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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ


MESTRADO PROFISSIONAL EM FILOSOFIA

IJAELSON CLIDÓRIO PIMENTEL

FILOSOFAR NO ENSINO MÉDIO: PERSPECTIVA DE UMA FILOSOFIA


AFRICANA

CAMPINA GRANDE
2018
IJAELSON CLIDÓRIO PIMENTEL

FILOSOFAR NO ENSINO MÉDIO: PERSPECTIVA DE UMA FILOSOFIA


AFRICANA

Projeto encaminhado ao Comitê de Ética em


Pesquisa da Universidade Federal de
Campina Grande para Análise e parecer com
fins de aprovação para realização da
pesquisa, com fins de cumprimento à
exigência para obtenção do título de mestre
em filosofia.

Linha de Pesquisa: Ensino de Filosofia

Orientador: Prf. Dr Antônio Gomes da Silva


CAMPINA GRANDE
2018
4

RESUMO
Essa pesquisa pretende apropriar-se da filosofia africana, de modo particular o filosofo Marcien
Towa, no livro “por uma filosofia negro-africana”, como desencadeadora de um método do
filosofar numa perspectiva afrocentrica, isto é, partir da própria realidade dos alunos que os
incomoda, iniciando a discussão apoiado em um pensar filosófico africano, o qual não é
valorizado pela abordagem filosófica eurocêntrica. Em um segundo momento será a execução do
método propriamente. O qual constará de aplicação de questionários com os estudantes no intuito
de identificar a percepção dos estudantes quanto a compreensão da filosofia, com a intenção de
verificar se esta ocorre por meio de um víeis colonizador. Desenvolvemos uma metodologia de
filosofar a partir de iniciativas afrocentrica, que tem como prioridade temas africanos, pela qual
os estudantes construirão um produto final uma “cartilha didática”, a partir das suas impressões
após discursões, problemazões e construção de hipóteses sobre os temas propostos em cada ano
do ensino médio. Com isso queremos propor um ensino de filosofia no ensino médio numa
perspectiva descolonizadora, considerando o professor como filosofo e igualmente o estudante
como gerador e provocador de outras discursões em diversos espaços, como a construção de
pequenos textos para a cartilha. A pesquisa, portanto não quer apresentar um modelo de ensino
de filosofia, mas apresentar uma possibilidade de pensar a diversidade no ensino de filosofia como
caminho para o filosofar.

Palavras-chave: Filosofia africana; filosofar; afrocentrico; ensino de filosofia.


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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 6
2 JUSTIFICATIVA ...................................................................................................... 8
3 DELIMITAÇÃO DO PROBLEMA ....................................................................... 11
3.1 OBJETIVOS ....................................................................................................................11
3.1.1 Objetivo geral ....................................................................................................... 11
3.1.2 Objetivos específicos ............................................................................................ 11
4 HIPÓTESES ............................................................................................................. 11
5 RISCOS E BENEFÍCIOS ....................................................................................... 12
5.1 RISCOS .............................................................................................................................12
5.2 BENEFÍCIOS ..................................................................................................................12
6 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .......................................................................... 13
7 METODOLOGIA .................................................................................................... 17
7.1 Tipo de pesquisa ..............................................................................................................17
7.2 Local da pesquisa ............................................................................................................17
7.3 População e amostra .......................................................................................................17
7.4 Critério da pesquisa ........................................................................................................17
7.5 Instrumentos de Coleta de dados .................................................................................17
7.6 Procedimento de coleta de dados .................................................................................18
7.7 Processamento e análise dos dados ..............................................................................18
7.8 Aspectos éticos .................................................................................................................19
8 DESFECHO PRIMÁRIO ....................................................................................... 19
9 ORÇAMENTO......................................................................................................... 20
Quadro 1 – Orçamento .........................................................................................................20
10 CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO....................................................................... 21
Quadro 2 – Cronograma de atividades .............................................................................21
11 REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 22
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1 INTRODUÇÃO

