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A Direita Acadêmica

Eventos anunciados em meados de agosto, prevendo uma série de palestras sobre temas que
vão desde a pedofilia até o uso de drogas, passando por aborto, gênero e temas históricos
como a Revolução Russa e a monarquia, a serem realizados ao longo de todo o segundo
semestre de 2017 começaram a chamar a atenção na Universidade Federal do Rio Grande do
Norte (UFRN). Os organizadores do ciclo intitulado I Ciclo de Estudos sobre Corpo Humano,
Filosofia e Sociedade são os professores Bento João da Graça Azevedo e Gustavo da Cunha
Lima Freire, ambos do quadro de docentes do Centro de Biociências (CB) da UFRN, além de
Jaufran Ricardo Siqueira Júnior, membro-fundador de uma organização denominada Instituto
Filipe Camarão .
O referi do instituto teve seu “nascimento” anunciado “à sociedade potiguar” em 4 de março
deste ano, tendo como oradores naquela tarde os seus fundadores, Jaufran Siqueira, e a
advogada Grazielly Anjos Fortes. A missão da instituição, cuja “semente foi plantada em 2012”
seria “defender a cultura e os valores do povo potiguar e da nação brasileira” daquilo que,
segundo a apresentação afixada no site pelos idealizadores, seria um “front de batalha contra
a cultura e a fé do povo”.

A inspiração para o nome veio do fato de os cofundadores enxergarem em Filipe Camarão o


nome mais expressivo da história do Nordeste e por ser uma figura que atuou em “defesa do
legado e valores como vida, liberdade, propriedade e a fé cristã”.

“O Instituto é formado por grupos como UFRN Democrática, Endireita Natal, entre outros, e
nossa intenção era abarcar esses diversos segmentos que partilham muitas ideias”, informou
Jaufran Siqueira à reportagem. A entrevista foi concedida na ocasião da palestra Aborto de
crianças com microcefalia e sua relação com a eugenia moderna, ministrada pela professora
Danielle Barbosa Morais no Auditório das Aves do Centro de Biologia (CB). Os grupos citados
por ele, não é difícil descobrir com uma rápida busca em suas páginas na internet, são
compostos por pessoas majoritariamente identificadas com as ideias políticas defendidas pela
direita. A exemplo do estudante Allisson Coelho Lobato, do UFRN Democrática, que também
conversou com a nossa reportagem e para quem a maior preocupação no momento está
voltada para o que ele acredita ser uma predominância do “pensamento esquerdista” na
Universidade. Ele colabora com os eventos do ciclo de estudos, que já teve como ministrantes
o juiz Odinei Wilson Draeger, o psiquiatra Jales Clemente, e prevê trazer ainda a angiologista
Janet Melo de Saboia Alves no dia 7 de dezembro.

A palestra sobre o aborto de fetos com microcefalia foi realizada no dia 9 do último mês de
outubro, e teve como oradora principal a professora de Embriologia do Departamento de
Morfologia da UFRN Danielle Barbosa Morais, que desenvolveu uma argumentação em torno
das teorias que tentam aferir com exatidão o momento em que se começaria a vida de um
feto. Apresentando diversas teorias da área a professora terminou por considerar que se há a
possibilidade de existência da vida desde o momento da fecundação, esse já seria um motivo
para tornar qualquer prática abortiva condenável.

A pauta do aborto vem sendo amplamente discutida nas ações do Instituto Filipe Camarão,
que, em setembro, comemorou em um vídeo que os resultados da Pesquisa Nacional do
Aborto acabariam com a “falácia abortista”. Para este e outros grupos conservadores existe o
que eles chamam de “eugenia moderna” nos discursos dos grupos que defendem a
descriminalização do aborto, e os dados dessa pesquisa viriam a corroborar seus pontos de
vista. Tanto que Jaufran afirma no vídeo que, do fato de a pesquisa divulgada em 2016
demonstrar que quanto maior a escolaridade da mulher, menores são as chances de ela optar
por realizar um aborto, depreende-se que “quanto mais conhecimento ela tem que aborto é
um assassinato de uma criança não-nascida menores são as chances de ela optar por fazer”.
No mesmo vídeo ele se dirige ao que chama de “ativista pró-aborto”, dizendo: “67% das
mulheres que optaram pelo aborto em 2015 tiveram que ser internadas em decorrência de
algum problema. Como é que você me diz que isso é algo seguro? Não existe aborto seguro,
não existe homicídio seguro”.

