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PEQUENO MANUAL DE
DOUTRINAS BÁSICAS
São Paulo
2014
Copyright © 2014 por Marcos Granconato
Publicado pela Hermeneia Editora
É expressamente proibida a reprodução total ou parcial deste livro, por quaisquer meios (eletrônicos, mecânicos,
fotográficos, gravação e outros) sem prévia autorização por escrito da editora.
Contato:
editora@hermeneia.com.br
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Granconato, Marcos
ISBN-13
978-1502738844
ISBN-10
1502738848
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Capítulo 1
A Doutrina Acerca das Escrituras 9
Capítulo 2
A Doutrina Acerca de Deus 19
Capítulo 3
A Doutrina Acerca de Cristo 31
Capítulo 4
A Doutrina Acerca do Espírito Santo 41
Capítulo 5
A Doutrina Acerca do Homem 55
Capítulo 6
A Doutrina Acerca do Pecado 63
Capítulo 7
A Doutrina Acerca da Salvação 73
Capítulo 8
A Doutrina Acerca da Igreja 87
Capítulo 9
A Doutrina Acerca dos Anjos 101
Capítulo 10
A Doutrina Acerca das Últimas Coisas 111
Referências
APRESENTAÇÃO
Embora contenha a Santa Escritura uma doutrina perfeita, a que nada se
pode acrescentar, pois que aprouve a Nosso Senhor revelar os infinitos
tesouros de sua sabedoria, entretanto, a pessoa que não seja bastante
experimentada no seu manuseio e entendimento necessita de certa
orientação e ajuda, para saber que deva nela buscar a fim de não
vaguear incerta, ao contrário, alcance rota segura que lhe faculte atingir
sempre o fim a que a convoca o Santo Espírito.
O famoso pai da igreja João Crisóstomo disse certa vez com a propriedade que lhe
era peculiar: “Quando a vida é corrompida, ela concebe uma doutrina que combina com
ela.” Certamente Crisóstomo não ficaria indignado se eu de certo modo invertesse a sua
máxima para afirmar outra verdade do mesmo porte: “Quando a doutrina é corrompida,
ela concebe uma vida que combina com ela.”
Foi movido pela preocupação com esta última verdade que preparei, em 1987, este
pequeno manual de doutrinas. Procurei produzir algo de fácil compreensão, com várias
ilustrações, a fim de que o conhecimento das principais doutrinas da fé cristã não se
tornasse propriedade de qualquer número de pessoas que não representasse a totalidade
dos membros da igreja. Não ouso afirmar que atingi este propósito na íntegra, pois a sã
doutrina, por ser extremamente rica, nem sempre pode ser apresentada satisfatoriamente
com palavra superficiais.
De qualquer modo, eis aqui nosso manual. Sua ampla aceitação em minha própria
igreja me encorajou a levá-lo ao povo evangélico em geral, chegando a ser produzido
em quatro edições distintas e adotado como material didático em várias igrejas, grupos
de discipulado e seminários teológicos espalhados pelo Brasil. Minha sincera
expectativa é que esta nova edição revista e ampliada seja ainda mais útil na
trasmisssão da doutrina cristã à igreja tão carente do nosso país.
De maneira nenhuma é meu intento apresentar este livro como algo original. A
própria ideia de preparar um livreto para o ensino dos crentes é antiga na história da
igreja cristã. Na verdade, já no século II, manuais de ensino prático eram usados pelos
cristãos sendo o Didaquê o exemplo clássico disso.
A falta de originalidade em nosso livreto não se limita, contudo, à ideia de prepará-
lo, mas se estende também, e de modo necessário, ao seu conteúdo. O que se encontra
aqui é baseado nos diversos livros alistados na bibliografia ao final, os quais devem
ser consultados caso o estudante tenha o desejo de se aprofundar mais no estudo da
doutrina bíblica.
O que temos à mão é algo modesto. Apesar disso, é um trabalho que requereu o
auxílio de pessoas a quem eu sou grato. Dentre elas quero destacar o nome do Pr.
Thomas Tronco dos Santos que deu ao manual um formato mais estético e didático.
Também detaco o esforço do meu querido irmão na fé Leandro Boer que preparou
cuidadosamente cada uma das ilustrações, sempre preocupado em fazer delas
ferramentas eficazes para a apreensão e memorização das verdades ensinadas. Eu sei
que o Senhor recompensará o trabalho dedicado desses homens.
É com bastante alegria que entrego o PEQUENO MANUAL DE DOUTRINAS
BÁSICAS aos evangélicos do nosso país, na esperança de que ele possa ser usado,
conforme disse um teólogo amigo, “em defesa da fé histórica, atual e relevante”.
Marcos Granconato
Soli Deo gloria
CAPÍTULO 1
A DOUTRINA ACERCA DAS ESCRITURAS
(Bibliologia)
Introdução
A Bíblia é a única base da doutrina cristã. Por isso, se o conceito formulado sobre
as Escrituras for errado, todas as outras doutrinas serão afetadas de modo negativo.
Daí percebe-se a importância da concepção sadia da Bíblia. Quando ela não é
considerada do modo como exige, não pode servir de base para a conservação da “sã
doutrina” (Tt 2.1).
A revelação
Revelação é, basicamente, o desvendamento de algo que era desconhecido ou a
manifestação de alguma coisa que estava escondida. No contexto judaico-cristão essa
palavra é usada para se referir à comunicação que Deus faz de si mesmo e da sua
vontade. Assim, em termos teológicos, a revelação é um processo por meio do qual
Deus desvenda ao homem seu caráter e seus desígnios. O resultado desse processo
também é chamado de revelação.
A inspiração
Conforme visto, a Bíblia compõe a revelação especial de Deus, tendo sido
inspirada por ele. Quando se diz que a Bíblia é inspirada por Deus, isto significa que o
Espírito Santo supervisionou aquilo que os autores bíblicos escreveram nos
autógrafos, isto é, nos escritos originais (as cópias não foram inspiradas) de tal modo
que eles o fizeram sem cometer qualquer erro.
Deus não ditou as palavras da Bíblia (apenas poucas partes foram provavelmente
ditadas – e.g., a Lei), nem tampouco os autores bíblicos entraram em estado de êxtase
para escrever os livros.
O que Deus fez na realidade foi mover (2Pe 1.21) ou dirigir os escritores para que
compusessem sua revelação usando suas personalidades, culturas e faculdades mentais.
Desse modo, pode-se dizer que Deus falou através do homem (Mt 1.22; 2.15;1Co
14.37).
É importante destacar que não é correto dizer que os autores bíblicos foram inspirados
por Deus. O termo “inspirados” se aplica apenas aos livros bíblicos. Seus autores
foram movidos ou impelidos (Gr. ferómenoi) pelo Espírito Santo. Alguns textos
bíblicos que servem de base para esse ensino são Mateus 5.18; 22.43; 2Timóteo 3.16;
2Pedro 1.20-21 e Hebreus 1.1.
Hoje não existe nenhum fragmento sequer dos escritos originais. Todos se perderam
ao longo dos séculos. O que se tem agora são cópias, a maioria delas preparada por
homens zelosos e habilidosos. Para se chegar ao texto original um trabalho científico
denominado crítica textual tem sido realizado nessas cópias e em fragmentos delas.
Graças à ação de Deus em preservar sua Palavra (1Pe 1.24-25) e aos esforços da
crítica textual, o conteúdo dos autógrafos foi mantido acessível com precisão
praticamente total.
O crente deve ter sempre em mente que a Bíblia, por ser divinamente inspirada, é:
Infalível: O que a Bíblia ensina não conduz as pessoas ao erro. Nos caminhos e
soluções que prescreve, ela nunca falha, de modo que a pessoa que a obedece pode
caminhar segura, sabendo que está seguindo um mapa que a leva na direção certa.
Ademais, suas promessas e profecias nunca falham. O que ela diz acerca do amanhã,
certamente se cumprirá (Nm 23.19; Sl 119.9,11; Mt 5.18; Tt 1.2).
Além disso, uma vez que Deus a destinou a criaturas inteligentes com o objetivo de
lhes transmitir verdades essenciais, a Bíblia também é interpretável. Isso significa que
há um sentido específico (e não vários!) em cada porção do texto sagrado. Esse sentido
pode ser descoberto por meio do emprego das regras normais de hermenêutica, usadas,
inclusive, pelo próprio Cristo (Mt 22.41-46).
É verdade que há trechos difíceis de entender, mas isso não autoriza ninguém a dar
ao que foi escrito o sentido que achar mais conveniente, distorcendo as Escrituras (2Pe
3.15-16). Antes, o leitor deve buscar o significado pretendido pelo autor sagrado,
sabendo que esse significado é claro na maioria das vezes e compõe a mensagem do
próprio Deus ao homem.
Por ser inspirada, inerrante, infalível e interpretável, somente a Bíblia pode
ensinar o que é correto acerca do Deus único e verdadeiro. Assim, qualquer crença que
a rejeite jamais poderá levar o homem ao real conhecimento da divindade.
A canonicidade
Sendo inspirados por Deus, os livros da Bíblia são dotados de canonicidade. O
termo “cânon” vem do hebraico (qaneh) e do grego (kánon) e significa, basicamente,
vara de medir ou régua. Com o tempo, essa palavra passou a ter um significado mais
amplo, indicando também uma norma ou padrão de qualquer natureza (Gl 6.16).
Assim, quando se afirma que um livro é canônico, isso significa que deve ser usado
como uma régua para “medir” a validade do que o homem crê e faz.
Deve ficar bem claro que a canonicidade dos livros bíblicos não lhes foi imposta
por homens. O fato de Deus tê-los produzido usando o processo da inspiração visto
acima é que lhes confere canonicidade. Os homens simplesmente reconheceram essa
qualidade presente nos livros bíblicos desde a sua produção. Aliás, mesmo os
escritores bíblicos tinham consciência da autoridade de seus escritos por serem
revelação de Deus. Isso se pode ver, por exemplo, em 2Samuel 23.2; 1Coríntios 2.13 e
14.37.
Para reconhecer um livro como canônico foram usados os seguintes critérios:
Autoria profética ou apostólica: Para ser reconhecido, o livro deveria ser escrito por
um profeta, por um apóstolo ou por alguém sob a autoridade de um apóstolo (por
exemplo, Marcos escreveu seu evangelho sob a autoridade do apóstolo Pedro).
Aceitação: Para ser reconhecido, o livro tinha que ter ampla aceitação entre o povo de
Deus. O reconhecimento da igreja em geral foi considerado fator muito importante, uma
vez que o Senhor manifesta sua direção por meio do povo santo.
Conteúdo: Para ser reconhecido, o livro tinha que mostrar harmonia doutrinária com a
ortodoxia já fixada. Livros que apresentassem desvios ou negação de doutrinas
consagradas foram rejeitados.
Inspiração: Para ser reconhecido, o livro tinha que dar evidências de origem divina,
falando com autoridade e apresentando valores morais e espirituais elevados, próprios
de uma obra inspirada pelo Espírito Santo.
O cânon
Enquanto o termo canonicidade se aplica a uma qualidade sobrenatural dos livros
bíblicos, a palavra “cânon” é usada para se referir ao conjunto de livros que compõem
tanto o Antigo como o Novo Testamento.
Quanto aos livros que fazem parte do Novo Testamento, sua classificação é a
seguinte:
CLASSIFICAÇÃO LIVROS
Evangelhos Mateus, Marcos, Lucas e João.
Atos ‒
Romanos, 1 e 2 Coríntios, Gálatas,
Efésios, Filipenses, Colossenses, 1 e
Epístolas Paulinas
2 Tessalonicenses, 1 e 2 Timóteo, Tito
e Filemom.
Hebreus, Tiago, 1 e 2 Pedro, 1, 2 e 3
Epístolas Gerais
João e Judas.
Apocalipse ‒
A iluminação
Iluminação é o ministério do Espírito Santo de capacitar o homem que é alcançado
por sua graça a compreender a revelação escrita de Deus.
Essa obra é necessária porque as verdades da Palavra pertencem a uma dimensão
que está muito acima do alcance da mente humana (Is 55.8-9), sendo conhecida somente
pelo Espírito (1Co 2.11). Por isso, sem o auxílio do Senhor não há como o homem
acolher o que foi revelado (Lc 24.44-45; 1Co 2.12).
Pra piorar a situação, Satanás cega o entendimento das pessoas, impedindo--as de
compreender o evangelho (2Co 4.3-4). É por causa disso que os incrédulos, não tendo a
ação iluminadora do Espírito, não conseguem entender nem mesmo as verdades
espirituais mais elementares (1Co 2.14).
A iluminação do Espírito Santo na mente do homem por ele favorecido é iniciada,
assim, ao tempo da conversão, quando o conhecimento da pessoa é aclarado, passando
ela a enxergar as realidades espirituais do evangelho (At 16.14; 2Co 3.15-16; 4.6; Hb
10.32). A partir daí, a ação do Espírito Santo de trazer luz à mente do crente prossegue
(Ef 1.17-19), fazendo-o entender mais e mais a verdade revelada e também levando-o à
aceitação dela, fatores essenciais para o crescimento na vida cristã (2Co 3.18; Cl 1.9-
10).
