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Parte I

Neuropsiquiatria e neurociências na prática clínica 17

Princípios básicos
de neurociências
1
Neuropsiquiatria e neurociências na prática clínica 19

Biologia celular e
molecular do neurônio
A. Kimberley McAllister, Ph.D.
W. Martin Usrey, Ph.D.
Arnold R. Kriegstein, M.D., Ph.D.
Stephen Rayport, M.D., Ph.D.

M uitos transtornos neuropsiquiátricos podem ser relacio-


nados a aberrações em mecanismos do desenvolvimen-
to neural. Nos estágios iniciais do desenvolvimento cerebral,
rações na força das conexões neuronais (Pantev et al., 1998;
Sadato et al., 1996). Atualmente, pode-se demonstrar que al-
guns transtornos neuropsiquiátricos funcionais apresentam
interações celulares representam a força dominante no esta- um impacto direto sobre a estrutura cerebral; por exemplo, o
belecimento de conexões no cérebro. À medida que os circui- transtorno de estresse pós-traumático tem sido associado a
tos se formam, os neurônios individuais, bem como suas co- alterações no tamanho do hipocampo (Bremner et al., 1995).
nexões, são refinados de um modo dependente da atividade, Neste capítulo, focalizaremos primeiro a função celular
direcionados por sua atividade intrínseca e pela competição dos neurônios e, a seguir, o modo como se desenvolvem. O
por fatores tróficos. Em um estágio mais maduro, a experiên- ritmo dos avanços recentes nos deixa confiantes de que, em
cia torna-se a força dominante ao dar forma às conexões neu- um futuro não muito distante, será possível intervir durante
ronais e ao regular sua eficácia. No cérebro maduro, esses os estágios iniciais do desenvolvimento para corrigir aberra-
mecanismos relacionados ao desenvolvimento neural são con- ções no crescimento e na diferenciação neuronais, ou mais
trolados de maneira diferente e medeiam a maioria dos pro- tardiamente para corrigir a sinalização neuronal, dessa forma
cessos plásticos (Black, 1995; Kandel e O’Dell, 1992). Os trans- conseguindo tratamentos revolucionários para os transtornos
tornos neuropsiquiátricos originados de problemas no neuropsiquiátricos.
desenvolvimento cerebral inicial são provavelmente gerados
intrínseca ou geneticamente, enquanto os surgidos durante
estágios mais tardios são provavelmente relacionados à expe- FUNÇÃO CELULAR DOS NEURÔNIOS
riência. Na senescência, processos neurodegenerativos podem
desconectar circuitos neurais por mecanismos de desenvolvi- Cada neurônio no cérebro recebe sinais de milhares de
mento neural empregados erroneamente. neurônios, os quais, por sua vez, enviam informações a milha-
A experiência é tão importante no ajuste fino das cone- res de outros neurônios. Enquanto a atividade em neurônios
xões neurais, que experiências aberrantes — particularmente sensoriais periféricos pode representar pequenos pedaços de
durante os períodos críticos do desenvolvimento — podem informação, a atividade das redes dos neurônios no sistema
dar origem ou exacerbar transtornos neuropsiquiátricos. Por nervoso central (SNC) representa a informação sensorial inte-
exemplo, a oclusão monocular ou o estrabismo em animais grada e associativa. Os neurônios do SNC podem ser vistos
jovens ocasiona uma conectividade patológica permanente no como parte de uma associação celular dinâmica que troca sua
sistema visual (Hubel et al., 1997). Em humanos, falhas na participação de uma rede para outra na medida em que a in-
visão conjugada durante a infância resultam em perda visual formação é utilizada em tarefas variadas. A sofisticação dessas
permanente. Alterações similares, porém mais sutis, ocorrem redes depende tanto das propriedades dos próprios neurônios
na infância, durante o aprendizado. A partir de trabalhos rea- quanto dos padrões e da força de suas conexões.
lizados em sistemas nervosos simples de animais, tais como a
lesma marinha Aplysia (Kandel, 1989), sabe-se que alterações
Composição celular do cérebro
em conexões sinápticas codificam a memória. Aqui, também,
experiências anormais podem alterar permanentemente o pa- As células cerebrais compreendem dois tipos principais:
drão da conectividade neuronal. No cérebro humano, estudos os neurônios e a glia. Os neurônios são o substrato para a
de imagem começam a revelar alterações regionais na ativida- maior parte do processamento de informações, enquanto se acre-
de cerebral que ocorrem após o aprendizado, sugerindo alte- dita classicamente que a glia desempenha o papel de suporte.
20 Yudofsky & Hales

Os neurônios são células altamente diferenciadas que apre-


sentam considerável heterogeneidade de forma e tamanho; na
verdade, existem mais tipos de neurônios do que tipos de cé-
lulas em qualquer outra parte do corpo. Alguns deles estão
entre as maiores células do corpo, como no caso dos neurôni-
os motores superiores, que se projetam à medula espinal lom-
bar e apresentam axônios de um metro ou mais de compri-
mento; outros estão entre as menores células do corpo, como
no caso das células granulares do cerebelo. Os neurônios são
extremamente numerosos, e suas interconexões, chamadas si-
napses, são ainda mais numerosas. O cérebro humano con-
tém entre 1012 e 1013 neurônios. Se cada neurônio forma uma
média de 103 conexões, o que é uma estimativa mínima, então
o cérebro possui pelo menos de 1015 a 1016 sinapses.
As células gliais podem ser divididas em três classes: 1)
astrócitos, 2) oligodendrócitos e 3) microglia. Os astrócitos
apresentam três funções tradicionais: fornecem o assoalho de
sustentação cerebral, formam a barreira hematencefálica e
guiam a migração neuronal durante o desenvolvimento. En-
tretanto, existe um número crescente de evidências de que as
células astrogliais são mais dinâmicas do que se suspeitava
anteriormente e de que são capazes de realizar sinalização ce-
lular a longas distâncias (Dani et al., 1992; Murphy et al., 1993).
Além disso, podem influenciar a atividade neuronal, facilitar a
conectividade neuronal e desempenhar um papel crítico na
regulação da excitabilidade neuronal durante processos nor-
mais, bem como em estados patológicos (Araque et al., 1999;
Mennerick e Zorumbski, 1994; Nedergaard, 1994; Pfrieger e
Barres, 1997). Os oligodendrócitos produzem a bainha de mi-
elina, a qual aumenta a velocidade da condução de potenciais
de ação ao longo dos axônios. Assim, em pacientes com escle-
rose múltipla, resultante de um ataque imunológico à princi-
pal proteína da bainha de mielina (proteína básica da mielina),
ocorre uma falha na condução do potencial de ação. As mi-
croglias são os macrófagos do cérebro; via de regra, permane-
cem quiescentes até serem ativadas por lesões neuronais.

Forma neuronal Figura 1–1 Organização funcional do neurônio. Os neurônios


apresentam regiões celulares distintas que são responsáveis pela
Os neurônios compartilham uma organização comum, a
entrada, integração, condução e saída de informações: os dendritos,
qual é ditada por sua função — receber, processar e transmitir
o corpo celular, o axônio e as especializações sinápticas,
informação. O grande neuroanatomista espanhol Santiago respectivamente. Neurotransmissores excitatórios e inibitórios
Ramón y Cajal chamou isso de polarização dinâmica (Craig e liberados por outros neurônios induzem correntes despolarizantes ou
Banker, 1994). Embora os neurônios apresentem grande di- hiperpolarizantes nos dendritos. Essas correntes convergem ao corpo
versidade de tamanhos e formas, geralmente têm quatro re- celular; se a polarização resultante é suficiente para fazer com que o
giões bem-definidas (Figura 1–1): 1) dendritos, 2) corpo celu- segmento inicial do axônio atinja o limiar, um potencial de ação é
lar, 3) axônio e 4) especializações sinápticas. Cada região iniciado. O potencial de ação percorre todo o axônio, conduzido
apresenta funções distintas. Os dendritos recebem sinais de rapidamente devido à mielinização, para atingir os terminais
outros neurônios, processam e modificam essa informação e sinápticos. Os terminais axonais formam sinapses com outros
então conduzem esses sinais ao corpo celular. Como em todas neurônios ou com células efetoras, reiniciando o ciclo de fluxo de
as células, o corpo celular contém, em seu núcleo, a informa- informação nas células pós-sinápticas. Como em todas as células, o
ção genética que codifica para a fabricação dos elementos ne- corpo celular (ou pericário) é também onde está localizada a
cessários à função celular e é o local onde esses elementos são informação genética do neurônio (no núcleo), sendo o principal sítio
sintetizados, processados e transportados. O axônio transmite de síntese de macromoléculas.
Fonte: Reeditada de Kandel ER, Schwartz JHS, Jessel TM: Principles of
informação a longas distâncias e então se ramifica para formar
Neural Science, 3ª edição. Stamford, CT, Appleton & Lange, 1991. Utilizada
as sinapses. As especializações sinápticas são diferenciadas por com permissão.
suas conexões altamente específicas, com dendritos pós-sináp-
ticos; os elementos-chave são a zona ativa pré-sináptica, de
onde o neurotransmissor é liberado, e a densidade pós-sináp-
tica, onde estão concentrados os receptores para os neuro- proteínas filamentosas: 1) os microtúbulos, 2) a actina e 3) os
transmissores na membrana do dendrito pós-sináptico. neurofilamentos (Schwartz e Westbrook, 2000). Os microtú-
A forma de um neurônio é determinada por seu citoes- bulos são compostos de subunidades de tubulina e formam
queleto. Os componentes essenciais do citoesqueleto são três feixes que se estendem ao longo dos principais processos neu-
Neuropsiquiatria e neurociências na prática clínica 21

ronais; são estabilizados por proteínas associadas aos micro- do, o potencial de ação é iniciado. O potencial de ação é uma
túbulos. Os microtúbulos são os principais componentes do onda elétrica que se propaga ao longo do axônio. Nos termi-
citoesqueleto do dendrito, enquanto os neurofilamentos são nais axonais, essa onda desencadeia um influxo de cálcio (Ca2+),
os principais componentes do citoesqueleto axonal. Os neu- o que leva à exocitose dos neurotransmissores das vesículas
rofilamentos são muito mais estáveis do que os microtúbulos. sinápticas em áreas especializadas, chamadas de zonas ativas.
Os neurofilamentos agregam-se patologicamente na doença O neurotransmissor liberado atravessa a fenda sináptica e ati-
de Alzheimer, formando os emaranhados neurofibrilares. Os va receptores na densidade pós-sináptica nos dendritos da
filamentos de actina, juntamente com várias proteínas que célula pós-sináptica. Por fim, esse fluxo de informação atinge
se ligam à actina, formam uma densa rede concentrada logo células efetoras, principalmente fibras motoras que medeiam
abaixo da membrana celular, a qual fornece a força motora o movimento e que, portanto, geram comportamentos.
para a plasticidade da estrutura axônica e dendrítica. Além A habilidade dos neurônios de gerar um potencial de ação
de seu essencial papel estrutural, o citoesqueleto medeia o deriva da presença de fortes gradientes iônicos ao longo da
tráfego intracelular de proteínas e de organelas ao axônio e membrana; o sódio (Na+) e o cloreto (Cl–) são altamente con-
aos dendritos (Burack et al., 2000). Assim, defeitos no citoes- centrados do lado de fora da membrana, enquanto o potássio
queleto causam devastadores danos neuronais; prejuízos no (K+) é altamente concentrado do lado de dentro. Esses gradien-
transporte axonal e dendrítico não apenas interferem na si- tes são gerados por uma ação contínua das bombas da mem-
nalização neuronal, como freqüentemente resultam em morte brana, as quais obtêm energia da hidrólise de adenosina trifos-
celular. fato (ATP). Também na membrana estão os canais iônicos
ativados por voltagem, que regulam o fluxo dos íons Na+, K+ e
Ca2+ através da membrana. Em repouso, os canais de K+ e Cl–
Excitabilidade neuronal
estão abertos, de modo que os gradientes de K+ e Cl– determi-
Os neurônios são capazes de transmitir informação por- nam o potencial de membrana, fazendo com que a célula seja
que são elétrica e quimicamente excitáveis. Essa excitabilidade é negativa do lado de dentro, com valores que variam entre –50 e
conferida por várias famílias de canais iônicos que são seletiva- –75 mV. Entretanto, se a membrana é despolarizada, ultrapas-
mente permeáveis a íons específicos e regulados por voltagem sando o potencial limiar para a geração de um potencial de ação,
(canais ativados por voltagem), por ligação com o neurotrans- os canais de Na+ ativados por voltagem abrem-se rapidamente.
missor (canais ativados por ligantes) ou por pressão ou estira- Devido ao fato de que o influxo de Na+ despolariza a membra-
mento (canais ativados mecanicamente) (Hille, 1992). Em geral, na, isso confere uma propriedade regenerativa — uma vez que
os canais iônicos neuronais conduzem íons através da mem- o potencial limiar é atingido, o aumento no influxo de Na+ leva
brana citoplasmática de forma extremamente rápida — 100 à despolarização, o que abre mais canais de Na+, aumentando,
milhões de íons podem passar através de um único canal iônico por sua vez, ainda mais o influxo de Na+, e assim consecutiva-
em um segundo. Esse intenso fluxo de corrente provoca rápi- mente. Portanto, uma vez que o limiar é atingido, o potencial de
das alterações no potencial de membrana e é a base para o po- membrana sobe muito rapidamente para +50 mV. O potencial
tencial de ação, o mecanismo biofísico para passagem de infor- de membrana permanece despolarizado apenas por um tempo
mação dentro dos neurônios, e para respostas sinápticas rápidas, de cerca de um milissegundo, já que os canais de Na+ apresen-
o substrato para transferência de informação entre os neurôni- tam uma inativação dependente de tempo (Figura 1–2). Ao
os. Como seria esperado, diversas doenças devastadoras resul- mesmo tempo, canais de K+ dependentes de voltagem, os quais
tam de defeitos nos canais iônicos. Por exemplo, na paralisia também são ativados pela despolarização, mas em uma veloci-
periódica hipercalêmica, a rigidez e a fraqueza muscular que se dade mais baixa, aumentam sua permeabilidade (Figura 1–2).
seguem ao exercício são causadas por uma mutação pontual Devido ao fato de o íon K+ fluir a favor do seu gradiente de
nos canais iônicos de Na+ ativados por voltagem; a ataxia episó- concentração para fora da célula, juntamente com a redução na
dica resulta de várias mutações pontuais em um canal de K+ corrente de Na+, ocorrerá a repolarização da membrana. Dessa
ativado por voltagem retificador tardio, e a miastenia grave re- forma, o potencial de membrana atinge seu pico a um nível de
sulta de um ataque imunológico aos receptores de acetilcolina despolarização determinado pelo gradiente de Na+ e então ra-
nicotínicos (Koester e Siegelbaum, 2000). Canais ativados por pidamente retorna ao potencial de repouso, determinado pelo
ligantes costumam ser alvo de drogas psiquiátricas e anestési- gradiente de K+. Uma vez repolarizada, a inativação do Na+ ter-
cos, bem como de neurotoxinas. mina (o tempo que isso leva para acontecer indica o período
Os neurotransmissores liberados por um neurônio (a cé- refratário do neurônio — um breve período no qual o limiar
lula pré-sináptica) em uma sinapse ativam receptores (canais para disparar um potencial de ação éé elevado
elevado —
— ))ee então a célu-
ativados por ligantes) em dendritos de um outro neurônio (a la pode disparar novamente.
novamente.
célula pós-sináptica) e induzem o fluxo iônico através da mem- A propriedade regenerativa do potencial de ação não ape-
brana. Os sinais elétricos resultantes espalham-se passivamente nas serve para amplificar os potenciais limiares (sua principal
por certa distância, freqüentemente atingindo o corpo celular função nos dendritos), mas também para dar capacidade de
dessa maneira. Além das condutâncias passivas, mecanismos sinalização a longas distâncias ao axônio (Figura 1–3). Quan-
regenerativos localizados, similares àqueles que dão origem ao do o potencial de membrana atinge seu pico, sob o comando
potencial de ação (discutido mais adiante nesta seção), ampli- do aumento da permeabilidade ao Na+, regiões adjacentes do
ficam os sinais que entram no dendrito, potencializando-os de axônio tornam-se suficientemente despolarizadas, de maneira
modo que atinjam o corpo celular (Eilers e Konnerth, 1997; que são levadas, por sua vez, ao limiar, e geram um potencial
Yuste e Tank, 1996). No corpo celular, esses sinais sinápticos de ação. À medida que segmentos axonais sucessivos são des-
combinam-se e, se forem suficientes, despolarizam o segmen- polarizados, o potencial de ação é conduzido com grande ve-
to inicial do axônio, ou o hilo axonal, parte do axônio mais locidade ao longo do axônio. Isso é potencializado pela mieli-
próxima ao corpo celular e que apresenta o menor limiar para nização, que aumenta várias vezes a velocidade de condução,
ativação. Quando o nível do limiar de despolarização é atingi- pois restringe o fluxo de corrente necessário para a condução
22 Yudofsky & Hales

segundos-mensageiros também podem afetar profundamente


a atividade ou a propriedade de resposta dos neurônios, levan-
do a um repertório ainda maior de funcionamento de neurôni-
os individuais. Portanto, estímulos sinápticos podem não ape-
nas evocar uma resposta em um neurônio pós-sináptico, mas
também dar forma a padrões de disparo intrínsecos, fazendo
com que a célula altere de um modo de atividade a outro, ou
modulando respostas a outros estímulos sinápticos.