Durante séculos a filosofia foi amuleto para justificação de muitas realidades de


dominação política, social, religiosa e de centralização do conhecimento, como a
supervalorização da cultura greco-europeia em detrimento do pensar africano e latino
americano.
Nessa perspectiva, se percebe que os modos de pensar uma filosofia distinta dos
modos eurocêntricos não são visto com bons olhos, de forma que a relevância da filosofia
africana na construção de um saber filosófico passa a ser desconsiderado e sem
proeminência. Assumir uma postura hegemônica traz sérias consequências como
descriminação e igualmente uma visão de mundo unilateral, que desconsidera partes do
saber que muito têm a contribuir com a formação do ser humano, por meio de uma
educação de valorização da diversidade e das vastas experiências na construção de uma
filosofia que leve em consideração o filosofar.
Nessa perspectiva, pretende-se contribuir com a noção de uma aprendizagem na
diversidade e em um estado permanente de construção, e não compreendido como algo
pronto e acabado, mas considerando o tempo e o espaço em que estudantes e profissionais
estão inseridos e com os quais iremos reinventando novas metodologias de trabalho na
tentativa de dar respostas diferentes a diferentes significados, cultivando, assim, os
valores do respeito, da solidariedade e da alteridade, para que tanto o estudante sinta
prazer em buscar conhecer e o professor, igualmente, tenha a sensação de encanto na
mediação do conhecimento.
Neste sentido, um dos entraves da filosofia na sala de aula é a questão da
aplicabilidade dos conteúdo filosóficos e sua consonância com a lei para educação das
relações étnico-raciais (10.639/03), uma vez que, como é estabelecido, a filosofia no
ensino básico ainda é concebida como um privilégio greco-europeu, havendo desse modo
um inegável silenciamento que ignora o pensamento africano e afro-brasileiro, acerca do
que se produziu e se produz filosoficamente no continente africano e nas projeções dessa
produção na realidade brasileira.
O trabalho centra-se na busca de uma filosofia libertadora e consequentemente
uma ética que priorize o outro, fundada na sensibilidade, isto é, compreendendo que o
lugar do filosofar não pode ser separado do seu contexto que se encontra inserido, pois,
como é notório na atualidade, cada cultura tem o seu modo de produzir conhecimento,
7

algo que precisa ser considerado na construção do pensamento, isto é, não levando em
consideração apenas a categoria da escrita.
Dessa forma, propõe-se investigar a filosofia como a construção de um saber
multicultural, formulado a partir da integridade com o outro e na sua relação com a
natureza, buscando possíveis encontros para que outras vozes sejam ouvidas na
elaboração de um currículo que atenda, ao mesmo tempo, a obrigatoriedade do ensino de
filosofia e a determinação da LDB com relação ao pensamento africano.
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2 JUSTIFICATIVA

O projeto surge diante do desafio do ensino de filosofia numa perspectiva


descentralizadora de valorização da diversidade e da cultura como produtora de conhecimento
filosófico.
Quando se pensa o tema de uma filosofia africana na perspectiva de uma educação
ético-racial, não se trata apenas de fazer uma releitura dos pensadores africanos querendo
entender seu modo de pensar isolado, mas têm como intuído resgatar suas concepções de
ancestralidade, de harmonia com a natureza, para assim desenvolver uma ideia de educação
inclusiva e de valorização da diversidade a partir de um cenário filosófico que, por muito tempo,
foi desconsiderado do patamar da história da filosofia por seus protagonistas serem
considerados incapacidades de filosofar. Contudo, esse fazer filosofia africana desperta um
entender a filosofia como emancipadora,

ou seja, a filosofia existe em todo e qualquer lugar, pois a capacidade de conhecer está
intrínseca à existência humana; compreende-se, então, que, desse modo, ela é fruto
das experiências, da vivencia, assim, é da ordem do acontecimento, não justificando
as muitas concepções de filósofos como Hegel, Hume, Kant, ao considerarem os
negros africanos como incapazes de raciocinarem (MACHADO, 2014. p. 4).

