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Leandro Rangel 00098335 Noite 

 
Análise de trecho do texto “Cérebros numa cuba” de Hilary Putnam 
 
Hilary  Putnam  apresenta  uma  possibilidade  extravagante  de  realidade 
alternativa  com  a  qual  filósofos  costumam  trabalhar  para  levantarem  questões 
referentes  à  relação  entre a mente e o corpo no seu artigo “Cérebros numa cuba”. É 
possível  imaginar  que,  por  qualquer  motivo  que  seja,  todos  os  seres  sencientes, 
humanos  entre  eles,  existem  como  sistemas  nervosos  imersos  em  uma  cuba  de 
nutrientes  que  os mantém vivos. Terminações  nervosas  que naturalmente  estariam 
recebendo estímulos  externos  através dos órgãos dos  sentidos  estão  conectadas a 
um  supercomputador  que  fornece  os  sinais  adequados  de  maneira  que  os  dados 
que  são  recebidos  são  indistinguíveis  dos  normalmente  esperados.   Dessa  forma 
uma  pessoa  nessa  condição  seria  um  cérebro  onde  se  reproduz  uma  simulação 
gerada por esse supercomputador e ela poderia jamais suspeitar de sua situação. 
 
Além  disso  podemos  pensar  que  o  supercomputador  está  criando  uma  
alucinação  coletiva compartilhada  por  todos  os  seres sencientes de maneira que os 
mesmos  estão  em  comunicação  uns  com  os  outros,  apenas  os  sinais  que alguém 
emite  passam  pelo  supercomputador que os  entrega aos outros seres e redistribui a 
resposta  gerada  de  volta  ao primeiro  emissor  realimentando o ciclo de  estímulos  e 
respostas tal e qual na realidade habitual, tornando a realidade percebida totalmente 
desconexa  da  externa,  sendo  qualquer  semelhança  entre  a   realidade  atual  e  a 
apresentada ao sujeito na cuba produto do programa a rodar no supercomputador. 
 
Dado  este  contexto  o autor  propõem  uma questão filosófica.  Fosse isto tudo 
verdade  e  fôssemos  cérebros  em  uma  cuba,  poderíamos  dizer  ou  pensar  que   o 
éramos?  O  argumento  defendido  é  que  não  podíamos,  pois  a  suposição  de  que 
seríamos  cérebros  numa  cuba  não  tem  possibilidade  de  ser  verdadeira  por  ser 
auto­refutante. 
 
A definição proposta  para “proposição auto­refutante” é “uma proposição cuja 
verdade  implica  sua  própria  falsidade”  e  um  exemplo  dado  no  texto  é  o  da 
proposição  “Todos  os  enunciados  gerais  são  falsos”  que,  sendo  ele  mesmo  um 
enunciado geral, se for verdadeiro deve ser falso.  
 
Da  mesma forma,  segundo Hilary, a suposição de que somos cérebros numa 
cuba  tem  esta  propriedade  auto­refutante  e  então  ele  apresenta  o  que  chamei  de 
“regra da  auto­refutação”  que diz que “Se é possível considerar uma suposição quer 
verdadeira quer falsa, então ela não é verdadeira. Logo, não é verdadeira.” 
 
 
Uma maneira de formalizar a regra da auto­refutação é a seguinte: 
 
Se A e ~A, então ~A. 
 
Chamando  a  proposição  “Somos  cérebros  numa  cuba”  de  CNC  e 
substituindo na regra de auto­refutação apresentada. 
 
Se CNC e ~CNC, então ~CNC.  
 
Tabela verdade: 
 
 
 
 
   CNC     ~CNC      (CNC ^ ~CNC)     (CNC ^ ~CNC) → ~CNC 

     V         F              F                    V 

     F         V              F                    V 


 
Por  extenso:  Se  é  possível  considerar  a  suposição  “Somos  cérebros  numa 
cuba”  quer  verdadeira  quer  falsa,  então  ela  não  é  verdadeira.  Logo,  não  é 
verdadeira. 
 
