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O Brasil Que A Gente Nunca Foi: Revolução Política Nas Escolas1

Camila Barreto Petter2

Introdução

A política brasileira está em ebulição, grandes transformações estão


acontecendo em nosso país e no meio disso estão aqueles que serão os nossos
futuros eleitores ou aqueles que poderão fazer alguma diferença para a política do
Brasil, falo dos jovens.

Desde a ditadura de 1964 que o país não sofria tantas transformações e um


caos político tão intenso como agora. A instabilidade política e a ameaça à
democracia são assuntos constantes. A educação política do jovem se tornou alvo
de muitos debates nos últimos meses, pois o Governo atual sabe que a manipulação
de uma sociedade começa a partir da escola, do que é ensinado nas escolas.
Quando falo jovem, me refiro a crianças e adolescentes que já estão na idade de
construção de caráter, ética e já começam a entender o sentido comunitário de
pertencimento a um grupo social. Esses debates despertaram um medo naqueles
que defendem a democracia, pois a ideia do Governo é proibir que qualquer assunto
ligado a política seja mencionado em sala de aula. Uma decisão completamente
arbitrária e as aulas sobre política passaram a ser chamadas de “doutrinação”. A
ignorância política é extremamente prejudicial ao formar futuros eleitores. A única
fonte de informação que vai restar aos nossos jovens será a mídia e no cenário atual
essa não vem sendo muito confiável.

1Trabalho Final com base num tema trabalhado no curso, dialogando com três autores.
2Aluna da Disciplina Educação e Tecnologia: Sociedade da Informação e do
Conhecimento do NF2C na Faculdade de Educação da UEMG. Professor: José De Sousa Miguel
Lopes.
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Ensino da verdadeira política nas escolas

Formação política não é apenas falar do cenário político atual. Quando vamos
ensinar política nas escolas deve-se falar de convívio em sociedade, ética,
percepção de diversas realidades, principalmente aquelas diferentes da sua. Política
é aprender a viver em comunidade, entender o que leva uma pessoa a ser pobre.
Jason de Lima e Silva (2018) na sua Carta escrita e apresentada aos estudantes do
nono ano do Colégio de Aplicação da UFSC faz uma diferenciação de dois olhares
possíveis em uma situação específica:

Pode alguém olhar para as casas de periferia como gente que não
deu certo na vida oi, ao contrário, como efeito de uma sociedade que está
longe de acertar. Um vê a miséria como fato natural, porque sempre haverá
pobres e ricos, azarados e sortudos. Outro suspeita que essa diferença não
tem relação com sorte ou azar, nem com habilidades naturais para
sobreviver na selva de pedras e asfalto Há razões econômicas, razões de
governo, razões de mercado, razões de acúmulo de bens e dinheiro, razões
de gente que não quer dar razões aos miseráveis que na maior parte das
vezes não têm voz , emprego e muito menos representação política.
(SILVA, 2018, p.5-6)

Na sociedade têm pessoas que se destinam apenas a viver bem e de forma


adequada em sociedade, compreendendo o real sentido de comunidade. Mas
também tem o grupo daqueles que almejam algo melhor, querem lutar por um ideal.
São esses os militantes, que desejam ir para manifestações e fazer parte de ações
que vão além de viver bem em comunidade, não se conformar em deixar tudo como
está. E por fim estão os políticos. No sentido mais rigor da palavra, política é
mediação, a arte de mediar conflitos. Os políticos, em tese deveriam ouvir a todos e
chegar a um bem comum, claro que levando em conta outros fatores, como a
situação econômica e estrutural do país, encontrando um balanço.

O entendimento da política como podemos ver, não irá fazer posicionamentos


partidários, “doutrinar” o aluno, a ideia de ensinar política nas salas de aula é apenas
para preparar bons cidadãos. Cidadãos corretos, bem informados, éticos e
aparelhados para votar conscientemente. Talvez se todos os políticos pensassem
assim, a nossa educação receberia uma maior atenção e produziríamos menos
cidadãos e políticos corruptos. Mas a intenção é exatamente a contrária, manter a
população ignorante para ser facilmente manipulada a agir de acordo com as
decisões do Governo. Segundo David Buckingham (2007):
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De fato, a ‘educação política’ foi condenada pelos conservadores


como se fosse equivalente a doutrinação- apesar de eles estarem dispostos
a usar o Currículo Nacional para promover uma noção altamente ‘política’ e
socialmente divisionista de identidade nacional, em disciplinas como
História e Inglês. Mas, ao buscarem evitar controvérsias políticas, os
planejadores educacionais implicitamente assumem que as crianças são
incapazes de fazer julgamentos políticos sofisticados, que elas são alvos
fáceis para a ‘doutrinação’. (BUCKINGHAM, 2007, p.123-124)

Outra grande inimiga da educação é a mídia. Já que os alunos tem tão pouca
informação política na escola ou talvez nenhuma informação, ele terá de procurar
entender mais sobre o assunto através da mídia. Mais possivelmente em redes
sociais, pois é um acesso rápido e fácil. Não é de desconhecimento público que o
jornalismo atual está muito desacreditado, manchetes sensacionalistas, informações
sem ter as fontes devidamente checadas estão sendo difundidas por aqueles que
deveriam ser os primeiros a se preocuparem com a qualidade da notícia. Outro fator
alarmante é a quantidade absurda de fake news que é repassada inúmeras vezes
sem ter a fonte checada. Uma mentira repetida diversas vezes acaba se tornando
verdade na mente de ignorantes. O próprio Governo está envolvido no vazamento
dessas fake news para manipular o posicionamento da sociedade nas eleições e
durante a sua liderança. Adultos e idosos caem com tranquilidade nessas mentiras,
jovens que não tiveram uma formação adequada para filtrar o que é importante e o
que não é, é facilmente engolido por toda essa corrente de notícias desencontradas,
mal escritas e principalmente as fake news.

Considerações Finais

Este texto tem a intenção de alertar nossos professores, pais, comunidade,


sobre o perigo que a nossa democracia está correndo nos últimos anos,
principalmente após o golpe que tirou a Presidente Dilma do poder. Desde então
temos que proteger ainda mais o direito de todos de aprender, pensar e cuidar do
próximo. A educação está num momento muito frágil, podendo ser despida dos
poucos avanços que ela obteve. O retrocesso tem sido nesses últimos tempos uma
palavra muito utilizada em muitos setores de extrema importância pra nossa
democracia e para a nossa dignidade.
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A democracia e a educação nunca foram tão ameaçadas como agora. É hora


de pensarmos no outro, parar de sermos individualistas. A cegueira diante dos
problemas dos outros veem ajudando na construção dessa bomba relógio que o
Brasil virou.

REFERÊNCIAS

SILVA, Jason de Lima e. Carta sobre Política aos estudantes. 2018. In:
https://diplomatique.org.br/carta-sobre-politica-aos-estudantes/.
BUCKINGHAM, David. A geração eletrônica. In: Crescer na era das mídias
eletrônicas. São Paulo: Edições Loyola, 2007, (p.123-125).
ALMEIDA, Nara. Entrevista/Zygmunt Bauman. Comunicação líquida. 2015. In:
Observatório da Imprensa n o 385. (Apenas consulta sobre democracia)

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