Sinalização entre neurônios


Os neurônios comunicam-se uns com os outros em locais
especializados de grande proximidade de aposição da membra-
na chamados sinapses. O protótipo de sinapse axodendrítica
conecta um terminal axônico pré-sináptico a um dendrito pós-
sináptico. Esse arranjo é típico para neurônios de projeção que
transmitem informação de uma região a outra do cérebro. Em
Figura 1–2 A abertura de canais iônicos dá origem ao potencial contrapartida, interneurônios de circuitaria local interagem com
de ação. O potencial de ação é composto primariamente de duas neurônios vizinhos. Enquanto os interneurônios podem apre-
correntes: a de sódio (Na+) e a de potássio (K+). Uma vez que o
sentar conexões axodendríticas e axossomáticas, eles também
neurônio atinge o limiar para o disparo do potencial de ação, canais
podem formar vários outros tipos de contatos sinápticos que
de sódio dependentes de voltagem abrem-se, dando início à rápida
aumentam de forma significativa sua sofisticação funcional (Fi-
corrente de entrada de Na+ e à rápida fase de aumento no potencial
de ação. Em seguida, os canais de Na+, que são rapidamente gura 1–5). Em alguns casos, dendritos podem fazer contatos
inativados em potenciais despolarizados, encurtam a duração da sinápticos com dendritos (conexões dendrodendríticas), ou cor-
corrente de Na+ e, portanto, contribuem para a fase de queda no pos celulares com corpos celulares (conexões somatossomáti-
potencial de ação. A corrente de saída de K+ também contribui para cas), formando circuitos neurais locais que transmitem infor-
a fase de queda do potencial de ação, já que os canais de K+ são mação sem disparar o potencial de ação. Axônios podem formar
lentos para abrir, mas permanecem abertos por mais tempo do que sinapse em terminais axônicos de outros axônios (conexões axo-
os de Na+. Abreviações: ENa e EK = potenciais reversos para Na+ e K+, axônicas) e modular a liberação de neurotransmissores medi-
respectivamente. ante a inibição ou a facilitação pré-sináptica. Alguns neurônios
Fonte: Reeditada de Kandel ER, Schwartz JH, Jessel TM: Principles of podem funcionar como interneurônios e como neurônios de
Neural Science, 4ª edição. New York, Mcgraw-Hill, 2000, p.158. Utilizada com projeção, sendo o exemplo mais importante os neurônios
permissão.
GABAérgicos (ácido γ-aminobutírico, GABA) mediais espinho-
sos do estriado, os quais constituem aproximadamente 95%
dos neurônios dessa região (A.D. Smith e Bolam, 1990).
Uma minoria das conexões locais é mediada por sinapses
do potencial de ação aos espaços localizados entre os segmen- elétricas, que não requerem neurotransmissores químicos. As
tos da mielina — aos nódulos de Ranvier (Figura 1–3). Devido sinapses elétricas são formadas por canais compostos de mul-
às suas características de “tudo-ou-nada” e à sua habilidade tissubunidades, chamados de junções comunicantes, os quais
em ser conduzido por longas distâncias, o potencial de ação ligam o citoplasma de células adjacentes (Bennett et al., 1991),
confere ao neurônio um mecanismo de sinalização digital de permitindo que pequenas moléculas e íons carregando sinais
alta qualidade. elétricos fluam diretamente de uma célula a outra. Sinapses
Embora a informação integrada por um neurônio venha elétricas conectam dendritos ou corpos celulares de células
da entrada sináptica, a maneira como o neurônio processará adjacentes do mesmo tipo, tipicamente dendritos a dendritos
essa informação depende de suas propriedades intrínsecas (Lli- ou corpos celulares a corpos celulares. A capacidade de passa-
nás, 1988). Muitos neurônios no SNC possuem a capacidade gem de pequenas moléculas entre as células, incluindo segun-
de gerar seus próprios padrões de atividade na ausência de en- dos-mensageiros, é importante durante o desenvolvimento em-
trada de informação sináptica, disparando a uma taxa regular brionário para estabelecer gradientes morfogênicos (Dealy et
(disparo marca-passo) ou em grupamentos de picos (disparo al., 1994) e durante o desenvolvimento inicial do cérebro para
em rajada) (McCormick e Bal, 1997). Essa atividade endógena é regular a proliferação celular e estabelecer padrões de conecti-
comandada por canais iônicos especializados, os quais apre- vidade (Kandler e Katz, 1995). No SNC maduro, sinapses elé-
sentam dependência de voltagem e tempo próprios, periodica- tricas agem para sincronizar a atividade elétrica de grupos de
mente levando o segmento inicial do axônio ao seu limiar. Es- neurônios e mediar a transmissão de alta freqüência de sinais
ses canais podem ser modulados pelo potencial de membrana (Bennett, 1977; Brivanlou et al., 1998; Tamas et al., 2000). As
da célula ou por sistemas de segundos-mensageiros. Além dis- células gliais também são conectadas por junções comunican-
so, neurônios do SNC podem ser alterados profundamente na tes que ligam essas células, formando um grande sincício e
maneira como respondem a um dado estímulo sináptico em fornecendo avenidas para propagação intercelular de sinais quí-
função de pequenas alterações no potencial de repouso (Llinás micos mediados por pequenas moléculas e por íons, tais como
e Jahnsen, 1982; Sherman, 1996) (Figura 1–4). Por exemplo, um o Ca2+ (S.J. Smith, 1994). A importância das junções comuni-
neurônio talâmico dispara como marca-passo quando estimu- cantes para a função das células gliais é enfatizada pelo fato
lado a partir de níveis levemente despolarizados, enquanto dis- de que a forma ligada ao X da doença de Charcot-Marie-
para em rajadas de pontecial de ação quando estimulado a par- Tooth é causada por uma simples mutação no gene da cone-
tir de níveis hiperpolarizados. Alterações nos níveis de xina necessário para a formação das junções comunicantes
Neuropsiquiatria e neurociências na prática clínica 23

Figura 1–3 Condução do potencial de ação. Painel A. Representação esquemática de um axônio mielinizado. Os oligodendrócitos produzem
a bainha de mielina que reveste os axônios. A mielina previne o vazamento de corrente entre os nódulos de Ranvier (local onde há
concentração de canais de Na+), aumentando, portanto, a velocidade de condução do potencial de ação. Painel B. Devido ao fato de os canais
de Na+ serem ativados pela despolarização da membrana e também induzirem despolarização, eles têm propriedades regenerativas. Isso não é
responsável apenas pelas propriedades de “tudo-ou-nada” do potencial de ação, mas também explica a rápida propagação do potencial de
ação ao longo do axônio. O potencial de ação é uma onda elétrica, como mostrado nesta figura. À medida que cada segmento do axônio é
despolarizado, despolariza o segmento subseqüente, levando a alterações na corrente local produzida pela iniciação do potencial de ação em
sítios específicos, como mostrado em detalhe no Painel C. Painel C. O fluxo de íons Na+, responsável pelo potencial de ação, é mostrado em
três imagens sucessivas a intervalos de 0,5 milissegundos (ms) e corresponde aos traços de correntes observados no Painel B. À medida que o
potencial de ação é propagado para a direita, os canais de Na+ fechados vão sendo abertos e, em seguida, inativados e fechados novamente.
Dessa forma, um potencial de ação iniciado no segmento inicial do axônio é conduzido até o terminal axonal. Devido à inativação dos canais de
Na+ e à ativação dos canais de K+, há um período refratário após o potencial de ação, razão pela qual a condução procede em apenas uma
direção.
Fonte: Reeditada de Purves D, Augustine GJ, Fitzpatrick D et al., (eds): Neuroscience. Sunderland, MA, Sinauer Associates, 1997, p.67. Utilizada com
permissão.
24 Yudofsky & Hales

Figura 1–4 Propriedades intrínsecas determinam as respostas neuronais. Muitos neurônios do SNC respondem de formas diferentes aos
mesmos estímulos, dependendo do seu nível de despolarização. Painel A. Neurônios talâmicos geram espontaneamente disparos de potencial
de ação, resultantes da interação entre uma corrente marca-passo e uma corrente de Ca2+. A despolarização desses neurônios altera seu
disparo para um modo tônico. Painel B. Disparos de potenciais de ação a uma maior resolução de tempo a partir do traçado do Painel A. Painel
C. Maior resolução de tempo das correntes do modo tônico do painel A. Abreviações: Ih e IT = as correntes através de canais ativados pela
hiperpolarização e por canais de cálcio do tipo T, respectivamente.
Fonte: Reeditada de McCormick DA: “Membrane Potential and Action Potential”, em Fundamental Neuroscience. Editado por Zigmond MJ, Bloom FE,
Landis SC, et al., San Diego, CA, Academic Press, 1999, p.150. Utilizada com permissão.

entre as células de Schwann (revisado em Schenone e Man- sas e incluem a somatostatina, os hormônios liberadores hi-
cardi, 1999). potalâmicos, as endorfinas, as encefalinas e os opióides. É in-
A maioria das conexões sinápticas no SNC é mediada por teressante notar que as pequenas moléculas transmissoras e
neurotransmissores químicos. Embora as sinapses químicas os neuropeptídeos são freqüentemente liberados pelo mesmo
sejam mais lentas do que as elétricas, permitem a amplificação neurônio e podem agir em conjunto sobre o mesmo alvo
do sinal, podem ser inibitórias ou excitatórias, são suscetíveis (Hökfelt et al., 1984).
a uma ampla faixa de modulação e podem modular as ativida- As pequenas moléculas transmissoras são armazenadas
des de outras células através da liberação de transmissores que em grânulos claros e pequenos delimitados por membrana,
ativam cascatas de segundos-mensageiros. Existem duas clas- denominados de vesículas sinápticas (Figura 1–6). Cada vesí-
ses principais de neurotransmissores no sistema nervoso: pe- culas sináptica contém vários milhares de moléculas de neu-
quenas moléculas transmissoras e neuropeptídeos. Em geral, rotransmissores. Quando um potencial de ação pré-sináptico
as pequenas moléculas transmissoras medeiam a transmissão invade a região terminal, canais de Ca2+ dependentes de volta-
sináptica rápida, são armazenadas em vesículas sinápticas pe- gem são ativados (Figuras 1–6 e 1–7). O subseqüente influxo
quenas e claras e incluem o glutamato, o GABA, a glicina, a de Ca2+ provoca um grande aumento na concentração de Ca2+
acetilcolina, a serotonina, a dopamina, a norepinefrina, a epi- próximo à zona ativa, o que promove a fusão da vesícula si-
nefrina e a histamina. Os mecanismos celulares e moleculares náptica e a liberação do neurotransmissor, a qual é chamada
de liberação dessas vesículas sinápticas serão descritos em se- de exocitose. O neurotransmissor então se difunde em uma
guida. Em contrapartida, os neuropeptídeos representam uma curta distância pela fenda sináptica e se liga aos receptores
grande família de neurotransmissores que modulam a trans- pós-sinápticos. A dinâmica e a modulação da transmissão si-
missão sináptica, são armazenados em grandes vesículas den- náptica são fundamentais para alterações nas conexões sináp-
Neuropsiquiatria e neurociências na prática clínica 25

Figura 1–5 Modos de intercomunicação neuronal. Painel A.


Diferentes padrões de conexão ditam como a informação flui entre
os neurônios. Na divergência sináptica, um neurônio (a) pode
disseminar informação a várias células pós-sinápticas (b-f) ao mesmo
tempo. Alternativamente, no caso da convergência sináptica, um
único neurônio (d) pode receber estímulos de vários neurônios pré-
sinápticos (a-c). Na inibição pré-sináptica, um neurônio (b) pode Figura 1–6 Micrografias eletrônicas de sinapses químicas. Junções
modular o fluxo de informação entre dois outros neurônios (de a neuromusculares do músculo sartório de rã foram rapidamente
para c) por influenciar a liberação de neurotransmissores pelos congeladas milissegundos após tratamento com potássio para
terminais do neurônio pré-sináptico, de maneira inibitória (como aumentar a transmissão sináptica. Painel A. As vesículas sinápticas
mostrado) ou facilitatória. Painel B. Os neurônios podem modular estão agrupadas em duas zonas ativas (setas), as quais são os sítios
suas próprias ações. Em uma inibição por pró-alimentação, a célula onde as vesículas podem fundir-se com a membrana plasmática e
pré-sináptica (a) pode ativar diretamente a célula pós-sináptica (b) e, liberar o neurotransmissor. Painel B. Após a estimulação, padrões
ao mesmo tempo, modular seus efeitos através da ativação de uma ômega de vesículas em processo de liberação do neurotransmissor
célula inibitória (c), a qual, por sua vez, inibe a célula b. Na inibição são visíveis.
recorrente (a informação flui de acordo com a indicação das setas), Fonte: Reeditada de Zucker RS, Kullmann DM, Bennett M: “Release of
uma célula pré-sináptica (a) ativa uma célula inibitória (b), que faz Neurotransmitters” em Fundamental Neuroscience. Editado por Zigmond MJ,
um contato sináptico de volta com a mesma célula, limitando a Bloom FE, Landis SC et al., San Diego, CA, Academic Press, 1999, p.156.
duração de sua atividade. Abreviações: pa = potencial de ação; il = Utilizada com permissão.
inibição lateral; ir = inibição recorrente.
Fonte: Adaptada de Shepherd GM, Koch C: “Introduction to Synaptic
Circuits”, em The Synaptic Organization of the Brain. Editado por Shepherd
GM. New York, Oxford University Press, 1990, p.3-31. Utilizada com
permissão. lular (as potentes neurotoxinas botulínica e tetânica blo-
queiam a transmissão sináptica ao causar proteólise de
moléculas-chave envolvidas na preparação).
3. Desencadeada pelo influxo de Ca+2, ocorre então a fusão/
ticas responsáveis pelo aprendizado e pela memória tanto em exocitose em menos de 1 milissegundo, liberando o neu-
situações normais quanto patológicas. A maquinaria molecu- rotransmissor na fenda sináptica.
lar (Figura 1–8) da transmissão sináptica está agora sendo com- 4. O processo de endocitose recupera a membrana das vesí-
preendida (Scheller, 1995; Sudhof, 1995). É interessante notar culas sinápticas.
que várias neurotoxinas potentes agem diretamente nessa 5. As vesículas sinápticas são novamente preenchidas com
maquinaria (ver a seguir). A transmissão sináptica compreen- neurotransmissor, um processo direcionado por um gra-
de uma seqüência complexa de eventos pré e pós-sinápticos. diente ácido intravesicular ou por um gradiente de volta-
Seis eventos principais estão envolvidos no ciclo da vesícula gem.
sináptica (Figura 1–7): 6. As vesículas sinápticas preenchidas são transportadas de
volta à zona ativa, completando o ciclo.
1. As vesículas ficam ancoradas em zonas ativas antes de sua
liberação por exocitose. A duração da atividade do neurotransmissor em geral é
2. Ocorre a preparação ou priming quando as vesículas fi- limitada por vários mecanismos que rapidamente removem o
cam prontas para responder ao aumento do Ca2+ intrace- neurotransmissor liberado da fenda sináptica. Em primeiro
26 Yudofsky & Hales

Figura 1–7 Passos na transmissão sináptica em uma sinapse química. Os passos essenciais na transmissão sináptica estão numerados.
Fonte: Reeditada de Purves D, Augustine GJ, Fitzpatrick D et al. (eds): Neuroscience. Sunderland, MA, Sinauer Associates, 1997, p.88. Utilizada com
permissão.

lugar, em alguma proporção, todos os neurotransmissores se te, reempacotados em vesículas sinápticas ou metabolizados
difundem para fora da fenda. Em segundo, os neurotransmis- (Amara e Kuhar, 1993).
sores podem ser enzimaticamente degradados; por exemplo, a Os transportadores de neurotransmissores monoaminér-
acetilcolina é hidrolisada pela acetilcolinesterase, a qual en- gicos (Figura 1–9), os quais medeiam esse rápido processo de
contra-se ligada à membrana pós-sináptica adjacente aos re- recaptação, são sítios de ação de um grande número de drogas
ceptores. E, em terceiro, embora as monoaminas e os aminoá- e neurotoxinas. Entre eles, podemos destacar os antidepressi-
cidos neurotransmissores sejam também sujeitos à degradação vos tricíclicos, os inibidores seletivos da recaptação de serotoni-
enzimática, são principalmente removidos da fenda sináptica na (ISRSs), os psicoestimulantes e a neurotoxina 1-metil-4-fe-
por um mecanismo de recaptação rápida e, subseqüentemen- nil-1,2,3,6-tetrahidropiridina (MPTP) (Giros e Caron, 1993;
Neuropsiquiatria e neurociências na prática clínica 27

Figura 1–8 Eventos moleculares na ancoragem e fusão das vesículas sinápticas. Um conjunto coordenado de proteínas está envolvido no
posicionamento das vesículas na membrana pré-sináptica e no controle da liberação pela fusão com a membrana. Painel A. Muitas das
proteínas das vesículas sinápticas que foram recentemente clonadas integram esse processo. Algumas dessas proteínas interagem com o
citoesqueleto para posicionar as vesículas no terminal, enquanto outras são proteínas integrais ao processo de fusão. Além disso, várias dessas
proteínas das vesículas sinápticas são alvos para neurotoxinas que funcionam influenciando a liberação de neurotransmissores. Painel B. A
teoria atual de como as vesículas sinápticas fundem-se com a membrana e liberam neurotransmissores é chamada de hipótese SNARE. Tanto as
vesículas sinápticas quanto a membrana plasmática expressam proteínas específicas que medeiam a ancoragem e a fusão: v-SNAREs (vesículas
sinápticas) e t-SNAREs (membrana plasmática). As vesículas são trazidas para próximo da membrana por meio de interações entre a VAMP
(sinaptobrevina), a sintaxina e a SNAP-25. A proteína de fusão sensível à N-etilmaleimida (FSN) liga-se ao complexo, facilitando a fusão. O
influxo de cálcio é necessário para estimular a fusão, mas o sítio preciso de ligação para o cálcio e os eventos exatos que levam à fusão
permanecem indefinidos. Painel C. A estrutura cristalizada do complexo de fusão, mostrada aqui, é consistente com a hipótese SNARE.
Abreviações: BoNT = toxina botulínica; TeNT = toxina tetânica.
Fonte: Adaptada de Kandel ER, Schwartz JH, Jessel TM: Principles of Neural Science, 4ª edição. New York, Mcgraw-Hill, 2000, p.271-273. Utilizada com
permissão.
28 Yudofsky & Hales