Na palestra que a reportagem de Manifesto registrou, Danielle Morais Barbosa deu a entender
que este também é seu ponto de vista.

Antes da fala de Barbosa, houve um protocolo conduzido por Jaufran Siqueira, no qual ele
apresentou uma generalidade das ideias do Instituto Filipe Camarão, aludiu ao heroísmo do
patrono enquanto o símbolo da organização contendo uma imagem do notável era exibido em
projeção, e convidou os presentes – em torno de vinte jovens – a se colocarem em posição
cívica para a execução do Hino do Estado do Rio Grande. Este já é um ritual praticado pelos
membros do instituto em seus eventos.

Após a explanação da embriologista, falou o professor Ivanaldo Santos, docente da


Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) e principal figura intelectual do
Instituto, que normalmente está escalado para uma intervenção na parte final dos eventos. Em
abril, à época da fundação do organismo, foi divulgado um vídeo de uma palestra ministrada
por ele, intitulada O Pensamento à Direita: Influências e Ramificações, que pode ser
considerado uma espécie de peça inaugural dos trabalhos do Instituto Filipe Camarão. No
vídeo, Santos assinala que o pensamento tem suas raízes na pólis da Grécia e Roma antigas, e
na pregação cristã assente nos quatro evangelhos.

O professor diz ser essencial a participação política daqueles que se pretendem de direita pois,
segundo ele, há um “discurso hegemônico de esquerda que diz que a cidadania é quase que
um privilégio de esquerda” e “um estereótipo criado sobre quem tem participação política ser
de esquerda”.

Ainda nesse vídeo, Ivanaldo defende ideias sobre a intervenção do Estado na vida privada das
pessoas, onde pontua a contradição que, segundo ele, há no Brasil em relação à forte presença
estatal ao mesmo tempo em que se goza de certas liberdades individuais, como “as meninas
irem passear na praia de fio dental, enquanto na Europa você tem leis que regulam o tipo de
roupa que se vai vestir e proíbem o uso de símbolos religiosos em religiões, por exemplo,
representando um avanço do Estado na vida privada”, em seguida o professor usa para
exemplificar a tentativa de intervenção do Estado Brasileiro na vida das pessoas a lei que
pretendia coibir o ensino religioso nas escolas e a tentativa de cobrança de imposto a templos
religiosos. Embora o Estado Romano deva servir de modelo para “o homem de direita”, os
fatos sobre a animada sexualidade na vida privada de Roma o deixam “ruborizado”, nas
palavras dele.

O cumprimento da lei também seria essencial para a caracterização desse “indivíduo de


direita” teórico, embora ele não precise ser “um anjo ou um santo”, diz o professor. Afirma,
embora não cite nenhuma pesquisa, que “nas sociedades de maioria de direita os índices de
criminalidade são menores”.

Neste ponto da palestra registrada no vídeo, alguém na plateia interrompe o professor


Ivanaldo para questionar essa afirmação, com a seguinte inquirição: “Como você pode exigir o
cumprimento de certas leis se você mora num país como o nosso, que é um país socialista?
Existem leis que são feitas para tolher liberdades, deturpar a sociedade, certamente para
acabar com a família e com a crença em deus. Então eu acho que nesse ponto esta questão de
cumprir ou não a lei ela se torna um pouco complicada”. E o professor concorda, emenda que
estas leis ferem “o direito natural” e diz que “desde a Revolução Francesa a direita vem
correndo atrás de tirar tiranos do poder”.