CUIDADO! VENENO!
Liberalismo teológico: Ensina que a revelação de Deus acontece por meio de
fatos que se situam dentro da ordem natural das coisas. Segundo os liberais, os
escritores antigos testemunharam esses fatos e os interpretaram como milagres,
adicionando-lhes uma dimensão sobrenatural inexistente. Por isso, as descobertas da
ciência, da filosofia e da psicologia da religião devem ser usadas para corrigir as
ideias distorcidas dos autores bíblicos, removendo do texto bíblico tudo que é
mitológico (demitização ou desmitologização).
Neo-ortodoxia: Ensina que Deus só pode ser conhecido quando sua Palavra
viva, o Cristo eterno, se encontra pessoalmente com o indivíduo. A Bíblia descreve
essa experiência na vida de vários de seus personagens e assinala o caminho para esses
encontros existenciais. Dessa forma, as Escrituras contêm testemunhos da revelação
divina feita a homens do passado e, na medida em que servem para levar o indivíduo a
um encontro com Deus, são revelação também hoje. Há, assim, dois momentos de
revelação: um passado (as experiências registradas na Bíblia) e um presente (desde
que, lendo a Bíblia, o homem tenha um encontro com Deus).
Introdução
Obviamente os crentes aceitam sem reservas o fato da existência de Deus. Crendo
na veracidade da Bíblia, não podem negar o Deus que ela apresenta.
Assim, numa sociedade em que o ateísmo filosófico e prático finge ser
incontestável, os discípulos de Jesus caminham na contramão das tendências seculares,
proclamando a realidade de um Deus criador, amoroso e santo com quem é possível o
homem se relacionar e, por meio disso, desfrutar de notável satisfação .
Os cristãos também acreditam que o fato de alguém aceitar ou não o Deus das
Escrituras Sagradas influencia diretamente não somente a sua religiosidade, mas
também o estilo de vida que adota, o qual abrange seu modo de pensar, falar e agir. O
ateísmo, segundo entendem, é, portanto, perigoso, uma vez que lança o homem num
vácuo moral, longe de qualquer fundamento ético sólido sobre o qual possa construir
sua vida e conduta.
Fica claro, portanto, que a crença em Deus e a concepção sadia acerca dele não são
meras questões filosófico-religiosas, mas constituem fatores determinantes da
felicidade e do bom viver do ser humano.
A existência de Deus
A Bíblia não discute a existência de Deus. Antes, simplesmente a afirma logo em
seu primeiro versículo (Gn 1.1), dizendo posteriormente que é possível perceber que
Deus existe por meio da criação e da providência (At 14.17; Rm 1.20), sendo isso tão
óbvio que somente os insensatos são capazes de dizer que não há Deus (Sl 14.1).
Por causa disso, os argumentos a seguir não foram desenvolvidos na Bíblia. Em vez
disso, foram elaborados por teólogos do passado que perceberam que a existência de
Deus pode ser comprovada pelo simples uso da razão.
Há, basicamente, quatro argumentos lógicos que são usados para defender a
existência de Deus. Veja-os a seguir:
O argumento cosmológico: Esse argumento afirma que existe um mundo (Gr. kosmos).
Logo, algo ou alguém deve tê-lo causado, pois não existe efeito sem causa. Ademais,
numa cadeia ininterrupta de causas e efeitos, chega-se fatalmente a uma causa original
não causada. Essa causa primária só pode ser Deus. Os principais expoentes desse
argumento foram Aristóteles e Tomás de Aquino.
O argumento teleológico: Aponta para o fato de que as coisas que existem no universo
têm um propósito ou finalidade (Gr. telos). Além disso, tudo revela um arranjo
ordenado num grau de harmonia e organização surpreendentes. Obviamente, um sistema
harmonioso, funcional e que atende a inúmeras finalidades não pode ter como causa
uma força impessoal (como uma explosão, por exemplo) ou o acaso. De fato, somente
uma mente inteligente pode originar sistemas tão complexos como os encontrados no
universo. Essa “mente” só pode ser Deus.
Os atributos de Deus
Um atributo é uma qualidade própria de um ser. Por atributos de Deus entendem-se
as propriedades que pertencem ao seu ser e que consequentemente o caracterizam. Seus
atributos são perfeições que lhe são atribuídas nas Escrituras e que podem ser
verificadas nas obras da criação, providência e redenção.
Como os atributos de Deus são vários, alguns estudiosos os dividem em dois
grupos: os atributos naturais e os atributos morais.
Os atributos naturais
São atributos ligados à existência de Deus, ou seja, àquilo que ele é em si mesmo.
Os atributos naturais são os seguintes:
Vida. Deus é um ser vivo. Ele pensa, sente e age. Sua vida é infinita. Ele jamais
morrerá (Jr 10.10; Mt 16.16; Jo 5.26; 1Ts 1.9).
Espiritualidade. Deus é Espírito. Ele não tem corpo, sendo, portanto, invisível (Dt
4.15; Jo 4.24; 1Tm 1.17).
Personalidade. Deus é pessoal. Isto não significa que ele existe em um corpo como as
pessoas comuns, mas sim que ele tem uma personalidade, sendo dotado de intelecto (ou
inteligência), emoções e vontade (Êx 4.14; Rm 8.28; 11.33-36; Ef 1.8-9).
Autoexistência. Deus existe por si mesmo. Ele não foi causado. Sua vida não provém
de nada que não seja ele mesmo. É necessário frisar também que ele não se autocriou
(Êx 3.14; Jo 5.26).
Eternidade. Deus não tem começo e nem fim. Ele existe e sempre existiu eternamente.
Ele está acima do tempo (Sl 90.2; Hb 1.10-12; Ap 1.8).
Onisciência. Deus conhece todas as coisas. Não há nada que ele possa ou tenha que
aprender. Seu conhecimento é infinito e completo (Is 40.28; Rm 11.33; Hb 4.13). Ele
sabe o que aconteceu, o que acontece, o que acontecerá e o que aconteceria (Sl 139.3-4;
Mt 11.21-23).
Onipotência. Deus tem poder ilimitado. Ele pode fazer tudo que deseja e que planejou
executar sem que nada o impeça ou dificulte suas ações (Jó 42.2; Jr 32.17; Sl 115.3; Mt
19.26). Entretanto, todo o seu poder é coerente com seu caráter santo e sua natureza
infinita. Desse modo, há coisas que Deus não pode fazer como mentir, morrer ou criar
um ser melhor que ele próprio (Tt 1.2; Hb 6.18).
Onipresença. Deus está presente em todos os lugares. Não se pode fugir de sua
presença. Isso não significa que Deus está contido em sua criação, mas, sim, que não
existe lugar algum em todo o universo onde ele não esteja (Sl 139.7-10; Jr 23.23-24).
Imutabilidade. Deus não muda. Ele permanece sempre o mesmo. Seu relacionamento
com as pessoas as transforma, mas ele mesmo nunca é transformado. De fato, nada lhe
pode ser acrescentado ou tirado. Sua imutabilidade é real porque ele é perfeito, não
havendo nada em seu ser que precise mudar (Sl 102.27; Ml 3.6; Tg 1.17).
Os atributos morais
São os atributos ligados ao caráter infinitamente imaculado de Deus. Podem ser
resumidos em dois:
Santidade. Deus é absolutamente santo. Ele está separado de tudo o que é mau e
impuro. Ele é perfeito, puro e íntegro em seu caráter (Is 6.3; 1Pe 1.15-16; 1Jo 1.5; Hb
6.18). A santidade de Deus se manifesta por meio de sua retidão, ou seja, ele faz e
exige o que é reto (Sl 25.8). Também por meio de sua justiça, que é a execução das
penalidades contra o pecado (Sl 11.4-7), a santidade de Deus se evidencia.
Amor. Deus ama suas criaturas. Ele se preocupa com o bem-estar delas. Movido pelo
amor, Deus sai em busca do homem e procura se relacionar com ele, mesmo quando
isso envolve sacrifício (Is 63.9; Jo 3.16; 1Jo 4.16). O amor de Deus se manifesta
também por meio de sua misericórdia, que é a disposição que tem de não aplicar a pena
que o pecado merece, e por meio da sua graça, que é a disposição que tem de dar
aquilo que o pecador não merece (Ef 2.8).
Soberania: Deus reina absoluto sobre todo o universo, governando-o com sua infinita
sabedoria e sem ter que oferecer explicações a ninguém acerca de seus atos (Jó 40.1-9;
Rm 9.20).
Liberdade: Sendo soberano e dono de tudo, Deus é livre para fazer o que quiser, sendo
impossível que ultrapasse seus “direitos”, uma vez que não há limites para sua
autoridade (Is 46.9-10; Rm 9.21).
Autossuficiência: Deus não precisa de nada nem de ninguém. Quando ele realiza ou
ordena algo, não o faz para suprir alguma necessidade sua, mas para manifestar
livremente seu amor, sabedoria, poder e graça aos homens (At 17.24-25).
A Trindade
Deus é um ser em três pessoas. Pai, Filho e Espírito Santo são pessoas distintas,
que se inter-relacionam numa única essência. Essa doutrina não pode ser entendida pela
lógica humana, mas é claramente ensinada na Bíblia que afirma a divindade do Pai (Ef
1.3), do Filho (1Jo 5.20) e do Espírito (At 5.3-4).
A doutrina da Trindade não deve ser entendida como triteísmo (a crença em três
deuses distintos), pois ainda que Deus seja tripessoal, a Bíblia afirma claramente que
ele é um só em essência ou substância (Dt 6.4; Tg 2.19).
Os nomes de Deus
A Bíblia, especialmente o Antigo Testamento, apresenta diversos nomes pelos quais
Deus é chamado. Cada um deles revela algo acerca do caráter ou das obras do Senhor.
EXEMPLO DE
NOME SIGNIFICADO
OCORRÊNCIA
Elohim Deus (alguém forte) Gn 1.1
Adonai Senhor (de tudo) Js 3.11
Yahweh EU SOU QUEM SOU Êx 3.14-15
El Shaddai Deus Todo-Poderoso Gn 17.1
El Elyon Deus Altíssimo Gn 14.18-22
El Olam Deus Eterno Is 40.28
Yahweh Jireh O Senhor proverá Gn 22.14
Yahweh Nissi O Senhor é minha bandeira Êx 17.15
Yahweh Shalom O Senhor é paz Jz 6.24
Yahweh Sabbaoth O Senhor dos exércitos 1Sm 1.3
Yahweh Meqaddishkem O Senhor que vos santifica Êx 31.13
Yahweh Tsidkenu O Senhor justiça nossa Jr 23.6
Os decretos de Deus
Decretos de Deus são seus planos e desígnios perfeitos, estabelecidos na
eternidade. Por meio deles o Senhor dirige soberanamente a história e realiza sua
vontade em todo o universo, atingindo, assim, seus propósitos santos (Ef 1.11).
Os decretos de Deus são impossíveis de ser frustrados (Jó 23.13-14; 42.2; Is 43.13;
46.10), sobrepõem-se aos propósitos humanos (Sl 33.10; Pv 19.21; Dn 4.35; Fp 2.13)
e, sendo perfeitos, não sofrem alterações (1Sm 15.29; Is 46. 10; Hb 6.17), subsistindo
para sempre (Sl 33.11).
A Bíblia ensina que os decretos de Deus envolvem “todas as coisas” (Ef 1.11), mas
é possível classificar as esferas de sua abrangência da seguinte maneira:
A criação: Tudo o que Deus criou está sujeito aos seus planos e cumpre o que ele
determina (Sl 148.1-10). Foi, inclusive, por seu decreto soberano que a natureza foi
submetida à vaidade (ou seja, foi condenada à uma existência fútil, fadada à
deterioração) até o dia da libertação dos crentes (Rm 8.20-21). De fato, nada acontece
em toda a criação sem a autorização suprema de Deus (Mt 10.29).
O governo humano: Ainda que os diversos países sejam governados por homens e
sistemas legais injustos, é preciso reconhecer que os decretos de Deus também estão
por trás dos governos das nações, não havendo nenhuma autoridade política que não
tenha sido estabelecida pelo Senhor (Dn 2.21; Rm 13.1). Foi Deus quem deu autoridade
e poder a Faraó (Rm 9.17), a Nabucodonozor (Jr 27.4-8), a Ciro (Is 41.2-4; 45.1-7) e a
Pilatos (Jo 19.10-11), tudo com o objetivo de, por meio deles, cumprir os seus
decretos. Desse modo, ele, o Senhor, tem pleno domínio sobre o reino dos homens e o
dá a quem ele quer (Dn 4.17,25,32; 5.21), movendo o coração dos governantes de
acordo com seus propósitos às vezes misteriosos, mas sempre justos (Êx 9.12;
10.20,27; 11.10; 14.8; Ed 7.21-28; Pv 21.1).
Ressalvas importantes
Os decretos de Deus não tornam os homens inocentes pelos males que
praticam. Os caldeus foram considerados culpados por sua maldade contra Judá (Hc
1.11), mesmo sendo o próprio Deus quem os levantou para realizar esses atos (Hc 1.6).
