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Sobre o debate da Segunda Escravidão: TOMICH, Dale. Pelo prisma da escravidão. Trabalho, Capital e
Economia Mundial. São Paulo: Edusp, 2011 e SALLES, Ricardo. E o Vale era o escravo – Vassouras, século
XIX. Senhores e escravos no Coração do Império. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2008.
amedrontadas pelo pânico do avanço de ideias liberais, mas raramente prevendo que o
sistema escravista chegaria ao fim.
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Discussão historiográfica
Uma outra historiografia tenta apresentar formas de resistência por parte dos
escravos e os recursos que tinham para influenciar o ritmo de suas vidas, agindo de
acordo com lógicas e experiências particulares.
2
FREYRE, Gilberto. Casa Grande e Senzala. Rio de Janeiro: Coleção Documentos Brasileiros, 1952
3
CARDOSO, Fernando Henrique. Capitalismo e escravidão no Brasil Meridional. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1977.
O historiador João José Reis4 também tenta compreender a ação dos escravos
contra a instituição escravista. O autor apresenta como as ações escravas são
completamente heterogêneas em seus objetivos, tamanhos e relações, tentando mostrar a
complexidade destes. Além disso, mostra que depois de Palmares, o termo quilombo
passou a ser utilizado para definir o reduto de escravo fugido, substituindo a expressão
anterior “mocambo”. Esclarece como os escravos, através de práticas sincréticas, não se
tornam o que os senhores desejavam, interpretando a mescla de cultura como ato de
resistência.
4
REIS, João José. Quilombos e revoltas escravas no Brasil. In Revista da USP. São Paulo (28): 14-39.
Dezembro/Fevereiro 95/96.
5
MARQUESE, Rafael. “Resistência, tráfico negreiro e alforrias, séculos XVII a XIX.” Novos Estudos 74.
Março 2006.
6
A historiadora Emília Viotti da Costa, afirma que através do sistema de patronagem e clientela as elites
brasileiras conseguiam manter sua hegemonia sobre os demais grupos sociais, contribuindo para a
estabilidade do sistema escravista. COSTA, Emília Viotti da. Da monarquia à república: momentos
decisivos. São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1999.
7
REIS, João José e SILVA, Eduardo. Negociações e Conflito; a resistência negra no Brasil escravista. São
Paulo: Companhia das Letras, 1989.
escravo como completamente vítima ou completamente herói, demonstrando a tentativa
dos cativos de criar uma conjuntura melhor para si. A ideia central é demonstrar que os
escravos aproveitavam tanto as situações favoráveis quanto as de conflito, para as
negociações
Nesse tipo de fuga, apenas tentava assegurar alguns “direitos” como: manter-se
próximo de sua família ou continuar com o seu ritmo de trabalho. Assim, podemos
perceber como a família escrava podia ser um instrumento de dominação do senhor8.
8
Um trabalho interessante sobre a família escrava apresenta a família como uma forma de conservar a
identidade dos cativos e resistir aos males do trabalho compulsório. Porém, também proporcionava aos
senhores mais um instrumento de dominação; SLENES, Robert. Na senzala uma flor: Esperanças e
Recordações da Família Escrava (Brasil Sudeste, Século XIX), Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999.
9
CHALHOUB, Sidney. Visões da Liberdade: uma história das últimas décadas da escravidão na Corte. São
Paulo: Companhia das Letras, 1990.
10
CONRAD, Robert. Os últimos anos da escravatura no Brasil. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1975.
Demonstra que os cativos iam construindo suas formas de resistências de acordo com as
circunstâncias, como fugas para quilombos ou regiões distantes, assassinatos de
senhores, capatazes e até mesmo de sua família como forma de se negar a escravidão,
além do suicídio, furtos e assaltos. Conrad afirma que a fuga era uma alternativa muito
comum para a liberdade, além de desgastar os proprietários com os prejuízos na
procura, na captura e nos anúncios.
11
LIMA, Lana Lage da Gama. Rebeldia negra e Abolicionismo. Rio de Janeiro: Achiamé. 1981.
12
AZEVEDO, Op.Cit.
13
MACHADO, Maria Helena. O Plano e o Pânico. São Paulo: EDUFRJ/EDUSP, 1994.
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Objetivos:
Compreender os diversos tipos fugas e sua representação na imprensa.
14
FREYRE, Gilberto. O escravo nos anúncios de jornais brasileiros do século XIX. 2° edição. São Paulo:
Editora nacional, 1979
15
GEBARA, Ademir. Escravos: Fugas e Fugas. Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 6, n.12,
mar./ago.1986, pp. 89-100; GOMES, Flávio. “Jogando a rede, revendo as malhas: fugas e fugitivos no
Brasil escravista”. Tempo: Revista do Departamento de História da UFF, n. 1, 1996, pp. 67-93;
FLORENTINO, Manolo. De escravos, forros e fujões no Rio de Janeiro Imperial. Revista USP, n. 58, 2003,
pp. 104-115; SOARES, Geraldo Antonio. Quando os escravos fugiam: Províncias do Espírito Santo, última
década da escravidão. Estudos Ibero-Americanos. PUCRS, v.XXIX, n.1, 2003; AMANTINO, Márcia. As
condições físicas e de saúde dos escravos fugitivos anunciados no Jornal do Commercio (RJ) em1850.