As principais pautas defendidas pelo Instituto parecem ter o aval do professor Ivanaldo, cuja
formação é em Filosofia e também enverada por caminhos da Metafísica e da Linguagem, o
que se nota em sua oratória bastante experimentada, já que leciona no Departamento de
Letras da UERN. Todos os grandes temas que tem permeado a esfera pública atual sendo
objeto de polêmica e interesse público são discutidos pelo Instituto Filipe Camarão quase
sempre recorrendo ao que Ivanaldo tem a dizer, ou acrescentar ao que outro palestrante
convidado disse. Com relação, por exemplo, ao que classifica como “ideologia de gênero”, não
titubeia em asseverar que “é uma subversão da lei natural, porque o homem nasce e dizer que
ele não nasce é subverter” e que nisso reside a responsabilidade pelo “caos”, que tem levado
“um tanto de jovens ao suicídio por causa disso”. O professor, que também figura como vice-
presidente do órgão, não aponta o dado que o levou a fazer essa afirmação.

“Para o discurso vulgar da esquerda, arte é a libertação, é soltar a franga. É uma transa gay no
meio da rua”, diz Santos, ao tentar provar a diferença “abissal” entre o que considera ser arte
de esquerda e arte de direita. Porque, para ele, “o homem que a direita quer criar” precisa ter
domínio da alta cultura para “se autogovernar e prestar contas no juízo final a deus”. O
homem da direita “não é o homem que faz xixi na esquina, isso até um cachorro faz”, pontua,
diante de uma sorridente da plateia que já havia tirado bons risos de uma descrição sobre um
suposto quadro de arte pós-moderna que teria sido pintado com a saliva de algum artista de
esquerda em 1972.

Ao que parece, Ivanaldo está para o Instituto Filipe Camarão, assim como Olavo de Carvalho
está para o MBL, grupo de mais projeção nacional. É o principal guru de costumes da
organização e sua mais óbvia contribuição para os adeptos é tentar oferecer teorias que
permitam um embasamento dos pontos de vista que observamos que seus membros
procuram defender, por exemplo, nas redes sociais. Chega a ensinar em um de seus vídeos a
“detectar o que é um revolucionário petista”. Aliás, além de Carvalho ser recorrentemente
citado nas palestras de Ivanaldo e nos vídeos que Jaufran Siqueira posta com frequência em
suas redes, será exibido na Biblioteca Central no próximo dia 14 de novembro o documentário
O Jardim das Aflições que trata da vida e da obra de Olavo.

Um dos raros assuntos a que o filósofo não dispensa nenhuma contribuição discursiva é o do
uso de drogas, que foi tema de uma conferência realizada no dia 31 de agosto, na qual falaram
como ministrantes o juiz Odinei Draeger e o psiquiatra Jales Clemente.

Sob o título Os efeitos da maconha no corpo humano e na sociedade moderna, Draeger, que é
juiz de Direito titular da 1ª Vara Cível de São Gonçalo do Amarante, iniciou sua conferência
falando sobre questões relacionadas à liberdade no âmbito do direito. Ressalvando que não se
trata de uma afirmação técnica, ele diz que o seu contato com “dependentes de drogas” tem
mostrado que essas pessoas teriam sua liberdade reduzida ao não realizar “atividades que
socialmente a gente considera mais elevadas, como constituir uma família ou fazer trabalho
voluntário”. Para o juiz “uma sociedade que considere apenas esse princípio [da liberdade de
cada um desde que não faça mal outro] muito provavelmente esse tecido social acabaria se
desgastando e a gente teria uma situação caótica”.
“O argumento dos defensores da legalização é muito sofisticado e a gente se sensibiliza
porque realmente a criminalidade que envolve o tráfico de drogas e o uso de drogas é algo
considerável”, inicia o juiz numa estratégia argumentativa tradicional da retórica clássica:
considerar a validade parcial do argumento contrário para refutá-lo na sequência. Para o
argumento de que os males advindos da questão das drogas têm mais origem na prática
criminosa envolvida no uso do que das substâncias existentes nos entorpecentes, rebate com
uma analogia sobre os crimes de roubos de carros, que mesmo contando altos índices não há
leis que considerem liberá-los, por exemplo.