Jaber et al., 1997). Os tricíclicos bloqueiam a recaptação de se- regra, canais rápidos ativados por ligante medeiam o fluxo de
rotonina e noradrenalina, enquanto os ISRSs, como seu nome informação, representando padrões de informação sensorial
sugere, bloqueiam seletivamente a recaptação de serotonina. e associações entre modalidades sensoriais, responsáveis por
Outros antidepressivos mais novos bloqueiam o mecanismo de representações centrais que, em última análise, darão origem
inibição por retroalimentação da liberação, aumentando, assim, a respostas motoras. No SNC, receptores glutamatérgicos me-
os níveis sinápticos de serotonina. A cocaína previne a recapta- deiam a maioria das transmissões excitatórias rápidas; o GABA
ção de dopamina e serotonina, enquanto a anfetamina retarda a e a glicina são os neurotransmissores inibitórios mais co-
recaptação de dopamina e serotonina, além de também induzir muns.
a liberação de dopamina (Ramamoorthy e Blakely, 1999; Saun-
ders et al., 2000). Estudos moleculares também têm sugerido
Receptores glutamatérgicos
que a ligação da cocaína e a recaptação da dopamina ocorrem
em sítios distintos do transportador, indicando a possibilidade Os receptores glutamatérgicos são divididos em três tipos
de que a ação da cocaína poderia ser bloqueada com sucesso, gerais: receptores N-metil-D-aspartato (NMDA), receptores
sem impedir o processo de recaptação normal (Kitayama et al., ionotrópicos não-NMDA, e receptores glutamatérgicos me-
1992). Camundongos modificados geneticamente nos quais o tabotrópicos (Dingledine et al., 1999; Hollmann e Heinemann,
transportador de dopamina está ausente apresentam uma im- 1994). Os receptores glutamatérgicos são todos proteínas
portante persistência da dopamina sináptica, como se estivessem multiméricas, em geral compostas de quatro subunidades. Os
permanentemente sob o efeito de psicoestimulantes; os psico- receptores NMDA são formados de combinações das subuni-
estimulantes não têm efeito sobre esses animais, confirmando dades NR1 e NR2; a subunidade NR1 é universalmente ex-
que o transportador de dopamina é essencial para a ação dessas pressa em neurônios, enquanto a subunidade NR2, a qual pode
drogas (Giros et al., 1996). O MPTP é captado seletivamente ser de vários subtipos, é expressa heterogeneamente durante o
pelo transportador de dopamina (Javitch e Snyder, 1984) e en- desenvolvimento e também entre os diferentes tipos de neu-
tão provoca um aumento no estresse oxidativo, levando à mor- rônios, dando origem a diferentes propriedades de resposta
te dos neurônios dopaminérgicos e à doença de Parkinson in- (Schoepfer et al., 1994). Os receptores NMDA despolarizam a
duzida pela droga (Przedborski e Jackson-Lewis, 1998). célula pela abertura de canais que permitem principalmente a
entrada de Ca2+ na célula (MacDermott et al., 1996). A propri-
edade mais fascinante dos receptores NMDA é que seu canal
Respostas pós-sinápticas rápidas
iônico costuma estar bloqueado pelo íon Mg2+ em potenciais
A ação de um neurotransmissor depende das proprieda- de membrana mais negativos do que –40 mV (Mayer et al.,
des dos receptores pós-sinápticos ao qual ele se liga. Os re- 1994). Como resultado, no potencial de repouso da maioria
ceptores pós-sinápticos ativados por neurotransmissores di- dos neurônios, o canal do receptor NMDA encontra-se obs-
videm-se em duas classes: receptores ionotrópicos e truído. Para a corrente fluir pelos canais NMDA, o glutamato
metabotrópicos (discutidos na seção a seguir). Os receptores deve ligar-se ao receptor e a membrana deve ser despolarizada
ionotrópicos são diretamente acoplados a um canal iônico; simultaneamente para deslocar o Mg2+. Esse duplo requeri-
esses receptores sofrem uma mudança conformacional que mento representa o papel único dos receptores NMDA em
abre o canal quando há a ligação do neurotransmissor. Isso processos tão variados como a sinaptogênese, o aprendizado e
resulta em despolarização, dando origem a um potencial exci- a memória e até mesmo a morte celular. É provável que os
tatório pós-sináptico, ou em hiperpolarização, dando origem a receptores NMDA sejam essenciais para o desempenho ade-
um potencial inibitório pós-sináptico. A junção neuromuscu- quado de funções psiquiátricas; camundongos transgênicos
lar é o protótipo de uma sinapse excitatória; a ligação simultâ- com a expressão reduzida dos receptores NMDA apresentam
nea de duas moléculas de acetilcolina abre um canal no recep- comportamentos similares àqueles vistos em pacientes com
tor que é permeável a Na+ e a K+ (Karlin e Akabas, 1995). Isso esquizofrenia (Mohn et al., 1999).
resulta em uma forte despolarização da membrana pós-sináp- Os receptores glutamatérgicos não-NMDA são dividi-
tica mediada pelo influxo de Na+ (e modulada pelo efluxo de dos em: receptores ácido α-amino-3-hidróxi-5-metilisoxa-
K+), levando a um potencial de ação que evoca a contração na zol-4-propiônico (AMPA) e receptores kainato, com base em
fibra motora. Canais ativados por ligantes são encontrados em suas afinidades por esses análogos glutamatérgicos. Os re-
sinapses, tais como a junção neuromuscular, onde a ativação ceptores AMPA são formados a partir de combinações de
rápida e confiável da célula pós-sináptica é necessária. Na jun- subunidades GluR1 a GluR4, e os receptores kainato, por
ção neuromuscular, a resposta pós-sináptica é suficientemen- combinações de subunidades GluR5 a GluR7, além das su-
te forte, de maneira que existe uma tradução de um-para-um bunidades KA1 e KA2. A complexidade dos tipos dos possí-
das variações de voltagem do neurônio motor para as varia- veis receptores glutamatérgicos aumenta ainda mais pela exis-
ções de voltagem da fibra muscular, assegurando, portanto, tência de conformações flip e flop das subunidades de GluR1
uma contração muscular confiável. a GluR4 e das modificações pós-transducionais do RNAm
Diferentemente da junção neuromuscular, os neurônios do receptor glutamatérgico (Puchalski et al., 1994; Seeburg,
do SNC funcionam em redes dinâmicas, nas quais geralmente 1996; Sommer et al., 1990). Receptores não-NMDA geral-
nenhuma célula individual possui uma conexão sináptica tão mente estão acoplados a canais iônicos que permitem a en-
forte com outra célula, de forma que possa atingir sozinha o trada de Na+ e não de Ca2+ através da membrana. A subuni-
seu limiar. Em vez disso, grupos de neurônios — ativados em dade GluR2 do canal iônico do receptor AMPA é responsável
conjunto — convergem em um neurônio pós-sináptico para pelo bloqueio da passagem de Ca+2. Recentemente, foram
gerar múltiplos potenciais pós-sinápticos. Esses potenciais po- identificados neurônios que expressam receptores AMPA, nos
dem somar-se em regiões do neurônio pós-sináptico (soma- quais a subunidade GluR2 está ausente, permitindo, dessa for-
ção espacial), caso ocorram suficientemente próximos, a tem- ma, a passagem do Ca+2, bem como do Na+, pelo canal (Geiger
po de provocar o disparo do neurônio pós-sináptico. Como et al., 1995). Neurônios que expressam tais receptores AMPA
Neuropsiquiatria e neurociências na prática clínica 29

Figura 1–9 Transportadores de neurotransmissores. A transmissão sináptica no SNC é terminada, na maioria dos casos, mediante a
recaptação dos neurotransmissores por transportadores específicos, os quais apresentam constituições moleculares comuns. Esses
transportadores carreiam neurotransmissores através da membrana contra seus gradientes de concentração e, portanto, necessitam de energia
metabólica. Freqüentemente, essa energia é fornecida pelo co-transporte de um íon a favor do seu gradiente de concentração. Painel A. Uma
família de transportadores localizados nas vesículas sinápticas tem a função de preencher a vesícula sináptica com neurotransmissores ou
precursores de neurotransmissores. Painel B. Uma segunda família de transportadores localizados na membrana plasmática com oito domínios
transmembrana é responsável pelo transporte de neurotransmissores aminoácidos, tais como o glutamato e o GABA. Painel C. Uma terceira
família de transportadores localizados na membrana plasmática com 12 domínios transmembrana é responsável pelo transporte das
monoaminas dopamina, norepinefrina e serotonina.
Fonte: Reeditada de Kandel ER, Schwartz JH, Jessel TM: Principles of Neural Science, 4ª edição. New York, Mcgraw-Hill, 2000, p.287. Utilizada com
permissão.
30 Yudofsky & Hales

permeáveis ao Ca2+ podem ser particularmente vulneráveis à também aos receptores da glicina) (Mascia et al., 2000; Mihic
morte celular por excitoxicidade em certos estados patológi- et al., 1997).
cos.
Receptores metabotrópicos
Receptores GABAérgicos
Efeitos modulatórios a longo prazo geralmente são me-
Potenciais inibitórios pós-sinápticos no cérebro são me- diados por receptores metabotrópicos. Esses receptores não-
diados principalmente por receptores GABAérgicos. Várias conectados a canais regulam a função celular através da ati-
classes de receptores GABAérgicos foram identificadas. Re- vação de proteínas G, que se conectam a cascatas de
ceptores do tipo GABAA são ionotrópicos e formam canais segundos-mensageiros. Embora existam outros receptores
seletivos ao Cl– que medeiam a inibição sináptica rápida no não-conectados a canais que também são catalíticos, no SNC
cérebro. Receptores do tipo GABAB são metabotrópicos, ten- apenas os receptores conectados à proteína G são encontra-
dem a ser de ação mais lenta e desempenham um papel mo- dos. Na verdade, a maioria dos neurotransmissores e neuro-
dulatório; costumam ser encontrados em terminais pré-sináp- moduladores exercem seus efeitos através da ligação a recep-
ticos, onde inibem a liberação de transmissores. Os receptores tores conectados à proteína G. Estes receptores G são assim
GABAA são membros da superfamília do receptor nicotínico chamados porque são ligados intracelularmente a proteínas
da acetilcolina (DeLorey e Olsen, 1992; Schofield et al., 1990). regulatórias ligantes de guanosina trifosfato (GTP). As proteí-
O complexo receptor-canal GABAA é composto de uma mis- nas G são formadas por um complexo de três proteínas liga-
tura de cinco subunidades das famílias α, β, γ e ρ. Isso dá ori- das à membrana (Gαβγ); quando o receptor é ativado, a subuni-
gem a receptores com propriedades variadas, dependendo da dade α (Gα) liga-se à GTP e dissocia-se do complexo de
composição específica de subunidades do receptor. Já que a subunidades β e γ (Gβγ). Tanto Gα quanto Gβγ podem desenca-
maioria das famílias de subunidades apresenta múltiplos sub- dear eventos subseqüentes. As proteínas G ativadas apresen-
tipos, alguns dos quais podem sofrer fusão no RNA, existe um tam um tempo de vida que vai de segundos a minutos; a Gα é
potencial para uma extraordinária diversidade na função do auto-inativada pela hidrólise da GTP ligada, após o que é rea-
receptor GABAA. gregada com Gβγ, retornando ao estado de repouso. A conti-
As seqüências de RNAm para subunidades múltiplas ou nuação da ligação do neurotransmissor ao receptor pode rei-
individuais dos receptores podem ser injetadas em oócitos niciar o ciclo.
ou em células de mamíferos sob cultura, e as propriedades As proteínas G são a primeira conexão nas cascatas sina-
das combinações de subunidades do receptor expressas sub- lizadoras que podem ativar diretamente proteínas quinases —
seqüentemente podem ser definidas. Essa técnica tem de- enzimas que fosforilam proteínas celulares (Walaas e Green-
monstrado como as propriedades de um receptor GABAA gard, 1991) — ou aumentar o Ca2+ intracelular, ativando indi-
particular depende da composição de subunidades, bem como retamente as quinases (Figura 1–10) (Ghosh e Greenberg,
das interações entre estas. Mutações direcionadas a sítios 1995). As proteínas sofrem alterações conformacionais quan-
específicos têm sido aplicadas no sentido de localizar os sí- do são fosforiladas, o que pode levar a sua ativação ou inativa-
tios de ligação de ligantes específicos nas subunidades do ção. As proteínas afetadas podem incluir canais da membrana,
receptor. A subunidade α, por exemplo, possui um sítio de elementos do citoesqueleto e reguladores de transcrição da
ligação para benzodiazepínicos (Pritchett et al., 1989). As ações expressão gênica. Dessa forma, as ações modulatórias media-
clínicas dos benzodiazepínicos, como também de outras duas das por segundos-mensageiros controlam a maioria dos pro-
classes de drogas depressoras do SNC, os barbitúricos e os cessos celulares. O potencial para amplificação, combinado com
esteróides anestésicos, parecem estar relacionadas com sua a divergência e a convergência de sinais, fornece o mecanismo
habilidade de ligarem-se aos receptores GABAA, aumentan- básico para alterações duradouras na função neuronal, espe-
do o fluxo de íons através do receptor (Callachan et al., 1987; cialmente para mecanismos essenciais ao aprendizado e à me-
Choi et al., 1981; MacDonald e Barker, 1978; Majewska et mória e ao desenvolvimento. As três principais cascatas de se-
al., 1986). Os canais individuais GABAA não permanecem gundos-mensageiros envolvendo proteínas G e suas interações
continuamente abertos na presença de GABA; em vez disso, com Ca2+ estão esquematizadas na Figura 1–10.
abrem-se e fecham-se. Os benzodiazepínicos aumentam a Uma vez que esses receptores da proteína G são alvos
corrente GABAérgica por aumentarem a freqüência das aber- para muitas drogas terapêuticas ou drogas de abuso, o enten-
turas do canal, sem alterar o tempo de abertura ou a condu- dimento de suas regulações é de extrema importância clínica.
tância (Study e Barker, 1981). Os barbitúricos prolongam o Recentemente, avanços importantes têm sido feitos no senti-
tempo de abertura do canal sem alterar a freqüência de aber- do de definir os mecanismos que medeiam a sub-regulação de
turas ou a condutância (MacDonald et al., 1989; Mathers e receptores conectados a proteínas G (Tsao e Von Zastrow,
Baker, 1981). Os esteróides, tais como a androsterona e a preg- 2000). A sub-regulação de receptores é geralmente induzida
nenolona, aumentam o tempo e a freqüência das aberturas por sua ativação prolongada, levando à internalização dos mes-
(Twyman e MacDonald, 1992). Independentemente dos di- mos. Por exemplo, a ativação prolongada de receptores dopa-
ferentes mecanismos de ação, cada uma dessas drogas au- minérgicos do tipo D1 em neurônios estriatais pela injeção de
menta a transmissão GABAérgica, a qual é responsável pelas agonistas in vivo causa a rápida internalização deles (Dumartin
propriedades anticonvulsivantes compartilhadas pelas três. et al., 1998). A internalização desses receptores é mediada por
Na verdade, eles podem diretamente contrabalançar uma de- mecanismos altamente específicos, tanto dependentes quanto
ficiência de GABA originada pela redução no número de independentes da dinamina (Vickery e Zastrow, 1999). A de-
transportadores de GABA no córtex epileptogênico, o que terminação dos mecanismos que acarretam a sub-regulação
pode ser a etiologia da epilepsia (During et al., 1995). Mais de receptores da proteína G pode identificar alvos para o de-
recentemente, foi demonstrado que anestésicos gerais, bem senvolvimento de novas classes de drogas úteis para a mani-
como o álcool, agem através da ligação ao receptor GABAA (e pulação terapêutica da sinalização de tais receptores. Por exem-
Neuropsiquiatria e neurociências na prática clínica 31

Figura 1–10 Principais vias de sinalização intracelular em neurônios. A união de ligantes com seus receptores ativa três vias sinalizadoras
principais através de proteínas G. Painel A. No sistema adenosina monofosfato cíclico (AMPc), uma proteína G medeia o acoplamento de um
ligante à ativação da adenil ciclase. Isso, por sua vez, irá gerar AMPc, que se liga nas unidades regulatórias (R) da proteína quinase dependente
de AMPc (PKAc), liberando as subunidades catalíticas (C). Essas, por sua vez, ativarão os elementos responsáveis das proteínas de ligação do
AMPc (CRB), que se ligam aos elementos responsivos do AMPc (CRE) e regulam a expressão gênica depois de terem sido fosforiladas (P). Painel
B. No sistema do fosfolipídeo inositol, a proteína G ativa a fosfolipase C (PLC), que hidrolisa os fosfolipídeos de membrana para produzir dois
segundos-mensageiros: o diacilglicerol (DAG) e o inositol trifosfato (IP3). O IP3 desencadeia a liberação de Ca2+ pelo retículo endoplasmático
(RE). O Ca2+, por sua vez, faz a translocação da proteína quinase C (PKC) para a membrana celular, onde ela é ativada pelo DAG. Por se
conectar à membrana com a ativação, a PKC pode ser especialmente importante na modulação dos canais de membrana. Também é mostrada
outra ação do Ca2+: a ativação da proteína quinase dependente de Ca2+/calmodulina, que, quando ativada, fosforila outros conjuntos de
proteínas. O Ca2+ liberado dos estoques intracelulares pode agir de forma semelhante ao Ca2+, que entra a partir do lado de fora da célula
(não-mostrado); entretanto, devido ao fato de as células regularem os níveis de Ca2+ de forma muito estrita, os aumentos na concentração de
Ca2+ costumam ser muito localizados. Painel C. No sistema do ácido araquidônico, as proteínas G podem acoplar-se à fosfolipase A2 (PLA2),
formando ácido araquidônico pela hidrólise de fosfolipídeos de membrana. O ácido araquidônico funciona como um segundo-mensageiro
propriamente dito ou como um precursor da via da lipoxigenase, originando uma família de segundos-mensageiros permeáveis à membrana. A
via da ciclooxigenase é importante principalmente fora do cérebro, na produção de prostaglandinas. Abreviações: ATP = adenosina trifosfato;
HPETE = Ácido Hidro-peróxi-eicosa-tetraenóico; PI = Fosfatidil-inositol.
Fonte: Painel A. Reeditado de Lodish H, Berck A, Zipursky L, et al.,: Molecular Cell Biology, 3ª Edição. New York, Scientific American Books, 1995; Painéis B
e C adaptados de Kandel ER, Schwartz JH, Jessell TM: Principles of Neural Science, 4ª Edição. New York, McGraw-Hill, 2000. Utilizada com permissão.