Apoiar-se teoricamente na filosofia africana, para construção de um ensino, quer


acender a chama da valorização da filosofia que se constrói no dia a dia, e isso não implica a
negação das grandes correntes que se destacaram com amplos tratados filosóficos.
Busca-se como base teórica o filósofo Marcien Towa1, nascido no continente africano, onde se
torna professor e assume diversas funções.

1
Marcien TOWA nasceu em 1931, na pequena cidade de Endama, não muito longe de Obala, a 60 Km da capital
de Camarões no Estado de Lékié. Em 1955, Towa deixou o grande seminário de Otélé (Camarões); em fevereiro
de 1957, foi para a França, a fim de seguir seus Estudos Superiores na Ecole Normale d’ instituteurs de Caen e,
depois, na Sorbonne. Em 1959, terminou a graduação de filosofia e, em 1960, obteve o diploma de estudos
superiores na mesma disciplina, com uma dissertação sobre Bergson e Hegel. Towa ensinou em vários liceus de
Paris (Louis-de-Grande, Molière etc). Voltou para Camarões em 1962 e foi nomeado professor na École Normale
Superieur de Yaoundé, onde ele ensinou pedagogia, história da pedagogia e filosofia. Em 1963 retornou a Europa
com uma bolsa da UNESCO, para um estágio pedagógico de dois anos. Towa aproveitou esse período para adquirir
uma sólida formação em pedagogia e em psicologia, primeiramente na Sorbonne, depois na Grã-Bretanha, no
instituído Rousseau de Genebra, onde acompanhou os cursos e participou dos seminários de Piaget. Em janeiro de
1966, voltou a Camarões e retomou as aulas na École Normale Superieur de Yaoundé. No mesmo ano, foi nomeado
Diretor de Estudos e Diretor-Adjunto dessa instituição. Em 1968, assumiu o departamento de filosofia da faculdade
de letras e ciências humanas da Université Yaoundé. Em 1969, Towa defendeu sua tese na Sorbonne, no doutorado
que se intitula: Identité e Transcendence.
Marcien Towa desenvolveu relevantes funções acadêmicas. Em seguida, engajou-se na política em seu estado de
origem.
Entre artigos e obras do autor, destaca-se: “Analise da obra de L. S. Senghor”, Liberté I, Negritude et Humanismo,
artigo publicado na revista do instituto de Genebra (1966); “o Conciencismo: emergência da Afríca Moderna na
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Towa, apresenta uma modo de fazer filosofia levando em consideração o lugar em que
se está inserido, e por isso elabora uma filosofia atentando para as inquietações ético-políticas
e culturais que tanto afeta o ser humano, e em vista dos questionamentos contemporâneos.
A perspectiva de uma filosofia propriamente africana ou denominada por Towa de
negro-africana, se propõem, portanto negar ao que defendem uma ideia de etnofilosofia, isto é,
de que a África não é produtora de um conhecimento puramente racional, pois destaca-se mais
pelo seu enfoque afetivo e religioso.
Para dissipar a ideia de que a filosofia africana faz partes do hool das filosofias, mas
por outro lado há a ‘Filosofia’ (a de berço grego), dando-se a entender que a filosofia africana
ou chinesa, brasileira, oriental é algo menos racional que a europeia. Para evitar essa posição
que Marcien Towa destaca: “para evitar a armadilha etnofilosofica, é necessário ressaltar
expressamente esse truísmo: uma filosofia negro-africana é uma filosofia; por mais que as
diferentes filosofias sejam singulares e, inclusive, divergentes, contudo, todas elas são
filosóficas” (TOWA, 2015. p. 13).
Com essa concepção de filosofia Towa supera as práticas modernas marcadas pelas
dicotomias e da racionalidade moderna, restrita a uma elite privilegiada, mas conclama o
reconhecimento de outras vozes no fazer filosófico que considere a diversidade e a
multiplicidade.
Nesse sentido a filosofia africana abordada quer desconstruí a ideia eurocêntrica de
racionalidade, contudo não se trata de uma negação da mesma, mas superar o paradigma
unilateral de categorizar o pensamento e construir uma racionalidade dialogando com as
diversas filosofias.
Dito isso, a investigação pretende contribuir para reflexão de uma prática em vista de
uma educação que valorize as diversas fontes de conhecimento, para elaboração de uma
educação democrática, que leva em consideração a alteração dos valores éticos, morais, sociais
e políticos, pelos quais não se pode mais compreender somente livros, professores e
pesquisadores como únicos detentores de conhecimento, mas considerando a diversidade
cultural e étnica, que requer dos que fazem educação uma postura de reinvenção de papeis, a
qual passa pela ética da alteridade.