Da mesma forma, Herodes e Pôncio Pilatos pecaram quando conspiraram contra Jesus,
apesar de ter sido Deus quem decretou que agissem assim (At 4.27-28). O que se
depreende disso é que o decreto de Deus não anula o pecado dos perversos, nem torna
Deus culpado por suas más ações. Note-se que Jesus reprovou Judas mesmo sabendo
que ele, com sua traição, cumpriu o decreto divino (Mt 26.24). Pedro, por sua vez,
criticou os judeus de Jerusalém por matarem Jesus, mesmo sabendo que isso tinha sido
preestabelecido por Deus (At 2.23). A maneira como Deus decreta o mal sem se tornar
culpado e sem remover a culpa dos perversos não é revelada na Escritura, estando além
da compreensão humana. Trata-se de um dos muitos mistérios que permanecem
escondidos na mente insondável do Senhor (Dt 29.29) e que deve estimular a
humildade, a fé e a adoração, e nunca a rebelião ou o inconformismo (Rm 11.33-36).
Os decretos de Deus não podem ser alterados pelas orações dos homens. Textos
que dão a impressão de que Deus mudou de plano por causa da intercessão de alguém
(e.g., Êx 32.9-14) devem ser entendidos no sentido de que a aparente mudança no
desejo do Senhor já estava fixada em seus planos pré-estabelecidos, sendo a própria
oração parte integrante desses planos. É por isso que, mesmo sabendo que Deus já tem
tudo planejado, o crente deve orar. Passagens bíblicas como 2Samuel 7.27-29, Daniel
9.2-3 e Apocalipse 22.20 mostram pessoas orando mesmo depois de Deus ter revelado
o que já tinha planejado fazer.
Panteísmo: De acordo com essa concepção, Deus tem um pólo espiritual e um pólo
material. O universo físico é o pólo material de Deus. Assim, Deus é tudo e tudo é
Deus. O panteísmo nega a realidade de um Deus pessoal e criador. É acolhido pelas
religiões orientais como o hinduísmo e o budismo. No ocidente, sua maior expressão se
encontra nas seitas de Nova Era.
Teísmo Aberto: Deus abriu mão de sua soberania e não interfere na história de
modo decisivo, nem tem o controle meticuloso do universo, pois isso anularia a
liberdade do ser humano. Assim, para o teísmo aberto não existe predestinação nem
qualquer decreto divino que seja imposto ao homem. Na verdade, Deus sequer conhece
o futuro plenamente, estando este em aberto.
Unitarismo e unicismo: O unitarismo nega a Trindade, rejeitando a divindade do
Filho e do Espírito. Já o unicismo, também conhecido como modalismo ou
sabelianismo, afirma que na Trindade só existe um núcleo pessoal que é o Pai
(monarquianismo), sendo o Filho e o Espírito Santo apenas modos distintos como o Pai
se manifesta. As Testemunhas de Jeová são um exemplo de seita unitarista. Movimentos
unicistas atuais são a Igreja Pentecostal Unida do Brasil; o Ministério Voz da Verdade,
o Tabernáculo da Fé e a Igreja Local, ligada ao ministério Árvore da Vida.
Fiéis aos santos padres, todos nós, perfeitamente unânimes, ensinamos que se deve
confessar um só e mesmo Filho, nosso Senhor Jesus Cristo, perfeito quanto à divindade,
e perfeito quanto à humanidade, verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem (...);
em todas as coisas semelhante a nós, excetuando o pecado.
Introdução
A figura de Jesus de Nazaré é, sem dúvida, a mais notável de toda a história. Sua
grandeza, porém, estimulou a mente humana a criar diferentes conceitos e teorias acerca
do filho do carpinteiro que, com sua mensagem e obra, mudou o mundo inteiro.
Foi assim que filosofias e seitas estranhas surgiram ao longo dos séculos fazendo
ousadas asseverações sobre Jesus, muitas vezes desprezando o que ele próprio disse de
si mesmo ou o que os seus discípulos afirmaram acerca dele. A proliferação dessas
seitas e teorias afastou muitas pessoas da verdade acerca de Cristo proclamada pela
igreja com base no testemunho da Bíblia.
Essa verdade consiste, basicamente, da afirmação de que Jesus Cristo é o Filho de
Deus, Deus-homem, impecável, que morreu em lugar do ser humano a fim de que, pelo
seu sacrifício, o homem recebesse remissão dos pecados (Ef 1.7).
Os cristãos creem ainda que Jesus Cristo ressuscitou dentre os mortos ao terceiro
dia e hoje está vivo, sustentando o universo (Cl 1.17; Hb 1.3), intercedendo a favor dos
crentes (Hb 7.25) e aguardando a chegada do dia fixado para sua volta (At 1.11).
Os crentes ensinam que as pessoas devem abandonar os conceitos errados que as
seitas e filosofias criaram sobre o filho de Deus e, então, acolher a cristologia ortodoxa
fundamentada nas Escrituras. Isso porque aquilo que o homem pensa acerca de Jesus é
de máxima importância tanto para a vida presente como a futura. Na verdade, a Bíblia
deixa claro que o fato de uma pessoa crer ou não em Cristo conforme pregado pelos
apóstolos da Bíblia é fator determinante do lugar onde ela passará a eternidade (Jo
3.36).
A pessoa de Cristo
Jesus Cristo é Deus-homem. Isto significa que ele tem duas naturezas: a humana e a
divina. No decorrer dos séculos muitos teólogos se reuniram para discutir esse assunto.
Os principais concílios que trataram desse tema ao tempo da igreja antiga foram:
Sob a luz da Bíblia, os teólogos reunidos nesses concílios concluíram que Jesus
Cristo é perfeitamente humano e plenamente divino, sendo que essas duas naturezas
estão presentes numa só pessoa. A isso se dá o nome de União Hipostática. Este é um
dos grandes mistérios da fé cristã e, de conformidade com Mateus 16.13-17, é
necessária a intervenção de Deus para que alguém admita o conceito correto sobre
Jesus.
Veja-se a seguir os fatores e os textos bíblicos que mostram que Jesus é tanto
humano como divino.
Fica claro, portanto, que Jesus Cristo é totalmente homem (1Tm 2.5) e totalmente Deus
(1Jo 5.20) em uma só pessoa (Rm 9.5).
A preexistência de Cristo
Fortemente relacionado à divindade de Cristo está o ensino acerca da sua
preexistência e eternidade. Os textos que servem de base para essa doutrina são:
Miqueias 5.2; Isaías 9.6; João 1.1-3; 8.56-58; Colossenses 1.17 e Hebreus 1.8.
O caráter de Jesus
A seguir são listados alguns aspectos do caráter de Jesus:
Santidade. Ele é sem pecado (Jo 8.46; Hb 4.15; 1Jo 3.5) e absolutamente puro (Jo 8.12
cf. 1Jo 1.5; 1Jo 3.3).
Amor. Inúmeras passagens bíblicas falam a respeito do amor de Jesus, bem como de
seus objetos: o Pai (Jo 14.31); a igreja (Ef 5.25); os crentes em particular (Jo 14.21; Gl
2.20); e os seus inimigos (Lc 23.34).
Mansidão. Jesus era manso, isto é, mantinha uma atitude contrária à aspereza. Ele
tratava as pessoas com brandura e docilidade (Mt 11.29; Lc 23.34; 2Co 10.1; 1Pe
2.23). Isso não significa, porém, que eventualmente não lidasse com o pecado de forma
severa e rigorosa (Mt 23.33; Lc 13.32; Jo 2.14-16; Ap 19.11-16).
Humildade. Jesus não era arrogante ou orgulhoso. Sua humildade é expressa, inclusive,
no modo como ele se submeteu ao Pai e dependeu dele (Mt 11.29; Jo 13.4-5; Fp 2.5-8).
A obra de Cristo
O autoesvaziamento de Cristo
O autoesvaziamento ou kenosis de Cristo é uma expressão que aponta para a
disposição humilde presente no Senhor de abrir mão voluntariamente da sua glória
celestial enquanto esteve neste mundo, assumindo assim a forma de servo e sendo
obediente até à morte, tudo por amor aos perdidos (Hb 12.2).
O texto principal acerca da kenosis é Filipenses 2.5-8. Note-se que esse ensino é
uma das principais bases doutrinárias para a unidade cristã e para a convivência
humilde, pacífica e não egoísta entre os membros da igreja de Deus (Fp 2.2-5).
O texto bíblico clássico acerca da ressurreição, tanto de Cristo como dos crentes, é
1Coríntios 15.
Espiritismo: Defende que Cristo não é o Filho de Deus encarnado que veio ao
mundo para salvar o homem do pecado e da perdição (o espiritismo não acredita em
céu e inferno). Segundo os espíritas, Jesus é somente um espírito mais evoluído que
serve de guia para as pessoas, sendo que todos podem chegar ao mesmo nível dele,
evoluindo por meio de sucessivas reencarnações. Surpreendentemente, os espíritas
afirmam que suas doutrinas são baseadas nos ensinos de Jesus!
Testemunhas de Jeová: Afirmam que Jesus não é divino, mas sim uma criatura
especial de Deus. De acordo com essa seita, a criação de Jesus ocorreu antes de todas
as coisas e ele viveu como uma criatura espiritual no céu até o dia em que nasceu em
Belém. Os mestres dessa religião ensinam que Jesus morreu e ressuscitou para resgatar
o homem, mas seu sacrifício foi somente humano. Por não crerem que Jesus é Deus, as
Testemunhas de Jeová não o adoram.
A DOUTRINA ACERCA DO
ESPÍRITO SANTO
(Pneumatologia)
Cremos (...) no Espírito Santo, Senhor e vivificador, que procede do Pai, que com o Pai e
o Filho conjuntamente é adorado e glorificado, que falou através dos profetas.
Credo Niceno-Constantinopolitano
Introdução
A doutrina acerca do Espírito Santo talvez seja uma das áreas mais debatidas da
teologia cristã, sendo também o campo em que, na prática, a igreja tem cometido seus
maiores erros e excessos. Definições confusas e obscuras, interpretações bíblicas
intuitivas, valorização da experiência mais do que do testemunho bíblico, apego a
costumes e tradições, tudo isso tem contribuído para a construção de uma
pneumatologia defeituosa, bem distante do ensino apostólico.
Obviamente, os desvios nessa área têm gerado consequências desastrosas, tanto
para a vida pessoal dos crentes, como para as igrejas locais na realização de seus atos
de adoração, serviço e proclamação, o que impõe a necessidade de estudo mais sério e
de francas correções.
O material que segue visa atender um pouco a essa necessidade, protegendo o
estudante da Bíblia dos desvios tão comuns com que o povo de Deus se depara quando
ouve falar sobre a pessoa e obra do Espírito Santo. Neste capítulo, o cristão encontrará
também ferramentas para desenvolver uma pneumatologia sadia e propagá-la a seus
irmãos de fé.
5. Ele tem o seu nome associado ao nome do Pai e do Filho (Mt 28.19; 2Co
13.13 [ou v. 14 – NVI]).
O modo como o Espírito Santo é chamado nas Escrituras também demonstra sua
personalidade e divindade. Veja-se o quadro a seguir:
Regeneração. Regenerar significa gerar novamente. Para que alguém se torne filho de
Deus (Jo 1.12) é necessário que nasça de novo, sendo gerado pelo Espírito Santo (Jo
3.3-6). A regeneração é necessária porque o homem, desde a Queda, é totalmente
depravado e, por isso, não lhe basta uma reforma. Ele precisa ser feito uma nova criatura
(2Co 5.17).
Plenitude. A plenitude do Espírito Santo diz respeito ao controle que o Espírito deve
exercer sobre a vida do crente. Na Bíblia é possível observar dois tipos distintos de
plenitude espiritual. Há a plenitude ocasional, experimentada somente por alguns
instantes, em ocasiões específicas ou para fins determinados (At 4.8,31), e a plenitude
vivencial que aponta para um estilo de vida em que a pessoa se deixa dominar pela
influência do Espírito no seu dia a dia (Ef 5.18-20). Nesse segundo sentido em
particular, estar cheio do Espírito deve ser o estado comum de cada cristão (At 6.3).
Fruto. O fruto do Espírito é o conjunto de virtudes que ele produz no crente (Gl 5.22-
23). Os vários aspectos desse “fruto” são qualidades do caráter de Jesus desenvolvidas
no cristão na medida em que ele se deixa controlar pelo Espírito Santo (Gl 5.16). Vê-
se, assim, que o fruto do Espírito na vida de alguém é evidência clara e resultado óbvio
de sua plenitude.
Profecia: O profeta era alguém que recebia revelações diretas de Deus e as transmitia
aos homens de forma inerrante e infalível. No NT, as revelações proféticas eram
predominantemente doutrinárias, ou seja, os profetas revelavam verdades divinas
ocultas de outras gerações. Essas verdades eram também chamadas de mistérios (Ef
3.4-5). Só mui raramente os profetas traziam revelações sobre o futuro ou sobre a vida
particular de alguém e, ao que parece, só o faziam quando o que era revelado tinha forte
impacto sobre a igreja como um todo (At 11.28; 21.10-11). Os profetas tinham como
função primária lançar as bases doutrinárias, éticas e funcionais da igreja (Ef 2.20).