plo, camundongos mutantes nos quais a proteína β-arrestina çando vias neurais envolvidas no aprendizado (Bailey et al.,
2 está ausente não desenvolvem tolerância a opióides (Bohn et 2000). A ativação desses receptores em geral não altera o po-
al., 1999). tencial de membrana. Em vez disso, a ligação ao receptor ativa
As ações mais lentas dos receptores metabotrópicos são cascatas de segundos-mensageiros que podem alterar de for-
responsáveis pela alteração na excitabilidade neuronal e pelo ma considerável as propriedades de resposta de outros recep-
fortalecimento das conexões sinápticas, freqüentemente refor- tores. Na retina, por exemplo, a dopamina parece mediar a
32 Yudofsky & Hales

adaptação à luz (Djamgoz e Wagner, 1992; Doeling, 1987). A abundantes na densidade pós-sináptica é a PSD-95 (proteína
dopamina liberada pelas células interplexiformes age nas cé- da densidade pós-sináptica de 95 kd). A PSD-95 é uma prote-
lulas horizontais via receptores dopaminérgicos do tipo D1 os ína citoplasmática que contém três domínios importantes para
quais, por sua vez, ativam a adenil ciclase, aumentando os ní- a ligação de proteínas, chamados de domínios PDZ. Esses do-
veis de adenosina monofosfato cíclico (AMPc). Essa AMPc tem mínios da PSD-95 ligam-se ao receptor NMDA, ao canal de
dois efeitos: 1) aumenta a sensibilidade das células horizontais K+ Shaker e às proteínas de adesão celular denominadas neu-
a informações provenientes dos cones e 2) diminui o acopla- roliguinas. Em contrapartida, os receptores AMPA ligam-se a
mento elétrico entre as células horizontais, reduzindo o tama- um domínio PDZ distinto, chamado GRIP, e os receptores glu-
nho do campo receptivo e aumentando, portanto, a acuidade. tamatérgicos metabotrópicos interagem com o HOMER. Acre-
Esses dois efeitos alternam a retina de escotópica para visão dita-se que essas proteínas PDZ sejam importantes para agru-
em cores fotópica. No SNC, várias ações modulatórias têm par os receptores de neurotransmissores e outros componentes
sido atribuídas a projeções dopaminérgicas. Em um nível mais importantes das sinapses na densidade pós-sináptica e para
profundo, os segundos-mensageiros podem ser translocados mediar a rápida inserção ou remoção dos receptores da sinap-
ao núcleo, onde conseguem controlar a expressão gênica, exer- se, como pode ocorrer durante a plasticidade sináptica (Kim e
cendo alterações mais prolongadas na função celular (Lodish Huganir, 1999).
et al., 1995) através da ativação de genes em uma seqüência
temporal (Charney et al., 1999).
Gases como moduladores transcelulares
Surpreendentemente, foi demonstrado que o óxido nítri-
Organização dos receptores pós-sinápticos nas
co (NO), um gás, medeia sinalização interneuronal, funcio-
sinapses
nando como um segundo-mensageiro com propriedades de
A maioria dos receptores para os neurotransmissores está neurotransmissor (Brenman e Bredt, 1997; Dawson e Snyder,
agrupada em sítios pós-sinápticos localizados próximos ao ter- 1994; Schulman, 1997). O NO apresenta uma vida extrema-
minal pré-sináptico. Recentemente, vários laboratórios têm mente curta e é sintetizado de forma muito rápida quando
realizado importantes progressos na identificação dos com- necessário, a partir da arginina, pela enzima óxido nítrico sin-
ponentes moleculares da estrutura pós-sináptica que mantêm tase (NOS). A NOS é ativada pelo aumento na concentração
os receptores sinápticos em seu lugar (Figura 1–11) (S. H. Lee de Ca2+ intracelular. Diferentemente dos mensageiros intra-
e Sheng, 2000; Kim e Huganir, 1999). Uma das proteínas mais celulares convencionais, que são localizados na célula pós-si-

Figura 1–11 Alguns dos componentes moleculares de uma sinapse glutamatérgica típica no SNC. Subunidades de receptores do tipo ácido
α-amino-3-hidróxi-5-metilisoxazol-4-propiônico (AMPA) são associadas ao GRIP através de interações no domínio PDZ, e as subunidades dos
receptores N-metil-D-aspartato (NMDA) são ligadas à PSD-95. GRIP e PSD-95 também interagem com o citoesqueleto, fornecendo uma
sustentação protéica para os receptores glutamatérgicos na densidade pós-sináptica. Essa sustentação pode regular a dinâmica de inserção ou
remoção, na dependência da atividade, de receptores glutamatérgicos nas sinapses do SNC. Abreviações: GIESVKI = os aminoácidos críticos
para ligação de GR2 a PDZ4 e PDZ5; nNOS = óxido nítrico sintase neuronal.
Fonte: O’Brien RJ; Lau L-F; Huganir RL: “Molecular Mechanisms of Glutamate Receptor Clustering at Excitatory Synapses.” Current Opinion in Neurobiology
8: 364-369, 1998. Utilizada com permissão.
Neuropsiquiatria e neurociências na prática clínica 33

náptica, onde produzem seus efeitos, o NO difunde-se através tempo com dado potencial de ação, há maior influxo de Ca2+
da membrana a células adjacentes pré ou pós-sinápticas e ati- e, portanto, mais transmissor é liberado. O aprendizado asso-
va a guanilil ciclase, aumentando os níveis de guanosina 3’,5’- ciativo parece ser devido à ativação de um neurônio facilitador
monofosfato cíclico (GMPc), que, por sua vez, desencadeia a logo após a ativação do neurônio sensorial. O influxo de Ca2+
produção de outros mensageiros intracelulares. O NO, bem desencadeado pela alteração de voltagem no terminal do neu-
como o monóxido de carbono (CO) e o ácido araquidônico, rônio sensorial e os sistemas de segundos-mensageiros ativa-
os quais apresentam papéis similares, podem coordenar alte- dos pela serotonina, quando ativados ao mesmo tempo, pro-
rações pré e pós-sinápticas na plasticidade sináptica (O’Dell duzem um aumento na atividade da quinase C (Braha et al.,
et al., 1994). A excitoxicidade provocada pela ativação excessi- 1990). Isso é chamado de aumento da facilitação pré-sináptica
va dos receptores glutamatérgicos do tipo NMDA parece ser dependente da atividade e fornece a detecção de coincidências
mediada, em parte, pelo NO (Dawson et al., 1993). inerentes ao aprendizado associativo (Figura 1–12). Em todas
essas formas de aprendizado associativo, os mecanismos en-
volvem modificação covalente de proteínas preexistentes, prin-
Modulação sináptica no aprendizado e na
cipalmente por fosforilação.
memória
Em contrapartida, a memória de longa duração requer
Segundos-mensageiros aumentam muito a gama de res- alterações na transcrição gênica. Os mesmos mecanismos que
postas que um neurônio pode apresentar a um estímulo si- medeiam a sensibilização de curta duração também iniciam a
náptico. Eles ativam quinases que podem amplificar e prolon- formação da memória de longa duração. Na sensibilização de
gar sinais mediante a fosforilação de outras proteínas. As longa duração, assim como na de curta duração, a memória é
proteínas fosforiladas permanecem ativas — freqüentemente codificada por um fortalecimento das sinapses sensório-mo-
por um período muito mais longo do que um agonista perma- toras. Ocorre um aumento na liberação de transmissores, e
nece ligado ao receptor — até que sejam defosforiladas por canais S-K+ são fechados, levando a um aumento do influxo
proteínas fosfatases. Já que os segundos-mensageiros desen- de Ca2+. A serotonina e a AMPc são o primeiro e o segundo
cadeiam grande número de funções celulares, a ativação de mensageiros, e um conjunto característico de proteínas é fos-
um único receptor pode ativar uma resposta celular coorde- forilado (Sweatt and Kandel, 1989). Para a memória de longa
nada envolvendo vários sistemas. Isso pode incluir a modula- duração, no entanto, existe uma necessidade absoluta de trans-
ção da transcrição genômica dependente da atividade, levando crição gênica e de síntese de novas proteínas. A AMPc afeta a
a alterações duradouras na função celular. O aprendizado e a transcrição gênica por ligar-se à proteína de ligação do ele-
memória requerem alterações a curto e a longo prazo em si- mento responsivo da AMPc (CREB), a qual então se liga a
napses individuais entre neurônios. sítios regulatórios no DNA conhecidos como elemento res-
ponsivo da AMPc. Dessa forma, a injeção de CREB exógeno
bloqueia a sensibilização de longa duração, mas não a de curta
Aprendizado simples em Aplysia
(Dash et al., 1990). O CREB, por sua vez, induz a transcrição
Investigações utilizando o molusco marinho Aplysia cali- de ubiquitina, a qual leva à clivagem da subunidade regulató-
fornica têm sido fundamentais para o entendimento atual dos ria da proteína quinase dependente de AMPc, prolongando a
mecanismos celulares do aprendizado e da memória. O Prê- ativação da quinase (Hedge et al., 1993). Finalmente, as altera-
mio Nobel em Fisiologia e Medicina do ano de 2000 foi dado ções desencadeadas por estimulações repetidas na cauda, a
a Eric Kandel por esse trabalho. As alterações no comporta- ativação de interneurônios facilitatórios, a aplicação de sero-
mento da Aplysia podem ser relacionadas a alterações em co- tonina ou a injeção de AMPc resultam em alterações estrutu-
nexões sinápticas individuais, uma vez que seu sistema nervo- rais específicas (Glanzman et al., 1990), envolvendo o cresci-
so é composto de relativamente poucos neurônios que podem mento de novos processos e aumentando o número e o
ser identificados de animal para animal (Kandel e Hawkins, tamanho das sinapses. Essas alterações morfológicas são me-
1992). A Aplysia exibe um comportamento defensivo simples diadas, em parte, por moléculas de adesão celular similares
— o reflexo de retirada do sifão — o qual mostra várias formas àquelas que desempenham papel crucial na formação do sis-
elementares de aprendizado. A estimulação leve na pele do si- tema nervoso (Bailey et al., 1992). Portanto, alterações de cur-
fão que recobre as brânquias leva a seu reflexo de retirada. Se ta duração na força sináptica transformam-se em alterações
um choque é aplicado em sua cauda, o reflexo mostra sensibi- estruturais duradouras, orquestradas por interações entre sis-
lização: a estimulação subseqüente do sifão elicia um reflexo temas de segundos-mensageiros, que, por sua vez, induzem a
mais intenso. Se a estimulação do sifão é emparelhada com o transcrição gênica.
choque na cauda, o animal desenvolve um aprendizado asso-
ciativo manifestado por um aumento na resposta reflexa a uma
Potenciação de longa duração no SNC de mamíferos
leve estimulação do sifão. A Aplysia aprende que uma leve es-
timulação no sifão prediz um choque em sua cauda. No SNC de mamíferos, um aumento similar na força si-
Estímulos sensibilizantes na cauda ativam neurônios se- náptica ocorre no hipocampo quando certas sinapses são esti-
rotonérgicos facilitadores que fazem sinapse com terminais de muladas brevemente a uma alta freqüência; esse aumento dura
neurônios sensoriais. A serotonina liberada produz facilitação de dias a semanas no animal intacto (Bliss e Lomo, 1973). Já
pré-sináptica pela ativação da adenil ciclase via ligação com a que essa potenciação de longa duração (LTP) ocorre em regiões
proteína G; a AMPc liga-se às subunidades regulatórias da cerebrais essenciais para a codificação da memória — o hipo-
proteína quinase dependente de AMPc, liberando suas subu- campo e o córtex cerebral — acredita-se que a LTP seja um
nidades catalíticas, as quais fosforilam uma classe de canais de processo sináptico crucial para a formação da memória. Os
K+ dependentes de voltagem (canais S-K+), inativando-os. três principais circuitos sinápticos do hipocampo apresentam
Devido ao fato de que uma menor corrente de K+ é evocada, a LTP, cada um com mecanismos distintos, embora similares.
membrana permanece despolarizada por um pouco mais de Nas sinapses mais estudadas, que ocorrem entre neurônios da
34 Yudofsky & Hales

gem dos receptores NMDA pelo Mg2+. Os receptores NMDA


facilitam o influxo de Ca2+ na espinha dendrítica pós-sinápti-
ca (Murphy et al., 1994; Petrozzino et al., 1995), o que inicia
um aumento na força sináptica. Já que o Ca2+ não flui pelo
canal do receptor NMDA, a menos que o neurotransmissor
esteja ligado e que a membrana pós-sináptica esteja simulta-
neamente despolarizada, o receptor NMDA age como um de-
tector de coincidências (Figura 1–12).
Os mecanismos celulares responsáveis pela expressão da
LTP têm sido foco de intensa investigação — parecem envol-
ver um aumento na liberação de neurotransmissores e/ou no
número e/ou na sensibilidade dos receptores pós-sinápticos
(Malenka e Nicoll, 1999). Embora haja um crescente apoio
para a visão de que o locus da expressão da LTP seja pós-sináp-
tico (descrito a seguir), também existem evidências convin-
centes de que a LTP envolve um aumento na liberação de neu-
rotransmissores pelos terminais pré-sinápticos (Stevens e
Sullivan, 1998; Stevens e Wang, 1995). Nesse caso, surge a
questão de como eventos pós-sinápticos desencadeados pela
ativação de receptores NMDA poderiam levar a alterações na
liberação pré-sináptica de neurotransmissores. Um segundo-
mensageiro retrógrado, que poderia se difundir através da si-
napse e agir nos terminais pré-sinápticos, seria necessário
(O’Dell et al., 1994; Schuman e Madison, 1991; Zhuo et al.,
1993). Vários experimentos indicam que o NO ou o CO são
capazes de conduzir tal sinal retrógrado, difundindo-se da pós-
sinapse aos sítios pré-sinápticos mais próximos, ativando a
guanilil ciclase para induzir uma elevação no GMPc do termi-
nal pré-sináptico. Tal aumento na transmissão sináptica de-
pendente da LTP foi visualizado diretamente (Malgaroli et al.,
1995). O aumento na liberação de neurotransmissores tam-
bém é dependente de Ca2+, implicando em um detector de
coincidência pré-sináptico (Zhuo et al., 1994). Além desses
gases difusíveis, foi demonstrado recentemente que uma fa-
mília de fatores de crescimento chamados neurotrofinas agem
como sinais retrógrados que facilitam o fortalecimento sináp-
tico de longa duração, incluindo a LTP (McAllister et al., 1999).
Ao longo dos últimos anos, grande número de evidências
Figura 1–12 Os detectores de coincidência molecular. Painel A. No tem dado suporte para o locus pós-sináptico para expressão da
reflexo de retirada do sifão da Aplysia, o toque no sifão, que leva ao
LTP (Malinow et al., 2000). Existem atualmente dois meca-
influxo de Ca2+, e o choque na cauda, que leva à estimulação da
nismos que favorecem o aumento da eficácia sináptica pós-
adenilil ciclase, podem, juntos, induzir uma ativação da adenilil
sinapticamente: 1) alteração na sensibilidade de receptores glu-
ciclase e uma liberação de neurotransmissor maiores, levando a uma
facilitação da eficácia sináptica. Painel B. No hipocampo, a tamatérgicos já existentes e 2) adição de receptores AMPA a
potenciação de longa duração resulta da ativação coincidente de sinapses funcionalmente silenciosas. A elevação nos níveis de
receptores do tipo N-metil-D-aspartato (NMDA-R) e da despolarização Ca2+ pós-sináptico devido à transmissão sináptica de alta fre-
pós-sináptica. Abreviações: AMPA-R = receptores do tipo ácido α- qüência ativa várias quinases que são cruciais para a LTP e a
amino-3-hidróxi-5-metilisoxazol-4-propiônico; GTP = guanosina memória: a quinase dependente de Ca2+/calmodulina II (Ca-
trifosfato; 5-HT = 5-hidróxi-triptamina; 5-HT-R = receptor de 5-HT; LTP mKII), a proteína quinase C (PKC) e a proteína quinase A.
= potenciação de longa duração, Cai2+ = cálcio interno; Gs = proteína Essas quinases fosforilam GluR1, uma subunidade do recep-
G; αs = subunidade α. tor AMPA, aumentando a sensibilidade desses receptores; o
Fonte: Reeditada de Bourne HR; Nicoll R: “Molecular Machines bloqueio dessa fosforilação inibe a expressão da LTP (H.K.
Integrate Coincident Synaptic Signals”. Neuron 10 (suppl.): 65-75, 1993. Lee et al., 2000). Em concordância com o papel crítico das
Utilizada com permissão.
quinases na LTP, camundongos deficientes em CamKII apre-
sentam LTP reduzida, bem como déficits no aprendizado es-
pacial (Bach et. al., 1995). Técnicas utilizando knockout de ge-
região CA3 e neurônios piramidais da região CA1 (Figura 1– nes, pelas quais animais mutantes são gerados com deficiência
13), a LTP é iniciada pelo influxo de Ca2+ no neurônio pós- em determinado gene e então acasalados com homozigotos
sináptico (Figuras 1–12B e 1–13). O glutamato liberado pelos para eliminar completamente dada proteína, mostraram que
neurônios da região CA3 age em receptores NMDA e não- outras quinases também são necessárias para a LTP (Mayford
NMDA. Entretanto, apenas os disparos de alta freqüência (que e Kandel, 1999). Por exemplo, camundongos knockout para a
desencadeiam a LTP) ativam um número suficiente de recep- quinase Fyn apresentam deficiência de LTP em CA1. Ao tes-
tores AMPA para provocar uma despolarização pós-sináptica tarem-se substratos para a quinase Fyn, foi demonstrado que
significativa, capaz de liberar o bloqueio dependente da volta- há uma deficiência na fosforilação da tirosina quinase de ade-
Neuropsiquiatria e neurociências na prática clínica 35

Figura 1–13 Potenciação de longa duração (LTP) no hipocampo.