História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v.14, n.4, p.1377-1399, out.-dez. 2007; _______.
Os escravos fugitivos em Minas Gerais os anúncios do Jornal O Universal – 1825 a 1832. Lócus: Revista
de História. Juiz de Fora, v. 12, nº 2, pp.59-74, 2006; MACHADO, Geosiane Mendes. Com vistas à
liberdade: fugas escravas e estratégias de inserção social do fugido nos últimos decênios do século XIX
em Minas Gerais. Belo Horizonte: FAFICH/ UFMG, 2010. (Dissertação de mestrado); FLORENTINO,
Manolo e AMANTINO, Marcia. Fugas, quilombos e fujões nas Américas (séculos XVI-XIX). Análise Social,
Vol. XLVII (2.º), 2012 (n.º 203), pp. 236-267.
Analisar, de forma dialética, os períodos de aumento dos anúncios de
fugas de escravos na relação com o contexto político e social.
Hipóteses:
Os períodos de aumento do número de anúncios estão relacionados com
os períodos de instabilidade no Império, mostrando que os escravos
podiam se aproveitar de diversas situações para as fugas.
O crescimento do número de publicações sobre fugas amedrontava a
população e gerava a adoção de medidas de repressão.
Fonte e metodologia
A escolha do jornal como fonte de pesquisa, foi devido à facilidade de encontrar
os agentes participantes dos processos sociais e perceber seu papel na construção dos
imaginários e memórias do objeto em análise.
O periódico que utilizaremos como fonte primária será o Jornal do Commercio.
Este jornal foi fundado em 1° de outubro de 1827 por Pierre René François Plancher de
La Noé que apostava em notícias diárias de cunho mercantil e informativo. O formato
do jornal foi se transformando no decorrer de sua existência, aumentando para
acomodar mais anúncios e informações.
A seção de anúncios era o que sustentava o jornal, diversos eram os produtos
anunciados, dentre eles: classificados de escravos, informando os navios que chegavam
da África ou oferecendo gratificações para quem capturasse escravos fugidos, sem
contar com os que estavam à venda.
Temos ciência de que o periódico representava o pensamento de uma elite
intelectual e apesar de trocas dos chefes editoriais, o Jornal, na maior parte de sua
existência no Império, tentou não se indispor com o governo. Apesar disso, o periódico
possuía uma seção muito lida, a chamada “A pedidos” em que os leitores tinham seu
espaço para acusações, brigas políticas, defesa de ideias, reclamações e até ataques ao
imperador.
Sobre o jornal, Nelson Werneck Sodré16 concorda com uma descrição feita por
Alcindo Guanabara: “o Jornal do Comércio não é partidário, mas pesa deliberadamente
16
SODRÉ, Nelson Werneck. História da imprensa no Brasil. Rio de Janeiro, Mauad, 1999.
na concha das instituições. É conservador nesse sentido; é moderado, em todos os
sentidos. Como sempre, não encontrareis o eco dos clamores partidários; mas
acompanhareis com mais detalhes, recebendo, talvez, impressões mais nítidas os fatos
que nos constituem a vida. ” (SODRÉ, 1999; p.189.).
A pesquisa tem como alicerce os seguintes passos metodológicos: a leitura de
fontes: Jornal do Commercio e análise, de forma secundária, do editorial de outros
jornais como contraponto. Além disso, a leitura de obras pertinentes à resistência
escrava, violência e história da imprensa.
Inicialmente, faremos um levantamento quantitativo dos anúncios de escravos
fugidos. Em seguida, iremos analisar qualitativamente os períodos com o aumento
significativo do termo, relacionando-os com períodos de instabilidade e possível
crescimento de violência em geral.
Esses anúncios fomentavam o imaginário de caos e desordem na população,
assim procurando intervir na opinião pública para fomentar políticas repressivas por
parte do Estado. Nesse sentido, iremos trabalhar com editoriais de outros periódicos,
tentando estabelecer relações entre o aumento do número de anúncios de escravos
fugidos e o sentimento de insegurança da população.
Referências:
Jornal do Commercio: 1827-1889.
http://bndigital.bn.br/hemeroteca-digital/
Bibliografia:
ALBUQUERQUE, Wlamyra. O jogo da dissimulação. Abolição e cidadania
negra no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
ALONSO, Angela. Flores, votos e balas. São Paulo: Companhia das Letras,
2015.
AZEVEDO, Célia. Onda Negra, medo branco: o negro no imaginário das elites
do século XIX. São Paulo: Annablume, 1987.
COSTA, Emília Viotti da. A abolição. São Paulo: Unesp, 2008. (1ª ed. 1982)
LUCA, T. R. de. História dos, nos e por meio dos periódicos (1a ed. 2005; 2a ed.
2006, 2a ed. 1a reimpressão 2008). In: PINSKY, Carla Bassanezi. (Org.). Fontes
Históricas. 2aed.São Paulo: Contexto, 2008, v. 1, p. 111-153.