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Resumo: Este artigo resgata a biografia de Manoel Dantas, um potiguar que, à luz do início do século
XX, contribuiu sobremaneira para o desenvolvimento da imprensa e da fotografia na província recém
republicana do Rio Grande do Norte. Seu protagonismo nos auxilia a recontar a história da imprensa e do
surgimento da fotografia no Estado, em um período em que ambas tiveram um papel relevante na
construção de uma nova sociedade. O acervo fotográfico deixado por Manoel Dantas é um instrumento
importante de conhecimento sobre fatos e personalidades históricas, além dos costumes da época, mas
principalmente sobre a utilização da fotografia estereoscópica que ganhou grande popularidade, nesse
período, devido a sua característica de imagem tridimensional.
Compreender o passado comum entre Manoel Dantas e sua obra, pretende ser útil como referência dos usos
e funções empregados pelos jornalistas e fotógrafos, no espaço e no tempo em que viveram e produziram
o que hoje chamamos tanto de história da mídia quanto de história pela mídia.
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Trabalho a ser apresentado ao GT de História da Mídia Impressa, XII Encontro Nacional de História
da Mídia, 2019.
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Mestranda do Programa de Pós-graduação em Estudos da Mídia/UFRN. Membro do Grupo de
Pesquisa Ecomsul - Epistemologias e Práticas Transformadoras em Comunicação, Cultura e
Mídias/UFRN. E-mail: renata.passos@me.com.
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Docente e Pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Estudos da Mídia/UFRN e do Departamento
de Comunicação Social/UFRN. Membro do Grupo de Pesquisa Ecomsul - Epistemologias e Práticas
Transformadoras em Comunicação, Cultura e Mídias/UFRN. Membro da Sociedade Brasileira de Estudos
Interdisciplinares da Comunicação, Membro da RPCFB - Rede de Produtores Culturais da Fotografia no
Brasil. Membro da Rede de Estudos e Pesquisas em Folkcomunicação (Rede Folkcom). Membro do OBES
- Observatório Boaventura de Estudos Sociais. E-mail: itanobre@gmail.com.
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Este discurso foi proferido em uma sessão pública da Academia Norte-rio-grandense de Letras em
homenagem póstuma à Manuel Dantas, seu amigo e conterrâneo, patrono da cadeira nº 26 daquela
instituição.
No ano seguinte frequentou a escola mantida pelo seu pai, nos domínios da
fazenda, e ao final deste mesmo ano de 1873 já estava lendo, escrevendo e fazendo os
primeiros cálculos matemáticos. Em 1879 passou a estudar latim na escola em Caicó.
Entre os anos de 1881 a 1884 ele registra sua plena aprovação nos exames de latim,
francês, português, inglês, retórica, aritmética, geometria, geografia, história e filosofia
no Colégio Atheneu, em Natal.
Em 10 de abril de 1885 iniciou seus estudos acadêmicos na Faculdade de Direito
do Recife de onde retornou em 1889, não apenas com o diploma de bacharel, mas com as
ideias progressistas e republicanas que permeou todas as suas atividades durante seus 57
anos de vida.
"[...] muitos jovens bacharéis seridoenses formados entre o final do império e
o início da República (1885-1891), acabam defendendo um conjunto de ideias
que "a priori" eram estranhas a eles, às necessidades de uma "sociedade de
comportamento provincial". (BUENO, 2016, p. 72)
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Manoel Dantas deixou um diário pessoal intitulado "As datas de minha vida" onde relatou os principais
acontecimentos pessoais e profissionais entre os anos 1867 a 1920. Este diário encontra-se em poder da
família.
Nesse contexto, na Caicó de 1889, os ideais democráticos ganham uma voz ativa
nas letras do hebdomadário denominado "O Povo", de fundação e iniciativa dos irmãos
Nóbrega, de Manoel Dantas e de Olegário Vale. "O jornal colocava-se, assim, como uma
"ponte" entre o tradicionalismo dos coronéis e as ideias "avançadas" veiculadas em Recife
[...]". (Bueno, 2016, p. 60)
Na pauta cotidiana, sobravam críticas sobre as precariedades socioeconômicas
impostas pelo regime imperial, a exemplo das más condições de infraestrutura portuária
e rodoviária, seca severa, elevado índice de analfabetismo, bem como sobre as más
condições de saúde e políticas sanitárias6. Esse caos atual era confrontado pelos
argumentos otimistas da propaganda republicana que "vendiam" um cenário de
prosperidade administrativa.
"É tanto mais isso me é sensível quando desejava por-me ao lado dos que
combatem em prol das ideias liberaes e do progresso, advogando os interesses
do povo e trabalhando nossa regeneração. Atravessamos na época atual um
período difficil de reconstrução, no qual cada indivíduo deve assumir uma
posição decidida, e promover, quanto puder, o bem-estar social. Estamos
vendo a cada passo a oscillação do nosso edifício político e ouvindo a cada
instante o baque de uma instituição. É preciso o máximo cuidado para que o
paiz esteja preparado no desmoronamento total a levantar do amalgama de
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Manifesto do Partido Republicano do Rio Grande do Norte, 27 de janeiro de 1889, in: Cascudo (Org.)
Antologia de Pedro velho, p. 28.
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Carta escrita em 25 de fevereiro de 1889 por Manoel Dantas e publicada n'O Povo - Seridó - Príncipe, 16
mar. 1889. P 02.
