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UMA PROFISSÃO QUE É FÓRMULA DE VIDA

Não preciso de teste especial, para conhecer o valor e o rendimento de um pastor.


Se faz o trabalho com prazer e se interessa profundamente pela profissão, posso ter a
certeza de que os animais serão bem tratados. A técnica virá depois, se ainda faltar, e,
enquanto isso, a solicitude permanente do pastor saberá atenuar as insuficiências
profissionais.
Quando vejo o camponês inspecionar amorosamente o seu domínio, inclinando-
se para as vergônteas como o pastor para os seus cordeiros, não preciso fazer um longo
inquérito sobre suas virtudes de agricultor. Desde que a miséria, os fracassos ou a
exploração não o desanimem de um trabalho que é a sua vida, logo ele se tornará perito
numa arte em que a técnica morta não poderia bastar.
Se me disserem que existe um método pedagógico que dá às crianças esse amor
pela profissão e o gosto por um trabalho que é a expressão do ser; se acrescentarem que
esse método proporciona, ao educador, esse mesmo sentimento de participação e de
plenitude que ilumina a profissão do camponês e humaniza a tarefa ingrata do pastor;
se eu vir os educadores que praticam esse método retomar vida e entusiasmo, não
preciso de mais informações: esse é o método bom. Bastará estabelecer e generalizar o
seu uso, preservando-o dos principais perigos que as forças da estagnação e de reação
fazem correr a todos os empreendimentos inteligentes. E, sobretudo, seria necessário
lembrar aos pais e aos professores que um educador que já não tem gosto pelo trabalho
é um escravo do ganha – pão e que um escravo não poderia preparar homens livres e
ousados; que você não pode preparar os alunos para construírem, amanhã, o mundo
dos seus sonhos, se você já não acredita nessa vida; que você não poderá mostrar-lhes
o caminho se permanecer sentado, cansado e desanimado, na encruzilhada dos
caminhos.
“Reencontrei a dignidade de uma profissão que é, para mim, fórmula de vida”, dirá
o educador moderno.
FREINET, C.
Pedagogia do Bom senso
Martins Fontes Editora

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