consciência filosófica”, estudo publicado em Abbia, nº 20, 1968, e retomado na Présence Africaine, nº 85, 1973;
“Aimé Césaire, profeta das revoluções dos povos Negros”, Abbia, janeiro-abril 1968; Ensaio sobre a
problemática filosófica da África atual (1971); o que é a negritude? (Tese de Doutorado de pesquisa);
Identidade e transcendência (tese de doutarado de estado); A ideia de uma filosofia négro-africana (1979).
Marcien Towa faleceu em Yaoundé em 02 de julho de 2014.
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Com isso a escola de uma a metodologia de pesquisa participante qualitativa, pois a


mesma apresenta uma forma de trabalho que acreditamos corresponder com nossa objetivo de
pesquisa, focada na unidade entre dirigente e dirigido, no intuído da construção de um filosofar.
Tais ações desenvolvera-se considerando uma metodologia ativa, isto é, que considera o
estudante no centro da produção, trabalhando como proposta de aula invertida, ajudando o
estudante construir por meio do filosofar um conhecimento multidisciplinar.
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3 DELIMITAÇÃO DO PROBLEMA

3.1 OBJETIVOS
3.1.1 Objetivo geral
Analisar a relevância da filosofia africana na construção de uma educação
descolonizadora, partindo do método afrocentrico como instrumento do filosofar.
3.1.2 Objetivos específicos
a) Perceber a importância da filosofia africana como construção de uma
racionalidade da diversidade;
b) Compreender o conceito de filosofia africana em Towa como provocadora
diálogos filosóficos;
c) Provocar em sala de aula um filosofar causador de ideias e ideais libertadores,
estimulando a transformação da sociedade.
d) Buscar um filosofar no cotidiano com base na ética da inclusão e da sensibilidade

4 HIPÓTESES

1. O reconhecimento de uma identidade filosófica africana, se faz necessário para que se


efetue a construção de um pensamento descolonizar da realidade.

2. A filosofia africana, desconstrói a ideia de um pensar eurocêntrico em vista de uma


filosofia do diálogo.

3. A abordagem filosófica numa perspectiva afrocentrica, leva os estudantes a um


filosofar considerando sua própria realidade.

4. O afrocentrismo enquanto método, constrói um pensar libertador e em vista de uma


ética da inclusão e da sensibilidade.
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5 RISCOS E BENEFÍCIOS

5.1 RISCOS

Os possíveis riscos deste estudo serão mínimos e poderão estar relacionados a


desconfortos durante a avaliação, devido tomar tempo do sujeito ao responder ao
questionário, como o desconforto de opinar e construção do seu próprio texto, ainda à
considerar o risco relacionado à divulgação de gravações das aulas das quais serão
transcritas as experiências.
Estes riscos serão minimizados pelo preparo e acompanhamento constante por
parte do pesquisador responsável.