Painel A. Registro típico para LTP em sinapses nas regiões CA1-CA3
hipocampais. São utilizados cortes transversais do hipocampo de
roedores. Aplicam-se dois estímulos não sobrepostos aos neurônios
piramidais na região CA1 com eletrodos de estimulação extracelular
— uma via é estimulada com alta intensidade; a outra com uma
intensidade mais baixa. As respostas pós-sinápticas são registradas
intracelularmente a partir de neurônios piramidais de CA1 ou
extracelularmente na região CA1. Painel B. Após a aplicação de
estímulos de alta freqüência (tetania) na região CA1 ou da
estimulação pré-sináptica coincidente com a despolarização pós-
sináptica, a facilitação de longa duração das respostas dos neurônios
da região CA1 são registradas. Esse painel mostra a curva dos
potenciais excitatórios pós-sinápticos antes e depois da estimulação.
A resposta pós-sináptica é extremamente aumentada após a tetania
em resposta a estímulos de mesma magnitude. Painel C. Esquema
ilustrando os eventos moleculares necessários para a LTP e para a
depressão de longa duração (LTD). Esse diagrama mostra os efeitos
do aumento de cálcio em uma espinha dendrítica pós-sináptica em
resposta a estímulos que induzem LTP ou LTD. Depois que a
despolarização remove o bloqueio por Mg2+, canais N-metil-D-
aspartato (NMDA) abrem-se e permitem o influxo de Ca2+. O cálcio
também entra pelos canais de Ca2+ ativados por voltagem (VGCCs) e
por alguns receptores ácido α-amino-3-hidróxi-5-metilisoxazol-4-
propiônico (AMPA). A ativação de receptores glutamatérgicos
metabotrópicos também contribui para um aumento no cálcio
intracelular através da liberação de cálcio de estoques intracelulares,
a qual é estimulada pela ativação da fosfolipase C (PLC) e por um
aumento subseqüente no inositol-trifosfato (IP3). A ativação de
quinases específicas facilita a indução e a expressão da LTP,
enquanto a ativação de fosfatases predispõe a célula a expressar a
LTD. Abreviações: DAG = Diacilglicerol; EPSP = Potencial excitatório
pós-sináptico; G = Proteína G; mGluR = Receptor glutamatérgico
metabotrópico.
Fonte: Reeditada de Beggs JM, Brown TH, Byrne JH, et al.,: “Learning
and Memory: Basic Mechanisms,” em Fundamental Neuroscience. Editado por
Zigmond MJ et al. San Diego, CA, Academic Press, 1999, p.1439, 1444.
Utilizada com permissão.

são focal (Grant et al., 1995). Esses resultados sugerem que os após a indução e não requer síntese protéica. Em contraparti-
processos de adesão celular são importantes no desenvolvi- da, a LTP tardia dura várias horas e necessita dos processos de
mento e necessários à consolidação desse processo de memória. novas transcrições e traduções. Como descrito anteriormente
Há pouco tempo vários laboratórios vêm mostrando que para o fortalecimento sináptico de longa duração na Aplysia, a
sinapses silenciosas — sinapses que contêm apenas receptores LTP envolve a ativação da CamKII, a produção de AMPc e a
NMDA antes da indução da LTP — podem ser ativadas pela ativação da transcrição gênica através do processo dependen-
inserção, dependente da estimulação, de novos receptores te de CREB. Evidências recentes indicam que a LTP também
AMPA, fornecendo um mecanismo novo para a LTP (Mali- pode estimular o crescimento de novas conexões sinápticas, o
now et al., 2000). O aumento na função do receptor AMPA que poderia mediar alterações sinápticas mais permanentes
em sinapses anteriormente silenciosas após o estímulo indu- responsáveis pelo aprendizado e pela memória (Engert e Bo-
tor de LTP tem sido observado por muitos laboratórios. O nhoeffer, 1999; Toni et al., 1999).
mais importante é o fato de ser possível visualisar esse proces- Como o fortalecimento das sinapses pela LTP é mantido
so diretamente por imagens da inserção de receptores AMPA, sob controle? As sinapses hipocampais também apresentam a
marcados com a proteína fluorescente verde, em sinapses si- depressão de longa duração (LTD), a qual envolve uma gama
lenciosas após a indução da LTP (Shi et al., 1999). Pesquisas similar de mecanismos ativados por estimulação sináptica de
nessa área estão agora se concentrando nos mecanismos in- baixa freqüência (Linden e Connor, 1995). A LTD resulta em
tracelulares do tráfego dos receptores AMPA e prometem de- uma diminuição na força sináptica e pode ser mediada por
senvolver logo uma compreensão abrangente dos mecanis- uma diminuição na liberação de neurotransmissor e/ou na
mos moleculares das modificações pós-sinápticas da LTP. responsividade pós-sináptica pela redução no número ou na
A LTP é composta de, pelo menos, duas fases: LTP inicial sensibilidade dos receptores glutamatérgicos. Portanto, por
e LTP tardia. A LTP inicial estende-se pelas primeiras três horas meio de um equilíbrio dinâmico entre LTP e LTD (Zhuo et
36 Yudofsky & Hales

al., 1994), as memórias de informações irrelevantes podem ser


eliminadas, e as memórias duradouras podem ser finamente
sintonizadas. A regulação da força sináptica pode ser também
relacionada ao ritmo teta predominante no hipocampo. A es-
timulação na freqüência teta produz LTP, enquanto estimula-
ções mais lentas associadas a aumentos mais moderados nos
níveis de Ca2+ levam a LTD. A freqüência teta parece estar sob
controle colinérgico, sugerindo um mecanismo através do qual
a acetilcolina pode modular a memória (Huerta e Lisman,
1993). De maneira mais geral, Llinás e colaboradores argu-
mentaram que o ritmo teta medeia a integração tálamo-corti-
cal e que distúrbios nesse ritmo estariam associados a prejuí-
zos mentais em uma série de transtornos neuropsiquiátricos
(Llinás et al., 1999).

DESENVOLVIMENTO NEURONAL

Como os neurônios são capazes de modificar a força de


suas conexões de acordo com a experiência, refletem apenas
uma fração dos mecanismos utilizados durante o desenvolvi-
mento do SNC (Figura 1–14). Se as modificações sinápticas
no adulto se assemelham ou utilizam mecanismos que ocor-
rem durante o desenvolvimento, outras formas de plasticida-
de podem existir no adulto, que são vestígios dos processos
ocorridos durante o desenvolvimento. Por exemplo, durante o
desenvolvimento, certos neurônios sofrem a morte celular pro-
gramada geneticamente, conhecida como apoptose, a qual
parece desencadear um processo de competição por um ou
mais fatores de sobrevivência. Transtornos neuropsiquiátricos
podem resultar de ativações aberrantes de tais mecanismos
(Nijhawan et al., 2000). Em doenças neurodegenerativas ad- Figura 1–14 Estágios do desenvolvimento neuronal e sua
modulação. Em cada estágio, o neurodesenvolvimento é regulado
quiridas ou genéticas, um programa de morte celular pode ser
por fatores ambientais locais e, em fases mais tardias, também pela
ativado inapropriadamente em uma população celular especí-
atividade. Essa forma de arranjo permite à plasticidade acomodar as
fica. Em doenças das mais variadas, tais como doença de Alzhei-
variações individuais que são intrínsecas e as que dependem da
mer, de Huntington, esclerose amiotrófica lateral, epilepsia e experiência. Devido à inter-relação de fatores intrínsecos e associados
acidente vascular cerebral (AVC), neurônios específicos são à experiência, existem múltiplos pontos em que alterações
seletivamente vulneráveis à apoptose, reproduzindo, portanto, patológicas podem alterar o resultado final de maneira sutil ou mais
um mecanismo normalmente utilizado durante o desenvolvi- evidente.
mento cerebral. Outros transtornos, como o autismo, podem Fonte: Rayport S, Kriegstein AR: “Cellular and Molecular Biology of the
ser explicados por uma falha, durante o desenvolvimento, no Neuron”, em The American Psychiatric Press Textbook of Neuropsychiatry, 3ª
processo de morte celular programada (Piven et al., 1995). edição. Editado por Yudofsky SC, Hales RE. Washington, DC, American
Psychiatric Press, 1997, p. 19. Utilizada com permissão.
Vários problemas inerentes ao desenvolvimento resultam de
crescimento ou migração aberrantes de neurônios ou de de-
feitos na formação sináptica. Por exemplo, a esquizofrenia pode
resultar da falha dos neurônios dopaminérgicos mesocorti-
cais ao realizarem conexões sinápticas apropriadas com neu- o desenvolvimento ocorre, elas geram o mais diverso número
rônios do córtex frontal (Weinberger e Lipska, 1995) ou da de tipos celulares distintos fenotípica, molecular e quimica-
migração aberrante dos neurônios corticais (Akbarian et al., mente de todos os órgãos do animal adulto, todos organizados
1993). Esses dois defeitos podem ser relacionados pela obser- na mais complexa estrutura encontrada em organismos vivos.
vação de que a dopamina desempenha papel importante tanto A posição precisa e a conectividade dessa miríade de tipos ce-
na migração quanto na diferenciação neuronal (Todd, 1992). lulares são essenciais para o funcionamento do organismo
Em conseqüência, o conhecimento dos mecanismos ineren- como um todo.
tes ao desenvolvimento é fundamental para se conhecer a etio- O modo como os neurônios chegam a suas localizações
logia de doenças neuropsiquiátricas. corretas e formam conexões apropriadas ainda não está com-
pletamente entendido. Teoricamente, o destino específico de
cada célula poderia ser determinado de forma intrínseca ape-
Nascimento e migração
nas por sua linhagem histórica, conforme parece ser o caso de
Os neurônios e a glia têm origem em zonas proliferativas certos invertebrados, tais como o verme Caenorhabditis elegans
que revestem o tubo neural embrionário no estágio da dobra- (Kenyon, 1986). Entretanto, estudos de linhagens em verte-
dura dos segmentos da cabeça e da expansão das cavidades brados demonstraram que fatores ambientais locais influen-
ventriculares. Superficialmente, as células neuroepiteliais pro- ciam de maneira significativa o fenótipo, a localização e a co-
liferativas nessas zonas parecem similares, mas, à medida que nectividade final de neurônios individuais (Lumsden e
Neuropsiquiatria e neurociências na prática clínica 37

Krumlauf, 1996; Rubenstein et al., 1998). Os sinais molecula- delimitações que restringem a mistura intersegmental das cé-
res que influenciam o destino celular são diversos e regulados lulas neuroepiteliais e comprometem suas descendentes a um
pelo desenvolvimento, incluindo fatores difusíveis e molécu- destino segmental particular.
las de reconhecimento de superfície celular.
Proliferação
Determinação
À medida que a neurogênese ocorre, as células precurso-
Os estágios iniciais do desenvolvimento do SNC envol- ras neuroepiteliais nas zonas proliferativas que revestem os
vem uma série de passos indutivos nos quais fatores difusíveis ventrículos cerebrais dividem-se para produzir os neurônios
produzidos pelos tecidos vizinhos desencadeiam padrões es- corticais. Em uma dada região do córtex, neurônios que com-
pecíficos de expressão gênica no tecido neural. O processo de partilham a mesma data de nascimento geralmente seguem o
desenvolvimento do SNC se inicia com a indução do ectoder- mesmo padrão de diferenciação e formam a população celular
me neural durante a gastrulação, desencadeada pela liberação da mesma camada cortical. Apesar disso, influências epigené-
de um fator indutor a partir da mesoderme adjacente (Ham- ticas múltiplas estão envolvidas na determinação do destino
burger, 1969). Uma vez que a placa neural esteja formada, um final de cada neurônio individual. Estudos de linhagens com
padrão de diferenças regionais emerge sob o controle de fato- retrovírus de replicação incompetente têm sido usados para
res difusíveis ou de fatores de indução mediados pelo contato, mapear os destinos de descendentes de células precursoras
produzidos pelos tecidos adjacentes. Por exemplo, em embri- corticais individuais. Descendentes clonais marcados às vezes
ões de galinhas, a notocorda induz o desenvolvimento da lâ- incluem células amplamente dispersas que formarão a popu-
mina do assoalho através de um sinal dependente do contato lação de diferentes regiões cerebrais e que ocupam múltiplas
celular e desencadeia a seguir a produção de neurônios moto- camadas corticais (Grove et al., 1993; Mione et al., 1994; C.
res pela liberação de um fator difusível (Placzek et al., 1993; Walsh e Cepko, 1993). De maneira similar, resultados de ex-
Yamada et al., 1993). A formação de um padrão adequado da perimentos com camundongos quiméricos contradizem os
placa neural provavelmente envolve a interação de múltiplos estritos mecanismos de dependência da linhagem para espe-
fatores indutores de várias fontes, os quais estabelecem dife- cificação regional ou laminar (Crabdall e Herrup, 1990; Fishell
renças regionais ao longo dos eixos ântero-posterior, médio- et al., 1990; Goldowitz, 1989). Entretanto, células corticais real-
lateral e dorsoventral (Ruiz i Altaba, 1994). mente se destinam a uma disposição laminar no momento de
No desenvolvimento cerebral inicial, o eixo neural é divi- sua divisão celular final, antes de migrarem para fora da zona
dido em compartimentos. A segmentação é um princípio de proliferativa. Em experimentos com transplantes heterocrô-
organização antigo e amplamente distribuído, expresso em nicos, McConnell (1988) transplantou células da zona ventri-
todos os embriões e evidente no plano corporal de muitos in- cular de um embrião, no qual as células destinadas para as
vertebrados. Recentemente, foram identificados genes que camadas mais profundas estavam sendo geradas, a cérebros
governam o desenvolvimento de segmentos específicos do de hospedeiros mais velhos, onde células destinadas para as
corpo. Por exemplo, a identidade dos segmentos do plano cor- camadas superficiais estavam sendo geradas, desafiando-as a
poral de um inseto e do rombencéfalo de mamíferos é contro- alterarem seu destino laminar. As células conseguiam adotar
lada pela expressão de uma família de genes de identidade de um destino laminar apropriado ao hospedeiro se transplanta-
segmentos, conhecidos coletivamente como homeobox ou ge- das antes, mas não depois, da última rodada de divisão celular.
nes Hox (Maconochie et al., 1996). Os genes Hox codificam As células neuroepiteliais podem alterar sua atividade pro-
fatores de transcrição que, por sua vez, regulam outros genes liferativa em resposta a fatores de sinalização local, inclusive a
que determinam o desenvolvimento exclusivo de cada segmen- aminoácidos neurotransmissores. Durante estágios iniciais do
to. Além disso, podem alterar a identidade de segmentos cor- desenvolvimento cortical, células progenitoras na zona ven-
respondentes em insetos e vertebrados e induzir o desenvolvi- tricular já expressam subtipos específicos de receptores para
mento de segmentos supranumerários quando inseridos os neurotransmissores GABA e glutamato (LoTurco et al.,
artificialmente em embriões (Rijli et al., 1993). Em um exem- 1991, 1995). Durante os estágios mais tardios da corticogêne-
plo notável da conservação evolucionária, homólogos dos ge- se, a ativação desses receptores por neurotransmissores libe-
nes Hox de insetos foram encontrados em todos os vertebra- rados endogenamente inibe a síntese de DNA e diminui o
dos, inclusive em humanos (McGinnis e Krumlauf, 1992); foi número de células precursoras que estão entrando na fase de
ainda possível substituir, com sucesso, um gene de polaridade síntese de DNA do ciclo celular (LoTurco et al., 1995). Algu-
de segmento da mosca-das-frutas por um gene homólogo, co- mas evidências também sugerem que certos fatores de cresci-
nhecido como sonic hedgehog, encontrado no peixe-zebra mento podem regular a neurogênese. Por exemplo, receptores
(Krauss et al., 1993). À medida que o desenvolvimento conti- para o fator de crescimento básico do fibroblasto são expres-
nua, novos compartimentos são originados, e segmentos são sos em células neuroepiteliais embrionárias (Reid et al., 1990),
progressivamente subdivididos. A segmentação no sistema e o fator de crescimento básico do fibroblasto estimula a divi-
nervoso de vertebrados é claramente visível na medula espinal são celular de precursores neuronais (Gensburger et al., 1987).
e também nos padrões segmentados dos rombômeros no rom- Os circuitos neuronais que regulam a atividade de populações
bencéfalo em desenvolvimento (Lumsden e Krumlauf, 1996; de células precursoras no SNC estão começando a ser explo-
Tanabe e Jessell, 1996). À primeira vista, o prosencéfalo não rados.
apresenta a aparência segmentada das regiões mais caudais do
SNC, mas é organizado de maneira segmentada, e, pelo me-
Migração
nos, 30 genes Hox, expressos regionalmente, já foram identifi-
cados no prosencéfalo de camundongos (Rubenstein et al., Após terem completado suas divisões celulares finais, os
1998). Esses estudos demonstram que o eixo neural embrio- neurônios migram para posições definitivas, guiados por si-
nário é dividido em um padrão preciso de segmentos, com nais físicos e químicos (Figura 1–15). No córtex, por exemplo,
38 Yudofsky & Hales

uma estrutura temporária de células gliais radiais é estabeleci- (Hatten, 1993), e movem-se das zonas ventricular e subventri-
da durante o desenvolvimento e parece ser fundamental para cular para a área superficial do córtex (Figura 1–15). O movi-
a organização colunar do córtex (Rakic, 1988). Quando as cé- mento de neurônios ao longo das fibras gliais parece ser regu-
lulas completam sua divisão final, são fixadas a essas guias lado por sinais difusíveis, tais como o glutamato agindo nos
gliais por moléculas de adesão celular, como a astrotactina receptores NMDA de neurônios em migração (Komuro e