Como essas bases foram todas lançadas nos tempos dos apóstolos, os profetas
deixaram de existir já no fim do século I. O dom de profecia, portanto, não existe mais.
Serviço: É possível que esse dom abranja a habilidade dada por Deus de realizar bem
aqueles trabalhos que são considerados inferiores pelas pessoas em geral. Nem todos
são capazes de fazer esses serviços com qualidade. Por isso, Deus dotou alguns homens
e mulheres da igreja com uma capacidade especial para realizar tarefas dessa natureza
em favor dos santos.
Misericórdia: A pessoa que tem esse dom se vê disposta a mostrar favor a seus irmãos
que sofrem por causa de doenças, perdas, decepções e tragédias. Por se tratar de uma
tarefa pesada e, às vezes, bastante desagradável, pode acontecer de algum crente ter
esse dom e passar a exercê-lo com pesar. Por isso, Paulo diz que os irmãos que têm o
dom de misericórdia devem exercê-lo com alegria.
Entre os dons alistados aqui somente o de profecia não existe mais. Com efeito, não
há nenhum indício ou razão na Escritura para afirmar que os demais também deixaram
de existir. Na verdade, o próprio viver diário da igreja mostra sua permanência viva
até os dias de hoje.
Palavra de sabedoria: A pessoa que tem esse dom diz palavras de sabedoria divina em
contraste com os indivíduos que promulgam filosofias vãs ou palavras de sabedoria
humana (1Co 2.6-7,13; 3.19). Os temas centrais abordados por quem tem o dom da
palavra de sabedoria são a graça de Deus (2Co 1.12) e, especialmente, a cruz de Cristo
(1Co 1.17,23-24). Esse dom, portanto, é fundamental para quem exerce o trabalho de
evangelismo (1Co 1.17; 2.1). Num sentido mais estrito, a palavra de sabedoria também
abrange a revelação de mistérios doutrinários trazidos à luz no tempo do Novo
Testamento pelos apóstolos (1Co 2.7-13). Nesse sentido estrito, a palavra de sabedoria
não existe mais, permanecendo apenas a sua expressão geral, ou seja, a capacidade de
interpretar a realidade à luz da graça e da cruz do Senhor, expondo isso verbalmente
aos outros no evangelismo e no ensino da igreja.
Palavra de conhecimento: É difícil saber o que Paulo tinha em mente quando fez
distinção entre a palavra de sabedoria e a palavra de conhecimento. Porém, parece
correto que a palavra de conhecimento se relaciona ao modo como se deve agir na
prática da vida cristã. Se for esse o caso, esse dom é útil para conduzir a igreja ao
crescimento na compreensão da sã doutrina, a fim de fazê-la abandonar
comportamentos imaturos ou errados (1Co 8.7; 15.33-34).
Fé: Não se trata da fé salvadora, pois essa fé é um dom dado a todos os crentes (Ef
2.8). O dom da fé aqui mencionado é provavelmente uma convicção de origem
sobrenatural de que Deus vai agir de forma especial numa determinada situação, quer
por veículos naturais, quer por meios milagrosos (1Co 13.2). Essa confiança firme faz
o crente agir como se o que espera estivesse prestes a se realizar (Hb 11.7-12). Não se
deve confundir esse dom com mero otimismo ou com alguma forma de se autoiludir. O
dom da fé é dado por Deus e gera uma surpreendente onda de confiança real no coração
da pessoa.
Curas e operação de milagres: Os dons de curas eram capacidades dadas por Deus a
alguns crentes de erradicar doenças, com o fim de servi-lo. O uso do plural (“dons de
curar”) dá margem para formas diferentes de cura, o que pode abranger, além do
milagre, o uso de meios naturais como remédios e cuidado médico. Já o dom de
operação de milagres, conforme geralmente é entendido, consistia de realizar
maravilhas fora da ordem natural das coisas. Parece certo dizer que o dom de curas, em
sua expressão sobrenatural, era uma categoria mais específica do dom de operação de
milagres que abrangia prodígios num sentido mais geral. Feitos sobrenaturais foram
muito comuns na fase inaugural da igreja primitiva (At 5.15-16; 6.8; 8.13). Porém, em
poucos anos essa fase começou a apresentar indícios de esfriamento (Fp 2.26-27; 1Tm
5.23; 2Tm 4.20). A razão disso é que as curas sobrenaturais e os milagres tinham por
objetivo autenticar a mensagem nova que estava sendo pregada (Mc 16.20; At 14.3;
2Co 12.12; Hb 2.4), não havendo necessidade dessa autenticação se perpetuar. Por
isso, não se vê hoje pessoas com dons de realizar curas ou feitos milagrosos. Isso,
contudo, não significa que o Senhor, eventualmente, não faça obras grandiosas, além da
compreensão humana. Antes, significa que quando Deus realiza feitos assim, ele o faz
em resposta à oração dos crentes em geral e não por meio de indivíduos dotados por
ele com capacitações sobrenaturais (Tg 5.14-18).
Profecias: Veja-se o que foi exposto no item anterior. Deve-se apenas acrescentar aqui
que uma das responsabilidades da igreja no tocante aos profetas era avaliar o que eles
diziam, comparando suas revelações com as verdades que o Senhor já havia
transmitido (1Co 14.29). De fato, os profetas deveriam profetizar de acordo com a
“proporção da fé” (Rm 12.6), ou seja, suas profecias deveriam se harmonizar com a
doutrina cristã já fixada.
Discernimento de espíritos: Esse dom não consiste de descobrir os nomes ou as
supostas áreas de atuação de demônios, como alguns tendem a crer. Antes, é a
capacidade de discernir a origem de uma mensagem ou ensino, isto é, trata-se do dom
de discernir o que realmente procede do Espírito Santo. Assim, o crente dotado desse
dom detecta se o que está sendo dito (com todos os seus desdobramentos práticos) é de
origem divina ou se é uma doutrina demoníaca (ou meramente humana) propagada por
falsos mestres (1Tm 4.1-2; 1Jo 4.1-6). Não existe qualquer indício na Escritura ou na
história do cristianismo que aponte para o desaparecimento desse dom, sendo vital a
sua permanência na igreja cristã de todas as épocas.
Pastor mestre: Essa expressão pode designar duas funções distintas (pastores e
mestres) ou somente a função do ministro que se ocupa de pastorear e ensinar a igreja.
O artigo definido que consta do texto grego aponta para a segunda opção, realçando a
dupla responsabilidade que recai sobre os pastores, a saber: o cuidado e a instrução do
povo de Deus (At 20.28; 1Pe 5.2-3).
LISTAS DE DONS NO NOVO TESTAMENTO
Profecia, serviço, ensino,
Romanos 12.6-
exortação, contribuição,
8
liderança e misericórdia.
Palavra de sabedoria, palavra
do conhecimento, fé, curas,
1Coríntios operações de milagres,
12.8-10 profecia, discernimento de
espíritos, variedade de
línguas e interpretação.
Apóstolos, profetas, mestres,
1Coríntios operadores de milagres, dons
12.28 de curar, socorros, governos,
variedades de línguas.
Apóstolos, profetas,
Efésios 4.11 evangelistas e pastores
mestres.
Falar (de acordo com a
1Pedro 4.10-11
palavra de Deus) e servir
CUIDADO! VENENO!
Doutrina da segunda bênção: Ainda que dentro do pentecostalismo existam
crentes verdadeiros, esse movimento erra gravemente ao ensinar que o batismo do
Espírito Santo só ocorre algum tempo depois da conversão desde que o crente o busque
intensamente, devendo ainda ser acompanhado pelo dom de línguas. A crença de que
essa chamada “segunda bênção” só é obtida depois de muito esforço próprio, por meio
de jejuns, vigílias e orações, tem colocado um peso insuportável sobre os ombros de
diversas ovelhas sinceras de Jesus, além de estimular a hipocrisia por parte de quem
finge ter obtido esse “batismo”. Ora, em Gálatas 3.2, Paulo censura seus leitores
dizendo que o Espírito Santo não pode ser recebido por meio da prática de obras de
devoção.
– Compreendo, senhor. Estava pensando que bem poderia ter uma ascendência mais
honrosa.
– Descende de Adão e Eva – tornou Aslam – É honra suficientemente grande para que
o mendigo mais miserável possa andar de cabeça erguida, e também vergonha
suficientemente grande para fazer vergar os ombros do maior imperador da Terra. Dê-se
assim por satisfeito.
Introdução
O que é o homem? Como ele surgiu? Qual a razão de sua existência? O ser humano
tem algum grau de dignidade? Se tem, qual é a base dessa dignidade? O homem é
somente um animal constituído de simples matéria perecível ou sua estrutura abrange
algo mais? Tem ele deveres morais? Qual é a fonte e a base desses deveres?
Essas perguntas e muitas outras são feitas frequentemente por pessoas que veem
com razão a importância que as respostas a elas têm para o sentido da vida e o
procedimento ético. Diante dessas questões, filósofos seculares das mais variadas
tendências elaboraram diferentes respostas, sem que nenhuma delas fornecesse bases
sólidas para o respeito devido ao ser humano ou para um sistema de conduta que
pudesse ser esperado ou exigido das pessoas.
Os cristãos, por sua vez, creem que a Bíblia responde todas essas perguntas de
modo claro e preciso, formando uma antropologia sadia que eleva a importância de
cada indivíduo e que lança as bases para uma conduta honrosa.
A criação
Fora da Bíblia não há nada que possa ser dito com certeza sobre a origem do
homem. Os povos antigos legaram vários contos e lendas sobre o aparecimento da raça
humana na Terra, mas todos esses relatos são desprovidos de credibilidade.
Nos tempos modernos a ciência tem formulado teorias relacionadas à origem do
homem. Essas teorias, porém, baseiam-se mais em hipóteses do que em fatos
demonstráveis.
A verdade é que, à luz do ensino bíblico, o homem não é produto de uma evolução
natural como muitas pessoas acreditam. O homem é, isto sim, um ser criado por Deus
(Gn 1.26-27).
Emanação do Ser Supremo: Um ser supremo origina a alma ao difundir e propagar sua
própria essência. Esse ser supremo pode ser o Logos (estoicos), o Uno (neoplatônicos)
ou a Substância (Spinoza).
Criação individual e direta: Deus cria cada alma no exato momento da fecundação e a
une ao corpo (Nm 16.22; Sl 104.30, Hb 12.9). O problema é que, nesse caso, Deus
criaria uma alma pura e perfeita e a daria ao homem imperfeito. Outro problema é que
Deus cessou sua obra criadora (Gn 2.3).
TRICOTOMISMO DICOTOMISMO
O homem é composto por
O homem é
uma parte material (corpo) e
composto de corpo,
uma espiritual (alma ou
alma e espírito.
espírito).
Base Bíblica
Mt 10.28; Lc 1.46-47 (aqui
Base Bíblica há um paralelismo em que
1Ts 5.23; Hb 4.12 alma e espírito são
sinônimos); Rm 8.10; 1Co
5.5; 2Co 7.1
À imagem e semelhança de Deus (Gn 1.27; 5.1; 9.6; 1Co 11.7). Isto não significa que
o homem é fisicamente semelhante a Deus, pois Deus é espírito (Jo 4.24) e não tem um
corpo. Certamente na expressão “imagem e semelhança” estão envolvidos a
personalidade, o senso moral, a capacidade de se relacionar num nível pessoal, o poder
de dominar a criação e a espiritualidade, fatores que caracterizam o ser humano e que
tanto o diferem dos animais.
É preciso esclarecer que imagem e semelhança são termos distintos usados para
descrever uma mesma realidade. A expressão encerra um recurso de linguagem
chamado hendíadis, palavra que significa, literalmente, “um por meio de dois”. Na
hendíadis, portanto, duas palavras de conceito básico levemente distinto são usadas
para se referir a um único conceito. Esse é, pois, o caso de “imagem e semelhança”.
O fato de ter sido criado à imagem e semelhança de Deus torna o homem um ser
digno de respeito.
Com faculdades intelectuais (Gn 2.19-20). Ao ser criado, o homem podia pensar, falar
e tomar decisões. Ele já possuía, então, uma natureza racional.
Com uma natureza moral santa (Ec 7.29). Quando Deus criou o homem, este não
tinha qualquer pecado ou impureza. Certamente esta foi a maior glória que recebeu. O
homem, no princípio, era um ser moralmente perfeito.
A base bíblica para esse ensino se encontra em Romanos 11.36; 1Coríntios 10.31;
Salmo 73.24-26; João 17.22-24. (Vd. tb. Is 43.7).
CUIDADO! VENENO!
Evolucionismo/materialismo: Afirma que a realidade veio à luz pelo acaso e que o
homem é só mais um item que compõe essa realidade, tendo surgido por meio de forças
impessoais que deram andamento a um longo processo evolutivo. Foi, assim, por meio
da evolução que o ser humano chegou ao atual estágio em que se encontra biológica e
mentalmente. Uma vez que o homem é somente matéria, não existe vida além-túmulo.
Religiões orientais e Nova Era: Toda a realidade é divina, o que inclui o homem.