5.2 BENEFÍCIOS

Os benefícios diretos, estão relacionados a melhor compreensão dos estudantes


individualmente da África e o diálogo com os outros continente numa perspectiva
inclusiva. Outro benefício, é o desenvolvimento da capacidade criativa e protagonista do
estudante, em propor seu itinerário filosófico e mesmo tempo promotor de escritos, em
vista de uma possível publicação.
Os benefícios indiretos, poderão oferecer aos estudantes uma visão
descolonizadora de perceber o mundo a partir da diversidade e da valorização das várias
culturas, como ainda, um comportamento de respeito a diferença.
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6 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O processo de aprender é infinito, não há limites para o saber, a filosofia nos conduz
ao questionamento, à dúvida de nossas fontes, assim como nos ajuda a formular novas
propostas, bem fundamentadas de ensino. Nessa perspectiva tanto a lei 10.639/03, quanto a lei
11.645/08, vem construir um novo modo de pensar o ensino brasileiro com a inclusão do ensino
de história e cultura Afro-brasileira, Africana e indígena em todo o ensino básico, competindo
aos estabelecimentos escolares ensinar e valorizar a história, a literatura, como as realizações e
o pensamento dos negros e índios que aqui viviam e vivem, desconstruindo a ideia de um
discurso único, contado a partir do dominador, do vitorioso, no caso da filosofia, pela Europa
ocidental.
A ideia de analisar o mundo a partir de uma ótica unilateral, personificando um
preconceito cultural, étnico, é bastante visível em Hegel na Filosofia da História quando
declara:

A África não é parte histórica do mundo. Não tem movimentos, progressos a mostrar,
movimentos históricos próprios dela. Quer isso dizer que a sua parte setentrional
pertence ao mundo europeu ou asiático. Aquilo que entendemos precisamente pela
África é o espírito a-histórico, o espírito não desenvolvido, ainda envolto em
condições de natural e que deve ser aqui apresentado apenas como no limiar da
história do mundo (HEGEL, 1999. p.83).

A concepção filosófica descrita acima nega a capacidade humana no geral,


restringindo-a apenas a um público seleto, contudo se sabe que a sede de buscar conhecer é
intrínseca ao homem e à mulher, independente da condição social, política, étnica e de sexo.
Portanto, a filosofia, precisa ser compreendida no seu sentido genuíno da palavra ‘amor à
sabedoria’. Uma filosofia africana como iluminação de um projeto de educação significa refletir
uma educação que não se restringe apenas aos livros didáticos, aos manuais de conhecimento
técnico estabelecido, que somente expõe o que o estudante deve aprender ou não, mas um saber
que desperta para uma construção de uma aprendizagem libertadora, partindo de sua própria
realidade,
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Esse modo de pensar a educação descontrói a ideia etnocêntrica de conhecimento e


parte para uma ética da valorização do outro, percebendo que o diferente não é uma ameaça,
mas vislumbra a relação eu e outro, na construção de uma inclusão de alteridade.
O tema da filosofia africana é bastante novo no cenário da discussão filosófica, nesse
sentido, nas correntes de filosofia europeia levantam-se múltiplas críticas, de indagações, sobre
se o que chamamos de filosofia africana pode ser considerada genuinamente filosofia? Ou
ainda, qual a matéria da filosofia africana? Isso é resultado da relação de discriminação com os
negros, como seres sem capacidade de razão, isso perpetrou um silenciamento no pensamento
africano, movido por uma ideologia política criada na decisão do que deve ser lido e pensado,
estabelecido apenas pelos colonizadores, que com certeza foi o berço grego.
Outro elemento que alargou o preconceito na compreensão da cultura africana como
não produtora de conhecimento foi a sua característica de transmissão de conhecimento oral
que dá sentido à cultura africana, algo inadmissível a partir do século XIX pela filosofia
ocidental, marcada pela linguagem escrita e da pesquisa científica, assegurando que o
conhecimento válido é o que está escrito. Daí, como conciliar uma tradição marcadamente oral,
e que diferentemente do outro lado do mundo a que se denomina o pai da civilização (ocidente)
é caracterizada pela escrita. Ou seja, “A palavra na tradição africana não tem o sentido abstrato.
Ela está integrada e possui o poder e a força” (DOMINGOS, 2015, p. 53).
Percebe-se, entretanto, que o problema quanto a relevância da filosofia africana é
meta-filosofia, faz parte da imagem que o mundo moderno caricaturou e elaborou a incógnita
sobre a racionalidade africana. O juízo de que a África é um continente marcado pela mística,
contemplação, pelos mitos e religiosidade, por isso não deve ser muito confiável do ponto de
vista da racionalidade.
Esse modo de pensar expressa efetivamente a realidade de um discurso colonialista do
pensar em forma de monopólio. Sobre essa forma de pensar apresenta o pensar africano:

O pensamento fundamental africano recusa-se a reconhecer, em quem quer seja, o


monopólio da inteligência e da perfeição ética. Todos os seres reais – ou
considerados como tais – homens ou deuses, são limitados intelectualmente e
imperfeitos moralmente, ninguém, homem ou deus, pode se dá ao direito de pensar e
de julgar todo mundo e de ditar a todos a verdade e as normas de comportamento. A
limitação de todo ser real é a condição para o diálogo, para abertura (TOWA, 2015,
p. 44)

Contudo, a filosofia africana envereda pelo caminho da práxis, do fazer filosofia


levando em consideração o ético-político, no sentido de resgatar a justiça, onde ela mesma foi
negada.
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Diante da problemática abordada sobre a filosofia africana, qual diálogo podemos


trançar no ensino das relações étnico-raciais na disciplina de filosofia?
Uma primeira contribuição vem da dispersão, isto é, como buscar uma unidade na
diversidade cultural da pós-modernidade? Esse elemento de união é a condição humana, que
se traduz na asseguração dos direitos fundamentais das pessoas, uma vez que a educação, antes
que qualquer outra coisa, tem por finalidade construir um consciência crítica em vista do
respeito e a garantia da cidadania. Ou seja,

uma educação para as relações étnicos-raciais que deseja resultar-se em


formação/construção de uma consciência política e histórica da e para a diversidade,
fortalecendo as identidades, as singularidades, rompendo com imagens negativas em
relação à população negra. É uma educação para a sensibilidade e desejo pelo outro,
este que também me forma (MACHADO, 2014.p.18)

Um ensino para as relações étnico-raciais na perspectiva da filosofia africana alarga o


pensar em torno de uma descolonização da ideia de preconceito não somente com a realidade
negra e indígena, mas com toda a diversidade, fazer ser ouvido e lido os que são considerados
desaculturados, assim denominados por uma parcela que foram idealizados como sábios.
Entendendo que não é possível construir um ensino isoladamente, mas deve acontecer
na interdisciplinaridade e na valorização da diversidade, percebendo o diferente não como uma
ameaça, mas como uma forma de construção de uma identidade multicultural, promotora de
um diálogo entre escola e cultura. Uma vez que:

Multicultural é um termo qualitativo. Descreve as características sociais e os


problemas de governabilidade apresentados por qualquer sociedade na qual diferentes
comunidades culturais convivem e tentam construir uma vida em comum, ao mesmo
tempo em que retêm algo de sua identidade original. Em contrapartida, o termo
“multiculturalismo” é substantivo. Refere-se às estratégias e políticas adotadas para
governar ou administrar problemas de diversidade e multiplicidade gerados pelas
sociedades multiculturais. (HALL, 2006, p.50).

Nessa ótica da sociedade multicultural e por entender que a escola está inserida nela,
que o projeto aspira valorizar as expressões filosóficas que fluem da própria comunidade, como
ainda alargar o conhecimento na diversidade, quebrando preconceitos estabelecidos pela
herança histórica colonial.
Outra proximidade que se pode destacar da filosofia africana no ensino para relações
étnico-raciais é a pluralidade de visões que se apresenta nessa filosofia, por meio de uma cultura
oral, auxiliando a compreender a constante relação trivial: movimento, realidade e tempo, os
quais estão sempre conectados e nos ajuda a entender o que conhecemos.
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Com isso o projeto visa trabalhar na perspectiva que leve a sério o pensamento africano
e afro-brasileiro na consolidação, não somente de uma proposta curricular para o ensino de
filosofia, mas também numa edificação mais plural da história filosófica que envolva elementos
para além das vozes europeias e norte-americanas demanda uma revisão da própria história e
da história da filosofia, que tem a colonialidade como seu modo fundamental de operação
(NASCIMENTO; BOTELHO, 2010; DUSSEL, 1996).
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7 METODOLOGIA