Figura 1–15 A migração neuronal e o desenvolvimento cortical. Painel A1. Uma secção do córtex cerebral em desenvolvimento ilustrando a
zona ventricular (ZV) ao redor do ventrículo (VL) onde todos os neurônios corticais são originados. Painel A2. À medida que o desenvolvimento
prossegue (da esquerda para a direita), os neurônios gerados mais precocemente migram da ZV para formar a pré-placa (PP). Neurônios
originados mais tardiamente, destinados a formar a placa cortical (PC), migram da zona ventricular pela zona intermediária (ZI) e dividem a pré-
placa em zona marginal (ZM) e subplaca (SP). A placa cortical vai desenvolver múltiplas camadas à medida que novos neurônios são
adicionados. A zona subventricular (ZSV) é a fonte primária de células gliais no córtex. Painel B1. A maioria dos neurônios recém-nascidos
migram ao longo das fibras gliais radiais. O neurônio migratório é caracterizado por um processo condutor com filopódios, um processo
secundário e um núcleo localizado na parte do corpo celular que está voltada para o processo secundário. Os neurônios gerados a partir de
uma única célula precursora podem, às vezes, ficar dispersos tangencialmente no córtex, sugerindo que a migração neuronal não-radial
também ocorre durante o desenvolvimento cortical. Painel B2. Neurônios em desenvolvimento e glia recombinados em cultura, mostrando
padrões de migração. Fotografias sucessivas de um neurônio hipocampal em migração, obtidas a intervalos de aproximadamente 15 minutos.
O neurônio (n) move-se segundo padrões de “paradas e continuações” ao longo da fibra glial radial (fg). Um processo condutor (pc) estende-se
na porção superior da célula e apresenta numerosas extensões de filopódios altamente ativos. O processo secundário e o núcleo localizado
posteriormente também estão em evidência. Os neurônios migram em glias provenientes de diferentes cérebros, sugerindo a existência de um
sistema de reconhecimento molecular comum, utilizado para guiar a migração ao longo de toda a extensão cerebral.
Fonte: Painel A1 e lado esquerdo do Painel B1 reeditados com permissão de Rakic P: “Radial Unit Hypothesis of Cerebral Cortical Evolution”. Experimental
Brain Research 21 (suppl): 25-43, 1991; Painel A2 reeditado de Uylings HBM, Van Eden CG, Parnavelas JG, et al.: “The Prenatal and Postnatal Development of the
Rat Cerebral Cortex”, em The Cerebral Cortex of the Rat. Editado por Kolb B, Tees RC. Cambridge, MA, MIT Press, 1990, p.35-76; lado direito do Painel B1
reeditado de Rakic P: “Mode of Cell Migration to the Superficial Layers of Fetal Monkey Neocortex.” Journal of Comparative Neurology 145: 61-83, 1972, direitos
autorais de John Wiley and Sons; Painel B2 reeditado de Hatten ME: “Riding the Glial Monorail: A Common Mechanism for Glial-Guided Neuronal Migration in
Different Regions of the Developing Mammalian Brain.” Trends in Neurosciences 13: 179-184, 1990. Utilizada com permissão.
Neuropsiquiatria e neurociências na prática clínica 39

Rakic, 1993). Além da migração radial das zonas ventriculares da plexiforme primordial no estabelecimento da laminação
à superfície pial, os neurônios podem também migrar tangen- cortical.
cialmente em paralelo a ela. No córtex cerebral, os neurônios Além da reelina, vários outros genes têm sido recente-
piramidais migram radialmente da zona ventricular à sua ca- mente relacionados com a migração neuronal, inclusive em
mada específica dentro da placa cortical (Rakic, 1978). Em camundongos com genes incapacitados (mdab1), os recepto-
contrapartida, uma grande porção de neurônios GABAérgi- res VLDL e ApoE2, a quinase dependente de ciclina 5 (cdk5),
cos que nascem na eminência ganglionar subcortical do te- a p35, a astrotactina, a integrina β1, a integrina α3 e a neure-
lencéfalo migram tangencialmente para a placa cortical (An- gulina (revisado em C.A.Walsh, 2000). A deleção de alguns
derson et al., 1997). desses genes está associada a uma série de distúrbios do neu-
O desenvolvimento cortical embrionário ocorre em dois rodesenvolvimento em humanos, sutis ou devastadores (C.A.
estágios (Marin-Padilla, 1992). Os neurônios gerados mais Walsh, 2000; C.A. Walsh e Goffinet, 2000). Mutações no gene
precocemente são uma população transitória de células. Eles que codifica a filamina provocam a heterotopia periventricu-
formam a primeira camada cortical, chamada de camada ple- lar ligada ao X, a qual resulta na formação de ilhotas de neu-
xiforme primordial ou pré-placa. O segundo estágio de de- rônios ectópicos próximo aos ventrículos e em um leve preju-
senvolvimento cortical começa quando neurônios corticais ori- ízo cognitivo. A filamina é uma fosfoproteína do tipo actina,
ginados na zona germinal periventricular migram em direção com ligações cruzadas, necessária para a locomoção de mui-
à pré-placa, efetivamente dividindo essa camada em duas par- tos tipos de células. A mutação de LIS1 está associada à lissen-
tes. Neurônios que chegam mais tardiamente ultrapassam os cefalia tipo 1 em humanos e provoca desorganização no cór-
que chegaram antes, de modo que as camadas corticais desen- tex, no hipocampo e no bulbo olfatório de camundongos (C.A.
volvem-se de dentro para fora (Rakic, 1974). À medida que o Walsh e Goffinet, 2000), com graves conseqüências cogniti-
córtex aumenta sua espessura, os neurônios iniciais continu- vas. Esses distúrbios enfatizam o processo de migração neu-
am a formar as camadas delimitantes acima e abaixo da placa ronal como sendo o primeiro substrato patológico para trans-
cortical em desenvolvimento, conhecidas como zona margi- tornos relacionados ao desenvolvimento cortical.
nal e subplaca, respectivamente. As maiores células da zona
marginal embrionária são as células de Cajal-Retzius. Assim
Diferenciação neuronal
como muitos outros tipos de células da zona marginal e da
subplaca, as células de Cajal-Retzius parecem sofrer morte Após terem migrado para suas posições definitivas, os neu-
celular programada em estágios pós-natais precoces, após a rônios começam a elaborar seus processos. Durante vários dias
laminação cortical ter-se estabelecido (Mienville, 1999). a semanas, cada neurônio elabora uma árvore dendrítica ca-
Vários achados recentes apóiam a importância da zona racterística e um padrão de projeção axonal altamente especí-
marginal e das células da subplaca no auxílio da organização fico. A diferenciação neuronal é essencial para o funcionamento
da corticogênese. As primeiras sinapses a se formarem du- cerebral adequado, já que a estrutura do neurônio determina
rante o desenvolvimento cortical são localizadas na zona mar- o número e os tipos de informações que a célula receberá,
ginal e na subplaca. No córtex visual, células da subplaca bem como o número e os tipos de células com as quais ela fará
enviam os primeiros axônios do córtex ao núcleo geniculado contato. O crescimento do neurito é mediado por estruturas
lateral do tálamo. Eles, por sua vez, recebem contatos sináp- especializadas: os cones de crescimento, que se formam nas
ticos dos axônios do núcleo geniculado lateral antes que es- extremidades dos processos. Esses cones controlam a inser-
ses axônios atinjam seus alvos corticais na camada 4 (Allen- ção de novos elementos de membrana na membrana celular,
doerfer e Shatz, 1994). Devido ao fato de que a remoção liberam enzimas proteolíticas para a abertura de vias pela ma-
cirúrgica inicial das células da subplaca previne os axônios triz extracelular e estendem processos mais finos (filopodia),
do núcleo geniculado lateral de entrarem no córtex (Ghosh que guiam o processo de crescimento na direção apropriada
et al., 1990) e de que sua remoção mais tardia previne a for- (Purves e Lichtman, 1985; Suter e Forscher, 2000). Os cones
mação das colunas de dominância ocular (Ghosh e Shatz, de crescimento axonal podem mover-se até 1 mm por dia. À
1992), essas células parecem ser críticas para a formação das medida que avançam, um citoesqueleto de microtúbulos e de
conexões tálamo-corticais. neurofilamentos forma-se no processo de elongação. Além da
Uma importante informação a respeito da importância manutenção da estrutura do processo em crescimento, esses
das células da zona marginal na regulação da migração em elementos do citoesqueleto também conduzem a membrana e
estruturas laminares cerebrais foi obtida por estudos do ca- as proteínas estruturais necessárias dos locais de síntese no
mundongo mutante reeler. Nestes camundongos, um erro nos corpo celular aos processos recém-gerados e conduzem subs-
mecanismos moleculares que controlam a migração resulta tâncias tróficas ao corpo celular.
em formação anormal das camadas corticais (Caviness, 1982). A orientação axonal é controlada por um grande número
O primeiro estágio da corticogênese ocorre normalmente, e de sinais, divididos em quatro categorias principais: quimioa-
uma pré-placa de aparência normal é formada. Entretanto, tração ou quimiorrepulsão e atração ou repulsão de contato
quando os neurônios em migração atingem a placa cortical, (Figura 1–16). A princípio, os cones de crescimento dependem
eles não conseguem ultrapassar os neurônios que chegaram da adesividade intrínseca das células adjacentes. Mais tarde,
anteriormente, e o córtex desenvolve-se de fora para dentro, são guiados por seus alvos ou por células intermediárias de
ou seja, em um padrão invertido. O gene selvagem do locus orientação. Os alvos apropriados podem expressar moléculas
reeler já foi identificado. Esse gene codifica uma proteína, a de adesão ou liberar fatores quimioatrativos difusíveis, enquan-
reelina (D’Arcangelo et al., 1995), que não possui domínios to os alvos inapropriados podem fornecer sinais repulsivos me-
transmembrana e é provavelmente uma proteína extracelular; diados pelo contato ou difusíveis. O alvo valida as células co-
estudos histológicos localizaram a reelina na superfície exter- nectadas de forma correta, pois fornece substâncias tróficas
na das células de Cajal-Retzius (Ogawa et al., 1995). Esses acha- que sustentam a sobrevivência dos neurônios em inervação.
dos enfatizam a importância das células transitórias da cama- As células que falham na realização de conexões apropriadas
40 Yudofsky & Hales

trativas, tais como as netrinas (Cook et al., 1998; Kennedy et


al., 1994; Tear, 1999), controlam esse processo. De maneira
similar, no tronco cerebral em desenvolvimento, após as fibras
pioneiras corticoespinais terem se estendido em direção à
medula espinal, processos secundários que inervarão a ponte
originam-se sob o controle de um fator difusível quimioatra-
tivo derivado da ponte (Sato et al., 1994).
Na medida em que os cones de crescimento navegam pelo
cérebro, dependem da adesão diferencial a axônios que eles
contatam para orientar-se. Várias famílias de moléculas de
adesão celular neuronal foram descobertas, juntamente com
diversas famílias de receptores para moléculas da matriz ex-
tracelular (Reichardt e Tomaselli, 1991; F.S. Walsh e Doherty,
1997). Formas particulares de moléculas de adesão são expres-
sas por subconjuntos de axônios em desenvolvimento que se
agrupam uns aos outros para formar feixes de fibras axonais.
Os neurônios podem expressar seletivamente moléculas de
adesão e receptores em certas regiões do axônio e também
Figura 1–16 Forças envolvidas no direcionamento axonônico. O
direcionamento apropriado dos axônios em direção a seus alvos alternar entre expressá-los ou não em tempos apropriados. Por
envolve a ação coordenada de quatro tipos de sinais de orientação: exemplo, na medula espinal em desenvolvimento, os axônios
atração de contato, repulsão de contato, quimioatração e comissurais expressam certas glicoproteínas em seus proces-
quimiorrepulsão. Existem sinais de curto alcance (contato) e de longo sos à medida que crescem e cruzam a linha média. Esses axô-
alcance (químicos) que podem agir para inibir/repelir ou atrair os nios então passam a expressar diferentes glicoproteínas quan-
cones de crescimento neuronal. do passam a seguir os tratos longitudinais no lado contralateral
Fonte: Goodman CS, Tessier-Lavigne M: “Molecular Mechanisms of (Dodd et al., 1988; Tear, 1999).
Axon Guidance and Target Recognition”, em Molecular and Cellular Os neurônios em desenvolvimento podem depender de
Approaches to Neural Development. Editado por Cowan WM, Jessel TM,
sinais atrativos e repulsivos para atingir seus alvos. Recente-
Zipursky SL. New York, Oxford University Press, 1997, p.114. Utilizada com
permissão. mente, um grande número dessas moléculas foi caracterizado
(Goodman, 1996). Por exemplo, na lâmina ventral do tubo neu-
ral em desenvolvimento de vertebrados e no quiasma óptico de
mamíferos com visão binocular, os axônios destinados a cruzar
a linha média assim o fazem. Aqueles não destinados a cruzar
sofrem apoptose (morte celular programada) devido à falta de comportam-se como se tivessem encontrado um sinal repulsi-
tais substâncias. vo; os cones de crescimento colapsam ao atingirem a linha mé-
A formação de conexões específicas tem sido extensiva- dia e então mudam de direção (Godement et al., 1990; Sreta-
mente estudada em neurônios sensoriais dos membros do van, 1990). Um candidato possível para tal repulsão é uma família
gafanhoto. Essas células são originadas na periferia e, em se- de moléculas que orientam axônios, as efrinas (Flanagan e Van-
guida, enviam axônios ao SNC em desenvolvimento (Good- derhaeghen, 1998; Nakagawa et al., 2000). Outra família de fa-
man e Shatz, 1993). Os primeiros neurônios a enviar seus pro- tores repulsivos é a das semaforinas (Raper, 2000); axônios sen-
cessos formam as fibras pioneiras. Os neurônios que se soriais do gânglio da raiz dorsal deixam de crescer devido a sinais
desenvolvem mais tarde são guiados por interações adesi- repulsivos mediados pelas semaforinas (Messersmith et al.,
vas com as fibras pioneiras. Células específicas no epitélio, 1995). Além disso, na mosca-das-frutas em desenvolvimento,
chamadas de células guias, servem como alvos intermediários. alguns axônios de interneurônios em cada neurômero atingem
Os cones de crescimento das fibras pioneiras estendem filo- a linha média e cruzam-na, enquanto outros mudam sua dire-
pódios, que fazem contatos transitórios através de junções ção e permanecem sem cruzar; essas interações na linha média
comunicantes com as células guias, provavelmente realizando parecem ser mediadas por interações entre proteínas codifica-
trocas de pequenas moléculas que agem como reguladores das pelas famílias de genes robo e slit (Brose e Tessier-Lavigne,
intracelulares. Se esses filopódios são bloqueados farmacolo- 2000; Seeger, 1994). Para adicionar ainda mais complexidade,
gicamente, o crescimento continua, mas de maneira não-dire- foi recém-demonstrado que uma mesma molécula orientadora
cionada (Bentley e Toroian-Raymond, 1986). As fibras pionei- de axônios pode agir atraindo ou repelindo o mesmo axônio,
ras prosseguem de uma célula-guia à próxima, e assim su- dependendo da concentração intracelular local de AMPc ou
cessivamente, até que atinjam seus alvos finais. Mais tarde, as GMPc no cone de crescimento (Song e Poo, 1999).
próprias células guias darão origem a neurônios, que enviam
seus processos ao SNC, seguindo as fibras pioneiras que elas
Formação da sinapse
orientaram.
Trabalhos recentes têm mostrado que mecanismos de Quando o cone de crescimento axonal atinge uma célu-
desenvolvimento similares operam na formação do SNC de la-alvo, uma série complexa de interações se inicia, resultando
mamíferos. Na medula espinal em desenvolvimento, os neu- na formação de uma sinapse. Embora ainda haja muito para
rônios comissurais na medula espinal dorsolateral são orien- ser aprendido sobre a formação de sinapses no SNC, o pro-
tados quimiotaticamente à lâmina-assoalho da medula ven- cesso básico da sinaptogênese na junção neuromuscular (a
tral. Ao atingirem a lâmina-assoalho, os processos usam-na sinapse entre um neurônio motor e uma célula muscular) já
como células guia, alterando sua direção e crescendo para for- foi bem descrito (Figura 1–17). Tanto o neurônio motor quan-
mar o trato espinotalâmico contralateral. Moléculas quimioa- to a fibra muscular possuem a maquinaria molecular necessá-
Neuropsiquiatria e neurociências na prática clínica 41

Figura 1–17 Formação de uma sinapse na junção neuromuscular (JNM).