Sendo divino, o ser humano tem poderes sobrenaturais que deve desenvolver e também
detém a prerrogativa de criar suas próprias verdades. Por meio da reencarnação, as
pessoas vivem várias vidas até alcançar uma consciência plenamente iluminada e,
enfim, dissolver-se na força do cosmos.
CAPÍTULO 6
Introdução
O conceito bíblico de pecado e todas as verdades cristãs acerca desse tema não
têm recebido a merecida atenção nos tempos atuais, nem por parte do mundo
(obviamente), nem tampouco da igreja em geral (lamentavelmente).
Pouco se fala sobre o maior problema da humanidade, o que é lastimável, posto que
o pecado está na raiz de todas as desgraças que se abatem sobre os indivíduos, as
famílias e a sociedade como um todo.
As razões dessa negligência são, basicamente, duas: o secularismo que domina a
sociedade e o utilitarismo que invade as igrejas. Movidos pelo secularismo, os homens
tendem a explicar toda má conduta com base em noções científicas, como doenças ou
distúrbios psíquicos ou sociais, rejeitando qualquer ideia de pecado. Impulsionadas
pelo utilitarismo, as igrejas, por sua vez, tendem a evitar qualquer assunto que retarde
ou impeça o seu crescimento, afastando as pessoas que as visitam. Daí o silêncio
acerca de temas como o pecado e todas as suas conseqüências tanto aqui como na vida
futura.
A Bíblia, contrariando isso tudo, fala bastante sobre o pecado, tratando do assunto
com notável clareza. O traço que tanto caracteriza a raça humana não deixa de receber
ampla atenção na Palavra de Deus. É, pois, esse aspecto da doutrina cristã, tão
compreensivelmente mencionado nas páginas das Escrituras, que é exposto a seguir.
O significado de “pecado”
A Bíblia diz que “as vossas iniquidades fazem separação entre vós e o vosso Deus;
e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós para que vos não ouça” (Is 59.2). Isso
mostra que, basicamente, o pecado é algo que provoca o rompimento das relações do
homem com Deus.
Falando, porém, de modo mais específico, o pecado pode ser definido como:
O alcance do pecado
Nada no universo que Deus criou está fora do alcance do pecado. Tanto a realidade
material como a espiritual foram afetadas pela rebelião de criaturas racionais contra o
seu Criador. Assim, o pecado atingiu:
Os céus:O pecado entrou no universo por causa da rebelião de Satanás que, segundo a
tradição hermenêutica (questionada por alguns exegetas), é descrita em Isaías 14.12-15
e Ezequiel 28.12-15. Isso afetou os céus de modo a infestar as regiões celestiais de
anjos caídos (Jó 1.6; Ap 12.7) que também fazem guerra contra o crente (Ef 6.11-12).
Prova: Refere-se ao período durante o qual o homem foi sujeito ao teste que consistia
na obediência a uma ordem específica de Deus (Gn 2.15-17). Não se sabe quanto tempo
esse período durou.
A terra foi amaldiçoada, exigindo trabalho árduo para produzir alimento (Gn 3.17-
19).
A mulher passou a ter dores no parto e conflitos no campo da sujeição ao
marido (Gn 3.16).
Todos os homens são pecadores e estão sob condenação (Rm 5.16,18).
A morte, física e espiritual, entrou no mundo (Gn 2.17; 3.19; Rm 5.12,15,17; Ef
2.1).
A penalidade da morte eterna passou a existir (Rm 6.23; Jd 13; Ap 20.14-15).
A doutrina da depravação total afirma, isto sim, que as faculdades do ser humano
foram todas afetadas pelo pecado, não que sua conduta é sempre marcada por todo tipo
de ações más.
O quadro a seguir mostra o alcance da destruição do pecado no ser humano,
fornecendo algumas bases para a doutrina da depravação total.
ÁREA
EFEITO BASE BÍBLICA
AFETADA
O interior do homem é Gn 6.5; Sl 58.3; Mt
Mente uma fonte inesgotável de 15.18-19
palavras e ações más.
O homem não consegue Rm 3.11; 1Co 1.18;
entender as realidades 2.14; 2Co 3.14-15;
espirituais. 4.3-4
O homem tem sua Is 5.20; Rm 1.32; Ef
capacidade de julgar 4.17-19; 1Pe 4.4
Intelecto
entre o bem e o mal
limitada.
O homem tende a Sl 14.1; Mt 24.5,11;
acolher as mentiras e 2Ts 2.9-11; 2Tm 4.3-4
fábulas mais grosseiras.
O ser humano se alegra Jó 15.16; Is 66.3; 2Ts
em práticas detestáveis. 2.12; 2Pe 2.13
O ser humano não nutre
afeto algum pela Palavra Jr 6.10
Emoções
de Deus.
O ser humano ama as
Jo 3.19; 15.18-19; 1Jo
trevas, mas odeia Cristo
3.13
e seus discípulos.
O homem não consegue
realizar suas boas Jr 13.23; Rm 7.15-23
decisões.
O homem não consegue,
Vontade Jo 1.13; 6.44,65; Rm
por si só, optar por ir a
3.11
Cristo.
O homem deseja fazer a
Rm 8.8; Ef 2.1-3
vontade da carne.
O pecado e o livre-arbítrio
Livre arbítrio não é, como muitos pensam, a capacidade natural que as pessoas têm
de fazer as escolhas gerais do dia-a-dia. Isso, na verdade, é mera expressão do
exercício comum da vontade e, ainda que sofra as influências do pecado, não foi
erradicada com a queda do homem no Éden.
Observe-se a seguir uma possível definição de livre-arbítrio:
O crente e o pecado
Cristo proveu o sacrifício necessário para a satisfação da justiça de Deus (1Jo 2.2),
de forma que, graças à sua obra na cruz, toda transgressão pode ser perdoada. Assim, o
crente deve confessar seus pecados a Deus sabendo que ele é fiel e justo para purificá-
lo de toda injustiça (1Jo 1.9). Essa confissão deve ser expressão de verdadeiro
arrependimento (Tg 4.8-9).
No tocante à natureza pecaminosa, o crente deve, pelo poder do Espírito que nele
habita, enfraquecê-la, a fim de não andar sob os ditames de suas paixões carnais (Rm
6.12-13; 8.13; Gl 5.16-26; Ef 4.17-24; Cl 3.5). Ele deve fazer isso sabendo que foi
revestido de uma nova natureza (Rm 8.1-5, 9; 2Co 5.17; Cl 3.9-10) que o capacita a não
viver como escravo de suas más inclinações.
CUIDADO! VENENO!
Humanismo otimista: Rejeita qualquer noção de pecado ou de depravação do ser
humano. Parte do pressuposto de que os desvios de comportamento das pessoas são
devidos a influências externas tais como a educação recebida no lar, o ambiente social,
as experiências de frustração ou sofrimento e as pressões culturais e/ou religiosas. Os
indivíduos são dotados, portanto, de bondade intrínseca, a qual pode aflorar caso os
fatores restritivos externos sejam afastados. Esses pressupostos são acolhidos por
algumas vertentes da psicologia e da sociologia seculares.
Tu me chamaste e teu grito rompeu a minha surdez. Fulguraste e brilhaste e tua luz
afugentou a minha cegueira. Espargiste tua fragrância e, respirando-a, suspirei por ti. Eu
te saboreei, e agora tenho fome e sede de ti. Tu me tocaste, e agora estou ardendo no
desejo da tua paz.
Introdução
No anseio de cumprir a ordem de Jesus de evangelizar o mundo inteiro, os cristãos
frequentemente falam sobre a salvação em suas conversas com os não crentes. Isso, às
vezes, gera certa confusão, pois os incrédulos não entendem o que significa a afirmação
de que o pecador precisa ser salvo. Por isso, é preciso que o discípulo de Jesus tenha
em mente noções bem claras acerca da soteriologia bíblica, caso queria falar de forma
mais eficaz acerca das boas-novas que deve proclamar.
Basicamente, salvação é o livramento da punição eterna do pecado (no momento
em que se crê em Cristo), do poder escravizante do pecado (na medida em que o cristão
cresce em santidade) e da presença maligna do pecado (quando o homem redimido
estiver enfim com o Senhor). Esse livramento só é obtido pela fé em Cristo como o
Filho de Deus que morreu pelos pecados da humanidade, mas ressuscitou dentre os
mortos para justificação de todo o que crê (Jo 3.16; Rm 4.25).
A salvação, em sua plena consumação, abrange a alma do crente que é levada ao
céu quando chega a morte (At 7.59; Fp 1.23) e o seu corpo que será revestido de
incorruptibilidade ao tempo da ressurreição ou do arrebatamento da igreja (1Co 15.51-
55; 2Co 5.1-8; 1Ts 4.16-17).
Neste capítulo serão brevemente expostos os diferentes aspectos que compõem a
doutrina da salvação, conforme apresentada na Bíblia.
A predestinação
Os verbos “predestinar” e “predeterminar” traduzem a palavra grega proorízo.
Predestinar é destinar de antemão e se trata de uma ação de Deus que abrange todos os
eventos (At 4.27-28). No campo da soteriologia, a Bíblia afirma que Deus predestinou
os crentes para serem conforme a imagem de seu Filho e que o resultado final disso
será a glorificação deles (Rm 8.29-30).
Deus também predestinou os crentes para a adoção de filhos. Isso teve como única
causa a livre escolha do Senhor, realizada segundo o conselho da sua vontade (Ef
1.5,11).
O propósito último da predestinação dos crentes é o louvor da gloriosa graça de
Deus (Ef 1.6).
A eleição
A eleição (Gr. eklogé / eleitos, Gr. eklektoí) diz respeito ao ato livre e soberano de
Deus de escolher aqueles que, sem mérito algum, serão alvos efetivos da sua graça
salvadora (Rm 9.14-24; 11.3-8).
O ato divino de eleger os que seriam salvos ocorreu na eternidade, antes da
fundação do mundo (Ef 1.4), e foi realizado conforme a graça e a livre determinação do
Senhor (2Tm 1.9; 1Pe 1.1-2), e não de acordo com qualquer fator positivo que ele,
porventura, tenha visto previamente no homem (Rm 9.11,16; 11.5-6). De fato, a eleição
não busca homens dignos, mas sim produz homens dignos (Cl 1.12), fazendo deles
veículos de bênçãos (Mc 13.20) e protegendo-os do engano (Mt 24.24).
O Novo Testamento enfatiza que não há nenhuma injustiça da parte de Deus em seu
ato de eleger quem ele quer para a salvação (Rm 9.13-20).
Ao contrário do que dizem, a eleição não desestimula o evangelismo. Em vez disso,
essa doutrina encoraja a pregação da fé (At 18.9-10), uma vez que afirma que os
eleitos, cedo ou tarde, atenderão à mensagem das boas-novas (Jo 10.16; At 13.48; 1Ts
1.4-5; 2Ts 2.13-14) e que os escolhidos que estão dispersos serão, com certeza,
reunidos num só corpo, cumprindo enfim o plano infalível de Deus (Mt 24.31; Jo 11.51-
52).
A aquisição
Deus comprou (Gr. agorázo) ou adquiriu (Gr. peripoiéo) o crente para si e o preço
que pagou foi o sangue de seu próprio Filho. Como um escravo que foi adquirido por
precioso valor, o cristão agora pertence a Cristo, sendo servo dele para sempre (At
20.28; 1Co 6.20; 7.23; Ap 5.9).
A libertação
De acordo com Gálatas 3.10-11, todas as pessoas estão debaixo da maldição da lei,
sendo consideradas condenáveis diante de Deus em virtude de sua transgressão. O
crente, porém, foi liberto (Gr. vb. exagorázo) dessa maldição, pois Cristo o substituiu
na cruz, fazendo-se, ele próprio, maldição em lugar do pecador (Gl 3.13).
Cristo também libertou o crente do fardo da Lei a fim de que o homem salvo não
viva como um escravo oprimido, mas desfrute do status de filho de Deus por adoção
(Gl 4.5-6).
A redenção
No conceito de redenção (Gr. lytrosis – Hb 9.12 / apolytrosis – Rm 3.24; Ef 1.7)
está embutida a ideia de livrar por meio do pagamento de um resgate (Gr. lytron – Mt
20.28). Por meio do pagamento realizado por Cristo na cruz, os crentes foram
resgatados (Gr. vb. lytróo) da iniquidade (Tt 2.14) e da maneira vazia de viver (1Pe
1.18).
A redenção do crente tem também um aspecto futuro, adquirindo o sentido de
livramento da presente realidade marcada pelo pecado e seus efeitos (Rm 8.23; Ef
1.14; 4.30).
A vocação
A vocação (Gr. klesis / aquele que é chamado, Gr. kletós, vb. kaléo) de que se trata
aqui é o chamado especial que o Senhor dirige unicamente aos eleitos (Rm 1.6; 8.28,30;
1Co 7.17-24; Ef 4.1,4; Cl 3.15; Hb 3.1). Trata-se de um convite diferente do chamado
geral, dirigido a todas as pessoas (Mt 11.28; 22.14), uma vez que a vocação salvífica é
eficaz e sempre conduz o eleito a Cristo (1Tm 6.12; Jd 1). Essa vocação especial é
baseada unicamente na graça de Deus, sem que o homem chamado tenha mérito algum
(2Tm 1.9).