Para que a pesquisa tenha um bom êxito se faz necessário desenvolver uma
metodologia que esteja adequada aos meios e ao tempo, para isso detalhamos cada etapa da
metodologia a ser seguida.

7.1 Tipo de pesquisa


Será realizada uma pesquisa qualitativa, através do método pesquisa participante, e
exploratória descritiva.

7.2 Local da pesquisa


A pesquisa será realizada, na Escola Estadual de Ensino Médio Cidadã Integral
Severino Cabral, localizada no município de Campina Grande PB, Rua Compositor Noel Rosa
– Bodocongò, CEP: 58450-220, na qual atuo como professor titular da disciplina de filosofia.

7.3 População e amostra

A população a qual o pesquisa será desenvolvida serão três turmas do ensino médio
sendo: uma de 1º ano, uma de 2º ano e outra de 3º ano, que soma-se 87, estudantes, que
frequentam a Escola Estadual Severino Cabral.

7.4 Critério da pesquisa


 Ser estudante da Escola Integral Severino Cabral em Campina Grande;
 Ser estudante matriculado em uma das turmas selecionada para a pesquisa;
 Concordar em participar da pesquisa;

7.5 Instrumentos de Coleta de dados


 Questionário;
 Produções escritas;
 Relato de experiência: gravado ou escrito;
 Gravação de aulas
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7.6 Procedimento de coleta de dados


Após a concordância da realização da pesquisa na instituição. Os indivíduos que
frequentam a Escola Estadual de Ensino Médio Cidadã Integral Severino Cabral, e que
estiverem dentro dos critérios e sob a autorização assinada em duas vias da direção da escola o
termo de consentimento, (ANEXO C). Em seguida, iniciará a pesquisa em sala de aula com a
aplicação do questionário, em seguida será o implante em sala de aula o modo de como trabalhar
temas filosóficos diferente do eurocentrismo, ao invés, tendo como partida o afropespectivismo
ou uma filosofia negro-africana. Esses temas serão aplicados nas três series do ensino médio,
tendo uma turma de cada ano do ensino médio como geradora da experiência.
Para a execução da mesma levaremos em consideração a seguinte temática: o mito e a
filosofia, a ética e a estética, embora os temas não estejam fechados quanto a sua abordagem,
pois antes de serem trabalhados, os assuntos deverão ser problematizado pelos estudantes, a
partir de uma sensibilização, partindo de problemas que afetam o seu dia a dia, uma vez que, a
relação estudante e comunidade é peça fundamental na perspectiva do filosofar em
afroperspectivismo, distribuído da seguinte maneira:
1º Ano – Mito e filosofia – Abordado a partir de outras mitologias não gregas pensadas
numa perspectiva de cosmogonia, isto é, onde não haja uma ruptura entre filosofia e mito.
2º Ano – Ética – na perspectiva africana seria trabalhar a ética numa concepção de
compreensão do outro como um coletivo, um comunitário que não se limita a pessoa, apenas
mas no seu conjunto de harmonia como fauna, flora e o sobrenatural (a ideia ubuntu).
3º Ano – Estética – Trabalhar a questão do corpo, sobretudo a quebra da dicotomia de
que o corpo é algo subordinado a mente. Aqui tem-se a possibilidade de trabalhar com letra de
músicas e filmes que relaciona o tema da filosofia com o cotidiano do estudante.
A pesquisa terminaria com um relato de experiências de estudantes que se dispusessem
escrever ou gravar um relato do foi estudar filosofia na perspectiva afrocentrica.