Painel A. Esquema dos componentes moleculares de uma junção
neuromuscular típica. Em uma JNM madura, o terminal pré-sináptico é
separado da célula muscular pós-sináptica pela fenda sináptica. As vesículas
sinápticas preenchidas com acetilcolina estão agrupadas nas zonas ativas,
onde podem fundir-se com a membrana plasmática em decorrência da
despolarização para liberar o transmissor na fenda sináptica. Os receptores
da acetilcolina localizam-se pós-sinapticamente, e células gliais chamadas
de células de Schwann recobrem o terminal sináptico. Painel B. Estágios da
formação da JNM. (1) Um cone de crescimento isolado de um neurônio
motor é guiado em direção ao músculo pelos sinais de orientação
axonônica. (2) O primeiro contato é físico e não-especializado. (3)
Entretanto, as vesículas sinápticas agrupam-se rapidamente no terminal
axônico, os receptores de acetilcolina começam a agrupar-se na sinapse
em formação e a lâmina basal deposita-se na fenda sináptica. (4) À medida
que o desenvolvimento continua, múltiplos neurônios motores inervam
cada músculo. (5) Entretanto, ao longo do tempo, todos os axônios,
exceto um, são eliminados por um processo que depende da atividade, e o
terminal remanescente continua sua diferenciação.
Fonte: Reeditada de Kandel Er, Schwartz JH, Jessel TM: Principles of Neural
Science, 4ª edição. New York, McGraw-Hill, 2000, p.1088. Utilizada com permissão.

ria pré-fabricada antes da formação da sinapse (J.R. Sanes e lulares necessários para liberação localizada de neurotrans-
Lichtman, 1999). O cone de crescimento do neurônio motor missor nas zonas ativas. Paralelamente, a célula pós-sináptica
funciona como uma proto-sinapse, apresentando liberação de concentra receptores no local de contato, removendo-os de
neurotransmissor regulada pela atividade, e as células pós-si- outras regiões, e, ao longo de dias, desenvolve as especializa-
nápticas não-inervadas apresentam receptores para os trans- ções pós-sinápticas (J.R. Sanes e Lichtman, 1999).
missores distribuídos em grande parte da sua superfície. Em Embora essa série básica de eventos seja provavelmente o
questão de minutos após o contato inicial, uma forma rudi- modelo de formação de sinapses entre neurônios do SNC,
mentar de transmissão sináptica começa a existir. No decorrer certamente existirão substanciais diferenças devido à grande
dos dias subseqüentes, as conexões começam a fortalecer-se e diversidade das sinapses do SNC. Para que as sinapses no SNC
estabilizar-se, e o cone de crescimento vai maturando e dando se formem, os principais componentes da sinapse devem ser
origem ao terminal pré-sináptico, reunindo os elementos ce- recrutados para os sítios de contato físico entre axônios e den-
42 Yudofsky & Hales

dritos. Por exemplo, neurônios hipocampais pré e pós-sináp- mação das sinapses. Dependendo do tecido-alvo, eles podem
ticos contêm alguns componentes da maquinaria sináptica an- ser induzidos a tornar-se colinérgicos, mantendo apenas tra-
tes da formação da sinapse. Os receptores AMPA e NMDA ços do fenótipo noradrenérgico (Landis, 1990). Esse efeito de-
estão presentes nos dendritos, e as proteínas das vesículas si- pendente do alvo é mediado pela liberação de um fator solúvel
nápticas estão presentes em axônios distais antes do contato de diferenciação colinérgica pelas células pós-sinápticas. Uma
(Craig et al., 1993; Fletcher et al., 1991; Kraszewski et al., 1995). vez que o contato sináptico é estabelecido, a ativação colinér-
O contato entre neurônios pré e pós-sinápticos é seguido pelo gica da célula pós-sináptica pelas terminações pré-sinápticas
recrutamento de vesículas sinápticas para as novas sinapses suprime a liberação do fator de diferenciação colinérgica. Por-
dentro de horas após o contato (Ahmari et al., 2000). Através tanto, a formação de uma sinapse pode atingir alterações de
de mecanismos desconhecidos, o contato entre axônio e den- longo alcance, tanto pré quanto pós-sinápticas, que podem
drito resulta no agrupamento de receptores glutamatérgicos incluir a escolha de um neurotransmissor de um neurônio
nos sítios sinápticos da célula pós-sináptica (Craig et al., 1993). pré-sináptico.
Em culturas de baixa densidade de neurônios hipocampais, Em muitas áreas do sistema nervoso de vertebrados, os
receptores NMDA, AMPA e proteínas estruturais pós-sináp- neurônios são inicialmente produzidos em excesso. Para so-
ticas acumulam-se nas sinapses a intervalos de tempo distin- breviver, muitos neurônios precisam receber um suprimento
tos, sugerindo que eles são direcionados à sinapse por dife- adequado de um ou mais fatores tróficos produzidos por seus
rentes mecanismos (Friedman et al., 2000; Rao et al., 1998). neurônios-alvo. A competição por suprimentos limitados des-
Vários grupos de pesquisa independentes têm demonstrado ses fatores assegura que os neurônios sobreviventes serão cor-
que receptores NMDA são expressos antes dos receptores retamente conectados e que o número de neurônios será ade-
AMPA nas sinapses hipocampais recém-formadas e que, à quado ao tamanho do alvo. Em geral, células privadas de fatores
medida que o desenvolvimento continua, os receptores AMPA neurotróficos sofrem apoptose, uma forma de morte celular
se acumulam gradualmente nessas sinapses (Isaac et al., 1997; programada geneticamente, caracterizada pela retração cito-
Liao et al., 1999; Petralia et al., 1999; Wu et al., 1996). Entre- plasmática, pela condensação da cromatina e pela degradação
tanto, outros investigadores demonstraram o resultado opos- do DNA em fragmentos oligonucleossomais (Edwards et al.,
to — que os receptores AMPA são os primeiros a agrupar-se 1991). Diferentemente da necrose, esse processo não estimula
nas sinapses hipocampais, seguidos pelos receptores NMDA respostas inflamatórias. A apoptose é um processo ativo que
e pelas proteínas estruturais (Friedman et al., 2000; Rao et al., requer síntese de RNA e síntese protéica (Oppenheim et al.,
1998). O tempo preciso da inserção de receptores AMPA e 1991; Scott e Davies, 1990). Existe um número crescente de
NMDA tem implicações significativas para os mecanismos de dados que sustentam a extraordinária hipótese de que a apop-
fortalecimento sináptico durante o desenvolvimento cortical, tose é um programa-padrão para a maioria das células e de
já que os dois receptores medeiam formas muito diferentes de que o suicídio celular disseminado é prevenido apenas pela
plasticidade sináptica (Kim e Huganir, 1999). presença contínua de sinais de sobrevivência que suprimem o
programa intrínseco de morte celular (Raff, 1992). O exemplo
neuronal melhor estudado é a dependência de neurônios sim-
Maturação e sobrevivência neuronais
páticos e sensoriais em relação ao NGF produzido pelo teci-
A maturação das células pós-sinápticas requer síntese pro- do-alvo. Embora quase a metade dos neurônios simpáticos
téica de novo, assim como as alterações duradouras dependentes normalmente sofra apoptose, a aplicação de NGF exógeno im-
do aprendizado no SNC adulto. Os genes de expressão imedia- pede a maioria das células de morrer; em contrapartida, a neu-
ta (IEGs) (Morgan e Curran, 1989) estão entre os primeiros ge- tralização do NGF mediante anticorpos produz morte ge-
nes a serem ativados pela despolarização pós-sináptica, estimu- neralizada dos neurônios simpáticos (Raff et al., 1993).
lados pelas elevações no Ca2+, na AMPc, no GMPc, no inositol- Várias famílias de fatores de crescimento e de seus recep-
trifosfato (IP3) ou no diacilglicerol (DAG). O protótipo dessa tores foram identificadas (Figura 1–18), inclusive as neurotro-
família de proto-oncogenes é o c-fos. A transcrição dos IEGs finas que se ligam a membros da família dos receptores TrK de
leva à síntese de proteínas (p. ex., c-fos) que modulam ou indu- tirosina-quinases (Bothwell, 1991; Chao, 1992; Glass e Yanco-
zem a transcrição de outros genes que, direta ou indiretamen- poulos, 1993). Elas abrangem o NGF, o fator neurotrófico de-
te, provocam alterações estruturais na célula. Por exemplo, a rivado do cérebro, e as neurotrofinas 3, 4/5 e 6. Outra família
síntese do fator de crescimento nervoso (NGF) pode ser con- inclui o fator neurotrófico ciliar, a atividade promotora de cres-
trolada pela transcrição de c-fos; lesões no nervo isquiático le- cimento e o fator inibidor da leucemia. Fatores neurotróficos
vam a um rápido aumento nos níveis de fos, o qual se liga ao adicionais incluem o fator de crescimento de fibroblasto bási-
sítio de iniciação de transcrição para NGF, estimulando sua pro- co e o fator neurotrófico derivado da linhagem celular glial.
dução (Hengerer et al., 1990). A sensibilização de longa dura- Camundongos transgênicos, com mutações nos genes neuro-
ção na Aplysia (Barzilai et al., 1989), a LTP hipocampal (Cole et tróficos ou nos seus receptores apresentam anormalidades em
al., 1989; Wisden et al., 1990) e a plasticidade estrutural nos determinadas populações de neurônios (Davies, 1994). Os fa-
dendritos (Lyford et al., 1995) estão associadas à ativação espe- tores de sobrevivência neuronal não são exclusivamente deri-
cífica de IEGs. vados dos alvos; suas fontes também incluem neurônios de
Interações entre neurônios pré e pós-sinápticos podem inervações, células gliais e hormônios circulantes. A habilida-
potencializar e modular sua diferenciação. Por exemplo, a se- de dos fatores tróficos em promover a sobrevivência neuronal
creção de fatores tróficos por células pós-sinápticas é capaz de tem sido atribuída à cascata da fosfatidilinositídeo 3’-OH qui-
determinar se os neurônios pré-sinápticos que as inervam so- nase/c-Akt quinase, agindo por meio de, pelo menos, dois com-
breviverão ou sofrerão apoptose. Regulações mais refinadas ponentes intracelulares da via de morte celular, BAD e caspa-
da diferenciação de células pré-sinápticas também ocorrem. se-9 e o fator de transcrição NF-κB (Datta et al., 1999).
No sistema nervoso simpático em desenvolvimento, neurôni- Os mecanismos celulares da apoptose parecem envolver
os jovens são exclusivamente noradrenérgicos antes da for- uma inter-relação complexa de várias cascatas de sinalização
Neuropsiquiatria e neurociências na prática clínica 43

mas várias características em comum estão sendo identifica-


das. Há evidências de que espécies reativas de oxigênio podem
desencadear a apoptose em neurônios (Greenlund et al., 1995)
e de que o Bcl-2 pode prevenir a apoptose pela inibição da
produção de radicais livres (Hockenbery et al., 1993; Kane et
al., 1993). Essa hipótese tem levado a tentativas do uso de an-
tioxidantes e inibidores da produção de radicais livres como
agentes terapêuticos em várias doenças neurodegenerativas,
traumas e acidentes vasculares cerebrais (AVCs). Por exemplo,
a superóxido dismutase (uma defesa contra radicais livres) pro-
tege os neurônios contra dano isquêmico. Camundongos trans-
gênicos que superexpressam a superóxido dismutase apresen-
tam infartos menores após a oclusão arterial (Kinouchi et al.,
Figura 1–18 As neurotrofinas exercem seus efeitos pela ligação a
dois tipos de receptores: o receptor para o fator de crescimento 1991). Mutações no gene da Cu/Zn superóxido dismutase es-
nervoso de baixa afinidade, também chamado de p75, e o receptor tão associadas a certas formas familiares da esclerose amiotró-
de tirosina quinase de alta afinidade, os receptores Trk. O fator de fica lateral, sugerindo que radicais de oxigênio podem ser res-
crescimento nervoso (NGF) liga-se principalmente ao TrkA, e o fator ponsáveis pela degeneração dos neurônios motores em
neurotrófico derivado do cérebro (BDNF) e a neurotrofina-4 (NT-4) pacientes com essa doença (Rosen et al., 1993).
ligam-se principalmente ao TrkB. A especificidade da neurotrofina-3
(NT-3) é menos precisa. Embora ela se ligue principalmente ao TrkC,
Refinamento sináptico dependente da experiência
também pode ligar-se a TrkA e TrkB sob algumas condições celulares.
Além disso, todas as neurotrofinas ligam-se a p75. A experiência sensorial normal é essencial para a matu-
Fonte: Adaptada de Kandel ER, Schwartz JH, Jessel TM: Principles of ração das conexões neurais tanto no sistema nervoso perifé-
Neural Science, 4ª edição. New York, McGraw-Hill, 2000, p.1057. Utilizada
rico como no central. A experiência sensorial modela o de-
com permissão.
senvolvimento de diversas regiões cerebrais durante uma
janela temporal específica, chamada de período crítico. O
processo do refinamento sináptico assume significância clí-
nica e continua a ser importante ao longo da vida, fornecen-
do mecanismos para a modificação da estrutura e da conec-
(Sastry e Rao, 2000). No verme C. elegans, ced-3 e ced-4 são ne- tividade neuronal dependente da atividade. O papel integral
cessários para a apoptose (Ellis et al., 1991). O produto do da atividade sensorial no desenvolvimento cerebral e a habi-
gene ced-3 é uma cisteína protease que possui um homólogo lidade da experiência em alterar a percepção têm sido mais
em mamíferos chamado de enzima conversora da interleuci- extensivamente documentadas no sistema visual. Nesse sis-
na-1β (ECI). Grande número de cisteína proteases foi recém- tema, os estímulos visuais sobrepostos dos dois olhos devem
descoberto em muitas espécies, desempenhando diversos pa- ser combinados de maneira ordenada para maximizar a acui-
péis na morte celular; essas proteínas são classificadas como dade e a estereopse (Figura 1–19). Em animais com visão bi-
membros da grande família de proteínas caspase (sigla para nocular, tais como humanos, gatos e macacos, os estímulos
aspartato protease dependente de cisteína) (D.H. Sanes et al., visuais de uma região específica do espaço visual ativam neu-
2000). Algumas caspases são consideradas as proteínas efeto- rônios no córtex visual contralateral. Os neurônios nas he-
ras finais na cascata de morte celular. Em contraste com os mirretinas esquerdas dos olhos esquerdo e direito conver-
genes de morte celular ced-3 e ced-4, o ced-9 age prevenindo a gem sinais ao córtex esquerdo, e, similarmente, os neurônios
apoptose em células que normalmente sobrevivem. Uma mu- das hemirretinas direitas convergem sinais ao córtex direito
tação em ced-9 leva à apoptose disseminada e à morte do em- (Figura 1–19A). Portanto, as informações visuais provenien-
brião (Hengartner et al., 1992). O gene ced-9 encontrado em tes da mesma fonte externa são temporariamente separadas
vermes é homólogo ao oncogene humano Bcl-2, o qual se en- em vias específicas do olho direito e do esquerdo e então
contra superexpresso em células B de linfomas humanos (Tsu- reunidas no mesmo hemisfério cortical.
jimoto et al., 1984). O gene humano pode bloquear a morte Como essas informações visuais são recombinadas? A
celular em vários sistemas in vivo e in vitro, tendo sido transfe- segregação específica de cada olho, dos estímulos de cada reti-
rido à C. elegans, onde, notavelmente, pôde substituir o ced-9 e na, é mantida no tálamo visual, ou núcleo geniculado lateral
prevenir a apoptose em suas células. Recentemente, a família (NGL), e nas camadas de projeção do córtex visual, mas con-
de proteínas semelhantes a Bcl-2 cresceu bastante. Embora verge em outras camadas do córtex visual primário (V1). Nas
algumas dessas proteínas inibam a morte celular, outras po- camadas do V1 que recebem estímulos do núcleo geniculado
dem promover a apoptose. Em geral, os resultados atuais su- em adultos, estímulos dos dois olhos projetam-se em colunas
gerem a existência de várias vias apoptóticas que talvez depen- de células separadas. As colunas de dominância ocular (DO)
dam do tipo de célula e do agente indutor; entretanto, a maioria formadas são arranjadas adjacentemente umas às outras em
dessas vias parece convergir ao passo ECI/caspase (D. H. Sa- listas alternadas dominadas por um olho ou pelo outro (Figu-
nes et al., 2000). Ainda que os passos precisos nas vias de mor- ra 1–19) (Hubel e Wiesel, 1977). O padrão de listas formadas
te celular permaneçam não totalmente esclarecidos, os meca- na superfície do córtex lembra as listas de uma zebra (Figura
nismos moleculares da apoptose foram claramente conservados 1–19B, D). Os neurônios de saída das colunas de dominância
em termos evolucionários. ocular projetam-se a outras camadas corticais, onde a infor-
Os eventos moleculares subjacentes à apoptose em célu- mação visual derivada de estímulos de ambos os olhos é re-
las neuronais e não-neuronais provavelmente incluem um combinada e sinais estereoscópicos são extraídos. O fato de
grande número de iniciadores, de mediadores e de inibidores, sinais separados de cada olho serem trabalhados em paralelo,
44 Yudofsky & Hales