A resposta positiva à vocação salvífica é garantida porque esse chamado, uma vez
que é dirigido somente aos eleitos, é acompanhado pela obra de convencimento do
Espírito Santo que, com paciência e docilidade, atua no coração do indivíduo até que
ele entenda e aceite a mensagem cristã (At 16.14).
Frise-se que essa obra eficaz de vocação e convencimento não é realizada em cada
ser humano (Rm 11.4; 1Co 1.23-26), do contrário todos os homens seriam salvos,
hipótese que, como é sabido, jamais se cumprirá (Mt 25.46; 2Ts 1.9).
Assim, conforme dito, somente os eleitos são objeto do chamado gracioso (Rm
8.28-30; 2Ts 2.13-14). Estes, ainda que possam resistir à ação de Deus em sua vida
durante algum tempo, no fim fatalmente se rendem à voz de Cristo e, ansiando por ele,
curvam-se aos seus pés cheios de fé, arrependimento e gratidão (Jo 10.16). Os demais,
porém, são deixados na incredulidade ou punidos com endurecimento ainda maior (Is
63.17; Jo 12.37-40; Rm 1.24-28; 9.17-18; 11.7-10; 2Ts 2.11).
O perdão
Na esfera da soteriologia, perdoar (Gr. charízomai / perdão, Gr. áfesis, vb. afíemi)
é o ato de Deus que consiste em cancelar toda a dívida que o pecador tem com ele (Cl
2.13), deixando-o livre para prosseguir, sem qualquer cobrança (Veja-se uma ilustração
disso em Mateus 18.23-27).
Esse perdão salvífico é único e ocorre ao tempo da conversão (At 10.43). Nesse
aspecto, é diferente do perdão que, diversas vezes ao longo da jornada cristã, Deus
concede ao crente que confessa seus pecados (1Jo 1.9).
O perdão salvador de Deus só é possível porque Cristo sofreu as consequências do
pecado (Ef 1.7; 4.32).
A justificação
Justificar (Gr. dikaióo) é declarar justo ou livre de culpa e de castigo.
Assim, a justificação (Gr. dikaíosis) é o ato judicial de Deus, baseado na obra de
Cristo, mediante o qual ele atribui justiça ao homem que deposita sua confiança em
Jesus, livrando-o da condenação decorrente da culpa do pecado (At 13.38-39; Rm
3.21-24; 5.1; 8.1,30,33-34; Fp 3.9; Tt 3.5-7).
Obviamente, a justificação abrange o perdão (Rm 4.6-8), mas vai além desse
conceito, pois não somente cancela os pecados do homem que crê, mas também atribui
a ele a justiça de Cristo realizada na cruz (Rm 5.18; 2Co 5.21).
A justificação é imediata, ou seja, ocorre no exato momento em que o homem passa
a ter fé em Cristo (Rm 4.5).
A reconciliação
Reconciliação (Gr. katallagé, vb. katallásso) é o restabelecimento da paz entre
Deus e o homem. Por causa do pecado, o relacionamento entre ambos foi rompido (Is
59.2; Tg 4.4). Cristo, porém, sofreu em seu corpo, pela morte, as consequências dessa
inimizade (Cl 1.21-22 – aqui consta o verbo apokathístemi, restaurar). Agora, quem
crê nele é reconciliado com Deus, sendo salvo da sua ira (Jo 3.36; Rm 5.9-11). Assim,
a reconciliação ocorre por meio de Cristo e abrange o perdão dos pecados (2Co 5.18-
19).
A mensagem que anuncia a disposição de Deus em reconciliar o homem consigo,
mediante Jesus, é o cerne das boas-novas pregadas pelos apóstolos, sendo essa a
mensagem que faz do evangelista um embaixador de Deus (2Co 5.20).
A adoção
O termo “adoção” (Gr. huiothesía) é usado para descrever a posição que o crente
ocupa diante de Deus, desfrutando dos direitos e privilégios de filho.
Por causa da adoção, o cristão deixa de ser como um escravo que vive debaixo do
medo e começa a participar de um relacionamento com o Senhor marcado por
intimidade e segurança (Rm 8.15; Gl 4.5-6). Também pela adoção, o homem se vê livre
do jugo escravizante da lei e entra para a condição de herdeiro de Deus (Rm 8.17; Gl
4.7).
A adoção é garantida na predestinação feita pelo Pai (Ef 1.5), é efetivada na
conversão ao Filho (Jo 1.12) e é testificada no coração pelo Espírito (Rm 8.16).
A regeneração
Basicamente, regenerar (Gr. anagennáo / regeneração, Gr. palingenesia,) significa
gerar de novo. Não se trata, portanto, de uma mera reforma na vida de alguém, mas sim
de um novo nascimento que ocorre na esfera espiritual (Jo 3.3-6; 1Pe 1.3,23; 1Jo 3.9) e
cuja origem está em Deus.
Conforme o ensino de Jesus, ser regenerado é nascer “da água e do Espírito” (Jo
3.5). Essa expressão evoca a Nova Aliança mencionada em Ezequiel 36.25-27. Dessa
passagem se depreende que nascer “da água e do Espírito” é ser purificado dos
pecados e habitado pelo Espírito Santo (Tt 3.5-6).
Note-se que a regeneração é um ato soberano de Deus. É somente por sua vontade e
poder que alguém nasce de novo (Jo 1.13; Tg 1.18). Aliás, a palavra traduzida como
“de novo” em João 3.3 (Gr. ánothen), também significa “do alto”, indicando que a
causa primária da regeneração é celeste e não terrena.
A vivificação
A Bíblia ensina que o homem incrédulo está morto em meio a delitos e pecados.
Ocorrendo, porém, a fé em Cristo, o pecador é ressuscitado, recebendo vida espiritual
(Ef 2.1,5) e perdão (Cl 2.13).
Ao ser vivificado (Gr. vb. syzoopoiéo, ser vivificado com), o crente é, de certa
maneira, elevado à esfera celeste, onde desfruta de privilégios e bênçãos em sua nova
associação com o Cristo ressurreto (Ef 1.3; 2.6).
A recriação
O cristão é o prenúncio presente da nova criação futura (Ap 21.5). De fato, a Bíblia
diz que quem está em Cristo é parte da nova criação (Gr. kainé ktísis) de Deus. O efeito
disso é que o homem assim recriado abandona concepções e cosmovisões mundanas
(1Co 2.16; 2Co 5.16-17) e, na prática, se vê comprometido com as boas obras, assim
definidas segundo os padrões de Deus (Ef 2.10; 4.23-24).
Nessa recriação, a imagem de Deus no homem, que foi pervertida pelo pecado
desde o Éden, entra num processo dinâmico e glorioso de restauração (2Co 3.18; Cl
3.10).
A preservação
A doutrina da preservação é também conhecida como doutrina da perseverança dos
santos. Grosso modo, essa doutrina ensina que aqueles que Deus escolheu por sua graça
jamais poderão perder a salvação, ainda que estejam sujeitos a quedas e até a desvios
temporários.
Uma das bases para essa doutrina está na afirmação de que a salvação abrange uma
sequência de ações de Deus que começa na eternidade passada e se conclui com a
glorificação perene no futuro (Rm 8.29-30). Considerando a soberania e o poder de
Deus, essa sequência não pode ser frustrada ou interrompida.
De fato, no texto de Romanos 8.29-30, vê-se que a corrente da salvação mostra seu
elo inicial quando Deus conhece de antemão e predestina aqueles a quem decide
alcançar. Em seguida, ele chama e justifica essas pessoas, glorificando-as finalmente.
Evidentemente, não há como quebrar esse processo, estando a salvação garantida,
inclusive, pelo selo do Espírito que é o penhor da herança eterna (Ef 1.13-14).
Ademais, é absurdo conceber o Deus da Bíblia como um ser incapaz, que
predestina alguém para salvar, chama-o e o justifica, mas no fim não consegue
glorificá-lo. Aliás, indo precisamente contra essa ideia, a Bíblia afirma que é pelo
poder de Deus que os crentes são guardados para a salvação (Jo 10.28-29; 1Ts 5.23-24;
1Pe 1.5; 5.10; Jd 24-25).
Outra base para a doutrina da preservação está no conceito de novo nascimento.
Jesus ensinou que o homem salvo é aquele que nasceu de novo pela fé nele, podendo
agora ver o reino celeste (Jo 3.3). Sabe-se também que quem nasce de novo se torna
filho de Deus (Jo 1.12-13; 1Jo 5.1). Evidentemente, para perder essas bênçãos, o
crente teria que “desnascer”. E mais: se quisesse recuperá-las teria de nascer de novo
de novo! Ora, essas possibilidades não existem nas Escrituras. Nascer de novo ou ser
regenerado, tornando-se filho de Deus, é experiência única e, infalivelmente, resulta na
salvação do crente (Gl 3.26-29).
A doutrina da preservação dos santos também se sustenta na afirmação de que a
salvação não pode ser anulada pelo pecado individual do crente. Em 1Coríntios 5.1-5,
Paulo fala de um crente que tinha envolvimento sexual com a mulher do próprio pai.
Era um pecado tão grave que ele diz não ser comum nem mesmo entre os pagãos (v.1),
devendo esse homem ser “entregue a Satanás” (v.5), o que significa ser expulso da
igreja (v.13). Isso, porém, não fez com que aquele homem perdesse a salvação. Na
verdade, Paulo diz que a disciplina poderia trazer a destruição do corpo, mas que o
espírito daquele homem seria salvo (v.5). Ademais, em 1João 2.1, é ensinado que se
algum crente pecar, isso não gera sua condenação eterna, mas sim sua defesa, feita por
um “Advogado junto ao Pai: Jesus Cristo, o justo”.
Finalmente, é importante observar que a segurança do homem salvo é testificada
pelo próprio Espírito Santo em seu interior (Rm 8.15-16).
Outros textos que falam da segurança do crente são os seguintes: João 6.37-40;
Romanos 5.8-10; 8.33-39; 1Coríntios 1.7-8; 3.15; Efésios 4.30; Filipenses 1.6 e
Hebreus 7.25.
A santificação
Basicamente, santificação (Gr. hagiasmós) é a separação de algo por Deus para o
seu uso. Quando relacionada à salvação do homem, a santificação pode ser posicional
e experimental.
A glorificação
A glorificação (Gr. vb. doxázo) diz respeito à consumação da salvação do crente
(Rm 8.17-18,21,30; 1Pe 5.4). Na glorificação o salvo entra para um estado de total
livramento do pecado e dos seus efeitos, passando a habitar com o Senhor para sempre
(Cl 3.4; 1Jo 3.2).
Essa fase abrange não somente a entrada da alma no céu (Lc 23.43; At 7.59; Fp
1.22-23), mas também, em sua realização completa, na ressurreição, o recebimento de
um corpo transformado, totalmente livre de corrupção e sobre o qual a morte não tem
poder (Rm 8.23; 1Co 15.42-43,51-54; 2Co 5.1-4).
O ambiente definitivo em que a glorificação será desfrutada é a nova terra que o
Senhor há de criar (Ap 21.1-4).
Base bíblica para a pregação como fator que precede a fé: Lucas 16.31; João
17.20; Romanos 10.13-17; 1Coríntios 1.21; Efésios 1.13; 2Timóteo 3.14-15; Tiago
1.18,21; 1Pedro 1.23.
Base bíblica para o arrependimento como fator que acompanha a fé: Mateus
21.28-32; Marcos 1.15; Atos 2.37-41; 3.19; 11.18.
Base bíblica para a perseverança e os frutos como fatores que decorrem da fé:
1Tessalonicenses 1.3-10; Hebreus 10.39; 1Pedro 1.5; 1João 5.4-5.
CUIDADO! VENENO!
Arminianismo: O ensino bíblico que afirma que o crente não perde a salvação é
chamado tecnicamente de doutrina da perseverança dos santos. Trata-se de um dos
temas principais defendidos pela teologia reformada. Dentro do protestantismo, a
vertente que se opõe à doutrina da perseverança dos santos é o arminianismo, sistema
idealizado pelo teólogo holandês Jacó Armínio (1560-1609). Entre outras coisas, o
arminianismo nega a fórmula “uma vez salvo, salvo para sempre”. Ainda que esse
modelo tenha sido condenado pelo Sínodo de Dort (1618-1619), muitas igrejas
evangélicas modernas o adotam, sendo possível encontrar seus expoentes entre batistas
(eventualmente), assembleianos (principalmente) e presbiterianos
(surpreendentemente). O perigo do arminianismo, considerado sob esse aspecto, é que
faz a segurança do crente depender de seu esforço próprio. No final das contas, a
salvação acaba sendo devida à dedicação e empenho do homem em vez de ser pela fé
somente. Na prática, as igrejas que ensinam a perda da salvação exigem que o crente
desviado conserte sua vida e volte para a igreja se quiser ser “salvo de novo”. A
implicação lógica é que, de acordo com essa concepção, a “segunda” (ou terceira, ou
quarta!) salvação ocorre pelas obras, ainda que os arminianos nem sempre estejam
dispostos a assumir essa conclusão.