Manoel Dantas pouco pode governar Natal. Assumiu no dia 1º de maio e veio a
falecer no dia 15 de junho deste mesmo ano após ser acometido por tifo. Assumiu a função
em seu lugar o genro Omar O' Grady.
Além de todas as funções administrativas já elencadas acima, Dr. Dantas foi, em
1902, sócio fundador do Instituto Histórico e Geográfico do RN por onde, desde 1916
desempenhou o papel de orador, sendo sucessivamente reeleito. Na condição de delegado
oficial do IHG/RN participou dos Congressos de Geografia nos estados da Paraíba, Bahia,
Pernambuco e Minas Gerais.
Em sua biografia política também relata-se a passagem pelo Congresso do Estado
como deputado no triênio 1905-1907, sendo eleito 1º secretário.
"Manoel Dantas foi a mais completa organização jornalística que o Rio Grande
do Norte já possuiu. Em um meio pequeno, pacato e sem assuntos para as
bisbilhotices dos repórteres, ele fazia, diariamente e meses a fio, todo o jornal,
desde o artigo de fundo, sisudo e doutrinário, como exigiam os leitores da
época, até o anúncio, passando pela crônica social, noticiário, a tradução dos
telegramas, a seção humorística e o folhetim". (CASCUDO, 1962, p. 3)
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O episódio do "rompimento" é detalhado no livro "História da República do Rio Grande do Norte".
(Cascudo, 1965, p. 221)
Tão ou mais relevante do que os registros escritos na imprensa sobre a vida social,
política e econômica do início do século XX, no Rio Grande do Norte, foi o acervo
fotográfico que produziu ao longo de sua vida. O uso de câmeras fotográficas já indicava
na época de Manoel Dantas, como seria a civilização da imagem (KOSSOY, 2003, p. 34).
Apesar de não existirem registros oficiais sobre a data em que Manoel Dantas iniciou as
atividades como fotógrafo amador, algumas fotos são facilmente datadas a partir dos
eventos nelas retratados. As primeiras que podem ser identificadas são de 1907 por
ocasião do serviço fúnebre do então governador do Estado, Pedro Velho de Albuquerque
Maranhão. Em uma das fotos (a seguir), Manoel Dantas acompanha o cortejo tanto na
cidade do Recife - uma vez que o governador faleceu durante o trajeto marítimo entre a
capital potiguar e a pernambucana - quanto na chegada do corpo em Natal onde foi
sepultado.
A próxima coleção fotográfica que pode ser relacionada com eventos foi a que fez
durante a Exposição Nacional de 1908 que ocorreu na então capital do país, a cidade do
Rio de Janeiro. Dantas esteve presente e fez uma documentação criteriosa em muitos dos
pavilhões que exibiam as potencialidades econômicas de cada província. A grandiosa
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ocasião foi uma comemoração de dois importantes centenários para a nossa história: o da
abertura dos portos por D. João VI (contrariando uma determinação de Napoleão
Bonaparte) e a chegada da imprensa no Brasil.
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Atualmente (2019) é professor aposentado do Departamento de Geologia da Universidade Federal do
Rio Grande do Norte.
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enorme facilidade comercial existente com as demais cidades do Brasil e do mundo, fato
que propiciou a chegada de fotógrafos e materiais fotográficos para a província.
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especula-se que inicialmente a compra das lâminas (produzida pela empresa dos irmãos
Lumiére), assim como a revelação das mesmas eram feitas diretamente em Paris, mas um
anúncio do jornal "O Estado de São Paulo" do dia 15 de abril de 1902 já exibia a
possibilidade de comprar esse material na capital paulistana. Em Natal, a edição do dia
07 de maio de 1907 de A República, estampou um anúncio de venda de materiais
fotográficos. Nele, o vendedor também se dispunha a ensinar o uso do aparelho.
Em um dos poucos livros dedicados a estereoscopia no Brasil, Parente (1999, p.
18), relaciona três grandes nomes que são expoentes dessa tecnologia no nosso país. O
primeiro deles foi o alemão Revert Henry Klumb que fez uma documentação histórica da
cidade e do Estado do Rio de Janeiro, de Minas Gerais, além de fotos da família real
portuguesa. O segundo foi o industrial português José Francisco Correia, o Conde de
Agrolongo que utilizou as fotografias com fins publicitários e por fim, Guilherme
Antônio dos Santos que fotografou as cidades serranas e de veraneio do Rio de Janeiro,
São Paulo e alguns municípios mineiros, entre os anos de 1908 e 1958. O autor não cita
nenhuma coleção produzida no Nordeste. Limita-se a dizer que:
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Referências
BURKE, Peter. Testemunha ocular: história e imagem. São Paulo: UNESP, 2004.
DANTAS, Manoel. Natal daqui a cinquenta anos. Natal: Coleção Mossoroense, serie
B, 1989.
_____________. O Povo, Caicó, 16 de mar. 1889. Disponível em:
http://www.bczm.ufrn.br/jornais/. Acesso em: 03 mar. 2019.
KOSSOY, Boris. Fotografia e história. 5. ed. São Paulo: Ateliê Editorial, 2014.
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LIMA, Nestor dos Santos. Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do
Norte, Natal, 1923-1925, p. 308. Traços Biographicos do Dr. Manoel Dantas.
SILVERSTONE, Roger. Por que estudar a mídia? 4a ed. Tradução de Milton Camargo
Mota. São Paulo: Edições Loyola, 2014.
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