Já o psiquiatra Jales Clemente, tencionou provar por meio de uma série de slides, que o uso de
maconha está relacionado aa psicose esquizofrênica, que ele classifica como a mais grave das
doenças psíquicas. Clemente ressalta em sua fala que se trata de “dados indiretos”, uma vez
que “ainda não tem como ser feito um rastreamento específico sobre essa parte dos efeitos”.

Apesar dos resultados aparentemente inconclusivos apresentados pelos especialistas, esta não
é uma pauta da qual o Instituto Filipe Camarão pretenda abrir mão. Aliás, no mais novo canal
lançado por Jaufran na internet há exatamente um mês, já consta um vídeo de quinze minutos
sobre o tema com a chamada Devemos legalizar as drogas? Veja o caso da Islândia,
apresentando as políticas adotadas no país como “um case de sucesso” na guerra aas drogas,
que ele lamenta que “nós” estejamos perdendo. No vídeo, ele afirma que o país europeu
“aplicou, tirou do papel aquilo que muitos ativistas tomam como bandeira: a educação, o
esporte”. O nome adotado para este projeto foi Expresso Nacional, e o seu idealizador
mostrava-se bastante entusiasmado com o que ele chamou de “maior alcance” que a pagina
poderia proporcionar aa propagação de ideias do Instituto Filipe Camarão e “dos
conservadores como um todo”, já que esse grupo faria parte de um “público desgastado pela
mídia tradicional”.

A página na qual a reportagem encontrou o referido vídeo teve seu lançamento no dia 6 de
outubro com uma transmissão ao vivo que durou cerca de uma hora na qual Jaufran explica
aos telespectadores de sua “mídia multicanal” como vai funcionar o programa. Tudo indica
tratar-se de um formato jornalístico, já que o apresentador do “programa” – que é também
uma mídia – usa os termos “matéria”, “externa” e “pautas”. O projeto é ambicioso, se
compromete a produzir um programa de quinze minutos, de segunda a sexta, exibido na
televisão, rádio, web, aplicativo e outras plataformas, “sobre o noticiário nacional e local de
política, economia e sociedade”. Para isso ele conta com a sua formação em Marketing e uma
graduação em Direito em andamento, ambas pela Universidade Potiguar (UnP) e com o seu
“ativismo político na assessoria direta ou indireta” que já prestou e presta a políticos.
Atualmente afirma estar trabalhando mais proximamente do deputado potiguar Rogério
Marinho (PSDB-RN) e de Jair Bolsonaro (PSC-RJ).

Marinho é notadamente o deputado mais engajado na causa do movimento Escola Sem


Partido, idealizado pelo procurador paulista Miguel Nagib e que encontrou eco em várias
assembleias legislativas e câmaras municipais Brasil afora. No Rio Grande do Norte, o Instituto
Filipe Camarão vem atuando incisivamente nessa questão e a parceria com o deputado tucano
e relator da reforma trabalhista, se dá principalmente nas ações da Escola Sem Partido,
embora Jaufran afirme não ter tido nenhuma participação no caso da denúncia efetuada
contra os professores do Núcleo de Educação Infantil (NEI) da UFRN. Prefere reivindicar sua
participação no caso “bem-sucedido” da cidade de Fernando Dantas, no interior do Rio Grande
do Norte, que em setembro foi aprovado por unanimidade pelos vereadores e seguiu para a
sanção do prefeito. Na ocasião o presidente do Instituto Filipe Camarão disse que vinte
municípios no Estado estariam em vias de “protocolar e aprovar o projeto Escola Sem Partido”.

Neste ponto, tanto Jaufran quanto Alisson Borges são inflexíveis, demonstram até certo
trauma ao relembrar experiências com “professores esquerdistas na UFRN”, próprias e de
conhecidos. Por isso, para eles é inegociável “a continuação da doutrinação ideológica de
esquerda” e “se uma pessoa é contra o simples respeito aa liberdade de pensamento não
merece nem resposta”, encerram, partilhando mutuamente do tom magoado.