Aniquilacionismo: De acordo com essa visão, não existe nenhuma dimensão além e,
depois da morte, o homem simplesmente apodrece. Ligada a essa concepção, mas com
contornos menos radicais, está o condicionalismo ou a doutrina da imortalidade
condicional, segundo a qual a imortalidade é uma dádiva de Deus concedida a todos os
homens, mas só poderão retê-la aqueles que preencherem a condição de crer em Cristo.
Assim, para os condicionalistas, os que rejeitam o Salvador serão aniquilados, caindo
na inexistência completa. Os condicionalistas geralmente aceitam a possibilidade de um
período indefinido de sofrimento no inferno, antes da total aniquilação do ímpio. A
noção de um inferno eterno e literal, porém, de acordo com essa concepção, deve ser
recusada, pois, segundo entendem, essa ideia não se harmoniza com o conceito de um
Deus justo que vencerá definitivamente o mal.
Porque a igreja não tem outro Rei senão Jesus Cristo. Porque a igreja não deve ingerir-se
na política do mundo, tirar desta a sua própria inspiração nem apelar para suas espadas,
suas prisões, seus tesouros. Porque a igreja vencerá pelas forças espirituais que Deus
depositou em seu seio, e, acima de tudo, pelo reinado de seu Chefe adorável. Porque a
igreja não deve contar com tronos terrenos nem triunfos efêmeros, mas que a sua marcha
se assemelhe à do Rei: da manjedoura para a cruz; da cruz para a coroa!
Introdução
Uma das doutrinas mais negligenciadas dentro do cristianismo é a eclesiologia, ou
seja, o ensino bíblico acerca da comunidade da fé, sua natureza, relevância, deveres e
propósito.
Essa falta de conhecimento tem gerado prejuízos enormes para a causa do Mestre.
Desprovidos de conceitos claros, os crentes têm dado o título de igreja a grupos que
nem de longe se ajustam ao que realmente o Corpo de Cristo é e, então, têm se
associado com esses grupos. Além disso, sem diretrizes acerca do modo como a igreja
deve funcionar, comunidades cristãs inventam formas estranhas de louvor, de disciplina
e de culto, fazendo com que o nome “igreja” seja associado com práticas baderneiras,
com crendices toscas e com excessos inaceitáveis.
Como se não bastasse, a falta de conhecimento da eclesiologia bíblica tem sido
acompanhada por uma crítica severa contra qualquer tipo de comunidade cristã
formalmente organizada. Essa crítica afirma que as igrejas locais são absolutamente
dispensáveis para quem quer adorar a Deus e que, na verdade, essas instituições são
somente instrumentos nas mãos de uma minoria que se deleita em oprimir e explorar
pessoas de boa-fé.
Todos esses desvios podem ser facilmente evitados pelos crentes que conhecem o
ensino cristão sobre a igreja. Além disso, o crente que entende a eclesiologia bíblica
saberá não somente fugir dos erros que tentam desfigurar a igreja de Deus, mas também
se sentirá motivado a se comportar de modo santo dentro dela.
O significado de “igreja”
A palavra “igreja” vem do termo grego ekklesía, que significa “assembleia”.
Juntando esse sentido básico com outras informações dadas pelo Novo Testamento, é
possível definir a igreja da seguinte forma:
QUATRO RESSALVAS
A igreja bíblica não tem um templo considerado como lugar sagrado (At 20.20;
Rm 16.5; 1Co 3.16-17; 6.19; 2Co 6.16; Ef 2.22; Cl 4.15; 1Pe 2.5).
Nem todas as comunidades evangélicas são igrejas no sentido bíblico (Mt
7.21-23).
Nenhuma igreja pode se apresentar como a única verdadeira (Jo 14.6).
Nenhuma igreja pode se apresentar como a melhor entre todas as demais (Ap
3.17).
Distinções comuns
Igreja local e igreja universal: A primeira designação diz respeito a uma
comunidade de crentes que se reúne numa localidade específica. A segunda designação
se refere geralmente aos crentes em Cristo espalhados por todo o mundo.
Igreja visível e igreja invisível: A primeira designação refere-se à igreja local. A
segunda designação aponta para a igreja universal.
Igreja militante e igreja triunfante: A primeira é a igreja que ainda batalha neste
mundo. A segunda, o conjunto de crentes que já está com Cristo na glória celeste.
Os símbolos da igreja
O corpo: É símbolo que denota a unidade dos membros da igreja e a diversidade das
suas funções no corpo de Cristo (Rm 12.4-5).
O templo: É figura que destaca a igreja como habitação de Deus (Ef 2.19-22).
O casal: Simboliza a união singular e indissolúvel da igreja com Cristo (Ef 5.31-32).
Os propósitos da igreja
O propósito da igreja se divide em dois aspectos: o imediato e o final.
O propósito imediato:Esse aspecto do propósito da igreja envolve o testemunho que
ela deve dar a este mundo acerca da verdade, seja por meio da evangelização direta ou
da vida de cada membro (1Pe 2.9).
O propósito final: Nesse aspecto a igreja cumpre o propósito eterno de Deus para a
história, ou seja, a sua glória. Por meio da igreja, Deus será eternamente glorificado (Ef
1.6,12,14; 2.6-7).
A sublimidade da igreja
O NT destaca a sublimidade da igreja por meio do ensino de diversas verdades
relativas a ela. A lista abaixo mostra algumas dessas verdades:
Apóstolos
O NT usa o termo “apóstolo” em dois sentidos. Num sentido não técnico a palavra se
refere a um missionário, mensageiro ou pregador (At 14.14; Rm 16.7?; Gl 1.19), já que
o vocábulo significa, literalmente, “alguém mandado”. No sentido técnico, porém, o
termo é restrito a um grupo que existiu somente no século I, quando a igreja lançava
seus alicerces (Ef 2.20). Esse grupo foi formado por doze homens apenas (Ap 21.14).
O quadro ao lado mostra os requisitos que eram necessários para ser apóstolo nesse
sentido especial.
Profetas
Também pertenceram ao período em que a igreja lançava suas bases doutrinárias,
éticas e funcionais (Ef 2.20). Sua função principal era ser um canal de revelação
doutrinária inédita (Ef 3.5), mas, às vezes, os profetas também faziam previsões,
especialmente quando o evento predito tinha grande impacto sobre a igreja como um
todo (At 11.28; 21.10-11).
Evangelistas
São oficiais da igreja designados para proclamar a mensagem de salvação em
Cristo (Ef 4.11). Veja mais informações sobre esse cargo no Capítulo 4, subtítulo “Os
Dons Alistados na Carta aos Efésios”.
OBSERVAÇÕES IMPORTANTES
As bases para a proibição de a mulher liderar a igreja não são culturais, mas
teológicas, a saber, a ordem da criação e a doutrina da queda (1Tm 2.11-14).
Na igreja primitiva havia profetisas e, quando tinham revelação, era-lhes
permitido falar (1Co 11.5). O dom de profetizar, contudo, conforme visto,
desapareceu ao fim do século I.
Na Bíblia é permitido que as mulheres ensinem os homens fora do contexto
eclesiástico (At 18.26), pois isso não compromete o funcionamento ideal da
igreja (1Tm 3.15).
As mulheres podem realizar alguma forma de diaconia (serviço – Rm 16.1),
mas sem assumir o diaconato, pois este é um cargo próprio de líderes
eclesiásticos.
Diáconos
O termo “diácono” (Gr. diákonos) designa alguém que serve, apoia ou auxilia. Está
ligado ao verbo diakonéo, cujo sentido é servir a mesa (Lc 12.37), cuidar ou ajudar.
A princípio, os diáconos eram apenas um grupo de amparo social (At 6.1-6).
Porém, ainda no tempo do NT, sua importância cresceu, vindo o cargo a compor a
liderança da igreja (Fp 1.1), tanto que os requisitos bíblicos para o diaconato são quase
os mesmos impostos aos pastores (1Tm 3.8-13).
O Batismo
O batismo é obrigatório a todo aquele que aceitou Jesus Cristo como seu salvador,
pois o próprio Senhor o ordenou (Mt 28.19-20). Essa ordenança tem quatro objetivos:
A forma de batismo praticada nos dias do Novo Testamento era a total imersão do
crente na água (Mc 1.9-11; Jo 3.23; At 8.36-39). Porém, no meio cristão há igrejas que
praticam a aspersão e a efusão, tendo por base textos como Atos 9.18; 10.47-48; 16.33;
22.16 e 1Coríntios 10.2.
O batismo infantil não é ensinado na Bíblia, uma vez que, antes de ser batizado, o
indivíduo deve crer (At 2.41; 8.36-38). É preciso reconhecer, porém, que igrejas sérias
têm um entendimento diferente desse assunto e batizam crianças, tendo por base a
Teologia do Pacto e textos como Atos 16.33 (é dito que provavelmente havia crianças
na casa do carcereiro), Romanos 4.11 (a circuncisão é definida aqui como um selo de
fé e, mesmo assim, era ministrada a bebês que ainda não podiam ter fé) e 1Coríntios
10.2 (havia bebês participando dos eventos do Êxodo mencionados aqui).
É preciso destacar finalmente que, diferente do que algumas seitas ensinam, o
batismo não é necessário à salvação (Lc 23.39-43; 1Co 1.14-17).
A Ceia do Senhor
A ceia do Senhor é um memorial que recorda o sacrifício de Cristo (1Co 11.24-25),
memorial este celebrado em meio a uma realidade espiritual que transcende a
experiência regular da igreja, na medida em que proporciona aos crentes uma
cumplicidade mais plena com o próprio Senhor presente de forma intensa no momento
da celebração (1Co 10.16-17).
Jesus instituiu a ceia pouco antes de sua paixão (1Co 11.23-26). Cada elemento tem
um significado: o pão partido simboliza o corpo de Cristo que foi ferido; o vinho é
símbolo do seu sangue vertido na morte em favor dos pecadores.
No trato com o pecado, os cristãos também têm na Bíblia mostras de como lidar
com o comportamento reprovável de grupos inteiros, deixando claro que em casos
assim o problema deve ser levado a alguém que tenha algum grau de autoridade na
igreja (1Co 1.11-12). Também há uma orientação específica para o caso de pecados de
líderes (1Tm 5.19-20). Nessa hipótese, pode haver repreensão na presença de todos,
mas o texto não deixa claro se esses “todos” são os irmãos em geral ou se são os
demais líderes. Seja como for, o resultado da obstinação será sempre a excomunhão, ou
seja, a expulsão do pecador rebelde e contumaz.
Cumprir as ordens de Deus acerca do modo como sua igreja deve lidar com a
rebeldia.
Colocar o ofensor sob a mão punitiva de Deus (1Co 5.4-5) e longe do amparo
dos irmãos (Mt 18.17; 1Co 5.9-11) a fim de que, sendo fustigado por tudo isso,
enfim se arrependa (2Co 2.6-11).
Manter a pureza da igreja (1Co 5.6-8).
Gerar temor nos demais irmãos (At 5.11; 1Tm 5.20).
Evitar o juízo que Deus traz sobre a igreja que tolera o mal em seu meio (Ap
2.14-16,20-23).
Porque é fundamental que o crente faça parte de uma igreja local e se reúna
regularmente com seus irmãos?
Assim, pois, de maneira alguma e em tempo algum, os espíritos que chamamos anjos
começaram por ser trevas. No mesmo instante em que Deus os criou foram luz; criados,
não para serem ou viverem simplesmente, mas ainda iluminados para viverem vida feliz e
sábia.
Introdução
Contrariando as previsões dos racionalistas dos séculos XVIII e XIX, o homem
pós-moderno tem um profundo interesse pelo universo espiritual. Infelizmente, porém,
por causa da ignorância bíblica, esse interesse, via de regra, produz construções
equivocadas, baseadas em mitos e superstições vazias.
É o caso das ideias gerais que as pessoas de hoje nutrem acerca dos anjos. Livros e
revistas aparecem vez por outra tratando desse assunto e discursos são pronunciados
acerca do tema até com certa vivacidade, despertando o interesse de um público
enorme. Contudo, as conclusões que muitas vezes são apresentadas pelos “mestres”
deste mundo raramente se harmonizam com a doutrina cristã sobre o assunto, uma vez
que não se baseiam na Bíblia e, quando a Palavra de Deus é eventualmente citada para
corroborar alguma proposição, seu texto é geralmente distorcido para atender aos
interesses do expoente.
Diante desse cenário, este capítulo pretende oferecer elementos com os quais o
crente possa construir uma angelologia verdadeiramente bíblica com que possa evitar e
corrigir os desvios modernos. Ademais, uma vez que esse tema, conforme será visto,
aparece na Bíblia inúmeras vezes, fica fora de dúvida que sua análise merece
consideração especial.
Terminologia
Anjos aparecem na Bíblia do princípio ao fim (Gn 3.24; Ap 22.16). São
mencionados 325 vezes em 33 dos 66 livros. Só o Apocalipse os menciona 76 vezes.
Os termos que a Bíblia usa para se referir aos anjos são os seguintes:
Malak: Mensageiro, anjo (109 vezes no AT). Pode se referir a um profeta (Ml
1.1), mas geralmente se aplica a anjos.