Figura 1–19 Colunas de dominância ocular no córtex visual. Painel A. Na via visual em humanos, as fibras ópticas de cada olho dividem-se
no quiasma óptico, sendo que cada metade das fibras vai para cada um dos lados do cérebro. Na representação esquemática, as fibras que
convergem a informação visual proveniente dos lados esquerdos de cada retina são mostradas projetando-se ao núcleo geniculado lateral (NGL)
esquerdo. Os neurônios do NGL (em diferentes camadas), por sua vez, projetam-se ao córtex visual ipsilateral (principalmente à camada 4c).
Nas camadas do córtex visual maduro que recebem fibras do núcleo geniculado, os estímulos dos olhos são segregados em colunas de
dominância ocular (DO). Painel B. Injeções de prolina radioativa em um dos olhos de um gato com duas semanas de vida marcam
uniformemente a camada 4 em secções coronais do córtex visual, indicando que aferentes provenientes daquele olho são igualmente
distribuídos no córtex nessa idade. Entretanto, ao longo das próximas semanas, tais injeções mostram a segregação dos aferentes do núcleo
geniculado em colunas de DO. Painel C. Diagrama esquemático da formação de colunas de DO na camada 4 do córtex durante o
desenvolvimento normal. Painel D. Um olho de um macaco normal foi injetado com um marcador radioativo, o qual foi transportado
transinapticamente ao longo das vias visuais. As áreas corticais que recebem estímulos do olho em que foi aplicada a injeção estão marcadas
em branco, revelando um padrão alternado de listas espaçadas regularmente (secção de um corte tangencial através da camada 4). Painel E. A
deprivação monocular altera o desenvolvimento das colunas de DO. Aqui, o marcador foi injetado no olho não-deprivado, revelando listas mais
largas e, portanto, indicando a expansão da área inervada pelo olho não-deprivado. Ou seja, a experiência normal é pré-requisito para uma
conectividade adequada do córtex.
Fonte: Painel A reeditado de Kandel ER, Schwartz JH, Jessel TM: Principles of Neural Science, 3ª edição. Stamford, CT, Appleton & Lange, 1991; Painéis B e
C reeditados de Purves D, Augustine GJ, Fitzpatrick D, et al. (eds): Neuroscience. Sunderland, MA, Sinauer Associados, 1997, p.427; Painéis D e E reeditados de
Hubel DH, Wiesel TN, LeVay S: “Plasticity of Ocular Dominance Columns in Monkey Striate Cortex”. Philosophical Transactions of the Royal Society of London,
Series B: Biological Sciences 278: 377-409, 1977. Utilizada com permissão.

recombinados e separados novamente é representativo de um 19B,C). Durante esse período, o padrão de listas distintas, igual-
padrão mais geral no processamento da informação visual (Li- mente distribuído entre os dois olhos, depende da atividade
vingstone e Hubel, 1998). visual normal. Se a visão de um olho é prejudicada ou se há
Durante o desenvolvimento, as colunas de DO são origi- estrabismo, o estímulo do olho normal ou dominante começa
nadas por processos dependentes da atividade (Hubel et al., a controlar a maioria do córtex visual, e o outro olho torna-se
1977). Inicialmente, axônios trazendo informação ao núcleo funcionalmente cego (Figura 1–19E). No córtex, as colunas de
geniculado a partir dos dois olhos sobrepõem-se. Entretanto, dominância ocular do olho normal ou dominante expandem-
à medida que o desenvolvimento continua, esses axônios len- se às custas do olho prejudicado. A segregação das fibras ópti-
tamente começam a se segregar em colunas de DO (Figura 1– cas em colunas é dependente da atividade (Constantine-Paton
Neuropsiquiatria e neurociências na prática clínica 45

et al., 1990; Shatz e Stryker, 1998). Ela depende dos estímulos conexões (Lipton e Kater, 1989). O progresso dos cones de
discordantes dos dois olhos; a segregação falha se todo estí- crescimento é regulado pelo nível de Ca2+ intracelular local, o
mulo visual ao córtex é bloqueado (com tetrodotoxina) ou ar- qual atua dentro de uma faixa estreita. Quando os níveis são
tificialmente sincronizado em ambos os olhos (por estimula- baixos, os cones estão inativos; quando os níveis sobem, os
ção elétrica simultânea) (Shatz, 1990). cones de crescimento começam a mover-se. Entretanto, acima
Padrões diferenciados de atividade elétrica em cada radia- de determinado nível, a elevação dos níveis de Ca2+ impede o
ção óptica, conforme ocorre normalmente, medeiam a segre- crescimento e causa retração ou destruição dos processos neu-
gação de DO. A segregação também requer a atividade das ronais (al-Mohanna et al., 1992). O glutamato é capaz de re-
células corticais pós-sinápticas; a infusão da droga inibitória gular o crescimento dos processos neuronais pelo controle do
muscimol (um agonista de receptor GABAA) causa uma rever- influxo de Ca2+. Esse efeito pode ser contrabalançado por neu-
são na dominância ocular, de modo que, paradoxalmente, o rotransmissores inibitórios, bem como por uma provisão de
olho mais fraco, em vez do mais forte, assume a influência grandes quantidades dos fatores tróficos (Mattson e Kater,
cortical maior (Reiter e Stryker, 1988). Portanto, a segregação 1989; Mattson et al., 1989). A dopamina, atuando sobre re-
apropriada dos estímulos corticais requer a coordenação da ceptores D1, pode inibir a motilidade dos cones de crescimen-
atividade pré-sináptica normal e das respostas pós-sinápticas. to mediante a ativação da adenilil ciclase, elevando a concen-
Semelhante dependência da atividade também é encontrada tração intracelular de AMPc (Lankford et al., 1988) ou, atuando
em axônios da retina que influenciam as células do NGL (Goo- sobre receptores D2, pode induzir o crescimento dos neuritos
dman e Shatz, 1993). Realmente, a segregação dependente da (Todd, 1992).
atividade dos estímulos sensoriais em colunas funcionais pa- Níveis elevados de glutamato produzem excitotoxicidade,
rece ser uma propriedade inerente das projeções topográficas talvez refletindo o funcionamento patológico desses sistemas
de sistemas sensoriais. Em sapos, que não apresentam visão sinalizadores do desenvolvimento (Kater et al., 1989). Alterna-
binocular nem colunas de dominância ocular, quando um olho tivamente, a excitotoxicidade pode ter uma função normal na
extra é transplantado em um girino, as fibras ópticas do tercei- regulação do número de células e na da conectividade. A exci-
ro olho competem com o outro olho que inerva aquele lado totoxicidade parece ser mediada pela entrada de Na+ através
do cérebro e produzem colunas de dominância ocular (Con- dos canais do tipo AMPA. Isso leva ao inchaço neuronal (re-
stantine-Paton e Law, 1978). sultando em edema cerebral). A entrada continuada de Ca2+
Os mecanismos celulares e moleculares subjacentes ao pelos canais receptores NMDA resulta em um modo retarda-
refinamento sináptico dependente da atividade estão come- do de excitoxicidade, que mata os neurônios, provavelmente
çando a ser elucidados. Muitos deles são notavelmente simi- pela ativação de proteases intracelulares e/ou geração de radi-
lares aos mecanismos celulares nos quais se baseiam o apren- cais livres, inclusive o NO (Choi, 1994; Dawson et al., 1994).
dizado e a memória no cérebro adulto. No sistema visual, Além de mediarem o influxo de Na+ e o inchaço, os receptores
acredita-se que os aferentes ao núcleo geniculado sofram se- AMPA podem estar acoplados à via IP3/DAG, levando tam-
gregação em colunas de DO baseados na regra do aprendi- bém ao aumento nos níveis de Ca2+ intracelular e à ativação da
zado Hebbiano (Hebb, 1949), pela qual neurônios que dis- quinase C.
param juntos são seletivamente fortalecidos. A regra prediz A excitotoxicidade provavelmente é responsável pela per-
que neurônios que disparam sincronicamente fortalecerão da neuronal em AVCs, no status epiléptico, na hipoglicemia e
suas sinapses, enquanto neurônios que o fazem assincroni- no trauma encefálico (Choi e Rothman, 1990). Essas ocorrên-
camente enfraquecerão suas sinapses. A LTP e a LTD são cias estão relacionadas, uma vez que todas levam à despolari-
candidatos prováveis para mediar o processo de formação zação neuronal, o que resulta em atividade elétrica excessiva,
das colunas de DO (Bear e Rittenhouse, 1999). Além da ati- evocando aumentos excessivos na liberação de glutamato. Os
vidade, outros fatores podem agir de forma seletiva, fortale- elevados níveis de glutamato extracelular estão presentes em
cendo sinapses ativas ao mesmo tempo. Um dos mais prová- modelos experimentais, e sua citopatologia pode ser mimeti-
veis candidatos para tanto é a família de fatores de crescimento zada por injeções intracerebrais de aminoácidos excitatórios.
das neurotrofinas. As neurotrofinas são produzidas em quan- Os neurônios poupados nesses estados patológicos são tam-
tidades limitadas pelos neurônios corticais; sua expressão é bém os menos afetados nos modelos experimentais, provavel-
aumentada pela atividade, e elas podem aumentar a força si- mente porque possuem menos receptores para os aminoáci-
náptica, bem como alterar as arborizações dendríticas e axo- dos excitatórios. Os neurônios danificados apresentam níveis
nais de neurônios corticais (McAlister et al., 1999). Em con- aumentados de Ca2+ intracelular e antagonistas dos aminoáci-
cordância com essa hipótese, tanto a infusão de excesso de dos excitatórios, especialmente aqueles que bloqueiam os re-
neurotrofinas quanto o bloqueio das neurotrofinas impedem ceptores NMDA, previnem ou reduzem consideravelmente a
a formação das colunas de DO (Cabelli et al., 1995, 1997). perda neuronal nessas condições.
Assim, as neurotrofinas estão em primeiro lugar como can- Evidências que atribuem um papel à toxicidade dos ami-
didatos para mediar o refinamento sináptico dependente da noácidos excitatórios nas doenças neurodegenerativas são
experiência que ocorre durante o desenvolvimento. Além dis- menos completas (Choi, 1988; Meldrum e Garthwaite, 1990).
so, devido ao seu papel na modulação da força sináptica, acre- Uma rara doença neurológica que é fatal na infância parece
dita-se que as neurotrofinas estejam envolvidas em doenças dever-se à deficiência na sulfito oxidase, resultando em eleva-
neurodegenerativas. ção na concentração do aminoácido excitatório l-sulfocisteí-
na. Além disso, uma forma recessiva da degeneração olivo-
pontocerebelar, que é fatal na vida adulta, está associada à
Ações neurotróficas e neurotóxicas dos
deficiência da glutamato desidrogenase. E, finalmente, duas
neurotransmissores
doenças neurodegenerativas geograficamente localizadas têm
Os próprios neurotransmissores podem ter função trófi- sido associadas à ingestão de excitotoxinas. O complexo es-
ca ou tóxica no modelamento dos neurônios e de suas inter- clerose lateral amiotrófica parkinsonismo-demência de guam
46 Yudofsky & Hales

resulta da ingestão do aminoácido excitatório β-n-metilami- ração que ocorre de forma natural, na qual estímulos senso-
no-l-alanina, encontrado na planta cicadácea. O latirismo en- riais comportamentalmente significativos e regionalmente lo-
contrado em regiões da África que sofrem com inanição ou calizados estão associados à reorganização do córtex somatos-
fome apresenta uma relação causal com a ingestão da excito- sensorial primário.
xina β-n-oxalilamino-l-alanina encontrada no grão-de-bico. Esse tipo de alteração na organização do córtex soma-
Similaridades entre outros transtornos neuropsiquiátri- tossensorial também ocorre no córtex auditivo primário. Ma-
cos e distúrbios neurodegenerativos idiopáticos sugerem um cacos-da-noite treinados por várias semanas para discrimi-
importante papel dos mecanismos de excitoxicidade. É intri- nar pequenas diferenças na freqüência de tons apresentados
gante que um conjunto de dados implica os mecanismos de em seqüência demonstraram melhora progressiva em seu de-
excitoxicidade na patologia da doença de Huntington. A neu- sempenho ao longo do treinamento. Ao final do período de
ropatologia dessa doença é mimetizada pela injeção de ami- treinamento, a porção do córtex que respondia às freqüên-
noácidos excitatórios e certas classes de neurônios estriatais cias relevantes estava aumentada (Recanzone et al., 1993).
são poupadas em ambos os casos (Wexler et al., 1991). Além Em estudos-controle com procedimentos de estimulação
disso, medidas dos receptores NMDA estriatais em pacientes equivalentes, em que os estímulos não eram relevantes, ne-
que faleceram pela doença de Huntington revelam perda sele- nhuma alteração de representação significativa foi registrada
tiva de células que apresentam esses receptores, dando supor- (Recanzone et al., 1992b, 1993). Portanto, comportamentos
te à possibilidade do papel da excitoxicidade mediada por re- realizados e recompensados em resposta a um estímulo po-
ceptores NMDA na sua patogênese (Young et al., 1988). dem induzir alterações na organização do córtex sensorial
primário que estão correlacionadas a uma melhora na acui-
dade da percepção (Merzenich e Sameshima, 1993). Esses
PERSPECTIVAS experimentos começaram a sugerir maneiras pelas quais ex-
periências da vida — a psicoterapia inclusive — podem po-
O desenvolvimento cerebral não é determinado meramen- tencialmente modificar a função cortical e alterar a percep-
te por programas genéticos celulares autônomos, mas, em vez ção e o comportamento.
disso, é altamente interativo e depende de hierarquias com- Essas alterações plásticas parecem compartilhar uma lin-
plexas de fatores de sinalização que operam para restringir de guagem molecular, expressa primeiro durante o desenvolvi-
forma progressiva o destino celular. Uma vez que as células mento e que envolve os mecanismos dependentes da ativi-
tenham atingido um fenótipo específico e chegado a uma lo- dade. A atividade neural é essencial para o refinamento
calização apropriada, a competição por fatores de sobrevivên- sináptico dependente da atividade, para a LTP, para a LTD e
cia fornece outra oportunidade para influências ambientais para a excitoxicidade (Brown et al., 1990; Choi e Rothman,
sobre o desenvolvimento resultante. O desenvolvimento celu- 1990; Constantine-Paton et al., 1990; Hawkins e Kandel, 1984;
lar cerebral não é, portanto, estritamente dependente da li- Lipton e Kater, 1989). A peça-chave é o receptor NMDA, o qual
nhagem, mas envolve um extraordinário grau de sinalização requer, para sua ativação, a ligação do agonista e a despolariza-
interativa. Em muitas áreas cerebrais, o estabelecimento de ção. Essa parece ser a exigência essencial para o emparelha-
contatos sinápticos dependente da atividade é outro exemplo mento da especificidade, um tipo de plasticidade sináptica ini-
de mecanismos pelos quais a experiência pode refinar aspec- cialmente postulado por Hebb (1949), em que a ativação
tos estruturais do desenvolvimento cerebral. Uma conseqüên- simultânea de elementos pré e pós-sinápticos fortalece as co-
cia desses mecanismos associados ao desenvolvimento é que nexões. Ao mesmo tempo, a correlação da atividade pré-sináp-
nunca ocorrerão dois resultados exatamente iguais, mesmo tica com a inibição pós-sináptica pode seletivamente enfraque-
no caso de gêmeos com carga genética idêntica. Outra conse- cer as conexões (Reiter e Stryker, 1988). O influxo de Ca2+
qüência é o potencial para perturbações do desenvolvimento mediado pelo receptor NMDA desencadeia alterações na força
normal por agentes físicos, químicos ou infecciosos no perío- das sinapses, que podem acabar levando a alterações estruturais
do fetal ou neonatal. mais permanentes no número de sinapses. Em níveis mais ele-
Tem se tornado claro que o cérebro adulto retém um grau vados, o Ca2+ pode prejudicar o crescimento dos neuritos, cau-
significativo de plasticidade ao longo da vida e que alterações sar sua retração ou seletivamente lesionar uma célula suscetí-
na organização cortical podem ser induzidas por estímulos vel.
sensoriais comportamentalmente importantes e temporalmen- Sem dúvida, muitas doenças neuropsiquiátricas encon-
te coincidentes (Buonomano e Merzenich, 1998). O treina- tram-se nesse contexto. Para considerar alguns exemplos, a
mento comportamental de macacos-da-noite adultos na dis- maioria dos quais já foram mencionados, a degeneração estri-
criminação de características temporais de um estímulo tátil atal na doença de Huntington parece ser devido a uma super-
pode alterar as propriedades de resposta espaciais e temporais produção da proteína associada à vesícula sináptica (DiFiglia
dos neurônios corticais (Recanzone et al., 1992b). Quando et al., 1995; Sharp et al., 1995), capaz de provocar a excitoxici-
macacos-da-noite adultos são recompensados ao responder a dade mediada pelo receptor NMDA (Wexler et al., 1991). Na
uma estimulação tátil de 30 Hz em um único dedo de uma das doença de Parkinson, a perda seletiva de neurônios dopami-
mãos, há um aumento no número de áreas corticais e na área nérgicos na substância negra pode ser o resultado tardio de
somatossensorial do córtex onde os neurônios mostram res- um processo viral, de uma lesão por neurotoxinas dopaminér-
postas na freqüência adequada depois do treinamento (Re- gicas, tais como o MPTP, ou pela deficiência de fatores neuro-
canzone, 1992a). Em uma série de experimentos, demonstrou- tróficos, tais como o fator neurotrófico derivado do cérebro
se que a representação cortical da pele que recobre os mamilos ou o derivado da linhagem glial, os quais podem ser essenciais
aumenta quase duas vezes para ratas em período de amamen- para a sobrevivência dos neurônios dopaminérgicos. Na do-
tação, comparadas com ratas-controle virgens ou com ratas ença de Alzheimer, a perda dos neurônios colinérgicos talvez
no pós-parto não-lactantes (Xerri et al., 1994). O comporta- resulte de uma deficiência ou ainda de uma aberração no con-
mento materno de amamentação em ratas constitui uma alte- trole do NGF, já que o mesmo é captado por neurônios do
Neuropsiquiatria e neurociências na prática clínica 47

prosencéfalo basal. Claramente, o entendimento dos eventos Bailey CH, Chen M, Keller F, et al: Serotonin-mediated endocytosis of
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