Borges estava responsável por uma lista que deveria ser preenchida impreterivelmente na
entrada do evento realizado no Auditório da Aves no último dia 9 – um participante se
recusou a assinar alegando mera curiosidade e recebeu insistentemente o pedido para que
assinasse, assim como nossa reportagem só foi anunciada após todos termos preenchido a
referida lista com nome, número de matrícula e e-mail.

Além do posicionamento taxativo relacionado aa dita “doutrinação de esquerda nas escolas”,


os dois também compartilham do amplo e irrestrito apoio aa candidatura de Bolsonaro para a
presidência nas próximas eleições. Defendem com afinco todas as ideias propostas pelo
deputado e se orgulham em dizer que se relacionam de forma relativamente próxima com ele.
Na ocasião da vinda do parlamentar á cidade de Natal para discursar no Hotel Praia Mar, em
Ponta Negra, zona sul da capital, Jaufran Siqueira se encarregou de organizar uma recepção na
chegada do deputado ao aeroporto. Este ano, Siqueira discursou no plenário da Câmara dos
Deputados a convite de Bolsonaro, embora ele afirme ter ido apenas como “cidadão
participativo”.

Sobre as declarações e envolvimentos em polêmicas que inexoravelmente compõem a


trajetória recente do pré-candidato do Partido Ecológico Nacional (PEN), nem Siqueira nem
Borges se dispõe a aprofundar maiores considerações, alegando que Bolsonaro é alvo de
notícias falsas plantadas pela esquerda e também é “perseguido pela mídia”. Diferentemente
da complexa argumentação empreendida em tentar explicitar as diferenças que há entre o
implemento de “um governo de mentalidade militar” e uma intervenção das forças armadas.

Jaufran também se diz animado com o Ascenso da “receptividade” aas ideias “pró-Bolsonaro”
no nordeste brasileiro e afirma que “ a direita está organizada principalmente nos estados da
Paraíba, Ceará e Pernambuco”, além do RN. Vídeos publicados no canal do Expresso Nacional
no YouTube dão conta da passagem de Jaufran pelos municípios de Assú, Macau e Fernando
Dantas promovendo um evento intitulado Bolsonaro e o Futuro do Nordeste. Esses events
fazem parte do que foi chamado de Caravana Patriota. Patriota é ou outro nome pelo qual é
conhecido o PEN . Presidido pelo deputado estadual Adilson Barroso, que já sinalizou que
deverá a sigla estará À disposição de Bolsonaro em 2018, e cujo slogan é “ o Brasil acima de
todos. Deus acima de tudo”. Heitor Freire no Ceará, Julian na Paraíba e Leandro Quirino no
Pernambuco são as pessoas apontadas por Jaufran como estando “ À frente dos movimentos
conservadores e direitistas” em seus estados.

Logrando buscar a participação política “exigida do homem de direita”, os membros do


Instituto Filipe Camarão não apenas se filiam a partidos políticos e lançam livros –é o caso da
cofundadora do Instituto , a advogada e professora da UnP Gazielly Anjos Fortes defende a
participação de empresas privadas na exploração do pré-sal – , como também arriscam
posicionamentos acerca de temas históricos, a exemplo da mesa-redonda realizada na UFRN
intitulada Filipe Camarão e a Construção da Identidade Nacional em que um professor de
História e o onipresente Ivanaldo Santos tentaram fazer um resgate histórico de valores
tradicionais a partir da figura de Filipe Camarão, que teria lutado ao lado dos portugueses na
Invasão Holandesa.

Afora este, outro evento viria a ser realizado na Universidade Federal do Rio Grande do Norte
em setembro, sob o título 100 anos da Revolução: os ERROS que Rússia espalhou pelo mundo,
relacionando os eventos de 1917 com a crise política nacional atual. O orador principal,
novamente o professor Ivanaldo Santos, admite que falaria do assunto mesmo sem ser
historiador, sociólogo ou cientista político, evocando uma visão filosófica que dispensaria
sobre o episódio. Além de asseverar que “a dialética é a responsável pelos conflitos do
homem ao longo dos séculos”, ele acaba por concluir que o legado da Revolução Russa foi
transferir para o Estado uma função de “grande pai”, que até a Idade Média era exclusiva de
Deus. Esse e os outros eventos teriam, para o Instituto Filipe Camarão “uma qualidade
superior a que é ofertada pelas universidades brasileiras”.

