia a manifestação latente que predominava era a ebulição do
nacionalismo e o “snobismo racial”. De maneira poética ela diz “nos orgulhamo-nos das
nossas vistas desempoeiradas” (Idem, p. 23), sem conseguir compreender as diferenças
nos hábitos culturais, de não conseguir obter prazer nas relações humana com outros
povos, ou sequer gozar da confiança deles.

Continuando a falar sobre costume, ela da o exemplo que uma criança asiática
criada em uma família Ocidental aprenderá o idioma do país que estiver, vai brincar e
agir como outras crianças e pensará nas mesmas profissões que elas. Sendo assim, a
cultura não poderia ser um complexo a ser transmitido por via biológica. Para Ruth
(2000), estudar as sociedades primitivas era importante por conta das formas e dos
processos culturais, para entender o que é específico de um local e o que é geral à
Humanidade.

Já na abordagem desenvolvida por Franz Boas (2005) em Antropologia


Cultural, o autor se propõe a tratar das limitações dos métodos comparativo e
evolucionista na antropologia e os métodos que devem ser utilizados na etnologia em sua
opinião. Isso por conta de não concordar com a abordagem de antropólogos que seguiram
essas linhas de pensamento, pois elas presumiam que proximidades culturais entre povos
diferentes remetiam à algum contato histórico prévio entre os povos, hipótese difícil de
sustentar por conta de distâncias geográficas. Dessa forma, ele acredita que manifestações
cultuais parecidas em locais distintos tenham surgido de maneira espontânea.

Ele faz uma crítica à corrente evolucionista que prevaleceu durante uma
década na antropologia, sendo alguns de seus expoentes Spencer, Morgan e Tylor. A
perspectiva evolucionista acreditava que todo o gênero humano passava por um processo
de evolução geral da cultura de maneira simular. Isso se daria por conta do curso da
história ter leis predeterminadas, aplicadas em qualquer raça ou povo. A crítica de Boas
à essa mentalidade vai no sentido de que ela deveria ter “um alto grau de estabilidade de
trações culturais, tal como são aparentemente observados em várias tribos primitivas” (p.
42).

O método que o autor propõe para o estudo das culturas é observar mudança
na sociedade que possam ser observadas na contemporaneidade. Essa proposta vai de
encontro a não tentar buscar compreender problemas de desenvolvimento geral da
civilização até que não já se tenha esclarecimento o suficiente sobre os processos que
ocorrem no nosso dia-a-dia. Ele faz essa provocação por conta de não acreditar que as
hipóteses formadas por alguns antropólogos se verifiquem na realidade da maioria dos
povos do mundo.
A partir da exposição das ideias centrais de Brown, Benedict e Boas, podemos
observar que os três autores compreendem a antropologia de maneira distinta uns dos
outros. Enquanto Brown estava preocupado em entender a função de determinados entes
familiares nas estruturas de um povo, uma vez que acreditava que cada um desempenha
um papel social de engrenagem na estrutura. Ruth Benedict, por outro lado, tentará
interpretar a cultura a partir do conceito de costume, o qual para ela é fundamental que
seja compreendido antes de serem desempenhados outros estudos na antropologia. Já
Franz Boas irá debater com os métodos empenhados nos estudos das sociedades
destacando a falta de consistência do método comparativo e etnológico de alguns
pesquisadores.

Dessa maneira, o trabalho tentou levantar o ponto que atravessa os trabalhos


dos três autores aqui considerados para o debate. Foram levantadas as diferentes formas
de compreensão da antropologia enquanto estudo das sociedades, sendo reconhecido aqui
que houve um aumento do rigor científico proposto por Boas em relação a Benedict e
Brown. Com isso, é possível inferir que a antropologia passou por diversas mudanças ao
longo da história, tendo repensado e incorporados novas metodologias de análise social,
na tentativa de se constituir enquanto ciência social no mundo moderno.

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