Querubim: Singular Chetub. Significado incerto. Talvez sugira alguém que
está perto de Deus, ministrando a ele, ou alguém admitido em sua presença (Gn
3.24; Êx 25.18s; Ez 1.5s; 10.15s; 28.12s).
Serafim: Possivelmente vem de uma raiz hebraica que significa “consumir
com fogo” (Is 6.2,6).
Angelos: Mensageiro, anjo (186 vezes no NT).
Outros nomes: “Filhos de Deus” (Jó 1.6; 2.1); “seres celestiais” (Sl 89.6);
“santos/assembleia dos santos” (Sl 89.5-7; Dn 4.13; Zc 14.5); “milícia
celestial” (Lc 2.13); “santas miríades” (Jd 14).
Acerca dos anjos maus, também chamados de demônios, a Bíblia diz que muitos
deles estão em prisão, reservados para juízo (2Pe 2.4; Jd 6). Isso, porém, talvez não
signifique que eles estejam confinados num lugar. A menção da prisão (tártaro, abismo,
trevas, correntes) pode ser apenas uma referência à situação em que se encontram,
aguardando o juízo de Deus. Seja como for, é certo que há muitos anjos maus em plena
atividade neste mundo (Ef 6.12).
No futuro, anjos maus serão derrotados por Miguel e seus anjos (Ap 12.7-8) e junto
com o diabo, serão lançados à terra, onde provavelmente vão atuar de modo intenso
durante a Grande Tribulação (Ap 12.9,12). As Escrituras também ensinam que os anjos
maus serão julgados pelos crentes (1Co 6.3), não havendo esperança de salvação para
eles (Hb 2.16). Com efeito, no fim todos serão lançados no fogo eterno (Mt 25.41).
1Ts 2.18
CRENTES Faz oposição
Acusa Ap 12.9-10
Dará poder ao
FUTURO 2Ts 2.9-10
Anticristo
Satanás tem acesso ao trono de Deus (Jó 1.6; 2.1; Zc 3.1-6; Lc 22.31; Ap 12.7-10),
reina sobre a hierarquia dos demônios (Mt 25.41; Ef 6.12; Ap 12.7) e também sobre
este mundo (Lc 4.5-6; 2Co 4.3; Ef 2.1-3; 1Jo 5.19-20).
O destino de Satanás
No futuro, Satanás será expulso dos lugares celestiais (Ap 12.9). Ele será
aprisionado no abismo e solto somente ao final de mil anos (Ap 20.1-9). Por fim,
Satanás será lançado no lago de fogo (Ap 20.10).
Resistir a Satanás significa fazer uso das grandes verdades da Palavra de Deus na
luta contra ele. Portanto, para resisti-lo é necessário conhecer a Bíblia e as doutrinas
nela ensinadas. Foi dessa maneira que Jesus enfrentou Satanás durante a tentação no
deserto (Mt 4.1-11). É bom lembrar também que naquela ocasião Jesus estava cheio do
Espírito (Lc 4.1), sendo esta também uma condição necessária para vencer o inimigo.
Em Apocalipse 12.11 encontram-se as três causas principais da vitória total do
crente sobre Satanás, a saber: o sangue do Cristo (cf. Hb 2.14-15), o testemunho firme e
corajoso e a perseverança mesmo em face da morte.
CUIDADO! VENENO!
Testemunhas de Jeová e Adventismo: As Testemunhas de Jeová acreditam que o
arcanjo Miguel era Jesus antes de se encarnar e que ele retomou essa designação após a
ressurreição. Os Adventistas do Sétimo Dia pensam da mesma forma, mas não negam a
divindade de Jesus como fazem as Testemunhas de Jeová. O livro de Hebreus reprova
qualquer forma de identificação de Jesus com um anjo (Hb 1.4-14).
Mormonismo: Ensina que o arcanjo Miguel é Adão e que ele ajudou Javé a criar o
mundo. Dentro do mormonismo existe também a figura do anjo Moroni, central para a
sua doutrina. De acordo com o Livro de Mórmon, Moroni foi um profeta que, após a
morte, virou anjo e mostrou a Joseph Smith o local onde estavam certas placas de ouro
cobertas com inscrições. Essas placas, uma vez traduzidas, formaram o Livro de
Mórmon. Moroni, quando homem, foi filho de Mórmon, o profeta que organizou as
placas. O mormonismo ensina a possibilidade de o homem se tornar divino passando
antes pelo estado angélico, como ocorreu com Moroni.
Catolicismo Romano: Ensina que, desde o nascimento, Deus envia um anjo para
proteger cada pessoa ao longo da vida. A partir de 1670, o dia 2 de outubro passou a
celebrar a Festa do Anjo da Guarda de cada indivíduo. Os católicos também veneram
os anjos realizando festas em sua homenagem e dirigindo orações a Miguel, Gabriel e
Rafael. Cidades e países sob a influência católica adotam esses seres como seus santos
padroeiros. Ao que tudo indica, a angelolatria se infiltrou na igreja cristã a partir das
seitas gnósticas, cujos adeptos, desde o período formativo desses movimentos
heréticos, praticavam o culto dos anjos (Cl 2.18), tentando inseri-lo na prática da
espiritualidade cristã.
A Deus, o arquiteto das eras, lhe pareceu bem fazer-nos participantes de confiança do
seu plano para o futuro, e revelou seu propósito e seu programa com detalhes na
Palavra.
Introdução
Muitos crentes ficam confusos acerca dos eventos que Deus determinou que
tomassem lugar no futuro. Isso não é sem motivo. Com efeito, a Bíblia apresenta certa
obscuridade no tocante a essas questões, o que fez com que surgissem posições
escatológicas distintas mesmo entre os teólogos mais sérios e zelosos.
Ainda assim, é inegável que existem certos elementos que claramente compõem o
quadro bíblico escatológico, sendo aceitos pela maior parte dos estudiosos da Palavra
como eventos preditos na Bíblia. É verdade que os estudiosos nem sempre estão de
acordo quanto à ordem cronológica que esses eventos irão seguir. Porém, mesmo em
meio a essa divergência, é perfeitamente possível delinear os contornos de uma
escatologia bíblica saudável, nutrindo a firme esperança de um final glorioso para a
história, no qual Deus reinará absoluto e será “tudo em todos” (1Co 15.28).
Neste capítulo serão expostos os eventos principais que a Bíblia aponta como
componentes do plano de Deus para o futuro. Esses eventos estão dispostos aqui na
ordem em que ocorrerão, segundo a posição teológica adotada neste livro
(premilenismo pretribulacionista).
O arrebatamento da igreja
O arrebatamento é o primeiro de uma série de eventos que tomarão lugar na história
como cumprimento de predições bíblicas. O texto clássico que trata desse assunto é
1Tessalonicenses 4.13-18. Segundo esse texto, o arrebatamento da igreja acontecerá da
seguinte forma:
Os crentes vivos: Logo após a ressurreição dos crentes em Jesus que já morreram, os
crentes que estiverem vivos subirão juntamente com eles para o encontro com o Senhor
nos ares (1Ts 4.17). Eles também terão seus corpos glorificados (1Co 15.50-54; 2Co
5.1-5).
Após isso tudo, a igreja comparecerá diante do Tribunal de Cristo (Rm 14.10; 1Co
3.10-15; 2Co 5.10) para, finalmente, receber os galardões (Lc 14.14; 1Co 4.5; 2Tm 4.8;
Ap 22.12).
A grande tribulação
Logo após o arrebatamento da igreja, começará a “grande tribulação” ou a
“septuagésima semana de Daniel”, o período de “angústia para Jacó” (Jr 30.7). Jesus
falou sobre a grande tribulação em Mateus 24.4-30, dizendo que será um período de
muita aflição, engano e apostasia que precederá imediatamente a sua vinda.
A Bíblia também ensina que a grande tribulação vai durar sete anos (Dn 9.27),
sendo três anos e meio de falsa paz (1Ts 5.2-3) e três anos e meio de dores (Dn 7.25;
12.1,7,11; Ap 11.2-3; 12.6,14; 13.5). É por esse tempo que o anticristo estará atuando
de maneira poderosa sobre toda a terra (Dn 7.7-8,11,19-27; Mt 24.15; 2Ts 2.3-12; Ap
13.1-8).
Mesmo sendo um tempo de engano, opressão e sofrimento, a graça salvadora de
Deus será atuante durante a grande tribulação. De fato, a oposição severa do anticristo
não impedirá que multidões se convertam e recebam a redenção que Cristo oferece (Ap
7.9-14).
A maior parte dos eventos que tomarão lugar no período da grande tribulação está
registrada em Apocalipse 6-19.
1. Os crentes virão junto com Cristo. Uma possível base para essa afirmação é
Apocalipse 19.11-14.
2. O anticristo que estará atacando Jerusalém com seus exércitos será derrotado
(Zc 12.1-8; 14.1-15; Lc 21.20; 2Ts 2.8), sendo então lançado no lago de fogo, junto
com o falso profeta (Ap 19.15-21).
3. Satanás será preso por mil anos (Ap 20.1-3).
4. Os judeus se arrependerão e crerão em Cristo (Zc 12.9-13 cp. Jo 19.36-37; Mt
23.39; Rm 11.25-27), entrando então no reino para desfrutar finalmente da terra
que lhes foi dada (Ez 28.25-26).
5. Os santos do Antigo Testamento e os crentes mortos na tribulação
ressuscitarão para reinar com Cristo durante os mil anos (Jó 19.25-27; Is 26.19;
Dn 12.2-3,13; Ap 20.4-6).
6. As nações serão reunidas para julgamento e os gentios salvos que estiverem
vivos serão separados para entrar no reino milenar (Mt 24.30-31,36-41; 25.31-
34,41).
O milênio
A segunda vinda de Cristo inaugurará o período de mil anos durante os quais ele
reinará na terra em cumprimento às promessas feitas a Davi (2Sm 7.10-16; Lc 1.32-33;
Ap 20.4). Durante esse período Satanás estará preso (Ap 20.1-3) e a terra desfrutará de
paz e justiça (Is 2.1-5; 11.6-9; Zc 14.9).
A partir da análise bíblica, tudo indica que no reino milenar pessoas ressurretas
conviverão com indivíduos ainda não ressurretos. Isso não deve causar espanto, pois os
episódios que seguiram a ressurreição de Cristo mostram que essa convivência é
perfeitamente possível (Mt 28.9-10; Lc 24.28-31,39-43; Jo 21.1-14).
A revolta final
Conforme Apocalipse 20.7-10, ao fim do milênio Satanás será solto e sairá
seduzindo as nações para que se rebelem contra o Rei. Ele encontrará corações
propensos à revolta e formará um exército que atacará a cidade santa.
Um fogo do céu, contudo, destruirá a todos e Satanás será finalmente lançado no
lago de fogo e enxofre onde já terão sido lançados o anticristo e o falso profeta.
O grande trono branco
Esta expressão se refere ao conhecido “Juízo Final”. Depois da última revolta, um
trono será firmado para julgar os incrédulos mortos de todas as eras (Ap 20.11-15).
Será, assim, a ocasião em que serão julgados os que não tiveram parte na primeira
ressurreição (Ap 20.5). Estes serão julgados e condenados a passar a eternidade no
lago de fogo.
É bem provável que as pessoas que morreram durante o milênio, salvas ou não,
também ressuscitem para o juízo do grande trono branco, já que a Bíblia não aponta
nenhuma outra ocasião em que a ressurreição dessas pessoas possa ocorrer.
POSIÇÃO
DEFINIÇÃO
ESCATOLÓGICA
Não aceita o futuro
estabelecimento de um reino
de mil anos literais. Para os
Amilenismo
amilenistas, o milênio é o
Origens a partir do
período entre a ascensão de
séc. IV
Cristo e sua segunda vinda,
tempo em que o Senhor reina
no céu.
Ensina que o avanço da
ciência e do evangelho
inaugurará uma era de paz e
prosperidade no futuro (o
Pós-milenismo milênio). Quando esse
Origens a partir do cenário novo e desejável
séc. XII estiver pronto, ocorrerá a
segunda vinda de Cristo,
coroando esse tempo de
glória e iniciando o estado
eterno.
Defende que o arrebatamento
Premilenismo e a volta de Cristo formam
histórico um único evento, depois do
Origens a partir do qual será imediatamente
séc. II estabelecido um reino de mil
anos literais de paz e justiça.
Afirma que a igreja
permanecerá na terra até a
segunda vinda de Cristo,
Pós-tribulacionismo
ficando sujeita às aflições do
Origens a partir do
tempo do anticristo e sendo
séc. II
arrebatada somente quando o
Senhor voltar, a fim de
encontrá-lo nos ares.
Mid-tribulacionismo Diz que a igreja será
ou arrebatada no meio da
Mesotribulacionismo tribulação, antes que comece
Origens em meados o período de 42 meses de
do séc. XX efetivo juízo e sofrimento.
Ensina que nem todos os
crentes serão arrebatados,
Arrebatamento
mas somente os que têm certa
Parcial
maturidade espiritual e que
Origens em meados
estão preparados, esperando
do séc. XIX
o dia do encontro com o
Senhor.