Esse evento foi amplamente rejeitado pela comunidade acadêmica da UFRN e fontes relatam
que houve princípio de embate físico entre membros de grupos antagônicos presentes no
Auditório das Aves. Ademais, na sequência da palestra, foram realizados outros eventos que
adotaram outra perspectiva sobre a Revolução, a exemplo de Vermelhos pelo Mundo, mostra
de filmes realizada durante a Cientec no Auditório do Laboratório de Comunicação (LabCom),
pelos professores Adriano Medeiros e Antonino Condorelli.

O Homem que Queria Queimar Feministas

Jaufran Siqueira, o rosto do Instituto, ficou conhecido nacionalmente durante as eleições


municipais de 2016, quando, durante a campanha, fez uma postagem em suas redes sociais
que dava a entender que ele iria queimar as feministas.

A declaração gerou tanta reação como se podia esperar e ele foi condenado a pagar xxx a
justiça por xxxxx. À

Mar ,.isa Lobo, a psicóloga da cura gay

Quando do anúncio referido ciclo de estudos, que em 24 de agosto tornou pública a agenda a
ser executada na UFRN não constava a presença da psicóloga Marisa Lobo entre seus
ministrantes. Matéria veiculada pela Folha de São Paulo em 4 de setembro, resume os
acontecimentos que, desde 2012, vem colocando frequentemente o nome da psicóloga nas
rodas de debates. Trata-se, primeiro, de uma ação na 4ª vara da justiça de Curitiba, movida
pelo Conselho Regional de Psicologia do Paraná contra as atividades de Marisa, alegando que
ela estaria “vilipendiando a dignidade e a atuação” do CRP-PR ao assumir o título de “psicóloga
cristã”. Em 2014, o Conselho Regional chegou a conseguir a cassação do registro profissional
dela, mas a decisão foi revertida pelo Conselho Federal de Psicologia. Ela afirma
reiteradamente ser vítima de “perseguição religiosa”.

Marisa conseguiu alegar que se apresenta como “psicóloga e cristã” e não como psicóloga
cristã. A reportagem, no entanto, aponta que ela se apresenta em suas redes sócias como
psicóloga cristã, sim, e que além disso foi eleita pelo Solidariedade (SD) segunda suplente de
vereadora usando como nome “Marisa Lobo, Psicóloga Cristã”. O texto de Anna Virginia
Balloussier ainda mostra a proximidade da psicóloga com o deputado Marco Feliciano(PSC-SP).

Lobo é conhecida por defender as teses que pretendem permitir que psicólogos realizem
terapias de reversão em pacientes que desejem “se livrar” da homossexualidade e por sua
atuação contra “a ideologia de gênero”. Evangélica da mesma Igreja Batista frequentada por
Deltan Dallagnol, é o nome mais associado ao tema da chamada “cura gay”.

Recentemente, uma ação movida por outra psicóloga contra o Conselho Federal de Psicologia
reacendeu os ânimos em torno dessa temática. Rozangela Alves Justino abriu um processo
contra o CFP depois de receber uma advertência, em forma de censura pública, por oferecer
terapias de reversão a seus pacientes, alegando que o conselho estaria restringindo a
liberdade científica dela e de outros profissionais que concordam com a prática. O juiz federal
da 14ª Vara do Distrito Federal Waldemar Cláudio de Carvalho concedeu uma liminar
suspendendo os efeitos da Resolução 001/1990, que tornava proibida a oferta de terapias de
reorientação sexual. Uma série de protestos, nas ruas e nas redes, eclodiu quase que
instantaneamente da divulgação da decisão do juiz Waldemar: Paulo Gustavo, famoso
humorista assumidamente LGBT, publicou um vídeo em seu perfil no Instagram satirizando a
decisão liminar do juiz de Brasília; Johnny Hooker, cantor pernambucano atuante nas causas
políticas, fez um show-ato na Avenida Paulista, centro de São Paulo, onde estima-se que
compareceram XXX pessoas, que participaram de xx beijaço gay. A banda Plutão Já Foi Planeta,
um dos nomes mais conhecidos da música potiguar atualmente, organizou uma intervenção
durante o festival Mada, no Estádio Arena das Dunas em Natal que também terminou num
enorme beijaço gay dos integrantes da banda, do público e de ativistas no palco.