7.7 Processamento e análise dos dados


O resultado da experiência em geral será, portanto o relato das mesmas e da
aplicabilidade de trabalho do método afrocentrico na construção do filosofar: as reações, a
avaliação dos temas trabalhados, e o resultado final dos questionários dos estudantes, após os
dois bimestres trabalhados. O produto final culminará com a confecção de uma cartilha que terá
sua construção paulatinamente ao trabalho com os temas, na construção de bilhetes filosóficos
e a carta argumentativa.
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7.8 Aspectos éticos


Este trabalho será submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa de seres humanos da
Universidade Estadual da Paraíba e seguirá fielmente as diretrizes da resolução nº466, de 12 de
dezembro de 2012 do Conselho Nacional de Saúde/MS que regulamenta pesquisas envolvendo
seres humanos.
Após a assinatura do termo de consentimento pela direção da escola, os estudantes
voluntários receberão explicações a respeito do estudo e se concordarem com a participação na
pesquisa. Os que se recusarem, não participarão do estudo. Será assinado, ainda, o Termo de
Compromisso do Pesquisador Responsável (ANEXO D), visando assegurar os direitos e
deveres que dizem respeito à comunidade científica, ao(s) sujeito(s) da pesquisa e do Estado.
O pesquisador responsável assinará, também, a Declaração de Concordância com
Projeto de Pesquisa (ANEXO E), onde compromete-se em verificar o desenvolvimento do
projeto. A instituição responsável assinará o Termo de Autorização Institucional (ANEXO F),
autorizando a realização da pesquisa no local.

8 DESFECHO PRIMÁRIO
Espera-se desenvolver uma metodologia que parte de temas africanos em dialogo
filosófico com outras cultura, numa perspectiva de reconhecimento das várias identidades
filosóficas.
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9 ORÇAMENTO

Para a consecução deste projeto, fazem-se necessário os recursos que seguem


exemplificados a seguir:

Quadro 1 – Orçamento

Item Valor (R$)


3 resma de papel A4 60,00
Aluguel de material para gravar aulas 650,00
Trabalho para diagramação do livro didático 350,00
Impressões e xerox 75,00
TOTAL 1135,00

Os recursos serão do próprio mestrando, o qual atua como professor titular da


disciplina de filosofia da Secretaria do Estado da Paraíba, em contrato temporário.
Os demais recursos, bem como espaço físico, equipamentos de execução das aulas,
serão disponibilizado pela Escola Estadual Severino Cabral.
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10 CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO

Para essa fase da pesquisa, presume-se um período de quatorze meses, sendo os sete
primeiro, de revisão bibliográfica e elaboração do arcabouço teórico e metodológico da
pesquisa. Assim prever-se as atividades demonstradas no quadro a seguir.

Quadro 2 – Cronograma de atividades

PERÍODO (MESES)
ATIVIDADES 2018 2019
2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 1 2 3 4
Aprofundamento da revisão bibliográfica XXXXXXXX X
Encontros com o orientador para discussão XXXXXXXX X X X XXX
Elaboração dos instrumentos XX
Envio do projeto ao CEP/UFCG X
Aplicação do 1º questionário X
Aplicação dos instrumentos de aulas XXX X X
Levantamento e analises de dados XXX X
Tratamento dos dados X X
Discursão dos resultados X X XX
Revisão da pesquisa X XXX
Deposito da dissertação X
Defesa da dissertação X
Revisão pós defesa X
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11 REFERÊNCIAS

DANTAS, Luís Thiago Freire. Descolonização Curricular. A filosofia africana no


ensino médio. São Paulo: PerSe, 2015, p. 66-77.

DOMINGOS, Luís Tomás. Dimensão religiosa da medicina africana tradicional. In:


OLIVEIRA, Ariosvalber de Souza; SI

LVA, Moisés Alves da; AIRES, José Luciano de Queiroz. (Org). Nas confluências do
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