Somente  a  primeira  linha  da  tabela  interessa para o problema  e  percebe­se 
que se CNC é verdadeiro, pela regra deve ser falso. 
 
Para  atribuir­se  um  valor  de  verdade  ou  falsidade  a  uma  proposição  é 
necessário  que  se  possa comparar  a  mesma com aquilo a  que  ela se refere e caso 
haja  correspondência  diz­se  que  a  proposição  é  verdadeira,  caso  não  exista 
correlação diz­se  que  a  proposição  é  falsa. Não há outra possibilidade  de atribuição 
de valor. Se  uma proposição pode ser verdadeira e falsa simultaneamente então ela 
é falsa. 
 
  É óbvio que caso  não  sejamos cérebros  numa  cuba qualquer  um  afirmando 
ser  está  propondo  uma  falsidade  e  o  fato  concreto  verificável  pelos  sentidos 
contraria  a  afirmação  sendo  este  o  único  e  suficiente  modo  de  verificarmos  a 
verdade da proposição. 
 
  Por  outro  lado  quem  fosse  um  cérebro  numa  cuba  se  enunciasse  “Somos 
cérebros  numa  cuba”  estaria  fazendo  referência  apenas  a  uma  representação 
interna  não  verificável  pois  enquanto  cérebro  numa  cuba  não   dispõe  de  uma 
maneira  de  ter  certeza  de  que  não  o  é.  Todos  os  sinais  enviados  pelo 
supercomputador   que  produz  as  sensações  recebidas  pelo  cérebro  na  cuba darão 
testemunho contrário ao enunciado  e  o  sujeito não  terá condições de perceber que  
esse é seu estado atual. Continuaria  a existir uma discordância entre a  proposição e 
o  verificável  e  essa  discordância  é  a  falsidade.  Portanto,  a  afirmação  “Somos 
cérebros  numa  cuba”  será  sempre falsa, seja porque quem afirma ser não é mesmo 
ou porque se  é  mesmo,  quando afirma sempre  chegará à conclusão de que não o é 
em virtude de ser. 
 
Formalizações possíveis: 
 
Se  posso  dizer  que  sou  um  cérebro  numa  cuba,  então  não sou um cérebro 
numa cuba. 
Posso dizer que sou um cérebro numa cuba. 
Portanto, não sou um cérebro numa cuba. 
 
ou 
 
Se  sou  um  cérebro  numa  cuba,  então  não  posso  dizer  que sou um cérebro 
numa cuba. 
Sou um cérebro numa cuba. 
Portanto, não posso dizer que sou um cérebro numa cuba. 
 
ou 
 
Se  sou  um  cérebro  numa  cuba,  então  não  posso  dizer  que sou um cérebro 
numa cuba. 
Posso dizer que sou um cérebro numa cuba. 
Portanto, não sou um cérebro numa cuba. 
 
O  argumento  se apoia  na noção  de  que para uma  proposição  ter  sentido ela 
deve  se  referir  a  algo  fora  do  sistema  linguístico  que  é  utilizado  para  fazer  a 
referência  e  que a adequação entre o proposto e o percebido é a veracidade. Sendo 
assim  qualquer  cérebro  numa  cuba  que pense  que  é um  cérebro  numa  cuba  ainda 
assim  se  perceberia  como  um  corpo  completo  por  conta  da  programação  que  o  
alimenta  com os dados  vindos  do  supercomputador. Este argumento é válido pois a 
possibilidade   de  um  cérebro  numa  cuba   pensar  que  é  um  cérebro  numa   cuba  é 
auto­refutante,  suficiente para se perceber que não é verdade a proposição pois um 
tal  sujeito  não  estaria  se  referindo  a  nada  que  possa  ser  verdadeiro,  portanto  é 
falso. 

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