Todas as manifestações repercutiram amplamente na grande mídia, até porque tratou-se de


uma adesão bastante massiva e instantânea da comunidade LGBT em torno de uma causa
concreta. Surgiram em vários veículos, inclusive internacionais como a britânica BBC, casos de
pessoas que haviam sido submetidas a terapias de reversão e relataram episódios de muito
sofrimento, muitos análogos à tortura, como é o caso de XXX xxx, mostrado pela reportagem
publicada no portal xxx da TV inglesa.

Na mesma proporção se deram as reações ao anúncio da vinda da psicóloga a UFRN. Uma


figura que carrega a pecha de discursos tão controversos, num momento em que todos os
segmentos ligados aos direitos estão atentos aos desdobramentos dessa questão, é de se
supor que nem mesmo a própria esperasse ter uma passagem tranquila na Terra do Sol.

Os Departamentos da UFRN, que antes pareciam não querer dispensar maiores atenções aos
eventos abrigado no Centro de Biociências se viram na eminencia de se pronunciar e o fizeram
por meio de uma nota de repúdio divulgada pelo site Bicha Natalense. A nota intitulada Cura
Gay na UFRN? Meu repúdio! diz xxxx e é subscrita por mais de xx departamentos, dentre eles o
de Comunicação Social (Decom), o de Artes (Deart), o xxxxx, o xxx, dentre outros.

Antes da publicação da nota, a reportagem também entrevistou Leilane Assunção, xxxx xxxxx,
que dispensa igual repúdio aa vinda da psicóloga para a UFRN, para ela, Marisa Lobo “xxxx xxx
xxx” e uma palestra como essa “xxxx xxxx xxxx”.

Leilane também

O nome de Marisa ainda não consta como palestrante do dia em que foi anunciada, 7 de
dezembro, quando se dará a última das quatro conferencias organizadas pelo Instituto Filipe
Camarão. A reportagem vem acompanhando o Sistema de Gestão das Atividades Acadêmicas
(SIGAA) de forma constante e só nas últimas semanas é que o nome de Marisa passou a
constar como uma das ministrantes externas do Ciclo de Estudos. Informativo da AgÊncia de
Comunicação (Agecom) da UFRN dá conta de que Lobo irá dividir a conferencia com a
especialista em bioética xxxx xxxx.
Uma das primeiras pessoas a relatar que haviam inscrições para a palestra sendo negadas no
SIGAA, Assunção também ressalta que “xxx XXX”, desde então a reportagem tentou contatar o
Instituto Filipe Camarão mas não obteve retorno para comentar sobre essa questão.

As respostas foram oferecidas por meio de uma nota aa imprensa na qual os organizadores do
evento que convidou a psicóloga Marisa Lobo para ministrar a conferencia sobre xxx afirmam
que as inscrições negadas foram as dos participantes que manifestaram a intenção de agredir
fisicamente a psicóloga e que esses nomes foram levados ao conhecimento do Ministério
público junto de supostas provas. Acompanhamos alguns debates que ocorreram em grupos
do facebook e não identificamos o que poderia ser considerada uma ameaça explícita de
violência. Todavia contatamos algumas pessoas que possivelmente teriam feito algum tipo de
colocação em comentário que subentendesse ameaça. Uma fonte esteve prestes a fazer uma
declaração, mas quando informada da existência da nota desistiu de conceder entrevista à
reportagem, por temer represálias.

De todo modo, colhemos declarações em off de pessoas dispostas a organizar um ato político
contra a presença da psicóloga na UFRN.

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